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Lê atentamente o TEXTO A.
Era uma vez um livro triste. E não era triste pelo que contava nas suas
páginas e ilustrações, mas sim porque tinha um desejo imenso de ser lido e muito
poucas pessoas pareciam ter vontade de o ler. Por isso, era um livro triste, e não se
envergonhava de o ser, perguntando mesmo com frequência:
5 – Se um livro existe para ser lido e a mim não me leem, como posso eu andar
contente da vida?
[…]
A única companhia com que o livro podia contar era a de uma velha máquina
de escrever que já tivera, naquela casa, a sua época e a sua utilidade. Isso
10 acontecera no tempo em que ainda não existiam computadores e em que a escrita
de documentos importantes ou de trabalhos escolares de maior fôlego passava
quase sempre pelo teclado resistente da velha máquina.
Durante algum tempo, a máquina depositou grandes esperanças no afeto que
lhe dedicava Mariana, filha dos donos da casa, que, além de ser uma grande leitora,
15 alimentava o sonho e o desejo de vir um dia a ser escritora. Os primeiros contos que
passou ao papel foram escritos naquele teclado rijo e fiável que nunca deixava mal
quem dele decidia servir-se. Estabeleceu-se entre ambos uma relação de mútua
confiança, ao ponto de Mariana ter transformado a máquina na confidente sempre
disponível das suas queixas, desabafos e desaires amorosos.
20 Porém, Mariana tornou-se adulta, foi estudar para a universidade e acabou
por se render às naturais vantagens do computador, contribuindo, por certo sem o
desejar, para o esquecimento e abandono da velha máquina, que acabou por ser
arrumada na estante, perto do livro, longe dos interesses e dos olhares das pessoas
da casa. E foi particularmente triste para a máquina o dia em que viu Mariana
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sentar--se numa secretária, perto dela, e começar a escrever um longo texto à mão,
acabando por passá-lo depois no computador sem sequer se ter lembrado da solidão
poeirenta da sua velha amiga. Com a voz sumida que costumam ter os objetos
definitivamente fora de uso, a máquina ainda tentou falar com Mariana, dizendo-lhe:
30 – Se quiseres, eu estou aqui à tua disposição, como sempre estive. Sabes
que não sou um objeto moderno, mas não costumo deixar mal quem confia em mim.
E já agora quero que saibas que tenho tido muitas saudades tuas e das confidências
que partilhavas comigo.
A verdade é que estas palavras não devem ter chegado ao destino, porque
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Mariana nem sequer levantou os olhos do papel, concentrada como estava na
escrita daquele longo texto.
[…]
Foi essa solidão que aproximou o livro da velha máquina de escrever,
40 permitindo que, nas noites frias de inverno, fizessem companhia um ao outro.
Nessas noites quase perdiam a noção do tempo, contando histórias que já ninguém
parecia querer recordar, no meio da pressa que se foi apoderando da casa, à medida
que as pessoas se tornavam adultas e começavam a trabalhar em empregos que as
cansavam e deixavam quase sem tempo para ler e para escrever.
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– Nós, afinal – desabafou um dia a máquina com o seu amigo livro – somos
como as pessoas. Temos os anos de infância e de juventude. Depois, vem a idade
adulta e, a seguir, o envelhecimento. E, porque envelhecemos, acabamos um dia por
ser esquecidos. É essa a nossa triste sina. E como havemos de escapar-lhe?
O livro, recusando a resignação destas palavras, contrapôs este argumento:
– Pois fica sabendo, minha cara amiga, que eu acho que só em parte tens
razão, porque há coisas que se podem esquecer e abandonar e outras que não.
José Jorge Letria, O livro que só queria ser lido, Lisboa, Texto Editores, 2007
(texto com supressões)
Responde às questões que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.
Sugestão de resposta: O que causava tristeza ao livro era que tinha o desejo de ser
lido e poucas pessoas pareciam ter vontade de o fazer.
2. Assinala com X, nas questões 2.1. e 2.2., a única opção que completa cada frase de
acordo com o sentido do texto.
2.2. A expressão “(...) trabalhos escolares de maior fôlego (...)” (linha 11) significa que se
tratava de trabalhos que
3. “Durante algum tempo, a máquina depositou grandes esperanças no afeto que lhe
dedicava Mariana (…)” (linhas 13 e 14)
Indica duas razões, de acordo com o texto, que terão levado a máquina de escrever a
acreditar que Mariana nunca a abandonaria.
Sugestão de resposta: A máquina de escrever acreditava que a Mariana nunca a
abandonaria, porque ela queria ser escritora e escreveu nela os seus primeiros
contos e porque a máquina se tinha tornado na sua confidente.
4. “Porém, Mariana (...) acabou por se render às naturais vantagens do computador (...)”
(linhas 20 e 21).
Resposta livre
uma expressão que demonstre que a máquina aceitava o que tinha acontecido.
Lê atentamente o TEXTO B.
a praia. os marinheiros.
2. Relê a segunda estrofe do poema. Retira três verbos que indiquem movimento.
4. A autora considera que apesar da sua beleza, o fundo do mar “Tem um monstro em si
suspenso.”.
O que pensas que estará a transmitir a autora com esta expressão?
GRUPO II
2. Das palavras sublinhadas, no texto seguinte, seleciona apenas as que são pronomes
e regista-as no espaço correspondente.
Aquela não era uma máquina qualquer. Mariana escreveu nela os seus primeiros
contos e esses tempos foram felizes para a máquina.
– Eu tenho saudades tuas. – disse a velha máquina à Mariana.
Eu Aquela tuas
3. Em cada espaço da tabela, escreve uma palavra da seguinte frase, de acordo com a
classe a que pertence.
4. Classifica os advérbios presentes nas frases que se seguem, assinalando com X nos
locais adequados.
Quantidade
Negação Afirmação e Grau
x
Sim, a máquina era a sua única amiga.
x
O livro sentia-se muito triste.
x
O livro não aceitava o seu destino.
x
Há bastante tempo que desejava ser lido.
7. Completa cada uma das frases seguintes com a forma dos verbos apresentados entre
parênteses, no tempo e no modo indicados.
Naquela época, a máquina tinha (ter) muita utilidade e era (ser) confidente da Mariana.
Um dia, as pessoas lerão (ler) novamente o livro e ele ficará (ficar) muito feliz.
Modo imperativo
Mariana, vai (ir) buscar a tua máquina e escreve (escrever) um dos teus belos contos.