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Erros comuns em sistemas de climatização:

#1 - Vazamento de Dutos

Bruno Nassar Atualmente, o tema da eficiência energética tornou-se um assunto em


ASHRAE Member evidência. E quando o tópico é sistemas de ar condicionado, um erro
Engenheiro Mecânico - IME
Especialista em HVAC&R comum é pensar apenas na aquisição de equipamentos mais eficientes
Mestrado em Engenharia Mecânica como medida para redução no consumo de energia. Existem outras
Cláudio Moura soluções complementares que podem reduzir o consumo energético
Engenheiro Mecânico - IME do sistema de modo significativo. E uma delas é a redução dos
Especialista em HVAC&R vazamentos dos dutos, assunto abordado neste artigo.
Mestrado em Engenharia Mecânica
Desde 2008, com a vigência da NBR 16401-1, foram estabelecidos
Maíra Souza valores máximos admissíveis para vazamento em dutos. Em geral,
Engenheira Mecânica não se observa uma preocupação sistemática com relação a este
Especialista em HVAC&R
tipo de vazamento por parte dos profissionais da climatização,
sejam eles projetistas, instaladores ou até mesmo fiscais da obra.
Diversos sistemas de HVAC são instalados sem a realização de testes
de estanqueidade da rede de dutos, o que acarreta em perda de
desempenho e maior consumo de energia.

Além disso, os vazamentos em dutos reduzem a capacidade do


sistema em controlar e distribuir a vazão e a pressão necessárias,
geram ruídos e correntes de ar indesejáveis no espaço condicionado,
assim como depósito de sujeira no duto.

No vazamento, o ar se desloca da região de maior pressão para a de


menor pressão. No caso de dutos pressurizados, este fluxo ocorre
no sentido do interior do duto para o forro, o que além da perda
de eficiência pode gerar danos à instalação. Outra dificuldade é que,
em geral, os vazamentos não são perceptíveis pelos usuários por
longos períodos de tempo, fazendo com que o sistema se deteriore
irreversivelmente, intensificando o impacto do vazamento no sistema,
como problemas com conforto ou falha em equipamentos.

Medidas realizadas em campo indicam que sistemas VAV com 20% de


vazamento consomem até 35% mais de energia do ventilador do que
um sistema bem ajustado. Quando se analisa sistemas de exaustão,
os resultados são ainda piores. Vazamentos de 20% resultam em um
aumento do consumo energético de 95% do exaustor1 . Outro estudo
indica que mais de 75% dos prédios analisados possuíam vazamentos
na rede de dutos de ar condicionado de 10% a 26%, bem superior
ao aceitável de 5%2. Analisando a solução de vedação para reduzir
www.atmosclimatizacao.com.br vazamento nos dutos em um sistema existente de 20% para 5%
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verifica-se que o payback é de 1 a 2 anos2,3.

Selagem de dutos
Para selagem de dutos, existem diversos métodos reconhecidos pelas
entidades especializadas. Para casos de vazamentos críticos onde o
sistema de ar condicionado já está operando, a selagem de dutos por
meio de aerossol representa a solução mais simples.

A solução por aerossol consiste na vedação de dutos de dentro para


fora. Este método é executado da seguinte maneira: primeiro, fecha-
se a saída de ar pelos difusores ou grelhas. Em seguida, a rede é
pressurizada com uma névoa de selante, a qual é mantida em
suspensão no interior do duto até que o selante impacte no local de
vazamento, vedando-o.

A figura 01 mostra um gráfico de vazamento do ar nos dutos em função


do tempo durante a selagem por aerossol. No início do processo de
selagem, o vazamento é maior e vai decrescendo conforme o selante
se deposita nos orifícios.

Figura 01: Processo de selagem do duto

Apesar de simples execução, este processo é dispendioso, podendo


alcançar um terço do custo anual de manutenção do sistema de ar
condicionado, dependendo do tamanho da rede de dutos4,5.

Outra técnica é a selagem dos dutos durante a fabricação, antes mesmo


de uma detecção prévia do vazamento. Entre as opções recomendadas
pela ASHRAE e SMACNA estão a utilização de mastique, adesivos e
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fitas. Segundo a SMACNA6, dutos pressurizados a baixa pressão (250


Pa ou menos) precisam de selante apenas nas juntas transversais.

Testes, Ajustes e Balanceamento (TAB) e


Detecção e Diagnóstico de Falha (FDD)

Ao término da instalação, são realizados os testes, ajustes e


balanceamento (TAB) para o sistema funcionar como especificado em
projeto. Na prática, nota-se que pouca ou nenhuma importância é
dada a esta etapa. Porém, com o TAB, os vazamentos maiores podem
ser detectados. E, quando realizado rotineiramente, ao longo da vida
do sistema, este método provê meios de monitorar o desempenho do
sistema, garantindo a sua eficiência e o baixo consumo de energia.

Para sistemas maiores, automatizados e mais complexos, existe


a detecção e diagnóstico de falha (FDD – Fault Detection and
Diagnostics). O processo consiste na análise completa do sistema de
climatização através do software de detecção de falha e diagnostico.
Este programa vem com modos de testes embutidos que operam os
controladores e apresenta diagnósticos de possíveis falhas obtidas
pela leitura dos outputs dos sensores. Com isso, é possível a detecção
de algum resultado inesperado do sistema. Apesar de suas vantagens,
percebe-se que na prática, o uso de softwares de FDD ainda é pouco
difundido nos sistemas de HVAC no país.
Com o FDD, é possível ser notificado da falha antes mesmo da
ocorrência de algum dano ao equipamento, aumentando a vida útil do
mesmo e evita intervenções de manutenção não planejadas. Também
é possível avaliar vazamentos nos dutos e programar a correção da
falha. Estudos indicam de 10% a 30% de economia de energia em
sistemas que passaram pelo FDD4,5,7,8,9.

Especificações Normativas
A NBR 16401-110 estipula para cada tipo de instalação uma
porcentagem de dutos instalados a ser avaliada quanto a vazamentos,
conforme tabela XX. A ASHRAE11 por sua vez, sugere que o percentual
de amostragem para ensaio por área de superfície planificada de
duto não seja inferior a 25%. Cabe ao projetista definir a classe de
vazamento máxima do sistema e ao instalador cabe a responsabilidade
de fabricar a rede de dutos conforme a classe de vazamento desejada.

Por exemplo, para um duto classe 8 e uma pressão diferencial entre


o duto e o ambiente de 250 Pa, a taxa de vazamento de 0.29 L/s.m²
é considerada máxima. As fórmulas foram omitidas, mas podem ser
obtidas na NBR 16401, com maiores explicações sobre seu uso.
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Tabela XX: Recomendação para teste de acordo com a aplicação

Em casos de sistemas dimensionados para menor consumo energético,


sugere-se obedecer a Standard ANSI/ASHRAE/IES 90.1/2013 que
determina a vedação de todas as conexões e a classe máxima de
vazamento mínima de CL 6.

Conclusão
Observa-se que pouca importância se dá à vedação da rede de dutos
no Brasil. O resultado é o significativo desperdício de energia, o qual
não é evidente para o usuário final. O desconhecimento por parte do
cliente e do instalador deste tipo de precaução implica em vazamento
de ar, consumo desnecessário de energia, ruído, falhas e dispêndio de
recursos. Soluções simples e de baixo custo durante a fabricação dos
dutos, como selagem com mastique e outros adesivos, garantem níveis
aceitáveis de vazamento e tranquilidade para todos os envolvidos.

Referências
1.Wray, C.P., R.C. Diamond, and M.H. Sherman. 2005. Rationale for
measuring duct leakage flows in large commercial buildings. Lawrence
Berkeley National Laboratory, Report LBNL-58252

2. Diamond, R.C., C.P. Wray, D.J.Dickerhoff, N.E. Matson, and D.M.


Wang. 2003. Thermal distribution systems in commercial buildings.
Lawrence Berkeley National Laboratory, LBNL-51860

3. 2012 ASHRAE Handbook – HVAC Systems and Equipment, chapter


19

4. TIAX. 2002. “Energy Consumption Characteristics of Commercial


Building HVAC Systems – Volume III: Energy Savings Potential.” Final
Report to U.S. DOE, Office of Building Technologies.

5. Detlef Westphalen; Kurt Roth; James Brodrick. Duct Leakage Fault


Detection, ASHRAE Journal 47(8):56-58.

6. HVAC Duct Construction Standards Metal and Flexible – ANSI/


SMACNA 3rd Edition 2005
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7. Claridge, D., M. Liu and W.D. Turner. 1999. Whole Building


Diagnostics Workshop.

8. Piette, M.A., S. Kinneyand P. Haves. 2001. “Analysis of an information


monitoring and diagnostic system to improve building operations.”
Energy and Buildings 33(8):783 – 791.

9. Westphalen, D. and K.W. Roth. 2003. “System and component


diagnostics.” ASHRAE Journal 45(4):58 – 59.

10. NBR 16401-1. “Instalações de Ar Condicionado – Sistemas Centrais


e Unitários Parte 1: Projeto das Instalações. Rio de Janeiro 2008.

11. ANSI, ASHRAE, IES Standard 90.1-2013. “Energy Standard for


Buildings Except Low-Rise Residential Buildings”, 2013.

12. BUSHBY, S. T.;SCHEIN, J. “Fault Detection & Diagnostics for AHUs


and VAV Boxes”. ASHRAE Journal, Julho 2005.

13.BRODRICK, J.; ROTH, K.; WESTPHALEN, D. “Duct Leakage Fault


Detection”. ASHRAE Journal, Agosto 2005.

14. MODERA, M. “Fixing Duct Leaks in Commercial Buildings”. ASHRAE


Journal, Agosto 2005.

15. HVAC Air Duct Leakage Test Manual - ANSI/SMACNA 7th Printing
2003.

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