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Ilustração de Bárbara
Vazzoler Villar
com intervenção de
Carlus Campos

2
ENFRENTAMENTO
DAS SITUAÇÕES DE
VULNERABILIDADE E
RISCOS SOCIAIS
Maria do Socorro
Ilustração de Mariana
Vazzoler Villar
Ferreira Osterne
com intervenção de
Carlus Campos

APOIO REALIZAÇÃO

III
Copyright©2021 Fundação Demócrito Rocha

FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)


Presidência Luciana Dummar
Direção Administrativo-Financeira André Avelino de Azevedo
Gerência Geral Marcos Tardin
Gerência Editorial e de Projetos Raymundo Netto
Análise de Projetos Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes e Fabrícia Góis

SECRETARIA DE PROTEÇÃO SOCIAL, JUSTIÇA, CIDADANIA, MULHERES E DIREITOS HUMANOS (SPS)


Secretária de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos - SPS Socorro França
Coordenação Técnica PROARES III SPS Maria de Fátima Lourenço Magalhães
Gerência Técnica do PROARES III Anete Morel Gonzaga
Gerência de Fortalecimento Institucional do PROARES III Selma Maria Salvino Lôbo

UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)


Gerência Pedagógica Viviane Pereira
Coordenação de Cursos Marisa Ferreira
Design Educacional Joel Lima
Front-End Isabela Marques

CURSO PROTEÇÃO SOCIAL: PROGRAMA INTEGRADO DE EDUCOMUNICAÇÃO


Concepção e Coordenação Geral Cliff Villar
Coordenação de Conteúdo Ana Lourdes Leitão
Revisão Daniela Nogueira
Projeto Gráfico, Edição de Design e Coordenação de Marketing Andrea Araujo
Design Mariana Araujo, Miqueias Mesquita e Kamilla Damasceno

SUMÁRIO
Arte-terapia Joana Barroso
Ilustrações Ana Luiza Travassos de Oliveira Carvalho, Anny Rammyli Nascimento da Silva, Antônia Travassos de Oliveira
Carvalho, Bárbara Vazzoler Villar, Beatriz Vazzoler Villar, Bernardo Saraiva Pinheiro, Davi Bogea Caldas, Fernanda Vitória
de Almeida Matos, Francisco Mateus Braga da Silva, Guilherme Araújo Carvalho, João Vazzoler Villar, João Victor Batista
Veloso, Júlia Nogueira de Holanda, Luanna Madureira Marques, Lucas Mesquita Mororó, Lucas Sobreira de Araújo, Maia
Alease Lima Oliphant, Maria Clara Negreiros Lobo, Maria Júlia Sousa de Oliveira, Mariana Negreiros Lobo, Mariana
Vazzoler Villar, Mateus Saldanha Félix, Maurício Rafael Cipriano Gomes, Rafaela Microni Santos, Thalita Sophia Moreira
da Silva, Yasmin Microni Santos, Yasmin Monteiro Gomes Bezerra, com intervenção de Carlus Campos
1 INTRODUÇÃO 20
Análise de Marketing Digital Fábio Júnior Braga

2 A QUESTÃO SOCIAL NO CENÁRIO 21


Este curso é parte integrante do Curso de Capacitação sob o tema PROTEÇÃO SOCIAL na modalidade
de Educação a Distância (EaD), em decorrência do Contrato celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha
BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO
e a Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos - SPS , sob o nº 143/20.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD


3 DIREITOS SOCIAIS: A RECUSA 25
P967 Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação / vários autores; organizado por Ana DAS EXPLICAÇÕES SIMPLIFICADORAS
Lourdes Maia Leitão; vários ilustradores. - Fortaleza : Fundação Demócrito Rocha, 2021.
192 p. : il.; 26cm x 30cm. – (Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação ; 12v.)
Inclui bibliografia e apêndice/anexo. 4 A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA 26
ISBN: 978-65-86094-76-3 (Coleção)
ISBN: 978-65-86094-77-0 (Fascículo 2) SOCIAL NO CAMPO DA PROTEÇÃO
1. Direitos Humanos. 2. Políticas Públicas. 3. Assistência Social. 4. Drogas. 5. Igualdade Racial.
6. Segurança Alimentar e Nutricional. 7. Proteção à Vida. 8. Direito das Mulheres. 9. População
LGBTQIA+. 10. Pessoas com deficiência. I. Leitão, Ana Lourdes Maia. II. Título. III. Série. SOCIAL NÃO CONTRIBUTIVA
2021-1549 CDD 341.4
CDU 341.4
Todos os direitos desta edição reservados à: REFERÊNCIAS 31
Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410 Fundação Demócrito Rocha
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
Índice para catálogo sistemático: CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
Direitos Humanos 341.4 Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148
Direitos Humanos 341.4 fdr.org.br | fundacao@fdr.org.br
1
INTRODUÇÃO
E 2
ste fascículo, cujo teor se concentra no tema “Enfrenta-
mento das Situações de Vulnerabilidade e Riscos Sociais”,
no campo da proteção social não contributiva, vai expres-
sar, prioritariamente, um esforço de compreender os múl-
tiplos significados embutidos nesta temática.

A QUESTÃO SOCIAL
No sentido de facilitar esta compreensão, o fascículo se estrutu-
rará em quatro tópicos. Em todos eles perpassará um fio condutor,
cronologicamente articulado, no sentido de possibilitar entendi-
mentos sobre a materialidade dos acontecimentos no plano do
que se estabelece como proteção social não contributiva.
O primeiro tópico trata da questão social no cenário brasi-
Ilustração de Lucas
Sobreira de Araujo
NO CENÁRIO
leiro, abordando a história desse conceito, afunilando para,
mediante seu significado, indicar que a questão social desvela
com intervenção
de Carlus Campos BRASILEIRO Ilustração de Bárbara

CONTEMPORÂNEO
Vazzoler Villar com
contradições e expõe as fragilidades do sistema de produção intervenção de
capitalista, de onde emergem a pobreza, o desemprego, a fome, Carlus Campos
a insalubridade habitacional, as enfermidades, o analfabetis-
mo, o desabrigo, a violência e o isolamento social. Segue dis- 2.1. QUESTÃO SOCIAL
correndo sobre a noção de pobreza e subalternidade e termina Pensar sobre a “questão social” supõe um encontro abrangente cativa magnitude que, segundo Santos (2012, p. 17), ninguém,
por introduzir comentários a respeito dos conceitos de exclusão com significados de alta densidade explicativa. Isso acontece por independentemente do seu campo ideopolítico, será capaz de
e desigualdade, termos correlatos à ideia de pobreza. envolver problemas da ordem da igualdade, da justiça, da liber- negar a existência.
Por oportuno, o segundo destaca reflexões sobre o que vêm a dade, das diferenças e da paridade, enfim, polêmicas revestidas Reforçando o pensamento de que a questão social seja im-
ser direitos sociais mediante as manifestações das questões so- de discussões ideológicas, históricas e culturais, muitas vezes, de pensável fora dos marcos de constituição do modo de produção
ciais, de cuja base se originam as promessas de igualdade e justiça difícil compreensão. capitalista, cai por terra qualquer tentativa de compreendê-la na-
presentes no sistema de proteção social não contributiva. Assim, convém começar dizendo que a “questão social” é turalizando suas manifestações, tentando caracterizá-la como mu-
Seguindo este ordenamento lógico, o terceiro tópico põe em impensável fora dos marcos da constituição da sociedade ca- danças ocorridas nas formas de solidariedade ou coesão social na
relevo a Política Nacional de Assistência Social, sua história, mode- pitalista. Historicamente falando, não se trata de um problema busca de uma aparente positividade capitalista.
los, estrutura e objetivos, em sua missão de encontrar um sentido novo, pois começou bem antes dos ímpetos concentradores do Afirma-se, então, a existência real não da “questão social”, mas,
mais abrangente para a proteção social, concebida como produto sistema financeiro internacional. sim, de suas formas de expressão. Seria, por exemplo, expressão
de esforços simultâneos entre o Estado e a sociedade. Em muitos casos, a questão social é também identificada da questão social: a pobreza, o desemprego, a fome, a insalubri-
Tomando o reconhecimento das vulnerabilidades e riscos so- como exclusão social, noção sobre a qual se vai falar nos pará- dade habitacional, as enfermidades, o analfabetismo, o desabrigo,
ciais enquanto condição de um dos eixos estruturantes da gestão grafos posteriores. A nominação à questão social surgiu no sé- a violência, a insegurança e o isolamento social, dentre outras for-
do Sistema Único de Assistência Social (Suas), o tópico quarto culo XIX, a partir do aparecimento das primeiras manifestações mas de manifestações, como a ignorância, a resignação e o medo.
discorre sobre a essência do conceito de vulnerabilidade e risco, de miséria e pobreza advindas da sociedade industrial. Aliás, o A emergência da questão social, portanto, desvela contradi-
observando onde eles se interpenetram e quais as estratégias de que se observa ao longo da história é que sempre existiu uma ções sociais e expõe as fragilidades de um sistema em sua mul-
enfrentamento vivenciadas pelas famílias e pelos indivíduos nos estreita relação entre cada um dos períodos da formação das tidimensionalidade: econômica, política e social. A contradição
territórios mediante as situações de instabilidade social. Finaliza sociedades capitalistas e os modelos de proteção social. fundamental inerente ao sistema de produção capitalista, cen-
pondo em pauta questões relacionadas à razão de ser da interse- Para Castel, está-se vivendo uma nova velha questão social trado na exploração, na mais-valia e na repartição desigual da
torialidade como importante ferramenta de gestão no enfrenta- na contemporaneidade. E a maior novidade é sua relevância so- renda nacional entre as classes sociais, constitui a base do seu
mento das situações de vulnerabilidade e riscos sociais no inte- bretudo a partir de 1990. A visibilidade da questão social, onde processo excludente, gerador e reprodutor da pobreza, assunto
rior da Política Nacional de Assistência Social (PNAS). quer que ela se manifeste mundialmente, é um fato de signifi- do próximo tópico deste fascículo.
20 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 21
Ilustração de Maurício
Rafael Cipriano Gomes
com intervenção de
Carlus Campos

2.2 POBREZA E SUBALTERNIDADE Trata-se, portanto, de uma das mais Além disso, dentro de um mesmo país, existem diferenças de ma-
significativas formas de manifestação nifestações regionais e entre áreas urbanas e rurais.
Importa começar dizendo que a pobreza é uma categoria histórica e
da questão social que, em muitos casos, No tocante à pobreza brasileira, em uma perspectiva históri-
socialmente construída, jamais um fenômeno natural. Diz respeito a
convive com a miséria. Para Silva (2010), ca, sua sociedade tem sempre apresentado divergências entre
um fenômeno estrutural de natureza complexa e multidimensional
os pobres são produtos das relações que indicadores econômicos que manifestam altos e baixos índices
que não pode ser interpretado como simples insuficiência de renda
produzem e reproduzem a desigualdade de indicadores sociais, sempre comparáveis aos países mais po-
e privações de ordem material. Ela agrega a dimensão da desigual-
no plano social, político, econômico e bres do mundo. Outro ponto de significativo destaque é que a
dade na distribuição da riqueza socialmente produzida, o não aces-
Ilustração de cultural. Essas relações definem um lugar pobreza brasileira raramente tem sido considerada uma priori-
Bárbara Vazzoler so a serviços básicos, à informação, ao trabalho, a uma renda digna
para eles na sociedade, um lugar que os dade nacional, embora indicada como impossibilitada de redu-
Villar com
intervenção de
e à participação política e social.
desqualifica por suas crenças, seu modo zir os índices de desigualdade, por meio de seus próprios recur- 2.3. EXCLUSÃO SOCIAL
Carlus Campos de se expressar e seu comportamento sos, uma vez concentrados nas mãos das elites. Isso sem contar Foi em 1980 que o termo exclusão social ganhou espaço e vi-
social, percebidos como sinais de “quali- com a sua dependência do capitalismo internacional. sibilidade no debate político internacional. Presume-se que
dades negativas” e indesejáveis, haja vis- No momento atual, esse quadro tem se agravado, haja vista esta visibilidade tenha ocorrido em face da necessidade de
ta sua procedência de classe e condição a lógica do modelo socioeconômico neoliberal globalizado, as- melhores explicações sobre o crescente processo de empo-
social. Trata-se, por conseguinte, de uma sentado no “mantra” do livre mercado, da livre competição e da brecimento e carência das populações.
categoria política que se materializa na redução do Estado no âmbito das políticas sociais públicas. O termo começou a agregar tendências de análises das
carência de direitos, de oportunidades, Nesta linha de raciocínio, as políticas públicas de cunho so- mais variadas, indo desde as explicações focadas em causas
de informações, de possibilidades e es- cial, direcionadas para o enfrentamento da pobreza, não che- psicológicas, condições de moradia, pobreza, inadaptação
perança (SILVA, 2010, p. 1). gam a erradicá-la, mas apenas aliviam seus efeitos mais ne- para o progresso, deficiência, marginalidade, até a ideia de
A pobreza faz parte da experiência co- fastos. Como se vê, nenhuma situação de pobreza advém de novos pobres, ou seja, aqueles com participação aleatória
tidiana das sociedades. Por isso, carrega causas naturais, portanto poderá ser enfrentada como priori- na dinâmica econômica e social. O certo é que esta expres-
consigo uma tendência à banalização, à dade através de políticas públicas ativas e capazes de produzir são ganhou notoriedade ao ponto de fazer supor que, enfim,
tolerância, aos caminhos fáceis. Aceita-se bons resultados com o mínimo de desperdício nas áreas da edu- havia surgido o entendimento final sobre a questão social.
com conformismo a profunda incompa- cação, da saúde, da moradia e, sobretudo, do acesso à renda. Porém, mais recentemente, a expressão exclusão social
tibilidade entre os ajustes estruturais Enfim, a pobreza supõe inferioridade, dependência, subordi- passou a ser criticada, tanto pela sua abrangência e incapa-
da economia sob a égide do capital e os nação em face de uma constante necessidade de auxílio, ajuda, cidade explicativa quanto pelo seu uso abusivo. Trata-se de
investimentos sociais que deveriam ser proteção e também dependência emocional. A pobreza supõe uma noção polêmica que comportará sempre a necessidade
complementados pelo Estado. lugares negativados para seus acometidos, o lugar da subalter- de reconstruir seu processo de aparecimento, emergência e
A análise do fenômeno da pobreza nidade. Entre estes encontram-se, principalmente, os moradores consolidação no plano do pensamento social.
deverá sempre levar em consideração as de rua, os presidiários, os doentes mentais e, mais fortemente, os Por absorver os mais variados ângulos daquilo que pre-
diferenças econômicas, históricas e cul- sem-teto, os desempregados, os idosos asilados e os migrantes. tende explicar, exclusão social tem se tornado uma noção
turais entre os países. Ser pobre no Brasil Esses sujeitos, de forma acentuada, revelam as contradições por demais abrangente e essencializada, portanto desauto-
não é exatamente como ser pobre nos Es- sociais e expõem, marcantemente, as fragilidades da formação rizada para proceder com caracterizações mais precisas na
tados Unidos, em Portugal ou na Espanha. política da sociedade. forma conceitual.
22 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 23
Mais comumente ela se relaciona às manifestações de mal-
-estar na sociedade contemporânea marcadas pelo problema do
desemprego e, consequentemente, pelo crescimento da pobreza.
Em certas circunstâncias é adotada, pelo senso comum, para de-
signar vítimas da crise econômica e social em situações de carên-
cia pessoal, familiar e comunitária, entendidas como situações
naturais inerentes àqueles que vivem à margem da sociedade.
3 Ilustração de Bárbara
Vazzoler Villar
com intervenção de
O termo exclusão social também é usado para caracterizar mino- Carlus Campos
rias (negros, homossexuais, migrantes e deficientes físicos), além de

DIREITOS SOCIAIS:
pobres, desempregados, população de rua e moradores de favelas.
Por isso, tornou-se uma expressão bastante usual entre governantes,
políticos, jornalistas e pesquisadores. Continua sendo tema de confe-
rências, teses, livros, pesquisas e artigos, por apresentar considerável
eficiência para designar todo tipo de situação ou condição social de
carência, risco de discriminação, vulnerabilidade e precariedade. A ex-
“A RECUSA DAS
pressão exclusão social, portanto, corre o risco de não caracterizar ne-
nhum fenômeno por querer dar conta de todos, explica. (ZIONI, 2006).
EXPLICAÇÕES
No próximo tópico passar-se-á ao subitem Desigualdade Social,
SIMPLIFICADORAS”
F
como noção correlata à ideia de pobreza e exclusão social.
alar de direitos sociais neste peculiar momento de pan- sobre os direitos sociais a partir da materialidade dos reais pro-
demia requer constante renovação dos instrumentos blemas vivenciados, rumo às promessas de igualdade e justiça
2.4. DESIGUALDADE SOCIAL de análise para dar conta dos imensos desafios postos social embutidas nas cartas de intenções.
A desigualdade social é considerada um problema social decor- por esta nova situação que, além de esgarçar as desi- Em outras palavras, seria colocar os direitos na ótica dos su-
rente, sobretudo, da má distribuição de renda e da precariedade gualdades antes existentes, expõe novas desigualdades. jeitos que vivenciam os reveses do processo de exclusão social e
de investimentos nas áreas relacionadas com as necessidades A economia neoliberal está sendo fortemente impactada não conviver com as subalternidades próprias daqueles que são
humanas básicas: alimentação nutritiva e água potável; habita- Ilustração de pelo coronavírus. A sociedade e o Estado estão se tornando im- privados da palavra ou cuja palavra é descredenciada.
Fernanda Vitória
ção digna; cuidados com a saúde; trabalho desprovido de risco; de Almeida Matos prescindíveis para que as pessoas sobrevivam. A redistribuição As questões sociais inerentes à exploração dos trabalhado-
transporte; proteção à infância/adolescência; segurança social; com intervenção de riquezas volta a ser prioridade na agenda dos países. Não há res, a pobreza dos sem-teto e dos sem-terra, a desproteção das
ambiente físico saudável; acesso à escolarização/educação. de Carlus Campos como esperar pelo funcionamento “automático infalível” dos populações dos bairros pobres das grandes cidades, as humi-
Ela expressa a diferença de renda entre determinados grupos mercados. Os direitos universais à renda, à saúde e à educação lhações impostas aos negros discriminados, a inferiorização
de pessoas no interior de uma mesma sociedade. Hoje seus prin- impõem-se como prioridades políticas. das mulheres, a matança dos índios, a desqualificação dos qui-
cipais fatores relacionam-se à má distribuição de renda e admi- Segundo relatório da OXFAM (2019), o Brasil aparece como Reexaminar o que são os direitos sociais, neste momento lombos e as violências impostas às populações empobrecidas
nistração dos recursos; à lógica de acumulação do mercado capi- um dos piores países em matéria de desigualdade de renda. singular, impõe-se, portanto, como tarefa obrigatória. A possi- são algumas das situações que precisam sair do discurso ne-
talista (consumo e mais valia); à falta de investimento nas áreas Isso porque mais de 16 milhões de pessoas vivem abaixo da li- bilidade de uma sociedade mais justa e mais igualitária exige gativista para encontrar a promessa igualitária embutida na lei
sociais, culturais, da saúde e da educação; à falta de oportunida- nha da pobreza. Em relação à renda, o 1% mais rico recebe, em esse reexame. que propõe enfrentar as desigualdades, as discriminações e as
de de trabalho e à corrupção. Suas consequências mais imediatas média, mais de 25% de toda a renda nacional. Telles (1999, p. 2) observa que, não obstante a incorporação violências cotidianas.
são: a fome, a desnutrição e a mortalidade infantil; o crescimento Atualizando esta incursão na temática das desigualdades so- desses direitos na Carta Constitucional, percebe-se uma profun- Não é essa concepção desfigurada de igualdade e justiça que
progressivo das taxas de desemprego; a distância entre ricos e ciais, importa também destacar que, no contexto de pandemia da defasagem entre os princípios igualitários da lei e a materia- deverá constituir a figura do cidadão. A imagem da pessoa ne-
pobres; as discriminações e privilégios entre as classes; o aumen- da covid-19, o fosso das disparidades sociais tem-se mostrado lidade das desigualdades e exclusões na dinâmica das relações cessitada, pedinte e pobre, despojada de sua dimensão ética,
to dos índices de violência e criminalidade. muito mais acentuado, tanto nacional como globalmente. sociais ao longo do tempo e nos dias atuais. submetida aos imperativos da sobrevivência, não condiz com a
A busca de seu significado tem sempre como ponto de par- Nesse cenário, caberá especialíssima atenção ao tema das de- Telles (1999) afirma, também, que falar de direitos sociais noção de direitos, tampouco com a noção de cidadania.
tida as contradições inerentes à dimensão da sociedade capita- sigualdades sociais no plano da garantia dos direitos e do fortale- significa falar de perdas e sensações de impotência. Sendo as- No próximo tópico se dará destaque à Política Nacional de
lista em sua dinâmica e estrutura. cimento das políticas públicas no combate às suas manifestações. sim, sugere deslocar a sensação de fragilidade para repensar Assistência Social no campo da proteção social não contributiva.
24 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 25
Ilustração de Mariana
Vazzoler Villar com
intervenção de
Carlus Campos

4 Ilustração de João
Victor Batista Veloso
com intervenção de
Carlus Campos A consolidação da assistência social como política pública e direito social passou a
Sendo assim, a Política Nacional de exigir o enfrentamento de muitos e importantes desafios. A IV Conferência Nacional de

A POLÍTICA
Assistência (PNAS-2004) consolida que Assistência Social, ocorrida em Brasília em dezembro de 2003, indicou, como principal
a proteção prevista em seu texto deverá deliberação, a constituição e a implementação do Sistema Único de Assistência Social
afiançar segurança de acolhida e segu- (Suas), condição essencial da Lei Orgânica da Assistência (Loas -1993), para garantir

NACIONAL DA rança de convívio relativo à vivência fa-


miliar, defendendo uma proteção mais
efetividade à assistência social como política pública.
A versão preliminar da PNAS foi apresentada ao Conselho Nacional de Assistên-

ASSISTÊNCIA
vigilante e proativa. cia Social (CNAS) em 23 de junho de 2004, pelo Ministério de Desenvolvimento Social
Por meio da Constituição Federal (MDS/SNAS), tendo sido amplamente discutida e divulgada em todos os estados bra-
de 1988, portanto, foi consolidada uma sileiros por meio de seminários, encontros, reuniões, oficinas e palestras que garanti-

SOCIAL NO CAMPO atenção especial para a proteção social,


particularmente no capítulo de Segurida-
de Social (BRASIL, 1988), no qual se as-
ram o caráter democrático do processo. A Resolução do CNAS N°145, de 15/10/2004,
aprova enfim, a Política Nacional de Assistência.

DA PROTEÇÃO segura o direito à saúde, à previdência e


à assistência social. A saúde tem caráter

SOCIAL NÃO universal, a previdência é contributiva e


obrigatória e a assistência, constituída
por indivíduos que não podem prover
TODA ESSA EXPERIÊNCIA ACUMULADA ORIENTOU A
PNAS (2004) A PROPOR COMO OBJETIVOS:
CONTRIBUTIVA suas necessidades. Pela primeira vez na

A
história, uma Constituição brasileira ga- Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e
rante a assistência como direito do cida- dos Municípios:
ntes de discorrer sobre a Política Nacional da Assis-
dão e dever do Estado. a) Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção básica e ou
tência Social (PNAS), caracterizada como uma efetiva
Não resta dúvida de que o advento da especial às famílias, indivíduos e grupos que dela necessitem;
política de proteção social, é necessário adentrar o en-
Política Nacional de Assistência representa b) Contribuir para a inclusão e a equidade dos usuários e grupos específicos,
tendimento do que venha a ser o modelo de proteção
uma conquista significativa no plano das em áreas urbana e rural;
social brasileiro.
garantias dos direitos sociais no Brasil. Po- c) Assegurar que as ações tenham centralidade na família e que garantam a
A Constituição Federal de 1988 é um marco histórico que am-
rém sua aprovação não passou sem gran- convivência familiar e comunitária (BRASIL, MDS, PNAS, 2004, p.33).
plia legalmente a proteção social para além da vinculação com o
emprego formal. Neste marco, ocorre uma mudança qualitativa des embates entre políticos e governantes,
na forma de entender a proteção que vigorou no país até então. sobretudo de grupos adeptos da lógica ne-
Na Constituição de 1988, o modelo de proteção social pas- oliberal de “menos Estado e mais Mercado”,
sou a ser compreendido como um sistema de referência voltado haja vista sua viabilidade econômica. Por A ênfase na matricialidade sociofamiliar, o financiamento partilhado entre as esferas
para possibilitar acesso a condições de vida alicerçadas na dig- isso, sua regulamentação só ocorreu em governamentais, o reconhecimento das vulnerabilidades e riscos sociais do território e o
nidade humana, na justiça social, nos direitos e na vigilância so- 1993, quando foram impulsionadas medi- envolvimento da população constituem eixos fundamentais da assistência social. Sobre
cial. Proteção Social que supõe guarda, amparo, apoio, defesa e das constrangedoras à sua efetivação (SIL- vulnerabilidade e riscos, matricialidade sociofamiliar e território, se falará no próximo
socorro a quem dela necessitar. VEIRA & OLIVEIRA, 2014, p. 295). tópico deste fascículo.
26 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 27
Ilustração de Mariana
Vazzoler Villar
com intervenção de
Carlus Campos

4.1. O CONCEITO DE VULNERABILIDADE E RISCO SOCIAL: 4.2. INDICADORES DE ENFRENTAMENTO


ASPECTOS QUE SE INTERPENETRAM ÀS SITUAÇÕES DE VULNERABILIDADE
Foi na busca de compreender as grandes transformações ocor- nerabilidade no sentido de identificar situações de insegurança às E RISCOS SOCIAIS VIVENCIADAS PELAS
ridas em algumas partes do mundo, na década de 1980, que os quais os cidadãos se encontram expostos na sociedade de merca- FAMÍLIAS NOS TERRITÓRIOS
termos riscos e vulnerabilidade ganharam notoriedade no cam- do, ou seja, insegurança e ameaças a serem cobertas pela PNAS; A família constitui uma instituição de forte referência, haja vista o
po das Ciências Sociais, principalmente através dos estudos de risco não em seu sentido imediato de perigo, mas como possibili- aprofundamento das condições de risco e vulnerabilidade social
Ulrich Beck e Anthony Giddens, autores de referência nas análi- dade de se antepor a situações futuras de perda da qualidade de nas quais se encontra submetida a maioria das famílias brasileiras.
ses sociológicas com foco nas sociedades de risco. vida pela ausência de uma ação preventiva (SPOSATI, 2001, p. 69). Sendo assim, precisa ser alvo da atuação do Estado, por meio das
Para Beck (2010), na sociedade de risco a ameaça global in- Para Sposati (2006, p. 61), a assistência social exerce o papel políticas sociais públicas, em especial na área da assistência social.
timida a vida no planeta sob todas as formas e atinge, portanto, de detectora de vulnerabilidades, ou seja, a PNAS deve definir Essa visibilidade suscita reflexões sobre o que venha a ser a família
o ser humano, a fauna e a flora. Beck admite que a expansão e a quais vulnerabilidades sociais devem ser cobertas, indicando contemporânea brasileira em sua multiplicidade de formas e sentidos.
mercantilização de risco não rompem com a lógica capitalista, uma certa indissociabilidade entre os termos risco e vulnera- Considerada como instância básica da sociedade, dela se
pelo contrário, apresentam-se sob um novo estágio. bilidade, uma vez que, no seu raciocínio, os riscos expõem os espera ser responsável, dentre outras funções, pela reprodução
Já Anthony Giddens (1991) reconhece que o risco, na socie- sujeitos a situações vulneráveis. material e subjetiva de seus indivíduos, pelo cuidado com os seus
dade capitalista, tenha um alto poder lucrativo. Afirma que o Percebe-se, dessa forma, que os termos risco e vulnerabili- membros e com a socialização primária de seus componentes.
capitalismo é imprescindível e impraticável fora do comércio e dade ampliam o acesso à PNAS para além dos grupos indicados Há quem a considere ser a única instância responsável pelo bem-
da transferência de riscos. Sendo assim, sugere que risco não pela Loas, quais sejam: idosos, crianças e adolescentes e pesso- -estar de seus integrantes. Convém, entretanto, adiantar que a
seja automaticamente sinônimo de perigo nem de infortúnio as com deficiência. Diante dos debates e múltiplas concepções família nem sempre é lugar de proteção.
ainda que relacionado, pois a pressuposição de perigo depende provocadas pelos sentidos de risco e vulnerabilidade, Sposati A família no imaginário brasileiro é, de fato, um valor. É canal
4.3. A INTERSETORIALIDADE
de avaliação prévia de danos futuros. (2006), admite a existência de múltiplos sentidos, apontando, de iniciação e aprendizado dos afetos e das relações sociais. Em DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO
Como se percebe a noção de risco, tanto no ponto de vista de porém, sua intimidade com o sistema capitalista e que, no to- face desses múltiplos significados, Osterne (1991, p. 92) prefere
Beck como no de Giddens, é inseparável do sistema capitalista e cante ao risco, apenas um sentido estaria relacionado à assis- compreender família como “unidade de referência”, ou seja, um
ENFRENTAMENTO DAS SITUAÇÕES DE
crucial para o seu desenvolvimento. tência social, qual seja: aqueles riscos que levam à apartação, ponto focal no qual se pode desfrutar do sentido de pertencer VULNERABILIDADE E RISCOS SOCIAIS
Outro pensador dedicado ao entendimento dos rumos da pro- ao isolamento, ao abandono e à exclusão, podendo estender-se e experimentar a sensação de segurança afetiva e emocional, A abordagem intersetorial no âmbito da gestão pública signi-
teção social foi Castel (2005), que se contrapôs à noção de “cultu- à violência física e sexual. apesar de condições adversas e mesmo independente das rela- fica mudança de paradigma no modelo de administração pú-
ra do risco” formulada por Giddens. Para Castel os riscos não são Enfim, Sposati, desta feita citada por Alvarenga, indica cinco ções de parentesco e consanguinidade. Algo que possa ser pen- blica tradicional, antes baseada no modelo burocrático. Para
democráticos e as injustiças sociais são gritantes na distribuição fatores de risco que agravam as vulnerabilidades das famílias e sado como o local de retorno, o destino mais certo. Inojosa (2002), a ideia de intersetorialidade supõe um projeto
desses riscos nas sociedades de classe. Sugere, portanto, instân- das pessoas: separação espacial (territórios com acessos precá- Reconhecida como instância submetida, cotidianamente, às político diferente para as políticas públicas, ou seja, um projeto
cias políticas transnacionais poderosas para impor limites às ex- rios e infraestrutura ruim); padrão de coesão e convivência fami- adversidades impostas pelo modelo econômico desigual e pre- que ponha efetivamente o cidadão no centro das decisões.
citações do lucro, além de domesticar o mercado globalizado. liar comunitária e social (apartação, isolamento, discriminação, datório, a família passou a ser incorporada como público privi- A intersetorialidade supõe também o cumprimento de deci-
É comum entre os autores, até aqui citados, dizer que os termos ausência de pertencimento); contingência da natureza (enchen- legiado no âmbito da Política Nacional de Assistência, que traz sões coletivas de planejamento e avaliação, além de uma atua-
risco e vulnerabilidade são inerentes à história do próprio capita- tes, deslizamentos e seca); etnias, gênero, religião, orientação como uma de suas diretrizes a centralidade na família para a ção governamental em rede de compromissos. No detalhamen-
lismo e que, em momentos de crise, eles ganham relevância, por sexual; e desigualdade econômica. (ALVARENGA, 201, p.63-64) concepção de seus benefícios, programas e projetos. to, sugere parcerias entre diferentes órgãos governamentais e
referirem-se a uma considerável parcela da população que vive do Como vimos, risco e vulnerabilidade não são termos sinôni- Enfim, a PNAS entende que as circunstâncias e os requisitos so- participação popular na procura de soluções para problemas
trabalho, pondo em discussão a natureza da questão social. mos, atingem os sujeitos de formas e intensidades diferentes. ciais circundantes do indivíduo e dele em sua família são determi- prioritários, antecipando ações de médio e longo prazo.
Já Sposati, em sua tarefa de constituir uma proposta de polí- Cada sujeito ou família responde de forma diferente às situa- nantes para sua proteção e autonomia. Hoje, existe um certo consenso de que o problema das
tica pública centrada na assistência social no Brasil, em 2001 já ções, e nem todas essas situações são motivo da ação, tampou- No próximo tópico serão abordadas questões relacionadas políticas sociais públicas brasileiras não pode ser debita-
usava os termos vulnerabilidade e risco, que posteriormente fo- co cobertas pela assistência social, embora seja, de sua compe- ao papel da intersetorialidade na operacionalização das políti- do somente na carência de recursos financeiros. Todos os
ram incluídos no texto da Política Nacional da Assistência Social tência, capacitar os sujeitos para o enfretamento das situações cas públicas voltadas para o enfretamento das situações de vul- anos, o Brasil faz uso de grande parte de seu Produto Inter-
(PNAS). Os termos têm os seguintes empregos e concepções: vul- de risco e vulnerabilidade. nerabilidade e riscos sociais, no interior da PNAS. no Bruto (PIB) para serviço nas áreas da saúde, educação,
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Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 29
Ilustração de Thalita
Sophia Moreira da
Silva com intervenção
de Carlus Campos

saneamento, habitação, abastecimento d’água, previdência


social, pensões, seguros e tantos outros.
ros. Observe-se que território deve ser compreendido, para além
de uma delimitação físico-geográfica, como espaço onde a vida, Referências
No entanto, são fartos os diagnósticos dando conta de que as relações, as disputas, as contradições, os conflitos, as expecta- ALVARENGA, Mirella Souza. Risco e Vulnerabilidade:
as políticas públicas, em seu aparato institucional e em todos os tivas e os sonhos acontecem (BRASIL, MDS, PNAS, 2004). razões e implicações para o uso na Política Nacional
níveis de poder, caracterizaram-se como um somatório desarti- O conceito de território também pode ser percebido em suas de Assistência Social. (Dissertação de Mestrado)
culado de instituições executoras de políticas setoriais, agindo diferentes dimensões: natural, social, política, econômica e cul- VITÓRIA-SE: junho de 2012.
de maneira segmentada, sobrepondo clientelas e competên- tural. Para o Suas, o território é sua base material. Como a dimen- BRASIL. Política Nacional de Assistência Social-
cias, além de pulverizarem recursos oriundos de uma diversida- são territorial absorve fatores das ordens social, econômica e PNAS/2004. Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome/Secretaria Nacional
de desarticulada de fontes financiadoras. cultural, é possível identificar os indivíduos que vivem situações
de Assistência Social. Brasília, novembro de
Foi por consequência dessas constatações e a partir de ava- de alto risco social e que, portanto, exigem uma atuação em rede 2005 (reimpresso em 2013).
liações sobre o caráter negativo da eficiência, eficácia e efeti- (SILVEIRA & OLIVEIRA, 2014, p. 297).
BRASIL, Presidência da República. Constituição
vidade das políticas públicas, que a ideia da intersetorialidade Por rede se compreende uma estrutura formada por pesso- da República Federativa do Brasil: 1988.
começou a ser discutida e experimentada. as, instituições e organizações relacionadas entre si, baseada CASTEL, Robert. As metamorfoses da Questão
Não obstante o reconhecimento do valor da ideia da interseto- em valores e objetivos. São relações predominantemente hori- Social: uma crônica do salário. 2 ed. Tradução
rialidade, na prática este reconhecimento permanece restrito ao zontais, com potencial para estimular a democracia e a articu- de Iraci D. Poleti. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
nível do discurso, pois não se definem situações ou oportunida- lação entre pessoas. Esta rede precisa ser intersetorial e capaz DAGNINO, Evelina. Os movimentos sociais e a
des concretas para sua efetiva concretização. A tendência aponta de fazer conexões entre seus participantes. A rede é, enfim, uma emergência de uma nova noção de cidadania. In:
mais para a especialização de saberes, funções e modos de inter- categoria implícita e imbricada no território e tem forte sentido DAGNINO, Evelina (Org.). Os anos 90: política e
sociedade no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1994.
venção. Para encontrar como se manifesta a ideia da intersetoria- político e social.
lidade na Política Nacional de Assistência Social (PNAS), convém O debate sobre território e rede remete, indubitavelmente, à DEMO, Pedro. Participação e conquista. 2. ed.
São Paulo: Cortez, 2001.
resgatar alguns elementos da composição dessa história. ideia de intersetorialidade. Envolve, pois, o planejamento, a exe-
GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade.
Conforme já citado em itens anteriores, a proteção social no cução, o monitoramento e a avaliação de agendas pactuadas en-
Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro:
teor da PNAS operacionaliza-se nas modalidades de proteção tre as várias políticas. Entretanto, a intersetorialidade pressupõe, Zahar, 2002.
social básica, voltada para prevenir situações de vulnerabilida- igualmente, que a política econômica se conecte com as demais GIDDENS, Anthony. As consequências da
de e risco social através de ações de fortalecimento dos vínculos políticas sociais. Este é um de seus maiores desafios. Modernidade. Tradução de Raul Fiker. São
familiares; e proteção social especial, destinada a fortalecer e A intersetorialidade precisa ser reconhecida como uma for- Paulo: Editora UNESP, 1991. PEREIRA, Camila Potyara. A pobreza, suas causas In: Expressões da Questão Social no Ceará.
reconstruir vínculos familiares e comunitários no enfrentamen- ma de potencializar a proteção social, pois indica a junção e a e interpretações: destaque ao caso brasileiro. CUNHA, Aurineida e Silveira, Irma Martins
INOJOSA, Rose Marie. Intersetorialidade
SER SOCIA, n.18.p.229-252, jan/jun. 2006. Moroni. (Org.), Fortaleza: EdUECE, 2014.
to das violações de direitos. articulação entre as políticas públicas em suas afinidades (SIL- e configuração de um novo paradigma
organizacional. RAP: Rio de Janeiro, 32 (2): 35- SANTOS, Boaventura de Sousa. Na oficina do SPOSATI, Aldaíza. Modelo brasileiro de
Este modelo de proteção tem no Centro de Referência da VEIRA & OLIVEIRA, 2014, p. 300). Afinidades no sentido de que,
48, mar./abr.1998. sociólogo artesão: aulas: 2011-2016. Seleção, proteção social não contributiva: concepções
Assistência Social (Cras) sua unidade estatal de base territorial direcionadas aos mesmos usuários, no caso idosos, crianças, revisão e edição de Maria Paula Menezes, Carolina fundantes. Paper da Escola Nacional de
onde as questões sociais se materializam. O Cras é considera- adolescentes, famílias, juventudes e deficientes, podem e de- OSTERNE, Maria do Socorro Ferreira. Família,
Peixoto. São Paulo: Cortez, 2018. Administração Pública. s/d
pobreza e gênero: o lugar da dominação
do espaço estratégico para a efetivação dos eixos estruturantes vem se potencializar conjuntamente, mesmo que a partir das masculina. Fortaleza: EdUECE, 2001. SANTOS, Josiane Soares. “Questão Social”: SPOSATI, Aldaíza. Desafios para fazer avançar a
da gestão do Sistema Único de Assistência Social (Suas): a des- especificidades de cada uma. Assim, se renuncia à velha histó- particularidades no Brasil. São Paulo: Cortez, 2012. política de assistência social no Brasil. Revista
OSTERNE, Maria do Socorro Ferreira.
centralização política e administrativa dos serviços; a ênfase na ria da fragmentação. O Cras, portanto, pode ser considerado um SARTI, Cynthia. A família como espelho: um Serviço Social e Sociedade, São Paulo, ano
Atualidades da “Questão Social”, da justiça
matricialidade sociofamiliar e o financiamento. equipamento, por excelência, para fazer acontecer a interseto- estudo sobre a moral dos pobres. Campinas, XXII, n.68, 2001, p: 54.
social e da gestão de políticas públicas. In:
Nos Cras, devem ocorrer as intervenções multiprofissionais rialidade nos territórios. Junior Macambira e Francisca Bezerra Andrade São Paulo: Autores Associados, 1996. TELLES, Vera da Silva. Direitos Sociais: afinal
e intersetoriais para articular programas, projetos e serviços É preciso não desistir da lógica da intersetorialidade, pois, (Orgs.) Estado e Políticas Sociais: fundamentos SILVA, Maria Ozanira da Pobreza, desigualdade do que se trata? Belo Horizonte: Editora da
e experiências. Fortaleza: IDT, UECE, 2014. e política pública: caracterizando e UFMG, 1999.
com potencial para proteger famílias e pessoas. Para que o Cras embora na dinâmica da realidade os profissionais reconheçam
OXFAM. O que o caos da saúde pública no Brasil problematizando a realidade brasileira. URICH, Beck. Sociedade de Risco: rumo a uma
se torne capaz de operacionalizar e materializar o Suas, as o valor do seu significado, persistem muitas dificuldades para
evidencia sobre a desigualdade? Disponível Revista Katál. Florianópolis, Editora da UFMG, outra modernidade. Tradução de Sebastião
ideias de território, rede e intersetorialidade constituem ele- sua concretização. Prevalecem ainda os modelos corporativos, v.13n.2p.155-163. Jul/dez. 2010. Nascimento. São Paulo: Editora 34, 2010.
em: https://www.oxfam.org.br/blog/o-que-o-
mentos estruturantes. nos quais se destacam disputas profissionais e interinstitucio- caos-da-saude-publica-no-brasil-evidencia- SILVEIRA, Irma Martins Moroni & OLIVEIRA, ZIONE, Fabíola. Exclusão Social: noção ou
É o princípio da territorialização que passa a orientar as ações nais, entraves burocráticos, problemas de ordem política, en- sobre-a-desigualdade/. PESQUISA Nacional por Rafaela Sampaio. A Política de Assistência conceito. Revista Saúde e Sociedade.15(3),
de proteção social de assistência social nos municípios brasilei- fim, a prevalência da cultura da setorialização. Amostra de Domicílios - PNAD COVID 19. Social no Enfrentamento da Questão Social. p.15-17, 2006.
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Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 31
Autora
Maria do Socorro Ferreira Osterne
Bacharela em Serviço Social pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), mestra em Sociologia
pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Livre Docente em Serviço Social pela Uece e doutora
em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É professora do curso de
graduação em Serviço Social, do mestrado acadêmico em Sociologia, do mestrado acadêmico
em Serviço Social, Trabalho e Questão Social e do programa de pós-graduação em Planejamento
e Políticas Públicas, todos na Uece. Exerceu o cargo de pró-reitora de Planejamento da Uece.
Atualmente, é membro do Grupo de Pesquisa Gênero, Família e Geração nas Políticas Públicas
(Uece/CNPq) e do Núcleo de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência (NAH) da Uece.

Ilustradores (as)
Desenhos originais das crianças Ana Luiza Travassos de Oliveira Carvalho, Anny Rammyli
Nascimento da Silva, Antônia Travassos de Oliveira Carvalho, Bárbara Vazzoler Villar, Beatriz
Vazzoler Villar, Bernardo Saraiva Pinheiro, Davi Bogea Caldas, Fernanda Vitória de Almeida Matos,
Francisco Mateus Braga da Silva, Guilherme Araújo Carvalho, João Vazzoler Villar, João Victor
Batista Veloso, Júlia Nogueira de Holanda, Luanna Madureira Marques, Lucas Mesquita Mororó,
Lucas Sobreira de Araújo, Maia Alease Lima Oliphant, Maria Clara Negreiros Lobo, Maria Júlia
Sousa de Oliveira, Mariana Negreiros Lobo, Mariana Vazzoler Villar, Mateus Saldanha Félix, Maurício
Rafael Cipriano Gomes, Rafaela Microni Santos, Thalita Sophia Moreira da Silva, Yasmin Microni
Santos, Yasmin Monteiro Gomes Bezerra, que participaram da Oficina de Ilustração com Joana
Brasileiro Barroso, com intervenção artística de Carlus Campos.

APOIO REALIZAÇÃO

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