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15 PREFÁCIO
Notas sobre a pandemia
Naomar Almeida Filho
35 APRESENTAÇÃO
A chegada de um pouco de sol em tempo de crise
Mônica Lima, Molije • Denise Coutinho
1ª seção –
PENSAR JUNTO/FAZER COM EM SAÚDE MENTAL NA UNIVERSIDADE:
INDISSOCIABILIDADE ENTRE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO
3ª seção –
POTÊNCIAS DO BRINCAR, DO ATUAR E INVENTIVIDADES
NO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL
4ª seção –
SAÚDE MENTAL, ATRAVESSAMENTOS POLÍTICOS E RACIAIS
NO CUIDADO E NO PROCESSO DE TRABALHO
5ª seção –
ASSISTÊNCIA SOCIAL, VULNERABILIDADES SOCIAIS
E SAÚDE MENTAL
� 425
A Política Nacional para a População em Situação de Rua (PNPR), instituída
pelo Decreto nº 7.053/2009, caracteriza a PSR como:
1 Programa Emergencial de Extensão Pensar junto, Fazer com: saúde mental em tempo de covid-19.
O Programa Corra pro Abraço surge nas ruas de Salvador, no ano de 2013, vincu-
lado à Secretária de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social do Estado
da Bahia (SJDHDS). Divulgando a ideia de que “outros caminhos são possíveis”, as
equipes multiprofissionais atuam em diversos territórios da cidade que são marca-
dos pela violência, exclusão e uso abusivo de substâncias psicoativas (SPAs). Com
uma abordagem acolhedora e lúdica, o Corra, como é carinhosamente chamado,
utiliza como princípios metodológicos as tecnologias leves em saúde – acolhi-
mento, construção de vínculo e escuta qualificada – (SECRETARIA DE JUSTIÇA,
DIREITOS HUMANOS E DESENVOLVIMENTO SOCIAL; CENTRO DE REFE-
RÊNCIA INTEGRAL DE ADOLESCENTES, 2016) e tem como principal objetivo a
promoção da cidadania e garantia de direitos das pessoas em situação de vulnerabi-
lidade e/ou em uso abusivo de SPAs.
O programa construiu suas bases éticas, políticas e metodológicas a partir da
inspiração em diversos movimentos que defendem os direitos humanos. Aqui, des-
tacamos as reformas psiquiátrica e sanitária e os movimentos sociais antiproibicio-
nistas, antimanicomiais, antirracistas e feministas. Configura-se, então, como um
programa de redução de riscos e danos que utiliza a arteducação como tecnologia
diferencial para a produção de cuidado e de novos sentidos nas ruas. Nessa dire-
ção, aposta na atenção psicossocial, no cuidado integral com respeito à autonomia
dos assistidos, feito em território e em liberdade, considerando as subjetividades, as
histórias e os modos de vida de cada um e cada uma e construído em rede, seja ela
formal – serviços – ou informal – movimentos sociais e ONGs. (ARAÚJO; SAAD,
2020) Desde 2018, o Corra pro Abraço conta com o suporte de duas Unidades de
Apoio na Rua (UAR), atualmente localizadas na praça dos Mares e na ladeira da
2 Nomenclatura utilizada para referir-se às pessoas que são atendidas pelo Programa Corra pro Abraço.
A PNPR tem como um dos seus objetivos a garantia de acesso amplo, simplificado
e seguro aos serviços das redes de saúde, assistência social e moradia, entre outros.
No entanto, é sabido que há uma grande dificuldade e, por vezes, recusa de acesso
das pessoas em situação de rua a esses serviços em função do estigma social cons-
truído e compartilhado sobre o grupo e que impacta diretamente na forma como os
profissionais atuam. O racismo estrutural e institucional, o preconceito contra pes-
soas em situação de rua e mais uma série de outras barreiras aprofundam o abismo e
a distância entre essas pessoas e os serviços de saúde, em especial a rede de Atenção
Básica, que se configura como porta de entrada à rede.
Além da dificuldade de acesso, o uso abusivo de substâncias psicoativas, a vio-
lência, a fome, a falta de moradia e saneamento trazem uma série de impactos à
saúde dessa população que, somados a práticas de invisibilização e desumanização,
intensificam o processo de vulnerabilização dessa população. Nesse contexto, de
modo a promover a equidade – um dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS)
–, é publicada a Portaria nº 122, de 25 de janeiro de 2011, que define as diretrizes de
organização e funcionamento das Equipes de Consultório na Rua (eCR).
O art. 2º da Portaria nº 122 define que “as equipes são multiprofissionais e lidam
com os diferentes problemas e necessidades de saúde da população em situação
de rua”, (BRASIL, 2011a) compondo o nível básico da Rede de Atenção Psicosso-
cial (Raps) (BRASIL, 2011b) e desenvolvendo ações da Atenção Básica (AB). Dessa
forma, como as ações da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), o fio condu-
tor que circunscreve o cuidado realizado pelas eCR parte da concepção ampliada e
integral da saúde e inclui aspectos fundamentais como a territorialização, o cuidado
longitudinal e centrado na pessoa. (BRASIL, 2012) Souza e Macerata (2015, p. 5) afir-
mam que esse novo modelo de atenção tem
[…] potencial para alterar a ação das ESF [Estratégia de Saúde da Famí-
lia] tradicional, ao adentrar um espaço com um funcionamento muito
diferente na cidade: a rua como território de vida; território que impõe
a quebra da lógica domiciliar da ESF tradicional, e uma nova maneira de
considerar e operar no território e na clínica.
Essas equipes têm como foco a promoção de saúde integral à PSR, baseando-se
na perspectiva da redução de danos, e desenvolvem o trabalho principalmente por
Referências
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registro de denúncias contra racismo e intolerância religiosa. G1, Salvador, 19 nov. 2019.
Disponível em: https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2018/11/19/com-a-capital-mais-
negra-do-pais-bahia-ganha-aplicativo-gratuito-para-registro-de-denuncias-contra-
racismo-e-intolerancia-religiosa.ghtml. Acesso em: 8 jan. 2021.
ARAÚJO, E. T.; SAAD, L. Outros caminhos são possíveis – Corra pro Abraço: ação pública
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Cidadania e Vida, 2020.
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em 7 anos. Agência IBGE de Notícias, Rio de Janeiro, 6 nov. 2019. Disponível em:
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/
noticias/25882-extrema-pobreza-atinge-13-5-milhoes-de-pessoas-e-chega-ao-maior-
nivel-em-7-anos. Acesso em 14 nov. 2020.