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Do Recife aos Pampas: um experimento prosódico

Cláudia de Souza Cunha


2005

1. Situando o fenômeno

A busca dos traços que identificam prosodicamente um falar suscitam, de imediato, três
questões: O que eleger como características observáveis? Como descrevê-las? Onde buscá-las?
A 1ª questão, ainda que requeira a definição de procedimentos secundários, parte de uma
premissa geral: deve-se selecionar para análise o que, de outiva, é, consensualmente,
característico do(s) falar(es) em foco.
A 2ª questão, em princípio, parece oferecer uma só resposta como opção: observar o
comportamento dos parâmetros acústicos Duração, Intensidade e Freqüência Fundamental no
limite da sílaba. A convivência com os dados – como toda e qualquer convivência – acaba
revelando algumas complexidades. A F0 de uma vogal, por exemplo, apresenta, mais raramente,
um comportamento invariável (ou de variação irrelevante), resultando num tom monocórdio.
Porém, via de regra, a F0 descreve ao longo da sílaba variações tonais que podem ir de
configurações simples, resultantes de acréscimos e/ ou decréscimos de valores constantes até
configurações complexas, onde a variação de Hertz descreve parábolas de formatos variados
resultando em tons de contorno (conforme acontece – e a informação que adiantamos aqui é
breve para que os resultados seguintes preservem seu quê de surpresa – com as vogais tônicas
gaúchas). Diante de tamanha variedade, outras decisões acabam se impondo: em que ponto da
sílaba a medida da F0 deve ser tomada? Num único ponto? Em quantos mais?
A 3ª questão se relaciona intimamente com a anterior: bastaria observar/descrever o
comportamento acústico daquelas sílabas que soaram pernambucanas ou gaúchas aos ouvidos
dos juízes (estes amigos lingüistas sempre a postos quando convocados para auxiliar na
constituição e testagem dos nossos corpora)? Se o júri e as próprias pesquisadoras ora se atêm a
uma sílaba, ora destacam um vocábulo e ora apontam como marcadamente regional toda uma
frase, em que unidade centrar a pesquisa? Onde, para garantia de pertinência metodológica e
comparabilidade dos resultados, realizar as medições?
Este artigo visa aprofundar alguns aspectos da descrição presente em Cunha 2000
(Entoação Regional no Português do Brasil) por meio da testagem experimental dos resultados
obtidos para 3 das cinco capitais analisadas (excluíram-se deste trabalho São Paulo e Salvador) e
da formulação de hipóteses e procedimentos metodológicos complementares.

2. O que já sabemos

Retomaremos brevemente os resultados que a pesquisa de 2000 revelou.


Para a descrição apresentada na tese, analisaram-se dados provenientes de cinco capitais
brasileiras (Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre), recolhidos de outiva
(sendo o critério de recolha haver marca perceptual de sotaque), e colhidos em 10 gravações – 5
do Projeto NURC (sendo uma de cada cidade) e 5 de um mesmo texto, lido por uma informante
de cada cidade. Todos os dados que compuseram esta parte do corpus provêm de informantes do
sexo feminino, pois foi dentre elas que encontramos gravações mais “típicas”, de cada cidade, no
acervo do NURC. Por isso também, neste experimento, as informantes são mulheres.
Com relação a Recife, Rio de Janeiro e Porto Alegre, observou-se que os vocábulos
portadores do índice de regionalidade se diferenciavam por:
No parâmetro duração, como mostra o gráfico 1:
2

Duração Média na Fala Espontânea


0,45
0,40
0,35
0,30 Pretônica 3

segundos
Pretônica 2
0,25
Pretônica 1
0,20 Tônica
0,15 Postônica 1

0,10

0,05
Recife Salvador Rio de Janeiro São Paulo Porto Alegre

Figura (1): Gráfico da Duração média na fala espontânea das cinco cidades
do Projeto NURC.

• As sílabas pretônicas de Recife serem em média 44,4% mais breves que a tônica;
• As sílabas pretônicas do Rio serem em média 50,3% mais breves que a tônica;
• As sílabas pretônicas de Porto Alegre serem em média 54% mais breves que a tônica;
• As sílabas postônicas de Recife corresponderem em média a 71,1% da duração da tônica;
• As sílabas postônicas do Rio corresponderem em média a 44,5% da duração da tônica;
• As sílabas postônicas de Porto Alegre corresponderem em média a 50% da duração da tônica.
Embora o parâmetro não tenha papel muito representativo para o fenômeno, chama a atenção
o fato de as tônicas gaúchas serem as mais longas.

No parâmetro freqüência fundamental, como mostra o gráfico 2, a relação entre pretônicas e


tônicas é bastante relevante:

Freqüência Fundamental Média


na Fala Espontânea

300

250
Pretônica 3
200 Pretônica 2
Hertz

Pretônica 1
150 Tônica
Postônica 1
100

50
Recife Salvador Rio de Janeiro São Paulo Porto Alegre

Figura (2): Gráfico do comportamento da Freqüência Fundamental média na


fala espontânea das cinco cidades do Projeto NURC.

• As sílabas pretônicas de Recife decaem cerca de 30Hz em direção à tônica;


• As sílabas pretônicas do Rio decaem cerca de 20Hz em direção à tônica;
• As sílabas pretônicas de Porto Alegre, ao contrário, se elevam cerca de 40Hz, em média,
em direção à tônica.

No parâmetro intensidade, como mostra o gráfico 3, vê-se que:

In t e n s id a d e M é d ia n a F a la E s p o n tâ n e a

6
P r e tô n ic a 3
5
P r e tô n ic a 2
P r e tô n ic a 1
4
T ô n ic a
3 P o s tô n ic a 1

0
R e c ife S a lv a d o r R io d e S ã o P o r to
J a n e ir o P a u lo A le g r e

Figura (3): Gráfico da Variação média da intensidade na fala espontânea das


cinco cidades do Projeto NURC.
3
• A posição pretônica se destaca através do parâmetro intensidade nas cidades do nordeste;
• A posição tônica é a mais relevante no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Porto Alegre;
• A posição postônica é sempre a de maior atonicidade. Em Porto Alegre, a intensidade da
postônica é maior que a das pretônicas 1 e 2, mas a pretônica 3 (com 3dB) supera em
tonicidade a postônica (2,6dB).

Concluiu-se, no estudo realizado em 2000, que os padrões melódicos dos falares observados
se definem pelas relações que se estabelecem entre a sílaba tônica e as sílabas átonas
adjacentes. A relação entre a tônica e as pretônicas (considerando a sua relevância fônica no
português do Brasil) mostrou-se primordial para a caracterização dos cinco falares. Seguramente,
pode-se afirmar que: 1) as falas de Recife e Salvador se opõem às outras por darem mais
destaque às sílabas pretônicas, marcadas por: maior intensidade, maior freqüência e duração
pouco inferior a da sílaba tônica (principalmente na fala de Salvador); 2) a fala de Porto Alegre se
caracteriza pela elevação da F0 na sílaba tônica, a qual recebe também a maior intensidade e a
maior duração (bastante expressiva, chegando a quase o dobro das demais sílabas); 3) as falas
do Rio de Janeiro e de São Paulo apresentam características das outras cidades, ora se
assemelhando às cidades do nordeste, ora se assemelhando a Porto Alegre.
Tais oscilações podem-se resumir no quadro:

Proeminência nas Proeminência


sílabas pretônicas na sílaba tônica
Fator determinante
Duração RE / SSA RJ / SP / POA
da proeminência:
Freqüência
RE / SSA / RJ / SP POA
Fundamental
Intensidade RE / SSA RJ / SP / POA

3. O Experimento

Uma vez que se haviam descrito as relações entre os parâmetros e mensurado a variação
em Hertz, decibéis e segundos, era possível tentar fazer “o caminho de volta”, isto é, transformar,
por meio da síntese, um dialeto em outro, usando o programa CSL. Para tanto, percebemos, logo
de saída, que as variações numéricas médias, quando aplicadas aos dados, produziam pouca ou
nenhuma diferença perceptiva. Decidimos então “recriar” não o sotaque revelado pela média dos
1200 dados descritos anteriormente, mas sim escolher dados prototípicos, que representassem de
forma cabal os falares em questão.
Assim, elegeram-se dois dados do corpus NURC (um de Recife e um de Porto Alegre) e
manteve-se na análise a fala carioca como um parâmetro de contraste para a descrição, com a
seguinte proposição: os dados escolhidos no corpus NURC constituem o ponto de chegada, a
meta, o resultado que se quer alcançar por meio da síntese, e a fala carioca, acrescida de
manipulação acústica, constitui a forma de viabilizar a reconstrução dos dois falares. Para isso
uma das pesquisadoras gravou, com seu falar carioca, a frase dita pela informante de Recife e a
frase dita pela informante de Porto Alegre e estas duas gravações foram manipuladas de modo a
que sua realização se aproximasse dos enunciados do NURC.
Outra providência, de cunho metodológico, foi ampliar o leque de medições da freqüência
fundamental, pois percebeu-se que seu valor, quando tomado no pico da intensidade ou no meio
da vogal, não era o suficiente para descrever variações intrassilábicas, como ponderamos logo no
início deste trabalho. Desta forma os 4 dados que serviram de referência para a primeira tentativa
de síntese (os dois dados retirados do corpus NURC e os dois gravados em laboratório) foram
analisados no programa WINCECIL de modo a se obter:

• A duração de cada sílaba;


• O valor máximo da intensidade em cada sílaba;

E quanto à Freqüência Fundamental:


4
Para controle da variação intrafrasal:
• A freqüência fundamental no ponto de intensidade máxima da sílaba;
• A freqüência fundamental máxima ou mínima em cada sílaba (se ascendente ou
descendente);
Para controle da variação intrassilábica:
• A freqüência fundamental medida em três pontos da sílaba, conservando entre eles o mesmo
intervalo de tempo;
• A freqüência fundamental medida em todos os pontos da sílaba em que houvesse
mudança de direção da linha melódica.

3.1. Recife

No dado da capital do Estado de Pernambuco (dado NURC – Recife/ 22), a informante


realiza a frase: “Pois é, o veado é um bicho muito interessante”. Este dado foi escolhido como
prototípico pelo fato de, especialmente sobre o último vocábulo, incidir uma forte marca de
regionalidade, observável no traçado:

Gráfico (4): Traçado do dado NURC – Recife/ 22: Figura (5): Traçado do dado NURC – Recife/ 22:
Comportamento da Intensidade Comportamento da Freqüência Fundamental

Conforme a descrição de Cunha 2000, acham-se aqui valores de Intensidade e Freqüência


Fundamental (F0) conferindo proeminência às sílabas pretônicas de “interessante”, que
contrastam fortemente com a sílaba tônica, ao passo que, na fala carioca, apresentam
comportamento distinto:

Figura (6):traçado do dado experimental Rio – Recife: Figura (7):traçado do dado experimental Rio – Recife
Comportamento da Intensidade Figura: Comportamento da F0

Com base nas medições, estimamos que, para a síntese, seria necessário manipular o
último vocábulo do grupo entoacional da frase lida em laboratório alterando-lhe:
• A freqüência fundamental, acentuando a queda tonal da pretônica 1 para a tônica em
250Hz;
• A Intensidade, de forma que a pretônica se tornasse 2 vezes mais intensa que a tônica;
• A Duração, de forma a tornar a pretônica imediatamente anterior à tônica 3 vezes mais
longa que ela.
Inicialmente manipulamos cada parâmetro por vez, ouvindo e avaliando o resultado da
síntese. Em seguida, juntamos os 3 parâmetros alterados. O resultado excessivamente metálico
da pretônica 1 fez com que tentássemos melhorá-la, aumentando sua F0 em apenas 100Hz.
5
Como o resultado ainda não foi satisfatório, aventamos a hipótese de os segmentos estarem
interferindo e gravamos uma frase trocando o vocábulo “interessante”, por “extravagante”, que tem
como pretônica 1 uma vogal de freqüência intrínseca mais baixa. Além disso, fizeram-se algumas
correções nos valores estimados anteriormente. Os traçados seguintes enfocam o vocábulo que
encerra o grupo prosódico na frase gravada em laboratório após a síntese:

Figura (9): Traçado da Síntese de Recife: Figura (10): Traçado da Síntese de Recife:
Comportamento da Intensidade Comportamento da Freqüência Fundamental

3.2. Porto Alegre

No dado NURC – Porto Alegre/ 04, a informante realiza a frase: “Eu acho assim tão
deselegante”. Como na escolha do dado de Recife, a seleção deste enunciado como prototípico
se deve ao fato de, especialmente sobre o último vocábulo, incidir uma forte marca de
regionalidade, observável no traçado:

Figura (11): Traçado do dado NURC - Porto Alegre/ 04:


Comportamento da Freqüência Fundamental

O comportamento da F0 é bastante peculiar na fala de Porto Alegre. A sílaba tônica dos


vocábulos marcados apresenta uma grande variação intrassilábica, de contorno ascendente. No
dado analisado esta variação é de 103Hz na sílaba “gan”, ao passo que nas demais tônicas a
variação oscila entre 15 e 35Hz. Na fala carioca nenhuma sílaba se notabiliza por uma
proeminência tonal desta ordem. No dado analisado, a variação silábica das tônicas manteve-se
entre 16 e 56Hz,como resume o gráfico:

Variação intrassilábica nas sílabas tônicas

150

100 Porto Alegre


Hz

Rio de Janeiro
50

0
a ssim tão gan

Figura (12): Gráfico da Variação Intrassilábica Porto


Alegre x Rio de Janeiro
6
Com base nas medições feitas nos dados de Porto Alegre e Rio, estimamos que seria
necessário manipular a frase gravada em laboratório – para que ela se aproximasse do falar
gaúcho – alterando-lhe:

• A F0: a) acentuando a variação intrafrasal, diminuindo 30Hz da freqüência da pretônica 1;


b) acentuando a variação intrassilábica na tônica, aumentando 100Hz, gradativamente. A
tônica é 10 vezes mais aguda que no Rio, porém esse aumento é gradativo e se acentua
do meio para o fim da sílaba; c) acentuando a variação intrafrasal, com acréscimo de 60
Hz na postônica (10 vezes o valor da variação no Rio);
• A Intensidade, de forma que a tônica se tornasse 2 vezes mais intensa que a tônica e a
postônica ficasse 25% menos intensa.

A duração foi mantida com os mesmos valores no dado gravado e na síntese, uma vez que
ao manipular os dois primeiros parâmetros alcançamos de imediato, resultado satisfatório. Os
traçados seguintes enfocam o vocábulo que encerra o grupo prosódico no dado tomado ao
corpus:

Figura (13): Traçado do dado NURC - Porto Alegre/ 04:


Comportamento da Freqüência Fundamental no vocábulo
“deselegante”

Figura (14): Traçado do dado gravado em laboratório:


Comportamento da Freqüência Fundamental no vocábulo
“deselegante”

Figura (15): Traçado do dado sintetizado: Comportamento da


Freqüência Fundamental no vocábulo “deselegante”

4. Conclusão

Para que os dados sintetizados se assemelhem mais aos dados de fala espontânea,
muitos experimentos ainda há por fazer. Uma das questões que se levantam é: será que só a
manipulação do vocábulo que encerra o grupo prosódico é suficiente para a caracterização da fala
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gaúcha e da fala pernambucana? Observando o corpus analisado em 2000 – sem recorrer à
estatística – percebe-se que tais marcas, apesar de poderem estar no início, no meio ou no fim de
uma unidade entoacional, tendem a se localizar na posição final, ou seja, na fronteira da unidade,
às vezes marcada, dentre outros fatores, por pausa e/ou por mudança de direção da linha
melódica. Uma distribuição semelhante, confirmada estatisticamente, foi encontrada por Léon
(1983).
No entanto, os traçados da F0 que abarcam a unidade prosódica como um todo, mostram,
claramente, que não raro a linha melódica ou a feição prosódica própria de um falar se delineia
antes mesmo do vocábulo final, configurando-se como um fenômeno global. Um refinamento da
análise, em termos qualitativos engloba necessariamente reflexões e novas testagens sobre os
aspectos enfocados nas duas últimas questões que iniciam este texto.
Para a análise da fala pernambucana, por exemplo, julgamos importante refletir sobre a
localização do fenômeno, para aprimorar a síntese.
Poder-se-iam propor 3 hipóteses sobre a localização do fenômeno:

Hipótese 1: O âmbito da prosódia regional é o estrato métrico. A diferenciação entre os


falares é um fenômeno local, determinado pela relação que se estabelece no grupo rítmico entre a
sílaba forte (acentuada lexicalmente) e as átonas adjacentes. A proeminência poderia recair tanto
sobre o grupo rítmico da última sílaba acentuada quanto sobre outro grupo que, no âmbito da
frase, se desenvolvesse também em torno de um acento.
Hipótese 2: O âmbito da prosódia regional é o grupo tonal. A diferenciação entre os falares
é um fenômeno global, extrapolando o nível/ o estrato métrico. Sua ocorrência se daria num nível
hierarquicamente superior e se caracterizaria pela forma como se comportam as sílabas
portadoras de acento lexical e as átonas intervenientes/ circundantes. Todo o grupo melódico (ou
parte dele) estaria envolvido na indexação regional, de forma que, de uma região para outra, se
encontrariam diferenças comportamentais entre o tonema e o pretonema.
Hipótese 3: A entoação regional pode se manifestar tanto no âmbito do nível métrico
quanto no âmbito do nível tonal. Mas, independente da extensão do fenômeno (ou “marca”,
“índice de regionalidade”), a sua configuração melódica deve manter-se constante, seja
concentrada numa só sílaba ou segmento, seja espraiada por um grupo melódico, da mesma
forma que a entoação modal. P. ex.: a linha melódica de uma questão total é a mesma tanto para
uma frase “Você acha que vai sair?” quanto para um só vocábulo: “Vai?”
Reavaliando os dados e o resultado das sínteses, parece que a prosódia regional se define
por uma combinação de possibilidades aventadas nas três hipóteses, o que se pode perceber a
partir de um segundo experimento que realizamos tomando como base a fala pernambucana.
Refizemos em laboratório duas gravações do enunciado “Pois é, o veado é muito interessante”:
primeiro uma das pesquisadoras realizou a frase com seu falar carioca e, em seguida, realizou-a
com intenção de imitar o mais fielmente possível a prosódia de Recife. Veja-se o resultado no
gráfico, no qual se vê a variação da F0 ao longo do enunciado (variação intrafrasal) em 3
situações – o 1º contorno (em azul) é referente ao dado do falante nativo de Recife, o 2º (em
rosa) mostra um falante carioca imitando o falar de Recife e o 3º (em amarelo), mostra a
enunciação do falante carioca com sua prosódia natural:

Variação intrafrasal

450
400
350
300
250
Hz

200
150
100
50
0
pois é o vi a do-é mui to in te re ssan te

Figura (16): Gráfico da Variação Intrafrasal da F0 Rio x Recife em três situações de


enunciação
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A comparação entre as linhas 1 e 2 (em amarelo e rosa, respectivamente) revela dados
interessantes. O pesquisador, ao enunciar a frase “Pois é, o veado é muito interessante”, com a
intenção de imitar a fala de Pernambuco, eleva de forma geral a F0 de todas as sílabas do
enunciado. A variação da F0 entre o falar carioca e a imitação da fala de Recife variou de um
mínimo de 20Hz a um máximo de 97 Hz, sempre mantendo a direção da linha melódica. Isso
aponta para a validação da hipótese de que a prosódia regional é um fenômeno global, se
estendendo ao grupo prosódico como um todo.
Por outro lado, no vocábulo “interessante”, que encerra o grupo melódico, inverte-se, da
fala carioca para a pernambucana, o comportamento das pretônicas: em Recife elas têm um
movimento ascendente, ao passo que no Rio elas descrevem uma curva descendente, o que
aponta para uma diferenciação local entre os dois falares. Combinados os dois comportamentos,
tem-se um padrão regional de configuração mais complexa, cuja síntese demandará uma
variedade maior de procedimentos.
Mas estas são questões que terão lugar no laboratório de fonética e sobre as quais
esperamos, brevemente, dar notícias.

Referências Bibliográficas

CHAFE, Wallace (1992). “Intonation units and proeminences in English natural discourse.” In:
Proceedings of the IRCS workshop on prosody in natural speech, 41-52. IRCS report no 92-
37. Philadelphia: Institute for Researche in Cognitive Science, University of Pennsylvania.
COUPER-KUHLEN, Elizabete (1986). “Funtions of intonation”. In: An Introduction to English
Prosody. Tübing, Max Niemeyer Verlag.
CUNHA, Cláudia de Souza (2000). "Entoação regional no português do Brasil". Tese de
Doutoramento em Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, UFRJ.
FÓNAGY, I (1993). “As funções modais da entoação”. In: Cadernos de Estudos Lingüísticos 25.
Campinas, UNICAMP. pp 25-65.
LÉON, Pierre, CARTON, Fernand; ROSSI, Mario; AUTESSERRE, Denis (1983). Les accents des
Français (collection dirigée par Pierre Léon). Paris, Hachette.
SOSA, Juan Manuel (1999). La entonación del español. Tese de Doutoramento. Madrid, Catedra.

_________________________

Notas:

1. Este texto foi apresentado no IV Congresso Internacional da Associação Brasileira de Lingüística –


ABRALIN, realizado na Universidade de Brasília, em fevereiro de 2005.
2. Colaborou, na análise dos dados, a graduanda Manuela Colamarco Cruz Pereira (bolsista
CNPq/PIBIC).
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