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A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem uma lista de 220 territórios nos quais a vacinação

contra a covid-19 já deveria ter sido iniciada. Pelo menos essa era a meta definida no início
deste ano: que nos primeiros 100 dias de 2021 as doses teriam começado a ser administradas
em todos. Neste sábado, 10 de abril, vencerá o prazo e a meta não foi atingida: em 14 países
ainda não há o menor rastro das vacinas, como reconhece a própria organização. “Alguns deles
não solicitaram vacinas, outros ainda não estão prontos e outros planejam começar nas
próximas semanas ou meses”, disse em uma entrevista coletiva o diretor-geral da OMS, Tedros
Adhanom Ghebreyesus.

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Adhanom detalhou que 194 países e economias já iniciaram a vacinação e outros 12


começarão em breve, pois acabaram de receber as primeiras doses ou devem recebê-las nos
próximos dias. Mas esta não foi a única falha da estratégia: tampouco se conseguiu atingir a
meta de distribuir 100 milhões de doses por meio do programa Covax, iniciativa liderada pela
OMS, pelas Nações Unidas e pela Aliança Global de Vacinas (GAVI) para garantir o acesso à
vacina a países em desenvolvimento. O objetivo final é entregar 2 bilhões de doses este ano
para todo o mundo, 80% delas para esses países com maiores dificuldades financeiras, mas nas
primeiras seis semanas de envios desde que o primeiro carregamento chegou a Gana em 24 de
fevereiro, só foram disponibilizadas 38 milhões. Dessa quantidade, mais de 37 milhões são da
empresa AstraZeneca. O atraso, segundo a OMS, se deve ao fato de que as principais empresas
farmacêuticas associadas ao Covax (AstraZeneca, Pfizer-BioNTech e o Instituto Serum da Índia)
estão otimizando seus processos de produção na fase inicial do lançamento.

No caso do Instituto Serum, além disso, o atraso está acontecendo porque a Índia, país onde
está localizada a produção, enfrenta uma grave segunda onda da pandemia, o que levou as
autoridades nacionais a aumentarem o ritmo de vacinação e isso provocou uma redução da
quantidade de doses destinadas à exportação.

Adhanom insistiu que a vacinação ainda é muito desigual no mundo, já que das mais de 700
milhões de doses administradas no planeta até hoje, 87% foram inoculadas nos países mais
ricos e apenas 0,2% foram para os países de menor renda, algo que o mais alto representante
da OMS descreveu como um “desequilíbrio escandaloso”. “Nos países de alta renda, uma em
cada quatro pessoas em média já foi vacinada, enquanto nos países pobres apenas uma em
cada 500 foi imunizada”, denunciou.

A ameaça de aumento da desigualdade

O especialista etíope acrescentou que os acordos e doações bilaterais que alguns países optam
por fazer fora do programa Covax “ameaçam aumentar a desigualdade na vacinação” e alertou
que a escassez de doses “alimenta o nacionalismo e o uso das vacinas com fins diplomáticos”.

“Necessitamos do apoio contínuo de Governos e fabricantes, pois toda vez que um acordo
bilateral é feito sem passar pelo Covax, isso significa menos doses para o programa”,
acrescentou o diretor executivo da GAVI, Seth Berkley. O norte-americano manifestou
confiança em que os atuais problemas de abastecimento do Covax serão resolvidos no
segundo semestre. “E poderemos nos beneficiar do aumento da capacidade de produção.”

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