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Manuel Gonçalves • Sofia Vale • Lino Diamvutu

LEI DA ARBITRAGEM VOLUNTÁRIA COMENTADA

Luanda 2014
LEI DA ARBITRAGEM VOLUNTÁRIA COMENTADA

2014

Manuel Gonçalves
Advogado

Sofia Vale
Professora da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto

Lino Diamvutu
Docente da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto

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LAV COMENTADA 2/266
ÍNDICE

NOTA DOS AUTORES (2ª Edição)…………………………………

NOTA DOS AUTORES (1ª Edição)…………………………………

PREFÁCIO ………………………………………………………………

PRINCIPAIS ABREVIATURAS E REFERÊNCIAS …………………

26 QUESTÕES SOBRE ARBITRAGEM …………………………….

LEI DA ARBITRAGEM VOLUNTÁRIA COMENTADA ………………

JURISPRUDÊNCIA ANGOLANA ………………………………………

- Caso Sofomil, Lda Vs. Abamat, U.e.e.

LEGISLAÇÃO NACIONAL E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS CONEXAS


..........................................................................................

- Norma da Constituição da República de Angola especialmente relevante

- Normas do Código de Processo Civil Angolano especialmente relevantes

- Normas do Acordo de Cooperação Jurídica e Judiciária entre a República de


Angola e a República de Portugal especialmente relevantes

- Decreto N.º 4/06, de 27 de Fevereiro (Conselho de Ministros) que autoriza a


criação de Centros de Arbitragem

- Resolução N.º 34/06, de 15 de Maio (Conselho de Ministros) que aprova o


engajamento do Governo na Arbitragem como meio de solução de litígio sobre
direitos disponíveis

- Lei-Modelo da CNUDCI sobre a arbitragem comercial internacional, de 21 de


Junho de 1985

- Regulamento de Arbitragem da CNUDCI (Resolução 31/98, adoptada pela


Assembleia geral em 15 de Dezembro de 1976

- UNCITRAL Arbitration Rules (as revised in 2010)

- Convenção sobre o reconhecimento e a execução de sentenças arbitrais


estrangeiras, celebrada em Nova Iorque aos 10 de Junho de 1958

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LAV COMENTADA 3/266
- Convenção para a Resolução de Diferendos Relativos a Investimentos entre
Estados e Nacionais de outros Estados, celebrada em Washington aos 18 de
Março de 1965

BIBLIOGRAFIA .. ……………………………………………………

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LAV COMENTADA 4/266
NOTA DOS AUTORES (2ª Edição)

Seis meses foram suficientes para que constatássemos que a primeira edição
do presente livro careceria de uma segunda.

O interesse manifestado pelos estudantes e profissionais do direito, no país e no


estrangeiro, bem como a procura que se regista ainda hoje nas livrarias
nacionais, determinaram a nossa vontade de apresentar esta nova edição.

A presente edição foi ligeiramente revista para ter em conta a evolução legislativa
que se verificou, entretanto, nalguns ordenamentos jurídicos europeus que nos
servem em sede de direito comparado.

É, portanto, com satisfação que publicamos a presente edição.

Manuel Gonçalves
Sofia Vale
Lino Diamvutu

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LAV COMENTADA 5/266
NOTA DOS AUTORES (1ª Edição)

Uma década volvida desde a publicação da Lei da Arbitragem Voluntária em


Angola (LAV), Lei 16/2003, julgámos pertinente proceder à sua anotação.

Durante o referido período, que podemos considerar ter sido o “período inicial de
maturação” da mesma, diversas dúvidas, indagações, pontos de interrogação,
se quisermos, permaneceram suspensos em lugar indefinido, à espera de
clarificação de alguns aspectos que vêm sendo alvo de discórdia entre
advogados, magistrados, árbitros e académicos.

Longe de termos a pretensão de resolver todas as questões inerentes à


interpretação da LAV, pretendemos, isto sim, participar e contribuir para o
debate, esperando, por um lado, auxiliar os utilizadores da Lei e por outro, quiçá
levantar questões que poderão dar origem, a final, ao desenvolvimento das
diversas formas “de arbitrar”.

Sendo a arbitragem uma eficaz via de resolução de litígios, tendo em conta o


seu papel de relevo nos litígios de carácter (essencialmente) comercial entre
Estados, empresas e indivíduos, a nível nacional e internacional, pelo qual existe
indubitavelmente um interesse crescente em Angola, tanto pelos operadores
jurídicos, como pelo Governo e empresariado (nacional e estrangeiro),
consideramos ser este o momento oportuno de publicação das anotações à LAV.

Contribuíram para essa decisão os recentes progressos verificados em Angola


em matéria institucional, com a criação dos primeiros centros de arbitragem e,
particularmente, o ambiente social e económico que vivemos actualmente, de
abertura para o exterior e de adopção de uma postura pró-arbitragem.

A presente obra foi pensada para servir como material de consulta a todos os
interessados no tema da arbitragem, contribuindo para a elevação da cultura
arbitral em Angola.

E teve ainda o propósito de constribuir para o esforço comum de edificação de


um sistema de resolução de litígios, judicial e arbitral, que reciprocamente se
complementa e se apresenta independente, eficiente, justo e credível, para bem
alicerçar o crescimento económico.

Queremos, por fim, consignar os nossos agradecimentos à Professora Mariana


França Gouveia, pela revisão deste trabalho.

Manuel Gonçalves
Sofia Vale
Lino Diamvutu

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LAV COMENTADA 6/266
PREFÁCIO

É para mim uma honra e um motivo de legítima satisfação prefaciar a publicação do primeiro
instrumento jurídico comentado em Angola.

E por três razões que, entre si, se conjugam e completam: a importância da LAV, o valor
intrínseco dos comentários e o mérito pessoal e profissional dos seus autores.

A arbitragem é um processo alternativo de resolução de litígios sobre direitos patrimoniais


que decorrem da multiplicidade de relações económicas, estabelecidas tanto no mercado
interno como no mercado internacional, este último cada vez mais complexo, impositivo e
em expansão.

Embora não tenha de concorrer com os tribunais, bastando-lhe que seja um complemento
útil da justiça pública, a celeridade e a dispensa ou, mesmo tão só a flexibilização do
formalismo rígido do processo judicial, a par de muitas outras vantagens, não deixarão de
determinar o crescente recurso a este mecanismo extrajudicial de fazer justiça, sobretudo
depois de entrarem em funcionamento os centros de arbitragem institucionalizada já
autorizados.

Os comentários, feitos em linguagem clara e acessível, utilizada com adequado rigor


terminológico, o necessário enquadramento jurídico e a devida profundidade teórica,
explicam, interpretando-os correctamente, os preceitos da LAV.

Os autores não se coibiram de recorrer, com profusão, ao direito comparado, à


jurisprudência e à doutrina, como se vê, de resto, pelas numerosas referências
bibliográficas, bem podendo dizer-se que a “Lei da Arbitragem Comentada” é o resultado
de um vasto trabalho de investigação, aliado a um profundo conhecimento do texto da Lei
16/03, de 25 de Julho.

“A Lei da Arbitragem Comentada”, além de publicar uma peça da jurisprudência angolana


de significado histórico, excertos pertinentes da legislação nacional e os mais conhecidos,
mas nem sempre disponíveis, instrumentos internacionais em matéria de arbitragem,
insere, ainda, “26 Questões Sobre Arbitragem”, à maneira de consultório jurídico de
perguntas e respostas.

Trata-se de uma inserção oportuna de carácter marcadamente didáctico, que dá a uma


obra jurídica de reconhecível profundidade teórica uma indesmentível feição de utilidade
prática, tanto para juristas e profissionais do direito como para não juristas.

Esta é, a meu ver, uma importante mais-valia.

Quanto aos autores são, todos eles, juristas de sólida formação, como a obra que acabam
de publicar dá público e cabal testemunho.

O Dr. Manuel Gonçalves alia à formação, obtida com brilhantismo, na Faculdade de Direito
da Universidade Agostinho Neto, muitos anos de prática forense, exercida com distinção e
sucesso, a liderança da advocacia angolana como primeiro Bastonário da Ordem dos
Advogados de Angola e, sobretudo, a sua inclinação inata para o direito e o trabalho

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LAV COMENTADA 7/266
jurídico. Foi, por sua vez, um dos mais participativos membros da comissão encarregada
de elaborar o anteprojecto da LAV.

A Drª Sofia Vale e o Dr. Lino Diamvutu são, já, dois prestigiados professores da Faculdade
de Direito da Universidade Agostinho Neto, conhecidos pelo seu empenho na docência,
pela sua dedicação aos trabalhos de investigação e pelo entusiasmo com que participam
nas restantes actividades e realizações da Escola a que pertencem. Escrevem e publicam,
com regularidade e frequência, em revistas da especialidade.

A todos me ligam sólidos laços de amizade e ou sentimentos de respeito e admiração, pelo


que não se estranhe que a tarefa de fazer o presente prefácio me tenha sido particularmente
gratificante.

Por fim, mas não menos importante, a publicação da “Lei da Arbitragem Voluntária
Comentada” é um facto marcante no percurso do que vai ser a ciência jurídica em Angola.
E é, por agora, um desafio às gentes do Direito angolano para que sigam o exemplo que
os seus autores acabam de dar. Não será sem tempo.

Vasco Grandão Ramos

Professor da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto

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À memória de João Luís Lopes dos Reis

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LAV COMENTADA 9/266
PRINCIPAIS ABREVIATURAS E REFERÊNCIAS

AAA – American Arbitration Association


Al. – Alínea
Art. – Artigo
BMJ – Boletim do Ministério da Justiça (Portugal)
Cap. – Capítulo
CC – Código Civil
CCI – Câmara de Comércio Internacional (Paris)
CCJ – Código das Custas Judiciais, aprovado pelo Decreto n.º 43809, de 20 de
Julho de 1961
CIRDI – Centro Internacional para a Resolução de Diferendos Relativos a
Investimentos
CNUDCI – Comissão das Nações Unidas para o Direito Comercial
Internacional
CONIMA – Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem
CPC – Código de Processo Civil (angolano)
CPJ – Código de Processo Judiciário (belga)
Ex. – Por exemplo
I.B.A – International Bar Association
ICSID – International Centrer for Settlement of Investment Disputes
I.e. – Isto é
LACJ – Lei Sobre a Actualização das Custas Judiciais e de Alçada dos
Tribunais, aprovada pela Lei n.º 9/05, de 17 de Agosto
LAV – Lei da Arbitragem Voluntária
LCIA – London Court of International Arbitration
Lei –Modelo da CNUDCI – Lei Modelo sobre arbitragem comercial
internacional, aprovada pela CNUDCI em 21 de Junho de 1985
Lei da Arbitragem Brasileira – Lei n.º 9.307, de 23 de Setembro de 1996
Lei da Arbitragem Voluntária Portuguesa – Lei n.º 63/2011, de 14 de Dezembro
LGT – Lei Geral do Trabalho – Lei n.º 2/00, de 11 de Fevereiro
LSC – Lei das Sociedades Comerciais, aprovada pela Lei n.º 1/04, de 13 de
Fevereiro
N.º - Número
NCPC – Novo Código de Processo Civil (francês)
Obs. – Observação
P. – Página
Parágr. – Parágrafo
Ss. – Seguintes
UCF – Unidade de Correcção Fiscal
UNCITRAL – United Nations Comission on International Trade Law, acrónimo
em língua inglesa para CNUDCI
Vol. – Volume
WBR – Código de Processo Civil (holandês)
ZPO – Zivilprozessordnung ou Código de Processo Civil (alemão)

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26 Questões
Sobre
Arbitragem

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Cientes de que a arbitragem se pode tornar um assunto complexo para quem
não esteja acostumado a lidar com as questões práticas que ela coloca, optámos
por apresentar vinte e cinco questões com que qualquer curioso, estudante,
potencial utilizador ou parte numa arbitragem se deparará, tentando dar-lhes
uma resposta simples e de fácil apreensão.

1. O que é a arbitragem?
A arbitragem é uma forma alternativa de resolver diferendos sem recurso aos
tribunais judiciais. As partes desavindas concordam em que o diferendo seja
solucionado por árbitro(s) por elas indicado(s), cuja decisão final é vinculativa
para as partes e tem a força executiva das decisões dos tribunais judiciais.

2. Como se distingue a arbitragem voluntária da arbitragem


necessária?
A arbitragem é voluntária quando a decisão de submeter um litígio a
arbitragem resulta da vontade das partes litigantes. Ao contrário, a arbitragem
é necessária quando a lei impõe o recurso ao foro arbitral para a resolução
de determinadas controvérsias.

3. Que vantagens tem a arbitragem em relação à resolução de litígios


pelos tribunais judiciais?
A grande vantagem da arbitragem reside na celeridade do processo arbitral
e na rapidez com que as partes litigantes obtêm uma decisão final. De facto,
no processo arbitral as partes podem definir qual o prazo em que a decisão
deve ser proferida e, se nada acordarem, essa decisão deverá ser emitida no
prazo máximo de seis meses. Uma vez que é corrente as partes renunciarem
antecipadamente à possibilidade de recurso da decisão arbitral, evitam-se as
delongas comuns às decisões judiciais (que passam anos a aguardar a
decisão do respectivo recurso pelos tribunais superiores).
Outra grande vantagem, por regra apontada pelos utilizadores, é a
possibilidade de escolherem os árbitros, podendo assim selecionar os
melhores julgadores para o seu litígio, quer em termos técnicos, quer em
termos pessoais.

A arbitragem comporta ainda outras vantagens, tais como a possibilidade dos


árbitros decidirem com base na equidade, o facto dos árbitros terem
conhecimentos técnicos especializados que os tornam mais habilitados para
decidir sobre a questão em litígio, o sigilo que caracteriza o procedimento e
a decisão arbitral, bem como a flexibilidade inerente a todo o processo que
permite às partes escolherem, por exemplo, o local da arbitragem e a lei
aplicável.

4. O que distingue a arbitragem da mediação e da conciliação?


A mediação, a conciliação e a arbitragem são métodos de resolução de
litígios que se apresentam como alternativos face à utilização dos tribunais
judiciais.

Estes três métodos distinguem-se quanto ao grau de intervenção do terceiro


imparcial (mediador, conciliador ou árbitro) na procura de uma solução para

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LAV COMENTADA 12/266
o litígio. Na mediação, as partes escolhem um mediador para facilitar o
consenso que pretendem atingir, que ajuda a identificar os interesses e as
necessidades inerentes ao conflito, para que as partes, por si próprias,
encontrem uma solução. Na conciliação, o conciliador propõe às partes
soluções alternativas para resolver a controvérsia, que as partes aceitarão ou
não, até que um consenso seja obtido. Por regra, a conciliação é feita por
quem tem o poder decisório, ou seja, o árbitro ou o juiz. Esta característica
permite uma clara diferenciação da mediação. Já na arbitragem a decisão do
litígio cabe exclusivamente ao(s) árbitro(s) designado(s) pelas partes, que
poderão decidir com base na lei de determinado país (ou países) ou com
base na equidade, consoante o que as partes hajam previamente definido.

5. Pode obrigar-se a outra parte a usar a arbitragem?


Ninguém pode ser obrigado a usar a arbitragem (a chamada arbitragem
voluntária) ao invés de recorrer aos tribunais judiciais. Não obstante, o Estado
pode determinar legalmente que determinadas matérias deverão ser sempre
submetidas a arbitragem (a chamada arbitragem necessária).

Assim, para que se possa recorrer à arbitragem é necessário que as partes


tenham acordado contratualmente em utilizar este método de resolução de
conflitos. Como em qualquer outro contrato, as partes comprometem-se a
respeitar os compromissos nele assumidos, pelo que se posteriormente uma
das partes pretende lançar mão do foro judicial ao invés do foro arbitral não
o poderá fazer (a não ser, claro, que mútuo acordo em revogar a convenção
arbitral). Deste modo, se um dado contrato contiver uma cláusula
compromissória, não pode uma das partes prescindir da arbitragem e intentar
uma acção judicial, porquanto se mantém vinculada ao foro arbitral que ela
própria escolheu.

6. Que desvantagens pode ter a arbitragem?


Uma vez que o processo arbitral é muito célere, as partes são chamadas a
custear todas as despesas a ele inerentes num curto espaço de tempo,
designadamente as despesas com a designação dos árbitros e advogados e
os custos do processo até à prolação da sentença arbitral.

A arbitragem pode também não ser o meio mais adequado para a resolução
de litígios entre pequenas empresas e/ou relativos a contratos de baixo valor,
uma vez que as partes poderão não estar preparadas para suportar o esforço
financeiro que a arbitragem exige.

Quando se opta pela arbitragem institucional é necessário escolher uma


instituição fidedigna, credível, competente e isenta, de modo a assegurar que
o princípio da igualdade das partes no processo é efectivamente observado.
Isto é particularmente relevante quando estamos perante litígios que opõem
os particulares ao Estado.

7. Como se distingue a arbitragem institucional da arbitragem ad hoc?

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A arbitragem institucional é aquela em que o processo decorre perante uma
instituição de arbitragem devidamente acreditada pelo Estado em que essa
instituição tem a sua sede. Tem a vantagem de disponibilizar às partes uma
panóplia de regras e procedimentos previamente fixados (e já testados)
relativos à condução do processo arbitral, mas comporta normalmente custos
mais elevados do que a arbitragem ad hoc.

A arbitragem ad hoc é conduzida por um tribunal arbitral constituído


especialmente para um dado litígio, sendo em regra utilizada quando as
partes, advogados e árbitros são mais experientes. Tem a vantagem de
introduzir maior flexibilidade nas regras do processo (que são desenhadas à
medida do litígio) e de permitir uma redução dos custos da arbitragem.

8. Qual a relevância da distinção entre arbitragem nacional e


arbitragem internacional?
Diz-se nacional (ou doméstica) a arbitragem que apenas tem conexão com
um Estado. É internacional (ou transnacional) a arbitragem que (i) põe em
jogo interesses do comércio internacional, (ii) embora não pondo em jogo
interesses do comércio internacional, tem por objecto um litígio que
apresenta laços juridicamente relevantes com mais de um Estado, e (iii)
aquela que tendo por objecto um litígio que se insere exclusivamente na
esfera social de um Estado é realizada noutro Estado.
A classificação de uma arbitragem como nacional ou internacional é
importante na medida em que tem sempre de se atribuir uma “nacionalidade”
à arbitragem, “nacionalidade” essa que releva designadamente para efeitos
de (i) determinação da lei que regula a arbitragem, (ii) determinação do
tribunal judicial que tem jurisdição sobre o procedimento arbitral e (iii)
identificação do procedimento a ser seguido para a execução da sentença
arbitral, pois normalmente uma sentença proferida internamente é mais
facilmente executável do que uma proferida no estrangeiro.

9. Como se distingue a cláusula compromissória do compromisso


arbitral?
Quando as partes acordam em prescindir do foro judicial e submeter os
litígios que as opõem ao foro arbitral, elas subscrevem uma convenção de
arbitragem, que pode ter a forma ou de cláusula compromissória ou de
compromisso arbitral.
A cláusula compromissória é uma cláusula inserida num determinado
contrato onde as partes convencionam que os litígios oriundos desse contrato
serão resolvidos por arbitragem, sendo subscrita antes da verificação de
qualquer litígio concreto. O compromisso arbitral consiste num contrato
autónomo, celebrado posteriormente ao surgimento de um litígio entre as
partes, no qual estas acordam em submetê-lo a arbitragem, definindo as
condições e termos em que essa arbitragem terá lugar. Note-se que, ainda
que as partes tenham já submetido um litígio perante um tribunal judicial,
estas podem sempre, enquanto a decisão judicial não for proferida, optar pela
arbitragem, bastando para tanto que subscrevam um compromisso arbitral.

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10. Como se deve redigir uma cláusula compromissória?
Se as partes optarem pela arbitragem ad hoc ao invés da arbitragem
institucionalizada torna-se mais importante que a cláusula compromissória
seja elaborada de forma completa. Uma cláusula compromissória bem
elaborada deve abordar pelo menos cinco aspectos fundamentais: (i) sede
da arbitragem, (ii) número de árbitros, (iii) forma da designação dos árbitros
e de início do processo arbitral, (iv) se a decisão dos árbitros terá por base o
direito constituído (e de que país) ou a equidade e (v) a língua do processo
arbitral.
Caso as partes optem pela arbitragem institucionalizada, elas deverão
adoptar o modelo de cláusula compromissória disponibilizado pela instituição
de arbitragem a que recorrem, que já contém todas as indicações
necessárias para o desenrolar da arbitragem.

Sugerimos dois modelos de cláusula compromissória para arbitragens ad hoc


a que a LAV se aplique:

Cláusula - modelo 1:

Arbitragem

1. Todas as questões emergentes do presente Contrato ou da sua


execução serão dirimidas por arbitragem, nos termos previstos na
Lei n.º 16/03, de 25 de Julho, devendo os árbitros decidir de acordo
com a equidade e sem recurso.

2. O tribunal arbitral será composto por um único árbitro, designado


por comum acordo das partes ou, no caso de elas não chegarem a
acordo pelo Presidente da Ordem dos Advogados de Angola, no
prazo de 30 (trinta) dias a contar da notificação para arbitragem,

3. A arbitragem terá lugar em Luanda, decorrendo o processo arbitral


em língua portuguesa.

Cláusula – modelo 2:

Resolução de Diferendos

1. Os eventuais diferendos que possam surgir entre as partes em


matéria de aplicação, interpretação ou integração das regras por
que se rege este contrato serão resolvidos por arbitragem.

2. O Tribunal Arbitral será composto por três membros, um designado


por cada parte e o terceiro escolhido de comum acordo pelos
árbitros que as Partes tiverem designado, que exercerá as funções
de Presidente do Tribunal Arbitral.

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LAV COMENTADA 15/266
3. A parte que decida submeter determinado diferendo ao Tribunal
Arbitral apresentará à outra parte, através de carta registada com
aviso de recepção ou protocolo, o requerimento de constituição do
Tribunal Arbitral, contendo a designação do árbitro, e, em
simultâneo, a respectiva petição inicial, devendo esta, no prazo
máximo de 30 (trinta) dias a contar da recepção daquele
requerimento, designar o árbitro que lhe cabe e deduzir a sua
defesa, pela mesma forma.

4. Ambos os árbitros designados nos termos do número anterior


designarão o terceiro árbitro do tribunal, no prazo de 10 (dez) dias
a contar da designação do segundo árbitro.

5. Na falta de designação de qualquer um dos árbitros esta compete


ao Diretor da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho
Neto,.

6. O Tribunal Arbitral julgará segundo o direito angolano constituído e


das suas decisões não cabe recurso.

7. O processo arbitral será conduzido em língua portuguesa.

8. A decisão arbitral deverá ser proferida no prazo máximo de 6 (seis)


meses a contar da data de constituição do Tribunal Arbitral,
podendo este prazo ser prorrogado pelo tribunal por um período
máximo de mais 6 (seis) meses se a complexidade do litígio assim
o exigir. A decisão arbitral configurará a decisão final de arbitragem
relativamente às matérias em causa e incluirá a fixação das custas
do processo e a forma da sua repartição pelas partes.

9. A arbitragem decorrerá em Luanda, funcionando o Tribunal Arbitral


de acordo com as regras fixadas no contrato, com as que o próprio
Tribunal Arbitral venha a estabelecer e ainda, subsidiariamente,
com as previstas na Lei n.º 16/03, de 25 de Julho.

11. Quais os assuntos que podem ser submetidos à apreciação de um


tribunal arbitral?
Podem ser submetidos a arbitragem todos os direitos disponíveis das partes,
i.e., aqueles que elas podem constituir, modificar, extinguir e renunciar. A
aferição da disponibilidade de um direito deve ser feita tendo em conta a
questão concreta em litígio.

Em regra, não serão arbitráveis questões de natureza criminal, relativas a


direito da família, falências e direito do trabalho, uma vez que o nosso
legislador as retirou do âmbito de disponibilidade das partes. Já a maioria das
questões de natureza civil e comercial serão arbitráveis, designadamente
litígios entre as sociedades e os sócios, entre os sócios, relativos à
responsabilidade civil dos administradores, contratos de compra e venda,

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LAV COMENTADA 16/266
arrendamento, fornecimento e prestação de serviços, direitos dos
consumidores, direito patrimonial de autor, seguros e resseguros.

12. Como se escolhe a lei aplicável à arbitragem? E a lei processual?


Numa arbitragem temos de ter em conta duas leis, a saber, a lei que regula
a relação jurídica em litígio (lei material) e a lei que regula as regras do
processo arbitral (lei processual).

A lei processual é aquela que vai regular o tipo de prova a apresentar, os


prazos para apresentação de requerimentos ao tribunal arbitral, a forma de
citação do réu, as regras de fundamentação da sentença, o tipo de recursos
admitidos, entre outros. A lei processual deve ser escolhida pelas partes até
ao momento da constituição do tribunal arbitral, sendo aconselhável que as
partes optem entre a lei processual do país onde decorre a arbitragem
(porque aí estarão os tribunais que darão apoio ao processo na sua
pendência) e onde pretendem que a sentença arbitral venha a ser executada,
evitando eventuais obstáculos ao reconhecimento da sentença arbitral nesse
país. O mais aconselhável é que as partes escolham tramitar a arbitragem no
mesmo local da sua previsível execução.

A lei material é também escolhida pelas partes e pode ser distinta da lei
processual: pode ser a lei de um determinado país, a equidade ou os usos e
costumes (de um determinado país ou vigentes a nível internacional). Uma
vez que a generalidade dos tribunais nacionais não manifesta objecção em
executar uma sentença arbitral proferida com base no direito material
estrangeiro, as partes podem optar pela lei material que mais lhes convier
sem qualquer constrangimento.

13. É necessário ser representado por um advogado em processo


arbitral?
As partes numa arbitragem podem representar-se a si próprias, não sendo
obrigadas a fazer-se assistir por advogado. Não obstante, e em virtude da
complexidade técnica das questões submetidas a arbitragem, é aconselhável
que as partes se façam representar por advogado. Para tanto, é necessário
que a parte confira poderes de representação ao advogado que escolheu
através de uma procuração.

14. Como se escolhe um árbitro?


Quando surge um litígio e se despoleta o processo de constituição do tribunal
arbitral, as partes devem proceder à designação do(s) árbitro(s), que serão
sempre em número ímpar, de acordo com o que estiver previsto na
convenção de arbitragem ou, subsidiariamente, na LAV.

As partes têm inteira liberdade para designar como árbitro qualquer pessoa
singular, de qualquer nacionalidade, independentemente da sua formação
académica e experiência profissional. Sem prejuízo, as partes deverão
procurar designar como árbitros indivíduos conhecedores e com experiência
em arbitragem, em cuja competência, isenção, independência e

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LAV COMENTADA 17/266
imparcialidade confiem. Assim, uma parte não deve designar como árbitro
um indivíduo que manteve ou mantém uma relação (de trabalho ou de
prestação de serviços) com alguma das partes, tem interesses em comum
com alguma das partes ou que é sempre o árbitro indicado por uma das
partes. Do mesmo modo, também não deve ser nomeado árbitro um indivíduo
que já tenha opinião formada sobre o litígio antes de constituído o tribunal
arbitral ou que tenha manifestado demasiada simpatia/hostilidade em relação
a uma das partes.
A nomeação de árbitros que não cumpram os requisitos de imparcialidade e
independência é fundamento de posterior anulação da sentença arbitral.

Mas, note-se, que a parte que designou um árbitro pode, no decorrer do


processo arbitral, vir a recusá-lo, caso tome conhecimento de alguma
circunstância que afecte a independência, imparcialidade ou competência do
árbitro que designou.

15. Pode discordar-se da escolha do árbitro designado pela outra parte?


Uma parte pode recusar o árbitro que a outra parte designou, mas essa
recusa não pode ser aleatória, só podendo efectivar-se quando haja
fundadas dúvidas sobre a competência, imparcialidade ou independência do
árbitro em questão. A parte que recusou o árbitro deve comunicar pronta e
fundamentadamente tal recusa ao tribunal arbitral, para que esse árbitro se
escuse ao exercício das respectivas funções ou, então, para que o tribunal
arbitral se pronuncie sobre as razões da recusa, afastando ou mantendo o
árbitro.

16. O que sucede se a outra parte não comparecer no processo arbitral?


A parte que pretende dar início ao processo arbitral deve notificar a outra
parte para a arbitragem. Sendo a notificação efectuada, caso a parte
demandada não compareça no processo para contestar, não constitua
mandatário nem intervenha de qualquer forma no processo, o processo
continua o seu curso normal e a parte demandada será julgada pelo tribunal
arbitral à revelia, devendo acatar a respectiva decisão. Note-se que a parte
demandada, caso assim o entenda, pode intervir no processo a qualquer
momento, mas terá de o aceitar no estado em que ele estiver.

17. Pode pedir-se ao tribunal arbitral que tome medidas urgentes?


Havendo fundado receio na lesão de direitos, qualquer das partes pode
requerer ao tribunal arbitral que tome as medidas urgentes mais adequadas
a acautelar a lesão desses direitos. Não tendo, porém, o tribunal arbitral
competência executiva, em caso de não cumprimento voluntário da medida
decretada, a parte requerente terá de pedir a execução junto dos tribunais
judiciais.

18. Que tipo de provas podem ser apresentadas num tribunal arbitral?

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LAV COMENTADA 18/266
Podem ser apresentadas perante o tribunal arbitral todas as provas que são
admissíveis perante os tribunais judiciais, a saber, prova documental,
testemunhal, por confissão das partes, pericial e por inspecção judicial.

Não obstante, o tribunal arbitral não tem o poder de impor às partes ou a


terceiros a produção de prova, radicando esta em grande medida na vontade
de colaboração das partes e de terceiros. No caso de, por exemplo, uma das
partes se recusar a entregar ao tribunal documentos que estejam em seu
poder ou uma determinada pessoa se recusar a testemunhar, poderá ser
necessário remeter a produção de prova para o tribunal judicial, de modo a
que este exerça o poder coercitivo necessário à efectiva produção da prova.

19. Quanto tempo demora uma decisão arbitral a ser proferida?


As partes definem na convenção de arbitragem o tempo de que dispõe o
tribunal arbitral para tomar a decisão final, tendo em conta a complexidade
técnica do litígio, o número de testemunhas e/ou peritos que terão de ser
ouvidos, a quantidade de línguas presentes no processo, entre outros. O
prazo pode também constar de regulamento institucional para o qual se
remeteu. Se as partes nada disserem, a decisão arbitral deve ser tomada
dentro do prazo supletivo previsto na LAV, que é de seis meses. Não se
aconselha a fixação de prazos muito curtos que depois se tornem difíceis de
cumprir.

Se, no decurso do processo, se chegar à conclusão de que o tribunal arbitral


necessita de mais tempo para concluir o seu trabalho e proferir a decisão
final, podem as partes, com a anuência dos árbitros, acordar na prorrogação
do prazo inicialmente fixado.

O início do prazo para a prolação da decisão arbitral começa a contar a partir


do momento em que o último árbitro tenha aceite a respectiva nomeação.

20. O que se deve fazer para garantir que a decisão arbitral é executada?
A decisão arbitral tem a mesma validade, vinculatividade e força executiva de
uma decisão judicial, constituindo a decisão final, imparcial e independente
sobre o objecto do litígio. Nessa medida, as partes devem-lhe respeito e
obediência, cabendo-lhes actuar em conformidade com as instruções nela
previstas.

Caso uma das partes não respeite a decisão arbitral, pode a outra parte
requerer ao Tribunal Provincial a sua execução coerciva, como se de uma
sentença judicial se tratasse.

21. É possível recorrer da decisão arbitral?


Em princípio, pode recorrer-se de uma decisão arbitral nos mesmos termos
em que se recorre de uma decisão judicial, sendo o recurso feito para o
Tribunal Supremo.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 19/266
Sucede porém que um dos objectivos do recurso à arbitragem é evitar as
delongas características do processo judicial, no qual uma decisão fica
durante vários anos pendente de recurso. Por essa razão, é comum que as
partes numa arbitragem renunciem antecipadamente à possibilidade de
recurso, tornando a decisão do tribunal arbitral definitiva. A LAV prevê
também que quando as partes confiram ao tribunal arbitral o poder de decidir
de acordo com a equidade se opere a renúncia automática à possibilidade de
recurso.

Mas, diga-se, se a recorribilidade é a regra para as arbitragens internas, já


para a arbitragem internacional a regra é que para delas se recorrer é
necessário que as partes tenham previsto na convenção de arbitragem essa
possibilidade.

22. A decisão arbitral pode ser anulada pelo tribunal judicial?


Sem prejuízo da possibilidade de recurso da sentença arbitral, o tribunal
judicial pode contestar a validade daquela e proceder à sua anulação. A
anulação da sentença arbitral só pode ter por base algum dos fundamentos
previstos na LAV, designadamente ter sido proferida por um tribunal arbitral
incompetente, o litígio não poder ser submetido a arbitragem, a convenção
de arbitragem ter caducado ou a sentença não estar fundamentada, e é da
competência do Tribunal Supremo. Contrariamente ao direito de recurso, o
direito à anulação da sentença arbitral é irrenunciável.

Para evitar que o procedimento arbitral seja conduzido sem vícios que levem
à anulação da sentença arbitral (o que sempre enredaria as partes nos
meandros do foro judicial que elas pretenderam tão-exactamente evitar com
a arbitragem) é fundamental que os árbitros e os advogados escolhidos pelas
partes sejam experientes e entendidos em arbitragem.

23. Como pode uma sentença arbitral estrangeira ser válida em Angola?
Uma sentença arbitral estrangeira para ser válida e passível de execução em
Angola deve passar necessariamente por um processo prévio de
reconhecimento de sentença, que se aplica igualmente às sentenças
judiciais. A revisão de sentença estrangeira é um processo conduzido no
Tribunal Supremo em que a revisão aí operada é essencialmente formal,
confirmando este tribunal se a decisão arbitral estrangeira se coaduna com
os princípios de ordem pública da República de Angola e com as regras
processuais nucleares do nosso ordenamento jurídico.

Ainda que a revisão de mérito (da substância, do conteúdo) da sentença


arbitral estrangeira esteja afastada, o certo é que o processo de
reconhecimento importa necessariamente algum tempo (que poderá ser mais
ou menos longo), acarretando consequências importantes para as partes. É,
por isso, muito desejável que Angola subscreva um tratado internacional que
abra caminho ao reconhecimento automático das sentenças arbitrais
estrangeiras.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 20/266
Entretanto, e de modo a que o reconhecimento de sentenças arbitrais
proferidas em arbitragens internacionais não seja protelado e/ou recusado
em Angola, sugere-se que as partes numa arbitragem internacional cuja
sentença se destina a ser executada em Angola escolham a lei angolana para
lei do processo arbitral e Angola como sede da arbitragem.

24. Uma sentença arbitral proferida em Angola tem validade no


estrangeiro?
Do mesmo modo que uma sentença arbitral estrangeira tem de ser
previamente reconhecida em Angola para aqui poder ser executada, também
uma sentença arbitral proferida em Angola terá de ser previamente
reconhecida num determinado país estrangeiro para que aí possa ser
executada.

Este procedimento seria bastante simplificado se Angola aderisse à


Convenção de Nova Iorque sobre o reconhecimento e a execução de
sentenças arbitrais estrangeiras, que já tem cento e quarenta e quatro
Estados signatários e que é de grande aplicação no domínio do comércio
internacional.

25. Angola subscreveu algum tratado internacional relativo à


arbitragem?
A República de Angola e a República Portuguesa subscreveram um Acordo
de Cooperação Jurídica e Judiciária que pretende, entre outros aspectos,
simplificar o reconhecimento de sentenças arbitrais entre ambos os países.

26. Quais são os centros de arbitragem institucionalizada de referência


a nível internacional?
Existem diversos centros de arbitragem institucionalizada um pouco por todo
o mundo, uns com competência genérica e outros que se especializaram em
determinado tipo de litígios (como por ex., questões de consumo, de
imobiliário ou de seguros).
Os centros de arbitragem institucionalizada que têm servido de referência a
nível internacional são, em nossa opinião, os seguintes:

- França: ICC – International Chamber of Commerce –


www.iccwbo.org
- Reino Unido: LCIA – London Court of International
Arbitration – www.lcia-arbitration.com
- E.U.A.: AAA – American Arbitration Association –
www.adr.org
- Portugal: Centro de Arbitragem da ACL – Associação
Comercial de Lisboa – www.port-chambers.com
- Brasil: Centro de Mediação e Arbitragem da Câmara de
Comércio Brasil-Canadá; Centro de Arbitragem do
FIESP/CIESP
- Suécia: SCC – Arbitration Institute of the Stockholm
Chamber of Commerce – www.sccinstitute.se

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LAV COMENTADA 21/266
- Holanda: Nederlands Arbitrage Instituut, NAI – www.nai-
nl.org

Em Dezembro de 2011 foi autorizada a criação de dois centros de arbitragem


em Angola: o Centro Arbitral Juris e o Centro Harmonia. A promoção da
arbitragem institucionalizada entre nós contribuirá certamente para o
incremento da utilização deste método de resolução extrajudicial de conflitos.

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LAV COMENTADA 22/266
Lei da Arbitragem
Voluntária Comentada

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LAV COMENTADA 23/266
LEI N.º 16/03, DE 25 DE JULHO,
SOBRE A ARBITRAGEM VOLUNTÁRIA

A arbitragem constitui um mecanismo extrajudicial privilegiado não só


pelos operadores privados como pelo próprio Estado para a solução dos
eventuais conflitos sobre direitos patrimoniais, considerados disponíveis por lei,
devido às enormes vantagens que lhe são reconhecidas, designadamente, a sua
celeridade e flexibilidade, bem como a liberdade das partes no processo de
escolha e nomeação de árbitros, aliados ao seu carácter sigiloso e propício à
transacção.

Face ao inevitável processo de abertura política e económica do nosso


País e, consequentemente, à multiplicidade das relações económicas,
comerciais e industriais ao nível quer do mercado interno, bem como
internacional, torna-se conveniente e necessário conferir maior segurança,
certeza e previsibilidade jurídica no que concerne à resolução dos eventuais
litígios decorrentes dessas relações internas e internacionais.

A arbitragem, enquanto modo extrajudicial privado de resolução de


litígios, traduz-se num complemento útil e necessário aos tribunais estatais, pois
concorre, em última instância, para maior eficácia, eficiência e dignificação do
sistema geral de administração da justiça.

Impõe-se assim, neste domínio, dotar o nosso País e o seu sistema


jurídico de uma legislação pertinente, mais moderna e adequada à dinâmica e
às transformações do mundo actual.

Nestes termos, ao abrigo da alínea b) do artigo 88.º da Lei Constitucional,


a Assembleia Nacional aprova a seguinte:

LEI SOBRE A ARBITRAGEM VOLUNTÁRIA

CAPÍTULO I
Da Convenção de Arbitragem

ARTIGO 1.º
(Convenção de Arbitragem)

1. Todos aqueles que dispuserem de capacidade contratual podem,


nos termos da presente lei, recorrer a um Tribunal Arbitral para resolver
litígios relativos a direitos disponíveis, mediante Convenção de
Arbitragem, desde que por lei especial não estejam exclusivamente
submetidos a Tribunal Judicial ou à arbitragem necessária.
2. Os menores, interditos ou inabilitados não podem celebrar
convenções de arbitragem, ainda que por intermédio dos seus

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 24/266
representantes legais, mas, em caso de sucessão, os litígios em que sejam
interessados podem ser dirimidos pelo Tribunal Arbitral ao abrigo e nos
termos da Convenção de Arbitragem celebrada por aqueles a quem tiverem
sucedido.
3. O Estado e, em geral, as pessoas colectivas de direito público, só
podem celebrar convenções de arbitragem nos seguintes casos:

a) para dirimir questões respeitantes a relações de direito privado;


b) nos contratos administrativos;
c) nos casos especialmente estabelecidos por lei.

1. O recurso à arbitragem voluntária como forma de resolução de litígios importa,


nos termos do art. 1º, n.º 1 da LAV, a verificação dos seguintes pressupostos: (i)
capacidade jurídica das partes, (ii) que o objecto do litígio respeite a direitos
disponíveis e (iii) que o recurso à arbitragem voluntária não tenha sido excluído
por lei especial.

2. A “capacidade contratual” a que se refere o art. 1º, n.º 1 da LAV reconduz-se


à noção de capacidade jurídica, de que carecem os menores, os interditos e os
inabilitados, podendo todas as demais pessoas físicas e as pessoas jurídicas,
quer privadas (as sociedades, associações e fundações) quer públicas (o Estado
e os entes públicos com personalidade jurídica autónoma, i.e., as empresas
públicas) lançar mão da arbitragem. A capacidade das partes para celebrar
convenções de arbitragem deve aferir-se de acordo com os critérios gerais. É
nisto que consiste a chamada arbitrabilidade subjectiva.

3. No que respeita à arbitrabilidade objectiva, o nosso legislador limita o objecto


da arbitragem aos direitos disponíveis. Entende-se por direitos disponíveis os
direitos subjectivos que as partes podem constituir e extinguir por acto de
vontade e aqueles a que podem renunciar. Este critério de disponibilidade dos
direitos pode revelar-se, na prática, difícil de aferir, tendo sido já substituído na
nova lei portuguesa de arbitragem pelo critério da patrimonialidade (SAMPAIO
CARAMELO, “A disponibilidade do direito como critério de arbitrabilidade do
litígio – reflexões de iure condendo”, in Revista da Ordem dos Advogados,
Lisboa, 2006, p. 1233 ss; MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução
Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 117 ss). Alguma
doutrina continua, não obstante, a pugnar pela manutenção do critério da
disponibilidade, sublinhando a necessidade da mesma não se aferir em relação
a um instituto em si (direitos de personalidade, de família, sucessórios,
arrendamento) mas em face de cada questão concreta submetida a arbitragem
(tendo em conta a causa de pedir e o pedido). CARLOS FERREIRA DE
ALMEIDA (“Convenção de Arbitragem: Conteúdo e Efeitos”, in I Congresso do
Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa -
Intervenções, Livraria Almedina, Coimbra, 2008, p. 81 ss) defende ainda a
utilização de um critério prático, que passa por averiguar se o litígio em questão
seria passível de transacção, i.e., de ser resolvido pelas partes, caso em que os
direitos devem considerar-se disponíveis.
Na doutrina portuguesa foi defendida uma distinção entre indisponibilidade
absoluta e disponibilidade relativa, sendo a primeira a que impede em todos os

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LAV COMENTADA 25/266
casos e circunstâncias a constituição ou disposição do direito por vontade das
partes e a segunda aquela que apenas obsta a essa disposição (constituição
e/ou renúncia) em certos casos. De acordo com a doutrina maioritária, só a
indisponibilidade absoluta implica inarbitrabilidade. MARIANA FRANÇA
GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina,
Coimbra, 2012, p. 120).
Esta distinção reduz fortemente as áreas de inarbitrabilidade, reduzindo-a a
casos em que o exercício do direito é também admissível por via pública. Por
exemplo, situações de crimes públicos, direitos coletivos ou difusos, direitos
relativos a menores. MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução
Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 128 e 129)

Vejamos então, em relação a determinadas áreas do direito e por aplicação do


critério da disponibilidade assim configurado, quais os litígios cujo objecto é
passível de ser submetido a arbitragem.

Em matéria de direito das sociedades comerciais, os litígios entre a sociedade e


os sócios, ou entre sócios (designadamente os oriundos do incumprimento de
acordos parassociais), e a responsabilidade dos gerentes e administradores
perante a sociedade (no que respeita à determinação do montante
indemnizatório) deverão ser considerados arbitráveis. Já a impugnação de
deliberações sociais que afectem direitos de terceiros ou tenham que ver com o
interesse geral da sociedade (por exemplo, a exclusão de sócio da sociedade ou
a dissolução da sociedade) dependerão do preenchimento de certos requisitos
que protejam a vontade de todos os intervenientes e a utilidade da decisão
através da vinculação de todos os interessados (sócios e sociedade) (veja-se
ANTÓNIO SAMPAIO CARAMELO, A Arbitragem de Litígios Societários, in
Revista Internacional de Arbitragem e Conciliação, 2011, p. 7 ss). Atendendo a
algumas das matérias de direito societário poderão estar fora da disponibilidade
das partes, torna-se necessário indicar na cláusula compromissória a inserir no
contrato de sociedade quais as questões a remeter para foro arbitral (veja-se
PEDRO BAPTISTA MARTINS, “A Arbitragem nas Sociedades de
Responsabilidade Limitada” in Reflexões sobre Arbitragem, LTR, São Paulo,
2002, p. 117 e ss).

O processo de declaração de falência (art. 1135º ss do CPC) deverá ser


considerado, por princípio, não arbitrável. Porém, poderá equacionar-se o
recurso à arbitragem para dirimir questões relativas à reclamação de créditos e
à separação de bens da massa falida (no mesmo sentido LUÍS DE LIMA
PINHEIRO, Arbitragem Transnacional – A Determinação do Estatuto da
Arbitragem, Almedina, Coimbra, 2005, p. 103 ss).

A aplicação da arbitragem a questões relativas ao direito do trabalho é muito


discutível. Sobre a possibilidade de submeter a arbitragem litígios relativos a
convenções colectivas de trabalho, veja-se DÁRIO MOURA VICENTE,
“Arbitragem de Conflitos Colectivos de Trabalho” in Separata da obra Estudos
do Instituto de Direito do Trabalho, vol. IV, Almedina, Coimbra, 2005).
Em matéria de propriedade intelectual deve entender-se que questões relativas
ao direito moral de autor são insusceptíveis de arbitragem, podendo abrir-se à
arbitragem os litígios sobre o direito patrimonial de autor (licenças de utilização,

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LAV COMENTADA 26/266
compensação por utilização indevida ou por prejuízos causados ao titular de um
direito registado). A nossa Lei de Propriedade Industrial (Lei n.º 3/92, de 28 de
Fevereiro), no seu art. 66º, n.º 1, refere expressamente que a nulidade de
patente, depósito de modelo ou desenho, registo de marca, recompensa, nome
ou insígnia só podem ser determinados por sentença judicial. A exclusão do foro
arbitral nestes casos prende-se com a natureza constitutiva do registo e a sua
eficácia erga omnes.

A arbitragem poderá ser utilizada para dirimir questões de arrendamento


(comercial e para habitação), designadamente no que toca ao exercício do direito
de preferência pelo arrendatário em caso de venda ou do senhorio em caso de
trespasse do estabelecimento comercial. As questões relativas à acção de
despejo, resolução e denúncia do contrato de arrendamento pelo senhorio
deverão manter-se à margem do foro arbitral.

As questões de direito da família respeitantes quer a direitos pessoais (divórcio,


custódia dos filhos) quer a direitos patrimoniais (direito a alimentos) estão, em
larga medida, excluídas da arbitragem. Já será arbitrável, por exemplo, a partilha
de bens do casal.

As questões relativas à validade, interpretação e vigência de apólices de seguro


podem ser submetidas à arbitragem. A arbitragem poderá também ser utilizada
para dirimir litígios em matéria de seguros, designadamente entre seguradoras
e segurados relativos a indemnizações por danos materiais causados por
acidentes de viação. Uma vez que o seguro de responsabilidade civil automóvel
se tornou obrigatório, os conflitos a ele respeitantes que surgirão entre
seguradoras poderão ser dirimidos por arbitragem. Atenta a sua complexidade
técnica, também os litígios atinentes a contratos de resseguro teriam grande
vantagem em ser submetidos a arbitragem (ÂNGELA MENDONÇA, “Arbitragem
no Contrato de Resseguro” in Reflexões Sobre Arbitragem, coordenado por
Pedro A. Baptista Martins e José Maria Rossini Garcez, LTR, São Paulo, 2002,
p. 77 e ss; JUSTICE MANCE, IAIN GOLDREIN, ROBERT MERKIN, Insurance
Disputes, London Hong Kong, 2003, p. 307, 11.62).

As matérias de direito do consumo poderão vir a ser, num futuro não muito
distante, um campo de aplicação privilegiado para a arbitragem (art. 27º da Lei
n.º 15/03, de 22 de Julho, Lei da Defesa do Consumidor). A arbitragem revela-
se especialmente útil para a resolução de conflitos entre instituições bancárias e
os respectivos consumidores relativamente aos aserviços financeiros
disponibilizados (veja-se DÁRIO MOURA VICENTE, “Resolução Extrajudicial de
Conflitos no Sector Bancário” in Separata da Revista da Banca, n.º 55,
Janeiro/Junho, Lisboa, 2003, p. 79 ss).

As normas fiscais têm um carácter essencialmente público, razão pela qual têm
sido excluídas do foro arbitral. Não obstante, a alguns países, de onde se
destaca Portugal, têm admitidos a resolução de alguns litígios fiscais por via
arbitral (veja-se a este propósito o Decreto-Lei 10/2011, de 20 de Janeiro, e a
Convenção Europeia de Arbitragem em Matéria de Preços de Transferência, de
23 de Julho de 1990).

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LAV COMENTADA 27/266
Ficam ainda excluídos da arbitragem os litígios que devam necessariamente ser
submetidos aos tribunais judiciais. Esta exclusão resulta da necessidade do
legislador assegurar que determinadas matérias, atento o regime jurídico de
natureza imperativa a que estão sujeitas, se mantenham na competência
exclusiva dos tribunais judiciais. São, designadamente, excluídas do foro arbitral
as questões natureza criminal e falimentares (com a possibilidade de abertura à
arbitragem quanto aos aspectos acima indicados).

O art. 1º, n.º 1 da LAV exclui ainda do âmbito da convenção de arbitragem as


matérias que a lei submete a arbitragem necessária por determinação de lei
especial. Neste caso, à arbitragem aplicam-se as disposições imperativas dos
arts. 1525º a 1527º do CPC, sendo a arbitragem regulada subsidiariamente pelas
disposições da LAV, por expressa remissão do art. 1528º do CPC.

4. O legislador entendeu que a falta de capacidade que impede os menores,


interditos e inabilitados de tomarem parte em arbitragens, ainda que por meio do
seu representante legal, deveria beneficiar da excepção prevista no art. 1º, n.º 2
da LAV.

Esta excepção é corolário das regras do CPC que preveem, por um lado, que
falecida uma parte processual os seus sucessores possam continuar a instância
e, por outro lado, que os incapazes sejam representados em juízo pelo seu
representante legal (art. 10º do CPC). Deverá, assim, entender-se que caso os
incapazes tenham sucedido a alguém que haja celebrado uma convenção de
arbitragem para dirimir um determinado litígio, a vinculação à arbitragem
efectuada pelo de cuius é, em princípio, oponível ao incapaz.

Parece-nos, porém, de afastar a submissão do litígio à arbitragem quando esta


possa importar, de algum modo, a realização de actos de disposição de bens do
incapaz ou a sua vinculação a obrigações de carácter duradouro (arts. 141º e
238º do CC). Por exemplo, a arbitrabilidade de uma questão relativa à preterição
de um direito de preferência no aumento de capital de uma sociedade de que o
de cuius era sócio (e o incapaz herdeiro), que seria realizado por recurso a
financiamento bancário, porquanto configura um acto de disposição, parece-nos
de excluir do foro arbitral.

5. O art. 1º, n.º 3 da LAV trata ainda da arbitrabilidade subjectiva, indicando as


situações em que o Estado e os demais entes públicos (designadamente, as
empresas públicas) podem recorrer à arbitragem.

Sempre que a administração actue despida do seu ius imperii, o litígio daí
adveniente deve considerar-se um litígio de direito privado e,
consequentemente, poderá ser submetido à arbitragem. Os diferendos
resultantes de contratos administrativos que, atenta a sua natureza contratual e
a sua corrente complexidade, incentivam o recurso a uma jurisprudência
especializada na matéria objecto do contrato em questão, são campo
privilegiado para a utilização da arbitragem (para maiores desenvolvimentos
veja-se JOSÉ LUÍS ESQUÍVEL, Os Contratos Administrativos e a Arbitragem,
Almedina, Coimbra, 2004). Dentre eles, há que salientar os contratos relativos a
investimento estrangeiro em que o Estado seja parte (designadamente, os

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LAV COMENTADA 28/266
contratos de concessão, de partilha de produção no âmbito dos recursos
naturais, de sociedade, ou outro tipo de contratos que instituam parcerias
público-privadas) ou em relação aos quais o Estado se tenha vinculado a apoiar
o investimento aí previsto (designadamente através de benefícios fiscais,
incentivos financeiros ou contrapartidas específicas) – SÉRVULO CORREIA, “A
Resolução de litígios sobre Investimento Estrangeiro em Direito Arbitral”, in I
Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria
Portuguesa, Almedina, Coimbra, 2008, p. 200 e ss. O regime contratual do
investimento privado em Angola, previsto na Lei n.º 20/11, de 20 de Maio (Lei do
Investimento Privado), pressupõe a celebração de um contrato de investimento
entre o investidor e o Estado Angolano, no qual se consagra o resultado das
negociações a que as partes chegaram, designadamente em matéria de
incentivos/benefícios fiscais e aduaneiros aplicáveis ao projecto. As
controvérsias que possam surgir quanto à implementação do contrato de
investimento poderão ser submetidas a arbitragem, com claro benefício para o
investidor (nacional ou estrangeiro), na medida em que através do processo
arbitral se consegue uma efectiva igualdade na posição das partes,
particularmente importante nos litígios com repercussões financeiras
significativas. Também o art. 20º da Lei n.º 2/11, de 14 de Janeiro (Lei das
Parcerias Público-Privadas) estabelece claramente a possibilidade dos litígios
emergentes dela emergente serem dirimidos através de arbitragem.

Em suma, se a administração pública é competente para contratar, ela pode


também optar pelo foro arbitral e transigir. Aliás, é comum a rescisão amigável
dos contratos administrativos, na qual se fixam eventuais indemnizações por
acordo das partes (CAIO TÁCITO, “O Juízo Arbitral em Direito Administrativo”,
in Reflexões Sobre Arbitragem, LTR, São Paulo, 2002, p. 34).

Deverão considerar-se não arbitráveis os litígios relativos à responsabilidade civil


por prejuízos resultantes de actos praticados no exercício da função política, da
função legislativa e da função jurisdicional. É desejável a aplicação da arbitragem
a litígios concernentes à responsabilidade civil por prejuízos resultantes da
função administrativa, designadamente pela emissão/não emissão e
execução/não execução de actos e regulamentos administrativos lesivos dos
direitos dos particulares.

As questões relativas a recursos naturais (designadamente ao direito dos


petróleos, gás natural e diamantes) são também passíveis de arbitragem. Nesse
sentido, veja-se o art. 89º da Lei n.º 10/04, de 12 de Novembro (Lei das
Actividades Petrolíferas).

A receptividade do Estado Angolano quanto à resolução de diferendos por via


arbitral resulta claramente da Resolução n.º 34/06, de 15 de Maio, do Conselho
de Ministros, que estabelece que “o Estado, nas suas relações com os cidadãos
e com as outras pessoas colectivas, deve activamente propor e aceitar a
superação dos diferendos em que seja parte, com recurso aos meios alternativos
de resolução de litígios” (art. 2º da Resolução n.º 34/06), e favorece que “no
desenvolvimento das suas atribuições o Estado e outras pessoas colectivas
públicas que integram a administração estadual indirecta, proponham e adoptem
soluções concretas de mediação e de arbitragem com modalidades preventivas

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LAV COMENTADA 29/266
e alternativas, de composição de litígios com os cidadãos, com as empresas e
outras pessoas colectivas” (art. 5º da Resolução n.º 34/06).

6. Em Portugal, a recente Lei da Arbitragem Voluntária, lei n.º 63/2011, de 14 de


Dezembro, seguindo a lei alemã de arbitragem, aprovada em 1998 e
imediatamente integrada no Código de Processo Civil desse país, alterou no seu
art. 1º o critério de arbitrabilidade dos litígios no direito português, fazendo
depender esta não já do carácter disponível do direito a submeter à arbitragem,
mas antes, em primeira linha, da sua natureza patrimonial. Também à
semelhança do que fez a lei alemã, esse critério principal é combinado com o
critério secundário de transigibilidade da pretensão em litígio, de modo que
mesmo litígios que não envolvam interesses patrimoniais mas sobre os quais
seja permitido concluir transacção possam ser submetidos à arbitragem (Vide
“Exposição de Motivos de Proposta de Lei da Arbitragem Voluntária”, nº 3;
disponível em www.arbitragem.pt e
Mendes/Vicente/Júdice/Andrade/Náploes/Vieira, Lei da Arbitragem Voluntária
Anotada, Almedina, Coimbra, 2012, p. 15 e ss, MARIANA FRANÇA GOUVEIA,
Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012,
p. 118).

ARTIGO 2.º
(Espécies de Convenção de Arbitragem)

1. A Convenção de Arbitragem pode assumir a modalidade de


cláusula compromissória ou de compromisso arbitral.
2. Cláusula compromissória é a convenção segundo a qual as partes
se obrigam a dirimir, através de árbitros, os litígios que venham a decorrer
de uma determinada relação jurídica contratual ou extra-contratual.
3. Compromisso arbitral é a convenção segundo a qual as partes se
obrigam a dirimir através de árbitros um litígio actual, quer ele se encontre
afecto, quer não, a um Tribunal Judicial.
4. As partes podem, na Convenção de Arbitragem, estender o
respectivo objecto a outras questões relacionadas com o litígio, conferindo
aos árbitros, nomeadamente, o poder de precisar, completar, actualizar e,
inclusivamente, rever os contratos ou as relações jurídicas que
determinaram a Convenção de Arbitragem.

1. A convenção de arbitragem é definida como o “acordo pelo qual as partes


renunciam à jurisdição estatal, ordinária, e decidem as suas controvérsias
através da arbitragem” (JACOB DOLINGER e CARMEN TIBURCIO, Direito
Internacional Privado – Arbitragem Comercial Internacional, Renovar, Rio de
Janeiro/São Paulo, 2003, p. 133), devendo por isso classificar-se como um
negócio jurídico bilateral, i.e., um contrato.

Este acordo das partes pode constar de um contrato de âmbito mais alargado,
consubstanciando-se numa cláusula contratual onde elas determinam a
submissão de litígios futuros à arbitragem, que a nossa lei designa por cláusula
compromissória. E pode também resultar de um contrato autónomo, celebrado
entre as partes, posteriormente ao surgimento de um litígio entre elas, no qual
determinam que o mesmo deve ser resolvido por um tribunal arbitral. Como bem

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 30/266
refere CARLOS FERREIRA DE ALMEIDA, a convenção de arbitragem é um
contrato que não depende da celebração de qualquer contrato futuro, pelo que
deve classificar-se como um contrato definitivo e não como um contrato-
promessa (CARLOS FERREIRA DE ALMEIDA, “Convenção de Arbitragem:
Conteúdos e Efeitos” in I Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de
Comércio e Indústria Portuguesa, Almedina, Coimbra, 2008, p. 83, e RAUL
VENTURA, “Convenção de Arbitragem” in Revista da Ordem dos Advogados,
Lisboa, 1986, p. 300).

Mas se é certo que a arbitragem tem natureza contratual, a sua natureza


jurisdicional também é inegável. De facto, o tribunal arbitral é criado em função
da convenção de arbitragem (que lhe atribui poderes de jurisdição sobre
determinado litígio e delimita a sua competência), sendo a sua função
verdadeiramente jurisdicional (na medida em que cabe a esta instância decisória
exercer o poder de dirimir o litígio). A função jurisdicional do tribunal arbitral está
bem patente no art. 33º da LAV que estatui que a sentença arbitral produz entre
as partes os efeitos de caso julgado e tem força executiva.

O legislador angolano optou por apresentar uma definição clara, nos n.ºs 2 e 3
do art. 2º da LAV, respectivamente, de cláusula compromissória e de
compromisso arbitral. Tendo a cláusula compromissória e o compromisso arbitral
a natureza de contratos definitivos, estando qualquer um deles apto a produzir
efeitos sem necessidade de acordo posterior, a diferença entre ambos radica no
momento da sua celebração: a cláusula compromissória é celebrada antes do
aparecimento do litígio enquanto o compromisso arbitral é firmado após o litígio
ter surgido. A classificação da cláusula compromissória e do compromisso
arbitral como duas modalidades da convenção de arbitragem é também
efectuada por diversas convenções internacionais (veja-se o art. 1º do Protocolo
de Genebra de 1923, o art. 1º da Convenção Interamericana sobre Arbitragem
Comercial Internacional de 1975, e o art. 2º da Convenção de Nova Iorque de
1958). Tradicionalmente, certas jurisdições (como foi o caso do Brasil até 1996)
impunham às partes a celebração obrigatória de um compromisso arbitral ainda
que estas tivessem previamente subscrito uma cláusula compromissória, por
entenderem que esta carecia de eficácia para, por si só, desencadear a
constituição do tribunal arbitral.

2. Apesar das partes terem inserido uma cláusula compromissória num contrato,
é comum que, após o surgimento do litígio, elas acordem sobre questões
concretas relacionadas com o procedimento arbitral, designadamente a
nomeação de árbitros e a determinação do local concreto da arbitragem. Este
acordo posterior não deve ser classificado como um compromisso arbitral, mas
sim como um simples aditamento à cláusula compromissória (W. LAURENCE
CRAIG e outros, International Chamber of Commerce Arbitration, Part II – The
Agreement to Arbitrate, vol. 3, Oceana Publications, 1990).

O legislador angolano determinou expressamente a validade da cláusula


compromissória relativamente às relações jurídicas que originem litígios entre as
partes, independentemente da sua origem contratual ou extracontratual. Quis-
se, assim, que pudessem ser abrangidos pela cláusula compromissória não só
os futuros litígios que dessem origem a responsabilidade civil contratual (art.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 31/266
798º e ss do CC) mas também os passíveis de originar responsabilidade civil
extracontratual (art. 483º e ss do CC).

3. No n.º 3 do art. 2º da LAV o legislador angolano referiu expressamente que o


compromisso arbitral poderá ser firmado independentemente do litígio se
encontrar afecto a um tribunal judicial. De facto, o art. 290º, n.º 1 do CPC permite
que, em qualquer estado da causa até que seja proferida decisão judicial, as
partes acordem que parte ou a totalidade da controvérsia seja remetida para
apreciação de um tribunal arbitral, sendo junto ao processo ou lavrado neste o
compromisso arbitral, para que em relação a parte ou à totalidade da
controvérsia se opere a extinção da instância (art. 287º, al. b) do CPC). De
acordo com o n.º 3 do art. 290º do CPC, as partes ficam impedidas de invocar
no tribunal arbitral os actos praticados no tribunal judicial, salvo reserva expressa
nesse sentido.

A convenção de arbitragem (cláusula compromissória ou compromisso arbitral)


pode ser invocada como excepção processual perante os tribunais judiciais (a
designada excepção de preterição de tribunal arbitral) se, tendo as partes
convencionado submeter determinado litígio a foro arbitral, uma delas instaurar
uma acção judicial respeitante à referida controvérsia. Esta excepção deverá ser
considerada, entre nós, como excepção dilatória (art. 494º, n.º 1, al. h) do CPC),
conduzindo à absolvição do réu da instância (art. 288º, n.º 1, al. e) do CPC) e
obstando à apreciação do pedido pelo tribunal judicial (art. 493º, n.º 2 do CPC).
Cabe à parte interessada, querendo, invocar esta excepção dilatória (art. 495º
do CPC, a contrario). Se a parte não invocar a referida excepção, deve entender-
se que ela optou por renunciar à convenção de arbitragem anteriormente firmada
e prosseguir com a resolução do litígio por via judicial, em conformidade com a
livre revogabilidade da convenção de arbitragem estabelecida no art. 3º, n.º 4 da
LAV.

O padrão de análise da excepção pelo tribunal judicial tem sido fonte de


discussão entre a doutrina internacional. Retormar-se-á este ponto na anotação
ao artigo 31.º, mas cumpre salientar que a posição mais consensual é aquela
que entende estar o tribunal judicial limitado a uma análise superficial da validade
e eficácia da convenção. O que significa que apenas em casos em que é
manifesta a sua invalidade ou ineficácia, deve o tribunal julgar improcedente a
excepção de preterição. Esta problemática é conhecida como o efeito negativo
da convenção de arbitragem. (MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de
Resolução Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p.167 ss)

Caso uma mesma acção seja instaurada junto de um tribunal judicial depois de
ter sido iniciada uma acção arbitral, coloca-se a questão de saber se deverá ser
invocada a excepção de preterição do tribunal arbitral ou a excepção de
litispendência (arts. 494º, n.º 1, al. g), 497º e 498º do CPC). Tendo em conta que
qualquer delas conduz à produção dos mesmos efeitos no processo, i.e., à
absolvição do réu da instância, a grande diferença entre ambas prende-se com
o facto da excepção de litispendência ser de conhecimento oficioso pelo tribunal
(art. 495º do CPC), contrariamente à excepção de preterição de tribunal arbitral.
A doutrina tem entendido que o problema não é de litispendência, mas de
excepção de preterição de tribunal arbitral voluntário, tendo em conta que,

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LAV COMENTADA 32/266
havendo convenção arbitral, os tribunais judiciais não têm sobre o litígio
jurisdição. Não havendo competências concorrentes não há litispendência
(MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2ª
Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 161 e LUÍS DE LIMA PINHEIRO,
Arbitragem Transnacional – A Determinação do Estatuto da Arbitragem,
Almedina, Coimbra, 2005, p. 88 e ss).

4. Podem ser partes da convenção de arbitragem, nos termos do art. 1º da LAV,


quaisquer pessoas, singulares ou colectivas, privadas ou públicas. Em regra,
uma controvérsia opõe duas partes, mas não é desconhecida a controvérsia que
opõe uma pluralidade de partes (mais de duas).

A pluralidade de partes na acção arbitral pode ser originária ou subsequente; é


originária quando uma convenção de arbitragem é subscrita por mais de duas
partes e subsequente quando há lugar à intervenção de terceiros no âmbito do
procedimento arbitral.

Quando a pluralidade de partes na arbitragem é originária poderão verificar-se


algumas dificuldades no que respeita, por exemplo, à designação de árbitros (art.
7º da LAV). No caso da relação material levada perante o tribunal arbitral ter
mais de duas partes, sendo necessário que todas intervenham no processo, i.e.,
que a acção seja proposta por todas ou contra todas, sob pena de se verificar
ilegitimidade (litisconsórcio necessário), sem que todas elas tenham subscrito a
convenção de arbitragem, deve a parte signatária da convenção que com elas
esteja em situação de litisconsórcio incentivá-las a que intervenham na lide. Não
podendo o tribunal arbitral obrigar o terceiro a intervir na lide, ele pode
legitimamente recusar-se a intervir, vendo-se o tribunal arbitral obrigado a
abster-se de decidir quanto ao mérito da causa. Caso todos subscrevam ou
adiram à convenção, o princípio da igualdade das partes na constituição do
tribunal arbitral obriga a que cada grupo de litisconsortes designe o(s) seu(s)
árbitro(s) . Em caso de discordância dentro desse grupo, tem sido entendido que
a nomeação deve ser feita pela entidade competente que pode, caso se mostre
necessário para garantir a igualdade das partes, a designação de todos os
árbitros. É esta a solução hoje vertida no artigo 11.º da Lei da Arbitragem
Voluntária Portuguesa e no artigo 12.º do Regulamento CCI (veja-se sobre este
assunto M. BOTELHO DA SILVA, “Pluralidade de partes em arbitragens
voluntárias” in Estudos em Homenagem à Professora Doutora Isabel de
Magalhães Collaço, Almedina, Coimbra, 2002, Vol II, p. 449 e ss, e CARLA
GONÇALVES, “Pluralidade de Partes e Intervenção de Terceiros na Arbitragem”
in Thémis, n.º 13, ano VII, Almedina, Coimbra, 2006, p. 109 e ss; MARIANA
FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2ª Edição,
Almedina, Coimbra, 2012, p.212 ss).

Sendo a pluralidade de partes superveniente, estamos perante a questão da


intervenção de terceiros na lide. Embora seja tentador utilizar conceitos do
Código de Processo Civil, tal é fortemente desaconselhado em arbitragem, na
medida em que introduz uma rigidez formal não pretendida. A admissibilidade
de um requerimento de intervenção de terceiros, quer seja provocada, quer seja
espontânea deve depender de requisitos específicos do processo arbitral, como

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LAV COMENTADA 33/266
a existência de convenção de arbitragem, a importância da vontade das partes,
o princípio da igualdade das partes e da eficiência do processo.

Pretendendo o demandado no processo arbitral chamar um terceiro à convenção


de arbitragem a intervir no processo, este só poderá intervir caso se verifique um
consenso entre as partes, devendo os árbitros decidir sobre a pertinência do
pedido do terceiro integrar o contraditório. Esta situação verifica-se, por exemplo,
no caso em que o dono da obra (autor) intente uma acção de condenação contra
o empreiteiro (réu) e este tenha contratado um sub-empreiteiro (terceiro) para
realizar a obra; e no caso em que uma seguradora (ré) tenha contratado com o
seu segurado (autor) o pagamento de indemnizações que lhe possam ser
exigidas por outros lesados (terceiros) O terceiro não poderá ser forçado pelo
tribunal arbitral a intervir no pleito, mas, aceitando intervir, a convenção de
arbitragem passa a ser-lhe oponível e a sentença produzirá efeitos também em
relação a ele. Uma vez que o tribunal arbitral já está em funcionamento, não
poderá o terceiro alterar a sua composição (LINO DIAMVUTU, “Intervenção de
Terceiros na Arbitragem” in RAD-Revista Angolana de Direito, Ano 2, n.º 2, Casa
das Ideias, Luanda, 2009, p. 152 e ss).

O terceiro pode pretender intervir na arbitragem para auxiliar qualquer das


partes, uma vez que tenha um interesse legítimo em que a sentença seja
favorável a uma delas. Esta situação poderá ocorrer, por exemplo, caso o fiador
queira intervir num processo em que seja parte o seu afiançado. Ainda que a
intervenção do assistente não comporte a alteração do objecto do litígio, justifica-
se que a sua intervenção na arbitragem só seja possível havendo consenso das
partes, uma vez que ele poderá praticar actos processuais (no mesmo sentido,
LINO DIAMVUTU, “Intervenção de Terceiros na Arbitragem” in RAD-Revista
Angolana de Direito, Ano 2, n.º 2, Casa das Ideias, Luanda, 2009, p. 156).

Pretendendo o terceiro intervir numa acção pendente para fazer valer um direito
próprio há extensão objectiva e subjectiva da convenção de arbitragem, sendo
necessário que as partes originárias da convenção de arbitragem estejam de
acordo. Neste caso, o oponente será parte principal do processo e, como tal,
deverá designar um árbitro (nos termos do art. 17º da LAV), devendo assegurar-
se que o tribunal arbitral se manterá com um número ímpar de árbitros (art. 16º,
n.º 1 da LAV). No caso da intervenção do terceiro não ser aceite pelas partes,
resta-lhe fazer valer os seus direitos perante o tribunal judicial em sede de
recurso de oposição de terceiro (para maiores desenvolvimentos, veja-se LINO
DIAMVUTU, “Intervenção de Terceiros na Arbitragem” in RAD-Revista Angolana
de Direito, Ano 2, n.º 2, Casa das Ideias, Luanda, 2009, p. 156)

A lei portuguesa, no seu artigo 36.º, estabeleceu critérios próximos destes,


exigindo que as partes se encontram vinculadas pela mesma convenção arbitral.
Não obriga, no entanto, ao acordo das partes quanto à admissão do terceiro.
Embora o preceito seja inovador, acaba por ser bastante restritivo nos seus
efeitos práticos. (MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução
Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 220 ss)

5. As partes podem ainda subscrever a convenção de arbitragem por si próprias


ou através de representante legal voluntário.

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LAV COMENTADA 34/266
O representante voluntário, mandatário com poderes forenses para
comprometer (veja-se o art. 19º da LAV), pode acordar quanto aos elementos
essenciais do compromisso arbitral e, em regra, também vincular o mandante
quanto aos elementos facultativos da referida convenção (como por exemplo,
quanto à caducidade da convenção – art. 5º da LAV- prazo para a decisão – art.
25º da LAV – e designação dos árbitros – art. 7º da LAV). O mesmo entendimento
é defendido por J. LOPES DOS REIS que refere que o mandante quando confere
ao mandatário poderes para comprometer está implicitamente a dar-lhe poderes
para decidir quanto às questões processuais que se colocam em sede arbitral,
designadamente o poder de renunciar antecipadamente ao recurso da decisão
arbitral (Representação Forense e Arbitragem, Coimbra Editora, Coimbra, 2001,
p. 101).

6. O n.º 4 do artigo 2º da LAV, juntamente com o n.º 3 do artigo 3º da LAV,


procuram delimitar o objecto da convenção de arbitragem. No artigo 3º, n.º 3 da
LAV o legislador aponta para o objecto da convenção de arbitragem em sentido
estrito, diferenciando-o consoante se trate de cláusula compromissória ou de
compromisso arbitral. Já no art. 2º, n.º 4 da LAV, o legislador procurou abranger
o objecto da arbitragem em sentido amplo, determinando as demais questões
que as partes poderão submeter à apreciação dos árbitros. Em sentido estrito, o
objecto da arbitragem inclui a determinação precisa do litígio actual através da
indicação do pedido e da causa de pedir, no caso do compromisso arbitral, e da
relação jurídica ou facto que poderá originar o litígio (i.e., da futura causa de
pedir), no caso da cláusula compromissória. Em sentido amplo, esse objecto
inclui ainda a interpretação, integração, actualização e modificação dos contratos
ou das relações jurídicas que sustentam a causa de pedir. Este entendimento
abrangente do legislador angolano indicia, sem prejuízo das matérias
expressamente excluídas, que o tribunal arbitral tem competência para decidir
sobre todas as matérias que podem ser decididas por um tribunal judicial,
designadamente, no âmbito de acções declarativas (de simples apreciação, de
condenação e constitutivas) e providências cautelares (com os limites indicados
no artigo 22º da LAV). Refira-se, a título de exemplo, que esta possibilidade dos
árbitros procederem à actualização e modificação dos contratos tem um bom
campo de aplicação na renegociação do equilíbrio financeiro de contratos como
os de concessão que, pela sua longa duração, poderão necessitar de
actualização.

Ainda que, como vimos, o princípio geral em matéria de jurisdição dos tribunais
arbitrais seja o da sua equiparação aos tribunais judiciais, é necessário que o
objecto da arbitragem seja arbitrável, i.e., que preencha os requisitos do art. 1º
da LAV referentes à arbitrabilidade objectiva.

Como bem refere CARLOS FERREIRA DE ALMEIDA (“Convenção de


Arbitragem: Conteúdos e Efeitos” in I Congresso do Centro de Arbitragem da
Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Almedina, Coimbra, 2008, p. 88),
a convenção de arbitragem tem a função económico-social de reestruturação
das situações jurídicas, porquanto através dela as partes canalizam para
terceiros (os árbitros) imparciais a solução de um litígio, actual ou futuro,

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LAV COMENTADA 35/266
assumindo cada uma das partes que este modo alternativo de resolução de
litígios lhes trará maiores benefícios.

7. A convenção de arbitragem serve ainda para delimitar os poderes


jurisdicionais dos árbitros. Na verdade, tanto a cláusula compromissória como o
compromisso arbitral, podem estabelecer, para a arbitragem ad hoc, regras
quanto ao número e escolha dos árbitros (ou remeter a sua designação para um
centro de arbitragem institucionalizado), a maneira de iniciar a arbitragem,
determinar que a decisão dos árbitros seja tomada de acordo com o direito
constituído (de um determinado ordenamento jurídico, comum a vários
ordenamentos jurídicos ou com base na lex mercatoria) ou por recurso à
equidade, as regras do processo, a língua em que decorrerá a arbitragem, o
lugar, o prazo para a prolação da sentença e a admissibilidade (ou não) de
recurso da decisão arbitral. Caso a convenção de arbitragem seja omissa quanto
a algum destes aspectos (ou quaisquer outros) há que lançar mão das regras
supletivas previstas na LAV.

Se as partes optarem pela arbitragem institucionalizada (art. 45º da LAV), em


que cada centro de arbitragem tem o seu próprio regulamento que disciplina
exaustivamente os aspectos indicados acima, podem formular uma convenção
de arbitragem mais genérica, remetendo a sua concretização para o respectivo
regulamento. É também comum as partes recorrerem a cláusulas-tipo
disponibilizadas pelos centros de arbitragem que contêm já os elementos
essenciais para o funcionamento da arbitragem.

ARTIGO 3.º
(Requisitos da Convenção de Arbitragem)

1. Sem prejuízo de lei especial exigir forma mais solene, a Convenção


de Arbitragem deve ser celebrada por escrito.
2. Considera-se celebrada por escrito a convenção inserida em
qualquer documento assinado pelas partes ou em qualquer exemplar de
correspondência trocada entre elas de que reste prova por escrito,
nomeadamente meios de telecomunicação, quer esses instrumentos
titulem directamente a convenção celebrada, quer remetam para outro
documento escrito ou de que reste prova por escrito que contenha uma
Convenção de Arbitragem.
3. As partes devem, na cláusula compromissória, especificar as
relações litigiosas ou os factos jurídicos de que possam derivar e, no
compromisso arbitral, determinar com a maior exactidão possível o objecto
do litígio.
4. As partes podem, por acordo escrito, revogar a Convenção de
Arbitragem até ser proferida a decisão arbitral.

1. O n.º 1 do art. 3º da LAV trata da forma da convenção de arbitragem,


consagrando a necessidade desta ser celebrada por documento particular
assinado pelas partes, ou por documento autenticado ou autêntico se tal for
determinado por lei especial, sob pena de nulidade (art. 294º do CC).

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LAV COMENTADA 36/266
A arbitragem representa uma derrogação à jurisdição dos tribunais judiciais, que
constituem a jurisdição ordinária em Angola. Por essa razão, a vontade das
partes constante de convenção de arbitragem deve ser manifestada de forma
inequívoca.

Em regra, a cláusula compromissória e o compromisso arbitral constam de um


contrato escrito assinado por ambas as partes. Mas, ainda que
excepcionalmente, a cláusula compromissória pode não estar inserida num
documento contratual uno e resultar da troca de correspondência entre as partes,
na qual estas acordam que as controvérsias a elas respeitantes serão remetidas
para arbitragem. Se a troca de correspondência for efectuada por fax ou por e-
mail, parece dever aceitar-se que os documentos não tenham de ser assinados
pelo punho do autor – a LAV deve ser interpretada no sentido de acolher as mais
modernas formas de comunicação. Esta troca de correspondência deverá
claramente atestar as declarações negociais das partes (proposta e aceitação),
expressa ou tacitamente, comprovando que elas pretenderam celebrar uma
convenção de arbitragem. Neste sentido, LUÍS DE LIMA PINHEIRO defende que
a aceitação pode ser tácita desde que o facto concludente da aceitação observe
forma escrita, o que sucederá no caso do destinatário da proposta fazer
referência à convenção de arbitragem ou ao contrato em que ela está inserida
em documento posterior. A aceitação oral expressa ou a aceitação tácita que
não esteja vertida em documento não serão suficientes para que se possa
concluir pela validade de uma convenção de arbitragem (LUÍS DE LIMA
PINHEIRO, Arbitragem Transnacional – A Determinação do Estatuto da
Arbitragem, Almedina, Coimbra, 2005, p. 93). Esta acepção ampla de forma
escrita segue em conformidade com o art. 7º, n.º 2 da Lei-Modelo da CNUDCI,
que estabelece a possibilidade da convenção de arbitragem constar de outro
meio que prove a sua existência, designadamente da troca de articulados em
processo arbitral sendo alegada por uma das partes e não contestada pela outra
(que a lei angolana não prevê expressamente, não obstante determinar no art.
34º, n.º 1, al. b) e n.º 2 da LAV que a anulação da sentença com base em
incompetência do tribunal só pode ser determinada se arguida pela parte
interessada) e pela remissão de um contrato para um documento que contenha
a cláusula compromissória contanto que o contrato seja escrito e a remissão
incorpore a cláusula.

2. Posto que a convenção de arbitragem é um contrato, a sua interpretação é


disciplinada pelos arts. 236º a 238º do CC, aplicáveis a quaisquer negócios
jurídicos, e pelas disposições da Lei n.º 4/03, de 18 de Fevereiro, sobre as
cláusulas gerais dos contratos, no caso de estar inserida em contrato de adesão.
As convenções de arbitragem inseridas em contratos com consumidores finais
que “prevejam modalidades de arbitragem que não assegurem as garantias
processuais estabelecidas na lei” (art. 13º, al. h) da Lei n.º 4/03) são
absolutamente proibidas e, consequentemente, nulas (art. 15º e 17º da Lei n.º
4/03).

A exata interpretação deste normativo tem sido objeto de discussão doutrinal e


jurisprudencial, tendo-se entendido que pode implicar uma convenção de
arbitragem facultativa – o consumidor pode aceder aos tribunais arbitrais ou

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LAV COMENTADA 37/266
judiciais conforme pretender. MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de
Resolução Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 110).

Sendo um negócio formal (art. 3º, n.º 1 da LAV), o art. 238º, n.º 1 CC exige-lhe,
ao menos, um mínimo de correspondência no texto do respectivo documento,
ainda que imperfeitamente expresso. Já o art. 238º, n.º 2 do CC não parece ter
aplicação em sede de convenção arbitral, porquanto impõe que a consideração
da vontade real das partes não seja afastada pelas razões determinantes da
forma do negócio (no mesmo sentido CARLOS FERREIRA DE ALMEIDA,
“Convenção de Arbitragem: Conteúdos e Efeitos” in I Congresso do Centro de
Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Almedina, Coimbra,
2008, p. 91). Ora, se o legislador angolano veio impor a forma escrita à
convenção de arbitragem foi exactamente por considerar que nela deveria
definir-se, no mínimo, o seu objecto (art. 3º, n.º 3 da LAV), não havendo lugar à
consideração da vontade real das partes. Esta interpretação é confirmada pela
exigência do legislador manifestada no n.º 2 do art. 3 da LAV de que reste prova
por escrito da intenção das partes de submeterem a arbitragem os seus actuais
ou futuros litígios.

Para além das normas legais relativas à interpretação dos negócios jurídicos
referidas, o apuramento do consentimento das partes à arbitragem pode ainda
ser aferido por recurso aos princípios gerais de direito, de que a doutrina e
jurisprudência internacionais têm lançado mão. SELMA M. FERREIRA LEMES
(“Cláusulas arbitrais ambíguas ou contraditórias e a interpretação da vontade
das partes”, in Reflexões sobre Arbitragem, LTR, São Paulo, 2002, p. 195 e ss)
enuncia os seguintes princípios: (i) princípio da boa-fé, (ii) princípio do efeito útil
ou da efectividade, (iii) rejeição do princípio da interpretação estrita, (iv)
interpretação da indicação equivocada da instituição arbitral como erro material
e verificação dos documentos pré-contratuais e (v) interpretação pro validate. A
consideração do (i) princípio da boa-fé poderá justificar que uma parte não se
possa prevalecer de uma ambiguidade ou contradição de uma cláusula
compromissória que ela própria redigiu, que se atenda ao comportamento
posterior de uma parte para reconhecimento de que a indicação do árbitro pela
outra parte foi aceite, que se classifique como abuso de direito o comportamento
de uma parte que depois de participar num processo arbitral vem, em recurso,
alegar a invalidade do compromisso arbitral. O (ii) princípio do efeito útil
determina que se uma cláusula arbitral é susceptível de ter dois sentidos, deve
dar-se primazia ao sentido que possa produzir um efeito útil em detrimento do
que não produza efeito algum, pressupondo-se que as partes tiveram intenção
de dotar a cláusula de operacionalidade. O (iii) princípio da interpretação estrita,
rigorosa e exacta, que faz preponderar o teor literal da convenção de arbitragem
deve ser, em geral, afastado, só devendo ser utilizado para determinar se as
partes quiseram submeter certa relação jurídica a arbitragem e quais as
categorias de litígios a dirimir pelo tribunal arbitral. O (iv) erro material na
indicação da instituição que teria competência para dirimir o litígio não deverá
derrogar a competência da instituição se se puder concluir da convenção de
arbitragem que a intenção das partes foi claramente submeter o litígio a essa
instituição. A análise dos documentos pré-contratuais das partes deverá servir
de indício à determinação dessa instituição. O (v) princípio da interpretação pro
validate da cláusula arbitral (favor arbitral) erige, em regra geral, a presunção de

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LAV COMENTADA 38/266
validade da convenção de arbitragem, por se entender que a vontade das partes
de submeter os seus litígios a arbitragem deve ser respeitada. Este princípio tem
carácter auxiliar e deve ser conjugado com os demais princípios indicados para
se aferir da validade da convenção de arbitragem. Refira-se, no que concerne à
LAV, que se poderá encontrar uma afloração deste princípio no seu art. 4º, n.º 1,
al. d), que determina a nulidade do compromisso arbitral quando o objecto do
compromisso arbitral não possa, de modo algum, ser determinado.

3. O n.º 3 do art. 3º da LAV trata do conteúdo da convenção de arbitragem,


apontando a necessidade desta ter um conteúdo mínimo. No caso da cláusula
compromissória, o conteúdo mínimo importa a indicação da relação jurídica ou
dos factos a submeter a arbitragem (que poderão configurar a causa de pedir).
Já em relação ao compromisso arbitral, a lei impõe a determinação o mais
exactamente possível daquilo que possa ser o objecto da arbitragem, que
passará pela indicação do pedido e da causa de pedir. Mas a fixação do objecto
do processo não se faz na convenção, mas no processo arbitral.

A falta de um conteúdo mínimo da convenção de arbitragem importa a sua


nulidade, de acordo com o art. 4º, n.º 1, al. c) e d) da LAV.

4. A decisão de celebrar uma convenção de arbitragem radica no princípio da


autonomia da vontade das partes, cabendo-lhes, do mesmo modo, determinar a
exclusão de determinada relação jurídica ou controvérsia concreta do foro
arbitral.

A decisão de prescindir do foro arbitral acordado, mesmo que o procedimento


arbitral esteja já em curso, pode sempre ser tomada por acordo das partes. Esta
disposição é correspectiva do art. 290º, n.º 1 CPC, que determina que “em
qualquer estado da causa podem as partes acordar em que a decisão de toda
ou parte dela seja cometida a um ou mais árbitros da sua escolha”. Em ambos
os casos, a decisão de optar pela jurisdição contrária pode ser tomada até ser
proferida a decisão (arbitral ou judicial) final.

5. Do ponto de vista dos seus efeitos, a convenção de arbitragem vincula as


partes signatárias, tendo a natureza de contrato. Não obstante, discute-se a
possibilidade de extensão subjectiva dos efeitos da cláusula arbitral, não para
que os seus efeitos se apliquem a terceiro mas para que essa pessoa possa ser
considerada parte da convenção de arbitragem.

A questão discute-se, designadamente, em relação a casos que envolvem


grupos de sociedades, transformação de sociedades, cessão da posição
contratual e contratos interligados. As decisões da CCI têm sido contrárias a esta
extensão subjectiva, na medida em que consideram o foro arbitral uma excepção
ao foro judicial e, consequentemente, exigem a concordância desse terceiro em
relação à convenção de arbitragem, ainda que se manifeste tacitamente através
de um comportamento concludente (para maiores desenvolvimentos veja-se
MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2ª
Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 132 ss; JACOB DOLINGER e CARMEN
TIBURCIO, Direito Internacional Privado – Arbitragem Comercial Internacional,
Renovar, Rio de Janeiro/São Paulo, 2003, p. 185 e ss).

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LAV COMENTADA 39/266
A cessão da posição contratual de qualquer das partes no âmbito de uma
convenção de arbitragem deverá obedecer às regras previstas no art. 424º do
CC, exigindo-se o acordo das partes para que a cessão se opere. Sendo um
contrato bilateral, a expressão “contrato com prestações recíprocas” deve ser
interpretada extensivamente para abarcar a convenção de arbitragem que não
comporta a realização de qualquer prestação em sentido técnico (CARLOS
FERREIRA DE ALMEIDA, “Convenção de Arbitragem: Conteúdos e Efeitos” in I
Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria
Portuguesa, Almedina, Coimbra, 2008, p. 94; MARIANA FRANÇA GOUVEIA,
Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012,
p. 134).

A cessão de créditos (art. 577º e ss do CC) opera a transmissão de créditos do


cedente para o cessionário, não sendo necessário o acordo do devedor cedido.
A aplicação da regra da transmissão automática dos acessórios do crédito pode
ser aqui aplicada, mas com cautela, na medida em que convenção é, ela própria,
um contrato (e não uma posição jurídica unilateral) autónomo (conforme resulta
do artigo 4.º n.º2). Ainda assim, tem-se entendido que se pode aplicar
analogicamente a regra da transmissão automática dos acessórios do crédito.
Assim, a cláusula compromissória deverá considerar-se acessória do crédito
cedido e, por isso, transmitida automaticamente do cedente para o cessionário.
(MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2ª
Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p.135).

A cláusula compromissória inserida num contrato a favor de terceiro vincula o


terceiro, uma vez que o terceiro adquire o direito à prestação independentemente
da aceitação, nos termos do art. 444º, n.º 1 do CC. (CARLOS FERREIRA DE
ALMEIDA, “Convenção de Arbitragem: Conteúdos e Efeitos” in I Congresso do
Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Almedina,
Coimbra, 2008, p. 94).

A cláusula compromissória não vincula os garantes de qualquer dos signatários


do contrato, co-devedores, nem se mantém em caso de novação subjectiva
(CARLOS FERREIRA DE ALMEIDA, “Convenção de Arbitragem: Conteúdos e
Efeitos” in I Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e
Indústria Portuguesa, Almedina, Coimbra, 2008, p. 94), uma vez que a sua
natureza pressupõe o acordo das partes que a ela se vinculam, devendo esta
autonomia de vontade ser assegurada em qualquer dos casos.

No caso de sub-rogação pelo credor (art. 589º do CC) ou pelo devedor (art. 590º
do CC), quer a sub-rogação seja de origem convencional ou legal, parece ser de
admitir que a cláusula compromissória inserida no contrato vincule o terceiro que
cumpre a obrigação.

Em caso de contratos sucessivos, em que uma mesma coisa é objecto de


transmissões sucessivas (por exemplo, do fabricante para o importador, deste
para o revendedor e deste para o consumidor final), entende-se que a acção de
reparação dos vícios da coisa é acessória dessa coisa, podendo o seu último
adquirente invocar perante o vendedor inicial a convenção de arbitragem

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LAV COMENTADA 40/266
inserida no contrato inicial (no mesmo sentido, LINO DIAMVUTU, “Intervenção
de Terceiros na Arbitragem” in RAD-Revista Angolana de Direito, Ano 2, n.º 2,
Casa das Ideias, Luanda, 2009, p. 162).

ARTIGO 4.º
(Nulidade da Convenção de Arbitragem)

1. A Convenção de Arbitragem é nula quando:

a) não revestir a forma prescrita por lei;


b) for celebrada em contravenção das normas imperativas do
artigo 1.º da presente lei;
c) a cláusula compromissória não especificar os factos
jurídicos de que deva emergir a relação litigiosa;
d) o compromisso arbitral não determinar o objecto do litígio
e não for possível proceder, de outro modo, à sua
determinação.
2. A nulidade do contrato não implica a nulidade da Convenção de
Arbitragem, salvo mostrando-se que aquele não teria sido celebrado sem
a referida convenção.

1. O art. 4º da LAV indica as condições que importam a nulidade da convenção


de arbitragem. Caso a convenção de arbitragem seja considerada nula, anulável
ou ineficaz, o tribunal arbitral que com base nela decidiu sobre determinada
controvérsia deve ser considerado incompetente, e a decisão arbitral poderá ser
anulada (art. 34º, n.º 1, al. b) da LAV).

A convenção de arbitragem (tanto a cláusula compromissória como o


compromisso arbitral) tem uma inelutável nota de autonomia face ao
contrato/relação jurídica a que respeita, sendo considerada um negócio jurídico
bilateral autónomo e independente. Deste modo, a lei aplicável ao
contrato/relação jurídica controvertida poderá ser distinta da lei aplicável à
convenção de arbitragem. A lei aplicável à convenção arbitral será a acordada
pelas partes, tal como resulta das circunstâncias em que a negociação decorreu
e dos usos do comércio.

2. Sempre que a lei aplicável à convenção de arbitragem seja a LAV, esta deve
conter necessariamente os elementos obrigatórios constantes do art. 4º, n.º 1,
sob pena de invalidade. Em primeiro lugar, e de acordo com o art. 4º, n.º 1, al.
a) da LAV, a convenção de arbitragem deve constar de documento escrito, nos
termos previstos no art. 3º, n.ºs 1 e 2 da LAV. Em segundo lugar, por força do
art. 4º, n.º 1, al. b) da LAV, a convenção de arbitragem deve respeitar a
arbitrabilidade subjectiva e objectiva indicada no art. 1º da LAV. Em terceiro
lugar, de acordo com o art. 4º, n.º 1, al. c) e d) da LAV, o objecto da convenção
de arbitragem deve estar definido, de modo a que o litígio em causa seja
apreensível, nos termos indicados no art. 3º, n.º 3 da LAV.

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LAV COMENTADA 41/266
A al. d) do n.º 1 do art. 4º da LAV refere que o compromisso arbitral só será nulo
se, não tendo sido indicado o objecto do litígio, este não puder, de outro modo,
ser determinado. Entendemos que para efeitos de determinação do objecto do
litígio deverá ser admitida a integração das lacunas constantes do compromisso
arbitral (veja-se RAUL VENTURA, “Convenção de Arbitragem” in Revista da
Ordem dos Advogados, Lisboa, 1986, p. 330 e ss; defendendo uma utilização
prudente do mecanismo da integração; CARLOS FERREIRA DE ALMEIDA,
“Convenção de Arbitragem: Conteúdos e Efeitos” in I Congresso do Centro de
Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Almedina, Coimbra,
2008, p. 92 e 93).

Subscrevendo o princípio da intervenção mínima necessária dos tribunais


judiciais no processo arbitral, o legislador angolano eliminou a determinação do
objecto do litígio por tribunal judicial quando o compromisso arbitral não o tenha
definido, aproximando-se das modernas leis de arbitragem internacionais.

Do nosso ponto de vista, não se vislumbra a necessidade de se estabelecer,


quanto a este aspecto, diferença entre o compromisso arbitral e a cláusula
compromissória, pelo que a admitir-se a integração de lacunas ela deverá ser
aceite independentemente da forma que revista a convenção arbitral. Assim, se
o objecto da convenção arbitral puder ser determinado por recurso a outros
documentos escritos (como impõe o art. 3º, n.º 1 da LAV), designadamente os
documentos de carácter pré-contratual celebrados entre as partes, não parece
dever excluir-se o recurso à arbitragem. Por exemplo, se a convenção de
arbitragem referir que o seu objecto respeita a questões relativas à execução de
um contrato, as questões atinentes à resolução desse contrato deverão também
ser englobadas se encontrarem suporte em documentação pré-contratual.

Se estivermos perante uma cláusula compromissória mal redigida que não


permite determinar se foi intenção das partes submeter o litígio a arbitragem, a
mediação (um mecanismo de resolução de conflitos em que as partes escolhem
um terceiro, imparcial, para facilitar o consenso das partes, que ajuda a identificar
os interesses e as necessidades inerentes ao conflito, para que as partes, por si
próprias, encontrem uma solução para o conflito) ou a conciliação (mecanismo
de resolução de conflitos em que um terceiro, imparcial, por regra com poder
decisório – árbitro ou juiz - propõe às partes soluções alternativas para resolver
a controvérsia, que as partes aceitarão ou não, até que um consenso seja
obtido), então essa cláusula será indubitavelmente nula. O mesmo se diga se na
mesma cláusula compromissória se remeter simultaneamente para o foro arbitral
e para o foro judicial, não se podendo determinar com clareza, por recurso ao
texto do contrato, qual foi a real intenção das partes.

Mas o problema que surge com mais frequência é o da convenção de arbitragem


ser escrita de forma ambígua, deficiente, incoerente, imperfeita, omitindo
elementos que são essenciais ao desencadear e ao exercício do processo
arbitral. Por exemplo, por não referir o lugar ou a língua do tribunal arbitral, o
prazo em que a sentença deve ser proferida, as regras do processo, se a decisão
é ou não recorrível para os tribunais judiciais, etc. Caso as normas relativas à
interpretação dos negócios jurídicos não nos permitam solucionar questões que,
na própria convenção de arbitragem, tenham uma referência mínima e

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LAV COMENTADA 42/266
incompleta, tal integração far-se-á por recurso ao regime supletivo estabelecido
na LAV, por regra, através daquilo que aos árbitros pareça mais adequado.

E que dizer se estivermos perante uma cláusula compromissória em branco ou


vazia, que disponha simplesmente que as futuras divergências entre as partes
serão dirimidas por arbitragem, e nada diga quanto à forma de desencadear a
arbitragem e quanto à nomeação dos árbitros? A LAV, nos seus arts. 13º e 14º,
determina que a parte interessada deve notificar a outra parte da sua intenção
de dar início à arbitragem, e que em caso de falta de nomeação de árbitros, a
sua nomeação incumbe ao Presidente do Tribunal Provincial do lugar fixado para
a arbitragem ou, na falta desta fixação, o do domicílio do requerente ou, no caso
do requerente ter domicílio no estrangeiro, ao Presidente do Tribunal Provincial
de Luanda. Perante este problema, a lei brasileira (Lei n.º 9.307/96) estabeleceu
(no seu art. 7º) que perante uma cláusula compromissória vazia, a parte
interessada em accionar a arbitragem pode requerer a citação da outra parte
para comparecer em juízo, em audiência especial destinada a lavrar o
compromisso arbitral. A solução do legislador angolano parece-nos preferível,
uma vez que afasta a necessidade de, para além da cláusula compromissória,
se celebrar ainda um compromisso arbitral. De facto, basta que a cláusula
compromissória faça referência à arbitragem, ainda que em branco, para que
uma das partes não possa unilateralmente afastar a resolução do diferendo por
meio de arbitragem.

São ainda nulas (nos termos dos arts. 15º e 17º da Lei n.º 4/03, de 18 de
Fevereiro, sobre as Cláusulas Gerais dos Contratos) as convenções de
arbitragem inseridas em contratos com consumidores finais que “prevejam
modalidades de arbitragem que não assegurem as garantias processuais
estabelecidas na lei” (art. 13º, al. h) da Lei n.º 4/03). O art. 11º, al. g) da Lei n.º
4/03 prevê a proibição de cláusulas inseridas em contratos celebrados entre
comerciantes ou entidades equiparadas que “estabeleçam injustificadamente um
foro competente que envolva graves inconvenientes para uma das partes”.
Deverá entender-se que a referência a foro feita nesta disposição legal inclui o
foro arbitral, devendo considerar-se nula a convenção de arbitragem que remeta
a resolução de litígio para tribunal arbitral que envolva graves inconvenientes
para uma das partes (no mesmo sentido, RAUL VENTURA, “Convenção de
Arbitragem” in Revista da Ordem dos Advogados, Lisboa, 1986, p. 285 e ss, e,
defendendo uma aplicação restrita desta norma às convenções arbitrais em
casos verdadeiramente excepcionais, LUIS DE LIMA PINHEIRO, Arbitragem
Transnacional – A Determinação do Estatuto da Arbitragem, Almedina, Coimbra,
2005, p. 92; MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa de
Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p.112). Seria, por exemplo,
gravemente inconveniente para uma empresa angolana de pequena dimensão,
no âmbito de contrato de fornecimento celebrado com outra empresa angolana,
a determinação de que a arbitragem teria lugar em Paris, sendo conduzida de
acordo com as regras da CCI, atentos os custos de deslocação e de estadia em
Paris que seria chamada a suportar.

3. No que respeita à competência para decidir da validade da cláusula


compromissória, vale o princípio de que o tribunal arbitral é competente para
decidir da sua própria competência, conforme expressamente previsto no art.

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LAV COMENTADA 43/266
31º, n.º 1 da LAV. Esta regra, corolário da autonomia da cláusula arbitral, impõe
ao tribunal arbitral que afira, a título de questão prévia, da validade da cláusula
compromissória.

4. O n.º 2 do art. 4º da LAV estabelece que sendo nulo o contrato que dá origem
ao pleito, a convenção de arbitragem em princípio mantém-se, tal só não
sucedendo caso se mostre que o contrato nunca teria sido concluído sem a
convenção de arbitragem. A referência à convenção de arbitragem aqui
efectuada deve entender-se em sentido estrito, referindo-se apenas à cláusula
compromissória.

A nulidade, e também a inexistência, do contrato só importará a não subsistência


da cláusula compromissória caso o tribunal arbitral conclua que as partes (ou
pelo menos uma delas) nunca teriam concluído o contrato sem aquela cláusula.
Esta disposição, que faz lembrar o art. 292º do CC relativo à redução do negócio
jurídico, só encontra paralelo na lei portuguesa sobre arbitragem, no seu art. 21º,
n.º 2. Percebe-se mal qual foi a intenção do legislador angolano quando
determinou esta redacção, uma vez que ainda que se conclua que as partes
nunca teriam concluído o contrato sem a remissão expressa dos litígios dele
advenientes para arbitragem, ainda que se conclua pela ligação intrínseca entre
o contrato e a convenção de arbitragem, não parece fazer sentido que a nulidade
daquele possa, pelo facto das partes terem querido recorrer ao foro arbitral,
determinar a nulidade desta. Pelo contrário, se as partes reputaram essencial a
solução dos diferendos por via de arbitragem e, se tal não fosse possível, nunca
teriam celebrado o contrato, parece de aceitar que, no caso de posteriormente o
contrato vir a ser declarado nulo ou inexistente, a possibilidade de determinarem
a solução dos diferendos através de arbitragem subsista. Só assim se logrará
respeitar a vontade real das partes, com expressão clara no texto contratual.
Este é, aliás, o regime seguido em vários diplomas, designadamente no art. 6.4.
da CCI que estabelece que “Salvo disposição em contrário, e sempre que tenha
admitido a convenção de arbitragem, o Tribunal Arbitral não deixará de ser
competente em razão da pretensa nulidade ou inexistência do contrato. O
Tribunal Arbitral continuará a ter jurisdição para determinar os respectivos
direitos das partes e para julgar as suas revindicações e alegações”. No mesmo
sentido dispõe o art. 16.1. da Lei-Modelo da CNUDCI.

Atendendo ao princípio da competência-competência (art. 31º, n.º 1 da LAV), há


que concluir, em nossa opinião, que o princípio da autonomia da cláusula
compromissória (art. 4º n.º 2 da LAV) só não permite ao tribunal arbitral
prosseguir com a arbitragem quando se verificar uma invalidade que diga
respeito à própria convenção de arbitragem. Se, pelo contrário, a invalidade
disser respeito ao contrato principal, o tribunal arbitral mantém-se competente
para a apreciar.

ARTIGO 5.º
(Caducidade da convenção)

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LAV COMENTADA 44/266
1. O compromisso arbitral caduca e a cláusula compromissória
deixa, no que respeita ao litígio submetido à decisão do Tribunal Arbitral,
de produzir efeito, quando:

a) algum dos árbitros falecer, se escusar, ficar permanentemente


impossibilitado para o exercício da arbitragem ou a sua designação
ficar sem efeito e, em qualquer destes casos, não for substituído, de
harmonia com o artigo 11.º da presente lei;
b) não puder, sendo o tribunal colectivo, obter-se maioria nas
deliberações;
c) a decisão não for proferida nos prazos estabelecidos de harmonia
com o artigo 25.º da presente lei.

2. Salvo estipulação em contrário, a Convenção de Arbitragem não


caduca e a instância arbitral não se extingue com a morte de qualquer das
partes ou com a sua extinção, sendo pessoa colectiva.

1. O n.º 1 do art. 5º da LAV estabelece os casos em que o compromisso arbitral


caduca e a cláusula compromissória deixa de ter efeito em relação à controvérsia
sobre que versam.

Haverá lugar à caducidade do compromisso arbitral e da cláusula


compromissória, nos termos do art. 5º, n.º 1, al. a) da LAV, quando algum dos
árbitros ficar definitivamente impossibilitado para o exercício das suas funções
(por falecimento, impossibilidade subjectiva ou pelo facto da sua designação
ficar sem efeito), contanto que não seja substituído de acordo com o estabelecido
na LAV. Tendo em conta que a substituição dos árbitros deve ser efectuada nos
mesmos termos em que a sua nomeação se opera (art. 11º da LAV), serão, na
prática, poucos os casos em que se verificará a caducidade da convenção de
arbitragem com fundamento no art. 5º, n.º 1, al. a) da LAV.

Em segundo lugar, e nos termos do art. 5º, n.º 1, al. b) da LAV, verifica-se
caducidade se não for possível obter maioria nas deliberações no âmbito de um
tribunal colectivo. Quanto a esta segunda causa de caducidade, parece-nos que
a sua previsão pode redundar em grande prejuízo para as partes que, quando
optaram por submeter a questão a arbitragem contavam com uma decisão
célere, dentro do prazo decisório previamente estabelecido. Teria sido, em nossa
opinião, mais proveitoso erigir a regra prevista no art. 26º, n.º 2 da LAV como
critério supletivo (e não dependente de acordo das partes na convenção de
arbitragem ou, posteriormente, no âmbito do processo arbitral), deferindo para o
árbitro presidente a decisão do pleito no caso de não ser possível obter uma
maioria no tribunal arbitral. É que, operando esta causa de caducidade, as partes
sofrem de uma denegação de justiça, sendo forçadas a instaurar um processo
judicial para solucionar o litígio, contrariamente ao que havia sido acordado entre
elas.

O art. 5º, n.º 1, al. c) da LAV prevê a caducidade da convenção de arbitragem


no caso da decisão arbitral não ser proferida no prazo de seis meses (art. 25º,
n.º 1 da LAV), se outro prazo não tiver sido definido na convenção de arbitragem.
A decisão poderá ser tomada num prazo mais longo que venha a ser acordado,

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 45/266
por escrito, entre as partes. Deve entender-se que a extensão do prazo em que
a decisão poderá ser tomada pode ocorrer em qualquer momento do processo
arbitral.

Caducando a convenção de arbitragem em virtude de se ter verificado qualquer


uma das causas acima indicadas, qualquer das partes pode instaurar acção
judicial para dirimir os litígios abrangidos pela convenção de arbitragem extinta.

A caducidade opera de forma automática, não estando a produção dos seus


efeitos dependente de decisão do tribunal arbitral. Assim, caso o tribunal arbitral
dê continuidade ao processo não obstante se ter verificado uma causa de
caducidade, a decisão proferida é anulável (art. 34º, n.º 1, al. c) da LAV). Esta
consequência pode, em certos casos, ser evitada através do recurso ao instituto
do abuso de direito.

2. As partes podem acordar em submeter a convenção de arbitragem a termo


inicial ou final, impondo-lhe, neste último caso, outras razões de caducidade para
além das indicadas no art. 5º da LAV. Será válido, por exemplo, condicionar a
eficácia da convenção de arbitragem à manutenção em vigor entre as partes de
determinado contrato, terminado o qual caducará a convenção de arbitragem.
Poderá também (nos termos do art. 5º, n.º 2 da LAV) estabelecer-se que a
convenção de arbitragem caduca em caso de morte ou dissolução de qualquer
das partes.

3. O art. 5º, n.º 2 da LAV estabelece o princípio geral de que a convenção de


arbitragem não caduca e a instância arbitral não se extingue em caso de morte
(se pessoa singular) ou de extinção (se pessoa colectiva) de alguma das partes.

Assim, a posição jurídica da parte falecida ou extinta transmite-se aos seus


sucessores. No caso da falecida ser pessoa singular, suceder-lhe-á a pessoa
que, nos termos do regime sucessório aplicável, vier a ser determinada cabeça-
de-casal da herança. No caso da parte extinta ser uma sociedade comercial,
dando-se início ao processo de liquidação, ela passará a ser representada pelos
liquidatários (art. 151º, n.º 1 da LSC) continuando os antigos sócios, após o
registo do encerramento da liquidação (art. 160º da LSC), a responder por
qualquer passivo da sociedade que não haja sido satisfeito (por exemplo, uma
eventual indemnização que o tribunal arbitral venha a determinar que deve ser
paga), até ao montante recebido na partilha (art. 163º, n.º 1 da LSC).

CAPÍTULO II

Do Tribunal

ARTIGO 6.º
(Composição do tribunal)

1. O Tribunal Arbitral pode ser composto por um único árbitro ou por


vários, sempre em número ímpar.

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LAV COMENTADA 46/266
2. Se o número de árbitros não for fixado na Convenção de
Arbitragem ou em escrito posterior assinado pelas partes, nem deles
resultar, o tribunal é composto por três árbitros.

1. O princípio de autonomia da vontade reconhecido às partes na LAV tem


consagração no seu art. 6º, n.º 1, que prevê que as partes podem determinar o
número de árbitros que compõe o tribunal, contanto que seja um número ímpar.
Sendo o tribunal arbitral colectivo, um número ímpar de árbitros promove a
obtenção da maioria necessária à aprovação da decisão arbitral. Não obstante,
a lei prevê também a possibilidade do litígio ser dirimido por um único árbitro, o
que ocorrerá normalmente quando a questão a apreciar não seja de elevada
complexidade.

Note-se que o art. 2º, n.º 2 do Regulamento da CCI só autoriza a constituição de


tribunais de um único árbitro ou de três árbitros.

2. Caso as partes não fixem o número de árbitros que deverá integrar o tribunal,
quer na convenção de arbitragem quer em documento escrito posterior, o art. 6º,
n.º 2 da LAV determina, supletivamente, que o tribunal arbitral seja constituído
por três árbitros. Esta solução está também vertida no art. 10º, n.º 2 da Lei-
Modelo da CNUDCI e no art. 5º do Regulamento de Arbitragem da CNUDCI.

Se as partes recorrerem à arbitragem institucionalizada e não indicarem o


número de árbitros que compõem o tribunal arbitral, o critério supletivo a aplicar
será o constante do regulamento do centro de arbitragem escolhido. Os
regulamentos da CCI (art. 8º, n.º 2), do LCIA (art. 5.4.) e da AAA (art. 5º) prevêem
que o tribunal seja constituído por um único árbitro, facultando ao centro
respectivo a possibilidade de designar um tribunal arbitral composto por três
árbitros se as circunstâncias do litígio o justificarem.

ARTIGO 7.º
(Designação dos árbitros)

1. Na Convenção de Arbitragem ou em escrito posterior por elas


assinado, podem as partes designar o árbitro ou árbitros que devem
integrar o tribunal ou fixar o modo como são designados.
2. Se as partes não tiverem designado o árbitro ou árbitros nem
fixado o modo da sua designação e não houver acordo entre elas sobre
essa designação, cada uma das partes indica um árbitro, a menos que
acordem em que cada uma delas indique, em número igual, mais do que
um, cabendo aos árbitros assim designados a escolha e designação do
árbitro que completa a composição do tribunal.

1. Contrariamente aos juízes dos tribunais judiciais, cujo poder de dirimir conflitos
radica na própria Constituição, os árbitros são investidos desse poder pelas
partes através de cada convenção de arbitragem celebrada.

O art. 7º, n.º 1 da LAV permite que as partes designem os árbitros que integrarão
o tribunal arbitral logo na cláusula compromissória. Mas esta forma de designar

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LAV COMENTADA 47/266
árbitros não é, de todo, desejável, uma vez que o árbitro assim designado pode
falecer ou ficar impossibilitado para o exercício da sua função antes do processo
arbitral ter tido início. Assim, é preferível que as partes protelem a designação
dos árbitros para o momento em que o tribunal arbitral esteja em fase de ser
constituído.

As partes podem também fixar o modo como os árbitros são designados,


podendo, nomeadamente, indicar que a sua escolha seja feita por uma terceira
pessoa ou por um centro de arbitragem institucionalizada. Sendo as partes livres
de escolher os seus árbitros, elas podem ainda indicar critérios que deverão ser
seguidos para a sua escolha, como por exemplo, profissão, área de
especialização ou nacionalidade. É, porém, recomendável alguma cautela
nestas exigências porque podem limitar bastante o leque de opções no momento
de escolher os árbitros.

O princípio da igualdade das partes, enunciado no art. 18º, al. a) da LAV em


matéria de processo arbitral, deve também ser aplicado à designação dos
árbitros.

Assim, não será de admitir que uma das partes litigantes tenha a prerrogativa de
designar o árbitro único do processo, o que constituirá uma irregularidade na
composição do tribunal arbitral por permitir a uma das partes ter uma influência
preponderante no processo, podendo conduzir à anulação da decisão (art. 34º,
n.º 1, al. d) da LAV). Estando esta hipótese prevista na convenção de arbitragem,
somos da opinião que a parte a quem não cabe nomear o árbitro poderá solicitar
ao Tribunal Provincial competente (de acordo com o art. 14º, n.º 1 da LAV) a sua
nomeação.

No caso de pluralidade subjectiva (quer seja litisconsórcio, quer seja coligação),


a forma de nomeação dos árbitros pode conduzir a polémica. Assim, e de modo
a assegurar a igualdade das partes, sugere-se que os litisconsortes ou designem
de comum acordo um só árbitro ou deleguem por acordo a respectiva escolha
numa pessoa ou entidade imparcial. Também não parece ser de afastar, neste
caso, a possibilidade de se requerer a nomeação de árbitro nos termos do art.
14º, n.º 1 da LAV, verificando-se a falta de acordo. A prática comum da CCI nos
casos de litisconsórcio tem sido a de exigir que os árbitros sejam nomeados por
acordo dos litisconsortes, mas esse consenso pode ser difícil de conseguir se os
litisconsortes tiverem interesses conflituantes e assentes em factos diferentes.
Neste caso, e na sequência do famoso Caso Dutco, a CCI reviu a sua política de
nomeação, passando, para garantir a igualdade entre todas as partes, a nomear
todos os árbitros (incluindo o da outra parte) quando as várias partes que
compõem a parte plural não chegam a acordo. Esta regra foi introduzida no
Regulamento CCI em 1998 e influenciou diversas legislações nacionais, entre as
quais a portuguesa.

A Lei da Arbitragem Voluntária Portuguesa (Lei n.º 63/2011, de 14 de Dezembro)


estatui, a este propósito, no seu art. 11º, que:

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LAV COMENTADA 48/266
“1. Em caso de pluralidade de demandantes ou de demandados, e devendo o
tribunal arbitral ser composto por três árbitros, os primeiros designam
conjuntamente um árbitro e os segundos designam conjuntamente outro.
2. Se os demandantes ou os demandados não chegarem a acordo sobre o
árbitro que lhes cabe designar, cabe ao tribunal estadual competente, a pedido
de qualquer das partes, fazer a designação do árbitro em falta.
3. No caso previsto no número anterior, pode o tribunal estadual, se se
demonstrar que as partes que não conseguiram nomear conjuntamente um
árbitro têm interesses conflituantes relativamente ao fundo da causa, nomear a
totalidade dos árbitros e designar de entre eles quem é o presidente, ficando
nesse caso sem efeito a designação do árbitro que uma das partes tiver
entretanto efectuado.
4. O disposto no presente artigo entende-se sem prejuízo do que haja sido
estipulado na convenção de arbitragem para o caso de arbitragem com
pluralidade de partes”.

Caso as partes tenham optado pela arbitragem institucionalizada e não se


verifique acordo quanto à designação dos árbitros, estes deverão ser indicados
de acordo com o regulamento do centro de arbitragem respectivo.

2. O n.º 2 do art. 7º da LAV estabelece o critério supletivo a aplicar no caso das


partes não terem previsto a forma como os árbitros devem ser designados.
Assim, cada uma das partes deverá designar um árbitro (ou mais, se nisso
acordarem), cabendo aos árbitros assim designados escolher um outro árbitro
que integrará o tribunal.

3. A designação dos árbitros deverá ser mencionada na notificação de


arbitragem. Cabendo a cada uma das partes designar um árbitro, a notificação
de arbitragem deverá já indicar o nome do árbitro que a parte pretende designar
(art. 13º, n.º 4 da LAV) ou, sendo o tribunal arbitral integrado por um único árbitro
deve a parte indicar na notificação de arbitragem o árbitro por si proposto (art.
13º, n.º 5 da LAV). No caso da designação caber a terceiro, e ainda não tiver
sido efectuada, a parte deve notificar o terceiro para proceder à designação e
comunicá-la a ambas as partes (art. 13º, n.º 6 da LAV).

ARTIGO 8.º
(Requisitos dos árbitros)

Podem ser designados árbitros as pessoas singulares que estejam


no pleno gozo e exercício da sua capacidade civil.

1. Os árbitros devem ter capacidade jurídica plena, nos termos gerais, não
podendo ser árbitros os incapazes (menores, interditos e inabilitados).

No caso de arbitragens internacionais coloca-se a questão de saber qual a lei a


utilizar para aferir da capacidade do árbitro, se a lei da sua nacionalidade se a
do lugar da arbitragem (para maiores desenvolvimentos veja-se JACOB

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LAV COMENTADA 49/266
DOLINGER e CARMEN TIBURCIO, Direito Internacional privado – Arbitragem
Comercial internacional, Renovar, Rio de Janeiro/São Paulo, 2003, p. 240).

2. O direito angolano só admite que sejam designados árbitros pessoas


singulares, à semelhança do que sucede na lei da arbitragem portuguesa,
inglesa e italiana, permitindo a lei alemã (relativamente à arbitragem
internacional) e a lei francesa a designação de pessoas colectivas (veja-se com
maior detalhe LUIS DE LIMA PINHEIRO, Arbitragem Transnacional – A
Determinação do Estatuto da Arbitragem, Almedina, Coimbra, 2005, p. 92).

3. A lei angolana não estabelece qualquer limitação no que concerne à


nacionalidade dos árbitros. Por seu lado, o art. 11º da Lei-Modelo CNUDCI
determina a não existência de nenhum impedimento em função da
nacionalidade, salvo acordo em contrário das partes. Entendemos que, à luz da
LAV, nada impede que as partes possam restringir a designação de árbitros a
indivíduos de uma determinada nacionalidade. No caso das partes em litígio
serem de nacionalidade diferente e ser necessário nomear um árbitro único ou
um terceiro árbitro, poderá ser aconselhável a escolha de um árbitro que não
tenha a nacionalidade de qualquer das partes, tal como sugere o art. 11º, n.º 5
da Lei Modelo da CNUDCI.

4. As partes são também livres de escolher como árbitros indivíduos com


qualquer profissão, podendo indicar arquitectos, engenheiros, químicos,
matemáticos, advogados, ou outros. É importante que as partes tenham
consciência de que tendo escolhido o árbitro, este deverá manter-se em funções
até à conclusão do processo arbitral. Mas, note-se, o facto de na convenção de
arbitragem se ter condicionado a escolha do árbitro a determinada profissão
poderá conduzir a uma interpretação restritiva do objecto da convenção de
arbitragem, no sentido de que as partes apenas pretenderam dirimir por
arbitragem as questões técnicas, devendo as questões de carácter jurídico ser
remetidas para os tribunais judiciais (nesse sentido, JACOB DOLINGER e
CARMEN TIBURCIO, Direito Internacional Privado – Arbitragem Comercial
Internacional, Renovar, Rio de Janeiro/São Paulo, 2003, p. 240).
Porém, é nosso entendimento que o próprio conceito de arbitragem, enquanto
meio autónomo de resolução extrajudicial de litígios, o carácter excepcional da
intervenção dos tribunais judiciais na arbitragem, em obediência ao princípio da
intervenção mínima, e a referência expressa à resolução de litígios, de modo não
restritivo, em diversos artigos da LAV (cfr. art. 1º, art. 2º, nºs 2 e 3, art 15º, art.
24º, nº 2, art. 33º) opõem-se a essa perspectiva, conducente ao desdobramento
de competências para a avaliação do mérito da causa entre questões técnicas e
jurídicas.

5. A designação para actuar como árbitro num determinado litígio deve


considerar-se intuitu personae, pelo que não será de admitir que o árbitro
designado delegue essas funções numa outra pessoa. Estando o árbitro
impossibilitado de participar na arbitragem, deve comunicar tal facto à parte que
o designou, propondo-lhe que indique uma outra pessoa em sua substituição
(art. 11º da LAV).

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LAV COMENTADA 50/266
ARTIGO 9.º
(Liberdade de aceitação)

1. A aceitação da designação como árbitro é inteiramente livre, mas,


se o encargo tiver sido aceite, só é admissível a escusa fundada em causa
superveniente que impossibilite o designado de exercer a função.
2. Considera-se aceite o encargo sempre que a pessoa designada
revele inequivocamente a intenção de agir como árbitro ou não declare, por
escrito dirigido a qualquer das partes, dentro dos oito dias subsequentes
à comunicação da designação, que não aceita exercer a função.
3. O árbitro que, tendo aceite o encargo, se escusar
injustificadamente ao exercício da sua função, responde civilmente pelos
danos a que der causa.

1. Tendo as partes designado os seus árbitros (nos termos do art. 7º da LAV) e,


como é corrente estabelecer-se na convenção de arbitragem, os árbitros
designados pelas partes escolherem um terceiro para presidente do tribunal
arbitral, ou tendo o Tribunal Provincial competente procedido à sua nomeação
(art. 14º da LAV), devem os árbitros aceitar (ou não) o encargo (art. 9º, n.º 1 da
LAV).

2. LUIS DE LIMA PINHEIRO classifica o contrato que se estabelece entre as


partes e os árbitros por elas designados como um contrato de árbitro. No que
respeita à natureza do contrato de árbitro, há quem defenda que se trata de um
contrato de natureza processual, na medida em que se destina a atribuir
competência jurisdicional a um particular. Em sentido contrário, posicionam-se
aqueles que classificam o contrato de árbitro como um contrato de direito
substantivo, por considerarem que a competência jurisdicional dos árbitros não
depende da celebração de um contrato válido e eficaz entre as partes e os
árbitros. Dentro da concepção substantiva, há quem reconduza o contrato de
árbitro a uma modalidade do contrato típico de mandato, há quem defenda tratar-
se, ao invés, de uma modalidade do contrato típico de prestação de serviços e
ainda quem advogue que se trata de um contrato sui generis a que não devem
aplicar-se as disposições legais que regulam qualquer contrato típico (para
maiores desenvolvimentos, LUÍS DE LIMA PINHEIRO, Arbitragem
Transnacional – A Determinação do Estatuto da Arbitragem, Almedina, Coimbra,
2005, p. 129).

Em face do direito angolano, e perfilhando a concepção substantiva, somos da


opinião que o contrato de árbitro deverá ser classificado como um contrato de
prestação de serviços. Isto porque os árbitros não têm poderes de representação
nem poderes de actuação por conta das partes, não estão vinculados a seguir
as orientações das partes que os designaram, não actuam no interesse de
nenhuma das partes nem no interesse comum de ambas, devendo, ao invés,
actuar com imparcialidade e independência (no mesmo sentido, CARLOS
FERREIRA DE ALMEIDA, “Convenção de Arbitragem: Conteúdos e Efeitos” in I
Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria
Portuguesa, Almedina, Coimbra, 2008, p. 83; entendendo que o contrato de
árbitro deverá ser regulado pelas normas do contrato de mandato com as

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LAV COMENTADA 51/266
necessárias adaptações, LUÍS DE LIMA PINHEIRO, Arbitragem Transnacional
– A Determinação do Estatuto da Arbitragem, Almedina, Coimbra, 2005, p. 130
e 131; veja-se ainda PEDRO ROMANO MARTINEZ “Análise do Vínculo Jurídico
do Árbitro em Arbitragem Voluntária Ad Hoc”, in Estudos em Memória do
Professor Doutor António Marques dos Santos, vol I, Almedina, Coimbra, 2005,
p. 827 e ss).

3. O n.º 2 do art. 9º da LAV regula o modo como se deve processar a aceitação


do árbitro para o exercício das suas funções. Correspondendo a designação das
partes (ou, sendo caso disso, nos termos do art. 14º da LAV, a nomeação do
Tribunal Provincial) a uma proposta contratual, para que o contrato de árbitro se
considere perfeito é necessária a correspondente aceitação. A lei não exige que
a aceitação seja feita por escrito, embora seja aconselhável fazê-lo, em carta
dirigida à entidade que procedeu à respectiva designação ou nomeação.
Importante é que o comportamento do árbitro designado permita concluir, de
forma inequívoca, a intenção de agir como árbitro. Caso o árbitro designado não
pretenda aceitar o encargo deve comunicar esse facto, no prazo de oito dias, a
contar da data da recepção da comunicação da designação (art. 329º do CC),
findo o qual caduca a possibilidade de exercer o direito de recusa (art. 298º, n.º
2 do CC). O prazo de oito dias indicado pelo legislador angolano é contínuo (art.
328º do CC).

4. Tendo aceite a designação, o árbitro vincula-se ao cumprimento do contrato


de árbitro, respondendo pelos danos causados com base em responsabilidade
civil contratual. A LAV prevê expressamente duas situações que dão origem à
responsabilidade civil do árbitro: a primeira, no caso do árbitro ter aceite a
designação e se escusar injustificadamente ao exercício da sua função (art. 9º,
n.º 3 da LAV, aplicável à arbitragem necessária por remissão do art. 1528º CPC);
a segunda, no caso do árbitro injustificadamente obstar a que a decisão seja
proferida dentro do prazo fixado (art. 25º, n.º 3 da LAV e, para a arbitragem
necessária, o art. 1527º, n.º 2 do CPC). Deve entender-se que a
responsabilidade contratual do árbitro não se cinge apenas às duas situações
configuradas na LAV, aplicando-se à violação de outros deveres contratuais que
causem danos à parte que o designou (como por exemplo, no caso do árbitro
não comunicar qualquer facto que possa constituir um impedimento para o
exercício da função – art. 10º, n.º 1, 2ª parte da LAV). Sobre o árbitro recai a
presunção de culpa do art. 799º, n.º 1 do CC, cabendo-lhe fazer prova em
contrário e demonstrando que o incumprimento não proveio de culpa sua.

A responsabilidade civil do árbitro não pode ser configurada de modo tão amplo
que tenha origem em actos que se prendam com o exercício da função
jurisdicional, o que feriria a autonomia dos árbitros e, em última instância,
subjugaria a sentença arbitral ao contrato. Como refere NÉLIA DANIEL DIAS, “a
grande perícia residirá na definição da fronteira entre o que deve ser tido por
jurisdicional e, portanto, fora da disponibilidade das partes e submetida à
liberdade de julgamento, do que deve ser incluído no foro contratual” (NÉLIA
DANIEL DIAS, “A Responsabilidade Civil do Árbitro. Breves Notas” in RAD-
Revista Angolana de Direito, Ano 2, n.º 2, Casa das Ideias, Luanda, 2009, p. 28).
Não nos parece que se possa autorizar, em convenção arbitral ou em
regulamento de centro de arbitragem institucionalizada, a previsão da exclusão

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LAV COMENTADA 52/266
total de responsabilidade dos árbitros pelo exercício da função jurisdicional,
atento o art. 809º do CC que proíbe a renúncia antecipada do credor aos seus
direitos. Parece-nos, todavia, ser de admitir, a limitação da responsabilidade dos
árbitros no exercício da função jurisdicional aos casos em que tenham actuado
com dolo, aplicando-se analogicamente e com as necessárias adaptações, o art.
1083º do CPC que dispõe sobre a responsabilidade civil dos magistrados (no
mesmo sentido LUÍS DE LIMA PINHEIRO, Arbitragem Transnacional – A
Determinação do Estatuto da Arbitragem, Almedina, Coimbra, 2005, p. 130;
contra NÉLIA DANIEL DIAS “A Responsabilidade Civil do Árbitro. Breves Notas”
in Revista Angolana de Direito, Ano 2, n.º 2, Casa das Ideias, Luanda, 2009, p.
25, por entender que a norma do art. 1083º do CPC tem carácter excepcional e
não comporta aplicação analógica e, por outro lado, porque a actividade
desenvolvida pelos árbitros é essencialmente privada e assenta em dois
contratos, a saber, a convenção de arbitragem e o contrato de arbitragem).

O não cumprimento de normas processuais, designadamente a violação do


princípio da igualdade das partes e do contraditório (art. 18º da LAV), não origina
responsabilidade civil dos árbitros, devendo ser sancionada no âmbito do
processo (no mesmo sentido, NÉLIA DANIEL DIAS“A Responsabilidade Civil do
Árbitro. Breves Notas” in Revista Angolana de Direito, Ano 2, n.º 2, Casa das
Ideias, Luanda, 2009, p. 28 e 29).

A responsabilidade contratual do árbitro em relação à parte que o designou


resulta directamente do contrato de árbitro celebrado. A responsabilidade do
árbitro em relação à outra parte no processo, ou em relação a ambas as partes
caso tenha sido nomeado por terceiro, é também responsabilidade contratual
tendo origem na LAV e não em qualquer contrato (no mesmo sentido, LUÍS DE
LIMA PINHEIRO, Arbitragem Transnacional – A Determinação do Estatuto da
Arbitragem, Almedina, Coimbra, 2005, p. 131; para maior desenvolvimento sobre
a responsabilidade contratual ex lege ANTUNES VARELA, Das Obrigações em
Geral, Vol. I, Almedina, Coimbra, 2000, p. 518 e ss).

No que respeita ao tribunal competente para apreciar a acção sobre


responsabilidade civil contratual do árbitro, ele será determinado de acordo com
as regras gerais de processo do CPC.

5. Caso se verifique impossibilidade superveniente (art. 9º, n.º 1 da LAV) que


impeça o árbitro de exercer as funções a que se vinculou, deverá lançar-se mão
do art. 791º do CC. A verificação dessa impossibilidade subjectiva, atenta a
natureza intuitu personae do contrato de arbitragem, impede o árbitro de
designar uma outra pessoa para, em seu lugar, cumprir a prestação a que se
havia obrigado, conduzindo à extinção da obrigação. Ocorrerá uma
impossibilidade subjectiva superveniente no caso do árbitro ter sido acometido
de doença que o impossibilite de exercer as funções.

ARTIGO 10.º
(Recusa)

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LAV COMENTADA 53/266
1. Quem for convidado para exercer as funções de árbitro, tem o
dever de dar imediato conhecimento de todas as circunstâncias que
possam suscitar dúvidas sobre a sua imparcialidade e independência.
Esse dever de informação a ambas as partes mantém-se enquanto decorrer
o processo arbitral.
2. Um árbitro designado só pode ser recusado quando existir
circunstância susceptível de gerar fundada dúvida sobre a sua
imparcialidade e independência ou se manifestamente não possuir a
qualificação que tenha sido previamente convencionada pelas partes.
3. Uma parte só pode recusar um árbitro por si designado ou em cuja
designação tenha participado, por motivo que apenas tenha conhecido
após essa designação.
4. Na falta de acordo, a parte que pretenda recusar um árbitro deve
expor por escrito os motivos da recusa ao Tribunal Arbitral, no prazo de
oito dias a contar da data em que teve conhecimento da constituição do
Tribunal Arbitral ou da data em que teve conhecimento de qualquer
circunstância relevante, nos termos do n.º 2 do presente artigo e se o
árbitro recusado não se escusar ou demitir, ou se a outra parte não aceitar
a recusa, compete ao Tribunal Arbitral decidir sobre esta.
5. Se for indeferida a arguição de recusa, a parte recusante pode, no
prazo de quinze dias contados desde a comunicação do indeferimento,
requerer ao tribunal ou à autoridade ou entidade referidas no artigo 14.º da
presente lei, que decida sobre a recusa, sendo tal decisão insusceptível de
recurso e na pendência deste pedido, pode o Tribunal Arbitral, incluindo o
árbitro recusado, prosseguir com o processo arbitral e proferir decisões,
salvo a decisão final.

1. A LAV aponta para a tendencial equiparação entre o juiz do foro judicial e o


árbitro, equiparação que se faz sentir quanto à exigência de imparcialidade e de
independência dos árbitros prevista no art. 10º, n.º 1 da LAV. Por independência
entende-se o elemento objectivo que se traduz na liberdade de julgamento do
árbitro e por imparcialidade o elemento subjectivo que aponta para a
necessidade do árbitro não ter qualquer juízo preconcebido em relação ao caso
a julgar (JACOB DOLINGER e CARMEN TIBURCIO, Direito Internacional
Privado – Arbitragem Comercial Internacional, Renovar, Rio de Janeiro/São
Paulo, 2003, p. 243). A exigência de imparcialidade e de independência da LAV
segue de perto o art. 12º, n.º 1 da Lei-Modelo da CNUDCI também prevista no
art. 14º, n.º 1 do Regulamento da CNUDCI e no art. 2º, n.º 7 do Regulamento da
CCI.

Para se aquilatar da independência de um árbitro, há que aferir se ele teve ou


tem alguma relação jurídica (de trabalho, de prestação de serviços de
consultoria) com alguma das partes (aqui se incluindo alguma empresa do grupo
das partes), se tem interesses comuns com alguma das partes ou se é sempre
o árbitro indicado por determinada parte (JACOB DOLINGER e CARMEN
TIBURCIO, Direito Internacional Privado – Arbitragem Comercial Internacional,
Renovar, Rio de Janeiro/São Paulo, 2003, p. 244). O facto do árbitro ter relações
profissionais com o advogado de qualquer das partes não deverá colocar em
causa a independência do árbitro, uma vez que os profissionais de direito, em
geral, e de arbitragem, em particular, se cruzam inevitavelmente no campo

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LAV COMENTADA 54/266
profissional. Já o facto da pessoa nomeada como árbitro exercer actividade
como advogado ou consultor no escritório do advogado que representa uma das
partes coloca em causa a sua independência como árbitro.

Por seu lado, a aferição da imparcialidade impõe saber se o árbitro está de algum
modo influenciado, a favor ou contra, alguma das partes. A imparcialidade do
árbitro poderá ser colocada em causa, por exemplo, se o árbitro já tiver tido
conhecimento do litígio e tiver em relação a ele opinião formada ou se já tiver
manifestado alguma atitude de hostilidade ou excessivamente amistosa em
relação a alguma das partes. A lei angolana apresenta solução diversa da
consagrada no Code of Ethics para os árbitros de litígios comerciais domésticos
adoptado nos EUA pela AAA e pela ABA, que não exige aos árbitros nomeados
pelas partes que sejam imparciais.

Mas o padrão internacional é claramente o da independência e imparcialidade,


sendo muito usual a utilização das IBA Guidelines on Conflict of Interests in
International Commercial Arbitration (disponível em www.ibanet.org), que
dividem diversas circunstâncias típicas por três graus de perigosidade, sendo os
factos incluídos na primeira lista (a vermelha) evidentes indícios de dependência
e/ou parcialidade e os incluídos na terceira lista (a verde) factos de onde se não
retira qualquer presunção quanto à posição do árbitro face ao litígio. Os casos
mais duvidosos estão agrupados numa lista laranja. Embora seja um instrumento
de soft law, as Guidelines são um instrumento muito útil no momento de ponderar
a nomeação de certa pessoa como árbitros. (MARIANA FRANÇA GOUVEIA,
Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012,
p. 182)

Para além da exigência de imparcialidade e independência, poderá exigir-se do


árbitro que seja neutro em relação às partes em litígio. A neutralidade implicaria
averiguar se o árbitro é distante em relação a elas em matéria de cultura jurídica,
política e religiosa. Em nossa opinião esta exigência não encontra fundamento
na LAV, só devendo ser aplicada caso as partes assim o tenham convencionado.

A imparcialidade e independência dos árbitros são aferidas não só no momento


da sua designação mas ao longo de todo o processo. Por essa razão, ficam os
árbitros obrigados a informar as partes, enquanto durar o processo arbitral, de
qualquer facto que possa atentar contra a sua imparcialidade e independência.
O não cumprimento desta obrigação origina responsabilidade civil contratual
para o árbitro em relação à parte que o nomeou (nascida do contrato de árbitro)
e em relação à outra parte (estaríamos perante uma relação contratual
constituída ex lege). Caso as partes sejam notificadas de uma situação que
atente contra a independência ou imparcialidade de algum árbitro, devem
promover a sua substituição nos termos do art. 11º da LAV.

2. Após se ter procedido à designação do árbitro na notificação para arbitragem,


pode a parte contrária, recebida a notificação, recusar o árbitro com base numa
circunstância capaz de gerar dúvida fundada sobre a sua imparcialidade e
independência ou por ele não preencher as condições fixadas pelas partes na
convenção de arbitragem, nos termos do art. 10º, n.º 2 da LAV. Repare-se que
o legislador angolano apenas exigiu que se verificasse fundada dúvida, não

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LAV COMENTADA 55/266
sendo necessário provar a parcialidade ou falta de independência do árbitro para
que este possa ser recusado. Deve entender-se que só nas situações plasmadas
no art. 10º, n.º 2 da LAV pode um árbitro ser validamente recusado.

3. O art. 10º, n.º 3 da LAV trata da recusa de um árbitro pela parte que o designou
ou em cuja designação tenha participado. Sendo os árbitros designados pelas
partes, exige-se-lhes que antes de procederem à sua designação avaliem bem
se eles preenchem as condições necessárias ao exercício dessa função. Não
obstante, se posteriormente à sua designação, a parte que designou ou
participou na designação do árbitro tiver conhecimento de alguma circunstância
que, nos termos do n.º 2 do art. 10º da LAV, possa afectar a sua imparcialidade,
independência ou não lhe permita preencher as condições fixadas na convenção
de arbitragem, pode validamente recusá-lo. Essa recusa deverá ser notificada
por escrito à outra parte, para que esta dê o seu assentimento e, seguidamente,
notificada ao tribunal arbitral. Seguir-se-á o procedimento para a substituição do
árbitro previsto no art. 11º da LAV, cabendo à parte recusante a designação de
novo árbitro (ou, se for caso disso, será a sua designação feita por terceiro ou
pelo Presidente do Tribunal Provincial competente).

4. O art. 10º, n.º 4 da LAV indica o procedimento a seguir no caso do árbitro


designado por uma das partes não ter sido aceite pela outra ou no caso do árbitro
recusado pela parte que o designou (nos termos do art. 10º, n.º 3 da LAV) não
ter sido aceite pela outra parte. Verificada qualquer uma destas situações, deve
a parte que recusou o árbitro comunicar ao tribunal arbitral a sua recusa para
que o árbitro recusado voluntariamente se escuse ou o tribunal arbitral se
pronuncie sobre a validade da recusa. De modo a que o tribunal arbitral se possa
pronunciar fundamentadamente sobre a validade da recusa deve a parte
recusante expor na sua comunicação quais as razões que a levaram a recusar
o árbitro. Note-se que o legislador impõe que a comunicação da recusa seja feita
no prazo de oito dias, a contar ou da data da constituição do tribunal arbitral ou
da data em que a parte recusante teve conhecimento do facto que motivou a
recusa, prazo que sendo ultrapassado impede a apreciação da recusa pelo
tribunal.

5. Sendo o(s) árbitro(s) nomeado pelo tribunal judicial, nos termos do art. 14º da
LAV, pode a parte que não se conformar com a sua nomeação recusá-lo, caso
se verifiquem os pressupostos para o exercício do direito de recusa previstos no
art. 10º da LAV.

6. O legislador angolano possibilita à parte que recusou um árbitro, sem o acordo


da outra parte, e que viu o seu pedido de exclusão do árbitro indeferido pelo
tribunal arbitral, recorrer dessa decisão de indeferimento para o tribunal judicial
ou directamente para o Presidente do Tribunal Provincial (nos termos do art. 14º
da LAV). A escolha da entidade para a qual se recorre caberá assim à parte
recusante. O recurso da decisão de indeferimento do tribunal arbitral deverá ser
interposto no prazo de quinze dias a contar da data em que a parte recusante foi
notificada do indeferimento. Este recurso não tem efeito suspensivo, permitindo
que o tribunal arbitral continue a desenvolver a sua actividade com a colaboração
de todos os árbitros designados. Apenas a decisão final do processo arbitral fica
condicionada à decisão do recurso pelo tribunal judicial ou pelo Presidente do

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LAV COMENTADA 56/266
Tribunal Provincial competente, nos termos do art. 14º da LAV. Caso o recurso
seja deferido dever-se-á promover a substituição imediata do árbitro recusado
(art. 11º da LAV) para que o novo árbitro passe a integrar o colégio arbitral e a
decisão final seja proferida.

ARTIGO 11.º
(Substituição de árbitros)

Se algum dos árbitros falecer, se escusar, for recusado ou ficar


impossibilitado de forma permanente para o exercício das suas funções ou
se a designação ou nomeação ficar sem efeito, procede-se à sua
substituição, segundo as regras aplicáveis à designação ou nomeação
com as necessárias adaptações.

1. A substituição dos árbitros designados pelas partes (nos termos do art. 7º da


LAV), indicados por terceiro escolhido pelas partes (de acordo com o art. 13º, n.º
6 da LAV) ou nomeados pelo Tribunal Provincial competente (nos termos do art.
14º da LAV), deve respeitar o disposto no art. 11º da LAV.
Assim, haverá lugar à substituição de árbitros em caso de (i) falecimento, (ii)
impossibilidade permanente para o exercício das suas funções, (iii) escusa
legítima, (iv) recusa ou (v) caso a designação ou nomeação fique sem efeito. O
(i) falecimento e a (ii) impossibilidade permanente para o exercício das funções
(esta última consubstanciando-se numa situação de incapacidade subjectiva do
árbitro motivada, designadamente, por razões de saúde) não colocam qualquer
dificuldade de interpretação. A (iii) escusa do árbitro só deverá ser aceite se for
validamente justificada nos termos do art. 9º, n.º 1, 2ª parte da LAV. A (iv) recusa
de um árbitro, ou pela parte que o designou ou pela parte contrária, deverá
obedecer aos requisitos do art. 10º da LAV. Por último, o legislador angolano
abre ainda a possibilidade de (v) a designação ou nomeação ficarem sem efeito,
o que poderá suceder no caso dos pressupostos que presidiram à sua nomeação
ou designação não mais se verificarem; por exemplo, numa arbitragem interna,
ter sido designado como árbitro um indivíduo que passou a residir num outro
continente e cuja deslocação e permanência em Angola seria injustificadamente
dispendiosa atendendo à dimensão do litígio em questão.

2. À substituição de árbitros são aplicadas as regras e procedimentos


respeitantes à sua designação (arts. 7º e 13º, n.º 4, 5 e 6 da LAV), para os
árbitros que tiverem sido designados pelas partes ou por terceiro, e para a sua
nomeação (art. 14º da LAV), nos casos em que os árbitros tenham sido
nomeados pelo Tribunal Provincial competente. Tratando-se da substituição do
presidente do tribunal arbitral, seguir-se-ão as regras relativas à sua nomeação
previstas no art. 12º da LAV.

3. Caso a substituição de algum dos árbitros deva ser requerida ao tribunal


judicial competente (nos termos do art. 14º da LAV), seria bastante conveniente
que a instância arbitral se suspendesse, não sendo contabilizados os trinta dias
de que o tribunal judicial dispõe para nomear o árbitro (art.14º, n.º 3 da LAV) para
efeito de cálculo do prazo que o tribunal arbitral tem para proferir a decisão final
(art. 25º, n.º 1 da LAV). Porém, sendo a LAV omissa quanto a este aspecto, deve

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LAV COMENTADA 57/266
entender-se que o prazo para prolação da decisão arbitral continua a contar, não
se suspendendo, salvo se as partes expressamente acordarem nessa
suspensão, o que poderá suceder no decurso do processo arbitral.

ARTIGO 12.º
(Presidente do Tribunal)

1. Sendo o tribunal composto por mais de um árbitro, escolhe-se


entre si o presidente, a menos que as partes tenham acordado, por escrito,
até à aceitação do primeiro árbitro noutra solução.
2. Não sendo possível a designação do presidente nos termos do
número anterior, a sua escolha e nomeação é feita pelo modo estabelecido
no artigo 14.º da presente lei.
3. Compete ao Presidente do Tribunal Arbitral preparar o processo,
dirigir a instrução, conduzir os trabalhos nas audiências e ordenar os
debates, salvo convenção em contrário.

1. Nos tribunais arbitrais colectivos o árbitro que presidirá ao tribunal é


normalmente escolhido dentre os seus pares. Esta é, aliás, a regra geral para a
escolha do presidente do tribunal arbitral indicada no art. 12º, n.º 1 da LAV. Mas,
atendendo a que o princípio da autonomia da vontade se encontra fortemente
enraizado no que tange à composição do tribunal arbitral, as partes poderão
acordar num outro modo de designação do presidente do tribunal arbitral.
Permite-se, por exemplo, que o presidente do tribunal arbitral seja escolhido por
acordo das partes ou que, tendo cada uma delas designado o respectivo árbitro,
defiram a terceiro a sua designação.

A intervenção e a função do árbitro presidente no seio do tribunal arbitral são de


tal modo importantes que as regras da sua designação são tratadas em
disposição autónoma da LAV. E, de facto, este regime procedimental
diferenciado justifica-se na medida em que é necessário assegurar a aplicação
efectiva do princípio da igualdade das partes em matéria de nomeação do
presidente do tribunal arbitral. Se é certo que num tribunal arbitral colectivo cada
uma das partes tem a faculdade de designar o mesmo número de árbitros, a
escolha do respectivo presidente deverá assentar também nesse princípio de
igualdade, contribuindo cada uma das partes em igual medida para a sua
designação. Por essa razão, somos da opinião que não poderá aceitar-se o
critério de que caberá a uma das partes escolher o presidente do tribunal arbitral,
ainda que tal critério resulte de acordo das partes.

Para que as partes apliquem um outro critério para a escolha do presidente do


tribunal arbitral, o legislador angolano apenas exige que as partes acordem, por
escrito, quanto a esse critério, devendo fazê-lo até ao momento em que o
primeiro árbitro tenha aceite o encargo. É como se, com a aceitação do primeiro
árbitro, estivesse lançada a primeira estaca destinada à constituição do tribunal
arbitral, o que justifica, a partir desse momento, a cristalização do procedimento
destinado à designação dos árbitros, incluindo o presidente do tribunal arbitral.

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LAV COMENTADA 58/266
2. O art. 12º, n.º 2 da LAV consagra um critério supletivo para a escolha do árbitro
presidente, que deverá ser aplicado quando se verificar a impossibilidade de
acordo entre os árbitros designados pelas partes ou quando as partes tenham
validamente determinado a escolha do árbitro presidente por recurso a um
método que se apurou impraticável.

Neste caso, há que aplicar as regras previstas no art. 14º, n.º 1 da LAV, que
remetem a nomeação do árbitro presidente ao Tribunal Provincial competente.

3. O papel do presidente do tribunal arbitral é apontado brevemente no n.º 3 do


art. 12º da LAV. Em certa medida, reconduz-se ao papel do juiz presidente num
tribunal judicial colectivo, cabendo-lhe assegurar a condução de todos os
trabalhos no âmbito do processo arbitral. A amplitude do exercício dos poderes
do presidente depende muito dele próprio e dos outros árbitros. Sendo certo que
assume uma proeminência no seio do tribunal, a maioria das vezes partilha com
os outros árbitros o trabalho e as decisões relativas a todos os aspectos do
processo arbitral.

Via de regra, o tribunal arbitral faz-se auxiliar de um secretário, especializado,


usualmente licenciado em Direito, a quem cabe auxiliar os árbitros e, em
especial, o árbitro presidente nas tarefas que lhe são cometidas. Em arbitragem
ad hoc estas funções são naturalmente desempenhadas pelos serviços
administrativos da instituição.

Refere ainda o art. 12º, n.º 3 da LAV que as tarefas de preparação do processo,
direcção da instrução, condução dos trabalhos nas audiências e ordenação de
debates poderão não recair sobre o presidente do tribunal arbitral, contanto que
as partes tenham acordado em contrário. De facto, as tarefas que cabem ao
árbitro presidente integram as regras do processo, que podem ser moldadas nos
termos do art. 16º da LAV, podendo a sua definição ser feita pelas próprias partes
(art. 16º, n.º 1 da LAV) ou pelos árbitros (art. 16º, n.º 2 da LAV).

ARTIGO 13.º
(Processo de constituição do tribunal)

1. Salvo acordo das partes em contrário ou disposição diversa de


regulamento aplicável, a parte que pretenda submeter o litígio ao Tribunal
Arbitral deve notificar desse facto a parte contrária.
2. A notificação de arbitragem pode ser feita por qualquer meio,
desde que seja possível provar a sua recepção pelo destinatário.
3. A notificação deve conter os seguintes elementos:

a) identificação das partes


b) pretensão de que o litígio seja submetido a arbitragem;
c) indicação da Convenção de Arbitragem;
d) objecto do litígio, se tal não resultar já da Convenção de Arbitragem.

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LAV COMENTADA 59/266
4. Se couber às partes designar um ou mais árbitros, a notificação
deve incluir a designação do árbitro e árbitros pela parte notificante, bem
como o convite dirigido à outra parte para que designe o árbitro ou árbitros
que lhe cabe indicar.
5. Se o árbitro único dever ser designado por acordo das partes, a
notificação deve conter a indicação do árbitro proposto e o convite à outra
parte para que o aceite.
6. No caso da designação caber a um terceiro e ainda não ter sido
efectuada, a parte notifica o terceiro para o fazer e comunicará a
designação feita a ambas as partes.

1. O processo de constituição do tribunal arbitral é despoletado através da


notificação para arbitragem, que uma das partes envia à outra, dando-lhe conta
da sua intenção de instaurar uma acção arbitral (art. 20º, n.º 1 da LAV). Esta é a
regra geral consagrada pelo legislador angolano no art. 13º, n.º 1 da LAV.

Mas o processo de constituição do tribunal arbitral poderá ser iniciado de outro


modo, caso as partes assim tenham acordado, designadamente, através da
subscrição de um compromisso arbitral ou caso tenham remetido para o
regulamento de um centro de arbitragem institucionalizado que determine outro
modo de proceder.

O art. 21º da Lei-Modelo da CNUDCI também determina que o início do


procedimento arbitral ocorre com a notificação de arbitragem.

2. A notificação de arbitragem deverá ser feita por escrito e entregue através de


qualquer meio que permita comprovar a sua efectiva recepção pelo destinatário.
Assim, devem considerar-se efectuadas as notificações entregues em mão
própria contra recibo assinado pelo destinatário, por carta registada com aviso
de recepção e por fax contra recibo de entrega. A arbitragem também não deve
alhear-se das novas tecnologias e, tendo em conta que a maioria das
comunicações se faz hoje através de e-mail, somos da opinião que a notificação
para arbitragem poderá ser feita através de e-mail contra recibo de entrega por
parte do seu destinatário. Seja qual for o método, o que é indispensável é a
certeza da recepção da notificação pela parte contrária: é que esta notificação
tem os efeitos da citação e, logo, está coberta por garantias constitucionais
relativas ao direito de defesa e, em geral, ao processo justo. (MARIANA
FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2ª Edição,
Almedina, Coimbra, 2012, p. 211).

3. Do ponto de vista processual, a notificação para arbitragem terá os mesmos


efeitos que a citação ou que a notificação judicial, interrompendo o prazo de
prescrição para o exercício de um direito (art. 323º, n.º 1, por remissão do 324º,
n.º 2, ambos do CC). Isto no caso das partes terem previamente subscrito uma
cláusula compromissória, operando-se automaticamente a constituição do
tribunal arbitral assim que a notificação para arbitragem seja emitida por uma
das partes (veja-se LUÍS DE LIMA PINHEIRO, Arbitragem Transnacional – A
Determinação do Estatuto da Arbitragem, Almedina, Coimbra, 2005, p. 125,
sobre outras concepções que exigem que a notificação para arbitragem seja
efectuada pelo tribunal judicial). Já no caso das partes terem subscrito um

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LAV COMENTADA 60/266
compromisso arbitral, a interrupção da prescrição dá-se a partir do momento da
sua assinatura (art. 324º, n.º 1 do CC).

4. A validade da notificação para arbitragem depende de o seu conteúdo


respeitar as regras estabelecidas no art. 13º da LAV, devendo a notificação
conter quatro elementos obrigatórios: (i) indicação das partes, (ii) indicação clara
de que é intenção da parte notificante submeter o litígio a arbitragem, (iii)
indicação da convenção de arbitragem na qual se fundamenta essa pretensão e
(iv) indicação do árbitro ou árbitros que lhe caiba designar.

Deve entender-se que a menção do objecto do litígio só é obrigatória quando a


convenção de arbitragem não o precisar (art. 12º, n.º 3, al. d) da LAV), o que
sucederá normalmente quando a convenção de arbitragem tomar a forma de
cláusula compromissória, uma vez que por ter sido subscrita anteriormente à
existência do litígio apenas pode antecipar a relação jurídica da qual o litígio irá
emergir e não o litígio em concreto. É interessante referir que o objeto do
processo arbitral não se fixa nesta carta, mas nos articulados posteriormente
apresentados ao tribunal. A fixação do objecto neste momento levanta ainda
alguns problemas práticos e foi, por estas razões, eliminada da nova Lei da
Arbitragem Voluntária Portuguesa (MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de
Resolução Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 172).

A indicação do árbitro ou árbitros na notificação de arbitragem é tratada nos n.ºs


4, 5 e 6 do art. 13º da LAV. Assim, no caso de caber a cada parte designar árbitro
ou árbitros, nos termos do n.º 4 do art. 12º da LAV, deve a parte que emite a
notificação de arbitragem indicar o árbitro ou árbitros por si designados,
convidando a outra parte a proceder do mesmo modo, nos termos do art. 13º,
n.º 4 da LAV. Se as partes tiverem acordado que o litígio será dirimido por árbitro
único a indicar por acordo das partes (art. 12º, n.º 5 da LAV), deve a parte
notificante indicar o árbitro por si proposto na notificação de arbitragem,
convidando a outra parte a aceitar a sua proposta (art. 13º, n.º 5 da LAV).
Seguidamente à notificação de arbitragem, deverá a parte notificada enviar nova
notificação, que deverá também seguir as regras previstas no art. 13º, n.º 2 da
LAV, indicando, consoante o caso, qual ou quais os árbitros por si designados
ou a sua aceitação do árbitro único proposto pela parte que emitiu a notificação
de arbitragem. A recusa do árbitro designado por uma das partes ou do que deva
ser designado por acordo entre elas far-se-á nos termos do art. 10º, n.º 2 da LAV.

Caso a designação do(s) árbitro(s) haja sido remetida para terceiro, este poderá
fazê-la previamente à notificação de arbitragem. Não o tendo feito até essa data,
deve a parte notificar o terceiro para que designe o árbitro; seguidamente, deverá
o terceiro comunicar às partes a designação efectuada (não obstante a redacção
pouco clara do n.º 3).

Em nossa opinião, nos casos em que a designação de árbitro caiba a terceiro,


deverá a parte que efectua a notificação de arbitragem indicar à outra parte que
já requereu ao terceiro, por ambas previamente indicado, que procedesse à
designação do(s) árbitro(s). Entre nós, é usual remeter a escolha ao Bastonário
da Ordem dos Advogados ou ao Decano da Faculdade de Direito da
Universidade Agostinho Neto.

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LAV COMENTADA 61/266
5. A parte que procede à notificação de arbitragem deve ter o cuidado de a
formular convenientemente, para que esta possa produzir os efeitos a que tende.
A falta de menção dos elementos supra indicados, que devem sempre ser
incluídos na notificação de arbitragem, conduz à irregularidade da mesma, que
deverá ser corrigida através do envio de nova notificação conforme.

6. A LAV não fixa um prazo dentro do qual o tribunal arbitral deva constituir-se,
cabendo às partes, querendo, fixar esse prazo na convenção de arbitragem. Não
obstante, entendemos que, verificado um litígio entre as partes, a omissão dos
actos de que depende a constituição do tribunal arbitral não determina a
caducidade da convenção de arbitragem (que só poderá ocorrer nos casos
tipificados no art. 5º da LAV). Neste caso, deverá a parte interessada requerer a
intervenção do tribunal judicial competente para que este, nos termos do art. 14º
da LAV, promova a nomeação do(s) árbitro(s) em falta.

ARTIGO 14.º
(Nomeação de árbitros)

1. Sempre que se não verifique a designação de árbitro ou árbitros


pelas partes ou pelos árbitros ou por terceiros, nos termos previstos nos
artigos anteriores, a sua nomeação cabe ao Presidente do Tribunal
Provincial do lugar fixado para a arbitragem ou, na falta dessa fixação, do
domicílio do requerente ou ao Tribunal Provincial de Luanda no caso do
domicílio do requerente ser no estrangeiro.
2. A nomeação pode ser requerida passados 30 dias sobre a
notificação, prevista no n.º 2 do artigo 13.º, nos casos contemplados nos
n.ºs 4 e 5 do mesmo artigo ou no mesmo prazo, a partir da designação do
último dos árbitros a quem caiba a escolha e designação, nos casos
referidos no n.º 2 do artigo 6.º e no n.º 2 do artigo 7.º, todos da presente lei.
3. A autoridade judicial referida no n.º 1 do presente artigo decide,
no prazo de 30 dias e sem recurso, sobre à nomeação ou nomeações que
lhe forem requeridas, após prévia auscultação das partes, mas sempre
tendo presente a necessidade de nomeação de árbitros independentes,
imparciais e com a qualificação que tenha sido previamente
convencionada pelas partes.
4. Se as partes tiverem, por acordo escrito, designado outra
autoridade ou entidade para a nomeação de árbitros prevista no presente
artigo, aplicam-se com as necessárias adaptações as disposições dos
números anteriores mas, faltando a nomeação por aquela autoridade ou
entidade, pode ser pedida a intervenção judicial, nos termos do presente
artigo.

1. A LAV prevê expressamente a intervenção dos tribunais judiciais na


arbitragem, mas essa intervenção deve limitar-se ao estritamente necessário
para assegurar o funcionamento do processo arbitral e a execução da respectiva
sentença, garantindo-se que o núcleo iminentemente contratual da arbitragem é
respeitado.

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LAV COMENTADA 62/266
Os tribunais judiciais intervêm na arbitragem para assegurar duas funções. Em
primeiro lugar, uma função de controlo estadual da arbitragem, que se assume
como a contrapartida necessária da eficácia jurisdicional que é atribuída à
decisão arbitral. O caso típico é o da acção de anulação da sentença arbitral (art.
34º, n.º 1 LAV). Em segundo lugar, uma função de assistência dos tribunais
arbitrais, designadamente no caso da nomeação de árbitros para suprir
deficiências em matéria da sua designação (nos termos do art. 14º da LAV),
produção de prova (art. 21º, n.º 2 da LAV), julgamento de recurso da sentença
arbitral (art. 36º, n.º 2 da LAV), depósito da sentença arbitral (art. 30º, n.º 4 da
LAV), execução da sentença arbitral (art. 37º, n.º 2 da LAV) e revisão e
confirmação da sentença arbitral estrangeira (art. 1097º do CPC) – JOÃO
RAPOSO, “A Intervenção do Tribunal Judicial na Arbitragem: Nomeação de
Árbitros e Produção de Prova”, in I Congresso do Centro de Arbitragem da
Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Almedina, Coimbra, 2008, p. 110.

A intervenção do tribunal judicial para nomeação de árbitros pode ocorrer numa


das seguintes situações: (i) falta de designação de árbitro ou árbitros, pelas
partes ou por terceiro, (ii) falta de escolha do presidente do tribunal arbitral, que
em regra caberá aos árbitros, e (iii) falta de substituição de árbitros na pendência
do processo, que caberá às partes (tratando-se de árbitro por si designado) ou
aos árbitros (se se tratar do presidente indicado pelos árbitros de parte). Em
qualquer destes casos, as pessoas ou entidades a quem cabe designar ou
nomear os árbitros não o fazem, por simples inércia, desinteresse ou
inconveniência, desrespeitando a convenção de arbitragem ou as normas
supletivas da LAV. Assim, de acordo com o art. 14º, n.º 1 da LAV tem legitimidade
para requer a intervenção do tribunal judicial a parte interessada na nomeação
do(s) árbitro(s). Tem sido entendido que os árbitros não têm legitimidade para
apresentar este pedido, pois só as partes têm interesse no prosseguimento da
acção arbitral (MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa
de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 174).

2. A nomeação dos árbitros em falta cabe, nos termos do art. 14º, n.º 1, 2ª parte
da LAV, ao Presidente do Tribunal Provincial do lugar fixado para a arbitragem
(nos termos do art. 17º da LAV), ou, não tendo as partes acordado na convenção
de arbitragem ou em escrito posterior qual o lugar onde esta decorrerá, o tribunal
do local do domicílio do requerente. O legislador angolano estabeleceu ainda
que caso o requerente tenha domicílio no estrangeiro, o tribunal competente para
nomear o árbitro que lhe caiba designar é o Tribunal Provincial de Luanda.

3. Nos termos do art. 14º, n.º 2 da LAV, o requerente pode solicitar ao tribunal
judicial a nomeação de árbitro(s) no prazo de trinta dias a contar (i) da notificação
de arbitragem (efectuada nos termos do art. 13º, n.º 2 da LAV) sem que a outra
parte designe o árbitro que lhe cabe indicar (art. 13º, n.º 4 da LAV) ou sem que
se pronuncie quanto ao árbitro único proposto (art. 13º, n.º 5 da LAV), (ii) da
designação do último árbitro, sem que os árbitros designados tenham escolhido
o presidente do tribunal arbitral (art. 6º, n.º 2 e 7º, n.º 2 da LAV) e (iii) da
notificação a terceiro, sem que este tenha designado o(s) árbitro(s) que lhe cabia
designar (art. 13º, n.º 6 da LAV, aplicando-se analogicamente o disposto no art.
14º, n.º 2 da LAV).

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LAV COMENTADA 63/266
Caso o prazo acima indicado tenha sido largamente ultrapassado sem que
nenhuma das partes tenha requerido ao tribunal judicial que proceda à
nomeação do(s) árbitro(s) em falta (a designar por uma das partes ou a indicar
pelos árbitros de parte), não deverá concluir-se, por si só, que a convenção de
arbitragem ficou sem efeito, remetendo-se a resolução do litígio para foro judicial.
De facto, as partes decidiram, ao abrigo da liberdade contratual, submeter os
litígios oriundos de determinada relação jurídica estabelecida entre si a
arbitragem, ficando vinculadas a essa convenção de arbitragem. A
desvinculação da convenção de arbitragem só poderá ocorrer por acordo das
partes (art. 3º, n.º 4 da LAV). Não será, por isso, legítimo que uma das partes se
queira prevalecer do decurso do tempo, não empreendendo qualquer acção para
que o tribunal arbitral se constitua, para que, depois, invoque perante o tribunal
judicial o direito à resolução da convenção de arbitragem (no mesmo sentido, e
invocando jurisprudência portuguesa, JOÃO RAPOSO, “A Intervenção do
Tribunal Judicial na Arbitragem: Nomeação de Árbitros e Produção de Prova”, in
I Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria
Portuguesa, Almedina, Coimbra, 2008, p. 115 e 116).

4. Requerida a nomeação de árbitro(s) ao tribunal judicial competente, deve este


designa-lo(s) no prazo de trinta dias, nos termos do art. 14º, n.º 3 da LAV.

Antes de proceder à nomeação de árbitro(s), deve o tribunal judicial aferir da


validade da convenção de arbitragem, aquilatando se ela não respeita a direitos
indisponíveis (art. 1º, n.º 1 da LAV), se as partes têm capacidade para a celebrar
(art. 1º, n.º 2 da LAV), se, tratando-se do Estado e de pessoas colectivas
públicas, elas têm capacidade para a celebrar (art. 1º, n.º 3 da LAV), se respeitou
a forma legal exigida (art. 3º, n.º 1 da LAV) e se, sendo nulo o contrato em que
está inserida, se demonstre que ele não teria sido concluído sem a convenção
de arbitragem (art. 4º, n.º 2 da LAV), e da sua existência. Concluindo o tribunal
judicial pela manifesta nulidade ou inexistência da convenção de arbitragem,
deve recusar-se a nomear o(s) árbitro(s). Se, porém, a nulidade da convenção
de arbitragem for controversa, entendemos que será mais conveniente que o
tribunal judicial proceda à nomeação do(s) árbitro(s), remetendo a discussão
sobre a validade da convenção de arbitragem para o tribunal arbitral constituído
(no mesmo sentido, JOÃO RAPOSO, “A Intervenção do Tribunal Judicial na
Arbitragem: Nomeação de Árbitros e Produção de Prova”, in I Congresso do
Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Almedina,
Coimbra, 2008, p. 118; (MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução
Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 160 ss). Da
decisão do tribunal judicial que julgue a convenção de arbitragem
manifestamente nula ou inexistente e, consequentemente, não proceda à
nomeação de árbitro(s) cabe recurso, nos termos gerais.

Para proceder à nomeação de árbitro(s), o tribunal judicial deve ter presente os


critérios estabelecidos pelas partes na convenção de arbitragem e os de
imparcialidade e independência exigidos pela LAV. É que, se assim não for,
qualquer das partes poderá validamente recusar o árbitro nomeado (art. 10º, n.º
2 da LAV), e solicitar ao tribunal judicial que proceda a nova nomeação. Tendo
em conta a frequência com que noutros ordenamentos jurídicos se torna
necessário recorrer aos tribunais judiciais para proceder à nomeação de árbitros,

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LAV COMENTADA 64/266
discute-se se deveria ser constituída uma lista de árbitros, integrada por
individualidades de reconhecida competência e credibilidade profissional,
capazes de actuar com imparcialidade e independência, de que os tribunais
judiciais se pudessem socorrer quando fossem chamados a actuar no âmbito do
art. 14º da LAV. A decisão do tribunal judicial deverá ser sempre fundamentada,
indicando as razões que motivaram a nomeação do(s) árbitro(s).

Do ponto de vista processual, não é inteiramente certo qual o procedimento a


seguir.

Segundo JOÃO REIS e LEBRE DE FREITAS, estamos perante um verdadeiro


processo de jurisdição voluntária, cabendo ao juiz do tribunal judicial auxiliar as
partes a realizar a sua vontade expressa na convenção de arbitragem. O tribunal
judicial é chamado a suprir directamente o consentimento das partes (ou
indirectamente, quando caiba aos árbitros de parte designar o presidente do
tribunal arbitral) que se recusaram, expressa ou tacitamente, a designar
árbitro(s) nos termos da convenção de arbitragem ou das normas supletivas da
LAV (JOÃO LUÍS LOPES DOS REIS, Representação Forense e Arbitragem,
Almedina, Coimbra, 2001, p. 132; JOSÉ LEBRE DE FREITAS, “O Princípio do
Contraditório na nomeação de árbitro pelo presidente do tribunal da Relação”, in
Revista Internacional de Arbitragem e Conciliação, 2011, p. 165 ss). Seguindo-
se esta posição, o requerente interessado em promover a nomeação de
árbitro(s) pelo tribunal judicial deverá intentar uma acção de suprimento de
consentimento, socorrendo-se do art. 1425º do CPC, com as devidas
adaptações. Note-se que, antes de proceder à nomeação de árbitro(s), o tribunal
judicial deve ouvir a outra parte (art. 14º, n.º 3 da LAV), assegurando-se o
princípio do contraditório. Não obstante o art. 1409º, n.º 3 do CPC determinar
que as decisões em processo de jurisdição voluntária devem ser proferidas no
prazo de dez dias, há que dar prevalência, porque lex specialis, ao disposto no
art. 14º, n.º 3 da LAV, que determina que a decisão de nomeação de árbitros tem
prazo de trinta dias para ser proferida.

A jurisprudência portuguesa não seguiu, porém, até hoje este entendimento,


tramitando o pedido como se de um processo de natureza administrativa fosse
e, logo, sem que houvesse exercício do contraditório. A questão surgiu em
tempos recentes a propósito de um caso concreto, em que a decisão final do
Supremo Tribunal de Justiça português foi neste último sentido (Acórdão de 11
de Outubro de 2011 do Supremo Tribunal de Justiça português).

A nomeação de árbitro(s) pelo tribunal judicial não admite recurso, i.e., o


despacho de nomeação não é, por si só, impugnável. Não obstante, caso alguma
das partes não concorde com a nomeação de um árbitro feita pelo tribunal
judicial poderá, por um lado, recusar o árbitro por recurso ao art. 10º da LAV ou,
por outro lado, recorrer da decisão arbitral (art. 36º da LAV, caso as partes não
tenham previamente acordado que a decisão arbitral deva ser final e
insusceptível de recurso) ou requerer a anulação da sentença arbitral com base
na irregularidade da constituição do tribunal arbitral (art. 34º, n.º 1, al. d) da LAV).
Mas, note-se, a irregularidade do tribunal arbitral tem de ser arguida até à
apresentação da defesa ou juntamente com ela, nos termos do art. 31º, n.º 2 da
LAV, sob pena de, ultrapassado este prazo, a parte que a devia ter arguido não

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LAV COMENTADA 65/266
mais poder requerer a anulação da decisão arbitral (art. 34º, n.º 3 da LAV). Não
obstante, entendemos que, caso o árbitro nomeado pelo tribunal judicial não
preencha os requisitos de competência, imparcialidade e independência
necessários ao exercício dessa função, deve a parte que se sentir lesada com a
sua nomeação recusá-lo de imediato, lançando mão do art. 10º da LAV. Não
parece defensável que se deva aguardar a prolação da decisão final para,
seguidamente, dela recorrer ou invocar a sua anulabilidade, quando o vício de
que padece já era, desde o início do processo, conhecido. Em defesa da
impugnação imediata do acto de nomeação de árbitro, sem efeito suspensivo do
processo, remetendo-se a decisão sobre a irregularidade de constituição do
tribunal para o momento anterior à decisão sobre o mérito da causa, veja-se
JOÃO RAPOSO, “A Intervenção do Tribunal Judicial na Arbitragem: Nomeação
de Árbitros e Produção de Prova”, in I Congresso do Centro de Arbitragem da
Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Almedina, Coimbra, 2008, p. 117
e LUÍS DE LIMA PINHEIRO, Arbitragem Transnacional – A Determinação do
Estatuto da Arbitragem, Almedina, Coimbra, 2005, p. 140.

5. O legislador angolano conferiu às partes a possibilidade de, por acordo escrito,


designarem na convenção de arbitragem uma outra autoridade ou entidade, que
não o tribunal judicial, para proceder à nomeação de árbitro(s). As partes
poderão assim, nos termos do art. 14º, n.º 4 da LAV, determinar que a nomeação
de árbitro(s) seja feita, por exemplo, pelo Bastonário da Ordem dos Advogados
ou, ainda que se trate de arbitragem ad hoc, pelo presidente de um centro de
arbitragem institucionalizada.

A nomeação de árbitros por entidade ou autoridade indicada pelas partes deverá


seguir a tramitação indicada no art. 14º da LAV.

Na eventualidade da nomeação não ser feita no prazo de trinta dias, a contar da


data em que foi requerida à entidade ou autoridade acordada entre as partes,
pode a parte interessada requer ao tribunal judicial competente que proceda à
nomeação do(s) árbitro(s) em falta.

ARTIGO 15.º
(Deontologia dos árbitros)

Os árbitros devem, no exercício da sua função de composição de


conflitos, mostrar-se dignos da honra e responsabilidades inerentes, não
podendo representar nem agir no interesse das partes e obrigando-se a
decidir com independência, imparcialidade, lealdade e boa-fé e a contribuir
para a garantia de um processo célere e justo.

1. Os árbitros são tendencialmente equiparados aos juízes dos tribunais


judiciais, tendo em conta que a decisão proferida pelo tribunal arbitral vinculará
as partes em litígio (e, em muitos casos, poderá ser insusceptível de recurso),
não obstante a sua competência radicar na vontade das partes litigantes. Por
esse facto, exige o art. 15º da LAV que o árbitro se mostre digno da honra e da
responsabilidade inerente ao exercício dessa função.

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LAV COMENTADA 66/266
2. Apesar da designação de árbitros caber, em primeira linha, às partes (art. 7º,
n.º 1 da LAV), os árbitros por elas designados não deverão actuar no interesse
das partes. Sendo o tribunal arbitral composto por três árbitros, dois designados
pelas partes e o terceiro pelos árbitros assim designados, não podem os
chamados árbitros de parte, ainda assim, actuar no interesse da parte que os
designou. Independentemente do modo como tenham sido designados ou
nomeados, devem os árbitros actuar sempre com independência e
imparcialidade, devendo comunicar de imediato qualquer facto que possa
colocar em causa a sua independência e imparcialidade (art. 10º, n.º 1 da LAV).
A verificação de qualquer circunstância que possa suscitar dúvida fundada sobre
a imparcialidade ou independência de um árbitro no decorrer do processo arbitral
fundamenta a sua legítima recusa (art. 10º, n.º 2 e 3 da LAV) e conduz à sua
imediata substituição (art. 11º da LAV).

O art. 15º da LAV impõe ainda aos árbitros que actuem com lealdade e boa-fé
no decorrer do processo, respeitando o dever de confidencialidade a que se
encontram vinculados. Este dever de confidencialidade que, aliás, se impõe a
todos os intervenientes no processo arbitral, deve ser respeitado não só
enquanto o processo decorra mas ainda após o seu termo. Nessa medida, não
pode o árbitro discutir fora do foro arbitral questões relacionadas com o processo,
designadamente com a produção da prova e documentos apresentados, ou
divulgar quaisquer considerações que tenham sido tecidas no seio do tribunal
em relação ao mesmo, ou falar com qualquer uma das partes sem a presença
da(s) outra(s).

Impõe-se ainda ao árbitro que promova a celeridade do processo arbitral,


evitando, por exemplo, que o tribunal arbitral requeira oficiosamente a produção
de prova (art. 21º, n.º 1 da LAV) desnecessária que introduza delongas no
processo. A não promoção célere do processo arbitral, que conduza a que a
decisão arbitral seja tomada após o prazo acordado pelas partes ou fora do prazo
supletivo previsto na LAV, origina responsabilidade civil contratual dos árbitros,
nos termos do art. 25º, n.º 3 da LAV (veja-se, a este respeito, NÉLIA DANIEL
DIAS, “A Responsabilidade Civil do Árbitro. Breves Notas” in Revista Angolana
de Direito, Ano 2, n.º 2, Casa das Ideias, Luanda, 2009, p. 7 e ss e HENRIQUE
MESQUITA, Arbitragem: competência do tribunal arbitral e responsabilidade civil
do árbitro, AB VNO AD OMNES, 75 Anos da Coimbra Editora, Coimbra Editora,
Coimbra, p. 1381 e ss).

3. Cabe ainda aos árbitros assegurar que o processo arbitral é justo, sendo
respeitado o princípio de igualdade de armas. Nessa medida, devem os árbitros
promover o efectivo cumprimento no decurso do processo arbitral dos princípios
processuais estabelecidos no art. 18º da LAV.

4. Não existe qualquer código de conduta universal aplicável aos árbitros. Não
constituindo a arbitragem uma profissão (uma vez que qualquer pessoa pode ser
designada árbitro), os árbitros, contrariamente aos advogados, não se
encontram submetidos a nenhum código deontológico específico. Não obstante,
algumas entidades estrangeiras procuraram colmatar esta lacuna, subscrevendo
códigos deontológicos aplicáveis aos árbitros que, sob a sua égide, intervenham
em processos arbitrais. Exemplo disso é o Code of Ethics aprovado

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LAV COMENTADA 67/266
conjuntamente pela AAA e pela ABA, aplicável aos árbitros de litígios comerciais
nos EUA, o Código de Ética da CCI (Paris) e o do CONIMA (Brasil). Por outro
lado, há que salientar que os árbitros continuam vinculados aos códigos
deontológicos sua sua profissão, pelo que, por exemplo, um advogado que
exerça as funções de árbitro está obrigado a respeitar os deveres consagrados
no respectivo estatuto.

5. Independentemente de se tratar de arbitragem ad hoc ou institucionalizada, é


desejável que os árbitros (qualquer que seja o modo da sua designação ou
nomeação) emitam uma declaração formal na qual asseverem a sua
independência, imparcialidade e disponibilidade, indicando qualquer facto de
que as partes devam ter conhecimento na medida em que seja capaz de influir
na arbitragem a realizar (acompanhamos ANTÒNIO PIRES DE LIMA,
“Independência dos Árbitros e Ética Arbitral” in Revista Internacional de
Arbitragem e Conciliação, Ano 2008, Almedina, Coimbra, 2009, p. 55 e ss).

CAPÍTULO III
Do Procedimento Arbitral

ARTIGO 16.º
(Regras de processo)

1. Na Convenção de Arbitragem ou em escrito posterior, podem as


partes acordar sobre as regras de processo a observar na arbitragem.
2. Se o acordo referido no número anterior não tiver sido celebrado
até à aceitação do primeiro árbitro, competirá aos árbitros a definição das
regras a observar.
3. O acordo das partes pode resultar da escolha das regras de
arbitragem de um órgão arbitral institucional ou da escolha deste órgão
para proceder à arbitragem.

1. A lei que regula as regras do processo arbitral (art. 16º da LAV) pode não ser
a mesma que regula a relação material em litígio (art. 24º da LAV). A primeira
tem carácter adjectivo, processual, enquanto que a segunda tem carácter
substantivo, material. Do que trata o art. 16º da LAV é da lei aplicável ao
processo, designadamente, do tipo de prova a apresentar, os prazos para
apresentação de requerimentos ou o tipo de recursos admissíveis. Já o art. 24º
da LAV regula a lei aplicável para dirimir as questões de fundo, materiais, que
opõem as partes em litígio.

Em sede da LAV, admite-se que a lei do processo seja de ordem jurídica diversa
da lei material que, de acordo com o art. 24º, n.º 2 da LAV, deverá ser a lei
angolana (salvo se as partes acordarem numa decisão segundo a equidade). A
aplicação de uma lei estrangeira ao processo que seja diversa da lei da sede da
arbitragem pode conduzir a dificuldades. Porque os tribunais angolanos terão
maiores dificuldades em aplicar lei estrangeira a questões processuais, o que
poderá colocar entraves à regular intervenção dos tribunais judiciais na
arbitragem (designadamente, nos casos dos art. 14º, 21º, n.º 2, 36º, n.º 2, 34º,
n.º 1 todos da LAV).

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LAV COMENTADA 68/266
É, assim, aconselhável que o tribunal arbitral acompanhe as regras processuais
do local onde a sentença deva ser executada, uma vez que a possibilidade de
execução da sentença vai depender, por exemplo, da forma como o réu haja
sido citado ou do modo como a sentença tenha sido fundamentada (no mesmo
sentido, JACOB DOLINGER e CARMEN TIBURCIO, Direito Internacional
privado – Arbitragem Comercial Internacional, Renovar, Rio de Janeiro/São
Paulo, 2003, p. 288).

2. O legislador angolano consagrou no n.º 1 do art. 16º da LAV a possibilidade


das partes acordarem por escrito, na convenção de arbitragem ou em documento
posterior, quais as regras de processo aplicáveis ao processo arbitral. Este é
mais um aspecto da LAV que o legislador remeteu para a autonomia da vontade
das partes. A definição concreta das regras processuais aplicáveis à arbitragem
revela-se de extrema utilidade porquanto permite às partes adaptar o processo
às especificidades do litígio e afastar os procedimentos rígidos e formais
característicos do processo judicial. Assim, as partes podem acordar, por
exemplo, que havendo lugar à intervenção de tribunal judicial no processo, a
instância arbitral se suspende ou que a base instrutória será dispensada ou
elaborada por acordo das partes e não pelo próprio tribunal, ou que os
depoimentos das testemunhas serão produzidos por escrito, ou que os peritos
são apresentados exclusivamente pelas partes, etc. (MARIANA FRANÇA
GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina,
Coimbra, 2012, p. 184 ss).

Esta solução da lei angolana segue de perto a Lei-Modelo da CNUDCI, que, no


seu artigo 19.º, n.º 1, permite às partes desenharem as regras do processo.

As regras próprias e específicas que as partes definirem para o litígio submetido


a arbitragem deverão ser vertidas num regulamento arbitral, escrito e subscrito
por ambas as partes. É fundamental que o regulamento arbitral elaborado pelas
partes respeite o princípio da igualdade e o princípio do contraditório em todas
as fases do processo (art. 18º da LAV).

3. Nos termos do art. 16º, n.º 3 da LAV, as partes podem, em vez de desenharem
um regulamento arbitral específico, acordar que o processo arbitral se
desenrolará de acordo com o regulamento de um centro de arbitragem
institucionalizada. O legislador não refere mas é também comum que as partes
remetam para um diploma processual nacional (como o CPC) ou para uma lei
de arbitragem estrangeira a definição das regras de processo aplicáveis.

De acordo com LUÍS DE LIMA PINHEIRO (Arbitragem Transnacional – A


Determinação do Estatuto da Arbitragem, Almedina, Coimbra, 2005, p. 143), a
remissão para as normas do CPC é de evitar, na medida em que vai prender a
arbitragem ao formalismo característico dos processos judiciais. Também a
remissão para leis arbitrais estrangeiras não se revela muito útil, uma vez que a
generalidade dessas leis não detalha os procedimentos a aplicar. Não obstante,
os tribunais têm decidido que ao determinarem a sede da arbitragem (art. 17º da
LAV), as partes estão implicitamente a escolher, com carácter subsidiário, a lei
da arbitragem desse foro (JACOB DOLINGER e CARMEN TIBURCIO, Direito

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LAV COMENTADA 69/266
Internacional Privado – Arbitragem Comercial Internacional, Renovar, Rio de
Janeiro/São Paulo, 2003, p. 79).

O art. 16º, n.º 3 da LAV aventa ainda a possibilidade das partes determinarem
que será um centro de arbitragem institucionalizada a proceder à arbitragem. A
arbitragem institucionalizada é bastante mais utilizada do que a arbitragem ad
hoc, uma vez que simplifica significativamente a tarefa das partes. Na verdade,
os centros de arbitragem institucionalizada não só disponibilizam às partes
regras prontas para a condução do processo, como regulam já as situações que
no decurso do processo podem gerar divergências entre as partes. Para além
disso, os centros de arbitragem avaliam a independência e a imparcialidade dos
árbitros, permitindo-lhes aceder a um conjunto de documentos e a uma vasta
jurisprudência arbitral, o que se traduz em ganhos significativos para o processo.
A arbitragem ad hoc deverá ser utilizada quando os intervenientes (árbitros,
respectivos advogados e partes) tenham grande experiência em arbitragem,
permitindo-lhes conduzir o processo com maior flexibilidade, o que se traduz em
ganhos significativos de eficiência e permite uma redução dos custos
relacionados com o processo (MAÍRA MAGRO e ZÍNIA BAETA, Guia valor
Económico da Arbitragem, Editora Globo, São Paulo, 2004, p. 30)

4. O art. 16º, n.º 2 da LAV estabelece que a determinação das regras do processo
deve ser feita pelas partes até à aceitação do primeiro árbitro. Se, até essa data,
as partes não tiverem acordado quanto às regras do processo, caberá aos
árbitros determiná-las.

O art. 19º da Lei-Modelo da CNUDCI não impõe qualquer limite temporal para
que as partes determinem quais as regras de processo, indicando que tal acordo
poderá ser feito depois da constituição do tribunal arbitral. A admitir-se esta
hipótese, também seria de aceitar que os árbitros se pudessem legitimamente
escusar ao exercício das suas funções por, eventualmente, não se sentirem
confortáveis em conduzirem um processo arbitral de acordo com regras com as
quais nunca trabalharam. De acordo com LUÍS DE LIMA PINHEIRO, este não é
o melhor entendimento, uma vez que as regras do processo e a sede da
arbitragem são elementos essenciais que os árbitros devem conhecer antes de
aceitarem o encargo (LUÍS DE LIMA PINHEIRO, Arbitragem Transnacional – A
Determinação do Estatuto da Arbitragem, Almedina, Coimbra, 2005, p.143). Em
face do art. 16º, n.º 2 da LAV, também nos parece que a determinação das regras
do processo tem necessariamente de ser feita pelas partes antes do tribunal
arbitral ser constituído, sob pena da referida determinação ser deferida aos
árbitros.

Cabendo aos árbitros definir as regras do processo aplicáveis à arbitragem,


podem estes desenhar um regulamento de arbitragem específico ou remeter
para um regulamento previamente elaborado, designadamente um regulamento
de um centro de arbitragem institucionalizada.

A LAV não impõe qualquer limite específico à conformação das regras de


processo pelos árbitros. Sem prejuízo, elas deverão sempre respeitar o princípio
da igualdade das partes e o princípio do contraditório (art. 18º da LAV). É
importante que os árbitros definam quais as regras essenciais do processo

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LAV COMENTADA 70/266
arbitral, não tendo de proceder à sua formulação de modo exaustivo. Verificando-
se, no decorrer do processo, a omissão de determinada regra processual, deverá
o tribunal decidir casuisticamente sobre o modo de proceder.

ARTIGO 17.º
(Lugar da arbitragem)

1. O lugar da arbitragem é determinado por acordo das partes na


Convenção de Arbitragem ou em escrito posterior e, na falta de acordo até
à aceitação do primeiro árbitro, deve ser fixado pelos árbitros.
2. Salvo convenção das partes em contrário, o disposto no número
anterior não prejudica a reunião do Tribunal Arbitral em qualquer lugar que
considere apropriado para consultas entre os seus membros ou a prática
de quaisquer actos processuais.

1. A determinação da sede da arbitragem tem inúmeras repercussões no


processo arbitral. Como bem referem JACOB DOLINGER e CARMEN
TIBURCIO em relação à arbitragem internacional (Direito Internacional Privado
– Arbitragem Comercial Internacional, Renovar, Rio de Janeiro/São Paulo, 2003,
p. 253), a sede da arbitragem é tida em consideração pelos árbitros para a
verificação da arbitrabilidade do litígio, determinação da lei material aplicável em
caso de falta de determinação pelas partes, definição da lei processual,
determinação dos tribunais judiciais competentes para efeitos de decisão de
providências cautelares, interposição de recursos, declaração de nulidade da
sentença arbitral, e ainda para a satisfação do requisito de reciprocidade para
reconhecimento e execução de sentenças nas ordens jurídicas em que tal é
exigido.

Pelas razões expostas, os autores citados aconselham que a escolha da sede


da arbitragem seja feita, não em função da maior conveniência das partes, mas
atendendo à lei mais favorável à arbitragem em si, o que passará pela
consideração do local onde a decisão deva ser executada.

2. À semelhança do que sucede quanto à definição das regras aplicáveis ao


processo arbitral (art. 16º da LAV), o legislador angolano possibilita às partes
determinarem, consoante a sua conveniência, o local onde a arbitragem terá
lugar, i.e., a sede da arbitragem.

De acordo com o art. 17º, n.º 1 da LAV, caberá às partes acordar quanto à sede
da arbitragem, por escrito, até ao momento em que o primeiro árbitro tenha
aceite o encargo.

Também o artigo 20º, n.º 1 da Lei-Modelo da CNUDCI permite às partes a


determinação da sede da arbitragem.

O facto do legislador angolano exigir que a definição da sede da arbitragem


conste de documento, que poderá ser a convenção de arbitragem ou qualquer
outro documento que as partes tenham subscrito, parece afastar a possibilidade
das partes acordarem tacitamente quanto à sede da arbitragem (veja-se, no

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LAV COMENTADA 71/266
mesmo sentido, LUÍS DE LIMA PINHEIRO, Arbitragem Transnacional – A
Determinação do Estatuto da Arbitragem, Almedina, Coimbra, 2005, p. 144).
Parece, assim, ser de afastar a possibilidade da escolha da sede da arbitragem
ser determinada por recurso a actos concludentes das partes que apontem para
um determinado local. Não obstante, caso as partes tenham acordado, por
escrito, que a arbitragem deverá ser conduzida por um centro de arbitragem
institucionalizado ou tiverem determinado que as regras do processo (art. 16º da
LAV) serão as constantes de regulamento de determinado centro de arbitragem
institucionalizado, então deverá entender-se que a sede da arbitragem será o
local da sede desse centro de arbitragem.

A maioria dos regulamentos de centros de arbitragem institucionalizada contém


regras específicas, de carácter supletivo, quanto à determinação da sede da
arbitragem, remetendo a sua determinação para um órgão do centro (veja-se o
art. 14º, n.º 1 do Regulamento da CCI) ou definindo que o tribunal arbitral terá a
sua sede no local da sede do centro de arbitragem (art. 16º, n.º 1 do LCIA).

Caso as partes não tenham acordado quanto à sede do tribunal arbitral nos
termos acima expostos, essa escolha será atribuída aos árbitros.

3. Escolhida a sede da arbitragem, esta deve desenrolar-se no local fixado.


Atendendo a que o processo arbitral requer estabilidade, para que a decisão do
litígio se possa processar de modo célere e eficiente, não parece que se deva
admitir, por princípio, a alteração da sede da arbitragem no decurso do processo.
Não obstante, se se verificarem circunstâncias de carácter excepcional,
supervenientes, que demonstrem que a sede da arbitragem escolhida causa
graves inconvenientes às partes, e estas estejam de acordo quanto à alteração
da sede da arbitragem, entendemos que ela poderá ser mudada. A mudança de
sede não poderá, por exemplo, ser admitida, nos casos em que a sede da
arbitragem tenha servido para determinar subsidiariamente as regras do
processo e este tenha já tido início. Havendo mudança de sede, poderão os
árbitros nomeados exercer o seu direito de escusa (art. 9º, n.º 1 da LAV).

4. O art. 17º, n.º 2 da LAV confere ao tribunal arbitral a possibilidade de se reunir


num outro lugar que não o da sede da arbitragem, caso as partes não tenham
acordado, por escrito, o contrário.

Entendemos bem esta disposição da LAV, uma vez que grande parte das
actividades dos árbitros são realizadas sem a presença das partes, havendo todo
o interesse em que eles estabeleçam, consoante a sua conveniência, um local
reservado onde decorram as sessões privadas do tribunal arbitral. Este lugar é,
na maioria dos casos, desconhecido das partes, de modo a permitir ao tribunal
arbitral trabalhar longe de quaisquer interferências. Assim, a análise de
documentos, a elaboração das deliberações e a decisão final do tribunal poderão
realizar-se noutro lugar que não na sede da arbitragem.

A LAV também não afasta a possibilidade das próprias audiências ou diligências


de produção de prova (designadamente as produzidas perante o tribunal judicial,
previstas no art. 21º, n.ºs 2 e 3 da LAV) serem realizadas em local que não o da
sede da arbitragem. Esta faculdade é consagrada em vários regulamentos de

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LAV COMENTADA 72/266
centros de arbitragem institucionalizada, nomeadamente no art. 16º, n.º 2 do
Regulamento de Arbitragem da CNUDCI, art. 14º do Regulamento de Arbitragem
da CCI e art. 16º, n.º 2 do Regulamento de Arbitragem do LCIA.

O art. 17º, n.º 2 da LAV segue, assim, de perto, o art. 20º, n.º 2 da Lei-Modelo
da CNUDCI, que admite expressamente a realização de consultas entre árbitros
e de diligências de produção de prova noutro lugar que não o da sede da
arbitragem.

ARTIGO 18.º
(Princípios)

O procedimento arbitral deve observar os seguintes princípios:

a) as partes são tratadas com absoluta igualdade;


b) em todas as fases do processo é garantido o contraditório, devendo
o demandado ser citado para se defender;
c) ambas as partes devem ser ouvidas, oralmente ou por escrito, antes
de proferida decisão final.

1. O art. 18º da LAV consagra os princípios essenciais que devem pautar a


condução de todo o processo arbitral. Estes princípios, que são considerados
princípios de ordem pública internacional, aplicáveis às arbitragens internas e
internacionais, devem ser sempre observados, sob pena de impossibilitarem a
execução da decisão arbitral num outro país (MARIANA FRANÇA GOUVEIA,
Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012,
p. 209 ss; JACOB DOLINGER e CARMEN TIBURCIO, Direito Internacional
Privado – Arbitragem Comercial Internacional, Renovar, Rio de Janeiro/São
Paulo, 2003, p. 286).

Assim, a LAV impõe como limite à autonomia da vontade das partes a


observância de garantias processuais mínimas (LUÍS DE LIMA PINHEIRO,
Arbitragem Transnacional – A Determinação do Estatuto da Arbitragem,
Almedina, Coimbra, 2005, p. 147) que englobam: (i) igualdade no tratamento das
partes, (ii) garantia do contraditório em todas as fases do processo, (iii) citação
do demandado para se defender e (iv) audição de ambas as partes, oralmente
ou por escrito, antes da prolação da decisão final.

O art. 18º da LAV segue de perto o art. 18º da Lei-Modelo da CNUDCI, que
consagra expressamente o princípio da igualdade das partes e o princípio do
contraditório.

O princípio da igualdade das partes ou da paridade processual representa a


consagração em sede arbitral do princípio da igualdade dos cidadãos perante a
lei, plasmado na Constituição da República de Angola. O que se pretende é
assegurar que as partes são tratadas com absoluta igualdade ao longo de todo
o processo, podendo exercer as faculdades e os meios de defesa que lhes
assistem em igualdade de condições.

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LAV COMENTADA 73/266
O princípio do contraditório manifesta-se, por um lado, no facto de não poderem
ser tomadas providências contra determinada pessoa sem que ela seja
previamente ouvida (salvo os casos excepcionais previstos na lei) e, por outro
lado, na impossibilidade do tribunal arbitral decidir qualquer questão de facto ou
de direito sem que as partes hajam tido a possibilidade de se pronunciar sobre
ela. O princípio define-se, assim, como a possibilidade de as partes influenciarem
o processo em relação a todas as questões, de facto ou de direito, de forma ou
de fundo, que possam ter repercussão na decisão final do litígio (MARIANA
FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2ª Edição,
Almedina, Coimbra, 2012, p. 210).

2. O art. 18º, al. b) da LAV não contempla o modo como a citação deve ser
efectuada, dando margem de manobra à autonomia de vontade das partes.
Assim, cabe às partes, no âmbito da definição das regras do processo arbitral
(art. 16º, n.º 1 da LAV) ou aos árbitros (art. 16º, n.º 2 da LAV), determinar o modo
como devem ser chamadas ao processo. Parece-nos ser de admitir a citação por
protocolo, carta registada, fax contra comprovativo de entrega e e-mail contra
comprovativo do seu efectivo recebimento. É importante assegurar que a parte
citada teve efectivo conhecimento da instauração do processo arbitral – é este o
aspecto essencial.

3. O art. 18º, al. b) da LAV refere que deve ser assegurado o princípio do
contraditório em todas as fases do processo arbitral, devendo o demandado ser
citado para se defender. Sendo citado e optando por não se defender, o
demandado não obsta à continuação do processo arbitral, que segue à revelia.

A revelia prevista no CPC é bastante penalizadora para o réu, uma vez que se
consideram imediatamente confessados os factos articulados pelo autor (art.
484º, n.º 1 do CPC, com as excepções previstas no art. 485º do CPC). Admite-
se, porém, que o réu, querendo, intervenha no processo a qualquer momento,
recebendo-o no estado em que este se encontra. A razão subjacente à revelia
consiste em permitir a continuação do processo ainda que o réu regularmente
citado não queira nele intervir.

Em sede de arbitragem, a revelia pode manifestar-se através de duas situações:


(i) a parte demandada, depois de recebida a notificação para arbitragem, designa
o seu árbitro e, em seguida, abandona o processo, não respondendo às
notificações do tribunal arbitral e não apresentando a sua contestação ou (ii) a
parte demandada, tendo sido validamente notificada da arbitragem, nem sequer
chega a designar o seu árbitro, não tendo qualquer intervenção no processo
arbitral. Na situação (i), estando o tribunal arbitral já formado, o processo seguirá
os seus trâmites até que a decisão final seja proferida, ainda que o demandado
não mais intervenha no processo. Na situação (ii), o art. 14º da LAV impõe que
a nomeação do árbitro de parte em falta ou o consenso para a nomeação de
árbitro único seja conseguido pelo tribunal judicial (ou outra pessoa que as partes
hajam acordado na convenção) e, ultrapassando-se este impasse, opera-se a
válida constituição do tribunal arbitral, à revelia da parte demandada.

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LAV COMENTADA 74/266
Também os diversos diplomas relativos à arbitragem internacional apontam no
mesmo sentido da LAV. O art. 28º, n.º 1 do Regulamento da CNUDCI refere
expressamente que se o demandado não contestar, sem ter justificado a
ausência de contestação, deve o tribunal arbitral continuar com o processo.
Também o Regulamento da CCI consagra regras específicas sobre a revelia,
dispondo o seu art. 6º, n.º 3 que a recusa ou inércia de alguma das partes em
participar na arbitragem não prejudica o seu andamento (veja-se, para maiores
desenvolvimentos, EDUARDO GREBLER, “A Revelia no Processo Arbitral
Brasileiro” in Reflexões sobre Arbitragem, LTR, São Paulo, 2002, p. 291 e ss).

Não estabelecendo a LAV quaisquer efeitos cominatórios da revelia no âmbito


do processo arbitral, a revelia do demandado não importe a automática confissão
dos factos alegados pelo demandante, cabendo ao tribunal arbitral apreciá-los
livremente (MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa de
Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 212, nota 295).

4. De acordo com o art. 34º, n.º 1, al. f) da LAV a violação das garantias
processuais mínimas consagradas no art. 18º da LAV serve de base para a
anulação da decisão arbitral, desde que tal violação tenha influenciado
decisivamente a resolução do litígio. No mesmo sentido, o art. 34º, n.º 2, al. a),
ii) da Lei-Modelo da CNUDCI.

ARTIGO 19.º
(Representação das partes)

As partes podem fazer-se representar ou assistir por advogado


constituído.

1. O art. 19º da LAV trata da representação das partes no âmbito de um processo


arbitral, indicando que elas se podem fazer representar ou assistir por advogado.
Coloca-se, assim, a questão de saber se as partes, para além de poderem
intervir pessoalmente no processo, se podem fazer representar por qualquer
pessoa, seja ou não advogado.

A Lei-Modelo da CNUDCI nada refere quanto a este aspecto. Em face da lei


portuguesa de 1986, duas posições doutrinais antagónicas se perfilavam.
DÁRIO MOURA VICENTE (“L’évolution récente de l’arbitrage au Portugal” in
Revue d’Arbitrage, 1991, p. 419 e ss) defende que as partes podem representar-
se a si próprias ou fazer-se representar por advogado, não podendo fazer-se
representar por terceiro que não seja profissional do foro. JOÃO REIS
(Representação Forense e Arbitragem, Coimbra Editora, Coimbra, 2001, p. 118
e ss), por seu lado, entende que a natureza contratual da arbitragem justifica que
não lhe sejam aplicáveis as regras relativas ao patrocínio judiciário em processo
judicial, podendo as partes em processo arbitral fazer-se representar por
qualquer pessoa, seja ou não profissional do foro. Ainda de acordo com JOÃO
REIS “a representação de parte em arbitragem não constitui exercício de
mandato judicial, nem consulta jurídica em regime de actividade independente,

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LAV COMENTADA 75/266
que se viu serem actividades que a lei reserva aos advogados” (Representação
Forense e Arbitragem, Coimbra Editora, Coimbra, 2001, p. 125).

Note-se que a redacção do art. 17º da Lei da Arbitragem Voluntária Portuguesa


de 1986 estabelecia que as “partes podem designar quem as represente ou
assista em tribunal”, o que parecia conferir uma maior abertura para que as
partes possam escolher profissionais do foro, ou não.

Em Portugal, a Lei n.º 15/2005, de 26 de Janeiro; alterada pelo Decreto-Lei n.º


226/2008, de 20 de Novembro e pela Lei n.º 12/2010, de 25 de Junho), que
aprova o Estatuto da Ordem dos Advogados reserva o exercício livre da
advocacia por estrangeiros, com o título profissional de origem, só aos
advogados dos países membros da União Europeia (art. 196.º e ss.). Um
procedimento de inscrição facilitado, em regime de reciprocidade, é previsto no
art. 194.º, n.º 2 para os advogados brasileiros diplomados no Brasil.

A nova LAV portuguesa (Lei n.º 63/2011, de 14 de Dezembro) já não se refere à


representação das partes em tribunais arbitrais. A questão foi definitivamente
solucionada por uma Lei de 2004 (Lei n.º 49/2004, de 24 de Agosto) cujo art.º
2.º determina expressis verbis que: “Considera-se mandato forense o mandato
judicial conferido para ser exercido em qualquer tribunal, incluindo os tribunais
ou comissões arbitrais e os julgados de paz” (Veja-se LINO DIAMVUTU, A
Ordem na institucionalização da arbitragem, IV Conferência Nacional dos
Advogados – Advocacia e Constituição, OAA / CDI, 2013, pp. 63-67).

No Brasil, o Prof. CARLOS ALBERTO CARMONA defende que as partes, em


processo arbitral, possam representar-se a si próprias ou fazer-se representar
por qualquer pessoa, seja ou não profissional do foro (engenheiro, arquitecto,
médico ou sem qualificação profissional específica, etc), desde que tenha a sua
confiança. É a posição defendida pelo Prof. CARLOS ALBERTO CARMONA
(Arbitragem e Processo – Um Comentário à Lei n.º 9.307/96, 3.ª Edição Revista,
atualizada e ampliada, 2009, p. 301).

Não nos parece que a intenção do legislador angolano tenha sido a de conferir
tamanha amplitude ao art. 19º da LAV, pelo que somos da opinião que as partes
só poderão representar-se a si próprias ou fazer-se representar por advogado.

Poderão validamente actuar como advogados no âmbito do processo arbitral as


pessoas que, preenchendo os requisitos previstos no Estatuto da Ordem dos
Advogados (art. 41º do Decreto n.º 28/96, de 13 de Setembro, com as
modificações introduzidas pelo Decreto n.º 56/05, de 15 de Agosto), se
encontrem inscritas na Ordem dos Advogados e possam exercer patrocínio
judiciário em Angola.

Nas arbitragens internas e nas arbitragens internacionais com sede em Angola,


os advogados constituídos pelas partes deverão ser necessariamente
advogados inscritos na Ordem dos Advogados de Angola. Poder-se-á,
entretanto, admitir a possibilidade de esses advogados serem assistidos por
advogados estrangeiros, no quadro de relações profissionais entre si
estabelecidas. Contrariamente, nas arbitragens com sede no estrangeiro, a

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LAV COMENTADA 76/266
escolha de advogado deverá respeitar os ditames para o exercício da advocacia
nesse país estrangeiro.

A propósito, o Bastonário MANUEL GONÇALVES defendeu na sua intervenção


publicada no Relatório da Iª Conferência Nacional de Advogados o que segue:
“Suscita-se (…) a questão de saber se o princípio da obrigatoriedade de inscrição
é aplicável ao patrocínio na justiça arbitral e, particularmente, em casos de litígios
plurilocalizados, na arbitragem internacional, ou se podem Advogados de outros
países ou simplesmente profissionais com qualificação técnica sem a qualidade
de advogado, por falta de inscrição na Ordem local, intervir em causas perante
tribunais arbitrais. De outro modo, até onde vão as exigências do nosso mundo
globalizado: justifica-se a liberdade de postulação e de representação das partes
na instância arbitral (em que as partes poderiam intervir pessoalmente ou fazer-
se representar e assistir por qualquer pessoa, incluindo Advogado)? Dever-se-á
consagrar o patrocínio facultativo (sem obrigatoriedade do patrocínio, as partes
poderiam optar entre a intervenção pessoal e a constituição de Advogado)? Ou
a solução será a obrigatoriedade do patrocínio por Advogado? Parece
prevalecer, no direito comparado, a óptica da livre representação das partes
perante os árbitros, não se impondo a intervenção de Advogado. Diz-se que,
mais do que uma especialidade aos princípios inerentes ao patrocínio judiciário,
tratar-se-á de um regime diferente, consonante com a natureza contratual da
arbitragem, regulada por um autêntico processo alternativo de resolução de
conflitos e não por um processo judicial especial. Porém, o art. 19.º da nova Lei
de Arbitragem Voluntária – a Lei n.º 16/03, de 25 de Julho – revogatória do
sistema arbitral do C.P.C., inequivocamente aponta no sentido do patrocínio por
Advogado, de natureza facultativa. A nosso ver, a solução radica no estatuto
profissional do Advogado, que tem subjacente o já reiterado interesse público
justificativo da vinculação à Ordem dos Advogados e, também, do princípio do
monopólio da representação forense e da consulta jurídica pelos Advogados”
(MANUEL GONÇALVES, O Advogado e a Realidade da Administração da
Justiça, in Iª Conferência Nacional de Advogados, OAA, Luanda, 2004, pp. 118-
119).

2. A redacção do art. 19º da LAV possibilita às partes fazerem-se representar


por advogado, não as obrigando a tal. Assim, importa aquilatar se haverá casos
em que as partes não se poderão representar a si próprias, sendo o patrocínio
por advogado obrigatório.

Em sede de processo judicial, o art. 32º do CPC estabelece que as partes


deverão fazer-se obrigatoriamente representar por advogado nas causas em que
seja admissível recurso ordinário, em que seja sempre admitido recurso
(designadamente, nas respeitantes a direitos indisponíveis) e nos recursos e
causas propostas nos tribunais superiores. A não constituição de advogado em
qualquer destas situações importa a absolvição do réu da instância, o não
seguimento do recurso ou a desconsideração da defesa (art. 33º do CPC).

Tendo em conta que os litígios submetidos a arbitragem respeitam sempre a


direitos disponíveis (art. 1º, n.º 1 da LAV) e que as partes podem renunciar à
possibilidade de recurso na convenção de arbitragem (expressamente, nos
termos do art. 36º, n.º 1 da LAV, ou tacitamente caso acordem que o tribunal

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LAV COMENTADA 77/266
arbitral julgue de acordo com a equidade, nos termos do art. 36º, n.º 3 da LAV),
pensamos que o legislador angolano quis conferir às partes inteira liberdade para
decidirem, em qualquer caso, quanto à constituição de mandatário no processo
arbitral. Assim, não nos parece que a não constituição de mandatário em
processo arbitral no âmbito de um litígio que, se fosse submetido a tribunal
judicial, obrigaria à representação por advogado, possa obstar à validade da
instância e prosseguimento dos autos, e ao reconhecimento e execução da
decisão por parte do tribunal judicial competente (art. 814º do CPC). Tal
entendimento justifica-se, em nosso entender, pela natureza eminentemente
contratual da arbitragem, campo de aplicação privilegiado da autonomia de
vontade das partes.

Sem prejuízo do que foi dito, é, não obstante, aconselhável a constituição de


advogado para representar as partes em processo arbitral. Isto porque a
apresentação da pretensão das partes perante o tribunal arbitral importa sempre
o respectivo enquadramento jurídico, conduzindo necessariamente o desenrolar
do processo a querelas jurídicas, que para serem convenientemente abordadas
requerem a intervenção de profissionais do foro.

3. Através do mandato arbitral, o advogado fica habilitado a praticar na instância


arbitral os actos jurídicos próprios da sua profissão, que deverão ser
considerados actos particulares de natureza privada (atenta a natureza
contratual da arbitragem), sendo também em regra extensível à prática de actos
judiciais quando a intervenção do tribunal judicial se afigure necessária (caso
das diligências de produção de prova –art. 21º da LAV- ou da nomeação de
árbitros – art. 14º da LAV). No entender de JOÃO REIS (Representação Forense
e Arbitragem, Coimbra Editora, Coimbra, 2001, p. 139), o mandato conferido é
um mandato meramente forense, podendo também ser judicial caso as partes
assim o determinem.

O mandato meramente forense não está sujeito a forma especial, podendo ser
conferido ao advogado através de procuração escrita e subscrita pela parte que
constitui mandatário ou através de declaração verbal da parte no âmbito de
qualquer diligência processual que decorra perante o tribunal arbitral. Tal só não
sucederá se os árbitros, ao abrigo do seu poder de definirem as regras
processuais nos termos do art. 16º, n.º 2 da LAV, tiverem imposto a
obrigatoriedade de observância da forma escrita.

Questão mais complexa prende-se com a forma que deve observar a procuração
que confira ao advogado poderes especiais para desistir, transigir ou confessar.
De acordo com o art. 262º do CC, a procuração deve observar a forma do acto
a ser praticado pelo mandatário ao abrigo da procuração. Assim, e porque a
transacção (art. 1250º do CC), a confissão e a desistência deverão observar a
forma escrita (devendo ser feitas através de documento autêntico ou particular,
consoante as exigências legais aplicáveis), nos termos do art. 300º, n.º 1 do
CPC, essa mesma forma legal deverá ser aplicada à procuração que confere ao
mandatário poderes especiais para confessar, desistir ou transigir em sede
arbitral.

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LAV COMENTADA 78/266
Já não nos parece possível que a transacção, quando resulte de conciliação
obtida pelo juiz arbitral, se possa fazer em acta, como dispõe o art. 300º, n.º 4
do CPC. Isto porque a acta da audiência exarada pelo juiz faz fé pública,
satisfazendo os requisitos do art. 1250º do CC, enquanto que uma acta
equivalente do tribunal arbitral não tem o mesmo efeito porquanto a LAV não
conferiu ao tribunal arbitral expressamente esse poder. Assim, sempre que a
transacção exigir forma autêntica, ela terá necessariamente de ser lavrada fora
do tribunal arbitral, sendo de seguida submetida à homologação dos árbitros;
concomitantemente, a procuração que confere mandato para realizar a
transacção deverá também constar de documento solene (no mesmo sentido, J.
LOPES DOS REIS, Representação Forense e Arbitragem, Coimbra Editora,
Coimbra, 2001, p. 142).

ARTIGO 20.º
(Início e termo da instância arbitral)

1. Salvo o disposto no n.º 1 do artigo 13.º, a instância arbitral tem


início na data da notificação da arbitragem ao demandado, mas só se
desenrola perante o tribunal a partir da notificação às partes da nomeação
de todos os árbitros de harmonia com os artigos 13.º e 14.º, todos da
presente lei.
2. O processo extingue-se ou com o depósito da sentença arbitral ou
no caso a que se refere o n.º 4 com o trânsito em julgado da sentença que
homologar a desistência.
3. A desistência do pedido, no todo ou em parte, é livre em qualquer
fase do processo.
4. A desistência da instância arbitral só é permitida se a ela se não
opuser a parte contrária no prazo previsto no n.º 3 do artigo 29.º da presente
lei.

1. Regra geral o impulso inicial para que um processo arbitral se desenrole é


conseguido através da notificação da parte demandante à parte demandada,
dando-lhe conta de que pretende que o tribunal arbitral se constitua, tal como
indica o art. 13º, n.º 1 da LAV.

Esta notificação, para ser válida, deve ser feita por escrito e conter os elementos
essenciais elencados no art. 13º, n.ºs 3 e 4 da LAV.

Esta notificação possui os efeitos da citação, designadamente o efeito de


interromper o prazo de prescrição do direito que se pretende fazer valer em juízo
arbitral, razão pela qual o art. 20º, n.º 1 da LAV considera que na data da
notificação da arbitragem tem início o processo arbitral. Deve considerar-se que
a notificação foi efectuada na data do seu efectivo recebimento pelo demandado,
que é a data a partir da qual o demandado tomou conhecimento de que havia
sido instaurado contra si um processo arbitral.

No processo arbitral a designação dos membros do tribunal arbitral é mister das


partes (art. 13º, n.º 4 da LAV), de terceiro a quem caiba a designação (art. 13º,

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LAV COMENTADA 79/266
n.º 6 da LAV) ou, sendo caso disso, do tribunal judicial competente (art. 14, n.º 1
da LAV).

Após a parte demandante ter emitido a notificação para arbitragem, dá-se início
à designação e/ou nomeação dos árbitros que integrarão o tribunal arbitral. A
LAV não fixa um prazo dentro do qual o tribunal arbitral se deva constituir, mas
é desejável que o seja a breve trecho.

Só quando todos os árbitros se encontram nomeados e todas as partes disso


tiverem conhecimento é que o processo arbitral está em condições de se
desenrolar. Se, por exemplo, couber aos árbitros a designação do árbitro
presidente, o processo arbitral só se desenrolará a partir da data em que a última
parte tiver recebido a respectiva notificação.

2. O processo arbitral extingue-se nos termos previstos no art. 20º, n.º 2, 3 e 4


da LAV, podendo tal extinção operar-se através de depósito da sentença arbitral,
trânsito em julgado da sentença arbitral que homologue a desistência da
instância ou desistência do pedido, no todo ou em parte.

Decorrendo o processo arbitral o seu curso normal e sendo, a final, proferida


decisão arbitral, esta deve ser depositada na Secretaria do Tribunal Provincial
do lugar da arbitragem (art. 30º, n.º 4 da LAV), extinguindo-se o processo a partir
dessa data.

Caso a parte demandante pretenda desistir da instância deve contar com o


acordo da parte demandada (art. 20º, n.º 4 da LAV), tendo esta um prazo de dez
dias para se opor à desistência, a contar da data em que recebeu a respectiva
notificação do tribunal arbitral (art. 29º, n.º 3 da LAV). A desistência da instância
não prejudica o pedido, podendo a parte demandante vir posteriormente a
intentar nova acção arbitral com o mesmo objecto. Para ser válida, a desistência
deve ser homologada pelo tribunal arbitral (art. 29º, n.ºs 2 e 4 da LAV).

A parte demandante pode desistir de todo ou de parte do pedido, em qualquer


fase do processo, nos termos do art. 20º, n.º 3 da LAV. Neste caso, já não se
exige o acordo da parte demandada. A desistência do pedido acarreta para a
parte demandante a extinção do direito objecto do pedido e, logo, a
impossibilidade de intentar nova acção arbitral em relação ao pedido objecto de
desistência. A desistência deve ser homologada pelo tribunal arbitral (art. 29º,
n.º 2 da LAV).

ARTIGO 21.º
(Provas)

1. Podem ser produzidas perante o Tribunal Arbitral, a requerimento


das partes ou oficiosamente, todas as provas legalmente admitidas.
2. Quando a prova a produzir depender da vontade de uma das partes
ou de terceiro e estes recusarem a necessária colaboração, pode a parte
interessada, com autorização do Tribunal Arbitral ou este mesmo, a

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LAV COMENTADA 80/266
requerimento de qualquer das partes, requerer ao Tribunal Judicial do lugar
da realização da diligência que, perante este, seja produzida a prova.
3. O Tribunal Judicial deve praticar os actos solicitados, nos limites
da sua competência e com observância das regras de produção da prova
a que está vinculado, e remeter os seus resultados ao Tribunal Arbitral.

1. No decurso do processo arbitral haverá, por regra, uma fase de instrução, na


qual se produzirá prova dos factos alegados pelas partes em litígio, que caberá
ao tribunal arbitral apreciar.

Em sede de arbitragem, e nos termos do art. 21º, n.º 1 da LAV, são admitidos
todos os meios de prova aceites em sede de processo judicial. Assim, são
admissíveis os seguintes meios de prova: (i) prova documental (art. 523º a 551º
do CPC), (ii) prova por confissão das partes (art. 552º a 567º do CPC), (iii) prova
pericial (art. 568º a 611º do CPC), (iv) prova por inspecção judicial (art. 612º a
615º do CPC) e (v) prova testemunhal (art. 616º a 645º do CPC).

A doutrina tem discutido se meios de prova não previstos na legislação


processual civil podem ser admitidos no processo arbitral. Foco de alguma
discussão na doutrina portuguesa foi a admissibilidade de depoimentos de parte
como testemunhas. A posição maioritária ia no sentido de admitir estas provas
desde que não violassem os princípios constitucionais, designadamente as
regras da prova lícita (MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução
Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 200, nota 267).

2. A produção de prova pode, nos termos do art. 21º, n.º 1 da LAV, ser requerida
pela parte interessada ou, oficiosamente, pelo tribunal arbitral.

Em regra, as partes devem apresentar e fazer prova dos factos por si alegados.
Sucede porém que a apresentação de determinada prova pode não ser possível
por iniciativa exclusiva da parte interessada, necessitando esta da colaboração
da outra parte ou de terceiro para que a prova seja conseguida. O art. 519º do
CPC estabelece o princípio da colaboração para a descoberta da verdade,
impondo às partes (à semelhança do que faz o art. 265º do CPC) e a quaisquer
outras pessoas cuja actuação seja necessária à produção da prova a obrigação
de colaborarem com o tribunal, designadamente, respondendo ao que lhes é
perguntado, disponibilizando o que lhes foi solicitado ou praticando os actos que
o tribunal lhes indicou. Caso não se verifique a efectiva colaboração da pessoa
que a isso está adstrita, pode o tribunal judicial determinar, a título sancionatório,
a aplicação de multas e a utilização de quaisquer outros meios ao seu dispor
para trazer ao processo as provas necessárias (art. 519º, n.º 2, 1ª parte do CPC).
Não cumprindo uma das partes o dever de colaboração, o tribunal judicial
apreciará livremente essa recusa (art. 519º, n.º 2 do CPC), podendo determinar
a inversão do ónus da prova (art. 344º, n.º 2 do CC).

Em sede de arbitragem, este princípio de colaboração para a descoberta da


verdade não se faz sentir com a mesma intensidade, devendo ser considerado
como um dever enfraquecido ou imperfeito (JOÃO RAPOSO, “A Intervenção do
Tribunal Judicial na Arbitragem: Nomeação de Árbitros e Produção de Prova”, in
I Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria

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LAV COMENTADA 81/266
Portuguesa, Almedina, Coimbra, 2008, p. 122), uma vez que o tribunal arbitral
carece de força coercitiva para impor às partes ou a terceiros a colaboração
necessária em matéria de produção de prova. Por exemplo, ainda que o tribunal
arbitral notifique as testemunhas para comparecerem e serem ouvidas, essa
notificação é um mero convite, uma vez que o tribunal arbitral não é dotado de
ius imperii para obrigar as testemunhas a comparecerem perante si. Por essa
razão, o legislador angolano previu no art. 18º, n.º 2 da LAV que em caso de
recusa de apresentação de documentos em poder da parte contrária (arts. 528º
e 529º do CPC), recusa de cumprir a requisição de documentos (arts. 535º e
537º do CPC), recusa de prestação de depoimento de parte (art. 552º e ss do
CPC), recusa em testemunhar (art. 616º e ss do CPC), recusa de cumprimento
de deveres de perito (art. 568º e ss do CPC) e recusa de permitir a inspecção de
coisas ou de pessoas (art. 612º e ss do CPC), possa requerer-se que a produção
de prova seja feita perante o tribunal judicial competente. Estamos, assim,
perante mais um exemplo do modo como o tribunal judicial pode intervir no
processo arbitral, prestando assistência ao tribunal arbitral e suprindo as
debilidades que lhe advêm de ser um tribunal constituído exclusivamente com
base na vontade das partes.

3. O requerimento de intervenção do tribunal judicial em matéria de produção de


prova pode ser feito ou por iniciativa da parte interessada, com assentimento
prévio do tribunal arbitral, ou pelo próprio tribunal arbitral, a requerimento de
qualquer das partes, como prevê o art. 21º, n.º 2 da LAV.

Sendo o pedido formulado directamente pelo tribunal arbitral ao tribunal judicial,


entendemos que este deve ser efectuado preferencialmente através de
telegrama (nos termos do art. 176º, n.º 3 do CPC), atento o seu carácter de
urgência, sendo aplicáveis, com as necessárias adaptações as disposições dos
artigos 176º e ss do CPC.

Sendo o pedido formulado através de requerimento apresentado por uma das


partes, ela deve invocar (i) a falta de colaboração da outra parte ou de terceiro
na produção da prova e (ii) a autorização do tribunal arbitral para que a prova
seja produzida perante o tribunal judicial. Bem se compreende que assim seja,
atento o carácter subsidiário da intervenção do tribunal judicial na arbitragem. Só
depois do tribunal arbitral ser chamado a pronunciar-se em relação à falta de
colaboração de uma das partes ou de terceiro na obtenção de determinada
prova, e caso ele conclua pela necessidade da sua efectiva produção, poderá
então a parte interessada requer a intervenção do tribunal judicial.

Tendo a parte interessada requerido a produção de determinada prova perante


o tribunal judicial, sem que o tribunal arbitral se tenha pronunciado nesse sentido,
pode a outra parte invocar perante o tribunal judicial a excepção dilatória de
preterição de tribunal arbitral (art. 494º, n.º 1, al. h) do CPC).

Entendendo o tribunal arbitral que não há necessidade da produção de prova ser


feita em sede judicial, indeferindo a pretensão da parte requerente, resta a esta
alegar este facto em sede de recurso da decisão arbitral (nos casos em que este
seja admitido, de acordo com o art. 36º da LAV).

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LAV COMENTADA 82/266
Este não é um fundamento autónomo de anulação da sentença arbitral, mas
pode haver situações em que um indeferimento por parte do tribunal arbitral
implique violação do princípio do processo equitativo, na sua modalidade de
direito à prova. Se tiver influência decisiva no litígio, é fundamento de anulação
da sentença arbitral. Imagine-se uma situação em que o tribunal arbitral recusa
a prestação de depoimento de uma testemunha essencial (MARIANA FRANÇA
GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina,
Coimbra, 2012, p. 207).

Entende CALVÃO DA SILVA (“Tribunal Arbitral e Providências cautelares” in I


Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria,
Almedina, Coimbra, 2008, p. 102 e 103) que se o pedido de intervenção do
tribunal judicial for tardiamente apresentado, impossibilitando a prolação da
decisão arbitral no prazo estabelecido, deve ser indeferido por inapropriado face
ao estado do processo e à intempestividade da assistência solicitada. Ainda
segundo este autor, o princípio do contraditório deve funcionar também no que
toca ao cumprimento tempestivo do ónus de apresentação e produção de prova,
não sendo nenhuma prova admitida sem audiência da parte contrária, mas
sabendo as partes que, caso não haja acordo entre elas quanto à prorrogação
do prazo da decisão arbitral, o tribunal tem o dever de decidir de acordo com as
provas que puderam ser produzidas no processo.

4. O requerimento para a produção de prova deve, nos termos do art. 21º, n.º 2
da LAV, ser apresentado perante o tribunal judicial do local onde a prova deva
ser produzida, de acordo com as regras de competência do CPC.

Apresentado o requerimento, pode o tribunal judicial indeferi-lo com fundamento


na ilegalidade do pedido (por exemplo, no caso da prova requerida implicar a
violação do sigilo profissional, causar grave dano à honra ou prejuízo de natureza
patrimonial à pessoa que deva realizar a prova, seu ascendente, descendente,
cônjuge ou irmão, nos termos do art. 519º, n.º 3 do CPC). Já não parece aceitável
que o tribunal judicial indefira o requerimento com base na irrelevância da prova
requerida, uma vez que só ao tribunal arbitral cabe aquilatar da pertinência de
determinada prova (no mesmo sentido, JOÃO RAPOSO, “A Intervenção do
Tribunal Judicial na Arbitragem: Nomeação de Árbitros e Produção de Prova”, in
I Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria
Portuguesa, Almedina, Coimbra, 2008, p. 124).

Entendendo a parte requerente que o indeferimento do seu requerimento (ou do


requerimento feito directamente pelo tribunal arbitral) de intervenção do tribunal
judicial, por parte deste, carece de fundamento legal, assiste-lhe o direito de
recorrer nos termos previstos no CPC.

5. Não tendo as partes acordado na convenção de arbitragem, ou não dispondo


o regulamento arbitral para o qual elas remeteram, quanto à suspensão do
processo arbitral enquanto durar a produção de prova perante o tribunal judicial,
deverá entender-se que o mesmo não se suspende. De facto, a LAV nada dispõe
quanto a este aspecto, pelo que se deve entender que o prazo para a prolação
da decisão arbitral (art. 25º, n.º 1 da LAV) continua a correr.

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LAV COMENTADA 83/266
Não obstante, e atendendo a que a LAV não impõe ao tribunal judicial que
assegure a produção da prova num prazo determinado, estima-se que a referida
produção de prova possa introduzir delongas excessivas no processo arbitral.
Por essa razão, e atendendo a que poderá haver o risco real da convenção de
arbitragem caducar (art. 5º, n.º 1, al. c) da LAV) parece-nos que o tribunal arbitral
deverá propor às partes que acordem quanto à suspensão do processo arbitral.
Não se verificando o acordo das partes, não deverá aceitar-se que a parte que
requereu as diligências de produção de prova junto do tribunal judicial possa
invocar a caducidade da convenção de arbitragem, o que constituiria um
verdadeiro abuso de direito (no mesmo sentido, JOÃO RAPOSO, “A Intervenção
do Tribunal Judicial na Arbitragem: Nomeação de Árbitros e Produção de Prova”,
in I Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria
Portuguesa, Almedina, Coimbra, 2008, p. 125).

6. De acordo com o art. 21º, n.º 3 da LAV, o tribunal judicial deve proceder à
produção da prova de acordo com as regras do CPC a que está vinculado.

À produção de prova aplicam-se, consoante o tipo de prova, as regras dos arts.


523º a 645º do CPC. Tendo em conta que a produção de prova requerida no
decurso de processo arbitral tem carácter de urgência, parece justificar-se a
aplicação dos arts. 520º e 521º do CPC, que regulam a produção antecipada de
prova.

Produzida a prova requerida, deve o tribunal judicial remeter os resultados


directamente ao tribunal arbitral onde se desenrola o processo, ainda que o
pedido de produção de prova haja sido efectuado por uma das partes. À
comunicação dos resultados da produção de prova ao tribunal arbitral aplicam-
se as regras relativas ao cumprimento da requisição de actos judiciais, previstas
no art. 176º e ss do CPC. Tendo em conta que o apoio dos tribunais judiciais aos
tribunais arbitrais não se encontra expressamente regulado no CPC, podendo
conduzir a algumas dificuldades no cumprimento do mandato que a LAV lhes
impõe, seria de toda a conveniência introduzir no CPC disposições específicas
quanto a esta matéria (vejam-se as sugestões de MANUEL BARROCAS, “A
Reforma da Lei da Arbitragem Voluntária” in Boletim da Ordem dos Advogados,
n.º 46, Março/Abril, Lisboa, 2007, p. 10).

ARTIGO 22.º
(Medidas provisórias)

1. Salvo convenção das partes em contrário, o Tribunal Arbitral pode,


a pedido de qualquer das partes, ordenar a tomada de medidas provisórias,
relacionadas com o objecto do litígio, nomeadamente a prestação de
garantias que considere necessárias.
2. O disposto no número anterior não impede que as partes
requeiram ao Tribunal Judicial competente nos termos das normas do
processo civil aplicável, os procedimentos nelas previstos que julguem
adequados para prevenir ou acautelar a lesão dos direitos.

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LAV COMENTADA 84/266
1. O art. 22º, n.º 1 da LAV confere expressamente ao tribunal arbitral o poder de
ordenar medidas provisórias no âmbito do processo arbitral, entre as quais se
incluem as providências cautelares. Este entendimento justifica-se porquanto no
ordenamento jurídico angolano não existe qualquer norma que atribua aos
tribunais judiciais competência exclusiva para o decretamento de providências
cautelares. O tribunal arbitral só não poderá decretar providências cautelares no
caso das partes terem afastado essa possibilidade na convenção de arbitragem.

É geralmente aceite que os tribunais arbitrais possam decretar providências


cautelares, a pedido de qualquer das partes, no âmbito de um processo em
curso. Nesse sentido dispõe o art. 17º, n.º 1 da Lei-Modelo da CNUDCI, o art.
23º, n.º 1 do Regulamento da CCI, o art. 21º, n.º 1 do Regulamento da AAA e
muito recentemente a Lei da Arbitragem Voluntária Portuguesa.

O tribunal arbitral poderá, assim, aplicar a providência cautelar que melhor se


adeque a evitar a lesão grave e dificilmente reparável do direito da parte
requerente (art. 399º e ss do CPC). Há, no entanto, limites à competência
cautelar dos tribunais arbitrais que decorrem da inexistência de ius imperii
arbitrais e, logo, de competência executiva. A possibilidade de decretamento de
providências cautelares executivas é, assim, muito duvidosa, assim como não
se admite o decretamento de medidas que impliquem ordens a terceiros.
(PAULA COSTA E SILVA, “A Arbitrabilidade de Medidas Cautelares” in Revista
da Ordem dos Advogados, ano 2003, n.º 63, vols I e II, Lisboa, p. 221 e ss;
MARIANA FRANÇA GOUVEIA, “A Competência Cautelar do Tribunal Arbitral,
em especial as providências executivas e as anti-suit injunctions”, in Estudos em
Homenagem ao Prof. Doutor José Lebre de Freitas, Coimbra, Coimbra Editora
(no prelo).

É essencial que a parte requerente alegue e prove dois requisitos: (i) o periculum
in mora, i.e., o fundado receio ou perigo do seu direito não poder ser satisfeito,
e (ii) o fumus bonus iuris, i.e., a séria probabilidade da existência do direito que
a parte quer acautelar.

Mas se o facto de os tribunais arbitrais determinarem a aplicação de providências


cautelares não suscita dificuldades, já a sua capacidade para fazerem executar
a decisão de aplicação dessas providências está aquém do desejado. Isto
porque os tribunais arbitrais carecem do ius imperii necessário para impor às
partes ou a terceiro a aplicação coerciva das suas decisões. Por este facto, se o
cumprimento da decisão do tribunal arbitral não é efectuado espontaneamente
pelas partes, torna-se necessário requerer a assistência do tribunal judicial
competente (PAULA COSTA E SILVA, “A Arbitrabilidade de Medidas Cautelares”
in Revista da Ordem dos Advogados, ano 2003, n.º 63, vols I e II, Lisboa, p. 221
e ss). A mesma orientação é consagrada no art. 23º, n.º 2 do Regulamento da
CCI, art. 26º, n.º 3 do Regulamento da CNUDCI e art. 21º, n.º 3 do Regulamento
da AAA.

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LAV COMENTADA 85/266
2. As providências cautelares podem ser requeridas antes da acção principal ser
intentada ou na pendência de um processo já em curso, sendo sempre
dependentes da acção principal (art. 384º, n.º 1 do CPC).

Caso a providência cautelar deva ser requerida antes da acção arbitral ter sido
instaurada, ela deve ser requerida directamente perante o tribunal judicial, como
indica o art. 22º, n.º 2 da LAV. De facto, a urgência da providência cautelar
conservatória ou antecipatória, destinada a garantir a efectividade de um direito,
pode não ser compatível com o tempo necessário à constituição do tribunal
arbitral, não devendo o pedido de decretamento de providência cautelar perante
o tribunal judicial ser negado com fundamento em preterição do tribunal arbitral,
sob pena de denegação de justiça (CALVÃO DA SILVA, “Tribunal Arbitral e
Providências cautelares” in I Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de
Comércio e Indústria, Almedina, Coimbra, 2008, p. 103).

O art. 382º, n.º 1 do CPC determina a caducidade da providência cautelar no


caso da acção principal não ser instaurada no prazo de trinta dias a contar do
seu decretamento. Entendemos que este prazo deverá aplicar-se
independentemente da acção a intentar ser de natureza judicial ou arbitral.

O art. 22º, n.º 2 da LAV claramente confere às partes a faculdade de opção entre
o tribunal arbitral e o tribunal judicial para o conhecimento de medidas
provisórias, quer a acção arbitral já tenha ou não sido intentada.

A providência cautelar será deduzida por apenso ao processo principal. Se já


tiver sido proferida decisão arbitral e esta estiver pendente de recurso (art. 36º
da LAV), a apensação far-se-á quando o procedimento cautelar esteja findo.
Neste caso, a audiência da parte requerida antes de ser decretada a providência
cautelar poderá ocorrer ou não, consoante a urgência da providência e a
necessidade de assegurar a efectividade do direito que se pretende acautelar,
devendo aplicar-se o disposto no art. 385º do CPC. Não tendo o requerido sido
ouvido e sendo, depois, notificado da execução ou realização da providência, a
oposição deve fazer-se perante o tribunal ao qual as partes conferiram
competência para dirimir o litígio no âmbito do qual foi decretada a providência.

Consequentemente, sendo a providência cautelar requerida perante o tribunal


judicial, já depois de intentada a acção arbitral, não pode o tribunal judicial
indeferir a pretensão do requerente com fundamento em preterição de tribunal
arbitral (art. 494º, n.º 1, al. h) do CPC).

A providência deve contudo ser sempre intentada perante o tribunal judicial nos
casos em que se destine a produzir efeitos em relação a terceiros (como no caso
de arresto de bens de terceiros), atenta a eficácia inter partes da convenção de
arbitragem que limita a actuação do tribunal arbitral; os embargos de terceiro
deverão também ser deduzidos perante o tribunal judicial competente.

Também nos parece que o tribunal arbitral poderá fazer depender o


decretamento de determinada providência da prestação de caução por parte do
requerido (art. 387º, n.º 3 do CPC), sendo o respectivo valor fixado livremente
pelo tribunal.

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LAV COMENTADA 86/266
Nos casos em que a providência cautelar venha a caducar por facto imputável
ao requerente ou for considerada injustificada, ele responderá pelos danos
causados (art. 387º, n.º 1 do CPC).

3. O tribunal judicial é também chamado a intervir, nos termos do art. 22º, n.º 1
da LAV, para assistir o tribunal arbitral na execução da providência cautelar que
este haja decretado. Isto porque se a providência cautelar não for acatada pela
parte que a ela está adstrita, o tribunal arbitral não a pode impor coercivamente,
sendo necessário socorrer-se do poder de execução do tribunal judicial.

À execução da providência cautelar pelo tribunal judicial aplicam-se as regras


relativas à execução da sentença arbitral (art. 37º, 38º e 39º da LAV). O mesmo
é dizer que o tribunal judicial só é chamado a assegurar a execução da
providência cautelar, não tendo competência para a rever, modificar ou substituir
por outra que entenda mais adequada, o que se justifica atenta a natureza
subsidiária e meramente auxiliar da intervenção do tribunal judicial na
arbitragem.

4. O tribunal judicial que será chamado a assistir o tribunal arbitral, quer no


decretamento de providências cautelares antes ou depois de instaurada a acção
arbitral quer na execução das providências que o tribunal arbitral tenha
decretado no decurso do processo, será aquele que, nos termos do art. 83º do
CPC, deva considerar-se competente.

5. Entendendo a parte requerida que a providência cautelar decretada pelo


tribunal arbitral está ferida de alguma das ilegalidades previstas no art. 34º da
LAV (aplicável, com as necessárias adaptações, às providências cautelares, v.g.
a exclusão do contraditório – art. 34º, n.º 1 al. f) e al. b) do art. 18º da LAV),
poderá requerer a sua anulação ao tribunal judicial competente.

ARTIGO 23.º
(Honorários)

A remuneração dos árbitros e dos outros intervenientes no


processo, bem como a sua repartição entre as partes, deve ser objecto de
acordo entre as partes e os árbitros a menos que resulte de regulamentos
de arbitragem escolhidos nos termos do artigo 16.º da presente lei.

1. A remuneração do árbitro encontra a sua justificação no facto de a experiência


e a competência terem um custo, para além da responsabilidade que o árbitro é
chamado a assumir. No entanto, não é de excluir que o árbitro possa intervir pro
bono, embora sejam raríssimos os casos em que o árbitro presta os seus
serviços sem contrapartida pecuniária. O Código de Processo Civil Italiano, por
exemplo, prevê explicitamente que aos árbitros é reconhecido o direito ao
reembolso das despesas que tenham efectuado e ao pagamento dos seus
honorários, a não ser que tenham renunciado a tais direitos

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LAV COMENTADA 87/266
(FOUCHARD/GAILLARD/GOLDMAN, On International Commercial Arbitration,
Kluwer 1999, n.º 1159).

2. A determinação da remuneração dos árbitros deve levar em consideração os


interesses em presença (valor do litígio), a complexidade do litígio, o tempo gasto
e outras circunstâncias excepcionais ou específicas do caso.

3. No âmbito da arbitragem institucionalizada, os regulamentos de arbitragem


prevêem mecanismos complexos, que fixam a remuneração em função do
montante dos pedidos formulados, tomando ainda em consideração o tempo que
os árbitros dedicam ao caso. Nas arbitragens ad hoc, os árbitros são, em regra,
directamente escolhidos pelas partes e, na prática, pelos seus advogados.
Sendo a arbitragem organizada conjuntamente pelas partes e pelos árbitros, o
montante dos honorários deverá resultar de acordo entre as partes e os árbitros;
usualmente os árbitros propõem um valor que os litigantes aceitam, recusam ou
negoceiam.

4. A determinação da remuneração não pode ser confundida com a sua


repartição. A determinação da remuneração e respectiva repartição, em
conformidade com o art. 23º da LAV, é matéria sujeita a acordo entre as partes
e os árbitros. Na falta desta disposição, os árbitros teriam competência para
decidir unilateralmente na sentença a repartição desigual ou a assumpção inteira
da sua remuneração por uma das partes litigantes.

5. Ao estabelecer que a remuneração dos árbitros e dos outros intervenientes no


processo, bem como a sua repartição entre as partes, deve ser objecto de acordo
entre as partes e os árbitros (a menos que resulte de um regulamento de
arbitragem escolhido nos termos do art. 16º da LAV), este artigo consagra de
forma implícita o princípio fundamental de proibição de qualquer arranjo ou
combinação de natureza financeira entre o árbitro e a parte que o designou. As
regras da International Bar Association (IBA) também adoptam esse princípio
que constitui uma salvaguarda vital para a independência dos árbitros.
(FOUCHARD/GAILLARD/GOLDMAN, On International Commercial Arbitration,
Kluwer, 1999, n.º 1160).

6. Tendo os honorários dos árbitros sido fixados de comum acordo entre as


partes e os árbitros, não se coloca a questão de saber se a pedido das partes o
tribunal judicial poderá rever o quantum desses honorários. Contudo, tais
honorários poderão ser reduzidos ou restituídos total ou parcialmente às partes
se os árbitros falharam no desempenho das suas funções.

7. As partes são geralmente obrigadas a fazer um pagamento provisional para


cobrir os custos da arbitragem, que inclui os honorários dos árbitros e outros
encargos da arbitragem, em parcelas a acordar entre a parte requerente e a
requerida. A remuneração dos árbitros é, na maioria de casos, percebida antes
da prolação da sentença (no mesmo sentido, NOUGEIN/ REINARD/ ANCEL/
RIVIER/ BOYER/ GENIN, Guide Pratique de l’Arbitrage et de la Médiation
Commerciale, LexisNexis Litec, Éditions du Juris-Classeur, 2004, pp. 103 e ss.).

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LAV COMENTADA 88/266
8. O Regulamento da CCI, no seu art. 31º, prevê que (i) os custos da arbitragem
deverão incluir os honorários e despesas dos árbitros e os custos administrativos
da CCI (estabelecidos pela CCI em conformidade com a tabela em vigor no início
do procedimento arbitral), bem como os honorários e despesas de quaisquer
peritos nomeados pelo Tribunal Arbitral, e as despesas razoáveis incorridas
pelas partes para sua defesa, e que (ii) a sentença final do tribunal arbitral fixará
os custos da arbitragem, e decidirá qual das partes arcará com o seu pagamento,
ou então, qual a proporção que cada parte suportará.

Tratando-se de um ónus, a falta de pagamento dos custos pode implicar


diferentes efeitos consoante se trate de incumprimento do requerente ou do
requerido. No primeiro caso, implica o não prosseguimento do processo a partir
do último dia em que o preparo era devido. No segundo, o processo não se
suspende, podendo o requerente da arbitragem proceder ao pagamento,
substituindo-se ao requerido em falta, já que tem interesse numa decisão arbitral
sobre o objecto do litígio. Neste caso, o requerido faltoso deve ser condenado
no reembolso ao requerente do montante desembolsado em sua substituição.
Sempre que se tratar de honorários, pode o árbitro recusar a continuação da sua
intervenção no processo arbitral, com fundamento na excepção de
incumprimento por ambas as partes do seu contrato de árbitro, na medida em
que existe uma relação obrigacional e solidária entre as partes e o árbitro. Tem-
se entendido que, mesmo antes do laudo arbitral final que determinar a
responsabilidade pelos custos totais, de acordo com o art. 27.º n.º 5 da LAV,
pode, a pedido da parte não faltosa, ser proferida uma decisão interlocutória
parcial que condene no reembolso dos valores pagos em substituição do faltoso
(MANUEL PEREIRA BARROCAS, Manual de Arbitragem, Almedina, Coimbra,
2010, pp. 395-396). Diferentes posições são, por vezes, tomadas pelos árbitros,
tais como deixar de proferir o laudo arbitral ou notificar as partes da decisão com
a expressa menção da sua invalidade para execução.

9. Os honorários percebidos pelo árbitro originam obrigações de natureza fiscal.


Na verdade, os honorários pagos ao árbitro não incluem quaisquer impostos ou
taxas eventualmente aplicáveis (constituem valores líquidos), devendo esses
impostos ou taxas ser suportados pelas partes. O art. 2º, n.º 9 do Anexo III do
Regulamento de Arbitragem da CCI estatui nesse sentido.

10. Para fins ilustrativos, reproduzimos abaixo a tabela de honorários de árbitro,


aplicada pela CCI a todos os processos iniciados a partir de 1 de Janeiro de
2012:

Valor em disputa Honorários


(em Dólares Americanos)
Mínimo Máximo

Até 50 000 $ 3,000 18,0200%

De 50 001 até 100 000 2,6500% 13,5680%

De 100 001 até 200 000 1,4310% 7,6850%

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LAV COMENTADA 89/266
De 200 001 até 500 000 1,3670% 6,8370%

De 500 001 até 1 000 000 0,9540% 4,0280%

De 1 000 001 até 2 000 000 0,6890% 3,6040%

De 2 000 001 até 5 000 000 0,3750% 1,3910%

De 5 000 001 até 10 000 000 0,1280% 0,9100%

De 10 000 001 até 30 000 000 0,0640% 0,2410%

De 30 000 001 até 50 000 000 0,0590% 0,2280%

De 50.000.001 até 80.000.000 0,0330% 0, 1570%

De 80.000.001 até 100.000.000 0,0210% 0,1150%

De 100 000 001 até 500.000.000 0,0110% 0,0580%

Acima de 500.000.000 0,0100% 0,0400%

CAPÍTULO IV
Do Julgamento

ARTIGO 24.º
(Direito aplicável)

1. As partes podem acordar na Convenção de Arbitragem ou em


escrito posterior que o Tribunal Arbitral julgue segundo a equidade ou
segundo determinados usos e costumes, quer internos quer
internacionais.
2. Na falta de acordo, o Tribunal Arbitral julga segundo o direito
constituído.
3. Nas decisões tomadas com base nos usos e costumes, o Tribunal
Arbitral é obrigado a respeitar os princípios de ordem pública do direito
positivo angolano.

1. O pressuposto fundamental da faculdade conferida às partes de sujeitarem o


contrato a uma lei por si escolhida é a internacionalidade do mesmo. De outro
modo, permitir-se-ia que as partes se subtraíssem às disposições imperativas da
lei manifestamente aplicável à respectiva relação jurídica (DÁRIO MOURA
VICENTE, Da Arbitragem Comercial Internacional – Direito Aplicável ao Mérito
da Causa, Coimbra Editora, Coimbra, 1990, pp. 112-113). As partes podem
sempre acordar que o tribunal arbitral julgue segundo a equidade ou aplicando
os usos e costumes internos ou internacionais (lex mercatoria).

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LAV COMENTADA 90/266
2. Designa-se por juízo de equidade aquele em que o juiz resolve o litígio de
acordo com um critério de justiça, sem recorrer a uma norma jurídica pré-
estabelecida. Julgar segundo a equidade significa, pois, dar a um conflito a
solução que parece ser a mais justa, atendendo apenas às características da
situação e sem recurso à lei eventualmente aplicável. A equidade tem,
consequentemente, conteúdo indeterminado, variável, de acordo as concepções
de justiça dominantes em cada sociedade e em cada momento histórico.
Independentemente da questão de saber se é ou não fonte de direito, o certo é
que a equidade pode constituir um critério de correcção na aplicação do direito.
(ANA PRATA, Dicionário Jurídico, 4ª ed., Almedina, Coimbra, 2006, p. 499;
AAVV, Lexique des termes juridiques, 16è éd., Dalloz, 2007, p. 281).

3. A doutrina tem distinguido no conceito de equidade dois critérios de decisão:


um denominado substitutivo ou forte, em que a equidade substitui o direito
constituído; outra integradora ou fraca, em que a equidade adequa a regra
jurídica decorrente da lei ao caso concreto. Tem-se entendido que o conceito
constante da LAV é o da equidade forte (MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso
de Resolução Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p.
234).

4. Subsiste uma controvérsia sobre a questão de saber se existe ou não uma


diferença entre o julgamento segundo a equidade, ex aequo et bono, e a
composição amigável, amiable composition. A diferença para alguns autores
consiste no seguinte: no julgamento segundo a equidade não se tem em conta
a aplicação de normas legais, mesmo que sejam obrigatórias, mas no julgamento
de composição amigável, o árbitro aplica o direito, moderando apenas os efeitos
da lei aplicada. (LALIVE/POUDRET/ REYMOND, Le Droit de l’Arbitrage Interne
et International en Suisse, 1989, n.º 401). Outros autores defendem que a
distinção entre a composição amigável e a equidade é fictícia, uma vez que, em
ambos os casos, os árbitros podem escolher a solução que melhor reflicta,
segundo eles, o sentido de justiça. Salvo disposição convencional contrária, os
árbitros julgando como amigáveis compositores são livres de aplicar uma lei
nacional como ponto de partida e excluir os seus efeitos se necessário, ou de
procurar directamente a solução que consideram a mais apropriada ao caso
concreto (FOUCHARD/GAILLARD/GOLDMAN, On International Commercial
Arbitration, Kluwer Law International, 1999, n.º 1502, p. 836). O conceito tem
ainda sido reconduzido a uma equidade forte, delimitada por princípios jurídicos
irrevogáveis próprios da comunidade de negócios internacional e ponderada
com uma necessidade de aplicar a solução que mais se adequa aquilo que as
partes aceitariam (ANTÓNIO SAMPAIO CARAMELO, A Reforma da Lei de
Arbitragem Voluntário, in Revista Internacional de Arbitragem e Mediação, 2009,
p. 34; MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa de
Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 236).

5. A autorização para um julgamento segundo a equidade deve ser expressa. No


mesmo sentido, dispõe a Lei-Modelo da CNUDCI (art. 28º, n.º 3). Esta
autorização não pode resultar da remissão para o regulamento de um centro
institucionalizado de arbitragem que estabeleça, por exemplo, que os árbitros
julgarão, na falta de convenção das partes em contrário, segundo a equidade. A

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LAV COMENTADA 91/266
LAV exige que a autorização conste da convenção de arbitragem ou de
documento posterior subscrito pelas partes, o que exclui que a mesma possa
resultar de uma simples remissão para um regulamento que preveja a equidade
como critério de julgamento (LUÍS DE LIMA PINHEIRO, Direito Comercial
Internacional, Almedina, Coimbra, 2005, p. 419).

6. Nos termos do n.º 3 do art. 27º da LAV, a fundamentação da decisão proferida


segundo a equidade basta-se com a declaração dos factos dados como
provados.

7. Nos termos do n.º 3 do art. 36º da LAV, a faculdade atribuída ao tribunal arbitral
para julgar segundo a equidade implica a renúncia aos recursos.

8. Na falta de acordo entre as partes para que o tribunal arbitral conheça do


mérito da causa aplicando princípios de equidade ou segundo os usos e
costumes, este deverá julgar segundo o direito constituído. O direito constituído
a que se faz referência no art. 24º, n.º 2 da LAV é, necessariamente, o direito
angolano, uma vez que no âmbito do direito privado interno não se concebe que
o árbitro aplique uma eventual lei que venha a ser determinada pela regra de
conflitos julgada adequada.

Em sentido contrário, dispõe o art. 19º da Lei de Arbitragem da Guiné-Bissau


quando estabelece que “as partes são livres de determinarem o direito que o
árbitro deve aplicar ao fundo da causa”. Na parte final desta disposição legal,
consagra-se o seguinte regime supletivo: “na ausência de indicação pelas partes
do direito aplicável, o árbitro aplica a lei designada pela regra do conflito que
julgar adequada”, o que pode conduzir a dificuldades práticas na sua
determinação (ver ABREU/D’AVILA/MANÉ/CAMPOS, A Arbitragem Voluntária e
a Mediação de Conflitos, Almedina, Coimbra, 2008, p. 128).

9. Nas decisões tomadas com base nos usos e costumes, o tribunal arbitral é
obrigado a respeitar os princípios de ordem pública do direito positivo angolano.
Sabe-se que Angola, tal como a maioria dos Estados africanos, tem um direito
costumeiro muito enraizado, v.g. o papel central que os Sobas vêm assumindo
na aplicação desse direito. O costume é uma prática social, reiterada, uniforme
e constante, seguida da convicção da sua obrigatoriedade (opinio juris).
Diversamente do costume, o uso é a prática socialmente generalizada,
desacompanhada da convicção da obrigatoriedade da sua adopção.

O respeito pelos usos e costumes angolanos deverá, não obstante, observar os


limites do art. 3º, n.º 1 do CC, que estabelece que “os usos que não forem
contrários aos princípios da boa-fé são juridicamente atendíveis quando a lei o
determine” (ABREU/D’AVILA/MANÉ/CAMPOS, A Arbitragem Voluntária e a
Mediação de Conflitos, Almedina, Coimbra, 2008, p. 33).

Note-se que, nos termos do art. 38º al. d) da Lei n.º 18/88, de 31 de Dezembro,
sobre o sistema unificado de justiça, os tribunais municipais podem conhecer de
questões cíveis, independentemente do valor da causa, quando as partes
estiverem de acordo com a aplicação exclusiva dos usos e costumes não
codificados, sempre que a lei o permita.

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LAV COMENTADA 92/266
E o art. 7º da Constituição da República de Angola expressamente reconhece a
validade e a força jurídica do costume que não seja contrário à Constituição nem
atente contra a dignidade da pessoa humana.

10. A ordem pública é formada pelo complexo dos princípios e dos valores que
enformam a organização política, económica e social da nossa sociedade e que
são, por isso, tidos como inerentes ao respectivo ordenamento jurídico. A ordem
pública constitui expressão e instrumento do interesse público e do bem comum,
tal como definidos pela colectividade, e correspondendo geralmente aos grandes
princípios consagrados na parte programática da Constituição da República . A
ordem pública não inclui todas as normas injuntivas: o critério de determinação
tem de ser muito mais fino, dependendo de uma análise concreta da regra não
aplicada e dos princípios que lhe subjazem, que a justificam (MARIANA FRANÇA
GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina,
Coimbra, 2012, p. 277).

Seguindo ANTÓNIO MARQUES DOS SANTOS, as leis de ordem pública são as


que garantem o respeito pelos princípios superiores de ordem moral e dos bons
costumes, tal como são entendidos num certo país, bem como as que
salvaguardam os princípios fundamentais da ordem económica (ANTÓNIO
MARQUES DOS SANTOS, As Normas de Aplicação Imediata no Direito
Internacional Privado, Esboço de uma Teoria Geral, 4ª ed, Vol. II, Almedina,
Coimbra, p. 705). Já nas palavras de JOÃO BAPTISTA MACHADO, “Em direito
interno costuma qualificar-se como de ordem pública (ordem pública interna)
aquelas normas e princípios jurídicos absolutamente imperativos que formam os
quadros fundamentais do sistema, sobre eles se alicerçando a ordem
económico-social, pelo que são, como tal, inderrogáveis pela vontade dos
indivíduos. Seriam, assim, de ordem pública, entre outras, aquelas normas que
estabeleçam as regras fundamentais da organização económica, as que visam
garantir a segurança do comércio jurídico e proteger terceiros, as que tutelam a
integridade física dos indivíduos e a independência da pessoa humana e
protegem os fracos e incapazes, visando satisfazer um interesse geral da
colectividade, etc.” (JOÃO BAPTISTA MACHADO, Lições de Direito
Internacional Privado, 3ª Edição, Coimbra, Almedina,1995, p. 254).

11. Os usos do comércio internacional são a principal fonte da lex mercatoria,


segundo a teoria que lhe atribui a natureza de ordem jurídica autónoma. Os usos
comerciais são práticas generalizadas em certos meios económicos, que
nascem da prática reiterada uniforme e constante de certos comportamentos –
v.g. a inserção habitual de determinadas cláusulas em contratos celebrados
entre comerciantes –, que devem verificar-se durante um intervalo de tempo
significativo para que possam ser atendíveis (DÁRIO MOURA VICENTE, Da
Arbitragem Comercial Internacional – Direito Aplicável ao Mérito da Causa,
Coimbra Editora, Coimbra, 1990, p. 159).

ARTIGO 25.º
(Prazo para decisão)

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LAV COMENTADA 93/266
1. Salvo se de outra forma for estabelecido em Convenção de
Arbitragem ou em escrito posterior até à aceitação do primeiro árbitro, a
sentença arbitral deve ser proferida no prazo de seis meses a contar da
data da aceitação do último árbitro designado.
2. As partes podem, por acordo escrito, prorrogar o prazo
convencionado ou, na falta de convenção, o estabelecido no número
anterior.
3. Os árbitros que, sem fundamento justo, impedirem que a decisão
arbitral seja tomada dentro do prazo respondem, nos termos da lei, pelos
prejuízos causados.

1. O tribunal arbitral não é uma jurisdição permanente, constituindo-se apenas


quando há lugar à resolução de um litígio concreto. Cabe às partes, em relação
a cada litígio concreto, determinar o prazo no qual a decisão arbitral deve ser
tomada, atendendo à complexidade do litígio e à disponibilidade dos árbitros.
Não se aconselha a determinação de prazos muito curtos que poderão revelar-
se difíceis de cumprir.

Note-se que a LAV impõe expressamente a responsabilidade do árbitro que,


tendo aceite o encargo, se escuse injustificadamente ao exercício da sua função
(art. 9º, n.º 3 da LAV) e do árbitro que injustificadamente obste a que a decisão
seja proferida no prazo fixado (art. 25º, n. 3 da LAV).

2. Na falta de fixação pelas partes do prazo para a prolação da sentença arbitral,


esta deverá ser proferida no prazo supletivo de seis meses a contar da data da
aceitação do último árbitro designado (art. 25º, n.º 1 da LAV). Havendo
necessidade de prorrogar o prazo para a tomada de decisão, não podem os
árbitros decidir de per si essa prorrogação, devendo a mesma ser convencionada
por escrito pelas partes. De facto, ao prescrever o prazo de seis meses para o
tribunal arbitral proferir a sentença, o legislador quis precisamente negar aos
árbitros a possibilidade de, discricionariamente, prorrogarem o prazo para a
decisão.

O legislador angolano exige que a prorrogação seja expressamente acordada


pelas partes, por escrito. No entanto, como se explicará mais detalhadamente
infra, doutrina e jurisprudência têm entendido que a invocação da caducidade da
convenção quando a parte se manteve na arbitragem pode constituir abuso de
direito e, em consequência, impedir a anulação da sentença arbitral (MARIANA
FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2ª Edição,
Almedina, Coimbra, 2012, p. 241).

3. As partes podem prever que, caso se verifique a necessidade de alguma


medida de instrução (como por exemplo, a produção de prova pericial) o prazo
para a prolação da decisão arbitral seja suspenso até ao termo da referida
medida de instrução (i.e. até à entrega do relatório do perito). Na ausência de
acordo das partes, considera-se que o prazo fixado para a prolação da decisão
final continua a correr, não podendo os árbitros tomar unilateralmente a decisão
de o suspender.

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LAV COMENTADA 94/266
4. De acordo com o art. 5º, n.º 1, al. c) da LAV, o compromisso arbitral caduca e
a cláusula compromissória deixa, no que respeita ao litígio submetido à decisão
do tribunal arbitral, de produzir efeito, quando a decisão não for proferida nos
prazos estabelecidos.

Deve presumir-se que a vontade de resolver um diferendo por via arbitral,


expressa pelas partes na convenção de arbitragem, deixa de existir a partir do
momento em que esta caduca (art. 5º da LAV). Caso a convenção de arbitragem
assuma a forma de compromisso arbitral, este caducará findo o prazo
determinado para a prolação da decisão arbitral (art. 5º, n.º 1, al. c) da LAV),
remetendo as partes para a resolução do litígio junto dos tribunais judiciais.
Contrariamente, se a convenção de arbitragem assumir a forma de cláusula
compromissória apenas deixará de produzir efeitos em relação ao concreto litígio
submetido ao tribunal arbitral, podendo as partes requerer a constituição de um
novo tribunal arbitral para apreciar outro litígio (ANTOINE MASSON,”La durée
de l’arbitrage au vu de l’arrêt de la Cour de Cassation du 7 novembre 2002”, in
Les Cahiers de l’Arbitrage, Vol. II, Gazette du Palais, 2004, p.95).

Em face do direito brasileiro, CLÁVIO VALENÇA FILHO afirma que se torna


passível de impugnação a sentença proferida fora do prazo legal de seis meses
ou após a expiração de qualquer outro prazo imposto pelas partes para a
prolação da sentença. O escopo da norma é a simples protecção de interesses
privados das partes, ávidas por uma prestação jurisdicional célere – motivo,
alías, da sua opção pela via arbitral. Tal vício conduziria à anulabilidade da
sentença e nunca à sua inexistência ou nulidade. O prazo tem como finalidade
proteger as partes, resguardá-las contra um tribunal que não decide e, em
simultâneo, da validade de uma convenção que não lhes permite o recurso ao
tribunal judicial (CLÁVIO VALENÇA FILHO, “Sentença Arbitral Inexistente”, in
Reflexões sobre Arbitragem, LTR, 2002, p. 369; vide também NOUGEIN/
REINARD/ ANCEL/ RIVIER/ BOYER/ GENIN, Guide Pratique de l’Arbitrage et
de la Médiation Commerciale, LexisNexis Litec, Éditions du Juris-Classeur, 2004,
pp. 54 e ss; MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa de
Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 240 ss).

5. A prorrogação do prazo deve ser decidida pelas partes antes de terminar o


prazo inicialmente fixado para a prolação da sentença, devendo o tribunal arbitral
velar para que a autorização das partes se obtenha em tempo útil. Não nos
parece que no direito angolano seja possível aos árbitros recorrerem ao tribunal
judicial para que lhes seja concedido o direito de estender o prazo para emitirem
a decisão final, à semelhança do que se passa no direito francês. Não vemos,
porém, qualquer inconveniente para que as partes, na convenção de arbitragem,
concedam aos árbitros a prerrogativa de prorrogarem o prazo para a decisão
arbitral, em caso de necessidade, desde que seja indicado na referida convenção
o período máximo de prorrogação (no mesmo sentido, BERTRAND MOREAU,
“A propos de la prorogation de la durée de l’arbitrage par le tribunal arbitral”, in
Les Cahiers de l’Arbitrage, Vol. II, Gazette du Palais, 2004, p. 92).

6. Ainda que o prazo da decisão arbitral tenha sido ultrapassado, se as partes


se mantiverem no processo, i.e., se os litigantes continuarem a participar
activamente no julgamento, a decisão arbitral que vier a ser proferida deve ser

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LAV COMENTADA 95/266
considerada válida, desde que, claro está, não enferme de vícios que a tornem
susceptível de ser objecto de uma acção de anulação (com um outro fundamento
que não o da incompetência do tribunal fundada na caducidade da convenção
de arbitragem).

Assim, se alguma das partes pretender intentar uma acção de anulação com
fundamento na caducidade da convenção arbitral por decurso do prazo para a
prolação da decisão final, deverá, no momento adequado, entregar no tribunal
arbitral um requerimento pedindo que ele se declare incompetente com
fundamento na caducidade da convenção de arbitragem, não mais participando
activamente no processo, limitando-se a comparecer às diligências para que seja
convocada sem qualquer outro tipo de intervenção. Deste modo, a parte
assegura que será notificada da decisão final proferida pelo tribunal arbitral, o
que lhe permitirá intentar a respectiva acção de anulação da decisão final (uma
vez que a LAV não lhe permite recorrer das decisões arbitrais interlocutórias).

Às partes que continuem a participar activamente no processo não deverá ser


reconhecido o direito de intentarem uma acção de anulação da decisão arbitral
com fundamento na incompetência do tribunal, quando esta se fundamente na
caducidade da convenção arbitral pelo decurso do prazo convencionado para a
prolação da sentença.

Parece-nos que a função do requerimento a apresentar pela parte que deseja


invocar a incompetência do tribunal é a de provocar uma decisão interlocutória
do tribunal arbitral, na qual este se pronuncie sobre a ultrapassagem, ou não, do
prazo da prolação da sentença. Esta decisão deve ser obrigatoriamente
fundamentada (MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa
de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 240; FERNANDA DA SILVA
PEREIRA, Arbitragem Voluntária – Impugnação de Sentenças Arbitrais, Petrony,
Lisboa, 1999, p. 80).

6. De acordo com o n.º 1 do art. 20º da LAV, a instância arbitral tem início na
data da notificação da arbitragem ao demandado, mas só se desenrola perante
o tribunal a partir da notificação às partes da nomeação de todos os árbitros, em
harmonia com os artigos 13º e 14º, ambos da LAV.

O prazo de caducidade da convenção de arbitragem com fundamento em


ultrapassagem do prazo para a prolação da decisão final conta-se a partir do
momento em que o último árbitro tenha sido designado (e tenha aceite o
encargo), ficando assim completa a constituição do tribunal arbitral.

Com o intuito de salvar da anulação algumas sentenças arbitrais proferidas fora


do prazo legal estabelecido na lei, a jurisprudência francesa determinou que: (i)
as partes podem substituir a data legal pela data convencional de início do
desenrolar do processo arbitral; (ii) este acordo pode ser expresso ou tácito; (iii)
deve ser definitivo, e não um simples acordo de princípio e, por fim, (iv) a missão
do árbitro deve ser una e claramente definida (Cass. 2e civ., 5 avril 1994, Revue
de l’Arbitrage 1995, n.º 1, p. 85 ; Cass. Civ., 11 juillet 1882, D. 1883. 1208 ; Cass.
Com, 17 juin 1997, Lucarnex c/ Negobeureuf ; Trib. Gr. Inst. Paris, European
country Hotels, 10 mai 1989, Revue de l’Arbitrage, 1994, p. 538, obs. Fouchard

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LAV COMENTADA 96/266
et aussi C. Paris, 5 mai 1994, Bonin ; C. Lyon, 1er juillet 1993, Roche c/ Finapar,
et Cass. 2e civ., 5 avril 1994 ; Ver ANTOINE MASSON, “La durée de l’Arbitrage
au vu de l’arrêt de la Cour de Cassation du 7 novembre 2002”, in Les Cahiers de
l’Arbitrage, Vol. II, sous la direction de Alexis Mourre, Gazette du Palais, 2004,
pp. 94 e ss.).

A nova Lei da Arbitragem Voluntária Portuguesa estabeleceu um prazo de 1 ano


para a prolação da sentença arbitral, prazo que pode ser prorrogado por decisão
dos árbitros desde que não haja oposição simultânea de ambas as partes. As
novas regras, constantes do artigo 43.º daquele diploma, conferem alguma
estabilidade ao tribunal arbitral e, por outro lado, permitem a protecção das
partes caso queiram pôr fim a um tribunal arbitral incompetente (MARIANA
FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2ª Edição,
Almedina, Coimbra, 2012, p. 240 ss).

ARTIGO 26.º
(Deliberação)

1. Quando forem vários os árbitros, a decisão é tomada com a


presença de todos e por maioria simples, salvo se, por convenção das
partes, for exigível maior número de votos.
2. As partes podem convencionar, para a hipótese de não se formar
a maioria exigida, que a decisão seja tomada pelo árbitro-presidente ou que
o litígio seja decidido no sentido do voto por ele expresso.
3. As partes podem acordar ou os árbitros, por unanimidade,
resolver que as questões processuais suscitadas no decurso da
arbitragem sejam decididas pelo árbitro-presidente.

1. A deliberação é uma condição sine qua non da tomada da decisão arbitral.


Não pode existir sentença sem prévia deliberação, nomeadamente nos tribunais
arbitrais colegiais. Mesmo um árbitro único delibera no seu íntimo. A deliberação
implica: (i) a obrigação do tribunal arbitral fixar a data em que o processo entrará
na fase de deliberação, (ii) a obrigação de organizar a deliberação, (iii) de nela
participarem os árbitros e (iv) de deliberarem sobre todas as questões litigiosas.
A fixação da data em que o processo entra na fase de deliberação é de extrema
importância porquanto permite, de forma precisa, encerrar a fase processual,
determinando os prazos de troca de peças processuais e informar os litigantes
acerca da duração da fase processual (THOMAS CLAY, L’Arbitre, Dalloz, Paris,
2001, n.º 816, p. 626).

2. A decisão arbitral formar-se-á no decurso da deliberação, que deverá ocorrer,


por determinação legal, na presença de todos os árbitros. Poderão ser realizadas
várias reuniões dos árbitros até que a decisão arbitral se encontre totalmente
formada. Poderá questionar-se se a deliberação pode ser tomada por telefone,
videoconferência ou através de voto escrito (mediante memorando escrito dum
árbitro dirigido aos demais), uma vez que o n.º 1 do art. 26º da LAV exige que a
decisão seja tomada com a presença de todos os árbitros. No tocante à
arbitragem interna, entende a melhor doutrina que a participação dos árbitros
deve ser física e simultânea. Quanto à arbitragem internacional, parece que ser

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LAV COMENTADA 97/266
de aceitar que a deliberação não seja presencial, tendo em conta que poderá ser
difícil promover reuniões pessoais e conjuntas com todos os árbitros, podendo a
deliberação ter lugar “par lettres, par téléx, par fax”. (MÁRIO RAPOSO, “A
Sentença Arbitral” in Revista da Ordem dos Advogados, Ano 65, Vol. II, Lisboa,
Set. 2005, também disponível em www.oa.pt).

3. Para MÁRIO RAPOSO, a deliberação final é uma “operação essencial”,


mesmo quando não expressamente regulada ou sequer referida nas leis de
arbitragem. A participação dos árbitros pessoal e simultaneamente na
conferência final continua a ser a melhor forma de deliberar (MÁRIO RAPOSO,
“A Sentença Arbitral” in Revista da Ordem dos Advogados, Ano 65, Vol. II,
Lisboa, Set. 2005, também disponível em www.oa.pt;). Também CLAUDE
REYMOND fala do debate contraditório com viva impressividade, sublinhando
que é dele que “jaillit la lumière”, ou, como dizia um juiz inglês, uma “good
disputing” é a melhor forma de captar o bom direito (CLAUDE REYMOND, “Le
président du tribunal arbitral”, in Études offertes à Pierre Bellet, ed. Litec, Paris,
1991, p. 476).

4. Quando a decisão arbitral é tomada por maioria simples, não existe em regra
necessidade de conferir ao árbitro-presidente um voto de qualidade, tendo em
conta a composição obrigatoriamente ímpar do tribunal arbitral. Inversamente,
quando as partes tiverem convencionado um maior número de votos para a
tomada de decisão, é desejável que atribuam também ao árbitro presidente a
prerrogativa de, em caso de impasse (por exemplo, no caso da maioria
qualificada exigida não se verificar), a decisão ser tomada no sentido do voto do
árbitro presidente.

5. De acordo com MÁRIO RAPOSO, resulta da Lei da Arbitragem Voluntária


Portuguesa que a injustificada recusa do árbitro em participar na deliberação
regularmente convocada obsta a que esta se realize. Mas, no caso dela mesmo
assim se realizar, nem por isso será anulável, desde que tenha sido respeitado
o princípio do contraditório. Entretanto, o árbitro que se recusou a participar na
deliberação incorre em responsabilidade civil por violação do contrato de árbitro,
“através do qual fica vinculado a uma obrigação de prestação de serviço – a
obrigação de decidir, dentro de determinado prazo, o litígio submetido à sua
apreciação” (MÁRIO RAPOSO, “A Sentença Arbitral” in Revista da Ordem dos
Advogados, Ano 65, Vol. II, Lisboa, Set. 2005, disponível em www.oa.pt). Este
entendimento é, em nossa opinião, aplicável no que concerne à LAV.

6. Alguns regulamentos (por ex., o art. 48º, n.º 4 da Convenção CIRDI) admitem
que as opiniões dissidentes dos árbitros possam ser expressas na decisão e
comunicadas às partes. Mas este entendimento não é pacífico, existindo alguma
controvérsia acerca da utilidade da divulgação das opiniões dissidentes.
Para LEVY/DE BOISSÉSSON, a crítica aberta da decisão arbitral tomada pela
maioria de árbitros reforça a legitimidade dos processos arbitrais e provoca uma
maior reflexão quanto à fundamentação da sua decisão por parte dos árbitros
maioritários. Por outro lado, tais opiniões contrárias à decisão final proporcionam
uma certa satisfação aos árbitros ou às partes que se revejam nelas. A
divulgação das opiniões dissidentes tem sido muito útil, designadamente quando

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LAV COMENTADA 98/266
uma das partes litigantes é um Estado (apud CHRISTIAN GAVALDA e CLAUDE
LUCAS DE LEYSSAC, L’Arbitrage, Dalloz, Paris, 1993).

Para outros autores como GAVALDA /LEYSSAC, a divulgação das opiniões


dissidentes representa um perigo para a arbitragem uma vez que ameaça
directamente a independência dos árbitros. De facto, os árbitros poderão sentir-
se obrigados a dar garantias de lealdade à parte que os designou, poderão
demonstrar-lhe que defenderam os seus interesses formulando uma opinião
dissidente. Em vez de procurarem durante a deliberação alcançar uma decisão
unânime, os árbitros preocupar-se-ão em fazer valer os interesses da parte que
os designou, com claro prejuízo para a independência decisória do tribunal
arbitral. Em suma, a divulgação das opiniões dissidentes fragiliza a autoridade
da decisão arbitral (CHRISTIAN GAVALDA e CLAUDE LUCAS DE LEYSSAC,
L’Arbitrage, Dalloz, Paris, 1993; vide também
FOUCHARD/GAILLARD/GOLDMAN, On International Commercial Arbitration,
Kluwer Law International, 1999, n.º 1399 e ss, p. 766; Albert Jan von den Berg,
“Dissenting Opinions by Party-Appointed Arbitrators in Investment Arbitration”, in
Looking to the Future: Essays on International Law in Honor of W. Michael
Reisman, The Netherlands, p.821-843).

Já THOMAS CLAY considera a opinião dissidente um direito do árbitro


inconformado com a posição que vingou no tribunal arbitral. Só que CLAY, como
escreve MÁRIO RAPOSO, não deixa de apontar a essa divulgação os clássicos
inconvenientes, pelo menos em virtualidade: “Infelizmente, é necessário
considerar que a emissão de uma opinião dissidente não é em geral animada
por nobres sentimentos. Ela permite sobretudo ao árbitro que a assina exprimir
muito claramente à parte que o designou que ele serviu os seus interesses.
Assim usada, a opinião dissidente torna-se reprovável e o seu autor não será
merecedor de aplauso”. CLAY formula ainda uma outra crítica: ao fazer saber
publicamente que propende para uma certa jurisprudência, o árbitro conduz à
criação de um “arbitrator shopping”, colocando a opinião dissidente do árbitro na
conveniência da parte que o designou (THOMAS CLAY, L’Arbitre, ed. Dalloz,
Paris, 2001, pp. 651-653; MÁRIO RAPOSO, “A Sentença Arbitral” in Revista da
Ordem dos Advogados, Ano 65, Vol. II, Lisboa, Set. 2005, disponível em
www.oa.pt).

4. As partes podem acordar ou os árbitros, por unanimidade, resolver que as


questões processuais suscitadas no decurso da arbitragem devem ser decididas
pelo árbitro-presidente. No caso de existirem apenas duas partes litigantes, o
acordo pressupõe necessariamente unanimidade; se forem mais de duas as
partes em juízo, elas deverão acordar por unanimidade.

ARTIGO 27.º
(Elementos da decisão arbitral)

1. A decisão do tribunal arbitral deve ser reduzida a escrito e dela


constar:
-a)a identificação das partes;

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LAV COMENTADA 99/266
-b)a referência à Convenção de Arbitragem;
-c)o objecto do litígio;
-d)a identificação de cada árbitro;
-e)o lugar da arbitragem, o local e a data em que a sentença foi proferida;
-f)a decisão tomada e a respectiva fundamentação;
-g)a assinatura dos árbitros.
2. A sentença não necessita de ser fundamentada quando assim tiver
sido convencionado pelas partes, quando estas, no decurso do processo,
chegarem a acordo quanto à decisão do litígio e em caso de desistência.
3. A fundamentação da decisão proferida segundo a equidade basta-
se com a declaração dos factos dados como provados.
4. O número de assinaturas deve ser, pelo menos, igual ao da maioria
dos árbitros, indicando-se sempre a razão por que os outros não assinam,
assim como aqueles que votaram vencidos.
5. Na decisão final são fixados os encargos do processo e sua
repartição pelas partes.

1. Os árbitros devem pronunciar-se em definitivo sobre o mérito da causa,


devendo a decisão arbitral ser necessariamente reduzida a escrito.

De acordo com o n.º 1 do art. 27º da LAV, a validade da decisão importa que
dela constem as seguintes menções: (i) identificação das partes, (ii) referência à
convenção de arbitragem (compromisso arbitral ou cláusula compromissória),
(iii) objecto do litígio (o pedido e a causa de pedir), (iv) lugar da arbitragem (sede)
e local e data onde a sentença foi proferida, (v) decisão e respectiva
fundamentação e (vi) assinatura dos árbitros. O legislador angolano apresentou,
assim, os elementos da decisão arbitral que, no seu entender, são obrigatórios.

2. Reportando-se às modalidades de convenção de arbitragem, o art. 3.º n.º 3


da LAV impõe a especificação, na cláusula compromissória, das relações
litigiosas ou os factos jurídicos de que possam derivar e, no compromisso
arbitral, a determinação com a maior exactidão possível, do objecto do litígio.
Tais elementos são imprescindíveis para a avaliação da arbitrabilidade (art. 1.º
da LAV) e devem constar da decisão arbitral sob pena de, em caso de
inarbitrabilidade, gerar anulabilidade nos termos da art. 34.º n.º 1, al. a) da LAV.

3. De acordo com o n.º 2 do art. 27º da LAV, a decisão arbitral deve ser
fundamentada, salvo se se verificar (i) acordo em contrário das partes, (ii) uma
transacção no decurso do processo ou (iii) a desistência quer da instância quer
do pedido.

A fundamentação consiste em apontar as razões de facto e de direito que


justificam a decisão. A fundamentação deve, em princípio, existir e ser suficiente,
i.e., permitir a sustentação de cada parte do dispositivo, devendo o próprio
dispositivo da decisão responder aos pedidos das partes. O dever de
fundamentar as decisões arbitrais, na esteira do que sucede com as decisões
judiciais, radica na necessidade de conhecer o itinerário cognoscitivo do árbitro.
Só deste modo é possível aferir se a solução encontrada para o pleito é justa e
também conforme com a lei e a vontade das partes, esta última tal como
plasmada na convenção de arbitragem ou no compromisso arbitral. Por outro

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LAV COMENTADA 100/266
lado, uma sentença fundamentada é uma decisão dotada de um fio condutor que
une todos os seus pontos tornando-a coerente e harmoniosa. Sem
fundamentação, a decisão final dos árbitros mais não seria do que um conjunto
de ideias, critérios ou intenções desarticulados. Também a fundamentação da
decisão final dos árbitros permite que, em caso de recurso ou de acção de
anulação, as partes não questionem o necessário silogismo do sistema judiciário
em que é evidenciado que a sentença proferida é o corolário das premissas
constituintes da fundamentação.

Sendo a decisão proferida segundo a equidade (art. 24º, n.º 1 da LAV), é


dispensável a respectiva fundamentação de direito, podendo a sentença limitar-
se a indicar quais os factos dados como provados no processo arbitral (art. 27º,
n.º 3 da LAV). Em nossa opinião, a ausência de fundamentação de direito da
decisão arbitral fundada na equidade não importa a absoluta exclusão de
fundamentação da decisão, pois esta deverá comportar sempre a
fundamentação de facto que justifique a sua tomada.

A falta de fundamentação torna a decisão arbitral anulável nos termos da al. e)


do art. 34.º da LAV.

4. No que concerne à assinatura da decisão arbitral, ela deve ser em princípio


assinada por todos os árbitros. Não obstante, se um ou mais árbitros minoritários
se recusarem a assinar a decisão, esse facto não influencia a sua validade. De
acordo com o art. 27º, n.º 4 da LAV deve mencionar-se na sentença a razão pela
qual alguns árbitros não assinaram, bem como os que votaram vencidos,
incluindo os respectivos votos de vencido.

5. É prática corrente fixar-se na decisão final o valor dos encargos do processo


arbitral e a sua repartição pelas partes. Nesse sentido, o art. 31º do Regulamento
da CCI. Os encargos do processo arbitral podem compreender, nomeadamente,
os seguintes: (i) os honorários do tribunal arbitral que, conforme o caso, serão
indicados em separado para cada árbitro e fixados de acordo com as regras
definidas entre as partes e os árbitros, conforme dispõe o art. 23.º da LAV ou de
acordo com as tarifas praticadas por um determinado centro de arbitragem
institucionalizada; (ii) os custos administrativos da instituição arbitral; (iii) as
despesas de viagem e demais gastos contraídos pelos árbitros em função do
procedimento; (iv) o custo da assessoria pericial ou de qualquer outra assistência
requerida pelo tribunal arbitral no uso de suas atribuições; e (v) as despesas de
viagem e demais gastos incorridos pelas testemunhas, na medida em que tais
despesas e gastos sejam aprovadas pelo tribunal arbitral.

6. O tribunal arbitral não pode cobrar honorários adicionais pela interpretação,


rectificação ou aclaração de sua decisão.

7. Relativamente às consequências da falta de pagamento dos custos da


arbitragem, incluindo honorários e despesas, cfr. a anotação n.º 8 ao art. 23.º.

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LAV COMENTADA 101/266
ARTIGO 28.º
(Transacção e decisão homologatória)

1. Se as partes decidirem compor-se, devem apresentar ao Tribunal


Arbitral, mediante requerimento escrito, os termos do acordo a que
chegarem para pôr termo ao litígio ou juntar o acordo celebrado, pedindo
em requerimento a sua homologação e a competente extinção do processo
de arbitragem.
2. O requerimento, no primeiro caso, ou o acordo celebrado, devem
ser assinados pelas partes com reconhecimento presencial ou subscrito
por mandatário forense com poderes para transigir.
3. Nada se opondo à transacção, basta que a decisão arbitral se
limite, no que respeita à parte decisória, a reproduzir os termos e cláusulas
acordadas e a homologá-los.

1. Nos termos do art. 1248º do CC, a transacção é o contrato pelo qual as partes
previnem ou terminam um litígio mediante concessões recíprocas, que poderão
incluir a constituição, modificação ou extinção de direitos diversos do direito
controvertido.

Na transacção, as partes previnem ou fazem cessar o litígio directamente por


acordo entre elas. A transacção é onerosa porquanto pressupõe concessões
recíprocas. Em bom rigor, “a transacção ultima a contenda; se uma das partes
tentar renová-la, opor-lhe-á a outra a exceptio litis per transactionem finitae”
(CLÓVIS BEVILÁQUA citado por SÉRGIO DE ANDRÉA FERREIRA, “A
arbitragem e a disponibilidade de direitos no Ius Publicum Interno”, in Reflexões
sobre a Arbitragem, Editora São Paulo, 2002, p. 29 e ss.).

2. A transacção sobre o objecto de uma causa é um contrato processual, sendo


a intervenção do juiz, quando a homologa, restringida à mera fiscalização da
legalidade do objecto desse contrato e da qualidade das pessoas que
contrataram (arts. 300º e 301º do CPC). Consequentemente, o cumprimento ou
incumprimento pelas partes de alguma ou de todas as cláusulas daquele
contrato de transacção não pode ser objecto de recurso interposto da respectiva
sentença homologatória (Ac. RL, 15.1.1975:BMJ, 244º-331, citado por ABÍLIO
NETO, Código de Processo Civil Anotado, Livraria Petrony, Lisboa, 1986, p.
238).

A sentença que aprecia uma transacção, conforme o art. 300º, n.º 3 do CPC, não
pode alterar os precisos termos que foram objecto do acordo das partes (Ac. RL,
de 20.7.1979: Col. Jur., 1979, 4º-1180, citado por ABÍLIO NETO, Código de
Processo Civil Anotado, Livraria Petrony, Lisboa, 1986, p. 238).

A lei exige que o juiz, ao homologar uma transacção, repita os termos em que
esta foi feita, bastando que, por remissão, condene nos respectivos termos (Ac.
RL, de 3.4.1981: BMJº-425)

3. No mesmo sentido, em sede de processo judicial, o art. 287º, al. d) do CPC


dispõe que a instância se extingue pela transacção entre as partes em relação

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LAV COMENTADA 102/266
ao objecto da causa, o que lhes é lícito fazer em qualquer estado da instância
(art. 293º, n.º 2 do CPC).

A transacção é feita por termo no processo ou por documento autêntico, sendo


homologada por sentença, que condena ou absolve o réu nos precisos termos
da transacção. Em processo judicial admite-se ainda que a transacção seja feita
em acta, quando resulte de conciliação obtida na presença do juiz (art. 300º, n.º
4 do CPC). Esta solução deverá ser acolhida com reservas em processo arbitral,
uma vez que a sentença do tribunal arbitral (ao contrário da sentença do tribunal
judicial) não faz fé pública; assim, sempre que a transacção exigir forma
autêntica, ela deverá ser lavrada perante notário e posteriormente homologada
pelos árbitros (no mesmo sentido, J. LOPES DOS REIS, Representação Forense
e Arbitragem, Coimbra Editora, Coimbra, 2001, p. 142).

4. As custas do processo que termine por transacção são repartidas


equitativamente entre as partes, salvo acordo expresso em contrário. Esta é a
solução prevista no art. 451º, n.º 2 do CPC, que entendemos deve aplicar-se
também ao processo arbitral atenta a sua razoabilidade, a fixar conforme o
disposto no n.º 5 do art. 27.º da LAV.

ARTIGO 29.º
(Desistência e sentença homologatória)

1. Quando a parte que requereu a arbitragem desistir dela, e sendo


livre de o fazer, deve comunicar a sua decisão ao Tribunal Arbitral, através
de requerimento assinado por si com reconhecimento presencial ou
subscrito por mandatário forense com poderes para o acto.
2. No caso previsto no número anterior, o Tribunal Arbitral,
reconhecendo que se verifica o condicionalismo estabelecido no n.º 3 ou
no n.º 4 do artigo 20.º da presente lei, limita-se a homologar a desistência
e decidir em conformidade.
3. Não sendo a desistência livre, o requerimento da parte desistente
deve ser notificado à parte contrária, que pode opor-se-lhe no prazo de 10
dias.
4. Na falta de oposição, aplica-se à sentença homologatória o
disposto na parte final do n.º 2 do presente artigo.
5. Se o Tribunal Arbitral, não obstante a oposição da parte contrária,
decidir homologar a desistência nos termos do n.º 6 do artigo 20.º da
presente lei, a sentença homologatória deve especificar os fundamentos
da decisão tomada.

1. A desistência do pedido extingue o direito que se pretendia fazer valer. Ela


pressupõe que o autor se arrogava determinado direito contra o réu e que propôs
a acção para lhe ser reconhecido esse direito. Não obstabte, a parte demandante
pode desistir de todo ou de parte do pedido, em qualquer fase do processo, nos
termos do art. 20º, n.º 3 da LAV. Neste caso, já não se exige o acordo da parte
demandada. A desistência do pedido acarreta para a parte demandante a

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LAV COMENTADA 103/266
impossibilidade de intentar nova acção arbitral em relação ao pedido objecto de
desistência. A desistência deve ainda ser homologada pelo tribunal arbitral (art.
29º, n.º 2 da LAV).

2. Ao contrário da desistência do pedido (que extingue o direito que se pretendia


fazer valer em juízo), a desistência da instância apenas faz cessar o processo
que se havia instaurado, podendo a parte demandante vir posteriormente a
intentar nova acção arbitral com o mesmo objecto. Em caso de desistência da
instância, o réu é chamado a aceitá-la ou a opor-se-lhe (art. 20º, n.º 4 da LAV)
no prazo de dez dias (art. 29º, n.º 3 da LAV).

3. A desistência deverá ser comunicada ao tribunal, por escrito, exigindo-se que


a parte demandante assine presencialmente (i.e., perante os árbitros) o
requerimento de desistência; caso o requerimento seja subscrito por mandatário
(nos termos do art. 19º da LAV), exige-se que este tenha procuração especial
com poderes suficientes para outorgar a desistência. Para ser válida, a
desistência deve ser homologada pelo tribunal arbitral (art. 29º, n.ºs 2 e 4 da
LAV).

4. Tal como sudece na transacção, o juiz, ao homologar uma desistência, deve


cingir-se à repetição dos termos em que esta foi feita.

5. Nos termos do n.º 5 do artigo 29º da LAV, o tribunal arbitral, apesar da


oposição da parte contrária, pode propalar uma sentença homologatória de
desistência, fundamentando a sua decisão. Este texto vem atenuar o disposto
no nº 4 do artigo 29º da LAV segundo o qual “A desistência da instância arbitral
só é permitida se a ela se não opuser a parte contrária no prazo previsto no n.º
3 do artigo 29.º da presente lei”.

6. O n.º 5 do art. 29º da LAV considera que se houver oposição da parte contrária
e for proferida sentença homologatória, devem ser especificados os
fundamentos da decisão quando for tomada nos termos do n.º 6 do art. 20.º.
Sucede que esse n.º 6 do art. 20.º inexiste, devendo entender-se a remissão
feita para os n.ºs 2 e 4 do mesmo artigo. Porém, esse dispositivo expressamente
limita a possibilidade de desistência da instância aos casos de ausência de
oposição da parte contrária, pelo que se verifica uma aparente colisão de
normas. É nosso entendimento que, em caso de desistência da instância, há
sempre a obrigatoriedade de notificação da parte contrária para se opor,
querendo, podendo o tribunal arbitral homologar a desistência, nos termos do n.º
5 do art. 29.º da LAV mesmo que a oposição se verifique, desde que com a
devida fundamentação. Na verdade, não faria sentido a impossibilidade de
desistência da instância em situações que claramente indiciassem a
possibilidade do termo da instância, que se poderia verificar a qualquer tempo.

ARTIGO 30.º
(Notificação e depósito)

1. O Presidente do Tribunal Arbitral manda notificar a decisão às


partes por carta registada ou por qualquer outro meio de comunicação que

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 104/266
permita comprovar que foi recebida, juntando-se cópia integral da decisão
proferida.
2. Qualquer das partes pode, no prazo de 10 dias a contar da data da
notificação, requerer ao Tribunal Arbitral que corrija os erros de cálculo, de
cópia, tipográficos ou similares ou que esclareça obscuridade ou dúvidas
da sentença arbitral, só começando a correr o prazo de recurso depois de
notificada às partes a decisão que recaiu sobre o requerimento a solicitar
a correcção ou a aclaração.
3. Se o Tribunal Arbitral considerar o pedido justificado, deve
proceder à rectificação ou à aclaração nos 30 dias seguintes à recepção do
pedido e a decisão respectiva é parte integrante da decisão arbitral.
4. Salvo acordo das partes em contrário, transitada em julgado a
decisão arbitral, esta é depositada na Secretaria do Tribunal Provincial do
lugar da arbitragem.
5. Não são depositadas as sentenças homologatórias da desistência
da instância arbitral.
6. O depósito é notificado às partes.
7. O Presidente do Tribunal Provincial atribui a uma das secretarias
competências para o depósito das sentenças arbitrais proferidas na área
sob a sua jurisdição.

1. O legislador angolano exige, no art. 30º, n.º 1 da LAV, que a sentença observe
a forma escrita, devendo ser notificada às partes por carta registada ou qualquer
outro meio de que resulte prova da sua efectiva recepção. A nota de notificação
da sentença arbitral deve ser acompanhada de cópia integral da mesma, só
assim se considerando a notificação devidamente efectuada.

2. Uma vez notificada às partes a decisão arbitral, o tribunal não poderá rever a
referida decisão quanto ao mérito da causa. Contudo, é lícito ao tribunal aclarar
a decisão, corrigir os erros de cálculo, de cópia, tipográficos ou similares a pedido
de qualquer das partes (art. 30º, n.º 2 da LAV), desde que o respectivo pedido
seja formulado no prazo de dez dias a contar da data em que as partes
receberam a notificação prevista no art. 30º, n.º 1 da LAV.

Pode questionar-se se o tribunal arbitral tem o poder de rectificar ex officio, no


prazo de dez dias indicado no art. 30º, n.º 2 da LAV, eventuais erros de cálculo,
cópia ou outros, de natureza similar de que a decisão enferme. Embora o
legislador angolano não se tenha pronunciado quanto a este aspecto, parece-
nos que estas rectificações poderão ser feitas por iniciativa do tribunal até ao
termo do prazo de dez dias, a contar da data em que a última parte foi notificada
da sentença arbitral.

3. Só as decisões arbitrais transitadas em julgado podem ser depositadas na


Secretaria do Tribunal Provincial do lugar (sede) da arbitragem. Assim, só as
decisões proferidas sobre o mérito da causa ou as decisões homologatórias de
desistência do pedido são susceptíveis de depósito. Consideram-se transitadas
em julgado as decisões definitivas, porque insusceptíveis de impugnação por
reclamação, nos termos do art. 30.º n.º 2, de acção de anulacção nos termos dos
art.s 34.º e 35.º e por via de recurso nos termos do art. 36.º da LAV. Já não
podem ser depositadas as sentenças homologatórias da desistência da instância

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 105/266
arbitral (art. 30.º n.º 5) nem as medidas provisórias (art. 22.º) ou a decisão do
tribunal arbitral sobre a sua própria competância (art. 31.º, n.º 3).Trata-se de uma
questão de natureza meramente administrativa e não de um processo visando a
exequatur ou o reconhecimento da decisão arbitral.

ARTIGO 31.º
(Decisão sobre a competência)

1. Compete ao Tribunal Arbitral pronunciar-se sobre a sua própria


competência, ainda que, para esse efeito, haja necessidade de apreciar,
quer os vícios da Convenção de Arbitragem ou do contrato em que ela se
insere, quer a aplicabilidade daquela convenção ao conflito.
2. As partes só podem arguir a incompetência do tribunal assim
como a irregularidade da sua constituição até à apresentação da defesa
quanto ao fundo da causa, ou juntamente com esta, ou na primeira
oportunidade de que disponham após o conhecimento de facto
superveniente que dê causa a algum dos referidos vícios.
3. A decisão do Tribunal Arbitral através da qual se declare
competente para decidir a questão só pode ser apreciada pelo Tribunal
Judicial depois de proferida a decisão arbitral, em sede de impugnação ou
por via de oposição à execução, nos termos dos artigos 34.º e 39.º da
presente lei.

1. O tribunal arbitral, como qualquer outra jurisdição, pode e deve verificar, antes
de mais, a sua competência para conhecer de determinado litígio que lhe tenha
sido submetido para apreciação. A fortiori, este controlo impõe-se quando a sua
competência for contestada por uma das partes (GAVALDA/ LEYSSAC,
L’Arbitrage, Dalloz, Paris, 1993, p. 62 e ss).

O princípio da competência-competência encontra, prima facie, a sua justificação


no seguinte: invocando uma das partes litigantes a falta de competência do
tribunal arbitral, seria necessário recorrer ao tribunal judicial para decidir se o
diferendo, objecto da convenção arbitral, é ou não da competência do tribunal
arbitral. A ironia é patente, pois para beneficiar da arbitragem seria preciso lançar
mão antecipadamente de um processo judicial, requerendo ao tribunal judicial
que tomasse uma decisão sobre a competência do tribunal arbitral (FRANCISCO
GONZÁLEZ DE COSSIO, “Compétence à la Mexicaine et à l’Américaine – Une
évolution douteuse”, in Les Cahiers de l’Arbitrage, Vol. IV, Editions A. Pedone,
2008, p. 173). Assim sucedeu no passado. O princípio da competência do
tribunal arbitral para decidir sobre a validade da cláusula compromissória e,
consequentemente, sobre a sua própria competência, resultou de uma evolução
jurisprudencial.

Inicialmente, entendia-se que a questão deveria ser analisada pela jurisdição


estadual comum. Uma decisão da Corte de Cassação francesa de 1953 afirmou
que ”le litige mettant en cause la validité de la clause compromissoire (…) doit
être soumis aux juridictions de droit commun, seules compétentes pour en
connaître” (Corte de Cassação francesa, JCP 1954.II.8293, j. 06.10.53; Apud

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LAV COMENTADA 106/266
JACOB DOLINGER e CARMEN TIBURCIO, Direito Internacional Privado –
Arbitragem Comercial Internacional, Renovar, Rio de Janeiro/São Paulo, 2003,
p. 149).

Posteriormente, considerou-se como incontroverso que “il est de principe que le


juge saisi est compétent pour statuer sur sa compétence, ce qui implique
nécessairement, lorsque le juge est un arbitre dont les pouvoirs tirent leur origine
d’une convention des parties, la vérification de l’existence et de la validité de cette
convention” (Caso Impex, Revue de l’Arbitrage, 1968, p. 149; JACOB
DOLINGER e CARMEN TIBURCIO, Direito Internacional Privado – Arbitragem
Comercial Internacional, Renovar, Rio de Janeiro/São Paulo, 2003, p. 149).

Hoje, o princípio da competência-competência é consagrado em quase todas as


legislações nacionais e internacionais sobre arbitragem.

Contudo, se o princípio da competência-competência é largamente reconhecido


nas diversas legislações sobre arbitragem, o certo é que ainda se mantêm
divergências profundas (para maiores desenvolvimentos veja-se
POUDRET/BESSON, Droit Comparé de l’Arbitrage International, n.º 459,
Bruylant Bruxelles -LGDJ – Schulthess, 2002, p. 410).

2. O princípio da competência-competência não deve ser confundido com o


princípio da autonomia da convenção de arbitragem (art. 4º, n.º 2 da LAV).

O princípio da autonomia da convenção de arbitragem estatui que a validade da


cláusula compromissória deve ser apreciada isoladamente em relação ao
contrato principal no qual está inserida. Consequentemente, o tribunal arbitral é
competente para apreciar a existência ou a validade do contrato, tal como se
estabelece no n.º 2 do artigo 4º da LAV.

Como afirma SANDERS, na falta de autonomia da cláusula compromissória em


relação ao contrato principal, o árbitro que admite a nulidade do contrato principal
deveria ipso jure negar a sua competência de tal forma que não poderia decidir
sobre o mérito da causa, nem pronunciar a nulidade constatada. Deparar-se-ia
face a um impasse que só seria resolvido através de um novo processo perante
o tribunal judicial (PIETER SANDERS, Quo Vadis Arbitration? Sixty Years of
Arbitration Practice, La Haye, 1999, p. 33).

Noutras palavras, a autonomia siginifica que, se o árbitro constatar que o


contrato principal é inválido, não perde por este motivo a sua competência. A
competência-competência pode ser considerada como o instrumento processual
do princípio da autonomia da convenção de arbitragem, que habilita o próprio
árbitro a decidir sobre a nulidade do contrato principal (POUDRET/BESSON,
Droit Comparé de l’Arbitrage International, n.º 166, Bruylant Bruxelles -LGDJ –
Schulthess, 2002), mesmo que se trate de uma nulidade ab ovo do referido
contrato principal. MANUEL PERREIRA BARROCAS entende que os árbitros
não têm competência para julgar o litígio verificando-se a utilização fraudulenta
pelas partes da arbitragem para consumar ou ocultar uma nulidade contratual ou
para tirar proveito ilícito dela; “e esta hipótese, é, seguramente, uma das poucas,
se não a única, em que, dependente da vontade das partes (neste caso, dolosa,

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LAV COMENTADA 107/266
fraudulenta) o tribunal arbitral perde excepcionalmente competência, por
aplicação do princípio fraus omnia corrumpit…Figuremos a seguinte hipótese: A
e B, em conluio, celebram um contrato simulado de transmissão de um imóvel.
B, o adquirente, requer o registo a seu favor da transmissão. O conservador tem
dúvidas sobre a validade do contrato e regista provisoriamente por dúvidas. A e
B, de novo em conluio, celebram uma convenção de arbitragem para que os
árbitros, também em conluio com as partes, confirmem a validade do contrato,
ocultando a simulação mas conseguindo, desse modo, remover as dúvidas do
conservador. O contrato é nulo por ser simulado. O tribunal arbitral, que declarou
a sua validade, foi constituído fraudulentamente. Os árbitros carecem, por isso,
em absoluto de competência para julgar, o pleito, usando de fraude” (MANUEL
PEREIRA BARROCAS, “Contribuição para a Reforma da Lei de Arbitragem
Voluntária”, in Revista da Ordem dos Advogados, Ano 67, Vol. I, Lisboa, Jan.
2007, disponível em www.oa.pt ).

FOUCHARD/GAILLARD/GOLDMAN observam que os dois princípios não se


confundem e têm cada um o seu significado próprio, existindo, no entanto, entre
eles uma relação lógica (FOUCHARD/GAILLARD/GOLDMAN, On International
Commercial Arbitration, Kluwer Law International, 1999, p. 416). E, para
SANDERS, os dois princípios têm fundamento na vontade presumida das partes
de submeter ao árbitro, num processo único, todas as questões litigiosas,
incluíndo a decisão sobre a sua própria competência. Tal presunção justifica-se
pelas cláusulas usuais em matéria da arbitragem internacional que se referem a
todos os diferendos em relação ao contrato, incluíndo a sua existência e validade
(PIETER SANDERS, Quo Vadis Vadis Arbitration? Sixty Years of Arbitration
Practice, La Haye, 1999, p. 33).

Vale aqui recordar o ensinamento do juiz STEPHEN SCHWEBEL, do Tribunal


Internacional de Justiça: “When the parties to an agreement containing an
arbitration clause enter into that agreement, they conclude not one but two
agreements, the arbitral twin of which survives any birth defect or acquired
disability of the principal agreement” (STEPHEN SCHWEBEL, The severability
of the Arbitration Agreement, International Arbitration: Three Salient Problems,
1987, p. 5; JACOB DOLINGER e CARMEN TIBURCIO, Direito Internacional
Privado – Arbitragem Comercial Internacional, Renovar, Rio de Janeiro/São
Paulo, 2003, p. 75).

Em matéria de arbitragens internacionais, merece destaque a decisão da


Câmara Civil da Corte de Cassação francesa no caso Comité Populaire de la
Municipalité de Khoms El Mergeb v. Sté Dalico Contractors. Tratava-se de um
contrato que previa como lei aplicável a lei libanesa, sendo que o município
libanês alegava que de acordo com a lei libanesa a cláusula arbitral não seria
válida. A Corte de Cassação francesa considerou que a existência e a eficácia
de uma cláusula arbitral devem ser determinadas pela vontade das partes, não
havendo necessidade de submissão a uma lei nacional (JACOB DOLINGER e
CARMEN TIBURCIO, Direito Internacional Privado – Arbitragem Comercial
Internacional, Renovar, Rio de Janeiro/São Paulo, 2003, p. 74).

3. A doutrina apresenta soluções divergentes relativamente à questão do


fundamento do princípio da competência-competência.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 108/266
Para MAYER, a competência do tribunal arbitral para decidir sobre a sua própria
competência fundamenta-se na aplicação extensiva ou analógica do princípio
segundo o qual qualquer autoridade é competente para apreciar a sua própria
competência ou ainda, na presunção segundo a qual as partes da convenção de
arbitragem entenderam também submeter essa questão prévia (decisão sobre a
competência do tribunal) aos árbitros (PIERRE MAYER, “L’autonomie de l’arbitre
international dans l’appréciation de sa propre compétence”, RCADI, vol. V, 1989,
p. 339; POUDRET/BESSON, Droit Comparé de l’arbitrage international, Bruylant
Bruxelles-LGDJ-Schulthess, 2002, pp. 407-408).

Para FOUCHARD/GAILLARD/GOLDMAN, o fundamento da competência-


competência não reside na convenção de arbitragem mas na lei do país onde a
arbitragem decorre. Só por esta razão pode justificar-se que o tribunal arbitral
prossiga com o procedimento arbitral mesmo quando a existência ou a validade
da convenção de arbitragem é contestada por uma das partes. O princípio da
autonomia da cláusula compromissória permite afastar o argumento da nulidade
da convenção de arbitragem em virtude da invalidade do contrato principal, mas
não permite ao tribunal arbitral prosseguir com a arbitragem quando a referida
invalidade disser respeito à própria convenção de arbitragem. Isto só pode ser a
consequência do princípio da competência-competência. O princípio da
competência-competência permite, de igual modo, aos árbitros decidir sobre a
invalidade da convenção de arbitragem e proferir sentença que declare a sua
falta de competência, sem qualquer contradição. Com certeza, nenhum desses
efeitos decorre da convenção arbitral. Se fosse o caso, estaríamos perante um
círculo vicioso (FOUCHARD/GAILLARD/GOLDMAN, On International
Commercial Arbitration, Kluwer Law International, 1999, n.º 658, p. 400).

No mesmo sentido, sustenta LIMA PINHEIRO que a circunstância de a


convenção de arbitragem não prejudicar a competência do tribunal arbitral para
decidir sobre a sua própria competência torna patente que a competência do
tribunal arbitral não se fundamenta na convenção de arbitragem. A autonomia
privada só poderia directamente produzir efeitos jurídicos, sem a mediação de
direito objectivo, se os particulares fossem titulares de um poder jurígeno
originário ou constituinte, no sentido de uma fonte de criação de direito que não
seja, ela própria, regulada pelo direito. A conduta negocial é necessariamente
regulada pelo direito e é o direito que lhe atribui eficácia jurídica (LUÍS DE LIMA
PINHEIRO, Arbitragem Transnacional – Determinação do Estatuto da
Arbitragem, Almedina, 2005, p. 133 e passim).

Assim, na arbitragem interna, a competência do tribunal arbitral para decidir


sobre a sua própria competência fundamenta-se no direito objectivo, mormente
no regime local da arbitragem. Na arbitragem internacional, o fundamento desse
princípio encontra-se no direito estadual da sede da arbitragem ou no direito
transnacional autónomo. Como releva RIGAUX, nas arbitragens CCI, o processo
arbitral é regido pelo respectivo regulamento de arbitragem, independentemente
de qualquer ordem jurídica estadual, não conferindo a sede parisiense da CCI a
qualidade de uma instituição de direito francês. O sistema de arbitragem da CCI
é uma das ordens jurídicas transnacionais particulares existentes e, ao
subscreverem uma cláusula de arbitragem CCI, as partes inserem-se

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 109/266
voluntariamente na respectiva ordem institucional privada (FRANÇOIS RIGAUX,
Droit International Privé, vol. I, 2.ª ed., Bruxelas, 1987, pp. 142 e segs; Idem, “Les
situations juridiques individuelles dans un système de relativité générale” in
RCADI, n.º 213, 1989, pp. 242 e seg.).

Em face da LAV, subscrevemos a posição defendida por


FOUCHARD/GAILLARD/GOLDMAN, tal como ficou explicitada por RIGAUX e
LIMA PINHEIRO.

4. O efeito positivo do princípio da competência-competência consiste,


precisamente, na atribuição de competência ao árbitro para decidir sobre a sua
própria competência para julgar o litígio ou o dissídio.

Já o efeito negativo do princípio da competência-competência traduz-se na


primazia que têm os árbitros em relação à jurisdição estadual no conhecimento
de questões relativas à existência e validade da convenção de arbitragem (art.
3º, 4º e 5º da LAV), à arbitrabilidade do litígio (art. 1º da LAV) ou à regularidade
da constituição do tribunal arbitral (art. 13º e 14º da LAV). Por outras palavras, o
efeito negativo do princípio da competência-competência proíbe o tribunal
judicial, ao qual uma parte tenha recorrido (quer para apreciação da competência
do tribunal arbitral quer para decisão do mérito da causa, apesar da existência
de uma convenção de arbitragem), de decidir sobre as questões relativas à
existência ou à validade da convenção de arbitragem antes do tribunal arbitral
se pronunciar sobre elas (MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução
Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 160 ss).

E se é certo que os mais diversos instrumentos jurídicos nacionais e


internacionais reconhecem o efeito positivo do princípio da competência-
competência, não é menos verdade que nem todos consagram o efeito negativo
deste princípio. Em relação ao efeito negativo do princípio da competência-
competência, podemos agrupar os diversos ordenamentos jurídicos em três
grandes linhas.

Em primeiro lugar, temos os ordenamentos jurídicos que não reconhecem o


efeito negativo do princípio da competência-competência.

O artigo 8º, n.º 1 da Lei-Modelo da CNUDCI admite que o tribunal em que seja
proposta uma acção relativa a um litígio abrangido por uma convenção de
arbitragem rejeite a excepção fundada nesta convenção se verificar que ela é
caduca, inoperante ou insusceptível de ser executada, o que implica uma
apreciação da validade da convenção de arbitragem.

No direito alemão, o n.º 1 do artigo 1032º do ZPO reconhece ao tribunal judicial,


em termos inequívocos, a possibilidade de apreciar a existência e validade da
convenção de arbitragem se o demandado arguir a excepção de preterição de
tribunal judicial. O tribunal deve analisar a convenção arbitral para verificar se a
mesma não é caduca, inoperante ou não susceptível de ser executada. O n.º 2
do art. 1032º do ZPO prevê a possibilidade das partes numa convenção de
arbitragem, antes da constituição do tribunal arbitral, intentarem uma acção
visando a constatação da admissibilidade ou inadmissibilidade da resolução do

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LAV COMENTADA 110/266
litígio por via arbitral. Finalmente, como forma de evitar manobras dilatórias da
parte menos interessada na arbitragem, o n.º 3 do art. 1032º do ZPO autoriza o
tribunal arbitral, em qualquer dos casos acima referidos, a iniciar ou prosseguir
o processo arbitral até ser proferida sentença.

O Arbitration Act inglês prevê, no n.º 1 do seu artigo 32º, a possibilidade das
partes num procedimento arbitral recorrerem directamente ao tribunal judicial
para a determinação da competência do tribunal arbitral, tendo este último a
faculdade de prosseguir o processo arbitral e decidir sobre a sua competência.
Por conseguinte, o tribunal judicial poderá apreciar a existência e validade da
convenção de arbitragem antes do tribunal arbitral, não sendo reconhecida a
prioridade deste na apreciação de tais questões.

O artigo 1682º do CPJ belga não concede expressamente a prioridade ao árbitro,


pelo facto de não restringir o poder de apreciação do tribunal judicial ao controlo
prima facie da convenção de arbitragem. O tribunal judicial poderá, antes do
tribunal arbitral, apreciar a validade da convenção de arbitragem. Nos termos do
referido artigo, o juiz que for chamado a decidir sobre um diferendo, objecto de
uma convenção de arbitragem, deve declarar-se incompetente a pedido de uma
parte, a não ser que para aquele diferendo, a convenção não seja válida ou seja
caduca.

Em segundo lugar, deparamo-nos com legislações nacionais que estabelecem


a competência do tribunal arbitral para decidir sobre a sua competência em
termos que excluem a possibilidade desta decisão ser antecipada pelo tribunal
judicial (LUÍS DE LIMA PINHEIRO, Direito Comercial Internacional, Almedina,
Coimbra, 2005, pp. 400 e ss.).

É, aliás, neste segundo grupo que se enquadra o art. 31º n.º 3 da nossa LAV, na
medida em que consagra que o tribunal judicial só pode apreciar a competência
do tribunal arbitral depois de proferida a decisão sobre o fundo da causa, em
acção de anulação da decisão arbitral, em recurso da decisão arbitral ou em
oposição à execução da decisão arbitral.

O artigo 20º, parágrafo 2, da actual Lei de Arbitragem Brasileira estabelece que


a decisão do tribunal arbitral sobre a sua competência só poderá ser examinada
pelo tribunal judicial competente quando for instaurada uma acção judicial
destinada a decretar a nulidade da sentença arbitral.

Em terceiro lugar, temos os ordenamentos jurídicos que consagram de forma


explícita o efeito negativo da regra da competência-competência.

Assim, a nova Lei da Arbitragem Voluntária Portuguesa estabelece no seu artigo


5.º n.º 1: “O tribunal estadual no qual seja proposta acção relativa a uma questão
abrangida por uma convenção de arbitragem deve, a requerimento do réu
deduzido até ao momento em que este apresentar o seu primeiro articulado
sobre o fundo da causa, absolvê-lo da instância, a menos que verifique que,
manifestamente, a convenção de arbitragem é nula, é ou se tornou ineficaz ou é
inexequível.”

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 111/266
O artigo 1448º do Decreto francês de 13 de Janeiro de 2011 sobre a reforma da
arbitragem consagra este princípio de forma explícita, estabelecendo: “Quando
for proposta num tribunal estadual uma acção relativa a um litígio submetido a
arbitragem, o tribunal deve considerar-se incompetente salvo se o litígio ainda
não tiver sido submetido à arbitragem e se a convenção de arbitragem for
manifestamente nula”. O artigo 1448º da lei francesa só permite ao tribunal
judicial uma apreciação prima facie da convenção de arbitragem, ou seja a
constatação da sua manifesta nulidade ou não.

No caso Tripcovitch SPA v. Sieur Jacques de Conick, em que se discutia a


validade de uma cláusula arbitral num contrato de natureza civil, a Corte de
Cassação francesa anulou a decisão que havia sido proferida pela Corte de
Apelação de Bordeaux que declarara a cláusula arbitral nula. A decisão
estabeleceu que a jurisdição estatal é incompetente, ao menos a título principal,
para decidir sobre a validade da convenção de arbitragem. Segundo a Corte, os
árbitros devem analisar, em primeiro lugar, a validade da convenção de
arbitragem (DOLINGER/TIBURCIO, Direito Internacional Privado – Arbitragem
Comercial Internacional, Renovar, 2003, p. 149).

O reconhecimento do efeito negativo da regra competência-competência


contribui em muito para evitar manobras dilatórias no processo arbitral. Sem
prejuízo, o argumento que, em nossa opinião, mais peso tem a favor do seu
reconhecimemto é o da possibilidade de, na arbitragem internacional, se
submeter o controlo da decisão sobre a validade da convenção de arbitragem à
jurisdição da sede da arbitragem (i.e., do Estado cujos tribunais são competentes
para a impugnação da decisão arbitral) ao invés da jurisdição dos juízes
estaduais estrangeiros que possam ser chamados a decidir sobre a excepção
de preterição de tribunal arbitral, evitando-se, deste modo, uma desarmonia de
soluções em direito.

5. Importa saber ainda se o julgamento da excepção de preterição do tribunal


arbitral voluntário depende ou não da apreciação da validade da convenção de
arbitragem e, portanto, se a decisão do tribunal judicial de absolvição do réu da
instância vincula o tribunal arbitral voluntário. Se assim for, demonstra-se que o
tribunal comum reconhece a validade da convenção de arbitragem; se assim não
for, o julgamento da excepção de preterição do tribunal arbitral voluntário deve
satisfazer-se com a prova da existência de uma convenção de arbitragem que
não seja manifestamente nula.

Está-se perante a excepção de preterição de tribunal arbitral voluntário quando


o réu alega e prova que o autor ignorou a convenção de arbitragem existente
para o litígio que submeteu ao tribunal judicial, ou dito de outra forma, quando
alegue e prove que existe uma convenção de arbitragem susceptível de ser
aplicada ao litígio definido pelo autor (JOÃO LUÍS LOPES DOS REIS, “A
excepção de Preterição do Tribunal Arbitral”, in ROA, Ano 58, III, Lisboa,
Dezembro 1998, pp. 115 e 1124). A excepção de preterição de tribunal arbitral
não é de conhecimento oficioso.

No direito angolano, se uma das partes decide submeter ao tribunal judicial um


litígio abrangido por uma convenção de arbitragem antes da instauração da

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LAV COMENTADA 112/266
instância arbitral, a excepção de preterição de tribunal arbitral dá lugar à extinção
da instância – art.º 493.º e 494.º) Em nossa opinião, o controlo da validade da
convenção de arbitragem pelo tribunal judicial só poderá limitar-se à verificação
da sua não manifesta nulidade (LUÍS DE LIMA PINHEIRO, Direito Comercial
Internacional, Almedina, Coimbra, 2005, pp. 400 e ss.). Doutro modo, estaríamos
perante a violação do artigo 31º da LAV. Por outro lado, a procedência da
excepção de preterição do tribunal arbitral não implica o julgamento da
competência do tribunal arbitral mas tão-somente o julgamento da existência de
uma convenção de arbitragem não manifestamente nula e, eventualmente,
aplicável ao caso concreto (MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução
Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 160 ss).

Este entendimento é também sufragado na jurisprudência portuguesa,


designadamente pelo Tribunal da Relação de Lisboa que, no seu Acórdão de 10
de Fevereiro de 2009 (www.dgsi.pt), decidiu que: “1. No julgamento da excepção
de preterição do tribunal arbitral voluntário, o tribunal deve satisfazer-se com a
prova de existência de uma convenção de arbitragem que não seja
manifestamente nula. 2. A decisão do tribunal judicial só vincula o tribunal arbitral
quando se verificar a manifesta nulidade da convenção de arbitragem. Caso
contrário, vale o princípio da Kompetenz-Kompetenz do árbitro (art. 21º, n.º 1 da
Lei da Arbitragem Voluntária Portuguesa). Se o tribunal arbitral se considerar
incompetente, a acção pode ser novamente proposta no tribunal judicial que se
deve considerar vinculado à decisão do tribunal arbitral sobre a invalidade ou
ineficácia da convenção de arbitragem. Se o tribunal arbitral se considerar
competente, a sua decisão não vincula o tribunal judicial, mas este só pode
apreciar a questão depois de proferida a decisão sobre o fundo da causa em
acção de anulação, recurso ou oposição à execução da decisão arbitral (art.ºs
21º, n.º 4 e 27º, n.º 1, al. b) da Lei da Arbitragem Voluntária Portuguesa)...”

6. A litispendência pressupõe a repetição de uma causa. Há litispendência se


duas (ou mais) causas estão simultaneamente pendentes JOSÉ LEBRE DE
FREITAS, A Acção Declarativa Comum, 2ª Edição, Coimbra, Coimbra Editora,
2011, p. 107). A excepção de litispendência tem por objectivo evitar que o
tribunal seja colocado na alternativa de contradizer ou reproduzir uma decisão
anterior. A litispendência é de conhecimento oficioso. Entre processo judicial e
processo arbitral não se coloca o problema da litispendência porque só uma das
jurisdições pode ser competente. Ou seja, o problema é sempre de competência
e nunca de litispendência (MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução
Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 161).

7. Nos termos do n.º 1 do artigo 14º da LAV, sempre que se não verifique a
designação de árbitro ou árbitros pelas partes ou pelos árbitros ou por terceiros,
a sua nomeação cabe ao Presidente do Tribunal Provincial do lugar fixado para
a arbitragem ou, na falta dessa fixação, do domicílio do requerente ou ao Tribunal
Provincial de Luanda no caso do domicílio do requerente ser no estrangeiro.

A propósito, levanta-se a questão de saber se o tribunal judicial deverá apreciar


a existência e validade da convenção arbitral.

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LAV COMENTADA 113/266
O respeito pelo princípio da competência-competência impõe que o tribunal
judicial se limite a uma apreciação prima facie da convenção de arbitragem, ou
seja, a verificação da sua não manifesta nulidade.

Em direito comparado, o Código de Processo Civil holandês (art. 1027º, n.º 4 do


WBR) recomenda expressamente ao tribunal que proceda à designação dos
árbitros sem analisar a validade da convenção arbitral. A lei suiça circunscreve
esse controlo a uma análise sumária da convenção de arbitragem (art. 179º, n.º
3 da LDIP). No direito belga, de acordo com o artigo 1682.º CPJ, o tribunal judicial
não tem jurisdição quando exista uma convenção de arbitragem. Esta solução
não é aceite no direito inglês que consagra a liberdade absoluta do tribunal
judicial apreciar a validade da convenção de arbitragem (ADAM SAMUEL,
Jurisdictionel Problems in International Commercial Arbitration: A study of
Belgian, Dutch, English, French, Swedish, Swiss, U.S. and West German Law,
Zurich, 1989, pp. 193-195).

8. De acordo com o n.º 2 do artigo 31º da LAV, as partes só podem arguir a


incompetência do tribunal assim como a irregularidade da sua constituição até à
apresentação da defesa quanto ao fundo da causa (a redacção da lei contém
um lapsus calami, sujeito a rectificação) ou juntamente com esta ou na primeira
oportunidade de que disponham após o conhecimento de facto superveniente
que dê causa a algum dos referidos vícios. O tribunal arbitral é, neste caso,
chamado a pronunciar-se sobre a sua competência, proferindo uma decisão
interlocutória.

Em regra, as decisões interlocutórias são as proferidas a meio de uma


arbitragem, sem lhe porem termo. A questão prévia, sublinha SAMPAIO
CARAMELO, que com maior frequência é objecto de uma sentença interlocutória
(com carácter definitivo e vinculativo para os árbitros e para as partes) é a que
versa sobre a alegada falta de competência (ou jurisdição) do tribunal arbitral
para conhecer do pedido ou pedidos (ou de alguns deles) deduzidos na
arbitragem. Se a sentença for no sentido da total falta de competência do
tribunal, o processo arbitral acabará aí (passando então aquela a ser sentença
final do processo que termina por uma absolvição da instância), sem prejuízo
dos pedidos para cujo julgamento o tribunal se considerou incompetente serem
novamente apresentados perante um outro tribunal (estadual ou mesmo arbitral)
(ANTÓNIO SAMPAIO CARAMELO, “Decisões Interlocutórias e Parciais no
Processo Arbitral. Seu Regime e Objecto”, in II Congresso do Centro de
Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Almedina, 2009, pp.
179 e ss.).

Nos termos do n.º 3 do artigo 31º da LAV, a decisão do tribunal arbitral através
da qual este se declare competente para decidir a questão sub iudice só pode
ser apreciada pelo tribunal judicial depois de proferida a decisão arbitral, em sede
de impugnação (acção de anulação ou recurso) ou por via de oposição à
execução, nos termos dos artigos 34º e 39º da LAV.

Para evitar manobras dilatórias que entorpeçam o processo arbitral, a LAV não
permite que as partes apresentem pedidos perante o tribunal judicial para que
este se pronuncie sobre a validade (ou invalidade) de uma cláusula

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 114/266
compromissória ou de um compromisso arbitral. Também para obstar que a
impugnação imediata seja utilizada como manobra dilatória, é suficiente que a
impugnação não tenha efeito suspensivo do processo arbitral e que o tribunal
arbitral possa diferir a sua decisão sobre a competência até à decisão sobre o
mérito da causa (LUÍS DE LIMA PINHEIRO, Direito Comercial Internacional,
Almedina, 2005, p. 403).

Dentre os sistemas legais que só admitem o recurso contra a decisão


interlocutória depois de proferida sentença final, podemos citar o artigo 1697º do
CPJ belga, segundo o qual “la décision par laquelle le tribunal s’est déclaré
compétent ne peut être attaquée devant le tribunal de première instance qu’en
même temps que la sentence sur le fond et par la même voie.”

A mesma regra vem expressamente consagrada no direito italiano, nos termos


do n.º 3 do artigo 827º do Codice di Procedura Civile, que estabelece que “il lodo
che decide parzialmente il mérito della controvérsia è immediatamente
impugnabile, ma il lodo che risolve alcune delle questioni insorte senza definire il
giudizio arbitrale è impugnabile solo unitamente al lodo definitivo”

Tanto no direito holandês (art. 1052º n.º 4 do WBR) como na arbitragem CIRDI
só se pode impugnar uma decisão interlocutória do tribunal arbitral depois de
proferida a sentença final sobre o caso.

Em sentido contrário, refira-se, em primeiro lugar, o art. 16, nº 3 da Lei-Modelo


da CNUDCI que admite a impugnação imediata da decisão interlocutória sobre
a competência, dispondo que o tribunal arbitral pode decidir sobre a excepção
de incompetência, quer enquanto questão prévia quer na sentença sobre o
fundo. Se o tribunal arbitral decidir, a título de questão prévia, que é competente,
qualquer das partes pode, num prazo de trinta dias após ter sido avisada desta
decisão, pedir ao tribunal judicial que tome uma decisão sobre este ponto,
decisão que será insusceptível de recurso. Ademais, na pendência deste pedido,
o tribunal arbitral pode prosseguir o processo arbitral e proferir uma sentença.

O direito português adoptou a solução da Lei-Modelo no seu artigo 18.º n.º 9,


visando resolver a questão da incompetência do tribunal de imediato, mas sem
suspender os trabalhos do tribunal arbitral.

O direito inglês seguiu também a Lei-Modelo, consagrando no artigo 31º, n.º 4


do Arbitration Act, a liberdade do árbitro tomar uma decisão sobre a sua
competência numa decisão interlocutória (award as to jurisdiction) ou na
sentença sobre o mérito da causa (award on the merits). O artigo 67º do
Arbitration Act dispõe claramente que a decisão interlocutória poderá sempre ser
impugnada junto da High Court, sem qualquer efeito suspensivo quanto ao
procedimento arbitral.

A solução da Lei-Modelo é ainda acolhida no direito alemão, no artigo 1040º, n.º


3 do ZPO que determina que a decisão interlocutória pode ser impugnada no
prazo de um mês após ter sido proferida, por qualquer das partes. O tribunal
arbitral é livre de continuar o processo arbitral e proferir a sentença final.

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LAV COMENTADA 115/266
Finalmente, no direito francês, no caso do tribunal arbitral proferir uma decisão
interlocutória sobre competência, admite-se o recurso imediato desta decisão
para o tribunal estadual, i.e., a propositura imediata de uma acção de anulação
da decisão sobre a competência (LUÍS DE LIMA PINHEIRO, Direito Comercial
Internacional, Almedina, Coimbra, 2005, p. 400)

9. A LAV não contém nenhuma disposição sobre a possibilidade de impugnação


de uma decisão do tribunal arbitral em que este se declare incompetente, não
mencionando qualquer motivo de anulação a este respeito (art. 34º da LAV a
contrario).

De igual modo, também o artigo 16º, n.º 3 da Lei-Modelo da CNUDCI não faz
referência a qualquer motivo de anulação da decisão arbitral pelo facto do
tribunal ter declinado a sua competência.

A esse respeito, comungamos da opinião de LUÍS DE LIMA PINHEIRO (Direito


Comercial Internacional, Almedina, Coimbra, 2005, p. 404), ao reconhecer que
é amplamente admitido que a decisão de incompetência proferida em primeiro
lugar pelo tribunal arbitral vincule o tribunal judicial na apreciação da excepção
de preterição de tribunal arbitral. Todavia, isto não significa necessariamente que
a decisão de incompetência seja insusceptível de impugnação.

Perante a LAV não se encontra base legal para admitir uma acção de anulação
da decisão do tribunal arbitral que se declare incompetente, mas nada parece
obstar à sua recorribilidade quando ela não tiver sido excluída pelas partes na
convenção de arbitragem ou pelo disposto em matéria de arbitragem
internacional.

ARTIGO 32.º
(Extinção do poder jurisdicional)

1. O poder jurisdicional do Tribunal Arbitral extingue-se com o


trânsito em julgado da decisão arbitral ou da decisão proferida nos termos
do n.º 3 do artigo 30.º da presente lei.
2. O poder jurisdicional do Tribunal Arbitral extingue-se também com
o trânsito em julgado da decisão homologatória da desistência da instância
arbitral.

1. Nos termos do artigo 32º da LAV, o poder jurisdicional do tribunal arbitral fica
esgotado com o trânsito em julgado da decisão arbitral ou da decisão
homologatória da desistência da instância arbitral. Uma decisão judicial transita
em julgado quando se torna insusceptível de recurso ordinário ou de reclamação;
uma vez transitada em julgado, a decisão judicial passa a ter força de caso
julgado.

Já em sede arbitral transitam em julgado as decisões arbitrais quando proferidas


sobre o mérito da causa e sejam insusceptíveis de impugnação por reclamação
ou de recurso - art. 36.º da LAV.

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LAV COMENTADA 116/266
Tem sido objeto de discussão internacional se a propositura de acção de
anulação (art.s 34.º e 35.º) obsta ao trânsito em julgado da sentença arbitral, em
especial tendo em conta o seu reconhecimento e execução à luz da Convenção
de Nova Iorque.

Em consequência desta norma, a convenção de arbitragem não caduca com a


prolação nem com a anulação da decisão arbitral. A convenção de arbitragem
continua em vigor não só relativamente a outras controvérsias que sejam
abrangidas pelo seu âmbito, como também em relação à controvérsia que foi
objecto da decisão anulada. No entanto, se a anulação se fundamentou na
invalidade da convenção de arbitragem, o tribunal arbitral deve considerar-se
vinculado pela decisão do tribunal judicial, podendo ser proposta uma nova
acção no tribunal judicial competente. Salvo este caso, o tribunal judicial deve
remeter o processo ao tribunal arbitral, para que este decida novamente
corrigindo os vícios que desencadearam a anulação. Como perante a LAV o
poder jurisdicional dos árbitros só finda com o trânsito em julgado da decisão
arbitral, parece-nos que não se torna necessário constituir um novo tribunal
arbitral: o mesmo tribunal que proferiu a decisão anulada deverá, num novo
prazo de seis meses, ou noutro acordado pelas partes, decidir sobre a matéria
da controvérsia.

2. Já a Lei-Modelo da CNUDCI (no seu art. 32º) estabelece, no que concerne ao


encerramento do processo arbitral, que este termina quando for proferida a
sentença definitiva ou quando for ordenado o encerramento do processo pelo
tribunal arbitral.

A Lei da Arbitragem Voluntária Portuguesa segue, no artigo 44º, esta regra. Caso
a sentença seja anulada é necessário constituir um novo tribunal arbitral – art.
46º nº9.

ARTIGO 33.º
(Efeitos da sentença arbitral)

A decisão arbitral produz entre as partes os mesmos efeitos das sentenças


judiciais e sendo condenatória, tem força executiva.

1. A decisão arbitral, notificada às partes, constitui caso julgado (res judicata)


quando adquire força obrigatória por dela não se poder já reclamar ou recorrer
por via ordinária.

2. A força executiva da decisão arbitral permite dar cumprimento efectivo ao


direito exarado na mesma, com recurso, caso seja necessário, às instâncias
judiciais para a sua execução forçada com base num título executivo como tal
reconhecido pelo art. 48.º n.º 2 do CPC angolano.

CAPÍTULO V

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LAV COMENTADA 117/266
Da Impugnação da Decisão

ARTIGO 34.º
(Anulação da decisão)

1. A decisão arbitral pode ser anulada pelo Tribunal Judicial por


algum dos seguintes fundamentos:
a) não ser o litígio susceptível de solução por arbitragem;
b) ter sido proferida por tribunal incompetente;
c) ter-se operado a caducidade da convenção arbitral;
d) ter sido proferida por tribunal irregularmente constituído;
e) não conter fundamentação;
f) ter havido violação dos princípios referidos no artigo 18.º da
presente lei e isso ter influenciado decisivamente a resolução do
litígio;
g) ter o tribunal conhecido questões de que não podia tomar
conhecimento ou ter deixado de se pronunciar sobre questões que
devia apreciar;
h) não ter o tribunal, sempre que julgue segundo a equidade e os usos
e costumes, nos termos do artigo 24.º da presente lei, respeitado os
princípios de ordem pública da ordem jurídica angolana.
2. O fundamento previsto na alínea b) do número anterior só pode
ser invocado naqueles casos em que o Tribunal Arbitral se tiver, ao abrigo
do artigo 31.º da presente lei, declarado competente ou se arguida a
incompetência na devida oportunidade o tribunal não tiver tomado
nenhuma decisão.
3. O fundamento da anulação previsto na alínea d) do n.º 1 do
presente artigo, só pode ser considerado se a parte que o invoca tiver
arguido a irregularidade até ao termo do prazo estabelecido no n.º 2 do
artigo 31.º da presente lei e aquela tiver influenciado, de modo decisivo, a
resolução do litígio.
4. No caso do fundamento referido na primeira parte da alínea g) do
n.º 1 do presente artigo, a anulação não prejudica a validade da decisão
sobre as questões que o tribunal podia conhecer.
5. No caso do fundamento referido na segunda parte da alínea g) do
n.º 1 do artigo anterior, a anulação só é admissível quando o não
conhecimento das questões em causa tenha tido uma influência decisiva
na resolução do litígio.
6. O direito de requerer a anulação da decisão arbitral é irrenunciável.

1. Tanto na Lei-Modelo da CNUDCI (art. 34º) como na generalidade dos


sistemas jurídicos nacionais, a decisão arbitral só pode ser impugnada por via
de acção de anulação. Refira-se, a título de exemplo, a Lei de Arbitragem
Brasileira que, no seu art. 18º, dispõe que “ o árbitro é juiz de facto e de direito,
e a sentença que proferir não fica sujeita a recurso ou a homologação pelo poder
judiciário” e a Lei da Arbitragem Voluntária Portuguesa que, no seu art. 46º nº1
estabelece: “(...) a impugnação de uma sentença arbitral perante um tribunal
estadual só pode revestir a forma de pedido de anulação, nos termos do disposto
no presente artigo.”

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 118/266
Os ordenamentos jurídicos francês, inglês e angolano afastam-se, porém, deste
modelo de impugnação da decisão arbitral (vide LUÍS DE LIMA PINHEIRO,
Arbitragem Transnacional, Almedina, Coimbra, 2005, pp. 166-167).

A LAV consagra uma dupla via de impugnação da decisão arbitral proferida na


arbitragem interna: a anulação (art. 34º da LAV) e os recursos (art. 36º da LAV).

2. A alínea a) do n.º 1 do art. 34º da LAV dispõe que a decisão arbitral pode ser
anulada pelo tribunal judicial por não ser o litígio susceptível de solução por via
arbitral. A ilicitude do objecto da convenção de arbitragem configura-se a partir
de situações em que a matéria seja inarbitrável. O problema, aqui, restringe-se
à inarbitrabilidade objectiva, i.e., discute-se se a matéria em litígio é passível de
resolução pela via arbitral. No direito angolano, são arbitráveis apenas as
questões que envolvem direitos patrimoniais disponíveis.

3. O fundamento de anulabilidade da decisão arbitral previsto na alínea b) do n.º


1 do art. 34º da LAV consubstancia-se no facto da mesma ter sido proferida por
tribunal incompetente. Os limites do poder jurisdicional do árbitro confundem-se
com os limites da própria convenção de arbitragem, na medida em que ao decidir
fora dos limites da convenção, o árbitro decide sem poder jurisdicional. Ele
decide sem ter poderes para tanto, usurpando poderes jurisdicionais que são
próprios do juiz estadual. Por conseguinte, a competência do tribunal pressupõe
a existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e a inclusão da
controvérsia no âmbito da convenção de arbitragem.

4. Na alínea c) do n.º 1 do art. 34º da LAV estabelece-se que a decisão arbitral


prolactada com base numa convenção de arbitragem caducada é também
susceptível de anulação pelo juiz estatal. Na verdade, tanto o árbitro que
extrapola para além da convenção de arbitragem como aquele que decide a
partir de uma convenção inválida e/ou caduca decidem sem poderes
jurisdicionais.

5. A constituição irregular do tribunal arbitral como fundamento de anulação da


decisão arbitral, prevista na alínea d) do n.º 1 do art. 34º da LAV, tem origem no
facto de a constituição do tribunal arbitral não respeitar as regras previstas na lei
ou na convenção arbitral, em especial os requisitos de independência e
imparcialidade (MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa
de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 271).

Por outro lado, pode acontecer que o tribunal arbitral não tenha todos os seus
árbitros presentes no momento da deliberação. Contudo, se os presentes
constituírem a maioria dos árbitros e a diligência em que se verifica a
irregularidade não se revestir de primordial importância para a tomada de
decisão final do dissídio, este facto – a irregularidade na constituição do tribunal
– não deverá servir de fundamento à instauração da acção de anulação. É que,
como é sabido, as diligências não têm todas a mesma relevância processual.
Por isso, sustenta FERNANDA DA SILVA PEREIRA, nem todas as
irregularidades na constituição do tribunal arbitral devem servir de fundamento à
acção de anulação (FERNANDA DA SILVA PEREIRA, Arbitragem Voluntária –
Impugnação de sentenças arbitrais, Petrony, Lisboa, 1999, p. 102).

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LAV COMENTADA 119/266
6. A falta de fundamentação da decisão arbitral constitui um fundamento da sua
anulação nos sistemas que prescrevem a fundamentação imperativa,
designadamente no sistema angolano (art. 27º, n.º 2 e 3 da LAV, a contrario
sensu). A decisão só será anulável por falta de fundamentação se não forem
enunciadas as razões em que ela se baseia. A deficiência ou erro de
fundamentação não constituem causa de anulação da decisão (LUÍS DE LIMA
PINHEIRO, Arbitragem Transnacional, Almedina, Coimbra, 2005, p. 172;
MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2ª
Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p.273).

Sobre a falta de fundamentação de decisões arbitrais, FERNANDA DA SILVA


PEREIRA observa que os fundamentos do recurso de decisões são, a priori,
susceptíveis de alguma confusão (FERNANDA DA SILVA PEREIRA, Arbitragem
Voluntária – Impugnação de sentenças arbitrais, Petrony, Lisboa, 1999, p. 81 e
ss). Atente-se v. g. na situação em que a decisão arbitral final, sob o ponto de
vista de uma das partes, padeça do vício de falta de, ou de deficiente,
fundamentação. Nestes casos há que, em primeiro lugar, analisar se a omissão
de fundamentação é total ou apenas deficiente e, em segundo lugar, verificar se,
apesar de deficientemente fundamentada, a decisão arbitral, ainda assim,
permite que o homem médio a apreenda. No caso da decisão arbitral final
padecer de uma omissão de fundamentação, o meio próprio para atacar o aresto
proferido pelo tribunal arbitral, é, nos termos da LAV, a acção de anulação. Se a
decisão se encontrar apenas deficientemente fundamentada, o meio próprio
para fazer com que ela produza os seus efeitos normais, é o recurso judicial.

Se a decisão for omissa relativamente aos fundamentos em que os árbitros se


basearam para decidirem naquele sentido, estaremos perante um dos
fundamentos de anulação da decisão arbitral; se esta apenas padecer de
insuficiência na sua fundamentação contendo, apesar disso, alguns elementos
que permitam ao homem normal apreender a fonte da decisão dos árbitros,
então, poder-se-á dizer que tal decisão, deficientemente fundamentada, pode
ser objecto de recurso. Melhor explicando: a falta absoluta de fundamentação da
decisão arbitral é um dos fundamentos da acção de anulação; a insuficiência de
fundamentação da decisão arbitral é motivo para recurso. Sendo a sentença
arbitral totalmente omissa quanto à sua fundamentação e uma das partes
intentar uma acção de anulação, deve a sentença ser declarada inválida pelo
tribunal de recurso; se a dita sentença tiver sido deficientemente fundamentada
e o tribunal de recurso considerar que essa deficiência torna difícil a
compreensão do aresto, neste caso, o que deverá acontecer é a sentença
arbitral ser devolvida ao tribunal arbitral para que supra a deficiência verificada
(FERNANDA DA SILVA PEREIRA, Arbitragem Voluntária – Impugnação de
sentenças arbitrais, Petrony, Lisboa, 1999, pp 81 e 106).

7. A violação das garantias processuais mínimas previstas no art. 18º da LAV


determina a anulação da decisão arbitral. Assim, a decisão poderá ser anulada
com fundamento em (i) falta de tratamento igual das partes, (ii) violação do
princípio do contraditório e (iii) falta de audiência das partes antes de proferida a
decisão final. Outra doutrina tem defendido que este fundamento de anulação
engloba todos os princípios constitucionais do processo equitativo, regras que

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LAV COMENTADA 120/266
fazem parte da chamada ordem pública processual (MARIANA FRANÇA
GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina,
Coimbra, 2012, p.269).

O preceito estabelece ainda o requisito da influência decisiva do litígio que obriga


a um juízo de prognose casuístico nem sempre de fácil concretização. A análise
deve ser feita face ao caso concreto, em especial ao vício processual que foi
praticado ou omitido (MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução
Alternativa de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 270).

8. Resulta da al. g) do n.º 1 do art. 34º da LAV que decidir extra ou ultra petita
significa decidir para além do objeto do processo conforme fixado pelas partes
nos articulados. Decidir infra petita é não decidir algum dos pedidos ou as causas
de pedir formuladas pelo demandante ou pelo demandado reconvinte. Em
ambos os casos, se viola o princípio dispositivo, nos termos do qual o tribunal
está obrigado a decidir dentro do objecto fixado pelas partes.

9. Por fim, incumbe aos árbitros respeitar os princípios de ordem pública vigentes
no direito angolano, mesmo que julguem segundo a equidade ou que apliquem
usos e costumes internos ou internacionais. Se assim não for, a decisão fica
maculada e torna-se anulável. A este propósito, ver o que a anotação supra ao
artigo 24º refere.

10. A incompetência e a irregularidade do tribunal só são invocáveis em acção


de anulação se a parte as alegou oportunamente perante o tribunal arbitral e este
considerou tais alegações improcedentes ou não tomou qualquer decisão sobre
a matéria. A incompetência do tribunal só pode ser arguida até à apresentação
da defesa quanto ao fundo da causa ou juntamente com esta (art. 31º, n.º 1 da
LAV); o mesmo se diga com respeito à irregularidade na constituição do tribunal
arbitral (art. 31º, n.º 2 da LAV).

A anulação da decisão arbitral será parcial se o fundamento da anulação só se


verificar relativamente a uma parte da decisão que seja dissociável do conjunto,
como nos indica a alínea g) do n.º 1 do art. 34º da LAV em relação a sentenças
infra ou ultra petita.

11. O direito de requerer a anulação da decisão arbitral perante um tribunal


judicial é irrenunciável. Não obstante, as partes podem convencionar que o
recurso da decisão arbitral seja feito perante uma outra instância arbitral. Tal
convenção implica, na prática, uma renúncia ao recurso para o tribunal judicial.

Em face do art. 35º, n.º 1 da presente lei, a acção de anulação deve ser intentada
perante o Tribunal Supremo.

2. PAULA COSTA E SILVA observa que, ainda que as partes recorram para uma
instância arbitral, é sempre admissível a propositura de uma acção autónoma no
tribunal judicial. Esta solução decorre do carácter irrenunciável do direito de
requerer a anulação da decisão arbitral perante um tribunal judicial, que se
relaciona com a função de controlo da arbitragem exercida pelos órgãos
estaduais (PAULA COSTA SILVA, “Os meios de impugnação de decisões

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LAV COMENTADA 121/266
proferidas em arbitragem voluntária no Direito interno português”, in ROA 56,
179-207; LUÍS DE LIMA PINHEIRO, Arbitragem Transnacional, Almedina,
Coimbra, 2005, pp. 167 e ss.).

Para FERNANDA DA SILVA PEREIRA os princípios da igualdade e da tutela


efectiva da justiça são postos em causa com a possibilidade de recurso para o
tribunal judicial. Isto porque quando as partes se socorrem de um tribunal arbitral
fazem-no na firme convicção de que, optando por este meio, obtêm uma decisão
final num lapso de tempo mais curto comparativamente com o prazo que o
tribunal judicial demora a proferir a sua sentença; e tal não sucede se a decisão
arbitral for impugnada perante o tribunal judicial. Ora, se o tribunal judicial, em
caso de impugnação da decisão arbitral, não profere uma decisão também ela
célere, verifica-se, sem dúvida alguma, uma denegação da justiça efectiva, uma
vez que não basta proferir uma decisão judicial, independentemente do prazo
em que ela é prolactada, sendo indispensável que tal decisão, seja ela qual for,
seja tomada num prazo razoavelmente curto para que se obtenha a procurada
justiça (FERNANDA DA SILVA PEREIRA, Arbitragem Voluntária – Impugnação
de sentenças arbitrais, Petrony, Lisboa, 1999, p. 85).

ARTIGO 35.º
(Tramitação)

1. A acção de anulação deve ser intentada perante o Tribunal


Supremo, no prazo de 20 dias, contados desde a data da notificação da
sentença arbitral.
2. Se couber recurso da decisão arbitral, a anulação só pode ser
apreciada e decidida por via de recurso.
3. O requerimento inicial na acção de anulação deve conter os
fundamentos em que se baseia a pretensão, sendo subsidiariamente
aplicáveis as regras do recurso de agravo previstas no Código de Processo
Civil.

1. A acção de anulação (assim como o recurso da decisão arbitral previsto no


art. 36º da LAV, caso não seja afastado pelas partes) é intentada perante o
Tribunal Supremo, no prazo de vinte dias, contados da data da notificação da
decisão arbitral.

2. A acção de anulação da decisão arbitral tem um carácter residual ou


subsidiário, uma vez que, podendo e sendo interposto recurso da mesma
decisão, os fundamentos da acção da anulação deverão ser invocadas no
recurso. Em consequência do que se acaba de dizer conclui-se que sendo
intentada uma acção de anulação e um recurso da sentença arbitral, aquela
deverá decair mantendo-se o recurso, sendo neste discutidos os fundamentos
que levaram a parte a intentar a dita acção de anulação.

Tem legitimidade para intentar a acção de anulação de decisão arbitral a parte


vencida no pleito uma vez que, em princípio, não se justifica que a parte
vencedora tenha interesse em anular a sentença arbitral. Dito de outro modo, a

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 122/266
parte vencedora no processo arbitral não tem legitimidade originária para pedir
ao tribunal judicial que proceda à anulação da sentença arbitral, a não ser que a
mesma, apesar de ter sido favorável à parte vencedora, não consagre a
procedência total da sua pretensão. Nesta situação, que pode bem acontecer, a
parte parcialmente vencedora no processo arbitral, se não se conformar com a
decisão de mérito e tendo fundamentos para isso pode, e dever-lhe-á ser
reconhecido o interesse processual de requerer a anulação da decisão arbitral.
É que, é sabido, uma coisa é obter ganho total da causa e outra, diferente, é
obter ganho parcial da mesma.

ARTIGO 36.º
(Recursos)

1. Se as partes não tiverem renunciado previamente a essa


faculdade, cabem da sentença arbitral os mesmos recursos que caberiam
se a sentença fosse proferida pelo Tribunal Provincial.
2. Os recursos são interpostos para o Tribunal Supremo e
processados nos termos do Código de Processo Civil com as necessárias
adaptações mas o prazo de interposição é de 15 dias.
3. A faculdade atribuída ao Tribunal Arbitral para julgar segundo a
equidade implica a renúncia aos recursos.

1. Contrariamente ao princípio de não-recorribilidade das decisões arbitrais que


vigora para a arbitragem internacional, salvo convenção em contrário (art. 44º da
LAV), vigora para as arbitragens internas o princípio de recorribilidade da
sentença salvo renúncia prévia pelas partes a essa faculdade, como dispõe o
art. 36º, n.º 1, 1ª parte da LAV.

2. Veja-se a propósito do art. 36º, n.º 3 da LAV os nossos comentários ao art.


24º da LAV.

3. O Tribunal Supremo é o tribunal competente para conhecer dos recursos e


das acções de anulação de decisões arbitrais, como se depreende dos n.ºs 1 do
artigo 35º da LAV e 2 do presente artigo. Já a execução forçada da decisão
arbitral é requerida perante o Tribunal Provincial, nos termos do art. 37º n.º 2 da
LAV.

Por fim, a anulabilidade da decisão arbitral poderá vir a ser apreciada pelo
Tribunal Provincial em sede de oposição à execução, de acordo com o art. 814º
do CPC, com a redacção que lhe foi dada pelo art. 46º da LAV.

CAPÍTULO VI
Da Execução da Decisão

ARTIGO 37.º
(Execução)

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 123/266
1. As partes devem executar a decisão arbitral nos precisos termos
determinados pelo Tribunal Arbitral.
2. Findo o prazo fixado pelo Tribunal Arbitral para o cumprimento
voluntário da sentença ou, na falta dessa fixação, no prazo de 30 dias após
a notificação da sentença, sem que a mesma tenha sido cumprida, pode a
parte interessada requerer a sua execução forçada perante o Tribunal
Provincial, nos termos da Lei do Processo Civil.

1. As partes devem executar a decisão arbitral voluntariamente, verificando-se,


na grande maioria dos ordenamentos jurídicos, a execução voluntária das
mesmas.

Não obstante, é possível proceder à execução forçada da decisão arbitral


quando se verifica a falta do seu acatamento voluntário pela parte que foi
condenada, recorrendo-se ao tribunal judicial, nos termos do art. 37º, n.º 1 da
LAV. A sentença arbitral é título bastante para, com base nela, se intentar uma
acção executiva, nos termos previstos no art. 48.º n.º 2 do CPC.

Sem prejuízo da execução da sentença arbitral, existem ainda outras formas de


pressão sobre a parte condenada pelo tribunal arbitral que se poderão revelar
de extrema utilidade. Por exemplo, a publicitação da decisão arbitral pela
organização empresarial a que pertença a parte faltosa e/ou em que funcione o
centro de arbitragem intitucionalizada que proferiu a decisão, pondo fim à
confidencialidade que caracteriza, em princípio, a arbitragem.

2. Embora juiz e, portanto, detentor de jurisdição, o árbitro não é um juiz estadual,


nem é juiz permanente e com poderes jurisdicionais amplos como os
magistrados do aparelho judicial. A prova mais evidente da limitação imposta ao
árbitro está na falta de poder para fazer executar as suas próprias sentenças. Só
ao juiz estadual compete desencadear os mecanismos da execução forçada
(THOMAS CLAY, L’arbitre, Dalloz, Paris, 2001, pp. 36 et 8004 ; HUMBERTO
THEODORO JÚNIOR, “Arbitragem e Terceiros, Litisconsórcio fora do pacto
arbitral – Outras intervenções de terceiros”, in Reflexões sobre Arbitragem, LTR,
São Paulo, 2002, p. 245, onde escreve “étant un juge désigné par contrat,
l’arbitre est soumis à un régime juridique qui repose sur une double source: la
source jurisdictionnelle de sa mission constitutive de son statut de juge, et la
source contractuelle de son investiture qui fonde la relation nouée avec ceux dont
il va trancher le litige”).

ARTIGO 38.º
(Processo de execução forçada)

1. O processo de execução forçada segue os termos do processo


sumário de execução, independentemente do valor da causa.
2. O requerimento para a execução deve ser acompanhado de cópias
autenticadas dos seguintes documentos:
a) sentença arbitral, sua rectificação ou aclaração;
b) comprovativo da notificação e do depósito da sentença.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 124/266
1. As acções executivas são aquelas em que, invocando a falta de cumprimento
de uma obrigação constante de documento revestido de especial força
probatória (título executivo), o autor (exequente) requer a efectiva reintegração
do seu direito ou a aplicação das sanções correspondentes à sua violação. São
acções que, no dizer do art. 2º do CPC, se destinam à realização coerciva do
direito invocado pelo requerente (JORGE DUARTE PINHEIRO, Fase Introdutória
dos Embargos de Terceiro, Almedina, Coimbra, 1992, p. 17).

2. O processo executivo pode ser comum ou especial. O processo executivo


comum, que é o que releva para efeitos do art. 38º, n.º 1 da LAV, comporta as
seguintes formas: (i) a execução para pagamento de quantia certa (ordinária,
sumária ou sumaríssima), (ii) a execução para entrega de coisa certa (ordinária,
sumária ou sumaríssima) e (iii) a execução para prestação de facto (ordinária ou
sumária). É o que resulta da articulação dos arts. 45º e 465º do CPC.

3. A execução para pagamento de quantia certa desenrola-se em quatro fases:


a) a fase introdutória, baseada no requerimento inicial para a acção executiva;
b) a fase da penhora; c) a fase da venda e d) a fase do pagamento.

4. O processo de execução forçada, reza o n.º 1 do art. 38º da LAV, segue, com
as necessárias adaptações, os termos do processo sumário de execução
previsto no CPC. Não obstante, os arts. 924º a 926º do CPC divergem, em certa
medida, do estatuído no artigo 39º da LAV, porquanto estabelecem prazos
diferentes dos previstos na LAV; é de cinco dias o prazo concedido no CPC ao
executado para embargar a execução e de outros cinco para o exequente
contestar os embargos do executado, em vez dos oito dias estipulados no n.º 2
do art. 39º da LAV.

5. A parte que promove a execução deverá fornecer ao tribunal judicial (i) cópia
da sentença arbitral, com eventual rectificação ou aclaração, (ii) o comprovativo
da sua notificação às partes e (iii) do seu depósito na Secretaria do Tribunal
Provincial, nos termos do art. 38º, n.º 2 da LAV. Note-se que o cumprimento
destes requisitos é essencial para que a parte possa intentar a respectiva acção
de execução, cabendo ao tribunal judicial aferir se a cópia da sentença que lhe
foi disponibilizada coincide com o teor da sentença que se encontra depositada
junto da Secretaria Judicial. Por isso, apesar do depósito da sentença arbitral ser
facultativo, porquanto nos termos do art. 30.º n.º 4, é admissível acordo das
partes em contrário, é aconselhável que as partes obtenham todos estes
elementos da parte do secretariado do tribunal arbitral, aquanto do termo do
processo arbitral.

ARTIGO 39.º
(Oposição à execução)

1. É admitida a oposição à execução forçada com fundamento no


previsto nos artigos 813.º e 814.º do Código de Processo Civil quando se
alegar causa de anulação ou encontrando-se pendente a acção de anulação
correspondente.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 125/266
2. A oposição deve ser deduzida no prazo de oito dias a contar da
data da citação que no processo lhe for feita.
3. A decisão judicial que recaia sobre a oposição à execução não é
susceptível de recurso.

1. A parte que não quis, ou não pôde, interpor acção de anulação da decisão
arbitral, pode agora, mediante oposição à execução da sentença, invocar os
fundamentos previstos nos artigos 813º e 814º do CPC. A Lei da Arbitragem
Voluntária Portuguesa corrigiu (no seu art. 48º, n.º 1) a possibilidade de
invocação dos fundamentos quando o executado (parte vencida na arbitragem)
não propôs em prazo a acção de anulação. Tal restrição visa impedir a
inutilização do prazo curto da acção de anulação.

2. Nos termos do artigo 813º do CPC, fundando-se a execução em sentença, a


respectiva oposição só pode ter algum dos fundamentos seguintes:

a) Inexequibilidade do título;
b) Falsidade do processo ou do traslado ou infidelidade deste, quando uma
ou outra influa nos termos da execução;
c) Ilegitimidade do exequente ou do executado ou da sua representação;
d) Cumulação indevida de execuções ou coligação ilegal de exequentes;
e) Falta ou nulidade da primeira citação para a acção, quando o réu não
tenha intervindo no processo;
f) Incerteza, iliquidez ou inexigibilidade da obrigação exequenda;
g) Caso julgado anterior à sentença que se executa;
h) Qualquer facto extintivo ou modificativo da obrigação, desde que seja
posterior ao encerramento da discussão no processo de declaração e se
prove por documento. A prescrição do direito ou da obrigação pode ser
provada por qualquer meio.

3. O artigo 814º do CPC, com a redacção que lhe foi dada pelo art. 46º da LAV,
dispõe que “1. São fundamentos da oposição à execução baseada em sentença
arbitral não só os previstos no artigo anterior, mas também aqueles em que pode
basear-se a anulação judicial da mesma decisão. 2. O tribunal indefere
oficiosamente o pedido de execução quando reconhecer que o litígio não podia
ser cometido à decisão por árbitros, quer por estar submetido por lei especial,
exclusivamente a Tribunal Judicial ou a arbitragem necessária, quer por o direito
litigioso não ser disponível pelo seu titular”.

O antigo texto do art. 814º do CPC (revogado, como se disse, pelo art. 46º da
LAV), dispunha que “tratando-se de sentença proferida por tribunal arbitral, pode
a oposição ser deduzida não só por algum dos fundamentos mencionados no
artigo anterior, mas ainda pelos seguintes: a) Nulidade ou caducidade do
compromisso; b) Nulidade da sentença, se as partes tiverem renunciado
previamente aos recursos”.

Comparando ambas, conclui-se que a nova redacção do art. 814º do CPC é mais
abrangente quanto aos fundamentos da oposição à execução duma sentença
arbitral. Aos fundamentos enunciados no art. 813º do CPC, acrescem os que
estão previstos no art. 34º da LAV, a saber:

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 126/266
a) não ser o litígio susceptível de solução por arbitragem;
b) ter sido proferida por tribunal incompetente;
c) ter-se operado a caducidade da convenção arbitral;
d) ter sido proferida por tribunal irregularmente constituído;
e) não conter fundamentação;
f) ter havido violação dos princípios referidos no artigo 18.º da presente lei
e isso influenciado decisivamente a resolução do litígio;
g) ter o tribunal conhecido questões de que não podia tomar conhecimento
ou ter deixado de se pronunciar sobre questões que devia apreciar;
h) não ter o tribunal, sempre que julgue segundo a equidade e os usos e
costumes, nos termos do artigo 24.º da presente lei, respeitado os
princípios de ordem pública da ordem jurídica angolana.

4. O artigo 924º, n.º 2 do CPC prevê um prazo de cinco dias para o executado
embargar a execução ou requerer a substituição dos bens penhorados. O artigo
925º do CPC prevê ainda o prazo de cinco dias para a contestação dos
embargos de executado, referindo-se o artigo 926º do CPC aos agravos
interpostos de despachos proferidos no processo de embargos de executado.
Nos termos dos n.ºs 2 e 3 do art. 39º da LAV, a oposição deve ser deduzida no
prazo de oito dias a contar da data da citação que no processo lhe for feita e a
decisão judicial que recaia sobre a oposição à execução não é susceptível de
recurso.

5. FERNANDA DA SILVA PEREIRA defende que, mesmo no caso de não ter


havido nem recurso nem acção de anulação da sentença arbitral, se a parte
vencedora executar a sentença e a parte vencida deduzir oposição com os
fundamentos da acção de anulação, o tribunal arbitral manterá a sua
competência para decidir o pleito no caso do tribunal judicial vir a dar razão à
executada e considerar que o título executivo é inválido (FERNANDA DA SILVA
PEREIRA, Arbitragem Voluntária – Impugnação de sentenças arbitrais, Petrony,
Lisboa, 1999, pp. 104-105). Este caso equivale, no fundo, à procedência de uma
acção de anulação, pelo que as consequências são as mesmas.

CAPÍTULO VII
Da Arbitragem Internacional

ARTIGO 40.º
(Conceito)

1. Entende-se por arbitragem internacional a que põe em jogo


interesses do comércio internacional, designadamente quando:
a) as partes numa convenção de arbitragem tiverem, no
momento da conclusão da convenção, os seus
estabelecimentos em Estados diferentes;
b) o lugar da arbitragem, o lugar da execução de uma parte
substancial das obrigações resultantes da relação jurídica de
que emerge o conflito ou o lugar com o qual o objecto do litígio

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 127/266
tenha uma relação mais estreita se encontre situado fora do
Estado no qual as partes têm o seu estabelecimento;
c) as partes tiverem convencionado expressamente que o
objecto da convenção de arbitragem tem conexão com mais
de um Estado.
2. Para efeitos do número anterior, entende-se que:
a) se uma parte tiver mais do que um estabelecimento, é tomado
em consideração aquele que tiver uma conexão mais estreita
com a convenção de arbitragem;
b) se uma parte não tiver estabelecimento releva para este efeito
a sua residência habitual.

1. A definição de arbitragem internacional vertida no n.º 1 do art. 40º da LAV


procura compatibilizar duas concepções dominantes respeitantes ao conceito de
arbitragem internacional, designadamente a concepção francesa e a da Lei-
Modelo da CNUDCI.

2. A primeira parte do n.º 1 do artigo 40º da LAV é inspirada na Lei da Arbitragem


Portuguesa de 1986, que por sua vez, se inspirou no artigo 1492º do Novo
Código de Processo Francês, que estabelece que “est international l’arbitrage
qui met en cause les intérêts du commerce international”. Com o Decreto n.º
2011-48, de 13 de Janeiro de 2011, o artigo 1492º NCPC passou a ser o artigo
1504º. O critério adoptado em França pelo NCPC tem em conta a realidade
económica da questão, fazendo descaso da lei aplicável ao contrato, ao
procedimento e ao lugar da arbitragem.

“O carácter internacional da arbitragem deve ser determinado em função da


realidade económica do processo que origina a sua implementação, bastando
que a operação económica realize uma transferência transfronteiriça de bens,
de serviços ou de fundos, sendo inoperantes a nacionalidade das sociedades
em causa, a lei aplicável ao contrato ou à arbitragem assim como o lugar da
arbitragem” (Decisão da Corte de Apelação de Paris (1ère Ch., sect. C.), j.
5.4.90, Revue Critique de Droit International Privé, 1991, Vol. 80, p. 580 ; a
mesma decisão, vide CA Paris, 1re Ch., 5 avr. 1990, Société Courrèges : Rev.
Arb. 1992, p. 110, note H. Synvet). Visa-se, por conseguinte, abranger todas as
arbitragens que tenham por objecto litígios emergentes de operações
económicas que envolvam a circulação de bens, serviços ou capitais através de
fronteiras.

3. De acordo com ISABEL DE MAGALHÃES COLLAÇO, o facto das Partes


terem a sua residência em países diferentes não é uma condição necessária e
suficiente para que a arbitragem seja considerada internacional. Pode-se
perfeitamente conceber que um litígio entre duas partes, uma das quais com
residência habitual em Portugal e a outra no estrangeiro, só ponha em jogo
interesses do comércio local – nomeadamente se nenhuma transferência de
valores através das fronteiras estiver em causa. Ao contrário, as Partes numa
arbitragem que põe em jogo interesses do comércio internacional podem ter a
sua residência num mesmo Estado (ISABEL DE MAGALHÃES COLLAÇO,
L’arbitrage International dans la récente loi portugaise sur l’abritrage volontaire,
Fondation Calouste Gulbekian, Paris, 1991, pp. 58-59).

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 128/266
3. Para LUÍS DE LIMA PINHEIRO, e em face da lei portuguesa, não se deve
atender (contrariamente ao entendimento seguido pela jurisprudência francesa)
a um critério puramente económico, tal como o da transferência de bens através
das fronteiras, para determinar a “internacionalidade” do litígio (LUÍS DE LIMA
PINHEIRO, “Direito aplicável ao mérito da causa na arbitragem transnacional”,
in Estudos de Direito Comercial Internacional, Almedina, Coimbra, 2004, pp. 17-
20).

Entende aquele cultor de Direito Comercial Internacional que o critério da


transferência internacional de valores foi desenvolvido para a determinação da
internacionalidade do contrato e não pode ser transposto mecanicamente para
a caracterização da arbitragem internacional, que não se confina a litígios
contratuais e que coloca problemas de regulação diferentes. Sendo que o critério
da transferência de valores através das fronteiras pode não funcionar
satisfatoriamente para todas as modalidades contratuais, sendo o seu campo de
aplicação fundamentalmente o dos contratos comutativos.

Outrossim, na aplicação do critério dos interesses do comércio internacional no


contexto da arbitragem, deve atender-se, sobretudo, aos laços objectivos que se
estabelecem entre os elementos da relação controvertida e a vida económica de
Estados diferentes. O mais importante não é a perspectiva macroeconómica, a
relevância da transacção no plano das relações entre Estados, mas a
circunstância das Partes ficarem colocadas numa posição específica que
justifica a aplicação do regime especial da arbitragem internacional. No caso de
relações contratuais, esta posição decorre essencialmente dos laços que se
estabelecem com diferentes Estados, quer no momento da celebração do
contrato quer durante a sua execução.

Por conseguinte, a arbitragem internacional abrange quer a arbitragem que põe


em jogo interesses do comércio internacional, no sentido acima referido, quer a
arbitragem que embora não pondo em jogo interesses do comércio internacional
tem por objecto uma relação controvertida que apresenta laços juridicamente
relevantes com mais de um Estado. Além disso, também é arbitragem
internacional, em sentido amplo, aquela que tendo por objecto uma relação
controvertida que se insere exclusivamente na esfera social de um Estado é
realizada noutro Estado.

4. DÁRIO MOURA VICENTE propende para um critério que atende


fundamentalmente ao objecto do litígio na aferição da internacionalidade da
arbitragem, i.e., o objecto do litígio submetido à arbitragem deve estar ligado a
uma operação económica internacional (DÁRIO MOURA VICENTE, Da
Arbitragem Comercial Internacional – Direito Aplicável ao mérito da causa,
Coimbra Editora, Coimbra, 1990, p. 40 – 41).

5. A segunda parte do n.º 1 do art. 40º da LAV é inspirada na Lei-Modelo da


CNUDCI sobre a Arbitragem Comercial Internacional.

A definição francesa tem, com certeza, o mérito de ser extensiva, mas para o
Grupo de Trabalho encarregue da redacção da Lei-Modelo da CNUDCI, a

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 129/266
mesma tem o inconveniente de conduzir a interpretações divergentes nos vários
sistemas judiciais dos países que a adoptaram (HOWARD HOLTZMANN e
JOSEPH NEUHAUS, A Guide to the UNCITRAL Model Law on International
Commercial Arbitration – Legislative History And Commentary, Kluwer, 1989, pp.
26 e ss).

O legislador angolano, ao adoptar as três hipóteses alternativas para a


determinação da internacionalidade da arbitragem comercial, demarca-se, sem
dúvida, e é bem mais abrangente do que a doutrina e jurisprudência francesas,
que inspiraram vários outros ordenamentos jurídicos.

O que conta não é só a transferência de bens, serviços ou valores, mas também


os laços jurídicos relevantes com mais de um Estado que apresenta a relação
controvertida, pelo facto de (i) as partes numa convenção de arbitragem terem,
no momento da conclusão da convenção, os seus estabelecimentos em Estados
diferentes; (ii) o lugar da arbitragem, o lugar da execução de uma parte
substancial das obrigações resultantes da relação jurídica de que emerge o
conflito ou o lugar com o qual o objecto do litígio tiver contacto ou uma relação
mais estreita se encontre situado fora do Estado no qual as Partes têm o seu
estabelecimento; (iii) as Partes terem convencionado expressamente que o
objecto da convenção de arbitragem tem conexão com mais de um Estado.

As três hipóteses referidas devem ser consideradas puramente exemplificativas,


podendo eventualmente existir outras que se insiram no âmbito da definição legal
de arbitragem internacional. O uso da palavra “designadamente” no art. 40º, n.º
1 da LAV corrobora esta afirmação.

Pode citar-se, a título de exemplo, o caso de uma arbitragem entre duas partes
domiciliadas no mesmo Estado, em que uma delas seja controlada e
administrada por uma empresa estrangeira. Esta hipótese, que não se encontra
contemplada directamente em nenhuma das alíneas do art. 40º, n.º 1 da LAV,
pode ser enquadrada, segundo a doutrina, no art. 40º, n.º 1, al. c) da LAV (LINO
DIAMVUTU, “Resolução arbitral de litígios resultantes de Contratos de
Investimento celebrados em Angola entre o Estado e Investidores externos”, in
Estudos de Direito Comercial Internacional, Editora Caxinde, Luanda, 2008, pp.
43 e ss.).

6. A arbitragem pode ser doméstica, e ter uma determinada nacionalidade, ou


ser considerada internacional ou transnacional. A nacionalidade da arbitragem é
importante, entre outras, pelas seguintes razões: (i) determina a lei que regula a
arbitragem, que será, em princípio, a lei dessa nacionalidade; (ii) determina o
tribunal judicial que tem jurisdição sobre o procedimento arbitral, pois esse
tribunal terá poderes para supervisionar e, quando necessário, intervir no
procedimento arbitral; (iii) identifica o procedimento a ser seguido para a
execução da sentença arbitral, pois normalmente uma sentença proferida
internamente é mais facilmente executável do que uma proferida no estrangeiro
(CARMEN TIBURCIO, “A lei aplicável às arbitragens internacionais”, in
Reflexões sobre Arbitragem, Editora São Paulo, 2002, p. 92).

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 130/266
7. Toda a arbitragem internacional é nacional relativamente a um Estado e
estrangeira em face dos demais.

A distinção entre a arbitragem nacional e estrangeira tem grande alcance, tanto


na perspectiva dos tribunais judiciais como na perspectiva dos árbitros. Na
perspectiva dos tribunais judiciais releva porque a eficácia da sentença arbitral
estrangeira na ordem jurídica do foro onde deve ser executada depende
geralmente da sua prévia revisão e confirmação, salvo se o país da execução
tiver aderido à Convenção de Nova Iorque de 1958 sobre a exequibilidade das
decisões arbitrais, e ainda porque a competência dos tribunais nacionais para
intervirem no processo arbitral como jurisdições de apoio ou como instâncias de
recurso se restringe às arbitragens nacionais, só assim não sendo se, por acordo
das partes, a decisão do tribunal arbitral for recorrível, como resulta do art. 44.º
da LAV. Do ponto de vista dos árbitros, a sua relevância prende-se com o facto
da determinação da nacionalidade da arbitragem depender, em algumas ordens
jurídicas, do direito processual e das normas de conflitos aplicáveis.

Coloca-se, assim, a questão de saber com base em que critérios deve operar-
se a referida distinção. São fundamentalmente dois os que têm sido consagrados
na doutrina e no direito positivo: em primeiro lugar, o que atende ao lugar da
sede do tribunal arbitral e, em segundo lugar, o que se baseia no direito aplicável
à arbitragem. De certo modo, a oposição entre estes critérios é meramente
aparente, pois os autores e as legislações que acolhem o primeiro critério partem
do pressuposto de que é o direito em vigor no lugar da arbitragem que a rege;
na prática, o direito processual aplicado pelos árbitros tende a coincidir com o
que vigora no lugar da arbitragem.

De facto, o lugar onde decorreu a arbitragem e onde foi proferido a sentença


arbitral é o critério determinante para a sua caracterização como nacional ou
estrangeira na maior parte das ordens jurídicas. Consagram-no os direitos
português, espanhol, belga, holandês, inglês, irlandês, sueco e dinamarquês.

Diversa é a opção da doutrina, da jurisprudência e do direito positivo na


Alemanha e em França (no âmbito das normas do NCPC, revogadas pelo
Decreto de 13 de Janeiro de 2011 sobre a reforma da arbitragem).

Na Alemanha, o critério decisivo é o do direito processual aplicável. Em 1956, o


Bundesgerichtshop afirmou expressamente que uma sentença arbitral é
estrangeira quando se encontra sujeita ao direito processual estrangeiro. Esta
orientação é unanimemente subscrita pela doutrina alemã e obteve consagração
positiva na lei de 15 de Março de 1961, que expressamente excluiu a aplicação
das disposições da Convenção de Nova Iorque às arbitragens ocorridas no
estrangeiro segundo o direito processual alemão.

Em França, a orientação escolhida na jurisprudência e na doutrina anteriores à


reforma de 1981 do Código de Processo Civil era semelhante à orientação
alemã. A nova legislação parece, no entanto, ter abandonado a expressão
“sentença estrangeira”. As disposições do novo Código de Processo Civil sobre
o reconhecimento, a execução e os meios de impugnação das sentenças
arbitrais (arts. 1498º e ss.) são aplicáveis tanto às sentenças proferidas no

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LAV COMENTADA 131/266
estrangeiro, qualquer que seja o direito processual aplicado, como às sentenças
em matéria de arbitragem internacional, onde quer que hajam sido proferidas.

A localização de uma arbitragem internacional em território francês não é


desprovida de efeitos jurídicos próprios. Sendo esse o caso, o novo Código de
Processo Civil atribui expressamente competência aos tribunais franceses para
intervirem no processo arbitral como jurisdições de apoio (art. 1493º) e para
julgarem os recursos de anulação interpostos contra as sentenças arbitrais dela
emergentes. Nesta restrita medida haverá, pois, que distinguir as arbitragens
internacionais sedeadas em França das que decorrem no estrangeiro (DÁRIO
MOURA VICENTE, Da Arbitragem Comercial Internacional – Direito Aplicável ao
Mérito da Causa, Coimbra Editora, Coimbra, 1990, pp. 51-54). Esta questão deve
ser hoje analisada à luz do Decreto francês de 13 de Janeiro de 2011, sobre a
reforma da arbitragem.

ARTIGO 41.º
(Regime Supletivo)

Na falta de estipulação expressa das partes, são aplicáveis à


arbitragem internacional as disposições da presente lei, com as
necessárias adaptações e sem prejuízo do estabelecido no presente
capítulo.

1. O legislador angolano entendeu tratar da matéria da arbitragem internacional


num capítulo próprio, tendo em conta algumas das suas especificidades.
Contudo, as disposições dos demais capítulos da LAV aplicam-se mutatis
mutandis, na falta de estipulação expressa das partes, à arbitragem internacional
organizada em Angola, ao abrigo da presente lei.

2. Constituem especificidades da arbitragem internacional, tratadas no presente


capítulo, o regime jurídico da língua da arbitragem, o direito aplicável ao mérito
da causa e as circunstâncias da composição de litígios segundo a equidade ou
a l’amiable composition, bem como o regime legal dos recursos.

ARTIGO 42.º
(Língua)

1. As partes podem, por acordo, escolher livremente a língua ou


línguas a utilizar no processo arbitral e, na falta de tal acordo, o Tribunal
Arbitral determina a língua ou línguas a utilizar no processo.
2. O acordo ou a determinação referidos no número anterior,
aplicam-se a qualquer declaração escrita de uma das partes, a qualquer
procedimento oral e a qualquer sentença, decisão ou comunicação do
Tribunal Arbitral, a menos que tenha sido especificado de modo diverso.
3. O Tribunal Arbitral pode ordenar que qualquer peça processual
seja acompanhada de uma tradução na língua ou línguas convencionadas
pelas partes ou escolhidas pelo Tribunal Arbitral.

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LAV COMENTADA 132/266
1. A língua ou línguas a ser(em) utilizada(s) deve(m) ser objecto de acordo das
partes ou, na falta de tal acordo, competirá ao tribunal arbitral determiná-la(s).
Tratar-se-á, regra geral, da língua do contrato que contém a convenção arbitral.
No Regulamento da CCI, o artigo 16º (Idioma da Arbitragem) dispõe que,
“inexistindo acordo entre as partes, o Tribunal Arbitral determinará o idioma ou
idiomas do procedimento arbitral, levando em consideração todas as
circunstâncias relevantes, inclusive o idioma do contrato”. O Regulamento de
Arbitragem Internacional da AAA prevê que o idioma do procedimento arbitral
será o do contrato contendo a convenção arbitral, a não ser que as partes
tenham acordado diversamente (art. 14º). O Regulamento da LCIA, estatui que,
salvo acordo contrário das partes, o idioma da convenção arbitral é o idioma
inicial ou primeira língua, mas o tribunal poderá decidir sobre o idioma do
processo arbitral tendo em conta os comentários das partes (art. 17º). O
Regulamento de Arbitragem da UNCITRAL é mais neutro, prevendo
simplesmente que o idioma da arbitragem é determinado pelas partes ou, na
falta de acordo, pelo tribunal arbitral (art. 17º).

Outras soluções não são satisfatórias. Por exemplo, a de fazer coincidir a língua
da arbitragem, na falta de escolha da língua a utilizar no processo arbitral pelas
partes, com a língua do país cujas leis foram designadas para a apreciação do
mérito da causa, ou a de considerar que as partes são autorizadas de expressar-
se cada uma na sua própria língua (FOUCHARD/GAILLARD/GOLDMAN, On
International Commercial Arbitration, Kluwer Law International, 1999, n.º 1244,
1245, pp. 678 – 679).

ARTIGO 43.º
(Direito Aplicável)

1. O Tribunal Arbitral decide o litígio de acordo com a lei escolhida


pelas partes para ser aplicada ao fundo da causa.
2. Qualquer designação da lei ou do sistema jurídico de um
determinado Estado é considerada, salvo indicação expressa em contrário,
como designando directamente as regras jurídicas materiais desse Estado
e não as suas regras de conflitos de leis.
3. Na falta de designação pelas partes, o tribunal aplica o direito
resultante da aplicação da regra de conflitos de leis que julgue aplicável na
espécie.
4. O tribunal apenas pode decidir segundo a equidade ou proceder a
uma composição amigável quando expressamente autorizado pelas partes.
5. Em qualquer caso, o Tribunal Arbitral toma em conta os usos e
costumes do comércio internacional aplicável ao objecto da convenção de
arbitragem.

1. O princípio da autonomia da vontade no Direito Internacional Privado consiste


na faculdade reconhecida às Partes de designarem a lei por que hão-de reger-
se as relações jurídico-privadas internacionais estabelecidas entre elas.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 133/266
Nas arbitragens relativas a litígios emergentes de relações comerciais
internacionais, a autonomia da vontade constitui hoje um princípio de aceitação
generalizada, no que respeita à determinação do direito substantivo aplicável.

Nos termos do artigo 43º, n.º 1 da LAV, o tribunal arbitral decide o litígio de
acordo com a lei escolhida pelas partes para ser aplicada ao fundo da causa.
Frisa-se no n.º 2 do art. 43º da LAV que quando as partes escolhem a lei de um
país para regular as suas relações, a escolha refere-se à lei material, substantiva
daquele país e não às suas regras de conflitos de leis.

A prerrogativa que as partes têm de escolher a lei aplicável ao mérito da causa


é função da internacionalidade do contrato. De outro modo, como salienta
BATIFFOL, permitir-se-ia que as partes se substraíssem às disposições
imperativas da lei manifestamente aplicável à respectiva relação (Vide DÁRIO
MOURA VICENTE, Da Arbitragem Comercial Internacional – Direito Aplicável ao
Mérito da Causa, Coimbra Editora, Coimbra, 1990, pp. 101 e ss.).

O consentimento das Partes na designação da lei aplicável pode ser manifestado


expressa ou tacitamente, sendo muito comum e lícito (embora no silêncio da
LAV) as partes designarem-na na cláusula compromissória ou em compromisso
arbitral posteriormente celebrado.

O primeiro acórdão proferido sobre o mérito da causa em processo arbitral


instaurado em Angola ocorreu no caso SOFOMIL, Lda Vs. ABAMAT-UEE. Na
sequência de cláusula compromissória inserida num contrato de compra e venda
internacional e da subsequente instalação do tribunal arbitral ad hoc na Ordem
dos Advogados de Angola, este, ex vi da electio juris, fez aplicação do direito
material angolano ao caso, tendo o processo arbitral seguido os trâmites das
UNCITRAL ARBITRATION RULES (Árbitros: MANUEL GONÇALVES/
DOMINGOS LIMA VIEGAS/ LUZIA DE ALMEIDA SEBASTIÃO, vide Revista da
Ordem dos Advogados, Ano I, n.º 1, Luanda, 1998, pp. 281-303)

2. O artigo 43º, n.º 1 da LAV, ao empregar a expressão “lei escolhida” em vez de


“direito a aplicar” evita polémicas sobre se as partes podem ou não, exercendo
a autonomia da vontade, designar como aplicável a lex mercatoria ou os
princípios gerais do direito. No direito angolano, e fazendo recurso à analogia,
parece ser de afastar essa possibilidade de escolha pelas razões já apontadas
por DÁRIO MOURA VICENTE: “Lex mercatoria is not a system of law, since the
contract forms, general trading conditions, commercial usages and arbitral
jurisprudence that supposedly integrate it are not sources of law, and also
because it lacks the necessary completion and coercion mechanisms. It cannot
therefore be selected as the proper law of the dispute” (DÁRIO MOURA
VICENTE, “Applicable law in voluntary arbitrations in Portugal”, in Direito
International Privado, Ensaios, Vol. I, Almedina, Coimbra, p. 366).

De facto, a lex mercatoria não é uma verdadeira ordem jurídica. Um sistema


jurídico deve conter resposta para todas as questões que surjam dentro do
âmbito que visa regular, i.e., critérios que permitam a resolução dos casos não
expressamente contemplados pelas normas que a integram, quer pelo recurso
à analogia quer aos princípios gerais ou à regra que o próprio intérprete criaria.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 134/266
V.g. não são conhecidas quaisquer regras de carácter costumeiro em matérias
como a capacidade e os vícios de consentimento, os prazos de prescrição dos
direitos, entre outros.

A vigência da lex mercatoria internacional, concebida como ordem jurídica


autónoma reguladora da generalidade das relações do comércio internacional,
importaria a existência de mecanismos de coerção à escala mundial e de uma
autoridade internacional com competência para os accionar, o que não se
verifica (DÁRIO MOURA VICENTE, “Applicable law in voluntary arbitrations in
Portugal”, in Direito International Privado, Ensaios, Vol. I, Almedina, Coimbra, p.
366; “L’évolution récente du droit de l’arbitrage au Portugal”, in Direito
Internacional Privado, Ensaios, Vol. I, Almedina, p. 343; DÁRIO MOURA
VICENTE, Da Arbitragem Comercial Internacional – Direito Aplicável ao mérito
da causa, Coimbra Editora, Coimbra, 1990, pp. 101, 113 e 180 e ss).

3. Pode questionar-se se há limites à autonomia de vontade das partes, ou seja,


se as partes podem escolher a lei de um Estado que não tenha nenhuma relação
com a questão concreta submetida a arbitragem.

De facto, a LAV não consagra qualquer exigência no sentido de condicionar a


escolha da lei aplicável (electio iuris) a uma conexão objectiva entre a lei
escolhida pelas partes e a relação por elas criada.

Já a doutrina não é unâmime quando a lei escolhida pelas partes não tem
quaisquer ligações geográficas nem conexões objectivas com a relação sub
judice. Para CARMEN TIBURCIO há que distinguir duas situações: a primeira,
quando a lei não tem ligações geográficas mas tem ligações objectivas; a
segunda, quando efectivamente não há qualquer razão que leve à escolha de
determinada lei. A primeira situação pode ser exemplificada com um contrato de
construção de um navio, celebrado no Brasil, entre uma empresa holandesa e
um estaleiro brasileiro, para ser executado no Brasil, escolhendo as partes a lei
inglesa para reger o contrato. Neste caso, apesar do contrato não ter qualquer
ligação com a Inglaterra, seja pela nacionalidade/domicílio das partes
envolvidas, lugar da celebração ou lugar da execução, tem-se a situação
fortemente conexionada com o direito inglês em virtude do objecto do contrato,
já que o direito inglês possui forte tradição em questões de direito marítimo.
Observe-se que, como as arbitragens internacionais tendem a ser consideradas
desvinculadas de qualquer consideração geográfica, a questão sub judice passa
a ter grande importância. Assim, nessa hipótese, a aplicação do direito inglês é
aceite sem grandes problemas. Na segunda situação, a aplicação da lei
escolhida pelas partes encontra alguns opositores. Entretanto, há que se levar
em conta que, conforme apontado anteriormente, como a arbitragem decorre
exclusivamente da vontade das partes, os árbitros devem considerar essa
mesma vontade como soberana também no que se refere à lei a ser aplicada ao
mérito da controvérsia. Assim, no foro arbitral, a autonomia da vontade não tem
limites, devendo a escolha das partes ser respeitada (CARMEN TIBURCIO, “A
Lei Aplicável às Arbitragens Internacionais”, in Reflexões sobre Arbitragem, LTR,
São Paulo, 2002, p. 100).

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LAV COMENTADA 135/266
Em sentido oposto, DÁRIO MOURA VICENTE defende que não é de excluir que
o julgador possa considerar ineficaz uma designação ditada por motivos
puramente caprichosos ou fraudulentos (v.g. abuso do direito, fraude à lei) -
DÁRIO MOURA VICENTE, Da Arbitragem Comercial Internacional – Direito
Aplicável ao Mérito da Causa, Almedina, Coimbra, pp. 100 e 124.

4. O n.º 2 do art. 43º dispõe que qualquer designação da lei ou do sistema jurídico
de um determinado Estado é considerada, salvo indicação expressa em
contrário, como designando directamente as regras jurídicas materiais desse
Estado e não as suas regras de conflitos de leis.

CARMEN TIBURCIO afirma que esse entendimento é unânime na doutrina e é


reproduzido nas convenções internacionais sobre a determinação da lei aplicável
(CARMEN TIBURCIO, “A lei aplicável às arbitragens internacionais”, in
Reflexões sobre Arbitragem, LTR, São Paulo, 2002, p. 100)

Nesse sentido, a Convenção Interamericana sobre o Direito Aplicável aos


Contratos Internacionais (1994) determina, no seu art. 17º, que deve entender-
se por direito o direito vigente num Estado, com exclusão das suas normas
relativas ao conflito de leis.

No mesmo sentido dispõem a Convenção da Haia sobre a Lei Aplicável às


Vendas de Carácter Internacional de Objectos Móveis Corpóreos (1955), a
Convenção da Haia sobre a Lei Aplicável aos Contratos de Venda Internacional
de Mercadorias (1986) e a Convenção Europeia sobre a Lei Aplicável às
Obrigações Contratuais (1980), entre outras. Assim, estando diante de uma
cláusula compromissória que indica a lei francesa para reger o negócio jurídico
celebrado entre as partes, por exemplo, deverá o árbitro examinar directamente
a lei material e ignorar as regras de conexão daquele país.

Finalmente, a escolha da lei a ser aplicada ao mérito do litígio pode ser feita a
qualquer tempo, tanto no momento da celebração do contrato, constando de
cláusula compromissória autónoma, ou posteriormente ao surgimento da
controvérsia, aquando da celebração do compromisso arbitral, ou até mesmo
após o início do procedimento arbitral. O importante é, portanto, que haja acordo
das partes sobre esta questão.

5. Nos termos do artigo 43º, n.º 3 da LAV, na falta de designação pelas Partes,
o tribunal arbitral aplica o direito resultante da regra de conflitos de leis que julgue
mais apropriado.

Não tendo o juiz arbitral uma lex fori, aplicará as regras que se lhe afigurem
substancialmente mais adequadas à natureza da questão sub judice,
independemente da sua consagração positiva num dos sistemas jurídicos
conexionados com o litígio.

Na hipótese das partes não terem escolhido a lei aplicável e não ser possível
acordo a esse respeito, questiona-se se os árbitros devem proceder como o juiz
da questão agiria, ou seja, recorrendo às regras de conexão do país onde a
arbitragem se desenvolve. Essa solução – recurso às regras de conexão do foro

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LAV COMENTADA 136/266
– foi a adoptada na Resolução de Amsterdão (1957) e de Neuchâtel (1959), do
Instituto de Direito Internacional. A ideia era então equiparar o árbitro ao juiz
estadual em todos os aspectos, inclusivé no que se refere ao procedimento para
determinar a lei aplicável ao mérito do litígio que, na ausência de escolha pelas
partes contratantes, recorreria às regras de conexão. O art. 11.º das referidas
resoluções estabelece que “the rules of choice in force in the State of the seat of
the arbitral tribunal must be followed to settle the law applicable to the substance
of the difference (…)”

O recurso às regras de conexão foi também determinado pela Convenção


Europeia sobre Arbitragem Comercial Internacional (1961) – sem entretanto ser
feita referência a que as regras de conexão devem ser as do local da arbitragem
– celebrada em Genebra, que estabelece no seu art. VII, sob a epígrafe “Direito
Aplicável”, que “1. Les parties sont libres de déterminer le droit que les arbitres
devront appliquer au fond du litige. A défaut d’indication par les parties du droit
applicable, les arbitres appliqueront la loi designée par la règle de conflit que les
arbitres jugeront appropriée en l’espèce. Dans les deux cas, les arbitres tiendront
compte des stipulations du contrat et des usages du commerce.”

A Comissão da ONU para o Direito do Comércio internacional (CNUDCI ou


UNCITRAL), estabelece: “Art. 33 (1) – El tribunal aplicará la ley que las partes
hayan indicado como aplicable al fondo del litigio. Si las partes no indican la ley
aplicable, el tribunal arbitral aplicará la ley que determinen las normas de conflito
de leyes que estime aplicables. (…) - (3) – En todos los casos, el tribunal arbitral
decidirá com arreglo a las estipulaciones del contrato y tendrá en cuenta los usos
mercantiles applicables al caso.”

As regras sobre arbitragem do ICSID - International Center for the Settlement of


Investment Disputes – (1984) prevêem:“ Art 42 (1) – The Tribunal shall decide a
dispute in accordance with such rules of law as may be agreed by the parties. In
the absence of such agreement, the Tribunal shall apply the law of the
Contracting State party to the dispute (including its rules on the conflict of laws)
and such rules of international law as may be applicable.”

A Lei-Modelo da CNUDCI determina, no seu art. 28.2., que “na falta de uma tal
designação pelas partes, o tribunal aplicará a lei designada pela regra de
conflitos de leis que ele julgue aplicável na espécie” e ainda, no seu art. 28.4.,
que “em qualquer caso, o tribunal arbitral decidirá de acordo com as estipulações
do contrato e terá em conta os usos do comércio aplicáveis à transacção”.

Aparentemente, a grande alteração em matéria de lei aplicável às arbitragens


internacionais foi introduzida pela Lei Francesa de Arbitragem de 1981, que
introduziu o art. 1496 no Código de Processo Civil. Esse dispositivo determina o
clássico recurso à autonomia da vontade em primeiro lugar e, na ausência de
escolha, a aplicação da lei que o árbitro julgue apropriada, sem qualquer
referência às regras de conflitos de leis. Esta tendência, alias, já havia sido
demonstrada num laudo arbitral da CCI em 1971, que afirmou que “l’arbitre
international ne dispose pas de lex fori à laquelle il pourrait emprunter dês règles
de conflit de lois.”

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LAV COMENTADA 137/266
As regras do LCIA de 1985 – já revogadas pelas de 1998 – seguiram essa
tendência de abandonar o recurso ao direito internacional privado, determinado:
“13.1. Unless the parties at any time agree otherwise, and subject to any
mandatory limitations of any applicable law, the Tribunal shall have the power,
on the application of any party or its own motion, but in either case only after
giving the parties a proper opportunity to state their views, to: (a) determine what
are the rules of law governing or applicable to any contract, or arbitration
agreement or issue between the parties; (…)”.

O actual Regulamento de Arbitragem da CCI, em vigor desde Janeiro de 2012,


prevê no seu art. 21, em termos inequívocos, que: “.1. As partes terão liberdade
para escolher as regras de direito a serem aplicadas pelo Tribunal Arbitral ao
mérito da causa. Na ausência de acordo entre as partes, o Tribunal Arbitral
aplicará as regras que julgar apropriadas. .2. o Tribunal Arbitral deverá levar em
consideração, em todos os casos os termos do contrato entre as partes, se
houver, e quaisquer usos e costumes comerciais pertinentes.”

6. A decisão do tribunal arbitral como compositor amigável (prevista no art. 43º,


n.º 4 da LAV) é contraposta à decisão em conformidade com as regras de direito.

Tem sido bastante discutido o conceito de composição amigável em termos


internacionais.

Para alguns na composição amigável releva uma acepção fraca de equidade,


em que o árbitro deve partir do direito constituído, mas pode moderar os efeitos
da aplicação deste direito em função das circunstâncias do caso concreto. Além
disso – e aqui parece detectar-se uma especificidade do direito francês -, os
compositores amigáveis têm um poder de modificar ou moderar as
consequências das cláusulas contratuais segundo considerações de equidade
(LUÍS DE LIMA PINHEIRO, Direito Comercial Internacional, Almedina, Coimbra,
2005, p. 424).

Para ISABEL DE MAGALHÃES COLLAÇO, que se reporta à arbitragem


internacional, a arbitragem segundo a equidade não se confunde com a
composição amigável, mas não se afigura fácil definir a fronteira entre os dois
institutos nem apontar as particularidades do regime de um deles face ao do
outro. Quer quando julgam segundo a equidade quer em composição amigável
os árbitros exercem uma função jurisdicional, devendo observar os princípios
fundamentais do direito processual, como sucede com o princípio do
contraditório. Todavia, ao julgarem à luz deste último critério, os árbitros,
procurando encontrar a solução mais justa para o litígio, podem impor a solução
que entendam assegurar melhor a reposição do equilíbrio dos interesses das
partes e que, tendencialmente, corresponda àquela que as partes pretenderam
no início da respectiva relação. Parece ser esta a solução mais activa da parte
dos árbitros, consubstanciada no poder de formular soluções concretamente
justas e equilibradas, conducentes à transacção entre as partes, que permitirá
destacar a arbitragem da composição amigável (ISABEL DE MAGALHÃES
COLLAÇO, “L’Arbitrage international dans la recente loi portugaise sur l’arbitrage
volontaire – Quelques Réflexions” in Droit International et Communautaire, Paris,
Fondation Calouste Gulbenkian, 1991, p. 61; JOSÉ LUÍS ESQUÍVEL, Os

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LAV COMENTADA 138/266
Contratos Administrativos e a Arbitragem, Almedina, Coimbra, 2004, p. 118, nota
de rodapé n.º 339).

Outros autores (FOUCHARD/GAILLARD/GOLDMAN), porém, advogam que os


árbitros compositores amigáveis são livres de partir do direito constituído ou de
procurar directamente a solução que lhes parece mais justa. Os árbitros só estão
vinculados a partir do direito constituído quando as partes estipulem,
simultaneamente, a aplicação de um direito estadual e a composição amigável.
Pelo menos uma decisão recente da Cassation também parece equiparar a
composição amigável à decisão de equidade. (LUÍS DE LIMA PINHEIRO, Direito
Comercial Internacional, Almedina, Coimbra, 2005, pp. 424-425)

Conforme se referiu na anotação ao artigo 24.º, o conceito tem ainda sido


reconduzido a uma equidade forte, delimitada por princípios jurídicos
irrevogáveis próprios da comunidade de negócios internacional e ponderada
com uma necessidade de aplicar a solução que mais se adequa aquilo que as
partes aceitariam (ANTÓNIO SAMPAIO CARAMELO, “A Reforma da Lei de
Arbitragem Voluntária”, in Revista Internacional de Arbitragem e Mediação, 2009,
p. 34; MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa de
Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 236).

Por seu lado, RIVERA NEUTZE denomina composição amigável, de forma


genérica, a conciliação, a mediação e as negociações directas entre as partes.
Segundo este autor, estes três processos de resolução de conflitos, quando
integrados num sistema legal de apoio, têm a vantagem de proporcionar às
partes um plano de acção e também uma maior legitimidade e segurança jurídica
em relação a outros processos de resolução de conflitos, designadamente a
arbitragem (ANTONIO G. RIVERA NEUTZE, Amigable Composición, Arte Color
y Texto, Guatemala, 2001, p. 15-16; este autor apresenta uma detalhada
exposição das técnicas utilizadas pelos compositores amigáveis para a
resolução de litígios).

A composição amigável conduz-nos à questão de saber se, estando o litígio a


decorrer perante um tribunal arbitral, podem os árbitros ou comportar-se como
mediadores ou remeter a solução do litígio para mediadores externos ao
processo arbitral. Apesar da mediação apresentar a vantagem da solução do
litígio resultar exclusisamente da vontade das partes (i.e., ser autocomposta), ela
comporta a grande desvantagem da referida solução não ser vinculativa para as
partes nem dotada de força executória. Como bem nota JOSÉ MIGUEL JÚDICE,
a realidade demonstra-nos que os árbitros realizam muitas vezes a função de
mediadores, promovendo o surgimento de um acordo entre as partes e evitando
assim a tomada de uma decisão condenatória. Sendo ínsito da arbitragem essa
abertura à formação de consensos entre as partes, defende este autor que o
tribunal arbitral possa enviar as partes para a mediação sempre que acredite que
o litígio pode ser dirimido por consenso, indicando-lhes um mediador concreto
(ou uma instituição que organize mediações), suspendendo-se entretanto o
prazo para a prolação da decisão final pelo tribunal arbitral (JOSÉ MIGUEL
JÚDICE, “Arbitragem e Mediação: Separados à Nascença?” in Revista
Internacional de Arbitragem e Conciliação, Ano I, 2008, Almedina, Coimbra,
2009, pp. 63-74).

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LAV COMENTADA 139/266
Questão diferente é a de os árbitros poderem actuar como conciliadores,
procurando com as partes obter um consenso quanto ao fundo da causa. O
problema tem recebido respostas muito diversas, sendo salientado por todos os
autores as vantagens nesta actuação, mas, por outro lado, o risco de pressão
sobre as partes (MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Curso de Resolução Alternativa
de Litígios, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 87 ss).

7. O n.º 5 do artigo 43.º da LAV reserva aos usos e costumes do comércio


internacional uma função interpretativa e integrativa dos negócios jurídicos,
porquanto estipula expressamente que “em qualquer dos casos, o Tribunal toma
em conta os usos e costumes do comércio internacional aplicável ao objecto da
convenção de arbitragem”.

Para LUÍS DE LIMA PINHEIRO, uma exclusiva designação da lex mercatoria


quando esta não disponha de direito objectivo aplicável à decisão do caso,
poderá, em princípio, ser convertida numa autorização dada aos árbitros para
julgarem segundo a equidade (LUÍS DE LIMA PINHEIRO, Direito Comercial
Internacional, Almedina, Coimbra, 2005, p. 536).

CARMEN TIBURCIO estabelece uma distinção entre uma arbitragem que


envolva um Estado e um investidor estrangeiro - submetida ao CIRDI, que prevê,
como regra geral, a aplicação do direito do Estado envolvido na disputa - e a
arbitragem comercial internacional. Ilustrando a aplicabilidade da lex mercatoria,
cita a decisão arbitral “proferida pela CCI num litígio envolvendo um contrato de
exploração entre um Estado africano e uma empresa alemã, na qual se decidiu
pela aplicabilidade dos princípios gerais dos contratos internacionais em
detrimento do direito desse Estado (Caso n.º 5.030 de 1992, Journal de Droit
International, 1993, p. 1004. Vide CARMEN TIBURCIO, “A Lei Aplicável às
Arbitragens Internacionais”, in Reflexões sobre Arbitragem, LTR, São Paulo,
2002, pp. 92 e ss.).

ARTIGO 44.º
(Recursos)

A decisão do Tribunal Arbitral não é recorrível, salvo se as partes


tiverem acordado a possibilidade de recurso e regulado os seus termos.

1. No que respeita às arbitragens internacionais, a regra é que as decisões do


tribunal arbitral são vinculativas e finais para as partes, não havendo lugar à sua
impugnação (quer através de recurso ou de anulação). Não sendo susceptível
de impugnação, a decisão arbitral transita imediatamente em julgado. Esta é,
aliás, a regra plasmada no art. 28 (6) do Regulamento da CCI.

Seguindo a tendência internacional, o legislador angolano erige em regra geral


(no art. 44º da LAV) a não recorribilidade da decisão arbitral, pressupondo que o
exercício pelas partes da sua autonomia da vontade as conduz a suportar o risco
da definitividade da decisão inerente à arbitragem. Dito de outro modo, as partes
procuram uma decisão final e célere para o litígio que as opõe, o que só

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 140/266
conseguirão caso essa decisão não possa ser discutida em recurso perante um
novo tribunal (arbitral ou judicial). A não recorribilidade da decisão arbitral é ainda
importante para evitar os abusos que tanto as partes como os respectivos
advogados se sentiriam tentados a praticar, atrasando ou afastando o
cumprimento de sentenças arbitrais condenatórias.

2. A 2ª parte do art. 44º da LAV abre caminho à autonomia da vontade das partes
e admite o recurso de sentenças arbitrais proferidas em arbitragens
internacionais a que a LAV se aplique, caso as partes tenham expressamente
previsto essa possibilidade e regulado em que condições é possível recorrer.

Tendo em conta que se verifica um elevado consenso a nível internacional (como


refere PIERRE LALIVE no seu artigo “Absolute Finality of Arbitration Awards?” in
Revista Internacional de Arbitragem e Conciliação, Ano I – 2008, Almedina,
Coimbra, 2009, p. 126) sobre o facto das sentenças arbitrais deverem constituir,
em princípio, uma decisão final e vinculativa para as partes, a possibilidade da
sua impugnação deverá apenas ser admitida em condições limitadas e bem
definidas.

Em nosso entender, a possibilidade de recurso da decisão arbitral referente a


arbitragem internacional deve preencher alguns requisitos mínimos para poder
ser aceite à luz do art. 44º da LAV, a saber: (i) as partes devem ter estabelecido
a possibilidade de recurso por escrito na convenção de arbitragem (cláusula
compromissória ou compromisso arbitral); (ii) deve indicar-se qual o tribunal que
vai apreciar o recurso, que poderá ser ou o Tribunal Supremo ou um tribunal
arbitral ad hoc especialmente constituído para esse fim; (iii) deve prever-se em
que condições específicas deverá o recurso ser admitido. É de toda a
conveniência que as partes estabeleçam condições detalhadas que restrinjam a
possibilidade de recurso (por ex., o decaimento em percentagem substancial do
pedido da parte recorrente na sentença arbitral oua situações em que as
decisões arbitrais constituam uma grave injustiça para os interesses de uma das
partes litigantes), sob pena do foro arbitral vir a assemelhar-se em demasia ao
foro judicial e deixar de assegurar a celeridade que tanto o torna apetecível.

3. Mas, ainda que as partes não tenham expressamente previsto a possibilidade


de recurso da decisão arbitral, esta sempre poderá ser impugnada através do
mecanismo de anulação da sentença arbitral previsto no art. 34º da LAV,
aplicável às arbitragens internacionais por remissão do art. 41º da LAV.

Deste modo, a sentença arbitral só poderá ser impugnada caso preencha um


dos requisitos previstos no art. 34º, n.º 1 da LAV.

CAPÍTULO VIII
Das Disposições Finais e Transitórias

ARTIGO 45.º
(Arbitragem institucionalizada)

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 141/266
O Governo deve definir, mediante decreto, o regime de outorga de
competência a determinadas pessoas jurídicas para realizarem arbitragem
voluntária institucionalizada, com especificação, em cada caso, do carácter
geral ou especializado de tal arbitragem, bem como as regras de
reapreciação e eventual revogação das autorizações concedidas, quando
tal se justifique.

1. O regime de outorga das autorizações administrativas para a criação de


instituições de arbitragem foi definido pelo Decreto do Conselho de Ministros n.º
4/06, de 27 de Fevereiro, reconhecendo o Governo que os centros de
arbitragem, devidamente organizados, podem constituir importantes meios
alternativos de resolução de conflitos, com seriedade e dignidade, contribuindo
para a certeza, previsibilidade e segurança nas relações jurídicas disponíveis,
internas e internacionais.

2. A autorização para a criação de centros de arbitragem para a promoção, com


carácter institucionalizado, de arbitragens voluntárias é da competência do
Ministro da Justiça e é conferida por Despacho publicado no Diário da República,
nos termos do art. 1º do Decreto n.º 4/06.

3. O pedido de autorização deve constar de requerimento subscrito pelos


representantes da pessoa jurídica, que pretende criar um centro de arbitragem.
O referido requerimento deverá conter, obrigatoriamente, nos termos do n.º 2 do
art. 2º do Decreto n.º 4/06, a exposição circunstanciada das razões em que se
baseia a pretensão e a delimitação do objecto das arbitragens que se pretende
realizar.

O requerimento deve ainda ser instruído com os seguintes documentos, de


acordo com o n.º 3 do art. 2º do Decreto n.º 4/06: (i) documentos comprovativos
da personalidade jurídica da entidade requerente; (ii) registo criminal dos
representantes da entidade requerente; e (iii) outros documentos que se
mostrem necessários à avaliação da pretensão.

Antes de decidir sobre a pretensão, o Ministro da Justiça pode solicitar o


aperfeiçoamento do requerimento e determinar a junção de outros documentos
que reputar úteis à apreciação do pedido de autorização.

4. O despacho que recair sobre o requerimento deve ser devidamente


fundamentado e especificar o carácter geral ou especializado das arbitragens a
realizar no centro.

A autorização deve depender da representatividade da entidade requerente e da


idoneidade necessária ao adequado cumprimento do objecto social do centro.

5. Por despacho devidamente fundamentado e publicado no Diário da República,


o Ministro da Justiça pode revogar a autorização concedida nos termos do
Decreto n.º 4/06, perante a superveniência de algum facto demonstrativo da falta
de condições técnicas ou de idoneidade para a execução da actividade objecto
da autorização, como indica o art. 4º do Decreto n.º 4/06.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 142/266
6. As decisões do Ministro da Justiça que recusem autorização para a criação
de um centro ou revoguem a autorização previamente concedida podem ser
objecto de reapreciação nos termos gerais do direito aplicável à impugnação dos
actos administrativos.

7. O Ministério da Justiça é obrigado a organizar um registo das entidades


autorizadas a realizar arbitragens voluntárias institucionalizadas com a menção,
dentre outros elementos, da entidade promotora e do objecto geral ou
especializado do centro, como indica o art. 6º do Decreto n.º 4/06.

8. Sujeita-se ao pagamento de uma multa que vai de Kz. 800.000,00 a Kz.


8.000.000,00 quem realizar arbitragens voluntárias institucionalizadas sem a
devida autorização, nos termos do art. 7º do Decreto n.º 4/06.

A aplicação da multa respectiva é da competência do Ministro da Justiça.

ARTIGO 46.º
(Alteração ao Código de Processo Civil)

São alterados e substituídos, nos termos do presente artigo, os


preceitos do Código de Processo Civil seguintes:

“ARTIGO 90.º
(Competência para a execução fundada em sentença)

1…............................
2. Se a decisão tiver sido proferida por árbitro em arbitragem que
tenha tido lugar em território angolano, é competente para a execução o
tribunal da província do lugar da arbitragem.

1. A redacção anterior era a seguinte: “2. Se a decisão tiver sido proferida por
árbitros em território nacional, é competente para a execução o tribunal da
comarca em que o tribunal arbitral tiver funcionado.” Fica assim claro que o
tribunal competente para a execução se determina pela sede da arbitragem.

ARTIGO 814.º
(Execução baseada em decisão arbitral)

1. São fundamentos da oposição à execução baseada em sentença


arbitral não só os previstos no artigo anterior, mas também aqueles em que
pode basear-se a anulação judicial da mesma decisão.
2. O tribunal indefere oficiosamente o pedido de execução quando
reconhecer que o litígio não podia ser cometido à decisão por árbitros, quer
por estar submetido por lei especial exclusivamente a Tribunal Judicial ou
a arbitragem necessária quer por o direito litigioso não ser disponível pelo
seu titular.”

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 143/266
1. O texto do art. 814º do CPC, revogado pelo art. 46º da LAV, dispunha:
“Tratando-se de sentença proferida por tribunal arbitral, pode a oposição ser
deduzida não só por algum dos fundamentos mencionados no artigo anterior,
mas ainda pelos seguintes:

a) Nulidade ou caducidade do compromisso;


b) Nulidade da sentença, se as partes tiverem renunciado
previamente aos recursos.”

2. A nova redacção dada ao art. 814º do CPC é mais abrangente quanto aos
fundamentos da oposição à execução de uma sentença arbitral. Vide os
comentários ao art. 34º da LAV.

ARTIGO 47.º
(Remissões legais)

As remissões legais constantes nos artigos 1525.º a 1528.º do


Código de Processo Civil para as disposições do regime do Tribunal
Arbitral voluntário, devem considerar-se feitas para a presente lei, com as
necessárias adaptações.

1. Os artigos 1525º a 1528º do CPC tratam do regime do julgamento arbitral


necessário, fazendo remissões para algumas disposições do CPC referentes ao
regime do tribunal arbitral voluntário. Uma vez que ficou expressamente
revogado pelo art. 48º do presente diploma o Título I do Livro IV (Do Tribunal
Arbitral Voluntário), tais remissões devem, logicamente, considerar-se mutatis
mutandis feitas para a LAV.

ARTIGO 48.º
(Revogação)

1. É revogado o Título I do Livro IV – Do Tribunal Arbitral Voluntário


– do Código de Processo Civil.
2. É revogado o artigo 36.º do Código das Custas Judiciais.

O art. 36º do Código das Custas Judiciais, agora revogado pelo art. 48º, n.º 2 da
LAV, dispunha que “ nos processos perante os tribunais arbitrais a taxa de justiça
será igual ao estabelecido no art. 16.º.
Parágrafo Único – As partes não podem convencionar, para as pessoas que têm
de intervir obrigatoriamente no processo, remunerações inferiores às fixadas
neste código.”

ARTIGO 49.º
(Custas devidas nos Tribunais Judicais)

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 144/266
1. O imposto de justiça nos recursos interpostos, nos termos do
artigo 36.º, nos processos de execução requeridos e na oposição deduzida,
nos termos dos artigos 37.º a 39.º todos da presente lei, é o estabelecido
no Código das Custas Judiciais para os actos correspondentes, com as
adaptações que se mostrarem necessárias.
2. O imposto de justiça devido nas acções de anulação de sentença
arbitral intentadas, de harmonia com a presente lei, nos Tribunais
Provinciais, é o estabelecido para os processos cíveis de igual valor,
reduzido a metade.
3. Pela nomeação de árbitros e pelo depósito de sentenças arbitrais
é devido o imposto de justiça mínimo estabelecido no Código das Custas
Judiciais para qualquer acto praticado nos Tribunais Provinciais.

1. De acordo com o art. 1º da LACJ, publicada posteriormente à LAV, a


denominação “imposto de justiça” foi substituída por “taxa de justiça”.

2. Relativamente à taxa de justiça nos recursos interpostos nos termos do art.


36º da LAV, aplica-se o n.º 2 do art. 3º da LACJ, que estabelece que “nas
apelações, revistas e agravos de decisões proferidas em quaisquer acções ou
incidentes, a taxa de justiça é igual a metade do que consta da tabela anexa”.

3. Aos processos de execução requeridos e à oposição deduzida aplicam-se os


art. 24º e 25º do CCJ angolano, complementado pela tabela do art. 16º do CCJ
anexa à LACJ. O imposto nas execuções será igual a metade do fixado para as
acções do mesmo valor (art. 24º). Se só o processo de embargos correr no
tribunal comum, o imposto a aplicar será igual a metade do correspondente às
acções do mesmo valor (art. 25º, parág. 2), de acordo com a tabela do art. 16º
do CCJ anexa à LACJ.

4. Aplica-se ao n.º 2 do presente artigo, o previsto na tabela anexa à LACJ:


metade da taxa de justiça (art. 4º da LACJ).

5. Nos termos do art. 8º da LACJ, o limite mínimo da taxa de justiça é de 40 UCF.

ARTIGO 50.º
(Dúvidas e omissões)

As dúvidas e omissões que se suscitarem na interpretação e


aplicação da presente lei são resolvidas pela Assembleia Nacional.

Compete à Assembleia Nacional interpretar as dúvidas suscitadas pela


aplicação da LAV e proceder à eventual alteração das suas disposições.

ARTIGO 51.º
(Regulamentação)

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 145/266
A presente lei deve ser regulamentada no prazo de 90 dias a contar
da data da entrada em vigor.

O Decreto n.º 4/06, de 27 de Fevereiro, veio regulamentar o art. 45º da presente


lei, definindo o regime de outorga das autorizações administrativas para a
criação de instituições arbitrais, assegurando as condições necessárias para o
seu funcionamento, num sistema flexível, mas controlado.

ARTIGO 52.º
(Entrada em vigor)

A presente lei entra em vigor 60 dias após a sua publicação.

A presente lei entrou em vigor no dia 23 de Setembro de 2003.

Vista e aprovada pela Assembleia Nacional, em Luanda, aos 3 de


Abril de 2003.

O Presidente da Assembleia Nacional, Roberto António Victor


Francisco de Almeida.

Promulgada em 23 de Maio de 2003.

Publique-se.

O Presidente da República, JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 146/266
Jurisprudência
angolana

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 147/266
TRIBUNAL ARBITRAL “AD HOC”

Constituído para decidir o litígio entre SOFOMIL, Lda e ABAMAT – UEE

(Instalado na Ordem dos Advogados de Angola)

Sumário

I – Em consequência de cláusula compromissória em contrato de compra e


venda internacional e de subsequente compromisso arbitral, foi constituído um
Tribunal Arbitral “Ad Hoc” instalado na Ordem dos Advogados de Angola que,
ex-vi da electio juris, fez aplicação do direito material angolano, tendo o processo
arbitral seguido os trâmites do “Regulamento de Arbitragem da Comissão
Internacional de Genève – UNCITRAL ARBITRATION RULES”;

II – O direito angolano admite a inserção nos contratos, ao abrigo do princípio da


liberdade contratual, de cláusulas de salvaguarda, também chamadas cláusulas
estabilizadoras ou cláusulas de garantia monetária;

III – O princípio nominalista do art.º 550.º do C. Civil não impede a protecção dos
contratantes contra a depreciação monetária com recurso a cláusulas de moeda
estrangeira e de revisão de preços, admissíveis nas obrigações valutárias;

IV – A fixação do dólar como “moeda da transacção” traduz uma obrigação


valutária imprópria em que aquela moeda tem a natureza de “moeda contábil”,
enquanto medida do valor ou de cálculo, jogando o escudo, após conversão, o
papel de “moeda de efectivo pagamento”;

V – O art.º 558.º do C. Civil, sobre as obrigações valutárias, permitindo o


estabelecimento de cláusulas de pagamento em moeda estrangeira e conferindo
ao devedor a faculdade alternativa de pagar em moeda nacional, apenas se
aplica às relações jurídicas obrigacionais internas e jamais ao contrato sub-
judice, dada a sua natureza internacional;

VI – Os juros, traduzindo um elemento acessório da relação jurídica, suscitam


uma questão de Direito Internacional Privado para determinação da lei aplicável,
já que uma obrigação em moeda estrangeira implica um contacto entre duas
ordens jurídicas distintas – a que regula a obrigação e a que institui e rege a
moeda estrangeira;

VII – Em princípio, ao eleger qualquer moeda estrangeira, as partes estão a


remeter para a lei estrangeira reguladora dessa moeda, as “regras circundantes”,
como as dos juros;

VIII – Tratando-se o dólar de moeda internacional, é aplicável aos juros a lei


angolana, não só porque é a lei escolhida pelas partes para o contrato, apesar
de nada estipulado quanto aos juros e à lei aplicável à moeda da prestação, o

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 148/266
que implica opção consonante com a regra supletiva do art.º 42.º do C. Civil – lei
do lugar de celebração do contrato;

IX – Nos termos dos art.ºs 806 e 559.º, n.º 1 do Código Civil, a indemnização
pela mora, nas obrigações pecuniárias, corresponde aos juros – juros legais de
5% ao ano, se outros mais elevados não forem devidos antes da mora ou se não
tiverem sido estipulados pelas partes juros monetários diferentes dos legais;

X – Porque a causa seria julgada no despacho saneador (art.º 510.º, n.º 1, al. C)
do C. Pr. Civil) se tivesse corrido nos tribunais comuns, o imposto de justiça é
reduzido a metade nos termos do art. 17.º do C.C.J., considerando-se ao abrigo
dos art.ºs 305.º e 308.º do C. Pr. Civil que o valor da causa corresponde ao
montante do pedido ao câmbio de venda à data da instauração, no tribunal
comum, do processo de nomeação de árbitros.

XI – Apesar da aplicabilidade das “UNCITRAL ARBITRATION RULES”, o


acórdão arbitral está sujeito a registo no tribunal cível que seria competente, nos
termos do art.º 1521.º, n.º 3 do C. Pr. Civil.

ACÓRDÃO

Acordam, em conferência, os árbitros do Tribunal Arbitral “Ad Hoc”, constituídos


nos termos e para fins do artº 13º. do Contrato de Compra e Venda celebrado
entre a Empresa de Abastecimento de Materiais, ABAMAT – E.U.E., Unidade
Económica Estatal, com sede em Luanda, República de Angola e a SOFOMIL –
Sociedade Fornecedora de Máquinas Industriais, Lda., Sociedade por quotas
com sede em Lisboa, República de Portugal, de 22 de Abril de 1991:

I – A SOFOMIL, Lda. moveu contra a ABAMAT – UEE. uma acção declarativa


com processo arbitral.
Previamente, e para o efeito de nomeação de árbitros, a SOFOMIL, LDA.
recorreu à Sala do Cível e Administrativo do Tribunal Provincial de Luanda que
procedeu a indicação do árbitro pela parte remissa - a ABAMAT – U.E.E. – e do
terceiro árbitro.

Os três árbitros prestaram juramento de exercerem conscienciosamente, com


independência e imparcialidade, as suas funções.

Aos 22 de Maio de 1998 as partes celebram um compromisso arbitral em que


acordaram as regras essenciais do processo arbitral com aplicação subsidiária
das UNCITRAL Arbitration Rules e, aos 26 de Maio de 1998, O Tribunal
Arbitral foi instalado.

O Tribunal Arbitral, dado o disposto no art.º 13º . do Contrato, em que


expressamente se dispõe que “esgotadas que sejam todas as possibilidades de
acordo com os contratantes, dentro de um espírito de amizade, colaboração e
respeito mútuos, fica acordado que todos os litígios que possam surgir serão
resolvidos de forma definitiva segundo o Regulamento de Arbitragem da

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 149/266
Comissão Internacional de Genéve (UNCITRAL Arbitration Rules)” e tendo em
conta os termos do mencionado compromisso arbitral, é competente.

Em conformidade com a cláusula 3ª. do compromisso arbitral “o objecto do


processo é o litígio que opõe as partes, relativo à dívida de valor correspondente
a USD. 151.820,89 emergente da execução do contrato de compra e venda
celebrado aos 22 de Abril de 1991”.

Tanto a cláusula compromissória como o compromisso arbitral não versam sobre


relações jurídicas indisponíveis (art.º 1510º. do C. Pr. Civil) e o último observou
o disposto no art.º 1511º. do mesmo diploma legal quanto à individualização do
litígio e dos árbitros a quem é cometida a decisão, pelo que são válidos.

Nos termos da cláusula 14ª. do contrato controvertido e da cláusula 4ª . do


compromisso arbitral, o Tribunal deve julgar o litígio segundo o direito material
angolano, tendo o Acórdão “carácter definitivo, não sendo admissível do mesmo
qualquer recurso, salvo com fundamento em nulidade”, de acordo com a cláusula
5.5.2. do mencionado compromisso.

O processo é o próprio, não se verificando a existência de nulidades que hajam


sido arguidas ou de que cumpra conhecer, as partes são legítimas e estão
devidamente representadas.

Obtida cópia integral dos autos do processo de nomeação dos árbitros, a


SOFOMIL, LDA. foi notificada para, no prazo de dez dias, apresentar a sua
petição, tendo a ABAMAT – U.E.E. sido a seguir notificada para, em idêntico
prazo, apresentar a sua contestação, querendo.

Tanto a petição como a contestação foram apresentadas tempestivamente, não


tendo as partes produzido outra prova além da documental.

II – No essencial, são os seguintes os fundamentos da SOFOMIL, LDA.:

Por contrato assinado por ambas as partes em 22 de Abril de 1991, vendeu a


ABAMAT – U.E.E. com prestação de assistência técnica, 50 caixas de
velocidade automáticas de marca “VOITH” e respectivos acessórios, para
instalação de autocarros para a empresa estatal de transportes colectivos
urbanos de Luanda, denominada T.C.U.L.

Por dificuldades processuais bancárias, resultantes do facto de as linhas de


crédito (ao abrigo das quais as cartas de Crédito eram financiadas) terem sido
abertas em dólares dos Estados Unidos da América, não foi possível firmar o
contrato em Escudos Portugueses mas em dólares americanos e pelo preço de
USD 1.677.742,00 (um milhão,
seiscentos e setenta e sete mil, setecentos e quarenta e dois dólares
americanos).

Para proteger o Autor, fornecedor português, de uma eventual depreciação do


dólar americano relativamente ao escudo português, durante o período entre a
data da assinatura do contrato e da data do pagamento, estabeleceu-se de

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 150/266
comum acordo uma fórmula de revisão do preço, que integra a cláusula 6ª. do
contrato, sem a qual a venda dos equipamentos seria a preços baixos
relativamente aos acordados, caso ocorresse uma depreciação do dólar
americano.

Foi também acordado que o pagamento deveria ser feito por carta de crédito
confirmada, conforme clausula 3ª., n.º 3 do contrato e respectivo anexo, e que
as caixas de velocidade seriam fabricadas e embarcadas no prazo de 180 dias
após a confirmação da carta de crédito.

O Banco Nacional de Angola – BNA – procedeu, em 27 de Setembro de 1991 à


abertura de uma carta de crédito no montante de USD 1.677.724,00 como
previsto, mas nessa data o banco onde a carta foi aberta – BANQUE DE PARIS
ET DE PAYS-BAS – não tinha condições para dar a sua confirmação imediata à
carta de crédito, o que veio fazer apenas em 27 de Março de 1992 por instruções
dadas pela ABAMAT – U.E.E. ao Banco Nacional de Angola. – BNA conforme
carta de 17 de Março de 1992.

A SOFOMIL, LDA, fabricou e expediu o equipamento no prazo acordado, ou seja,


a 30 de Julho de 1992 e desde a data de assinatura do contrato – 22 de Abril de
1991 – até à conclusão do processo de recebimento efectivo do preço – 30 de
Julho de 1992 – , decorreram cerca de 15 meses.

Durante esse período, o dólar americano sofreu uma grande depreciação


relativamente ao escudo, passando a unidade dessa moeda de Esc. 137$904
para Esc. 126$451/Esc. 125$927, correspondentes estes dois valores de câmbio
às datas de fornecimento parciais, conforme avisos de crédito do Banco Espírito
Santo e Comercial de Lisboa.

Por essa razão e nos termos da cláusula 6.ª, aos 27 de Agosto de 1992 a
SOFOMIL, LDA., emitiu a sua factura nº 0242, no valor de 151.820,89 relativa à
revisão do preço, contendo em anexo os respectivos cálculos resultantes da
aplicação da fórmula contratual de revisão de preços.

Remetida a factura à ABAMAT – U.E.E., esta recusou o pagamento alegando


que os mesmos eram muito altos relativamente a outros fornecedores e assim
não pagou a factura no valor de USD151.820,89 nem total nem parcialmente.

A SOFOMIL, LDA. alegou o princípio da liberdade contratual, consagrado nos


artigos 405.º e 406.º, o vencimento da obrigação nos termos do artigo 777.º, a
reparação dos danos pela respectiva indemnização ao abrigo dos artigos 804.º
e 806.º e ainda o direito que lhe assiste de, nos termos do artigo 817.º, todos do
Código Civil, executar, se necessário, o património da ABAMAT – U.E.E.

Pede, em consequência, a condenação da ABAMAT – U.E.E., no pagamento da


quantia de USD. 151.820,89 acrescida de juros legais contados desde 11 de
Setembro de 1992, bem como nas custas e encargos dos autos.

Os fundamentos da ABAMAT – U.E.E. são, no essencial, os seguintes:

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 151/266
Reconhece a existência do contrato, bem com a moeda que ficou acordada.
Alega ter efectuado o pagamento integral dos USD 1.667.742,00 no tempo
devido pela forma acordada.

Diz ter a SOFOMIL, LDA. defraudado a realidade dos factos, ao alegar


impossibilidade entre as partes de firmarem o contrato em Escudos Portugueses
por “dificuldades processuais bancárias”, resultantes do facto de a linha de
crédito ter sido aberta em dólares dos Estados Unidos da América.

Argumenta dizendo que a referência ao dólar apenas foi feita como medida de
valor, porque convertível, sendo que todas as operações de pagamento podem
ser feitas em qualquer outra moeda. As partes não se obrigaram em Escudos
Portugueses, nomearam o dólar americano como moeda de pagamento e
considera que não se deve confundir este facto com a impossibilidade de a
SOFOMIL, LDA, transferir para a sua conta moeda estrangeira, o que é um
problema do sistema bancário português alheio à execução do presente
contrato.

Reconhece a existência no contrato da cláusula sobre a fórmula de revisão de


preços salientando, contudo, que tanto no contrato como na carta de crédito não
estão previstos os termos e as condições para tal revisão, revisão apenas
prevista numa eventual alteração cambial do dólar americano no mercado
português.

A SOFOMIL, LDA. alega que a tardia confirmação do crédito teria retardado o


fabrico e a expedição do equipamento relativamente à data da conclusão do
contrato. Por isso, deveria a SOFOMIL, LDA nessa altura ter notificado a
ABAMAT – U.E.E., num momento em que a moeda já estava desvalorizada, da
alteração do preço, a fim de esta manifestar a sua posição aceitando ou
“negociando a possível redução do contrato, o que implicaria necessariamente
a revisão (renegociação) do contrato e, consequentemente, das próprias
condições da carta de crédito, chamando para o efeito a fórmula da revisão
acordada”.

Refere ser a fórmula de revisão de preços um simples instrumento dessa revisão


e não revisão do contrato.

Que a SOFOMIL, LDA. Actuou de má fé não podendo vir impor à ABAMAT –


U.E.E., sacrifícios financeiros não previstos, de resto porque não foi apenas
aquela prejudicada pela depreciação da moeda dólar no mercado português mas
também esta teve que pagar ao BNA um contravalor maior ao da altura da
celebração do contrato, sendo que os riscos são inerentes ao negócio, devendo
as partes suportá-los dentro dos sistemas financeiros dos respectivos países.

Alegou ainda ter o contrato sido celebrado com base no princípio da liberdade
contratual – artigo 405º. do Código Civil – e que a sua obrigação figura nas
chamadas obrigações valutárias reguladas no artigo 558.º do Código Civil e
obedece ao princípio nominalista.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 152/266
O artigo 558.º do Código Civil insere uma disposição de carácter imperativo a
que qualquer acto ou negócio jurídico se deve conformar e alega a nulidade do
negócio celebrado e, consequentemente, da cláusula de revisão.

Nulidade que considera parcial, com fundamento nas disposições conjugadas


dos artigos 294.º, 295.º e 292º. do Código Civil.

Considera-se que as alterações cambiais havidas configuram alteração


superveniente de uma das circunstâncias em que as partes fundaram o contrato
e que, nos termos do artigo 437.º do Código Civil, a SOFOMIL, LDA. “só teria de
exigir, nos termos propostos, a revisão deste contrato, desde que em face dessa
alteração a exigência da obrigação por ela assumida afectasse de forma grave
o princípio da boa fé e não estivesse coberta pelos riscos próprios do contrato
celebrado”.

Socorre-se ainda do n.º 2 do Artigo 437.º do Código Civil para fundamentar a


não aceitação da revisão por virtude de não ter sido notificada pela SOFOMIL,
LDA.

Conclui dizendo que a cláusula de revisão é nula nos termos dos Artigos 294.º,
295.º e 558.º do Código Civil, que é inadmissível a revisão pretendida, tendo em
conta o artigo 437.º do Código Civil e que houve má fé da SOFOMIL, LDA., em
conformidade com o artigo 227.º do mesmo diploma legal.

Pede, em consequência, a importância do pedido e a condenação da SOFOMIL,


LDA., nas custas por má fé.

III – Reduzindo-se a prova aos elementos documentais junto aos articulados e


não se tendo arguido ex-adverso a sua falsidade ou posto em dúvida a sua
validade, foi marcada audiência para produção de alegações.

Tudo visto e ponderado:

Do exposto e do conteúdo de todo processo, verifica-se que o processo arbitral


respeitou, no essencial, o estipulado no compromisso arbitral, pelo que não
havendo nulidades ou quaisquer impedimento que obstem no conhecimento do
litígio, cumpre agora apreciar a prova da matéria fáctica e decidir conforme o
direito aplicável.

IV – Admitida por acordo e provada documentalmente é relevante a seguinte


matéria de facto:

A SOFOMIL, LDA. celebrou com a ABAMAT – U.E.E. um contrato de compra e


venda, mediante o qual aquela vendeu a esta, com prestação de assistência
técnica 50 caixas de velocidade automáticas de marca “VOITH” e respectivos
acessórios, para instalação em autocarros da T.C.U.L.

O contrato foi firmado em dólares americanos.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 153/266
O preço acordado foi de USD 1.677.742,00 (um milhão, seiscentos e setenta e
sete mil, setecentos e quarenta e dois mil dólares americanos).

O pagamento deveria ser efectuado por Carta de Crédito confirmada.

A cláusula 6.ª do contrato contém uma fórmula de revisão de preços.

O equipamento deveria ser fabricado e enviado no prazo de 180 dias após a


confirmação da carta de crédito.

A carta de crédito foi aberta pelo Banco Nacional de Angola em 27 de Setembro


de 1991 no montante de USD 1.677.742,00.

A carta de Crédito só foi confirmada em 27 de Março de 1992 pelo BANQUE DE


PARIS ET DE PAYS-BAS.

A SOFOMIL, LDA. concluiu e expediu o equipamento em 30 de Julho de 1992.

No período que decorreu de 22 de Abril de 1991 a 30 de Julho de 1992 o dólar


americano sofreu uma depreciação relativamente ao escudo português
passando de Esc.137$904 para Esc. 126$45l/Esc. 125$927 conforme avisos de
crédito do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa.

A SOFOMIL, LDA. emitiu a factura nº 0224 no valor de USD. 151.820,29 relativa


à revisão de preços e enviou-a à ABAMAT – U.E.E.

A ABAMAT – U.E.E. recebeu a factura mas não a pagou nem total nem
parcialmente, tendo manifestado a sua discordância através da carta de 11 de
Setembro de 1992.

V – Importa, pois apreciar as diversas questões de direito que o presente


processo suscita.

O reconhecimento do direito da SOFOMIL, LDA., depende da resposta à


seguinte questão fundamental:

Face à lei aplicável é legalmente admissível a “revisão de preço” em


conformidade com a cláusula 6.ª do contrato?

O que postula a formulação de outra questão intrinsecamente conexa:

Será válida a referida “cláusula de revisão de preços” ou colidirá com


normas de ordem pública e, por isso, de natureza imperativa, da ordem
jurídica aplicável?

Verdadeira vexata questio, a resposta a essa questão exige profunda indagação


e muitas outras interrogações a que se procurará responder recorrendo a mais
recente doutrina jurídica sobre as normas aplicáveis aos contratos da natureza
do sub-judice.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 154/266
Na análise vai pressuposta a aplicabilidade do direito material angolano
enquanto electio juris (direito escolhido pelas partes – cláusula 14.ª do contrato),
pelo menos em relação ao núcleo essencial de obrigações inerentes à relação
jurídica subjacente.

Na determinação do direito aplicável ao mérito da causa na arbitragem comercial


internacional devem os árbitros atender em primeiro lugar, à escolha expressa
ou tácita das partes quanto à lei reguladora das obrigações emergentes do
negócio jurídico sub-judice”, conforme refere D. MOURA VICENTE na obra “Da
Arbitragem Comercial Internacional – Direito aplicável ao mérito da causa”.

Focalizando a relação jurídica obrigacional em questão, face ao direito material


angolano, a primeira constatação é a de que estamos em presença de um
contrato de compra e venda de natureza comercial.

É o que inequivocamente resulta do artº. 463.º, n.ºs 1 e 3 do Código Comercial.

E tendo em conta os elementos de estraneidade que o contrato apresenta,


parece seguro tratar-se de um contrato internacional do comércio.

A qualificação de um contrato como internacional pressupõe apreciação das


partes envolvidas, do local da formação da relação jurídica bem como do seu
cumprimento ou execução e o seu objecto.

Se todos esses elementos estão situados num único Estado, é indubitável que é
regido por lei certa e determinada. Se, ao contrário, no complexo em que se
constitui o contrato há um elemento estrangeiro, ele é internacional.

Expressamente afirma J. CARLOS MAGALHÃES em “Contratos Internacionais”,


Revista Forense 294, que “três critérios são utilizados para se determinar a
natureza internacional do contrato, tais sejam, o que tem por base a pessoa dos
contratantes, o que põe relevo no objecto do contrato e que reúne os dois
anteriores.

Considerando a pessoa dos contraentes, pode-se dizer que o Contrato é


Internacional se as partes possuem domicílio ou sede em países diferentes…

Outro critério é o que destaca o objecto do contrato.

Desde que haja transferência ou serviço de um país para outro, há negócio


internacional…”

No caso vertente, a natureza Internacional do contrato advém de todos e de


qualquer um dos critérios enunciados:

As partes, independentemente das suas nacionalidades (o que por si só poderia


não ser bastante para a configuração do conceito), têm domicílio e sede em
países diferentes – Angola e Portugal – e o objecto do contrato é a transferência
de equipamentos implicando a sua deslocação da ordem jurídica portuguesa
para a angolana.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 155/266
O que caracteriza em última análise o contrato como internacional é a
circunstância de regular relação obrigacional submetida a mais de uma ordem
jurídica nacional, diz CARLOS MAGALHÃES (Ob.Cit., pág. 71).

Assim também HENRY BATIFFOL, para quem o contrato é internacional


quando, “pelos actos concernentes à sua conclusão ou execução ou à situação
das partes, quanto à sua nacionalidade ou ao seu domicílio ou à localização do
seu objecto, há vínculos com mais de um sistema jurídico”.

Na mesma esteira, o jurista brasileiro IRINEU STRANGER que define contratos


internacionais do comércio como “todas as manifestações bi ou plurilaterais da
vontade livre das partes, objetivando relações patrimoniais ou de serviços, cujos
elementos sejam vinculantes de dois ou mais sistemas jurídicos extra-territoriais,
pela força do domicílio, nacionalidade, sede principal dos negócios, pela força
do domicílio, lugar de execução, ou qualquer circunstância que exprima um liame
indicativo de Direito aplicável” (in Contratos Internacionais do Comércio, pág.
65).

De igual modo MARCEL FONTAINE, a generalidade dos comercialistas e,


particularmente, os que transitam no campo de especulação do direito do
comércio internacional.
Essa qualificação tem profundas implicações na análise de diversos aspectos do
caso em apreciação.

Uma das mais relevantes prende-se com o preço contratual e os sistemas de


pagamento vigentes.

Na perspectiva de I. STRENGER (Ob.Cit., pág. 118), “o preço contratual pode


ser determinado se o seu valor é fixado no contrato, e determinável se cabe a
um terceiro fixá-lo, ou se existem elementos de cálculo previstos
convencionalmente.

A determinação do preço não deve ser confundida com a sua fixação, vocábulo
que, nos contratos comerciais atuais não tem conotação rígida por ser dado
contratual de possível mobilidade, dependendo da natureza do negócio jurídico
firmado.

No comércio internacional, o preço deve ser sempre pensado em padrões extra-


territoriais, cujos índices valorativos vinculam-se necessariamente a regimes
cambiais.

Normalmente, o sistema cambiário baliza-se em uma escala móvel, decorrente


do mercado internacional das moedas.

Além disso, deve-se levar em conta os mecanismos cambiários internos, que


sempre constituem matéria de ordem pública.

As flutuações da moeda, nos mercados internos ou internacionais, levaram os


contratualistas a estudar os melhores modos de garantia às partes a estabilidade

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LAV COMENTADA 156/266
do pagamento, isto é, criando modalidades clausulares que permitissem aos
parceiros assumir suas obrigações, reciprocamente, sem riscos.

A moeda é, assim, o objecto próprio de uma obrigação contratual, tanto na ordem


jurídica internacional como na ordem interna, desde que representa determinada
soma em dinheiro”.

De acordo com o contrato de compra e venda internacional e contravertido, a


moeda de transação estipulada (cláusula 3.ª) é o dólar dos EUA, sendo certo
que a cláusula 6.ª estabelece uma fórmula de revisão de preços que insere como
uma das variáveis o escudo português reportado aos câmbios das datas “pró-
forma” e de pagamento.

Assim, torna-se mister captar o significado dessas cláusulas e o sentido que a


vontade negocial lhe quis dar.

O que exigirá, desde logo, a compreensão do próprio conceito de moeda.

VAN HECKE considera que “a moeda e, segundo as definições que dão os


economistas, um meio de troca é um instrumento de medida de valores” e que,
no sentido jurídico do termo, “é um meio de troca estabelecido por um legislador,
que lhe fixa o valor”.

A última definição implicitamente reconhece a possibilidade da dicotomia entre


o valor real intrínseco da moeda e o seu valor nominal legalmente fixado.

A moeda pode ter como função ser uma medida do valor de bens e serviços,
uma intermediária dos câmbios e a razão da conservação dos valores.

As duas primeiras funções são indispensáveis à compreensão das cláusulas de


moeda estrangeira, ou seja, a unidade monetária bem como os instrumentos
monetários.

Em geral, reconhece-se a distinção entre duas classes convencionais de


pagamento expresso pelas chamadas moeda contábil e moeda de pagamento
efectivo.

É o que resulta da exposição de I. STRENGER (Ob.Cit., pág. 156 e segs.),


segundo o qual a insegurança monetária prevalecente nos nossos dias, em face
da crescente diminuição do poder de compra da moeda, compele “os
contratantes a definir uma moeda contábil, a partir de uma unidade de medida,
que lhes garante a mantença do valor das prestações contratuais, estabelecidas
em consideração ao momento da conclusão do acordo”.

MERCADAL e JANIN, citados por I. STRENGER, afirmam que “no estado actual
das coisas – pois as crises monetárias solicitam sem cessar, engenhosidade dos
práticos – as possibilidades oferecidas aos contratantes contra as variações
monetárias consistem essencialmente em estabelecer laço de unidade de valor
com um dos seguintes elementos: ouro, moedas estrangeiras, mercadorias,
índices económicos”.

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LAV COMENTADA 157/266
São as chamadas cláusulas de garantias “com base ouro” ou “fundadas numa
ou diversas moedas estrangeiras”, destacando-se dentre as últimas as
“cláusulas de garantia de câmbio”.

Ainda segundo I. STRENGER “quando a transferência é internacional, as partes


são livres para escolher a moeda do contrato. Podem calcular o valor das
prestações contratuais, utilizando qualquer cláusula de manutenção de valor:
ouro, divisas estrangeiras, mercadorias, índices económicos”.

“Nas relações internacionais, designadamente nos Tratados Internacionais de


Compensação e de Pagamentos, é frequente recorrer-se a uma determinada
moeda (p.ex., dólar dos Estados Unidos da América) em função de unidade de
conta e medida de valores de carácter internacional” (cfr. BAPTISTA MACHADO,
“Nominalismo e Indexação”, in Revista de Direito e Estudos Sociais, XXIV n.ºs.
1 e 3, pág. 67).

Assim, quando o pagamento deve ser feito em moeda diferente da moeda de


cálculo, é preciso fazer a adequada conversão.

Em anotação ao Acórdão do Tribunal de Relação de Lisboa, de 7 de Maio de


1987 que versou sobre a compra e venda internacional, a inflação e moeda
estrangeira, [in Revista de Direito e Estudos Sociais, ano XXX (III da 2ª. Série)
n.º 1, pág. 76 e segs.], MENEZES CORDEIRO considera que o Código Civil,
aceitando a linguagem comum, precisada pela economia, assinala ao dinheiro –
ou moeda – um duplo papel:

a) O de meio geral de troca


b) E o de bitola geral de valor

Para esse Autor, o Código civil vigente distingue três modalidades de obrigações
pecuniárias: de quantidade, de moeda específica e obrigações de moeda
estrangeira.

E prossegue afirmando que a obrigação pecuniária é uma obrigação de valor e


que MANUEL DE ANDRADE (“ Obrigações Pecuniárias”, RLJ 76 – 1944)
distingue:

a) o valor nominal ou extrínseco;


b) o valor intrínseco ou metálico
c) o valor de troca, que traduz o poder aquisitivo da
moeda, i. e., as medidas que ele pode proporcionar;
d) e o valor cambiário ou corrente, que exprime a relação
existente entre a moeda considerada e outras moedas
estrangeiras.

Adiante, ainda, que as “obrigações em moeda estrangeira ou obrigações


valutárias constituem uma modalidade de obrigações pecuniárias.

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LAV COMENTADA 158/266
Em princípio, elas estão na disponibilidade das partes, que as podem
estabelecer de modo directo ou indirecto.

Nas obrigações de moeda estrangeira, e mercê da postura assumida pelas


partes, há duas possibilidades a considerar: a das obrigações valutárias
próprias ou puras, quando o pagamento deva ser realizado em moeda
estrangeira, e das obrigações valutárias impróprias ou impuras quando as
partes, a hajam utilizado como bitola do valor da obrigação, podendo cumprir-se
com a moeda nacional equivalente ao quantitativo estrangeiro estipulado.

Uma terceira categoria, derivada das anteriores, é a das obrigações valutárias


mistas: pretende-se um efectivo cumprimento em moeda estrangeira mas
admite-se, para o devedor, a faculdade de pagar em moeda nacional”.

De igual modo B. MACHADO, afirmando que “as obrigações valutárias podem


ser próprias ou impróprias, conforme o pagamento deva ser feito em moeda
estrangeira (cláusula moeda estrangeira efectiva) ou deva ou possa ser feito em
moeda nacional, caso em que esta funcionará como meio de pagamento mas
não como medida de valor (elemento de cálculo ou moeda de conta)”.

Idêntica qualificação e distinção se encontram em ALMEIDA COSTA, (Direito


das obrigações, págs.59 e segs.).

BAPTISTA MACHADO considera possível, perante a ordem jurídica portuguesa,


a estipulação em moeda estrangeira em conformidade com o artigo 558.º do C.
Civil (Ob.Cit.).

“Permitindo aos contratantes escolher como moeda contábil uma moeda


estrangeira, …normalmente procuram proteger-se contra a depreciação
eventual da moeda em vigor, no país cuja a lei rege o contrato. Mas, neste passo,
cabe perguntar-se: escolhida a moeda pelas partes, estariam protegidas contra
a sua depreciação?

Diante do reconhecido universalismo do princípio nominalista, a resposta teria


de ser negativa pois a lex pecuniae rege a moeda visada pelos contratantes e,
assim, para garantir-se, os contratantes devem recorrer, sempre, às cláusulas
de garantia” - sustenta I. STRENGER (Ob. Cit.).

Para MENEZES CORDEIRO, tais estipulações podem, além do mais, destinar-


se a “prevenir uma particular instabilidade da moeda nacional e,
designadamente, a evitar os inconvenientes que possam advir para as partes da
sua desvalorização (Obrigações em Moeda Estrangeira e Taxas de Juro”, in
Revista O Direito, 106, pág. 128).

BAPTISTA MACHADO afirma que “nos períodos mais graves da desvalorização,


no geral aqueles que se sucedem a guerras ou revoluções, o problema tem
revestido uma gravidade tal que a jurisprudência de certos países não hesitou
em recorrer a cláusula rebus sic stantibus ou ao princípio da modificação ou
resolução do contrato por alteração da circunstâncias (cfr. O artigo 437.º do
nosso Código Civil) para restabelecer o equilíbrio da relação contratual ou para

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LAV COMENTADA 159/266
resolver esta, nos casos em que o fenómeno da desvalorização conduziria a
injustiças gritantes e intoleráveis…

Cientes do fenómeno da desvalorização da moeda, os particulares procuram


precaver-se contra ele inserindo nos seus contratos cláusulas de salvaguarda,
também chamadas cláusulas estabilizadoras ou cláusulas de garantia
monetária.

De entre estas destacam-se as cláusulas monetárias, nas quais o valor da


prestação é referido ao ouro ou a uma moeda estrangeira, as cláusulas
mercadorias e as cláusulas números – índices” (Ob. Cit., págs. 58 e 59).

Questão, agora, é saber se e em que medida, no direito aplicável, as


cláusulas monetárias se compatibilizam com o princípio nominalista.

Continua B. MACHADO dizendo que “a validade destas cláusulas tem sido muito
controvertida em vários países.

Não assim actualmente entre nós: em Portugal, todas estas cláusulas são
válidas,

Apenas com as restrições que resultam da legislação especial sobre preços,


juros e rendas ou sobre o controlo dos câmbios.

É o que logo se depreende do facto de não haver qualquer lei que as proíba.

Por outro lado, do próprio art.º 550.º do Código Civil, que estabelece o princípio
nominalista, se depreende claramente que tais cláusulas são admitidas, pois que
aí mesmo se diz que o cumprimento das prestações pecuniárias se faz nos
termos daquele princípio, “salvo estipulação em contrário”… e o artigo 558.º do
dito Código, ao regular os termos das obrigações em moeda estrangeira,
pressupõe claramente a validade das cláusulas de pagamento nesta moeda
(obrigações valutárias próprias) ou em valor desta moeda obrigações valutárias
impróprias)” (Ob.Cit.,59).

O princípio nominalista do art.º 550.º. não colide pois com as diversas formas de
protecção dos contratantes contra a depreciação monetária com recurso a
cláusulas apropriadas como a de moeda estrangeira como o permite o art.º 558.º
do Código Civil.

Nos termos do n.º 1 do art.º 558.º , “a estipulação do cumprimento em moeda


estrangeira não impede o devedor de pagar em moeda nacional, segundo o
câmbio do dia do cumprimento e do lugar para este estabelecido, salvo se essa
faculdade houver sido afastada pelos interessados”.

Quer dizer, a lei confere supletivamente ao devedor a faculdade alternativa de


pagar em moeda nacional; mas o credor só pode exigir o cumprimento da moeda
estipulada (cfr. ALMEIDA COSTA, Direito das Obrigações e Código Civil Anotado
por PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA).

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LAV COMENTADA 160/266
Sucede que para a ordem jurídica angolana a moeda nacional é o Kwanza
Reajustado e não qualquer das moedas implicadas no contrato: o dólar o escudo.

Por isso, na prática o preceito parece permitir o absurdo de o devedor pagar em


Kzr. para satisfazer o compromisso de creditar uma conta no estrangeiro e em
moeda estrangeira (seja o USD ou o PTE).

Legitimidade se suscita, pois, a questão de saber qual o âmbito de aplicação


do artº 558º: sendo indiscutível a sua aplicação às relações obrigacionais
internas, terá igual aplicabilidade às relações jurídicas internacionais como a do
caso em análise?

A resposta resulta com clareza, das posições de J. SIMÕES PATRÍCIO a


propósito do referido art.º 558.º do Código Civil no texto “Juros de Mora nas
Obrigações Valutárias” in BMJ 372, págs. 25 e segs. que se transcreve:

“Segundo este preceito, a estipulação da moeda estrangeira não impede o


devedor de pagar em moeda nacional; em tal caso, observar-se-á o câmbio do
dia do cumprimento e do lugar para este estabelecido.

Ressalta como implícita neste preceito a regra ou postulado de que é lícito entre
nós exprimir as obrigações privadas em moeda estrangeira…

A expressão de obrigações em moeda estrangeira não foi nunca proibida pelo


nosso legislador: a única excepção que nos ocorre é a do artigo 4.º do Decreto-
Lei nº 487/71, de 6 de Novembro, onde se impunha que todos os contratos e
obrigações celebrados entre residentes “na mesma província ultramarina”
fossem expresso na moeda local.

Também resulta implícita no art.º 558.º, decerto, a ideia de que o pedido e a


sentença judiciais podem ser expressos em moeda estrangeira.

É … o que sucede em regra nas legislações europeias.

Cremo-lo igualmente postulado nos trabalhos preparatórios do nosso Código


Civil…

Figura-se evidente que a norma do artigo 558.º é uma regra de direito material
português, não há uma regra de conflitos de direito de internacional privado.

Só tem aplicação, pois, quando o vínculo obrigacional seja regido pelo nosso
direito interno.

Consequentemente, e pelo menos em princípio, a faculdade que ali se atribui ao


devedor não tem que se afirmada em todas e quaisquer hipóteses que os
tribunais portugueses adreguem apreciar e pelo simples facto de o pedido ou até
mesmo a prestação que o objecto da obrigação serem expressos em moeda
estrangeira.

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LAV COMENTADA 161/266
Pelo menos do ponto de vista prático, poderá certamente afirmar-se que a
faculdade do art. 558.º só pode exercer-se relativamente a pagamentos (em
moeda estrangeira) que se tenha de fazer em Portugal…

Por outro lado, também não oferecerá muita contestação um primeiro limite – no
próprio artigo 558.º previsto – ao alcance da norma em apreço.

Aí se diz, com efeito, que desaparece a faculdade de pagar em escudos (facultas


solutionis) “se essa faculdade houver sido afastada pelos interessados” (…).

Também a Convenção do Conselho da Europa de 1967 apenas supletivamente


estabelece uma faculdade similar, acolhendo-se qualquer indicação ao contrário
das partes contratantes e entendendo-se que tal é designadamente o caso das
relações de comércio internnacional.

Estamos em crer que o mesmo se há-de opinar no direito português.

Não o contradirão por certo os trabalhos preparatórios do Código Civil. Assentou-


se aí, desde o inicío, em que a estipulação do pagamento efectivo em moeda
estrangeira tanto poderia resultar clássica cláusula “efectivo” como de “quaisquer
outras circunstâncias por onde se depreenda, com segurança, que se pretende
o pagamento nessa moeda”. E se no anteprojecto do actual artigo 558.º se
previa: “não se depreendendo, com segurança, da estipulação que o pagamento
deva realizar-se efectivamente na moeda estrangeira indicada, tem o devedor
(…) a faculdade (…)”, enfatizando-se a ideia na primeira revisão ministerial
mediante a substituição daquela frase por “salvo se essa faculdade houver sido
inequivocamente afastada pelos interessados”, a verdade é que na redacção
definitiva, ora vigente, caiu este último advérbio”.

SIMÕES PATRÍCIO considera que a questão é de mera interpretação do negócio


jurídico. E que, “de acordo com as regras gerais (art.º 263.º do Código Civil) não
deixarão aqui de relevar com certeza os usos e ainda mais as técnicas (de
pagamento) adoptadas no tráfico jurídico.

Pois não faria sentido consentir ao devedor o pagamento em moeda nacional


quando, por exemplo, ele se comprometeu a pagar no país (estrangeiro) do
credor uma determinada importância expressa em moeda estrangeira; ou se
comprmeteu a creditar a conta bancária do mesmo credor pelo preço (em moeda
estrangeira) de fornecimento de bens ou serviços por aquele efectuado.

….poderão as partes ter utilizado num contrato comercial o dólar ou o marco na


sua qualidade pura e simples de moedas internacionais, porque sem conexão
alguma com o mesmo contrato.

É da experiência do dia-a-dia …”, remata o autor.

Parte das precedentes considerações doutrinais, embora feitas com referência


ao direito material português, são globalmente válidas se referidas ao direito do
contrato – o angolano – porque idênticas as normas jurídicas em análises como
referentes ao sentido e alcance das regras sobre as obrigações valutárias.

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LAV COMENTADA 162/266
Voltemos, pois, ao caso sub-judice.

As partes celebraram entre si um contrato comercial internacional de compra e


venda de mercadorias.

E de acordo com o usual na prática contratual internacional de compra e venda


escolheram o dólar como moeda do contrato.

O modo de pagamento por carta de crédito documentário e as respectivas


condições concorreram para a opção, bilateralmente aceite.

As partes estipularam, assim, uma cláusula de moeda estrangeira.

Mas deram à moeda estipulada nos termos da cláusula 3.ª com a epígrafe
“moeda de transacção”, o valor da moeda contábil, enquanto a medida de valor
ou de cálculo das mercadorias no momento da celebração do contrato e não o
sentido da moeda de pagamento efectivo.

Além da prática internacional, tal vontade negocial resulta, sem dificuldades


interpretativas, do estipulado na cláusula 6.ª sobre a revisão de preços.

Essa cláusula estabelece uma fórmula cujas variáveis são bastantes para
calcular a depreciação monetária verificada entre o momento da celebração do
contrato (em dólares americanos) e o momento do seu efectivo pagamento (em
escudos portugueses).

Não nos assaltam dúvidas, pois, de que a moeda de efectivo pagamento era o
escudo, jogando o dólar o papel de referência no momento da sua conversão.

Assim agiram as partes ao abrigo do princípio da liberdade contratual previsto


no art.º 405.º do Código Civil, assegurando-se contra as oscilações monetárias
com uma cláusula de estabilização monetária associada a uma “cláusula de
revisão de preço”.

De tal modo necessária para enfrentar as oscilações da moda, a Comissão


Económica para a Europa das Nações Unidas elaborou fórmula matemática,
cuja aplicação está em voga, para possibilitar a atualização automática dos
preços contratualmente estabelecidos.

Esse pacto denomina-se cláusula de revisão e já consta de inúmeros contratos


–tipo”, refere I. STRENGER (Ob. Cit., pág. 273).

Tal liberdade de contratar não tem, no caso em apreço, qualquer limite de ordem
pública.

O art.º 558.º do Código Civil, sobre as obrigações valutárias, permitindo o


estabelecimento de cláusulas de pagamento em moeda estrangeira e conferindo
ao devedor a faculdade alternativa de pagar em moeda nacional, não tem
aplicabilidade ao contrato em análise dada a sua natureza internacional.

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LAV COMENTADA 163/266
Apenas se aplica às relações jurídicas obrigacionais internas.

De contrário, assistiria ao devedor a faculdade de pagar em Kwanzas


Reajustados, o que está totalmente fora de qualquer cogitação.

De resto, mesmo as regras do ordenamento jurídico angolano sobre o princípio


nominalista, admitem excepções criadas pela vontade das partes.

E a vontade negocial que se extrai resulta com nitidez do contrato por elas
firmado.

Os autos mostram que, por aplicação da fórmula estabelecida pelas partes no


sentido de revisão do preço, verificou-se, efectivamente, uma desvalorização da
“moeda contábil” que torna a ABAMAT – U.E.E. devedora à SOFOMIL, LDA., do
montante de USD 151.820,89 desde a data da sua interpelação para pagar.

Não menos problemática é a questão do pedido de pagamento de juros, o que


novamente suscita (tratando-se de um elemento acessório da relação jurídica),
a questão da lei aplicável.

É vasta a jurisprudência e a doutrina estrangeiras sobre esta matéria, não


cabendo, aqui, qualquer referência exaustiva.

Uma obrigação em moeda estrangeira implica um contacto entre duas ordens


jurídicas nacionais distintas – a ordem jurídica que regula a obrigação e aquela
que institui e rege a moeda estrangeira para que se remeteu.

Trata-se, essencialmente, de uma questão de direito internacional privado.

Seguindo a perspectiva de MENEZES CORDEIRO, [RDES XXX (III da 2.ª Série)


n.º 1, pág. 106] no caso concreto a lei angolana, à partida, não seria competente
sendo a moeda contratual o dólar.

Ao eleger qualquer moeda estrangeira, as partes estão, em princípio, a remeter


para a lei estrangeira reguladora dessa moeda, as “regras circundantes”, como
as dos juros, que se devem reger pela lei da nacionalidade da moeda em causa.

No entanto, como o caminho da lei norte-americana oferece obstáculos práticos”


como a da escolha entre as várias taxas referentes ao dólar, importa socorremo-
nos do art.º 41.º, n.º 1 do Código Civil e, para tanto, as partes hão-de fornecer
indicações mínimas de que se querem submeter às regras sobre juros prevista
na lei da moeda em causa.

Por se tratar da moeda internacional, as partes bem podem ter em vista apenas
o núcleo regulativo mínimo dessa moeda, deixando os juros fora da remissão,
pelo que, utilizando a regra supletiva do art.º 42.º do Código Civil, preferir-se-á
a lei angolana por ser a do lugar de celebração do contrato.

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LAV COMENTADA 164/266
Assim, em nosso entender, aplicar-se-á a lei angolana, não só porque as partes
dela se socorreram a nível contratual mas também porque nada estipularam
relativamente a eventuais juros de mora, e correlativa lei aplicável à moeda da
prestação (art.º 41.º do Código Civil), optando indubitavelmente pela lei da
celebração do contrato, de acordo com a regra supletiva consignada no artigo
42.º do Código Civil, visto tratar-se de uma questão de direito internacional
privado.

Segundo ALMEIDA COSTA (Ob. Cit., pág. 508) aos juros de mora nas
obrigações valutárias, aplicam-se os princípios gerais dos artigos 804º. e segs.

ANTUNES VARELA (Das Obrigações em Geral, pág. 826) observa que se o


devedor incorrer em mora, o credor terá, de acordo com as regras gerais, o
direito exigir, além da soma devida, os danos moratórios correspondentes.

Parece-nos importante referir a posição de CARLOS OSÓRIO (cfr. Parecer de


24 de Novembro de 1987, publicado pelo Gabinete de Estudos e Pareceres da
Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica do Porto) segundo a
qual o cálculo dos juros moratórios das obrigações valutárias far-se-ia à taxa
legal nacional, mas convertendo previamente o respectivo montante em moeda
portuguesa, ao câmbio do dia do vencimento.

O devedor pagaria, assim os juros calculados: em escudos, no caso da moeda


estrangeira ser utilizada como simples “moeda de conta” (obrigação valutária
imprópria) ou, no caso de lhe ser assistir essa faculdade de escolha da “moeda
de pagamento” (obrigação valutária mista); pagaria em moeda estrangeira, no
caso de se tratar de obrigação valutária própria. Nesta última hipótese, pagaria
os juros reconvertidos a partir dos Escudos ao câmbio do dia do cumprimento.

Para a resolução do caso em apreço (saber se a obrigação valutária é passível


de juros de mora e qual a taxa aplicável), existem dois marcos referenciais na
nossa lei: o primeiro é o já escalpelizado artigo 558.º do Código Civil; o outro é o
artigo 806.º, do mesmo Código, em cujos termos a indemnização pela mora, nas
obrigações pecuniárias, corresponde aos juros – juros legais, se outros mais
elevados não forem devidos antes da mora ou se não tiverem sido estipulados
pelas partes juros moratórios diferentes dos legais.

Nos termos do artigo 559.º, n.º 1 do Código Civil, os juros legais são de cinco por
cento ao ano.

Consequentemente, dever-se-á converter os USD 151.820,89 de capital em


dívida, utilizando-se para o efeito a taxa de câmbio de venda do mercado
secundário de divisas, aplicando-se sobre o valor encontrado em moeda
nacional a taxa legal de juros de mora, obtendo-se dessa forma o valor devido.

Mas porque a moeda do contrato é expressa em dólares, deverá ser esse valor
devido.

Mas porque a moeda do contrato é expressa em dólares, deverá ser esse valor
convertido nessa moeda, aplicando-se a mesma taxa antes utilizada.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 165/266
VI – Pelos fundamentos expostos, julga-se procedente o pedido e, em
consequência, decide-se a condenação da ABAMAT – U.E.E. no pagamento à
SOFOMIL, LDA. do montante de USD 151.820,89 acrescidos de juros moratórios
à taxa legal de 5% ao ano.

Porque a causa seria julgada no despacho saneador (art.º 510.º, n.º 1, al. c) do
C. Pr. Civil) se tivesse corrido nos tribunais comuns, o imposto de justiça devido
é reduzido a metade nos termos do art.º 17.º do Código das Custas judiciais,
considerando-se ao abrigo dos artigos 305.º e 308.º que o valor da causa
corresponde ao montante do pedido ao câmbio de venda à data de instauração,
no tribunal comum, do processo de nomeação de árbitros.

Não se arbitra procuradoria por não ser devida (art.º 454.º do C. Pr. Civil).

Custas devidas pela parte vencida.

Registe-se no Tribunal Cível competente nos termos do art.º 1521.º, n.º 3 do C.


Pr. Civil e notifique-se.

Luanda, aos 15 de Janeiro de 1999.

Os Árbitros,

MANUEL J. GONÇALVES
DOMINGOS LIMA VIEGAS
LUZIA B. DE ALMEIDA SEBASTIÃO

(Fonte: Revista da Ordem dos Advogados (Angola), Ano I, Número 1, 1998, pp.
281 – 303)

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 166/266
Legislação Nacional e Convenções Internacionais
Conexas

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 167/266
Norma da Constituição da República de Angola especialmente relevante

Diário da República Iª Série – Nº 23, de 5 de Fevereiro de 2010


(Assembleia Nacional)

(…)

CAPÍTULO IV
Poder Judicial

SECÇÃO I
Princípios Gerais

Artigo 174.º
(Função Jurisdicional)

(…)

4. A lei consagra e regula os meios e as formas de composição extra-judicial de


conflitos, bem como a sua constituição, organização, competência e
funcionamento.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 168/266
Normas do Código de Processo Civil Angolano especialmente relevantes

LIVRO I – DA ACÇÃO

(…)

TÍTULO II – Da acção executiva

CAPÍTULO I – Do título executivo

(…)

Artigo 48.º
(Exequibilidade dos despachos e das decisões arbitrais)

1. São equiparados às sentenças, sob ponto de vista da força executiva, os


despachos e quaisquer outras decisões ou actos da autoridade judicial que
condenem no cumprimento duma obrigação.

2. As decisões proferidas pelo tribunal arbitral são exequíveis nos mesmos


termos em que o são as decisões dos tribunais comuns.

Artigo 49.º
(Exequibilidade das sentenças e dos títulos exarados em país
estrangeiro)

1. As sentenças proferidas por tribunais ou por árbitros em país estrangeiro dó


podem servir de base à execução depois de revistas e confirmadas pelo tribunal
angolano competente.

2. Não carecem, porém, de revisão para serem exequíveis os títulos exarados


em país estrangeiro.

LIVRO II – DA COMPETÊNCIA E DAS GARANTIAS DA IMPARCIALMENTE

(…)

CAPÍTULO III – Da Competência interna

(…)

SECÇÃO V – Disposições especiais sobre execuções

(…)

Artigo 95.º
(Execução fundada em sentença estrangeira)

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 169/266
A execução fundada em sentença estrangeira corre por apenso ao processo de
revisão ou no respectivo traslado, que, para esse efeito, a requerimento do
exequente, baixarão ao tribunal de 1.ª instância que for competente.

(…)

LIVRO III – DO PROCESSO

TÍTULO I – Das disposições gerais

(…)

CAPÍTULO II – Da instância

(…)

SECÇÃO IV – Extinção da instância

(…)

Artigo 287.º
(Causas de extinção da instância)

A instância extingue-se com:

a) O julgamento;
b) O compromisso arbitral;
c) A deserção;
d) A impossibilidade ou inutilidade superveniente da lide;
e) A falta de preparo inicial, nos termos da respectiva legislação.

Artigo 288.º
(Casos de absolvição da instância)

1. O juiz deve abster-se de conhecer do pedido e absolver o réu da instância:

a) Quando julgue procedente a excepção de incompetência absoluta do


tribunal;
b) Quando anule todo o processo;
c) Quando entenda que alguma das partes é destituída de personalidade
judiciária ou que, sendo incapaz, não está devidamente representada ou
autorizada;
d) Quando considere ilegítima alguma das partes;
e) Quando julgue procedente alguma outra excepção dilatória.

2. Cessa o disposto no número anterior quando o processo haja de ser remetido


para outro tribunal e quando a falta ou a irregularidade tenha sido sanada.

(…)

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 170/266
Artigo 290.º
(Compromisso arbitral)

1. Em qualquer estado da causa podem as partes acordar em que a decisão de


toda ou parte dela seja cometida a um ou mais árbitros da sua escolha.

2. Lavrado no processo, o termo de compromisso é válido em atenção ao seu


objecto e à qualidade das pessoas que são remetidas para o tribunal arbitral,
sendo cada uma delas condenada em metade das custas, salvo acordo expresso
em contrário.

3. No tribunal arbitral não podem as partes invocar actos praticados no processo


findo, a não ser aqueles de que tenham feito reserva expressa.

(…)

TÍTULO II – Do processo de declaração

SUBTÍTULO I – Do processo ordinário

CAPÍTULO I – Dos articulados

(…)

SECÇÃO III – Contestação

(…)

SUBSECÇÃO II – Excepções

Artigo 493.º
(Excepções dilatórias e peremptórias: noção)

1. As excepções são dilatórias ou peremptórias.

2. As excepções dilatórias obstam a que o tribunal conheça do mérito da causa


e dão lugar à absolvição da instância ou à remessa do processo para outro
tribunal.

3. As peremptórias importam a absolvição total ou parcial do pedido e consistem


na invocação de factos que impedem, modificam ou extinguem o efeito jurídico
dos factos articulados pelo autor.

Artigo 494.º
(Excepções dilatórias)

1. São dilatórias, entre outras, as excepções seguintes:

a) A nulidade de todo o processo;

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 171/266
b) A ilegitimidade de qualquer das partes;
c) A falta de personalidade ou capacidade jurídica de algumas das partes;
d) A falta de autorização ou deliberação que o autor devesse obter;
e) A falta de constituição de advogado por parte do autor, nos processos a
que se refere o n.º 1 do artigo 32.º, e a falta, insuficiência ou irregularidade
de mandato judicial por parte do mandatário que propôs a acção;
f) A incompetência, quer absoluta, quer relativa, do tribunal;
g) A litispendência;
h) A preterição do tribunal arbitral;
i) A coligação de autores ou réus quando entre os pedidos não exista a
conexão exigida no artigo 30.º;
j) A falta de pagamento de custas na acção anterior.

2. As circunstâncias a que se referem as alíneas a), b), c), d) e e) só tomam a


natureza de excepções quando a respectiva falta ou irregularidade não seja
devidamente sanada.

Artigo 495.º
(Conhecimento das excepções dilatórias)

O tribunal deve conhecer oficiosamente de todas as excepções dilatórias, salvo


da incompetência relativa nos casos não abrangidos pelo disposto no artigo
110.º, bem como da preterição do tribunal arbitral voluntário.

(…)

CAPÍTULO II – Da audiência preliminar

(…)

Artigo 510.º
(Despacho saneador)

1. Realizada a audiência ou logo que findem os articulados, se ela não houver


lugar, é proferido dentro de quinze dias despacho saneador, para os fins
seguintes:

a) Conhecer, pela ordem designada no artigo 288.º, das excepções que


podem conduzir à absolvição da instância, assim como das nulidades,
ainda que não tenham por efeito anular todo o processo;
b) Decidir se procede alguma excepção peremptória;
c) Conhecer directamente do pedido, se a questão de mérito for unicamente
de direito e puder já ser decidida com a necessária segurança ou se,
sendo a questão de direito e de facto, ou só de facto, o processo contiver
todos os elementos para uma decisão conscienciosa.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 172/266
2. As questões a que se refere a alínea a) do n.º 1 só podem deixar de ser
resolvidas no despacho se o estado do processo impossibilitar o juiz de se
pronunciar sobre elas, devendo neste caso justificar a sua abstenção.

(…)

TÍTULO III – Do processo de execução

(…)

SUBTÍTULO II – Da execução para pagamento de quantia certa

CAPÍTULO I – Do processo ordinário

SECÇÃO I – Citação e oposição

(…)

Artigo 813.º
(Fundamentos de oposição à execução baseada em sentença)

Fundando-se a execução em sentença, a oposição só pode ter algum dos


fundamentos seguintes:

a) Inexequibilidade do título;
b) Falsidade do processo ou do translado ou infidelidade deste, quando uma
ou outra influa nos termos da execução;
c) Ilegitimidade do exequente ou do executado ou da sua representação;
d) Cumulação indevida de execuções ou coligação ilegal de exequentes;
e) Falta ou nulidade da primeira citação para a acção, quando o réu não
tenha intervindo no processo;
f) Incerteza, iliquidez ou inexigibilidade da obrigação exequenda;
g) Caso julgado anterior à sentença que se executa;
h) Qualquer facto extintivo ou modificativo da obrigação, desde que seja
posterior ao encerramento da discussão no processo de declaração e se
prove por documento. A prescrição do direito ou da obrigação pode ser
provada por qualquer meio.

Artigo 814.º
(Execução baseada em decisão arbitral)

1. São fundamentos da oposição à execução baseada em sentença arbitral não


só os previstos no artigo anterior, mas também àqueles em que pode basear-se
a anulação judicial da mesma decisão.

2. O tribunal indefere oficiosamente o pedido de execução quando reconhecer


que o litígio não podia ser cometido à decisão por árbitros, quer por estar
submetido por lei especial, exclusivamente a Tribunal Judicial ou a arbitragem
necessária, quer por o direito litigioso não ser disponível pelo seu titular.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 173/266
(…)

TÍTULO IV – Dos processos especiais

(…)

CAPÍTULO XII – Da revisão de sentenças estrangeiras

Artigo 1094.º
(Necessidade da revisão)

1. Sem prejuízo do que se acha estabelecido em tratados e leis especiais,


nenhuma decisão sobre direitos privados, proferida por tribunal estrangeiro ou
por árbitros no estrangeiro, tem eficácia em Angola, seja qual for a nacionalidade
das partes, sem estar revista e confirmada.

2. Não é necessária a revisão quando a decisão seja invocada em processo


pendente nos tribunais arbitrais angolanos, como simples meio de prova sujeito
à apreciação de quem haja de julgar a causa.

Artigo 1095.º
(Tribunal competente)

Para a revisão e confirmação é competente a Câmara do Cível e do


Administrativo do Tribunal Supremo, observando-se com as necessárias
adaptações o disposto no artigo 85.º a artigo 87.º

Artigo 1096.º
(Requisitos necessários para a confirmação)

Para que a sentença seja confirmada é necessário:

a) Que não haja dúvidas sobre a autenticidade do documento de que conste


a sentença nem sobre a inteligência da decisão;
b) Que tenha transitado em julgado segundo a lei do país em que foi
proferida;
c) Que provenha de tribunal competente segundo as regras de conflitos de
jurisdição da lei angolana;
d) Que não possa invocar-se a excepção de litispendência ou de caso
julgado com fundamento em causa afecta a tribunal angolano, excepto se
foi o tribunal estrangeiro que preveniu a jurisdição;
e) Que o réu tenha sido devidamente citado, salvo tratando-se da causa para
que a lei angolana dispensaria a citação inicial; e, se o réu foi logo
condenado por falta de oposição ao pedido, que a citação tenha sido feita
na sua própria pessoa;
f) Que não contenha decisões contrárias aos princípios de ordem pública
angolana;

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 174/266
g) Que, tendo sido proferida contra angolano, não ofenda as disposições do
direito privado angolano, quando por este devesse ser resolvida a questão
segundo as regras de conflitos do direito angolano.

Artigo 1097.º
(Confirmação da decisão arbitral)

O disposto no artigo anterior é aplicável à decisão arbitral, na parte em que o


puder ser.

Artigo 1098.º
(Contestação e resposta)

Apresentado com a petição o documento de que conste a decisão a rever, é a


parte contrária citada para, dentro de dez dias, deduzir a sua oposição. O
requerente pode responder nos oito dias ao termo do prazo fixado para
oposição.

Artigo 1099.º
(Discussão e julgamento)

1. Findos os articulados e realizadas as diligências que o relator tenha por


indispensáveis, é o exame do processo facultado, para alegações, às partes e
ao Ministério Público, por dez dias a cada um.

2. O julgamento faz-se segundo as regras próprias dos agravos, mas o


vencimento exige três votos conformes, seguindo o processo para novos vistos,
quando necessário.

Artigo 1100.º
(Fundamentos da impugnação do pedido)

O pedido só pode ser impugnado com fundamento na falta de qualquer dos


requisitos mencionados no artigo 1096.º ou por se verificar algum dos casos de
revisão especificados nas alíneas a), c) e g) do artigo 771.º.

Artigo 1101.º
(Actividade oficiosa do tribunal)

O tribunal verificará oficiosamente se concorrem as condições indicadas nas


alíneas a), f) e g) do artigo 1096.º e também negará oficiosamente a confirmação
quando, pelo exame do processo ou por conhecimento derivado do exercício das
suas funções, apure que falta algum dos requisitos exigidos nas alíneas b), c),
d) e e) do mesmo preceito.

Artigo 1102.º
(Recurso da decisão final)

1. Da decisção da Relação sobre o mérito da causa cabe recurso de revista.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 175/266
2. O Ministério Público, ainda que não seja parte principal, pode recorrer com
fundamento na violação das alíneas c), f) e g) do artigo 1096.º.

(…)

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 176/266
Normas do Acordo de Cooperação Jurídica e Judiciária entre a República
de Angola e a República de Portugal especialmente relevantes

Resolução n.º 60/05, de 7 de Novembro de 2005


(Assembleia Nacional)

(…)

SUBTÍTULO II

Eficácia das Decisões Judiciais

CAPÍTULO I

Revisão e Confirmação

(…)

Artigo 12.º
(Revisão)

1. As decisões proferidas pelos tribunais de cada um dos Estados Contratantes


sobre direitos privados têm eficácia no território do outro, desde que revistas e
confirmadas.

2. Não é necessária a revisão:

a) quando a decisão seja invocada em processo pendente em qualquer dos


Estados Contratantes como simples meio de prova sujeito à apreciação
de quem haja de julgar a causa;
b) das decisões destinadas a rectificar erros de registo civil, desde que não
decidam questões relativas ao estado das pessoas.

3. Não carecem de revisão e confirmação as decisões proferidas pelos tribunais


portugueses até à data da independência da República de Angola, ainda que só
depois, tenham transitado em julgado.

Artigo 13.º
(Requisitos necessários para a confirmação)

1. Para que as decisões sejam confirmadas é necessário:

a) não haver dúvidas sobre a autenticidade do documento de que constem


as decisões;
b) terem transitado em julgado segundo a lei do país em que foram
proferidas;
c) terem sido proferidas por tribunal competente segundo as regras de
conflito da lei do país onde se pretendam fazer valer;
d) não poder invocar-se a excepção de litispendência ou de caso julgado
com fundamento em causa afecta a tribunal do país onde se pretendam

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 177/266
fazer valer, excepto se foi o tribunal do país em que foi proferida a decisão
que preveniu a jurisdição;
e) ter o réu sido devidamente citado segundo a lei do país em que foram
proferidas, salvo tratando-se de causas para que a lei do país onde se
pretendam fazer valer dispensaria a citação e, se o réu foi logo condenado
por falta de oposição ao pedido, ter a citação sido feita na sua própria
pessoa;
f) não serem contrárias aos princípios de ordem pública do país onde se
pretendam fazer valer;
g) sendo proferidas contra nacional do país onde se pretendam fazer valer,
não ofenderem as disposições do respectivo direito privado quando por
este devessem ser resolvidas as questões segundo as regras de conflitos
desse direito.

2. O disposto no número anterior é aplicável às decisões arbitrais, na parte em


que o puder ser, e às decisões penais no tocante a fixação de indemnização por
perdas e danos.

(…)

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 178/266
Decreto N.º 4/06, de 27 de Fevereiro
(Conselho de Ministros)

Autoriza a criação de Centros de Arbitragem

A Lei nº 16/03, de 25 de Julho, sobre a arbitragem Voluntária, dentre as suas


principais inovações, confere a possibilidade de realização de arbitragem
institucionalizada e permanente por pessoas jurídicas;

Os Centros de Arbitragem, devidamente organizados, podem constituir


importantes meios alternativos de resolução de conflitos, com seriedade e
dignidade, contribuindo para a certeza, previsibilidade e segurança nas relações
jurídicas disponíveis, internas e internacionais;

Cumprindo o disposto no artigo 45.º da referida lei, importa definir o regime de


outorga das autorizações administrativas para a criação de instituições arbitrais,
assegurando as condições necessárias para o seu funcionamento, num sistema
flexível, mas controlado.

Nos termos da condições combinadas da alínea d) do artigo 112.º, do artigo 113.º


e da alínea g) do n.º 2 do artigo 114.º, todos da Lei Constitucional, o Governo
decreta o seguinte:

ARTIGO 1.º
(Competência)

1. A autorização para a criação de Centros de Arbitragem para a promoção, com


carácter institucionalizado de arbitragens voluntárias, é da competência do
Ministro da Justiça.

2. A autorização a que se refere o número anterior é dada por Despacho


publicado no Diário da República.

ARTIGO 2.º
(Pedido de autorização)

1. O pedido de autorização deve constar de requerimento subscrito pelos


representantes da pessoa jurídica que, nos termos do artigo 45.º da Lei n.º 16/03,
de 25 de Julho, pretende criar Centros de Arbitragem.

2. O requerimento referido no número anterior deve conter, obrigatoriamente, os


seguintes elementos:

a) a exposição circunstanciada das razões em que se baseia a


pretensão;
b) a delimitação do objecto das arbitragens que se pretende realizar.

3. O requerimento deve ser instruído com os seguintes documentos:

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 179/266
a) documentos comprovativos da personalidade jurídica da entidade
requerente;
b) registo criminal dos representantes da entidade requerente;
c) outros documentos que se mostrem necessários à avaliação da
pretensão.

4. Antes de decidir sobre a pretensão, o Ministro da Justiça pode solicitar o


aperfeiçoamento do requerimento e determinar a junção dos documentos
referidos na alínea c) do número anterior.

ARTIGO 3.º
(Decisão)

1. O despacho que recair sobre o requerimento deve ser devidamente


fundamentado e especificar o carácter geral ou especializado das arbitragens a
realizar no Centro.

2. A autorização deve depender da representatividade da entidade requerente e


da idoneidade necessária ao adequado cumprimento do objecto social do
Centro.

ARTIGO 4.º
(Revogação das autorizações)

Por despacho devidamente fundamentado e publicado no Diário da República,


o Ministro da Justiça pode revogar a autorização concedida nos termos do
presente diploma legal, perante a superveniência de algum facto demonstrativo
da falta de condições técnicas ou de idoneidade para a execução da actividade
objecto da autorização.

ARTIGO 5.º
(Reapreciação de decisões)

As decisões do Ministro da Justiça podem ser objecto de reapreciação nos


termos gerais do direito aplicável à impugnação dos actos administrativos.

ARTIGO 6.º
(Registo)

O Ministério da Justiça deve organizar um registo das entidades autorizadas a


realizar arbitragens voluntárias institucionalizadas com a menção, dentre outros
elementos, da entidade promotora e do objecto geral ou especializado do Centro.

ARTIGO 7.º
(Contravenções)

1. Quem realizar arbitragens voluntárias institucionalizadas sem a devida


autorização é punido com uma multa que vai de KZ: 800.000,00 a Kz: 8 000
000,00.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 180/266
2. A aplicação da multa é da competência do Ministro da Justiça.

ARTIGO 8.º
(Entra em vigor)

O presente diploma entra em vigor à data da sua publicação

Visto e aprovado em Conselho de Ministros, em Luanda, aos 30 de Novembro


de 2005.

Publique-se.

O Primeiro Ministro, Fernando da Piedade Dias dos Santos.

Promulgado aos 6 de Fevereiro de 2006.

O Presidente da República, JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS.

Resolução N.º 34/06, de 15 de Maio

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 181/266
(Conselho de Ministros)

Aprova o engajamento do Governo na Arbitragem como meio de solução


de litígio sobre direitos disponíveis

Dando cumprimento a um dever funcional, o Governo tem vindo a fazer esforço


para introduzir no sistema judicial um acréscimo de recursos humanos e técnicos
tais como magistrados, a formação e desempenho profissional dos seus
funcionários, a criação de novas instalações e, sobretudo, a implementação de
novos recursos tecnológicos e modelos organizativos, tendo em vista a
preparação dos tribunais e a celeridade dos processos que este novo princípio
do século exige;

Porém, este grande empenho na elevação do investimento e na modernização


do novo sistema judicial, por maior que seja, reconhece-se não ser suficiente;

Neste sentido, o Governo entende começar e com a ousadia de antecipação ao


progresso para a construção de um sistema em que a administração da justiça
deve ser caracterizada por uma maior acessibilidade, proximidade, celeridade,
economia, multiplicidade, diversidade, informalidade, oportunidade, equidade,
participação, legitimidade, responsabilidade e reparação efectiva;

Considerando que esta abertura de novos meios de prevenção e diferentes


modalidades de superação de conflitos vai ganhar espaço próprio, ao mesmo
tempo que as expressões organizativas da sociedade civil são convocadas para
acrescentar à sua maior exigência cívica e responsabilidade de uma nova e
verdadeira protagonização na realização quotidiana e concreta da justiça. Com
este objectivo, o Governo submeteu à Assembleia Nacional uma Proposta de Lei
sobre a Arbitragem Voluntária, tendo sido aprovada e publicada no Diário da
República, 1.ª série, n.ºs 58, de 25 de Julho de 2003;

Embora pouco conhecida entre nós mas suficientemente experimentada noutros


países, esta modalidade de resolução alternativa de litígios, consagrada na
supracitada lei, oferece o âmbito e a circunstância para uma diferente actuação
do Estado;

A verdade é que, em contraste com a intervenção exclusivista e de reserva


absoluta de poder que invariavelmente se atribuiu neste domínio, o Estado deve
apostar numa verdadeira partilha de competências com os outros agentes
sociais, impulsionando um movimento que promova uma distinta repartição de
atribuições que melhor sirva os cidadãos e à colectividade;

Considerando que ao fazer com que outras pessoas e instituições concorram


activamente na realização da justiça o Estado deve e com vantagem, guardar
apenas para si a sua primordial função, à regulação e enquadramento imparcial;

O reforço da qualidade da democracia e o aprofundamento da cidadania, sugere


a construção de uma nova relação do Estado com os cidadãos e com empresas

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 182/266
exigindo que aquele, voluntariamente, aceite e promova exemplarmente a
resolução dos seus litígios fora dos tribunais, confiando a decisão a um terceiro
neutral que deve arbitrar o litígio, sendo esta uma opção expressamente acolhida
na Lei nº 16/03, de 25 de Julho.

Nos termos das disposições conjugadas da alínea b) do artigo 112.º, do artigo


113.º e da alínea g) do n.º 2 do artigo 114.º, todos da Lei Constitucional, o
Governo emite a seguinte Resolução:

1.º - Reafirmar o firme propósito de promover e incentivar a resolução de litígios


por meios alternativos, como a mediação ou a arbitragem, enquanto formas
céleres, informais, económicas e justas de administração e realização da justiça.

2.º - Assumir e afirmar que o Estado, nas suas relações com os cidadãos e com
as outras pessoas colectivas, deve activamente propor e aceitar a superação
dos diferendos em que seja parte, com recurso aos meios alternativos de
resolução de litígios.

3.º - Determinar que, no contexto da negociação de contratos em que o Estado


ou outras pessoas colectivas públicas que integram a administração estadual
indirecta sejam parte e se proponham e convencionam cláusulas que privilegiam
a composição de diferendos com recurso aos meios alternativos de resolução de
litígios, nos termos da lei.

4.º - Recomendar que no contexto da negociação de contratos em que seja parte


uma entidade integrada do sector empresarial do Estado, se proponha e
convencionem cláusulas que privilegiam a composição de diferendos com
recurso aos meios alternativos de resolução de litígios, nos termos da lei.

5.º - Determinar que no desenvolvimento das suas atribuições o Estado e outras


pessoas colectivas públicas que integram a administração estadual indirecta,
proponham e adoptem soluções concretas de mediação e de arbitragem com
modalidades preventivas e alternativas, de composição de litígios com os
cidadãos, com as empresas e outras pessoas colectivas.

6.º - Ter conhecimento que, sem prejuízo da escolha de arbitragem “ad hoc”, os
centros de arbitragem reconhecidos e institucionalizados constituem hoje uma
oferta merecedora de especial confiança e indiscutível aceitação para actuarem
nos diferendos acima referidos.

Visto e aprovado em Conselho de Ministros, em Luanda, aos 15 de Março de


2006.

Publique-se.

O Primeiro Ministro, Fernando da Piedade Dias dos Santos.

Promulgado aos 15 de Maio de 2006.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 183/266
O Presidente da República, JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 184/266
Lei-Modelo da CNUDCI sobre a Arbitragem Comercial Internacional, de 21
de Junho de 1985

CAPÍTULO I
(Disposições gerais)

Artigo 1.º
(Campo de Aplicação)

1. A presente Lei aplica-se à arbitragem comercial internacional; ela não


contende com qualquer acordo multilateral ou bilateral a que o presente Estado
se encontra vinculado.

2. As disposições da presente Lei, à excepção dos artigos 8, 9, 35 e 36, só se


aplicam se o lugar da arbitragem estiver situado no território do presente
Estado.

3. Uma arbitragem é internacional se:

a) As partes numa convenção de arbitragem tiverem, no momento da


conclusão desta Convenção, o seu estabelecimento em Estados
diferentes; ou
b) Um dos lugares a seguir referidos estiver situado fora do Estado no qual
as partes têm o seu estabelecimento:
i) O lugar da arbitragem, se este estiver fixado na convenção de
arbitragem ou for determinável de acordo com esta;
ii) Qualquer lugar onde deva ser executada uma parte substancial das
obrigações resultantes da relação comercial ou o lugar com o qual o
objecto do litígio se ache mais estreitamente conexo; ou
c) As partes tiverem convencionado expressamente que o objecto da
convenção de arbitragem tem conexões com mais de um país.

4. Para os fins do parágrafo 3 do presente artigo:


a) Se uma parte tiver mais de um estabelecimento, o estabelecimento a tomar
em consideração é aquele que tem a relação mais estreita com a convenção de
arbitragem;
b) Se uma parte não tiver estabelecimento, releva para este efeito a sua
residência habitual.

5. A presente Lei não contende com qualquer outra lei do presente Estado em
virtude da qual certos litígios não possam ser submetidos à arbitragem ou
apenas o possam ser por aplicação de disposições diferentes das da presente
Lei.

Artigo 2.º
(Definições e regras de interpretação)

Para os fins da presente Lei:

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 185/266
a) O termo “arbitragem” designa toda e qualquer arbitragem, quer a sua
organização seja ou não confiada a uma instituição permanente de
arbitragem;
b) A expressão “tribunal arbitral” designa um árbitro único ou um grupo de
árbitros;
c) O termo “tribunal” designa um organismo ou órgão do sistema judiciário
de um Estado;
d) Quando uma disposição da presente Lei, com excepção do artigo 28,
deixa às partes a liberdade de decidir uma certa questão, esta liberdade
compreende o direito de as partes autorizarem um terceiro, aí incluída
uma instituição, a decidir essa questão;
e) Quando uma disposição da presente Lei se refere ao facto de as partes
terem convencionado ou poderem vir a chegar a acordo a respeito de
certa questão, ou de qualquer outra maneira se refere a um acordo das
partes, tal acordo engloba qualquer regulamento de arbitragem aí
referido;
f) Quando uma disposição da presente Lei, à excepção do artigo 25, alínea
a), e do artigo 32, parágrafo 2, alínea a), se refere a um pedido, esta
disposição aplica-se igualmente a um pedido reconvencional, e quando
ela se refere a alegações de defesa relativas a um pedido reconvencional.

Artigo 3.º
(Recepção de comunicações escritas)

1. Salvo convenção das partes em contrário:

a) Considera-se recebida qualquer comunicação escrita se ela foi entregue


quer à pessoa do destinatário, quer no seu estabelecimento, na sua
residência habitual ou no seu endereço postal; se nenhum destes locais
puder ser encontrado após uma indagação razoável, considera-se
recebida uma comunicação escrita se ela foi enviada para o
estabelecimento, residência habitual ou endereço postal do destinatário
por último conhecidos, através de carta registada ou de qualquer outro
meio que prove que se procurou fazer a entrega;
b) A comunicação considera-se recebida no dia em que assim for entregue.

2. As disposições do presente artigo não se aplicam às comunicações feitas no


âmbito de processos judiciais.

Artigo 4.º
(Renúncia ao direito de oposição)

Considera-se que renunciou ao seu direito de oposição qualquer parte que,


embora sabendo que uma das disposições da presente Lei que as partes podem
derrogar ou qualquer condição enunciada na convenção de arbitragem não foi
respeitada, prossegue apesar disso a arbitragem sem deduzir oposição de
imediato, ou se estiver previsto um prazo para este efeito, no referido prazo.

Artigo 5.º

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 186/266
(Âmbito de intervenção dos tribunais)

Em todas as questões regidas pela presente Lei, os tribunais só podem intervir


nos casos em que esta o prevê.

Artigo 6.º
(Tribunal ou outra autoridade encarregada de certas funções de
assistência e de controlo no quadro da arbitragem)

As funções mencionadas nos artigos 11, parágrafos 3 e 4, 13, parágrafos 3, 14,


16, parágrafo 3, e 34, parágrafo 2, são confiadas… (Cada Estado, ao adoptar a
Lei-Modelo, indica o tribunal, os tribunais ou, para os casos em que esta lei o
admitir, uma outra autoridade competente para desempenhar essas funções).

CAPÍTULO II
(Convenção de arbitragem)

Artigo 7.º
(Definição e forma da convenção de arbitragem)

1. “Convenção de arbitragem” é uma convenção pela qual as partes decidem


submeter à arbitragem todos ou alguns dos litígios surgidos ou a surgir entre elas
com respeito a uma determinada relação jurídica, contratual ou extracontratual.
Uma convenção de arbitragem pode revestir a forma de uma cláusula
compromissória num contrato ou a de uma convenção autónoma.

2. A convenção de arbitragem deve ser reduzida a escrito. Considera-se que


uma convenção tem forma escrita quando constar de um documento assinado
pelas partes ou de uma troca de cartas, telex, telegramas ou qualquer outro meio
de telecomunicação que prove a sua existência, ou ainda da troca de alegações
referentes à petição e à contestação na qual a existência de uma tal convenção
for alegada por uma parte e não seja contestada pela outra. A referência num
contrato a um documento que contenha uma cláusula compromissória equivale
a uma convenção de arbitragem, desde que o referido contrato revista a forma
escrita e a referência seja feita de tal modo que faça da cláusula uma parte
integrante do contrato.

Artigo 8.º
(Convenção de arbitragem e acções propostas quanto ao fundo do litígio
num tribunal)

1. O tribunal no qual foi proposta uma acção relativa a uma questão abrangida
por uma convenção de arbitragem, se uma das partes o solicitar até ao momento
em apresentar as suas primeiras alegações quanto ao fundo do litígio, remeterá
as partes para a arbitragem, a menos que constate que a referida convenção se
tornou caduca ou insusceptível de ser executada.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 187/266
2. Quando tiver sido proposta num tribunal uma acção referida no parágrafo 1 do
presente artigo, o processo arbitral pode apesar disso ser iniciado ou prosseguir,
e ser proferida uma sentença, enquanto a questão estiver pendente no tribunal.

Artigo 9.º
(Convenção de arbitragem e medidas provisórias tomadas por um
tribunal)

Não é incompatível com uma convenção de arbitragem a solicitação de medidas


provisórias ou conservatórias feita por uma das partes a um tribunal, antes ou
durante o processo arbitral, bem como a concessão de tais medidas pelo
tribunal.

CAPÍTULO III
(Composição do tribunal arbitral)

Artigo 10.º
(Número de árbitros)

1. As partes podem determinar livremente o número de árbitros.

2. Na falta de tal determinação, os árbitros serão em número de três.

Artigo 11.º
(Nomeação de árbitros)

1. Ninguém poderá, em razão da sua nacionalidade, ser impedido de exercer


funções de árbitro, salvo convenção em contrário das partes.

2. As partes podem, por acordo, escolher livremente o processo de nomeação


do árbitro ou dos árbitros, sem prejuízo das disposições dos parágrafos 4 e 5 do
presente artigo.

3. Na falta de um tal acordo, proceder-se-á da seguinte forma:


a) No caso de uma arbitragem com três árbitros, cada uma das partes nomeia
um árbitro e os dois árbitros assim nomeados escolhem o terceiro árbitro; se uma
das partes não nomear o árbitro no prazo de trinta dias a contar da recepção de
um pedido feito nesse sentido pela outra parte, ou se os dois árbitros não se
puserem de acordo quanto à escolha do terceiro árbitro dentro de trinta dias a
contar da respectiva designação, a nomeação é feita, a pedido de uma das
partes, pelo tribunal ou outra autoridade referidos no artigo 6;

b) No caso de uma arbitragem com um único árbitro, se as partes não puderem


pôr-se de acordo sobre a escolha do árbitro, este será nomeado, a pedido de
uma das partes, pelo tribunal ou outra autoridade referidos no artigo 6.º.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 188/266
4. Quando, durante um processo de nomeação convencionado pelas partes,
a) Uma parte não agir em conformidade com o referido processo; ou
b) As partes, ou dois árbitros, não puderem chegar a um acordo nos termos do
referido processo; ou
c) Um terceiro, aí incluída uma instituição, não cumprir uma função que lhe foi
confiada no referido processo, qualquer das partes pode pedir ao tribunal ou a
outra autoridade referidos no artigo 6.º, que tome a medida pretendida, a menos
que o acordo relativo ao processo de nomeação estipule outros meios de
assegurar esta nomeação.

5. A decisão de uma questão confiada ao tribunal ou a outra autoridade, referidos


no artigo 6.º, nos termos dos parágrafos 3 e 4 do presente artigo, o tribunal terá
em conta todas as qualificações exigidas a um árbitro, o tribunal terá em conta
todas as qualificações exigidas a um árbitro pelo acordo das partes e tudo aquilo
que for relevante para garantir a nomeação de um árbitro independente e
imparcial e, quando nomear um árbitro único ou um terceiro árbitro, ele terá
igualmente em consideração o facto de que poderá ser desejável a nomeação
de um árbitro de nacionalidade diferente da das partes.

Artigo 12.º
(Fundamentos de recusa)

1. Quando uma pessoa for sondada com vista à sua eventual nomeação como
árbitro, ela fará notar todas as circunstâncias que possam levantar fundadas
dúvidas sobre a sua imparcialidade ou independência. A partir da data da sua
nomeação e durante todo o processo arbitral, o árbitro fará notar sem demora às
partes as referidas circunstâncias, a menos que já o tenha feito.

2. Um árbitro só pode ser recusado se existirem circunstâncias que possam


levantar fundadas dúvidas sobre a sua imparcialidade ou independência, ou se
ele não possuir as qualificações que as partes convencionaram. Uma parte só
pode recusar um árbitro que tiver nomeado ou em cuja nomeação tiver
participado por uma causa de que apenas tenha tido conhecimento após tal
nomeação.

Artigo 13.º
(Processo de recusa)

1. Sem prejuízo das disposições do parágrafo 3 do presente artigo, as partes


podem, por acordo, fixar livremente o processo de recusa do árbitro.

2. Na falta de tal acordo, a parte que tiver a intenção de recusar um árbitro deverá
expor por escrito os motivos da recusa ao tribunal arbitral, no prazo de quinze
dias a contar da data em que teve conhecimento da constituição do tribunal
arbitral ou da data em que teve conhecimento das circunstâncias referidas no
artigo 12.º, parágrafo 2. Se o árbitro recusado não se demitir das suas funções
ou se a outra parte não aceitar a recusa, o tribunal arbitral decidirá sobre a
recusa.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 189/266
3. Se a recusa não puder ser obtida segundo o processo convencionado pelas
partes ou nos termos do parágrafo 2 do presente artigo, a parte que recusa o
árbitro pode, no prazo de trinta dias após lhe ter sido comunicada a decisão que
rejeita a recusa, pedir ao tribunal ou outra autoridade referidos no artigo 6.º que
tome uma decisão sobre a recusa, decisão que será insusceptível de recurso;
na pendência deste pedido, o tribunal arbitral, aí incluído o árbitro recusado, pode
prosseguir o processo arbitral e proferir uma sentença.

Artigo 14.º
(Inacção de um árbitro)

1. Quando um árbitro se encontrar impossibilitado, de direito ou de facto, de


cumprir a sua missão ou, por outras razões, não se desincumbir das suas
funções num prazo razoável, o seu mandato termina se ele se demitir das suas
funções ou se as partes concordarem em lhes pôr fim. No caso de subsistir
desacordo quanto a algum destes motivos, qualquer das partes pode pedir ao
tribunal ou outra autoridade referidos no artigo 6.º que tome uma decisão sobre
a cessação do mandato, decisão que será insusceptível de recurso.

2. Se, nos termos deste artigo ou do artigo 13.º, parágrafo 2, um árbitro se demitir
das suas funções ou se uma das partes aceitar a cessação do mandato de um
árbitro, isso não implica o reconhecimento dos motivos mencionados no artigo
12.º, parágrafo 2, ou no presente artigo.

Artigo 15.º
(Nomeação de um árbitro substituto)

Quando o mandato de um árbitro terminar, nos termos dos artigos 13.º e 14.º, ou
quando este se demitir das suas funções por qualquer outra razão, ou quando o
seu mandato for revogado por acordo das partes, ou em qualquer outro caso em
que seja posto fim ao seu mandato, será nomeado um árbitro substituto, de
acordo com as regras aplicadas à nomeação do árbitro substituído.

CAPÍTULO IV
(Competência do tribunal arbitral)

Artigo 16.º
(Competência do tribunal arbitral para decidir sobre a sua própria
competência)

1. O tribunal arbitral pode decidir sobre a sua própria competência, aí incluída


qualquer excepção relativa à existência ou à validade da convenção de
arbitragem. Para esse efeito, uma cláusula compromissória que faça parte de
um contrato é considerada como uma convenção distinta das outras cláusulas
do contrato. A decisão do tribunal arbitral que considere nulo o contrato não
implica automaticamente a nulidade da cláusula compromissória.

2. A excepção de incompetência do tribunal arbitral pode ser arguida o mais


tardar até à apresentação das alegações de defesa. O facto de uma parte ter
designado um árbitro ou ter participado na sua designação não a priva do direito

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 190/266
de arguir esta excepção. A excepção baseada no excesso de poderes do tribunal
arbitral será arguida logo que surja no decurso do processo arbitral a questão
que se considera exceder esses poderes. O tribunal arbitral pode, em ambos os
casos, admitir uma excepção arguida após o prazo previsto, se considerar
justificada a demora.

3. O tribunal arbitral pode decidir sobre a excepção referida no parágrafo 2 do


presente artigo, quer enquanto questão prévia, quer na sentença sobre o fundo.
Se o tribunal arbitral decidir, a título de questão prévia, que é competente,
qualquer das partes pode, num prazo de trinta dias após ter sido avisada desta
decisão, pedir ao tribunal referido no artigo 6.º que tome uma decisão sobre este
ponto, decisão que será insusceptível de recurso; na pendência deste pedido, o
tribunal arbitral pode prosseguir o processo arbitral e proferir uma sentença.

Artigo 17.º
(Poder do tribunal arbitral ordenar medidas provisórias)

Salvo convenção em contrário das partes, o tribunal arbitral pode, a pedido de


uma parte, ordenar a qualquer delas que tome as medidas provisórias ou
conservatórias que o tribunal arbitral considere necessário tomar em relação ao
objecto do litígio. O tribunal arbitral pode exigir a qualquer das partes que, em
conexão com essas medidas, preste uma garantia adequada.

CAPÍTULO V
(Condução do processo arbitral)

Artigo 18.º
(Igualdade de tratamento das partes)

As partes devem ser tratadas em pé de igualdade e devem ser dadas a cada


uma delas todas as possibilidades de fazerem valer os seus direitos.

Artigo 19.º
(Determinação das regras de processo)

1. Sem prejuízo das disposições da presente Lei, as partes podem, por acordo,
escolher livremente o processo a seguir pelo tribunal arbitral.

2. Na falta de tal acordo, o tribunal arbitral pode, sem prejuízo das disposições
da presente Lei, conduzir a arbitragem do modo que julgar apropriado. Os
poderes conferidos ao tribunal arbitral compreendem o de determinar a
admissibilidade, pertinência e importância de qualquer prova produzida.

Artigo 20.º
(Lugar da arbitragem)

1. As partes podem decidir livremente sobre o lugar da arbitragem. Na falta de


tal decisão, este lugar será fixado pelo tribunal arbitral, tendo em conta as
circunstâncias do caso, aí concluída a conveniência das partes.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 191/266
2. Não obstante as disposições do parágrafo 1 do presente artigo, o tribunal
arbitral pode, salvo convenção das partes em contrário, reunir-se em qualquer
lugar que julgue apropriado para consultas entre os seus membros, para audição
de testemunhas, de peritos ou das partes, ou para o exame de mercadorias,
outros bens ou documentos.

Artigo 21.º
(Início do processo arbitral)

Salvo convenção das partes em contrário, o processo arbitral relativo a um


determinado litígio começa na data em que o pedido de sujeição deste litígio à
arbitragem é recebido pelo demandado.

Artigo 22.º
(Língua)

1. As partes podem, por acordo, escolher livremente a língua ou línguas a utilizar


no processo arbitral. Na falta de um tal acordo, o tribunal arbitral determinará a
língua ou línguas a utilizar no processo. Este acordo ou esta determinação, a
menos que tenha sido especificado de modo diverso, aplicam-se a qualquer
declaração escrita de uma das partes, a qualquer procedimento oral e a qualquer
sentença, decisão ou outra comunicação do tribunal arbitral.

2. O tribunal arbitral pode ordenar que qualquer peça processual seja


acompanhada de uma tradução na língua ou línguas convencionadas pelas
partes ou escolhidas pelo tribunal arbitral.

Artigo 23.º
(Articulados do demandante e do demandado)

1. No prazo convencionado pelas partes ou fixado pelo tribunal arbitral, o


demandante enunciará os factos que baseiam o seu pedido, os pontos litigiosos
e o objecto do pedido e o demandado enunciará a sua defesa a propósito destas
questões, a menos que outra tenha sido a convenção das partes quanto aos
elementos a figurar nas alegações. As partes podem fazer acompanhar as suas
alegações de quaisquer documentos ou outros meios de prova que virão a
apresentar.

2. Salvo convenção das partes em contrário, qualquer das partes pode modificar
ou completar o seu pedido ou a sua defesa no decurso do processo arbitral, a
menos que o tribunal arbitral considere que não deve autorizar uma tal alteração
em razão do atraso com que é formulada.

Artigo 24.º
(Procedimento oral e escrito)

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 192/266
1. Salvo convenção das partes em contrário, o tribunal decidirá se o processo
deve comportar fases orais para a produção da prova ou para a exposição oral
dos argumentos, ou se o processo deverá ser conduzido na base de documentos
ou outros materiais. Contudo, a menos que as partes tenham convencionado
que não haverá lugar a um tal procedimento, o tribunal arbitral organizará um
procedimento oral num estádio apropriado do processo arbitral, se uma das
partes assim o requerer.
2. As partes serão notificados com uma antecedência suficiente de todas as
audiências e reuniões do tribunal arbitral realizadas com finalidade de examinar
mercadorias, outros bens ou documentos.

3. Todas as alegações, documentos ou informações que uma das partes forneça


ao tribunal devem ser comunicados à outra parte. Deve igualmente ser
comunicado às partes qualquer relatório ou documento apresentado como prova
que possa servir de base à decisão do tribunal.

Artigo 25.º
(Falta de cumprimento de uma das partes)

Salvo convenção das partes em contrário, se, sem invocar impedimento


bastante,
a) o demandante não apresenta o seu pedido em conformidade com
o art. 23.º, parágrafo 1, o tribunal arbitral porá fim ao processo
arbitral;
b) o demandado não apresenta a sua defesa em conformidade com
o artigo 23.º, parágrafo 1, o tribunal arbitral fará prosseguir o
processo arbitral sem considerar esta falta em si mesma como uma
aceitação das alegações do demandante;
c) Uma das partes deixa de comparecer a uma audiência ou de
fornecer documentos de prova.

Artigo 26.º
(Perito nomeado pelo tribunal arbitral)

1. Salvo convenção das partes em contrário, pode o tribunal arbitral:

a) Nomear um ou mais peritos encarregados de elaborar um relatório sobre


pontos específicos que o tribunal arbitral determinará;
b) Pedir a uma das partes que forneça ao perito todas as informações
relevantes ou que lhe faculte ou torne acessíveis, para exame, quaisquer
documentos, mercadorias ou outros bens relevantes.

2. Salvo convenção das partes em contrário, se uma das partes o solicitar ou se


o tribunal arbitral o julgar necessário, o perito, após apresentação do seu relatório
escrito ou oral, participará numa audiência em que as partes o podem interrogar
e na qual podem fazer intervir, na qualidade de testemunhas, peritos que
deponham sobre as questões em análise.

Artigo 27.º
(Assistência dos tribunais na obtenção de provas)

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 193/266
O tribunal arbitral ou uma parte com a aprovação do tribunal arbitral, pode
solicitar assistência para obtenção de provas a um tribunal competente do
presente Estado. O tribunal pode corresponder à solicitação nos limites da sua
competência e de acordo com as suas próprias regras relativas à obtenção de
provas.

CAPÍTULO VI
(Sentença arbitral e encerramento do processo)

Artigo 28.º
(Regras aplicáveis ao fundo da causa)

1. O tribunal arbitral decide o litígio de acordo com as regras de direito escolhidas


pelas partes para serem aplicadas ao fundo da causa. Qualquer designação da
lei ou do sistema jurídico de um determinado Estado será considerada, salvo
indicação expressa em contrário, como designando directamente as regras
jurídicas materiais deste Estado e não as suas regras de conflitos de leis.

2. Na falta de uma tal designação pelas partes, o tribunal arbitral aplicará a lei
designada pela regra de conflitos de leis que ele julgue aplicável na espécie.

3. O tribunal arbitral decidirá ex aequo et bono ou na qualidade de amiable


compositeur apenas quando as partes a isso expressamente o autorizarem.

4. Em qualquer caso, o tribunal arbitral decidirá de acordo com as estipulações


do contrato e terá em conta os usos do comércio aplicáveis à transacção.

Artigo 29.º
(Decisão tomada por vários árbitros)

Num processo arbitral com mais de um árbitro, qualquer decisão do tribunal


arbitral será tomada pela maioria dos seus membros, salvo convenção das
partes em contrário. Todavia, as questões de processo podem ser decididas por
um árbitro presidente, se este estiver autorizado para o efeito pelas partes ou
por todos os membros do tribunal arbitral.

Artigo 30.º
(Decisão por acordo das partes)

1. Se, no decurso do processo arbitral, as partes se puserem de acordo quanto


à decisão do litígio, o tribunal arbitral porá fim ao processo arbitral e, se as partes
lho solicitarem e ele tiver nada a opor, certificará o facto através de uma sentença
arbitral proferida nos termos acordados pelas partes.

2. A sentença proferida nos termos acordados pelas partes será elaborada em


conformidade com as disposições do artigo 31.º e mencionará o facto de que se
trata de uma sentença. Uma tal sentença tem o mesmo estatuto e o mesmo
efeito que qualquer outra sentença proferida sobre o fundo da causa.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 194/266
Artigo 31.º
(Forma e conteúdo da sentença)

1. A sentença será reduzida a escrito e assinada pelo árbitro ou árbitros. No


processo arbitral com mais de um árbitro, serão suficientes as assinaturas da
maioria dos membros do tribunal arbitral, desde que seja mencionada a razão
da omissão das restantes.

2. A sentença será fundamentada, salvo se as partes convencionarem que não


haverá lugar à fundamentação ou se se tratar de uma sentença proferida com
base num acordo das partes nos termos do artigo 30.º.

3. A sentença mencionará a data em que foi proferida, bem como o lugar da


arbitragem, determinado em conformidade com o artigo 20.º, parágrafo 1,
devendo considerar-se que a sentença foi proferida nesse lugar.

4. Proferida a sentença, será enviada a cada uma das partes uma cópia assinada
pelo árbitro ou árbitros, nos termos do parágrafo 1 do presente artigo.

Artigo 32.º
(Encerramento do processo)

1. O processo arbitral termina quando for proferida a sentença definitiva ou


quando for ordenado o encerramento do processo pelo tribunal arbitral, nos
termos do parágrafo 2 do presente artigo.

2. O tribunal arbitral ordenará o encerramento do processo arbitral:


a) Quando o demandante retire o seu pedido, a menos que o demandado a tanto
se oponha e o tribunal arbitral reconheça que este tem um interesse legítimo em
que o litígio seja definitivamente resolvido;
b) Quando as partes concordem em encerrar o processo;
c) Sempre que o tribunal arbitral verifique que a prossecução do processo se
tornou, por qualquer outra razão, supérflua ou impossível.

3. O mandato do tribunal arbitral finda com o encerramento do processo arbitral,


sem prejuízo das disposições do artigo 33.º e do parágrafo 4 do artigo 34.º.

Artigo 33.º
(Rectificação e interpretação da sentença e da sentença adicional)

1. Nos trinta dias seguintes à recepção da sentença, pode cada uma das partes,
salvo se outro tiver sido o prazo estipulado:
a) Notificar a outra e pedir ao tribunal arbitral que rectifique no texto da sentença
qualquer erro de cálculo, qualquer erro material ou tipográfico ou qualquer erro
de natureza idêntica;
b) Se as partes assim o convencionarem, notificar a outra e pedir ao tribunal
arbitral que interprete um ponto ou passagem determinada da sentença.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 195/266
Se o tribunal arbitral considerar o pedido justificado, fará a rectificação ou a
interpretação nos trinta dias seguintes à recepção do pedido. A interpretação fará
parte integrante da sentença.

2. O tribunal arbitral pode, por sua iniciativa, rectificar qualquer erro do tipo
referido na alínea a) do parágrafo 1 do presente artigo, nos trinta dias seguintes
à data da sentença.

3. Salvo convenção das partes em contrário, uma das partes pode, notificando a
outra, pedir ao tribunal arbitral, nos trinta dias seguintes à recepção da sentença,
que profira uma sentença adicional sobre certos pontos do pedido expostos no
decurso do processo arbitral mas omitidos na sentença. Se julgar o pedido
justificado, o tribunal proferirá a sentença adicional dentro de sessenta dias.

4. O tribunal arbitral pode prolongar, se for necessário, o prazo de que dispõe


para rectificar, interpretar ou completar a sentença, nos termos dos parágrafos 1
e 3 do presente artigo.

5. As disposições do artigo 31.º aplicam-se à rectificação ou à interpretação da


sentença, ou à sentença adicional.

CAPÍTULO VII
(Recurso da sentença)

Artigo 34.º
(O pedido de anulação como recurso exclusivo da sentença arbitral)

1. O recurso de uma sentença arbitral interposto num tribunal só pode revestir a


forma de um pedido de anulação, nos termos dos parágrafos 2 e 3 do presente
artigo.

2. A sentença arbitral não pode ser anulada pelo tribunal referido no artigo 6.º a
não ser que,
a) A parte que faz o pedido fornecer a prova de:
i) que uma parte na convenção de arbitragem referida no artigo 7.º estava ferida
de uma incapacidade; ou que a dita convenção não é válida nos termos da lei a
que as partes a tenham subordinado ou, na falta de qualquer indicação a este
propósito, nos termos da lei do presente Estado; ou
ii) que uma parte não foi devidamente informada da nomeação de um árbitro ou
do processo arbitral, ou lhe foi impossível fazer valer os seus direitos por
qualquer outra razão; ou
iii) que a sentença tem por objecto um litígio não referido no compromisso ou
não abrangido pela previsão da cláusula compromissória, ou que contém
decisões que ultrapassam os termos do compromisso ou da cláusula
compromissória, entendendo-se contudo que, se as disposições da sentença
relativas a questões submetidas à arbitragem puderem ser dissociadas das que
não estiverem submetidas à arbitragem, unicamente poderá ser anulada a parte
da sentença que contenha decisões sobre as questões não submetidas à
arbitragem; ou

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 196/266
iv) que a constituição do tribunal ou o processo arbitral não estão conformes à
convenção das partes, a menos que esta convenção contrarie uma disposição
da presente Lei que as partes não possam derrogar, ou que, na falta de uma tal
convenção, não estão conformes à presente Lei; ou
b) O tribunal verificar:
i) que o objecto do litígio não é susceptível de ser decidido por arbitragem nos
termos da lei do presente Estado; ou
ii) que a sentença contraria a ordem pública do presente Estado.

3. Um pedido de anulação não pode ser apresentado após o decurso de um


prazo de três meses a contar da data em que a parte que faz este pedido recebeu
comunicação da sentença ou, se tiver sido feito um pedido nos termos do artigo
33.º, a partir da data em que o tribunal tomou uma decisão sobre este pedido.

4. Quando lhe for solicitado que anule uma sentença, o tribunal pode, se for caso
disso e a pedido de uma das partes, suspender o processo de anulação durante
o período de tempo que determinar, de molde a dar ao tribunal arbitral a
possibilidade de retomar o processo arbitral ou de tomar qualquer outra medida
que o tribunal referido julgue susceptível de eliminar os motivos da anulação.

CAPÍTULO VIII
(Reconhecimento e execução das sentenças)

Artigo 35.º
(Reconhecimento e execução)

1. A sentença arbitral, independentemente do país em que tenha sido proferida,


será reconhecida como tendo força obrigatória e, mediante solicitação dirigida
por escrito ao tribunal competente, será executada, sem prejuízo das
disposições do presente artigo e do artigo 36.º.

2. A parte que invocar a sentença ou que pedir a respectiva execução deve


fornecer o original da sentença devidamente autenticado ou uma cópia
certificada conforme, bem como o original da convenção de arbitragem referida
no artigo 7.º ou uma cópia devidamente certificada. Se a dita sentença ou
convenção não estiver redigida numa língua oficial do presente Estado, a parte
fornecerá uma tradução devidamente certificada nesta língua.

Artigo 36.º
(Fundamentos de recusa do reconhecimento ou da execução)

1. O reconhecimento ou a execução de uma sentença arbitral,


independentemente do país em que tenha sido proferida, só pode ser recusado:

a) A pedido da parte contra a qual for invocado, se essa parte fornecer ao tribunal
competente a quem é pedido o reconhecimento ou a execução a prova de:
i) que uma das partes na convenção de arbitragem referida no artigo 7.º estava
ferida de uma incapacidade; ou que a dita convenção não é válida nos termos

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 197/266
da lei a que as partes a tenham subordinado ou, na falta de indicação a este
propósito, nos termos da lei do país onde a sentença foi proferida; ou
ii) que a parte contra a qual a sentença é invocada não foi devidamente
informada da nomeação de um árbitro ou do processo arbitral, ou que lhe foi
impossível fazer valer os seus direitos por qualquer outra razão; ou
iii) que a sentença tem por objecto um litígio não referido no compromisso ou
não abrangido pela previsão da cláusula compromissória, ou que contém
decisões que ultrapassam os termos do compromisso ou da cláusula
compromissória, entendendo-se contudo que, se as disposições da sentença
relativas a questões submetidas à arbitragem puderem ser dissociadas das que
tiverem submetidas à arbitragem, unicamente poderá ser anulada a parte da
sentença que contenha decisões sobre as questões não submetidas à
arbitragem; ou
iv) que a constituição do tribunal arbitral ou o processo arbitral não estão
conformes à convenção das partes ou, na falta de tal convenção, à lei do país
onde a arbitragem teve lugar; ou
v) que a sentença se não tenha tornado ainda obrigatória para as partes ou tenha
sido anulada ou suspensa por um tribunal do país no qual, ou em virtude da lei
do qual, a sentença tenha sido proferida; ou
b) Se o tribunal verificar:
i) que o objecto do litígio não é susceptível de ser decidido por arbitragem nos
termos da lei do presente Estado; ou
ii) que o reconhecimento ou a execução da sentença contrariaria a ordem pública
do presente Estado.

2. Se um pedido de anulação ou de suspensão de uma sentença tiver sido


apresentado a um tribunal referido no parágrafo 1, alínea a), subalínea v) deste
artigo, o tribunal ao qual foi pedido o reconhecimento ou execução pode, se o
julgar apropriado, adiar a sua decisão e pode também, a requerimento da parte
que pede o reconhecimento ou a execução da sentença, ordenar à outra parte
que preste garantias adequadas.

Regulamento de Arbitragem da CNUDCI1

Resolução 31/98 adoptada pela Assembleia-Geral em 15 de Dezembro de


1976.

SECÇÃO 1 – Disposições Preliminares


Artigo 1 – Âmbito de Aplicação.
1. Se as partes a um contrato acordarem por escrito que os litígios em
relação a este contrato serão submetidos à arbitragem conforme o
Regulamento de arbitragem da CNUDCI, esses litígios serão resolvidos

1
Tradução dos autores

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 198/266
segundo este regulamento sob reserva das modificações acordadas entre
as partes por escrito.
2. O presente Regulamento rege a arbitragem; contudo, no caso de conflito
entre uma das suas disposições e uma disposição da lei aplicável à
arbitragem que as partes não podem derrogar, é esta ultima que
prevalece.

Artigo 2 – Notificação, contagem dos prazos


1. Para os fins do presente Regulamento, uma notificação incluindo uma
comunicação ou proposta é considerada como tendo chegado ao destino,
se for entregue, seja em mãos próprias do destinatário, seja à sua
residência habitual, ao seu estabelecimento ou endereço postal, seja
ainda – nenhum desses endereços tendo sido encontrado depois de uma
investigação razoável – à última residência ou último estabelecimento
conhecido do destinatário. A notificação é considerada como entregue ao
destino no dia em que for entregue.
2. Para os fins de cálculos de um prazo nos termos do presente
Regulamento, o dito prazo começa a contar a partir do dia em que a
notificação, comunicação ou a proposta chegar ao destino. Se o último
dia do prazo é um dia feriado ou um dia de tolerância de ponto no lugar
da residência ou do estabelecimento do destinatário, o prazo é prorrogado
até o primeiro dia útil seguinte. Os dias feriados ou com tolerância de
ponto que calhem no decurso do prazo são contados.

Artigo 3 – Notificação de Arbitragem


1. A parte que toma a iniciativa de recorrer à arbitragem (designada por
“requerente”) comunica a outra parte (designada por “requerido”) uma
notificação de arbitragem.
2. O procedimento de arbitragem é considerado como tendo início na data
em que a notificação de arbitragem for recebida pela parte requerida [o
requerido].
3. A notificação de arbitragem deve conter as seguintes indicações:
a) O pedido fazendo menção de que o litígio deve ser submetido à
arbitragem;
b) Os nomes e endereços das partes;
c) A menção da cláusula compromissória ou a convenção distinta de
arbitragem invocada;
d) A menção do contrato que dá origem ao litígio ou a que este faz alusão;
e) A natureza geral do litígio e neste caso, uma estimativa do valor a que diz
respeito;
f) O objecto do petição;
g) Uma proposta em relação ao número de árbitros (isto é, um ou três), se
não houver acordo prévio entre as partes.
4. A notificação de arbitragem pode também conter as seguintes indicações:
a) As propostas tendentes à nomeação de um árbitro único e uma autoridade
de nomeação, visadas no artigo 6 paragráfo primeiro;
b) A notificação da nomeação de um árbitro visado no artigo 7;
c) O requerimento [ou petição] visado no artigo 18.

Artigo 4 – Representação e Assistência

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 199/266
As partes podem fazer-se representar ou assistir por pessoas de sua escolha.
Os nomes e endereços dessas pessoas devem ser comunicados por escrito à
outra parte; esta comunicação deve mencionar se tal designação foi feita para
uma representação ou uma assistência.

SECÇÃO 2 – Composição do Tribunal de arbitragem

Artigo 5 – Número de Árbitros


Se as partes não tiverem acordado previamente em relação ao número de
árbitros (isto é um ou três) e se dentro de 15 dias de recepção pelo requerido da
notificação de arbitragem, as partes não entrarem em acordo que haverá
somente um árbitro, serão nomeados 3 árbitros.

Artigo 6 – Nomeação dos Árbitros


1. Se tiver que ser nomeado um árbitro único, cada parte pode propor à
outra:
a) O nome de uma ou mais pessoas susceptíveis de exercer as funções de
árbitro único; e
b) Se nenhuma autoridade de nomeação for escolhida pelas partes de
comum acordo o nome de uma ou mais pessoas, instituições ou pessoas
susceptíveis de exercer funções de autoridade de nomeação.
2. Se dentro de 30 dias da recepção por uma parte de uma proposta feita
conforme o parágrafo 1, as partes não se entenderem sobre a escolha de
um árbitro único, este é nomeado pela autoridade de nomeação escolhida
pelas partes de comum acordo ou, se a autoridade de nomeação
escolhida por elas recusar de agir e não nomear o árbitro dentro de 60
dias a contar da recepção do pedido de uma das partes nesse sentido,
cada parte pode pedir ao Secretário-geral do Tribunal permanente de
arbitragem da Haia para designar uma autoridade de nomeação.
3. A autoridade de nomeação, a pedido de uma das partes, nomeia o árbitro
único tão logo quanto possível. Ela procede a esta nomeação utilizando o
sistema das listas conforme o procedimento seguinte, a menos que as
duas partes se tenham entendido para afastar esse procedimento ou que
a autoridade de nomeação não decida, dentro do exercício do seu poder
de apreciação, que a utilização do sistema de lista conforme este
procedimento não convém nos casos considerados:
a) A pedido de uma das partes, a autoridade de nomeação comunica às
duas partes uma lista idêntica compreendendo pelo menos três nomes;
b) Dentro dos 15 dias da recepção desta lista cada parte pode reenvia-la à
autoridade de nomeação depois de ter riscado o nome ou os nomes de
que faz objecção e numerar os nomes restantes da sua ordem de
preferência;
c) À expiração do prazo mencionado, a autoridade de nomeação nomeia um
árbitro único entre as pessoas cujo nome figure nas listas que lhe forem
reenviadas e seguindo a ordem de preferência indicada pelas partes;
d) Se por uma razão qualquer a nomeação não pode ser feita conforme este
procedimento, a nomeação do árbitro único é deixada à apreciação da
autoridade de nomeação.
4. A autoridade procede à nomeação tendo em vista considerações próprias
para garantir a nomeação de um árbitro independente e imparcial, e,

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 200/266
tendo igualmente em conta o facto de que pode ser desejável nomear um
árbitro de uma nacionalidade diferente da nacionalidade de uma das
partes.

Artigo 7 – Nomeação dos Árbitros


1. Se tiverem que ser nomeados três árbitros cada parte nomeia um. Os dois
árbitros assim nomeados escolhem o terceiro que exerce as funções de
árbitro- presidente do Tribunal.
2. Se dentro de 30 dias da recepção da notificação do nome do árbitro
designado por uma das partes, a outra parte não notificar o nome do
árbitro de sua escolha:
a) A primeira parte pode pedir à autoridade de nomeação anteriormente
designada pelas partes de nomear o segundo árbitro ou;
b) Se uma autoridade de nomeação não tiver sido anteriormente designada
pelas partes ou se autoridade de nomeação designada anteriormente
recusar em agir ou não nomear um árbitro dentro dos 30 dias da recepção
do pedido de uma das partes neste sentido, a primeira parte pode pedir
ao Secretariado-Geral do Tribunal permanente de arbitragem da Haia
para designar a autoridade de nomeação. A primeira parte pode então
pedir à autoridade de nomeação assim designada para nomear o segundo
árbitro. Num e noutro caso, a nomeação do árbitro é deixada à apreciação
da autoridade de nomeação.
3. Se dentro de 30 dias da nomeação do segundo árbitro os dois árbitros
não se entenderem sobre a escolha do árbitro-presidente, este último é
nomeado por uma autoridade de nomeação conforme o procedimento
previsto no artigo 6 para nomeação do árbitro único.

Artigo 8 – Nomeação dos Árbitros


1. Quando for pedido a uma autoridade de nomeação para nomear um
árbitro conforme o artigo 6 ou o artigo 7, a parte que faz este pedido envia
uma cópia de notificação de arbitragem ou uma cópia do contrato do qual
nasceu o litigio ou ao qual se refere, uma cópia da convenção de
arbitragem, se esta não figurar no contrato. A autoridade de nomeação
pode pedir a uma ou outra parte informações que ela achar necessárias
para bem desempenhar as suas funções.
2. Quando a candidatura de uma ou mais pessoas for proposta para uma
nomeação como árbitro, os nomes e endereços completos dos
interessados assim como suas nacionalidades, devem ser indicados,
acompanhados de uma descrição dos seus títulos.

Artigo 9 – Recusa de Árbitros


Todo árbitro cuja nomeação é considerada assinala às pessoas que o indicaram,
todas as circunstâncias que possam ser relevantes ou trazer dúvida sobre a sua
imparcialidade ou a sua não independência. Uma vez que ele for nomeado ou
escolhido, um árbitro tem que assinalar essas ditas circunstancias às partes se
ainda não o tiver feito.

Artigo 10 – Recusa de Árbitros


1. Todo árbitro pode ser recusado se existirem circunstâncias que possam
levantar dúvidas sérias sobre a sua imparcialidade ou independência.

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LAV COMENTADA 201/266
2. Uma parte não pode recusar o árbitro que ela designou por uma causa
que ela teve conhecimento depois dessa designação.

Artigo 11 – Recusa de Árbitros


1. Toda parte que desejar recusar um árbitro deve notificar a sua decisão
dentro dos 15 dias, a contar da data em que a nomeação deste árbitro lhe
for notificada ou dentro dos 15 dias, a contar da data em que teve
conhecimento das circunstâncias visadas pelos artigos 9 e 10.
2. A recusa é notificada à outra parte, ao árbitro recusado e aos outros
membros do Tribunal de arbitragem. A notificação faz-se por escrito e
deve ser motivada.
3. Quando um árbitro for recusado por uma das partes, a outra parte pode
aceitar a recusa; o árbitro recusado pode igualmente renunciar a exercer
a função de árbitro. Esta aceitação ou renúncia própria não implica o
reconhecimento dos motivos da recusa. Nesses dois casos, o
procedimento previsto nos artigos 6 ou 7 é aplicado à nomeação do
substituto, mesmo se uma das partes não exercer o seu direito de nomear
ou de participar a nomeação do árbitro recusado.

Artigo 12 – Recusa de Árbitros


1. Se a recusa não for aceite pela outra parte, e se o árbitro recusado não
renunciar voluntariamente da sua designação, a decisão relativa a recusa
é tomada:
a) Se a nomeação inicial for feita por uma autoridade de nomeação – pela
dita autoridade;
b) Se a nomeação inicial não foi feita por uma autoridade de nomeação mas
que tal autoridade foi designada anteriormente – pela dita autoridade;
c) Em todos outros casos, pela autoridade de nomeação que deve ser
designada conforme o procedimento de designação de uma autoridade
de nomeação previsto no artigo 6.
2. Se a autoridade de nomeação admitir a recusa, um substituto é nomeado
ou escolhido de acordo com o procedimento aplicável à nomeação ou
escolha dos árbitros, previsto nos artigos 6 a 9; todavia, nos casos em
que este procedimento implica a designação de uma autoridade de
nomeação, a nomeação do árbitro é feita pela autoridade de nomeação
que se pronunciou sobre a recusa.

Artigo 13 – Substituição de um Árbitro


1. Em caso de morte ou demissão de um árbitro durante o procedimento de
arbitragem, um substituto é nomeado ou escolhido segundo o
procedimento previsto nos artigos 6 a 9, que era aplicável aquando da
nomeação ou escolha do árbitro a ser substituído.
2. Em caso de carência ou de impossibilidade de direito ou de facto de um
árbitro de cumprir com a sua missão, o procedimento relativo à recusa e
substituição dos árbitros previsto nos artigos precedentes aplica-se.

Artigo 14 – Repetição oral no caso de substituição de um Árbitro


Em caso de substituição de um árbitro único ou do árbitro-presidente em virtude
dos artigos 11 a 13, o procedimento oral que teve lugar antes da substituição

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LAV COMENTADA 202/266
deve ser repetido e, no caso de substituição de um outro árbitro, a decisão de
repetir este procedimento é deixada à apreciação do tribunal de arbitragem.
SECÇÃO 3 – Procedimento Arbitral

Artigo 15 – Disposições Gerais


1. Sob reserva das disposições do Regulamento, o tribunal de arbitragem
pode proceder à arbitragem como achar apropriado, desde que as partes
sejam tratadas em pé de igualdade, e que em todo estado do
procedimento, cada parte tenha a possibilidade de fazer valer seus
direitos e propor os seus meios.
2. A pedido de uma ou de outra parte e em qualquer estado do
procedimento, o tribunal de arbitragem organiza um procedimento oral
para a produção de provas por testemunhas incluindo peritos ou para a
exposição oral dos argumentos. Se nenhum pedido for formulado neste
sentido, o tribunal de arbitragem decide se convém organizar um tal
procedimento ou se o procedimento decorrerá sob peças.
3. Todas as peças ou informações que uma das partes fornece ao tribunal
devem ser comunicadas ao mesmo tempo por ela à outra parte.

Artigo 16 – Local de Arbitragem


1. Na ausência de acordo entre as partes sobre o local de arbitragem, este
local é determinado pelo tribunal de arbitragem tendo em conta as
circunstancias da arbitragem.
2. O tribunal de arbitragem pode fixar a localização da arbitragem no interior
do país escolhido pelas partes. Ele pode também ouvir testemunhas e ter
reuniões de consulta em todo lugar que lhe convier, tendo em conta as
circunstancias da arbitragem.
3. O tribunal de arbitragem pode reunir-se em todo lugar que achar
apropriado para fins de inspecção de mercadorias ou de outros bens e do
exame das peças. As partes serão informadas com muito tempo de
antecedência para ter a possibilidade de assistir à visita de campo.
4. A sentença é ditada no local de arbitragem.

Artigo 17 – Língua
1. Sob reserva do acordo das partes, o tribunal de arbitragem fixa, sem
demora, a partir da sua nomeação, a língua ou as línguas do
procedimento. Esta decisão aplica-se ao requerimento e à resposta,
assim como a qualquer outra exposição escrita, e no caso de
procedimento oral, aplica-se à língua ou às línguas a utilizar durante este
procedimento.
2. O tribunal de arbitragem pode ordenar que todas as peças anexas ao
requerimento ou à resposta, assim como todas outras peças
complementares produzidas ao longo do procedimento que forem
entregues nas suas línguas originais sejam acompanhadas de uma
tradução na língua ou nas línguas escolhidas pelas partes ou fixadas pelo
tribunal de arbitragem.

Artigo 18 – Petição (Requerimento)


1. Se a petição não for exposta na notificação de arbitragem, o requerente
endereça, dentro dos prazos previstos para esse efeito pelo tribunal de

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LAV COMENTADA 203/266
arbitragem, um pedido escrito à parte requerida e a cada um dos árbitros.
Uma cópia do contrato e da convenção de arbitragem, se não figurar no
contrato, deve ser anexa à petição.
2. A petição comporta as indicações que se seguem:
a) Os nomes e endereços das partes;
b) Uma exposição dos factos para fundamentar a petição;
c) Os pontos litigiosos;
d) Objecto do pedido.
O requente pode anexar à sua petição todas peças que achar pertinentes ou
mencionar as peças ou outros meios de prova que produzirá.

Artigo 19 – Resposta
1. No prazo previsto para esse efeito pelo tribunal de arbitragem, a parte
requerida endereça a sua resposta escrita ao requerente e a cada um dos
árbitros.
2. O requerido responde às alíneas b, c e d da petição (artigo 18 parágrafo
2). Ele pode anexar à sua resposta, as peças sobre as quais ele apoia a
sua defesa ou mencionar as peças ou outros meios de prova que
produzirá.
3. Na sua resposta ou a um estado ulterior do procedimento arbitral se o
tribunal de arbitragem decidir que este prazo for justificado pelas
circunstâncias, o requerido pode formular uma reconvenção fundada
sobre o mesmo contrato ou invocar um direito fundado sobre o mesmo
contrato como meio de compensação.
As disposições do parágrafo 2 do artigo 18 aplicam-se à reconvenção e ao direito
invocado como meio de compensação.

Artigo 20 – Modificações da petição ou da reposta


Durante o procedimento de arbitragem, uma ou outra parte pode modificar ou
completar a sua petição ou a sua resposta, a menos que o tribunal de arbitragem
considere não dever autorizar tal emenda, devido ao atraso na sua formulação,
ao prejuízo que causaria à outra parte ou a qualquer outra circunstância.
Contudo, a petição não pode ser emendada ao ponto de sair do quadro da
cláusula compromissória ou da convenção distinta de arbitragem.

Artigo 21 – Recusa da competência do tribunal de arbitragem


1. O tribunal de arbitragem pode pronunciar-se sobre as excepções da sua
competência, incluíndo qualquer excepção relativa à existência ou
validade da cláusula compromissória ou da convenção distinta de
arbitragem.
2. O tribunal de arbitragem tem a competência para pronunciar-se sobre a
existência ou validade do contrato cuja cláusula compromissória faz parte.
Para os fins do artigo 21, uma cláusula compromissória que faça parte de
um contrato e que prevê a arbitragem em virtude do presente
regulamento, será considerado como uma convenção distinta das outras
cláusulas do contrato. A constatação da nulidade do contrato pelo tribunal
de arbitragem não leva à nulidade de pleno direito da cláusula
compromissória.

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LAV COMENTADA 204/266
3. A excepção de incompetência deve ser levantada mais tarde, aquando do
depósito da resposta ou, no caso da reconvenção, da réplica.
4. De modo geral, o tribunal pronuncia-se sobre a excepção da
incompetência, tratando-a como questão prévia. Pode, contudo, continuar
com a arbitragem e pronunciar-se sobre esta excepção na sua sentença
definitiva.

Artigo 22 – Outras peças escritas


O tribunal decide quais são, além da petição e da resposta, as outras peças
escritas que as partes devem ou podem apresentar-lhe; ele fixa o prazo durante
o qual essas peças devem ser-lhe comunicadas.

Artigo 23 – Prazos
Os prazos fixados pelo tribunal para a comunicação das escrituras (incluindo a
petição e a resposta) não deverão ultrapassar os quarenta e cinco dias. Todavia,
esses prazos podem ser prorrogados pelo tribunal de arbitragem se este julgar
que esta prorrogação é motivada.

Artigo 24 – Provas e audiências


1. Cada parte deve trazer a prova dos factos sobre os quais se apoia a sua
petição ou a sua resposta.
2. Se assim o julgar necessário, o tribunal de arbitragem pode pedir a uma
das partes que lhe forneça a si e à outra parte, dentro dos prazos que ele
fixar, um resumo das peças e outras provas que a parte interessada tiver
a intenção de produzir, apoiando os factos que são objecto do litígio e que
são expostos na sua petição ou na sua resposta.
3. A qualquer momento do procedimento, o tribunal de arbitragem pode
pedir às partes a produção de provas complementares, fixando-lhes um
prazo para esse efeito.

Artigo 25 – Provas e audiências


1. Em caso de procedimento oral, o tribunal de arbitragem notifica, com
antecedência, às partes sobre a data, a hora e o lugar do procedimento.
2. Se testemunhas tiverem de ser ouvidas, cada parte comunica, quinze dias
antes da audiência, ao tribunal de arbitragem e à outra parte, os nomes e
endereços das testemunhas que ela se propõe produzir, especificando o
objecto dos depoimentos e a língua em que serão apresentados.
3. O tribunal de arbitragem toma as disposições para garantir a tradução dos
depoimentos orais feitos na audiência e a produção de uma acta da
audiência, se julgar necessário que uma ou outra das suas medidas se
impõe, ao abrigo das circunstâncias de espécie ou se as partes assim
entenderem, e notificarem esse entendimento ao tribunal, no mínimo
quinze dias antes da audiência.
4. A audiência decorre à porta fechada, salvo convenção contrária das
partes. O tribunal de arbitragem pode pedir que as testemunhas se retirem

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LAV COMENTADA 205/266
durante o depoimento de outras testemunhas. É livre de fixar a maneira
como as testemunhas serão interrogadas.
5. A prova por testemunhas pode igualmente ser administrada sob forma de
declarações escritas e assinadas pelas testemunhas.
6. O tribunal de arbitragem julga a receptividade, a pertinência e a
importância das provas apresentadas.

Artigo 26 – Medidas provisórias ou conservatórias


1. A pedido de uma ou de outra parte, o tribunal de arbitragem pode tomar
todas medidas provisórias que achar necessárias no que concerne o
objecto do litígio, nomeadamente as medidas conservatórias para as
mercadorias litigiosas, prescrevendo, por exemplo o seu depósito nas
mãos de um terceiro ou a venda de bens perecíveis.
2. Estas medidas provisórias podem ser tomadas sob forma de sentença
provisória. O tribunal de arbitragem pode exigir uma caução a título dos
gastos originados por essas medidas.
3. Um pedido de medidas provisórias dirigido por uma ou outra parte a uma
autoridade judiciária não pode ser considerada como incompatível com a
convenção de arbitragem, nem como renúncia ao direito de fazer uso da
dita convenção.

Artigo 27 – Peritos
1. O tribunal de arbitragem pode nomear um ou mais peritos com a missão
de produzir um relatório escrito sobre os pontos específicos que irá
determinar. Uma cópia do mandato do perito, tal como foi fixado pelo
tribunal de arbitragem, será comunicado às partes.
2. As partes fornecem ao perito todas informações apropriadas ou
submetem à sua inspecção todas as peças ou todas as coisas pertinentes
que este lhes pedir. Todo diferendo entre uma das partes e o perito sobre
o fundamento do pedido será submetido ao tribunal de arbitragem que
decidirá.
3. Tão logo receba o relatório do perito, o tribunal de arbitragem comunica
uma cópia do relatório às partes, as quais terão a possibilidade de
formular por escrito a sua opinião sobre esse assunto. As partes têm o
direito de examinar todo documento invocado pelo perito no seu relatório.
4. A pedido de uma ou de outra parte, o perito, depois da entrega do seu
relatório, pode ser ouvido numa audiência em que as partes têm a
possibilidade de assistir e de interrogá-lo. Nesta audiência, uma das
partes pode trazer, na qualidade de testemunhas, peritos que irão depor
sobre as questões litigiosas. As disposições do artigo 25 são aplicáveis a
este procedimento.

Artigo 28 – Falta
1. Se, dentro do prazo fixado pelo tribunal de arbitragem, o requerente não
apresentou a sua petição e não pôde invocar um impedimento legítimo, o

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LAV COMENTADA 206/266
tribunal de arbitragem ordena o encerramento do procedimento de
arbitragem. Se, no prazo fixado pelo tribunal de arbitragem, o requerido
não apresentou a sua resposta, sem invocar um impedimento legítimo, o
tribunal de arbitragem ordena o prosseguimento do procedimento.
2. Se uma das partes, regularmente convocada conforme o presente
Regulamento, não comparecer à audiência, sem invocar um impedimento
legítimo, o tribunal prossegue com a arbitragem.
3. Se uma das partes, regularmente chamada a produzir documentos, não
os apresentar nos prazos fixados, sem invocar um impedimento legítimo,
o tribunal de arbitragem pode pronunciar-se com base nos elementos de
prova em sua posse.

Artigo 29 – Encerramento dos debates


1. O tribunal de arbitragem pode pedir às partes, se estas ainda tiverem
provas a apresentar, testemunhas a produzir ou declarações por fazer,
sem as quais pode declarar encerrados os debates.
2. O tribunal de arbitragem pode, se achar necessário por causa das
circunstâncias excepcionais, decidir de sua própria iniciativa ou a pedido
de uma das partes, reabrir os debates a todo momento antes da pronúncia
da sentença.

Artigo 30 – Renúncia ao direito de se prevalecer do presente Regulamento


Qualquer uma das partes que, mesmo sabendo que uma das disposições ou das
condições enunciadas no presente Regulamento não foi respeitada, prosseguir,
no entanto, com a arbitragem sem formular objecções, será considerada como
tendo renunciado ao seu direito de objecção.

SECÇÃO 4 – A sentença

Artigo 31 – Decisões
1. Quando os árbitros forem três, qualquer sentença ou qualquer outra
decisão do tribunal de arbitragem é tomada por maioria.
2. No que toca às questões de procedimento, por falta de maioria ou quando
o tribunal de arbitragem assim o autorizar, o árbitro-presidente pode
decidir unilateralmente, sob reserva de uma eventual revisão pelo tribunal
de arbitragem.

Artigo32 – Forma e efeito da sentença


1. O tribunal de arbitragem pode proferir não somente sentenças definitivas,
mas igualmente provisórias, interlocutórias ou parciais.
2. A sentença é dada por escrito. É susceptível de recurso perante uma
instância de arbitragem. As partes comprometem-se a executar sem
demora a sentença.
3. O tribunal de arbitragem motiva a sua sentença, a menos que as partes
tenham acordado em sentido contrário.

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LAV COMENTADA 207/266
4. A sentença é assinada pelos árbitros e faz menção da data e do lugar
onde foi proferida. Quando os árbitros forem três e que falte a assinatura
de um deles, o motivo desta ausência de assinatura deve ser mencionada
na sentença.
5. A sentença só pode ser publicada com o consentimento das duas partes.
6. Cópias da sentença, assinadas pelos árbitros são comunicadas pelo
tribunal às partes.
7. Se a lei de arbitragem do país em que a sentença for proferida, impõe ao
tribunal de arbitragem a obrigação de depositar ou registar a sentença, o
tribunal irá satisfazer esta obrigação nos prazos previstos na lei.

Artigo 33 – Lei aplicável, amigável composição


1. O tribunal de arbitragem aplica a lei designada pelas partes como sendo
a lei aplicável ao litígio. Na falta de tal indicação pelas partes, o tribunal
de arbitragem aplica a lei designada pela a regra do conflito de leis que
julgar aplicável em espécie.
2. O tribunal de arbitragem só se pronuncia na qualidade de amigável
compositor (ex aequo et bono) se o tribunal de arbitragem for
expressamente autorizada pelas partes, e se esse tipo de arbitragem for
permitido pela lei aplicável ao procedimento de arbitragem.
3. Em todos casos, o tribunal de arbitragem decide conforme as estipulações
do contrato e leva em conta os usos do comércio aplicável à transacção.

Artigo 34 – Transacção ou outros motivos de encerramento de


procedimento
1. Se, antes que a sentença seja proferida, as partes concordarem sobre
uma transacção que resolva o litígio, o tribunal de arbitragem profere uma
decisão que ordena o encerramento do procedimento de arbitragem ou,
se as duas partes lho pedirem e se aceitar, constatar o facto por uma
sentença de arbitragem proferida “d’accord parties”. Esta sentença não
tem de ser motivada.
2. Se, antes que a sentença seja proferida, a mesma tornar-se inútil ou
impossível por uma razão qualquer não mencionada no parágrafo 1 de se
prosseguir o procedimento de arbitragem, o tribunal de arbitragem informa
as partes sobre a sua intenção de proferir uma sentença para o
encerramento do procedimento. O tribunal de arbitragem está autorizado
a proferir esta sentença, a menos que uma das partes levante objecções
fundadas.
3. O tribunal de arbitragem endereça às partes uma cópia da sentença de
encerramento do procedimento de arbitragem, ou da sentença proferida
d’ “accord parties”, devidamente assinada pelos árbitros. As disposições
dos parágrafos 2 e 4 à 7 do artigo 32 são aplicáveis às sentenças de
arbitragem ditadas d’ “accord parties”.

Artigo 35 – Interpretação da sentença

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LAV COMENTADA 208/266
1. Dentro dos trinta dias da recepção da sentença, qualquer uma das partes
pode, por via de notificação à outra, pedir ao tribunal de arbitragem para
que interprete a mesma.
2. A interpretação é dada por escrito dentro dos quarenta e cinco dias da
recepção do pedido. A interpretação é parte integrante da sentença e as
disposições dos parágrafos 2 à 7 do artigo 32 lhe são aplicáveis.

Artigo 36 – Rectificação da sentença


1. Dentro dos trinta dias da recepção da sentença, qualquer uma das partes
pode, por via de notificação à outra, pedir ao tribunal de arbitragem a
rectificação no texto da sentença qualquer erro de cálculo, qualquer erro
material ou tipográfico ou qualquer erro da mesma natureza. O tribunal de
arbitragem pode, dentro dos trinta dias da comunicação da sentença às
partes, fazer essas rectificações por sua própria iniciativa.
2. Essas rectificações são feitas por escrito e as disposições dos parágrafos
2 a 7 do artigo 32 lhe são aplicáveis.

Artigo 37 – Sentença adicional


1. Dentro dos trinta dias da recepção da sentença, qualquer uma das partes
pode, por via de uma notificação à outra, pedir que o tribunal de
arbitragem profira uma sentença adicional sobre os tópicos de pedidos
expostos ao longo do procedimento de arbitragem mas omitidos na
sentença.
2. Se o tribunal de arbitragem julgar que o pedido é justificado e achar que
a omissão pode ser rectificada sem necessitar novas audiências ou novas
provas, ele completa a sua sentença dentro dos sessenta dias que se
seguirem a recepção do pedido.
3. As disposições dos parágrafos 2 a 7 do artigo 32 são aplicáveis à
sentença adicional.

Artigo 38 – Custos
O tribunal de arbitragem fixa os custos da arbitragem na sua sentença. Os
“custos” só compreendem:
a) Os honorários dos membros do tribunal de arbitragem, indicados
separadamente para cada árbitro e fixados pelo próprio tribunal, conforme
o artigo 39;
b) Os custos de deslocação e outras despesas efectuadas pelos árbitros;
c) Os custos incorridos por toda peritagem ou por outra ajuda pedida pelo
tribunal de arbitragem;
d) Os custos de deslocação e outras indemnizações de testemunhas, na
medida em que essas despesas foram aprovadas pelo tribunal de
arbitragem;
e) Os custos em matéria de representação ou de assistência jurídica
incorridos pela parte vencedora, quando estes gastos constituem um dos

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LAV COMENTADA 209/266
tópicos do pedido de arbitragem e na medida em que o tribunal de
arbitragem julgue o montante razoável;
f) Eventualmente, os honorários e gastos da autoridade de nomeação,
assim como os gastos do Secretário-Geral da Corte permanente de
arbitragem da Haia.

Artigo 39 – Custos
1. O montante dos honorários dos membros do tribunal de arbitragem deve
ser razoável tendo em conta o montante do litígio, a complexidade do
assunto, o tempo que os árbitros lhe terão consagrado e de todas outras
circunstâncias pertinentes.
2. Se uma autoridade de nomeação for escolhida pelas partes de comum
acordo ou designado pelo Secretário-Geral da Corte permanente de
arbitragem da Haia e se esta autoridade publicar uma tabela de
honorários dos árbitros nomeados nos litígios internacionais que ela
administra, o tribunal de arbitragem fixa o montante dos honorários tendo
em conta essa tabela, na medida em que julga as circunstâncias como
sendo apropriadas.
3. Se essa autoridade de nomeação não publicou tabelas de honorários dos
árbitros nomeados nos litígios internacionais, cada uma das partes pode,
a qualquer momento, pedir à autoridade de nomeação o estabelecimento
de uma nota indicando a base dos cálculos dos honorários que é
habitualmente aplicada nos litígios internacionais nos quais a autoridade
nomeia os árbitros. Se a autoridade de nomeação aceitar o
estabelecimento dessa nota, o tribunal fixa o montante dos honorários
tendo em conta as informações assim fornecidas, na medida em que as
julga como apropriadas a circunstância.
4. Nos casos visados nos números 2) e 3), quando ao pedido de uma parte,
a autoridade de nomeação aceita essa missão, o tribunal de arbitragem
só fixa o montante dos seus honorários depois de ter consultado a
autoridade de nomeação, que pode endereçar ao tribunal de arbitragem
todas observações que julgar apropriadas em relação aos honorários.

Artigo 40 – Custos
1. Sob reserva das disposições do parágrafo 2, os custos da arbitragem são,
em princípio, a cargo da parte que for condenada. Todavia, o tribunal de
arbitragem pode reparti-las entre as partes, na medida em que julga
apropriadas as circunstâncias.
2. No que concerne aos custos em matéria de representação ou de
assistência jurídica visados no parágrafo e) do artigo 38, o tribunal pode,
tendo em conta as circunstâncias de espécie, determinar a parte a quem
serão imputados esses custos ou, reparti-los entre as partes, na medida
que julgar apropriada.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 210/266
3. Quando o tribunal de arbitragem emite uma sentença que ordene o
encerramento do procedimento de arbitragem ou uma sentença d’ “accord
parties”, ele fixa os custos de arbitragem visados nos artigos 38 e
parágrafo 1 do artigo 39 no texto dessa ordenança ou sentença.
4. O tribunal de arbitragem não pode receber nenhum honorário
suplementar para interpretar ou rectificar a sua sentença ou emitir uma
sentença adicional, conforme os artigos 35 a 37

Artigo 41 – Depósito do montante dos custos


1. No momento em que for constituído, o tribunal de arbitragem pode pedir
a cada uma das partes de proceder ao depósito de um mesmo montante
à título de adiantamento, que valerá sobre os custos visados no artigo 38,
parágrafo a), b) e c).
2. Ao longo do procedimento de arbitragem, o tribunal pode pedir às partes
de proceder ao depósito de montantes suplementares.
3. Se a autoridade de nomeação foi escolhida pelas partes, de comum
acordo ou designado pelo Secretário-Geral da Corte permanente de
arbitragem da Haia e, quando a pedido de uma parte, a autoridade de
nomeação aceita esta missão, o tribunal de arbitragem só fixa o valor ou
montante suplementares a depositar, depois de ter consultado a
autoridade de nomeação, que pode endereçar ao tribunal de arbitragem
todas observações que julgar apropriadas em relação ao montante
desses depósitos.
4. Se as somas cujo depósito é requerido não forem integralmente
depositadas dentro dos trinta dias da recepção da petição, o tribunal de
arbitragem informa as partes, para que uma ou outra entre elas possa
efectuar o depósito requerido. Se este depósito não for efectuado o
tribunal pode ordenar a suspensão ou o encerramento do procedimento
de arbitragem.
5. Após a prolação da sentença, o tribunal de arbitragem faz o relatório às
partes sobre a utilização dos montantes recebidos em depósito;
restituindo-lhes todo saldo não utilizado.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 211/266
UNCITRAL Arbitration Rules
(as revised in 2010)

Section I. Introductory rules


Scope of application*

Article 1

1. Where parties have agreed that disputes between them in respect


of a defined legal relationship, whether contractual or not, shall be referred to
arbitration under the UNCITRAL Arbitration Rules, then such disputes shall be
settled in accordance with these Rules subject to such modification as the parties
may agree.
2. The parties to an arbitration agreement concluded after 15 August 2010 shall
be presumed to have referred to the Rules in effect on the date of commencement
of the arbitration, unless the parties have agreed to apply a particular version of
the Rules. That presumption does not apply where the arbitration agreement has
been concluded by accepting after 15 August 2010 an offer made before that
date.
3. These Rules shall govern the arbitration except that where any of these Rules
is in conflict with a provision of the law applicable to the arbitration from which the
parties cannot derogate, that provision shall prevail.

Notice and calculation of periods of time

Article 2

1. A notice, including a notification, communication or proposal, may be


transmitted by any means of communication that provides or allows for a record
of its transmission.
2. If an address has been designated by a party specifically for this purpose or
authorized by the arbitral tribunal, any notice shall be delivered to that party at
that address, and if so delivered shall be deemed to have been received. Delivery
by electronic means such as facsimile or e-mail may only be made to an address
so designated or authorized.
3. In the absence of such designation or authorization, a notice is: (a) Received
if it is physically delivered to the addressee; or
(b) Deemed to have been received if it is delivered at the place of business,
habitual residence or mailing address of the addressee.
4. If, after reasonable efforts, delivery cannot be effected in accordance with
paragraphs 2 or 3, a notice is deemed to have been received if it is sent to the
addressee’s last-known place of business, habitual residence or mailing address
by registered letter
or any other means that provides a record of delivery or of attempted delivery.
5. A notice shall be deemed to have been received on the day it is delivered in
accordance with paragraphs 2, 3 or 4, or attempted to be delivered in accordance
with paragraph 4. A notice transmitted by electronic means is deemed to have
been received on the day it is sent, except that a notice of arbitration so
transmitted is only deemed to have been received on the day when it reaches the
addressee’s electronic address.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 212/266
6. For the purpose of calculating a period of time under these Rules, such period
shall begin to run on the day following the day when a notice is received. If the
last day of such period is an official holiday or a non-business day at the residence
or place of business of the addressee, the period is extended until the first
business day which follows. Official holidays or nonbusiness days occurring
during the running of the period of time are included in calculating the period.

Notice of arbitration

Article 3

1. The party or parties initiating recourse to arbitration (hereinafter called the


“claimant”) shall communicate to the other party or parties (hereinafter called the
“respondent”) a notice of arbitration.
2. Arbitral proceedings shall be deemed to commence on the date on which the
notice of arbitration is received by the respondent.
3. The notice of arbitration shall include the following:
(a) A demand that the dispute be referred to arbitration;
(b) The names and contact details of the parties;
(c) Identification of the arbitration agreement that is invoked;
(d) Identification of any contract or other legal instrument out of or in relation to
which the dispute arises or, in the absence of such contract or instrument, a brief
description of the relevant relationship;
(e) A brief description of the claim and an indication of the amount involved, if
any;
(f) The relief or remedy sought;
(g) A proposal as to the number of arbitrators, language and place of arbitration,
if the parties have not previously agreed thereon.
4. The notice of arbitration may also include:
(a) A proposal for the designation of an appointing authority referred to in article
6, paragraph 1;
(b) A proposal for the appointment of a sole arbitrator referred to in article 8,
paragraph 1;
(c) Notification of the appointment of an arbitrator referred to in article 9 or 10.
5. The constitution of the arbitral tribunal shall not be hindered by any controversy
with respect to the sufficiency of the notice of arbitration, which shall be finally
resolved by the arbitral tribunal.

Response to the notice of arbitration

Article 4

1. Within 30 days of the receipt of the notice of arbitration, the respondent shall
communicate to the claimant a response to the notice of arbitration, which shall
include:
(a) The name and contact details of each respondent;
(b) A response to the information set forth in the notice of arbitration, pursuant to
article 3, paragraphs 3 (c) to (g).
2. The response to the notice of arbitration may also include:

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 213/266
(a) Any plea that an arbitral tribunal to be constituted Under these Rules lacks
jurisdiction;
(b) A proposal for the designation of an appointing authority referred to in article
6, paragraph 1;
(c) A proposal for the appointment of a sole arbitrator referred to in article 8,
paragraph 1;
(d) Notification of the appointment of an arbitrator referred to in article 9 or 10;
(e) A brief description of counterclaims or claims for the purpose of a set-off, if
any, including where relevant, an indication of the amounts involved, and the
relief or remedy sought;
(f) A notice of arbitration in accordance with article 3 in case the respondent
formulates a claim against a party to the arbitration agreement other than the
claimant.
3. The constitution of the arbitral tribunal shall not be hindered by any controversy
with respect to the respondent’s failure to communicate a response to the notice
of arbitration, or an incomplete or late response to the notice of arbitration, which
shall be finally resolved by the arbitral tribunal.

Representation and assistance

Article 5

Each party may be represented or assisted by persons chosen by it.


The names and addresses of such persons must be communicated to all parties
and to the arbitral tribunal. Such communication must specify whether the
appointment is being made for purposes of representation or assistance. Where
a person is to act as a representative of a party, the arbitral tribunal, on its own
initiative or at the request of any party, may at any time require proof of authority
granted to the representative in such a form as the arbitral tribunal may
determine.

Designating and appointing authorities

Article 6

1. Unless the parties have already agreed on the choice of an appointing


authority, a party may at any time propose the name or names of one or more
institutions or persons, including the Secretary-General of the Permanent Court
of Arbitration at The Hague (hereinafter called the “PCA”), one of whom would
serve as appointing authority.
2. If all parties have not agreed on the choice of an appointing authority within 30
days after a proposal made in accordance with paragraph 1 has been received
by all other parties, any party may request the Secretary-General of the PCA to
designate the appointing authority.
3. Where these Rules provide for a period of time within which a party must refer
a matter to an appointing authority and no appointing authority has been agreed
on or designated, the period is suspended from the date on which a party initiates
the procedure for agreeing on or designating an appointing authority until the
date of such agreement or designation.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 214/266
4. Except as referred to in article 41, paragraph 4, if the appointing authority
refuses to act, or if it fails to appoint an arbitrator within 30 days after it receives
a party’s request to do so, fails to act within any other period provided by these
Rules, or fails to decide on a challenge to an arbitrator within a reasonable time
after receiving a party’s request to do so, any party may request the Secretary-
General of the PCA to designate a substitute appointing authority.
5. In exercising their functions under these Rules, the appointing authority and
the Secretary-General of the PCA may require from any party and the arbitrators
the information they deem necessary and they shall give the parties and, where
appropriate, the arbitrators, an opportunity to present their views in any manner
they consider appropriate. All such communications to and from the appointing
authority and the Secretary-General of the PCA shall also be provided by the
sender to all other parties.
6. When the appointing authority is requested to appoint an arbitrator pursuant to
articles 8, 9, 10 or 14, the party making the request shall send to the appointing
authority copies of the notice of
arbitration and, if it exists, any response to the notice of arbitration.
7. The appointing authority shall have regard to such considerations
as are likely to secure the appointment of an independent and impartial arbitrator
and shall take into account the advisability of appointing an arbitrator of a
nationality other than the nationalities of the parties.

Section II. Composition of the arbitral tribunal

Number of arbitrators

Article 7

1. If the parties have not previously agreed on the number of arbitrators, and if
within 30 days after the receipt by the respondent of the notice of arbitration the
parties have not agreed that there shall be only one arbitrator, three arbitrators
shall be appointed.
2. Notwithstanding paragraph 1, if no other parties have responded
to a party’s proposal to appoint a sole arbitrator within the time limit provided for
in paragraph 1 and the party or parties concerned have failed to appoint a second
arbitrator in accordance with article 9 or 10, the appointing authority may, at the
request of a party, appoint a sole arbitrator pursuant to the procedure provided
for in article 8, paragraph 2, if it determines that, in view of the circumstances of
the case, this is more appropriate.

Appointment of arbitrators (articles 8 to 10)

Article 8

1. If the parties have agreed that a sole arbitrator is to be Appointed and if within
30 days after receipt by all other parties of a proposal for the appointment of a
sole arbitrator the parties have not reached agreement thereon, a sole arbitrator
shall, at the request of a party, be appointed by the appointing authority.
2. The appointing authority shall appoint the sole arbitrator as promptly as
possible. In making the appointment, the appointing authority shall use the

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 215/266
following list-procedure, unless the parties agree that the list-procedure should
not be used or unless the appointing authority determines in its discretion
that the use of the list-procedure is not appropriate for the case:
(a) The appointing authority shall communicate to each of the parties an identical
list containing at least three names;
(b) Within 15 days after the receipt of this list, each party may return the list to the
appointing authority after having deleted the name or names to which it objects
and numbered the remaining names on the list in the order of its preference;
(c) After the expiration of the above period of time the appointing authority shall
appoint the sole arbitrator from among the names approved on the lists returned
to it and in accordance with the order of preference indicated by the parties;
(d) If for any reason the appointment cannot be made according to this procedure,
the appointing authority may exercise its discretion in appointing the sole
arbitrator.

Article 9

1. If three arbitrators are to be appointed, each party shall appoint one arbitrator.
The two arbitrators thus appointed shall choose the third arbitrator who will act
as the presiding arbitrator of the arbitral tribunal.
2. If within 30 days after the receipt of a party’s notification of the appointment of
an arbitrator the other party has not notified the first party of the arbitrator it has
appointed, the first party may request the appointing authority to appoint the
second arbitrator.
3. If within 30 days after the appointment of the second arbitrator the two
arbitrators have not agreed on the choice of the presiding arbitrator, the presiding
arbitrator shall be appointed by the appointing authority in the same way as a
sole arbitrator would be appointed under article 8.

Article 10

1. For the purposes of article 9, paragraph 1, where three arbitrators


are to be appointed and there are multiple parties as claimant or as respondent,
unless the parties have agreed to another method of appointment of arbitrators,
the multiple parties jointly, whether as claimant or as respondent, shall appoint
an arbitrator.
2. If the parties have agreed that the arbitral tribunal is to be composed of a
number of arbitrators other than one or three, the arbitrators shall be appointed
according to the method agreed upon by the parties.
3. In the event of any failure to constitute the arbitral tribunal under these Rules,
the appointing authority shall, at the request of any party, constitute the arbitral
tribunal and, in doing so, may revoke any appointment already made and appoint
or Reappoint each of the arbitrators and designate one of them as the presiding
arbitrator.

Disclosures by and challenge of arbitrators**

(articles 11 to 13)

Article 11

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 216/266
When a person is approached in connection with his or her possible
appointment as an arbitrator, he or she shall disclose any circumstances likely to
give rise to justifiable doubts as to his or her impartiality or independence. An
arbitrator, from the time of his or her appointment and throughout the arbitral
proceedings, shall without delay disclose any such circumstances to the parties
and the other arbitrators unless they have already been informed by him or her
of these circumstances.

Article 12

1. Any arbitrator may be challenged if circumstances exist that give rise to


justifiable doubts as to the arbitrator’s impartiality or independence.
2. A party may challenge the arbitrator appointed by it only for reasons of which
it becomes aware after the appointment has been made.
3. In the event that an arbitrator fails to act or in the event of the de jure or de
facto impossibility of his or her performing his or her functions, the procedure in
respect of the challenge of an arbitrator as provided in article 13 shall apply.

Article 13

1. A party that intends to challenge an arbitrator shall send notice of its challenge
within 15 days after it has been notified of the appointment of the challenged
arbitrator, or within 15 days after the circumstances mentioned in articles 11 and
12 became known to that party.
2. The notice of challenge shall be communicated to all other parties, to the
arbitrator who is challenged and to the other arbitrators. The notice of challenge
shall state the reasons for the challenge.
3. When an arbitrator has been challenged by a party, all parties may agree to
the challenge. The arbitrator may also, after the challenge, withdraw from his or
her office. In neither case does this imply acceptance of the validity of the grounds
for the challenge.
4. If, within 15 days from the date of the notice of challenge, all parties do not
agree to the challenge or the challenged arbitrator does not withdraw, the party
making the challenge may elect to pursue it. In that case, within 30 days from the
date of the notice of challenge, it shall seek a decision on the challenge by the
appointing
authority.

Replacement of an arbitrator

Article 14

1. Subject to paragraph 2, in any event where an arbitrator has to be replaced


during the course of the arbitral proceedings, a substitute arbitrator shall be
appointed or chosen pursuant to the procedure provided for in articles 8 to 11
that was applicable to the appointment or choice of the arbitrator being replaced.
This procedure shall apply even if during the process of appointing the arbitrator
to be replaced, a party had failed to exercise its right to appoint or to participate
in the appointment.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 217/266
2. If, at the request of a party, the appointing authority determines that, in view of
the exceptional circumstances of the case, it would be justified for a party to be
deprived of its right to appoint a substitute arbitrator, the appointing authority may,
after giving an opportunity to the parties and the remaining arbitrators to express
their views: (a) appoint the substitute arbitrator; or (b) after the closure of the
hearings, authorize the other arbitrators to proceed with the arbitration and make
any decision or award.

Repetition of hearings in the event of the replacement of


an arbitrator

Article 15

If an arbitrator is replaced, the proceedings shall resume at the stage where the
arbitrator who was replaced ceased to perform his or her functions, unless the
arbitral tribunal decides otherwise.

Exclusion of liability

Article 16

Save for intentional wrongdoing, the parties waive, to the fullest extent permitted
under the applicable law, any claim against the arbitrators, the appointing
authority and any person appointed by the arbitral tribunal based on any act or
omission in connection with the arbitration.

Section III. Arbitral proceedings

General provisions

Article 17

1. Subject to these Rules, the arbitral tribunal may conduct the arbitration in such
manner as it considers appropriate, provided that the parties are treated with
equality and that at an appropriate stage
of the proceedings each party is given a reasonable opportunity of presenting its
case. The arbitral tribunal, in exercising its discretion, shall conduct the
proceedings so as to avoid unnecessary delay and
expense and to provide a fair and efficient process for resolving the parties’
dispute.
2. As soon as practicable after its constitution and after inviting the parties to
express their views, the arbitral tribunal shall establish the provisional timetable
of the arbitration. The arbitral tribunal may, at any time, after inviting the parties
to express their views, extend or abridge any period of time prescribed under
these Rules or agreed by the parties.
3. If at an appropriate stage of the proceedings any party so requests, the arbitral
tribunal shall hold hearings for the presentation
of evidence by witnesses, including expert witnesses, or for oral argument. In the
absence of such a request, the arbitral tribunal shall decide whether to hold such

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 218/266
hearings or whether the proceedings shall be conducted on the basis of
documents and other materials.
4. All communications to the arbitral tribunal by one party shall be communicated
by that party to all other parties. Such communications shall be made at the same
time, except as otherwise permitted by the arbitral tribunal if it may do so under
applicable law.
5. The arbitral tribunal may, at the request of any party, allow one or more third
persons to be joined in the arbitration as a party provided
such person is a party to the arbitration agreement, unless the arbitral tribunal
finds, after giving all parties, including the person or persons to be joined, the
opportunity to be heard, that joinder should not be permitted because of prejudice
to any of those parties. The arbitral tribunal may make a single award or several
awards in respect of all parties so involved in the arbitration.

Place of arbitration

Article 18

1. If the parties have not previously agreed on the place of arbitration, the place
of arbitration shall be determined by the arbitral
tribunal having regard to the circumstances of the case. The award shall be
deemed to have been made at the place of arbitration.
2. The arbitral tribunal may meet at any location it considers Appropriate for
deliberations. Unless otherwise agreed by the parties, the arbitral tribunal may
also meet at any location it considers appropriate for any other purpose, including
hearings.

Language

Article 19

1. Subject to an agreement by the parties, the arbitral tribunal shall, promptly after
its appointment, determine the language or languages to be used in the
proceedings. This determination shall apply to the statement of claim, the
statement of defence, and any further written statements and, if oral hearings
take place, to the language or languages to be used in such hearings.
2. The arbitral tribunal may order that any documents annexed to the statement
of claim or statement of defence, and any supplementary documents or exhibits
submitted in the course of the proceedings, delivered in their original language,
shall be accompanied by a translation into the language or languages agreed
upon by the parties or determined by the arbitral tribunal.

Statement of claim

Article 20

1. The claimant shall communicate its statement of claim in writing to the


respondent and to each of the arbitrators within a period of time to be determined
by the arbitral tribunal. The claimant may elect to treat its notice of arbitration

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 219/266
referred to in article 3 as a statement of claim, provided that the notice of
arbitration also complies with the requirements of paragraphs 2 to 4 of this article.
2. The statement of claim shall include the following particulars:
(a) The names and contact details of the parties;
(b) A statement of the facts supporting the claim;
(c) The points at issue;
(d) The relief or remedy sought;
(e) The legal grounds or arguments supporting the claim.
3. A copy of any contract or other legal instrument out of or in relation to which
the dispute arises and of the arbitration agreement shall be annexed to the
statement of claim.
4. The statement of claim should, as far as possible, be accompanied by all
documents and other evidence relied upon by the claimant, or contain references
to them.

Statement of defence

Article 21

1. The respondent shall communicate its statement of defence in writing to the


claimant and to each of the arbitrators within a period of time to be determined
by the arbitral tribunal. The respondent may elect to treat its response to the
notice of arbitration referred to in article 4 as a statement of defence, provided
that the response to the notice of arbitration also complies with the requirements
of paragraph 2 of this article.
2. The statement of defence shall reply to the particulars (b) to (e) of the statement
of claim (art. 20, para. 2). The statement of defence should, as far as possible,
be accompanied by all documents and other evidence relied upon by the
respondent, or contain references to them.
3. In its statement of defence, or at a later stage in the arbitral proceedings if the
arbitral tribunal decides that the delay was justified under the circumstances, the
respondent may make a counterclaim or rely on a claim for the purpose of a set-
off provided that the arbitral tribunal has jurisdiction over it.
4. The provisions of article 20, paragraphs 2 to 4, shall apply to a counterclaim,
a claim under article 4, paragraph 2 (f), and a claim relied on for the purpose of a
set-off.

Amendments to the claim or defence

Article 22

During the course of the arbitral proceedings, a party may amend or supplement
its claim or defence, including a counterclaim or a claim for the purpose of a set-
off, unless the arbitral tribunal considers it inappropriate to allow such amendment
or supplement having regard to the delay in making it or prejudice to other parties
or any other circumstances. However, a claim or defence, including a
counterclaim or a claim for the purpose of a set-off, may not be amended or
supplemented in such a manner that the amended or supplemented claim or
defence falls outside the jurisdiction of the arbitral tribunal.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 220/266
Pleas as to the jurisdiction of the arbitral tribunal

Article 23

1. The arbitral tribunal shall have the power to rule on its own jurisdiction,
including any objections with respect to the existence or validity of the arbitration
agreement. For that purpose, an arbitration clause that forms part of a contract
shall be treated as an agreement independent of the other terms of the contract.
A decision by the arbitral tribunal that the contract is null shall not entail
automatically the invalidity of the arbitration clause.
2. A plea that the arbitral tribunal does not have jurisdiction shall be raised no
later than in the statement of defence or, with respect to a counterclaim or a claim
for the purpose of a set-off, in the reply to the counterclaim or to the claim for the
purpose of a set-off. A party is not precluded from raising such a plea by the fact
that it has appointed, or participated in the appointment of, an arbitrator. A plea
that the arbitral tribunal is exceeding the scope of its authority shall be raised as
soon as the matter alleged to be beyond the scope of its authority is raised during
the arbitral proceedings. The arbitral tribunal may, in either case, admit a later
plea if it considers the delay justified.
3. The arbitral tribunal may rule on a plea referred to in paragraph 2 either as a
preliminary question or in an award on the merits. The arbitral tribunal may
continue the arbitral proceedings and make an award, notwithstanding any
pending challenge to its jurisdiction before a court.

Further written statements

Article 24

The arbitral tribunal shall decide which further written statements, in addition to
the statement of claim and the statement of defence, shall be required from the
parties or may be presented by them and shall fix the periods of time for
communicating such statements.

Periods of time

Article 25

The periods of time fixed by the arbitral tribunal for the communication of written
statements (including the statement of claim and statement of defence) should
not exceed 45 days. However, the arbitral tribunal may extend the time limits if it
concludes that an extension is justified.

Interim measures

Article 26

1. The arbitral tribunal may, at the request of a party, grant interim measures.
2. An interim measure is any temporary measure by which, at any time prior to
the issuance of the award by which the dispute is finally decided, the arbitral
tribunal orders a party, for example and without limitation, to:

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 221/266
(a) Maintain or restore the status quo pending determination of the dispute;
(b) Take action that would prevent, or refrain from taking action that is likely to
cause, (i) current or imminent harm or (ii) prejudice to the arbitral process itself;
(c) Provide a means of preserving assets out of which a subsequent award may
be satisfied; or
(d) Preserve evidence that may be relevant and material to the resolution of the
dispute.
3. The party requesting an interim measure under paragraphs 2 (a) to (c) shall
satisfy the arbitral tribunal that:
(a) Harm not adequately reparable by an award of damages is likely to result if
the measure is not ordered, and such harm substantially outweighs the harm that
is likely to result to the party against whom the measure is directed if the measure
is granted; and
(b) There is a reasonable possibility that the requesting party will succeed on the
merits of the claim. The determination on this possibility shall not affect the
discretion of the arbitral tribunal in making any subsequent determination.
4. With regard to a request for an interim measure under paragraph 2 (d), the
requirements in paragraphs 3 (a) and (b) shall apply only to the extent the arbitral
tribunal considers appropriate.
5. The arbitral tribunal may modify, suspend or terminate an interim measure it
has granted, upon application of any party or, in exceptional circumstances and
upon prior notice to the parties, on the arbitral tribunal’s own initiative.
6. The arbitral tribunal may require the party requesting an interim measure to
provide appropriate security in connection with the measure.
7. The arbitral tribunal may require any party promptly to disclose any material
change in the circumstances on the basis of which the interim measure was
requested or granted.
8. The party requesting an interim measure may be liable for any costs and
damages caused by the measure to any party if the arbitral tribunal later
determines that, in the circumstances then prevailing, the measure should not
have been granted. The arbitral tribunal may award such costs and damages at
any point during the proceedings.
9. A request for interim measures addressed by any party to a judicial authority
shall not be deemed incompatible with the agreement to arbitrate, or as a waiver
of that agreement.

Evidence

Article 27

1. Each party shall have the burden of proving the facts relied on to support its
claim or defence.
2. Witnesses, including expert witnesses, who are presented by the parties to
testify to the arbitral tribunal on any issue of fact or expertise may be any
individual, notwithstanding that the individual is a party to the arbitration or in any
way related to a party. Unless otherwise directed by the arbitral tribunal,
statements by witnesses, including expert witnesses, may be presented in writing
and signed by them.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 222/266
3. At any time during the arbitral proceedings the arbitral tribunal may require the
parties to produce documents, exhibits or other evidence within such a period of
time as the arbitral tribunal shall determine.
4. The arbitral tribunal shall determine the admissibility, relevance, materiality and
weight of the evidence offered.

Hearings

Article 28

1. In the event of an oral hearing, the arbitral tribunal shall give the parties
adequate advance notice of the date, time and place thereof.
2. Witnesses, including expert witnesses, may be heard under the conditions and
examined in the manner set by the arbitral tribunal.
3. Hearings shall be held in camera unless the parties agree otherwise.
The arbitral tribunal may require the retirement of any witness or witnesses,
including expert witnesses, during the testimony of such other witnesses, except
that a witness, including an expert witness, who is a party to the arbitration shall
not, in principle, be asked to retire.
4. The arbitral tribunal may direct that witnesses, including expert witnesses, be
examined through means of telecommunication that do not require their physical
presence at the hearing (such as videoconference).

Experts appointed by the arbitral tribunal

Article 29

1. After consultation with the parties, the arbitral tribunal may appoint one or more
independent experts to report to it, in writing, on specific issues to be determined
by the arbitral tribunal. A copy of the expert’s terms of reference, established by
the arbitral tribunal, shall be communicated to the parties.
2. The expert shall, in principle before accepting appointment, submit to the
arbitral tribunal and to the parties a description of his or her qualifications and a
statement of his or her impartiality and independence. Within the time ordered by
the arbitral tribunal, the parties shall inform the arbitral tribunal whether they have
any objections as to the expert’s qualifications, impartiality or independence.
The arbitral tribunal shall decide promptly whether to accept any such objections.
After an expert’s appointment, a party may object to the expert’s qualifications,
impartiality or independence only if the objection is for reasons of which the party
becomes aware after the appointment has been made. The arbitral tribunal shall
decide promptly what, if any, action to take.
3. The parties shall give the expert any relevant information or produce for his or
her inspection any relevant documents or goods that he or she may require of
them. Any dispute between a party and such expert as to the relevance of the
required information or production shall be referred to the arbitral tribunal for
decision.
4. Upon receipt of the expert’s report, the arbitral tribunal shall communicate a
copy of the report to the parties, which shall be given the opportunity to express,
in writing, their opinion on the report. A party shall be entitled to examine any
document on which the expert has relied in his or her report.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 223/266
5. At the request of any party, the expert, after delivery of the report, may be
heard at a hearing where the parties shall have the opportunity to be present and
to interrogate the expert. At this hearing, any party may present expert witnesses
in order to testify on the points at issue. The provisions of article 28 shall be
applicable to such proceedings.

Default

Article 30

1. If, within the period of time fixed by these Rules or the arbitral tribunal, without
showing sufficient cause:
(a) The claimant has failed to communicate its statement of claim, the arbitral
tribunal shall issue an order for the termination of the arbitral proceedings, unless
there are remaining matters that may need to be decided and the arbitral tribunal
considers it appropriate to do so;
(b) The respondent has failed to communicate its response to the notice of
arbitration or its statement of defence, the arbitral tribunal shall order that the
proceedings continue, without treating such failure in itself as an admission of the
claimant’s allegations; the provisions of this subparagraph also apply to a
claimant’s failure to submit a defence to a counterclaim or to a claim for the
purpose of a set-off.
2. If a party, duly notified under these Rules, fails to appear at a hearing, without
showing sufficient cause for such failure, the arbitral tribunal may proceed with
the arbitration.
3. If a party, duly invited by the arbitral tribunal to produce documents, exhibits or
other evidence, fails to do so within the established period of time, without
showing sufficient cause for such failure, the arbitral tribunal may make the award
on the evidence before it.

Closure of hearings

Article 31

1. The arbitral tribunal may inquire of the parties if they have any further proof to
offer or witnesses to be heard or submissions to make and, if there are none, it
may declare the hearings closed.
2. The arbitral tribunal may, if it considers it necessary owing to exceptional
circumstances, decide, on its own initiative or upon application of a party, to
reopen the hearings at any time before the award is made.

Waiver of right to object

Article 32

A failure by any party to object promptly to any non-compliance with these Rules
or with any requirement of the arbitration agreement shall be deemed to be a
waiver of the right of such party to make such an objection, unless such party can
show that, under the circumstances, its failure to object was justified.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 224/266
Section IV. The award

Decisions

Article 33

1. When there is more than one arbitrator, any award or other decision of the
arbitral tribunal shall be made by a majority of the arbitrators.
2. In the case of questions of procedure, when there is no majority or when the
arbitral tribunal so authorizes, the presiding arbitrator may decide alone, subject
to revision, if any, by the arbitral tribunal.

Form and effect of the award

Article 34

1. The arbitral tribunal may make separate awards on different issues at different
times.
2. All awards shall be made in writing and shall be final and binding on the parties.
The parties shall carry out all awards without delay.
3. The arbitral tribunal shall state the reasons upon which the award is based,
unless the parties have agreed that no reasons are to be given.
4. An award shall be signed by the arbitrators and it shall contain the date on
which the award was made and indicate the place of arbitration. Where there is
more than one arbitrator and any of them fails to sign, the award shall state the
reason for the absence of the signature.
5. An award may be made public with the consent of all parties or where and to
the extent disclosure is required of a party by legal duty, to protect or pursue a
legal right or in relation to legal proceedings before a court or other competent
authority.
6. Copies of the award signed by the arbitrators shall be communicated to the
parties by the arbitral tribunal.

Applicable law, amiable compositeur

Article 35

1. The arbitral tribunal shall apply the rules of law designated by the parties as
applicable to the substance of the dispute. Failing such designation by the parties,
the arbitral tribunal shall apply the law which it determines to be appropriate.
2. The arbitral tribunal shall decide as amiable compositeur or ex aequo et bono
only if the parties have expressly authorized the arbitral tribunal to do so.
3. In all cases, the arbitral tribunal shall decide in accordance with the terms of
the contract, if any, and shall take into account any usage of trade applicable to
the transaction.

Settlement or other grounds for termination

Article 36

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 225/266
1. If, before the award is made, the parties agree on a settlement of the dispute,
the arbitral tribunal shall either issue an order for the termination of the arbitral
proceedings or, if requested by the parties and accepted by the arbitral tribunal,
record the settlement in the form of an arbitral award on agreed terms. The
arbitral tribunal is not obliged to give reasons for such an award.
2. If, before the award is made, the continuation of the arbitral proceedings
becomes unnecessary or impossible for any reason not mentioned in paragraph
1, the arbitral tribunal shall inform the parties of its intention to issue an order for
the termination of the proceedings. The arbitral tribunal shall have the power to
issue such an order unless there are remaining matters that may need to be
decided and the arbitral tribunal considers it appropriate to do so.
3. Copies of the order for termination of the arbitral proceedings or of the arbitral
award on agreed terms, signed by the arbitrators, shall be communicated by the
arbitral tribunal to the parties. Where an arbitral award on agreed terms is made,
the provisions of article 34, paragraphs 2, 4 and 5, shall apply.

Interpretation of the award

Article 37

1. Within 30 days after the receipt of the award, a party, with notice to the other
parties, may request that the arbitral tribunal give an interpretation of the award.
2. The interpretation shall be given in writing within 45 days after the receipt of
the request. The interpretation shall form part of the award and the provisions of
article 34, paragraphs 2 to 6, shall apply.

Correction of the award

Article 38

1. Within 30 days after the receipt of the award, a party, with notice to the other
parties, may request the arbitral tribunal to correct in the award any error in
computation, any clerical or typographical error, or any error or omission of a
similar nature. If the arbitral tribunal considers that the request is justified, it shall
make the correction within 45 days of receipt of the request.
2. The arbitral tribunal may within 30 days after the communication of the award
make such corrections on its own initiative.
3. Such corrections shall be in writing and shall form part of the award. The
provisions of article 34, paragraphs 2 to 6, shall apply.

Additional award

Article 39

1. Within 30 days after the receipt of the termination order or the award, a party,
with notice to the other parties, may request the arbitral tribunal to make an award
or an additional award as to claims presented in the arbitral proceedings but not
decided by the arbitral tribunal.
2. If the arbitral tribunal considers the request for an award or additional award to
be justified, it shall render or complete its award within 60 days after the receipt

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 226/266
of the request. The arbitral tribunal may extend, if necessary, the period of time
within which it shall make the award.
3. When such an award or additional award is made, the provisions of article 34,
paragraphs 2 to 6, shall apply.

Definition of costs

Article 40

1. The arbitral tribunal shall fix the costs of arbitration in the final award and, if it
deems appropriate, in another decision.
2. The term “costs” includes only:
(a) The fees of the arbitral tribunal to be stated separately as to each arbitrator
and to be fixed by the tribunal itself in accordance with article 41;
(b) The reasonable travel and other expenses incurred by the arbitrators;
(c) The reasonable costs of expert advice and of other assistance required by the
arbitral tribunal;
(d) The reasonable travel and other expenses of witnesses to the extent such
expenses are approved by the arbitral tribunal;
(e) The legal and other costs incurred by the parties in relation to the arbitration
to the extent that the arbitral tribunal determines that the amount of such costs is
reasonable;
(f) Any fees and expenses of the appointing authority as well as the fees and
expenses of the Secretary-General of the PCA.
3. In relation to interpretation, correction or completion of any award under articles
37 to 39, the arbitral tribunal may charge the costs referred to in paragraphs 2 (b)
to (f), but no additional fees.

Fees and expenses of arbitrators

Article 41

1. The fees and expenses of the arbitrators shall be reasonable in amount, taking
into account the amount in dispute, the complexity of the subject matter, the time
spent by the arbitrators and any other relevant circumstances of the case.
2. If there is an appointing authority and it applies or has stated that it will apply
a schedule or particular method for determining the fees for arbitrators in
international cases, the arbitral tribunal in fixing its fees shall take that schedule
or method into account to the extent that it considers appropriate in the
circumstances of the case.
3. Promptly after its constitution, the arbitral tribunal shall inform the parties as to
how it proposes to determine its fees and expenses, including any rates it intends
to apply. Within 15 days of receiving that proposal, any party may refer the
proposal to the appointing authority for review. If, within 45 days of receipt of such
a referral, the appointing authority finds that the proposal of the arbitral tribunal is
inconsistent with paragraph 1, it shall make any necessary adjustments thereto,
which shall be binding upon the arbitral tribunal.
4. (a) When informing the parties of the arbitrators’ fees and expenses that have
been fixed pursuant to article 40, paragraphs 2 (a) and (b), the arbitral tribunal

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 227/266
shall also explain the manner in which the corresponding amounts have been
calculated;
(b) Within 15 days of receiving the arbitral tribunal’s determination
of fees and expenses, any party may refer for review such determination to the
appointing authority. If no appointing authority has been agreed upon or
designated, or if the appointing authority fails to act within the time specified in
these Rules, then the review
shall be made by the Secretary-General of the PCA;
(c) If the appointing authority or the Secretary-General of the PCA finds that the
arbitral tribunal’s determination is inconsistent with the arbitral tribunal’s proposal
(and any adjustment thereto) under paragraph 3 or is otherwise manifestly
excessive, it shall, within 45 days of receiving such a referral, make any
adjustments to the arbitral tribunal’s determination that are necessary to satisfy
the criteria in paragraph 1. Any such adjustments shall be binding upon the
arbitral tribunal;
(d) Any such adjustments shall either be included by the arbitral tribunal in its
award or, if the award has already been issued, be implemented in a correction
to the award, to which the procedure of article 38, paragraph 3, shall apply.
5. Throughout the procedure under paragraphs 3 and 4, the arbitral tribunal shall
proceed with the arbitration, in accordance with article 17, paragraph 1.
6. A referral under paragraph 4 shall not affect any determination in the award
other than the arbitral tribunal’s fees and expenses; nor shall it delay the
recognition and enforcement of all parts of the award other than those relating to
the determination of the arbitral tribunal’s fees and expenses.

Allocation of costs

Article 42

1. The costs of the arbitration shall in principle be borne by the unsuccessful party
or parties. However, the arbitral tribunal may apportion each of such costs
between the parties if it determines that apportionment is reasonable, taking into
account the circumstances of the case.
2. The arbitral tribunal shall in the final award or, if it deems appropriate, in any
other award, determine any amount that a party may have to pay to another party
as a result of the decision on allocation of costs.

Deposit of costs

Article 43

1. The arbitral tribunal, on its establishment, may request the parties to deposit
an equal amount as an advance for the costs referred to in article 40, paragraphs
2 (a) to (c).
2. During the course of the arbitral proceedings the arbitral tribunal may request
supplementary deposits from the parties.
3. If an appointing authority has been agreed upon or designated, and when a
party so requests and the appointing authority consents to perform the function,
the arbitral tribunal shall fix the amounts of any deposits or supplementary
deposits only after consultation with the appointing authority, which may make

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 228/266
any comments to the arbitral tribunal that it deems appropriate concerning the
amount of such deposits and supplementary deposits.
4. If the required deposits are not paid in full within 30 days after the receipt of
the request, the arbitral tribunal shall so inform the parties in order that one or
more of them may make the required payment. If such payment is not made, the
arbitral tribunal may order the suspension or termination of the arbitral
proceedings.
5. After a termination order or final award has been made, the arbitral tribunal
shall render an accounting to the parties of the deposits received and return any
unexpended balance to the parties.

Annex

Model arbitration clause for contracts

Any dispute, controversy or claim arising out of or relating to this contract, or the
breach, termination or invalidity thereof, shall be settled by arbitration in
accordance with the UNCITRAL Arbitration
Rules.
Note. Parties should consider adding:
(a) The appointing authority shall be ... [name of institution
or person];
(b) The number of arbitrators shall be ... [one or three];
(c) The place of arbitration shall be ... [town and country];
(d) The language to be used in the arbitral proceedings shall be ... .

Possible waiver statement


Note. If the parties wish to exclude recourse against the arbitral award that may
be available under the applicable law, they may consider adding a provision to
that effect as suggested below, considering, however, that the effectiveness and
conditions of such an exclusion depend on the applicable law.

Waiver
The parties hereby waive their right to any form of recourse against an award to
any court or other competent authority, insofar as such waiver can validly be
made under the applicable law.

Model statements of independence pursuant to article 11 of


the Rules

No circumstances to disclose
I am impartial and independent of each of the parties and intend to remain so. To
the best of my knowledge, there are no circumstances, past or present, likely to
give rise to justifiable doubts as to my impartiality or independence. I shall
promptly notify the parties and the other arbitrators of any such circumstances
that may subsequently come to my attention during this arbitration.

Circumstances to disclose

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 229/266
I am impartial and independent of each of the parties and intend to remain so.
Attached is a statement made pursuant to article 11 of the UNCITRAL Arbitration
Rules of (a) my past and present professional, business and other relationships
with the parties and (b) any other relevant circumstances. (Include statement). I
confirm that those circumstances do not affect my independence and impartiality.
I shall promptly notify the parties and the other arbitrators of any such further
relationships or circumstances that may subsequently come to my attention
during this arbitration.

Note. Any party may consider requesting from the arbitrator the following addition
to the statement of independence:

I confirm, on the basis of the information presently available to me, that I can
devote the time necessary to conduct this arbitration diligently, efficiently and in
accordance with the time limits in the Rules.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 230/266
Convenção sobre o Reconhecimento e a Execução de Sentenças Arbitrais
Etrangeiras

Celebrada em Nova Iorque aos 10 de Junho de 1958

(Entrada em vigor em 7 de Junho de 1959)

Artigo I

1- A presente Convenção aplica-se ao reconhecimento e à execução das


sentenças arbitrais proferidas no território de um Estado que não aquele em que
são pedidos o reconhecimento e a execução das sentenças e resultantes de
litígios entre pessoas singulares ou colectivas. Aplica-se também às sentenças
arbitrais que não forem consideradas sentenças nacionais no Estado em que
são pedidos o seu reconhecimento e execução.
2- Entende-se por “sentenças arbitrais” não apenas as sentenças
proferidas por árbitros nomeados para determinados casos, mas também as que
forem proferidas por órgãos de arbitragem permanentes aos quais as Partes se
submeteram.
3- No momento da assinatura ou da ratificação da presente Convenção,
da adesão a esta ou da notificação de extensão prevista no artigo 10.º, qualquer
Estado poderá, com base na reciprocidade, declarar que aplicará a Convenção
ao reconhecimento e à execução apenas das sentenças proferidas no território
de um outro Estado Contratante. Poderá também declarar que aplicará apenas
a Convenção aos litígios resultantes de relação de direito, contratuais ou não
contratuais, que forem consideradas comerciais pela respectiva lei nacional.

Artigo II

1- Cada Estado Contratante reconhece a convenção escrita pela qual as


Partes se comprometem a submeter a uma arbitragem todos os litígios ou alguns
deles que surjam ou possam surgir entre elas relativamente a uma determinada
relação de direito, contratual ou não contratual, respeitante a uma questão
susceptível de ser resolvida por via arbitral.
2- Entende-se por “convenção escrita” uma cláusula compromissória
inserida num contrato, ou num compromisso, assinado pelas Partes ou inserido
numa troca de cartas ou telegramas.
3- O tribunal de um Estado Contratante solicitado a resolver um litígio
sobre uma questão relativamente à qual as Partes celebraram uma convenção
ao abrigo do presente artigo remeterá as Partes para a arbitragem, a pedido de
uma delas, salvo se verificar a caducidade da referida convenção, a sua
inexequibilidade ou insusceptibilidade de aplicação.

Artigo III

Cada um dos Estados Contratantes reconhecerá a autoridade de uma


sentença arbitral e concederá a execução da mesma nos termos das regras de
processo adoptadas no território em que a sentença for invocada, nas condições
estabelecidas nos artigos seguintes. Para o reconhecimento ou execução das

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 231/266
sentenças arbitrais às quais se aplica a presente Convenção, não serão
aplicadas quaisquer condições sensivelmente mais rigorosas, nem custas
sensivelmente mais elevadas, do que aquelas que são aplicadas para o
reconhecimento ou a execução das sentenças arbitrais nacionais.

Artigo IV

1- Para obter o reconhecimento e a execução referidos no artigo anterior,


a Parte que requerer o reconhecimento e a execução deverá juntar ao seu
pedido:

a) O original devidamente autenticado da sentença, ou uma cópia do


mesmo, verificadas as condições exigidas para a sua autenticidade;
b) O original da convenção referida no artigo II, ou uma cópia da mesma,
verificadas as condições exigidas para a sua autenticidade.
2- No caso de a referida sentença ou convenção não estar redigida numa
língua oficial do país em que for invocada a sentença, a Parte que requerer o
reconhecimento e a execução da mesma terá de apresentar uma tradução dos
referidos documentos nesta língua. A tradução deverá estar autenticada por um
tradutor oficial ou por um agente diplomático ou consular.

Artigo V

1- O reconhecimento e a execução da sentença só serão recusados, a


pedido da Parte contra a qual for invocada, se esta Parte fornecer à autoridade
competente do país em que o reconhecimento e a execução forem pedidos a
prova:

a) Da capacidade das Partes outorgantes da convenção referida no artigo II,


nos termos da lei que lhes é aplicável, ou da invalidade da referida
convenção ao abrigo da lei a que as Partes a sujeitaram ou, no caso de
omissão quanto à lei aplicável, ao abrigo da lei do país em que for
proferida a sentença; ou
b) De que a Parte contra a qual a sentença é invocada não foi devidamente
informada quer da designação do árbitro quer do processo de arbitragem,
ou de que lhe foi impossível, por outro motivo, deduzir a sua contestação;
ou
c) De que a sentença diz respeito a um litígio que não foi objecto nem da
convenção escrita nem da cláusula compromissória, ou que contém
decisões que extravasam os termos da convenção escrita ou da cláusula
compromissória; no entanto, se o conteúdo da sentença referente a
questões submetidas à arbitragem puder ser destacado do referente a
questões não submetidas à arbitragem, o primeiro poderá ser
reconhecido e executado; ou
d) De que a constituição do tribunal arbitral ou o processo de arbitragem não
estava em conformidade com a convenção das Partes ou, na falta de tal
convenção, de que não estava em conformidade com a lei do país onde
teve lugar a arbitragem; ou

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LAV COMENTADA 232/266
e) De que a sentença ainda não se tornou obrigatória para as Partes, foi
anulada ou suspensa por uma autoridade competente do país em que, ou
segundo a lei do qual, a sentença foi proferida.
2- Poderão igualmente ser recusados o reconhecimento e a execução de
uma sentença arbitral se a autoridade competente do país em que o
reconhecimento e a execução foram pedidos verificar:
a) Que, de acordo com a lei desse país, o objecto de litígio não é susceptível
de ser resolvido por via arbitral; ou
b) Que o reconhecimento ou a execução da sentença são contrários à ordem
pública desse país.

Artigo VI

Se a anulação ou a suspensão da sentença for requerida à autoridade


competente prevista no artigo V, n.º 1, alínea e), a autoridade perante a qual a
sentença for invocada poderá, se o considerar adequado, diferir o momento da
sua decisão relativa à execução da sentença; poderá igualmente, a requerimento
da Parte que solicitar a execução da sentença, exigir da outra Parte a prestação
das garantias adequadas.

Artigo VII

1- As disposições da presente Convenção não prejudicam a validade dos


acordos multilaterais ou bilaterais celebrados pelos Estados Contratantes em
matéria de reconhecimento e de execução de sentenças arbitrais, nem
prejudicam o direito de invocar a sentença arbitral que qualquer das Partes
interessadas possa ter nos termos da lei ou dos tratados do país em que for
invocada.
2- O Protocolo de Genebra de 1923 Relativo às Cláusulas de Arbitragem
e a Convenção de Genebra de 1927 Relativa à Execução das Sentenças
Arbitrais Estrangeiras deixarão de produzir efeitos entre os Estados Contratantes
a partir do momento, e na medida, em que aqueles se encontrem obrigados pela
presente Convenção.

Artigo VIII

1- A presente Convenção pode ser assinada até 31 de Dezembro de 1958


por qualquer Estado membro das Nações Unidas, ou por qualquer outro Estado
que seja, ou venha a ser posteriormente, membro de uma ou várias agências
especializadas das Nações Unidas ou parte do Estatuto do Tribunal Internacional
de Justiça, ou que seja convidado pela Assembleia Geral das Nações Unidas.
2- A presente Convenção deve ser ratificada e os instrumentos de
ratificação depositados junto do Secretário-Geral da Organização das Nações
Unidas.

Artigo IX

1- Todos os Estados referidos no artigo VIII podem aderir à presente


Convenção.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 233/266
2- A adesão efectuar-se-á através do depósito de um instrumento de
adesão junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.

Artigo X

1- Qualquer Estado poderá, no acto da assinatura, da ratificação ou da


adesão, declarar que a presente Convenção será extensível ao conjunto, ou
apenas a um ou vários, dos territórios que representa a nível internacional. Esta
declaração produzirá os seus efeitos a partir do momento da entrada em vigor
da presente Convenção.
2- Posteriormente, qualquer extensão desta natureza far-se-á através de
notificação dirigida ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas e
produzirá os seus efeitos a partir do 90.º dia seguinte à data do recebimento da
notificação pelo Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, ou na
data de entrada em vigor da Convenção naquele Estado, se esta for posterior.
3- No que respeita aos territórios aos quais não se aplica a presente
Convenção na data da assinatura, da ratificação ou de adesão, cada Estado
interessado examinará a possibilidade de tomar as medidas que desejar para
estender a Convenção a esses territórios, sob reserva, se for caso disso, do
acordo dos governos desses territórios quando exigido por razões
constitucionais.

Artigo XI

As disposições seguintes aplicar-se-ão aos Estados federativos ou não


unitários:

a) No que respeita aos artigos da presente Convenção que relevem da


competência legislativa do poder federal, as obrigações do governo
federal serão as mesmas que as dos Estados Contratantes que não sejam
Estados federativos.
b) No que respeita aos artigos da presente Convenção que relevem da
competência legislativa de cada um dos Estados ou províncias
constituintes, que não sejam, em virtude do sistema constitucional da
federação, obrigados a tomar medidas legislativas, o governo federal
levará, o mais cedo possível, e com parecer favorável, os referidos artigos
ao conhecimento das autoridades competentes dos Estados ou
províncias constituintes.
c) Um Estado federativo Parte na presente Convenção comunicará, a pedido
de qualquer outro Estado contratante, transmitido por intermédio do
Secretário-Geral da Organização das Nações unidas, uma exposição da
legislação e das práticas em vigor na federação e nas suas unidades
constituintes, no que respeita a qualquer disposição da Convenção,
indicando qual o efeito dado a essa disposição através de uma legislativa
ou outra.

Artigo XII

1- A presente Convenção entrará em vigor no 90.º dia seguinte à data do


depósito do terceiro instrumento de ratificação ou de adesão.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 234/266
2- Para cada Estado que ratificar a Convenção ou a ela aderir após o
depósito do terceiro instrumento de ratificação ou de adesão, a Convenção
entrará em vigor a partir do 90.º dia seguinte à data do depósito por esse Estado
do seu instrumento de ratificação ou de adesão.

Artigo XIII

1- Qualquer Estado contratante poderá denunciar a presente Convenção


através de notificação escrita dirigida ao Secretário-Geral da Organização das
Nações Unidas. A denúncia produzirá efeitos um ano após a data do
recebimento da notificação pelo Secretário-Geral da Organização das Nações
Unidas.
2- Qualquer Estado que tenha feito uma declaração ou uma notificação,
nos termos do artigo X, poderá notificar posteriormente o Secretário-Geral da
Organização das Nações Unidas de que a Convenção cessará a sua aplicação
no território em questão um ano após a data do recebimento desta notificação
pelo Secretário-Geral.
3- A presente Convenção continuará a ser aplicável às sentenças arbitrais
relativamente às quais tiver sido iniciado um processo de reconhecimento ou de
execução antes da entrada em vigor da denúncia.

Artigo XIV

Um Estado Contratante só se poderá prevalecer das disposições da


presente Convenção contra outros Estados Contratantes na medida em que ele
próprio esteja obrigado a aplicá-la.

Artigo XV

O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas notificará a todos


os Estados referidos no artigo VIII:
a) As assinaturas e ratificações referidas no artigo VIII;
b) As adesões referidas no artigo IX;
c) As declarações e notificações referidas nos artigos I, X e XI;
d) A data de entrada em vigor da presente Convenção, nos termos do artigo
XII;
e) As denúncias e notificações referidas no artigo XIII.

Artigo XVI

1- A presente Convenção, cujas versões em inglês, chinês, espanhol,


francês e russo são igualmente autênticas, será depositada nos arquivos da
Organização das Nações Unidas.

2- O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas enviará uma


cópia autenticada da presente Convenção aos Estados referidos no artigo VIII.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 235/266
______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 236/266
Convenção para a Resolução de Diferendos Relativos a Investimentos
entre Estados e Nacionais de outros Estados

Celebrada em Washington aos 18 de Março de 1965

(Entrada em vigor em 14 de Outubro de 1966)

Preâmbulo

Os Estados Contratantes:

Considerando a necessidade de cooperação internacional para o


desenvolvimento económico e o papel desempenhado pelos investimentos
privados internacionais;
Tendo presente a possibilidade de surgirem em qualquer altura diferendos
relacionados com esses investimentos entre os Estados Contratantes e os
nacionais de outros Estados Contratantes;
Reconhecendo que, ainda que tais diferendos possam normalmente ser
levados perante as instâncias nacionais, métodos internacionais de resolução
poderão ser apropriados em certos casos;
Considerando especial importância à criação de mecanismos que
permitam a conciliação e a arbitragem internacionais às quais os Estados
Contratantes e os nacionais de outros Estados Contratantes possam submeter
os seus diferendos, se assim o desejarem;
Desejando criar tais mecanismos sob os auspícios do Banco Internacional
para a Reconstrução e Desenvolvimento;
Reconhecendo que o consentimento mútuo das partes em submeter tais
diferendos à conciliação ou à arbitragem, através desses mecanismos, as
obriga, exigindo em especial que seja tomada em devida conta qualquer
recomendação dos conciliadores e que toda a sentença arbitral seja executada;
e
Declarando que nenhum Estado Contratante, pelo simples facto de ter
ratificado, aceitado ou aprovado a presente Convenção e sem o seu
consentimento, ficará vinculado a recorrer à conciliação ou arbitragem em
qualquer caso concreto,
Acordaram o que se segue:

CAPÍTULO I
Centro Internacional para a Resolução de Diferendos Relativos a
Investimentos

SECÇÃO 1
Criação e organização

Artigo 1.º

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 237/266
1- Pela presente Convenção é instituído um Centro Internacional para a
Resolução de Diferendos Relativos a Investimentos (daqui para a frente
denominado Centro).
2- O objectivo do Centro será proporcionar os meios de conciliação e
arbitragem dos diferendos relativos a investimentos entre Estados Contratantes
em conformidade com as disposições desta Convenção.

Artigo 2.º

A sede do Centro será a do Banco Internacional para a Reconstrução e


Desenvolvimento (daqui para a frente denominado Banco). A sede poderá ser
transferida para outro local por decisão do conselho de administração aprovada
por uma maioria de dois terços dos seus membros.

Artigo 3.º

O Centro será constituído por um conselho de administração e por um


secretariado e terá uma lista de conciliadores e uma lista de árbitros.

SECÇÃO 2
Conselho de administração

Artigo 4.º

1- O conselho de administração será constituído por 1 representante de


cada Estado Contratante. Um substituto poderá agir em lugar do representante
no caso de o titular estar ausente de uma reunião ou impedido.
2- Salvo indicação contrária, o governador e o governador substituto do
Banco, nomeados por um Estado Contratante exercerão de pleno direito as
funções respectivas de representante e de substituto.

Artigo 5.º

O presidente do Banco exercerá de pleno direito o lugar de presidente do


conselho de administração (daqui para a frente denominado presidente), mas
não terá direito a voto. Durante a sua ausência ou impedimento, bem como em
caso de vacatura da presidência do Banco, aquele que durante esse período
desempenhar as funções de presidente do Banco actuará como presidente do
conselho de administração.

Artigo 6.º

1- Sem prejuízo das atribuições que lhe são cometidas pelas outras
disposições da presente Convenção, ao conselho de administração caberá:

a) Adoptar o regulamento administrativo e financeiro do Centro;


b) Adoptar as regras processuais para a instauração dos processos de
conciliação e de arbitragem;

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 238/266
c) Adoptar as regras processuais relativas aos processos de conciliação e
arbitragem (daqui para a frente denominadas Regulamento de
Conciliação e Regulamento de Arbitragem);
d) Estabelecer todas as providências necessárias com o Banco com vista a
permitir a utilização das instalações e serviços administrativos do mesmo;
e) Determinar as condições de emprego do secretário-geral e dos
secretários-gerais-adjuntos;
f) Adoptar o orçamento anual das receitas e despesas do Centro;
g) Aprovar o relatório anual da actividade do Centro:

As decisões acima referidas nas alíneas a), b), c) e f) serão adoptadas por uma
maioria de dois terços dos membros do conselho de administração.
2- O conselho de administração poderá constituir tantas comissões
quantas considerar necessárias.
3- O conselho de administração exercerá igualmente todas as outras
atribuições consideradas necessárias à execução das disposições da presente
Convenção.

Artigo 7.º

1- O conselho de administração terá uma sessão anual e tantas outras


sessões quantas as determinadas pelo conselho ou convocadas quer pelo
presidente quer pelo secretário-geral, a pedido de um mínimo de 5 membros do
conselho.
2- Cada membro do conselho de administração disporá de 1 voto e, salvo
excepção prevista pela presente Convenção, todos os assuntos submetidos ao
conselho serão resolvidos pela maioria dos votos expressos.
3- Para todas as reuniões do conselho de administração o quórum será
de metade mais 1 dos seus membros.
4- O conselho de administração poderá estabelecer, por uma maioria de
dois terços dos seus membros, um processo autorizando o presidente a pedir ao
conselho uma votação por correspondência. A votação será considerada válida
apenas se a maioria dos membros do conselho expressar os seus votos dentro
do prazo estabelecido pelo referido processo.

Artigo 8.º

Os membros do conselho de administração e o presidente exercerão as


suas funções sem remuneração do Centro.

SECÇÃO 3
Secretariado

Artigo 9.º

O secretariado será constituído por 1 secretário-geral, 1 ou mais


secretários-gerais-adjuntos e pelo pessoal respectivo.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 239/266
Artigo 10.º

1- O secretário-geral e os secretários-gerais-adjuntos serão eleitos, sob


indicação do presidente, por uma maioria de dois terços dos membros do
conselho de administração, por um período que não poderá exceder 6 anos, e
poderão ser reeleitos.
Depois de consultados os membros do conselho de admnistração, o
presidente proporá 1 ou mais candidatos para cada posto.
2- As funções de secretário-geral e secretário-geral-adjunto serão
incompatíveis com o exercício de qualquer função política. Nem o secretário-
geral nem os secretários-gerais-adjuntos poderão ocupar outro emprego nem
exercer outra actividade profissional, salvo se para tal obtiveram a autorização
do conselho de administração.
3- Em caso de ausência ou impedimento do secretário-geral, bem como
em caso de vacatura no cargo, o secretário-geral-adjunto exercerá as funções
de secretário-geral. No caso de existirem vários secretários-gerais-adjuntos, o
conselho de administração determinará previamente a ordem pela qual eles
serão chamados a exercer as funções de secretário-geral.

Artigo 11.º

O secretário-geral será o representante legal do Centro e dirigi-lo-á e será


responsável pela sua administração, onde se incluirá o recrutamento de pessoal,
em conformidade com as disposições da presente Convenção e os
Regulamentos adoptados pelo conselho de administração. Exercerá a função de
escrivão e terá poderes para autenticar sentenças arbitrais consequentes da
presente Convenção, bem como para certificar cópias das mesmas.

SECÇÃO 4
Listas

Artigo 12.º

A lista de conciliadores e a lista de árbitros consistirão de pessoas


qualificadas de acordo com as disposições que seguem e que aceitem figurar
nessas listas.

Artigo 13.º

1- Cada Estado Contratante poderá designar para cada lista pessoas que
não terão de ser necessariamente seus nacionais.
2- O presidente poderá designar 10 pessoas para cada lista. As pessoas
por esta forma designadas em cada lista deverão ser todas de nacionalidade
diferente.

Artigo 14.º

1- As pessoas assim designadas para figurar nas listas deverão gozar de


elevada consideração e de reconhecida competência no domínio jurídico

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 240/266
comercial, industrial ou financeiro e oferecer todas as garantias de
independência no exercício das suas funções. A competência no domínio
jurídico será de particular importância no caso das pessoas incluídas na lista de
árbitros.
2- O presidente, ao designar as pessoas que integrarão as listas, deverá
entre outros aspectos, prestar a devida atenção à importância de assegurar a
representação nas listas dos principais sistemas jurídicos do mundo e das
principais formas de actividade económica.

Artigo 15.º

1- As nomeações serão feitas por períodos de 6 anos renováveis.


2- Em caso de falecimento ou demissão de um membro de uma lista, a
autoridade que tenha designado esse membro poderá designar um substituto
que, até ao fim do mandato em questão, exercerá as funções que àquele
competiam.
3- Os membros das listas continuarão a figurar nas mesmas até à
designação dos seus sucessores.

Artigo 16.º

1- Uma mesma pessoa poderá figurar em ambas as listas.


2- Se uma pessoa tiver sido designada para a mesma lista por vários
Estados Contratantes, ou por um ou mais de entre eles e pelo presidente,
entender-se-á que foi designada pela entidade que primeiro a nomeou; todavia,
no caso de uma das entidades que participou na designação ser o Estado do
qual ela é nacional, considerar-se-á designada por esse Estado.
3- Todas as designações serão notificadas ao secretário-geral e terão
efeitos a partir da data em que a notificação for recebida.

SECÇÃO 5
Financiamento do Centro

Artigo 17.º

Se as despesas do Centro não puderam ser cobertas pelas receitas


cobradas pela utilização dos seus serviços, ou por outros rendimentos, o
excedente deverá ser suportado pelos Estados Contratantes membros do
Banco, em proporção à sua participação no capital social deste Banco, e pelos
Estados Contratantes não membros do Banco, em conformidade com os
Regulamentos adoptados pelo conselho de administração.

SECÇÃO 6
Estatuto, Imunidades e privilégios

Artigo 18.º

O Centro terá plena personalidade jurídica internacional.


Terá, entre outras, capacidade para:

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 241/266
a) Contratar;
b) Adquirir bens móveis e imóveis e deles dispor;
c) Estar em juízo.

Artigo 19.º

Por forma a poder exercer plenamente as suas funções, o Centro gozará


das imunidades e privilégios estabelecidos nesta secção no território de todos
os Estados Contratantes.

Artigo 20.º

O Centro não poderá ser objecto de acções judiciais relativas ao seu


património ou outras, excepto se renunciar a essa imunidade.

Artigo 21.º

O presidente, os membros do conselho de administração, as pessoas


exercendo funções como conciliadores ou árbitros ou membros de um comité
constituído em conformidade com o n.º 3 do artigo 52.º e os funcionários e
empregados do secretariado:
a) Não poderão ser demandados por actos praticados no exercício das suas
funções, excepto quando o Centro lhes retirar essa imunidade;
b) No caso de não serem nacionais do Estado em que exercem as suas
funções, beneficiarão das mesmas imunidades em matéria de imigração,
registo de estrangeiros e de serviço militar ou prestações análogas, bem
como das mesmas facilidades em matéria de trocas e de deslocações,
que as concedidas pelos Estados Contratantes para os representantes,
funcionários e empregados de outros Estados Contratantes de escalão
comparável.

Artigo 22.º

As disposições do artigo 21.º serão aplicadas às pessoas que intervenham


em processos regulados pela presente Convenção, na qualidade de partes,
agentes, conselheiros, advogados, testemunhas ou peritos, aplicando-se,
contudo, a alínea b) do mesmo artigo apenas às suas deslocações e estada
no país em que o processo tiver lugar.

Artigo 23.º

1- Os arquivos do Centro serão invioláveis onde quer que se encontrem.


2- No tocante às comunicações oficiais, cada Estado Contratante deverá
conceder ao Centro um tratamento tão favorável como o concedido às outras
instituições internacionais.

Artigo 24.º

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LAV COMENTADA 242/266
1- O Centro, o seu património, bens e rendimentos, bem como as suas
operações autorizadas pela presente Convenção, estarão isentos de todos os
impostos e direitos de alfândega. O Centro estará também isento de qualquer
obrigação relativa à colecta ou pagamento de quaisquer impostos ou direitos de
alfândega.
2- Não será tributado qualquer imposto quer sobre os subsídios pagos
pelo Centro ao presidente ou a membros do conselho de administração quer
sobre os salários, emolumentos ou outros subsídios pagos pelo Centro aos seus
funcionários ou empregados do secretariado, excepto se os beneficiários forem
nacionais do país em que exreçam as suas funções.
3- Não será tributado qualquer imposto sobre os honorários ou subsídios
atribuídos às pessoas que exerçam funções como conciliadores, árbitros, ou
membros do comité constituído em conformidade com o n.º 3 do artigo 52.º, nos
processos objecto da presente Convenção, no caso de a única base jurídica para
tal imposto ser a localização do Centro ou o local em que tais processos se
desenrolem, ou ainda o local em que tais honorários ou subsídios são pagos.

CAPÍTULO II
Competência do Centro

Artigo 25.º

1- A competência do Centro abrangerá os diferendos de natureza jurídica


directamente decorrentes de um investimento entre um Estado Contratante (ou
qualquer pessoa colectiva de direito público ou organismo dele dependente
designado pelo mesmo ao Centro) e um nacional de outro Estado Contratante,
diferendo esse cuja submissão ao Centro foi consentida por escrito por ambas
as partes. Uma vez dado o consentimento por ambas as partes, nenhuma delas
poderá retirá-lo unilateralmente.
2- “Nacional de outro Estado Contratante” significa:

a) Qualquer pessoa singular que tenha a nacionalidade de um Estado


Contratante, outro que não o Estado parte no diferendo, à data em que as partes
hajam consentido em submeter tal diferendo a conciliação ou arbitragem em
conformidade com o n.º 3 do artigo 28.º ou o n.º 3 do artigo 36.º, à exclusão de
qualquer pessoa que, em qualquer das datas referidas, tivesse igualmente a
nacionalidade do Estado Contratante parte no diferendo; e
b)Qualquer pessoa colectiva que tenha nacionalidade de um Estado
Contratante, outro que não o Estado parte no diferendo, à data em que as partes
hajam consentido em submeter tal diferendo a conciliação ou a arbitragem, bem
como qualquer pessoa colectiva que tenha a nacionalidade do Estado
Contratante parte no diferendo àquela data e que, em virtude do controle sobre
ela exercido por interesses estrangeiros, as partes tenham concordado em tratar
como um nacional de outro Estado Contratante, para os efeitos da presente
Convenção.
3- O consentimento de uma pessoa colectiva de direito público ou de um
Estado Contratante requererá a aprovação do referido Estado, excepto se o
mesmo notificar o Centro no sentido de que tal aprovação não é necessária.
4- Todos os Estados Contratantes poderão, na altura da sua ratificação,
aceitação ou aprovação da Convenção, ou em qualquer outra data posterior,

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 243/266
notificar o Centro sobre a categoria ou categorias de diferendos que consideram
poderem ser sujeitos à competência do Centro. O secretário-geral deverá
transmitir imediatamente a notificação recebida a todos os Estados Contratantes.
Tal notificação não dispensará o consentimento exigido pelo n.º 1.

Artigo 26.º

O consentimento dado pelas partes para a arbitragem dentro do âmbito


da presente Convenção será, excepto no caso de estipulação contrária,
considerado como implicando a renúncia a qualquer outro meio de resolução.
Um Estado Contratante poderá exigir a exaustão dos meios administrativos e
judiciais internos como condição para dar consentimento à arbitragem no âmbito
da presente Convenção.

Artigo 27.º

1- Nenhum Estado Contratante concederá protecção diplomática nem


apresentará internacionalmente uma reclamação respeitante a um diferendo que
um dos seus nacionais e outro Estado Contratante tenham consentido submeter
ou hajam submetido a arbitragem no quadro da presente Convenção, excepto
no caso de o outro Estado Contratante não acatar a sentença proferida no dito
diferendo.
2- A protecção diplomática, para efeitos do n.º 1, não incluirá diligências
diplomáticas informais, visando unicamente facilitar a resolução do diferendo.

CAPÍTULO III
Conciliação

SECÇÃO I
Pedido de conciliação

Artigo 28.º

1- Qualquer Estado Contratante ou qualquer nacional de um Estado


Contratante que deseja abrir um processo de conciliação deverá remeter um
requerimento por escrito, nesse sentido, ao secretário geral, que enviará uma
cópia à outra parte.
2- O requerimento deverá indicar o objecto do diferendo, a identidade das
partes e o seu consentimento na conciliação, em conformidade com as regras
processuais relativas ao início das instâncias de conciliação e arbitragem.
3- O secretário-geral procederá ao registo do requerimento, excepto se
considerar, com base nos dados do mesmo, que o diferendo está
manifestamente fora da competência do centro. Notificará de imediato as partes
envolvidas do registo ou da recusa de registo.

SECÇÃO II
Constituição da comissão de conciliação

Artigo 29.º

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 244/266
1- A Comissão de Conciliação (daqui para frente denominada Comissão)
deverá ser constituída o mais rapidamente possível após o registo do
requerimento, em conformidade com o artigo 28.º
2- a) A comissão consistirá de um único conciliador ou de um número
ímpar de conciliadores nomeados segundo acordo entre as partes;
b) Na falta de acordo entre as partes sobre o número de conciliadores
e o método da sua nomeação, a Comissão integrará 3 conciliadores; cada parte
nomeará um conciliador, devendo o terceiro, que será o presidente da Comissão,
ser nomeado com o acordo de ambas as partes.

Artigo 30.º

Se a Comissão não tiver sido constituída num prazo de 90 dias após a


notificação de que o registo do requerimento foi feito pelo secretário-geral, em
conformidade com o n.º 3 do artigo 28.º, ou dentro de qualquer outro prazo
acordado entre as partes, o presidente deverá, a pedido de qualquer das partes
e, dentro do possível, depois de consultar ambas as partes, nomear o conciliador
ou conciliadores que ainda não tiverem sido nomeados.

Artigo 31.º

1- Poderão ser nomeados conciliadores que não constem da lista de


conciliadores, excepto no caso das nomeações feitas pelo presidente em
conformidade com o artigo 30.º
2- Os conciliadores nomeados que não constem da lista de conciliadores
deverão reunir as qualidades referidas n.º 1 do artigo 14.º

SECÇÃO 3
Processo perante a Comissão

Artigo 32.º

1- A Comissão é juíz da sua própria competência.


2- Qualquer excepção de incompetência relativa ao Centro ou, por
quaisquer razões, à Comissão, apresentada por uma das partes, será
considerada pela Comissão, que determinará se deverá ser tratada como uma
questão preliminar ou ser examinada juntamente com as questões de fundo.

Artigo 33.º

Qualquer processo de conciliação deverá ser conduzido em conformidade


com o disposto na presente secção e, excepto se as partes chegarem a acordo
diferente, em conformidade com o Regulamento de Conciliação em vigor na data
em que as partes consentirem na conciliação. Se surgir uma questão de índole
processual não prevista pela presente secção, pelo Regulamento de Conciliação
ou por quaisquer regras acordadas entre as partes, será a mesma decidida pela
Comissão.

Artigo 34.º

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LAV COMENTADA 245/266
1- A Comissão terá por função esclarecer os pontos em litígio entre as
partes e desenvolver esforços no sentido de as chegar a acordo em termos
mutuamente aceitáveis.
Nesse sentido, poderá a Comissão, em qualquer fase do processo e
repetidamente, recomendar formas de resolução às partes. As partes deverão
cooperar com a Comissão, de boa fé, por forma a permitir que a Comissão
desempenhe as suas funções, e deverão considerar seriamente as suas
recomendações.
2- Se as partes chegarem a acordo, a Comissão elaborará um relatório
anotando os pontos em litígio e registando o acordo das partes. Se, em qualquer
fase do processo, parecer à Comissão que não existem quaisquer possibilidades
de acordo entre as partes, deverá esta encerrar o processo e elaborar um
relatório anotando que o diferendo foi sujeito a conciliação e que as partes não
chegaram a acordo. Se uma parte não comparecer ou não participar no
processo, a Comissão encerrará o processo e elaborará um relatório anotando
a falta de comparência ou não participação.

Artigo 35.º

Excepto se as partes envolvidas no diferendo acordarem diferentemente,


nenhuma delas poderá, em qualquer outro processo, quer perante árbitros quer
num tribunal ou de qualquer outra maneira, invocar ou usar as opiniões emitidas,
as declarações ou as ofertas de resolução feitas pela outra parte no processo de
conciliação, nem tão-pouco o relatório ou quaisquer recomendações da
Comissão.

CAPÍTULO IV
Arbitragem

SECÇÃO 1
Pedido de arbitragem

Artigo 36.º

1- Qualquer Estado Contratante ou qualquer nacional de um Estado


Contratante que deseje abrir um processo de arbitragem deverá remeter um
requerimento, por escrito, nesse sentido ao secretário-geral, que enviará uma
cópia do mesmo à outra parte.
2- O requerimento deverá indicar o objecto do diferendo, a identidade das
partes e o seu consentimento na arbitragem, em conformidade com as regras
processuais relativas ao início da instância de conciliação e arbitragem.
3- O secretário-geral procederá ao registo do requerimento, excepto se
considerar, com base nos dados do mesmo, que o diferendo está
manifestamente fora da competência do Centro. Notificará de imediato as partes
do registo ou da recusa de registo.

SECÇÃO 2
Constituição do tribunal

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LAV COMENTADA 246/266
Artigo 37.º

1- O tribunal arbitral (daqui para a frente denominado tribunal) deverá ser


constituído o mais rapidamente possível após o registo do requerimento, em
conformidade com o artigo 36.º
2- a) O tribunal terá um único árbitro ou um número ímpar de árbitros
nomeados segundo acordo entre as partes;
b) Na falta de acordo entre as partes sobre o número de árbitros e o
método da sua nomeação, o tribunal integrará 3 árbitros, nomeando cada parte
um árbitro, e devendo o terceiro, que será o presidente do tribunal, ser nomeado
com o acordo de ambas as partes.

Artigo 38.º

Se o tribunal não tiver constituído num prazo de 90 dias após a notificação


de que o registo do requerimento foi feito pelo secretário-geral, em
conformidade com o n.º 3 do artigo 36.º, ou dentro de qualquer outro prazo
acordado entre as partes, o presidente deverá, a pedido de qualquer das
partes e, dentro do possível, depois de consultadas ambas as partes,
nomear o árbitro ou árbitros que ainda não tiverem sido nomeados. Os
árbitros nomeados pelo presidente, em conformidade com o presente artigo,
não deverão ser nacionais do Estado Contratante parte no diferendo nem no
diferendo nem do Estado Contratante de que é nacional a outra parte.

Artigo 39.º

A maioria dos árbitros deverá ser nacional de Estados que não o Estado
Contratante parte no diferendo e o Estado Contratante cujo nacional é parte
no diferendo; contudo, as precedentes disposições deste artigo não se
aplicam no caso de o único árbitro ou cada um dos membros do tribunal ter
sido nomeado por acordo entre as partes.

Artigo 40.º

1- Poderão ser nomeados árbitros que não constem da lista dos árbitros,
excepto no caso de nomeações feitas pelo presidente em conformidade com
o artigo 38.º
2- Os árbitros nomeados que não constem da lista dos árbitros deverão
reunir as qualidades previstas no n.º 1 do artigo 14.º

SECÇÃO 3
Poderes e funções do tribunal

Artigo 41.º

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LAV COMENTADA 247/266
1- Só o tribunal conhecerá da sua própria competência.
2- Qualquer excepção de incompetência relativa ao Centro ou, por quaiquer
razões, ao tribunal deverá ser considerada pelo tribunal, que determinará se
a mesma deverá ser tratada como questão preliminar ou examinada
juntamente com as questões de fundo.

Artigo 42.º

1- O tribunal julgará o diferendo em conformidade com as regras de direito


acordadas entre as partes. Na ausência de tal acordo, o tribunal deverá
aplicar a lei do Estado Contratante parte no diferendo (incluindo as regras
referentes aos conflitos de leis), bem como os princípios de direito
internacional aplicáveis.
2- O tribunal não pode recusar-se a julgar sob pretexto do silêncio ou da
obscuridade da lei.
3- As disposições dos n.ºs 1 e 2 não prejudicarão a faculdade de o tribunal
julgar um diferendo ex aequo et bono se houver acordo entre as partes.

Artigo 43.º

Excepto se as partes acordarem diferentemente, o tribunal pode, se


considerar necessário em qualquer fase do processo:
a) Pedir às partes que apresentem documentos ou outros meios de prova; e
b) Visitar os lugares relacionados com o diferendo e aí proceder a tantos
inquéritos quantos considerar necessários.

Artigo 44.º

Qualquer processo de arbitragem deverá ser conduzido em


conformidade com as disposições da presente secção e, excepto se as
partes acordarem diferentemente, em conformidade com o Regulamento de
Arbitragem em vigor na data em que as partes consentirem na arbitragem.
Se surgir qualquer questão de índole processual não prevista pela presente
secção ou pelo Regulamento de Arbitragem ou quaisquer outras regras
acordadas entre as partes, será a mesma devolvida pelo tribunal.

Artigo 45.º

1- Não se presumirão confessados os factos apresentados por uma das


partes quando a outra não compareça ou se abstenha de fazer uso dos
meios ao seu dispor.

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LAV COMENTADA 248/266
2- Se em qualquer momento do processo uma das partes não comparecer
ou não fizer uso dos meios ao seu dispor, a outra parte poderá requerer ao
tribunal que aprecie as conclusões por si apresentadas e pronuncie a
sentença. O tribunal deverá notificar a parte em falta do requerimento que
lhe foi apresentado e conceder-lhe um prazo antes de proferir a sentença,
excepto se estiver convencido de que aquela parte não tem intenção de
comparecer ou fazer valer os seus meios.

Artigo 46.º

Excepto se as partes acordarem diferentemente, o tribunal deverá conhecer,


a pedido de uma delas, todas as questões incidentais adicionais ou
reconvencionais que se liguem directamente com o objecto do diferendo,
desde que estejam compreendidas no consentimento das partes, bem como
no âmbito da competência do Centro.

Artigo 47.º

Excepto se as partes acordarem diferentemente, o tribunal pode, se


considerar que as circunstâncias o exigem, recomendar quaisquer medidas
cautelares adequadas a garantir os direitos das partes.

SECÇÃO 4
Sentença

Artigo 48.º

1- O tribunal decidirá todas as questões por maioria de votos de todos os


seus membros.
2- A sentença do tribunal deverá ser dada por escrito; será assinada
pelos membros do tribunal que hajam votado a seu favor.
3- A sentença deverá responder fundamentalmente a todos os pontos
das conclusões apresentadas ao tribunal pelas partes.
4- Todos os membros do tribunal poderão fazer juntar à sentença a sua
opinião individual, discordem ou não da maioria, ou a menção da sua
discordância.
5- O Centro não poderá publicar a sentença sem o consentimento das
partes.

Artigo 49.º

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LAV COMENTADA 249/266
1- O secretário-geral deverá enviar prontamente cópias autenticadas da
sentença às partes. Presumir-se-á que a sentença foi proferida na data em
que as cópias autenticadas foram enviadas.
2- O tribunal, a pedido de uma parte, dentro de um prazo de 45 dias após a
data em que a sentença foi decretada, pode, depois de notificada a outra
parte, julgar qualquer questão sobre que, por omissão, não se haja
pronunciado na sentença, e rectificará qualquer erro material da sentença. A
sua decisão será parte integrante da sentença e será notificada às partes da
mesma forma que a sentença. Os períodos de tempo previstos no n.º 2 do
artigo 51.º e n.º 2 do artigo 52.º deverão decorrer a partir da data em que a
decisão correspondente for tomada.

SECÇÃO 5
Interpretação, revisão e anulação da sentença

Artigo 50.º

1- Se surgir qualquer diferendo entre as partes sobre o significado ou o


âmbito de uma sentença, qualquer das partes poderá pedir a sua
interpretação através de requerimento, por escrito, dirigido ao secretário-
geral.
2- O pedido deverá, se possível, ser submetido ao tribunal que deu a
sentença. Se tal não for possível, será constituído um novo tribunal em
conformidade com a secção 2 do presente capítulo. O tribunal pode, se
considerar que as circunstâncias assim o exigem, decidir suspender a
execução da sentença até se pronunciar sobre o pedido de interpretação.

Artigo 51.º

1- Qualquer das partes poderá pedir a revisão da sentença através de


requerimento por escrito dirigido ao secretário-geral com fundamento na
descoberta de algum facto susceptível de exercer uma influência decisiva
sobre a sentença, desde que, à data da sentença, tal facto fosse
desconhecido do tribunal e do requerente sem culpa deste.
2- O rquerimento deverá ser apresentado dentro de um período de 90 dias
após a descoberta de tal facto e em qualquer caso dentro de 3 anos após a
data em que a sentença foi dada.
3- O requerimento deverá, se possível, ser submetido ao tribunal que deu a
sentença. Se tal não for possível, será constituído um novo tribunal em
conformidade com a secção 2 do presente capítulo.
4- O tribunal poderá, se considerar que as circunstâncias assim o exigem,
decidir suspender a execução da sentença até ter decidido sobre o pedido

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LAV COMENTADA 250/266
de revisão. Se o requerente pedir a suspensão da execução da sentença no
seu requerimento, a execução será suspensa provisoriamente até que o
tribunal decida sobre esse pedido.
Artigo 52.º

1- Qualquer das partes poderá pedir por escrito ao secretário-geral a


anulação da sentença com base em um ou mais dos seguintes
fundamentos:

a) Vício na constituição do tribunal;


b) Manifesto excesso de poder do tribunal;
c) Corrupção de um membro do tribunal;
d) Inobservância grave de uma regra de processo fundamental; ou
e) Vicio de fundamentação.

2- O requerimento deverá ser apresentado dentro de um prazo de 120 dias


após a data em que a sentença tiver sido proferida, excepto quando a
anulação for pedida com base em corrupção, caso em que o requerimento
deverá ser feito dentro de um prazo de 120 dias após a descoberta da
corrupção e, em qualquer caso, dentro de 3 anos após a data em que a
sentença foi decretada.
3- Ao receber o pedido, o presidente deverá de imediato designar entre as
pessoas que figuram na lista dos árbitros um comité ad hoc de 3 pessoas.
Nenhum dos membros deste comité poderá ter sido membro do tribunal que
deu a sentença, ser da mesma nacionalidade de qualquer dos membros do
dito tribunal, ser um nacional do Estado parte no diferendo ou do Estado cujo
nacional é parte no diferendo nem ter sido designado para a lista dos
árbitros, por um desses Estados, ou ter actuado como conciliador nesse
mesmo diferendo. O comité terá autoridade para anular a sentença na sua
totalidade ou em parte, em razão de um dos fundamentos estabelecidos no
n.º 1.
4- As disposições dos artigos 41.º a 45.º, 48.º, 49.º, 53.º, e 54.º e dos
capítulos VI e VII serão aplicáveis mutatis mutandis ao processo no comité.
5- O comité pode, se considerar que as circunstâncias assim o exigem,
decidir suspender a execução da sentença até se pronunciar sobre o pedido
de anulação. Se o requerente pedir a suspensão da execução da sentença
no seu requerimento, a execução será suspensa provisoriamente até que o
comité decida sobre o pedido apresentado.
6- Se a sentença for anulada, o diferendo deverá, a pedido de qualquer das
partes, ser submetido a novo tribunal constituído em conformidade com a
secção 2 do presente capítulo.

SECÇÃO VI
Reconhecimento e execução da sentença

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LAV COMENTADA 251/266
Artigo 53.º

1- A sentença será obrigatória para as partes e não poderá ser objecto de


apelação ou qualquer outro recurso, excepto os previstos na presente
Convenção. Cada parte deverá acatar os termos da sentença, excepto se a
execução for suspensa em conformidade com as disposições da presente
Convenção.
2- No âmbito dos objectivos desta secção, “sentença” incluirá qualquer
decisão referente à interpretação, revisão ou anulação da sentença em
conformidade com os artigos 50.º, 51.º e 52.º

Artigo 54.º

1- Cada Estado contratante reconhecerá a obrigatoriedade da sentença


dada em conformidade com a presente Convenção e assegurará a execução
no seu território das obrigações pecuniárias impostas por essa sentença
com se fosse uma decisão final de um tribunal desse Estado. O Estado
contratante que tenha uma constituição federal poderá dar execução à
sentença por intermédio dos seus tribunais federais e providenciar para que
estes considerem tal sentença como decisão final dos tribunais de um dos
Estados federados.
2- A parte que deseje obter o reconhecimento e a execução de uma
sentença no território de um Estado contratante deverá fornecer ao tribunal
competente ou a qualquer outra autoridade que tal Estado tenha designado
para este efeito uma cópia da sentença autenticada pelo secretário geral.
Cada Estado contratante deverá notificar o secretário geral da designação
do tribunal ou autoridade competente para este efeito e informá-lo de
eventuais modificações subsequentes a tal designação.
3- A execução da sentença será regida pelas leis referentes à execução de
sentença vigentes no Estado em cujo território deverá ter lugar.

Artigo 55.º

Nenhuma das disposições do artigo 54.º poderá ser interpretada como


constituindo excepção ao direito vigente num Estado Contratante relativo ao
privilégio de execução do referido Estado ou de qualquer Estado estrangeiro.

CAPÍTULO V
Substituição e inibição dos conciliadores e dos árbitros

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LAV COMENTADA 252/266
Artigo 56.º

1- Após a constituição de uma comissão ou de um tribunal e o início do


processo, a sua composição permanecerá inalterável; contudo, em caso de
falecimento, incapacidade ou demissão de um conciliador ou de um árbitro,
a vaga resultante deverá ser preenchida em conformidade com as
disposições da secção 2 do capítulo III ou secção 2 do capítulo IV.
2- Um membro de uma comissão ou de tribunal continuará a exercer as
suas funções nessa qualidade, não obstante ter deixado de figurar na lista
respectiva.
3- Se um conciliador ou um árbitro nomeado por uma parte se demitir sem o
consentimento da comissão ou do tribunal de que é membro, o presidente
nomeará uma pessoa da lista respectiva para preencher a vaga resultante.

Artigo 57.º

Qualquer das partes pode pedir à comissão ou ao tribunal a inibição de


qualquer dos seus membros com base num facto que indique uma manifesta
falta das qualidades exigidas pelo n.º 1 do artigo 14.º A parte no processo
de arbitragem pode, em acréscimo, pedir a inibição de um árbitro com
fundamento no facto de ele não preencher as condições de nomeação para
o tribunal arbitral, estabelecidas na secção 2 do capítulo IV.

Artigo 58.º

A decisão sobre qualquer pedido de inibição de um conciliador ou de um


árbitro deverá ser tomada pelos outros membros da comissão ou do tribunal,
conforme o caso; contudo, no caso de empate na votação ou de o pedido de
inibição visar um único conciliador ou árbitro ou a maioria da comissão ou do
tribunal, a decisão será tomada pelo presidente. Se for decidido que o
pedido é justamente fundamentado, o conciliador ou o árbitro a quem a
decisão se refere deverá ser substituído em conformidade com as
disposições da secção 2 do capítulo III ou da secção 2 do capítulo IV.

CAPÍTULO VI
Custas do processo

Artigo 59.º

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 253/266
Os encargos a suportar pelas partes pela utilização dos serviços do
Centro serão determinados pelo secretário-geral em conformidade com a
regulamentação adoptada pelo conselho de administração.

Artigo 60.º

1- Cada comissão e cada tribunal determinarão os honorários e as


despesas com os seus membros dentro de limites estabelecidos pelo
conselho de administração, depois de consultado o secretário geral.
2- Nenhuma das disposições do n.º 1 do presente artigo obstará a que
as partes acordem previamente com a comissão ou com o tribunal os
honorários e as despesas com os seus membros.

Artigo 61.º

1- No caso dos processos de conciliação, os honorários e as despesas com


os membros da comissão, bem como os encargos pela utilização dos
serviços do Centro, serão suportados igualmente pelas partes. Cada parte
deverá suportar quaisquer outras despesas a que dê origem por exigência
do processo.
2- No caso dos processos de arbitragem, o tribunal deverá, excepto quando
acordado diferentemente entre as partes, fixar o montante das despesas a
que as partes deram lugar por exigências do processo e decidirá sobre as
modalidades de repartição e pagamento das ditas despesas, dos honorários
e dos encargos com os membros do tribunal, bem como dos resultantes da
utilização dos serviços do Centro. Tal decisão será parte integrante da
sentença.

CAPÍTULO VII
Local do processo

Artigo 62.º

Os processos de conciliação e arbitragem terão lugar na sede do Centro,


excepto no caso das disposições que se seguem.

Artigo 63.º

Os processos de conciliação e arbitragem poderão ter lugar, se assim for


acordado entre as partes:

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 254/266
a) Na sede do Tribunal Permanente de Arbitragem ou de qualquer outra
instituição apropriada, quer privada, quer pública, com a qual o Centro tenha
acordado as providências necessárias para o efeito; ou
b) Em qualquer outro local aprovado pela comissão ou pelo tribunal depois
de consultado o secretário-geral.

CAPÍTULO VIII
Diferendos entre Estados Contratantes

Artigo 64.º

Qualquer diferendo que surja entre Estados Contratantes referente à


interpretação ou aplicação da presente Convenção e que não seja resolvido
por negociação deverá ser levado perante o Tribunal Internacional de Justiça
a requerimento de qualquer das partes envolvidas no diferendo, excepto se
os Estados interessados acordarem noutro método de resolução.

CAPÍTULO IX
Alterações

Artigo 65.º

Qualquer Estado Contratante pode propor alterações à presente


Convenção. O texto de uma alteração proposta deverá ser comunicado ao
secretário-geral pelo menos 90 dias antes da reunião do conselho de
administração em que a mesma deva ser examinada e deverá ser
imediatamente transmitido por ele a todos os membros do conselho de
administração.

Artigo 66.º

1- Se o conselho de administração o aprovar por uma maioria de dois


terços dos seus membros, a alteração proposta deverá ser levada ao
conhecimento de todos os Estados Contratantes para ratificação, aceitação
ou aprovação. Todas as alterações deverão entrar em vigor 30 dias depois
do envio pelo depositário da presente Convenção de uma notificação aos
Estados Contratantes indicando que todos os Estados Contratantes
ratificaram, aceitaram ou aprovaram a alteração.
2- Nenhuma alteração afectará os direitos e obrigações de qualquer
Estado Contratante ou qualquer pessoa colectiva de direito público ou
organismos, dependentes desse Estado ou de um seu nacional previstos

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 255/266
pela presente Convenção, que decorram de uma aceitação da competência
do Centro, dada antes da data de entrada em vigor da alteração.

CAPÍTULO X
Disposições finais

Artigo 67.º

A presente Convenção está aberta para assinatura dos Estados membros do


Banco. Estará também aberta para assinatura de qualquer outro Estado
signatário do Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça que o conselho de
administração, por decisão de dois terços dos seus membros, tenha
convidado a assinar a Convenção.

Artigo 68.º

1- A presente Convenção será submetida a ratificação, aceitação ou


aprovação dos Estados signatários em conformidade com os seus
processos constitucionais.
2- A presente Convenção entrará em vigor 30 dias após a data do depósito
do vigésimo instrumento de ratificação, aceitação ou aprovação. Entrará em
vigor para cada Estado que subsequentemente depositar os seus
instrumentos de ratificação, aceitação ou aprovação 30 dias após a data de
tal depósito.

Artigo 69.º

Todos os Estados Contratantes tomarão as medidas legislativas ou


outras que considerem necesárias para permitir a efectivação da presente
Convenção no seu território.

Artigo 70.º

A presente Convenção aplicar-se-á a todos os territórios por cujas


relações internacionais foi responsável um Estado Contratante, excepto
aqueles que são excluídos pelo referido Estado através de notificação por

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 256/266
escrito ao depositário da presente Convenção ou na altura da ratificação,
aceitação ou aprovação, ou subsequentemente.

Artigo 71.º

Todos os Estados Contratantes podem denunciar a presente Convenção


através de notificação por escrito ao depositário da presente Convenção. A
denúncia terá efeito 6 meses após a recepção de tal notificação.

Artigo 72.º

A notificação feita por um Estado Contratante em conformidade com os


artigos 70.º ou 71.º não afectará os direitos e obrigações desse Estado ou de
qualquer pessoa colectiva pública ou organismo dependente ou ainda de
qualquer nacional de tal Estado, previsto pela presente Convenção, que
decorram de um consentimento à jurisdição do Centro, dado por um deles
antes de a referida notificação ter sido recebida pelo depositário.

Artigo 73.º

Os instrumentos de ratificação, aceitação ou aprovação da presente


Convenção e das emendas decorrentes deverão ser depositados junto do
Banco, que actuará como depositário da presente Convenção. O depositário
deverá transmitir cópias autenticadas da presente Convenção aos Estados
membros do Banco e a qualquer outro Estado convidado a assinar a Convenção.

Artigo 74.º

O depositário registará a presente Convenção junto do Secretariado das


Nações Unidas, em conformidade com o artigo 102 da Carta das Nações Unidas
e com os regulamentos dela decorrentes adoptados pela assembleia geral.

Artigo 75.º

O depositário notificará todos os Estados signatários do seguinte:


a) Assinaturas em conformidade com o artigo 67.º;
b) Depósito de instrumentos de ratificação, aceitação e aprovação em
conformidade com o artigo 73.º;
c) Data em que a presente Convenção entra em vigor em conformidade
com o artigo 68.º;
d) Exclusões da aplicação territorial em conformidade com o artigo 70.º;
e) Data em que qualquer alteração a esta Convenção entre em vigor em
conformidade com o artigo 66.º; e
f) Denúncias em conformidade com o artigo 71.º

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 257/266
Feito em Washington, em inglês, francês e espanhol, tendo os 3 textos
sido igualmente autenticados num único exemplar, que ficará depositado
nos arquivos do Banco Internacional para a Reconstrução e
Desenvolvimento, que indicou pela sua assinatura abaixo aceita as
funções que lhe são confiadas pela presente Convenção.

______________________________________________________________________
LAV COMENTADA 258/266
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