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Universidade Nove de Julho – UNINOVE

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CEP: 01504-001 – Liberdade – São Paulo, SP – Brasil
Tel.: (11) 3385-9191 – editora@uninove.br
Sandra Kalil Bussadori
Lara Jansiski Motta
Marcelo Mendes Pinto
organizadores

MANUAL DE PROTOCOLOS
CLÍNICOS EMPREGADOS EM
ODONTOPEDIATRIA

São Paulo
2017
© 2017 UNINOVE
Todos os direitos reservados. A reprodução desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação do copyright (Lei nº 9.610/98). Nenhuma parte desta publicação
pode ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização da UNINOVE.

Conselho Editorial: Eduardo Storópoli


Maria Cristina Barbosa Storópoli
Nadir da Silva Basilio
Cristiane dos Santos Monteiro
Cinthya Cosme Gutierrez Duran
Renata Mahfuz Daud Gallotti

Os conceitos emitidos neste livro são de inteira responsabilidade dos autores

Capa: Big Time Serviços Editoriais


Criança da capa: Lívia Motta Cannavan
Diagramação: Marcella Mendonça Cavalheiro
Revisão: Big Time Serviços Editoriais

Catalogação na Publicação (CIP)


Cristiane dos Santos Monteiro - CRB/8 7474
--------------------------------------------------------------------------------------------------
Manual de protocolos clínicos empregados em odontopediatria /
organizadores, Sandra Kalil Bussadori, Lara Jansiski Motta,
Marcelo Mendes Pinto. — São Paulo : Universidade Nove de Julho –
UNINOVE, 2017.
202 p. ; il. (algumas color.)

ISBN: 978-85-89852-56-2 (e-book)


ISBN: 978-85-89852-59-3 (impresso)

I. Odontopediatria – Protocolos clínicos. II. Autores. III. Título

CDU 616.314-053.2

--------------------------------------------------------------------------------------------------
Sumário

Apresentação............................................................... 8

Capítulo 1
Dentições decídua e mista: características
e alterações................................................................. 9
Sandra Kalil Bussadori; Marcelo Mendes Pinto; Olga Maria Altavista;
Eugênio Garcia

Capítulo 2
Anatomia de dentes decíduos.................................. 22
Marcelo Mendes Pinto; Lara Jansiski Motta; Sandra Kalil Bussadori

Capítulo 3
Manejo da criança no atendimento
odontológico............................................................ 36
Katia Lumi Tanikawa-Vergilio

Capítulo 4
Anamnese e exame clínico........................................ 57
Sandra Kalil Bussadori; Marcelo Mendes Pinto; Lara Jansiski Motta;
Carolina Carvalho Bortoletto

Capítulo 5
Técnicas radiográficas aplicadas à
odontopediatria........................................................ 63
Lara Jansiski Motta; Marcelo Mendes Pinto; Camila Haddad Leal de
Godoy; Olga Maria Altavista; Sandra Kalil Bussadori
Capítulo 6
Anestesia local em odontopediatria:
técnicas e considerações básicas........................... 72
Sandra Kalil Bussadori; Marcelo Mendes Pinto; Lara Jansiski Motta;
Eugênio Garcia

Capítulo 7
Terapêutica medicamentosa em
odontopediatria........................................................ 88
Marcelo Mendes Pinto; Lara Jansiski Motta; Sandra Kalil Bussadori

Capítulo 8
Diagnóstico de lesões de cárie............................ 110
Silvia Regina Garcia Olivan; Ravana Angelini Sfalcin; Marcelo Mendes
Pinto; Lara Jansiski Motta; Sandra Kalil Bussadori

Capítulo 9
O papel do flúor na prevenção e tratamento
da doença cárie....................................................... 118
Lara Jansiski Motta; Marcelo Mendes Pinto; Katia Lumi Tanikawa-
Vergilio; Carolina Carvalho Bortoletto; Sandra Kalil Bussadori

Capítulo 10
Materiais dentários aplicados na
odontopediatria...................................................... 132
Sandra Kalil Bussadori; Ravana Angelini Sfalcin; Lara Jansiski Motta;
Marcelo Mendes Pinto
Capítulo 11
Procedimentos restauradores em
odontopediatria...................................................... 151
Camila Haddad Leal de Godoy; Marcelo Mendes Pinto; Lara Jansiski
Motta; Sandra Kalil Bussadori

Capítulo 12
Tratamento endodôntico de dentes decíduos.....160
Lara Jansiski Motta; Marcelo Mendes Pinto; Sandra Kalil Bussadori

Capítulo 13
Procedimentos cirúrgicos em
odontopediatria...................................................... 175
Marcelo Mendes Pinto; Lara Jansiski Motta; Sandra Kalil Bussadori

Capítulo 14
Remoção química e mecânica da cárie................ 194
Sandra Kalil Bussadori; Lara Jansiski Motta; Marcelo Mendes Pinto

Os Autores............................................................... 200
8 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Apresentação VOLTAR AO
SUMÁRIO

A Odontologia acompanha as constantes inovações tecnológicas


e a atualização do conhecimento se faz necessária. Acreditamos que um
dos nossos papéis como docentes é contribuir na condução do caminho
de desenvolvimento dos profissionais.
A Odontopediatria segue a evolução científica sem perder a prin-
cipal filosofia de promover saúde desde a infância. Neste contexto, este
livro compreende os temas mais relevantes para o cotidiano clínico no
atendimento odontopediátrico, apresentados de maneira clara e objetiva
tanto para o aluno de graduação quanto para o profissional em exercício.
Ao planejarmos este material, a maior preocupação foi organizar a
apresentação dos conceitos e técnicas com a visão do atendimento inte-
gral à criança. Os temas abordados contemplam a nossa ideologia huma-
nista de promover saúde nos diferentes níveis de atenção, que abrangem
desde a educação e orientação para manutenção da saúde e prevenção
das doenças até a necessidade de reabilitação bucal.
Este livro fortalece a nossa missão de compartilhar a experiência
clínica e os novos conhecimentos com os estudantes. Acreditamos tam-
bém que estamos sempre aprendendo e nunca o fazemos sozinhos, por-
tanto agradecemos especialmente aos professores Eduardo e Cristina,
que nos concederam esta linda oportunidade, e aos nossos valiosos co-
laboradores no desenvolvimento deste importante material.
Desejamos aos leitores que, ao entrar em contato com os protoco-
los aqui sugeridos, mergulhem conosco no propósito maior, que é favo-
recer a possibilidade do maior número de sorrisos saudáveis.

Os Autores
Dentições decídua e mista: características e alterações - 9

Capítulo 1 VOLTAR AO
Dentições decídua e mista: SUMÁRIO
características e alterações

Sandra Kalil Bussadori


Marcelo Mendes Pinto
Olga Maria Altavista
Eugênio Garcia

Introdução
O conhecimento das características normais de cada uma das den-
tições é de suma importância, pois no transcurso da vida do paciente po-
dem acontecer processos cariosos, traumatismos, instalação de hábitos
ou perdas precoces de elementos dentários que podem provocar proble-
mas futuros de maloclusões na dentição permanente.

Dentição decídua (do nascimento aos 3 anos de idade)


Ao nascimento as crianças apresentam uma relação posterior da
mandíbula em relação à maxila; situação que vai se corrigir antes da erup-
ção dentária. O terço inferior do rosto é o menor se comparado aos ou-
tros terços. Os incisivos e caninos encontram-se com alguma frequência
apinhados e os molares decíduos situam-se sem apinhamento e inclusive
com algum espaço entre eles. Os arcos alveolares (roletes gengivais) são
predominantemente em forma de “U” (inferior) e de ferradura no superior.
Temos nessa fase pequenos movimentos mandibulares devido ao
pouco desenvolvimento da cavidade articular e do côndilo. Por isso não
podemos em momento algum dissociar a função muscular e seu desen-
volvimento para o correto arranjo oclusal.
Entre os 6-8 meses de vida pós-natal, a maxila e a mandíbula cres-
cem extensivamente. A mandíbula vai para uma posição mais anteriori-
zada em relação à maxila, promovendo uma relação similar à mantida
quando se estabelecerá o completo desenvolvimento da dentição decí-
10 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

dua. O crescimento transversal é atribuído à presença da sutura palatina


e da sínfise mandibular. É nesta idade que acontece a erupção dos dentes
anteriores. Após os 12 primeiros meses, o crescimento da região ante-
rior dos maxilares fica limitado, sendo que os setores posteriores con-
tinuam crescendo criando espaço para a erupção dos molares. A partir
dos 16 meses aparece um contato vertical entre ambas as arcadas a par-
tir dos primeiros molares decíduos.
A dentição decídua se completa no período entre 24-30 meses,
quando acontece a erupção dos segundos molares decíduos (Tabela 1).
O crescimento vai somente reiniciar com a erupção dos dentes perma-
nentes. Neste período, a formação coronária dos permanentes acontece
de forma simultânea, podendo observar-se radiograficamente o posi-
cionamento das coroas dos permanentes lingualmente (incisivos), api-
calmente (caninos e pré-molares) em relação aos ápices dos decíduos.

Tabela 1 – Crescimento e desenvolvimento da dentição decídua


DENTIÇÃO DECÍDUA

Início da Formação
Erupção Esfoliação
calcificação completa
Superiores Inferiores Superiores Inferiores
Incisivos 18º-24º
4º mês fetal 6-10 meses 5-8 meses 7-8 anos 6-7 anos
centrais mês
Incisivos 18º-24º 7-10
4º mês fetal 8-12 meses 8-9 anos 7-8 anos
laterais mês meses
30º-39º 16-20 16-20
Caninos 4º mês fetal 11-12 anos 9-11 anos
mês meses meses
Primeiros 24º-30º 11-18 11-18 10-12
4º mês fetal 9-11 anos
molares mês meses meses anos
Segundos 20-30 20-30 11-13
4º mês fetal 36º mês 9-12 anos
molares meses meses anos

Fonte: Logan et al. 1933


Dentições decídua e mista: características e alterações - 11

Vista vestibulolingual da dentição decídua completa


A arcada decídua carece das inclinações características da den-
tição permanente (Curva Spee). Os dentes estão implantados vertical-
mente na base óssea e, como consequência, as faces oclusais estão num
mesmo plano. A Articulação Temporomandibular (ATM) encontra-se si-
tuada na altura deste plano.
A presença ou não de diastemas na região anterior (superior e in-
ferior) permitirá classificar a arcada decídua em tipo I ou II (Baume):

✓✓ Tipo I: há diastemas nos dentes anteriores, favorecendo a erup-


ção dos permanentes.
✓✓ Tipo II: sem diastemas nos dentes anteriores, favorecendo a
aparição de apinhamento quando há erupção dos permanentes.

O espaço primata é um diastema que pode aparecer na dentição


decídua entre o canino e o primeiro molar decíduo (mandíbula) e entre
o incisivo lateral e o canino (maxila). Nos molares decíduos podem apa-
recer alguns espaçamentos que tendem a fechar-se em função do cresci-
mento ósseo e das forças oclusais.
A relação distal dos segundos molares decíduos superiores e infe-
riores (antes da erupção dos permanentes) pode ser de 3 tipos:

✓✓ Em plano: 76% dos casos e mais comum aos 3 anos de idade.


A erupção do primeiro molar permanente transforma a relação
em degrau mesial.
✓✓ Degrau mesial para a mandíbula (14%): favorecerá a oclusão
dos molares permanentes em Classe I.
✓✓ Degrau distal para a mandíbula (10%): favorece a oclusão dos
molares permanentes em Classe II (maloclusão).
12 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Vista ântero-posterior da dentição decídua completa


Ausência da curva de Wilson. Também se observa uma discre-
ta inclinação do longo eixo dos inferiores para lingual e dos superiores
para vestibular.

Vista oclusal da dentição decídua completa


A arcada dentária pode apresentar várias formas (cônica 5%; oval
30% e trapezoidal 65% dos casos), tomando como referência a linha que
passa pela face vestibular dos dentes.
Outra forma é traçando uma circunferência passando pelas bordas
incisais de canino a canino e pelo sulco principal do primeiro molar, cor-
tando a cúspide distopalatina do segundo molar na arcada superior. Na
arcada inferior, a circunferência passa pelas bordas incisais de canino a
canino, pela cúspide vestibular do primeiro molar e pelo sulco principal
do segundo molar decíduo (Análise de Carrea).

Dentição mista
Com a erupção dos primeiros molares permanentes começam a
surgir novas transformações (aparecimento das curvas de Spee e Wilson
e modificações na ATM). Acontece o segundo ganho de dimensão verti-
cal, que se completa com a erupção dos segundos molares permanentes.
A correta acomodação dos dentes permanentes dependerá do
crescimento das bases ósseas nos três planos do espaço:

✓✓ Ântero-posterior: crescimento da porção distal dos ossos man-


dibular e maxilar para acomodação dos molares permanentes;
✓✓ Lateral: crescimento (por volta dos 5 anos) na região intercani-
nos precedendo a erupção dos incisivos, que ajuda a compensar
a discrepância entre o tamanho da base óssea e os dentes (cer-
ca de 6 mm). O segundo surto nesta região acontece durante a
transição dos caninos.
Dentições decídua e mista: características e alterações - 13

✓✓ Altura: para permitir a acomodação dos dentes decíduos e per-


manentes (ainda dentro da base óssea).

A substituição dos dentes decíduos pelos permanentes determina


a aparição da curva de Spee, pois estes possuem uma inclinação típica
para mesial. Da mesma forma, o longo eixo dos dentes permanentes in-
feriores apresenta uma inclinação axial para lingual e nos superiores para
vestibular, determinando a aparição da curva de Wilson.
A relação distal dos molares decíduos e a presença de espaço prima-
ta influenciará a “chave” da oclusão dos primeiros molares permanentes:

1. Plano terminal reto: Os molares permanentes alcançam uma re-


lação de Classe I favorecidos pelo deslocamento mesial após
perda do segundo molar decíduo, maior crescimento anterior da
mandíbula, soma do diâmetro mesiodistal dos molares decíduos
maior que dos pré-molares e pelo “espaço livre de Nance” ser
maior na mandíbula. Em situações onde falte o espaço primata
ou haja uma tendência esquelética de maxila para anterior, se
instalará uma Classe II no final da dentição mista.
2. Relação em degrau mesial: favorece a erupção imediata dos
primeiros molares em Classe I. Nos casos de degrau excessi-
vo, pode tornar-se uma má oclusão de Classe III.
3. Relação degrau distal: resultaria sempre numa oclusão em
Classe II na dentição permanente, já que reflete diretamen-
te no padrão esquelético de Classe II sem oportunidade de
autocorreção.

Numa oclusão normal, a sobremordida (distância entre a borda


dos incisivos superiores que trespassam sobre a borda dos incisivos in-
feriores no sentido vertical) pode variar em até 3 mm. De forma geral,
a coroa dos incisivos inferiores está coberta em aproximadamente um
terço pelos superiores.
14 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

A sobressaliência (distância horizontal entre a superfície palatina


dos incisivos superiores e a superfície vestibular dos inferiores) é con-
siderada normal e esteticamente aceitável quando varia de 0-3 mm e é
acompanhada das seguintes condições: numa posição de repouso dos ma-
xilares, deve haver contato labial sem esforço; e se os incisivos inferiores
não se sobrepuserem ao lábio oposto quando em repouso ou em função.
Observa-se uma maior inclinação para vestibular na base óssea dos
incisivos permanentes, comparados aos decíduos. Esse fato leva ao au-
mento do perímetro da arcada facilitando a acomodação dos dentes. E en-
tre os 8 aos 12 anos de idade surge a “fase do patinho feio” [Broadbent]
devido a maior vestibuloversão e divergência do longo eixo de apical
para incisal dos incisivos superiores permanentes, determinando dias-
temas. Esta fase fisiológica tende a desaparecer com a erupção dos ca-
ninos permanentes.
A partir da erupção dos primeiros molares permanentes também
se observam modificações acentuadas na ATM, estendendo-se até os 16
anos de idade.
A cronologia da formação e erupção da dentição permanente de-
pende de vários fatores (alimentação, clima, gênero, etnias), mas de for-
ma simplificada pode ser resumida na tabela 2.
Dentições decídua e mista: características e alterações - 15

Tabela 2 – Crescimento e desenvolvimento da dentição permanente

DENTIÇÃO PERMANENTE
Coroa
Início da Raiz Erupção Superiores
(esmalte)
calcificação completa Inferiores
completa
Incisivos 7-8 anos 6-7 anos
3-4 meses 4-5 anos 9-10 anos
centrais (4) (2)
Superiores: 10-12
Incisivos 11 anos 8-9 anos 7-8 anos
meses 4-5 anos
laterais 10 anos (5) (3)
Inferiores: 3-4 meses
11-12 9-11 anos
Caninos 4-5 meses 6-7 anos 12-15 anos
anos (11) (6)
Primeiros
10-11 10-12
pré- 18-24 meses 5-6 anos 12-13 anos
anos (8) anos (7)
molares
Segundos
10-12 11-13
pré- 24-30 meses 6-7 anos 12-14 anos
anos (10) anos (9)
molares
Primeiros 30-36 5,5-7 5,5-7
Nascimento 9-10 anos
molares meses anos (1a) anos (1)
12-14
Segundos 12-14
30-36 meses 7-8 anos 14-16 anos anos
molares anos (12)
(12a)
Superiores: 7-9 anos 17-30
Terceiros 17-30
anos
molares Inferiores: 8-10 anos anos (13)
(13a)
Os números entre parêntese indicam a ordem na erupção segundo Lö e Moyers. A
dentição mista vai desde os 6 até os 13 anos de idade aproximadamente, sendo que a
criança possui ambas as dentições.

Fonte: Logan et al. 1933

Considerações sobre as alterações da dentição decídua e mista


O desenvolvimento da dentição deve ser monitorado durante todo
o processo eruptivo. O exame radiográfico, quando necessário e viável,
deve acompanhar o exame clínico. O diagnóstico de anomalias do de-
senvolvimento dentário primário ou permanente e de erupção deve ser
feito para informar os pais do paciente e para planejar e recomendar a
intervenção apropriada. Esta avaliação deve acontecer em todas as fa-
ses do desenvolvimento:
16 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

✓✓ Dentição primária: As anomalias dos dentes decíduos e da erup-


ção podem não ser evidentes antes da erupção propriamente dita,
devido a que a criança pode não estar sendo levada para exame
dentário ou porque o exame radiográfico não é possível em uma
criança pequena. Os objetivos da avaliação incluem identifica-
ção de: anomalias de número e tamanho dos dentes; mordidas
cruzadas anterior/posterior; presença de hábitos ou sequelas des-
tes a nível dental ou esquelético; e problemas das vias aéreas.
✓✓ Dentição mista: Os objetivos da avaliação continuam iguais.
A palpação de dentes inclusos deve ser parte de cada exame.
Radiografias panorâmicas, oclusais e periapicais, fornecem in-
formações de diagnóstico em matéria de: dentes inclusos; au-
sência/agenesia, supranumerários; tamanho e forma dos dentes;
posições (por exemplo, primeiros molares permanentes ectópi-
cos); discrepâncias esqueléticas (apinhamento dentário ou dias-
temas); e saúde periodontal.

Hábitos orais
Os hábitos orais podem aplicar forças aos dentes e às estruturas
dentoalveolares e dependendo da sua frequência, duração e intensidade
podem estar associados a deformações como overjet aumentado, over-
bite reduzido, mordida cruzada posterior ou altura facial aumentada.
A identificação de hábitos anormais (sucção sem base nutricional,
bruxismo, interposição lingual na deglutição, comportamentos de auto-
mutilação [sucção labial, mordida labial ou lingual], respiração bucal,
síndrome da apneia obstrutiva do sono) e a avaliação de seus potenciais
efeitos imediatos e de longo prazo sobre o complexo craniofacial e na
dentição deve ser feita o mais cedo possível. Os pacientes e seus pais de-
vem ser devidamente informados sobre as consequências destes hábitos.
Inclusive, os pais podem estar desempenhando um papel negativo na
correção de um hábito oral; às vezes, certas mudanças no ambiente do-
méstico podem ser necessárias antes de corrigir um hábito.
Dentições decídua e mista: características e alterações - 17

O tratamento específico será direcionado para diminuir ou elimi-


nar o hábito e minimizar os efeitos deletérios potenciais sobre o com-
plexo dentofacial.

Alterações no número de dentes

Ausência congênita de dentes


A ausência congênita de um ou mais dentes decíduos (hipodontia)
tem uma prevalência de 0,1-0,9%, e quase sempre afeta os incisivos su-
periores e os primeiros molares decíduos. Na dentição permanente tem
uma prevalência maior, de 3,5 a 6,5​%. Excluindo os terceiros molares,
o dente permanente mais frequentemente ausente é o segundo pré-mo-
lar inferior, seguido pelo incisivo lateral superior.
O tratamento deve ser dirigido para uma oclusão esteticamente agra-
dável e que funcione bem para cada paciente em particular dependendo do
momento do diagnóstico e das condições bucais e anseios a serem atingidos.

Dentes supranumerários
(decíduos, permanentes e mesiodens)
Os dentes supranumerários (hiperdontia) são cinco vezes mais
comuns na dentição permanente. A prevalência nas dentições decídua e
mista é de 0,52-2%. Entre 80-90% dos supranumerários acontecem no
maxilar, sendo que metade deles aparece no setor anterior e quase todos
na região palatina. E em 1/3 dos casos, todo supranumerário decíduo é
seguido de um supranumerário permanente.
O manejo e o tratamento da hiperdontia difere se o dente é decí-
duo ou permanente. Em geral, supranumerários decíduos estão alinha-
dos na arcada dentária e esfoliam normalmente. A cirurgia para remoção
de supranumerários decíduos retidos é desaconselhada para evitar da-
nos aos dentes permanentes. Por outro lado, e remoção de supranume-
rários permanentes facilita a erupção do dente permanente e promove
18 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

o correto alinhamento destes. Nos casos em que o alinhamento normal


ou erupção espontânea não ocorre, o tratamento ortodôntico é indicado.

Alterações na posição da erupção dentária

Erupção ectópica
A erupção ectópica dos primeiros molares permanentes ocorre de-
vido ao trajeto anormal da erupção (mesioangulado), resultando em uma
impactação na proeminência distal do segundo molar primário. Esta con-
dição ocorre em até 3% da população, mas é mais comum em crianças
com fissura de lábiopalatinas. No canino superior aparece em 1,5-2 %
da população, enquanto que nos incisivos superiores se dá em até 2%
da população. Os incisivos também podem ter alterada sua erupção de-
vido à necrose pulpar (após trauma ou cárie) ou tratamento pulpar do
incisivo decíduo.
A intervenção nos dentes com erupção ectópica deve resultar num
melhor posicionamento eruptivo dos dentes. Nos casos em que o alinha-
mento normal não ocorre, o tratamento ortodôntico subsequente pode ser
necessário para alcançar uma adequada forma de arco e intercuspidação.

Anquilose
Anquilose é uma condição na qual o cemento da raiz de um den-
te funde diretamente com o osso circundante. O ligamento periodontal
é substituído por tecido ósseo, tornando imóvel o dente para o processo
esfoliativo/eruptivo. Pode ocorrer nas dentições decídua e permanente,
sendo mais comum molares decíduos. A incidência é entre 7-14% na den-
tição primária. Na dentição permanente, a anquilose ocorre com maior
frequência em casos de lesões por luxação.
A anquilose pode ser verificada por meios clínicos e radiográficos.
O dente afetado em infraoclusão é um sinal reconhecível primário, mas
também pode ser utilizada a percussão e a palpação. O exame radiográ-
Dentições decídua e mista: características e alterações - 19

fico também pode revelar a perda do ligamento periodontal e a forma-


ção da junção óssea.
Em todos os casos, o tratamento da anquilose deveria resultar no
desenvolvimento normal contínuo da dentição permanente.

Discrepância entre tamanho dentário/arco dentário


(apinhamento)
O inadequado comprimento do arco, com o consequente apinha-
mento dentário, é uma ocorrência comum na dentição mista precoce e
traz várias sequelas negativas. Este tipo de discrepância geralmente vem
em conjunto com outras anomalias como agenesia, dentes supranumerá-
rios etc. O diagnóstico precoce, quando os incisivos inferiores começam
a entrar em erupção, ajudará a: prevenir o apinhamento dos incisivos;
aumentar a estabilidade das posições dos incisivos a longo prazo; dimi-
nuir a erupção ectópica e impactação dos caninos permanentes; reduzir
o tempo de tratamento ortodôntico e sequelas; melhorar a saúde gengi-
val e a saúde dental geral.

Manutenção e recuperação de espaços


A perda prematura de dentes decíduos por cárie, traumatismo,
erupção ectópica ou outras causas pode levar a movimentos dentários
indesejáveis ​​de dentes decíduos/ permanentes, incluindo a perda de
comprimento do arco. As deficiências no comprimento do arco podem
produzir ou aumentar a gravidade das más oclusões com apinhamento,
rotações, erupção ectópica, mordida cruzada, overjet/overbite excessi-
vo, e relações molares desfavoráveis.
O objetivo da manutenção ou recuperação de espaços é evitar alte-
rações no comprimento, largura e perímetro do arco, conservando a posi-
ção relativa dos dentes pré-existentes. A decisão pelo uso de dispositivos
com este fim deve estar baseada em evidências científicas e levar em
consideração fatores como: dente perdido; tempo transcorrido; oclusão
pré-existente; análise do espaço favorável; presença e desenvolvimento
20 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

radicular do sucessor permanente; quantidade de osso alveolar cobrin-


do o sucessor permanente; o estado de saúde do paciente; a capacidade
de cooperação do paciente; presença de hábitos bucais; e higiene oral.

Mordida cruzada (dental, funcional ou esqueletal)


Mordidas cruzadas são definidas como qualquer relação vestíbu-
lo-lingual anormal entre incisivos, molares ou pré-molares antagonistas
em relação cêntrica. Se as linhas médias sofrem uma mudança habitual
ou compensatória durante a oclusão, a alteração é denominada funcio-
nal. A mordida cruzada pode ser de origem dentária ou esquelética ou
uma combinação de ambas.
A decisão do tratamento dependerá de alguns fatores como: quan-
tidade e tipo de movimento; do espaço disponível; das relações esquelé-
ticas; do estado de crescimento; da cooperação do paciente. O objetivo
final deve buscar melhorar o alinhamento intramaxilar e uma oclusão e
função aceitável entre as arcadas dentárias.

Más oclusões Classe II e Classe III


A classificação de Angle das maloclusões considera a relação ânte-
ro-posterior normal dos caninos e da cúspide mésio-vestibular do primei-
ro molar superior permanente com o sulco vestibular do primeiro molar
inferior permanente. A má oclusão Classe II (distoclusão) pode ser uni-
lateral ou bilateral e envolve uma relação distal da mandíbula à maxila
ou dos dentes inferiores aos dentes superiores. Essa relação pode resultar
de fatores dentais (mau posicionamento dos dentes nas arcadas), esque-
léticos (retrusão mandibular e/ou protrusão maxilar), ou uma combina-
ção de ambas. Já na Classe III, os dentes inferiores se encontram numa
relação mesial com os superiores provocando geralmente mordida cru-
zada no setor anterior e uma inclinação excessiva dos incisivos inferio-
res pela pressão da musculatura do lábio inferior nas faces vestibulares
destes durante o fechamento da boca.
Dentições decídua e mista: características e alterações - 21

O tratamento deve devolver uma aparência estética e perfil com-


patível com a morfologia do esqueleto do paciente. Para isto, certos fa-
tores deverão ser considerados: padrão de crescimento facial, grau de
discrepância ântero-posterior, idade do paciente, analise do espaçamen-
to dentário, dispositivos ortodônticos, exodontia e complementação com
cirurgia ortognática entre outros.

____________________
Referências
GUEDES-PINTO, A.C. MYAKI ISSÁO, E. Manual de odontopediatria. 11.
ed. São Paulo: Santos. 2006.
LOGAN W.H.G, KRONFELD R. Development of the human jaws and sur-
rounding structures from birth to the age of fifteen years. Journal of American
Dental Association (1922), [Chicago], v. 20, n. 3, p. 379-427, 1933. Disponível
em: <http://dx.doi.org/10.14219/jada.archive.1933.0080>.
ASH, M.M; NELSON, J.S. Wheeler: anatomia dental, fisiologia e oclusão. 9.
ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
CHEDID, S.J. Ortopedia e ortodontia para a dentição decídua: atendimen-
to integral ao desenvolvimento da oclusão infantil. São Paulo: Santos, 2013.
Anatomia de dentes decíduos - 22

Capítulo 2 VOLTAR AO
Anatomia de dentes decíduos SUMÁRIO

Marcelo Mendes Pinto


Lara Jansiski Motta
Sandra Kalil Bussadori

Introdução
É comum o paciente leigo na odontologia fazer referência aos den-
tes de “leite” da criança quando precisam informar ao cirurgião dentista
quaisquer alterações observadas nos dentes das crianças. O termo de-
cíduo vem do latim “decidere”, e significa tudo o que se perde de for-
ma fisiológica no organismo, ou seja, se o dente é considerado decíduo,
em condições fisiológicas é esperado que no final do seu ciclo biológico
ele esfolie. Algumas características do dente decíduo podem envolver
aspectos relacionados à formação e desenvolvimento (odontogênese),
cronologia de erupção, perda fisiológica e diferenças anatômicas que o
distingue do dente permanente.

Características gerais dos dentes


Os dentes apresentam características comuns para as duas den-
tições: decídua e permanente. Em conjunto, desempenham funções de
mastigação, proteção e sustentação dos tecidos moles, auxiliam na fo-
nação e são fundamentais para a estética facial. Os dentes fixam-se no
tecido ósseo através do ligamento dento alveolar.
Os dentes compreendem os grupos dos incisivos, caninos, pré-
-molares e molares, cada qual adaptado a sua função. O humano apre-
senta no arco decíduo 20 dentes e no permanente 32 dentes, dispostos
de acordo com a tabela 1.
23 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Tabela 1 – Descrição das características dos arcos decíduos e permanentes

Número
Tipo de arco Grupos dos dentes Tipo dos dentes
de dentes

Decíduo 20 Incisivos decíduos (8) Incisivo Central Decíduo

Caninos decíduos (4) Incisivo Lateral Decíduo

Molares decíduos (8) Canino Decíduo

1º Molar Decíduo

2º Molar Decíduo
Permanente 32 Incisivos (8) Incisivo Central

Caninos (4) Incisivo Lateral

Pré-molares (8) Canino

Molares (12) 1º Pré-molar

2º Pré-molar

1º Molar

2º Molar

3º Molar

Fonte: Os autores

Os dentes apresentam-se bem delimitados e são formados pela


coroa e raiz(es), unidas na porção cervical pelo colo, que pode ser deli-
mitada por uma linha chamada de linha cervical. (Figura 1)
Anatomia de dentes decíduos - 24

Figura 1 – Divisão anatômica do elemento dental em coroa e raiz. A


linha em vermelho indica a junção entre coroa e raiz, denominada
de linha cervical.
Fonte: Os autores

A coroa dental possui diferentes faces. Recebe o nome de vesti-


bular (V) a face do dente que está voltada para o vestíbulo da boca e a
que se volta para a lingual é denominada de face lingual (L). Essas faces
se opõem e são conhecidas como faces livres. As faces proximais, que
contactam um dente a outro, são chamadas de mesial (M) e distal (D). A
face mesial é a porção do dente mais próxima ao plano sagital mediano,
enquanto que a face distal é aquela distante do plano sagital mediano.
As Figuras 2 e 3 mostram a relação das faces em dentes anteriores e
posteriores decíduos.
25 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Figura 2 – Incisivo central decíduo inferior esquerdo com


as indicações das faces mesial, distal, vestibular e lingual
Fonte: Os autores

Figura 3 – Coroa do 2º Molar decíduo inferior com as indicações


das faces mesial (M), distal (D), vestibular, lingual e oclusal.
Fonte: Os autores

Com o objetivo de descrever uma porção específica do dente ou


mesmo localizar algum detalhe anatômico ou alteração, os dentes po-
dem ser divididos em terços delimitados por linhas virtuais verticais e
horizontais. Se as linhas são verticais tem-se o dente dividido nos ter-
ços mesial, médio e distal. Se as linhas forem horizontais, divide-se o
Anatomia de dentes decíduos - 26

dente nos terços cervical, médio e incisal (anteriores) ou oclusal (pos-


teriores) (Figura 4).

Figura 4 – Divisão dos terços. As linhas verticais (esquerda)


dividem o dente decíduo nos terços mesial, médio e distal.
As linhas horizontais (direita) dividem o dente decíduo nos
terços cervical, médio e incisal.
Fonte: Os autores

Detalhes anatômicos da coroa (terminologia)


Os elementos morfológicos que os dentes apresentam são carac-
terizados por estruturas elevadas e depressões que podem ser conceitu-
adas da seguinte forma:

✓✓ Cíngulo – proeminência arredondada localizada no terço cer-


vical e médio da face lingual dos incisivos e caninos. É a por-
ção mais elevada nesses dentes.
✓✓ Cúspide – proeminência em forma de pirâmide de base qua-
drangular, presente nos dentes pré-molares e molares. São for-
madas por vertentes lisas e triturantes.
✓✓ Crista Marginal – eminência linear situada nas bordas mesial e
distal da face lingual dos dentes anteriores, que liga o cíngulo
27 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

aos ângulos incisais. Nos pré-molares e molares as cristas mar-


ginais estão situadas nas bordas mesial e distal da face oclusal
e estende-se das cúspides vestibulares às linguais. São estrutu-
ras de reforço anatômico importantes.
✓✓ Ponte de Esmalte – eminência linear que une as cúspides, interrom-
pendo o caminho de um sulco principal. A ponte de esmalte está
presente no primeiro molar decíduo inferior, segundo molar decí-
duo superior, primeiro pré-molar inferior e primeiro molar superior.
✓✓ Tubérculo – proeminência menor que a cúspide. O tubérculo
de Carabelli, localizado na região mesial da face lingual do pri-
meiro molar superior, e o Tubérculo molar (Zuckerkandl), mais
evidente na região mesial e cervical da face vestibular do pri-
meiro molar inferior decíduo, são estruturas constantes.
✓✓ Bossa – é a porção mais elevada, arredondada, situada no terço
cervical da face vestibular de todos os dentes, entre os terços cer-
vical e médio da face lingual dos pré-molares e molares. Também
estão presentes nas faces proximais na região do ponto de contato.
✓✓ Sulco Principal e Sulco Secundário – o sulco principal é uma
depressão aguda, evidente e estreita que separa as cúspides. O
sulco principal mesiodistal separa as cúspides vestibulares das
linguais, enquanto que o sulco oclusovestibular e oclusolingual
separam as cúspides em mesial e distal. O sulco secundário é
pequeno e raso, distribuídos pela face oclusal sobre as cúspi-
des e crista marginal. Tem a função de aumentar a rugosidade
da superfície e melhorar a eficiência da trituração do alimento.
✓✓ Fóssulas – são depressões localizadas na terminação do sulco
principal, junto à crista marginal, na face vestibular dos mola-
res ou no cruzamento entre dois sulcos principais.

As Figuras 5 e 6 mostram os principais detalhes anatômicos en-


contrados nos dentes decíduos.
Anatomia de dentes decíduos - 28

Figura 5 – Detalhes anatômicos encontrados nos dentes


anteriores decíduos vistos por vestibular, proximal e lingual.
1, 2 e 3 – Bossas específicas da região; 4 – Cíngulo; 5 – Cristas
marginais.
Fonte: Os autores

Figura 6 – Detalhes anatômicos encontrados nos dentes molares


decíduos. 1 – Posição da ponte de esmalte; 2 – Tubérculo molar
(ZuckerKandl); 3 – Sulco principal mesiodistal e oclusolingual;
4 – Fóssulas; 5 – Cúspides; 6 – Crista marginal; 7 – Tubérculo
de Carabelli.
Fonte: Os autores
29 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Diferenças entre as dentições


As principais diferenças entre as dentições decíduas e permanen-
tes são descritas a seguir:

Número de dentes – a dentição decídua possui um total de 20 den-


tes, distribuídos nos arcos superiores e inferiores. São 12 dentes a
menos que a dentição permanente que, completa, possui 32 den-
tes. Os 20 dentes decíduos são divididos em: 4 incisivos centrais
decíduos; 4 incisivos laterais decíduos; 4 caninos decíduos; 4 pri-
meiros molares decíduos; 4 segundos molares decíduos. Essa dife-
rença de 12 dentes está associada à ausência dos dentes pré-molares
(8 dentes) e dos terceiros molares (4 dentes), que estão presentes
apenas na dentição permanente.
Grupos dentários – a dentição decídua apresenta 3 grupos dentá-
rios (incisivos, caninos e molares), enquanto que a dentição per-
manente apresenta 4 grupos (incisivos, caninos, pré-molares e
molares). A diferença está relacionada ao grupo dos pré-molares,
ausente na dentição decídua.
Comprimento desigual dos arcos – os dentes decíduos, por se-
rem menores e em menor número, necessitam de menos espaço
nos arcos.
Descontinuidade do arco – devido ao fato da soma das distâncias
mesiodistais ser menor nos dentes decíduos que nos dentes perma-
nentes, formam-se diastemas decorrentes do crescimento da maxila
e mandíbula, que o tornam descontínuo. Essa é uma característica
fisiológica da dentição decídua.
Tamanho dos molares – na dentição permanente o primeiro molar
é maior que o segundo, que consequentemente é maior que o ter-
ceiro. Na dentição decídua isso não acontece, pois o segundo mo-
lar decíduo é maior que o primeiro.
Anatomia de dentes decíduos - 30

Características anatômicas dos dentes decíduos


O quadro abaixo mostra as principais características gerais dos
dentes decíduos:

Ø Os decíduos são menores em todas as suas dimensões.

Ø O dente decíduo tem coloração branca, clara e opaca; possui como cores:
branco-azulado; branco-leitoso; branco-argiloso, distribuídas de forma uniforme.

Ø O esmalte do dente decíduo é mais permeável.

Ø A profundidade do esmalte é maior e mais fina proporcionalmente em


relação ao permanente. Sua espessura fica em torno de 0,5 a 1,0 mm; essa
espessura é semelhante em todas as faces da coroa.

Ø As superfícies vestibulares e linguais são mais planas.

Ø A distância vestibulolingual da superfície oclusal é menor que o diâmetro


cervical.

Ø As raízes dos decíduos são menores, mais delgadas e claras do que os


permanentes. Nos dentes anteriores as raízes são maiores em proporção à
coroa e no sentido mesiodistal são mais estreitas.

Ø A câmara pulpar é mais ampla proporcionalmente à coroa e acompanha a


morfologia externa da coroa. Os cornos pulpares são mais altos e próximos à
junção amelodentinária.

Ø Nos dentes decíduos existe menor estrutura de dentina para proteção pulpar.
Fonte: Os autores

Incisivo decíduo
O grupo dos dentes incisivos decíduos é composto por oito dentes,
sendo quatro em cada arco dentário. Os incisivos decíduos têm morfolo-
gia semelhante aos sucessores permanentes. Os superiores apresentam
um volume que diminui de mesial para a distal, ou seja, os incisivos cen-
trais são maiores que os laterais. Nos inferiores ocorre de forma contrá-
ria, assim os centrais são menores em volume que os laterais (Tabela 2).
31 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

A coroa dos incisivos é cuneiforme, semelhante a dos permanen-


tes. A raiz pode ser cônica, conóide ou piramidal, podendo ou não ser
levemente achatada no sentido mesiodistal.
O ápice radicular apresenta-se levemente curvado para a vestibu-
lar, devido à presença do germe do sucessor, que desloca o terço apical
da raiz para a vestibular. Os incisivos apresentam uma borda incisal cor-
tante nos dentes sem desgaste e, com o desgaste fisiológico, se tornam
facetas de desgaste inclinadas para a distal (Figura 7).

Tabela 2 – Dimensões médias dos dentes incisivos decíduos


Comprimento Distância M/D Altura da coroa
Incisivo
(mm) (mm) (mm)
Central Superior 16,0 6,0-7,1 6,0-7,3

Lateral Superior 14,5-17,0 4,2-6,6 5,5-6,8

Central Inferior 15,0-19,0 3,6-5,5 5,0-6,6

Lateral Inferior 15,0-19,0 3,8-5,9 5,6-7,0

Fonte: Os autores (adaptado de Guedes-Pinto, AC. Odontopediatria, 2010)

Figura 7 – Ilustração das coroas dos dentes incisivos centrais e


laterais decíduos superiores e inferiores. Nota-se a ausência da
raiz, pela sua reabsorção fisiológica.
Fonte: Os autores
Anatomia de dentes decíduos - 32

Canino decíduo
O grupo dos caninos decíduos é composto por quatro dentes, sen-
do dois dentes posicionados em cada arco dentário. Estão localizados
entre a distal do incisivo lateral decíduo e do primeiro molar decíduo.
O canino decíduo possui uma forma cônica, e a coroa é bem volumosa
e com forma lanceolada. Apresenta na borda incisal uma típica cúspide
mediana, desenvolvida e aguçada, que desaparece durante o ciclo bio-
lógico por desgaste (Tabela 3 e Figura 8).

Tabela 3 – Dimensões médias dos dentes caninos decíduos


Comprimento Distância M/D Altura da coroa (mm)
(mm) (mm)
Canino Superior 17,5-22,0 6,0-8,0 6,5-7,8

Canino Inferior 17,5-22,0 5,2-7,0 6,5-8,1

Fonte: Os autores (adaptado de Guedes-Pinto, AC. Odontopediatria, 2010)

Figura 8 – Ilustração das coroas dos dentes caninos decíduos superior


e inferior. Nota-se a ausência da raiz, pela sua reabsorção fisiológica.
Fonte: Os autores
33 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Molar decíduo
Os grupos dos dentes molares decíduos configuram ser os den-
tes mais volumosos do arco dentário da criança. São em número de oito
dentes, sendo quatro primeiros molares decíduos e quatro segundos mo-
lares decíduos.
Primeiro molar decíduo – Na dentição decídua é o quarto dente
e o primeiro molar a partir da linha mediana. O superior apresenta uma
posição bem vertical e no sentido mesiodistal a coroa apresenta-se le-
vemente inclinada para a vestibular. Esse dente é o que mais se parece
com o sucessor, em volume e características. Apresenta quatro cúspi-
des, sendo duas vestibulares e duas linguais; possui três raízes, cada qual
com seu respectivo canal. As raizes são: mesiovestibular, distovestibu-
lar e palatina.
Os inferiores apresentam uma anatomia única e dificilmente é
comparado com qualquer outro molar. É o menos volumoso dos molares
decíduos. Apresenta uma marcante característica na face vestibular, na
região cérvico-mesial, o tubérculo molar ou tubérculo de Zuckerkandl.
Apresenta quatro cúspides, sendo duas verstibulares e duas linguais. O
primeiro molar inferior possui duas raizes, uma mesial (com dois canais)
e outra distal (com um canal). Tem como característica marcante a posi-
ção da crista marginal mesial, que é transversa, assim é possível encon-
trar na literatura a denominação de crista marginal transversa.
Segundo molar decíduo – É o dente mais volumoso do arco
temporário, sendo o quinto e o último da série; ocupa o lugar do segun-
do pré-molar. Os segundos molares decíduos são muitas vezes confun-
didos com os dentes permanentes, pois apresentam detalhes anatômicos
semelhantes aos primeiros molares permanentes, porem em menor es-
cala e volume. Os superiores apresentam o tubérculo de Carabelli e a
ponte de esmalte, estruturas comuns dos primeiros molares permanen-
tes. Possuem quatro cúspides, sendo duas vestibulares e duas linguais.
Suas raízes são divergentes e em número de três raízes (duas vestibula-
res e um palatina) com seus respectivos canais.
Anatomia de dentes decíduos - 34

Os segundos molares inferiores são pentacuspidais (5 cúspides –


3vestibulares e 2 linguais), assim como os primeiros molares permanen-
tes inferiores. Possuem duas raízes (uma mesial e outra distal) com três
canais. A tabela 4 mostra as dimensões médias dos molares decíduos, e,
as Figuras 9 e 10, as ilustrações características dos elementos.

Tabela 4 – Dimensões médias dos dentes primeiros e


segundos molares decíduos
Comprimento Distância M/D Altura da coroa
Molar
(mm) (mm) (mm)

1o Superior 14,0-17,0 6,6-7,8 5,8-6,5

2o Superior 16,5-18,5 8,3-9,3 6,0-6,7

1o Inferior 14,0-17,0 3,6-5,5 5,0-6,6

2o Inferior 17,5-19,6 10,0-11,5 6,5-7,2

Fonte: os autores (adaptado de Guedes-Pinto, AC. Odontopediatria, 2010)

Figura 9 – Ilustração das coroas dos dentes primeiro e segundo molar


decíduo superior. Nota-se a ausência da raiz, pela sua reabsorção
fisiológica.
Fonte: Os autores
35 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Figura 10 – Ilustração das coroas dos dentes primeiro e segundo


molar decíduo inferior. Nota-se a ausência da raiz, pela sua
reabsorção fisiológica.
Fonte: Os autores

____________________
Referências
HUBERTUS, J.W. Odontopediatria: atlas colorido de odontologia. São Paulo:
Artmed, 2002.
GUEDES PINTO, Antonio Carlos. Odontopediatria. 8. ed. São Paulo: Santos,
2010.
MELFI, RC, ALLEY, KE. Embriologia e histologia oral de permar. 10. ed.
São Paulo: Santos, 2010.
MADEIRA, Miguel Carlos. Anatomia do dente. 7. ed. São Paulo: Sarvier, 2014.
Psicologia aplicada à odontopediatria - 36

Capítulo 3 VOLTAR AO
Manejo da criança no atendimento odontológico SUMÁRIO

Katia Lumi Tanikawa-Vergilio

O profissional que exerce odontopediatria, além do conhecimento


técnico-científico, deve estar disposto a desenvolver a capacidade de li-
dar com a criança, de forma a conseguir melhorar a relação humana de
empatia e confiança, facilitando o tratamento odontológico.
A visão holística do paciente é fundamental no processo de conhe-
cimento da criança, pois permite que se faça uma imagem do universo
infantil e torne possível uma abordagem favorável de relacionamento.
Assim, é importante integrar diversas estratégias num contexto
global de modo que a criança identifique o dentista como um amigo e
compreenda que os tratamentos dentários, apesar de serem experiências
diferentes, são inevitáveis para a prevenção de repercussões negativas
para a sua saúde oral e sistêmica.
O estabelecimento de boa relação pessoal entre o profissional e o
paciente infantil são essenciais para o sucesso do atendimento.

Análise e percepção da criança


O profissional que exerce Odontopediatria deve observar:

Como o paciente se expressa quanto à motricidade, raciocínio



e fonética;
Como se relaciona socialmente com outras crianças na escola,

familiares adultos e outros adultos de sua convivência;
Como o paciente expressa suas emoções e reage a novas pes-

soas, ambientes diferentes, situações desconhecidas e ações
inesperadas.
37 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

O conhecimento prévio destas características pode direcionar o re-


lacionamento individualizado entre criança e dentista tornando o trata-
mento mais prazeroso e positivo.
A percepção dedutiva da associação da faixa etária com o com-
portamento social, emocional e desenvolvimento motor do paciente em
relação à “maioria das outras crianças” não deve ser considerada pelo
profissional.
O conhecimento da capacidade de adaptação a uma nova situação
consiste em estar apto a reconhecer o raciocínio e as reações da crian-
ça frente às mais diversas situações, prevendo estratégias iniciais para o
atendimento odontológico.
A adequação de abordagem do profissional para cada estágio iden-
tificado de evolução de desenvolvimento individual deve ser realizada
para facilitar a comunicação entre dentista e paciente infantil.
A comunicação é fundamental para o bom relacionamento e o tra-
tamento fluir agradável e satisfatoriamente.

Abordagem da criança no atendimento odontológico

1 Bebês (0 a 18 meses)
A criança explora o corpo através da boca, pele e passa a ter a sen-
sação de segurança e satisfação. A boca é o órgão mais importante do
corpo, pois é através dela que a criança obtém ar e alimento e faz con-
tato com o meio ambiente que a cerca.
Até os 6 meses de vida, ocorre o chamado fator de simbiose, em
que a criança sente-se fusionada à mãe (não distingue limites de duas
pessoas separadamente).
Após os 6 meses de idade, a criança:

 Começa a distinguir limites entre ela e a mãe;


 Aprende a mastigar e a morder;
Psicologia aplicada à odontopediatria - 38

 Desenvolve capacidade motora;


 Aumenta atividade mental;
 Distingue entre si mesma e o meio ambiente;
 Desenvolve a Fase de Individualização, onde passa a tolerar
insatisfações, separações e a ausência da mãe pode aumentar
gradativamente.

Sucção
A necessidade de sucção é importante para a sobrevivência física
e psicológica do bebê.
Essa necessidade diminui com a introdução de alimentação só-
lida (mastigação). A necessidade fisiológica de sucção cessa dos 9 aos
12 meses de vida. A necessidade psicológica de sucção existe quando a
criança se sente cansada ou infeliz (consolo) e deve cessar até os 3 anos
(dentição decídua completa).
A persistência da sucção após os 3 anos deixa de ser uma neces-
sidade e se torna um hábito deletério, com consequências como proble-
mas de oclusão e no desenvolvimento da fala.

2 Primeira infância (até 3 anos de idade)


Por volta dos 3 anos de idade, a criança possui dentição decídua
completa e controle fisiológico da bexiga e intestinos.
Estas características possibilitam o desenvolvimento da autono-
mia e controle do próprio corpo. Experimenta as próprias vontades e co-
meça a ter visão clara do seu “eu”.
Nota-se que sentimentos fortes e contraditórios são aflorados,
pois ocorre a percepção do quanto é capaz de agir e poder tomar deci-
sões sozinha.
Portanto, é comum o profissional sentir-se “desafiado” e “testa-
do” quanto ao limiar de paciência e tolerância em situações contraditó-
rias para a criança durante o atendimento.
39 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Caso o dentista seja envolvido no “apelo emocional e criativo” do


paciente infantil, o controle da situação frente à resistência aos procedi-
mentos pode apresentar dificuldades.
Aos 3 anos de idade, a Maturidade para Tratamento Odonto-
lógico caracteriza-se pela:

Capacidade de ficar sentada 10 a 20 minutos;



Capacidade de sentar e abrir a boca, concomitantemente;

Capacidade de compreender explicações simples.

No manejo desta criança durante o atendimento odontológico, é im-


portante que o profissional estabeleça contato físico (leve toque nos om-
bros, mãos, cabeça), contato visual (olhar nos olhos) e a abordagem verbal
deve ser agradável e construtiva (elogiar as capacidades da criança).

Falar–mostrar–fazer
A técnica do falar-mostrar-fazer é um método eficaz para fami-
liarizar a criança ao ambiente odontológico, diminuindo seus medos e
ansiedades, assim como consiste em apresentar gradativamente alguns
instrumentos e procedimentos odontológicos.
A criança deve ser preparada sobre a situação que viverá, portanto,
o dentista deve informar de forma amena sobre o procedimento (FALAR).
O dentista deve demonstrar a ação do equipamento ou efeito de
um material odontológico antes da execução profissional, para evitar re-
ações de ansiedade pelo medo do inesperado (MOSTRAR).
Se necessário, o dentista deve deixar a criança tocar ou manipular al-
gum dos equipamentos ou materiais para a constatação do benefício (FAZER).
Após a explicação e demonstração, a técnica poderá ser realizada
com mais tranquilidade.
Corrêa et al. (2002) e Klatchoian (2002) sugeriram a utilização
de bonecos ou brinquedos para realizar esta demonstração e permitir
Psicologia aplicada à odontopediatria - 40

a participação direta da criança no condicionamento. A atividade ex-


ploratória dos ambientes por meio do tato e da apreensão dos objetos
permite a participação ativa da criança no preparo da aceitação para o
tratamento odontológico, aumentando o grau de cooperação e os be-
nefícios obtidos.
Na maioria das vezes, a criança muito curiosa gostará de experi-
mentar nela mesma os objetos apresentados. Em outras, porém, as crian-
ças podem parecer mais receosas, necessitando de mais tempo e contato
com os novos “equipamentos”, para permitir tal contato.
Para as crianças mais receosas, o uso de bonecos ou outros brin-
quedos que tenham dentes pode auxiliar bastante nesse processo de
condicionamento.
Nestes casos, é interessante permitir que a criança atue como au-
xiliar e nos ajude a realizar o procedimento odontológico no brinquedo.
Geralmente, as crianças gostam de exercer o papel de Cirurgião-dentista
ou de Auxiliar.

3 Segunda infância (3 a 5 anos)


Neste período, observa-se o progresso da percepção infantil e a
capacidade de distinguir. Em situações simples do dia a dia começam
a perceber e questionar diferenças e buscam identificação com pessoas
(adultos) próximas para imitá-las.
Surge o desejo de explorar, mostra-se curioso e demonstra a ne-
cessidade de orientação.
A criança adquire informações que propiciam a formação de va-
lores morais, distinção entre o que é correto ou errado, e o que é verda-
de ou mentira.
O estabelecimento de normas e limites por familiares e educadores
é determinante para a formação e desenvolvimento individual.
Porém, a criança precisa de orientação e limites bem definidos,
pois o excesso de proibições com sentimento de culpa pode transformar
curiosidade em PASSIVIDADE.
41 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

A Maturidade para o Tratamento Odontológico até os 5 anos ca-


racteriza-se pela criança sentar e ficar concentrada até 30 minutos.
O manejo do odontólogo deve incluir o elogio da aparência e as
informações devem ser transmitidas sempre com conotação POSITIVA.
Nesta fase, a criança usa a IMAGINAÇÃO e entende metáforas.

Uso do faz-de-conta
Faz de conta são atribuições a propriedades imaginárias de obje-
tos ou eventos.
A criança é capaz de entender o faz-de-conta e usar processos men-
tais de forma representacional.
Por exemplo: faz de conta que o tempo hoje está ótimo (quando
está chovendo) ou que limpe o rosto da boneca (sem estar sujo). Neste
momento, ela vai além do significado comum dos objetos ou dos even-
tos sem, entretanto, confundir realidade/não realidade.
Em uma das formas mais avançadas do faz-de-conta, o objeto é
imaginário, por exemplo “Faz-de-conta que há um dente bem fraquinho,
e nesse algodão tem uma vitamina para o dente ficar forte”. Observa-
se que o faz-de-conta é uma brincadeira com raciocínio e imaginação
emergentes.
Neste período, a criança possui a habilidade de entender sua pró-
pria mente e a dos outros. Portanto, ela é capaz de compreender que o
dentista está criando uma situação irreal num cenário imaginário. Neste
contexto, a informação é assimilada com conotação positiva e divertida.
O dentista poderá utilizar-se do faz-de-conta, criando estórias, per-
sonagens ou músicas para abordar assuntos educativos como hábitos de
dieta não cariogênica e técnicas de higienização oral, assim como pro-
jetar situações de comprometimento da saúde bucal contando com a ha-
bilidade de entendimento das informações e imaginação nesta idade.
O faz-de-conta implica em negociação; para brincar com o pro-
fissional sobre um mesmo tema, a criança precisa de um acordo quanto
Psicologia aplicada à odontopediatria - 42

aos significados implícitos nos papéis e ações, caso contrário, a brinca-


deira não ocorrerá satisfatoriamente.
Sendo assim, as transformações realizadas sobre os objetos preci-
sam ser acompanhadas pelos parceiros e, para fazer parte da brincadei-
ra, deve haver a aceitação dos papéis e/ou formas de negociação.
O dentista, através do conhecimento lúdico, deve inserir informa-
ções sobre a intervenção odontológica numa linguagem de faz-de-conta
para a compreensão e aceitação do procedimento depois da “brincadeira”.
Este manejo odontológico pode ser realizado da seguinte maneira:

1) Inserir o Conceito: Contar a estória de um personagem den-


te que está triste por estar sujo de doces. Criar a personagem
“vilã” bactéria responsável por sujar o dente. Personagens “su-
per-heróis” escova de dentes, pasta de dente e fio dental lim-
pam o dente, que fica feliz.
2) Treinamento: Demonstrar a técnica de escovação em macro-
modelos. Pedir para a criança participar da “brincadeira” ao
repetir a ação, onde o dentista vai orientar a realização siste-
mática da técnica.
3) Realização: Realizar a escovação dos dentes da criança primei-
ro, e pedir para ela realizar a técnica aprendida na etapa ante-
rior na própria boca.

4 Faixa etária escolar (6 a 12 anos)


Neste período, a criança frequenta a escola e, neste contexto, par-
ticipa de um ambiente social.
Agora a criança tem desejo de explorar o mundo, compara-se aos
outros. A criança dá importância à escola, aos amigos, às atividades re-
creativas e a outros adultos (professores, inspetores).
Ela é capaz de estabelecer diálogos e discussões abstratas e gosta
de colecionar e competir.
43 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

A partir dos 6 anos de idade, há o irrompimento dos Primeiros


Molares Permanentes e inicia-se a troca da dentição decídua para a
dentição permanente. Os cuidados preventivos diários individuais de-
vem ser abordados insistentemente e as ações profissionais preventivas
realizadas com frequência.
O Amadurecimento das capacidades motoras, o desenvolvimento
mais realista do social, a visão mais real do tratamento odontológico e a
solicitação de explicações para receber atendimento demonstram a maior
maturidade e tranquilidade para as manobras de atendimento odontológico.

5 Adolescência (13 a 19 anos)


A fase da Puberdade caracteriza-se pelo início da maturidade se-
xual, início das responsabilidades do mundo adulto, por mudanças físi-
cas e psicológicas.
O adolescente busca a identidade própria: autoestima e autoco-
nhecimento. Desejam ser adultos com todos os privilégios das crianças
(dependentes e protegidos).
O Perfil desse grupo é o desinteresse (não ouvem o que lhe fa-
lam), são sonhadores e “esquecidos”, importam-se demais com a aparên-
cia pessoal e roupas, centralizam o EGO, possuem ídolos e ideologias.
O relacionamento do dentista com o adolescente deve ser afetu-
oso e sincero. A explicação das necessidades de tratamento e cuidados
preventivos devem ser abordados de acordo com o grau de interesse de-
monstrado pelo assunto.
O manejo do paciente adolescente no atendimento odontológico
costuma ser tranquilo e colaborativo quando há compreensão e valori-
zação da saúde bucal e geral.

Relação humana: dentista e criança


O comportamento da criança está diretamente ligado à sua relação
com o meio e particularmente à mãe.
Psicologia aplicada à odontopediatria - 44

O Odontopediatra deve:

Observar e compreender as reações das crianças;



Estar munido de autoconhecimento e segurança;

Estabelecer um BOM RELACIONAMENTO COM A

CRIANÇA para alcançar o equilíbrio entre necessidades da
criança e do profissional;
Entender e respeitar a criança;

Ter sensibilidade e percepção do estado emocional e cansaço;

Ter paciência para transformar situações desagradáveis em re-

solução positiva;
Compreender as necessidades básicas da criança: Afeição,

Aprovação, Autoridade.

Conotação positiva na comunicação


Se pudéssemos resgatar as mais remotas lembranças de músicas e
estórias infantis clássicas, perceberíamos que as mensagens positivas da
formação individual foram construídas a partir dos primeiros sentimen-
tos de medo e nem sempre com conotação positiva e agradável.
A maioria das estórias clássicas infantis exibem personagens feios
como bruxas, lobos malvados e monstros terríveis que causam medo e
assustam as personagens bonitas e frágeis como princesas e animaizi-
nhos da floresta.
Músicas antigas de ninar citam seres assustadores como o “Boi da
cara preta” ou a “Cuca” para “pegar” as crianças que se recusarem a dormir.
Neste contexto, a conotação positiva nas mensagens educativas em
odontologia é essencial para a instalação de um hábito como o de higie-
nização bucal de maneira agradável e construtiva.
A aplicação de linguagem construtivista positiva na comunicação
com o paciente infantil seria, por exemplo, convencê-la a escovar os
dentes para ficar com o sorriso brilhante de uma princesa, ou ficar com
45 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

dentes fortes como os de um super-herói, e NUNCA apenas para evitar


dor ou as etapas desagradáveis de um tratamento dentário como a anes-
tesia e uso do motor.
O gerenciamento do comportamento através da comunicação
é usado universalmente em Odontopediatria, tanto nos casos de coo-
peração dos pacientes como diante da não cooperação, sendo esta a
base para a criação de uma relação amigável com a criança, permi-
tindo, assim, um tratamento odontológico com sucesso e a criação de
uma atitude positiva frente a ele (GUIDELINES FOR BEHAVIOR
MANAGEMENT OF THE AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRIC
DENTISTRY, 1999-2000).
As afirmações positivas aumentam as oportunidades de êxito no
tratamento das crianças. Elas são muito mais efetivas que perguntas ou
comentários descuidados. Para ser bem sucedido com as crianças é pre-
ciso prever o sucesso.
É importante que a comunicação venha de uma única fonte. Quando
tanto o dentista como a auxiliar ficam dando orientações, o resultado
pode provocar uma resposta indesejável, simplesmente porque a criança
fica confusa.
A mensagem tem de ser entendida da mesma maneira por quem
envia e por quem recebe. Ouvir o paciente também é importante no tra-
tamento de crianças.

Medo e ansiedade no tratamento odontológico


É comum que as crianças fiquem assustadas na primeira consulta
odontológica, principalmente se adultos ou crianças maiores lhes
descreveram sensações desagradáveis pelos sabores ruins ou pela
visualização de instrumentos desconhecidos e assustadores como brocas,
motores e agulhas.
O medo do desconhecido é um dos fatores mais relevantes que
contribuem para a ansiedade e pode fazer a criança se sentir ameaça-
da, impotente.
Psicologia aplicada à odontopediatria - 46

Medo de dentista
O medo pode ser relacionado a experiências dolorosas, desagra-
dáveis e cansativas, e pode se manifestar de duas maneiras no atendi-
mento em odontopediatria:

1) Ocorre quando a criança passou por esta situação em ações pro-


vocadas DURANTE o tratamento odontológico;
2) Oriundo de experiências anteriores de mesma conotação que
ocorreram em ambientes semelhantes aos do consultório odon-
tológico (médico, hospital, farmácia) e correlaciona o atendi-
mento odontológico à situação passada.

A criança prevê o que poderá acontecer no tratamento odontoló-


gico atual.
Entretanto, a criança pode demonstrar este sentimento em uma ter-
ceira situação, quando não passou concretamente por nenhum tipo de
abordagem odontológica ou em ambiente semelhante.
A criança ouve falar de experiências desagradáveis vividas por pais,
parentes ou amigos no dentista e passa a fantasiar, exagerando o quadro.
Ocorre principalmente por informações de adultos ou crianças maiores.
Este tipo de medo NÃO é obrigatoriamente ligado à verbaliza-
ção, sendo mais difícil de ser controlado pois não temos dados concretos
(objetivos) para explicar porque ela tem medo.

Manejo da criança com medo de dentista


O perfil da criança com medo de dentista é tímida e retraída, agar-
ra-se à mãe.
O dentista deve passar confiança e tranquilidade, mostrar que es-
ses acontecimentos (choro, birra) não vão mudar o que temos que fazer
(tratamento) e descondicionar o medo pela associação de experiências
prazerosas diante de situações traumáticas.
47 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Uso de EPI e vestimenta branca


Trabalhos sobre a ansiedade causada no atendimento odontológico
de crianças relatam que o uso da roupa branca e do EPI (equipamentos de
proteção individual) pelo profissional não significam um empecilho para
o tratamento quando é apresentada gradativamente a estes acessórios.
A experiência de manejo de comunicação do profissional e a abor-
dagem com conotação positiva favorece uma maior aceitação do EPI
pelo paciente infantil.
É importante que o Odontopediatra estabeleça sua maneira de abor-
dagem, considerando a individualidade de cada criança.

Reforço positivo
O reforço positivo utiliza a recompensa quando a criança apresen-
ta bom comportamento. Esta manobra pode fortalecer a repetição deste
comportamento satisfatório nos próximos atendimentos.
Os reforçadores sociais são: modulação positiva da voz, expres-
sões faciais, elogio verbal e demonstrações físicas apropriadas de afeto
por todos os membros da equipe odontológica.
Os reforçadores não sociais utilizados são pequenos prêmios (ade-
sivos, pequenos brindes e brinquedos).

Distração
Distração é a técnica de desviar a atenção do paciente do que pos-
sa ser percebido como um procedimento desagradável.
A distração visa a diminuição dos estímulos desagradáveis à crian-
ça e evita o comportamento negativo ou de recusa
Esta manobra pode ser aplicada em odontopediatria quando o pro-
fissional conversa sobre um assunto que agrade a criança e acompanhe o
processo com entusiasmo, desviando a atenção do procedimento odon-
tológico que está sendo executado.
Psicologia aplicada à odontopediatria - 48

Qualidades básicas do profissional que exerce


Odontopediatria
1) Amar as crianças
Ter prazer no seu convívio, alegrar-se por tê-las por perto.
2) Fazer-se gostar pelas crianças
Tornar-se amigo e envolver-se facilmente com elas. Ser aceito
com naturalidade.
3) Gostar de tratar de crianças
Conseguir satisfação profissional. Descobre- se a vocação e apre-
ciação dos resultados.
4) Conhecimento de odontologia e especificamente em
Odontopediatria
Clínico deve estar sempre atualizado nos conhecimentos
específicos.
Aperfeiçoar quanto à habilidade manual para diminuir tempo de
trabalho sem perder a qualidade
5) Conhecimentos de manejo da criança para atendimento
odontológico
Entender e avaliar o comportamento da criança para estabelecer o
tipo de abordagem de relacionamento e de trabalho.
6) Paciência
Qualidade imprescindível.
Deve ser desenvolvida e aprimorada através do autodomínio.
7) Certa capacidade de persuadir e convencer
A criança deve ser convencida da necessidade do que nos propo-
mos a fazer.
8) Intuição e bom senso
Perceber o momento de ser firme ou mais delicado no trato e na voz;

Saber discernir o momento de parar (quando a criança estiver

cansada);
49 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Consulta mais rápida (quando a criança não estiver bem);



Perceber abusos, manhas e chantagens emocionais; e

Demonstrar interesse pela criança.

9) Certa expressão de autoridade


Desenvolver o tratamento em clima amistoso e de carinho, dei-
xando claro quem é a autoridade naquele momento.
Não deixar ser dominado pela criança ou pelos pais.
10) Aptidão para a especialidade
A somatória dos fatores descritos anteriormente torna o profissio-
nal apto a trabalhar com crianças.
11) Capacidade de manter diálogos
Ajustar a conversa à idade, do nível de interesse ao grau de cul-
tura e sexo.
12) Níveis de diálogo
Assuntos e palavras devem ser escolhidos de acordo com a idade
e o desenvolvimento mental da criança.
13) Tom de voz
Tranquilo e firme.

Atributos básicos do profissional para tratar crianças


1) Aparência profissional
O atributo físico essencial é possuir dentes tratados.
2) Apresentação física
Cabelos, mãos, unhas, roupas com aparência bem cuidada.
Uniforme limpo e bem passado.
3) Segurança profissional
O profissional seguro transmite tranquilidade, que é captada pela
criança que se submeterá facilmente ao tratamento.
Psicologia aplicada à odontopediatria - 50

4) Habilidade e rapidez
Proporciona conforto ao paciente.
5) Ordem e cuidado com o instrumental
Evita perda de tempo.

Percepção do dentista e manejo da criança


O dentista que exerce a odontopediatria deve perceber as reações
de cada criança desde o momento inicial que entra em contato com ele
e o ambiente odontológico.
Acontecimentos recentes na vida da criança podem modificar o
comportamento no dia da consulta odontológica e o profissional neces-
sita perceber essa condição e adequar o manejo para o atendimento nes-
te momento, quando muitas vezes a mudança de planejamento clínico
é conveniente.
O profissional deve perceber o estado de comportamento de cada
paciente infantil para planejar o tratamento odontológico, assim como
adequar o tipo de manejo individualizado.
1 – Criança que coopera
Criança responde a comandos e se relaciona bem com o dentis-
ta. Criança que não provoca contrariedades ao tratamento e ao dentista.
2 – Criança tímida ou assustada
A criança demonstra atitudes como por exemplo: esconde o rosto
atrás da mãe, olha para baixo, não responde quando lhes falam. Difícil
de conversar. Pouca cooperação.
O dentista deverá conquistar a confiança da criança através da abor-
dagem verbal e contato físico adequado (toque suave em ombros, cabeça,
mãos) gradativamente, estabelecendo aos poucos proximidade de relação
com o profissional e distanciamento físico da mãe durante o atendimento.
3 – Criança medrosa
O Dentista é um estranho que estimula o afloramento de sentimen-
tos de Medo.
51 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

A criança demonstra horror de dentista e ao ambiente de consul-


tório. A colaboração parece impossível.
O dentista deve procurar identificar a causa da associação mental
pregressa ou subjetiva deste sentimento e demonstrar à criança a possi-
bilidade concreta de desvincular a situação passada ou imaginária com
o momento atual.
4 – Criança mimada
A criança choraminga, grita, sapateia e luta para entrar no con-
sultório. Estas reações são estratégias para evitar o tratamento dentário.
Essas crianças convivem com adultos (pais e avós) que se ren-
dem às vontades delas e mostram-se “escravos” de seus desejos diante
de comportamento social considerado “vergonhoso”.
Durante o atendimento odontológico, a criança ignora a aborda-
gem verbal do dentista e tenta convencer os pais a levá-las para casa.
O dentista deve se impor, exercendo certa expressão de autorida-
de, adequando a tonalidade de voz para determinar limites no relaciona-
mento com a criança. A ausência dos pais durante o atendimento pode
ser considerada decisiva e vantajosa no estabelecimento da relação pes-
soal com a criança com o profissional.
5 – Criança teimosa ou rebelde
Estas crianças teimam em não permitir o tratamento. Não choram.
Não falam muito.
A criança se recusa a entrar no consultório e demonstra atitudes
de teimosia.
O dentista deve conquistar o paciente verbalmente, abordando as-
suntos interessantes e essencialmente engraçados que resultem em “sor-
riso” ou “risadas” da criança, assim ela perceberá a impossibilidade de
retornar às atitudes anteriores e não conseguirá sustentar mais o compor-
tamento de rebeldia. Ela rende-se à situação atual de relacionamento e
passa a colaborar. O dentista deve reforçar o laço positivo, estabelecen-
do contato físico adequado gradativamente.
Psicologia aplicada à odontopediatria - 52

6 – Criança agressiva
Demonstra reações de teimosa, rebeldia, ela chora e grita.
Pode desenvolver atitudes de agressão física.
A reação de agressividade infantil pode ser gerada por diversas
causas, como acontecimentos recentes pessoais na família, na escola e
não necessariamente relacionado ao dentista ou à aversão ao tratamen-
to odontológico.
O dentista deve adequar as técnicas de manejo necessárias frente a
cada situação na tentativa de estabelecer um relacionamento com a criança.
A colaboração dos pais é essencial no controle desse comporta-
mento. Nem sempre o profissional tem sucesso na abordagem verbal e
exercício de outras técnicas de manejo, naquele dia especificamente.
Quando o tratamento dentário possuir o caráter de urgência (dor
aguda), faz-se necessário o uso da “Estabilização Protetora” para o
atendimento.
7 – Criança com necessidades especiais
As reações de cada criança com esta condição podem ser bem dife-
rentes. O fator idade não condiz sempre com o nível intelectual e motor.
O profissional deve conhecer antecedentes e causas da necessi-
dade especial e preparar-se para o atendimento, não ter medo e sim cui-
dados específicos.

Influência dos pais e familiares


No que concerne à ansiedade materna, a maioria dos estudos es-
tabelece uma associação significativa com o comportamento coopera-
dor da criança.
As mães, além de influenciar o grau de ansiedade da criança, são
capazes de diagnosticar o comportamento e o nível de ansiedade dos fi-
lhos sobre o atendimento odontológico.
Os hábitos e o conhecimento dos pais sobre saúde bucal parecem
influenciar o estado da mesma de seus filhos.
53 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

A adoção de hábitos comportamentais coerentes na infância come-


ça em casa com os pais, principalmente com a mãe, que desempenha um
importante papel no estilo de vida relacionado à saúde bucal dos filhos.
Os pais devem ser informados de que seus hábitos de saúde den-
tal influenciam a saúde bucal de seus filhos e, consequentemente, sua
qualidade de vida.
Portanto, é necessário um programa educacional de saúde sólido
envolvendo todos os familiares, para fornecer aos pais a orientação ade-
quada sobre como manter a saúde bucal de seus filhos, resultando em
uma melhor qualidade de vida.

Presença/ausência materna
Tanto a presença como a ausência materna são manobras utiliza-
das para ganhar a cooperação durante o tratamento.
O estabelecimento de uma boa comunicação entre o dentista,
o paciente e a mãe (pai) são essenciais para o sucesso do tratamento
odontopediátrico.
O dentista deve concentrar seu foco tanto na criança como em sua
mãe, mas especialmente na criança. A decisão do profissional em optar
pela presença ou a ausência materna pode ser muito benéfica ou mui-
to prejudicial.
Cada profissional deve adequar a comunicação utilizando técni-
cas que otimizem o tratamento, de acordo com as suas habilidades in-
dividuais, com a capacidade da resposta da criança atendida e com as
expectativas da mãe (pai).
Os objetivos desta manobra são: ganhar a atenção do paciente
para melhorar a colaboração; evitar o comportamento do negativismo
ou a recusa do atendimento; desenvolver o estabelecimento apropria-
do da relação dentista-criança; estabelecer a comunicação eficaz entre o
dentista, a criança e os pais; e minimizar a ansiedade infantil e alcançar
uma experiência positiva.
Psicologia aplicada à odontopediatria - 54

Estabilização parcial protetora – contenção parcial


A estabilização parcial protetora é uma técnica utilizada em odon-
topediatria, em que aplica-se a limitação da liberdade de movimentos do
paciente, a fim de diminuir o risco de ferimento e permitir o desenvol-
vimento seguro do tratamento.
A técnica é necessária em casos de procedimentos com caráter de
urgência e colaboração comportamental impossível do paciente infantil.
O manejo da limitação parcial pode envolver uma ou mais pesso-
as qualificadas para a manobra. O esclarecimento profissional da neces-
sidade da manobra deve ser convincente para o consentimento dos pais.
A compreensão e a colaboração dos pais, assim como o conheci-
mento e experiência do profissional e equipe, são essenciais para o su-
cesso da manobra.

____________________

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Anamnese e exame clínico - 57

Capítulo 4 VOLTAR AO
Anamnese e exame clínico SUMÁRIO

Sandra Kalil Bussadori


Marcelo Mendes Pinto
Lara Jansiski Motta
Carolina Carvalho Bortoletto

Anamnese
A anamnese é uma entrevista realizada pelo profissional de saúde
ao seu paciente ou responsável, é o momento em que se conhece me-
lhor o paciente. Nessa entrevista é feito um levantamento sobre a saú-
de geral do paciente, bem como sua saúde bucal, aspectos psicológicos
e hábitos diários desse paciente. Além de ser um documento integrante
do prontuário do paciente, é fundamental para o sucesso do tratamento,
pois é através da anamnese que conhecemos o paciente e, a partir disso,
é possível realizar um plano de tratamento direcionado às característi-
cas e necessidades do indivíduo. Deve ser conduzida de maneira lógica
e deverá ser atualizada frequentemente.
Durante a anamnese é importante a obtenção de informações bá-
sicas relacionada aos dados pessoais, queixa principal, história médica,
história odontológica, hábitos e perfil psicológico do paciente.

Dados pessoais
Deve conter algumas informações sobre o paciente e sobre os res-
ponsáveis, como por exemplo:

✓✓ Nome;
✓✓ Data de nascimento;
58 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

✓✓ Endereço;
✓✓ Contatos (telefone, celular, email);
✓✓ Nome e documento dos responsáveis;
✓✓ Nome e telefone do médico pediatra.

Queixa principal
Deve ser relatado o motivo da consulta, assim como o maior nú-
mero de informações sobre a queixa.

História médica
A história médica deverá englobar a saúde geral do paciente, pre-
sente e passada, assim como o uso de medicamentos e tratamentos em
andamento. As perguntas realizadas deverão ser realizadas de maneira
clara e objetiva, abrangendo aspectos do indivíduo relacionados como
alterações no sistema nervoso, cardiovascular, endócrino, respiratório,
alterações de coagulação, alergias, entre outros. Qualquer alteração de-
verá ser relatada e, quando necessário, mais profundamente avaliada.
Durante a avaliação da história médica, é importante o levantamento da
história gestacional e também de antecedentes familiares.

História odontológica
Deverá abordar informações sobre tratamentos prévios, caracte-
rísticas de desenvolvimento e alterações dentais, estratégias preventivas
adotadas anteriormente.

Hábitos
Durante a anamnese é importante a obtenção de informações so-
bre os hábitos diários dessa criança, como por exemplo:
✓✓ Hábitos de higiene – número de escovações diárias, qual den-
tifrício utilizado, se faz uso de fio dental, etc;
Anamnese e exame clínico - 59

✓✓ Hábitos alimentares – frequência de ingestão de alimentos ca-


riogênicos. Para se ter uma informação mais detalhada sobre
a dieta do paciente é importante a utilização de um diário ali-
mentar, que deverá ser entregue aos responsáveis e esses de-
verão anotar tudo que o paciente ingerir num período de três
dias (Figura 11).
✓✓ Hábitos deletérios – uso de chupeta, mamadeira, onicofagia,
bruxismo, entre outros.

Perfil psicológico
Também é importante a coleta de informações sobre as caracterís-
ticas psicológicas desse paciente, com informações sobre o comporta-
mento dessa criança no consultório, relacionamento da criança com os
pais e dos pais entre si, comportamento no ambiente escolar, etc.
Após a coleta de maior número de informações úteis e possíveis
sobre o paciente, a anamnese deverá ser datada e assinada pelo respon-
sável, atestando a veracidade das informações transmitidas, e então o
profissional deverá proceder ao exame clínico do paciente, sendo esse
dividido em exame extrabucal e exame intrabucal.

Exame clínico

Exame extrabucal
O profissional deverá observar a criança como um todo, avalian-
do a postura, o modo de andar, de falar, de interagir com as pessoas e
qualquer alteração deverá ser anotada e investigada; além disso, o exa-
me extrabucal deve envolver a avaliação da musculatura mastigatória,
da articulação temporomandibular, simetria facial, movimentos mandi-
bulares, entre outras características.
60 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Exame intrabucal
Dividido em avaliação dos tecidos moles e avaliação dental.
Durante a avaliação dos tecidos moles, o profissional deverá ob-
servar os lábios, bochechas, língual, orofaringe, freio labial, freio lin-
gual, entre outras, e qualquer alteração deverá ser descrita e avaliada. É
também nesse momento que o profissional avalia a condição de higiene
bucal do paciente, observando o acúmulo de biofilme e a condição do
tecido gengival e periodontal.
A avaliação da condição dental deverá ser realizada após a reali-
zação de profilaxia profissional.

✓✓ Para que o exame dental seja realizado de maneira prática e


eficiente é indicado que se adote a representação gráfica, na
forma de odontograma (Figura 11) e que o exame clínico seja
realizado de forma padronizada, iniciando-se pelo dente mais
posterior do lado superior direito seguindo-se a sequência até
atingir o último dente superior do lado esquerdo, e para a ava-
liação do arco inferior deve-se iniciar-se pelo dente posterior
do lado esquerdo, seguindo a sequência até o dente mais pos-
terior do lado direito.

O exame dental deverá ser realizado com os dentes secos e com


o auxílio do refletor, deve-se observar a presença de alterações de for-
mação da estrutura dental, presença de lesões de cárie ativas e inativas,
condição das restaurações presentes, desgastes irregulares, assim como
a avaliação da oclusão.
Após a realização do exame físico, em alguns casos se faz necessá-
rio a utilização de exames complementares para a realização de correto
diagnóstico e planejamento do caso. Dentre os exames complementa-
res podemos citar:
Anamnese e exame clínico - 61

✓✓ Exames radiográficos;
✓✓ Tomografias;
✓✓ Exames laboratoriais;
✓✓ Confecção de modelos de estudo, entre outros.

Com o diagnóstico estabelecido, o plano de tratamento deverá ser


proposto aos responsáveis e o consentimento para execução dos proce-
dimentos deverá ser datado e assinado pelo responsável.

Tabela 1 – Modelo de diário alimentar

Diário alimentar

Primeiro dia Segundo dia Terceiro dia


Manhã

Tarde

Noite

Fonte: Os autores

Figura 11 – Modelo de odontograma utilizado na Clínica Odontológica Infantil da


Universidade Nove de Julho.
Fonte: Os autores
62 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Referência
GUEDES-PINTO, A.C. MYAKI ISSÁO, E. Manual de odontopediatria. 11.
ed. São Paulo: Santos. 2006.
Técnicas radiográficas aplicadas à odontopediatria - 63

Capítulo 5 VOLTAR AO
Técnicas radiográficas aplicadas à odontopediatria SUMÁRIO

Lara Jansiski Motta


Marcelo Mendes Pinto
Camila Haddad Leal de Godoy
Olga Maria Altavista
Sandra Kalil Bussadori

O exame radiográfico é um exame complementar fundamental


para o correto diagnóstico, planejamento e tratamento odontológico na
clínica infantil. Além de auxiliar no diagnóstico das diferentes doenças
bucais, as imagens radiográficas permitem prever problemas futuros de
oclusão, avaliar e acompanhar o desenvolvimento da dentição perma-
nente, acompanhar a rizólise da dentição decídua e também realizar a
proservação de tratamentos realizados. No entanto, este exame deve ser
sempre avaliado com os dados do exame clínico e da anamnese.
Por se tratar de um recurso que utiliza radiação ionizante para a
produção de imagens, é necessário que o profissional fique atento aos
procedimentos de proteção às radiações. As crianças são mais suscetí-
veis aos efeitos das radiações X, pois os efeitos são maiores nas célu-
las mais jovens e menos diferenciadas e que estão em fase de grande
atividade reprodutora. Para minimizar qualquer risco alguns cuidados
devem ser tomados ao realizar o exame radiográfico, além da calibra-
ção do aparelho de raios-X: uso de proteção de tireoide, uso de aven-
tal de chumbo (Figura 12), realização de técnicas adequadas para evitar
repetições e realizar tomadas radiográficas somente das regiões consi-
deradas necessárias após exame clínico e anamnese, evitando assim ex-
posição desnecessária.
64 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Figura 12 – Avental de chumbo


para proteção da radiação.
Fonte: Foto dos autores

Tecnicas radiográficas aplicadas à odontopediatria


Os exames radiográficos complementares mais utilizados em odonto-
pediatria são os exames intrabucais periapicais, oclusais e interpreoximais;
e os exames extrabucais por meio das radiografias panorâmicas e telerra-
diografias. Neste capítulo abordaremos as técnicas intrabucais realizadas
com mais frequência no dia a dia pelo clínico, a periapical e a interproximal.

Técnica Radiográfica Periapical


As radiografias periapicais são indicadas para visualizar os dentes
e as estruturas adjacentes e aplicadas nas seguintes situações:

• Estudar as relações anatômicas entre a dentição decídua e per-


manente e a cronologia de irrompimento dos elementos dentais.
• Pesquisa e diagnóstico de lesões de cárie e profundidade da lesão.
• Detectar alterações pulpares.
• Pesquisar anomalias dentárias, reabsorções radiculares internas
e externas, lesões periapicais ou na região de bi ou trifurcação,
dentes inclusos e alterações ósseas.
Técnicas radiográficas aplicadas à odontopediatria - 65

• Planejamento e tratamento endodôntico.


• Proservação de tratamentos realizados.

Para realizar a tomada radiográfica periapical em crianças, o pro-


fissional pode utilizar a técnica da bissetriz ou do paralelismo. Além das
técnicas, para este exame o clínico pode lançar mão de dois tamanhos
de filmes radiográficos: o filme periapical adulto (31 x 41 mm) e o filme
infantil (22 x 35 mm) (Figura 13). O tamanho do filme deverá ser deter-
minado conforme o tamanho da cavidade bucal da criança, da técnica a
ser realizada e da região a ser avaliada. Deve ser o maior possível para
adaptação na boca da criança e visualização de maior área radiografada.
Em alguns casos, dependendo do tamanho da criança e eventuais limi-
tações, algumas adaptações podem ser realizadas nos filmes e nas téc-
nicas. Estas adaptações serão apresentadas neste capítulo, mais adiante.

Figura 13 – Filmes periapicais para radiografias intrabucais


utilizados em Odontopediatria.
Fonte: Foto dos autores

Método da Bissetriz
O método da bissetriz para o exame radiográfico periapical segue
os mesmos princípios da realização da técnica no adulto. Este método
produz uma imagem a partir da incidência do feixe central de raios-X
66 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

perpendicularmente ao plano virtual bissetor formado pelo ângulo entre


o longo eixo do dente e o filme radiográfico posicionado. Nesta técnica
o filme é mantido em posição pelo próprio paciente. Na arcada superior
com o polegar da mão oposta ao lado a ser radiografado e na arcada in-
ferior com o dedo indicador da mão oposta ao lado a ser radiografado
(Figura 14). Em algumas situações, a criança não apresenta maturida-
de para manter o filme em posição, nestes casos o responsável pode au-
xiliar. Sempre que o acompanhante estiver auxiliando na realização do
exame radiográfico, este deverá receber a proteção à radiação, como o
avental de chumbo, da mesma maneira que a criança.
Para a correta realização da técnica da bissetriz, a posição do pa-
ciente e a incidência do feixe de raio-X são extremamente importantes.
A posição da cabeça deve apresentar o plano sagital mediano perpen-
dicular ao plano horizontal; a linha trágus-asa do nariz paralela ao solo
para radiografias da maxila e trágus-comissura labial para a mandíbula.
A posição do filme segue o longo eixo do filme perpendicular ao plano
horizontal para dentes anteriores, e, para os molares, o longo eixo para-
lelo ao plano horizontal.

Figura 14 – Manutenção do filme periapical na técnica da bissetriz.


Fonte: Foto dos autores

Método do Paralelismo
Para a realização da técnica do paralelismo, o filme ficará posicio-
nado paralelamente ao longo eixo do dente e os feixes de raios-X devem
incidir perpendicularmente ao filme e ao longo eixo do elemento dental.
Técnicas radiográficas aplicadas à odontopediatria - 67

Neste método, para a tomada radiográfica periapical são utilizados dis-


positivos para manutenção do filme em posição, denominados posiciona-
dores radiográficos. Os posicionadores, além de manter o filme paralelo
na posição ideal para a incidência, possuem um anel para direciona-
mento da distância e local de incidência do cone do aparelho de raios-X
(Figuras 15 e 16). Esta técnica apresenta como vantagens a simplicida-
de de execução e menor distorção da imagem radiográfica. Na odonto-
pediatria, a desvantagem apresentada pelo uso dos posicionadores está
na dificuldade em adaptar o dispositivo na boca de crianças pequenas.

Figura 15 – Posicionadores utilizados


para radiografia periapical do
paralelismo.
Fonte: Foto dos autores

Figura 16 – Utilização do
posicionador radiográfico para
a tomada radiográfica periapical
infantil.
Fonte: Foto dos autores

Em alguns casos, como mencionado anteriormente, o profissional


pode se deparar com dificuldades para realização da técnica e adapta-
ção do filme radiográfico na posição ideal. Crianças menores de 6 anos
podem apresentar falta de maturidade motora para manter o filme em
68 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

posição com a pressão digital. Em casos de limitações como essas, é


possível realizar adaptações para posicionamento do filme radiográfico.
As modificações consistem em utilizar um filme periapical adulto
adaptado ao tamanho da boca da criança e à região a ser radiografada.
Para a região anterior superior e inferior, será realizada uma única
tomada radiográfica para visualização de canino a canino. O filme peria-
pical é posicionado com o maior longo eixo entre as comissuras labiais,
e mantidos em posição com os dentes em oclusão (Figura 17). Para os
superiores os raios-X incidem na ponta do nariz. Nos inferiores os raios
incidem sobre o mento.
A adaptação para a tomada radiográfica nos dentes posteriores
(molares decíduos) superiores e inferiores pode ser realizada da seguin-
te maneira: dobrar o filme periapical adulto no terço superior, forman-
do um L. No ângulo reto formado, com fita adesiva, adaptar um rolete
de algodão para servir de apoio para a oclusão (Figura 18). Posicionar
o filme na região a ser radiografada. O filme será mantido em posição
pela oclusão do paciente (Figura 19). A incidência dos feixes de raios-
-X deverá seguir o princípio da técnica da bissetriz.

Figura 17 – Representação do posicionamento


do filme periapical na adaptação da técnica
radiográfica para dentes anteriores.
Fonte: Foto dos autores
Técnicas radiográficas aplicadas à odontopediatria - 69

Figura 18 – Adaptação do filme periapical adulto


para tomada radiográfica para molares decíduos.
Fonte: Foto dos autores

Figura 19 – Representação do posicionamento do filme periapical adaptado


para tomada radiográfica de molares decíduos.
Fonte: Foto dos autores

Técnica Radiográfica Interproximal


A técnica radiográfica interproximal é utilizada para pesquisa de
cárie proximal e oclusal; estudo da relação entre a proximidade da le-
são de cárie com a câmara pulpar; avaliação do contorno das restaura-
ções; estudo da crista alveolar e pesquisa de desmineralização em sulcos
escurecidos.
70 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Essa tomada radiográfica também é conhecida como bite-wing,


pois, para a realização, utiliza-se uma asa de mordida para manuten-
ção do filme em posição ou o posicionador apropriado para este méto-
do (Figura 20).

Figura 20 – Dispositivos para tomada radiográfica interproximal.


Fonte: Foto dos autores

Para execução da técnica interproximal, o paciente deve estar com


a cabeça posicionada da seguinte maneira: linha trágus-comissura labial
paralela ao plano horizontal e o plano sagital mediano do paciente per-
pendicular ao solo. Para a incidência do feixe de raios-X a angulação
vertical deverá estar entre +8º e +10º e a horizontal paralela às faces pro-
ximais dos dentes que serão avaliados radiograficamente (Figura 21).
Técnicas radiográficas aplicadas à odontopediatria - 71

Figura 21 – Tomada radiográfica interproximal.


Fonte: Foto dos autores

Recomendações para tomadas radiográficas em crianças


• Familiarizar a criança com o aparelho radiográfico, com o fil-
me e o posicionador;
• Apresentar e colocar o avental de chumbo;
• Selecionar o filme compatível com a cavidade bucal;
• Regular a angulação e o tempo de exposição;
• Deixar a colocação do filme na cavidade bucal por último;
• Realizar as radiografias anteriores primeiro (pela facilidade).

____________________
Referências
GUEDES-PINTO, Antônio Carlos. ISSÁO, Myaki (in memoriam). Manual de
odontopediatria. 12. ed. São Paulo: Santos, 2013.
GUEDES-PINTO, Antônio Carlos. Odontopediatria. São Paulo: Santos, 2009.
Anestesia local em odontopediatria: técnicas e considerações básicas - 72

Capítulo 6 VOLTAR AO
Anestesia local em odontopediatria: SUMÁRIO
técnicas e considerações básicas

Sandra Kalil Bussadori


Marcelo Mendes Pinto
Lara Jansiski Motta
Eugênio Garcia

Introdução
O uso da anestesia local em odontopediatria é uma técnica bas-
tante utilizada tanto para poder executar procedimentos restauradores e
cirúrgicos quanto para o alívio e controle da dor.
No entanto, este simples procedimento pode desencadear mais
ansiedade e dor, e inclusive, dar origem a experiências traumáticas que
afetarão o comportamento do paciente nas próximas consultas odontoló-
gicas ao longo da vida. Estudos mostram que a ansiedade provocada pelo
procedimento anestésico em crianças reproduz as mesmas características
nos pacientes, independentemente do tempo de experiência clínica dos
diferentes profissionais. O objetivo deste guia é auxiliar quanto à tomada
de decisão ao que ser refere à utilização da anestesia local para controlar
a dor durante a prestação de cuidados de saúde oral em odontopediatria.

Definição e propriedades dos anestésicos locais


A anestesia local é a perda temporária de sensibilidade ou dor em
uma parte do corpo, produzida por um agente aplicado topicamente ou
injetado sem diminuir o nível de consciência.
Os anestésicos locais criam uma barreira química entre a origem
da dor e o cérebro, interferindo na capacidade de um nervo de transmi-
tir sinais elétricos ou potenciais de ação bloqueando os canais de sódio.
O único local em que as moléculas de anestésicos locais têm acesso à
membrana nervosa é nos nódulos de Ranvier, onde estes canais estão em
73 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

abundância (a interrupção de sinal nervoso em fibras mielinizadas deve


ocorrer em três nódulos consecutivos).

Protocolo prévio da administração dos anestésicos locais

– Antes da administração de qualquer fármaco em um paciente, o cirurgião


dentista deve avaliar a saúde do paciente para determinar se este pode
tolerar o medicamento e minimizar as possíveis complicações resultantes
da administração da droga. A ficha de anamnese deve ser completada
focando nos tópicos relacionados à: alergia, doenças cardíacas, tratamento
medicamentoso sistêmico.
– Orientar a família na preparação pré-operatória e na motivação do
paciente. Evitar falar a respeito de dor ou danos provocados pelas agulhas
e/ou injeções colabora no controle da ansiedade e no controle do medo.
Palavras simples devem ser empregadas na comunicação profissional-
paciente de forma tranquilizadora para controlar a ansiedade.

Os anestésicos injetáveis podem ser divididos em dois grandes


grupos: ésteres (benzocaína e procaína) e amida (articaína, bupivacaí-
na, lidocaína, prilocaína e mepivacaína). Os agentes anestésicos são va-
sodilatadores, e seu efeito sistêmico tóxico pode suceder eventualmente
caso haja excesso na dose ou aplicação diretamente num vaso sanguíneo.
Para contrarrestar o efeito vasodilatador, vasoconstritores são usa-
dos para ajudar a prolongar o efeito anestésico no local de aplicação,
reduzir a absorção sistêmica, reduzir a toxicidade, e proporcionar um
campo ausente de sangue durante procedimentos cirúrgicos. O uso do
vasoconstritor permite que a dose máxima total do agente anestésico
deve ser aumentada em cerca de 40% (tabela 1).
Anestesia local em odontopediatria: técnicas e considerações básicas - 74

Tabela 1 – Duração do efeito dos anestésicos locais injetáveis (em minutos)

Anestésico Infiltrativa Bloqueio


mandibular
Tecido Tecidos Tecido Tecidos
pulpar moles pulpar moles
Lidocaína

2% sem vasoconstritor 5 60 10-20 120

2% 1:50.000 epinefrina 60 170 85 190

2% 1:100.000 epinefrina 60 170 85 190


Mepivacaína

3% sem vasoconstritor 25 90 40 165

3% 1:100.000 epinefrina 60 170 85 190

3% 1:20.000 levonordefrina 50 130 75 185


Articaína

4% 1:100.000 epinefrina 60 180 90 230

4% 1:200.000 epinefrina 45 120 60 180


Prilocaína

3% felipresina 0,03 UI 60 180 90 300


Bupivacaína

0,5% epinefrina 1:200.000 90 240 180 540


Fonte: Associação Americana de Odontopediatria

Outra diferença entre os agentes anestésicos injetáveis são as do-


ses máximas recomendadas. Isto é extremamente relevante em odonto-
logia pediátrica, onde há uma grande variação de peso entre os pacientes
e, portanto, nem todos os pacientes devem receber quantidades iguais
de anestésico local para o mesmo procedimento. Para o cálculo deve
ser considerado o peso do paciente, a concentração do sal anestésico, a
concentração do vasoconstritor e as doses máximas de cada um deles.
75 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Tabela 2 – Dosagem máxima recomendada para anestésicos locais

Anestésico Dosagem máxima Dosagem mg/1,8 mL


(sem vasoconstritor) (mg/kg) máxima total tubete

Lidocaína 2% 4,4 300 mg 34 mg

Mepivacaína 3% 4,4 300 mg 54 mg

7 (adultos) 500 mg
Articaína 4% 72 mg
5 (crianças) 300 mg

Prilocaína 3% 6 400 mg 54 mg

Bupivacaína 0,5% 1,3 90 mg 9 mg

Fonte: Associação Americana de Odontopediatria

Por exemplo, para calcular a quantidade máxima de lidocaína a


2% e o número de tubetes que podem ser administrados com segurança
a um paciente de 30 kg, devemos realizar o seguinte cálculo:

1) Dosagem máxima: 4,4 x 30 = 132 mg


2) Concentração do tubete 2% (1,8 mL) = 20 mg/mL x 1,8 mL = 36 mg
3) Número total máximo de tubetes = 132 ÷ 36 = 3,7 tubetes

Assim, para uma criança de 30 kg pode-se administrar com segu-


rança 3,6 tubetes de lidocaína a 2% com adrenalina 1: 100.000.
Anestesia local em odontopediatria: técnicas e considerações básicas - 76

Técnicas para anestesia local em odontopediatria

Protocolo de administração

– Posicionar o paciente na cadeira de modo que o mesmo fique confortável


e previna situações como síncope causada pela ansiedade.
– Previamente à aplicação do anestésico tópico é necessário limpar e
manter seca a região.
– A temperatura da solução anestésica deve estar próxima da temperatura
corporal para evitar desconforto durante a aplicação.
– A estabilização da cabeça e do corpo do paciente deve ser avaliada
segundo o grau de ansiedade e necessidade de controle dos movimentos
para evitar acidentes.
– A falta de sensibilidade provocada pelo anestésico pode provocar a
sensação de “perda” da região afetada, levando a criança a sentir medo.
Usar um espelho de mão para mostrar que a região se encontra normal.

Anestesia tópica
A aplicação de um anestésico tópico (eficaz em 2-3 mm de pro-
fundidade) pode ajudar a minimizar o desconforto causado durante a
inserção da agulha. Entre os anestésicos tópicos, a benzocaína e a li-
docaína são os mais utilizados, estando disponíveis em concentrações
de até 20% e podem vir nas formas líquida, pulverização e gel. Em to-
dos os casos é preciso controlar a quantidade administrada para evitar
atingir vias faríngeas. As propriedades farmacológicas do agente tópi-
co devem ser compreendidas e consideradas no cálculo da quantidade
total de anestésico administrada. Especial atenção deve ser dada a pa-
cientes menores de 2 anos, os quais podem desenvolver metaemoglo-
binemia (Figura 22).
77 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Figura 22 – Material básico usado em técnicas anestésicas odontológicas:


seringa carpule, tubete com anestésico, agulha para seringa carpule,
anestésico tópico, haste flexível para aplicação do anestésico tópico.
Fonte: Os autores

Técnica básica de injeção

– Na técnica infiltrativa, os tecidos vestibulares devem ser afastados e


estendidos para facilitar a inserção da agulha o mais próximo do ápice
do dente.
– Introduzir 1-2 mm do extremo da agulha com o bisel orientado para o
osso (evitar o periósteo) (Figura 23).
– Administrar aproximadamente ¼ do cartucho de anestésico à medida
que vá se introduzindo a agulha.
– Confirmar a aspiração negativa caso necessário.
– Introduzir o resto do agente anestésico.
– Caso haja necessidade de anestesiar o dente vizinho, remover a agulha
parcialmente, mudar sua inclinação e depositar parte do anestésico.
– Acompanhar os sinais nos primeiros minutos (3-5 min). NUNCA SE
AFASTAR DO PACIENTE NESTA ETAPA.
– Contraindicação: inflamação ou infecção na área a ser anestesiada.
Anestesia local em odontopediatria: técnicas e considerações básicas - 78

Figura 23 – Bisel da agulha orientada para o osso.


Fonte: Foto do autor

Técnicas anestésicas mandibulares

Anestesia infiltrativa dos incisivos mandibulares


Indicada para complementar o bloqueio alveolar inferior em casos
onde haja necessidade do tratamento do quadrante (dentes anteriores e pos-
teriores da mesma hemiarcada); para remoção de tecido cariado superficial
ou exodontia de dentes decíduos parcialmente esfoliados. Para anestesiar
as fibras nervosas que atravessam a linha media para o quadrante contra-
lateral, a agulha deve ser inserida de forma diagonal em direção dos ápi-
ces desde o quadrante a ser tratado previamente anestesiado (Figura 24).

Anestesia infiltrativa dos molares mandibulares


Ideal para procedimentos restauradores nos primeiros molares
decíduos. Caso haja necessidade de instalar o grampo para isolamento
absoluto pode ser complementada com a técnica através da papila gen-
gival vestibular previamente anestesiada. Ao evitar a anestesia da lín-
gua, esta técnica também é aconselhada para restaurações mandibulares
bilaterais (Figura 24).
79 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Figura 24 – Anestesia infiltrativa na mandíbula. A) Sítio da punção no fundo do


sulco vestibular. B) Região atingida para setor anterior (rosa) e posterior (verde).
Fonte: Foto do autor

Bloqueio do nervo alveolar inferior, bucal e lingual


(regional pterigomandibular)
Ideal para pré-molares e molares (decíduos e permanentes). É
preciso conhecer e identificar estruturas anatômicas que servirão como
referência. Preferencialmente é utilizada a técnica direta, onde a serin-
ga está posicionada entre o canino e o primeiro molar decíduo do lado
oposto a anestesiar, ligeiramente inclinada para baixo (língula mandi-
bular em crianças localizada abaixo do plano oclusal), usando o espaço
retromolar como ponto de punção. O dedo indicador (ou polegar) deve
deslizar-se sobre as superfícies oclusais até apalpar a linha obliqua ex-
terna. A metade da unha pode servir como referência da altura da pun-
ção. Introduzir a agulha cerca de 4 mm depositando aproximadamente
1/3 do tubo anestésico para anestesiar o nervo lingual. Introduzir a agu-
lha mais 4 mm e depositar o restante do anestésico para atingir o nervo
dentário inferior (Figura 25).
Anestesia local em odontopediatria: técnicas e considerações básicas - 80

Figura 25 – Vista lateral (a) e superior (b) da técnica anestésica regional


pterigomandibular.
Fonte: Foto do autor

Para atingir o nervo bucal, depositar algumas gotas do anestési-


co na submucosa do trígono retromolar com a seringa paralela ao plano
oclusal penetrando 1-4 mm com a agulha. (Figura 26).

Figura 26 – Sítio de punção para o nervo bucal.


Fonte: Foto do autor

Os sinais e sintomas de um bloqueio alveolar inferior são os seguin-


tes: formigamento e dormência do lábio inferior (no entanto, não é uma
indicação da profundidade de anestesia); formigamento e dormência da
língua; ausência de dor durante o tratamento odontológico (Figura 27).
81 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Figura 27 – Regiões inervadas por cada ramificação do


Nervo Dentário Inferior.
Fonte: Foto do autor

Técnicas anestésicas maxilares

Anestesia infiltrativa dos incisivos e caninos (decíduos e


permanentes) maxilares
A técnica básica é similar a descritas anteriormente. Particularmente
orientar a agulha paralela ao longo eixo dos dentes. A região nasolabial é
muito sensível, portanto controlar ao máximo a técnica anestésica para
não gerar desconforto (Figura 28).

Figura 28 – Sítio de punção para anestesia infiltrativa no maxilar superior (a). Regiões
inervadas pelo ramo alveolar anterior (verde), médio (amarelo) e posterior (azul).
Fonte: Foto do autor
Anestesia local em odontopediatria: técnicas e considerações básicas - 82

Anestesia infiltrativa dos molares (e pré-molares)


Esta técnica serve para anestesiar molares decíduos, pré-molares
e raízes mesio-vestibulares do primeiro molar permanente. Orientar a
agulha paralela ao longo eixo dos dentes. Está contraindicada em caso
de infecção ou inflamação desta região (Figura 29).
Se não for efetiva ou por presença de infecção, pode ser comple-
mentada com o bloqueio do nervo alveolar superior: A área de inserção
é a altura do sulco vestibular para acima e distal à raiz disto-vestibu-
lar do último molar presente na arcada dentária. Avançar com a agulha
lentamente no sentido: superior num ângulo de 45 graus em relação ao
plano oclusal; medialmente (para dentro) em direção à linha média em
um ângulo de 45 graus em relação ao plano oclusal; e posteriormente a
um ângulo de 45 graus em relação ao eixo longitudinal do molar a uma
profundidade de 10-14 mm (Figura 29).

Figura 29 – Técnica para bloqueio do nervo alveolar superior. Vista frontal (a) e
lateral (b).
Fonte: Foto do autor

Anestesia infiltrativa da mucosa palatina


Talvez mais traumática e dolorosa que a anestesia da mucosa vesti-
bular da região nasolabial devido às características fibrosas desta mucosa
e a forte aderência com o tecido ósseo subjacente que impede a expansão
do tecido mole para injeção do liquido anestésico. Provoca anestesia das
terminações nervosas dos nervos nasopalatino e palatino maior. É indi-
cado para anestesiar a mucosa palatina local em casos onde seja necessá-
83 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

ria hemostase após cirurgia ou inserção de bandas matrizes ou grampos


subgengivalmente. A técnica deve ser complementada com compressão
da área de inserção da agulha para gerar isquemia e assim a dessensibili-
zação prévia. A punção deve ser feita a 45 graus, seguindo as mesmas in-
dicações das técnicas anteriores. Usar preferentemente agulhas curtas e
de médio calibre (27 G) e injetar o anestésico lentamente e sem pressão.

Bloqueio regional do nervo nasopalatino


Indicado para procedimentos periodontais e cirúrgicos no palato
duro, ou em procedimentos restauradores em vários dentes da região onde
é primordial abordar a mucosa gengival palatina (ex: posicionamento de
bandas matrizes ou grampos). A injeção do agente anestésico no forame
palatino provoca a anestesia da região palatina dos seis dentes anteriores.
Provocar isquemia na papila incisiva por compressão, inserir a
agulha ao lado da papila e paralela ao longo eixo dos incisivos, aproxi-
madamente 4 mm no forame e prévia aspiração. Injetar cerca de ¼ do
tubete (Figura 30).

Figura 30 – Área de inervação do Nervo nasopalatino (a), e sítio de


punção para bloqueio anestésico (b).
Fonte: Foto do autor

Bloqueio regional do nervo palatino maior


Possui a mesma indicação da técnica anterior, mas para procedi-
mentos a serem executados nos elementos dentários da região posterior
(pré-molares e molares). Localizar o forame palatino maior e provocar
Anestesia local em odontopediatria: técnicas e considerações básicas - 84

isquemia por compressão (30 segundos). A punção deve ser mesialmen-


te ao forame com a agulha em 90 graus ao longo eixo dos dentes, dire-
cionada desde o lado oposto (Figura 31).

Figura 31 – Área de inervação do Nervo palatino maior (a), e sítio


de punção para bloqueio anestésico (b).
Fonte: Foto do autor

Técnicas alternativas para aplicação de anestesia local


Técnicas alternativas (ex.: transpapilar, intraperiodontal, intrapul-
pares) podem ser consideradas para minimizar a dose de anestésico uti-
lizado, melhorar o conforto do paciente, e/ou melhorar a efetividade da
técnica de anestesia (Figura 32).

Figura 32 – Técnicas alternativas:


transpapilar (a-b), e intraperiodontal (c).
Fonte: Foto do autor
85 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Complicações das técnicas de anestesia local

Toxicidade do anestésico
Erros na técnica de injeção (intravascular ou por quantidade) po-
dem desencadear efeitos tóxicos nas crianças mais comumente devido
ao seu menor peso corporal. Nos minutos imediatos à administração dos
anestésicos é inevitável acompanhar o paciente caso apareçam sinais do
sistema nervoso central e/ou cardiorrespiratórios típicos de intoxicação
por anestésicos.

Reações alérgicas
Diante da suspeita de hipersensibilidade durante a anamnese, o pa-
ciente deve ser encaminhado ao especialista.
Sinais e sintomas típicos de processos alérgicos devem ser imedia-
tamente identificados. Dentre suas reações podem ser observadas reações
cutâneas ou até mesmo choque anafilático nos casos graves. Dependendo
da urgência indica-se a administração de epinefrina e corticosteróides.

Parestesia
Parestesia é a persistência dos sintomas anestésicos além do tem-
po esperado. Pode ser causado por dano mecânico com a agulha duran-
te a injeção ou por hemorragias nas proximidades ao nervo. O paciente
e a família devem ser orientados e acompanhados durante o tempo que
dure esta reação (até 8 semanas).

Danos aos tecidos moles circundantes (úlcera traumática)


Após procedimento anestésico orientar ao paciente e à família so-
bre os cuidados para evitar lacerações dos tecidos orais por mordidas
autoinduzidas. Sugerir evitar alimentação ou ingestão de líquidos ime-
Anestesia local em odontopediatria: técnicas e considerações básicas - 86

diatamente após o procedimento anestésico para evitar este tipo de aci-


dente. Preferencialmente optar por anestésicos de curta duração.

Fratura da agulha
O condicionamento do paciente e o uso de materiais e técnicas
adequadas favorece a prevenção deste tipo de acidente.

Dicas e recomendações

Anestesia e gestação
O uso de anestésicos locais durante a gravidez, pós-parto e ama-
mentação devem ser devidamente gerenciados. Apesar do uso de anesté-
sicos locais durante a gravidez (e amamentação) ser considerado seguro,
deve-se evitar o uso de vasoconstritores (a duração do efeito anestésico
pode ser alterada) e prilocaína e articaína (metaemoglobinemia). A li-
docaína é considerada a mais segura inclusive durante a amamentação.

Injeção de anestésico em zonas com infecção e/ou


inflamação
Zonas de infecção retardam ou impedem o aparecimento do efeito
anestésico por diminuição do pH extracelular do tecido a partir do seu valor
normal (7,4 a 5-6) ou inferior. A inserção de uma agulha em um sítio ativo
da infecção também pode levar a uma possível propagação da infecção.

Sistemas alternativos para aplicação de anestesia local


Com o intuito de reduzir a dor e controlar a ansiedade durante a
técnica anestésica existem alguns dispositivos que oferecem uma alter-
nativa à técnica anestésica comum com seringa/agulha:
• Injeção assistida por computador: comercialmente conhecido
como The Wand (Milestone Scientific, Livingston, NJ, EUA),
87 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

é um sistema que aplica o agente anestésico usando agulha com


pressão, velocidade e volume controlado eletronicamente.
• Dispositivo sem agulha: o sistema Comfort-in™ administra o
agente anestésico local de forma subcutânea sob pressão dosa-
da através de um micro orifício (0,15 mm), preservando o teci-
do em uma fração de segundo.

Agradecimentos
Ao Laboratório de Anatomia da UNINOVE, pelo empréstimo do
crânio sintético para ilustração deste capítulo.

____________________
Referências
GUEDES-PINTO, Antônio Carlos. ISSÁO, Myaki (in memoriam). Manual de
odontopediatria. 12. ed. São Paulo: Santos, 2013.
MALAMED, Stanley F. Handbook of local anesthesia. 6th ed. St Louis, Mo:
Mosby, 2013.
AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRIC DENTISTRY. Guideline use of
local anesthesia for pediatric dental patients. Pediatr Dent. v. 37, n. 5, p. 197-
203, Sept./Oct. 2015.
Terapêutica medicamentosa em odontopediatria - 88

Capítulo 7 VOLTAR AO
Terapêutica medicamentosa em odontopediatria SUMÁRIO

Marcelo Mendes Pinto


Lara Jansiski Motta
Sandra Kalil Bussadori

Compreender a aplicação e o uso dos medicamentos na


Odontopediatria é necessário não apenas para o profissional especialis-
ta, mas também para o Cirurgião Dentista generalista. O conhecimento
e a capacitação do cirurgião dentista na prescrição de uma terapêutica
medicamentosa adequada para crianças dependem do entendimento de
alguns fatores, como: o uso de formas líquidas, concentrações dos fár-
macos e cálculo de doses terapêuticas individuais do analgésico, do an-
tinflamatório e do antimicrobiano oral.
O paciente infantil, diferentemente do paciente adulto, é conside-
rado um paciente que requer cuidados adicionais por apresentar diferen-
ças em relação ao adulto. Na terapêutica medicamentosa, esses cuidados
também deverão ser observados para que, no dia a dia profissional, di-
minuam as chances de intercorrência pelo uso dos medicamentos.
Esse capítulo irá abordar didaticamente pontos importantes na tera-
pêutica medicamentosa indicada na Odontopediatria. De forma semelhan-
te a um manual, serão vistos pontos importantes como: as características
do paciente infantil, anamnese, uso de diferentes formas farmacêuticas,
aplicações dos medicamentos em função do grau de complexidade do
tratamento, cálculo de dose pediátrica e exemplos clínicos.

Importância da anamnese
Os recursos anamnéticos aplicados em Odontopediatria são vistos
em capítulo específico nesse manual, mas faz-se necessária uma breve
inserção de comentários sobre o tema voltado para terapêutica medica-
mentosa em criança. A anamnese é a base para o desenvolvimento e plane-
89 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

jamento da terapêutica em crianças, pois além de direcionar o diagnóstico


odontológico, estabelece o perfil do paciente, para que possamos indicar a
melhor escolha na realização da prescrição de medicamentos. O histórico
médico relatado nesse momento pode ser indicativo de experiências de-
sagradáveis em tratamentos anteriores, complicações decorrentes do uso
de fármacos como os anestésicos locais, reações de hipersensibilidade aos
componentes dos medicamentos e outras situações que devem ser investi-
gadas. É importante frisar que as crianças merecem uma abordagem anam-
nética direcionada a sua condição específica e diferente do paciente adulto.
O primeiro entendimento que devemos ter com relação a propor
terapêutica medicamentosa para crianças atendidas pelo dentista, é que
esse paciente requer alguns cuidados adicionais quando os agentes far-
macológicos forem necessários durante o decorrer do tratamento odon-
tológico (Quadro 1).
A criança apresenta diferenças em relação ao adulto e, por essas
características, o profissional, como condição básica, deve saber selecio-
nar a medicação apropriada para o uso em odontopediatria (indicação),
estabelecer as dosagens corretas calculadas em função do peso (poso-
logia), de forma a obter um efeito máximo da droga com o mínimo de
efeitos adversos, ação também conhecida como relação risco/benefício
do medicamento.

– Desenvolvimento da criança é diferente do adulto;


– Menor volume corpóreo;
– Sabor do medicamento auxilia na sua ingestão;
– Via de administração. A principal é a via oral;
– Intervalos entre doses semelhante ao adulto;
– Indicação – selecionar a medicação correta;
– Posologia – estabelecer a dosagem correta pelo número de dias
necessários.
Quadro 1 – Principais cuidados que devemos ter para realizar a terapêutica
medicamentosa em crianças.
Fonte: Os autores
Terapêutica medicamentosa em odontopediatria - 90

Outra importante informação para medicar crianças, é saber que


a maioria delas apresentam dificuldades na ingestão de medicamentos,
principalmente na deglutição de formas farmacêuticas sólidas. Sendo
assim, devemos optar pelas formas líquidas. (Quadro 2)

Formas Sólidas
– Comprimidos – o princípio ativo é compactado formando
um comprimido, esses medicamentos podem ser fracionados
em menores quantidades;
– Drágeas – são comprimidos revestidos por uma camada de
polímero degradável;
– Cápsulas – são dispositivos feitos de polímeros
degradáveis, que carregam o princípio ativo no seu interior.
Formas Líquidas
As formas líquidas são preferidas na prescrição da terapêutica
medicamentosa em crianças. Podem ser:
– Emulsão – Duas sustâncias terapêuticas que não se diluem
entre si;
– Suspensão – As substâncias, após a diluição, formam um
liquido viscoso;
– Soluções – Duas substâncias homogêneas e de baixa
viscosidade.
Quadro 2 – Formas Farmacêuticas.
Fonte: Os autores

Fármacos e medicamentos
De acordo com o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, “fár-
maco é qualquer preparado farmacêutico” feito para os diferentes fins;
entre os fármacos utilizados na odontopediatria citamos o analgésico e
antinflamatório indicados para controle da dor, antibióticos e os anesté-
91 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

sicos locais e sedativos. Existe uma diferença nesse conceito quando se


faz referência ao medicamento, ou seja, o medicamento é “qualquer subs-
tância de que se faz uso para combater doenças ou indisposições físicas”.
Ao comprar um medicamento na farmácia, diferentes classifica-
ções para o mesmo produto devem ser consideradas. A indicação se o
medicamento é referência, genérico ou similar deve ser uma orienta-
ção dada ao paciente ou seu responsável. O Quadro 3 mostra as princi-
pais características de cada grupo de medicamentos.

REFERÊNCIA GENÉRICO SIMILAR


– Inovador – Cópia do referência – Mesmo
princípio ativo e
– Submetidos a – Mesma fórmula e concentração
diferentes fases de efeito
estudo (I, II, III) – Submetidos a
– Submetidos a ensaios ensaios in vitro
– Comprovada in vitro
eficácia e segurança – Podem diferir no
– Submetidos a testes tamanho, prazo de
– Investimento de bioequivalência validade, veículo
– Patente (20 anos)
Quadro 3 – Grupos de medicamentos na farmácia e suas principais características.
Fonte: Os autores

O medicamento inovador que passou e ainda continua sob todas


as fases de estudo do fármaco (do desenvolvimento à aplicação em mo-
delos animais e uso clínico em humanos), que apresenta comprovação
de eficácia e segurança, com alto investimento para o desenvolvimento
e patenteado por em média 20 anos é o chamado medicamento referên-
cia. O medicamento denominado genérico é aquele considerado a có-
pia do medicamento referência, desenvolvido após a quebra ou término
da vigência da patente; o genérico apresenta as mesmas características
do medicamento referência. O medicamento similar apresenta o mes-
mo princípio ativo e concentrações do referência, mas podem apresentar
alterações quanto ao tamanho, prazo de validade, controle na produção
(manipulados), e forma farmacêutica.
Terapêutica medicamentosa em odontopediatria - 92

Informações sobre o medicamento


Todo medicamento apresenta informações mínimas que devem ser
descritas com linguagem de fácil assimilação pelo usuário. Essas infor-
mações estão relatadas na bula do medicamento e o profissional deve ter
conhecimento sobre as informações e características do fármaco que irá
prescrever. Entre as orientações mínimas necessárias, estão:
• Efeitos do medicamento – relatar os possíveis efeitos do medi-
camento prescrito, sejam desejáveis ou indesejáveis. Sobre os
efeitos indesejáveis é importante orientar o paciente quais efei-
tos podem ocorrer, como podemos reconhecê-los, quanto tem-
po irão durar, qual a gravidade e o que fazer caso apareçam. As
advertências no uso do medicamento também devem ser infor-
madas para o paciente, entre as quais, quando o medicamento
é contraindicado, qual a dose máxima e porque se deve tomar
o medicamento pelo número de dias prescritos.
• Por que é necessário o medicamento – essa informação é rela-
cionada à indicação de cada fármaco em odontopediatria.
• Que sintomas desaparecerão – associado à indicação, essa infor-
mação monitora a melhora no quadro clínico do paciente, bem
como o desaparecimento dos sinais e sintomas da patologia.
• Quando inicia o efeito e qual o tempo de duração – importan-
te informação associada a posologia do medicamento, tempo
de meia vida e início do efeito.
• O que pode ocorrer se não for tomado de forma correta – impor-
tante orientar o paciente durante a terapêutica medicamentosa.
• Como guardar o medicamento e o que fazer com sobras – na
terapêutica medicamentosa em crianças indica-se o uso de for-
mas líquidas, assim, os medicamentos devem ser guardados sob
refrigeração e sem contato com a luz. Quando sobra o medica-
mento líquido, a recomendação é de que se faça o descarte do
conteúdo em água corrente.
93 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Aplicação terapêutica dos medicamentos em


odontopediatria
Uma vez entendido que existem diferenças entre crianças e adul-
tos, e que as crianças requerem cuidados adicionais no que diz respeito
à prescrição de medicamentos, iremos agora iniciar a compreensão da
indicação dos diferentes fármacos (Controle da Dor e Infecção), como
iremos calcular as doses terapêuticas em crianças e como prescrevê-las.

Cálculo da dose para o paciente infantil


Provavelmente a maior dificuldade em entender a prescrição de
medicamentos em odontopediatria seja a tendência do profissional
em indicar fármacos da mesma forma que para o adulto. Por exem-
plo, quando se pergunta atualmente para um dentista qual o antibió-
tico de escolha em odontologia, responde-se... Amoxicilina 500mg,
tomar via oral (VO) um comprimido 8/8h por 7dias...; se a mesma
pergunta for feita para a prescrição em odontopediatria, a resposta
muitas vezes é igual, independente de ser criança, apesar de ser uma
prescrição equivocada.
Existem várias fórmulas e regras para calcular o valor da dose te-
rapêutica em crianças. As principais determinam a dose da criança em
função do peso e/ou idade, com algumas pequenas variações entre as
diferentes regras de cálculo, todas podem ser utilizadas. Apenas como
informação, entre as regras podemos citar a mais utilizada, chamada de
regra de Clark, que considera no cálculo a dose do adulto para calcular
a dose pediátrica; essa regra é indicada para crianças com peso corpó-
reo menor de 30kg. A regra de Law, para crianças menores de um ano
de idade, e a fórmula de Young, que calcula a dose pediátrica utilizan-
do a idade entre 1 a 12 anos (Quadro 4).
Terapêutica medicamentosa em odontopediatria - 94

Nome da Regra/ Particularidade da


Fórmula
Fórmula regra

Regra de Clark Peso corporal < 30Kg

Regra de Law < 1 ano de idade

Fórmula de Young 1 a 12 anos de idade

DP – Dose Pediátrica; DA – Dose adulto


Quadro 4 – Regras e fórmulas para cálculo de dose com base no peso do paciente.
Fonte: Os autores

As regras e fórmulas utilizadas para cálculo nesse capítulo são


apenas informativas, pois os medicamentos atuais apresentam em suas
bulas e também em artigos e livros os valores das doses terapêuticas in-
dicadas em crianças. Essas doses são representadas em mg/kg/dose e de-
vem ser conhecidas pelos profissionais, pois são o ponto de partida para
o cálculo e prescrição medicamentosa para a criança.
Três pontos são fundamentais para calcular a dose individual da
criança e prescrever um medicamento em odontopediatria, a saber:

1 – Qual a dose terapêutica em crianças (mg/kg/dose);


2 – Qual a posologia e tempo de uso (via administração / frequência
/ tempo de duração);
3 – Como é apresentado comercialmente (na farmácia) o medi-
camento, qual a concentração do princípio ativo, qual a forma
farmacêutica.

Para todos os medicamentos apresentados nesse capítulo, daremos


as principais informações de dose terapêutica em crianças, posologia e
concentração do princípio ativo dos medicamentos referência, para que
95 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

seja possível calcular a quantidade de medicamento necessária durante


a terapêutica indicada.

Raciocínio clínico para prescrição em Odontopediatria


Hipoteticamente, uma criança com 3 anos de idade 15Kg procu-
rou o serviço odontológico. Sem apresentar alterações na anamnese, foi
realizado o tratamento odontológico, após o qual o profissional verifica
a necessidade do uso de um analgésico para controle da dor.
Para a prescrição do analgésico para a criança, a primeira coisa a
saber é qual a medicação o profissional irá indicar para ter o efeito de-
sejável, que nesse caso é o controle da dor pós-operatória. Imaginemos
que o medicamento se chama AIDOR (um nome fantasia). Esse será o
medicamento prescrito para a criança.
O próximo passo é saber a resposta para os três pontos fundamen-
tais citados acima:

1– qual a dose terapêutica do AIDOR em crianças = 5mg/kg/dose;


2– qual a posologia = via oral/5 em 5horas/4dias;
3– vendido na farmácia = AIDOR 25mg/ml ou comprimidos de
100mg.

Como calcular a Dose Individual da Criança (DI)? É só multipli-


car a Dose Terapêutica (DT) pelo Peso da Criança (P),

DI = DT x P assim tem-se, DI = 5mg x 15Kg = 75mg/dose

DI=75mg/dose
Terapêutica medicamentosa em odontopediatria - 96

O próximo passo é calcular a quantidade de medicamento que a


criança deverá ingerir para que cada dose seja contemplada. Os cálcu-
los seguem abaixo:
Para esse cálculo é necessário que se saiba como o medicamen-
to é vendido na farmácia, e através de uma regra de três simples se tem
a quantidade necessária. Assim, se o “AIDOR” é vendido na forma lí-
quida de 25mg/ml, precisamos ver quanto é equivalente a 50mg atra-
vés da regra de três:

25mg-----------1ml
75mg-----------X

Desenvolvendo a conta temos:

X=75x1/25 X=75/25 X=3ml/dose

Prescrição do medicamento para a criança acima:


Ao Menor do Caso

Uso Interno

Aidor 25mg/ml-------------------------1 frasco

Tomar Via Oral 3 ml da suspensão a cada 5 horas durante 4 dias

Data e Assinatura

Esse é o raciocínio para cálculo e prescrição de qualquer medica-


mento em odontopediatria.
97 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Prevenção e controle da dor odontológica no paciente


infantil
Os medicamentos preconizados para controle da dor de origem
odontológica em crianças podem ser classificados em analgésicos e an-
tinflamatórios. Nesse item serão descritos os medicamentos de escolha
para as diferentes situações clínicas que envolvam uma condição de dor.

Analgésico
Os analgésicos são fármacos indicados em odontopediatria para
prevenção e controle da dor de intensidade leve a moderada decorrentes
de intervenções de menor complexidade (Quadro 5). Os principais anal-
gésicos utilizados em odontopediatria são: o paracetamol e a dipirona.

– Exodontia simples
– Gengivectomia/ gengivoplastia
– Ulotomia/ ulectomia
– raspagem subgengival
– dentística restauradora
– terapia pulpar
– traumatismo dental de baixa intensidade
Quadro 5 – Intervenções de menor complexidade em odontopediatria.
Fonte: Os autores

Paracetamol – É o analgésico de escolha para prevenção e controle


da dor odontológica indicado para crianças, por apresentar maior
segurança no uso. Apresenta efeito analgésico e antitérmico potente,
mas o efeito antinflamatório é pouco potente. A dose terapêutica do
paracetamol está entre 10 a 15mg/kg/dose, administrado em intervalos
de 6 horas entre cada dose.
Terapêutica medicamentosa em odontopediatria - 98

Geralmente em crianças prescreve-se o paracetamol em solução


oral de 200mg/ml, também conhecida como “solução gotas”. Para essa
formulação do paracetamol (apenas a solução gotas), existe uma regra
prática na literatura e que utilizamos na clínica odontopediátrica, que
facilita a prescrição de uma dose segura e eficaz, que emprega a razão
de 1gota/kg de peso da criança, até o limite máximo de 35 gotas. Não
se deve exceder as doses prescritas e deve-se restringir o seu uso em 24
horas. Para os procedimentos realizados em crianças, considerados de
baixa complexidade, não é necessário estender o uso do analgésico no
pós-operatório por mais de 1 dia.
É importante frisar que a regra prática somente poderá ser aplicada se
o paracetamol for comprado como solução gotas. Outras formulações po-
dem ser adquiridas na farmácia, como suspensões com diferentes concen-
trações, dessa forma se prescrevermos um paracetamol que não seja gotas,
termos que calcular a dose individual da criança e a quantidade de medica-
mento a ser ingerido, como vimos anteriormente no raciocínio clínico para
o cálculo. O Quadro 6 mostra as principais características do paracetamol.

– Dose terapêutica em crianças = 10 a15mg/kg/dose


– Apresentação comercial = (concentração do paracetamol) /ml
– 200mg/ml ou solução gotas
– 160mg/5ml
– 100mg/ml
– 32mg/ml
– Posologia = 1 dose a cada 6 horas por 24 horas
– Marcas comerciais: Tylenol 200mg/ml (ou gotas); Tylenol 100mg/ml
(bebê); Tylenol 32mg/ml (criança), Dorico 200mg/ml; Paralgen 200mg/
ml; Paracetamol 200mg/ml; entre outros
– Regra prática – 1 gota/Kg
Quadro 6 – Características do analgésico paracetamol.
Fonte: Os autores
99 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Dipirona Sódica – Segunda opção em analgésico para prevenção e


controle da dor odontológica indicado para crianças. Alguns autores re-
latam que o uso da dipirona deve ser cauteloso, pois podem causar alte-
rações na pressão arterial (PA) do paciente, causando uma diminuição.
A criança apresenta oscilações na PA relacionadas com a idade e con-
forme vão atingindo a adolescência a pressão tende a manter-se normal.
A literatura indica inclusive que pacientes com o valor da máxima me-
nor que 100mm/Hg, não devem utilizar a dipirona ou devem ter acom-
panhamento médico.
A dipirona em condições normais tem a indicação precisa para pa-
cientes com dor presente ou instalada. Esse tipo de dor é bem caracte-
rística de quadros de urgência odontológica, no qual o paciente chega
ao consultório com processos de dor agudos. Nesses casos a dipirona
parece ter melhor efeito analgésico quando comparado ao paracetamol.
Apresenta efeito analgésico e antitérmico potente, mas o antinflamató-
rio é pouco potente. A dose terapêutica da dipirona sódica é de 10mg/
kg/dose, administrada em intervalos de 4 horas entre cada dose, não ex-
cedendo 4 doses diárias.
Geralmente utiliza-se a dipirona em solução oral de 500mg/ml,
também conhecida como “solução gotas”. Para essa formulação da dipi-
rona (apenas em gotas), existe uma regra prática na literatura e que uti-
lizamos na clínica odontopediátrica, que emprega a razão de ½gota/kg
de peso da criança, até a quantidade máxima de 20 gotas. Não se deve
exceder as doses prescritas restringindo o seu máximo em 24 horas. A
dipirona é uma solução com sabor amargo, nada impede que seja diluí-
da em uma pequena quantidade de suco. O raciocínio da regra prática
segue para a dipirona, como visto anteriormente para o paracetamol. O
Quadro 7 mostra as principais características da dipirona.
Terapêutica medicamentosa em odontopediatria - 100

– Dose terapêutica em crianças = 10mg/kg/dose


– Apresentação comercial = (concentração da dipirona) /ml
- 500mg/ml ou solução gotas
- 50mg/ml
– Posologia = 1 dose a cada 4 horas não excedendo 24 horas
– Marcas comerciais: Novalgina 500mg/ml (ou gotas); Novalgina
50mg/ml (Infantil); Anador 500mg/ml; Magnopyrol 500mg/ml; Dorilan
500mg/ml; Dipirona Sódica 500mg/ml; Dipirona Sódica 50mg/ml; entre
outros.
– Regra prática – ½ gota/Kg
Quadro 7 – Características do analgésico dipirona.
Fonte: Os autores

Protocolo farmacológico indicado para uso do


analgésico em odontopediatria

No Pós-Operatório
• administrar a 1ª dose de paracetamol “gotas” (1gt/kg) ou so-
lução na concentração desejada, logo após a intervenção, com
doses de manutenção a cada 6h por 24 horas.
OU
• administrar a 1ª dose de dipirona “gotas” (½gt/kg) ou solução
na concentração desejada, logo após a intervenção, com doses
de manutenção a cada 4h não excedendo 4 doses em 24 horas.
Mais uma vez deve ser reforçado, sobre o uso do analgésico, que
todo analgésico indicado para criança deve ser prescrito por no máximo
24 horas e em caso da dor persistir devemos orientar o responsável pelo
paciente a retornar ao consultório para verificar se existe alguma ou-
tra intercorrência que está levando à manutenção do processo doloroso.
101 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Antinflamatório
Os antinflamatórios são fármacos indicados em odontopediatria
para a prevenção e controle da dor e edema de intensidade mais pronun-
ciada, decorrentes de intervenções de maior complexidade (Quadro 8).
Os principais medicamentos antinflamatórios utilizados em odontope-
diatria são: a dexametasona ou betametasona e o ibuprofeno.

=> pré-operatório cirúrgico


=> cirurgia de odontomas e supranumerários
=> cirurgia de dentes inclusos
=> exodontia seriada
=> frenectomia labial/lingual
=> tracionamento ortodôntico
=> traumatismo dental de grande intensidade
Quadro 8 – Intervenções de maior complexidade em odontopediatria.
Fonte: Os autores

O uso de antinflamatório em odontopediatria é muito restrito e


particularmente difícil de ser utilizado. Isso acontece porque a maioria
dos procedimentos que realizamos no paciente infantil é considerada de
intensidade leve à moderada, mas algumas situações clínicas necessi-
tam de uma prescrição mais elaborada. Nessas situações em que a dor e
o edema são mais pronunciados, a primeira opção é pelo uso dos corti-
costeroides betametasona ou dexametasona, por via oral, em dose única
pré-operatória. De forma alternativa aos corticoides, emprega-se o ibu-
profeno, um analgésico com potencial antinflamatório por tempo restri-
to (a posologia do ibuprofeno (100mg/ml) é de 1 gota/Kg a cada 6 horas
por 24 horas).
Geralmente indica-se para a criança a dexametasona ou betame-
tasona em solução oral de 0,5mg/ml, também conhecida como “solu-
ção gotas”. Para essa formulação do corticoide (apenas em gotas), existe
Terapêutica medicamentosa em odontopediatria - 102

uma regra prática na literatura e que utilizamos na clínica odontopediá-


trica, que emprega a razão de 1gota/kg de peso da criança, em dose úni-
ca no pré-operatório. Em algumas situações não corriqueiras, o uso do
corticoide pode ser prolongado por até 3 dias em doses únicas diárias,
administradas preferencialmente pela manhã. O quadro 9 mostra as
principais características do antinflamatório.

– Dose terapêutica em crianças = 0,025 a 0,05mg/kg/dose


– Apresentação comercial = (concentração do corticoide)/ml
- 0,5mg/ml ou solução gotas
- 0,5mg/ml ou elixir
- 0,1mg/ml ou elixir
– Posologia = dose única no pré-operatório
– Marcas comerciais: Koide 0,1mg/ml(elixir); Celestone 0,5mg/ml
(gotas); Celestone 0,1mg/ml (elixir); Decadron 0,5mg/ml; Decadron
0,1mg/ml (elixir); Dexametasona 0,5mg/ml; Betametasona 0,5mg/ml,
entre outros.
Regra Prática – 1 gota/Kg

Quadro 9 – Características do antinflamatório dexametasona e betametasona. Fonte:


Os autores

IMPORTANTE: A nimesulida, excelente antinflamatório indicado


para pacientes adultos, não deve ser prescrita para crianças menores
que 12 anos de idade, pois existe na literatura a contraindicação
do uso desse medicamento nas crianças por levar a alterações
no desenvolvimento dos rins, chamada de Síndrome de Reyes.
103 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Protocolo farmacológico indicado para uso do


antinflamatório em odontopediatria

No Pré-Operatório
o administrar dexametasona ou betametasona solução “gotas”
(0,5mg/ml) na dosagem de 1gt/kg de peso, em dose única, 45
minutos antes do procedimento.

No Pós-Operatório (dependendo do trauma esperado)


o administrar dexametasona ou betametasona solução “gotas”
(0,5mg/ml) na dosagem de 1gt/kg de peso, em dose única diá-
ria pela manhã, não estendendo a 3 dias de uso.
OU
o ibuprofeno (100mg/ml) na dosagem de 1gt/Kg de peso a cada
6 horas por 24 horas.

Controle da infecção odontológica no paciente infantil


Ao nos reportarmos à literatura, verifica-se que as moléstias da
cavidade bucal são de origem infecciosa. Atualmente tem sido muito
estudada a utilização de antimicrobianos como auxiliares na prevenção
e tratamento das doenças bucais. No entanto, o profissional, reluta em
empregar tais agentes, por desconhecimento dos grandes benefícios que
tais terapias podem trazer.
De forma semelhante ao que acontece para os pacientes adultos,
as penicilinas são definitivamente os antibióticos mais empregados na
odontopediatria. Isso acontece, pois, as penicilinas apresentam eficácia
e baixíssima toxicidade. Nas infecções iniciais odontológicas de leves
a moderadas, indica-se o uso da penicilina V, ampicilina e amoxicilina.
Em infecções mais evoluídas, consideradas graves, pode-se associar ao
antibiótico de escolha o metronidazol, mas não podemos indicar essas
Terapêutica medicamentosa em odontopediatria - 104

associações sem antes verificar o risco/benefício delas. O Quadro 10


mostra os principais antibióticos utilizados para controle da infecção em
pacientes odontopediátricos.
Quando a criança apresentar alergia às penicilinas, indica-se o es-
tearato de eritromicina nas infecções iniciais, ou pela claritromicina ou
azitromicina em infecções mais graves. Para todos os medicamentos,
deve-se sempre analisar as precauções e contraindicações do seu uso.

Penicilinas Semissintéticas
Penicilina V (250mg/5ml)
Ampicilina (250mg/5ml)
Amoxicilina (125, 200, 250, 400, 500mg/5ml)
Cefalosporinas
Cefalexina (250mg/5ml)
Macrolídeos
Eritormicina (125, 250mg/5ml)
Claritromicina (125, 250mg/5ml)
Azitromicina (200mg/5ml)
Metronidazol
Benzoilmetronidazol (200mg/5ml)

Quadro 10 – Principais antibióticos utilizados para controle da infecção em pacientes


Odontopediátricos.
Fonte: Os autores

Protocolo Farmacológico para uso de antibiótico em


odontopediatria
Existem três possibilidades terapêuticas para emprego dos antibi-
óticos em odontopediatria, que são:
105 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Dose profilática para endocardite bacteriana – essa dose é ca-


racterizada pela administração do medicamento apenas em dose
única de 30min a 1 hora antes do procedimento. Essa dose é utili-
zada em situações sistêmicas específicas que aumentam a chance
de risco à endocardite.
Dose de manutenção – essa dose é caracterizada pela administra-
ção e manutenção do antibiótico durante o período necessário para
que o efeito terapêutico seja conseguido. Essa dose varia de acor-
do com o tipo de patologia e fármaco utilizado.
Dose ataque – é o dobro da dose de manutenção. É administrada
para que o nível sérico do antimicrobiano chegue rápido ao nível
sérico. Após a administração da dose ataque o paciente continua
fazendo uso da dose de manutenção, pelo tempo necessário.

Os antimicrobianos empregados na odontopediatria e as concen-


trações encontradas na farmácia serão discutidos nos quadros a seguir:
Terapêutica medicamentosa em odontopediatria - 106

Penicilinas Semissintéticas

• Penicilina V ou Ampicilina
Dose terapêutica em crianças = 15mg/kg/dose
Dose ataque =30mg/kg/dose única
Dose profilática = 250mg-1hora antes
Apresentação comercial = (concentração do antibiótico)/ml
Penicilina V ou Ampicilina 250/5ml
Posologia = 1 dose a cada 6 horas durante 7 dias
Marcas comerciais: Pen-Ve-Oral 80.000UI; Amplacilina 50mg/ml; Neo
Ampicilin 250mg/5ml
• Amoxicilina
Dose terapêutica em crianças = 20mg/kg/dose
Dose ataque = 40mg/kg/dose única
Dose profilática = 50mg/kg/1hora antes
Apresentação comercial = (concentração da amoxicilina)/ml
Amoxicilina 125, 200, 250, 400, 500mg/5ml
– Posologia = 1 dose a cada 8 horas durante 7 dias
– Marcas comerciais: Amoxil 125, 250, 500mg/5ml; Amoxil BD 200,
400mg/5ml; Novocilin 250, 400mg/5ml.

Quadro 11 – Características das Penicilinas Semissintéticas.


Fonte: Os autores
107 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Macrolídeos

• Eritromicina
Dose terapêutica em crianças = 10mg/kg/dose
Dose ataque =20mg/kg/dose única
Dose profilática = 30mg/kg/1hora antes
Apresentação comercial = (concentração da eritromicina)/ml
Eritromicina (125 ou 250mg/5ml)
– Posologia = 1 dose a cada 6 horas durante 10 dias
– Marcas comerciais: Eritromicina 125 ou 250mg/5ml; Rubromicin 125
ou 250mg/5ml.
• Claritromicina
Dose terapêutica em crianças = 7,5mg/kg/dose
Dose ataque =15mg/kg/dose única
Dose profilática =20mg/kg/1hora antes
Apresentação comercial = (concentração da claritromicina)/ml
Claritromicina (25 ou 50mg/ml)
– Posologia = 1 dose a cada 12 horas durante 5 dias
– Marcas comerciais: Klaricid 25 e 50mg/ml
• Azitromicina
Dose terapêutica em crianças = 10mg/kg/dose
Dose ataque =20mg/kg/dose única
Dose profilática =15mg/kg/1hora antes
Apresentação comercial = (concentração da azitromicina)/ml
Azitromicina (200mg/5ml)
– Posologia = 1 dose a cada 24 horas durante 3 dias
– Marcas comerciais: Astro 200mg/5ml; Azitron 200mg/5ml; Selimax
40mg/ml.
Quadro 12 – Características dos Macrolídeos.
Fonte: Os autores
Terapêutica medicamentosa em odontopediatria - 108

Metronidazol

Benzoilmetronidazol
Dose terapêutica em crianças = 7,5mg/kg/dose
Dose ataque =15mg/kg/dose única
Dose profilática =15mg/kg/1hora antes
Apresentação comercial = (concentração do metronidazol)/ml
Metronidazol (40mg/ml)
– Posologia = 1 dose a cada 12 horas durante 5 dias
– Marcas comerciais: Flagyl 40mg/ml; Polibiotic 200mg/5ml.
Quadro 13 – Características dos Metronidazol.
Fonte: Os autores

Notas Finais
● Medicar a criança exige conhecimento dos medicamentos e seus po-
tenciais riscos/benefícios;
● A dose individual da criança sempre deve ser calculada em função da
dose terapêutica e do peso da criança;
● Soluções orais gotas apresentam regras práticas que facilitam a ad-
ministração ao paciente infantil;
● Todo medicamento indicado em odontopediatria deve ser emprega-
do de forma segura pelo profissional;
● As formas líquidas são as indicadas para o paciente infantil;
● O profissional sempre deve saber a indicação e a posologia dos
medicamentos.
● A quantidade de medicamento necessária para ter um efeito terapêu-
tico desejável deve ser calculada utilizando a regra de três simples;
● O receituário, onde será prescrito o medicamento, deverá ser feito em
três vias, a primeira para a farmácia, a segunda para os pacientes e a
terceira ficará no prontuário do paciente.
109 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

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Diagnóstico de lesões de cárie - 110

Capítulo 8 VOLTAR AO
Diagnóstico de lesões de cárie SUMÁRIO

Silvia Regina Garcia Olivan


Ravana Angelini Sfalcin
Marcelo Mendes Pinto
Lara Jansiski Motta
Sandra Kalil Bussadori

O diagnóstico de cárie tem sido definido como “a arte ou o ato


de identificar a doença a partir dos seus sinais e sintomas” e a detec-
ção da cárie é o sinal e sintoma identificados (NYVAD, 2004). A detec-
ção de cárie no seu estágio inicial tem sido fundamental para controlar
a doença a nível superficial do dente, assim como preveni-la ou tratá-la
efetivamente. O método tradicional de diagnóstico se dá pela combina-
ção de exames radiográficos e a inspeção visual (PITTS E RIMMER,
1992; PITTS, 2004; LILLEHAGEN et al., 2007, AGUSTSDOTTIR
et al., 2010).
Na última década, o método de inspeção visual através do sistema
ICDAS – International Caries Detection and Assesment System – tem
sido consideravelmente utilizado e submetido à pesquisa. Este sistema
foi desenvolvido em 2001 e tem como objetivo a estratégia de integrar os
sistemas de detecção modernos em um único sistema padrão (ISMAIL
et al., 2007). O ICDAS identifica as lesões de cárie com base no seu as-
pecto clínico visual e é classificado de acordo com códigos que variam
de 0 a 6 como mostra a tabela 1 (ISMAIL et al., 2007).
111 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Tabela 1 – Códigos do International Caries Detection and


Assesment System (ICDAS)

Código Critério
0 Sadio
1 Primeira alteração visual em esmalte
2 Alteração visual nítida em esmalte
3 Quebra de esmalte localizada
4 Sombra na dentina subjacente
5 Cavidade nítida com dentina visível
6 Cavidade extensa com dentina visível
Fonte: adaptado do artigo “Detection and diagnosis of the early caries
lesion” (Gomez J, BMC Oral Health, 2015)

Com relação aos exames radiográficos, as técnicas de radiografia


mais utilizadas para este intuito são as de “bitewing”. O objetivo destas
radiografias é detectar as lesões de cárie proximais que não são detec-
tadas visualmente, assim como lesões de cárie presentes na superfí-
cie oclusal, estimando a profundidade da lesão (BADER et al., 2002;
GOMEZ et al., 2012). Porém, quando a lesão é detectada em superfí-
cies oclusais pelas radiografias “bitewings”, estas lesões podem já ter
alcançado o terço médio da dentina e intervenções de remineralização
podem já não ser eficazes (RICKETTS et al., 1995), sendo necessário
a intervenção operatória.
Entretanto, estes métodos de detecção tradicionais ainda não su-
prem totalmente a necessidade dos profissionais em determinar as lesões
precoces de cárie, e desta forma, alguns novos métodos de diagnóstico
têm sido estudados no ramo da Odontologia a fim de facilitar a detec-
ção de cárie precoce com boa precisão (LUSSI et al., 1999). Algumas
técnicas estão baseadas nas mudanças das propriedades ópticas do teci-
do dentário doente e saudável, tais como o Quantitative Light-induced
Fluorescence (QLF), o Laser-induced Fluorescence (LF), o Optical
Diagnóstico de lesões de cárie - 112

Coherence Tomography (OCT) e o Fiber Optic Transilumination (FOTI)


(KARLSSON, 2010). Ainda, o DIAGNOdent (MACIEL, 2006) tam-
bém pode ser utilizado, e mais recentemente, o Speckle (KOSHOJI,
2015) tem sido estudado para esta finalidade. Falaremos de cada mé-
todo a seguir.

Quantificação da Fluorescência Induzida por Luz – QLF


Neste método, a avaliação da lesão baseia-se na perda de sinal de
fluorescência (PRETTY, 2006). Há uma diferenciação entre o esmalte
hígido (sadio) e o esmalte com lesão precoce (desmineralizado) devido
à menor fluorescência nas áreas desmineralizadas, e dessa forma, apre-
sentam-se como manchas escuras na imagem (MUJAT et al., 2004). A
diminuição na fluorescência está relacionada às propriedades de dis-
persão do esmalte desmineralizado e assim, o sistema fornece uma me-
dida quantitativa da severidade da área afetada, ou seja, a extensão da
lesão (VAN der VEEN e de JOSSELIN DE JONG 2000). Portanto,
esta técnica permite a detecção das lesões de cárie em estágio inicial
(BUCHALLA, 2005).

Fluorescência induzida por laser – LF e DIAGNOdent


Nesta técnica, irradia-se a superfície dentária com um laser emi-
tindo na região entre 488 nm e 650 nm. Superfícies desmineralizadas
apresentam maior fluorescência do que os tecidos sadios, possibilitan-
do detectar a lesão. É um método de boa precisão no diagnóstico, mas
não é eficiente para quantificar a perda mineral (RODRIGUES, 2005).
Em revisões sistemáticas prévias, uma tendência à maior espe-
cificidade do que sensibilidade, exceto a nível de dentina, foi observa-
do. O desempenho de LF parece ser melhor para lesões mais avançadas
(GIMENEZ et al., 2013). Dispositivos de LF estão baseados na captu-
ra, análise e quantificação de fluorescência emitida a partir de cromófo-
ros quando a superfície do dente é iluminada por um laser diodo a um
comprimento de onda 655 nm (LUSSI et al., 2006).
113 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

O DIAGNOdent Pen 2190 (dispositivo de LF) é um dispositivo


que quantifica o processo de cárie por meios de fluorescência induzi-
da por laser (NOVAES et al., 2009). Esse dispositivo foi desenvolvido
para detectar a cárie proximal e oclusal (ALJEHANI et al., 2007), po-
rém eles apresentam algumas limitações tais como uma grande quantida-
de de falso-positivos e a não obtenção correta da relação com o tamanho
das lesões (TOMMASI, 2013).

Tomografia por Coerência Óptica (Optical Coherence


Tomography ou OCT)
O OCT é um tipo de técnica de diagnóstico que produz uma ima-
gem transversal de alta resolução do tecido dental. Baseia-se no espa-
lhamento elástico de fótons pelo tecido utilizando uma fonte de luz com
comprimento de onda entre 840 nm e 1310 nm (HALL et al., 2004). Este
método produz imagens tridimensionais, permitindo avaliações qualita-
tivas e quantitativas do tecido dental. A profundidade de resolução desta
técnica é limitada principalmente devido as propriedades de absorção e
dispersão dos tecidos biológicos (LARINA et al., 2008; PROSKURIN
e MEGLINSKI, 2007). Entretanto, o OCT ainda é um método inviável
para a prática clínica devido ao seu alto curso e indisponibilidade para a
prática clínica (FREITAS et al., 2006; FREITAS et al., 2009).

Transiluminação por Fibra Óptica (Fiber Optic


Transilumination ou FOTI)
Neste método, o tecido dental é iluminado por uma luz branca bri-
lhante e a luz transmitida é vista por uma câmera. É um método quali-
tativo que avalia a diferença existente nas propriedades da transmissão
de luz entre o esmalte sadio e da lesão de cárie (HINTZE et al., 1988;
MACIEL, 2006). Devido à sua alta dispersão de luz, a área da lesão de
cárie aparece como uma mancha escura na imagem. Porém, este método
não permite a quantificação da luz dispersa e dessa forma, a sua análise é
subjetiva (BADER e SHUGARS, 2004). É um método fácil de ser apli-
Diagnóstico de lesões de cárie - 114

cado, mas sua validade é restrita às lesões mais avançadas em dentina


estimando apenas a profundidade das mesmas (MIALHE et al., 2009).

Speckle
O Speckle é uma nova técnica de diagnóstico na qual as caracte-
rísticas de luz coerente dispersa são exploradas. Esse tipo de técnica tem
sido estudado atualmente e permite a avaliação de características dinâmi-
cas nos tecidos usando um método não invasivo, não destrutivo, de custo
acessível e em tempo real. Isso tem estimulado a comunidade acadêmi-
ca em concentrar esforços no estudo deste método no domínio de tempo
(análise do Speckle dinâmico). Esse método aumenta o contraste entre o
tecido do dente sadio e do dente cariado através do estudo das mudanças
dos padrões do Speckle no domínio espacial (DEANA et al., 2013). Dessa
forma, a análise de imageamento do laser Speckle no domínio espacial
tem sido considerada como uma poderosa técnica de diagnóstico que for-
nece a informação na microestrutura da superfície. Através desta técnica,
é possível que uma lesão seja tão incipiente que não consiga ser detectada
na prática clínica, mesmo por um dentista treinado, além de ser sensível à
progressão de erosão do esmalte (KOSHOJI, et al., 2015).

____________________
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O papel do flúor na prevenção e tratamento da doença cárie - 118

Capítulo 9 VOLTAR AO
O papel do flúor na prevenção e SUMÁRIO
tratamento da doença cárie

Lara Jansiski Motta


Marcelo Mendes Pinto
Katia Lumi Tanikawa-Vergilio
Carolina Carvalho Bortoletto
Sandra Kalil Bussadori

O processo de desenvolvimento da doença cárie já é bastante co-


nhecido, assim como os fatores que estão envolvidos nesse processo. A
compreensão da interação dos fatores e da evolução do processo de des-
mineralização dental é essencial, tanto para o diagnóstico quanto para o
tratamento e a prevenção da doença.
Considerando que a doença cárie depende da presença de biofil-
me e de substrato, interferir nesses fatores torna-se indispensável para
evitar que o processo de desmineralização dos tecidos dentais ocorra. A
associação entre higiene bucal e uso de fluoretos é evidenciada cienti-
ficamente como a melhor maneira de prevenir e controlar a doença. No
entanto, o mecanismo de ação do flúor, muitas vezes não é bem com-
preendido pelos clínicos.
Neste capítulo, além de abordar o mecanismo de ação do flúor e
as maneiras de administrar flúor aos pacientes, serão apresentados sub-
sídios para o planejamento preventivo e curativo com o uso do flúor e
a associação à higiene bucal, de acordo com o risco de cárie que cada
paciente apresenta.
Para um melhor entendimento do mecanismo de ação do flúor, é im-
portante relembrar o processo de des e remineralização dos tecidos dentais.
Os dentes, que têm na sua composição hidroxiapatita (HA), estão
em constante contato com a saliva, que é rica em íons, e quando o meio
bucal se encontra em condição de equilíbrio dinâmico, ocorre constan-
temente a troca de íons cálcio (Ca) e fosfato (PO4) com o dente (des-re-
119 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

mineralização). Quando o pH bucal se apresenta maior que 5,5, a saliva


está em condição supersaturada em relação ao dente, e nessa situação
a tendência físico-química do esmalte é ganhar íons cálcio e fosfato.
Porém, quando o pH bucal se encontra menor que 5,5, a saliva está sub-
saturada em relação ao dente, então a tendência físico-química é de que
o dente perca íons para a saliva, buscando o equilíbrio iônico (Figura
33). Se esse processo ocorrer por um longo período (desafio cariogêni-
co, ou seja, produção de ácido pelo biofilme dental cariogênico quando
exposto a carboidratos fermentáveis) o esmalte poderá perder íons em
fluxo contínuo para a saliva, causando uma constante desmineralização.

Figura 33 – Esquema do processo des-remineralização.


Fonte: Os autores (adaptado de Guedes-Pinto et al. 2009)

Essa desmineralização resulta na lesão de cárie. Porém, se a si-


tuação de subsaturação salivar não se mantiver por um longo período,
ocorre o restabelecimento do pH, a saliva retorna para uma condição de
supersaturação e o dente voltará a ganhar íons cálcio e fosfato, resultan-
do na remineralização.
O íon flúor (F), quando presente na cavidade bucal, pode ligar-se
ao dente de várias maneiras e também controlar a solubilidade do es-
malte quando depositado sobre a superfície dentária.
O papel do flúor na prevenção e tratamento da doença cárie - 120

O flúor ofertado aos pacientes, ao entrar em contato com o teci-


do dental, reage com a apatita (formada por cálcio e fosfato) e forma o
fluoreto de cálcio (CaF2). O fluoreto de cálcio se deposita na superfície
dental e permanece com ligação estável, como uma reserva (Figura 34).
Quando ocorre a diminuição do pH salivar, o CaF2 se solubiliza e ocorre
a liberação do íon F, que agirá reduzindo a desmineralização e ativando
a remineralização, ao se ligar com o Ca e PO4 e retornar ao tecido den-
tal no formato de fluorapatita (FA).

Figura 34 – Esquema da formação de CaF2 na superfície dental.


Fonte: Os autores (adaptado de Guedes-Pinto et al., 2009)

A formação de Fluoreto de Cálcio é dependente de diversos fato-


res. São eles:

• Concentração do produto – quanto maior a concentração de


fluoreto, maior formação de fluoreto de cálcio;
• Tempo de aplicação – quanto maior o tempo de aplicação do
produto, maior a quantidade de fluoreto de cálcio formada;
121 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

• pH do meio – quanto menor o pH, maior formação de fluoreto


de cálcio;
• Tempo de irrompimento na cavidade bucal – maior formação de
fluoreto de cálcio nos primeiros seis meses de irrompimento dental.

A FA é menos solúvel que a HA, assim, a incorporação da FA na


estrutura dental diminui a desmineralização quando ocorre a queda do
pH. Porém, quando o CaF2 é solubilizado e o íon F utilizado, a reser-
va de flúor no meio bucal se esgota, deve-se, então, fornecer mais flúor
ao paciente com aplicações tópicas e periódicas para manter o repositó-
rio. Essa periodicidade dependerá da frequência e do tempo de duração
do desafio cariogênico experimentado por cada paciente. Quanto maior
o desafio cariogênico, maior a necessidade de administração de flúor.
Considerando que a oferta constante e em baixa concentração de
flúor é a maneira mais efetiva na prevenção da cárie, o uso de dentifrí-
cio fluoretado diariamente é sempre recomendado. A complementação
com a aplicação profissional dependerá das características individuais
das crianças. Essas características serão abordadas mais adiante.
É importante lembrar que apesar de menos solúvel, a HA em
pH abaixo de 4,5 torna-se solúvel e o mecanismo de remineralização
não ocorre. Portanto, a presença do flúor como medida isolada não é
suficiente. Se não houver o controle mecânico do biofilme cariogênico
e da ingestão de carboidratos fermentáveis, o fluoreto não impedirá a
desmineralização. Daí a importância de aliar o uso do flúor à orientação
e educação quanto à higiene bucal e dieta, e a realização de profilaxia
profissional periódica.
Existem várias maneiras de administrar flúor aos pacientes para
prevenção e controle da cárie. Independentemente do método de utiliza-
ção, o mecanismo de ação será sempre o mesmo, seja a água de abaste-
cimento fluoretada, dentifrícios ou aplicação profissional. Diante disso,
abordaremos a seguir os diferentes tipos de aplicação de flúor.
O papel do flúor na prevenção e tratamento da doença cárie - 122

Meios de aplicação do flúor


Na promoção de saúde bucal em odontopediatria devemos con-
siderar a utilização do flúor pelos motivos já expostos. São conhecidos
vários meios de aplicação, porém, não é tão simples definir qual o me-
lhor meio, pois, cada paciente apresenta características comportamen-
tais, de higiene e condições biológicas diferentes. Portanto é necessário
conhecer cada método de aplicação e como cada um deles oferta íons
flúor e a partir disso escolher os meios e até associá-los de acordo com
a necessidade de cada paciente.
Serão apresentados os meios do uso de fluoreto de acordo com sua
abrangência e modo de aplicação, conforme descrito por Cury e Tenuta (2010):

1. Meios coletivos
A água de abastecimento fluoretada é um meio coletivo de uso de
flúor. No Brasil, a fluoretação da água de abastecimento é lei e a sua im-
portância é comprovada cientificamente, quando observada que a preva-
lência de cárie é menor em locais com água fluoretada quando comparada
com locais sem fluoretação.
No passado acreditava-se que o flúor da água de abastecimento
poderia diminuir a solubilidade da estrutura dental quando ingerida e
incorporada à estrutura do dente quando este está em formação, porém,
como já abordado neste capítulo, não é o fluoreto incorporado à estrutura
que controla a perda mineral.
O que realmente ocorre é que após a ingestão da água fluoretada,
o fluoreto é absorvido e circula pelo sangue alcançando as glândulas sa-
livares e liberado na saliva constantemente. Uma vez presente na saliva,
seu mecanismo de ação é o mesmo descrito anteriormente neste capítulo.

2. Meios individuais
O dentifrício fluoretado é o meio mais racional de aplicação, pois
alia a oferta de flúor com o controle e desorganização do biofilme ca-
123 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

riogênico. As evidências científicas demonstradas em ensaios clínicos e


revisões sistemáticas demonstram que a escovação com dentifrício flu-
oretado é responsável pela diminuição da doença cárie e, portanto, deve
ser prescrito para indivíduos de todas as idades (Figura 35). O que deve
ser considerado em crianças pequenas é a quantidade de dentifrício utili-
zado na escovação. A quantidade em relação à idade será abordada mais
adiante neste mesmo capítulo.

Figura 35 – Dentifrícios infantis fluoretados.


Fonte: Os autores

Quando utilizado o dentifrício fluoretado, a concentração de íons


flúor na saliva aumenta, formando os glóbulos de fluoreto de cálcio man-
tendo o reservatório de flúor na superfície dental satisfatório. O fluoreto se
mantém até 12 horas após a escovação, mesmo no biofilme remanescente.
Cury e Tenuta (2010) descrevem evidências científicas de que a
concentração entre 1.000 e 1.500 ppm F é a mais eficaz. A indicação de
dentifrícios com menor concentração (500 ppm) não se mostrou efeti-
va no controle da cárie.
Além do dentifrício, os bochechos também são meios de uso diário
de flúor, como a solução de NaF a 0,05% (225 pp F). A aplicação de boche-
cho diário será indicada apenas para quem está mais sujeito a desenvolver
a doença cárie, conforme o risco avaliado. Como por exemplo, indivíduos
O papel do flúor na prevenção e tratamento da doença cárie - 124

que não têm bom controle do biofilme com a escovação, que ingerem com
frequência carboidratos fermentáveis, alteração no fluxo salivar.

3. Meios profissionais
Alguns produtos apresentam alta concentração de flúor e devem
ser aplicados somente pelos profissionais. São eles: fluorfosfato acidu-
lado a 1,23% em gel ou espuma, fluoreto de sódio neutro a 2,0% em gel
ou espuma e verniz fluoretado (Figura 36). Esses materiais têm sua efi-
ciência comprovada cientificamente. Por apresentarem maior concen-
tração de fluoreto de cálcio também é maior, formando um reservatório
de flúor na superfície dental.

Figura 36 – Produtos para aplicação tópica


de flúor pelo profissional.
Fonte: Os autores

Os produtos em gel ou em espuma para aplicação profissional


apresentam uma concentração de 12.300 ppm F. Podem ser associados
à escovação com dentifrício fluoretado em crianças que apresentem alto
125 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

risco de cárie e atividade de cárie. A frequência de aplicação dependerá


das características individuais do paciente.
Os géis ou espumas acidulados, como o próprio nome define, pos-
suem pH ácido, entre 3 e 4, o que promove uma maior formação de fluo-
reto de cálcio quando comparada ao fluoreto de sódio neutro. O fluoreto
de sódio neutro, por apresentar menor concentração, pode ser indicado
para pacientes que apresentem dificuldade de controlar a deglutição du-
rante a aplicação, e sua maior indicação está relacionada a pacientes com
tratamento estético restaurador ou após clareamento e microabrasão.
Tanto em gel quanto em espuma, o flúor pode ser aplicado com
moldeiras para aplicação de flúor (Figura 37) ou utilizando-se bolinhas
de algodão, pincéis ou haste de algodão.

Figura 37 – Moldeiras para aplicação de flúor gel ou espuma.


Fonte: Os autores

Seguem os passos para aplicação do flúor gel ou espuma:


O papel do flúor na prevenção e tratamento da doença cárie - 126

1. Realizar profilaxia com pasta profilática e complementar a lim-


peza interproximal com o fio dental. A aplicação pode ser reali-
zada por meio de:
✓✓ Moldeiras
o Adaptar as moldeiras de cera à boca do paciente;
o Preencher o fundo das moldeiras com o gel ou espuma;
o Inserir as moldeiras nas arcadas, mantendo de 1 a 4
minutos conforme instrução de cada fabricante.
✓✓ Bolinhas de algodão, pincéis ou hastes de algodão
o A aplicação deverá ser por quadrante, com utilização do
sugador.
o Aplicar o produto na superfície dental e aguardar
de 1 a 4 minutos por quadrante.
2. Aspirar a saliva constantemente para evitar ingestão do flúor.
3. Remover as moldeiras e solicitar que o paciente cuspa o excesso.
4. Orientar o paciente a não ingerir líquidos e alimentos por 30 minutos.

Os vernizes fluoretados apresentam maior concentração (22.600


ppm F) de íon F em relação ao gel e espuma. Este método possui outra
consistência com a finalidade de prolongar o tempo do flúor em conta-
to com o dente e com a liberação lenta do íon flúor. Por ficar aderido à
superfície dental e apresentar liberação lenta é indicado para aplicação
em bebês. Por apresentar alta concentração os vernizes promovem uma
maior formação de fluoreto de cálcio na superfície dental e é indicado
para remineralização de manchas ativas de cárie.
A técnica de aplicação segue os seguintes passos:

✓✓ Profilaxia com pasta profilática


✓✓ Lavar os dentes com água
✓✓ Secar a superfície dental
✓✓ Realizar isolamento relativo com roletes de gaze
127 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

✓✓ Aplicar o produto com pincel


✓✓ Aspirar a saliva constantemente com sugador
✓✓ Remover isolamento relativo
✓✓ Orientar o paciente a evitar ingestão de alimentos por no míni-
mo 2 horas e nas 12 horas seguintes orientar alimentação líqui-
da e pastosa e não escovar os dentes por este mesmo período.

Tanto o verniz quanto o gel e a espuma não devem ser aplicados


em crianças em jejum. O Quadro 24 apresenta um resumo das recomen-
dações para o uso de fluoretos.
Recomendações para o uso de fluoretos em odontopediatria
Meios Indicação
Água fluoretada Sem restrições
Dentifrício Diariamente para todos os indivíduos em todas as idades
Fluoretado Observar quantidade de dentifrício utilizado em crianças
(1000 a 1500 ppmF) pequenas e de maneira supervisionada
Solução para De acordo com risco ou atividade de cárie do paciente.
bochecho Indicado para pacientes com dificuldade de controle do
NaF 0,05% biofilme
Pacientes que façam uso de aparelhos ortodônticos e
ortopédicos
Contra indicado para crianças de pouca idade que não
controlam a ingestão
Gel e espuma Indicação individual de acordo com risco e atividade de cárie
Fluorfosfato Indicado para crianças com atividade de cárie, lesões
acidulado 1,23% cariosas e alto risco
Paciente com dificuldade de controle do biofilme para
prevenção da doença cárie
Gel ou espuma Indicado para pacientes com restaurações estéticas, após
Fluoreto de sódio clareamento ou microabrasão
2% neutro
Verniz fluoretado Indicado para remineralização de manchas brancas ativas
Pacientes com alto risco de cárie e atividade de cárie
Indicados para bebês por apresentar fácil aplicação,
permanecer aderido à superfície dental (evitando
ingestão) e apresentar liberação lenta de F
Protocolos preventivos
Indução de selamento biológico em molares permanentes
Quadro 24 – Recomendações para o uso de fluoretos em odontopediatria.
Fonte: Os autores
O papel do flúor na prevenção e tratamento da doença cárie - 128

Toxicidade do flúor

Toxicidade aguda
Uma das maiores preocupações dos clínicos e dos pais em relação
ao uso de fluoreto é sua toxicidade. É importante saber se o flúor circu-
lante no sangue apresentará algum efeito colateral.
Os efeitos colaterais estão diretamente relacionados à ingestão ex-
cessiva do flúor, causando intoxicação. Quando usado corretamente, ne-
nhum método de utilização do flúor oferece qualquer risco ao paciente.
No entanto, se houver ingestão excessiva em uma única dose poderá ser
observada uma intoxicação aguda.
Os sintomas de intoxicação aguda incluem desde situações mais
leves como mal-estar gástrico e vômito até o óbito. Ao ser ingerido em
grande quantidade poderá causar inicialmente irritação gástrica e quan-
do é absorvido pelo organismo pode provocar hipersalivação, suor frio,
queda de pressão, arritmia cardíaca, coma e morte.
São conhecidas as doses provavelmente tóxicas (DPT) do flúor
e foram estabelecidas seguindo a dose de 5mg F/kg de peso corporal
da criança. Essa dose é considerada como limite máximo de risco. O
Quadro 25 apresenta a quantidade ideal de uso dos produtos fluoreta-
dos e a DPT, demonstrando a segurança do uso do flúor em odontologia,
mas cabe ressaltar que o profissional deve ficar atento ao utilizar produ-
tos com alta concentração.
129 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Quantidade de produto que


Quantidade ideal de
Meio de aplicação corresponde à DPT para
produto utilizada
uma criança de 20 kg
Dentifrício Fluoretado
0,5g/escovação 90 g (1 bisnaga)
(1100 ppm)
Fluorfosfato acidulado
2,5g/moldeira 8,1g
(12.300 ppm)
Verniz fluoretado
0,5 g 4,5g
(22.600 ppm)
Solução para bochecho
10 ml/bochecho 444 ml
NaF (225 ppm)
Água fluoretada
- 143 litros
(0,7 ppm)

Quadro 25 – Dose provavelmente tóxica dos produtos fluoretados.


Fonte: Cury e Tenuta (2010)

Toxicidade crônica – Fluorose


A toxicidade crônica é caracterizada pela ingestão de doses elevadas
por um longo período de tempo, com frequência. Após ingerido, o flúor
circulante no organismo poderá causar fluorose, pois o íon flúor presen-
te nã afeta o esmalte em formação no processo de maturação. Portanto,
somente elementos dentais em formação poderão sofrer os efeitos da
ingestão do flúor, dentes que já irromperam na cavidade bucal já es-
tão formados. Assim o risco de desenvolver fluorose em dentes anterio-
res permanentes, por exemplo, envolve crianças de até 3 anos de idade.
Para que a fluorose seja visível clinicamente, o dente em forma-
ção deverá ser exposto por um determinado período, logo, gel, espuma
e verniz não estão relacionados à fluorose e sim à intoxocação aguda.
A fluorose é observada clinicamente por mudanças na cor e/ou na
estrutura do esmalte. As características da fluorose envolvem a simetria
dentária, ou seja, o acometimento de dentes homólogos por se desen-
volverem no mesmo período. Os aspectos clínicos podem ser descritos
desde leves linhas brancas até manchas acastanhadas com perda de es-
trutura dentária. O dente que apresenta fluorose não é mais susceptível
e nem mais resistente à desmineralização.
O papel do flúor na prevenção e tratamento da doença cárie - 130

Conhecendo estes fatores, alguns cuidados devem ser tomados com


o uso do flúor. Crianças que ingerem grande quantidade de dentifrício du-
rante a escovação apresentam risco aumentado de fluorose. Porém não é
recomendada a utilização de dentifrício sem flúor para crianças pequenas,
pois o risco de cárie e destruição dental é maior e apresenta grande com-
prometimento. O que é indicado é o controle da quantidade de dentifrício
utilizado em cada escovação e a supervisão para evitar a ingestão excessiva.
A escovação dental com dentifrícios fluoretados deverá ter início
com o irrompimento do primeiro dente. A quantidade de creme dental
disponibilizado na escova deverá seguir as recomendações de cada fai-
xa etária, para evitar o risco de desenvolvimento de fluorose, conforme
apresentado no Quadro 26.
Quantidade de dentifrício, de acordo
com a idade da criança

IDADE QUANTIDADE DE CREME DENTAL

de 0 a 2 anos 0,05g – Equivalente a meio grão de arroz cru

de 2 a 4 anos 0,1g – Equivalente a 1 grão de arroz cru

maiores que 4 anos 0,3g – Equivalente a 1 grão de ervilha

Quadro 26 – Quantidade de dentifrício, de acordo com a idade da criança.


Fonte: Os autores

____________________
Referências
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profissional.com.br/LeadershipBR/ProfessionalEducation/Articles/Resources/
pdf/OBE4_Fluoretos.pdf>
GUEDES-PINTO, Antônio Carlos; ISSÁO, Myaki (in memoriam). Manual de
odontopediatria. 12. ed. São Paulo: Santos, 2013.
GUEDES-PINTO, Antônio Carlos. Odontopediatria. São Paulo: Santos, 2006.
131 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

GUEDES-PINTO, Antônio Carlos; BONECKER, M.; MARTINS DELGADO


RODRIGUEZ, C. R. Fundamentos de odontologia. São Paulo: Santos, 2011.
MCGRADY, M. G., ELLWOOD, R. P.; PRETTY, I. A. Why fluoride? Dent
Update, v. 37, n. 9, Nov. 2010. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.
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TENUTA, Livia Maria Anadaló; CURY, Jaime A. Evidências para o uso
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Disponível em: <http://www.colgateprofissional.com.br/LeadershipBR/
ProfessionalEducation/Articles/Resources/pdf/OBE4_Fluoretos.pdf>
Materiais dentários aplicados na odontopediatria - 132

Capítulo 10 VOLTAR AO
Materiais dentários aplicados na odontopediatria SUMÁRIO

Sandra Kalil Bussadori


Ravana Angelini Sfalcin
Lara Jansiski Motta
Marcelo Mendes Pinto

Doença cárie dentária


Segundo Bussadori et al (2012), Mínima Intervenção (MI) é uma
filosofia de cuidado profissional, baseada na detecção precoce da doença
cárie e a possibilidade de tratamento em níveis micromoleculares, com a
possibilidade de reparo da sequela da doença de forma menos invasiva
possível. A MI objetiva delegar ao paciente (através de informação, trei-
namento e motivação) a responsabilidade sobre sua própria saúde bucal,
para que este requeira o mínimo de intervenção do cirurgião-dentista.
Baseada no conceito de MI, a cárie é considerada uma doença bacte-
riana, resultando em lesões dos tecidos duros dentários, decorrente dos áci-
dos provenientes do metabolismo bacteriano. A doença começa com um
distúrbio do balanço mineral (remineralização/desmineralização) na superfí-
cie dentária. Estas mudanças ocorrem em níveis microscópicos inicialmente.
A causa é decorrente do aumento no metabolismo bacteriano e subsequen-
te produção de ácido, bem como aumento no número de bactérias. Outros
fatores como aumento no consumo de carboidratos fermentáveis (em fre-
quência e quantidade), ausência de flúor e redução na capacidade proteto-
ra da saliva também contribuem para a instalação e progressão da doença.
O princípio da MI é de primeiro paralisar a doença e depois restaurar
a estrutura e a função perdidas. Para que se possa paralisar o processo ca-
rioso, a história de cárie passada e presente deve ser avaliada. A experiên-
cia de cárie passada pode ser avaliada pelo número de dentes restaurados;
número de extrações realizadas por cárie e o número de lesões paralisadas.
A experiência de cárie presente ou atividade pode ser estabelecida através
133 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

do número de manchas brancas, lesões ocultas e cavitadas. A detecção pre-


coce da cárie, tradicionalmente realizada com o espelho e a sonda explo-
radora, bem como com radiografias interproximais é hoje auxiliada pelo
uso de índices e também alguns equipamentos, conforme verão a seguir.

Vernizes de flúor e clorexidina


Os agentes quimioterápicos ou antimicrobianos podem ser libera-
dos para a cavidade bucal por meio de vários veículos, entre eles os ver-
nizes, que, por propiciar um contato prolongado entre o agente e o local
de ação, têm demonstrado resultados efetivos (RIBEIRO et al., 2007;
ZHANG et al., 2006; DU et al.,2006; SAJJAN et al, 2013). A clorexidina
apresenta uma ação bactericida e o flúor, bacteriostática (BUSSADORI
et al. 2004, BAYGIN et al, 2014).
Ribeiro et al. (2007) fizeram uma revisão sistemática sobre a clorexi-
dina em diferentes formas (soluções, géis e vernizes) e constataram haver
em relação aos bochechos uma variabilidade acentuada concernente à con-
centração e frequência, bem como, a baixa atividade sobre Streptococcus
mutans. Estudos com géis e vernizes na concentração de 1% demonstram
uma redução significativa de SM mas, em uma frequência alta e quando
comparadas a aplicações de uma vez por mês apresentam uma variabili-
dade em relação aos resultados, mas com atividade bacteriana. De acordo
com Jentsch et al (2014), vernizes contendo clorexidina ou timol influen-
ciaram na formação de placa bacteriana, reduzindo assim a quantidade de
Streptococcus mutans na placa supragengival. Araújo et al. (2002) encon-
traram resultados satisfatórios utilizando Cervitec nas superfícies oclusais
de primeiros molares permanentes comparados a um grupo controle (sem
verniz de clorexidina) avaliando a redução dos níveis de SM na placa e a
presença de lesões de cárie nessas superfícies. As aplicações de Cervitec
ocorreram na primeira consulta, após 3 e 6 meses. Os resultados sugerem
que após 2 anos o tratamento com Cervitec reduziu SM na placa e permi-
tiu uma redução significativa na incidência de lesões de cárie; Joharji e
Adenubi (2001) e Baca et al., (2002) encontraram resultados semelhantes.
Zhang et al. (2006) testaram o verniz de clorexidina numa concentração
Materiais dentários aplicados na odontopediatria - 134

de 40% (EC40) nas fossas e fissuras de primeiros molares permanentes,


em 461 crianças de ambos os sexos, num estudo clínico controlado, ran-
domizado por período de dois anos e constatou-se que houve uma inibi-
ção do processo carioso em curto período de tempo, mas sua eficiência foi
questionável em uma população com baixa incidência de lesões de cáries.
Deve-se levar em consideração, que a clorexidina (40%) nessa concen-
tração apresenta um efeito antimicrobiano mas pode ser tóxica apesar de
não ser o mote desse estudo. Por isso, é muito importante analisar várias
propriedades importantes dos materiais e não fatores isolados.
A maioria dos agentes quimioterápicos é composta por agentes anti-
microbianos de amplo espectro, que exercem efeitos bactericidas e bacte-
riostáticos diretos, ligando-se à membrana bacteriana e consequentemente
interferindo em suas funções, como, por exemplo, o transporte. A adsorção
às membranas também pode alterar a permeabilidade, resultando em va-
zamento dos componentes intracelulares com desnaturação e coagulação
das proteínas contidas no citoplasma. A perturbação do metabolismo bac-
teriano leva à morte do microorganismo patogênico (Bussadori & Masuda
2005). Chestnutt (2006) relatou em estudo clínico randomizado, duplo-
-cego com acompanhamento de 2 anos, a avaliação do verniz de clorexi-
dina (40%) em molares decíduos, sendo que o autor conclui que 6 meses
de aplicações de verniz de clorexidina foram efetivos na redução de inci-
dência de lesões de cárie em dentes decíduos. Cabe ressaltar que Du et al.
(2006) e Baca et al. (2004) também encontraram resultados semelhantes.
O flúor e a clorexidina são agentes quimioterápicos utilizados para
a promoção de saúde bucal por possuírem efeito significativo sobre as
bactérias bucais, principalmente Streptococcus mutans. A associação
dos vernizes de flúor e clorexidina tem sido utilizada em Odontologia,
uma vez que o efeito antibacteriano da clorexidina associado ao poten-
cial remineralizador do flúor tem gerado resultados otimistas na manu-
tenção da saúde bucal (CARVALHO, 1999; EKENBACK et al.2000;
GARCIA et al. 2001). Vale dizer que o flúor empregado na forma de
verniz ou por meio do cimento de ionômero de vidro em superfícies
oclusais, principalmente de molares com hipoplasia ou hipocalcifica-
135 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

ção, apresenta um resultado significativo, conforme demonstrado por


Flório et al., 2001.
O protocolo de utilização combinada dos agentes quimioterápicos
(BUSSADORI et al., 2004, 2010) está descrito no Quadro 27, princi-
palmente para pacientes com alta atividade da doença e lesões de aco-
metimento precoce.

Protocolo para pacientes com lesão de cárie de acometimento


precoce e molares em irrompimento com alta atividade da doença
Tempo Procedimento
1º MÊS Profilaxia, isolamento com roletes de algodão e secagem com
jato de ar. Na sequência, após aplicação com cotonete ou pincéis
Dose de descartáveis, pedir para o paciente 4 aplicações intercaladas de
Ataque verniz de flúor e verniz de clorexidina sobre a superfície oclusal
dos molares decíduos e na face palatal dos incisivos (1ª semana
– aplicação de verniz de flúor, 2ª semana – aplicação de verniz de
clorexidina, 3ª semana – aplicação de verniz de flúor, 4ª semana
– aplicação de verniz de clorexidina – totalizando um mês).
2º MÊS – aplicação de verniz de flúor sobre a superfície oclusal dos
molares e incisivos decíduos e dos molares permanentes em
irrompimento.
3º MÊS – 1 aplicação de verniz de clorexidina sobre a superfície oclusal
dos molares e incisivos decíduos e dos molares em irrompimento.
4º MÊS – 1 aplicação de verniz de flúor sobre a superfície oclusal dos
molares e incisivos decíduos e dos molares permanentes em
irrompimento.
5º MÊS – 1 aplicação de verniz de clorexidina sobre a superfície oclusal
dos molares e incisivos decíduos e dos molares permanentes em
irrompimento.
6º MÊS – 1 aplicação de verniz de flúor sobre a superfície oclusal dos
molares e incisivos decíduos e dos molares permanentes em
irrompimento.
Quadro 27 – Metodologia de uso dos vernizes de flúor e clorexidina na indução de
selamento biológico.
Fonte: Os autores
Materiais dentários aplicados na odontopediatria - 136

Cimentos de ionômero de vidro


Atualmente, um dos objetivos da odontologia restauradora é preser-
var os tecidos dentários sadios, e recompor o tecido perdido levando-se
em consideração o emprego de materiais odontológicos adequados, a fim
de evitar recidivas ou o aparecimento de novas lesões de cárie (PEREIRA
et al., 1999). Dentre estes materiais, o Cimento de Ionômero de Vidro
(CIV) vem sendo amplamente utilizado nesse sentido (PITHON et al,
2006). Os ionômeros de vidro surgiram dos estudos pioneiros de Wilson
e Kent, em 1972 na Inglaterra, e em 1975 foram introduzidos no mer-
cado. Inicialmente, eles foram formulados a partir da união de dois ci-
mentos utilizados na odontologia: o cimento de policarboxilato de zinco
e o cimento de silicato. Desde então, estes cimentos vêm sendo aperfei-
çoados e atualmente são utilizados tanto em procedimentos preventivos
quanto em procedimentos restauradores. Os CIVs são materiais híbridos
que consistem de partículas inorgânicas de vidro dispersas numa matriz
insolúvel de hidrogel. Sua estrutura de matriz é mantida por forças co-
esivas, presumidamente uma mistura de ligações iônicas, pontes de hi-
drogênio e cadeias químicas complexas (HATTON e BROOK, 1992).
O CIV apresenta adesão química ao esmalte e à dentina (quelação), o
seu coeficiente de expansão térmica linear é muito próximo ao dente, é
um material hidrófilo, biocompatível e que libera flúor para o meio bu-
cal (XIE et al, 2000). Além dessas propriedades, alguns estudos mostra-
ram que o CIV possui uma maior resistência aos ciclos termomecânicos
que ocorrem na cavidade bucal, quando comparados às resinas compos-
tas, por apresentarem módulo de elasticidade semelhante ao da estrutu-
ra dental (WILSON e KENT, 1972).
Os CIVs apresentam adesão ao tecido mineralizado do dente, pro-
porcionando bom vedamento marginal e diminuição da progressão das
lesões de cárie (Maldonado; Swartz; Phillips, 1978). Quando inseridos
na estrutura dentária, tem a capacidade de se juntar quimicamente devi-
do à ligação química que ocorre entre os grupos carboxílicos dos poliá-
cidos (COOH) e os íons cálcio existentes no esmalte, dentina e cimento.
A união adesiva ao esmalte é superior à dentina por ser uma estrutura
137 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

mais mineralizada (VIEIRA et al., 2006). Lembrando que a adesivida-


de do CIV depende de alguns fatores, entre eles a correta manipulação,
a proporção pó-líquido utilizada e a inserção do material na cavidade
(PASCOTTO e NAVARRO, 2004).
Durante o estágio inicial de presa, o CIV convencional está sujeito
à embebição (absorção de água) e no estágio final à sinérese (perda de
água), portanto, é um material que necessita de proteção durante o perí-
odo de presa para que se diminua o risco de microinfiltração (DOERR;
HILTON; HERMESCH, 1996; VIRMANI; TANDON; RAO, 1997).
A reação de presa ocorre nas primeiras 24 horas após a inserção do ma-
terial. Esta proteção pode ser realizada com algum agente protetor como
o verniz que acompanha o material, esmalte cosmético de unha incolor
ou adesivos fotoativados (BRITO et al, 2010).
Outra característica importante do CIV, e talvez uma das princi-
pais, é sua capacidade de liberação de flúor. Através da liberação de flúor,
o CIV consegue manter ao seu redor um ambiente propício à reminera-
lização, pois o flúor interfere no metabolismo das bactérias, se liga ao
esmalte tornando-o mais resistente aos ácidos e diminui a desmineraliza-
ção (TENUTA et al. 1997). A presença de flúor nestes materiais confe-
re uma propriedade anticariogênica a ele, podendo prevenir a instalação
de novas lesões de cárie (MARTINS et al. 2006).
De acordo com a sua natureza, o CIV pode ser classificado em
convencionais (pó de partículas vítreas e líquido contendo ácido polia-
crílico), convencionais de alta viscosidade, anidros (ácido liofilizado
e adicionado ao pó), modificados por partículas metálicas (acréscimo
de liga de amálgama e/ou metal sintetizado), e modificados por resina
(substituição de parte do ácido poliacrílico por hidroxietilmetacrilato)
(NAVARRO e PASCOTTO, 1998), e também podem ser classificados
com relação à sua indicação clínica, assim como veremos detalhadamen-
te logo a seguir. Atualmente, outros tipos de CIVs têm sido estudados e
introduzidos na odontologia, tais como CIVs de alta viscosidade modi-
ficados por clorexidina, CIVs modificados por zinco e também a adição
de partículas de biovidros (bioglass) nos CIVs.
Materiais dentários aplicados na odontopediatria - 138

Classificação
Como descrito anteriormente, os CIVs foram classificados com
relação à sua indicação clínica e composição, como mostra o quadro a
seguir (Quadro 28)

Classificação em relação à Classificação em relação à


indicação clínica composição
Tipo I: para cimentação CIVs Convencionais
Tipo II: para restauração ou ART CIVs modificados por partículas
metálicas
Tipo III: para forramento
Tipo IV: para núcleos e
restaurações
definitivas
Selantes de fóssulas e fissuras, CIVs modificados por resina
restaurações, bases e forramentos
Tratamento restaurador CIVs convencionais de alta
atraumático (ART) viscosidade
Quadro 28 – Classificação dos CIVs quanto à indicação e composição.
Fonte: Os autores

Características – classificação com relação à composição

Cimento de Ionômero de Vidro convencionais


Os CIVs convencionais apresentam-se na forma de pó e líquido.
O pó constitui-se por partículas de sílica, alumina e fluoretos de cálcio,
sendo de caráter básico. Já o líquido possui o ácido policarboxílico sob
a forma de copolímero com ácido itacônico, tricarbálico, malêico ou tar-
tárico. Quando misturados formam um sal hidratado, que atua como ma-
triz da ligação entre as partículas de vidro.
139 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Cimento de Ionômero de Vidro modificado por partículas


metálicas
Nos CIVs reforçados por metais, partículas metálicas foram incor-
poradas ao pó do cimento convencional, a fim de melhorar a resistên-
cia à fratura e ao desgaste do material. Foram empregados dois métodos
de modificação. No primeiro método, partículas esféricas do pó de li-
gas para amálgama foi misturado ao pó do ionômero de vidro do tipo II.
Este cimento é chamado de mistura com liga de prata. Já o segundo mé-
todo caracteriza a união através da fusão das partículas de prata com as
partículas de pó de vidro, através da sinterização a altas temperaturas.
Este cimento ficou conhecido como cermet.

Cimento de Ionômero de vidro modificados por resina


A maior inovação destes materiais foi a adição de componentes
resinosos, o que resultou nos CIVs modificados por resina (Wanderley
et al, 2011). Monômeros resinosos foram incorporados no líquido tais
como resinas hidrofílicas (21-41% de hidroxietilmetacrilato – HEMA)
e grupos metacrílicos, e no pó, fotoiniciadores que respondem à luz vi-
sível (Casalino e Pinedo, 2006).
Os ionômeros de vidro modificados por resina foram introduzidos
a fim de superar problemas de sensibilidade à umidade e a baixas pro-
priedades mecânicas iniciais associadas aos cimentos convencionais. A
reação de presa química ocorre pois é uma característica particular dos
CIVs, porém, a presença de fotoiniciadores auxiliam no controle de pre-
sa deste material (Navarro e Pascotto; 1998), pois estes materiais tam-
bém dependem da fotoativação para que ocorra sua presa.

Cimento de Ionômero de Vidro de alta viscosidade


Além disso, o CIV tem sido amplamente utilizado para o Tratamento
Restaurador Atraumático (ART), selamento e remoção química e mecâ-
nica da lesão de cárie devido as suas propriedades físicas que envolvem
Materiais dentários aplicados na odontopediatria - 140

a adesão à estrutura dental, a biocompatibilidade e sua liberação de íons


flúor (BUSSADORI e MASUDA, 2005; FRENCKEN e HOLMGREN
1999). Para este tipo de tratamento, cimentos de alta viscosidade foram
introduzidos para que pudessem ser empregados com sucesso, princi-
palmente em áreas sujeitas aos esforços mastigatórios. Estes materiais
apresentam propriedades melhoradas, superior resistência à compressão
quando comparados aos CIVs convencionais e aos CIVs modificados
por resina (Guggenberg et al, 1998).

Cimento de Ionômero de Vidro de alta viscosidade


modificados com clorexidina
Nos últimos anos, o gluconato de clorexidina vem sendo utilizado na
clínica odontológica e entre as aplicações antibacterianas, tem sido consi-
derado o padrão ouro devido a sua eficácia na remoção química do biofil-
me dental (Leung et al, 2005). Os CIVs contendo flúor na sua composição
ganharam grande importância devido à capacidade de liberação de flúor ao
longo do tempo (Komatsu et al, 2007). Entretanto, o flúor não é suficiente
para combater o crescimento bacteriano (Xie et al, 2011). Sendo assim, al-
guns estudos têm sido realizados com o objetivo de adicionar clorexidina
aos CIVs, a fim de aumentar sua propriedade antibacteriana (Leung et al,
2005; Komatsu et al, 2007; Iz et al, 2013; Marti et al, 2014; Mittal et al,
2015) principalmente em CIVs de alta viscosidade, que são os mais indi-
cados para os Tratamentos Restauradores Atraumáticos (ART) (Bussadori
e Masuda, 2005; Frencken e Holmgren 1999).

Cimento de Ionômero de Vidro modificados com zinco


Outro tipo de modificação que tem sido estudada e introduzida nos
CIVs é a adição de partículas de zinco na sua composição. De acordo
com Zoergiebel e Illie (2013), a adição de zinco ao CIV mostrou uma
maior longevidade do material, tornando um material favorável para res-
taurações classe I e classe II. Este material não mostrou propagação de
fendas e nem irregularidades visíveis na superfície, e dessa forma, me-
141 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

lhorou as características macro-mecânicas. Estes materiais são indica-


dos para restaurações de dentes decíduos, técnicas de ART, restaurações
provisórias em dentes permanentes e também como base de restaurações
definitivas e para lesões cervicais não cariosas.

Cimento de Ionômero de Vidro modificados com biovidro


(bioglass)
O vidro bioativo, ou biovidro, são partículas que podem regular as
atividades osteoblásticas através do controle de expressão de vários ge-
nes (Hench 2009). Dessa forma, os vidros bioativos são utilizados como
aditivos aos CIVs modificados por resina por serem altamente biocom-
patíveis, e por serem biomateriais a base de silicato de cálcio osteocon-
dutivos (Yuan et al, 2001). Clinicamente, este material foi inicialmente
usado como um biomaterial para substituir os tecidos ósseos perdidos
no corpo humano. Ele produz uma forte ligação com o osso através da
produção de hidroxiapatita e formação de uma forte ligação entre o co-
lágeno e a hidroxiapatita, e não é rejeitado pelo corpo (Hench, 2006).
Recentemente, foi relatado que a fase sol-gel dos biovidros, especial-
mente as nanopartículas, podem melhorar as atividades das células pul-
pares (Wang et al, 2014). Dessa forma, Matsuya et al (1999) introduziu
na Odontologia, um novo CIV a base de biovidro e ácido poliacrílica. A
incorporação de nanopartículas de biovidro podem aumentar suas pro-
priedades osteogênicas e odontogênicas para as aplicações clínicas tais
como preenchimentos de canais e regeneração óssea. De acordo com
Valanezhad et al (2016), a adição de nanopartículas de biovidro a CIVs
modificados por resina aumentou a resistência flexural desses materiais,
e também, o nível de crescimento celular aumentou em função da con-
centração de nanopartículas de biovidros. Em vista disso, o biovidro tem
sido adicionado aos CIVs para melhorar a sua bioatividade e capacida-
de de regeneração dos dentes. Dessa forma, há um interesse no uso de
materiais bioativos na Odontologia, particularmente na tentativa de re-
mineralizar a dentina.
Materiais dentários aplicados na odontopediatria - 142

Infiltrantes
As técnicas minimamente invasivas têm sido estudadas com o ob-
jetivo de desenvolver técnicas de intervenção mínimas para o tratamen-
to das lesões de cárie, e assim avaliar as possíveis opções de tratamento
menos invasivo a fim de diminuir a perda de tecido e o desconforto do
paciente (RAO E MALHOTRA, 2011). Com o advento da odontologia
restauradora minimamente invasiva, um novo material foi introduzido
no mercado a fim de suprir a necessidade de intervir nas lesões iniciais
de cárie em esmalte (lesões de mancha branca) através de métodos in-
vasivos ou operatórios (remoção mecânica da lesão através da utiliza-
ção de brocas). A ideia deste material é ocluir tanto quanto for possível
os poros das lesões de mancha branca com resinas de baixa viscosidade
a fim de criar uma barreira de difusão dentro da lesão, uma vez que as
porosidades das lesões de cárie em esmalte agem como caminhos de di-
fusão para os ácidos e minerais dissolvidos, e dessa forma a infiltração
pode ocluir esses caminhos e consequentemente conter ou até mesmo
impedir a progressão da lesão (MEYER-LUECKEL e PARIS 2008b;
PARIS et al, 2007a, b, c). Através de muitos estudos, os pesquisadores
Paris e Meyer-Lueckel (2010) confirmaram que a infiltração da lesão de
cárie impede que a lesão progrida eficientemente sem a necessidade da
restauração com resina composta ou a utilização de selantes. O uso de
selantes convencionais para o selamento da lesão de cárie se difere dos
infiltrantes pois uma camada de resina é criada apenas na superfície do
esmalte, enquanto que os infiltrantes têm como objetivo principal pene-
trar o corpo da lesão porosa com as resinas de baixa viscosidade, subse-
quentemente polimerizadas (PARIS et al, 2007b, MEYER-LUECKEL
e PARIS, 2008a). A princípio, estes materiais foram desenvolvidos para
a utilização em regiões interproximais dos dentes (MEYER-LUECKEL
e PARIS, 2008a; ALFAYA et al, 2012; ALTARABULSI et al, 2014),
entretanto, estudos têm sido realizados a fim de utilizá-los também nas
regiões oclusais dos dentes posteriores (LAUSCH et al., 2015; ARAÚJO
et al., 2013). Ainda, outros estudos estão sendo realizados a fim de mas-
carar algumas lesões de mancha branca ocasionadas por outros fatores
143 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

que não a lesão inicial de cárie em esmalte como alguns casos de fluo-
rose, manchas hipomineralizadas, etc (TIRLET et al, 2013; TORRES
e BORGES, 2015). Este material é conhecido comercialmente como
ICON® (DMG – Hamburg, Alemanha), e vem disposto em um kit com
os seguintes produtos: Icon-Etch®, Icon-Dry® e Icon-Infiltrant®. Sua
composição está descrita no quadro a seguir (Quadro 29).

Produtos Composição

Icon-Etch® Ácido clorídrico a 15%

Icon-Dry® Etanol
Matriz resinosa a base do monômero
Icon-Infiltrant® trietileno glicol dimetacrilato (TEGDMA),
aditivos e iniciadores
Quadro 29 – Produtos comercializados em conjunto no kit dos infiltrantes, e a
composição de cada um deles.
Fonte: Adaptado do site da DMG – http://br.dmg-dental.com/produtos/infiltrante-de-
carie/

Ao contrário do condicionamento ácido comum, realizado com


gel de ácido fosfórico a 37% utilizado para a maioria dos materiais dis-
poníveis à base de matriz resinosa, estudos realizados mostraram uma
maior eficiência de penetração do ICON®, ou seja, houve uma pene-
tração mais profunda do material nas lesões de mancha branca, quan-
do um gel de ácido clorídrico a 15% foi utilizado (Paris et al, 2007c).
Dessa maneira, preconizou-se o uso do gel de ácido clorídrico a 15%
para o prévio condicionamento das lesões de mancha branca, na utili-
zação do ICON®.

Marca comercial
– Icon® – DMG
Materiais dentários aplicados na odontopediatria - 144

Técnica de aplicação (de acordo com o fabricante) para tratamen-


to proximal e superfícies lisas:

1. Isolamento absoluto do campo operatório


2. Em superfícies interproximais, é feita uma separação dos den-
tes com uma cunha
especial para ganhar espaço interproximal
3. Condicionamento ácido (ácido clorídrico a 15%) com o uso de
um aplicador proximal especial se necessário (Icon-Etch®),
por 2 minutos
4. Lavagem com água por 30 segundos e secagem
5. Aplicação de álcool para desidratação da superfície por 30 se-
gundos (Icon-Dry®) e secagem
6. Infiltração da resina por 3 minutos (Icon-Infiltrant®)
7. Fotoativação por 40 segundos
8. Nova aplicação do infiltrante por mais 1 minuto
9. Fotoativação por 40 segundos

____________________
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Procedimentos restauradores em odontopediatria - 151

Capítulo 11 VOLTAR AO
Procedimentos restauradores em odontopediatria SUMÁRIO

Camila Haddad Leal de Godoy


Marcelo Mendes Pinto
Lara Jansiski Motta
Sandra Kalil Bussadori

Os tratamentos restauradores têm por objetivo recuperar a forma,


função e estética dos elementos dentais envolvidos. É muito importante
que o plano de tratamento seja montado baseado nos dados obtidos no
exame clínico e radiográfico e que leve em consideração:

1. O risco de cárie do paciente


2. Cronologia de erupção
3. Controle mecânico do biofilme (higiene bucal)
4. Colaboração do paciente e dos responsáveis

Materiais Restauradores
Amálgama de prata – é o material com maior durabilidade clínica e
apresenta alta resistência mastigatória e ao desgaste, porém, necessi-
ta de cavidades retentivas (requer conhecimento dos princípios de pre-
paros cavitários), está sujeito à corrosão e não é um material estético.
Resina composta – é um material estético e que possui adesividade (per-
mitindo que sejam realizados preparos mais conservadores), entretanto,
é um material que sofre contração de polimerização, tem baixa estabi-
lidade de cor e é contraindicada para pacientes com alto risco de cárie.
Cimento de ionômero de vidro (CIV) – é o material restaurador mais bio-
compatível, com adesividade ao dente, coeficiente de expansão térmico
linear semelhante ao da dentina e que pode ser considerado terapêutico,
152 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

por liberar flúor ao longo do tempo. É um material de baixa resistência


mecânica, de estética comprometida e que necessita de uma aplicação
de protetor de superfície.

Tomada de Cor
Em caso de restaurações adesivas é necessário escolher a cor do
material a ser utilizado. Essa tomada de cor deve ser realizada sob luz
natural e previamente a colocação do isolamento absoluto, para que o
dente ainda esteja hidratado e para que a cor do lençol de borracha não
altere a cor do elemento dental.
Na dúvida entre mais de uma cor pode-se pegar pequenos in-
crementos (bolinhas) de resina composta e polimerizar sobre a face
vestibular do dente a ser restaurado ou do dente vizinho, o que é facil-
mente destacado com o auxílio de uma espátula ou explorador, já que
ainda não foi realizado condicionamento ácido ou aplicação de adesi-
vo na superfície.

Isolamento do Campo Operatório


A utilização do isolamento absoluto garante a realização do pro-
cedimento restaurador em um campo operatório seco e limpo, possibi-
litando a confecção de uma restauração com maior longevidade.
Além disso, pode-se citar algumas vantagens para a realização do
isolamento absoluto durante os procedimentos clínicos:

1. Tempo: o uso do isolamento resulta em um ganho de tempo clí-


nico, já que o isolamento dispensa a necessidade do paciente
cuspir após as lavagens.
2. Auxilia no procedimento: o isolamento ajuda no controle da an-
siedade do paciente infantil e restringe os movimentos de lá-
bios e língua.
Procedimentos restauradores em odontopediatria - 153

3. Saliva: ao realizar o isolamento é possível ter uma visão melhor


do campo operatório, sendo possível detectar pequenas expo-
sições pulpares e também ter o controle do fluxo salivar, já que
alguns materiais quando em contato com a cavidade bucal es-
timulam a produção de saliva.
4. Proteção: o isolamento previne que materiais ou objetos estra-
nhos entrem em contato com as estruturas orais ou que a crian-
ça os aspire ou degluta os mesmos.

Escolha do grampo
O grampo deve ser escolhido levando em consideração a estabili-
dade do isolamento. Sendo assim, ele deve permanecer preso ao dente
mesmo com a tensão do lençol de borracha ou quando em contato com
os tecidos moles da cavidade oral (língua, bochecha, lábios, etc.).
O grampo escolhido para o isolamento absoluto deve ser testado
antes da colocação do lençol de borracha devendo estar amarrado em
um pedaço de fio dental, para facilitar a sua remoção caso aconteça al-
guma situação inesperada.
Para a colocação do lençol de borracha no paciente recomenda-se
que o grampo escolhido seja colocado no lençol previamente perfurado
e adaptado ao dente com o auxílio da pinça porta-grampo. A pinça é en-
tão removida e o arco para lençol de borracha posicionado, fixando-se
as pontas do lençol nos pinos do arco.
Para um completo selamento do dente em que foi adaptado o gram-
po, é necessário liberar a borracha que ficou sobre as asas do grampo,
podendo ser utilizado um instrumental/espátula de ponta arredondada.

Preparos cavitários em dentes decíduos


Os preparos cavitários em dentes decíduos devem ser realizados
em alta rotação, com o uso de brocas carbide de menor diâmetro possí-
vel (compatível com o tamanho da lesão) e de pontas arredondadas, po-
154 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

dendo em algumas vezes o preparo ser finalizado com uma única broca
(em preparos conservadores).

Princípios gerais do preparo cavitário


Os preparos cavitários para restauração com amálgama devem se-
guir uma sequência de tempos operatórios, adequando a cavidade para
receber o material.
Estes preparos necessitam de paredes de fundo e circundantes pla-
nas. As paredes circundantes devem ser paralelas entre si e perpendicu-
lares às paredes de fundo, e a parede gengival deve ser paralela à parede
pulpar. O ângulo axio-pulpar deve ser arredondado e o cavo-superficial
não deve ser biselado.
É importante ressaltar, que nestes preparos, todo esmalte deve ser
suportado por dentina, para evitar a fratura do remanescente dental e do
material restaurador.
Como o amálgama não apresenta adesividade, em casos onde as ca-
vidades não são autorretentivas (rasas e largas) sulcos/canaletas de reten-
ção devem ser confeccionados, evitando o deslocamento da restauração.
E em casos de impossibilidade de realizar o isolamento absoluto,
o amálgama de prata é o material mais indicado, pois tem menor sensi-
bilidade à presença de umidade.
Baseada nas áreas de desenvolvimento da lesão de cárie e gru-
po de dentes envolvidos, Black desenvolveu uma classificação artificial
para as cavidades.
Procedimentos restauradores em odontopediatria - 155

Classe I Classe II Classe III Classe IV Classe V


oclusal de  Proximais  Proximais  Proximais Terço cervi-
molares e de molares e de incisivos e de incisivos e cal ou gengival
pré-molares; pré-molares caninos, sem caninos com das faces vesti-
2/3 oclusais comprometi- comprometi- bulares ou lin-
da face vestibu- mento do ân- mento do ân- guais de todos
lar de molares gulo incisal gulo incisal os dentes
inferiores;
2/3 oclusais
da face palati-
na de molares
superiores;
palatina de in-
cisivos e caninos
superiores
Quadro 30 – Classificação artificial de Black.
Fonte: Os autores

Preparo classe I
✓✓ Realiza-se o preparo com as brocas cabide no 329, 330, 245,
256 em alta rotação;
✓✓ A remoção da dentina cariada deve ser realizada com auxílio
de curetas de dentina e/ou brocas esféricas de diâmetro compa-
tível com o tamanho da lesão em baixa rotação;
✓✓ Para restauração em amálgama o esmalte sem suporte deve ser
removido, as paredes circundantes devem estar paralelas e a
pulpar plana;
✓✓ Em restaurações com resina composta, o preparo deve ser con-
servador, limitando-se, sempre que possível, à remoção do te-
cido cariado;
156 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

✓✓ A proteção do complexo dentino pulpar deve ser realizada sem-


pre que necessário.

Preparo classe II
✓✓ O preparo inicia-se da mesma forma que o preparo de classe
I, porém, neste caso rompe-se a crista marginal na mesial e/ou
distal;
✓✓ No término do preparo da caixa proximal, o ângulo formado
pela parede vestibular, lingual e axial deve ser um ângulo reto;
✓✓ As paredes vestibular e lingual devem ser ligeiramente conver-
gentes para a oclusal;
✓✓ Deve ser realizada a proteção do dente vizinho com matriz de
aço, para prevenir danos do dente adjacente durante o preparo
da caixa proximal;
✓✓ É necessário o uso de matriz, porta matriz e cunha para a
realização da restauração de classe II;
✓✓ Caso a superfície oclusal não esteja comprometida, pode-se
optar pelo preparo restrito a proximal e a restauração com re-
sina composta.

Preparo classe III


✓✓ É um preparo indicado para restaurações adesivas;
✓✓ O acesso é direto, podendo ser pela face vestibular, lingual ou
mesmo pela próximal, em casos de ausência de dente vizinho
ou presença de diastema;
✓✓ É essencial realizar a proteção do dente vizinho com matriz de
aço, evitando o desgaste acidental da superfície proximal do
dente adjacente.
Procedimentos restauradores em odontopediatria - 157

Preparo Classe IV
✓✓ Geralmente ocorre por trauma, mas também pode ocorrer por
lesões de cárie extensas;
✓✓ Deve ser realizada restauração estética;
✓✓ É necessário verificar se existe exposição pulpar e a vitalidade
pulpar previamente à restauração;
✓✓ Deve ser confeccionado um bisel no ângulo cavo-superficial
vestibular, utilizando-se pontas diamantadas tronco-cônicas,
anguladas entre 30 e 45o;
✓✓ Em casos de trauma pode ocorrer escurecimento do remanes-
cente dental.

Mínima intervenção
Com a evolução dos materiais restauradores, onde a retenção do
material na cavidade é realizada por adesividade, os preparos passaram
a ser mais conservadores, se restringindo somente à remoção do tecido
cariado, preservando assim, maior quantidade de tecido dental sadio.
A escolha de materiais adesivos para restaurar permite que os pre-
paros sejam mais irregulares e que em algumas situações se preserve o
esmalte sem suporte.
Considerando a nova filosofia de mínima intervenção, Mount &
Hume propuseram em 1997, uma nova classificação para os preparos
conservadores. Essa classificação avalia área (face) em que ocorre (1-
3) e o tamanho da lesão (0-4), conforme descrito nos Quadros 31 e 32.

Área 1 Área 2 Área 3


Cicatrículas e fissuras Região de ponto de Região cervical em
na face oclusal de contato de qualquer contato com tecido
dentes posteriores e dente (anterior ou gengival, incluindo
superfícies lisas posterior) exposição radicular
Quadro 31 – Classificação de Mount & Hume para a área envolvida.
Fonte: Os autores
158 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Tamanho 0 Tamanho 1 Tamanho 2 Tamanho 3 Tamanho 4


Lesão Pequenas Lesão com Lesão Lesão muito
inicial, em cavitações, envolvimento com maior extensa com
qualquer restritas ao moderado acometimento perda de
face, sem esmalte. de dentina. da estrutura cúspide ou
cavitação Ainda existe dentária. As borda incisal.
(mancha integridade do estruturas
branca remanescente remanescentes
ativa). É dental e o ficam mais
passível esmalte é fragilizadas.
de remine- suportado por
ralização. dentina sadia.
Quadro 32 – Classificação de Mount & Hume para o tamanho da lesão.
Fonte: Os autores

A avaliação de cada lesão de acordo com Mount & Hume (1993)


é dada pela composição numérica da área e do tamanho, onde o primei-
ro número representa a área e o segundo o tamanho de cada lesão (ex:
1.0; 2.3; 2.4...).

Tratamento restaurador atraumático


O tratamento restaurador atraumático foi desenvolvido na década
de 80, com o objetivo de atender a necessidade de tratamento em popu-
lações subdesenvolvidas e onde não existe infraestrutura. Este método
consiste na realização de restaurações sem anestesia, utilizando apenas
instrumentos cortantes manuais para a remoção da dentina infectada.
Esta técnica possibilita manter uma pequena camada profunda de teci-
do cariado, que pode ser reorganizada estruturalmente, sob o material
restaurador. O CIV é o material restaurador utilizado nesta técnica, uma
vez que possui adesividade às estruturas dentais, é um material biocom-
patível e libera flúor.
Esta é uma técnica muito indicada na clínica infantil, principal-
mente quando visamos o condicionamento e/ou motivação do paciente
e onde o uso de anestésicos locais e instrumentos rotatórios podem di-
ficultar a colaboração durante o atendimento.
Procedimentos restauradores em odontopediatria - 159

Restaurações indiretas
Em alguns casos, onde a destruição do elemento dental foi muito
grande, a reconstrução do mesmo torna-se mais difícil de ser executa-
da com sucesso em uma única sessão, não só pela extensão da restau-
ração, mas também pelo tempo em que a criança permanece na cadeira
odontológica.
Nesses casos pode-se optar pela técnica indireta, onde após o pre-
paro cavitário é realizada a moldagem do paciente com material à base
de silicone para obtenção do modelo de trabalho, onde será confeccio-
nada a restauração em resina composta (inlay/onlay).
Por ser confeccionada sobre o modelo de trabalho torna-se mais
fácil a realização da escultura dental, do acabamento e polimento e é
possível realizar sessões mais curtas. Porém, como o procedimento deve
ser realizado em mais de uma sessão, após a moldagem é necessária a
colocação de um material provisório no preparo cavitário para proteção
do remanescente dental até a consulta seguinte.

____________________
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Tratamento endodôntico de dentes decíduos - 160

Capítulo 12 VOLTAR AO
Tratamento endodôntico de dentes decíduos SUMÁRIO

Lara Jansiski Motta


Marcelo Mendes Pinto
Sandra Kalil Bussadori

As alterações pulpares em dentes decíduos requerem um cuida-


do particular pelas características específicas anatômicas dos elementos
dentais, além de considerar que estes dentes são temporários e sofrem
alterações fisiológicas até a esfoliação completa.
Algumas situações podem levar à alteração da saúde pulpar, como
por exemplo, lesões de cárie e traumatismos e dependendo do grau de
comprometimento, diferentes tratamentos devem ser realizados.
Alguns pontos devem ser analisados antes de eleger o tratamento
endodôntico em dentes decíduos; são eles: correto diagnóstico, estágio
da saúde pulpar, ciclo biológico do dente decíduo, idade e colaboração
da criança. As condições do elemento dental e os tecidos adjacentes tam-
bém devem ser considerados.
Os dentes decíduos seguem um ciclo natural e neste período sofre
mudanças estruturais, histológicas e bioquímicas. Estas mudanças po-
dem contraindicar ou favorecer alguns tratamentos.
Em relação ao diagnóstico da condição pulpar, deve-se investigar
os sinais clínicos e radiográficos para determinar se a polpa se encontra
saudável, com inflamação reversível, inflamação irreversível ou necro-
se pulpar. O Quadro 33 apresenta as possíveis terapias de acordo com o
estágio de saúde pulpar.
161 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

CONDIÇÃO PULPAR TRATAMENTOS POSSÍVEIS


Polpa Saudável Capeamento indireto
(conservador)
Capeamento direto (conservador)
Pulpotomia (conservador)
Polpa com inflamação Pulpotomia
reversível
Pulpectomia
Polpa com inflamação Pulpectomia
irreversível
Necrose pulpar Pulpectomia.
Quadro 33 – Terapias pulpares de acordo com a condição do tecido pulpar.
Fonte: Os autores

Para o correto diagnóstico, as informações da anamnese, dos exa-


mes clínico e radiográfico devem ser somadas para a conclusão final.
Após o diagnóstico da condição da polpa, a situação da coroa remanes-
cente e o estágio de reabsorção radicular irão se somar às informações
anteriores para determinar o tratamento.
Durante a anamnese, deve-se considerar a história da dor. Apesar
de ser difícil para a criança descrever a sensação dolorosa, este é um si-
nal importante para o diagnóstico. Algumas informações passadas pelo
responsável podem auxiliar na pesquisa da dor. Questionar o responsá-
vel se a criança relata incômodo de maneira espontânea ou só quando
provocada, ajuda a determinar se a polpa está em estágio inflamatório
reversível (provocado) ou espontâneo. Dores espontâneas à noite indi-
cam dano pulpar avançado.
Devido às alterações fisiológicas dos dentes decíduos, a degenera-
ção pulpar em dentes decíduos não é acompanhada claramente por sin-
tomatologia definida. É relativamente comum mudanças inflamatórias
repentinas que passam da vitalidade à necrose, de forma assintomática.
Isto porque, dependendo da fase do ciclo biológico do dente decíduo,
tecidos pulpares estão em transição para células fibrosas.
Tratamento endodôntico de dentes decíduos - 162

Alguns fatores estruturais precisam ser considerados no planeja-


mento do tratamento endodôntico, como por exemplo, a anatomia irregu-
lar do assoalho pulpar, rizólise irregular, ou seja, a reabsorção fisiológica
pode não ser igual para as diferentes raízes do mesmo dente ou na mes-
ma raiz em paredes diferentes (Figura 38).

Figura 38 – Reabsorção fisiológica irregular.


Fonte: Os autores

Capeamento pulpar indireto


O capeamento indireto é um tratamento caracterizado pela remoção
do tecido dentinário cariado infectado e manutenção da dentina afetada.
Este tratamento reduz o risco de exposição pulpar durante a remoção
de tecido cariado. Após a remoção da dentina infectada, aplica-se um
medicamento biocompatível em contato com a dentina para favorecer a
remineralização e estimular a neoformação de dentina reacional. O ma-
terial de escolha para esta técnica é o hidróxido de cálcio.
As indicações para o capeamento direto compreendem:

● Dentes com grande lesão de cárie, onde a continuidade da re-


moção possa vir a expor a polpa
● Ausência de dor espontânea
163 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

● Ausência de mobilidade
● Ciclo biológico compatível
● Ausência de alterações na imagem radiográfica

O capeamento indireto está contraindicado para dentes com pul-


pite e em fase de rizólise avançada.
Os passos clínicos para a realização do capeamento indireto estão
descritos no Quadro 34 e ilustrados na Figura 39.

CAPEAMENTO PULPAR INDIRETO


Técnica ✓✓ Anestesia (se houver risco iminente de exposição pulpar)
✓✓ Isolamento
✓✓ Remoção da cárie com curetas
✓✓ Suspender a curetagem quando a dentina começar a
escamar
✓✓ Realizar curativo sobre a dentina remanescente com hi-
dróxido de cálcio pasta-pasta
✓✓ Restaurar com material que proteja contra
microinfiltrações
Proservação  Acompanhamento clínico e radiográfico até esfoliação

Quadro 34 – Técnica para realização do capeamento pulpar indireto.


Fonte: Os autores
Tratamento endodôntico de dentes decíduos - 164

Figura 39 – Ilustração do capeamento direto em dentes decíduos artificiais.


Fonte: Os autores

Capeamento pulpar direto


O capeamento pulpar direto é uma terapia proposta em casos de
micro exposição pulpar durante a remoção do tecido cariado. Se carac-
teriza pela deposição de um medicamento diretamente sobre a micro
exposição com o intuito de promover a cicatrização do tecido pulpar e
formação de tecido dentinário com manutenção da vitalidade pulpar. Os
medicamentos indicados para o capeamento direto são hidróxido de cál-
cio P.A., pastas iodoformadas (Pasta Guedes-Pinto ou Vitapex) ou MTA.
Este tratamento, com muita frequência, não é realizado em dentes
decíduos, pois as mudanças fisiológicas do tecido pulpar podem dificultar
o diagnóstico e na fase de início da rizólise, a capacidade da polpa de
reparação é mais precária, podendo resultar no fracasso do tratamento.
O Quadro 35 apresenta os passos clínicos para a realização da técnica.
O capeamento pode ser indicado, com muita cautela, nos seguin-
tes casos:
165 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

● Estágio de maturação pulpar (ciclo biológico compatível)


● Diagnóstico preciso
● Micro exposição pulpar de origem mecânica
● Sem contaminação (saliva e micro-organismos)

CAPEAMENTO PULPAR DIRETO


Técnica ✓✓ Anestesia
✓✓ Isolamento absoluto
✓✓ Irrigar a ferida com soro fisiológico
✓✓ Secar com penso de algodão estéril
✓✓ Colocar agente capeador biocompatível (Pasta Guedes-
Pinto, MTA ou hidróxido de cálcio P.A.)
✓✓ Restaurar com material que proteja contra
microinfiltrações
Proservação ✓✓ Acompanhamento clínico e radiográfico até esfoliação
Quadro 35 – Técnica para realização do capeamento pulpar direto.
Fonte: Os autores

Pulpotomia
Em alguns casos, o tratamento indicado para os dentes decíduos
é a pulpotomia, que consiste na remoção cirúrgica da polpa coronária
com posterior deposição de medicamento no remanescente pulpar radi-
cular vital, de maneira a manter a vitalidade dessa polpa radicular e per-
mitir que o dente decíduo conclua seu ciclo biológico da maneira mais
natural até a esfoliação.
Indicações da pulpotomia:

⇒ Dente com vitalidade pulpar


⇒ Ciclo biológico compatível
⇒ Dente que deve permanecer no arco por mais de um ano
Tratamento endodôntico de dentes decíduos - 166

⇒ Cárie profunda com risco iminente de exposição pulpar


⇒ Ausência de lesão na furca ou no ápice radicular
⇒ Pulpite em fase inicial
⇒ Bom estado geral de saúde

Diversos medicamentos podem ser utilizados na pulpotomia, dentre


eles o MTA e a pasta Guedes-Pinto. As pastas iodoformadas, de maneira
geral, apresentam-se boas indicações para este tratamento. O Quadro 36
apresenta o detalhamento da técnica da pulpotomia em dentes decíduos.
A ilustração da técnica está representada nas figuras 40 e 41.

PULPOTOMIA
Técnica ✓✓ Anestesia
✓✓ Isolamento absoluto
✓✓ Remoção de todo o tecido cariado
✓✓ Remoção do teto da câmara pulpar e exibição da
polpa coronária
✓✓ Pulpotomia com curetas estéreis afiadas
✓✓ Hemostasia com penso de algodão estéril sob
pressão
✓✓ Colocação do medicamento biocompatível: Pasta
Guedes-Pinto, hidróxido de cálcio, MTA, pastas
iodoformadas,
✓✓ Colocação de uma camada de guta-percha em bas-
tão para proteção
✓✓ Restaurar com material que proteja contra
microinfiltrações
✓✓ Acompanhamento clínico e radiográfico até
Proservação
esfoliação
Quadro 36 – Técnica para realização da pulpotomia em dentes decíduos.
Fonte: Os autores
167 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Figura 40 – Ilustração dos passos da pulpotomia em dentes decíduos artificiais.


Fonte: Os autores

Figura 41 – Ilustração do capeamento direto em dentes decíduos


artificiais.
Fonte: Os autores
Tratamento endodôntico de dentes decíduos - 168

Pulpectomia
A pulpectomia é o tratamento mais radical em relação ao tecido
pulpar. Quando a polpa está em estágio avançado de inflamação de ma-
neira irreversível, realiza-se a extirpação da polpa radicular ainda com
vitalidade. Quando o tecido pulpar já se apresenta necrótico, nesta técni-
ca realiza-se a remoção do tecido necrosado e a limpeza de todo o con-
duto radicular.
O tratamento radical está indicado nos seguintes casos:

• Estágios inflamatórios pulpares irreversíveis


• Necrose pulpar causada por lesões de cárie ou traumatismos
dentoalveolares

A pulpectomia é contraindicada em grandes reabsorções radicu-


lares (mais de 2/3 de raiz), cáries extensas que atinjam bi/trifurcações,
pouca saúde do paciente e baixa resistência. Nestes casos a indicação é
a exodontia. O Quadro 37 descreve os passos técnicos da pulpectomia.
Antes de iniciar os passos clínicos da pulpectomia, é necessário realizar
a odontometria para determinar o comprimento de trabalho e limite de
obturação. A medida é realizada baseada na radiografia periapical, po-
dendo recuar de 1 a 2 milímetros do limite visual, considerando a pre-
sença do bisel de reabsorção (Figura 42).
169 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

PULPECTOMIA
Técnica ✓✓ anestesia
✓✓ isolamento absoluto
✓✓ abertura da câmara coronária
✓✓ esvaziamento da câmara coronária com auxílio da
cureta
✓✓ irrigação com hipoclorito
✓✓ localização dos canais radiculares
✓✓ extirpação da polpa radicular (Figura 44) (com vita-
lidade) ou esvaziamento do conduto (necrose pulpar)
✓✓ instrumentação com lima tipo Kerr (1+2) de diâme-
tro proporcional (Figura 45)
✓✓ irrigação e aspiração concomitante (Figura 46)
✓✓ secagem por sucção
✓✓ secagem com cones de papel (Figura 47)
✓✓ obturação dos canais com material reabsorvível
(Figura 48) como a Pasta Guedes-Pinto, pastas io-
doformadas, hidróxido de cálcio ou óxido de zinco
e eugenol não reforçado.
✓✓ base de guta percha
✓✓ selamento
✓✓ restauração com material que proteja contra microin-
filtrações (Figura 47)
Proservação Acompanhamento clínico e radiográfico até esfoliação
Quadro 37 – Técnica para a realização da pulpectomia.
Fonte: Os autores
Tratamento endodôntico de dentes decíduos - 170

Figura 42 – Ilustração da odontometria em dentes


decíduos para determinar o comprimento de
trabalho.
Fonte: Os autores

Figura 43 – Ilustração da Figura 44 – Ilustração da


extirpação da polpa radicular instrumentação do conduto
na técnica da pulpectomia em na técnica da pulpectomia
dentes decíduos artificiais. em dentes decíduos artificiais.
Fonte: Os autores Fonte: Os autores
171 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Figura 45 – Ilustração da Figura 46 – Ilustração da secagem


irrigação do conduto na técnica da com cone de papel absorvente na
pulpectomia em dentes decíduos técnica da pulpectomia em dentes
artificiais. decíduos artificiais
Fonte: Os autores Fonte: Os autores

Figura 47 – Ilustração inserção da


pasta obturadora com a lima no
conduto na técnica da pulpectomia em
dentes decíduos artificiais.
Fonte: Os autores
Tratamento endodôntico de dentes decíduos - 172

O objetivo maior da instrumentação do conduto radicular do den-


te decíduo é a limpeza, pois não há necessidade de modelar o canal. O
processo de limpeza é realizado com 3 limas compatíveis com o diâ-
metro do conduto e é finalizado após o uso do último instrumento e as
substâncias irrigadoras não se apresentarem mais turvas.
A secagem com aspiração e cone de papel absorvente é essencial
para evitar a formação de bolhas ao inserir a pasta obturadora no espa-
ço do canal radicular. A pasta obturadora pode ser inserida com a lima
(Figura 47) ou com seringa (Figura 48). A lima utilizada para inserção
da pasta deverá ter o mesmo calibre da primeira ou segunda lima utili-
zada para a instrumentação. Ao inserir o material obturador com a lima,
deve-se realizar o movimento anti-horário para deposição da pasta no
interior do conduto até completar todo o espaço do canal radicular.

Figura 48 – Ilustração inserção da pasta obturadora com a seringa no conduto na técnica


da pulpectomia em dentes decíduos artificiais.
Fonte: Os autores
173 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Figura 49 – Ilustração do selamento da cavidade após técnica da pulpectomia


em dentes decíduos artificiais.
Fonte: Os autores

Pastas obturadoras para dentes decíduos


As pastas utilizadas para o preenchimento do canal radicular dos
dentes decíduos devem apresentar características específicas, pois deve
ser considerado o ciclo biológico e o processo de reabsorção fisiológi-
ca destes elementos.
Os requisitos ideais da pasta obturadora a ser escolhida são os se-
guintes: ser reabsorvível, não provocar danos aos tecidos periapicais e
ao permanente sucessor (biocompatível), ser facilmente removida quan-
do necessário, promover um adequado preenchimento e ser radiopaca.
Como exemplos de materiais utilizados para obturação dos dentes
decíduos temos: pasta Guedes-Pinto, Feapex® (Fórmula & Ação), pasta
de hidróxido de cálcio, CTZ, pastas iodoformadas.
A pasta Guedes-pinto é uma excelente escolha por apresentar ca-
racterísticas como propriedade antisséptica, boa tolerância tecidual (di-
minui a ação irritante das drogas antissépticas), diminui a intensidade da
reação inflamatória, é reabsorvível em contato com o tecido conjuntivo,
é radiopaca, controla a dor pós-operatória, facilita a cura e a reparação.
Tratamento endodôntico de dentes decíduos - 174

A pasta deve ser manipulada pelo clínico em placa de vidro e é


composta por três partes iguais de:

• Paramonoclorofenol canforado: antisséptico;


• Rifocort: o propileno-glicol (veículo) tem boa tolerância teci-
dual; o antibiótico de superfície é antisséptico e o corticoste-
róide diminui a intensidade da reação inflamatória; e
• Pó de iodofórmio: antisséptico.

A pasta CTZ é uma pasta antibiótica composta por uma parte de


tetraciclina (cápsula com 250 ou 500 mg); uma parte de cloranfenicol
(cápsula com 250 ou 500 mg); duas partes de óxido de zinco Tipo I; e
eugenol, sendo este adicionado durante o ato operatório.
As pastas à base de hidróxido de cálcio e iodofórmio também são
boas escolhas para preenchimento do conduto. Apresentam biocompa-
tibilidade, efeito antisséptico e são radiopacas.

____________________
Referências
GUEDES-PINTO, Antônio Carlos. ISSÁO, Myaki (in memoriam). Manual de
odontopediatria. 12. ed. São Paulo: Santos, 2013.
GUEDES-PINTO, Antônio Carlos. Odontopediatria. 8. ed. São Paulo: Santos,
2010.
IMPARATO, J.C.P. et al. Anuário de odontopediatria clínica. São Paulo:
Napoleão, 2013. v. 1.
PINHEIRO, Helder Henrique Costa et al. Terapia endodôntica em dentes de-
cíduos por odontopediatras. Pesq. Bras. Odontopediatria Clín. Integr., João
Pessoa, v. 13, n. 4, out./dez. 2013. Disponível em: <http://revista.uepb.edu.br/
index.php/pboci/article/viewFile/1775/pdf_20>.
Procedimentos cirúrgicos em odontopediatria - 175

Capítulo 13 VOLTAR AO
Procedimentos cirúrgicos em odontopediatria SUMÁRIO

Marcelo Mendes Pinto


Lara Jansiski Motta
Sandra Kalil Bussadori

Introdução
Esse capítulo aborda os procedimentos e protocolos cirúrgicos re-
alizados em crianças. Os procedimentos que serão descritos são aqueles
passíveis de serem realizados sob anestesia local, no ambiente do con-
sultório odontológico.
Entre os procedimentos cirúrgicos realizados em crianças, a exo-
dontia talvez seja o que ocorre com maior frequência, por isso será a
base para entendimento dos princípios básicos cirúrgicos, das diferen-
tes complexidades e abordagem cirúrgica da criança.
Para que se tenha sucesso no tratamento odontológico cirúrgico
da criança, todos os pontos fundamentais à prática da cirurgia devem ser
considerados, seja relacionado às condições morfofuncionais, às patoló-
gicas específicas ou às questões comportamentais.
Conceitualmente a cirurgia é uma modalidade de terapêutica prati-
cada de forma manual com o auxílio de instrumentos apropriados que por
meio de manobras, permitem o rompimento da solução de continuidade
dos tecidos bucais, levando a resolução para determinadas patologias.
Essa modalidade tem particularidades quando realizada em pacientes
crianças, como: as diferenças anatômicas, a anestesia local específica,
manejo da criança, entre outras que serão descritas desse manual.
176 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Princípios básicos da cirurgia odontológica


O conceito de princípio envolve tudo o que é inerente a algo, des-
de que seja determinada a sua natureza, a sua verdadeira essência, a ver-
dade geral, as leis e as regras estabelecidas para a ação específica, que
no caso é a cirurgia em odontopediatria.
Os princípios básicos da cirurgia são: a decisão, necessidade ci-
rúrgica e a oportunidade.
Decisão e Necessidade cirúrgica – nesse princípio será determi-
nada, após o diagnóstico correto pelos aspectos clínicos e com exames
complementares, a necessidade em realizar o procedimento cirúrgico.
A necessidade cirúrgica deve ser cuidadosamente avaliada e analisada e
quando for decidida a terapêutica, os pais devem ter o detalhamento do
procedimento e a ciência da sua realização. A Figura 50 mostra situações
clínicas em que há necessidade de procedimento cirúrgico.
Procedimentos cirúrgicos em odontopediatria - 177

A B

C D

Figura 50 – Ilustrações de situações clínicas que há necessidade cirúrgica. A – Caso de


alveólise e retenção prolongada dos incisivos superiores decíduos. B – Caso de grande
destruição por cárie, presença de raizes residuais dos incisivos superiores decíduos. C –
Caso de anquiloglossia, com limitação funcional da língua. D – Caso de papilomatose
no dorso da língua. Fonte: Fotos dos autores

Para a maior parte das situações clínicas a cirurgia deve ser sem-
pre considerada como a última modalidade terapêutica utilizada, sendo
priorizadas as modalidades conservadoras de tratamento. Existem várias
situações clínicas inerentes à cirurgia em odontopediatria que indica-se,
por ex., a exodontia de um dente, mas alguns aspectos devem ser pen-
sados antes de realizar a sua remoção, como acontece com dentes não
irrompidos e que não terão espaço para irromper se for removido pre-
cocemente o dente decíduo.
178 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Oportunidade cirúrgica – estabelecer o momento oportuno é ou-


tro princípio fundamental e básico da cirurgia em criança. É importante
que o Cirurgião Dentista constate se o ato operatório pode ser realizado
imediatamente ou se existe algum impedimento, seja local ou sistêmi-
co que contraindique a cirurgia. Situações momentâneas e/ou definiti-
vas que podem contraindicar o tratamento devem ser ponderadas e, se
necessário, postergadas até que o equilíbrio se reestabeleça. Os estágios
finais de doenças degenerativas representam algumas situações que po-
dem impedir a realização da cirurgia.
Uma vez decidida a necessidade de realização do procedimento ci-
rúrgico, algumas medidas pré-operatórias são importantes, entre as quais:
o planejamento da técnica cirúrgica, as medidas de biossegurança e apli-
cação da terapêutica medicamentosa prévia. Após realizado o procedi-
mento, as medidas pós-operatórias não devem ser esquecidas, assim, ao
tomar medidas pós-operatórias adequadas, pode-se obter melhores con-
dições para a recuperação e evolução da reparação tecidual do paciente.
Vale lembrar que o procedimento cirúrgico está diretamente as-
sociado à complexidade cirúrgica, que pode ser de baixa, média ou alta
complexidade. Entende-se por complexidade cirúrgica, um conjunto de
fatores que devem ser considerados para o planejamento do Cirurgião
Dentista. Dependendo do tipo de complexidade cirúrgica o requinte téc-
nico é mais apurado. Além da dificuldade técnica, devemos, baseados
nessa complexidade, estabelecer os parâmetros de: terapêutica medica-
mentosa, planejamento cirúrgico, arsenal cirúrgico, previsibilidade no
pós-operatório e manejo do comportamento da criança.

Exodontia de dentes decíduos


A remoção cirúrgica de dentes (exodontia) é, de fato, o procedi-
mento mais frequente praticado em odontologia, e seus objetivos são:
Procedimentos cirúrgicos em odontopediatria - 179

1) Limitar o processo danoso causado pelas doenças bucais ou pelo


traumatismo dentoalveolar, para evitar sequelas principalmen-
te aos permanentes.
2) Beneficiar a correção de alterações anatômicas e funcionais, con-
tribuindo para a reabilitação funcional do paciente infantil.

Para realizar a exodontia do dente decíduo, alguns princípios pró-


prios devem ser seguidos, para que favoreçam tecnicamente o profis-
sional, são eles:

Posição do paciente – a posição correta do profissional e da crian-


ça que permita a abordagem cirúrgica segura de qualquer dente ou
região. A criança deve estar sentada na cadeira odontológica, re-
clinada em torno de 30o.
Redução da resistência – é recomendado o uso de uma via que
facilite a exérese do dente, por meio da redução da resistência da
remoção, cuidar para que não traumatize o permanente e muitas
vezes com estreita relação entre as raizes dos decíduos e a coroa
do permanente.
Usar instrumental adequado – instrumentos apropriados, usados
com força adequada e controlada. É importante que os instrumen-
tos sejam fabricados para remoção de dentes decíduos, pelas ca-
racterísticas anatômicas diferenciadas dos dentes permanentes.

Algumas diferenças entre os dentes decíduos e permanentes im-


portantes que devem ser respeitadas para uma boa execução da técnica
de exodontia, são relacionadas ao tamanho, pois os dentes são meno-
res em todas as dimensões e as raizes configuram proporcionalmente a
maior parte do dente decíduo.
A forma do dente também deve ser considerada, nos decíduos são
menos volumosas o que dificulta a apreensão pelo instrumental. As rai-
zes divergentes torna-se as vezes um fator complicador da remoção.
180 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Outra diferença importante é a característica da reabsorção fisio-


lógica das raizes dos dentes decíduos, denominada de rizólise. Na den-
tição permanente, qualquer reabsorção radicular é patológica.
O osso alveolar que sustenta o dente decíduo é elástico no pacien-
te jovem e essa particularidade facilita a remoção dos dentes nessa fase.

• Grande comprometimento do dente;


• Dentes com rarefação óssea (periapical ou interradicular persistente);
• Rompimento da cripta óssea do germe do sucessor permanente;
• Dentes com cáries que já atingiram a bifurcação radicular;
• Dentes com alveólise;
• Dentes com raízes fraturadas;
• Dentes anquilosados e submersos.
Quadro 38 – Indicações de exodontia em dentes decíduos.
Fonte: Os autores
Procedimentos cirúrgicos em odontopediatria - 181

A B

C D

Figura 51 – Ilustração dos aspectos clínicos e radiográficos de indicações de exodontia


do dente decíduo. A-B mostra caso de alveólise e retenção prolongada dos dentes
anteriores decíduos decorrente de traumatismo. C-D mostra dente após realizada a
exodontia, decorrente de lesão interradicular persistente.
Fonte: Os autores
182 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

O Quadro 39 indica as principais dificuldades que podem neces-


sitar de uma intervenção com maior requinte técnico.

• Reabsorção desigual das raízes;


• Fratura da coroa;
• Raízes de molares em estreita relação com a coroa do dente
permanente;
• Dentes anquilosados;
• Dentes com fusão/geminação de dois dentes;
• Lesões no permanente;
• Perda de espaço.
Quadro 39 – Dificuldades na exodontia de dentes decíduos.
Fonte: Os autores

Sequência Técnica Cirúrgica


A exodontia de dentes decíduos pode ser realizada por diferen-
tes técnicas:

uso do fórceps;

uso de elevadores;

com odontossecção com instrumentos rotatórios;

com osteotomia alveolar;

pela combinação das técnicas.

Independente da técnica escolhida, alguns pontos importantes de-


vem ser abordados.
O exame clínico e o radiográfico são fundamentais para uma boa
prática cirúrgica, pois, por eles, será possível fechar o diagnóstico cor-
reto que indique a terapêutica cirúrgica e favoreça o planejamento deta-
lhado do procedimento.
Procedimentos cirúrgicos em odontopediatria - 183

Baseado no planejamento é possível visualizar cada passo cirúr-


gico, favorecendo a montagem do arsenal de instrumentais sem excesso
ou falta durante o ato operatório. Não podem ser esquecidos os procedi-
mentos de biossegurança e antissepsia intra e extra oral.
Uma vez estabelecido esses cuidados parte-se para a sequência
técnica de exodontia do dente decíduo, como segue:

1o Passo – Pré-anestesia – a aplicação do anestésico tópico sobre a


mucosa na região da puntura da agulha deve ser realizada, após
a secagem da região. É importante que o anestésico tópico fique
em contato com a mucosa por um tempo suficiente que cause
a dessensibilização da região. O tempo da pré-anestesia é de 4
minutos dependendo do medicamento utilizado.
2o Passo – Anestesia da região – realizar a técnica anestésica in-
dicada para cada região e dentes que serão submetidos à cirur-
gia (verificar o Capítulo de técnicas anestésicas). É importante
respeitar as possíveis variações da técnica anestésica que são
observadas em crianças e diferenciam do adulto.

Figura 52 – Ilustração da técnica anestésica infiltrativa na região


vestibular do canino decíduo.
Fonte: Os autores
184 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

3º Passo – Sindesmotomia – procedimento realizado com instru-


mental específico (sindesmótomo) com o objetivo de romper as
fibras periodontais e melhorar a exposição da coroa para a apre-
ensão do fórceps. A sindesmotomia é realizada em todas as su-
perfícies do dente e com o instrumento inserido no interior do
sulco gengival deve ser realizado um movimento firme e único.

Figura 53 – Ilustração do procedimento de sindesmotomia para


a cirurgia do elemento dental.
Fonte: Os autores

4º Passo – Luxação e Avulsão – a luxação pode ser realizada com


instrumentos como elevadores e fórceps. Após realizada a lu-
xação, o dente deve ser avulsionado com o uso de um fórceps.
É importante ter o entendimento que, em decorrência da varia-
ção anatômica entre decíduos e permanentes, os instrumentais
para luxação e avulsão do dentes decíduo devem ser específi-
cos e adequados para cada elemento.
Procedimentos cirúrgicos em odontopediatria - 185

Figura 54 – Ilustração da apreensão, luxação e avulsão do dente


decíduo com o uso do fórceps.
Fonte: Os autores

5o Passo – Curetagem do alvéolo – a curetagem do alvéolo não é con-


traindicada na exodontia dos dentes decíduos, mas vale uma obser-
vação importante sobre essa manobra. A curetagem do alvéolo na
dentição decídua somente deverá ser realizada quando existir le-
sões passíveis de remoção, que não estão próximas ou em conta-
to com o germe do dente permanente, caso contrário essa manobra
não deve ser indicada.
6o Passo – Hemostasia – a hemostasia em odontopediatria é reali-
zada apenas por compressão e oclusão de gaze. Não é indicada
a manobra de Chaumpret durante esse procedimento.
7o Passo – Sutura – a sutura deve ser sempre realizada após a
exodontia de dentes decíduos com mais de um terço de raiz re-
manescente. Dentes em fase final de rizólise ou com menos de
um terço de raiz remanescente não necessitam de sutura. É im-
portante salientar que em todo procedimento cirúrgico, a ma-
nobra de sutura deve ser planejada, pois alguma intercorrência
poderá acontecer.
186 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Figura 55 – Ilustração do procedimento de sutura simples, para


coaptar os tecidos após realizada a remoção cirúrgica de dente incluso.
Fonte: Os autores

Uso do fórceps para exodontia dos dentes decíduos


O fórceps é o instrumental apropriado para apreender e avulsionar
o dente decíduo no procedimento de exodontia, mas alguns cuidados de-
vem ser respeitados durante a execução da técnica, principalmente rela-
cionados a anatomia radicular do dente, os movimentos de luxação e a
presença do germe do dente permanente.
Os movimentos devem ser efetuados de forma livre, porém com
suavidade, permitindo a obtenção dos resultados mecânicos esperados,
sem dilaceração dos tecidos moles, fratura óssea ou dentária e sem cau-
sar temores nas crianças.
Em dentes anteriores, pelo posicionamento e proximidade do germe
do permanente com as raizes dos dentes decíduos, existe a necessidade em
realizar após a apreensão, apenas movimentos de rotação e tração, para
avulsionar o dente decíduo. Não é indicado o movimento de intrusão com
o fórceps durante a exodontia, para proteção efetiva do dente permanente.
Nos dentes posteriores, o germe do permanente encontra-se posi-
cionado próximo e/ou entre as raizes, o que dificulta a exodontia do dente
decíduo. A remoção do dente permanente em conjunto com a exodontia
Procedimentos cirúrgicos em odontopediatria - 187

do dente decíduo posterior é um fato relatado na literatura e que apre-


senta ocorrência, assim para se evitar essa intercorrência é importante
um exame radiográfico com qualidade que diagnostique essa possibili-
dade. Para os dentes posteriores o movimento com o fórceps no sentido
vestibulo lingual é o indicado durante a exodontia.
O uso do fórceps é contraindicado quando não houver porção co-
ronária suficiente para receber e transmitir o efeito mecânico do instru-
mento e também quando o germe do dente permanente sucessor puder
ser deslocado quando do movimento das raízes do decíduo.

Figura 56 – Ilustração dos movimentos com o fórceps em dentes


anteriores em movimento de rotação e tração.
Fonte: Os autores

Uso do elevador para exodontia do dente decíduo


Os elevadores são instrumentais cirúrgicos muito utilizados para
a exodontia de dentes. Quando bem indicados, facilitam a luxação e a
remoção de raizes residuais dos dentes decíduos. As alavancas retas de-
vem ser posicionadas com a ponta ativa em sentido do longo eixo radi-
cular no ligamento periodontal e com um movimento de rotação de ¼ a
188 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

½ volta. Além do deslocamento, a alavanca gera um efeito de cunha en-


tre o dente e o periodonto, que facilita a extrusão da raiz.

• Luxação de dentes para posterior utilização do fórceps;


• Expansão do osso alveolar facilitando a exodontia;
• Remoção de raízes fraturadas ou seccionadas cirurgicamente;
• Remover dentes anteriores com reabsorção radicular extensa.
Quadro 40 – Indicações para o uso de extratores em odontopediatria.
Fonte: Os autores

Manobra de Odontosecção
O seccionamento das raízes dos dentes decíduos é uma manobra
que se bem realizada auxilia o profissional em exodontias de maior com-
plexidade. A odontossecção tem como objetivos:

• Reduzir a resistência à avulsão dentária.


• Evitar fraturas radiculares durante a exodontia.
• Eliminar a impactação de dentes retidos.
• Evitar a remoção do sucessor permanente posicionado entre as
raízes do decíduo.

O seccionamento deve ser feito com instrumento rotatório, no sen-


tido vestibulolingual (inferiores) e nos sentidos mésio distal e vestibu-
lolingual (superiores) e em seguida deve-se remover, cuidadosamente,
cada raiz separadamente.
Procedimentos cirúrgicos em odontopediatria - 189

• fraturas coronárias;
• fraturas radiculares;
• sangramento abundante;
• traumatismo e/ou avulsão do germe do dente permanente.

Quadro 41 – Acidentes e complicações comuns na exodontia.


Fonte: Os autores

• Cirurgia de tecido mole


– frenectomia labial e lingual;
– plástica e correção gengival;
– ulectomia;
– papilomatoses;
– mucocele.
• Cirurgias complexas
– inclusos como: dentes dilacerados, odontomas;
• complexo e composto e supranumerários;
– cistos dentígeros (Descompressão);
– tracionamento dentário;
– transplante de 3º em 1º.
Quadro 42 – Possibilidades cirúrgicas na clínica de odontopediatria.
Fonte: Os autores
190 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Caso Clínico 1 – Remoção cirúrgica de odontoma composto

A B

C D

E F
Figura 57 – Ilustração mostrando a remoção cirúrgica de odontoma composto localizado
na região anterior superior. A – Aspecto clínico intrabucal, pode-se verificar o abaulamento
na região do incisivo central direito. B– Aspecto radiográfico mostra com detalhes o
posicionamento e as várias estruturas semelhantes ao dente. C – Após a anestesia foi
realizada a incisão. D – Descolamento do tecido e luxação para a exérese dos dentículos.
E – Odontoma removido. F – Sutura do retalho em posição.
Fonte: Os autores
Procedimentos cirúrgicos em odontopediatria - 191

Caso Clínico 2 – Remoção cirúrgica do freio labial superior

A B

C D

E F
Figura 58 – Ilustração da sequência cirúrgica para remoção do freio teto labial superior.
A – Caso clínico inicial, mostrando a presença de um freio labial superior volumoso.
B – Após a anestesia bilateral da região, faz-se duas incisões uma de cada lado na base
do freio, com bisturi angulado a 45o. C – Freio liberado do tecido ósseo. D – Divulsão
da mucosa e musculatura com tesoura. E – Sutura da ferida cirúrgica. F – Aspecto
clínico no pós-operatório de 7 dias.
Fonte: Os autores
192 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Caso Clínico 3 – Ulectomia

A B

C D

Figura 59 – Ilustração da sequência de ulectomia/ulotomia. A – Caso clínico inicial,


mostrando a presença de tecido gengival fibroso. B – Após a anestesia da região, é
realizada a incisão. C – Exposição cirúrgica da borda incisal do elemento 11. D – Aspecto
clínico no pós-operatório de 7 dias.
Fonte: Os autores

Recomendaçãos pós-operatória
O pós-operatório em odontopediatria, geralmente é feito com reco-
mendações básicas por no mínimo três dias sobre: – restrição alimentar
que dever envolver orientações limitando a ingestão de alimento quente
e de consistência endurecida; – limitação do esforço físico; – uso corre-
to de uma terapia medicamentosa quando indicada. Os medicamentos
analgésicos prescritos de forma adequada são capazes de controlar a dor
mais intensa no primeiro dia de pós-operatório.
Procedimentos cirúrgicos em odontopediatria - 193

Usar a oclusão de gaze sob pressão parece ser efetiva para a he-
mostasia da região.
Os pais ou responsáveis devem ser orientados quanto ao tipo de
alimento, de preferência líquidos e frios, administrado nas primeiras 24
horas. Assim como comunicar qualquer ocorrência pós-operatória que
julgarem vinculados ao procedimento cirúrgico.

____________________
Referências
CAMERON, Angus C; WIDMER, Richard P. Manual de odontopediatria. 3.
ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
DUARTE, Danilo Antonio. Lesões traumáticas em dentes decíduos: tratamen-
to e controle. São Paulo: Santos, 2001. (Caderno de Odontopediatria).
FERJESKOV, O; KIDD, E. Cárie Dentária: a doença e seu tratamento clíni-
co. 2. ed. São Paulo: Santos, 2013.
GUEDES-PINTO, Antônio Carlos. Odontopediatria. 8. ed. São Paulo: Santos,
2010.
HUBERTUS, J. W. Odontopediatria: atlas colorido de odontologia. São Paulo:
Artmed, 2002.
SANT’ANNA, G. R. Cariologia: diagnóstico, controle e tratamento. São Paulo:
Santos, 2001. (Caderno de Odontopediatria).
WELBURY, R. R; DUGGAL, M. S.; HOSEY, M. T. Odontopediatria. 3. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.
Remoção química e mecânica da cárie - 194

Capítulo 14 VOLTAR AO
Remoção química e mecânica da cárie SUMÁRIO

Sandra Kalil Bussadori


Lara Jansiski Motta
Marcelo Mendes Pinto

A remoção química e mecânica da cárie é uma técnica minimamente


invasiva para remoção do tecido cariado, na qual se utilizam instrumentos
não cortantes associados a agentes que amolecem quimicamente a denti-
na cariada, facilitando sua remoção e assegurando ao paciente um maior
conforto quando comparado ao método convencional (uso de alta rotação).
Como não há estímulos cortantes, não há a necessidade do uso de anestesia.
A remoção química e mecânica da cárie foi introduzida em 1972,
quando surgiu um produto denominado GK101, o primeiro sistema para
remoção química e mecânica da cárie. O GK101 promovia uma remoção
do tecido cariado lentamente, de modo que para melhorar a velocida-
de da reação foi desenvolvido o GK101E ou Caridex, como o mesmo
foi denominado em 1984 pela FDA. O Caridex era composto por áci-
do aminobutírico-N-monocloro-DL-2 (NMAB) e, além de não remover
efetivamente o tecido cariado, apresentava outros inconvenientes, como
a necessidade de aquecimento, grande quantidade de solução para a re-
moção da cárie, aparatologia complexa e alto custo.
Com o intuito de globalizar a utilização dos sistemas de remoção
química e mecânica do tecido cariado, promovendo o emprego desta
técnica principalmente no âmbito de saúde pública em 2000, Bussadori
e Miziara desenvolveram um gel à base de papaína, cloramina e azul de
toluidina para remoção química e mecânica da cárie.
Esse gel não tem contraindicações e pode ser utilizado tanto em
dentes decíduos como permanentes, é indicado para qualquer tipo de le-
são de cárie, principalmente em pacientes com necessidades especiais,
crianças, adolescentes e adultos fóbicos. Tem como principais vantagens
o fato de ser uma técnica atraumática, efetiva, com baixo custo, fácil apli-
195 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

cabilidade e que não necessita aparatos tecnológicos para ser realizada


(Bussadori et al. 2006; Abdelnur et al.2008). A literatura (Banerjee et
al.,2000; Ammari & Moliterno, 2005) afirma, que como não há estímulos
cortantes, não há necessidade do uso de anestesia. É biocompatível com
os tecidos bucais e não é tóxico in vitro e in vivo (Araújo et al., 2008).
Ao ser comparado com o método convencional, a remoção química
e mecânica do tecido cariado é significantemente menos dolorosa, reduz
o risco de exposição pulpar e não causa danos aos tecidos sadios sendo,
portanto, um excelente aliado para remoção da cárie (BUSSADORI et
al. 2005; SILVA et al. 2005).
Para a remoção de tecido cariado, até os dias de hoje, as brocas de
aço acopladas à caneta de baixa rotação são os instrumentos mais utili-
zados (BENERJEE et al. 2000). Esta técnica proporciona remoção do
tecido cariado com maior velocidade, mas por não ser seletivo, resulta
na remoção de estruturas sadias (BANERJEE et al. 2000).
O sistema de tratamento da doença cárie que utiliza um agente quí-
mico, para remoção de dentina cariada seguida de restauração da estrutura
dental com cimento de ionômero de vidro e somada à educação e controle
preventivo, preenche os requisitos para um programa efetivo de promoção
de saúde, que são a preservação de estrutura sadia; o não cansaço manual
do operador; a ausência de dor ou desconforto; a ausência de injúria pul-
par, o não uso de anestesia e eletricidade, o baixo custo e de ser uma téc-
nica de simples execução (CARNEIRO et al. 2004; SILVA et al. 2004).
O gel Papacárie® foi avaliado em ensaio clínico randomizado e
controlado por um período de 12 meses. Neste estudo 20 dentes decíduos
cariados que foram tratados com o gel e 20 dentes decíduos tratados com
instrumento rotatório para comparação entre os dois tratamentos. Após a
avaliação clínica e radiográfica, foi possível observar que o gel demons-
trou vantagens em relação à preservação do tecido dentinário sadio e ao
conforto do paciente, evitando-se o uso da anestesia (MOTTA et al. 2014).
Uma série de casos clínicos com acompanhamento de 12 meses
com 84 dentes decíduos tratados com o gel Papacárie demonstrou que
esta técnica apresentou 98,8% de sucesso (BUSSADORI et al. 2014).
Remoção química e mecânica da cárie - 196

O uso clínico do gel também apresenta vantagens quanto à necessidade


de anestesia durante a remoção da cárie. Matsumoto et al. (2013) realizaram
um estudo no serviço público com 20 crianças entre 5 e 8 e nos casos estuda-
dos não foi observada a necessidade de anestesia local quando utilizado o gel
para remoção da cárie. O uso do gel no serviço público pode colaborar com
o maior acesso ao tratamento das lesões de cárie por se tratar de uma técni-
ca que requer pouco investimento e apresentar grande facilidade operacional.
A técnica restauradora está escrita no Quadro 43. As figuras 60 a
64 ilustram o passo a passo do tratamento com o gel Papacárie®.

Procedimento
Periapical e/ou interproximal Radiografia Inicial
Com pedra–pomes e água ou com pasta profilática Profilaxia
Relativo (afastador de lábios, rolete de algodão e Isolamento
sugador de saliva)
Colocar o gel em pote Dappen e aplicar na Aplicação do gel na
cavidade por meio da própria cureta cavidade
30 a 40 segundos para lesões de cárie ativa Tempo para ação
40 a 60 segundos para lesões de cárie inativa do gel
Realizada por movimentos pendulares de Raspagem da
raspagem, com curetas sem corte dentina cariada
Sempre que houver necessidade, até remoção do Reaplicação do gel
tecido cariado (presença de “lascas” de dentina)
Inspeção visual da dentina remanescente e com Avaliação clínica
instrumental sem corte
Por meio de jatos de água ou bolinha de algodão Lavagem da
com água. Pode-se limpar a cavidade com bolinha cavidade
de algodão e digluconato de clorexidina 1 ou 2%.
Pode ser feita com qualquer material restaurador, Restauração
seguindo-se as normas do fabricante.
Acompanhamento clínico e radiográfico do dente/ Preservação
restauração
Quadro 43 – Protocolo de utilização do gel Papacárie®.
Fonte: Os autores
197 - Manual de Protocolos Clínicos Empregados em Odontopediatria

Figura 60 – Aspecto clínico da lesão Figura 61 – Aplicação do gel para a


de cárie remoção química da cárie na cavidade

Figura 62 – Remoção do tecido cariado por Figura 63 – Aspecto da cavidade após a


meio de raspagem com cureta sem corte remoção do tecido cariado

Figura 64 – Restauração com


cimento de ionômero de vidro
Fonte das imagens: Os autores
Remoção química e mecânica da cárie - 198

Referências
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HIV-infected children. J Dent Child (Chic). v. 75, n. 1, p. 69-73, Jan./Apr. 2008.
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BUSSADORI, S. K.; SILVA, L. R; GUEDES, C. C. Utilização do Papacárie
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(TM): Case Series with 84 Reports and 12 Months of Follow-up. J Contemp
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MATSUMOTO, S. F. B. et al. Assessment of chemomechanical removal
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<http://ref.scielo.org/wh3ybb>.
Os Autores - 200

Os Autores VOLTAR AO
SUMÁRIO
Sandra Kalil Bussadori
Pós-Doutora em Pediatria pela UNIFESP/EPM, Mestre em materiais
dentários e doutora em Odontopediatria pela FOUSP, Especialista
em Odontopediatria, Professora dos Programas de Pós-Gaduação em
Ciências da Reabilitação e Biofotônica Aplicada às Ciências da Saúde
e do Curso de Odontologia da UNINOVE.

Lara Jansiski Motta


Doutora em Saúde Coletiva pela UNIFESP/EPM, Mestre em Ciências
da Reabilitação pela UNINOVE, Especialista em Odontopediatria,
Professora do Programa de Mestrado Profissional em Gestão de
Sistemas de Saúde e do Curso de Odontologia da UNINOVE.

Marcelo Mendes Pinto


Mestre e Doutor em Materiais Dentários pela FOUSP, Especialista em
Odontopediatria, Professor do Curso de Odontologia da UNINOVE.

Camila Haddad Leal de Godoy


Especialista em Odontopediatria, Mestre e Doutora em Ciências da
Reabilitação – Uninove, Professora do Curso de Odontologia da
UNINOVE.

Carolina Carvalho Bortoletto


Especialista em Odontopediatria, Mestre e Doutora em Ciências da
Reabilitação – Uninove, Professora do Curso de Odontologia da
UNINOVE.
201 - Os Autores

Eugênio Garcia
Especialista e Mestre em Dentística Restauradora, UEPG. Doutor e
Pós-Doutor em Materiais Dentários, FOUSP. Pós-Doutor em Ciências
da REABILITAÇÃO, UNINOVE. Professor do Curso de Odontologia
da UNINOVE.

Katia Lumi Tanikawa-Vergilio


Mestre em Ciências – Microbiologia oral ICB -USP. Especialista em
Odontopediatria SOESP. Professora das disciplinas de Microbiologia,
Cariologia, Clínica Odontológica Infantil e Saúde Bucal Coletiva do
curso de Graduação de Odontologia da UNINOVE.

Olga Maria Altavista


Doutora em Diagnóstico Bucal – Radiologia [USP]. Mestre em
Odontopediatira [USP]. Especialista em Clínica Odontológica Infantil
[CFO]. Professora da Universidade Nove de Julho; clinica infantil, cli-
nica integrada e saúde básica comunitária em odontologia.

Ravana Angelini Sfalcin


Mestre e Doutora em Materiais Dentários pela UNICAMP.
Especialista em Odontopediatria pela APCD CENTRAL. Pós-
Doutoranda em Biofotônica Aplicada às Ciências da Saúde
(UNINOVE). Professora do Curso de Odontologia da UNINOVE.

Silvia Regina Garcia Olivan


Especialista em Odontopediatria, UNISA. Especialista em Ortodontia
e Ortopedia Funcional dos Maxilares, UNICID. Mestre em
Biofotônica Aplicada às Ciências da Saúde, UNINOVE.

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