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A conquista do espaço ficou Quais são as principais par- que externo (ET). Estes foguetes
tes do ônibus espacial e SRB (foguetes propulsores sóli-
marcada pela explosão do
como ele funciona? dos) são constituídos essencial-
ônibus espacial Challenger. mente de alumínio (combustível),
Veremos neste artigo os A conquista do espaço perclorato de amônio (agente oxi-
detalhes científicos que demonstra o quanto a ciência dante) óxido de ferro III em pó
avançou e pode avançar. Em (catalisador) e outros componen-
explicam o acidente. um ônibus espacial temos a tes que, juntos, formam uma pas-
aplicação dos mais recentes ta que colabora no processo de
EMILIANO CHEMELLO avanços científicos. Porém, co- queima deste combustível sólido,
chemelloe@yahoo.com.br mo todo o produto produzido reação que tem por objetivo ele-
por humanos, podem existir var os 2 x 106 kg a uma altura
falhas. E este acidente é um superior a 500 km, o que implica
Introdução exemplo desta sempre presente em uma força de 11 x 106 N.
possibilidade. Equacionando a reação da quei-
Tudo aconteceu dia 28
de Janeiro de 1986. E foi rápi- Um ônibus espacial é ma do combustível sólido, temos:
do: durou apenas 73 segundos. constituído por várias partes, 6 NH4ClO4(s) + 8 Al(s)
O ônibus espacial Challenger conforme ilustra a Figura 1. O 12 H2O(v) + 4 Al2O3(s) + 3 N2(g) + 3 Cl2(g)
estava pronto para mais uma módulo é impulsionado pelos
missão. Tratava-se de uma foguetes até vencer a força gra-
manhã fria (na noite anterior vitacional que os „prendem‟ na A quantidade de energia
ao do lançamento, a tempera- Terra. O combustível para o liberada faz os gases e vapores
tura havia chegado a cerca de lançamento é guardado no tan- expandirem, os quais impulsio-
-6 ºC). O lançamento foi retar- nam a estrutura para cima. To-
dado em duas horas, a fim de davia, estes foguetes SRB são
que a temperatura aumentasse responsáveis por cerca de 70 %
para que o gelo formado na da força necessária para elevar a
base de lançamento derretesse. estrutura. O resto é proporciona-
Depois disto, tudo parecia estar do pelos motores principais que
pronto para o ônibus espacial fornecem os 30 % restantes. Es-
Challenger decolar. Porém, tes últimos funcionam a partir da
após 73 segundos, uma grande mistura de hidrogênio e oxigênio
explosão interrompe a alegria (guardados no ET no estado lí-
dos espectadores. Todos os sete quido), resultando em água e
tripulantes morreram no aci- calor, conforme representa a
dente. equação abaixo:
1
Este ET é feito de alu- O que é e quais os consti- H2C C CH CH2
mínio e contém dois tanques tuintes da borracha?
que guardam, separadamente, CH3
***
Figura 4 – Pontes de enxofre entre as cadeias poliméricas da borracha.
2
canizada (b), ambas sendo esti-
cadas horizontalmente. Após
esta alteração, na borracha
vulcanizada, o material volta ao
tamanho inicial, enquanto que
na borracha não vulcanizada, o
tamanho final é maior que o
inicial.
***
Como os elastômeros
comportam-se com a vari-
ação da temperatura?
Nomeamos em ciência
por „grandeza‟ tudo aquilo que
pode ser medido. A temperatu-
ra é uma grandeza, que medi- Figura 5 – Em (a) temos um exemplo de borracha não vulcanizada. Em (b) temos a
mos por meio, por exemplo, de borracha vulcanizada. Quando ambas passam por um estiramento na horizontal, as
um termômetro. A temperatura pontes de enxofre (destacadas em vermelho) fazem com que a borracha vulcanizada
volte ao tamanho inicial.
é uma grandeza associada ao
quantidade de movimento das
entidades que compõe um dado após ser comprimida ou estica- quebradiça. Os gases em altas
material (papo de cientista: da. Porém, se a borracha é temperaturas que escaparam dos
átomos, moléculas, etc). submetida a temperaturas infe- foguetes SRB tornaram-se um
riores a sua Tg, ela passa de verdadeiro maçarico. Estes foram
Estudamos na escola os flexível para dura e frágil como o capazes de danificar o ET fazendo
estados físicos da matéria. vidro. Isto relaciona-se direta- vazar o combustível líquido até
Aprendemos que o estado sóli- mente com o acidente do ônibus que, depois de 73 segundos após
do é mais organizado que o espacial Challenger. Vejamos o lançamento, ocorresse a explo-
estado líquido, que por sua vez como. são do tanque de combustível
é mais organizado que o estado juntamente com todas as outras
gasoso. Porém, alguns materi- ***
partes do ônibus espacial.
ais são sólidos amorfos, ou O que deu errado com o
seja, não são sólidos com orga- A NASA constituiu uma
ônibus espacial Challen- comissão para apurar os motivos
nização estrutural, mas sim
ger? do desastre. Nesta comissão des-
desorganizados (amorfo signifi-
ca „sem forma‟). São exemplos Nos foguetes SRB do taca-se a presença do ilustre físi-
de sólidos amorfos o vidro, ônibus espacial Challenger, uti- co teórico ganhador do prêmio
plásticos e... adivinhem? Sim, lizou-se um fluorelastômero (um Nobel Richard P. Feynman, con-
as borrachas também são sóli- complexo copolímero – polímero forme é ilustrado na Figura 6.
dos amorfos. formado por vários monômeros)
que possuía boa performance
Os sólidos amorfos não
em altas temperaturas, tais co-
mudam de estado físico como
mo as atingidas nos foguetes.
os sólidos cristalinos. Quando
No entanto, quando submetida
aquecidos, eles atingem uma
a baixas temperaturas ela não
certa temperatura especial,
comporta-se tão bem, pois
chamada de „temperatura de
aproxima-se da temperatura de
transição vítrea‟ (Tg). Cada ma-
Tg, a qual faz com que ela se
terial tem sua Tg, a qual relaci-
torne dura e quebradiça, que
ona-se com a passagem do es-
são propriedades indesejáveis
tado vítreo para o estado elas-
para ela no foguete.
tomérico, ou seja, tentando
explicar estes nomes com pala- Provavelmente você nun-
vras mais simples: a passagem ca colocou recipientes plásticos
do estado de sólido amorfo para impróprios no forno, pois se o
um estado desordenado no fizer eles amolecerão como man-
qual as cadeias poliméricas teiga. É exatamente o contrário
possuem uma mobilidade mai- o que aconteceu com a borracha
or (um comportamento de bor- de vedação do foguete SRB do
racha não vulcanizada). A bor- Challenger. Esta borracha, na
racha já constitui este „estado temperatura baixa daquele dia,
não efetuou a vedação adequa- Figura 6 – O físico Richard. P. Feynman e
desorganizado‟, que tem nas
sua demonstração da borracha mergu-
pontes de enxofre a o recurso damente entre as seções do fo- lhada em um copo com gelo para explicar
para voltar ao tamanho inicial guete SRB pois tornou-se dura e o acidente com o Challenger.
3
Estavam dentro do ôni-
bus espacial sete pessoas, seis
astronautas e uma civil, a pro-
fessora Christa McAuliffe, a
qual foi selecionada entre 11
mil profissionais para estar
presente no ônibus. Ela era a
primeira civil que iria participar
de uma viagem espacial. Uma
foto dos tripulantes logo antes
do embarque está presente na
Figura 7.
***
O Emiliano Che-
Report of the Presidential mello é licenciado
em química pela
Commission on the Space Shut-
Universidade de
tle Challenger Accident Caxias do Sul e
Mestre em Ciência
http://science.ksc.nasa.gov/sh e Engenharia de
uttle/missions/51- Materiais pela
mesma instituição.
l/docs/rogers-
Leciona em escolas de ensino médio e
commission/table-of- pré-vestibular na Serra Gaúcha.
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