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GRADUAÇÃO

Unicesumar

ELETROTÉCNICA E
ELETRÔNICA

Professor Me. Fábio Augusto Gentilin

Acesse o seu livro também disponível na versão digital.


Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
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Pró-Reitor de Ensino de EAD
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Presidente da Mantenedora
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NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Diretoria Executiva
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Produção
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Crislaine Rodrigues Galan
Projeto Gráfico
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José Jhonny Coelho
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Arte Capa
Distância; GENTILIN, Fábio Augusto. Arthur Cantareli Silva

Eletrotécnica e Eletrônica. Fábio Augusto Gentilin. Ilustração Capa
Maringá-Pr.: Unicesumar, 2019. Reimpressão 2020. Bruno Pardinho
290 p. Editoração
“Graduação - EaD”. Robson Yuiti Saito

1. Eletrotécnica. 2. Eletrônica. 3. EaD. I. Título. Qualidade Textual
Ariane Andrade Fabreti
ISBN 978-85-459-1782-3 Ilustração
CDD - 22 ed. 607.12 Marta Sayuri Kakitani
CIP - NBR 12899 - AACR/2

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário


João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade,
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil:
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba,
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades
de todos. Para continuar relevante, a instituição
de educação precisa ter pelo menos três virtudes:
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal
ou profissional, nos transformamos e, consequente-
mente, transformamos também a sociedade na qual
estamos inseridos. De que forma o fazemos? Crian-
do oportunidades e/ou estabelecendo mudanças
capazes de alcançar um nível de desenvolvimento
compatível com os desafios que surgem no mundo
contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógi-
ca e encontram-se integrados à proposta pedagógica,
contribuindo no processo educacional, complemen-
tando sua formação profissional, desenvolvendo com-
petências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos
em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no
mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm
como principal objetivo “provocar uma aproximação
entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o
desenvolvimento da autonomia em busca dos conhe-
cimentos necessários para a sua formação pessoal e
profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fó-
runs e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma
equipe de professores e tutores que se encontra dis-
ponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
acadêmica.
AUTOR

Professor Me. Fábio Augusto Gentilin


Fábio Augusto Gentilin é Mestre em Engenharia Elétrica (MEEL - UEL, 2012),
Especialista em Automação de Processos Industriais (Cesumar, 2008),
Engenheiro de Controle e Automação (UniCesumar, 2015), Tecnólogo em
Automação Industrial (Cesumar, 2006) e Técnico em Eletrônica (Colégio
Graham Bell, 1999). É coordenador dos cursos de Engenharia Elétrica,
Engenharia de Controle e Automação - Mecatrônica e Engenharia Mecânica
da UniCesumar - Centro Universitário de Maringá EAD.

Coordena os cursos de especialização em Engenharia Mecatrônica e


especialização em Sistemas Elétricos de Potência. Foi professor dos cursos
de graduação em Engenharia Elétrica, Engenharia de controle e automação
e Tecnologia em Automação Industrial, além de ministrar aulas também em
cursos de especialização e extensão nas áreas de Eletrônica Embarcada e
Informática Industrial.

Atuou na indústria eletrônica no segmento de energia em telecomunicações


na divisão de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) de 2001 a 2009 e atua
como docente do ensino superior desde 2007, além de ter ministrado aulas
também em cursos técnicos.

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8899424045058024


APRESENTAÇÃO

ELETROTÉCNICA E ELETRÔNICA

SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) acadêmico(a), este livro de Eletrotécnica e Eletrônica foi desenvolvido para aten-
der ao estudante de Engenharia de Produção, atendendo aos pré-requisitos de forma-
ção e vocação do curso.
O enfoque deste livro levou em consideração o perfil de Engenharia de Produção que
utiliza os recursos tecnológicos para orientar suas metas e decisões estratégicas, explo-
rando ao máximo detalhes que vão estimular o estudante a imersão no mundo da tec-
nologia Eletrotécnica e dos recursos oferecidos pela Eletrônica, cada vez mais presente
nos processos produtivos.
O livro é dividido em 5 unidades, onde os assuntos têm início na Eletrotécnica, passando
por assuntos intermediários como Instalações elétricas, Acionamentos Elétricos e a Ele-
trônica em suas formas analógica e digital, para finalmente demonstrar suas aplicações
em Eletrônica aplicada, que se dá na última unidade.
Na unidade I, o estudante terá contato com a Introdução à Eletrotécnica e os Conceitos
básicos de eletricidade, além de conhecer os Materiais isolantes, condutores e semicon-
dutores e os efeitos da corrente elétrica, produzindo as Grandezas elétricas fundamen-
tais.
Já na unidade II, os estudos apontam para as Instalações elétricas, suas Normas regula-
mentadoras e as definições de Sistemas Elétricos de Potência (SEP), com relação a Ge-
ração, Transmissão e distribuição de energia elétrica, além de permear o ambiente de
Noções de Luminotécnica.
Ao estudar a unidade III deste livro, o aluno de Engenharia de Produção deve aprender
os conceitos de máquinas elétricas e seus principais tipos, além de ter contato com uma
introdução aos acionamentos elétricos. Este tema remete a uma importante denomina-
ção, atualmente, utilizada com frequência e abordada nessa unidade: a eficiência ener-
gética.
Com os conhecimentos da unidade IV, o aluno terá noções de Eletrônica, em termos de
Componentes eletrônicos, seus circuitos, Eletrônica Digital, sinais digitais, assim como
os Circuitos digitais combinacionais e sequenciais, além da Eletrônica Analógica, os si-
nais analógicos e seus respectivos circuitos.
Por fim, na unidade V o estudante terá contato com as aplicações da Eletrônica e sua
sinergia, mesclando a Eletrônica Analógica com a Digital e demonstrando aplicações
de Eletrônica de Potência, instrumentação, controle, comunicação e instrumentação in-
dustrial.
Este livro foi escrito com base em tecnologias, atuais apontando para situações onde
o Engenheiro de Produção possa contribuir com o aumento da produtividade de um
processo, utilizando o melhor dos recursos tecnológicos de eletrônica e eletrotécnica.
Bons Estudos!
09
SUMÁRIO

UNIDADE I

ELETROTÉCNICA

15 Introdução

16 Introdução à Eletrotécnica

17 Materiais Isolantes, Condutores e Semicondutores

31 Grandezas Elétricas Fundamentais

61 Considerações Finais

66 Referências

67 Gabarito

UNIDADE II

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS

73 Introdução

74 Instalações Elétricas

88 Sistemas Elétricos de Potência (SEP)

93 Noções de Luminotécnica

103 Considerações Finais

109 Referências

110 Gabarito
10
SUMÁRIO

UNIDADE III

MÁQUINAS ELÉTRICAS E ACIONAMENTOS

115 Introdução

116 Tipos de Máquinas Elétricas 

130 Introdução aos Acionamentos Elétricos

143 Eficiência Energética

150 Considerações Finais

156 Referências

157 Gabarito

UNIDADE IV

ELETRÔNICA

161 Introdução

162 Introdução à Eletrônica

204 Eletrônica Digital

210 Eletrônica Analógica

222 Considerações Finais

229 Referências

231 Gabarito
11
SUMÁRIO

UNIDADE V

ELETRÔNICA APLICADA

235 Introdução

236 Eletrônica Aplicada

247 Eletrônica de Potência

254 Instrumentação Industrial

278 Considerações Finais

287 Referências

288 Gabarito

289 CONCLUSÃO
Professor Me. Fábio Augusto Gentilin

I
UNIDADE
ELETROTÉCNICA

Objetivos de Aprendizagem
■ Apresentar os conceitos relacionados à Eletrotécnica e as
características elétricas dos materiais, alinhado com as principais
grandezas elétricas.
■ Conhecer a natureza dos principais tipos de materiais utilizados na
fabricação dos elementos de eletricidade e eletrônica.
■ Entender as principais grandezas elétricas, os fundamentos de
corrente, tensão, resistência e potência e calcular parâmetros de
consumo de energia elétrica.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

■ Introdução à Eletrotécnica

■ Materiais isolantes, condutores e semicondutores

■ Grandezas elétricas fundamentais


15

INTRODUÇÃO

A Eletrotécnica está presente em todas as áreas onde há o consumo de energia


elétrica e se refere aos processos envolvidos desde a geração desta grandeza até
a entrega e o uso nas instalações do consumidor final.
Os profissionais atuantes na área de Eletrotécnica precisam ter qualificação
técnica e extremo alinhamento com normas técnicas e de segurança para atuar
nos diferentes ambientes onde a eletricidade está presente e representando um
perigo invisível.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Quando nos referimos à eletricidade, é bastante comum nos lembrarmos


de fios e cabos, postes, torres de transmissão e todos aqueles equipamentos que
conduzem a eletricidade até os nossos lares e também para as indústrias e demais
empresas, além de alimentar a iluminação das cidades e vias. É comum também
relacionarmos ao fator consumo, que se refere ao quanto teremos de pagar pelo
uso da eletricidade.
A relação entre o uso da eletricidade e o investimento realizado na sua
manutenção está diretamente relacionada à área de atuação da Eletrotécnica,
que será abordada nesta unidade de acordo com a área de atuação do profissio-
nal Engenheiro de Produção.
Também serão abordados temas relacionados às características elétricas dos
dispositivos para fazer menções às análises necessárias ao entendimento dos
conceitos fundamentais, além de abordar a área de geração, transmissão e dis-
tribuição de energia elétrica, que são os pilares da Eletrotécnica e dos sistemas
elétricos de potência (SEP).
Para finalizar esta unidade, será abordado também o tema Luminotécnica,
que se refere à esfera da iluminação e das suas características sob o ponto de
vista operacional e mantenedor, uma vez que o custo relacionado à demanda de
energia para a iluminação é de importante relevância.

Introdução
16 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
INTRODUÇÃO À ELETROTÉCNICA

Nesta unidade, estudaremos um pouco a respeito da Eletrotécnica e de suas principais


características sob a ótica de um Engenheiro de Produção, uma vez que, sob o ponto
de vista do gestor do fluxo de materiais, a contratação de demanda de energia elé-
trica representa um custo significativo e que deve ser utilizado com responsabilidade.
Primeiramente, vamos incluir você, estudante, no universo da Eletrotécnica,
conceituando alguns pontos estruturais elementares que se fazem necessários
para o entendimento do estudo até o final da unidade.

CONCEITOS BÁSICOS DE ELETRICIDADE

Quando nos referimos à eletricidade, nos deparamos com várias definições que
se referem ao movimento de elétrons em materiais condutores ou à presença
de características elétricas de um material em específico. Nesta unidade, abor-
daremos a eletricidade no âmbito prático, pressupondo o campo de atuação do
engenheiro de produção, mas sem deixar de lado os conceitos fundamentais.

ELETROTÉCNICA
17

Ao observarmos a natureza, notamos que nos dias mais secos (com baixa
umidade relativa do ar) é comum presenciarmos pessoas levando choques elétri-
cos ao descer de seus carros ou ao tocar a maçaneta de uma porta. É interessante
também notar a atração ou a repulsão que um copo plástico descartável sofre
quando aproximamos as mãos dele depois de uma longa caminhada. Estes e
muitos outros efeitos naturais estão relacionados à eletricidade e fazem parte
do nosso dia a dia (COTRIM, 2003).
Basicamente, a Eletrostática e a Eletrodinâmica explicam claramente cada
um dos fenômenos citados, o que não é o objetivo deste livro, mas que precisam
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ser citados para o entendimento dos conceitos futuros.

MATERIAIS ISOLANTES, CONDUTORES E


SEMICONDUTORES

A maioria (senão todos) os materiais na natureza manifestam características elé-


tricas de acordo com a natureza de sua composição.
Sabemos que cada material é composto de moléculas e que cada molécula, por
sua vez, é formada pela ligação entre áto-
mos com as suas próprias características
eletrônicas, por exemplo, o número de
elétrons na sua camada de valência (órbita
ou camada mais distante do núcleo).
Esta característica define a capacidade
de condução de corrente elétrica que um
determinado material possui. A Figura
1 apresenta uma representação genérica
de um átomo de Berílio (Be). Veja que
a última órbita mais distante do centro
(núcleo do átomo) é a camada de valência Figura 1 - Átomo de Berílio (Be). Apenas um
elétron da camada de valência: condutor.
(LOURENÇO; CRUZ; JÚNIOR,1996).

Materiais Isolantes, Condutores e Semicondutores


18 UNIDADE I

Antes de entrarmos no assunto dos materiais, façamos uma analogia que


nos permita entender melhor a função de cada estrutura. Por exemplo, quando
falamos de corrente elétrica, nos referimos ao movimento dos elétrons livres em
um condutor, “pulando” de átomo em átomo vizinho, de modo a configurar um
movimento orientado pela polaridade do gerador ou fonte.
Imagine se o condutor elétrico fosse um tubo, e dentro desse tubo introdu-
zíssemos bolas de gude de modo a preencher todo o seu volume interno. Este
seria nosso condutor elétrico em repouso.
Se em uma das extremidades desse tubo, conseguíssemos inserir uma bola

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de gude a mais, o resultado seria que, neste momento, a bola de gude da outra
extremidade seria empurrada pelas demais e sairia do tubo, pois cada uma
das bolas intermediárias empurram umas às outras, de modo a promover esta
transferência de energia mecânica. Caso pudéssemos introduzir bolas de gude
ininterruptamente na entrada do tubo, teríamos, da mesma maneira, bolas na
mesma proporção saindo do outro lado do tubo, conforme mostrado na Figura 2.
Tubo com bolas de gude em repouso

Tubo com bolas de gude em movimento


Força de Movimento
entrada resultante

Uma bola empurra a outra


Figura 2 - Corrente elétrica: analogia com um tubo e bolas de gude
Fonte: o autor.

Isto seria uma movimentação de bolas de gude dentro de um tubo e, portanto,


uma “corrente de bolas de gude”. Na eletricidade, as bolas de gude podem ser
relacionadas com os elétrons e, nesta analogia simples, o condutor seria o tubo, e
a força que insere as bolas de um lado do tubo seria como a diferença de poten-
cial entre os polos da pilha.
Na Figura 3, observamos um circuito elétrico composto de uma fonte de ener-
gia elétrica (pilha), condutores de cobre, um interruptor e uma lâmpada. A pilha é
o agente propulsor da corrente elétrica, esta que só pode ocorrer se um caminho
fechado existir. Este caminho fechado é o que denominamos de “circuito elétrico”.

ELETROTÉCNICA
19

Chave

Pilha

Lâmpada
Fio
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 3 - Circuito elétrico simples.

Quando a pilha está carregada, afirmamos que há uma diferença de potencial


elétrico entre os polos positivo e negativo da pilha. Isto significa que há mais
elétrons em um extremo da pilha (polo negativo) do que no outro (polo posi-
tivo), então há uma constante insistência desses elétrons presentes no polo
negativo em se recombinar com o polo positivo, pois na natureza há uma cons-
tante necessidade de equilíbrio, que atua no sentido de manter para cada carga
positiva, uma negativa.
Quando há um caminho para que esses elétrons possam sair do polo negativo
e chegar até o polo positivo, então há um circuito fechado, ou circuito elétrico,
assim como em uma corrida de carros, os quais percorrem uma pista fechada.
Da mesma forma, os elétrons se locomovem no condutor de cobre.
Uma vez estabelecido o circuito, os elétrons iniciam um movimento por
meio desse caminho impulsionados pela diferença de potencial da pilha, força
esta que é tão intensa quanto maior for a diferença de concentração de elétrons
entre o polo positivo e o polo negativo.
A Figura 4, a seguir, mostra uma representação de um condutor elétrico
sendo percorrido pela corrente elétrica. Note que os elétrons “livres” são aqueles
que se deslocam de átomo a átomo no condutor. Para que esses elétrons pos-
sam ser livres, ou seja, para que possam se “libertar” de seus átomos originais
e “saltar” para o próximo átomo, é necessário que seja introduzida energia que,
neste caso, se dá por conta da diferença de potencial entre os polos positivo e
negativo da pilha.

Materiais Isolantes, Condutores e Semicondutores


20 UNIDADE I

Átomos dos
elementos
metálicos

Elétrons
livres

Nêutrons
Prótons

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 4 - Fluxo de corrente elétrica em um condutor metálico.

Perceba que, quando todas as cargas positivas do polo positivo receberem uma
carga negativa, podemos dizer que o sistema está em equilíbrio e, neste caso, a
pilha está descarregada.
Para facilitar o entendimento do estudo da corrente elétrica, imagine que o
átomo, provido basicamente de elétrons, prótons e nêutrons, possui elétrons mais
fortemente unidos ao núcleo. Esses elétrons apresentam maior dificuldade em
se libertar do núcleo do átomo e, por sua vez, ocupam órbitas mais próximas do
núcleo, já os elétrons mais distantes do núcleo estão fracamente ligados ao núcleo,
assim, se aplicarmos energia nesse átomo, por exemplo, energia potencial elétrica,
esses elétrons posicionados na camada de valência podem ser estimulados a se des-
prender da órbita de seu átomo original e migrar para a órbita do átomo vizinho
(como as esferas do tubo que assumem a posição das outras, quando empurradas).
No momento em que os elétrons de um átomo entram em movimento de
átomo em átomo, temos o que conhecemos como corrente de elétrons, ou “cor-
rente elétrica”. É importante salientar que um átomo com um elétron em sua
camada de valência apresenta maior facilidade em fornecê-lo para o processo
descrito do que um átomo que tem mais de um elétron em sua última órbita.
A facilidade com que os elétrons se movimentam em um dado condu-
tor depende das características de cada material que o compõe. Este é um dos
aspectos que classifica um material como condutor, semicondutor ou isolante.

ELETROTÉCNICA
21

MATERIAIS CONDUTORES
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Normalmente, consideramos um material como condutor quando ele apresenta,


em sua camada de valência, um elétron (por exemplo, o cobre). A Figura 5 mos-
tra a configuração de um átomo de cobre, onde fica visível o único elétron em
sua camada de valência.
Embora haja cobre em abun- Cobre
dância na natureza, este material,
quando processado na forma de
condutores elétricos, é de valor ele-
vado e, muitas vezes, é misturado
a outros tipos de materiais para
conferir a resistência mecânica
necessária, assim, dificilmente,
encontraremos condutores comer-
ciais compostos de cobre puro.
Outros materiais que possuem Massa atômica: 63.546
Configuração eletrônica: 2, 8, 18, 1
a mesma característica do cobre
Figura 5 - Átomo de Cobre (Cu): um elétron
em conduzir corrente elétrica são, na camada de valência.

Materiais Isolantes, Condutores e Semicondutores


22 UNIDADE I

por exemplo, o ouro e a prata, porém, estes materiais são de valor extremamente
elevado, o que não justificaria o uso em condutores elétricos de uso comum,
sendo ambos utilizados na fabricação de componentes eletrônicos específicos e
em aplicações, onde outras características exigem que os materiais em questão
sejam utilizados. A Figura 6 mostra a configuração eletrônica do ouro e da prata.
Ouro Prata

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Massa atômica: 196.96 Massa atômica: 107.86
Configuração eletrônica: 2, 8, 18, 32, 18, 1 Configuração eletrônica: 2, 8, 18, 18, 1

Figura 6 - Configuração eletrônica do ouro e da prata: (a) ouro e (b) prata. Um elétron na camada de valência.

MATERIAIS SEMICONDUTORES

ELETROTÉCNICA
23

Materiais classificados como semicondutores simples apresentam, em sua com-


posição, átomos de um mesmo material com quatro elétrons em sua camada de
valência (tetravalentes), como é o caso do silício (Si) e do germânio (Ge).
Silício Germânio
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Massa atômica: 28.085 Massa atômica: 72.63


Configuração eletrônica: 2, 8, 4 Configuração eletrônica: 2, 8, 18, 4
Figura 7 - Átomos de semicondutores: (a) silício e (b) germânio. Quatro elétrons na camada de valência.

O Silício é encontrado em abundância na crosta terrestre e o seu processamento


produz inúmeras aplicações como matéria-prima para a fabricação de diversas
áreas, desde pequenos componentes eletrônicos até painéis fotovoltaicos, utili-
zados para a conversão de energia solar em energia elétrica.
Quando um material é composto puramente de átomos de Silício (por exem-
plo), temos a representação dada na Figura 8. Note que para cada elétron de
um átomo, há outro correspondente no átomo adjacente, assim, não há predo-
minância negativa ou positiva, pois, neste caso, temos uma pastilha composta
puramente por um único tipo de átomo.

Materiais Isolantes, Condutores e Semicondutores


24 UNIDADE I

e
Átomo de
Silício e Si e

e e e e

e Si e e Si e e Si e e Si e

e e e e
e e e e

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e Si e e Si e e Si e e Si e

e e e e
e e e e

e Si e e Si e e Si e e Si e

e e e e
e e e e

e Si e e Si e e Si e e Si e

e e e e
Figura 8 - Ligação covalente de átomos de semicondutor (Si)
Fonte: o autor.

FORMAÇÃO DE SEMICONDUTORES TIPO P E TIPO N

Há derivações dos semicondutores que são necessárias para a fabricação de com-


ponentes eletrônicos que, por sua vez, dependem da mistura de átomos de outros
materiais com mais ou com menos elétrons em suas camadas de valência, junto
de uma estrutura-base constituída de átomos semicondutores. Este processo é
denominado dopagem e tem como objetivo atribuir ao material características
elétricas predominantemente positivas (P) ou negativas (N).
Na fabricação de componentes eletrônicos como diodos, transistores e

ELETROTÉCNICA
25

circuitos integrados, é necessário produzir semicondutores do tipo P e do tipo


N (Figura 9). Nos materiais do tipo P há maior concentração de portadores posi-
tivos denominados de “lacunas”, e nos materiais semicondutores do tipo N há a
predominância de portadores de cargas negativas, que são os elétrons.
O processo de dopagem do semicondutor silício, para se obter um material
do tipo P, consiste em adicionar pequenas quantidades de átomos trivalentes, ou
seja, com três elétrons em sua camada de valência, como é caso do alumínio, do
gálio, do índio e do boro. Neste caso, a pastilha de material do tipo P terá muitos
átomos tetravalentes de silício e alguns átomos trivalentes de boro, por exemplo,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

e com isto, haverá sempre a falta de um elétron (o átomo de boro tem apenas
três em sua camada de valência) para se recombinar com o elétron do átomo de
silício e, com isto, há o surgimento de uma estrutura denominada de “lacuna”.
As lacunas são classificadas como os portadores positivos do semicondu-
tor. Quando há predominância de
lacunas em uma porção de material
semicondutor, afirmamos que este
material possui portadores majori-
tários do tipo P (Figura 10).

Figura 9 - Semicondutores integrados: funções


computacionais embarcadas.

Materiais Isolantes, Condutores e Semicondutores


26 UNIDADE I

e e
Átomo de Átomo de
Silício e Si e B Boro
e e
(tetravalente) (trivalente)
e

e e e e

e Si e e Si e e Si e e Si e

e e e e
Lacuna
e e e e

e Si e e Si e B e e Si e

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e e e e
e e e e

e Si e e Si e e Si e e Si e

e e e e
e e e e

e Si e e Si e e Si e e Si e

e e e e
Figura 10 - Formação do semicondutor do tipo P: dopagem com elemento trivalente
Fonte: o autor.

Quando se deseja produzir materiais semicondutores com portadores majo-


ritários do tipo N (mais eletronegativos), utiliza-se o processo de dopagem do
semicondutor com elementos pentavalentes, assim, haverá mais elétrons sem
recombinação no material. Alguns exemplos de materiais pentavalentes utili-
zados na dopagem de semicondutores são: o antimônio, o arsênio e o fósforo,
conforme Figura 11.
Perceba que, neste caso, o átomo de arsênio apresenta cinco elétrons, por-
tanto, pentavalente. Quando este átomo é combinado com átomos de silício, há
“sobra” de elétrons, pois o silício só pode se recombinar com quatro elétrons
(tetravalente), então, o material composto da dopagem de semicondutor puro
(Si ou Ge) com elemento pentavalente (As) produz portadores majoritários
negativos, e esta porção de material é denominada de semicondutor do tipo N.

ELETROTÉCNICA
27

e e
Átomo de e e Átomo de
Silício e Si e As Arsênio
(tetravalente) e e (pentavalente)
e

e e e e

e Si e e Si e e Si e e Si e
elétron
e e “sobrando” e e
e e e e
e
e Si e e Si e e As e e Si e

e e e e
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

e e e e

e Si e e Si e e Si e e Si e

e e e e
e e e e

e Si e e Si e e Si e e Si e

e e e e

Figura 11 - Formação do semicondutor do tipo N: dopagem com elemento pentavalente


Fonte: o autor.

Praticamente todos os dispositivos eletrônicos utilizam semicondutores que são


responsáveis pelas telecomunicações modernas, tendo larga utilização na fabrica-
ção de componentes eletrônicos e optoeletrônicos utilizados em computadores,
aparelhos de TV, smartphones etc.

O LED (light-emitting diode), ou Diodo Emissor de Luz é um tipo de semi-


condutor que emite luz quando percorrido pela corrente elétrica. A sua cor
é determinada pela sua dopagem, ou seja, pela mistura de átomos de dife-
rentes naturezas configurações eletrônicas ao semicondutor para produzir
o efeito luminoso desejado.
A emissão de luz se dá no momento em que ocorre a corrente elétrica, por meio
da junção semicondutora e o elétron salta de um nível de energia mais alto para
um nível de energia mais baixo, emitindo luz neste processo, diferentemente
dos diodos comuns, em que essa energia é dissipada na forma de calor.
Fonte: o autor.

Materiais Isolantes, Condutores e Semicondutores


28 UNIDADE I

MATERIAIS ISOLANTES

É comum remeter a materiais como a borra-


cha, o plástico e o vidro quando nos referimos a
materiais isolantes, pois estes materiais, normal-
mente, são utilizados quando o efeito de isolação
é desejado. Mas, afinal, isolação em relação a quê?
Quando nos referimos a materiais isolantes,
é preciso lembrar que o termo isolante pode-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ria se referir, por exemplo, à isolação acústica
ou à isolação térmica, mas não é este o contexto
desta unidade, pois este tópico se refere à isola-
ção elétrica.
Se é isolação elétrica, devemos isolar o que
se refere ao elétron em movimento, ok? Nesta linha de pensamento, devemos nos
recordar do que foi apresentado nos assuntos anteriores com uma breve ideia do que
seria a corrente elétrica, que é a movimentação dos elétrons em um meio condutor.
Esses elétrons que se movem devem estar em algum lugar para que possam
sair se deslocando. Nós vimos que eles fazem parte de um determinado átomo e,
normalmente, são elétrons livres, pois são fracamente presos ao núcleo e ficam
posicionados na camada de valência.
O que ocorre é que, na maioria dos materiais isolantes, o número de elétrons
presentes na camada de valência é de oito elétrons ou mais e, com isto, dificilmente
seria possível fazer com que estes portadores de cargas negativas entrassem em movi-
mento, ou seja, promover a corrente elétrica em um material composto de átomos
com oito elétrons na camada de valência seria praticamente inviável, mas há limites!
Como devemos imaginar, na natureza, não encontramos todos os materiais
compostos apenas por um único tipo de elemento, ou seja, há combinações de
impurezas com elementos-base em maior quantidade e outros que conferem atri-
butos desejados, como resistência à tração, pressão, temperatura etc. Impureza é
toda a substância diferente do material mais predominante na amostra, exemplo:
boro é a impureza adicionada ao silício para promover a dopagem e a formação
do material semicondutor do tipo P .

ELETROTÉCNICA
29

Contemplando essas características, observamos que alguns materiais


possuem a capacidade de isolar eletricamente superfícies dentro de limites
significativos, mas até quanto posso considerar segura essa isolação? Vamos
entender os limites.
Considere o circuito da Figura 12. A fonte de tensão V é a responsável por
“impulsionar” os elétrons a passarem pelo caminho sinuoso do resistor R , logo a cor-
rente elétrica I depende da intensidade de força aplicada para ser maior ou menor.
I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

V R

Figura 12 - Primeira lei de Ohm: corrente elétrica


Fonte: o autor.

A equação que define o funcionamento desse circuito é descrita pela primeira


lei de Ohm:
V
I
= = [ A]
R
Equação 1: Primeira Lei de Ohm.

Mais adiante, abordaremos com detalhes cada elemento relacionado à corrente


elétrica. Neste momento, observe apenas a relação entre as grandezas:
A intensidade de corrente I (medida em Ampère) é diretamente propor-
cional à tensão V (medida em Volt). Isto significa que quanto maior a tensão
V maior a corrente I . Em termos de elétrons, significa mais elétrons passando
pelo condutor por intervalo de tempo. Mas o que isto tem a ver com os mate-
riais isolantes?
Sim! Os isolantes! Estes materiais têm a ver com o denominador dessa
Equação 1, a parte chamada de resistência R (medida em Ohm - símbolo Ω).
É este o ponto.
Imagine que o valor do resistor R da Equação 1 seja de 1.000.000 W . Se a
tensão V for de 12 V , qual será o valor da corrente I no circuito? Utilizando

Materiais Isolantes, Condutores e Semicondutores


30 UNIDADE I

a Equação 1 e substituindo os valores, fica:


V 12
I= = = 1, 2.10−5 A ou 12 µ A
R 1.000.000

Se alterarmos o valor de R , diminuindo-o pela metade (para 500.000 W ),


automaticamente o valor da corrente dobraria, logo conclui-se que a corrente
é inversamente proporcional à resistência, e quanto maior o valor da resistên-
cia, menor a corrente.
Os materiais isolantes são aqueles que apresentam valor de resistência elevada,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
logo, a corrente que pode circular por meio deles é muito baixa ou insignificante.
Então, todo material ou meio que apresente oposição à circulação de corrente
pode assumir características isolantes? Na verdade, não, mas os materiais iso-
lantes aplicados a pequenas diferenças de potencial (Volts) não permitem fluxos
de correntes, ou são tão pequenas que chegam a ser desprezíveis.
Normalmente, para isolar a corrente elétrica, utiliza-se materiais como o plás-
tico, a borracha, a cerâmica, o fenolite, a fibra de vidro, o vidro, entre outros, mas
lembre-se: a capacidade de isolar a diferença de potencial que um dado mate-
rial ou meio possui está relacionada a mais do que o próprio material. Tem a ver
com as condições climáticas (umidade relativa do ar), distância entre os elemen-
tos, frequência dos sinais etc.

Há, no Brasil, normas que regulamentam as atividades profissionais e que, nor-


malmente, fazem referência à ABNT e, para o caso em questão, no que tange
às instalações elétricas, temos a norma ABNT NBR 5410, que se refere a insta-
lações elétricas de baixa tensão.
Na NBR 5410, estão definidas as regras para instalações elétricas e aterramen-
to, uso de materiais isolantes, cuidados com a proteção e demais regras a se-
rem seguidas pelo profissional que atua em eletricidade na área de instalações
elétricas. Já a norma que se refere à segurança em serviços com eletricidade
é a norma NR-10, que trata de procedimentos de segurança individuais e co-
letivas.
Fonte: o autor.

ELETROTÉCNICA
31

Figura 13 - Condutores elétricos isolados: a capa


plástica isola os materiais condutores de potenciais.

Para uma última análise sobre este assunto,


podemos nos referir aos materiais isolantes quando
olhamos para uma placa de circuito impresso de um equipa-
mento eletrônico, cujos componentes estão isolados pelo material da
placa que, normalmente, é de fibra de vidro, fenolite ou cerâmica, para um poste
onde os condutores estão afastados por espaçadores ou isoladores, ou ainda, agru-
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pados, mas com capas de plástico capazes de isolar milhares de Volts (Figura 13).
Em nossas casas, é comum observarmos as tomadas e os plugues que interli-
gam os eletrodomésticos à rede elétrica, todos revestidos de plástico, mas, por dentro,
possuem terminais com potenciais elétricos de elevado valor e, portanto, devem ser
protegidos do contato direto ou acidental. A Figura 14 mostra um exemplo comum
do uso de tomadas elétricas em uma régua. Este caso é bastante crítico e oculta um
perigo silencioso que pode originar incêndios e catástrofes, dependendo da situação.
O corpo humano não é um
organismo elétrico e, no entanto,
todas as suas células recebem
estímulos elétricos por meio
de membranas. Este potencial
elétrico é produzido por um gra-
diente eletroquímico que, por
meio do sistema nervoso central,
atua nos tecidos dos músculos e
resulta nos movimentos.
O que ocorre é que o poten-
cial elétrico enviado aos tecidos
para promover um movimento
é muito pequeno, da ordem de
Figura 14 - Régua de tomadas: sobrecarga silenciosa.

Materiais Isolantes, Condutores e Semicondutores


32 UNIDADE I

3
milivolts 1 mV 0, 001 V ou 10 V . Quando recebemos um choque elétrico, o
potencial normalmente é da ordem de Volts (ou de centena de Volts), e o impacto
que nosso organismo recebe é semelhante ao de realizar um esforço descomu-
nal (COTRIM, 2003). O impacto desta exposição a um potencial muito elevado
resulta em contrações musculares de mesma proporção, ou seja, de milhares de
vezes a intensidade normalmente recebida pelo organismo.
Embora um homem adulto tenha 65% de seu corpo constituído por água,
temos outros tecidos e demais elementos que constituem ossos e órgãos e que
juntos apresentam dada resistência à circulação dos elétrons da ordem de 500

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a 500.000W , dependendo da parte do corpo e de cada indivíduo. Desta forma,
podemos estimar o valor da corrente elétrica que um choque elétrico pode pro-
mover por meio dos tecidos do corpo humano (COTRIM, 2003).

GRANDEZAS ELÉTRICAS FUNDAMENTAIS

Na natureza, há diversas variáveis que foram nomeadas para que possamos


interagir e estudar os fenômenos que nos cercam. Estes nomes, muitas vezes,
remetem ao sobrenome do pesquisador que descobriu o efeito, como a grandeza
temperatura que, na maioria dos países, é medida em Celsius em homenagem
ao astrônomo sueco Anders Celsius (1701-1744), ou a grandeza potência que
é medida em Watts em homenagem às descobertas realizadas por James Watt
(1736-1819).
Além destes exemplos, há muitos casos onde grandezas importantes e fre-
quentes em nosso meio se manifestam e recebem denominações relacionadas
aos seus respectivos pesquisadores.
Nesta seção, serão abordadas as principais grandezas elétricas mais utiliza-
das e as suas características.

ELETROTÉCNICA
33
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

TENSÃO, CORRENTE E RESISTÊNCIA ELÉTRICA

As três primeiras grandezas estudadas na maioria dos cursos que envolvem a


eletricidade, definitivamente, são essas: a resistência, a tensão e a corrente. Para
explicar cada uma delas, devemos retornar o nosso olhar para as seções ante-
riores, onde falamos a respeito da Primeira Lei de Ohm (Figura 12 e Equação
1) (SADIKU; ALEXANDER, 2013).

Tensão elétrica

A tensão elétrica é a força que impulsiona os elétrons, é o agente motivador, que


faz com que os elétrons entrem em movimento. É comum associar a tensão elé-
trica com a força eletromotriz, que é um tipo de tensão proveniente da conversão
eletromecânica de energia (LOURENÇO; CRUZ; JÚNIOR,1996).
Normalmente, já temos o contato com a tensão elétrica logo cedo, quando
ainda somos crianças e ganhamos um brinquedo eletrônico que precisa de pilhas
para funcionar. Se você pegar a sua pilha e olhar nas inscrições laterais, deverá
ver algo em torno de 1, 5 V . Este é o valor da tensão da pilha. É o valor da capa-
cidade que a pilha tem em “empurrar” os elétrons por meio dos condutores em
um circuito fechado. Quanto maior a tensão, maior a corrente elétrica.
As pilhas e as baterias são classificadas como acumuladores ou fontes de tensão.
Há diferentes tipos de acumuladores, sendo recarregáveis ou não, e possuem dife-
rentes tensões disponíveis, como: 1, 2 V ; 1, 5 V ; 3 V ; 6 V ; 9 V ; 12 V ; 24 V
etc. (Figura 15).

Grandezas Elétricas Fundamentais


34 UNIDADE I

Os acumuladores recarregáveis podem ter valo-


res diferenciados, de acordo com o seu projeto, por
exemplo, 4, 7 V , encontrado em baterias de apare-
lhos celulares ou em células de baterias de laptops.
A tensão elétrica é medida em Volt ( V ) e
representada pela letra u , fazendo menção ao
físico italiano Alessandro Volta (1745-1827),
desenvolvedor da pilha elétrica em 1799. A tensão
é aquela grandeza que se relaciona com a dife-

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rença de potencial (também dada em Volt), que
se refere à comparação entre dois pontos com
Figura 15 - Diferentes modelos de
cargas. Quando há diferença de concentração de acumuladores: pilhas e baterias.
cargas, então podemos dizer que a diferença de potencial (d.d.p.) é diferente de
zero, e podemos, com isso, promover o fenômeno da corrente elétrica.
O instrumento utilizado para medir a tensão elétrica é o voltímetro (Figura
16) e normalmente se encontra nos formatos digital e analógico.

(a) (b)
Figura 16 - Voltímetros (a) analógico e (b) digital (uma das funções do multímetro).

A medição de tensão pode ocorrer a partir de


uma bateria, pilha ou fonte de alimentação, que
são exemplos de fontes de tensão. A Figura 17
mostra um exemplo de medição de tensão elé-
trica em uma fonte de alimentação de bancada:

Figura 17 - Medição de tensão elétrica em fonte de


alimentação ajustável
Fonte: o autor.

ELETROTÉCNICA
35

A Figura 17 apresenta, à esquerda, a fonte de alimentação de bancada, que


pode ser ajustada para fornecer valores de tensão possíveis entre os limites de
0 a 30 V e, à direita, o multímetro digital, instrumento multimedidas, com a
escala de tensão selecionada. Na Figura 18, o diagrama elétrico representa os
instrumentos conforme a Figura 17 (fonte de tensão e voltímetro).

+
Fonte de v
tensão -
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Voltímetro

Figura 18 - Diagrama elétrico de medição de tensão: fonte de tensão e voltímetro


Fonte: o autor.

Para realizar a medição da tensão elétrica, utiliza-se o voltímetro associado em


paralelo com a fonte de tensão, posicionando os terminais do instrumento
com a polaridade de acordo com a do instrumento (positivo do voltímetro
no polo positivo da bateria, ou gerador e negativo do voltímetro no polo ne-
gativo da bateria ou no gerador). A polaridade invertida pode ser visualizada
com o sinal de negativo (-) na tela do voltímetro digital, mas pode representar
a colisão da agulha do voltímetro analógico, causando avarias. Logo, se faz
importante identificar a polaridade antes de utilizar instrumentos analógicos.
Fonte: o autor.

A tensão pode ser contínua (Vcc) ou alternada (Vca). Vcc e Vca significam tensão
em corrente contínua e tensão em corrente alternada, respectivamente, devido
ao seu comportamento no domínio do tempo. A tensão contínua é aquela que
encontramos nos terminais de uma pilha ou de uma bateria e tem polaridade
constante no tempo, ou seja, uma vez que tenhamos uma diferença de potencial,
esta será entre dois terminais fixos positivo (+) e negativo (-). A Figura 19 mostra
uma bateria e o exemplo dos polos positivo e negativo distintos (LOURENÇO;
CRUZ; JÚNIOR,1996).

Grandezas Elétricas Fundamentais


36 UNIDADE I

(a) bateria (b) pilha

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 19 – Bateria (a) e pilha (b): identificação dos polos positivo e negativo.

A tecnologia desenvolvida até o nosso tempo aprendeu a armazenar ener-


gia de diversas maneiras, seja na contenção de águas para acionar turbinas
em um a hidrelétrica ou na compressão de molas para realizar esforço e,
além disso, há a possibilidade de armazenar energia elétrica (em corrente
contínua) por meio do uso de baterias, que recebem este nome pelo fato de
poderem ser recarregadas.
Fonte: o autor.

O sinal de tensão sempre corresponde a uma referência que chamamos de poten-


cial zero ou “negativo”, assim, a diferença de potencial ocorre entre o terminal
negativo até o terminal positivo. Se o valor da tensão for de 1, 3 V , significa que
há potencial de 1, 3 V entre o terminal negativo e o terminal positivo.
A tensão contínua Vcc  é contínua no domínio do tempo. No entanto, esta
denominação permite haver a variação do valor da tensão dentro dos limites
fixados entre os terminais positivo e negativo.
Vejamos o exemplo dado na Figura 20. No tempo t1, a tensão era de 12, 7 Vcc,
e no tempo t2 , a tensão passou a ser 11, 8 Vcc. Perceba que mesmo o valor da ten-
são sofrendo variação, a tensão permanece contínua, pois se refere a uma variação
com referência ao terminal negativo (zero) e que permaneceu dentro do quadrante,
sem alternância para nível inferior à referência.

ELETROTÉCNICA
37

U (V) Voltímetro
12,7 Polo Polo
negativo positivo
11,8

BATERIA

0
t1 t2 t(min)
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 20 - Tensão de descarga da bateria: valor contínuo variável


Fonte: o autor.

Caso a tensão tenha um comportamento variável de um valor máximo positivo


até um valor máximo negativo, passando pela referência zero, podemos classi-
ficar esse sinal de tensão como de tensão alternada, assim denominado Vca.
Normalmente, a tensão alternada tem este comportamento devido à forma
com que foi produzida: em uma máquina rotativa conhecida como alternador.

Figura 21 - Alternador utilizado em geradores de energia elétrica: tensão alternada.

Essa máquina faz parte do que conhecemos como gerador que, acionado por
uma força externa (queda d’água de uma represa em uma hidrelétrica, motor a
combustão interna de um gerador estacionário etc.), produz a tensão alternada
de acordo com a velocidade de rotação do eixo e o seu movimento circular.

Grandezas Elétricas Fundamentais


38 UNIDADE I

Se nos recordarmos da trigonometria, podemos pensar em termos de fun-


ções e, assim, explicar melhor o que ocorre. Veja na Figura 22, que a partir de
0° para a direita da interseção dos eixos x e y, podemos ver o avanço do sinal,
p
aumentando seu valor de 0 até 1 em y , atingindo o ponto  90 . Depois
2
deste momento, o sinal diminui de 1 até zero em y no ponto onde o eixo x é
igual a p  180.

y=seno(x)

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 22 - Função seno: comportamento que descreve a tensão alternada.

Note que, deste ponto em diante, o sinal inicia uma jornada que se dá abaixo do
eixo " x " , produzindo valores negativos de " y " . Quando isto ocorre, dizemos
p
que o sinal tende a −1 e atinge esse valor em 3  270 .
2
Logo após esse ponto, o sinal retorna ao ponto zero em 2p  360  0 , fina-
lizando o seu ciclo de trabalho ou operação, definindo o seu período. Deste
momento em diante, o sinal começa um novo ciclo idêntico ao anterior.
Este processo ocorre igualzinho no gerador de tensão alternada. Cada giro com-
pleto do eixo da turbina ou da máquina síncrona é um período completo, de 0 a
360° e, por convenção, deve ter esse comportamento cíclico 60 vezes por segundo,
caracterizando, assim, a frequência de 60 Hz da rede elétrica que temos no Brasil.

ELETROTÉCNICA
39

Para entender um pouco da geração de tensão alternada, convenhamos que


quando o eixo de um alternador está em repouso, este está no referencial zero. Quando
o seu eixo inicia o seu movimento, os seus terminais iniciam a conversão de ener-
gia mecânica aplicada no eixo em energia elétrica, comportando-se de acordo com
a função seno já recapitulada anteriormente (KAGAN; OLIVEIRA; BORBA, 2005).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Você já pensou sobre armazenar energia elétrica em corrente alternada?


Como seria o equipamento capaz de armazenar tensão elétrica alternada?
Quais seriam as vantagens em se investir em um projeto que faça isto?

Figura 23 - Gerador de uma fase: sinal alternado de tensão (Vca) (ID:148942673)

Agora, o estudante pode entender de maneira mais clara como ocorre a forma-
ção do sinal de tensão alternada. Converta apenas as coordenadas dadas entre
as Figura 22 e Figura 23, entendendo que onde chamamos de “ y ” na Figura
22, é amplitude de tensão na Figura 23, e o que é “ x ” na Figura 22, é ângulo em
graus na Figura 23.

Grandezas Elétricas Fundamentais


40 UNIDADE I

Veja, na Figura 23, que em 0° , a amplitude de tensão é igual a zero. Na medida


em que o eixo inicia o seu movimento (semiciclo positivo) variando de 0° até
90° , a amplitude aumenta até o seu valor máximo, que poderia ser 127 V ,
220 V , dependendo da capacidade do alternador. Quando o movimento ultra-
passa os 90° , a amplitude diminui até novamente encontrar o ponto “ 0 ”, onde
o ângulo é de 180° . Deste ponto em diante, tem início o semiciclo negativo e
a alternância de positivo para o negativo (por este motivo é que se denomina
alternada a amplitude de tensão).
Partindo dos 180° para os 270° , o sinal alternado de tensão diminui até

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
atingir o seu valor extremo negativo, que seria −127 V , −220 V , dependendo
do gerador, pois a polaridade do sinal (-) indica que o valor da tensão é negativo
em relação à referência zero. Após este ponto, o sinal aumenta novamente e
chega até os 360° com zero de amplitude ( 0 V ). É neste momento que se inicia
um novo período.
O sistema de geração mostrado representa a geração monofásica de tensão
alternada. A Figura 24 mostra como são os sinais provenientes de um gerador
trifásico, onde cada fase produz tensão com frequência de 60 Hz , mas com
defasagem de 120° entre si.

Figura 24 - Alternador de um gerador trifásico: fases defasadas em 120° (ID: 512760046)

Este tipo de gerador (trifásico) é útil em instalações industriais onde há máqui-


nas acionadas mecanicamente por motores elétricos.

ELETROTÉCNICA
41

I
Corrente elétrica

A corrente elétrica é a grandeza que só


existe se houver um caminho fechado para
sua circulação, conforme a Figura 25. Este
V R
conceito geralmente é aplicado a circui-
tos elétricos com condutores metálicos,
mas também sabemos que há circula-
Figura 25 - Corrente elétrica: dependência de um
ção de corrente elétrica por outros meios, caminho fechado para fluir
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Fonte: o autor.
como gases, líquidos e materiais sólidos
não metálicos, dependendo da tensão e
da frequência aplicadas.
A Figura 26 mostra um instrumento
conhecido como amperímetro, utilizado
para medir a intensidade de corrente elé-
trica em um circuito.
A Figura 27 apresenta um exemplo
de medição de corrente, onde a fonte de
tensão impulsiona os elétrons a circula-
rem pelo circuito e pela carga alimentada
(resistor). Figura 26 – Amperímetro: instrumento utilizado para
medir corrente elétrica
Na Figura 28 é exibido o diagrama
elétrico da medição de corrente elétrica.
Observe que o amperímetro deve ser asso-
ciado em série com a carga alimentada.
Caso a ligação do instrumento não seja em
série, pode haver avarias no amperímetro
e, por este motivo, alguns instrumentos
modernos (multímetros) são protegidos
internamente por fusíveis.

Figura 27 - Medição de corrente elétrica: circuito


em corrente contínua
Fonte: o autor.

Grandezas Elétricas Fundamentais


42 UNIDADE I

I
i
Amperímetro
Fonte de Carga
tensão alimentada

Figura 28 - Diagrama elétrico da medição de corrente: amperímetro associado em série com a carga
Fonte: o autor.

A corrente elétrica é medida em Ampère (A) em homenagem ao físico francês


André-Marie Ampère (1775-1836) e representada pela letra i. Esta grandeza é a

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
consequência de uma cadeia de eventos anteriores. Costuma-se dizer que a ten-
são é a causa, e a corrente é a consequência, pois se não há força (diferença de
potencial) para impulsionar os elétrons de um condutor a saírem de seus áto-
mos e saltarem em direção ao próximo adjacente, então, não haverá corrente
(BALBINOT; BRUSAMARELLO, 2011). Veja a representação na Figura 29.

Figura 29 - Corrente de descarga de uma bateria: diminui a sua amplitude na mesma proporção que a tensão
Fonte: o autor.

Perceba que à medida que a bateria descarrega por meio da resistência R , o valor
da corrente em t1 diminui de 250 mA para 200 mA em t2 .

ELETROTÉCNICA
43

Já lhe ocorreu que, em dias secos, após uma caminhada ao ar livre, quando
você se aproximou de alguém ou de um objeto e estendeu a sua mão, antes
mesmo de tocá-lo, houve um choque elétrico? Uma faísca? Este fenômeno só
ocorre quando há diferença de potencial entre os corpos que se aproximam
até uma distância suficiente para, desta forma, a isolação do ar não ser o bas-
tante para impedir que os elétrons do corpo mais eletronegativo migrem ao
outro corpo, a fim de se recombinar com as outras cargas de potencial posi-
tivo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A corrente elétrica é definida como a variação de cargas elétricas Q em um inter-


valo de tempo t, assim, a corrente elétrica pode ser equacionada como a Equação 2:
DQ
=i = [ A]
Dt

Equação 2: corrente elétrica.

Normalmente, relacionamos a corrente elétrica a variáveis que podemos mensu-


rar mais facilmente, como a tensão e a resistência, logo, nos referimos à corrente
elétrica como a Primeira Lei de Ohm, onde a corrente é diretamente proporcio-
nal à tensão e inversamente proporcional à resistência.
Da mesma forma que a tensão, a corrente, consequentemente, pode assumir
características contínuas e alternadas, ou seja, se a sua amplitude no tempo varia
de sua referência até um valor máximo, sem alternar de quadrante (ou inver-
ter o seu sinal), podemos afirmar que se trata de corrente contínua ou “ CC ”,
normalmente, encontrada em pilhas, baterias, saída de fontes de alimentação de
computadores ou carregadores de celular.

Grandezas Elétricas Fundamentais


44 UNIDADE I

Se o sinal de corrente, porém, alternar entre os quadrantes (havendo alteração


de polaridade), esta é denominada corrente alternada, ou “ CA ”, normalmente,
encontrada na rede elétrica disponibilizada pela concessionária local ou por
geradores estacionários.
O que o estudante deve sempre se lembrar em relação à corrente elétrica é
que ela é a consequência de um conjunto de fatores, ou seja, da existência de
uma diferença de potencial e de um circuito fechado que interliga a fonte de
diferença de potencial até uma carga que, em nossas representações, foram ado-
tadas como resistores.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Quando existe corrente elétrica circulando por um circuito, há diversos efei-
tos que passam a surgir em função do movimento dos elétrons, como o efeito
Joule, que se manifesta, dissipando energia em forma de calor, ou o próprio
campo magnético que surge em torno do condutor percorrido pela corrente,
que depende diretamente de sua amplitude.
A corrente alternada tem uma característica oscilatória que depende do com-
portamento da fonte de tensão geradora, ou seja, sabemos que para haver corrente,
é necessário que haja tensão, logo, se a tensão for contínua, na maioria dos casos,
a corrente terá comportamento contínuo, porém, se a fonte de tensão for alter-
nada, a corrente terá as mesmas características, pois a corrente é função da tensão.
A Figura 30 mostra um exemplo de sistema trifásico (três fases com corrente
alternada). Perceba que quando a corrente de qualquer uma das fases está com a
sua amplitude máxima, 120° depois, outra fase também está com o seu máximo
potencial. Na mesma Figura, observe como exemplo quando a fase “ B ” está em
90° , a sua amplitude é máxima, e quando o ângulo é igual a 210° , a fase “ A ” é a
que apresenta o seu potencial máximo. O comportamento senoidal é dado em fun-
ção da tensão alternada, que ocorre na mesma forma e no mesmo ângulo. Este efeito
se repete com a fase “ C ” e continuará assim enquanto fluir corrente pelo circuito.

ELETROTÉCNICA
45
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 30 - Corrente alternada em sistema trifásico: defasadas em 120°


Fonte: o autor.

A corrente elétrica é responsável por determinar as dimensões dos condutores,


sendo que há várias regras normatizadas a serem respeitadas, incluindo fatores
de correção por temperatura e agrupamento dos condutores. A regra gira em
torno de um número que se define para o cobre como 3 A por mm² de área de
seção transversal do condutor, ou seja, um cabo de 1 mm� 2
pode conduzir uma
corrente de até 3 A (sem levar em consideração fatores de correção por agru-
pamento ou temperatura, apenas para uma referência) (COTRIM, 2003).

Resistência elétrica

A maioria das literaturas da área define a resistência elétrica como “a propriedade


de um material em se opor à circulação de corrente elétrica”, mas esta mesma resis-
tência, ao definir o valor da corrente elétrica, influencia diretamente em seu valor
e, consequentemente, no diâmetro dos condutores, além de determinar a capaci-
dade de fornecimento de energia que uma fonte de alimentação deve apresentar.
A composição físico-química de um condutor define como os elétrons do
material formado podem ser mais ou menos “livres” para circular. Desta forma,
quando se deseja limitar a corrente em um circuito, manipula-se o tipo de
material que constitui a resistência elétrica de modo a obter um componente
denominado “resistor”, ou “resistência”, que é comercializado para atender às
necessidades de cada caso.

Grandezas Elétricas Fundamentais


46 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Na indústria, pode-se verificar resis-
tores de tamanhos que variam desde
milímetros (utilizados em circuitos ele-
trônicos), como resistências tubulares de
centímetros ou metros de comprimento,
fabricadas em espiral para atender a
necessidades específicas, por exemplo,
fornos de altas temperaturas, prontos
para suportar potências de milhares de
Watts (isto será abordado mais adiante).
A Figura 31 mostra um exemplo de
resistência de aquecimento utilizada em
fornos elétricos domésticos. Este tipo de
elemento resistivo é fabricado para aten-
der a aplicações de potências elevadas e
de baixa precisão.
Os pequenos resistores, aqueles
utilizados em circuitos eletrônicos, pos-
suem encapsulamentos padronizados que
podem suportar de miliWatts até alguns
Watts de potência, pois são fabricados
para atender a aplicações de precisão
Figura 31 - Resistência de aquecimento de um forno
(Figura 32). elétrico: potência elevada e baixo valor de resistência.

ELETROTÉCNICA
47

Figura 32 - Resistores aplicados em circuito eletrônicos

Quando procuramos uma empresa de Engenharia Elétrica para contratar um ser-


viço de instalação elétrica, é muito comum a equipe de projeto perguntar qual é
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

a carga instalada (que depende muito dos tipos de cargas: podem ser indutivas,
capacitivas e resistivas), pois dadas as características da carga é que os conduto-
res e conexões serão dimensionados.
É válido lembrar que, na maioria das casas, há dispositivos que operam como
resistências, como é o caso do chuveiro elétrico, do secador de cabelos, do forno
elétrico, do ferro de passar etc. Todos estes exemplos apontam para um mesmo
efeito: aquecimento, ou em outras palavras, o Efeito Joule.
A resistência elétrica é definida pelas Leis de Ohm e é representada pela letra
“ R ”. Recebe a sua unidade Ohm (W) em homenagem ao físico alemão Georg
Simon Ohm (1789-1854).
A Primeira Lei de Ohm (já mencionada) se refere à interação entre a ten-
são e a corrente e é dada pela Equação 1. Isolando-se a resistência na Equação
1, fica a Equação 3:
V
R= = [W]
I

Equação 3: equação da resistência elétrica.

Leve sempre em consideração que todo condutor apresenta uma dada resistência,
principalmente, o cobre, a qual pode variar de acordo com a temperatura. Para
ilustrar esta propriedade, há um coeficiente de resistividade ρ de acordo com a
Segunda Lei de Ohm, em que a resistência elétrica é diretamente proporcional
à resistividade do material (ρ) e o seu comprimento (L), porém, inversamente,
proporcional à sua área de seção transversal (A) (Equação 4):

Grandezas Elétricas Fundamentais


48 UNIDADE I

L
R  r  [W]
A

Equação 4: Segunda Lei de Ohm.

A resistividade do material (r) é dada em Wm e sofre variação de acordo com a


temperatura. O Quadro 1 apresenta a resistividade elétrica de alguns materiais
para a temperatura de 20 °C .
Quadro 1 - Resistividade elétrica dos materiais

Classificação Material Resistividade ( Wm )

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Prata 1, 6  108
Cobre 1, 7  108

Metais
Alumínio 2, 8  108
Tungstênio 5  108
Platina 10, 8  108
Ferro 12, 0  108
Latão 8, 0  108
Ligas Constantã 50, 0  108
Níquel-Cromo 110, 0  108
4000  108 a
Mineral Grafite
8000  108
Água Pura 2, 5 × 103
Vidro 1010 a 1013
Porcelana 3, 0 × 1012
Isolantes Mica 1013 a 1015
Baquelite 2, 0 × 1014
Borrachav 1015 a 1016
Âmbar 1016 a 1017
Fonte: adaptado de Lourenço, Cruz e Júnior (1996).

ELETROTÉCNICA
49

Para temperaturas diferentes desse valor, deve-se calcular o novo valor de


resistividade, utilizando a Equação 5:

r  r0  1  a  DT 

Equação 5: influência da temperatura sobre a resistividade.

Onde:
r = Resistividade do material à temperatura T [ Wm ].
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

r0 = Resistividade do material à temperatura T0 [ Wm ].


DT  T  T0 = variação de temperatura [ °C ].
a = Coeficiente de temperatura do material [ C 1 ].

O Quadro 2 apresenta o coeficiente de temperatura de alguns materiais:


Quadro 2 - Coeficiente de temperatura

Classificação Material a [ C 1 ]
Prata 0, 0038
Alumínio 0, 0039
Metais Platina 0, 0039
Cobre 0, 0040
Tungstênio 0, 0048
Níquel-Cromo 0, 00017
Ligas Niquelina 0, 00023
Latão 0, 0015
Mineral Grafite −0, 0002 a − 0, 0008
Fonte: adaptado de Lourenço, Cruz e Júnior (1996).

O instrumento utilizado para medir a resistência elétrica é denominado


Ohmímetro, também em homenagem ao inventor Georg Simon Ohm. O ins-
trumento dispõe de terminais que se conectam ao resistor e faz com que uma
corrente circule por este, conforme indicado na Figura 33.

Grandezas Elétricas Fundamentais


50 UNIDADE I

Ohmímetro Ω Resistor
sob teste

Figura 33 - Medição de resistência elétrica


Fonte: o autor.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Com o aquecimento dos cabos, a resistência tende a aumentar e, com isso,
surge um efeito denominado “queda de tensão”, pois como o condutor re-
presenta uma resistência que varia conforme a temperatura sofre alterações,
este condutor, percorrido pela corrente elétrica, passa a dissipar potência e,
com isto, parte da energia que deveria ser transferida para a carga alimenta-
da é perdida “pelo caminho” nos condutores.
O comprimento dos condutores influencia muito no efeito da resistência do
condutor e, assim, quanto maior a distância entre a instalação da fonte de
energia, mais energia é perdida ao longo dos condutores.
Fonte: o autor.

É em função da oposição à corrente que for apresentada pelo resistor sob teste
que o instrumento indica o seu valor, pois é de acordo com a queda de tensão
sobre o resistor em teste que é calculado e indicado o valor de sua resistência,
podendo ocorrer em um visor analógico por meio de um ponteiro em uma
escala graduada ou em um instrumento digital, com display de cristal líquido.
A Figura 34 apresenta dois tipos de instrumentos que podem ser utilizados,
o analógico (a) e o digital (b). É necessário considerar que o instrumento analó-
gico apresenta a sua escala crescente de resistência invertida em relação à escala
de tensão, sendo que o menor valor de fundo de escala de tensão é o maior valor
de resistência do fundo de escala do instrumento.

ELETROTÉCNICA
51

(a) (b)
Figura 34 – Ohmímetro: (a) analógico e (b) digital.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

É importante ressaltar que para medir uma resistência, é necessário que ela esteja
livre de potencial, ou seja, desconectada do circuito, pois qualquer corrente que
circule pelo elemento em teste durante a leitura de resistência pode interferir no
valor ou até danificar o instrumento de medição.
A medição de resistência vista a partir de um instrumento real é dada na
Figura 35:

(a) (b)
Figura 35 - Medição de resistência elétrica: resistor com código de cores, ou seja, (a) medição e (b) resistor fixo
às garras (tipo jacaré)
Fonte: o autor.

Os resistores possuem um código de cores para definir o seu valor ôhmico, res-
peitando a sequência de cores e o padrão utilizado para a sua fabricação (SEDRA;
KENNETH, 2012). Assim, apenas combinando as cores de um resistor é possível

Grandezas Elétricas Fundamentais


52 UNIDADE I

determinar o valor de sua resistência e a sua tolerância. A Figura 36 apresenta


uma tabela de cores para resistores:

4 Faixas

1º 2º Multipli- Tolerância
Cor Dígito Dígito cador
Preto
Marrom

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Vermelho
Laranja
Amarelo
Verde
Azul
Violeta
Cinza
Branco
Ouro
Prata

Código de Cores de Resistores

Figura 36 - Tabela de cores para resistores.

Todas as variáveis mencionadas, até aqui, podem ser medidas, utilizando um


único instrumento moderno denominado “multímetro” ou “multiteste”, que reúne,
no mesmo instrumento, as funções de amperímetro, voltímetro e ohmímetro,
e em modelos mais equipados, há funções como frequencímetro, capacímetro,
indutímetro e até funções gráficas que permitem acompanhar um sinal e o seu
comportamento. A Figura 37 apresenta alguns modelos de mão utilizados com
frequência no dia a dia do profissional atuante em indústrias e em bancadas de
manutenção.

ELETROTÉCNICA
53
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 37 – Multímetro: reúne em um único instrumento várias funções


Fonte: o autor.

Para ilustrar os conceitos vistos até aqui, vamos realizar a solução de alguns exer-
cícios contemplando a tensão, a corrente e a resistência.

Exercícios resolvidos

Exercício 1: um dado condutor de cobre de seção cilíndrica apresenta diâmetro


de 6, 0 mm e comprimento de 1, 5 m e está sendo aplicado para alimentar um
equipamento com tensão de 220 V e corrente de 20 A . A resistividade deste
8
material (à temperatura de 20 °C ) é de 1, 7  10 Wm.

Calcule:
a) O valor da resistividade do material para a temperatura de 50 °C .
b) O novo valor de resistência do condutor para a nova temperatura de
50 °C .

Grandezas Elétricas Fundamentais


54 UNIDADE I

Solução:
a. Levando-se em conta que o material que compõe o condutor é o cobre
(resistividade = 1, 7  108 Wm @20 °C ) e que o seu diâmetro de
6, 0 mm ( 6, 0  103 m ) com comprimento de 1, 5 m , fica:

1º passo: determinação da resistência “ R0 ”:


Primeiramente, precisamos calcular a área para substituir na variável A .
Como o condutor apresenta seção cilíndrica, calcula-se a área onde temos
a variável A na Equação 4, assim:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
L
R0  r 
A
D
fazendo A  p  r 2 , e sabendo que r  fica:
2
L L
R0  r  2
 R0  r 2
p r D
p 
2
substituindo os valores, fica:
1, 5
R0  1, 7  108  2
 6, 0.103 
p 
 2
 
R0  9, 0  104 W
b. Aplicamos a nova temperatura para calcular o valor da resistividade
do material para a temperatura de 50 °C . Por tabela, sabemos que
r0  1, 7.108 Wm e α = 0, 0040 C −1:
cobre

Substituindo os valores na Equação 5, fica:


r  r0  1  a  ∆T 
substituindo os valores, temos:
r  1, 7  108  [1  0, 0040  150  20 ]
r  2, 58  108 Ωm

ELETROTÉCNICA
55

8
Com esta informação ( r  2, 58  10 Wm ), podemos calcular o valor da
resistência oferecida pelo condutor a 50 °C (desconsiderando os efeitos da dila-
tação do material):
L
R50 C  r 
A
1, 5
R50 C  2, 58.108  2
 6, 0.103 
p 
 2
 
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

R50 C  1, 368  103 W ou 1, 368 mW

Respostas:
a. O valor da resistividade do cobre para a temperatura de 50 °C é
r  2, 58  108 W.m .
b. A resistência do condutor sob a temperatura de 50 °C será de
1, 368  103 W .
Exercício 2: Um chuveiro elétrico alimentado com 127 V consome cor-
rente de 43, 3 A na posição inverno. Já na posição verão, o chuveiro passa
a consumir a corrente de 23, 62 A .

Calcule:
■ O valor da resistência quando o chuveiro estiver na posição inverno.
■ O valor da resistência quando o chuveiro estiver na posição verão.

Solução:
a. Na posição inverno, a corrente é de 43, 30 A , e a tensão é de 127 V ,
logo, temos pela Equação 3:
V 127
R= = = 2, 93 W
I 43, 3

Grandezas Elétricas Fundamentais


56 UNIDADE I

b. Na posição verão, a corrente é de 23, 62 A , e a tensão é de 127 V , logo,


temos pela Equação 3:

V 127
R= = = 5, 37 W
I 23, 62

A resistência tende a aumentar quando há o aumento de temperatura no

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
condutor. Esta propriedade é mais pronunciada nos metais puros, que são
classificados como materiais com coeficiente positivo de temperatura.
Já nos gases ionizados e no grafite, a resistência diminui com o aumento
de temperatura, sendo assim, classificados como materiais com coeficiente
negativo de temperatura.
Fonte: Lourenço, Cruz e Júnior (1996).

Potência elétrica

Quando o assunto é energia, todos nós


lembramos da conta de luz. Isto é fato!
Principalmente, em tempos, em que só se
fala em alternativas para economizar recur-
sos e tornar mais eficiente aquele equipamento
ou processo.
Vivemos em uma fase de desenvolvimento
constante das soluções energéticas para todos
os fins, sejam corporativos ou domésticos, sem-
pre apontando para soluções do tipo “onde
custaria menos para fazer mais”, ou “em busca
da bateria que podemos recarregar em um
segundo e a sua carga teria a duração de um
mês”. Somos dependentes das tecnologias que
consumimos, e para aproveitar as suas van-
tagens, precisamos conhecer os seus limites.
ELETROTÉCNICA
57

Esta seção tem como objetivo contemplar uma das mais importantes partes
do estudo da eletricidade, a potência elétrica. Potência esta que não existe ape-
nas na eletricidade, mas será abordada de maneira complementar ao que já foi
estudado em relação à tensão, à corrente e à resistência.
Iniciaremos o estudo da potência elétrica, partindo da tensão (que produz o
movimento dos elétrons) e da corrente (que faz com que seja produzido calor).
Adotemos uma analogia com a mecânica, imaginando quando uma força apli-
cada a um corpo produz movimento e, portanto, realiza trabalho, convertendo
a energia potencial em energia cinética.
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Associamos esse fato à fonte de tensão, que nada mais é do que a fonte de
energia potencial disponível, na forma de terminais positivo (+) e negativo (-).
Quando essa fonte é associada a uma determinada carga (pode ser um resistor),
surge o que chamamos de corrente elétrica (que é a movimentação dos elétrons,
logo, a energia potencial da fonte de tensão convertida em energia cinética).
Como a fonte de tensão produz movimento dos elétrons livres e estes coli-
dem uns com os outros de modo a produzir calor (mais pronunciadamente em
materiais com características resistivas), há o surgimento da dissipação de calor.
Como acontece na superfície de um ferro de passar ou dentro de um forno elétrico.
Em eletricidade, a velocidade com que a tensão realiza o trabalho (repre-
sentado pela letra “ t ” – medido em Joules) para que um elétron possa entrar
em movimento, saindo de uma posição inicial e chegando a uma posição final,
é chamada de potência elétrica, e a letra que simboliza esta variável é P . Logo,
a unidade de medida de potência elétrica é Joule por segundo ( J s ), mas con-
vencionado como Watt, ou simplesmente W , em homenagem a James Watt
(1736-1819), que idealizou e desenvolveu vários estudos e descobertas relacio-
nadas à potência.
Devemos considerar que se a energia (representada pela letra E ) é a capa-
cidade de realizar trabalho, associando a energia E à potência P , podemos
afirmar que a Equação 6:

t E
P
= = = [ J ] = [W ]
Dt Dt s

Grandezas Elétricas Fundamentais


58 UNIDADE I

Equação 6: potência e energia.

Onde a potência elétrica é igual ao trabalho realizado pelo elétron ao se deslo-


car de um ponto “ A ” até um ponto “ B ” durante um intervalo de tempo Dt
ou potência elétrica é a energia E consumida em um intervalo de tempo Dt .
De maneira mais prática, relembrando dos conceitos de causa-consequên-
cia (tensão-corrente), concluímos que o produto da tensão pela corrente define
a potência elétrica (Equação 7):
P  V  I  [W ]

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Equação 7: potência elétrica - relação entre a tensão e a corrente.

O instrumento utilizado para medir a potência elétrica é o Wattímetro, que uti-


liza a tensão e a corrente para calcular o valor da potência e pode indicar a sua
amplitude por meio de uma tela de cristal líquido nos modelos digitais, ou por
meio um ponteiro em uma escala graduada nos modelos analógicos.

a) b) C)
Figura 38 - Alicate Wattímetro: (a) exemplo de uso em CC, (b) exemplo de uso em CA e (c) modelo analógico

É muito importante que o estudante entenda a potência sempre relacionada aos


eventos naturais à sua volta, não apenas na eletricidade ou eletrotécnica, mas na
capacidade de realizar o trabalho que uma força tem dentro de um intervalo de
tempo. Por exemplo, quando um motor elétrico aciona um eixo de uma esteira
que transporta caixas em um depósito, para realizar o trabalho de deslocar as
caixas, que representam carga (peso), esse motor tem a capacidade de deslocar
a caixa de A até B em um intervalo de tempo.
Se um segundo motor possui a capacidade de transportar a mesma carga
em menos tempo, podemos dizer que o segundo motor é mais potente do que o
primeiro, pois consegue realizar mais trabalho por intervalo de tempo.

ELETROTÉCNICA
59

ATENÇÃO
Algumas áreas da ciência ou alguns países podem adotar unidades diferen-
tes para as mesmas grandezas e, muitas vezes, nos deparamos com conver-
sões entre unidades de potência, quando observamos a medida em CV, W
ou HP, porém, o estudante deve sempre se lembrar que seja aplicada na área
mecânica ou elétrica, a potência representa o mesmo conceito.
Fonte: o autor.

Energia
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Não poderíamos deixar de estudar a energia E , já mencionada anteriormente.


Neste material, ela assume o papel de Energia Elétrica Consumida por um cir-
cuito dentro de um intervalo de tempo. No Brasil, assumimos que essa energia é
aquela que contratamos e pagamos todos os meses na tarifa, cujo próprio nome
diz: “conta de energia”.
A energia consumida relaciona a potência elétrica “P ” (medida em kW) con-
sumida durante um período que, normalmente, é de um mês, mas a unidade do
tempo, neste caso, é a hora (h ), então, a energia elétrica é aplicada às instalações
elétricas medida em kWh . Logo:
E  P  Dt  [kWh]

Equação 8: energia - relação entre a potência consumida em um intervalo


de tempo.

O instrumento que realiza a medição da energia é o medidor de consumo de


energia elétrica, e todos os consumidores das redes concessionárias devem uti-
lizá-lo para que seja totalizada a potência consumida ao longo do período. A
Figura 39 apresenta dois modelos que descrevem as inovações tecnológicas no
desenvolvimento dos instrumentos de medição de consumo de energia elétrica.

Grandezas Elétricas Fundamentais


60 UNIDADE I

a) b)
Figura 39 - Medidor de consumo de energia elétrica: (a) modelo tradicional eletromecânico e (b) modelo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
moderno digital.

Exemplo 1: Para ilustrar o estudo da energia, adotaremos um caso simples,


porém, de uso de todos: o banho.
Considerando que uma pessoa utiliza um chuveiro elétrico para tomar banho
e este opera com potência de 5800 W (posição inverno) durante um tempo
médio de 10 minutos, quanto seria o valor pago pela energia elétrica consumida
durante esse banho ao longo de um mês, sabendo- que na localidade o custo do
kWh é de R$ 0, 5?

Solução:
Primeiramente, precisamos entender que o chuveiro fica ligado durante
10 minutos, o que, em horas, equivale a 0, 16 h. Aproximando o mês
para 30 dias, fica:
Dt  0, 16  30  Dt  4, 8 h

Consumindo a potência de 5800 W = 5, 8 kW , pelo tempo de 4, 8 h


ao custo de R$ 0, 5 por kWh , fica:

E  P  Dt  5, 8  4, 8  27, 840 kWh

ELETROTÉCNICA
61

Precificando, o custo do banho ( Cbanho ) fica:

Cbanho  27, 840  0, 5  R$ 13, 92

Logo, se o kWh custar R$ 0, 5 , o preço do banho seria de R$ 13, 92


mensais (sem os impostos).
Nos casos em que nos referimos à energia proveniente de acumuladores, como
pilhas e baterias, não utilizamos um medidor de consumo de energia, pois não
somos tarifados por este uso, mas podemos estimar a capacidade de fornecimento
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

temporal de um acumulador, utilizando o conhecimento adquirido de energia.


Vamos exemplificar, utilizando o caso de uma bateria de um smartphone, que
tem a capacidade de fornecer 1800 mAh com tensão de 5, 0 V . Considerando
que o smartphone consuma uma potência de 0, 5 W , quanto tempo a bateria
poderia mantê-lo funcionando?
Para esse exemplo, devemos considerar a bateria 100% carregada.
Inicialmente, precisamos definir qual a capacidade de potência fornecida pela
bateria, os dados da corrente e da tensão. Assim:

P  V .I  P  5  1800  103  P  9 W

A informação é que a bateria tem capacidade de manter a corrente de 1800 mA


por uma hora 1800 mAh  , mantendo a tensão nominal em 5 V . Desta forma,
podemos afirmar que essa bateria possui energia de 9 Wh . Se o aparelho consome
0, 5 W , será possível mantê-lo em funcionamento durante o período dado por:
E 9
E  P  Dt  Dt    18 h
P 0, 5
Concluímos, então, que a bateria do smartphone poderá mantê-lo em pleno
funcionamento por 18 h. Após este tempo, a corrente informada pelo fabricante
da bateria ( 1800 mAh ) pode não mais permanecer a mesma e, com isto, pode
haver decremento da tensão e o aparelho deverá desligar-se.

Grandezas Elétricas Fundamentais


62 UNIDADE I

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na Unidade 1 deste livro, abordamos conceitos relevantes sobre a eletricidade


dentro dos critérios da Eletrotécnica e sob o ponto de vista de um Engenheiro
de Produção, alinhando conceitos fundamentais que relacionam a tensão, a cor-
rente, a resistência e, consequentemente, a potência e a energia elétrica, ao seu
uso e às métricas de utilização.
Sabemos que a eletricidade por si só pouco teria utilidade se não fosse apli-
cada a algo útil, assim, todos os componentes e equipamentos que conhecemos,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
atualmente, fazem com que a eletricidade possa contribuir no modo de vida das
pessoas e no desenvolvimento em diversas áreas, desde a produção de alimen-
tos até as pesquisas espaciais e a cura de doenças.
Os diferentes tipos de materiais utilizados para a fabricação de componentes
elétricos e eletrônicos definem as suas limitações e também a sua aplicabilidade
nas diversas áreas, como na condução de eletricidade, desde a sua geração até o
local onde ela será consumida, ou mesmo na conversão de um formato de cor-
rente em outro.
Destes princípios, vimos que as diferentes tecnologias de materiais condu-
tores, semicondutores e isolantes consistem na base utilizada para a fabricação
da maioria dos dispositivos, atualmente, produzidos no mundo, desde ferros de
passar a supercomputadores.
Um fato importante que deve ser destacado é que, atualmente, somos limitados
a determinadas tecnologias que estão passando por modernizações, permitindo
a elaboração de novos materiais que podem ser utilizados na fabricação de bate-
rias, as quais têm agora o agravante ambiental, visto que representam um grande
problema em seu descarte e em sua vida útil, relativamente, curta, além de cada
vez mais dependermos de baterias para alimentar os nossos dispositivos mais
utilizados, como smartphones, tablets etc. É de extrema importância o enten-
dimento desses temas para a imersão na próxima unidade deste livro, pois os
fundamentos de eletricidade aplicados em Eletrotécnica são básicos para que os
conceitos de instalações elétricas e demais temas relacionados sejam assimilados.
Além da Eletrotécnica, as áreas de máquinas elétricas, eletrônica, automação
etc. utilizam muitos dos conceitos básicos que são introduzidos nessa unidade.

ELETROTÉCNICA
63

1. Uma máquina de mistura de tintas opera com motor elétrico de 2 kW de


potência durante 4 h por dia, durante 5 dias por semana, em média. Saben-
do que um mês tem 4, 5 semanas (em média):
a) Calcule o consumo mensal de energia elétrica que o referido motor repre-
senta em kWh .
b) Considerando que o custo do kWh é de R$ 0, 55 , quanto custa, por mês,
para que este motor seja utilizado?
2. Qual o valor da resistividade elétrica de um condutor de platina com seção
circular de 3, 0 mm , sendo que a resistência indicada pelo ohmímetro é de
0, 073 W e o comprimento é de 1, 0 m ?
3. Considere dois condutores de cobre com diferença de potencial de 24 V en-
tre si, conduzindo corrente de 2.400 A . Calcule o que se pede:
a) Qual a corrente que circulará por meio do corpo de uma pessoa que tocar os
dois condutores ao mesmo tempo, considerando que a resistência da região
do corpo da pessoa é da ordem de 100.000 W ?
b) Considerando que a corrente elétrica mínima para promover uma parada
cardíaca (fibrilação ventricular) é de 30 mA , há risco de morte no caso pro-
posto?
4. Em uma residência há dois chuveiros, sendo o chuveiro “A” alimentado em
127 V , e o chuveiro “ B ” alimentado em 220 V . Ambos os equipamentos for-
necem potência de 5400 W . Responda:
a) Qual dos dois chuveiros consome mais energia por mês, considerando que
os dois operam igualmente durante 15 minutos por dia, 30 dias por mês
(considerar R$ 0, 55 o custo de 1 kWh )?
b) Em que aspecto, considerando os modelos deste problema, um chuveiro
pode ser mais econômico do que outro?
c) Sabendo que a resistência elétrica do chuveiro entra em contato com a água
e a sua superfície não é blindada, ou seja, a fase (vivo) entra em contato com
a água, como pode o chuveiro não dar choque elétrico? Explique o porquê
de sua resposta com subsídios.
64

5. Na etiqueta de um carregador de baterias utilizado em smartphones estão im-


pressos os seguintes dados: tensão de saída de 5 V e corrente de saída de
1, 5 A . Considerando os dados do carregador, assinale a alternativa correta:
a) A capacidade de corrente do carregador é de 1500 mA e a potência máxi-
ma é de 7, 5 W .
b) A potência máxima do carregador é de 7, 5 V , pois a bateria do celular re-
presenta uma resistência de 33 W .
c) A resistência da bateria é de 3, 33 W−1 .
d) O uso desse carregador custa R$ 3, 93 por dia para carregar uma bateria
de 1400 mAh .
e) A capacidade de corrente do carregador é de 15.000 mA e a potência má-
xima é de 75 kW .
6. Um liquidificador com potência de 1000 W e alimentado em 127 V conso-
me corrente de 7, 87 A . Calcule a corrente de um liquidificador de mesma
potência, se a sua tensão de alimentação fosse de 220 V .
65

Como seriam as comunicações entre as pessoas sem a existência de computadores e


smartphones?
Como seria possível estabelecer contato em tempo real com outra pessoa que está a
quilômetros de distância sem os dispositivos eletrônicos com os quais estamos acostu-
mados?
A fabricação de smartphones e computadores só é possível graças aos semicondutores,
que permitem a fabricação de componentes minúsculos e com funções fantásticas, que
vão desde o simples condicionamento de um sinal até as tomadas de decisões, tudo por
meio da lógica presente em um programa embarcado na memória estática e fabricada
a partir do silício.
Os satélites mais sofisticados utilizam processadores avançados para permitir que os
dados das comunicações sejam entregues com rapidez no local desejado e a previsão
do tempo possa ser calculada com fidelidade, graças ao uso de recursos de telemetria e
geoprocessamento, todos fabricados com componentes baseados em semicondutores.
Os carros modernos controlam a emissão de gases e o fluxo de combustível, por meio de
sensores e controladores que se adaptam à temperatura, de modo a funcionar sempre
de acordo com suas especificações, mesmo que um combustível tenha maior concen-
tração do que outro. Tudo isso, automaticamente, graças à capacidade de armazena-
mento e processamento dos semicondutores integrados.
Os grandes motores são acionados por equipamentos que precisam controlar a veloci-
dade de partida, mantendo-se o torque constante, realizando milhares de cálculos por
segundo, de modo a fornecer apenas a parcela de potência necessária ao movimento da
máquina, minimizando desperdícios. Ação possível graças aos controladores integrados
e às chaves de potência transistorizadas, todos a base de semicondutores.
As aeronaves modernas são monitoradas e controladas, quase que integralmente, por
dispositivos capazes de mensurar as variáveis e de calcular trajetórias baseados em dis-
positivos semicondutores, enviando a sua posição relativa a uma base de controle de
tráfego e ajustando o seu percurso por meio de recursos computacionais dependentes
de semicondutores.
O computador que foi utilizado para escrever este texto depende do funcionamento
em conjunto de milhões de semicondutores para que palavras possam ser expressas
e a informação seja disseminada até você, estudante. Os semicondutores são o nosso
presente e promovem o futuro de toda uma geração.
Fonte: o autor.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Instalações Elétricas
Hélio Creder
Editora: LTC
Sinopse: prestes a completar meio século da primeira publicação,
Instalações Elétricas chega à sua 16ª edição como a maior referência
bibliográfica sobre o tema na literatura técnica brasileira. Hélio Creder,
ícone da Engenharia no país, deixou legado indelével, tanto no mercado
profissional, quanto no meio acadêmico. Uma equipe renomada, liderada
pelo professor Luiz Sebastião Costa, cuidou com esmero e profundo
saber da atualização desta incomparável obra. Objetiva e didática, esta
publicação consegue aliar teorias à prática com maestria, no que consiste
em uma das características mais importantes e valiosas a profissionais da
área e também a docentes e estudantes de graduação em Engenharia,
além de cursos tecnólogos e técnicos. O conteúdo foi atualizado de
acordo com as especificações vigentes na área (em especial a Norma
ABNT NBR ISO/CIE 8995 1:2013), uma das premissas imprescindíveis a um
livro que pretenda discorrer sobre o tema. A utilização de ferramentas
computacionais (como o programa DIALux) auxilia na aprendizagem
eficiente de projeções e instalações.
Comentário: livro clássico e obrigatório para aqueles que desejam estudar as instalações elétricas
e os Sistemas Elétricos de Potência.

Captando o Sol (2015)


Sinopse: este documentário mostra a explosão da indústria de energia
solar sob várias perspectivas, desde o dono de uma fábrica de painéis na
China até um americano que faz curso de instalador na Califórnia.
Comentário: um filme que relata fatos curiosos sobre o mercado de energia
solar na prática.
67
REFERÊNCIAS

BALBINOT, A.; BRUSAMARELLO, V. J. Instrumentação e Fundamentos de Medidas.


2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011.
BRASIL. Norma Regulamentadora n. 10, de 08 de junho de 1978. Segurança em
instalações e serviços em eletricidade. Disponível em: < http://www.ccb.usp.br/ar-
quivos/arqpessoal/1360237189_nr10atualizada.pdf>. Acesso em: 19 dez. 2018.
COTRIM, A. A. M. B. Instalações Elétricas. São Paulo: Pearson, 2003.
KAGAN, N. O.; BARIONI, C. C.; BORBA, E. J. Introdução aos sistemas de distribuição
de energia elétrica. São Paulo: Blucher, 2005.
LOURENÇO, A. C.; CRUZ, E. C. A.; JÚNIOR, S. C. Circuitos em Corrente Contínua. São
Paulo: Érica, 1996.
SADIKU, M. N. O.; ALEXANDER, C. K. Fundamentos de Circuitos Elétricos. 5. ed. Por-
to Alegre: Bookman, 2013.
SEDRA, A. S.; SMITH, K. C. Microeletrônica. 5. ed. São Paulo: Pearson, 2012.
GABARITO

1.
a) Solução:
Dados:
=P 2= kW 2000 W
Tempo: 4 h x 5 dias = 20 h / semana

20 h x 4, 5 semanas / mês = 90 h / mês

E  P.Dt  [kWh]
E  2000  90  180 kWh
Logo:
R: o consumo mensal de energia elétrica é de 180 kWh .
b) Solução:
C  E (kWh).Tarifa
C  180  0, 55
C  R$ 99, 00
Logo:
R: para que esse motor seja utilizado o valor mensal será de C = R$ 99, 00 .
2.
Solução:
Dados:
Diâmetro = 3,0 mm, Acircular  p  r  p  ( D ) , assim:
2 2
2
3
Acircular  p  (3, 0  10 )2
2
Acircular  7, 068  106 m2
69
GABARITO

SeR = 0, 073 W e
Comprimento de 1, 0 m .

L R A
R  rplatina   rplatina 
A L
0, 073 W  7, 068  106 m2
rplatina 
1, 0 m
rplatina  5,16  106 W
m

R: a resistividade do condutor de platina será de 5, 16  106 W


m.

3.
a. Solução:
Dados:
I = 2400 A
U = 24 V

R pessoa = 100.000 W

V 24
I 
R 100.000
I=240  106 A

Logo:
R: a corrente que circulará pelo corpo da pessoa será de 240  106 A .

b. R: não há risco de morte, dado pela corrente de 240  106 A (240 m A)


que é muito menor do que a corrente de 30 mA , porém, salvo essa resposta
para a resistência da parte do corpo onde R = 100.000 W. Em outras regi-
ões do corpo, deve ser recalculado o valor da corrente.
GABARITO

4.
a. Solução:
Dados:
Chuveiro “A” alimentado em 127 V e o chuveiro “B” alimentado em 220 V .
Ambos com potência de 5400 W .

I chuveiro 5400 42, 51 A


A 127
I chuveiro B 5400
24, 54 A
220
∆t 15 minutos = 0,25 h 30 dias = 7,5 h/m
Pchuveiro A Pchuveeiro B 5400 W
da fica:
E P ∆t 5400 7, 5 40, 5 kWh
Cálculo do custo ( C ):

C P tarifa
C 40, 5 0, 55 22, 27
C R$ 22,27 por mês

R: os dois chuveiros consomem a mesma energia, pois operam durante o


mesmo tempo e fornecem a mesma potência de 5400 W = R$ 22,27
por mês.
b. Solução:
Dados:

I chuveiro
= 5400
= 42, 51 A
A 127
I chuveiro
= 5400
= 24, 54 A
B 220
R: o chuveiro B de 220 V pode ser mais econômico em relação aos con-
dutores da instalação elétrica, pois podem ser mais finos, uma vez que a
corrente que circula é de 24, 54 A em 220 V , enquanto que em 127 V
para a potência de 5400 W , a corrente seria de 42, 51 A, logo com con-
dutores de maior diâmetro e de custo mais elevado.
71
GABARITO

c. Solução:
R: com o devido uso do condutor de aterramento do chuveiro ligado cor-
retamente ao condutor da instalação (que está conectado ao eletrodo de
aterramento), o potencial presente na resistência não isolada produz cor-
rente elétrica pela água no interior do chuveiro e que flui pelo terminal de
aterramento próximo da resistência.
Caso não haja a conexão do condutor-terra do chuveiro com o condutor de
aterramento, a corrente tende a circular pela água e pelo corpo do usuário
do chuveiro, podendo causar choque elétrico.
5.
a) Solução:
Resposta correta: alternativa A.
I = 1, 5 A
P  V  I  5  1, 5  7, 5 W
R: a capacidade de corrente do carregador é de 1500 mA , e a potência má-
xima é de 7, 5 W.
6.
a) Solução:

P
I  1000 / 220  I  4, 54 A
V
R: a corrente consumida pelo motor do liquidificador alimentado em 220 V
será de 4, 54 A .
Professor Me. Fábio Augusto Gentilin

II
UNIDADE
INSTALAÇÕES ELÉTRICAS

Objetivos de Aprendizagem
■ Apresentar os principais termos relacionados a instalações elétricas.
■ Compreender sobre os Sistemas Elétricos de Potência (SEP) e
métodos de geração alternativa de energia (energia solar, eólica e
demais fontes de energia existentes).
■ Aprender sobre Luminotécnica e suas principais características.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Instalações elétricas
■ Sistemas Elétricos de Potência (SEP)
■ Noções de Luminotécnica
75

INTRODUÇÃO

Quando o projeto de uma edificação é realizado, uma das grandes preocupações


é com relação às instalações elétricas que deverão ser executadas. Essa etapa do
projeto é papel do Engenheiro Eletricista dimensionar, avaliar e executar junto de
sua equipe técnica, de acordo com as normas estabelecidas e vigentes em nosso
país, como por exemplo, a NBR-5410 que se refere às instalações de baixa ten-
são que observamos em nossas residências.
Em nosso livro, iremos abordar o conceito de instalações elétricas sob a ótica
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de um Engenheiro de Produção, com viés de quem observa o sistema e busca os


pontos de interesse para monitoração e composição de indicadores de desem-
penho, a fim de tomadas de decisões estratégicas.
Nesta unidade, iremos contemplar os temas relacionados aos Sistemas
Elétricos de Potência (SEP) e suas particularidades, além de explanar as princi-
pais características dos sistemas de geração, transmissão e distribuição de energia
elétrica. Esta área tem observado grande movimentação, atualmente, por conta
das tecnologias de energias alternativas (eólica, solar, biomassa, etc.).
Ainda passamos por grandes desafios, de um lado, frente às necessidades de
uma sociedade modernizada pelas atuais tecnologias e suas expectativas, e do
outro, as limitações tecnológicas que ainda enfrentamos no que diz respeito a
geração, transmissão e uso eficiente da energia elétrica. Por este e muitos outros
motivos é que ressaltamos a importância do conhecimento relativo ao conte-
údo desta unidade.
É importante ressaltar que o conteúdo dessa unidade é de extrema impor-
tância informativa aos engenheiros de produção e que as atividades de projeto
e execução de obras de eletricidade são de atribuição profissional de um enge-
nheiro eletricista e cabe ao conselho regional de engenharia (CREA) fiscalizar
tal exercício profissional de acordo com as diretrizes impostas pelo CONFEA
(Conselho Federal de Engenharia).
Ao fim, esta unidade aborda conceitos importantes de Luminotécnica e suas
principais características de utilização, como os mais comuns tipos de lâmpadas
e seu uso nos mais diversos ambientes.

Introdução
76 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
INSTALAÇÕES ELÉTRICAS

As instalações elétricas ocorrem de acordo com normas que definem parâme-


tros de segurança e padronização. Todo profissional atuante deve se alinhar a
essas normas para poder executar serviços em eletricidade.
De acordo com o potencial elétrico envolvido, há normas distintas que
definem as regras específicas para trabalhos em instalações elétricas, como por
exemplo:
■ NBR 14039:2003 - Instalações elétricas de média tensão de 1,0 kV a 36,2 kV
■ NBR 5410 - Instalações elétricas de baixa tensão
■ NBR 5444 - Símbolos gráficos para instalações elétricas prediais
■ NBR 5419 - Proteção de estruturas contra descargas atmosféricas

Além da norma de segurança em instalações e serviços em eletricidade - NR 10.


De acordo com a norma NBR 5410, seguem algumas definições básicas rela-
cionadas a instalações elétricas de baixa tensão:

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
77

ATERRAMENTO ELÉTRICO

O aterramento elétrico é o recurso utilizado para atribuir segurança a pessoas,


equipamentos e para a instalação elétrica em uma edificação. O aterramento é a
ligação ao potencial mais neutro de todos, a terra aos dispositivos de segurança
e proteção. Consiste em uma haste de metal (eletrodo de aterramento) aterrada
no solo e condutores que percorrem toda a instalação elétrica.
O aterramento, normalmente, é utilizado para proteger a instalação de des-
cargas atmosféricas, interligando o para-raios, para desviar potenciais elevados
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

e perigosos e para desviar ruídos provenientes do funcionamento de equipa-


mentos elétricos e eletrônicos.
De acordo com a norma NBR 5410, há alguns esquemas de aterramento que
determinam como os demais possíveis esquemas podem ser realizados. São eles:
esquemas TN, TT e IT.
O esquema TN utiliza um condutor diretamente aterrado, sendo as carca-
ças (ou massas) dos dispositivos ligadas a esse condutor através de condutores
de proteção específicos. Esse esquema de aterramento permite três variações:
TN-S, TN-C-S e TN-C, diferenciando-se de acordo com a disposição dada entre
o condutor neutro e o condutor de proteção, conforme Figura 1:
L1 L1
L2 L2
L3 L3
N PEN PE
PE N

Aterramento Massas Massas Aterramento Massas Massas


da alimentação da alimentação
TN-S TN-C-S

L1
L2
L3
PEN

Aterramento Massas Massas


da alimentação
TN-C
Figura 1- Esquema de aterramento TN e suas variantes
Fonte: ABNT (2004 p. 15 a 16)

Instalações Elétricas
78 UNIDADE II

O esquema TN-S é aquele onde condutor neutro e o condutor de proteção


são distintos, porém, interligados.
Já no esquema TN-C-S, as funções dos condutores neutro e de proteção são
combinadas em um único condutor, em algumas partes, podendo ter ramos do
circuito com dois condutores.
No esquema TN-C, as funções do condutor neutro e de proteção são com-
binadas em um único condutor integralmente. Talvez esse seja o esquema mais
comum em instalações residenciais (ABNT, 2004).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Imagine se todos pudessem realizar suas instalações elétricas de acordo
com seu conhecimento, sem a necessidade de padronização ou atendimen-
to à normas? Como seria a aparência de nossas cidades e casas? E em termos
de acidentes com eletricidade, o que mudaria?
Fonte: o autor.

O esquema TT apresenta a característica de que cada dispositivo tem seu pró-


prio eletrodo de aterramento, mesmo existindo o condutor de aterramento da
instalação elétrica disponível. É utilizado quando os dispositivos desempenham
funções específicas e requerem individualização de aterramento, por exemplo,
instrumentos de medição e instrumentação, equipamentos com elevada emis-
são de ruído conduzido (EMI conduzido), etc.

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
79

L1 L1
L2 L2
L3 L3
N N
PE
PE PE
Massas Massas
Aterramento Massas Massas Aterramento
da alimentação da alimentação

Figura 2- Esquema de aterramento TT


Fonte: ABNT (2004 p. 16)
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

No esquema de aterramento IT, todas as partes energizadas (vivas) são isola-


das da terra ou, em um ponto da instalação, é aterrada com a utilização de uma
impedância (resistência elétrica), conforme a Figura 3 (ABNT, 2004).

L2 L2
L3 L3
N N
1) 2)
PE
PE
Impedância

Massas Aterramento Massas


da alimentação
A B

L1 L1 L1
L2 L2 L2
L3 L3 L3
N N N
1) 1) 1)
PE PE PE PE
Impedância Massas Massas Impedância Impedância

Aterramento Massas Massas Massas Massas


Aterramento Aterramento
da alimentação da alimentação da alimentação
B. 1 B. 2 B. 3

Figura 3- Esquema de aterramento IT


Fonte: ABNT (2004, pág. 17)

Instalações Elétricas
80 UNIDADE II

EQUIPAMENTO ELÉTRICO

O equipamento elétrico destina-se ao uso da eletricidade para realizar uma ou


mais funções elétricas, por exemplo, atuar na geração, transmissão ou distribui-
ção de energia elétrica. Além disso, também podem utilizar a energia elétrica
para realizar funções aplicadas a máquinas, transformadores ou dispositivos de
medição, proteção e controle. Há equipamentos elétricos que atuam na conver-
são de energia elétrica em outra forma de energia, como a energia térmica, a
energia mecânica, a energia sonora, etc. (Cotrim, 2003 p. 3).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Aparelho elétrico

Aparelho elétrico é o termo para designar determinados equipamentos de uso da ele-


tricidade e os equipamentos de medição, conforme os exemplos (Cotrim, 2003 p. 3):
■ Aparelho eletrodoméstico: São aparelhos de uso residencial, como máqui-
nas de lavar roupas, chuveiro, liquidificador, aspirador etc.
■ Aparelho eletroprofissional: São aparelhos destinados ao uso profissional
com eletricidade, por exemplo: máquinas de escrever elétricas, compu-
tadores, impressoras etc.
■ Aparelho de iluminação: São aparelhos destinados a iluminação de ambien-
tes, por exemplo: lâmpadas, reatores, luminárias e seus acessórios etc.

Linha elétrica

A linha elétrica é composta de um conjunto de um ou mais condutores e seus


elementos de fixação e proteção. Seu objetivo é transportar energia elétrica ou
transmitir seus sinais (Cotrim, 2003 p. 3).

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
81

Dispositivo elétrico

O dispositivo elétrico é aquele que exerce uma função dentro de um circuito elé-
trico, que pode ser de manobra, comando, proteção ou controle, podendo ser
parte integrante de uma unidade maior dentro da instalação.
Nas ações de manobra, os dispositivos atuam, comutando o acionamento
de máquinas e dispositivos, por exemplo. Podemos citar os disjuntores, chaves
seccionadoras e contatores como sendo dispositivos de comutação que realizam
manobras de circuitos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Ao atuar como comando, os dispositivos elétricos operam na ação des-


tinada a realização da manobra, enquanto que na proteção, os dispositivos
elétricos atuam automaticamente para proteger a instalação elétrica de pos-
síveis situações críticas, como sobrecargas, sobretensões, curto-circuito, etc.
Os dispositivos de controle atuam, estabelecendo o funcionamento de equipa-
mentos elétricos, de modo que exerçam suas funções em determinadas situações
que podem ser configuradas ou programadas de acordo com a necessidade.

Carga elétrica

A carga elétrica determina o regime de exigência, ao qual um circuito se submete,


ou seja, o tipo e a intensidade de esforço representada pela entidade acoplada
ao circuito, exigindo da instalação e da fonte de energia proporcional estrutura
para condicionar seu funcionamento pleno.
Há, basicamente, três tipos de cargas elétricas: resistivas, capacitivas e
indutivas.
As cargas resistivas são aquelas representadas pelos chuveiros elétricos, fer-
ros de passar, fornos elétricos etc. Na maioria dos casos, assumem a função de
elementos que convertem a energia elétrica em energia térmica.

Instalações Elétricas
82 UNIDADE II

Já as cargas capacitivas são utilizadas em circuitos, onde se deseja corrigir o


fator de potência e introduzem reatância capacitiva ao circuito. Normalmente,
são representadas por bancos de capacitores de correção de fator de potência.
Esse tipo de carga assume armazenamento de tensão e mesmo sem fornecimento
de energia, pode acumular tensão residual.
No caso das cargas indutivas, temos como exemplo os motores elétricos,
transformadores, eletroímãs, etc. Esse tipo de carga normalmente compreende
grande parcela de carga instalada em plantas industriais com máquinas movi-
das a motor elétrico e aponta para uma característica marcante: potência reativa.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Essa característica pode comprometer o sistema elétrico da empresa, uma vez que
atinge limite máximo imposto pela concessionária de energia e implica em multa.
O baixo fator de potência de motores elétricos e o superdimensionamento
de motores e transformadores podem causar o aumento de potência reativa, o
que pode ser minimizado com o uso de banco de capacitores de correção de
fator de potência.

POTÊNCIA INSTALADA

Assim como a carga elétrica, a potência instalada define todas as cargas dentro de
uma instalação elétrica em termos de potência total, levando em conta o consumo
de corrente de cada elemento associado a instalação e sua tensão de trabalho.
Um exemplo, seria realizar o levantamento da potência individual de cada
um dos dispositivos de uma instalação, desde iluminação até dispositivos como
chuveiros, motores, máquinas etc. e realizar sua soma de todos os elementos.
No Quadro 1, segue um exemplo da potência instalada em uma determinada
filial de uma empresa:

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
83

POTÊNCIA INSTALADA - FILIAL NORTE


Potência Potência do
Item Quantidade Descrição
individual (W) circuito (W)
1 75 Lâmpada LED - iluminação 50 3.750
2 16 Motor trifásico 3.000 48.000
3 10 Chuveiro elétrico 5.400 54.000
4 2 Forno elétrico 10.000 20.000
Aparelho de ar condicionado
5 7 1.600 11.200
12000 BTU
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Potência
    136.950
total (W):
Quadro 1 - Potência instalada do exemplo
Fonte: o autor

É válido lembrar que quando um dispositivo elétrico é novo, normalmente,


consome a potência definida pelo fabricante em sua etiqueta de identificação
e especificações elétricas, porém, ao longo de seu uso, os dispositivos podem
aumentar seu consumo de energia, por conta do desgaste natural das peças ou
condições de operação, tornando a monitoração da potência instalada dever de
grande importância para a sustentabilidade do processo.

Falta elétrica

O conceito de falta elétrica ou simplesmente fuga elétrica resume-se ao evento de


circulação de corrente elétrica por um caminho diferente do usual, podendo ser
para o potencial de terra (aterramento) ou através de outro elemento condutor
associado, como é o caso de condutores que se tocam e configuram o curto-cir-
cuito. Pode ocorrer de maneira direta (contato direto) acidental ou proposital.

Instalações Elétricas
84 UNIDADE II

A falha elétrica ocorre quando, por exemplo, há falta de isolação entre um


ou mais condutores e o potencial do condutor estabelece a corrente elétrica por
um caminho diferente do usual, por exemplo, quando os condutores de cobre
isolados por uma camada fina de esmalte aquecem excessivamente dentro de um
motor elétrico, atingindo temperatura que rompe a isolação, permitindo assim
que a corrente flua pelas chapas de metal do estator e através da carcaça do motor,
frequentemente, conhecido como “fuga para a carcaça ou terra”.
A falta pode ser configurada também quando ocorre um arco entre as par-
tes de potenciais diferentes e assim estabelece-se o fluxo de corrente.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Sobrecarga, sobrecorrente, sobretensão e curto-circuito

Os termos sobrecarga, sobrecorrente e sobretensão apresentam semelhança no que


se refere ao elemento em sua denominação “sobre” que remete a ultrapassar seu
limite seguro ou operacional para o qual foi projetado, assim, sobrecarga é confi-
gurado quando a carga acoplada a um circuito ultrapassa seu limite operacional,
por exemplo, o motor de uma bomba de recalque que em seu funcionamento nor-
mal teve seu eixo bloqueado e assim passou a exigir mais corrente para suprir a
demanda iminente, porém, sobrecarregando o sistema elétrico. Esse tipo de evento
pode causar o sobreaquecimento do enrolamento do motor e sua queima.
Para proteger a instalação elétrica contra sobrecargas são utilizados relés de
sobrecarga, que são equipados de um elemento bimetálico
capaz de se inflexionar quando determinada temperatura
ocorra nos condutores de potencial e com isso, ocorra a aber-
tura do circuito de comutação (desligamento do contator,
por exemplo), protegendo a instalação do evento
de sobrecarga. A Figura 4 apresenta um exemplo
de relé de sobrecarga utilizado no acionamento
de motores de indução trifásicos.

Figura 4: Relé de sobrecarga

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
85

A sobrecorrente tem a mesma conotação de sobrepor os limites operacionais,


nesse caso, no quesito corrente elétrica, pois quando um condutor assume mais
corrente que aquela para o qual foi projetado faz com que haja colisões demasiadas
entre os elétrons no condutor e, por consequência, tem-se o sobreaquecimento,
levando a ruptura da camada de isolação dos condutores.
Isso pode acarretar na fuga à terra ou no curto-circuito entre outros con-
dutores próximos. Um exemplo seria o motor da bomba anteriormente citado,
onde a corrente aumenta à níveis críticos por conta do bloqueio do eixo do motor
e assim, a corrente no enrolamento estatórico atinge patamares elevadíssimos,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

promovendo o aumento de temperatura dos condutores e, consequentemente,


pode ser detectado por um elemento bimetálico ou elemento fusível que atua para
proteger a instalação do evento ao qual se sujeita. Os fusíveis e os disjuntores são
exemplos de dispositivos de proteção contra sobrecorrente elétrica (Figura 5).

(a) (b) (c)


Figura 5- Dispositivos de proteção contra sobrecorrente - (a) fusíveis e (b) disjuntor.

Para reunir em um só dispositivo ação de proteção contra sobrecarga e sobre-


corrente, foi desenvolvido o disjuntor-motor, que atua de acordo com o relé de
sobrecarga e conforme o disjuntor, protegendo a instalação quando ocorra um
dos dois eventos, sobrecarga ou sobrecorrente, respectivamente, além de prote-
ger também contra eventos de curto-circuito. A Figura 6 apresenta um exemplo
do uso de disjuntor-motor.

Instalações Elétricas
86 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 6- Disjuntor-motor.

Quando ocorre o evento de sobrecorrente, o elemento fusível atua, fundindo


seu elo fusível e torna-se inutilizado (à menos que seja recondicionado), neces-
sitando ser substituído. Já o disjuntor pode ser rearmado e atua na proteção
sempre que houver sobrecorrente, sem a necessidade de substituição. No caso
do disjuntor-motor, este dispositivo substitui os fusíveis e o relé de sobrecarga,
pois contempla a proteção contra sobrecorrente, curto-circuito e sobrecarga.
A sobretensão é quando a tensão atinge níveis elevados, acima de seus limi-
tes operacionais, podendo resultar na ruptura da isolação entre os condutores ou
em danos a componentes associados ao circuito. Esse evento pode ser resultado
de contato entre condutores, quando um condutor de potencial elevado entra em
contato com outro condutor de menor potencial, fazendo com que um valor de
tensão acima do desejado para o referido circuito seja aplicada, causando danos
aos dispositivos a ele associados.
É frequente registrar eventos de sobretensão quando motores de elevadas
potências são desligados de maneira abrupta, causando oscilações na tensão
da rede ou até mesmo quando ocorrem descargas atmosféricas que atingem
os condutores de eletricidade, levando potenciais de tensão elevadíssimos aos
dispositivos, causando danos irreversíveis.

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
87

Para minimizar os danos causados pela sobretensão, existem dispositivos


capazes de monitorar o referido evento e seccionar o circuito para proteger as
instalações e dispositivos associados. São os conhecidos monitores de fase ou
relés de falta de fase, que atuam monitorando os níveis de tensão e comparando-
-os com valores limite, sobre os quais a rede deve atender, caso ocorra evento de
sobretensão, por exemplo, um contato muda de estado e o elemento de comuta-
ção (contator, por exemplo) é desligado, protegendo assim as instalações elétricas.
É bastante difundido seu uso nos eventos de falta de fase, ou seja, quando uma
das fases não está presente ou apresenta potencial abaixo do normal. A Figura
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

7 apresenta um exemplo de monitor de fase.


Outro dispositivo aplicado a eventos de sobretensão, mas aplicável a even-
tos transitórios e descargas atmosféricas, é o varistor. Este componente é capaz
de operar com a tensão da rede no sentido de conduzir os potenciais excessivos
para o terminal de terra, o seja, desviam para o eletrodo de aterramento todo
potencial acima da tensão da rede, com isso, apenas a tensão de operação é trans-
ferida para a carga.
Os varistores ou supressores de surto
apresentam curva de atuação em velocidade
muito elevada, podendo atender a deman-
das da ordem de nano segundos, com isso,
transitórios de tensão (oscilações de tensão)
que ocorram muito rapidamente podem ser
desviados para o aterramento por meio desse
dispositivo de proteção. A Figura 8 (a) apre-
senta um diagrama, contemplando o exemplo
de uma instalação elétrica com dispositivos
de proteção contra sobretensão (supresso-
res) denominado de proteção em três níveis
para fornecimento de energia, tipo 1 e tipo
2 instalados separadamente e tipo 3. Já em
(b), há uma foto com exemplos desses dis-
positivos (Contact, 2014).
Figura 7- Monitor de fase ou relé de falta de fase

Instalações Elétricas
88 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
(a)

(b)
Figura 8- Proteção em três níveis para fornecimento de energia, tipo 1 e tipo 2 instalados separadamente e
tipo 3 – (a) diagrama elétrico e (b) fotos dos dispositivos físicos (Contact, 2014 p. 12).

O evento de curto-circuito é uma situação em que ocorre uma corrente de falta


entre dois condutores, em outras palavras, há circulação de corrente em baixa
impedância “Z” (baixa resistência “R” à circulação dos elétrons), o que resulta em
alta amplitude de corrente, pois, se a impedância tende a zero, a corrente tende
ao infinito, dada uma tensão “V”, de acordo com a Equação 1:

V V
I= =
R Z

Fazendo I tendendo ao infinito (I → ∞), temos:

V
I →∞=
Z →0

Equação 1

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
89

“Se a impedância entre os condutores tende à zero, a corrente tende ao infinito”.


Assim, durante o curto-circuito, a corrente de falta que flui em baixa impedân-
cia entre os condutores tende a valores elevados e precisam ser limitados para que
a instalação elétrica mantenha sua integridade. Para proteger as instalações elétri-
cas de eventos de curto-circuito, utilizam-se normalmente fusíveis e disjuntores.

Corrente diferencial-residual ( I DR )

A corrente diferencial-residual, representada pela sigla IDR é pela definição:


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

“a soma dos valores instantâneos das correntes que percorrem


todos os condutores energizados (vivos) do circuito considera-
do, em dado ponto P” (Cotrim, 2003 p. 5).

Em resumo, para a leitura do estudante de Engenharia de Produção, consi-


dere que, em um sistema trifásico, temos três fases A, B e C, além do condutor
Neutro (N) Figura 9:

Figura 9- Sistema trifásico (Fonte: Autor).

Devemos reconhecer que no ponto P a soma das correntes I1, I2, I3, e IN deve
ser igual a zero (Equação 2), assim a corrente diferencial residual é igual à zero:

I1 + I 2 + I 3 + I N = 0

Equação 2: Corrente no sistema trifásico


Caso a soma das correntes da Equação 1 for diferente de zero, significa que há
corrente diferencial-residual “IDR”, ou seja, há corrente de fuga ou de falta entre
uma das fases e a terra. Assim, podemos afirmar que (Equação 3):

I DR = I1 + I 2 + I 3 + I N

Equação 3: Corrente diferencial-residual.


Instalações Elétricas
90 UNIDADE II

Na prática, o ponto P pode ser uma pessoa que acidentalmente tem contato
com um dos condutores energizados (vivos) e quando a corrente circula através
de seu corpo até a terra, onde o mesmo está apoiado sobre seus pés, atinge deter-
minado valor que pode ser letal. Para proteger as pessoas desse efeito, existe um
dispositivo denominado Disjuntor “Diferencial-Residual”, ou simplesmente “DR”.
Esse dispositivo é instalado na entrada de alimentação de uma edificação
e monitora a corrente de fuga entre os condutores alimentadores e a terra. Na
iminência de fuga de corrente para a terra, em caso de choque elétrico ou mal
funcionamento de um equipamento elétrico ou eletrônico, este DR atua de modo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a desenergizar a rede elétrica da edificação, protegendo assim as pessoas con-
tra choques elétricos.

Um caso curioso ocorre quando um chuveiro elétrico comum é instalado


em uma instalação que tenha DR. Caso a resistência do chuveiro não seja
blindada, ocorrem fugas entre as fases e a terra e o disjuntor atua para pro-
teger o sistema impedindo o funcionamento do chuveiro, logo, em instala-
ções com DR, recomenda-se o uso de chuveiros com resistências blindadas.
Fonte: o autor

Sistemas Elétricos de Potência (SEP)

O Sistema Elétrico de Potência (SEP) é composto dos segmentos de Geração,


Transmissão e Distribuição de energia elétrica. Toda a infraestrutura necessária
para gerar, transportar e entregar a energia elétrica produzida ao usuário final,
doméstico ou corporativo está envolvido pelo SEP. Quando a energia é gerada
na usina, ela é transmitida pelas linhas de transmissão e chega até as subestações
nas cidades, onde poderá ser distribuída para uso dos clientes (usuários domés-
ticos ou empresas, por exemplo).

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
91

Na matriz energética brasileira, a mais tradicional forma de se gerar ener-


gia é a partir de usinas hidroelétricas, porém, há outras fontes de energia que se
dividem em usinas termoelétricas, parques eólicos, usinas solares, usinas nucle-
ares, micro geração com biodigestores, etc.
As políticas nacionais evoluíram (talvez tardiamente) com relação ao uso das
energias renováveis, no sentido de explorar o potencial energético da geração eólica
e solar, mas ainda muito deve ser feito para avançarmos no uso de aerogerado-
res (geradores eólicos) e sistemas à base de painéis solares, por exemplo, no que
chamamos de bitributação ou ICMS que é tributado (praticamente) duas vezes,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

que ocorria na maioria dos estados brasileiros e que atualmente está diminuindo,
de forma a tornar mais viável o investimento e as novas alternativas energéticas.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 10- Geração de energia: (a) usina nuclear, (b) usina eólica, (c) usina solar e (d) usina hidroelétrica.

No processo de geração de energia elétrica, devemos reconhecer também as


demandas de geração a partir de cogeração de energia, com base no aproveita-
mento de resíduo industrial, como, nas usinas de álcool e açúcar, que processam
a cana de açúcar para produção de álcool e açúcar. O resíduo e o bagaço de cana
que, em outro momento da história, eram considerados um problema para se

Sistemas Elétricos de Potência (Sep)


92 UNIDADE II

eliminar e gerava custos de descarte, hoje, é utilizado como combustível para


as caldeiras que acionam a turbina do gerador de eletricidade. Eletricidade essa
que alimenta o próprio processo em termos elétricos e seu excedente chega a ser
comercializado, alimentando pequenas cidades próximas à localidade da usina.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A energia elétrica que utilizamos na atualidade é comercializada sob altos
custos, dado aos métodos e fontes disponíveis, sendo de uso restritivo e li-
mitado ao poder aquisitivo das pessoas. Quais seriam outros métodos que
poderiam possivelmente substituir no futuro as fontes atuais de energia elé-
trica de maneira sustentável e acessível a todos?
Fonte: o autor.

No que tange os sistemas de transmissão de energia elétrica, entendemos o pro-


cesso de conduzir a eletricidade para as localidades onde serão condicionadas
a potenciais de distribuição. No processo de transmissão, a energia elétrica per-
corre o caminho entre a usina geradora de energia e a sua cidade e para vencer
toda essa distância é que o potencial elétrico é elevado, pois, quanto menor a
corrente, menor também será a área de seção transversal do condutor, ou seja,
se a corrente for menor, os condutores serão mais finos e com isso, mais baratos.
Por outro lado, para se conseguir uma diminuição, no diâmetro dos condu-
tores, é preciso aumentar a tensão elétrica, isso exige isolações maiores e com
isso os condutores de transmissão são posicionados em linhas elevadas, supor-
tadas por torres de transmissão, conforme mostrado na Figura 11.

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
93
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 11- Torres de linhas de transmissão de energia elétrica.

Assim como o formato da eletricidade que recebemos em nossas residências, a


eletricidade é transportada quase que em toda a sua totalidade da usina até nos-
sas cidades em corrente alternada, pois é o formato mais econômico e, portanto,
mais eficiente de transmitir energia elétrica na maioria dos casos, entretanto, há
linhas de transmissão em corrente contínua, como é o caso do “Elo de corrente
contínua” com sistema de transmissão formado por duas linhas, conduzindo
±600 kV (600 mil volts) gerados em corrente alternada e convertidos para cor-
rente contínua antes de serem transmitidos.
A extensão da linha do elo de corrente contínua é de aproximadamente 810
km e percorre a distância entre as subestações de Foz do Iguaçu (PR) e Ibiúna
(SP). Como a distribuição é feita em corrente alternada para uso dos consumi-
dores, a conversão de corrente alternada para corrente contínua (CA/CC) é feita
por meio de oito conversores em cada subestação. Esse sistema começou a operar
em 1984. A Figura 12 apresenta o aspecto de uma subestação de energia elétrica.

Sistemas Elétricos de Potência (Sep)


94 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 12- Subestação de energia - fim das linhas de transmissão e início da distribuição.

Quando a energia é transmitida, os potenciais variam desde sua geração até sua
distribuição, apresentando as seguintes opções (Cotrim, 2003):
■ Potencial de geração: 12 kV a 24 kV;
■ Potencial de Transmissão: 138 kV a 735 kV (grandes consumidores);
■ Potencial de Sub-transmissão 23 kV a 138 kV (cidades menores ou indús-
trias de médio porte);
■ Potencial de distribuição industrial: 4,16 kV a 34,5 kV (pequenas indús-
trias e shoppings);
■ Potencial de distribuição residencial: menor que 1000 V (residências,
microempresas e comércio).
Quando o assunto é distribuição, podemos concluir, por meio das informações
acima, que os potenciais entregues às empresas são elevados e significam ponto
de atenção com a segurança nessas áreas.
É a distribuição, dentro do SEP, que entrega e mantém funcionando a energia
elétrica para permitir que sua vida funcione conforme o esperado, nos potenciais
de nossos eletrodomésticos, dispositivos eletrônicos, computadores, iluminação
etc. Para conseguir que os potenciais se ajustem aos padrões dos equipamentos
domésticos, é necessário que haja conversão de potenciais, para isso utilizamos
transformadores de distribuição, conforme mostra a Figura 13.

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
95

No Brasil, é comum que os transforma-


dores de distribuição sejam fornecidos
para converter a tensão de 13,8 kV em
tensões de 220 V medidas entre as fases
e 127 V medidas entre uma fase e o con-
dutor neutro, dependendo da região do
país, por exemplo, no estado do Paraná
a tensão encontrada nas tomadas da
maioria das residências é de 127 V, já
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

em Santa Catarina, a tensão é normal-


mente de 220 V (Kagan, et al., 2005).
Normalmente, nos casos onde o
sistema é de 127 V, o terminal neutro
(N) é aterrado (secundário do trans-
formador ligado em estrela), assim,
o retorno de qualquer potencial que
entre em contato com o condutor
neutro será conduzido para a terra
(Cotrim, 2003). Figura 13: Transformador de distribuição de energia elétrica

NOÇÕES DE LUMINOTÉCNICA

Imagine-se estudando, lendo um bom livro, preparando-se para uma avaliação


em uma sala silenciosa e climatizada (Figura 14), uma mesa ajustada e espa-
çosa, sentado em uma poltrona confortável, tempo, clima e silêncio ideais, mas,
imagine que a luz não está adequada. Há pouca luminosidade! Infelizmente a
leitura não será das melhores. Pensando nesse aspecto como exemplo, essa lei-
tura deve indicar alguns pontos importantes para o entendimento de algumas
tecnologias e suas aplicabilidades.

Noções de Luminotécnica
96 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 14- Sala de estudo - iluminação deve ser adequada a leitura.

A Luminotécnica é a área da eletricidade que estuda os sistemas de iluminação,


baseado nas características de cada ambiente a ser iluminado e nas tecnologias
disponíveis a serem aplicadas, respeitando-se normas que definem a intensidade
de iluminação que cada ambiente deve oferecer para permitir as ações espera-
das em cada situação.
Alguns termos indispensáveis devem ser definidos para o entendimento dos
assuntos dessa seção:
■ Eficiência Luminosa: É a relação entre o fluxo luminoso emitido pela
lâmpada e a potência consumida. Sua unidade de medida é o lm/W e o
seu símbolo é “n” (EMPALUX, 2018).
■ Intensidade Luminosa: É a quantidade de luz emitida por uma fonte
luminosa em uma determinada direção. Utilizada em lâmpadas refletoras,
onde a intensidade luminosa está ligada ao ângulo do fecho. Sua unidade
de medida é a Candela - Cd cujo símbolo é “I” (EMPALUX, 2018).
■ Fluxo Luminoso: É a quantidade de luz emitida por uma lâmpada em
todas as direções. Sua unidade de medida é o lúmen (Im) e seu símbolo
é “O” (EMPALUX, 2018). Corresponde à quantidade de luz produzida
em 1 segundo por uma radiação eletromagnética com X = 555 nm e fluxo
radiante de 1/680 W (Cotrim, 2003 p. 437).
■ Iluminância: É a quantidade de luz que chega a um ponto. Sua unidade
de medida é o Lux e seu símbolo é “E”.

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
97

A luminária é o aparelho que reúne todos os recursos para que a luz seja pro-
duzida na intensidade e direção desejada. Para isso, contempla toda a estrutura
mecânica e elétrica para fixação e manutenção adequadas.
O dimensionamento da quantidade de elementos necessários em um dado
ambiente depende das necessidades específicas e recomendadas pela norma NBR
5413, conforme o Quadro 2 (ABNT, 1992) e não será detalhado nesse livro por
exigir pré-requisitos técnicos do curso de Engenharia Elétrica, sendo, portanto,
abordadas nessa seção as informações mais relevantes de orientação ao profis-
sional da área de Engenharia de Produção.
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Há métodos utilizados para determinar o número de luminárias em cada


área, levando em conta sua classificação, conforme o Quadro 2, que dependem
da tecnologia da luminária escolhida, por exemplo, se o ambiente exige o uso de
lâmpadas LED ou mesmo de lâmpadas de vapor de mercúrio. Para tanto se faz
necessário conhecer um pouco sobre cada tecnologia em uso.
Quadro 2: Iluminância por classe de tarefas visuais
ILUMINÂNCIA POR CLASSE DE TAREFAS VISUAIS
CLASSE ILUMINÂNCIA (lux) Tipo de atividade
20 - 30 - 50 Áreas públicas com arredores escuros
A Orientação simples para permanência
50 - 75 - 100
(Iluminação geral para curta
áreas usadas Recintos não usados para trabalho
100 - 150 - 200
interruptamente ou contínuo; depósitos
com tarefas visuais Tarefas com requisitos visuais limita-
simples) 200 - 300 - 500 dos, trabalho bruto de maquinaria,
auditórios
Tarefas com requisitos visuais nor-
500 - 700 - 1000 mais, trabalho médio de maquinaria,
B
escritórios
(Iluminação geral para
Tarefas com requisitos especiais,
área de trabalho)
1000 - 1500 - 2000 gravação manual, inspeção, indústria
de roupas.
Tarefas visuais exatas e prolongadas,
2000 - 3000 - 5000
C eletrônica de tamanho pequeno
(Iluminação adicional para Tarefas visuais muito exatas, monta-
5000 - 7500 - 10000
tarefas visuais difíceis) gem de microeletrônica
10000 - 15000 - 20000 Tarefas visuais muito especiais, cirurgia
Fonte: ABNT, 1992 (on-line)

Noções de Luminotécnica
98 UNIDADE II

TIPOS DE LÂMPADAS

Nessa seção serão apresentados os principais tipos de lâmpadas utilizados na


atualidade e suas principais características e aplicações.

• Lâmpada incandescente

Este tipo de lâmpada é sem dúvida o mais tradicional modelo encontrado na


maioria das residências há décadas e que nos últimos anos veio sendo substitu-

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ída por modelos mais eficientes.
É composta de base, bulbo, filamento e demais suportes inter-
nos confinados com o gás. O filamento é espiralado e
fabricado em Tungstênio devido ao alto ponto
de fusão e baixo ponto de evaporação que lhe
conferem a maior eficácia sobre a maioria
dos metais. A Figura 15 apresenta uma lâm-
pada incandescente comum.
A luz nesse tipo de lâmpada é resul-
tado do aquecimento do filamento de
Tungstênio que é percorrido pela corrente
elétrica e atinge elevada temperatura em con-
tato com os gases Nitrogênio ou Argônio (que
são normalmente usados na fabricação desse tipo
de lâmpada). Já o Criptônio é um tipo de gás inerte
que apresenta menores perdas, mas seu uso é restrito
a lâmpadas especiais por conta de seu custo elevado.
O material da sua base é geralmente alumínio,
níquel ou latão e pode ser roscado (identificado pela
letra “E” de Edison) ou do tipo baioneta (identificado
pela letra “B” (Cotrim, 2003 p. 441 a 442)). Figura 15 - Lâmpada incandescente.

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
99

• Lâmpadas de descarga

As lâmpadas de descarga emitem luz por conta da contínua descarga elétrica em


um gás ou vapor ionizado. Em alguns casos, há a combinação com a lumines-
cência de fósforos, que são excitados pela radiação da descarga (Cotrim, 2003 p.
442). Este tipo de lâmpada exige o uso de limitador de corrente ou reator asso-
ciado ao seu circuito.
Nas lâmpadas de descarga há eletrodos de Tungstênio e um metal emissivo,
além do gás (que pode ser a base de mercúrio ou sódio, por exemplo), o qual
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preenche seu bulbo de vidro alcalino-silicato transparente (no caso de lâmpa-


das de baixa pressão de mercúrio ou fluorescentes tubulares).
Para seu acionamento é necessário o uso de um reator que tem como obje-
tivo limitar a corrente elétrica de seu acionamento além de utilizar ignitores ou
starters que facilitam a ionização do gás dentro do bulbo, facilitando a condu-
ção de elétrons e, consequentemente, a emissão de luz. A Figura 16 apresenta
uma lâmpada de descarga típica.

• Lâmpada fluorescente tubular

Em uma lâmpada fluorescente tubu-


lar, a luz é produzida pela ativação
de pós fluorescentes, por meio da
energia ultravioleta da descarga no
interior do bulbo.
Normalmente, o formato de seu
bulbo é tubular e longo, apresentando um
eletrodo em cada extremidade e confina vapor
de mercúrio sob baixa pressão, junto de uma pequena
quantidade de gás inerte para facilitar a partida.

Figura 16- Lâmpada


de descarga

Noções de Luminotécnica
100 UNIDADE II

A composição do pó fluorescente ou fósforo que reveste


as paredes interiores desse tipo de lâmpada determinam a cor
da luz emitida e sua faixa de potências pode variar entre 15
até 110 W, podendo ou não necessitar de ignitor. A Figura
17 apresenta uma lâmpada fluorescente tubular.
Nesse tipo de lâmpadas, são utilizados reatores que, atual­
mente, apresentam rentabilidade superior, pelo fato de serem
eletrônicos e aplicarem sinal de alta tensão, em fre­quência
mais intensa, acionando a lâmpada mais rápido e com maior

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rendimento, comparado aos mode­los tradicionais.

• Lâmpada fluorescente compacta

Esse tipo de lâmpada contempla várias características da lâm-


pada fluorescente tubular, com a vantagem de ter apenas uma
base de fixação, as características positivas da lâmpada incandes-
cente, porém, consumindo menos energia com maior eficiência
energética e luminosa, pois converte mais energia elétrica em
luz do que em aquecimento.
A partir de meados de 1998, no Brasil, as pessoas passa-
ram a substituir suas lâmpadas incandescentes por modelos
fluorescentes compactas e, depois desse momento, vários
modelos mais eficientes e menores foram sendo lançados. É
bastante comum que na embalagem do produto sejam dis-
ponibilizadas pelo fabricante dados comparativos entre a
potência necessária em uma lâmpada fluorescente compacta
para equivaler à uma lâmpada incandescente e é notório que
Figura 17- Lâmpada fluorescente
tubular.

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
101

uma lâmpada incandescente que consuma 100


W produza a mesma intensidade luminosa que
uma lâmpada fluorescente compacta de 24 W,
por exemplo. A Figura 18 mostra alguns mode-
los de lâmpadas fluorescentes compactas.
Este modelo normalmente está disponí-
vel entre as faixas de potência entre 5 e 55 W1
(Cotrim, 2003 p. 444).
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• Lâmpada a vapor de mercúrio Figura 18- Lâmpada fluorescente compacta.

Esse tipo de lâmpada é comum ser encon-


trado nas faixas de potências entre 80 e 1.000
W. Utiliza um reator para seu acionamento
e apresenta dois eletrodos (principal e auxi-
liar) unidos por meio de um resistor que
emite luminescência suficiente para ionizar
o gás interno e iniciar a descarga. A Figura
19 mostra um exemplo de lâmpada de vapor
Figura 19- Lâmpada a vapor de mercúrio.
de mercúrio e sua utilização.
Este tipo de lâmpada normalmente é utilizado na iluminação pública, mas
atualmente, os atuais programas de eficiência energética estão substituindo esse
modelo por lâmpadas mais eficientes, como a lâmpada LED, por exemplo.
Esse tipo de lâmpada não reproduz as cores com riqueza, pois o arco do de
mercúrio emite boa parte de sua energia luminosa na região do espectro lumi-
noso de ultravioleta. Artifícios como utilizar revestimento de fósforo no interior
de seu bulbo produz um componente vermelho que melhora a reprodução de
cor (Cotrim, 2003 p. 445).

1
Referência que pode sofrer alterações de acordo com a necessidade de cada fabricante, atualizando a faixa
de oferta de potências comerciais.

Noções de Luminotécnica
102 UNIDADE II

Figura 20- Lâmpada de vapor


• Lâmpada de vapor metálico metálico
Fonte: Philips (2018, on-line)

Essa tecnologia de lâmpadas apresenta


as características das lâmpadas de mer-
cúrio, porém, para aumentar sua eficácia e
a reprodução de cores, é adicionado iodeto em
sua construção, como é o caso do índio, tálio e sódio.
Na Figura 20, é possível ver um exemplo de lâmpada de
vapor metálico.

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Sua utilização é dedicada a iluminação de ambientes como está-
dios e vias públicas em centros de cidades, onde há a necessidade de
realçar detalhes e cores com nitidez e a faixa de potências para esse modelo de
lâmpada é de 400 a 2000 W (Cotrim, 2003 p. 445).

• Lâmpada de luz mista

Trata-se de uma arquitetura mista entre lâmpada incandescente e lâmpada de


descarga, pois apresenta filamento e eletrodo dentro de um bulbo de vidro reves-
tido com fósforo e preenchido com gás. Essa lâmpada emite luz agradável dado
a soma das características do filtro exercido pela camada de fósforo com o aque-
cimento estabelecido pelo filamento (Cotrim,
2003 p. 445). Sua aparência pode ser vista em
um modelo mostrado na Figura 21.
Este tipo de lâmpada não requer rea-
tor para seu acionamento e deve ser ligada
diretamente à rede elétrica, assim como uma
lâmpada incandescente comum. Figura 21- Lâmpada de luz mista
Fonte: Philips (2018, on-line)

• Lâmpada de sódio de alta pressão

Este tipo de lâmpada utiliza sódio, mercúrio e xenônio, no interior de seu bulbo
de vidro, que atuam na limitação e estabilização da luz, além da condução do
calor produzido.

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
103

Para suportar a temperatura de 700 ºC, no vapor de


sódio, é utilizado vidro duro e componentes internos
de alumínio sinterizado e sua utilização se dá, prin-
cipalmente, em iluminação pública em alturas
elevadas, dado a sua capacidade de operar em Figura 22- Lâmpada de
sódio de alta pressão
faixas satisfatórias de reprodução de cores e Fonte: Philips (2018,
intensidade luminosa (Cotrim, 2003 p. on-line)

445). A Figura 22 apresenta o aspecto


físico desse tipo de lâmpada.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

• Lâmpada LED

A mais inovadora e revolucionária tecnologia dos últimos anos, no que se refere


a iluminação, sem dúvidas é a tecnologia de lâmpadas LED. LED que significa
“Diodo Emissor de Luz” e que foi adaptado ao uso como lâmpada nos últimos
anos e já ocupa lugar de destaque nas residências e prédios corporativos, além
de ambientes públicos com abrangência mundial. A Figura 23 apresenta mode-
los que ilustram a ideia de lâmpada LED.

(a) (b) (c)


Figura 23- Lâmpada LED.

Há, entretanto, diversos tipos de invólucros para essa tecnologia de lâmpadas, sendo
que diferentes aplicações determinam seu aspecto, variando desde uso em residências,
faróis de veículos automotores, iluminação pública, lanternas até mesmo equipamen-
tos médico-hospitalares (Figura 24).
As vantagens do uso da lâmpada LED estão associadas ao seu baixo con-
sumo de energia, eficiência luminosa, vida útil, tamanho reduzido, resistência
mecânica, baixa dissipação de calor, etc.

Noções de Luminotécnica
104 UNIDADE II

Com relação ao custo ainda há muito o que


melhorar, pois ainda se trata de um item fabricado
essencialmente no exterior e por esse motivo há tari-
fas que incidem sobre a importação do produto, mas
com o fortalecimento das indústrias e de fornecedores
nacionais certamente será mais interessante a relação
de custo-benefício desse tipo de tecnologia de lâmpada.

• Lâmpadas: Características importantes

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A Figura 25 (EMPALUX, 2018) apresenta uma relação
da eficiência luminosa em diferentes tipos de lâmpa-
das. Observe que uma lâmpada incandescente tem a
capacidade de produzir uma taxa de luz por unidade
de potência na ordem de 10 a 15 lm/W, enquanto que
uma lâmpada de vapor de sódio consegue produzir
de 80 a 150 lm/W, isso significa que a eficiência de
cada tipo se justifica pela tecnologia utilizada, rela-
Figura 24- Exemplo de iluminação pública
ção custo, benefício, aplicação e etc. que devem ser utilizando-se lâmpada LED.

avaliados em cada caso.

150
80 a 150
140 70 a 130
130
120
110 75 a 100
100
50 a 100
90
80
70
60 45 a 55
50
40 20 a 35
30 15 a 25
20 10 a 15
10
0
lm/W LED Vapor de Vapor de Vapor Luz mista Fluores- Halógenas Incandes-
sódio mercúrio metálico centes centes
Figura 25- Eficiência Luminosa em lâmpadas
Fonte: EMPALUX (2018, on-line)

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
105

Analisando em termos de vida útil, que se define como a expectativa de durabi-


lidade de uma fonte luminosa, considera-se que o fim da vida útil de uma fonte
luminosa ocorre em torno de 70% do seu fluxo luminoso (EMPALUX, 2018). Veja
como é a vida útil para cada uma das tecnologias abordadas nessa sessão (Figura 26):

20.000h a 28.000h a
32.000h
32.000h 32.000h
30.000h
28.000h
26.000h
24.000h
24.000h
22.000h
20.000h
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

18.000h
16.000h 15.000h
14.000h
12.000h
10.000h 6.000h a
10.000h
8.000h
8.000h
6.000h
1.500h a 750h a
4.000h
2.000h 1.000h
2.000h
0h
lm/W LED Vapor de Vapor de Vapor Luz mista Fluores- Halógenas Incandes-
sódio mercúrio metálico centes centes
Figura 26- Vida útil de uma fonte luminosa
Fonte: EMPALUX (2018, on-line)

Note que a lâmpada LED oferece vida útil entre 20.000 h e 32.000 h, enquanto que
as lâmpadas incandescentes oferecem no máximo 1000 h de tempo de vida útil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na unidade 2 deste livro, abordamos assuntos relacionados às instalações elétri-


cas e às normas técnicas que regem seu dimensionamento e utilização, fatores
primordiais a serem respeitados para trabalhos em eletricidade.
Para finalizar, foram expostos conceitos relacionados à Luminotécnica, com
vistas aos dados que se fazem relevantes a um Engenheiro de Produção, no que
se refere ao sistema de iluminação a ser utilizado.
Certamente, já passamos por momentos em que a energia elétrica foi inter-
rompida por motivos de mal tempo ou um acidente qualquer que deixou o bairro

Considerações Finais
106 UNIDADE II

ou mesmo parte da cidade, por longas horas, sem energia elétrica. Este fenô-
meno nos faz refletir o quanto somos adaptados e dependentes da eletricidade
e de nossos equipamentos.
Quando alguma parte do processo de geração, transmissão ou de distribui-
ção de energia deixam de funcionar corretamente, passamos por transtornos que
podem interferir, até mesmo, na maneira com que nos comunicamos atualmente,
pois a internet pode deixar de funcionar, o telefone (embora tenha sistema de
baterias e gerador diesel na central telefônica) pode interromper suas atividades
e, com isso, o conforto de uma vida no século XXI passa a parecer mais com o

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
século XVIII, em que não havia luz elétrica, porém, naquele tempo, as pessoas
estavam preparadas para isso e, hoje, não estamos.
A mesma ideia se aplica aos sistemas de iluminação que trazem a claridade
as nossas ruas e casas e correspondem a uma despesa significativa para usuá-
rios domésticos e industriais. É também um dos principais motivos que leva o
governo a impor o horário de verão, que se aplica para que o consumo de energia
elétrica da iluminação pública não coincida com o momento em que a maioria
das pessoas está em casa tomando banho.
É importante ressaltar que os tipos de sistemas de iluminação que estudamos,
nesta unidade, permitem a seleção pela tecnologia mais sustentável, de modo
que converta a maior parte da energia consumida em energia útil ou, neste caso,
luz, pois, o uso das lâmpadas é na maioria dos casos de longo prazo e na medida
em que podemos optar por tecnologias mais eficientes, optamos por instalações
que respeitam o meio ambiente e, assim, podem ser sustentáveis.
Todos esses assuntos foram trabalhados para dar sequência nas demais uni-
dades, deste livro, que pretende oferecer as noções fundamentais de Eletrotécnica
e Eletrônica.

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS
107

1. Em uma instalação elétrica residencial uma criança tocou com o dedo na toma-
da e recebeu choque elétrico e o dispositivo DR atuou, desligando a rede para
proteger a vida da criança. Descreva como o dispositivo DR detectou o evento
de choque elétrico.
2. O aterramento elétrico está presente na maioria das instalações elétricas e
deve seguir o que está previsto na norma NBR 5410. De acordo com os concei-
tos de aterramento elétrico, é correto afirmar que:
a) O aterramento elétrico se aplica apenas em casos onde a carga instalada
ultrapassa os 22 MW.
b) Deve ser implementado em todas as instalações.
c) Só devem ter aterramento elétrico os imóveis com data de construção pos-
terior a 2015.
d) Os esquemas de aterramento mais frequentes são o TNC-IT e o TTNCS.
e) A haste de aterramento só pode ser fabricada em latão, pois, é considera-
do um ótimo condutor e não oxida em contato com o solo, enquanto que
o cobre não permite essa utilização por conta da ferrugem provocada em
contato com o solo.
3. Quando um indivíduo entra em contato direto com uma das fases de uma insta-
lação elétrica pode haver a circulação de corrente para o circuito de terra, resul-
tando em graves danos quando o fluxo da corrente atinge órgãos vitais do corpo.
Sobre os conceitos relativos a corrente diferencial-residual, é correto afirmar que:
a) Os efeitos do choque diminuem se o indivíduo utilizar luvas e calçados iso-
lados, pois são feitos de materiais que dificultam a circulação de corrente
elétrica.
b) A corrente que circula no ato do choque não importa e sim a tensão, pois a
corrente não circula por tecido humano, apenas a tensão elétrica.
c) A corrente diferencial é aquela medida entre uma fase e o neutro da instala-
ção e não inclui o terminal de aterramento.
d) Os dispositivos capazes de proteger as pessoas de choques elétricos são de-
nominados de DRs, que significam Disjuntores Reversos e seu uso é obriga-
tório segundo a NBR 5410.
e) A corrente diferencial-residual é a soma das correntes das fases multiplicada
pela corrente do neutro de uma instalação.
108

4. O uso de aterramento elétrico em uma instalação residencial pode evitar cho-


ques elétricos quando pessoas entram em contato com seus eletrodomésti-
cos, como no caso de chuveiros, refrigeradores e máquinas de lavar. Em caso
de uma descarga atmosférica que atinge um poste e seus condutores, o que
ocorreria a uma pessoa que está tomando banho em um chuveiro de 5400 W
alimentado em 127 V sem o devido aterramento?
5. Assinale a alternativa que apresenta o valor da corrente que circulará pela re-
sistência do chuveiro da questão 4, considerando que o potencial do raio é de
500.000.000 V.
a) 358,78.108 A.
b) 28,3.1088 A.
c) 1.67,108 A.
d) 0,735.105 A.
e) 13,4.106 A.
6. Assinale a alternativa que apresenta o valor da potência dissipada no chuveiro,
no momento da descarga atmosférica da questão 5.
a) 12,876.1012 w.
b) 33,585.1016 w.
c) 1,133.1015 w.
d) 138,44.1023 w.
e) 8,389.1016 w.
109

A relação entre a área de Engenharia de Produção e a geração de energia elétrica é bas-


tante próxima, uma vez que tendo a eletricidade como um tipo de energia e, sendo
assim, há custos para que essa grandeza possa se manter dentro dos patamares dese-
jados, podemos tratar a energia elétrica como um recurso e, sendo assim, esse recurso
precisa ser gerido de maneira responsável, logo, o uso de energia elétrica deve ser feito,
respeitando-se os limites sustentáveis, com planejamento e ações voltadas a preservar
a integridade operacional que o uso eficiente da energia elétrica prevê.
No que tange aos sistemas de geração de energia elétrica, devemos observar que há uma
série de ações propostas a ajudar na análise de viabilidade ou manutenção dos sistemas
produtivos existentes, estabelecendo o equilíbrio entre a maximização da produção e ao,
mesmo tempo, a minimização das despesas relacionadas ao consumo de energia.
Pensando no aspecto sustentável aplicado aos sistemas de geração de energia, é preci-
so levar em consideração os custos relacionados a aquisição de insumos que permitam
a conversão de energia a partir de elementos naturais, como o vento ou a energia so-
lar, porém, os recursos tecnológicos existentes apresentam custo elevado e rendimento
baixo, o que nem sempre é viável, logo, devem ser realizadas análises para apurar a via-
bilidade de cada caso.
Um outro ponto, sob a ótica da utilização da eletricidade em ambientes industriais já
existentes, como máquinas e processos. Deve o profissional de Engenharia de Produção
questionar as equipes técnicas quanto ao tempo que cada processo exige para produ-
zir determinada demanda e quanta energia é consumida, nesse intervalo, para permitir
comparação com resultados relativos a operação do mesmo processo, quando a máquina
estava nova, e inferir se a mesma ainda reúne condições de operar ou se deve ser substi-
tuída.
Por fim, cabe ao Engenheiro de Produção investigar e cruzar dados de consumo de ener-
gia elétrica dedicados a iluminação a sistemas de ar condicionado, para que a gestão do
recurso energético seja feita de maneira responsável e sustentável, pois, se a empresa
visualiza os pontos onde pode diminuir desperdícios haverá crescimento, caso contrá-
rio, surpresas podem surgir e o reflexo pode atingir a todos os funcionários.
Fonte: o autor.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Captando o Sol (Catching the Sun) - 2015


Sinopse: Documentário mostra a explosão da indústria de energia solar,
sob várias perspectivas, desde o dono de uma fábrica de painéis na China
até um americano que faz curso de instalador na Califórnia.
Comentário: [Filme relata fatos curiosos sobre o mercado de energia
solar na prática. ]

Nessa seção serão apresentados os links de acesso a fontes de informação da internet alinhados
com os temas desta unidade:
• ABINEE: Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica: http://www.abinee.org.br/
• Iluminação Philips: http://www.lighting.philips.com.br/educacao/lighting-university
• ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas: http://www.abnt.org.br/certificacao/
downloads
• FLUKE: http://www.fluke.com/fluke/brpt/home/default
• TEKTRONIX: https://www.tek.com/?zct=BR
111
REFERÊNCIAS

ABNT. 1992. NBR 5413 Iluminância de interiores. Rio de Janeiro : ABNT, 1992.
______. NBR5410:2004 - Instalações elétricas de baixa tensão. Rio de Janeiro  :
ABNT, 2004.
ANEEL. 2018. Lâmpadas. aneel.gov.br. [On-line] ANEEL, 2018. [Citado em: 2 de agos-
to de 2018.] http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/aneel_luz/conteudo/lampadas.
html.
Contact, Phoenix. Proteção contra sobretensão e fontes de alimentação 2013 /
2014. 2014.
COTRIM, A. M. B. Instalações Elétricas. São Paulo : Pearson, 2003.
EMPALUX. Eficiência Luminosa. Informações Luminotécnicas. [On-line] EMPALUX,
2018. [Citado em: 2 de junho de 2018.] http://www.empalux.com.br/?a1=l.
KAGAN, N.; OLIVEIRA, C.C.B. de; BORBA, E. J. Introdução aos sistemas de distribui-
ção de energia elétrica. São Paulo: Blucher, 2005.
Philips. A solução mais confiável para a iluminação de estradas. MASTER SON-T
PIA Plus. [On-line] Philips, 2018. [Citado em: 1 de junho de 2018.] http://www.ligh-
ting.philips.com.br/prof/lampadas-e-tubos-convencionais/descarga-de-alta-inten-
sidade/son-sodio-de-alta-pressao/master-son-t-pia-plus.
______. Descarga de alta intensidade. HPI-T. [On-line] Philips, 2018. [Citado em:
1 de junho de 2018.] http://www.lighting.philips.com.br/prof/lampadas-e-tubos-
-convencionais/descarga-de-alta-intensidade/mh-hpi-iodetos-metalicos/hpi-t.
______. ML Luz Mista Descarga de Alta Intensidade - Philips Lighting. ML Luz Mis-
ta. [On-line] Philips, 2018. [Citado em: 1 de junho de 2018.] http://www.lighting.phi-
lips.com.br/prof/lampadas-e-tubos-convencionais/descarga-de-alta-intensidade/
ml-luz-mista/ml.
GABARITO

1. Quando um indivíduo entra em contato direto com a rede há circulação de cor-


rente do ponto de contato para o aterramento, configurando o desbalancea-
mento da soma das correntes das fases e do neutro que devem ser igual a zero,
nesse caso, será diferente de zero e assim o dispositivo aciona seu sistema de
proteção, que desenergiza imediatamente o ponto de contato.
2. Alternativa correta: (b).
3. Alternativa correta: (a).
4. R: Os elétrons impulsionados pelo raio tendem a se deslocar até o ponto mais
neutro, que normalmente é a superfície da terra, assim, é possível que uma pes-
soa, tomando banho em um chuveiro elétrico sem aterramento, possa receber,
a descarga por estar imersa em água, durante a circulação do fluxo de elétrons
quando o raio atinge o poste de distribuição, assim, um chuveiro sem aterra-
mento corresponde a um sério risco de choque elétrico.
5. Solução:
Dados:
• Potencial do raio: 500.000.000 V
• Potência do chuveiro 5400 W
• Tensão do chuveiro 127 V
Cálculo da corrente em 127 V:

P 5400
I= = → I = 42, 51 A
V 127
Cálculo da resistência do chuveiro:
113
GABARITO

V 127
R= = → R = 2, 98 Ω
I 42, 51
Cálculo da corrente em 500.000.000 V:
V 500.000.000
I= = → I = 1, 67×108 A
R 2, 98

Alternativa correta: (c).


R: A corrente que irá circular pela resistência do chuveiro será de 1,67 x 108 A.
6. Solução:
Dados:
• I = 1,67 x 108 A
• V = 500.000.000 = 500 x 108 V
Cálculo da potência dissipada pela resistência, quando percorrida por uma
descarga de 500.000.000 V:
PD = V x I = 500 x 106 x 1,67 x 108
PD = 8,389 x 106 W
R: A potência dissipada pela resistência do chuveiro, enquanto percorrida
pela corrente (que foi impulsionada pela descarga atmosférica de 500.000.000
V) foi de 8,389 x 106 W.
7. Alternativa correta: (e).
Professor Me. Fábio Augusto Gentilin

MÁQUINAS ELÉTRICAS E

III
UNIDADE
ACIONAMENTOS

Objetivos de Aprendizagem
■ Apresentar os conceitos de máquinas elétricas e as suas
características sob a ótica de um Engenheiro de Produção.
■ Demonstrar os acionamentos elétricos mais usuais aplicados em
máquinas elétricas.
■ Conceituar a eficiência energética e as suas contribuições.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Tipos de máquinas elétricas
■ Introdução aos acionamentos elétricos
■ Eficiência energética
117

INTRODUÇÃO

Caro estudante, seja bem-vindo(a) ao estudo das máquinas que revolucionaram


o mundo em que vivemos e que continuam a evoluir a cada dia, melhorando a
qualidade de vida das pessoas e a produtividade no ambiente industrial.
Desde que os primeiros estudos dos fenômenos relacionados ao eletromag-
netismo foram desenvolvidos, a partir de 1831, por Michael Faraday (KOSOW,
2005), inúmeras aplicações da eletricidade foram desenvolvidas em torno de
aplicações com iluminação, movimentação de cargas, acionamentos de eixos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

em máquinas operatrizes, comunicações etc.


As diversas áreas de aplicação da eletricidade revolucionaram a maneira
com que o mundo realizava as suas tarefas, e como ele passou a realizar após o
seu desenvolvimento, pois os recursos possíveis com esta tecnologia facilitam a
maneira de executar tarefas que antes eram impraticáveis.
As máquinas elétricas que abordaremos, nesta unidade, se restringem ao
ambiente de conversão eletromecânica de energia, que compreende os transfor-
madores e motores elétricos acionados em corrente contínua e corrente alternada,
os quais são amplamente aplicados em máquinas e em equipamentos industriais
na operação de processos produtivos.
Inicialmente, estudaremos os principais tipos de máquinas elétricas e as suas
aplicações e, posteriormente, os fundamentos de conversão eletromecânica de
energia, no que tange às atribuições de um Engenheiro de Produção, com maior
vigor no acionamento elétrico de motores assíncronos trifásicos, que corres-
pondem a grande parte da carga instalada na maioria das indústrias e possuem
consumo significativo de energia elétrica, fator que motiva o uso de tecnologias
relacionadas à eficiência energética.
A eficiência energética é, sem dúvida, um tema importantíssimo e que será
abordado, nesta unidade, onde você, estudante, poderá entender como ocorre a
relação de valor entre a eletricidade que consumimos e o que realmente é pro-
duzido de útil, ao longo deste processo, levando em consideração as limitações
dos equipamentos utilizados e as condições de uso.

Introdução
118 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
TIPOS DE MÁQUINAS ELÉTRICAS

Diferentes aplicações sugerem diferentes tipos de máquinas elétricas, que podem


se diferenciar facilmente em relação à dinâmica de seu uso. Logo, destacaremos,
nesta unidade, as máquinas que operam de maneira estática e aquelas que promo-
vem o movimento para realizar as suas ações, as máquinas de operação dinâmica.
Para explicar com maiores detalhes, devemos nos referir a alguns princípios
de eletromagnetismo que, nesta unidade, serão tratados de maneira simplificada.

PRINCÍPIOS DE ELETROMAGNETISMO

O eletromagnetismo teve os seus estudos iniciados por Michael Faraday que, em


1831, permitiu o desenvolvimento da maioria das tecnologias que utilizamos
atualmente em termos de recursos elétricos, dos quais somos praticamente depen-
dentes em nosso modelo de vida. Nesta seção, abordaremos o eletromagnetismo
básico que permite o entendimento do funcionamento das máquinas elétricas.

MÁQUINAS ELÉTRICAS E ACIONAMENTOS


119

Indução eletromagnética

Antes de iniciar os estudos com o eletromagnetismo, resgataremos o nosso conhe-


cimento básico relacionado aos itens mais próximos. Por exemplo, um simples
ímã. Um ímã é um elemento que produz naturalmente fluxo magnético que, ao
encontrar um condutor metálico em seu caminho (propagação), tem como resul-
tado o surgimento de uma diferença de potencial (d.d.p.) induzida.
Podemos concluir com isto que, quando um condutor “corta” o espaço de
propagação de campo magnético, há uma tensão induzida nos terminais deste
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

condutor, mas é necessário que o ímã esteja em


movimento para que essa d.d.p. se sustente.
A indução eletromagnética é um fenômeno
que podemos observar quando movimentamos
um ímã no núcleo de um indutor, conforme a
Figura 1.
Este fenômeno é reversível, ou seja, quando
um campo magnético encontra um condutor, há o
surgimento de uma d.d.p. e, quando uma corrente
percorre um condutor metálico, surge um campo
magnético em torno desse condutor. Esta rever-
sibilidade será abordada no funcionamento das
máquinas elétricas apresentado nessa unidade.
Figura 1 - Indução Eletromagnética

MÁQUINAS ESTÁTICAS

As máquinas estáticas são aquelas que, na execução de suas ações, não promo-
vem movimento significativo ou não possuem partes móveis. O movimento
significativo se refere ao fato de o movimento realizado ter função para a refe-
rida máquina. Por exemplo: o movimento ocorrido nos condutores do indutor
de um transformador percorrido por corrente elétrica (que é ínfimo), não faz
parte da ação esperada para a referida máquina elétrica. Como exemplo, pode-
mos citar os transformadores, os reatores, as bobinas, os eletroímãs etc. (Figura 2).

Tipos de Máquinas Elétricas


120 UNIDADE III

Neste tipo de máquina, a corrente elétrica que percorre os seus conduto-


res promove ações que remetem à conversão de potenciais elétricos e, portanto,
não se espera movimentos de seu funcionamento, mesmo que existam implici-
tamente entre os condutores de seu bobinado.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 2 - Exemplos de máquinas estáticas

O funcionamento das máquinas estáticas, como no caso do transformador, é o


seguinte: o transformador é um dispositivo que possui enrolamentos de cobre
em forma de bobinas para que o fluxo magnético se concentre em uma dada
região de interesse: o núcleo. O campo magnético produzido com a circulação
de corrente (I) pelo enrolamento primário se propaga pelo núcleo e induz uma
d.d.p. no enrolamento secundário, conforme a Figura 3.
TRANSFORMADOR
SECUNDÁRIO
PRIMÁRIO

d.d.p.

REDE ELÉTRICA

ip
Figura 3 - Transformador
Fonte: o autor.

No caso do transformador ideal, sem levar em consideração as perdas existen-


tes, a potência do primário (PP) é igual a potência do secundário (PS), conforme
a Equação 1 (KOSOW, 2005):

PP = PS

Equação 1

MÁQUINAS ELÉTRICAS E ACIONAMENTOS


121

Sabendo que P=V x I e substituindo na Equação 1, fica (Equação 2):

VP × I P = VS × I S

Equação 2
Onde:
VP: Tensão no enrolamento primário.
IP: Corrente no enrolamento primário.
V: Tensão no enrolamento secundário.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

IS: Corrente no enrolamento secundário.

De acordo com a Equação 2, há uma relação direta entre a corrente do primá-


rio (IP) e a corrente do secundário (IS), pois o campo magnético produzido pela
circulação de corrente no enrolamento primário tem como consequência uma
d.d.p. induzida no secundário (Figura 4).

TRANSFORMADOR

is
SECUNDÁRIO
PRIMÁRIO

RL
CARGA

REDE ELÉTRICA

ip
Figura 4 - Transformador com carga acoplada
Fonte: o autor.

Se acoplarmos uma carga nos terminais do enrolamento secundário, surgirá uma


corrente IS que depende do valor da resistência da carga, conforme a Equação 3:
VS
IS = = [ A]
RL

Equação 3
Onde:
RL: resistência na carga ( W ).
Tipos de Máquinas Elétricas
122 UNIDADE III

Para atender à igualdade da Equação 1, onde PP = PS, quando há o surgimento


de uma corrente no secundário, haverá como consequência uma corrente pro-
porcional no enrolamento primário. Este princípio permite que, ao variarmos
o valor de RL, haja uma variação de IP de mesma proporção. Este conceito é de
fundamental importância para o entendimento do funcionamento das máqui-
nas elétricas.

MÁQUINAS DINÂMICAS

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
As máquinas dinâmicas são aquelas que, ao serem percorridas pela corrente
elétrica, promovem movimento, normalmente, em uma parte móvel acoplada
magneticamente a uma parte estática da mesma máquina. Como exemplos,
podemos citar os motores elétricos, solenoides, relés, contatores etc., conforme
a Figura 5.

Figura 5 - Exemplos de máquinas elétricas dinâmicas

Certamente, quando nos referimos às máquinas dinâmicas, nos lembramos mais


frequentemente dos motores que, como o próprio nome diz, são utilizados para
mover algo. Esta máquina elétrica possui um conjunto de componentes que, por
sua vez, promovem o movimento de um eixo por ação de um campo magnético
produzido no interior de sua estrutura.

MÁQUINAS ELÉTRICAS E ACIONAMENTOS


123

Motor elétrico de indução

O mais frequente tipo de motor em ambiente industrial é o motor de indução


trifásico, que consiste em uma máquina dinâmica com três enrolamentos conec-
tados à rede elétrica. Diferentemente do transformador, o motor possui partes
móveis ligadas a um eixo, ao qual acoplamos cargas mecânicas.
O fato curioso é que se fizermos uma analogia entre o motor e o transfor-
mador, podemos comparar o enrolamento primário do transformador com o
enrolamento do estator do motor (Figura 6). Estes dois
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

casos são semelhantes e operam estaticamente, ou seja,


sem movimento, logo, o estator consiste na parte está-
tica de um motor de indução.
O rotor do motor de indução é semelhante ao enro-
lamento secundário de um transformador, só que, neste
caso, há movimento no rotor e não no transformador.
O rotor é suportado por mancais e rolamentos para
que o seu eixo possa entrar em movimento rotacio-
nal livremente.
O comportamento da corrente em termos de causa
e consequência é semelhante no sentido da dependên-
cia entre as entidades do primário e secundário, mas
com um implicante: no motor de indução trifásico,
os condutores do rotor estão em curto-circuito, e no
transformador há uma carga com resistência RL maior
Figura 6 - Enrolamento do estator de
do que zero. um motor (parte estática)

O que aconteceria com a corrente nos condutores do enrolamento primário


de um motor elétrico se o seu eixo estivesse bloqueado?

Tipos de Máquinas Elétricas


124 UNIDADE III

Isso faz com que, quando ener-


gizado, o enrolamento do primário
produzirá corrente elevadíssima para
que o rotor inicie o seu movimento à
medida que o eixo acoplado ao rotor
atinge velocidade nominal (ou pró-
xima disso). Nesta proporção, há
a diminuição do valor da corrente
até que se atinja a velocidade nomi-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nal e, com isso, o valor da corrente
Figura 7 - Motor elétrico de indução trifásico em vista explodida
nominal.
A Figura 7 mostra um motor de indução trifásico com os seus principais
componentes (rotor, estator, unidade de ventilação e tampas de proteção).
Existem diversos tipos diferentes de motores elétricos acionados em corrente
contínua e alternada, desde motores pequenos utilizados em nossos aparelhos
smartphones (no circuito de vibração) até motores de centenas de cavalos de
potência utilizados por indústrias em todo o mundo.
As características de cada tecnologia justificam a sua utilização, que depende
do tipo de carga a ser acionada e até do grau de proteção contra partículas de
poeira ou água. Neste livro, adotaremos o motor assíncrono de gaiola de esquilo
como o objeto de nosso estudo.

APLICAÇÕES DE MÁQUINAS ELÉTRICAS ESTÁTICAS E


DINÂMICAS

MÁQUINAS ELÉTRICAS E ACIONAMENTOS


125

Aplicações de máquinas estáticas

Normalmente, as máquinas elétricas estáticas realizam tarefas de conversão de


potenciais elétricos, como os transformadores, que podem ser elevadores, iso-
ladores ou rebaixadores de tensão elétrica.
No sistema elétrico de potência, quando a usina hidrelétrica gera energia e
a transmite para que possa ser utilizada pelas pessoas em suas casas e empresas,
o potencial elétrico não está adequado ao uso e, portanto, precisa ser rebaixado
para que ele possa alimentar um eletrodoméstico, por exemplo, pois a tensão é
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

distribuída em milhares de volts e chega às nossas residências no formato de 127


V ou 220 V . Neste caso, o papel do transformador é rebaixar a tensão de 13,8kV
(por exemplo) para os potenciais que podemos utilizar em nossos equipamentos.
Nos casos em que há risco de choques elétricos, são utilizados, normalmente,
transformadores isoladores, que oferecem a mesma tensão da entrada na saída,
porém, não possuem a referência no terminal de terra, como é o caso dos trans-
formadores de distribuição e, com isso, o contato em um dos terminais desse
transformador não teria uma corrente circulando para a terra e, desta forma,
não causaria choque elétrico, como no caso da rede de distribuição.
Quando um equipamento opera em 220 V e, na instalação, temos a disposição
apenas de 127 V, utiliza-se o transformador elevador, que permite a elevação de
potencial para a utilização do equipamento alimentado em tensão mais elevada.
É sempre importante observar que o transformador é uma máquina elétrica
que converte um potencial em outro, e a potência dessa máquina deve ser res-
peitada, pois além de haver perdas no processo de conversão, as quais geram
aquecimento, ultrapassar a capacidade de potência do transformador faz com
que a sua temperatura atinja níveis elevados e, assim, os condutores podem entrar
em curto-circuito, pois há a ruptura da camada isolante envolvente, danificando
permanentemente essa máquina.

Tipos de Máquinas Elétricas


126 UNIDADE III

Há transformadores que são utilizados


para o acionamento de motores elétricos,
onde um circuito de comando varia as saí-
das do transformador de modo que o motor
assuma diferentes níveis de tensão no tempo
e assim possa ser acionado com carga aco-
plada e ao mesmo tempo, uma partida “um
pouco mais suave” do que a partida direta.
Há também o exemplo dos reatores uti-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
lizados nos sistemas de iluminação. Estes Figura 8 - Transformador utilizado em acionamento de
reatores promovem a elevação de tensão uti- motores (partida compensadora)
lizada para ionizar o gás presente dentro de
uma lâmpada e que representa baixo ren-
dimento, ou seja, baixa taxa de conversão
de energia, com perdas que comprometem
a eficiência energética.
Com o advento da eletrônica e os dispo-
sitivos aplicados no controle de velocidade
de motores, foi possível desenvolver recursos
cada vez mais eficientes para converter poten-
ciais com alto rendimento e baixos níveis de
desperdício de energia elétrica. É o caso dos Figura 9 - Modelo de conversor estático: acionamento de
motores elétricos trifásicos
conversores estáticos e das fontes chaveadas.
As fontes chaveadas são dispositivos que convertem a tensão da rede elé-
trica, normalmente, disponível entre as tensões de 100 V a 240 V, em corrente
alternada com tensões de valores diversos e em corrente contínua, como 3,3V,
5V, 12V, 24V etc., isoladas da rede elétrica por um circuito eletrônico que opera
em alta frequência (acima de100 kHz).
Os conversores estáticos, utilizados para o acionamento de motores elétri-
cos trifásicos, apresentam, geralmente, chaveamento interno em alta frequência
e comutação das fases de saída, variando de 0 a 60Hz (chegando a valores pró-
ximos de 300 Hz, de acordo com o modelo), para que um motor assíncrono
possa ser acionado de maneira suave e controlada, com o mínimo desperdício

MÁQUINAS ELÉTRICAS E ACIONAMENTOS


127

de energia elétrica possível. Como exemplo, temos os inversores de frequência


e os soft-starters, conforme mostrado na Figura 9.

Os conversores estáticos utilizados para acionar motores elétricos são co-


nhecidos também como “chaves estáticas”, pois comutam a rede elétrica de
maneira rápida e eficiente e não possuem partes móveis, como no caso dos
contatores, daí o termo “estático”.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Fonte: o autor.

Aplicações de máquinas dinâmicas

Os motores elétricos trifásicos são, sem dúvida, os dispositivos que mais repre-
sentam o ambiente industrial quando o assunto é movimento, seja no interior
de uma máquina ou no transporte de materiais dentro de uma planta industrial,
representando grande parte do consumo de energia elétrica.
Alinhado com o uso responsável da energia elétrica, os fabricantes de moto-
res elétricos passaram a utilizar, nos últimos anos, materiais e técnicas com a
denominação de motores de alto rendimento, ou seja, que possuem elevada taxa
de conversão de potência de entrada para a saída.
Em termos práticos, imagine um motor que tenha uma potência nominal de
5000W (5 kW) e rendimento de 85%. Esta é a potência que o motor consumirá
quando estiver assumindo a sua carga máxima em seu eixo, mas não significa
que ele está entregando essa amplitude de potência à máquina, pois há perdas
durante o processo de conversão e, no exemplo dado, o motor deverá ter uma
perda de 15% neste processo.
A capacidade percentual que uma máquina elétrica possui de converter na
saída a potência recebida em sua entrada, é denominado rendimento, represen-
tado pela letra η, o qual relaciona a potência da saída com a potência da entrada.
Uma máquina é tão melhor quanto mais próximo de 1 (ou 100%) for seu rendi-
mento, mas, na prática, não temos esta situação em condições normais de uso.
Normalmente, um motor de alto rendimento é aquele que converte a maior

Tipos de Máquinas Elétricas


128 UNIDADE III

parte da potência de entrada em potência útil em seu eixo, chegando a núme-


ros próximos a 95% (h=95%) .
Os motores elétricos modernos são acionados por conversores estáticos
(inversores ou soft-starters, mas também há outras técnicas de acionamento uti-
lizadas que fazem com que o motor seja conectado à rede elétrica abruptamente
e haja picos de corrente. Isto pode danificar a rede e os demais dispositivos nela
conectados, além de diminuir a vida útil do próprio motor.
Quando um motor elétrico é utilizado para acionar uma esteira que trans-
porta produtos sensíveis, é muito importante não haver um acionamento abrupto,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ou a carga sobre a esteira poderia cair e quebrar, logo, a partida deve ser a mais
suave possível. Este feito é realizado com a utilização dos conversores estáticos e
redutores de velocidade, que multiplicam o torque do motor e, ao mesmo tempo,
reduzem a sua velocidade.
O torque de um motor é a força de rotação que o eixo do motor realiza para
vencer o momento de inércia da máquina (ou conjugado resistente da máquina).
Quando o motor é conectado à rede elétrica, há o surgimento de um campo
eletromagnético que promove o movimento do rotor.
O campo magnético produzido nos enrolamentos do estator do motor opera
de acordo com a frequência da tensão que o alimenta, assim, se um motor opera
em 60 Hz, este possui um campo magnético denominado “campo girante”, que
atua com velocidade síncrona (Ns) proporcional a esta frequência. A expressão
que define a relação entre a velocidade síncrona, a frequência ( f ) e o número
de polos de um motor é dada na Equação 4:

120 × f
NS = = [rpm]
p
Equação 4
Onde p é o número de polos do motor que depende exclusivamente de suas
características construtivas.
Quando o rotor do motor elétrico assíncrono inicia o seu movimento, pode-
mos dizer que o seu conjugado (torque) está vencendo a inércia que o mantinha
em repouso e, quando a rotação nominal do eixo do motor é atingida, significa que
este momento de inércia foi vencido e o motor se encontra em velocidade nominal.

MÁQUINAS ELÉTRICAS E ACIONAMENTOS


129

Durante esse processo, podemos entender que, no instante inicial, o eixo do


motor estava em repouso com velocidade NN = 0 rpm , e a velocidade do campo
girante atua sobre o rotor com a velocidade síncrona igual a relação dada na
Equação 4, logo, se a frequência da rede for de 60 Hz e o motor for de 4 polos,
teremos a velocidade síncrona (NS) de:
120 × f
NS = = 1800 rpm
4

Em acionamento de motores elétricos trifásicos é comum utilizar o termo “escor-


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

regamento” (s) para definir a diferença entre a velocidade síncrona (NS) e a


velocidade do eixo do motor (NN), de acordo com a Equação 5. A sua unidade de
medida é o rpm (rotações por minuto) e pode ser expressa como fração da velo-
cidade síncrona (Equação 6) ou também em % de escorregamento (Equação 7).
O escorregamento pode ser calculado pelas equações (Equação 5, Equação
6 e Equação 7):

s (rpm) = N S − N P = [rpm]
Equação 5
ou
NS − NN
s=
NS

Equação 6
ou
NS − NN
s (%) = ×100 = [%]
NS

Equação 7
Como o motor em estudo é assíncrono e a velocidade do eixo do rotor (NN ),
teoricamente, nunca se iguala à velocidade do campo girante (NS), pois quando
o motor está vazio (sem acoplamento de carga ao eixo), é possível que a veloci-
dade do eixo do rotor se aproxime da velocidade de campo girante, por motivos
construtivos, sempre haverá escorregamento, mesmo que em pequena escala,

Tipos de Máquinas Elétricas


130 UNIDADE III

pois o eixo do motor girará em uma velocidade que tende à velocidade de campo
girante, na tentativa de se igualar a ela. Na medida em que a carga no eixo do
motor aumenta, a tendência é aumentar o escorregamento.
Neste raciocínio, podemos determinar o valor da velocidade nominal de um
motor a partir da Equação 8:

 s % 
N N = N S ×1 − = [rpm]
 100 

Equação 8

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Assim, para o caso de um motor sem carga acoplada, com escorregamento pra-
ticamente nulo, fica:
 0 
N N = N S ×1 − = N S × (1) = N S
 100 

∴ NN ≈ NS

Este efeito é bastante visível quando observamos o funcionamento de um eletro-


doméstico que utiliza motor, como um liquidificador. Quando inserimos uma
substância muito densa para ser triturada, como gelo, por exemplo, o motor
parte com velocidade menor até vencer a resistência da substância e, à medida
em que esta é triturada, a hélice consegue, de forma gradativa, girar livremente
e, assim, o motor atinge a velocidade nominal (NS).
Embora no exemplo dado, o motor do eletrodoméstico e o motor trifásico
sob estudo não sejam os mesmos tipos de motores, a condição é semelhante e
ocorre com frequência no ambiente industrial, quando uma máquina acionada
por motor elétrico sofre oscilação na carga acoplada ao eixo. Em outras palavras,
o aumento de torque para vencer o esforço exigido pela máquina.
Essa oscilação na velocidade do eixo, cuja consequência é o surgimento ou o
aumento do escorregamento, é um assunto que tratamos com técnicas de acio-
namento de motores, utilizando dispositivos inteligentes, os quais realizam a
monitoração da velocidade do eixo e estimulam o motor para que este se man-
tenha constante (ou próximo disso) à velocidade nominal. Estamos falando das
chaves estáticas denominadas inversores de frequência.

MÁQUINAS ELÉTRICAS E ACIONAMENTOS


131

Quando o eixo de um motor é bloqueado, há elevação na corrente elétri-


ca que circula pelos condutores que o alimentam na tentativa de vencer
a condição do bloqueio. Até que ponto é seguro para o motor continuar a
aumentar a corrente e, com isso, a temperatura em todo o acionamento?

Exemplo: Determine o escorregamento percentual de um motor de IV polos,


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

operando na frequência de 50 Hz, sabendo que a velocidade em seu eixo é de


620 rpm .

Dados do exemplo:
Frequência: 50 Hz .
Polos do motor: IV = 4 polos.
NN = 620rpm

Solução:
■ 1º passo: cálculo da velocidade síncrona (NS) para o motor:
de acordo com os dados do exemplo, a frequência da rede de alimenta-
ção é de 50Hz e o número de polos é de 4, temos:
120 × 50
NS = = 1500 rpm
4
■ 2º passo: cálculo do escorregamento percentual s (%) do motor do motor
com 620rpm no eixo:

NS − NN 1500 − 620
s (%) = ×100 = ×100 = 58, 66 %
NS 1500

s(%) = 58, 66 %
■ 3º passo: conclusão.

Tipos de Máquinas Elétricas


132 UNIDADE III

O resultado encontrado de escorregamento percentual nos permite concluir


que, naquele dado momento, o eixo do motor está com um escorregamento
que corresponde a 58,66% da velocidade síncrona, ou seja, inferior à velo-
cidade que o campo girante impõe que o eixo esteja (1500 rpm) , pois,
certamente, naquele instante de tempo, o motor ainda não venceu total-
mente o momento de inércia representado pela carga acoplada ao eixo,
logo, está em uma aceleração que deve tender à velocidade nominal (NS).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Quando um motor elétrico opera muito tempo em velocidade baixa, o sis-
tema de ventilação forçada (hélice acoplada internamente ao eixo) não é
capaz de promover circulação de ar suficiente para trocar calor com o am-
biente externo e, com isso, pode ocorrer sobreaquecimento do motor, resul-
tando em redução do tempo de vida útil ou até mesmo na queima de seus
enrolamentos.
Fonte: o autor.

INTRODUÇÃO AOS ACIONAMENTOS ELÉTRICOS

Neste capítulo, estudaremos os métodos de acionamentos elétricos mais utiliza-


dos na indústria para a partida de motores de indução trifásicos, desde topologias
simples (de baixo investimento, mas com poucos recursos de controle e grande
impacto na rede) até partidas com controle em malha fechada que custam mais,
porém, oferecem diversos recursos e compromisso com o uso responsável de
energia elétrica.

PARTIDA DIRETA

No acionamento de motores de indução pelo método da partida direta, os enro-


lamentos do motor são conectados diretamente à rede elétrica por meio de um
dispositivo de comutação (FRANCHI, 2007).

MÁQUINAS ELÉTRICAS E ACIONAMENTOS


133
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A partida direta, sem dúvida, é a mais simples das topologias de partidas de


motores de indução e consiste em ligar o motor à rede elétrica, pressionando
um botão, e a desligá-lo, pressionando outro botão.
Parece simples sob o ponto de vista operacional, porém, é devastador para a
rede elétrica quando o motor apresenta características de médio e grande porte,
pois quando um motor elétrico é acionado diretamente ligado à rede elétrica, a
corrente de partida é de 5 a 6 vezes o valor da corrente nominal do motor (aquela
que é consumida quando o eixo do motor está girando em velocidade nominal),
conforme mostrado na Figura 10 (WEG, 2004).
Observe na Figura 10 que o torque
é proporcional à corrente e que, no
momento inicial, onde o motor está 500 - 600
desligado (% de velocidade igual a
% corrente

% torque

zero), o torque de partida é muito


elevado e diminui à medida em que torque máximo

a velocidade tende a 100%, assim, a torque de partida

corrente, quando ocorre a partida, é 200 torque mínimo


torque intermitente 150%
muito elevada, e diminui conforme
100 torque de corrente nominal
a velocidade do eixo se aproxima de
seu valor máximo. A Figura 11 mos-
% velocidade
tra os diagramas elétricos de uma Figura 100- Curva 0 100
torque x velocidade e corrente x velocidade
chave de partida direta. Fonte: WEG (2004, p. 30).

Introdução aos Acionamentos Elétricos


134 UNIDADE III

L1 L2 L3

F1 F2 F3 F21
A
A B F22
1
B S0
2

1 3 5
K1 3 13

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
2 4 6 S1 K1
4 14

1 3 5
FT1 A2
2 4 6 K1
A1
95
FT1
U1 V1 W1 96
M
3-

(a) (b)
Figura 11 - Chave de partida direta: (a) diagrama de comando e (b) diagrama de força
Fonte: WEG (2013, p. 4).

Este tipo de partida é indicado para pequenas máquinas, com motores de potên-
cias reduzidas, bastante comum em máquinas de pequeno e médio porte com
baixa inércia de partida.

PARTIDA ESTRELA-TRIÂNGULO

No acionamento de motores de indução pelo método da partida estrela-triângulo,


os enrolamentos do motor são conectados à rede elétrica mediante dois estágios,
inicialmente, associando o motor em estrela com corrente menor e, logo após o
tempo ajustável, os enrolamentos são associados em triângulo (Figura 12), onde cada
bobina é ligada em paralelo com duas fases e, portanto, este acionamento assume
a rede elétrica de maneira mais “suave” se comparado com o acionamento direto.

MÁQUINAS ELÉTRICAS E ACIONAMENTOS


135

380V L1
L2 L1
1 3
4 6 6 1
3 4
220V

2 L3 5 2 L2
L3 220V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

(a) (b)
Figura 12 - Associação de bobinas na ligação estrela-triângulo: (a) estrela e (b) triângulo
Fonte: WEG (2016, p. 19).

O diagrama elétrico (de comando) utilizado para este tipo de chave de partida
é mostrado na Figura 13:
FT1
95 96
Circuito de
comando 98

21
SH1
22

13 13 13 43 25 13
SH1 K1 K3 K1 KT1 K2
14 14 14 44 28 26 14

15
KT1
18 16
21
K3
21 22
31
K2 K2
32 22
A1 A1 A1 A1 X1 K2
KT1 K3 K1 K2 SH1
A2 A2 A2 A2 X2

Figura 13 - Diagrama de comando da chave de partida estrela-triângulo


Fonte: WEG (2016, p. 21).

Introdução aos Acionamentos Elétricos


136 UNIDADE III

O diagrama elétrico de força para esse tipo de acionamento é visto na Figura 14:
N(PE) L1 L2 L3

1 1 1
F1 F2 F3 A
2 2 2

1 1 1 1 1 1
F1 F2 F3 B F1 F2 F3
2 2 2 2 2 2

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
F23 T1 F21
1 2 H1 X1 1 2 Circuito de
F22 H2 X2 comando
1 2

1 3 5 1 3 5 1 3 5
K1 K2 K3
2 4 6 2 4 6 2 4 6
1 3 5
FT1
2 4 6

1 6
2 M 4
3 3~ 5

Figura 14 - Diagrama de força da chave de partida estrela-triângulo


Fonte: WEG (2016, p. 21).

Esse tipo de ligação exige que o motor possua 6 terminais acessíveis para liga-
ção das bobinas ao circuito de acionamento. A ideia é que no primeiro estágio
(estrela) do acionamento, as bobinas são associadas como fossem receber a ten-
são de trabalho UT vezes 3 (assim fica U T ´ 3 ) , mas recebem a tensão de
trabalho e, com isto, a corrente é reduzida. Após determinado tempo, na asso-
ciação do segundo estágio (triângulo), as bobinas são associadas diretamente à
rede elétrica e, assim, assumem a corrente nominal prevista para a sua impe-
dância. A Figura 15 apresenta o comportamento do torque e da corrente em um
acionamento do tipo estrela-triângulo.

MÁQUINAS ELÉTRICAS E ACIONAMENTOS


137

C∆
Ι∆

conjugado/corrente

ΙY CY
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

t1 Rotação (rpm)
t1 = comutação estrela-triângulo
Figura 15 - Curva de torque e corrente na partida estrela-triângulo
Fonte: WEG (2004, p. 40).

Onde I∆ e C∆ são, respectivamente, a corrente e o conjugado em triângulo, e IY e


CY são, respectivamente, a corrente e o conjugado em estrela. Observe que a cor-
rente em estrela é muito menor do que a corrente em triângulo, e que no tempo tl
ocorre a comutação de estrela para triângulo, onde há um pico de corrente (IY).
Esta característica permite que um motor seja acionado de maneira menos
impactante (para a rede e para a carga), pois, primeiro, inicia-se o movimento do
eixo com baixa intensidade de corrente, e, logo após vencer o momento de inér-
cia da máquina (quando o torque do motor já está reduzido), associa-se, então,
as bobinas à rede diretamente, mas com baixo impacto. Ou seja, ainda há certo
impacto na rede, porém, muito menor do que aquele que seria em acionamento
direto, visível na curva I∆ da Figura 15.
Mesmo sendo mais suave do que a chave de partida direta, esse tipo de
acionamento ainda é impactante e envolve muitos componentes, sendo um acio-
namento de grandes dimensões, embora, atualmente, os fabricantes ofereçam
soluções compactas para esta opção.

Introdução aos Acionamentos Elétricos


138 UNIDADE III

PARTIDA COMPENSADORA

No acionamento de motores de indução pelo método da partida compensadora,


os enrolamentos do motor são conectados à rede por meio de um transformador
que rebaixa a tensão a níveis inferiores à tensão nominal, durante um intervalo de
tempo ajustável e, posteriormente, associa o motor direto na rede elétrica. Com
isso, a corrente de partida é menor e mais suave do que a corrente de partida direta.
Normalmente, o acionamento de motores com chave compensadora é
utilizado quando temos uma carga elevada acoplada ao motor, então, um trans-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
formador reduz a tensão da partida por um intervalo de tempo curto, pois a
temperatura nos enrolamentos do transformador pode aumentar durante a par-
tida, e o motor só deve ser acoplado à rede após parte (ou a totalidade) da inércia
da carga acoplada ter sido vencida.
O diagrama de força é mostrado na Figura 16, e o diagrama de comando é
mostrado na Figura 17 para a chave compensadora.
L1 L2 L3

F1 F2 F3

1 3 5 1 3 5
K2 K1
2 4 6 2 4 6
100%

100%

100%
80%

80%

80%

1 3 5
T1 65% 65% 65% FT1
2 4 6
0%R

0%T
0%S

1 3 5 U1 V1 W1
K3
M
2 4 6
3~

Figura 16 - Chave de partida compensadora: diagrama de força


Fonte: WEG (2013, p. 34).

MÁQUINAS ELÉTRICAS E ACIONAMENTOS


139

A F21 FT1
95 96
B F22 1
S0
2

3 13 13
S1 K2 K1
4 14 14

21 43 21
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

15 13
KT1 K3 K1 K2 K3
18 l 16 14 22 44 22

31
K1
32
A1 A1 A1 A1
K3 K2 KT1 K1
A2 A2 A2 A2

Figura 17 - Chave de partida compensadora: diagrama de comando


Fonte: WEG (2013, p. 34).

PARTIDA COM SOFT-STARTER

A partida com chaves estáticas oferece suavidade no acionamento de um motor


de indução, característica inexistente nos acionamentos anteriormente citados.
Esta característica é possível graças ao advento da eletrônica embarcada e de
recursos de eletrônica de potência que permitem o controle do disparo de tiris-
tores, os quais conduzem a corrente para o motor. Assim, é possível estabelecer
uma partida sem picos de corrente que, por sua vez, impactam no funciona-
mento de outros equipamentos instalados na mesma rede elétrica.
Os benefícios do uso de soft-starters são inúmeros, mas podemos elencar
os principais:
■ Partida e parada de motores elétricos com rampa de aceleração e desace-
leração de tempos programáveis.

Introdução aos Acionamentos Elétricos


140 UNIDADE III

■ Proteções contra sobrecarga e curto-circuito embutidas no mesmo


equipamento.
■ Tamanho reduzido.
■ Possibilidade de integração com sistema de automação industrial.
■ Acesso a parâmetros remotamente.
■ Facilidade na instalação etc.

A Figura 18 apresenta um exemplo de instalação elétrica onde o acionamento

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
do motor é realizado por um soft-starter.

Figura 18 - Exemplo de instalação do acionamento de um motor com soft-starter


Fonte: WEG (2015, p. 118).

MÁQUINAS ELÉTRICAS E ACIONAMENTOS


141

Na Figura 19, podemos observar a curva de partida e de parada do motor de


uma bomba (gira-para). Veja que há um tempo dedicado para realizar a par-
tida (configurável em um parâmetro denominado P102) e um tempo dedicado
à parada da máquina (configurável pelo parâmetro P104). As rampas de par-
tida e parada mostradas representam os tempos de aceleração e desaceleração
do motor, respectivamente.
U(V)
Partida 100%Un Parada

P103
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

P101
P105

0 P102 P104 t(s)


Figura 19 - Gráfico da partida e da parada de um motor elétrico utilizado em controle de bombas
Fonte: WEG (2015, p. 145).

PARTIDA COM INVERSOR DE FREQUÊNCIA

Quando pretendemos manter controle sobre a partida, parada e a velocidade do


eixo de um motor, mesmo depois de acionado, precisamos de um equipamento
que reúna recursos tecnológicos que permitam a variação de corrente com pre-
cisão, a alta velocidade de resposta, a robustez, o alto rendimento e o acesso a
parâmetros funcionais. Estes atributos se aplicam ao inversor de frequência.
O inversor de frequência é um equipamento que realiza as funções de um
soft-starter referentes à partida e à parada de um motor por meio de rampas
de aceleração e de desaceleração, e ainda permite que o motor assuma diferen-
tes velocidades ao longo do tempo, por meio de controle sobre a frequência e a
tensão disponibilizada ao motor. Com isso, podemos afirmar que podemos con-
trolar a velocidade do eixo de um motor, mesmo depois do acionamento deste.
A Figura 20 apresenta um exemplo de inversores de frequência instalados em
uma planta industrial onde há máquinas que exigem o acionamento e o con-
trole sobre a velocidade.

Introdução aos Acionamentos Elétricos


142 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 20 - Inversores de frequência atuando no controle de velocidade de motores elétricos

Normalmente, os inversores de frequência utilizam, para esse fim, IGBTs em


suas etapas de potência, responsáveis por comutar a tensão ao motor, contro-
lado por microcontrolador com um programa que realiza o cálculo (milhares de
vezes por segundo) do quanto deve ser disponibilizado de energia para o motor
ao longo de seu acionamento.
Este tipo de partida permite que o operador defina qual a velocidade do eixo
de uma máquina por meio de potenciômetro no painel frontal do inversor, ou
remotamente no painel de controle da máquina, por meio de comunicação de
rede remotamente em uma sala de controle, ou através de sinais por conecto-
res denominados bornes.
O acesso aos parâmetros de um inversor de frequência permite ao sistema
de automação monitorar qual o consumo de energia que o motor representa e
isto pode ser armazenado de maneira organizada para que sejam tomadas deci-
sões estratégicas em relação ao histórico de uso, pois um mesmo motor pode
passar a consumir mais energia depois de determinado tempo devido a desgas-
tes e a demais situações que precisam ser monitoradas, além de prever possíveis
falhas por meio de manutenção preventiva ou preditiva.

MÁQUINAS ELÉTRICAS E ACIONAMENTOS


143

A Figura 21 apresenta um exemplo de ligação de um inversor de frequência a


um motor elétrico de indução trifásico.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 21 - Ligação do inversor de frequência em motor elétrico


Fonte: WEG (2008, p. 3-11).

O inversor de frequência é conhecido por produzir distorção harmônica (ruído)


que pode interferir no funcionamento de outros equipamentos instalados nas
proximidades dele, então, recomenda-se que os condutores metálicos que con-
duzem sinais de comunicação, como, cabos de rede de comunicação, devem ser
instalados, separadamente, das vias onde os cabos de potência passam. Este cui-
dado previne falhas de comunicação e minimiza a chance de perdas de dados.

Como seria possível controlar a velocidade de um motor elétrico se os co-


mandos enviados pelo dispositivo de controle se perdessem por conta de
ruídos provenientes de equipamentos como o inversor de frequência?

Introdução aos Acionamentos Elétricos


144 UNIDADE III

O analisador de espectro é o instrumento


capaz de mensurar a intensidade de cada
componente de frequência que um sinal
possui, assim, é possível estudar como o
ruído está afetando determinado sinal
de dados quando um motor é acionado.
A Figura 22 mostra o exemplo de
um analisador de espectro e um sinal
sob estudo. Este equipamento é capaz

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de demonstrar o sinal obtido em fun-
ção da frequência, possibilitando, assim,
que seja avaliada a sua influência sobre
a frequência do sinal de comunicação. Figura 22 - Analisador de espectro e sinal obtido em estudo

Em ambientes industriais, é comum a utilização de redes industriais que


conduzem dados do processo até os dispositivos e controladores em um
ambiente onde há condutores repletos de ruídos radiados e conduzidos, en-
tão isolar os dados dos ruídos requer técnicas que envolvam a utilização de
filtros e blindagens especiais.
Fonte: o autor.

O uso de recursos que tornam o acionamento de motores mais suave e com


níveis reduzidos de desperdício de energia permitiu o desenvolvimento de tec-
nologias cuja eficiência energética é possível, ou seja, estas tecnologias deixam
de ser utópicas e passam a fazer parte da realidade da indústria e das instalações
que utilizam motores. A eficiência energética é uma das maiores preocupações
no segmento de energia e será o nosso próximo assunto desta unidade.

MÁQUINAS ELÉTRICAS E ACIONAMENTOS


145

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Quando falamos a respeito de energia elétrica, é comum lembrar de algo pare-


cido com uma torre de transmissão de energia, além de raios, postes etc. Sim,
pois esta é, sem dúvida, a forma mais frequente com que costumamos “ver”
como a energia chega até nós.
Sabemos que a eletricidade é invisível, logo, para que possamos sentir a sua
presença, precisamos aplicá-la a algo que realize algum trabalho, senão ela não
teria sentido ou função. Este uso da energia vem sendo experimentado pela
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humanidade há muitos anos, desde que as primeiras experiências aplicadas foram


desenvolvidas a partir do século XIX com a invenção da lâmpada por Thomas
Edison, em 1879. Houve outros experimentos com eletricidade anteriores a este
momento, porém, a invenção da lâmpada marcou a sua descoberta, tida como
uma das primeiras e mais relevantes experiências da área.
Atualmente, já temos bons exemplos da utilidade
da eletricidade em nossas vidas, seja em âmbito
industrial ou residencial. Quase todo o conforto
que desejamos nos moldes modernos depende
da eletricidade para funcionar, como o uso dos
fabulosos e cada vez mais surpreendentes smar-
tphones, até computadores que só funcionam
graças ao trabalho realizado pela eletricidade.
Até mesmo os refrigeradores que temos em nos-
sas casas, na maioria dos casos,
são elétricos, assim como os
fornos de micro-ondas, ou
as nossas lâmpadas, ou os
nossos chuveiros que, quase
sempre, são elétricos.

Eficiência Energética
146 UNIDADE III

Como seria a vida das pessoas se algum fenômeno natural condenasse o uso
de eletricidade no planeta e nenhum dispositivo eletroeletrônico pudesse
funcionar? A qual tempo da História retornaríamos e como viveríamos?

As pessoas estão cada vez mais dependentes da eletricidade, seja para conservar
os seus alimentos ou para se comunicar, trabalhar, dirigir etc. Logo, faz cada vez
mais sentido nos preocuparmos com o seu uso, com o quanto temos e o quanto

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cada equipamento que utilizamos consome. Vimos anteriormente, neste livro,
que a eletricidade, ao realizar um trabalho, pode dissipar calor, sendo esta capa-
cidade relacionada diretamente com o rendimento de uma máquina, que é mais
eficiente quando converte mais energia de sua entrada para sua saída, ou seja,
perde menos energia ao realizar o seu trabalho e a converte em algo útil.
Em outras palavras, podemos fazer uma analogia com o conceito de con-
sumo de combustível de carros. Imagine dois carros: A e B. Considere que o carro
A possui uma autonomia de 12 km, e o carro B pode fazer 6 km/litro . Em uma
viagem de 120 km de distância, o carro A consumiu 10 litros, e o carro B consu-
miu 20 litros do mesmo combustível e ambos chegaram ao destino ao mesmo
tempo. Qual é o carro mais eficiente?
Certamente você já respondeu que é o carro A. Isto é óbvio, pois o B consome
exatamente o dobro do combustível para realizar o mesmo trabalho. Com cer-
teza, o A possui motor silencioso, motor ajustado, aerodinâmica adequada etc.,
enquanto o B apresenta motor barulhento, carcaça pesada, motor com recursos
de corrida etc. Para o objetivo do exemplo dado, o carro A é o mais eficiente,
pois realiza a função para a qual ele foi concebido e consome menos recursos
energéticos para isso.
Na eletricidade também é assim. É preciso ficar atento(a) e sempre fazer
uso responsável da energia que temos à disposição, pois está cada vez mais caro
obtê-la, e a cada dia novos meios de sua obtenção vêm sendo desenvolvidos, seja
em fontes renováveis (usinas solares, eólicas, termoelétricas, biomassa etc.), ou
por meio de reações químicas ou mesmo pela queima de combustíveis fósseis.

MÁQUINAS ELÉTRICAS E ACIONAMENTOS


147

Vem crescendo a cada dia o número de pessoas que investem em energia


solar com a intenção de diminuir as despesas com a energia fornecida pela con-
cessionária. Este cuidado com o uso da energia é resultado de muito esforço para
melhorar a qualidade do seu uso, que resulta em realizar as mesmas tarefas com
menos energia. Este pensamento permite que uma cidade que consome menos
energia, para manter os seus serviços, a tenha “sobrando” para outras pessoas
utilizarem e, com isso, é possível que o rateio desse uso resulte em redução dos
preços.
Por outro lado, quando há muitas pessoas utilizando a energia elétrica ao
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

mesmo tempo, as concessionárias podem não conseguir atender à necessidade e


para sanear este problema, são instituídas as tarifas de horário de ponta (18h às
21 h), quando o uso da eletricidade em nossas casas coincide com o momento
em que o sistema de iluminação pública (que corresponde a uma das maiores
cargas instaladas em nossas cidades) entra em operação.
Já nos deparamos, algumas vezes, com situações onde precisávamos utilizar
o telefone celular e não havia carga na bateria, o que causou muito transtorno.
Há aparelhos que mesmo novos suportam apenas um dia de carga, gra-
ças aos seus recursos de comunicação e à tela colorida sensível ao toque.
Para tornar mais eficientes as nossas instalações elétricas, devemos
contemplar nossos equipamentos, sempre verificando qual o consumo
de energia de cada um. No Brasil, existe uma etiqueta que prevê,
em uma escala de consumo, o comportamento do equipamento,
como um aparelho de ar-condicionado ou um refrigerador.
A Figura 23 apresenta a escala de eficiência energética que
permite ao usuário identificar o consumo de energia de
seu eletrodoméstico ou mesmo do seu carro, desde o
mais eficiente ou econômico (A++) até o menos
eficiente (G).
Assim, é possível decidir se vamos dirigir
o carro A ou o carro B em nossas instalações.
A monitoração do consumo de ener-
gia de cada dispositivo é fundamental
para que possamos avaliar se é viável Figura 23 - Escala de eficiência energética

Eficiência Energética
148 UNIDADE III

manter um equipamento ou se devemos substituí-lo, pois enquanto o equipamento


está novo, é possível que ele se enquadre na escala informada pelo fabricante, mas
após alguns anos de uso, o desgaste natural das peças pode tornar uma máquina,
ainda funcional, em um transtorno desperdiçador de energia, o que corresponde a
prejuízo ativo.

TECNOLOGIAS APLICADAS PARA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Nesta seção, serão apresentadas algumas tecnologias utilizadas na atualidade para
promover a eficiência energética e possibilitar o uso responsável deste recurso
do qual dependemos tanto: a energia elétrica.

Geração de energias alternativas

Atualmente, é comum observar construções modernas de edificações que já con-


templam instalações de sistemas de geração de energia fotovoltaica e até mesmo
eólicas, fato que não se observava há menos de cinco anos. Esta realidade aponta
para uma tendência que teve início no Brasil na década de 90 e que apenas agora
ganhou força, graças ao alinhamento governamental que está aplicando políticas
que viabilizam a comercialização e o uso dessa tecnologia de geração de energia,
porém, ainda engatinhamos na direção do desenvolvimento e da autonomia para
o uso destes valiosos recursos.
A matriz energética brasileira é mantida (na maior parte) pelas usinas hidrelétri-
cas, além da contribuição das usinas eólicas, térmicas e solares. Atualmente, é possível
a conexão de microgeração de energia à rede de distribuição da concessionária de
energia. Este processo pode gerar créditos para a troca por demanda consumida pelo
mesmo responsável pela geração. Em outras palavras, um usuário da rede elétrica que
consome energia em sua unidade de consumo, pode abater parte deste consumo com
os créditos da energia gerada e entregue à rede.
Quando a geração é conectada à rede, podemos dizer que ela é classificada
como on-grid (Figura 24) e funciona conforme comentado antes.
Quando a geração de energia não é conectada à rede da concessionária, o

MÁQUINAS ELÉTRICAS E ACIONAMENTOS


149

sistema de geração é classificado como off-grid (Figura 25), e o potencial ener-


gético produzido é consumido pelos próprios dispositivos nele conectados ou
armazenado em baterias para uso posterior.
Há menos de um ano atrás, muitos estados brasileiros possuíam a incidência
de carga tributária elevada sobre a energia, que era entregue à rede pela microge-
ração de energia fotovoltaica, fazendo com
que aquele que gera energia e a entrega
para o sistema de distribuição pague pelo
envio, e depois pague novamente pelo uso
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final em sua unidade de consumo.


Este processo era denominado de
bitributação e tornava inviável o investi-
mento em equipamentos que retornavam
o valor em longo prazo (cerca de 12 anos
para uma instalação residencial comum).
Com a redução dos impostos para a
compra e o uso das tecnologias de gera- Figura 24 - Instalação de sistema de geração fotovoltaica on-grid
ção distribuída, os projetos com painéis
fotovoltaicos se tornaram mais viáveis, SISTEMA RESIDENCIAL DE PAINÉIS SOLARES
entretanto, ainda há muito a se fazer para PAINEL SOLAR

evoluir nesse processo, uma vez que um INVERSOR

painel de boa qualidade ainda não apre-


senta eficiência satisfatória. CONTROLADOR
DE CARGA
A eficiência de um painel solar é a
capacidade percentual que este dispo-
sitivo tem em converter a energia solar
incidente em energia elétrica, ou seja,
APARELHOS ALIMENTADOS
se um painel solar apresenta eficiên- EM CORRENTE ALTERNADA

cia energética de 17%, logo, de toda a BATERIAS

potência luminosa incidente sobre a sua


superfície, apenas 17%, serão converti-
dos em energia elétrica ou energia útil. Figura 25 - Instalação de sistema de
geração fotovoltaica off-grid
Os motivos que limitam a eficiência

Eficiência Energética
150 UNIDADE III

dessa tecnologia que há mais de 20 anos se desenvolve para uso comercial estão
relacionados ao material atualmente explorado para a fabricação dos painéis, o
silício. No Brasil, ele é abundante, mas ainda não temos tecnologia para fabricar os
módulos fotovoltaicos com eficiência superior e, assim, ficamos na dependência
de países com mais desenvolvimento tecnológico para processar a matéria-prima
que temos em painéis com valor agregado.
A tendência é que mais pessoas utilizem recursos de microgeração de energia
elétrica nos próximos anos e que este fator permita o crescimento do mercado de

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equipamentos e recursos energéticos, tanto na geração de energia solar quanto nos
sistemas eólicos, os quais ganham cada vez mais espaço na matriz energética mun-
dial. A Figura 26 mostra uma planta residencial com sistema de geração alternativa
baseado em geração solar e eólica.
ENERGIA ALTERNATIVA PARA SUA RESIDÊNCIA
Na Figura 26, é possível notar que
existe a possibilidade de uma residên- PAINEL SOLAR
INVERSOR
cia ou ambiente comercial utilizar
geração de energia alternativa, seja ela
CONTROLADOR
on-grid ou off-grid. A segunda opção DE CARGA

tem o agravante de estar relacionado


às baterias. Estas têm vida útil reduzida
e custam muito caro. Por este motivo,
a conexão à rede no sistema on-grid APARELHOS ALIMENTADOS
EM CORRENTE ALTERNADA
ainda é o mais viável. BATERIAS

O assunto relacionado à geração


TURBINA EÓLICA
alternativa de energia certamente é
muito amplo e não haveria como
Figura 26 - Energias alternativas: produzindo a própria
mostrar todas as tecnologias exis- energia elétrica
tentes, porém, são estas as mais utilizadas atualmente. Na sequência, serão
abordados os dispositivos que permitem a qualificação da energia para o uso de
máquinas elétricas.

MÁQUINAS ELÉTRICAS E ACIONAMENTOS


151

Acionamentos de motores elétricos por chaves estáticas

Conforme estudamos nesta unidade, há dispositivos que permitem a partida e a


parada de motores elétricos, utilizando recursos de eletrônica de potência. Esta
técnica de acionamento permite que a partida de um motor seja suave, dimi-
nuindo o desperdício de energia e também os prejuízos com partidas de motores,
pois cada vez que um motor é acionado por chave de partida direta, toda a cor-
rente consumida entre 0% e 100% de sua velocidade nominal acima da corrente
nominal de trabalho é utilizada para vencer o momento de inércia, já no aciona-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

mento por chave estática, a corrente nominal é quase a mesma do acionamento,


havendo mínimo desperdício durante as partidas sucessivas.
Este fato nos remete ao uso responsável da eletricidade, principalmente, no
acionamento de motores em máquinas e processos que realizam ciclos de liga e
desliga repetitivos ao longo de seu turno de trabalho.

A indústria de equipamentos de ar-condicionado e refrigeradores apostou na


tecnologia de inversores para a fabricação de seus dispositivos, de modo que
os aparelhos mais econômicos são equipados com este recurso, o qual permi-
te minimizar o número de vezes que o motor é ligado e desligado ao longo de
seu funcionamento.
Fonte: o autor.

Nesta unidade, abordamos assuntos importantes referentes aos tipos de máquinas


elétricas, aos principais tipos de acionamentos elétricos e à eficiência energética,
assuntos correlatos que geram certa dependência dado ao fato de que o funcio-
namento das máquinas elétricas influencia diretamente na maneira com que a
energia elétrica é administrada.
Nas próximas unidades, trataremos de assuntos mais específicos a respeito
de eletrônica e de sua ligação com o mundo onde vivemos, o qual pretendemos
tornar mais produtivo, sob a ótica de um Engenheiro de Produção.

Eficiência Energética
152 UNIDADE III

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na Unidade 3 deste livro, abordamos assuntos relacionados às máquinas elétri-


cas e às suas principais características básicas, como transformadores e motores
de indução trifásicos.
Atualmente, houve grande evolução no segmento de máquinas elétricas e de
acionamentos norteados pela necessidade de se obter maior eficiência e, com isso,
menos despesas com desperdícios de energia. Em alguns países, as exigências
são ainda mais rigorosas do que no Brasil e, assim, os equipamentos movidos a

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
energia elétrica precisam oferecer conversão de energia próxima de valores uni-
tários, ou seja, quase sem perdas.
Com base nos princípios funcionais esperados para uma máquina elétrica e na busca
pela eficiência energética, são desenvolvidas técnicas de acionamentos que permitem
minimizar as perdas com partidas de motores e, ao mesmo, tempo aumentar a vida
útil das máquinas. Esta foi a contribuição das chaves estáticas (soft-starters e inverso-
res de frequência) diante de topologias de acionamentos por elementos de comutação
(contatores), que geram correntes de partida elevadas e desperdícios de energia.
A eficiência energética está, sem dúvida, relacionada ao uso da energia com
responsabilidade. Para isso, precisamos utilizar a eletrônica para desenvolver
equipamentos mais eficientes e conectáveis a bases computacionais, pois pre-
cisamos mensurar para controlar, como no caso dos dispositivos utilizados na
Internet das Coisas (IoT).
As diversas inovações que a ciência proporcionou, nos últimos 20 anos, no
segmento de eletrônica e máquinas elétricas, permitiu que a indústria usufrua,
atualmente, da possibilidade de integrar os seus recursos em palavras de dados,
as quais percorrem os barramentos de rede e fornecem importantes informações
para a tomada de decisão estratégica por parte do gestor do processo.
No estudo da eletrônica, que será feito nas próximas unidades deste livro, o
estudante terá a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre as tecnologias
que são aplicadas à melhoria dos processos industriais e baseadas em componen-
tes eletrônicos que substituem os antigos transformadores de baixa frequência,
pesados e de grandes dimensões, pelo chaveamento de alta frequência com con-
trole de potência e de pequenas dimensões.

MÁQUINAS ELÉTRICAS E ACIONAMENTOS


153

1. Um transformador alimenta uma carga com tensão no seu secundário de 12V e


corrente de 2A. Se a tensão no enrolamento do transformador é de 127V, qual
a corrente no enrolamento primário?
2. Calcule o escorregamento percentual para os casos:
a) Motor de VI polos, com 450 rpm de velocidade nominal e acionado com
frequência de 60 Hz .
b) Motor de IV polos, com 1450 rpm de velocidade nominal e acionado com
frequência de 50 Hz .
3. Explique as diferenças entre máquinas estáticas e máquinas dinâmicas.
4. Determine como é possível reduzir o custo de energia elétrica referente às par-
tidas de motores elétricos de indução trifásicos. Apresente argumentos que
confirmem as suas afirmações.
5. Uma empresa com consumo de energia de 500 KMh dedicados apenas à ilu-
minação adotou um sistema de energia solar para a economia da tarifa junto
à concessionária, porém, ao realizar os cálculos, a empresa descobriu que o
retorno do investimento se dará ao longo de seis anos. Aponte uma solução
que poderia reduzir o tempo de retorno do investimento. Utilize argumentos
que sustentem o seu posicionamento.
6. A eficiência energética é um parâmetro que define o quanto utilizamos a ener-
gia de maneira útil e inteligente. Dado este conceito, defina como é possível
otimizar a eficiência energética de uma indústria com máquinas e processos já
operantes há cinco anos e que, aparentemente, não possui indicadores nega-
tivos de desempenho.
154

AUTOMAÇÃO COMO FERRAMENTA DE ANÁLISE DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA


O Brasil representa uma nação em desenvolvimento, onde o seu crescimento econômico é dire-
tamente proporcional ao consumo das diversas fontes de energia. Atualmente, a demanda de
energia tende a ser maior que a oferta, e esta situação tem gerado grande preocupação com a
possível falta de energia.
Diante dessa realidade, as políticas governamentais direcionam esforços para diversificar a matriz
energética do país. No entanto, gerar mais energia não é suficiente, pois existe a necessidade de, além
de diversificar as fontes de energia, economizar no uso e eliminar o desperdício (ELETROBRÁS, 2006).
Entre os setores econômicos que consomem mais energia no Brasil, o segmento industrial se desta-
ca. Segundo os dados do Balanço Energético Nacional (EPE, 2013), tal setor é responsável por 35,1%
do consumo total de energia no país. Neste segmento, a eletricidade se enquadra como a principal
fonte de energia, e entre as indústrias que mais consomem energia elétrica, a de cimento ocupa o 9º
lugar (BAJAY, GORLA e DORILEO, 2010).
Assim, visando a proporcionar um consumo eficiente de energia elétrica para o setor de cimento
e, consequentemente, para a matriz energética do país, escolheu-se um sistema em funcionamen-
to em uma indústria cimenteira para a realização de análises de eficiência energética por meio da
implantação da automação.
O Sistema de Abastecimento de Água foi escolhido devido à sua operação ser essencial para os
processos produtivos de fabricação de cimento e por apresentar vários pontos de desperdício de
energia elétrica.
O controle dos níveis de água dos reservatórios era do tipo liga/desliga, onde os comandos para
as bombas eram enviados sem nenhum critério de segurança, quanto ao tempo e a quantidade
de água disponível no sistema.
O sistema funciona 24 horas, e em funcionamento normal as bombas realizavam 48 ciclos de traba-
lho, o que significava que as bombas ligavam e desligavam 48 vezes por dia. O acionamento elétri-
co das bombas centrífugas era do tipo partida direta, provocando elevação de corrente durante a
partida. O pico da corrente de partida provoca aquecimento nos enrolamentos dos motores e, por
conseguinte, essa elevação de temperatura causa desgastes na isolação do cobre, e também eleva-
ção da corrente elétrica no painel CCM. Essa situação provoca diminuição da vida útil dos motores,
sobrecarga na rede elétrica e desperdício de energia.
Solução proposta: para diminuir a corrente de partida das bombas centrífugas, foram modificados
os acionamentos para soft-starter e inversor de frequência. A aplicação do inversor de frequência
objetivou não somente a redução da corrente de partida, mas também o controle da vazão da bom-
ba. Por meio do controle de velocidade, foi possível manter o nível dos reservatórios de água cheios,
não sendo necessárias 48 partidas por dia. Esta solução também diminuiu o desgaste do motor
devido ao número elevado de partidas/dia, visto que manteve a bomba em operação contínua.
Apesar do sistema já possuir um controle automático, foi identificado que ele apresentava fragili-
dades que acarretavam em consumos desnecessários de eletricidade. Com a implantação de uma
nova automação, os controles e acionamentos do sistema foram modificados visando a redução
do consumo e o uso de energia elétrica sem diminuir a demanda, ou seja, sem alterar a sua utili-
dade para os processos produtivos.
Fonte: adaptado de Amaral (2014).
MATERIAL COMPLEMENTAR

Máquinas Elétricas e Transformadores


Irving L. Kosow
Editora: Globo
Sinopse: a presente obra oferece material pertinente utilizado sobre
o assunto, levando-o em plena conta e com o sentido adequado de
sua importância relativa. Dirigida ao estudante de Engenharia Elétrica
e Eletrônica, tem a vantagem de ser originalmente concebida para
autoensino. Inclui material de texto bastante detalhado, exemplos
ilustrativos indicando solução de problemas e muitos tópicos específicos
destinado a motivar o leitor, o que permite ao leigo ou ao técnico não
universitário o acesso às informações apresentadas, além de abrir uma
larga perspectiva para o treinamento a nível operacional prático de
especialistas em máquinas elétricas.
Comentário: excelente referência acerca de máquinas elétricas e
acionamentos. Aborda máquinas estáticas e dinâmicas em sua essência

Máquinas Elétricas e Acionamento


Edson Bim
Editora: Campus
Sinopse: Máquinas Elétricas e Acionamento é livro-texto para a disciplina
Máquinas Elétricas e Conversão Eletromecânica de Energia presente nos
cursos de Engenharia Elétrica. Dentre os tópicos desenvolvidos no livro
estão Circuitos Magnéticos, Transformadores, Princípios de Conversão
Eletromecânica de Energia, Configuração Básica e Princípios de Máquinas
Elétricas, Máquinas de Corrente Contínua, Máquinas de Indutância,
Geração de Torque e até uma introdução ao controle vetorial de máquinas.
Comentário: ótima referência para entender matematicamente
o funcionamento das máquinas elétricas e os seus respectivos
acionamentos.

Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR

De Volta Para o Futuro (1985)


Sinopse: o filme conta a história de Marty McFly (Michael J. Fox), um
adolescente que volta no tempo até 1955. Ele conhece os seus futuros
pais no colégio e acidentalmente faz a sua futura mãe ficar romanticamente
interessada por ele. Marty deve consertar o dano na história fazendo
com que seus pais se apaixonem e, com a ajuda do Dr. Emmett Brown
(Christopher Lloyd), encontrar um modo de voltar para 1985.
Comentário: o filme relata a relação existente entre as necessidades de
um grupo de pessoas em viajar no tempo e a sua dependência de energia
elétrica para alimentar a suposta máquina do tempo.

No site da Schneider Energia, é possível conferir temas sobre eficiência energética e as soluções
simples para a gestão integrada de energia.
Web: <https://www.se.com/br/pt/download/document/eficiencia_energetica/>.

Assista ao documentário do History Channel sobre Nikola Tesla, pai da eletricidade moderna.
Web: <https://youtu.be/n2W-foNTfQo>.

Conheça a história por trás da invenção da lâmpada por meio deste documentário do History
Channel chamado “Thomas Edison - A Invenção da Lâmpada”.
Web: <https://youtu.be/QNoEU88mqrA>.

Neste vídeo, confira a Cummins Power Generation, a única fornecedora mundial de sistemas de
energia comercial PowerCommand pré-integrados.
Web: <https://youtu.be/2qDtxtsbp-M>.
157
REFERÊNCIAS

AMARAL, C. N. Automação Como Ferramenta de Análise de Eficiência Energética. In:


CONGRESSO BRASILEIRO DE AUTOMÁTICA. 20., 2014. Belo Horizonte. Anais... Belo
Horizonte: UFMG, 2014.
FRANCHI, C. M. Acionamentos Elétricos. São Paulo: Érica, 2007.
KOSOW, I. L. Máquinas Elétricas e Transformadores. São Paulo: Globo, 2005.
WEG S.A. Automação Guia de Seleção de Partidas. Jaraguá do Sul: WEG, 2013.
______. Guia de aplicação de Inversores de Frequência. 2. ed. Jaraguá do Sul:
WEG, 2004.
______. Inversor de Frequência CFW-11. Manual do Usuário. Jaraguá do Sul: WEG,
2008.
______. Motores Elétricos - Guia de Especificação. Jaraguá do Sul: WEG, 2016.
______. Soft Starter SSW-08. Jaraguá do Sul: WEG, 2015.
GABARITO

1. Dados:
• VP =127 V
• VS =127 V
• I S = 2 A
• I P = ?
Solução:
VP × I P = VS × I S
VS × I S 12 × 2
IP = = = 0,188 A
VP 127
I P = 0,188 A ou I P = 189 mA

2. Dados:
Calcule o escorregamento percentual para os casos:
a) Motor de VI polos, com 450 rpm de velocidade nominal e acionado com fre-
quência de 60 Hz .
b) Motor de IV polos, com1450 rpm de velocidade nominal e acionado com fre-
quência de 50 Hz .
Solução:
a) 1º passo: cálculo da velocidade síncrona (NS) para o motor:
De acordo com os dados do exemplo, a frequência da rede de alimentação é
de 60 Hz e o número de polos é de 6, temos:
120 × 60
NS = = 1200 rpm
6

2º passo: cálculo do escorregamento percentual s (%) do motor com 450 rpm


no eixo:
NS − NN 1200 − 450
s (%) = ×100 = ×100 = 62, 5 %
NS 1200
s(%) = 62, 5 %

b) 1º passo: cálculo da velocidade síncrona (NS) para o motor:


De acordo com os dados do exemplo, a frequência da rede de alimentação é
de 50 Hz e o número de polos é de 4, temos:
159
GABARITO

120 × 50
NS = = 1500 rpm
4

2º passo: cálculo do escorregamento percentual s (%) do motor com 1450


rpm 1450 rpm no eixo:
NS − NN 1500 −1450
s (%) = ×100 = ×100 = 3, 33 %
NS 1500
s(%) = 3, 33 %
3. R: As máquinas estáticas apresentam as seguintes características:
• Operam sem partes móveis.
• Exigem baixa manutenção.
• São pouco flexíveis.
As máquinas dinâmicas são conhecidas por:
• Possuem partes em movimento.
• Consumirem altos níveis de corrente de partida.
• Permitem economia de energia com acionamentos estáticos.
4. R: Para reduzir o custo de energia com acionamento de motores de indução tri-
fásicos, é necessário utilizar chaves de partida estáticas, como inversores de fre-
quência ou soft-starters, pois a partida suave desse tipo de acionamento reduz a
corrente de partida característica das chaves de partida direta que, normalmen-
te, é de cinco a seis vezes maior do que a corrente nominal do motor utilizado
em plena carga.
5. R: Para reduzir o tempo de retorno dos investimentos, seria interessante reduzir
a carga tributária que incide sobre a compra dos painéis solares e demais itens
do projeto, assim como a fabricação destes no Brasil, que possui matéria-prima
em abundância para a fabricação dos painéis fotovoltaicos.
6. R: Primeiramente, é necessário mensurar para sempre controlar. Desta forma, a
instrução é: realizar uma medição sistemática do consumo individual de energia
das máquinas da empresa e cruzar o consumo que cada uma deveria ter em
plena carga. Dessa forma, seria possível avaliar qual delas está com consumo ele-
vado ou necessitando de ações corretivas, pois quando uma máquina consome
mais energia do que o necessário, significa que o seu rendimento está baixo e,
consequentemente, a sua eficiência energética. Isto pode significar a manuten-
ção ou até a troca da máquina.
Professor Me. Fábio Augusto Gentilin

IV
UNIDADE
ELETRÔNICA

Objetivos de Aprendizagem
■ Introduzir os conceitos fundamentais básicos da Eletrônica e as suas
aplicações na indústria para Engenheiros de Produção.
■ Apresentar as características da eletrônica digital e as suas principais
aplicações.
■ Conhecer as características da eletrônica analógica e as suas
principais aplicações.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Introdução à Eletrônica
■ Eletrônica digital
■ Eletrônica analógica
163

INTRODUÇÃO

Assim como em muitas outras áreas, a Eletrônica teve o seu maior salto de desen-
volvimento histórico a partir da década de 40, época onde a Segunda Guerra
Mundial se estabeleceu (1939 a 1945).
Naquela época, havia uma corrida pelo desenvolvimento de soluções que
pudessem trazer vantagens estratégicas aos diferentes lados da guerra, como
telecomunicações, transporte, controle etc., e a tecnologia daquele tempo estava
limitada ao que há várias décadas já era utilizado.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Foi então que, logo após o fim Segunda Guerra Mundial, uma equipe de pesqui-
sadores deu um passo gigantesco na história da eletrônica (e para o bem de todos
nós): descobriram o Transístor. A descoberta foi feita em 1947 pela equipe de pes-
quisadores composta por John Bardeen e Walter Houser Brattain nos laboratórios
da Bell Telephone, localizado em Berkeley Heights, Nova Jersey, Estados Unidos
(atualmente Nokia Bell Labs). A demonstração da descoberta ocorreu em 23 de
dezembro de 1948 com a equipe formada por Bardeen, Brattain e William Bradford
Shockley. Mais tarde, em 1956, foram laureados com o prêmio Nobel de Física.
A partir daí tudo mudou. A maneira com que os fabricantes de tecnologia
pensavam os seus projetos e os produtos que seriam oferecidos. Muitas possibi-
lidades antes impraticáveis se tornaram possíveis com a descoberta deste valioso
recurso, possibilitando que a humanidade saísse da era dos dispositivos eletro-
mecânicos e passasse à era da integração em massa.
Esta tecnologia permitiu o desenvolvimento de outros dispositivos, como os
circuitos integrados, que agregam funções específicas dentro de um único encap-
sulamento, envolvendo lógica digital ou circuitos especiais para funções analógicas,
como amplificadores de sinal, os quais, antes dessa invenção, ocupavam muito espaço,
e agora podem ser facilmente alojados dentro de pequenos gabinetes portáteis.
Os avanços da Eletrônica tornaram possível o advento dos computadores,
pois impulsionaram o desenvolvimento dos primeiros processadores que, atu-
almente, utilizamos em nossas casas, seja em nossos computadores pessoais ou
em nossos dispositivos móveis (aparelhos celulares, gadgets, tablets etc.).
Na área da saúde, o advento da Eletrônica embarcada possibilitou a criação
de novos equipamentos capazes de facilitar o diagnóstico de doenças por meio de

Introdução
164 UNIDADE IV

técnicas de imagens, graças aos avanços da área de hardware e software embarcados.


Na área da defesa, a Eletrônica tem papel crucial no desenvolvimento de téc-
nicas de transporte de armamentos e pessoas, com comunicações e controle de
dispositivos remotamente, como é o caso dos drones, veículos não tripulados
capazes de percorrer trajetórias distintas e flexíveis, de acordo com a necessidade.
Nesta unidade, nos aventuraremos pelo mundo da Eletrônica e as suas apli-
cações de acordo com o esperado para um Engenheiro de Produção, explorando
as diferenças fundamentais entre a eletrônica digital e a analógica.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
INTRODUÇÃO À ELETRÔNICA

Nesta unidade, estudaremos a eletrônica sob o ponto de vista de um Engenheiro


de Produção, que visa a entender a dinâmica de um processo, a estudar as suas
limitações e a propor soluções para aumentar o desempenho geral com o uso
de recursos tecnológicos existentes na atualidade.
Serão abordadas as principais características da Eletrônica em duas partes:
eletrônica digital e eletrônica analógica. Primeiramente, antes de entrar em deta-
lhes dessas duas partes, introduziremos o conceito geral da Eletrônica em uma
linguagem que pretende transmitir os conceitos básicos para o entendimento
desta revolucionária tecnologia que invadiu o mundo em que vivemos.

DEFINIÇÕES

A Eletrônica é definida como o ramo da ciência que utiliza componentes associa-


dos em circuitos para a realização de tarefas e funções específicas vinculadas ao
movimento do elétron em suas malhas. Em outras palavras, a Eletrônica estuda
o movimento dos elétrons em diferentes componentes que podem realizar tare-
fas como armazenar dados, processar informações, emitir luz etc.

ELETRÔNICA
165
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Não há apenas uma aplicação para a eletrônica, ao contrário disto, há infinitas


aplicações. Desde emitir luz por meio de um diodo emissor de luz (LED) até con-
trolar as funções de um satélite em órbita, ou mesmo processar todos os dados
da internet enquanto realizamos uma pesquisa em um site de busca.
Atualmente, vivemos em um mundo repleto de Eletrônica. Não há uma
adaptação dela a nós, e sim, o contrário, as pessoas é que precisam se ajustar
a esta realidade. Isto é muito fácil de perceber quando observamos um idoso
adquirindo um smartphone e iniciando o aprendizado da nova ferramenta para
acessar a sua conta bancária.
Quase não há mais espaço para a evolução sem a dependência dos recursos
eletrônicos, pois praticamente todo o mercado conhecido depende da Eletrônica,
seja para movimentar dinheiro no banco ou para dar partida em seu automóvel.
Quando o assunto é telecomunicações, esta dependência aumenta ainda mais.

Qual o impacto de ficar sem conectividade com a internet por um mês, sem
“contato” com outras pessoas por meio dela? Avalie em termos pessoais e
profissionais.

Introdução à Eletrônica
166 UNIDADE IV

A Eletrônica existe sempre quando temos um circuito formado por componentes ele-
trônicos, especialmente fabricados para realizar tarefas específicas e necessárias para
que uma ação desejada seja realizada. Por exemplo, para que a sua estação favorita
de rádio seja sintonizada, alguns componentes devem ser associados e alimentados
devidamente dentro do seu rádio, assim como no aparelho celular ou smartphone.
Na sequência, abordaremos alguns componentes eletrônicos e as suas fun-
ções para o entendimento básico do funcionamento de circuitos eletrônicos,
assunto que também será abordado na sequência.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
COMPONENTES ELETRÔNICOS

Para iniciar o nosso estudo da Eletrônica, começaremos pela parte tangível, ou


seja, aquilo que se pode ver. Assim, é mais produtivo em termos de memoriza-
ção dos termos associados às suas formas visuais e à funcionalidade.
Esta seção será dividida em componentes não semicondutores (também
conhecidos como componentes passivos) e componentes semicondutores.

Componentes não semicondutores

Os componentes dessa seção são aqueles que, em sua composição, são feitos
de materiais como cerâmica, cobre, carvão, cromo e outros metais que não são
semicondutores.

Resistor

Os resistores são componentes que podem ser fabricados em diversos tipos de


materiais, como o filme metalizado, o carvão, o níquel cromo etc., e as suas prin-
cipais funções são limitar a corrente, dividir a tensão ou produzir calor a partir
da circulação de corrente elétrica (aquecimento de água, ambientes, fornos etc.),
pois o resistor também atua com o efeito Joule (aquecimento). A Figura 1 mostra
alguns tipos de resistores utilizados em eletrônica, adequados para o uso em pla-
cas de circuito impresso.

ELETRÔNICA
167

O resistor é dimensionado, levando-se em


conta a sua potência, logo, as suas dimensões
e a necessidade de maior área de dissipa-
ção de calor dependem deste parâmetro.
Assim, um resistor de 5W é construído para
suportar a potência de até 5W sem que a
temperatura nestas condições danifique a
sua estrutura, da mesma forma que um resis-
tor de 1/8W (1/8W = 0,125W) é fabricado
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

para esta amplitude de potência apenas.


Os diferentes tipos de encapsulamentos
de resistores dependem de seu uso, podendo
ser fixados em uma placa de circuito impresso
por meio de furos ou na própria superfície. A
Figura 2 mostra o desenho de um resistor e
Figura 1 - Tipos de resistores
o seu projeto dimensional para a montagem
em placa de circuito impresso por meio de
furos (through-hole).

(a) (b)

LB Borda externa Borda externa


de montagem do símbolo do
LLE do componente componente WB
(serigrafia)

2
DL WB
LLE
LP LP
Figura 2 - Resistor em etapa de projeto: montagem por meio de furos (through-hole) em placa de circuito impresso
Fonte: Mitzner (2007, p. 103).

Na Figura 3, é possível ver alguns resistores já fixados e soldados na placa de cir-


cuito impresso (PCI):

Introdução à Eletrônica
168 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 3 - Componentes montados e soldados na PCI: técnica de montagem through-hole

Quando o resistor possui características de altas potências e dissipação de calor


em temperaturas elevadas, é necessário o uso de dissipadores de calor, que são
normalmente perfis de alumínio fabricados para alojar o resistor em seu inte-
rior e conduzir o calor produzido na sua superfície para a atmosfera de maneira
eficiente.
Uma outra configuração de resistores é
dada no encapsulamento projetado para a
montagem em superfície (SMD – Surface-
Mount Device), que pode ter diferentes
tamanhos de acordo com a necessidade para
o mesmo valor de resistência ôhmica, assim
como nos resistores com encapsulamentos
through-hole. O Quadro 1 mostra alguns
encapsulamentos mais comuns utilizados
na fabricação de resistores.
Figura 4 - Resistor de potência montado em
dissipador de calor

ELETRÔNICA
169

Quadro 1 - Tipos de encapsulamentos de resistores SMD

ENCAPSULAMENTOS DE RESISTORES SMD

ENCAPSULAMENTO DIMENSÕES (mm) DIMENSÕES (mils)

2512 6, 30´3,10 0, 25´0,12


2010 5, 00´2, 60 0, 20´0,10
1812 4, 6´3, 0 0,18´0,12
1210 3, 20´2, 60 0,12´0,10
1206 3, 0´1, 5 0,12´0, 06
805 2, 0´1, 3 0, 08´0, 05
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603 1, 5´0, 08 0, 06´0, 03


402 1´0, 5 0, 04´0, 02
201 0, 6´0, 3 0, 02´0, 01
Fonte: adaptado de Mitzner (2007).

Perceba que há encapsulamentos extre-


mamente pequenos, por exemplo, o
encapsulamento 201, que apresenta 0,6 x 0,3
mm de tamanho. Este tipo de componente
é de difícil substituição, pois o seu tamanho
e a massa reduzidos dificultam até o posi-
cionamento e a soldagem, que normalmente
é feita por meio de soprador de ar quente.
A Figura 5 mostra uma placa de circuito
impresso com diversos componentes solda-
dos em SMT (Surface-Mount Technology).
Observe aqueles componentes que possuem
o sufixo R antes de um número, por exemplo:
R1076 ou R281. Estes são os resistores.
Perceba que para diferentes resistores, há Figura 5 - Componentes SMD em PCI: destaque para os
pequenos resistores
tamanhos distintos de acordo com a sua potência.

Introdução à Eletrônica
170 UNIDADE IV

A potência dissipada por um resistor depende da queda de tensão sobre o seu


corpo multiplicado pela corrente que circula por seu elemento resistivo e, des-
ta maneira, podemos encontrar para um mesmo valor ôhmico diferentes po-
tências disponíveis. Ex.: resistor de 10 kW x 1 W , resistor de 10 kW x 5 W e
resistor de 10 kW x 10 W . Mesma resistência disponível em várias potências.
Fonte: o autor.

É importante salientar que os resistores são sensíveis à variação de temperatura


e, como a sua temperatura de corpo pode variar quando percorrido pela cor-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
rente elétrica, podemos verificar variação no valor da resistência (valor ôhmico),
o que não é interessante quando utilizamos esse componente em circuitos de
precisão, como instrumentos eletrônicos, por exemplo.
Para contornar esta sensibilidade à temperatura, alguns modelos de resisto-
res são fabricados em materiais com estabilidade térmica mais apurada, de modo
que, para determinadas faixas de variação de temperatura, não há variação sig-
nificativa de resistência. Normalmente, os resistores com esta capacidade são
fabricados em filme metalizado (VISHAY FOIL RESISTORS, 2018).
O parâmetro que determina a estabilidade térmica é o TCR (Temperature
Coefficient of Resistance), que é medido em ppm/ºC (partes por milhão por grau
Celsius). Este parâmetro é importante para a escolha do resistor a ser utilizado,
e a sua definição é dada por:

R2 − R1
TCR = ×10−6 = [ ppm]
R1×(T 2 −T1)

Equação 1

Onde: TCR é o coeficiente de temperatura da resistência, R2 é o valor da resis-


tência na temperatura de operação ( W ), R1 é o valor da resistência na temperatura
da sala (sem circulação de corrente) ( W ), T1 é a temperatura de operação ( °C )
e T1 é a temperatura da sala ( °C ). A Figura 6 apresenta um gráfico que demons-
tra o TCR para dois tipos de resistores diferentes, sendo um resistor fabricado
em tecnologia Z-Foil e outro resistor com tecnologia NiCr (Níquel-Cromo).
Observe a variação de TCR com a variação da temperatura da sala.

ELETRÔNICA
171

0
TCR (ppm/ºC)

Z-Foil
-2

-4
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

-6 NiCr

-8
-200 -100 0 100 200
Desvio da temperatura da sala (ºC)
Figura 6 - Gráfico do TCR em dois resistores diferentes
Fonte: Vishay Foil Resistors (2018, p. 5).

Exemplo resolvido:
Calcule o valor do TCR para o resistor de 10 kW (valor nominal), sabendo-
-se que a temperatura da sala de testes é de 25, 4 °C , a resistência
apresentada nesta temperatura é de 10, 06 kW , e que ao inserir o resistor em
regime de operação, ele passou a apresentar o valor ôhmico de 10,33 kW com
a temperatura de 35, 7 °C .
Solução:
De acordo com a Equação 1, temos:
R2 − R1
TCR = ×10−6 = [ ppm]
R1×(T 2 −T1)

Substituindo os valores, fica:

10, 33×103 −10, 06×103


TCR = ×10−6
10, 06×10 ×(35, 7 − 25, 4)
3

TCR = 2, 605×10−9 ppm / °c

Introdução à Eletrônica
172 UNIDADE IV

Conforme já vimos na Unidade 1 (resistência elétrica), há resistores que uti-


lizam códigos de cores para indicar o seu valor ôhmico e tolerância. Normalmente,
para resistores com código de cores de seis faixas, a 6ª faixa indica o coeficiente
de temperatura em ppm / °C (Figura 7).

Faixas 
Faixas 
Faixas 

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
º º º Coeficiente de
Digito Digito Digito Multiplicador Tolerância Temperatura





Código de cores de resistores

Figura 7 - Tabela de cores para resistores de seis faixas

Capacitor

O capacitor tem a função de armazenar tensão elétrica. É dotado de duas pla-


cas isoladas entre si. A estas placas são conectados terminais que podem ser:

ELETRÔNICA
173

Separador

• Positivo e negativo nos casos de capaci- Caneco

tores polarizados, por exemplo, os capa-


citores eletrolíticos (Figura 8) ou
Lâmina Terminal
do Anodo (+)
Lâmina do
Catodo (-)

Figura 8 - Capacitor eletrolítico: polarização


definida nos terminais
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

• Apenas duas placas sem polarização,


como no caso dos capacitores cerâmicos
(Figura 9).

Figura 9 - Capacitores diversos sem polaridade

Frequência
Os capacitores são amplamente utilizados em circuitos de tempo, ou seja, osci-
ladores. Estes circuitos operam com uma variável denominada “frequência”, que
pode ser definida como o número de ciclos completos que um sinal percorre
durante o tempo de 1 segundo. Como exemplo, podemos apontar a corrente
alternada do sistema de distribuição elétrica no Brasil, que é de 60 oscilações
por segundo, logo, 60 Hz. Veja o gráfico da função seno na Figura 10: quando
o sinal inicia, o seu ciclo possui 0° com amplitude também igual a zero. Depois
de um tempo, o sinal passa a aumentar o valor de sua amplitude na mesma pro-
porção que aumenta o seu ângulo até o seu valor máximo com amplitude igual
a 1 no ângulo de 90° .
A partir deste estágio, o sinal decresce até 180° e passa por 0 novamente,
seguindo até a sua amplitude mínima, em -1 no ângulo de 270°, de onde passa a
aumentar o seu valor até novamente alcançar o valor 0 no ângulo de 360°. Neste
estágio, há o fim do ciclo. Deste ponto em diante, inicia-se outro ciclo.

Introdução à Eletrônica
174 UNIDADE IV

Cada ciclo possui um período


de duração de tempo, que pode ser
mais rápido (sinais de altas frequ-
ências) ou mais lento (sinais de
baixas frequências).
O período “T” é o tempo em segun-
dos que um ciclo completo (de 0º a
360º) leva para acontecer, Já a fre-
quência “f” é o inverso do período e,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
assim, o cálculo que define a relação
entre período e frequência é dado
Figura 10 - Função seno
na Equação 2 (BOYLESTAD, 2004):

1
T= = [ s]
f
Equação 2

Assim, para a frequência da rede elétrica (sistema de distribuição brasileiro) de


60 Hz, o período que o sinal da tensão apresenta é de:

1 1
T= = = 0, 016666 s
f 60
Ou seja, a cada 0,016666 segundo (aproximadamente 0,0167 s), um ciclo com-
pleto é percorrido pelo sinal que vai de 0 até a sua máxima amplitude, e deste
valor passa por 0, vai até a sua mínima amplitude e retorna a 0 , de onde reini-
cia o ciclo e um novo período, conforme a Figura 11:

ELETRÔNICA
175

Período de um sinal
1,5

1
amplitude do sinal

0,5

0,0125
0,0000

0,0042

0,0083

0,0167
-0,5

-1
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

-1,5
tempo em segundos
Figura 11 - Período de um sinal de 60 Hz
Fonte: o autor.

Normalmente, os capacitores assumem funções que podem ser de:


■ Filtro.
■ By-pass.
■ Acoplamento ou desacoplamento de sinais etc.

Utilizado como filtro, o capacitor atua, por exemplo, em circuitos de fontes de


alimentação no estágio posterior à retificação do sinal. Como by-pass, é comum
observar os capacitores sendo utilizados para desviar as componentes de alta
frequência do sinal de alimentação para o terminal de terra, como na alimen-
tação de um circuito integrado sensível. Já na aplicação como acoplamento ou
desacoplamento de sinais, o capacitor realiza o papel de conectar o sinal com
características de corrente alternada a um circuito amplificador que opera em
corrente contínua. É muito comum esta situação em amplificadores de áudio
ou sinais diversos.

Introdução à Eletrônica
176 UNIDADE IV

O físico alemão Heinrich Rudolph Hertz (1857-1894) desenvolveu pesquisas


com ondas eletromagnéticas que permitiram o desenvolvimento das tele-
comunicações atuais e diversos estudos relacionados às correntes e tensões
alternadas. A unidade de medida de frequência é o “hertz” ou “ Hz ”, em ho-
menagem a este pesquisador.
Fonte: adaptado de Boylestad (2004).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Capacitância
A capacitância é a medida da capacidade de armazenamento de cargas “Q” que um
capacitor possui em determinado potencial elétrico “V”, conforme a Equação 3:
Q
C= =[F ]
V
Equação 3

Onde “C” é a capacitância em farads (representado pela letra F ou seus múltiplos


e submúltiplos, ex.: , nF , pF etc.), Q é a carga elétrica armazenada entre as
suas placas em coulombs (C) e “V” é a diferença de potencial entre as placas,
medida em volts (V).
Em termos mais tangíveis, podemos determinar a capacitância em função
da área de suas placas A, da constante dielétrica do capacitor ou permissividade
relativa er e da distância entre as placas d, conforme a Equação 4:

A
C = er = [F ]
d
Equação 4

Note que, à medida em que a distância entre as placas diminui, a capacitância aumenta,
logo, quanto mais fina for a camada isolante, maior será a capacidade de armazena-
mento de cargas, levando em consideração que o capacitor opera com restrições de
tensão de trabalho, ou seja, a tensão máxima que pode ser aplicada entre os seus ter-
minais sem que ocorram danos permanentes ao componente, conforme a Figura 12:

ELETRÔNICA
177

Terminal 1

Placa A

Dielétrico d
(camada isolante)

Placa B
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Terminal 2
Figura 12 - Capacitor de placas
Fonte: o autor.

O dielétrico do capacitor é a camada isolante que separa as duas placas e pode


ser composta de vários tipos de materiais, cada um com suas propriedades espe-
cíficas. Alguns exemplos de dielétricos são: ar (vácuo), poliéster, polipropileno,
papel, stiroflex, óxido de alumínio etc. Para cada tipo de dielétrico há um valor
de constante er , por este motivo, utilizamos o termo “r” subscrito que remete
a relativo, ou seja, er é a constante dielétrica relativa de um determinado mate-
rial ou permissividade relativa que compõe o dielétrico do capacitor e que pode
ser consultada em uma tabela, conforme mostrado no Quadro 2:
Quadro 2 - Constantes dielétricas de alguns materiais

MATERIAL εr
Vácuo 1
Água 30 - 88 (dependendo da temperatura)
Vidro 3, 7 -10
PTFE (Teflon) 2,1
Polietileno (PE) 2, 25
Poliamida 3, 4

Introdução à Eletrônica
178 UNIDADE IV

Polipropileno 2, 2 - 2, 36
Poliestireno 2, 4 - 2, 7
Dióxido de titânio 86 -173
Titanato de estrôncio 310
Titanato de estrôncio com bário 500
Titanato de bário 1250 - 10.000 (dependendo da temperatura)

Polímeros conjugados 1.8 até 100.000 (dependendo do tipo)

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Titanato de cobre e cálcio > 250.000

Fonte: adaptado de Clipper Controls ([2018], on-line)1.

A permissividade relativa ( er ) pode ser descrita como a permissividade do


material do dielétrico do capacitor em relação à permissividade do vácuo e, para
calculá-la, precisamos saber o valor de er, que é a permissividade de um deter-
minado material. De posse desta informação, podemos obter a permissividade
relativa a partir da relação dada na Equação 5:

e
er =
e0

Equação 5

Onde e0 é a permissividade do vácuo. O seu valor é de 8, 8541878×10−12 F/m


(Farads por metro). Há, entretanto, fontes de informações que já fornecem os
valores de constantes dielétricas na internet e podem ser consultados para maio-
res informações e projetos específicos (CLIPPER CONTROLS, [2018], on-line)1.

Exemplo resolvido:

Calcule a capacitância do capacitor de placas com área de 0, 013 cm† separadas


entre si por uma camada isolante fabricada em poliamida de espessura igual a
1, 73×10−6 m .

ELETRÔNICA
179

Solução:
Dados:
er = 3, 4

2
Conversão da área dada em cm para m2 :
1 m2 = 1 m x 1 m , sendo 1 m = 100 cm, fica:
100 cm x 100 cm = 10.000 cm 2
aplicando-se regra de 3 simples, fica:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

10.000 cm2 = 1 m2
0,013 cm 2 = x m2
10.000 x = 0,013
0, 013
x=
10.000
x = 1,3x10-6 m-2
13cm² = 1, 3 x 10- 6 m 2
- 6
d = 1, 73 x 10 m

Cálculo da capacitância
A
C = er = [F ]
d
1, 3 x 10- 6
C = 3, 4 = 25, 549 F
1, 73 x 10- 6
C = 25, 549 F

ou
C = 25, 549 F

Uma das características importantes do capacitor é sua reatância capacitiva “ XC


”, que consiste em uma restrição à passagem de corrente, que é inversamente pro-
porcional à frequência de seu sinal, ou seja (Equação 6) (BOYLESTAD, 2004):

Introdução à Eletrônica
180 UNIDADE IV

1
XC = = [Ω]
2×p× f ×C

Equação 6

Onde 2´p é uma constante, C é o valor da capacitância do capacitor e f é a fre-


quência do sinal. Essa informação nos permite concluir que, em sinais de corrente
contínua com frequência igual a 0, a reatância capacitiva tende ao infinito, ou
seja, é um circuito aberto, e com sinais de corrente alternada ou de frequências

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
maiores do que 0 , a reatância capacitiva diminui à medida em que a frequência
aumenta, pois são inversamente proporcionais.

Indutor

O indutor é um dos componentes mais utilizados, tanto quanto os capacitores


e resistores. Está presente em diversos dispositivos, como motores, relés, trans-
formadores, eletroímãs, solenoides, autofalantes etc.
A indutância é medida em Henry (H) e seus múltiplos e submúltiplos
(1 H , 1 m , 20 H etc.). Esta grandeza depende da geometria do indutor e
dos materiais que o compõem, que dependem da aplicação. Por exemplo, em
transformadores de distribuição, normalment, e são utilizados condutores de
cobre enrolados em núcleo de aço-silício, já em circuitos de conversores que
operam em altas frequências, o núcleo é em ferrite.
Uma das características importantes do indutor, representado pela letra “L”
é a sua reatância indutiva XL, que corresponde a uma restrição à passagem de
corrente que depende da frequência (Equação 7) (BOYLESTAD, 2004).

ELETRÔNICA
181

X L = 2×p× f × L = [Ω]

Equação 7

Diferentemente dos capacitores, nos indutores, a reatância indutiva (XL) aumenta


quando a frequência aumenta e diminui se a frequência diminui, logo, são dire-
tamente proporcionais. Este efeito influencia diretamente no acionamento de
motores de indução que, ao serem acionados por um inversor de frequência,
devem manter o torque constante e, para que isto ocorra, a tensão deve ser adi-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

cionada na mesma proporção da frequência em escala, conforme podemos


observar na Figura 13 com a curva V/F (tensão/frequência).

Figura 13 - Curva V/F de acionamento de motor de indução


Fonte: adaptado de WEG (2004).

Como podemos observar na Figura 13, à medida em que a tensão é fornecida


ao motor, na mesma proporção é inserida a frequência, assim, podemos manter
a corrente constante no estator do motor, da ordem da sua corrente nominal. A
Equação 8 mostra a relação entre a corrente, a tensão e as resistências do enro-
lamento do motor (WEG, 2004):

Introdução à Eletrônica
182 UNIDADE IV

V
I= = [ A]
X L 2 + R2

Equação 8

Na Equação 8 , I é a corrente que circula pela bobina do estator do motor de


indução. Perceba que V é a tensão fornecida ao motor de acordo com a escala da
Figura 13, onde, na medida em que V aumenta, f aumenta proporcionalmente
e, com isso, XL também aumenta, pois, de acordo com a Equação 7, são direta-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mente proporcionais.
Se XL aumenta na Equação 8, automaticamente, haveria um efeito inverso
em I que deveria diminuir, uma vez que é inversamente proporcional, porém se
adiciona tensão V proporcionalmente para estabilizar o valor da corrente que
se mantém constante.
Na Equação 8, a variável R refere-se à resistência do enrolamento de cobre
que pouco representa influência acima de 30 Hz comparado ao valor de reatân-
cia indutiva XL (WEG, 2004).

Quando motores de indução e transformadores são superdimensionados,


podem produzir baixo fator de potência, pois aumentam a potência reativa
de uma instalação que é monitorada pela concessionária, e esta pode apli-
car multas à empresa responsável pela baixa qualidade do uso da energia
em seus equipamentos e processos.
Fonte: adaptado de Franchi (2007).

Há inúmeras aplicações de indutores, capacitores e resistores que gostaríamos


de abordar, mas que seriam além dos propósitos deste livro, logo, as próximas
seções serão referentes a tópicos aplicados desses componentes como integran-
tes da Eletrônica de maneira abrangente.

ELETRÔNICA
183

Componentes semicondutores

Nesta seção, serão abordados os componentes que se destacam por permitir a


integração de funções em um circuito de reduzidas dimensões, o controle de
potência, os recursos de inteligência embarcada, a emissão de luz em diversos
comprimentos de onda e muito mais. Estamos nos referindo aos semicondutores.

Diodos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Os diodos são os mais simples semicondutores que abordaremos neste livro.


São estruturas fabricadas para funções específicas como: retificação de sinais,
regulação de tensão, sintonia de sinais de áudio e vídeo, emissão de luz, acopla-
mento de sinais etc.
Abordaremos aqui os diodos em sua funcionalidade e os principais tipos
(MALVINO, 1995).

Estrutura do diodo semicondutor

O diodo semicondutor é composto de uma junção pn que recebe esta nomenclatura


graças à sua arquitetura baseada na junção de duas pastilhas de semicondutor,
sendo uma com portadores majoritários positivos (p), e a outra com portado-
res majoritários negativos (n).
A Figura 14 mostra a estrutura interna de um diodo retificador onde pode-
mos observar as pastilhas de semicondutor compostas de portadores majoritários
positivos, dando origem ao elemento do tipo p, e a pastilha com portadores majo-
ritários negativos, que dão origem ao elemento do tipo n. A junção das duas
pastilhas é denominada de camada de depleção.
O símbolo do diodo também é representado na Figura 14, onde podemos
observar a presença dos terminais A de anodo e K de catodo. Observe que o
terminal A se refere à pastilha do tipo p enquanto que o terminal K se refere à
pastilha do tipo n do diodo.

Introdução à Eletrônica
184 UNIDADE IV

DIODO
Portadores Portadores
majoritários majoritários
positivos (p) negativos (n)

Junção “pn” ou Camada


de Depleção faixa que indica o catodo

A K

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DIODO EM
SÍMBOLO DO DIODO ENCAPSULAMENTO
K
COMERCIAL

Figura 14 - Diodo semicondutor: estrutura interna e símbolo


Fonte: o autor.

O diodo pode ser polarizado direto ou inversamente e apresenta comportamen-


tos característicos que definem a sua região de operação.

Polarização direta do diodo

Na polarização direta do diodo, o potencial positivo da fonte de tensão é conec-


tado ao terminal anodo do diodo (A) e o potencial negativo é ligado no catodo (
K ) dele. Com a tensão aumentando (eixo x do gráfico da Figura 15), os elétrons
estimulados pela fonte repelem os elétrons do material semicondutor da pasti-
lha do catodo do diodo, estes que migram para a região da camada de depleção,
atraindo os portadores da pastilha vizinha (anodo) a se agruparem na periferia
da junção pn , promovendo o estreitamento da camada de depleção.
A concentração de elétrons de um lado e de cargas positivas do outro aumenta
até que a tensão da fonte atinge aproximadamente 0, 7 V , onde ocorre a ten-
são de joelho. Neste momento, a corrente flui plenamente por meio da junção,
conforme a Figura 15. Esta é a configuração mais comum para a polarização de
diodos retificadores ou de sinal.

ELETRÔNICA
185

DIODO
A K i

i
Fonte de Tensão de
Tensão joelho
Variável Estreitamento da camada
de depleção
0 0,7 v
Figura 15 - Polarização direta do diodo
Fonte: o autor.
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Na polarização reversa (diodo inversamente polarizado), o terminal catodo do


diodo é ligado ao potencial positivo da fonte de tensão e o terminal anodo é
conectado ao potencial negativo da fonte. Com isso, há o afastamento dos poten-
ciais que antes ficavam na periferia da camada de depleção e agora passam às
bordas externas das pastilhas, atraídos pelos potenciais da fonte que possuem
polaridades opostas (Figura 16).

DIODO
A K i

Fonte de
Tensão Ruptura
Variável Aumento da camada
i
de depleção VR
v
Avalanche Corrente de
fuga

Figura 16 - Polarização reversa do diodo


Fonte: o autor.

Com o aumento da tensão reversa, há o aumento da camada de depleção que


pode atingir determinado valor tal, que ocorre o efeito avalanche, onde o diodo
é permanentemente inutilizado (ruptura da junção). Normalmente, este efeito
ocorre acima dos 50 V para os diodos retificadores. Há, entretanto, diodos que

Introdução à Eletrônica
186 UNIDADE IV

são projetados para operar na região reversa (inversamente polarizados): são os


diodos reguladores zener, que possuem uma tensão reversa do valor da sua ten-
são nominal e que pode ser de diversos valores como 4, 7 V , 12 V , 24 V etc.
Os diodos zener são utilizados quando se deseja limitar uma tensão em um valor
específico para que seja fixado um valor de tensão de referência, por exemplo.
A maior parte dos diodos são fabricados com silício (Si), que é o
material semicondutor mais abundante atualmente, mas há algumas
tecnologias que utilizam materiais como germânio, Arseneto de Gálio
(GaAs), Arseneto de Gálio Índio (InGaAs), fosforeto de Índio (InP) etc.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e dependendo da aplicação, que pode ser desde a fabricação de diodos
retificadores ou mesmo de dispositivos optoeletrônicos, como fotodetec-
tores ou diodos emissores de luz (LED).

Tipos de diodos

Há muitas aplicações para os diodos e as suas funções norteiam os seus projetos


e, assim, diferentes diodos apresentam diferentes propósitos, sendo:
■ Diodo retificador: é utilizado para retificar sinais. Aplicado em circui-
tos de fontes de alimentação e muitos outros onde se deseja bloquear um
semiciclo de um sinal alternado e conduzir o outro a fim de se produzir,
como resultado, um sinal contínuo.
■ Diodo Zener: muito utilizado para regular tensões de referência de
potencial em circuitos ou para regular a tensão de alimentação de um
determinado componente ou circuito.
■ Diodo Schottky: é um diodo que opera em frequências elevadas, em
aplicações inviáveis aos diodos retificadores que não atendem às altas
velocidades de comutação. Este diodo não apresenta camada de deple-
ção e quando utilizado para retificar sinais de baixas tensões.
■ Diodo varactor ou varicap: é um diodo com efeito capacitivo que varia
a sua capacitância em função da tensão aplicada em seus terminais (uti-
liza a variação da largura da camada de depleção para atuar como um
capacitor variável). Este diodo é muito utilizado em circuitos de sintonia
de FM e VHF, presente nos circuitos de rádio e TV.

ELETRÔNICA
187

■ LED: Diodo Emissor de Luz. Este, sem dúvida, é conhecido pela maioria
das pessoas da atualidade, pois é muito utilizado em dispositivos portáteis
e em diversos equipamentos elétricos para emitir luz de acordo com o sta-
tus de funcionamento. A luz emitida pelo LED se dá pelo salto do elétron
de uma órbita para outra durante a circulação de corrente pela junção,
corrente esta que tem limites de acordo com o fabricante. Já a cor do LED
depende do material utilizado para a fabricação da pastilha de semicon-
dutor e a sua dopagem, e não apenas da cor da lente (MALVINO, 1995).

No caso do LED e de demais diodos, é importante salientar que quando ocorre


a condução de corrente pela junção, a corrente pode atingir valores elevadíssi-
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mos, tendendo, teoricamente, ao infinito. Logo, para estabelecer a corrente de


operação do diodo, analisaremos o caso do LED e do dimensionamento de seu
circuito de limitação de corrente.
Primeiramente, devemos identificar o modelo de LED que temos. Neste exem-
plo, adotaremos um LED de 5 mm com as especificações dadas pelo fabricante:
■ VD = 2, 0 V (é a tensão de trabalho do LED).
■ I L = 10 mA (é a corrente adotada para este LED).
■ VS = 12 V (é a tensão da fonte que utilizaremos para acionar o LED).

Para limitar a corrente no LED, precisamos utilizar um resistor em série de


acordo com a Figura 17.

VD
Corrente
Emissão de tendendo
luz ao infinito
i

i
LED
VS
Corrente
10 mA limitada
em 10mA

0,7 v
RL
Figura 17 - Polarização do LED
Fonte: o autor.

Cálculo do valor da resistência do resistor limitador RL :

Introdução à Eletrônica
188 UNIDADE IV

VS −VD 12 − 2
RL = = = 1×103 Ω
IL 10×10−3

ou
RL = 1 kΩ

Cálculo do valor da potência do resistor limitador RL:


■ como a tensão do LED é de 2 V e temos 12 V na fonte, os res-
tantes 10 V ficarão sobre o resistor GaAs, logo, a tensão VRL é de:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VRL = VF −VD = 12 − 2 = 10 V , assim, se VRL = 10 V , e circula por ele
uma corrente de 10 mA , de acordo com a equação da potência, fica:

P = V .I
Onde:
P = PRL = ?
V = VRL = 10 V
I = I L = 10×10−3 A = 10 mA

Adaptando a equação da potência, fica:


PRL = VRL .I L = 10×10×10−3 = 100 mW

Resultado:
O resistor, para atender ao LED especificado, deve ser de 1 kW x 100 mW .
Comercialmente, este resistor será comercializado em potência de
1 / 8 W (0,125 W = 125 mW ), o que atende à potência para o caso dado.
Os demais componentes abordados por esta unidade dependem direta-
mente dos diodos para existir e funcionar. Utilizam a mesma teoria de
funcionamento dos diodos agregados a situações e associações que pro-
duzem componentes com a capacidade de controle e armazenamento de
dados que os processos industriais modernos solicitam.

ELETRÔNICA
189

Transístores

Os transístores se dividem em famílias as quais, nesta unidade, abordaremos


apenas as mais frequentes: transístor bipolar e transístor MOSFET. Este com-
ponente nasceu com o propósito de amplificar sinais de tensão e corrente e pode
ser utilizado hoje por inúmeras aplicações, desde o simples acendimento de uma
lâmpada controlada remotamente até a fabricação de poderosos microprocessa-
dores que utilizam milhões de transístores em seus projetos.
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Transistor bipolar

O transístor bipolar é um dispositivo com duas junções, como se fossem dois


diodos associados, mas com algumas peculiaridades, conforme a Figura 18.
Observe que no transístor bipolar há a presença das estruturas:
Circuito de polarização de um transitor
NPN

ic
Símbolos dos transitores
bipolares
n NPN PNP
coletor RL C C
Rb
ib p
base B B
Fonte de
Tensão
Fonte de n da carga
Tensão
emissor E E
variável
ie

Figura 18 - Polarização de um transístor bipolar


Fonte: o autor.

■ Base.
■ Coletor.
■ Emissor.

Introdução à Eletrônica
190 UNIDADE IV

Existe uma junção entre a base e o emissor (BE) e uma outra junção entre a base e
o coletor (BC). A base é onde inserimos o sinal de controle para o transístor. É um
sinal de baixa intensidade que será amplificado no coletor e terá como caminho final
o emissor que assume a soma das correntes, pois, de acordo com a Equação 10, fica:

ie = ic + ib

Equação 10

Onde: ie é a corrente no emissor, ic é a corrente que circula pelo coletor e ib é

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a corrente que circula pela base do transístor. O ganho de corrente de coletor “
bcc ” na configuração emissor comum é dado por Sedra e Smith (2012):
ic
bcc º
ib

Equação 11

Da Equação 11, podemos deduzir que a corrente de base ( ib ) pode ser obtida por:
ic
ib º
bcc

Equação 12

Assim, a corrente do coletor depende da corrente da base e do ganho fixado em


projeto. Normalmente, ao analisar a folha de dados de um transistor (datasheet),
podemos selecionar um valor de ganho que esteja dentro da faixa de operação
deste componente, estabelecendo-se uma reta de carga, e daí dimensionar a cor-
rente na base para produzir, como efeito disso, a corrente desejada no coletor,
respeitando sempre os limites operacionais do componente.
Normalmente, os transístores bipolares são oferecidos como NPN e PNP,
tendo as mesmas características, porém, com polaridades opostas, sendo úteis
em aplicações onde há a necessidade de cada modelo.
De acordo com a necessidade, as indústrias de transístores fabricam os compo-
nentes com características voltadas a alguma tendência do mercado, por exemplo,

ELETRÔNICA
191

modelos que se aplicam a circuitos de transmissores de rádio têm características


de fabricação específicas para esta aplicação, e aqueles aplicados em comutação
de correntes elevadas em baixas frequências já atendem a outras necessidades e,
por este motivo, há uma gama de modelos e de encapsulamentos que suportam
diferentes valores de potência e dissipação de calor. A Figura 19 mostra alguns
modelos de encapsulamentos utilizados na fabricação de transístores.
Uma grande parte do uso dos transís-
tores se resume a controlar a potência
sobre determinada carga utilizando,
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para isso, um pequeno sinal, ou seja,


com um sinal de apenas alguns mili-
volts (mV ) é possível produzir ações
de grandes potências, como o volume
de áudio de uma caixa de som que
recebe o sinal de um instrumento
musical com poucos milivolts e com
baixa potência o qual, ao passar pelo
estágio de amplificação, produz um
som que pode ser ouvido a centenas Figura 19 - Encapsulamentos de transístores
de metros.
Além disso, os transístores podem ser utilizados no projeto de circuitos inte-
grados onde assumem funções específicas de acordo com a necessidade, mas,
para fins de entendimento de um Engenheiro de Produção, são assumidas duas
áreas de atuação desse componente:
■ Amplificador.
■ Chave.

Como amplificador, o transístor amplifica o sinal de entrada no circuito devi-


damente polarizado para obter, como resultado, o sinal de entrada multiplicado
por um ganho. Assim, um sinal de baixa intensidade pode acionar uma carga de
grandes proporções, como acionar um alto-falante de grande potência, o enro-
lamento de um transformador, um motor de passo etc.

Introdução à Eletrônica
192 UNIDADE IV

No caso de transístores atuando como chave, podemos fazer uma analogia


com um interruptor que, ao receber um sinal de entrada, liga uma carga, e na
ausência desse sinal, desliga a carga. Por exemplo, uma lâmpada cujo circuito
com capacidade de pequeno sinal aciona, utilizando um transístor, pois a lâm-
pada exige corrente acima da capacidade máxima do circuito de acionamento,
e o transístor assume esta responsabilidade conduzindo a corrente da lâmpada
pelos terminais coletor-emissor.
A Figura 20 mostra dois exemplos de circuitos com transístores, sendo o da
esquerda um amplificador de áudio, e o da direita, um circuito onde o transís-

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tor atua como chave.

R1 R2
C4
Lâmpada
C1 R5
Fonte de sinal de Circuito de Vcc
baixa potência Transistor acionamento
Vcc Transitor

Auto-falante
R3 R4 C3

Transistor atuando Transistor atuando


como amplificador como chave
Figura 20 - Modos de atuação do transistor: amplificador e chave
Fonte: o autor.

Na operação como chave, a corrente ib pode ser obtida, analisando a tensão do


circuito de acionamento como sendo vi , a tensão da junção base-emissor ( v BE
) como sendo de 0, 7 V para transístores de silício, e o resistor limitador de cor-
rente na base Rb (na Figura 20 aparece como R5 ), conforme Equação 13:

vi − v BE
ib =
Rb
Equação 13
Exercício resolvido:
■ Calcule a corrente no coletor de um transistor de silício, onde a tensão
de acionamento é de 5, 0 V , o ganho bcc = 150 , e o resistor utili-
zado para limitar a corrente na base é de 4, 7 kW .

ELETRÔNICA
193

Solução:
■ Cálculo da corrente na base ( ib ):
v − v BE 5 − 0, 7
ib = i = = 0, 9148 mA
Rb 4, 7×103
ou
ib ≈ 915 µ A

■ Cálculo da corrente no coletor ( ic ):


ic
bcc ≡ → ic = bcc ×ib → ic = 150×915×10−6
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ib
ic = 137, 25 mA

Os transístores bipolares controlam a corrente no coletor de acordo com a


corrente aplicada na base, assim, é possível variar a intensidade luminosa da
lâmpada da Figura 20 (ligada no coletor do transístor), variando a corrente na
base pelo circuito de acionamento.
Os transístores consistem na base dos principais dispositivos eletrônicos que
utilizamos na atualidade e são os protagonistas do mundo de inovação que pode-
mos utilizar em termos de dispositivos inteligentes e plataformas embarcadas.
Sem esse dispositivo, não teríamos os computadores, celulares, injeção eletrô-
nica nos veículos, nem sistemas automatizados que temos hoje.

MOSFET

O MOSFET (Metal Oxide Semiconductor Field Effect Transistor) é um transis-


tor que atua diferentemente do transistor bipolar. Esta tecnologia baseia-se no
campo elétrico formado no interior do componente para controlar a abertura
e o fechamento de um canal, por onde flui, por sua vez, a corrente elétrica uti-
lizada para acionar uma carga que pode ser a bobina de um transformador ou
motor, um alto-falante, ou até mesmo resistências de aquecimento de um forno.
Algumas vantagens substanciais dos MOSFETs é que esta tecnologia opera, dis-
sipando muito menos calor do que os transístores bipolares, portanto, com maior
eficiência aliada à velocidade de comutação, permitindo o controle com precisão
em circuitos de resposta ultrarrápida, como em fontes chaveadas, por exemplo.

Introdução à Eletrônica
194 UNIDADE IV

A desvantagem é que o MOSFET não apresenta a linearidade que os transís-


tores bipolares possuem em sua arquitetura funcional, sendo, desta forma, útil
para determinadas aplicações, enquanto os bipolares o são em outras.
Esta unidade contemplará apenas o tipo de MOSFET mais comum, que é o
tipo “enriquecimento”. Este componente conta com três terminais: Gate, Dreno
e Source, conforme Figura 21:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Canal N

Canal P
Figura 21 - MOSFETs e sua simbologia

A estrutura dos MOSFETs é amplamente utilizada para a fabricação de circui-


tos integrados dada as suas dimensões extremamente reduzidas que possibilitam
a integração em elevada escala (VLSI – Very Large Scale Integration) em mais
de 200 milhões de transístores em uma mesma pastilha de circuito integrado
(SEDRA; SMITH, 2012). A Figura 22 apresenta a estrutura física do MOSFET
e as suas características internas:

ELETRÔNICA
195
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 22 - Estrutura física do MOSFET em algumas configurações (ID.: 531373156)

Observe na Figura 22 que há uma camada de Si O2 no topo de cada uma das


configurações. Esta camada isolante é nada mais do que sílica (principal matéria
prima para o vidro), que isola o terminal “Gate” ou “porta” do canal do MOSFET.
O canal é por onde a corrente a qual se deseja controlar circulará (entre os ter-
minais Dreno e Source).
Quando se aplica potencial positivo, por exemplo, no Gate, ocorre uma rea-
ção e uma atração (ou repulsão) dos portadores do canal, dependendo do tipo
do MOSFET, se ele é de canal P (portadores majoritários positivos) ou se ele é de
canal N (portadores majoritários negativos). Assim, um sinal pulsante no Gate
pode ligar ou desligar várias vezes por segundo o fluxo de corrente no MOSFET
e, assim, controlar uma carga ligada em seu Dreno.

Introdução à Eletrônica
196 UNIDADE IV

Esta técnica é muito utilizada em fontes de alimentação chaveadas, as mes-


mas utilizadas nos computadores, carregadores de baterias de celulares etc. Para
essas aplicações, os encapsulamentos são parecidos com os já mostrados ante-
riormente (Figura 23) para montagem em placa de circuito
impresso com soldagem via furação ou SMD.
Há, entretanto, aplicações onde os MOSFETs são
solicitados em grande escala, para correntes
de centenas de amperes. Nesses casos os
encapsulamentos são diferentes e

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
admitem montagem com cabos
diretamente parafusados em seu
gabinete Figura 24.
Figura 23 - Encapsulamentos de MOSFETs

Figura 24 - MOSFETs para altas correntes

Assim como os MOSFETs, há também os IGBTs (IGBT - Insulated Gate Bipolar


Transistor) ou Transístor Bipolar de Porta Isolada, que são uma junção da tecno-
logia bipolar com o MOSFET, reunindo as características dos dois dispositivos.
São amplamente utilizados em acionamentos elétricos e fazem parte dos circui-
tos dos inversores de frequência.
A isolação entre o Gate (porta) do IGBT e o canal formado pelo coletor-e-
missor dele permite a atuação com a alta impedância de entrada de um MOSFET
e com as características de acionamento de um transístor bipolar (Figura 25).

ELETRÔNICA
197

Além dos transístores, há dispositivos semicondutores


G
que podem controlar a potência de outros dispositivos. G = Gate
C = Coletor
São os tiristores, assunto das próximas seções. E = Emissor
E
Figura 25 - Símbolo do IGBT
Fonte: o autor
Tiristores

Controlar a quantidade de potência que um dispositivo pode desenvolver (a tempe-


ratura em um chuveiro, a velocidade do eixo de um motor, a corrente na saída de um
transformador etc.) é desafiador e solicita o uso de componentes especiais que per-
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mitam o controle do fluxo de corrente a partir de sinais de entrada. Alguns tipos de


semicondutores permitem o controle sobre a corrente a partir de pulsos que são inse-
ridos em um terminal específico: são os conhecidos tiristores, largamente utilizados
em equipamentos que incluem o controle de potência em seus projetos, como chu-
veiros eletrônicos, acionamento de motores de indução com velocidade variável etc.
O nosso estudo dos tiristores abordará os mais comuns tipos:
■ SCR.
■ TRIAC.

Na Figura 26, podemos observar a simbologia para os tiristores, além de um


semicondutor utilizado para o disparo denominado DIAC.

Figura 26 - Tiristores

Introdução à Eletrônica
198 UNIDADE IV

Os tiristores são utilizados quando há a necessidade de controle de potência em


frequências que normalmente tangem os 60 Hz , o que limita a sua aplicação
em grandes dimensões, pois com tal velocidade, os elementos magnéticos geral-
mente são de grande porte e pesados (transformadores), como no caso de fontes
de alimentação tiristorizadas comparadas com fontes chaveadas.
Nas fontes chaveadmas, a frequência interna chega a operar em faixas de
400 kHz ou mais e, por este motivo, os elementos magnéticos são menores e
mais leves, enquanto que nas fontes lineares a diferença de peso (massa) pode ser
da ordem de 10 vezes, ou seja, uma fonte linear de 2 kW pode pesar em torno

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de 50 kg com as dimensões de um refrigerador, enquanto uma fonte chaveada
da mesma potência pesa em torno de 5 kg e apresenta as dimensões aproxima-
das de um livro de 600 páginas.
Nas instalações elétricas, os tiristores foram muito utilizados em circuitos de
acionamento de iluminação com temporização (minuterias) e controle de veloci-
dade para motores monofásicos (ventiladores de teto) (Figura 27), além de atuar
nos estágios de saída das chaves estáticas das soft-starters.

Figura 27 - Tiristores: encapsulamentos e utilização prática

Circuitos integrados

Uma maneira de minimizar o tamanho dos circuitos utilizados nos equipamentos


eletrônicos foi encapsulá-los em um único invólucro com terminais que possam
acessar o seu conteúdo interno. Esta ideia utilizando os semicondutores, espe-
cialmente o silício, permitiu que muitos circuitos pudessem ser miniaturizados
em micrômetros e encapsulados em invólucros padronizados no mercado, con-
forme exemplo dado na Figura 28.

ELETRÔNICA
199

Observe na Figura 28 que o encapsu-


lamento é grande para que possa ser
manipulado com facilidade. Na ver-
dade, o circuito está na parte quadrada,
inserida na janela de vidro do compo-
nente, que representa menos de 10%
do tamanho total do encapsulamento.
Os terminais metálicos interligam a
sensível pastilha de semicondutor
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ao mundo externo, permitindo que


o componente seja inserido em uma
placa de circuito interno onde exer-
Figura 28 - Circuito integrado de uma
cerá as suas funções. memória EPROM (826408)
Há muitos tipos diferentes de encapsulamentos disponíveis para circuitos
integrados e um mesmo tipo de encapsulamento pode atender a diversos mode-
los de circuitos integrados diferentes, que podem ser famílias lógicas em alto
nível de integração, tecnologias C-MOS, TTL, circuitos osciladores, memórias,
amplificadores operacionais, circuitos dedicados, microcontroladores, transcei-
vers etc. (Figura 29).

Figura 29 - Encapsulamentos de circuitos integrados e aplicação e placa de circuito impresso

O grande boom dos circuitos integrados se deu na década de 70 (embora já havia


sido desenvolvidos alguns projetos na década de 60), onde os primeiros micro-
processadores já delineavam o caminho dos primeiros computadores pessoais
que revolucionariam a vida das pessoas em todo o mundo com inovações irre-
versíveis. Graças aos circuitos integrados podemos ter smartphones, tablets,
computadores etc.

Introdução à Eletrônica
200 UNIDADE IV

Sem o desenvolvimento dos circuitos integrados, um computador pessoal


talvez nunca pudesse ser construído dado as dimensões gigantescas e o desco-
munal consumo de energia elétrica, como o computador ENIAC que, em 1946,
consumia 160 kW de potência.
Atualmente, a miniaturização é do nível de nanômetros e a integração de
transistores e demais componentes em um circuito integrado é tão grande que
funções de um computador podem ser concentradas em um único componente
capaz de realizar tarefas automáticas e milhares de cálculos por segundo, como
no caso dos microcontroladores e microprocessadores que temos em nossos

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
smartphones modernos.
Não podemos deixar de citar os maiores responsáveis pelo desenvolvimento
das tecnologias que temos na atualidade em termos de circuitos integrados pro-
gramáveis, o Z80 , o mais imponente microprocessador entre as décadas de 70 e
80, o qual inspirou a maioria dos demais microprocessadores modernos que até
hoje utilizam a sua arquitetura em seu núcleo. A Figura 30 mostra um exemplo
do microprocessador em encapsulamento DIP.

Figura 30 - Microprocessador Z80 (ID.: 1040827732)

Nas próximas seções, serão apresentados exemplos de circuitos eletrônicos onde


são aplicados alguns dos componentes já mencionados nesta unidade.

ELETRÔNICA
201

OS CIRCUITOS ELETRÔNICOS

Nesta seção, serão apresentados exemplos de circuitos de fontes de alimentação


onde são aplicados componentes eletrônicos para ilustrar o seu uso em aplica-
ções fundamentais da Eletrônica.

Fontes de alimentação

As fontes de alimentação são os circuitos essenciais para o funcionamento da


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

maioria dos dispositivos da atualidade. Seus circuitos são constituídos por eta-
pas de conversão da corrente alternada, variando geralmente entre 100 e 240 V
para corrente contínua em níveis de tensão aceitáveis pelos circuitos integrados
e demais elementos. Neste livro, reconhecemos as fontes de alimentação linea-
res e chaveadas.

Fonte de alimentação linear

As fontes de alimentação lineares são aquelas que convertem a tensão alternada


da rede elétrica da concessionária em níveis de tensão contínua com o uso de
transformador de entrada, onde ocorre a isolação entre a tensão de entrada e a
tensão de saída. O uso do transformador de entrada agrega robustez, mas ocupa
grandes proporções e peso no projeto da fonte.
As fontes lineares normalmente possuem alguns estágios entre a rede elé-
trica e a carga, sendo (Figura 31):

Figura 31 - Diagrama de blocos de uma fonte de alimentação linear regulada


Fonte: o autor.

■ Proteção: é onde ocorre a proteção contra curto-circuito e descarga atmos-


férica (em casos especiais) e é constituído de fusíveis e varistores.
■ Transformação: é onde normalmente ocorre o rebaixamento da tensão
alternada. Pode ter mais de um estágio, onde uma ou mais tensões são deri-
vadas. O estágio de transformação apresenta o transformador monofásico

Introdução à Eletrônica
202 UNIDADE IV

que isola a tensão da rede dos demais circuitos.


■ Retificação: é o estágio onde a tensão alternada passa a ser contínua.
Normalmente é composta de diodos retificadores.
■ Filtro: é responsável por linearizar o sinal pulsante resultante do estágio
de retificação e utiliza capacitores para realizar esta tarefa (normalmente
eletrolíticos).
■ Regulação: este estágio mantém a tensão de saída constante e regulada
para que haja estabilidade no valor da tensão nominal mesmo que a tensão
de entrada sofra variações. Este estágio é composto por circuitos integra-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dos, reguladores de tensão ou diodos zener, de acordo com a necessidade.

A Figura 32 apresenta uma fonte de alimentação com três tensões de saída, sendo
uma saída simples (tensões reguladas por U3) e as demais simétricas, pois apre-
senta potencial positivo e negativo com referência comum (tensões reguladas
por U1 e U2).

Figura 32 - Exemplo de fonte de alimentação linear regulada


Fonte: o autor.

Fonte de alimentação chaveada

Este tipo de fonte de alimentação não apresenta isolação da rede elétrica por meio
de um transformador (conforme na fonte linear) e atua com comutação em alta

ELETRÔNICA
203

frequência (acima de 50 kHz , podendo chegar a 500 kHz ou mais) para converter
a tensão de entrada em valores de saída de acordo com a necessidade. As fontes
de alimentação chaveadas são utilizadas na maioria dos equipamentos atuais,
como computadores, monitores, carregadores de baterias, televisores, CLPs etc.
O fato deste equipamento utilizar comutação em alta frequência promove
propagação de distorção harmônica (radiada e conduzida) em componentes de
frequências, as quais podem interferir no funcionamento de equipamentos pró-
ximos. Para minimizar esta interferência eletromagnética, são implementados
filtros nos circuitos dessas fontes, deste modo, a maioria das fontes chaveadas é
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

organizada nos moldes do diagrama de blocos da Figura 33.


Filtro de Comutação Retificação, SAÍDA
REDE Proteção Retificação Filtro em alta filtro e
ELÉTRICA Emi frequência regulação PARA
CARGA
Figura 33 - Diagrama de blocos de uma fonte chaveada típica
Fonte: o autor.

Os estágios de proteção, retificação e filtro são semelhantes aos utilizados nas


fontes lineares, já os demais são compostos de:
■ Filtro e EMI (Electromagnetic Interference): este estágio é responsável por
filtrar os ruídos de entrada e de saída da fonte para que esta não emita dis-
torção aos demais equipamentos e para que não sofra influência destes.
■ Comutação em alta frequência: este estágio é composto de circuito de con-
trole de comutação em alta frequência, que consiste em manter a tensão
da saída constante, mesmo com variação de carga na saída (dentro dos
limites do projeto) e mantém controle sobre os níveis de corrente a fim
de proteger a integridade dos componentes por meio de estratégias em
alta frequência, como o PWM (Pulse Width Modulation).
■ Regulação e filtro: neste estágio, o sinal de corrente contínua pulsante é
filtrado e regulado, além de ser filtrado para que as componentes de alta
frequência não sejam transferidas para a carga.
A Figura 34 mostra um exemplo de diagrama eletrônico de uma fonte de ali-
mentação chaveada com topologia de conversor flyback.

Introdução à Eletrônica
204 UNIDADE IV

T1 USD735
4.7 1W
+
4.7k 0.01µF
220µF 4700µF
4W 400V DC (6V 2-5A)
250V
673.3 56k 10V OUT
1W 1N3613
AC -
INPUT 1N3613
16V
0.01µF 10µF
UC3842 VCC 7 820pF
20V

1N3613
20k
2.5k
2
150k VFB 6 27
1 OUT UFN432
20k
COMP NOTES
3.6k 3 T1: Coilcraft E-4140-B
100pF Primary - 97 turns
8 CUR 1k single AWG24
VREF SEN Secondary - 1 tums
10k 470pF 0.85
4 parallel
4 AWG22

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VR /C T control - 9 tums
-3 parallel AWG28
0.01µF
0.0047µF ISOLATION
GND 5 BOUNDARY
Figura 34 - Conversor Flyback: presente na maioria dos dispositivos eletrônicos modernos
Fonte: adaptado de (Power Integrations inc, 1997 p. 6).

O conversor flyback é uma topologia de fonte chaveada que se aplica, muito


frequentemente, na maioria dos equipamentos eletrônicos modernos, como
computadores, monitores, televisores, carregadores de baterias para celulares e
demais dispositivo móveis etc. devido às dimensões reduzidas, ao baixo custo e
à densidade de potência, o que atende às necessidades da maioria dos circuitos
eletrônicos, atualmente, fabricados para uso doméstico e industrial.
No exemplo da Figura 34, foi utilizado um modelo de circuito integrado
muito comum na fabricação de fontes chaveadas, o TOP221, que apresenta uma
ampla família de controladores PWM para conversores flyback. Entretanto, há
outros aplicados também a outras topologias, as quais serão estudadas mais
tarde neste livro.

Os conversores flyback compõem praticamente todos os equipamentos ele-


trônicos que utilizamos. Estão cada vez menores e com maior capacidade
graças ao desenvolvimento de novos materiais para a fabricação de compo-
nentes que operam em frequências cada vez maiores e, consequentemente,
com dimensões reduzidas.
Fonte: o autor.

ELETRÔNICA
205

Além das fontes de alimentação, será apresentado um circuito utilizado quando


há a necessidade de condução de corrente em dois sentidos (não simultâneos),
uma ponte H. Este circuito é empregado no acionamento de um motor de cor-
rente contínua de um robô e utilizado para deslocar este para frente (corrente
em um sentido) ou para trás (corrente no sentido inverso). Outro exemplo é o
acionamento de uma pastilha de efeito Peltier para promover o aquecimento ou
o resfriamento de uma superfície.
A Figura 35 mostra o circuito da referida ponte H, que recebe, nos termi-
nais denominados “carga”, a conexão do motor ou da pastilha de efeito Peltier.
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12V_PWR 12V_PWR_ON 12V_PWR


BYV27-600

BYV27-600

Q6 R6
A

R1 Q1 Q3 D5 D6 Q4
CI1 10k BC337 IRLZ44N IRLZ44N 10k CI2 R7 PWM_ESQUERDA
PWM_DIREITA R2 1 6 BC337 6 1
k

R3 R8
k

270R 5 5
R5 2 R27 C6 C7 2 270R
10k C1 12R 150k R28 12R C2 R10
3 4 1n 1n 150k Q5 4 3 10k
100UF Q2 100uF
GND_CTRL MOC3102 BC327 R4 BC327 MOC8102 GND_CTRL
10k CARGA R9
CN4 CN5 10k
1 1
12V_PWR 2 2 12V_PWR
CARGA' CARGA”

R11 Q7 Q12 R16


Q9 Q10
BYV27-600

BYV27-600

R5 CI3 BC337 IRLZ44N BC337 10k CI4


10k R2 10k IRLZ44N R17 H ESQUERDA R20
C3 1 6 6 1 C4
R13 R18 100UF 10k
A

100UF 270R 5 5
H DIREITA 2 2 270R
12R D7 D8 12R
3 4 4 3
k
k

Q8 R14 Q11
BC327 10k R29 C8 C9 BC327
CND_CTRL MOC3102 150k R30 MOC8102 CND_CTRL
1n 1n 150k R19
10k
GND_PWR

Figura 35 - Ponte H – estágio de potência: acionamento em quatro quadrantes


Fonte: o autor.

Quando precisamos empregar um motor de corrente contínua para acionar


um eixo com potência constante, é necessário manipular as suas corrente
e tensão de maneira rápida, sem que este perca potência. Assim, a PWM se
aplica e permite controle sobre a velocidade e o torque do motor utilizado
ou a temperatura na pastilha de efeito Peltier.
Fonte: o autor.

Na próxima seção, será abordada a eletrônica digital e as suas principais carac-


terísticas para o entendimento de um Engenheiro de Produção.

Introdução à Eletrônica
206 UNIDADE IV

ELETRÔNICA DIGITAL

Quando capturamos uma imagem com a câmera de um smartphone e a arma-


zenamos em sua memória, registramos um momento para a visualização futura.
Assim, uma nuvem que estava no céu no instante em que fotografamos o pôr do
sol agora não está mais lá, enquanto em nosso dispositivo móvel podemos des-
frutar da beleza gravada na memória por tempo indeterminado.
Essa foto pode parecer bem colorida e com alta definição, mas acredite, não
passa de um arranjo de bits. Isto mesmo, zeros e uns (000 e 111s) armazenados

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
em um componente eletrônico quase invisível. É difícil de acreditar, não é mesmo?
A eletrônica digital evoluiu significativamente nos últimos anos e propor-
cionou tecnologias que facilitam a vida das pessoas e a solução de problemas de
maneira automática em tarefas que antes dependiam da intervenção humana,
tarefas essas que hoje podem ser programadas e automatizadas por software
embarcado.
Essa revolução aconteceu nas últimas décadas e mudou a vida das pessoas.
Bem-vindo(a) ao mundo digital! O mundo onde a lógica prevalece e os dispo-
sitivos funcionam com base na tomada de decisões de programas embarcados,
como no aparelho de ar-condicionado ou no sistema de injeção eletrônica dos
carros modernos que simplesmente estabilizam as variáveis (temperatura e ace-
leração do motor, respectivamente) sem a necessidade de intervenção humana.

SINAIS DIGITAIS

Os sinais digitais, ou sinais discretos, são definidos em apenas dois níveis, ou


seja, podem assumir apenas dois valores distintos, ou 0 ou 1 (Figura 36). Em
outras palavras, um sinal digital permite que possamos prever qual será o valor
a ser assumido no tempo, sendo ligado ou desligado, não havendo valores inter-
mediários possíveis.

ELETRÔNICA
207

Nível ligado
lógico
1

0
t (ms)
desligado
Figura 36 - Exemplo de sinal digital: apenas dois níveis possíveis
Fonte: o autor.

Este tipo de sinal é utilizado largamente em computadores, telecomunica-


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ções, memórias, dados armazenados em pendrives ou cartões de memória etc.


Certamente, a maior parte do que se produz em termos de informações atu-
almente é digital por meio de imagens, textos, números e demais formas de
expressão que utilizamos.
A ideia por trás de um sistema digital é bastante complexa, embora
pareça simples, dadas as características limitadas do sinal, as suas apli-
cações vêm evoluindo desde o grande advento de seu uso em meados da
década de 70, onde a maioria dos principais componentes foi de fato uti-
lizada em sistemas comerciais, tais como calculadoras, computadores
pessoais, videogames etc.
Diversas famílias de componentes que atuam com eletrônica digital são
desenvolvidos desde então e, atualmente, o mercado oferece soluções micro-
controladas cada vez mais poderosas em termos de recursos embarcados em
módulos minúsculos que podem controlar processos complexos, dada a sua
capacidade de interação com software, pois em termos de hardware, sabemos
que os processadores só processam dados digitais (considerando as operações
da ULA), logo, um microcontrolador que atua diretamente com seu firmware
(código embarcado no microcontrolador) possui maior interação com os pro-
gramas se comparado a circuitos não-digitais.

Eletrônica Digital
208 UNIDADE IV

SISTEMA DE NUMERAÇÃO BINÁRIO E A LÓGICA BOOLEANA

Os sistemas de numeração surgiram para permitir a manipulação de dados por


parte de sistemas digitais e, ao longo do tempo, foram desenvolvidos sistemas
diferentes de acordo com as estruturas existentes em termos de hardware e sof-
tware. Como exemplo, podemos citar o sistema decimal, que é aquele ao qual
estamos acostumados e que permite a expressão de números 0, 1, 2,... ... 9, 10,
11,... ...20, ...30,... ... 100, ...200, ... etc.
O sistema binário permite apenas 0 ou 1 que, atualmente, é o sistema mais

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
utilizado em eletrônica digital. Já os sistemas octal e hexadecimal são sistemas de
numeração que utilizam sequências diferenciadas, sendo de 0 até 7 (8 = octal )
e de 0 até F (F = 15) .
O sistema octal possui 8 dígitos, sendo 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 . É utilizado
em computadores digitais e apresenta a seguinte estrutura dada no Quadro 3
(TOCCI; WIDMER, 2003):

84 83 82 81 80 8-1 8-2 8-3 8-4 8-5


Quadro 3 - sistema de numeração octal
Fonte: adaptado de Tocci e Widmer (2003).

A equivalência entre os sistemas binário e octal pode ser dada da seguinte maneira
(Quadro 4):
Dígito octal 0 1 2 3 4 5 6 7
Equivalente binário 000 001 010 011 100 101 110 111

Quadro 4 - Equivalência entre sistema octal e binário


Fonte: adaptado de Tocci e Widmer (2003).

O sistema hexadecimal também é muito utilizado em computação e opera com


16 caracteres, sendo: 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, A, B, C, D, E e F , onde a
equivalência dos valores é dada conforme o Quadro 5:

ELETRÔNICA
209

Quadro 5 - Equivalência entre os sistemas de numeração decimal, hexadecimal e binário

HEXADECIMAL DECIMAL BINÁRIO

0 0 0000
1 1 0001
2 2 0010
3 3 0011
4 4 0100
5 5 0101
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

6 6 0110
7 7 0111
8 8 1000
9 9 1001
A 10 1010
B 11 1011
C 12 1100
D 13 1101
E 14 1110
F 15 1111
Fonte: adaptado de Tocci e Widmer (2003).

Os sistemas de numeração são amplamente utilizados em computação em termos


de processamento de dados e dimensionamentos de sistemas digitais. Entretanto,
a conversão entre as unidades não faz parte desse livro e o aluno de Engenharia
de Produção pode realizar, utilizando-se de uma calculadora científica comum,
que normalmente inclui esse recurso.

Eletrônica Digital
210 UNIDADE IV

CIRCUITOS DIGITAIS COMBINACIONAIS E SEQUENCIAIS

Na eletrônica digital há termos para descrever classes diferentes de lógicas, sendo


elas a lógica combinacional e a sequencial.
A lógica combinacional é aquela que reserva as “combinações” entre níveis
lógicos e, normalmente, produz resultados baseados neste critério. Assim, temos à
disposição elementos denominados de “portas lógicas” que atuam com as operações
básicas: NÃO ou NOT (negação), E ou AND (multiplicação) e OU ou OR (soma).
Assim, quando são combinados dados em uma porta lógica E entre “zeros”

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e “uns” (0s e 1s), sabemos que o resultado será sempre 0, pois qualquer valor
multiplicado por 0 é igual a 0, já a lógica OU soma os valores aplicados em sua
entrada, e a lógica NÃO inverte o valor de entrada para o valor de saída, ou seja,
se entrar 1, sai 0, e se entrar 0, sai 1.
A combinação das três portas (NÃO, E e OU) permite a construção das
demais portas existentes. A Figura 37 mostra os símbolos para algumas das prin-
cipais portas lógicas disponíveis.
Para atuar em lógica combinacional, onde o resultado de uma expressão
lógica depende do estado das entradas, sem levar em consideração parâmetros
variáveis, como tempo e contagem, por exemplo, as portas da Figura 37 atendem
plenamente à solução da maioria dos problemas, entretanto, quando há contagem
de eventos, temporização e demais variá-
veis que sofrem alterações, existe a lógica
sequencial, que atende a estes casos com
soluções específicas.
Na lógica sequencial, os eventos ocor-
rem de acordo com pulsos que podem
ser oriundos de um oscilador com base
de tempo estabelecida (clock) e combina
também sinais de bloqueio (reset) que
podem definir o fim de uma contagem ou
temporização.
Figura 37 - Portas lógicas

ELETRÔNICA
211

Os recursos utilizados para transmitir dados entre dispositivos, como entre


a memória e o processador, ou mesmo entre a memória e o mostrador (display)
de um dispositivo que exibe um vídeo ou foto depende da gestão complexa dos
dados, o que exige tecnologia adequada, por exemplo: flip-flops, latches, multi-
plexadores, registradores de deslocamento etc.
Quando um sistema de controle digital precisa realizar uma tarefa, o pro-
cessador deve armazenar o estado anterior da tarefa que estava sendo executada
para que, quando finalizar a tarefa atual, ele possa saber onde retornar e conti-
nuar o ciclo lógico. Desta maneira, há a necessidade de não apenas combinar
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

estados, mas analisar sequências e estabelecer prioridades com base em variá-


veis que podem representar limites de tempo, contagem ou condições impostas
do sistema, como o estouro de um contador, por exemplo.
Os flip-flops são estruturas capazes de armazenar o estado lógico de um bit,
sendo, desta forma, útil para a construção de algumas tecnologias de memórias
utilizadas até mesmo em computadores pessoais, e justamente é esta a grande
diferença existente entre a lógica combinacional e a sequencial: a capacidade de
armazenar o estado lógico anterior por grande ou indeterminado intervalo de
tempo, mais conhecido como memória, e os flip-flops são, sem dúvida, os prin-
cipais elementos desse componente indispensável à existência de computadores
ou de dispositivos computacionais da atualidade (TOCCI; WIDMER, 2003).
4 1SD
SD 1Q
1D
2 D Q 5
3 1CP CP
FF 1Q
Q 6 Q
RD C
C
1 1RD
(a) C
C
C
C
D
Q
C C
CD

SD
(b)
CP C
C Figura 38 - Flip-Flop: (a) diagrama funcional e (b) diagrama lógico
Fonte: Nexperia B. V. (2017, p. 20).

Eletrônica Digital
212 UNIDADE IV

As câmeras digitais normalmente utilizam memórias de acesso rápido para


permitir o armazenamento da imagem obtida com a máxima velocidade pos-
sível, necessário ao registro de eventos onde a parte fotografada realiza mo-
vimento.
Fonte: o autor.

Há uma infinidade de recursos, componentes, circuitos e aplicações que fazem uso da


eletrônica digital, o que a torna muito abrangente, mas no que tange ao entendimento

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de um estudante de Engenharia de Produção, este material se reserva a apontar as
principais características para fins de esclarecimento básico sobre o assunto.

ELETRÔNICA ANALÓGICA

A eletrônica analógica talvez seja a mais antiga das eletrônicas. Esta área do
conhecimento já teve o seu início antes mesmo do surgimento dos semicondu-
tores, já com os circuitos concebidos a partir do uso de válvulas termiônicas que
são amplamente utilizadas até hoje na fabricação de amplificadores de áudio,
devido à sua capacidade de reproduzir com fidelidade os sons que a maioria dos
dispositivos semicondutores poderiam distorcer, dadas às suas características de
funcionamento. A Figura 39 mostra alguns exemplos de válvulas termiônicas.
Os receptores de rádio e amplificadores são exemplos de uso massivo de
válvulas que, ao longo de décadas, faziam parte de seus circuitos. No entanto,
atualmente, o uso de válvulas eletrônicas restringe-se à algumas aplicações espe-
ciais, pois as suas características de fragilidade, tensão de trabalho, rendimento
etc. não se comparam ao nível de sofisticação que os semicondutores chegaram,
mesmo para aplicações em áudio e sinais de pequena amplitude. A Figura 40
apresenta o aspecto visual de um amplificador de áudio dos anos 50. Era deste
tipo de equipamento que os músicos dispunham, na época, para amplificar o
som de seus instrumentos musicais.

ELETRÔNICA
213
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 39 - Válvulas termiônicas

Atualmente, os modernos smartphones


possuem sistemas de som embarcado,
com amplificador e recursos ultrassensí-
veis que podem reproduzir músicas com
qualidade extraordinária dentro de um
equipamento que, por sua vez, cabe den-
tro do bolso e possui ainda a capacidade
de armazenar um acervo musical gigan-
tesco, dependendo apenas do tamanho de
sua memória.
Há também exemplos de microdis-
positivos com funções inteligentes, por
exemplo, pronunciar o nome da música
e do artista ou o nível atual de carga da
bateria (sem ter que olhar para um mos-
trador). A Figura 41 mostra um exemplo
de MP3 player que pode armazenar deze-
nas senão centenas de músicas em sua
memória, com 29 mm x 31,6 mm, pesando
12,5 gramas, aproximadamente (APPLE,
2017, on-line)2. Figura 40 - Amplificador valvulado de 195

Eletrônica Analógica
214 UNIDADE IV

Podemos notar que, com o avanço das tecno-


logias, o tamanho dos dispositivos diminuiu e
este fato permitiu o surgimento de uma nova
eletrônica. Para entender melhor sobre essa tec-
nologia, serão abordados assuntos que destacam
as suas principais características.

SINAIS ANALÓGICOS

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Um sinal analógico descreve o comporta-
mento natural de uma variável, tal como ela
se manifesta, aumentando ou diminuindo a
sua intensidade na mesma velocidade, trans-
mitindo a noção de sua dinâmica. Em outras
palavras, considere um altímetro analógico
Figura 41 - MP3 player: armazenamento e
utilizado no painel de instrumentos de uma reprodução de áudio customizado

aeronave (Figura 42).


Este instrumento permite a noção da alti-
tude que a aeronave desenvolve durante o voo.
Uma alteração na elevação ou na queda de alti-
tude é rapidamente detectada e exibida pelo
instrumento que, então, manifesta tal grandeza
por meio do giro dos seus ponteiros, que é tão
rápido quanto a variação de altitude. Esta noção
é necessária para o piloto controlar a aeronave
sem a total dependência de instrumentos digi-
tais os quais, em caso de pane elétrica, podem
não mais funcionar, enquanto que na maioria
dos instrumentos analógicos, não há depen-
dência da eletricidade para funcionar. Figura 42 - Altímetro de um helicóptero

ELETRÔNICA
215

Como seria a reação de um piloto de avião se o altímetro fosse apenas digi-


tal e o tempo com que o instrumento exibe a altitude é mais lento do que
a variação desta? Seria possível realizar uma manobra evasiva em caso de
variação brusca?

Este mesmo exemplo pode se esten-


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

der a um velocímetro analógico de


um carro que, por meio de um pon-
teiro, pode informar ao condutor a
velocidade, e a sua modulação per-
mite entender o quão rápido o veículo
assumiu a nova velocidade em caso
de aceleração ou desaceleração. Esta
característica é importante quando
precisamos observar um fenômeno
natural que possui comportamento
variável em determinado intervalo
de tempo, podendo assumir qualquer
valor dentro de limites finitos, porém Figura 43 - Gráfico de um termômetro: registro do comportamento
analógico da variável
sem uma definição.
Um exemplo de sinal analógico é a temperatura de um ambiente, que pode
variar entre um valor mínimo e um valor máximo, mas pode assumir qualquer
valor dentro desses intervalos, conforme mostrado na Figura 43.
Perceba que não há como prever exatamente o valor que a temperatura
assumirá, no entanto, sabemos quais são seus limites. Normalmente, quando tra-
tamos de sinais analógicos, nos referimos a sinais provenientes de sensores, os
quais realizam a medição de variáveis que possuem este comportamento, como
a intensidade luminosa, a vazão, a temperatura, a pressão, o nível etc.

Eletrônica Analógica
216 UNIDADE IV

Para processar os sinais analógicos, podemos realizar o seu registro, con-


forme mostrado na Figura 43, onde os dados estão confinados a uma página de
papel ou podemos digitalizar o sinal por meio de conversores analógico-digitais.
Estes convertem o sinal analógico em um arranjo de bits que pode ser armaze-
nado na memória para registro.
Algumas entidades são resistes ao uso de registradores de variáveis digitais
pelo fato de permitirem adulteração, portanto, para manter o registro de tempe-
ratura de uma câmara fria em um abatedouro ou laticínio, é comum o uso de um
registrador de temperatura eletromecânico e um digital para manter o registro

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
da variável no formato impresso e digital, respectivamente, a fim de comprova-
ções futuras em caso de problemas com lotes de produto.
É comum associarmos o termo analógico com o comportamento de uma vari-
ável natural, por exemplo, a temperatura. Assim, o sensor que realiza a medição
dessa variável produz um sinal que é análogo ao comportamento da variação tér-
mica, portanto, analógico. Deste modo, os sinais que sofrem variações no tempo
sem valor definido possuem características que os classificam como analógicos.
Os sinais, de maneira geral, podem ser alternados ou contínuos.
Um sinal contínuo é aquele que se propaga no mesmo quadrante, por exem-
plo, dado um sinal que percorre o quadrante positivo, se este não alternar para
o quadrante negativo, se a sua variação for sempre positiva (amplitude igual ou
maior do que 0), não houve alternância de quadrantes, assim, é classificado como
um sinal contínuo, conforme Figura 44 (a).
Um sinal alternado é aquele que transita do quadrante positivo para o nega-
tivo, e por essa transição ou alternância entre o semiciclo positivo e o negativo,
classifica-se por sinal alternado, conforme Figura 44 (b).
Sinal contínuo Sinal alternado

U (V) U (V)
Sinal Quadrante Quadrante
analógico positivo positivo
Sinal
analógico
Sem
alternância
t (ms) t (ms)
Quadrante Alternância
(a) negativo (b)
Quadrante
Figura 44 - Tipos de sinais: (a) sinal contínuo e (b) sinal alternado negativo
Fonte: o autor.

ELETRÔNICA
217

Exemplos de sinais contínuos são as pilhas e baterias, e os sinais alternados são


típicos da rede elétrica da concessionária, sinais de áudio etc.
Há diversas análises que podem ser feitas em termos de sinais, classifican-
do-os como periódicos, determinísticos etc. que não serão abordados por este
livro (HSU, 1995).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Os dataloggers, ou registradores digitais de dados, são os dispositivos capa-


zes de registrar o valor de variáveis ao longo do tempo e armazená-los na
memória para fins de consulta futura.
Fonte: o autor.

Na próxima seção, serão apresentados alguns circuitos de eletrônica analógica


para fins de entendimento básico sobre o assunto.

CIRCUITOS E APLICAÇÕES DE ELETRÔNICA ANALÓGICA

Os circuitos de eletrônica analógica seguem os conceitos já citados, anterior-


mente, referindo-se a sinais que podem assumir qualquer valor no tempo dentro
de seus limites mínimo e máximo. Por exemplo, podemos observar com frequên-
cia circuitos desse tipo nos amplificadores de áudio utilizados para instrumentos
musicais nos receptores de rádio mais elaborados e também nos antigos (atual-
mente, há receptores integrados).
Quando precisamos amplificar o sinal de um sensor utilizado para medir
uma variável, devemos entender os limites de operação deste sensor, por exem-
plo, um sensor de temperatura que opera entre os limites de −55 °C até 150 °C
. Esta variação, conhecida como SPAN ou alcance, é a diferença entre o valor
máximo e o valor mínimo que um sensor pode medir de uma variável. No caso
do exemplo, o SPAN é:

Eletrônica Analógica
218 UNIDADE IV

SPAN = 150 C - (-55 ) = 205 C


Considerando que o sensor incrementa um sinal de 10 mV / °C (10 milivolts
por grau Celsius) (TEXAS INSTRUMENTS, 2017), quando a temperatura for
de −55 °C , o sinal oriundo do sensor será de 0 V , e quando a temperatura
atingir 150 °C, o valor máximo da tensão na saída do sensor (U MÁX ) será de
2, 05 V , pois:
U MÁX = 205 ºC ⋅ 10 mV = 2, 05 V

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Assim, esquematicamente, fica:
Faixa de Faixa de
Temperatura Temperatura
T(°C) U(V)
150°C 2,05V

102,5°C 1,025V

-55°C 0V
Figura 45 - Relação entre a variável temperatura e o sinal do sensor
Fonte: o autor.

Como os controladores industriais operam com sinais padronizados entre 0 e 5 V


(microcontrolador) ou 0 a 10 V (CLP ), um sinal variando entre 0 e 2, 05 V não
atende exatamente ao padrão e deve ser condicionado, assim, um circuito ampli-
ficador deve ser utilizado para amplificar o sinal de modo que este, ao variar de 0
e 2, 05 V , forneça uma variação de acordo com o padrão do controlador.
Para amplificar sinais, existem diversos circuitos amplificadores operacionais
de precisão oferecidos pelo mercado e que são muito utilizados pelos fabricantes
de instrumentos e equipamentos industriais modernos nos circuitos de condicio-
namento analógico, como é o caso dos modelos INA115, OPA187, INA1620, etc.
Na sequência, será apresentado um exemplo de circuito de condiciona-
mento de sinais para exemplificar o uso de circuitos de eletrônica analógica em

ELETRÔNICA
219

aplicações industriais.

Circuito de condicionamento de sinais para sistemas de medição


baseados na reflexão difusa do infravermelho próximo

O circuito da Figura 46 mostra um exemplo de condicionamento de sinais para o


sistema de medição baseado na reflexão difusa do infravermelho próximo, onde
na etapa de conversão de corrente em tensão é inserido o sinal do sensor que,
posteriormente, passa por amplificação (GENTILIN et al., 2016).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 46 - Circuito de condicionamento de sinal


Fonte: Gentilin et al. (2016, p. 20).

Na Figura 47, observamos um estágio responsável pelo ajuste do sinal em ter-


mos de ganho e desvio (offset) e o estágio de detecção de pico, onde o sinal é
capturado pelo microcontrolador e digitalizado.
POT34
100 kΩ R14
50 kΩ
V STAB

OP07E
BP_OUT
2 kΩ
POT3 Vo˝
CI4

Figura 47 - Estágios de ajustes e detecção de pico do sinal


Fonte: Gentilin (2012, p. 26).

Os circuitos apresentados pela Figura 46 e pela Figura 47 são exemplos de ele-


trônica analógica, atuando no condicionamento de sinais. Circuitos como estes

Eletrônica Analógica
220 UNIDADE IV

são comuns em instrumentos de medição em todas as áreas.


Há, entretanto, uma infinidade de circuitos de eletrônica analógica, desses
podemos citar os circuitos ressonantes ou de sintonia, frequentemente, utili-
zados nos equipamentos de rádio. Atualmente, em dispositivos móveis, como
aparelhos de celular, por exemplo, é comum encontrar circuitos de sintonia de
rádio FM. A Figura 48 mostra um exemplo de circuito de rádio FM fabricado
para atender ao projeto de dispositivos móveis.
MPXOUT right left
n.c 47 nF 47 nF 47 nF 33 nF 33 nF

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31 30 29 28 27 26 25 24 23 22
n.c n.c
18 kΩ 32 20
GAIN POWER 21
STABILIZATION SUPPLY
33
22 nF 22 µF
vcc 34 DEMOD
4.7 kΩ RESAMP LIMITER SOFT
MUTE
SDS

I/Q-MIXER LEVEL IF
FM antenna 1st FM ÷2 ADC COUNT
N1 MPX
IF CENTER 1 nF
100pF DECODER 19
FREQUENCY Iref 22 nF
35 ADJUST 18 33 kΩ
120 nH 27pF 36
AGC
27pF 37 TEA5767HN 22 nF
XTAIL 17
28 OSCILLATOR 16
4.7 nF 32.768 kHz
Prog. div. out 15 10 kΩ or
39
TUNING SYSTEM MUX SW PORT 14 13 MHz
Ref. div. out vcc
10 kΩ
pilot
mono 13
n.c 40 BUS enable
vco 12 BUS mode
I²C-BUS 3-WIRE BUS 11
R/W
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
n.c DA CL
10 nF 39 nF D1 12 kΩ MSD860
D2 vDD
10 kΩ 22 nF
L3 L2
100 kΩ

22 nF
47 kΩ
vcc(osc)

Figura 48 - Circuito de sintonia integrado TEA5767/68


Fonte: Philips Semiconductors (2002, p. 2).

Não podemos deixar de citar que, quando nos conectamos a uma rede sem fio
(Wi-Fi) ou trocamos dados entre dispositivos utilizando o Bluetooth, estamos

ELETRÔNICA
221

utilizando “rádios” que enviam e recebem dados sem a necessidade de condu-


tores metálicos. A sua relevância, embora microscópica dada a miniaturização
atual, é de extrema grandeza e aplicabilidade. A Figura 49 apresenta um diagrama
funcional de um componente eletrônico microcontrolador com a capacidade de
se comunicar por meio da tecnologia Wi-Fi.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 49 - Diagrama funcional do microcontrolador com capacidade de comunicação Wi-Fi


Fonte: Espressif Systems (2018, p. 6).

Como seria a vida das pessoas contemporâneas se simplesmente não hou-


vesse mais comunicação sem fio entre dispositivos? Quais as adaptações
seriam necessárias para continuar a se comunicar sem o uso de tecnologias
wireless?

Devemos reconhecer também a utilização de uma tecnologia que avança a cada


dia em aplicações e usos no Brasil, seja no controle de acesso ou na logística

Eletrônica Analógica
222 UNIDADE IV

dentro de empresas, ou mesmo no campo. A tecnologia que permite a identifi-


cação de um objeto ou indivíduo sem contato e com dados substanciais é o RFID
(Radio-Frequency Identification, do inglês “identificação por rádio frequên-
cia”), e utiliza circuitos de eletrônica analógica para operar, permitindo o acesso
de pessoas ou animais, identificação de produtos em linhas de produção auto-
maticamente, acesso de veículos por cancelas em vias públicas etc. (Figura 50).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 50 - Controle de acesso de veículo com RFID (ID.:1023250240)

A tecnologia RFID utiliza um equipamento que emite campo magnético no


espaço e uma etiqueta ou TAG com dados gravados na memória. Quando a eti-
queta entra no espaço de alcance do campo magnético do leitor, o próprio campo
pode induzir a uma tensão capaz de alimentar o circuito contido na etiqueta e,

ELETRÔNICA
223

desta forma, esta envia os seus dados, que são interpretados pelo leitor.
Os dados podem ser customizados e conter informações importantes sobre
o indivíduo ou apenas um código único que, ao ser reconhecido, é associado ao
usuário ou ao produto, assim, um TAG pode ser utilizado para identificar pes-
soas, objetos, animais, veículos etc.
A Figura 51 mostra alguns exemplos de uso da tecnologia RFID, onde em (a)
podemos observar um rebanho de ovelhas sendo monitorado por um drone equi-
pado com leitor RFID, enquanto que em (b), são mostrados TAGs normalmente
utilizados para o controle de acesso a ambientes restritos, em (c), observamos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

um exemplo de utilização do RFID em controle de estoque de vestuário.

(a) (b) (c)


Figura 51 - Exemplos de utilização de RFID

Sem dúvida, há diversas aplicações onde a eletrônica pode contribuir para um


processo produtivo, e a cada dia surgem novas formas de melhorar o modo com
que conduzimos uma manufatura, entretanto, os limites deste material se reser-
vam a expor uma introdução que permite ao aluno de Engenharia de Produção
explorar demais áreas dentro da Eletrônica de acordo com a sua área de atuação.

Eletrônica Analógica
224 UNIDADE IV

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na Unidade 4 deste livro, abordamos a Eletrônica em sua essência nos pontos


relativos à sua aplicação de maneira geral e ampla dentro do cenário onde um
Engenheiro de Produção atua, além de contemplar os conceitos básico que este
profissional deve dominar para atuar em relação a essa tecnologia que evolui
diariamente.
Alguns itens mais pontuais, como os componentes eletrônicos mais comuns,
as limitações e características, permitiram entender a influência de variáveis

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sobre o seu funcionamento, inclusive exemplos de cálculo que permitem esti-
mar parâmetros funcionais relevantes sob o ponto de vista de aplicabilidade de
determinados componentes, como no caso dos resistores, onde a temperatura
pode influenciar em seu valor ôhmico e a influência da frequência sobre o valor
da reatância. Todos estes aspectos foram abordados no sentido informativo intro-
dutório, para que o estudante de Engenharia de Produção possa ter parâmetros
em suas decisões quando se deparar com a Eletrônica.
Além do aspecto geral da Eletrônica, foram apresentados estudos direcio-
nados a duas vertentes dela: a eletrônica digital e a eletrônica analógica. Nestes
capítulos, foram abordados assuntos de relevância que permitem o entendimento
de cada área e as suas aplicações, norteando o uso de tecnologias e limitações
importantes que podem definir o desempenho de um processo, pois o entendi-
mento e a diferenciação entre as diferentes tecnologias são necessários quando
a tomada de decisões requer conhecimento tecnológicos que possam auxiliar
na solução de problemas.
Alguns circuitos de eletrônica analógica e digital foram exemplifi-
cados nessa unidade apenas para que o estudante tenha uma leitura básica
dos principais componentes utilizados, de modo a promover a interface
entre seu uso e o tipo de alimentação elétrica, além de demais fatores limi-
tantes específicos de cada caso. Esta diversidade nos permite entender que a
Eletrônica é um campo de dimensões praticamente infinitas, onde teremos
a oportunidade de estender os nossos estudos na próxima unidade, onde
algumas aplicações serão abordadas no aspecto industrial da Eletrônica.

ELETRÔNICA
225

1. Os resistores são componentes capazes de oferecer uma imposição à circula-


ção de corrente elétrica e o valor de sua resistência pode variar de acordo com
a temperatura. Conforme os seus conhecimentos sobre resistores, assinale a
alternativa correta:
a) O parâmetro que determina a estabilidade térmica de um resistor é o TCR, e
−1
é medido em Ω / °C , pois a sua função é informar o quanto um resistor é
capaz de conduzir eletricidade com a variação de temperatura.
b) Há diferentes tipos de encapsulamentos de resistores no mercado, sendo
que para cada tipo há valores de resistência distintos que não ocorrem em
outros grupos de encapsulamentos.
c) O parâmetro que determina a estabilidade térmica de um resistor é o TCR, e
é medido em ppm / °C .
d) Os resistores de níquel cromo são mais estáveis que os resistores de tecno-
logia Z-Foil.
e) Os resistores utilizam códigos de cores para determinar o seu valor de re-
sistência, e uma faixa define o TCR que, normalmente, é a 2ª faixa em um
resistor de quatro faixas.
2. Os capacitores são componentes fundamentais para a elaboração de circuitos
eletrônicos, desde os mais simples até os mais complexos. Com base nos tipos
funcionamento dos capacitores, assinale a alternativa correta:
a) Os capacitores são utilizados em circuitos de tempo e a sua capacitância
depende da área de suas placas e da distância entre elas, além de uma cons-
tante dielétrica definida pelo material de sua composição.
b) Em um capacitor, a área de suas placas é inversamente proporcional à sua
capacitância.
c) Um capacitor eletrolítico não permite polarização, logo, pode ser associado
em qualquer posição no circuito.
d) A constante dielétrica do Titanato de Bário é dez vezes menor do que a da
poliamida.
e) A reatância capacitiva é diretamente proporcional ao valor da capacitância
e ao produto do quadrado da frequência.
3. O diodo é um dos semicondutores mais utilizados em circuitos eletrônicos, o
que possibilita a fabricação de dispositivos inteligentes integrados. Em relação
aos diodos semicondutores, assinale a alternativa correta:
a) O LED é um tipo de diodo que pode ser associado inversamente polarizado
para emitir luz.
226

b) O diodo Schottky não possui camada de depleção e, por isto, ele se adequa
a condições especiais de alta velocidade.
c) O diodo varicap não se aplica a circuitos de sintonia, pois o seu efeito capaci-
tivo poderia atrasar o sinal e não poderia operar em altas frequências.
d) A cor emitida pelo LED depende apenas da frequência do sinal aplicado em
seus terminais.
e) A corrente que circula por um LED é inversamente proporcional à tensão
aplicada para a sua alimentação.
4. Analise afigura a seguir, onde uma lâmpada é acionada, a partir de um transís-
tor bipolar. De acordo com o conhecimento de transístores bipolares, assinale
a alternativa correta:

a) A corrente circula pelo coletor independe da corrente da base.


b) Este transístor é de efeito de campo.
c) A lâmpada brilhará mais se a tensão da fonte de tensão variável for menor.
d) A corrente do emissor é igual a diferença entre a corrente na base e a cor-
rente no coletor.
e) O ganho de corrente no coletor depende da corrente da base, assim, quanto
maior a corrente na base, maior o brilho da lâmpada.
227

5. Os MOSFETs são aplicados em diversos tipos de equipamentos onde há a ne-


cessidade de comutação de cargas indutivas em altas velocidades e possuem
uma variação que reúne a tecnologia bipolar ao efeito de campo, que produz o
IGBT. Baseando-se nesta afirmação, assinale a alternativa correta:
a) Os MOSFETs não permitem montagem em placas de circuito impresso, limi-
tando-se apenas a aplicações onde cabos devem acessar os seus terminais.
b) Os IGBTs são conhecidos por não possuírem isolação entre a sua porta (Gate)
e o canal (coletor-emissor), assim, eles podem ser utilizados em inversores
de frequência e alto desempenho.
c) Os amplificadores de áudio não podem utilizar transístores, pois isto distor-
ceria a qualidade de reprodução de som e, assim, utilizam apenas circuitos
integrados.
d) Nos MOSFETs existe uma camada de vidro que isola o Gate do canal do tran-
sístor, permitindo, assim, que a corrente seja controlada entre o dreno e o
source.
e) Os circuitos integrados não utilizam transístores em sua composição, pois
esta tecnologia é muito lenta e aqueceria em demasia os encapsulamentos.
6. As aplicações de eletrônica digital e analógica permitem inúmeras possibili-
dades, desde o projeto de simples fontes de alimentação até a elaboração de
complexos computadores. Com base nos conhecimentos adquiridos nessa
unidade, assinale a alternativa correta:
a) As fontes de alimentação lineares são mais robustas do que as fontes comu-
tadas ou chaveadas, pois contam com transformador de entrada, simplifi-
cando o projeto, mas encarecendo a sua fabricação e aumentando significa-
tivamente o seu peso se comparadas às fontes chaveadas.
b) Os sinais analógicos são aqueles que representam as variáveis mais antigas,
aquelas que só podemos medir com o uso de um ponteiro e de uma escala
graduada e possuem valores definidos no domínio do tempo.
c) A eletrônica digital é totalmente independente da eletrônica analógica, po-
dendo ser utilizada para resolver os mesmos problemas de maneira singular.
d) O RFID é um recurso que foi desenvolvido em 1992 pela Texas Instruments e
aplica-se na identificação de itens com TAGs personalizados.
e) Um sinal alternado é todo sinal que oscila, mesmo sem inverter o seu sinal,
ou seja, de positivo para negativo e de negativo para positivo.
228

DISPOSITIVOS DE CARBONETO DE SILÍCIO NA ELETRÔNICA DE POTÊNCIA: UMA REVISÃO


O silício é a matéria-prima mais utilizada no desenvolvimento de semicondutores. A pe-
rícia no manejo deste material, adquirida em anos de trabalho e pesquisa no mundo
inteiro, permite criar e melhorar processos de purificação, de crescimento de cristais, de
gravura, de deposição de camadas, etc. Isto, somado ao fato da extrema abundância do
silício, faz deste material a base do mercado eletrônico mundial.
No entanto, os limites físicos do silício têm aberto as portas para o estudo de um grupo
de novos elementos e compostos, chamados de semicondutores de banda larga (WBS,
wide band semiconductors).
Alguns dos mais conhecidos WBS são: o Carboneto de Silício (Silcon Carbide – SiC), o
nitreto de gálio (Gallium Nitride – GaN) e o diamante. Estes elementos e compostos têm
melhor rendimento em relação ao manuseio de tensão e potência, à redução de perdas,
ao incremento da velocidade de comutação, etc. Estas melhoras são baseadas no fato
que os semicondutores de banda larga têm uma menor concentração de portadores
intrínsecos (4-37 vezes), maior campo elétrico de ruptura (7-20 vezes), maior conduti-
vidade térmica (3-13 vezes) e maior velocidade de deriva de elétrons saturados (2-2,7
vezes) do que o silício (Elasser & Chow, 2002).
O Carboneto de Silício (SiC) apresenta mais de 150 politipos. O 4H-SiC e o 6H-SiC são os
dois polítipos que maior atenção tem recebido e, portanto, que tem mais dispositivos
desenvolvidos a nível comercial (Chow, 2000).
De acordo com diferentes figuras do mérito, o SiC supera, em rendimento, a outros ma-
teriais de banda larga, como o Arseneto de Gálio (GaAs), além do Si (Elasser & Chow,
2002). Mesmo com todas suas vantagens, nem todos seus politipos são práticos.
Embora o 3C-SiC seja muito promissor, as dificuldades para obter um crescimento crista-
lino de qualidade relegaram-no de modo ostensivo (Gupta & Jacob, 2005).
Comparando o 4H-SiC e o 6H-SiC, destaca-se que o primeiro oferece uma mobilidade de
elétrons várias vezes maior ao longo do eixo c, uma baixa energia de ionização para os
dopantes (Elasser & Chow, 2002), e maior energia de gap Eg, o que favorece uma menor
fuga de corrente em altas temperaturas.
229

Com relação ao Si, o SiC tem o dobro da velocidade de saturação, permitindo maior
manejo de corrente e largura de banda (Agarwal et al., 1996). Embora o SiC tenha ren-
dimentos elevados, em comparação com o Silício, ainda existem sérias dificuldades
em seu processamento, tais como o controle preciso do gradiente de temperatura no
interior do sistema de crescimento para formar lingotes ou a necessidade de fazer a
dopagem, usando técnicas como implantação de íons em vez de utilizar processos con-
vencionais, devido às baixas constantes de difusão de impurezas do SiC (Kimoto, 2010).
No entanto, o problema que gerou o maior atraso na massificação deste composto foi o
defeito de microtubagem (micropipe defect), que produz um furo de pequeno diâme-
tro que pode se estender por todo o material, na direção do crescimento, levando isto
a uma falha do dispositivo em alta tensão (Palmour, Singh, Glass, Kordina, & Carter, C.
H., 1997).- 2Porém, em 2007, já foi possível obter pequenas microtubagens de somente
0, 75 cm ou mesmo densidades de microtubagens zero para pastilhas de três pole-
gadas (Millán, 2007).
Outra desvantagem do SiC são os deslocamentos, que abrangem: deslocamento de pa-
3
rafuso com uma densidade de 10 cm- 2 , deslocamento de plano basal com uma den-
-2
sidade de algumas dezenas por cm , e deslocamento de borda com densidade de
-2
100 -1000 cm (Hudgins, 2013).
Em 2012, a indústria CREE resolveu muitos destes problemas e anunciou que está em
capacidade de produzir pastilhas de 150mm de 4H-SiC com elevados padrões de qua-
lidade (Balakrishna, 2012).
Nos últimos anos, essas melhorias no processo de produção aumentaram notavelmente
a quantidade de aplicações comerciais, não sendo estranho encontrar comercialmente
diodos de barreira Schottky de 1,2 kV a 50A ou DMOSFET de 1, 2 kV a 100 A .
Em termos gerais, o aumento de tensão de bloqueio para todos os dispositivos com
WBS é considerável, pois a tensão de bloqueio mínima dos dispositivos em SiC é quase
a tensão de bloqueio máxima dos dispositivos em Si. Isto faz o SiC ser extremamente
atraente para o desenvolvimento de produtos destinados a aplicações de alta potência.
Fonte: adaptado de Bueno e Silva (2014).
MATERIAL COMPLEMENTAR

Microeletrônica (5ª edição)


Pearson Prentice Hall
Autores: Kenneth C. Smith e Adel S. Sedra
Sinopse: o livro tem como objetivo desenvolver no leitor a capacidade
de analisar e projetar circuitos eletrônicos analógicos e digitais tanto
na forma discreta como integrada. Além disso, embora trate das
aplicações de circuitos integrados (CIs), dá ênfase ao projeto de circuitos
transistorizados para que o conhecimento que está contido  no âmbito
interno de um CI possibilite aplicações inteligentes e inovadoras de tais
componentes.
Comentário: referência obrigatória para o estudo da Eletrônica.

007 - Operação Skyfall (2012)


Sinopse: o roubo de um HD contendo informações valiosas sobre
a identidade de diversos agentes infiltrados em células terroristas
espalhadas ao redor do planeta, faz com que James Bond (Daniel Craig)
vá atrás do ladrão.

O Instituto Newton C. Braga traz em seu site várias novidades


sobre o universo da Eletrônica. Web: <http://www.newtoncbraga.
com.br/>.

Assista ao documentário A Descoberta do Transístor: Um Documentário de 1953. Ele


foi produzido após a criação do transístor nos laboratórios da Bell, alguns anos antes
do anúncio do prêmio Nobel de Física. Web: <https://youtu.be/-4Qdp8ws5c4>.

Neste link, há o vídeo chamado A História do Transístor. Ele mostra como o transístor
é considerado por muitos uma das maiores descobertas ou invenções da história
moderna, tornando possível a revolução dos computadores e equipamentos
eletrônicos. Web: <https://youtu.be/Xsv03w9YJqI>.

O link a seguir narra o processo de criação do processador. Web: <https://youtu.be/


znlQZ_KMu_0>.
231
REFERÊNCIAS

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3
Em: <https://www.armourcard.com/rfid-a-spy-tool-part-1/>. Acesso em: 21 dez.
2018.
233
GABARITO

1. Alternativa C.
2. Alternativa A.
3. Alternativa B.
4. Alternativa E.
5. Alternativa D.
6. Alternativa A.
Professor Me. Fábio Augusto Gentilin

V
UNIDADE
ELETRÔNICA APLICADA

Objetivos de Aprendizagem
■ Entender as principais aplicações da eletrônica na indústria e como
ocorre a interação entre eletrônica analógica e eletrônica digital.
■ Compreender as principais aplicações de eletrônica de potência na
indústria.
■ Apresentar os conceitos fundamentais de instrumentação industrial.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Eletrônica aplicada
■ Eletrônica de potência
■ Instrumentação industrial
237

INTRODUÇÃO

Caro(a) estudante, nesta unidade, estudaremos as principais aplicações da


Eletrônica em ambiente industrial e que se destacam em aplicações onde um
Engenheiro de Produção pode contribuir com seus conhecimentos.
Inicialmente, esta unidade abordará a eletrônica e as suas aplicações de
maneira ampla e, na sequência, entenderemos como as eletrônicas digital e ana-
lógica podem contribuir juntas para a melhor produtividade de um processo,
além de conhecer o essencial sobre eletrônica de potência e instrumentação.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Com esses conhecimentos, o estudante poderá entender como utilizar a estru-


tura de uma empresa em termos de recursos tecnológicos e promover melhorias
tanto no aspecto mantenedor como no de projeto sustentável.
Ao longo de cada assunto serão trabalhados exercícios que têm como objetivo
fixar os principais conceitos necessários ao entendimento e fomentar a pesquisa
por parte de cada estudante, o que deve ocorrer de acordo com sua área de atua-
ção na indústria, uma vez que diferentes regiões podem apresentar orientações
de mercado específicas.
A eletrônica aplicada abordada, nesta unidade, tem como objetivo apresentar
algumas situações onde ocorre a sintonia entre a eletrônica digital e a analógica
de modo complementar, de acordo com as características de cada tecnologia. Já
na eletrônica de potência, o estudante terá a oportunidade de aprender sobre con-
versores chaveados em alta frequência sob a ótica de um Engenheiro de Produção.
Quando estendemos a eletrônica ao ambiente industrial, encontramos a ele-
trônica industrial, que se apresenta como o último assunto abordado por esta
unidade e que engloba as aplicações desta tecnologia na fabricação de equipa-
mentos complexos, cuja capacidade é controlar máquinas e processos com base
no uso de recursos de hardware e software embarcados em plataformas eletrô-
nicas de potência.
Esperamos que você, estudante, tenha a melhor experiência em termos de
tecnologia aplicada de Eletrônica na indústria e que a sua curiosidade permita
avançar nas literaturas indicadas para sempre crescer profissionalmente em uma
área em plena evolução.
Ótimos estudos!

Introdução
238 UNIDADE V

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ELETRÔNICA APLICADA

Nesta seção, estudaremos algumas aplicações de Eletrônica que são referenciais


para o estudante de Engenharia de Produção e que permitem analisar a siner-
gia entre as tecnologias analógica e digital, de modo a examinar as interações e
os benefícios de seu uso.

APLICAÇÕES DE ELETRÔNICA ANALÓGICA E DIGITAL

Ao longo de nossos estudos, tivemos a oportunidade de conhecer algumas tecno-


logias envolvendo a Eletrônica em termos de componentes e até alguns exemplos
de circuitos. Nesta unidade, conceituaremos algumas aplicações de eletrônica
analógica e digital combinadas para que o estudante de Engenharia de Produção
possa entender a importância da sinergia entre essas duas áreas tão importan-
tes, dividindo os principais conceitos em três partes:
■ Aplicações de instrumentação eletrônica.
■ Aplicações de controle.
■ Aplicações de comunicação de dados.

ELETRÔNICA APLICADA
239

Aplicações de instrumentação

A instrumentação é a área da eletrônica aplicada responsável pelo desenvolvimento


de instrumentos que permitem a medição de variáveis por meio de elementos
sensíveis eletroeletrônicos, como sensores multivariáveis (nível, vazão, tempe-
ratura, pressão, umidade etc.).
Os instrumentos eletrônicos são capazes de realizar a conversão da variação do
sinal proveniente do elemento sensível para um sinal elétrico padronizado em níveis
de tensão capazes de serem interpretados por um controlador, como no exemplo visto
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

na unidade anterior, onde um sensor de temperatura varia o seu sinal de saída em .


10 mV. a cada grau Celsius. Este sinal, até então analógico, é condicionado e posterior-
mente entregue ao controlador microprocessado, que é digital, possibilitando, assim, a
sua interação com plataformas de software, tão frequentes atualmente em nosso meio.
Para que um CLP possa processar os dados analógico de um processo indus-
trial, este precisa de placas de circuitos capazes de converter os sinais dos sensores
de campo (analógicos) para sinais digitais, interpretáveis pelo microcontrolador
da CPU para posterior disponibilização a base de dados da empresa onde com-
putadores e servidores podem acessar, registrar e processar os valores de acordo
com a necessidade (Figura 1).

Sinal Sinal analógico Sinal CPU


analógico digital
Conversor
padrão Circuito de
SENSOR sinal
condicionado analógico/ barramento
Microprocessador
elétrico
condicionamento de dados
digital
Processo
Cartão de entradas analógicas
barramento de dados

industrial
Sinal
digital
Servidores Sinal
digital
Interface de
comunicação

Figura 1 - Conversão de dados analógicos em digitais Estação de


Fonte: o autor. trabalho

Eletrônica Aplicada
240 UNIDADE V

Observe que o sinal analógico oriundo do sensor passa por uma conversão analó-
gico-digital para que possa ser interpretado pelo circuito digital microprocessado
na CPU, e, então, ser processado e encaminhado via interface de comunicação
para servidores e computadores de estações de trabalho.
Ao longo do processo de conversão e dos processamento dos sinais, os cir-
cuitos analógicos e digitais operam em parceria, de modo a complementar as
necessidades da arquitetura de um controlador que permite a integração de
dados de natureza analógica em tecnologias digitais, como é o caso dos compu-
tadores e redes de dados.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Em específico, podemos citar que as aplicações em instrumentação normal-
mente possuem dois aspectos: um aspecto relativo às características da variável
a ser mensurada e outro aspecto que se relaciona à digitalização (processo de
converter o valor da variável analógica em um dado digital). Muitos estudantes,
neste momento, podem se perguntar: “Por que digitalizar?”. A resposta é simples:
não podemos operar com dados analógicos em computadores, pois os micropro-
cessadores só realizam processamentos digitais e, assim, precisamos converter
as variáveis analógicas em digitais para viabilizar este processo.
A conversão de dados analógicos em digitais é realizada por circuitos que
recebem o sinal condicionado na entrada e produzem um dado número de bits
na saída e que pode ser maior ou menor de acordo com a resolução do circuito
conversor analógico-digital (ADC). Assim, quanto maior o número de bits de
um ADC, maior será a definição do sinal de entrada em bits na saída, ou seja,
mais bits de resolução significa traduzir o sinal de entrada analógico em sinal
de saída digital com mais detalhes.
Uma analogia bastante tangível para este caso é o que fazemos quando
desejamos medir uma dada distância entre os pontos A e B, utilizando uma
régua simples. O que ocorre é que a menor distância medida pela régua é
1, 0 mm (1, 0.10−3 m) , sendo assim, entre 1, 0 mm e outro não sabemos exata-
mente qual é o valor da distância, caso a medida esteja intermediária entre dois
traços de 1, 0 mm , que pode ser uma dimensão de uma peça mecânica, por exem-
plo, e teremos a incerteza sobre esta medida. Para resolver esses casos existem os
instrumentos de medição com maior resolução e que podem medir na ordem de
( )
µm 1, 0.10− 6 m , como é o caso do instrumento conhecido como micrômetro.

ELETRÔNICA APLICADA
241

Na conversão de um sinal analógico para digital é a mesma situação. Se utiliza-


mos um ADC de maior resolução, o sinal é mais detalhado, enquanto que em um
sinal de baixa resolução temos grande incerteza sobre o valor mensurado, assim,
podemos observar sensores que informam o valor com uma casa decimal e outro
que informam 6 casas decimais à direita da vírgula (ou ponto), de acordo com a
necessidade de cada caso e onde seja justificado o seu uso, já que quanto maior a
resolução de um instrumento, maior é seu valor em termos de investimento.
A Figura 2 (a) mostra um exemplo multímetro com mostrador de 3 1 2
dígitos, limitado a medições com poucas casas decimais, adequado para medir
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

grandezas elétricas, onde não se exige alta precisão. Já na Figura 2 (b), pode-
mos observar outro instrumento, mas com a capacidade de 7 1 2 dígitos em
seu mostrador, indicado para atuar em laboratório de pesquisa com ajustes de
circuitos de precisão.

(a) (b)
Figura 2 - Instrumentos de medição eletrônicos: (a) 3 ½ dígitos (ID.:1338588) e (b) 7 ½ dígitos
Fonte: SMAR Automação Industrial (2014).

Os circuitos de eletrônica analógica que se aplicam à instrumentação devem


ser imunes a influências externas que classificamos como ruídos. Os ruídos são
aqueles sinais indesejados que se misturam com o sinal de interesse. Por exem-
plo: um sensor produz um sinal de 0 a 50 mV , correspondendo à variação de
pressão de 3 a 15 psi para a etapa de condicionamento, porém, há ruídos que se
misturam ao sinal e introduzem uma leitura incorreta da variável, fazendo com
que o instrumento seja inconfiável.
Os ruídos normalmente ocorrem na forma conduzida (por meio dos
condutores de alimentação dos sensores) ou irradiada (por meio de ondas ele-
tromagnéticas). Existem ainda ruídos que são produzidos no instante em que
ocorre a condução de corrente no semicondutor.

Eletrônica Aplicada
242 UNIDADE V

Uma característica que os sinais ruidosos apresentam é a frequência, que,


normalmente, é diferente da frequência do sinal mensurado, e quando o sinal
de ruído se mistura ao sinal de interesse, aquele passa a apresentar um sinal
composto por várias componentes de frequência. A Figura 3 mostra dois sinais
onde em (a) observamos o sinal de interesse somado ao sinal de ruído e em (b)
observamos o sinal sem os componentes de sinais ruidosos de alta frequência.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 3 - (a) Exemplo de sinal com ruído e (b) sinal filtrado
Fonte: o autor.

O sinal de interesse (do sensor) possui frequência de 1 kHz e o sinal de ruído


manifesta uma frequência de 40 kHz (aproximadamente). Com o uso de téc-
nicas de filtragem de sinal, utilizando um filtro passa-baixa sintonizado em
1 kHz ± 100 Hz , apenas o componente de 1 kHz passa ao estágio seguinte,
enquanto que o componente de 40 kHz é retido no filtro.
É bastante comum encontrarmos problemas com ruídos quando existem
equipamentos próximos ao instrumento que operam com chaveamento em altas
frequências, como o caso de reatores eletrônicos, máquinas de solda, inversores
de frequência, fontes chaveadas etc. Para evitar a influência dos sinais ruido-
sos, são utilizadas técnicas de filtragem (para ruídos conduzidos) e blindagem
(para ruídos irradiados), assim os equipamentos atendem a normas de compa-
tibilidade eletromagnética, termo conhecido internacionalmente como EMC
(Electromagnetic Compatibility).

ELETRÔNICA APLICADA
243

A norma ABNT NBR IEC 61000-4-3:2014 estabelece definições e regras para


Compatibilidade Eletromagnética (EMC): Ensaios e técnicas de medição
- Ensaio de imunidade a campos eletromagnéticos de radiofrequências ir-
radiados, elaborada pelo Comitê Brasileiro de Máquinas e Equipamentos
Mecânicos (ABNT/CB-04).
Fonte: adaptado de ABNT (2014).
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Para que um equipamento eletrônico possa ser comercializado no Brasil, ele


deve atender às normas de compatibilidade eletromagnética. Um exemplo é a
Anatel, que estabelece rigores para atendimento às normas aplicáveis a todo tipo
de equipamento eletrônico que utilize meios de comunicação eletrônica, assim,
um smartphone, por exemplo, deve apresentar um selo da Anatel, indicando que
passou por testes e atende às normas estabelecidas, caso contrário, não poderia
ser comercializado em território nacional.
Em outros países existem outras normas vigentes de acordo com os rigores
necessários e as características de cada região, sendo mais ou menos criteriosas,
de acordo com a necessidade. Em todos os casos, os dispositivos eletrônicos,
normalmente, são submetidos a testes em laboratório em um procedimento deno-
minado homologação para atender às normas estabelecidas, conforme registro
da Figura 4, onde um drone é submetido a testes de compatibilidade eletromag-
nética a fim de atender às exigências normativas.

Imagine se não houvesse normas para regulamentar o uso de dispositivos


que utilizam telecomunicações. Como seria possível que um telefone se co-
municasse em meio a tantos tipos diferentes de meios de comunicação que
se sobrepõem em frequência e em padrões elétricos? Certamente, um seria
o ruído do outro e poucos conseguiriam completar uma simples chamada.

Eletrônica Aplicada
244 UNIDADE V

Uma vez atendidas as normas e


o equipamento apresentasse apto
a operar em ambiente específico,
sem que o seu funcionamento
interfira no funcionamento dos
demais ou sem que os demais
possam influenciar no seu funcio-
namento normal, o equipamento
recebe um selo de atendimento à

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
norma para a qual foi testado e
aprovado, como o selo da Anatel,
por exemplo.
Figura 4 - Drone sendo submetido a testes de EMC em
laboratório de homologação especializado

Um Celular Legal apresenta o selo Anatel, que indica a certificação do apa-


relho e garante ao consumidor a compatibilidade com as redes de telefonia
celular brasileiras, a qualidade dos serviços e a segurança do consumidor, se-
gundo os requisitos estabelecidos pela Anatel, além de condições de garantia
e assistência técnica. O selo normalmente está localizado no corpo do apare-
lho, atrás da bateria, ou no manual.
Fonte: Anatel (2015, on-line)1.

Aplicações de controle

Na área de controle, a eletrônica analógica tem suas contribuições mais rele-


vantes na elaboração de circuitos de controle de processos industriais e demais
máquinas que exijam este recurso, como veículos automotores, aeronaves etc.
Quando o assunto é controle, é comum ouvir profissionais da área se referi-
rem às ações de controle (PID – Proporcional, Integral e Derivativo, por exemplo),
mas os elementos de controle que realizam estas técnicas são, na maior parte dos
casos, eletrônicos, ou seja, são circuitos que realizam o processamento de sinais de
entrada e produzem um sinal de saída para que um elemento final de controle possa

ELETRÔNICA APLICADA
245

atuar, por exemplo, uma válvula que deve abrir ou fechar tão mais rápido ou lento
quanto se deseja, de acordo com a dinâmica do processo e das ações de controle.
Para controlar um processo industrial, é necessário que o circuito tenha a
capacidade de comparar os valores das variáveis de entrada e de saída. Sendo
assim, é possível estabelecer um sinal de erro ou de desvio entre o valor dese-
jado (setpoint) e o valor atual (variável do processo).
Há controladores analógicos baseados em amplificadores operacionais, que
se tratam de circuitos integrados analógicos capazes de integrar sinais e realizar
operações diversas, como amplificar um sinal de baixa intensidade, por exem-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

plo, e que associado a componentes externos, como resistores e capacitores,


consiste em circuitos aplicáveis em controladores analógicos, conforme mos-
trado no exemplo de um controlador PID da Figura 5:
VCC

SENSOR

27.0
PV PROPORCIONAL
VOUT

VCC DERIVATIVA
DV

MV

SP INTEGRAL
REFERÊNCIA

Figura 5 - Controlador analógico PID


Fonte: o autor.

Observe no circuito da Figura 5 que o exemplo apresenta um controlador de


temperatura, onde o sinal de saída (MV – Variável Manipulada) atua em um
aquecedor, de acordo com a necessidade verificado pela diferença (DV) entre
os sinais do sensor de temperatura (PV) e o sinal de referência (SP). É em fun-
ção de DV que os estágios Proporcional, Integral e Derivativo (PID) vão atuar,
tão rápido ou tão lento quanto se deseja e de acordo com os valores dos resisto-
res e capacitores associados em suas malhas.

Eletrônica Aplicada
246 UNIDADE V

Atualmente, a maioria dos controladores é baseada em microcontroladores,


assim, possuem ajustes realizados por software, mas a ideia do uso de eletrônica
analógica é bastante válida e aplicável onde o espaço físico é limitado e os ajus-
tes realizados não necessitam de intervenção remota, além do custo envolvido
no projeto, que se torna mais acessível quando o controlador é analógico (fator
importante para a fabricação em grande escala).

Aplicações de comunicação de dados

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Quando empunhamos os nossos smartphones ostensivamente com o intuito de
acessar as últimas notícias do grupo de contatos ou das redes sociais, estamos
fazendo uso da tecnologia que estamos estudando neste momento.
Toda vez que acessamos um site, fazemos o download de um arquivo ou
simplesmente enviamos uma mensagem para um colega, estamos operando um
aplicativo específico que de nada serviria caso a eletrônica não existisse para
permitir a sua interatividade. Neste exemplo, as eletrônicas analógica e digital
estão juntas, tanto na troca de dados pelo meio eletromagnético (rede Wi-Fi,
por exemplo) quanto no processamento e na digitalização dos dados de entrada
e saída em seu dispositivo computacional.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a decodificação da comunicação do


exército inimigo se tornou um dos principais objetivos das tropas aliadas,
permitindo salvar muitas vidas, uma vez que a posse da informação de pon-
tos de ataque permitia a tomada de decisões estratégicas.
Quais seriam as informações estratégicas de nosso tempo? Como decodifi-
car dados que representam situações críticas no ambiente industrial com as
tecnologias atuais?

Quando uma estação de rádio é sintonizada e podemos ouvir a música que


está sendo transmitida ou a fala enigmática do narrador da partida de futebol,

ELETRÔNICA APLICADA
247

estamos utilizando a eletrônica analógica e podemos utilizar a eletrônica digital,


pois há circuitos de receptores de FM que, atualmente, podem ser integrados em
um chip de silício e (conforme vimos anteriormente), estão presentes em mui-
tos modelos de smartphones modernos.
Entretanto, ao ligar este rádio e variarmos as estações, estamos, na
verdade, realizando a seleção da estação que desejamos ouvir. Este processo
consiste em alterar o ponto de oscilação de um circuito que entra em ressonância
com a frequência da estação que desejamos sintonizar e que, na verdade, a
frequência nada mais é do que a portadora da estação. Esta portadora é uma
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

onda que “transporta” os dados transmitidos, como a música, a fala etc., assim
como mostrado na Figura 6.
EMISSORA DE AUDIO RECEPTOR DE AUDIO

PORTADORA Antena Antena


Modulador Demodulador
CIRCUITO
Σ AMPLIFICADOR DE Σ AMPLIFICADOR
SINTONIA
Processamento Processamento
AUDIO Digital de Sinais Digital de Sinais

Figura 6 - Transmissão de sinal de rádio


Fonte: o autor.

A portadora é um sinal com comprimento de onda definida (geralmente é a frequência


da rádio que sintonizamos), e os sinais de áudio a serem transmitidos, como a fala
ou uma música, por exemplo, apresentam comportamento variável no tempo.
No estágio do demodulador, os sinais (portadora e áudio) são reunidos em
um só na forma de um sinal composto, que é amplificado a fim de ter potência
suficiente para ser transmitido sem fios, por meio de uma antena no formato
eletromagnético.
Uma vez no espaço, o sinal composto (áudio e portadora) induz magneticamente
nas antenas dos receptores próximos (dentro de um raio de distância finita) uma dife-
rença de potencial que é, então, captada pelo circuito de sintonia. Este devidamente
“filtra” a frequência sintonizada para que o demodulador realize a separação entre
a portadora e o sinal de áudio, que é reforçado pelo amplificador para, desta forma,
excitar o alto-falante, que reproduz o áudio originalmente transmitido.

Eletrônica Aplicada
248 UNIDADE V

Em todos os estágios dados na Figura 6, podemos observar a presença ou da


eletrônica analógica (circuito de sintonia, amplificador) ou da eletrônica digital
(demodulador – processamento digital de sinais). Atualmente, as tecnologias de
transmissão de dados são adeptas do uso das duas eletrônicas, formando-se uma
apenas, mas com estágios distintos, de acordo com a sua dinâmica, podendo ser
integrados em chips ou montados com componentes discretos, sempre servindo
ao mesmo objetivo: permitir a comunicação entre dispositivos.
Em receptores de rádio digitalizados, normalmente, encontrados em painéis
de veículos automotores, é comum observar o circuito de sintonia e os estágios

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de amplificação (estágio de potência) representados por circuitos analógicos,
assim como o gerenciamento todo realizado por um ou mais microcontrolado-
res, que permitem memorizar as estações preferidas, ajustar a equalização do
som, exibir a estação em mostrador digital, informar o nome da estação ou da
música a ser reproduzida, entre outros.
A relação de uso das eletrônicas analógica e digital é praticamente infinita,
observada em eletrodomésticos, equipamentos industriais e hospitalares, gad-
gets etc. O entendimento esperado de um estudante de Engenharia de Produção,
neste momento, é o fato de a união das tecnologias permitir o desenvolvimento de
soluções mais completas e eficientes, maximizando a produtividade e a confiabi-
lidade de sistemas analógicos, antes, sem indicadores de desempenho, possíveis,
atualmente, graças a digitalização de processos.

Os amplificadores operacionais integrados são componentes que surgiram


com o intuito de atender a projetos de eletrônica analógica durante a déca-
da de 60 e o seu avanço permitiu o desenvolvimento de diversas soluções
que hoje atuam no interfaceamento de sinais analógicos para o mundo di-
gital.
Fonte: Júnior (2015).

ELETRÔNICA APLICADA
249
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ELETRÔNICA DE POTÊNCIA

O estudo da eletrônica de potência é bastante amplo e remete a diversas áreas,


desde a geração de energia elétrica e a conversão eletromecânica até elementos
de conversores estáticos, muito comuns em fontes de alimentação chaveadas
em alta frequência.
Poderíamos estudar, continuamente, as características de componentes ele-
trônicos ou circuitos, mas este não seria o objetivo deste livro, então, esta unidade
se restringirá ao ramo da eletrônica de potência representado pelos conversores
eletrônicos e as suas principais características.

CONVERSORES

Os conversores chaveados são processadores de potência que recebem na sua


entrada determinada potência e a convertem em sua saída do modo mais eficiente
possível, minimizando as perdas ao longo do processo e que ocorrem mesmo nos
melhores projetos, pois há a dissipação de energia em forma de calor, as corren-
tes parasitas, a resistência elétrica dos condutores etc. (Figura 7).

Eletrônica de Potência
250 UNIDADE V

Perdas de potência

Potência de CONVERSOR Potência de


entrada saída

Figura 7 - Conversor de potência


Fonte: o autor.

A ideia que originou os conversores provém do princípio de Antoine Lavoisier com

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a sua máxima: “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Sendo
assim, não se cria energia, e sim, se converte um determinado potencial em outro
por diferentes motivos, por exemplo: a necessidade de alimentar um circuito com
12 Vcc e o potencial disponível é 220 Vca , neste caso, um conversor rebaixador
deve ser utilizado, já no caso onde a tensão da rede é de 127 Vca e precisarmos
de um potencial de 415 Vcc , o conversor é elevador. Quando a tensão de entrada
possui valor igual a tensão de saída, então se utiliza um conversor isolador.
Existem conversores CC-CC (corrente contínua para corrente contínua),
CC-CA (corrente contínua para corrente alternada), CA-CC (corrente alternada
para corrente contínua) e CA-CA (corrente alternada para corrente alternada).
A justificativa para cada tipo de conversor se dá de acordo com a necessi-
dade. Por exemplo, para alimentar o microprocessador de seu computador, que
opera em 3, 3 Vcc a partir da tensão da rede da concessionária de 127 Vca , é
necessário utilizar um conversor CA-CC rebaixador isolado, pois além dos valo-
res de tensão serem extremamente maiores, a frequência de um sinal alternado
da rede deve ser convertida para um sinal de corrente contínua e, assim, pro-
mover o funcionamento do referido componente.
As técnicas de converter potenciais e as suas características são diversas,
inclusive compartilham as suas funcionalidades em um universo onde há tecnolo-
gias de conversores que operam em alta frequência, conhecidos como conversores
chaveados, e os conversores que operam com a frequência da rede da concessioná-
ria (60 Hz ) que, normalmente, são maiores e mais pesados, mas muito robustos.
Os conversores chaveados são muito utilizados em circuitos de fontes de ali-
mentação, por exemplo, onde temos a tensão de entrada maior do que a tensão

ELETRÔNICA APLICADA
251

de saída, e a corrente de entrada é alternada e a de saída é contínua. Perceba que


há dois pré-requisitos neste exemplo: amplitude de tensão e formato da corrente
(contínua ou alternada).
Um conversor chaveado realiza a conversão de corrente alternada para contí-
nua, portanto, trata-se de um conversor CA-CC (corrente alternada para corrente
contínua). Existem diversos tipos de conversores chaveados, entre eles, aborda-
remos os conversores CC-CC, citando os exemplos a seguir.
Conversores não-isolados:
■ Buck.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

■ Boost.
■ Buck-Boost.
■ Cuk.
■ Sepic.
■ Zeta.

Conversor isolado:
■ Flyback.

Todos os conversores apresentados na sequência serão ilustrados com


a fonte de tensão de entrada e a carga acoplada em sua saída, conforme
mostrado na Figura 8:

tensão de tensão de
entrada saída
(carga)

Figura 8 - Exemplo de conversor CC-CC e identificação de entrada e saída


Fonte: o autor.

Os conversores que serão apresentados na sequência, de Buck até Zeta, pos-


suem a mesma referência entre a entrada e a saída e, assim, são classificados
como não-isolados.

Eletrônica de Potência
252 UNIDADE V

Há diversos outros tipos de conversores importantes como as topologias


Half-bridge, Full-Bridge, Push-Pull, entre outros, que fazem parte dos con-
versores industriais e proporcionam a alimentação das centrais telefônicas
necessárias para que as telecomunicações funcionem. Eles também mere-
cem toda a nossa atenção.
Fonte: adaptado de Mello (1996).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Conversor Buck

O conversor Buck apresenta a característica de reduzir a tensão de saída em


relação à entrada, mantendo-se a mesma polaridade entre a saída e a entrada
(MELLO, 1996).

Buck

Figura 9 - Conversor Buck


Fonte: o autor.

A sua configuração, formada pelo indutor e o capacitor, favorece o baixo índice de


ruído para a carga, porém, tem elevado ruído para a fonte de entrada (Figura 9).

Conversor Boost

O conversor Boost tem a característica de elevar a tensão de entrada na saída,


ou seja, é um conversor elevador de tensão. Esta tecnologia é utilizada com fre-
quência em estágios intermediários de conversores chaveados de potências da

ELETRÔNICA APLICADA
253

ordem de 2 kW e tem como principal objetivo atuar na correção do fator de


potência do retificador (Figura 10).

Boost

Figura 10 - Conversor Boost


Fonte: o autor.
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Este conversor apresenta alto índice de ruído na saída e a polaridade da carga é


a mesma da fonte de entrada.

Conversor Buck-Boost

O conversor Buck-Boost é capaz de elevar ou rebaixar a tensão da saída em rela-


ção à tensão de entrada, e a polaridade da tensão na carga é invertida da tensão
da fonte de entrada. O nível de ruído deste conversor é elevado, tanto para a
carga quanto para a fonte de entrada (Figura 11).

Buck-Boost

Figura 11 - Conversor Buck-Boost


Fonte: o autor.

Conversor Cuk

No conversor Cuk, a tensão da saída tem polaridade invertida em relação à ten-


são de entrada e assume-se que a sua operação é de elevador e rebaixador de
tensão de acordo com a necessidade do projeto (Figura 12).

Eletrônica de Potência
254 UNIDADE V

Cuk

Figura 12 - Conversor Cuk


Fonte: o autor.

A sua topologia, utilizando indutores na entrada e na saída, resulta em baixos


níveis de ruído, tanto para a tensão de entrada, quanto para a tensão de saída e

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
os seus indutores podem ser montados no mesmo núcleo.

Conversor Sepic

No conversor Sepic, a polaridade da tensão na carga é a mesma da fonte de entrada


e, assim, pode promover tensão na saída maior ou menor do que na entrada. Já
o ruído para a fonte de entrada é baixo e elevado para a carga devido aos pulsos
de corrente que circulam pelo diodo (Figura 13).

SEPIC

Figura 13 - Conversor Sepic


Fonte: o autor.

Um exemplo de aplicação é como regulador de tensão, por exemplo, em circuitos


de excitação, onde o chaveamento do transistor permite controlar a amplitude
de tensão na saída.

Conversor Zeta

O conversor Zeta tem como características o alto nível de ruído na entrada, a


mesma polaridade da entrada na saída e baixo ruído nesta. No conversor Zeta, é
possível elevar ou abaixar o valor da tensão de saída de acordo com as necessidades

ELETRÔNICA APLICADA
255

do projeto (Figura 14).

ZETA

Figura 14 - Conversor Zeta


Fonte: o autor.
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Conversor Flyback

Sem dúvida, este é um dos mais utilizados (se não for o mais encontrado), atual-
mente, em aplicações onde é necessário alimentar uma placa-mãe de computador,
carregar a bateria do aparelho celular ou do laptop, alimentar os circuitos de seu
aparelho de TV ou monitor de vídeo etc.
O conversor Flyback apresenta isolação entre a tensão de entrada e de saída
e, com isto, pode operar com tensões de entrada elevadas e tensões de saída de
poucos volts, pois conta com transformador de alta frequência (Figura 15).
A sua comutação ocorre no enrolamento primário de um transformador
que induz em seu secundário uma tensão diretamente proporcional ao número
de espiras do referido enrolamento e, assim, o sinal pulsante aplicado na base
do transistor é replicado no secundário, onde é posteriormente retificado, fil-
trado e entregue à carga.

Flyback

Figura 15 - Conversor Flyback


Fonte: o autor.

Eletrônica de Potência
256 UNIDADE V

O transformador pode ter múltiplos enrolamentos secundários e, com isto,


permite que haja várias tensões de saída, adequado a circuitos que possuem a
necessidade de vários níveis de tensão, como 5 V , 3, 3 V , 12 V , -12 V etc.
Na próxima seção estudaremos um pouco de Eletrônica aplicada nos instrumen-
tos de medida industriais, em uma área conhecida como instrumentação industrial.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Atualmente, as comunicações eletrônicas, aquelas que ocorrem por meio de
computadores e dispositivos portáteis são, sem dúvida, indispensáveis, mas
para que essas comunicações funcionem, dependemos dos equipamentos
que produzem a alimentação elétrica de todo o sistema. Como seria possível
a existência das tecnologias de comunicações eletrônicas se não existissem
as fontes de alimentação adequadas ao volume de potência necessário para
tal aplicação?

INSTRUMENTAÇÃO INDUSTRIAL

Nesta seção, abordaremos o presente tema no contexto da indústria e que remete


aos elementos sensíveis utilizados em automação industrial, os quais permitem
a visibilidade de processos e a tomada de decisões estratégicas: a instrumenta-
ção industrial.
Esta área da Engenharia é responsável por projetar e implantar dispositi-
vos capazes de mensurar as mais diversas grandezas da indústria, como: vazão,
nível, pressão, temperatura, pH etc.
A eletrônica embarcada está presente na maioria dos dispositivos modernos
que atuam na instrumentação e capazes de converter a variação de uma grandeza
em um sinal elétrico que, por sua vez, pode ser transmitido a uma entidade de
processamento e controle e, posteriormente, armazenado para análise e histórico.

ELETRÔNICA APLICADA
257
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 16 - Sensor eletrônico industrial: eletrônica analógica e digital no mesmo equipamento.

Os instrumentos industriais eletrônicos mais utilizados na indústria são os senso-


res industriais que evoluem a cada dia, permitindo a monitoração de parâmetros
cada vez mais específicos e importantes para o controle de qualidade dos pro-
dutos de uma manufatura.
Quando pensamos nas mais modernas tec-
nologias utilizadas na medição de dados de
processo, nos deparamos com a família dos
transmissores, capazes inclusive de armazenar
certa “inteligência” embarcada em alguns casos, o
que remete à lógica de controle em alguns, onde
o instrumento possui a função de operar um
elemento final de controle, como uma válvula
em uma linha de vapor, por exemplo (Figura 17).
Esta possibilidade permite que um equi-
pamento seja, ao mesmo tempo, sensor e
controlador do processo, além de fornecer os
dados em formato padronizado para o acesso
a bases computacionais, como redes corpora-
Figura 17 - Válvulas de controle automático
tivas e bancos de dados relacionais. em linhas de vapor

Instrumentação Industrial
258 UNIDADE V

No que se refere aos circuitos eletrônicos utilizados para a medição de variá-


veis em ambiente industrial, esta unidade se limitará ao atendimento das principais
e mais predominantes variáveis de processo:
■ Temperatura.
■ Pressão.
■ Vazão.
■ Nível.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Faremos uma análise do princípio básico de funcionamento de cada sensor em rela-
ção à Eletrônica envolvida para a leitura do valor da variável, mas antes, devemos
entender a estrutura mínima para que um sensor possa fornecer os dados desde
a fase de aquisição até o seu armazenamento pós-processamento. Na Figura 18,
podemos observar a figura do sensor dentro da estrutura de aquisição de sinais.

SENSOR
Elemento Condicionamento Processamento Armazenamento Interface de
sensível de sinal digital de sinal interno comunicação

BARRAMENTO DE DADOS (REDE)

CLP PC SERVIDORES IHM


Figura 18 - Diagrama em blocos de um sensor industrial moderno
Fonte: o autor.

Observe que o sensor é dividido em cinco blocos, onde estão presentes as fun-
ções de elemento sensível, condicionamento de sinal, processamento digital de
sinal, armazenamento interno e interface de comunicação.
O elemento sensível deve ser identificado como a parte do sensor que detecta
a variável de interesse e produz sinal proporcional à sua variação. Neste estágio,
o padrão do sinal elétrico normalmente é de baixa amplitude e deve ser condi-
cionado pelo próximo estágio.

ELETRÔNICA APLICADA
259

No estágio de condicionamento de sinal, o sinal de baixa amplitude do ele-


mento sensível é amplificado, linearizado e filtrado para que tenha condições de
ser aplicado ao estágio de processamento.
O estágio de processamento digital de sinal é onde os dados já condiciona-
dos são processados em termos de análise estatística para que o valor mensurado
seja definido e possa ser armazenado em memória.
O armazenamento interno consiste em memória retentiva, normalmente,
do tipo flash, com o funcionamento semelhante ao de um pendrive. Este recurso
permite ao sensor a implementação da função de registrador, pois armazena uma
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

quantidade finita de dados que podem ser utilizados para futuras análises e para
a produção de gráficos analíticos.
Uma vez armazenados, os dados podem ser disponibilizados por meio de
interface de rede e, assim, compartilhados com controladores lógico-programá-
veis, computadores pessoais, servidores de dados, interfaces homem-máquina etc.
Nossa análise permite reconhecer a interação do sensor com as demais bases.
Assim é possível analisar cada um dos tipos separadamente.

SENSOR DE TEMPERATURA

A medição de temperatura é realizada por diversos métodos, onde a maioria dos


casos aplicados envolve as tecnologias baseadas em termistores (ou termoresis-
tências - RTDs), termopares e sensores eletrônicos integrados.

Termorresistência (RTD)

Os termistores são os elementos sensíveis à temperatura que apresentam variação


de resistência elétrica quando ocorre a variação de temperatura em sua superfí-
cie. Nos termistores que apresentam coeficiente positivo de temperatura (PTC),
quando a temperatura aumenta, a resistência elétrica também aumenta, e nos
termistores que apresentam coeficiente negativo de temperatura (NTC), quando
a temperatura aumenta, a resistência diminui.

Instrumentação Industrial
260 UNIDADE V

Na instrumentação industrial, em termos de termistores, normalmente,


utiliza-se o PTC como elemento sensível com curva de resposta de valores padro-
nizados. No caso do PT100 (exemplo de PTC industrial e conhecido no Brasil
como termorresistência), quando a temperatura é igual a 0 °C , a resistência elé-
trica é de 100 W . Quando a temperatura aumenta, a resistência a acompanha, e
quando a temperatura diminui, a resistência também diminui na mesma pro-
porção com curva de resposta, conforme a Figura 19:
TPT0724-X
107

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
RPTC B59860C0120A070

105

104

B59840C0120A070
103 B59850C0120A070

102

101

B59830C0120A070
100
0 50 100 150 200 °C 250
TPTC
Figura 19 - Curva de resposta da resistência em função da temperatura em PTCs
Fonte: TDK Corporation (2018, p. 7).

Os termistores também são utilizados em circuitos de proteção contra sobre-


carga, partida suave em fontes de alimentação, circuitos de bloqueio por so-
bretemperatura etc. e estão presentes na maioria dos equipamentos eletro-
eletrônicos modernos, desde ferros de passar até fontes de alimentação de
computadores.
Fonte: o autor.

ELETRÔNICA APLICADA
261

O termo mais conhecido para este tipo de medidor de temperatura é o RTD


(Resistance Temperature Detector), que atua monitorando a variação de resis-
tência de uma junção bimetálica, a qual é, normalmente, fabricada em platina.
Este tipo de elemento sensível é capaz de realizar medidas com erros de até
0, 0001 °C (BALBINOT; BRUSAMARELLO, 2011).
Os valores de resistência pelas temperaturas dados pela norma DIN-IEC-751
para termistores (ou termorresistências) podem ser consultados em tabela (LAKE
SHORE CRYOTRONICS, 2014). O comportamento gráfico da resistência em
função da temperatura é mostrado na Figura 20, que apresenta a variação de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

-200 até 660 ºC, faixa de trabalho dos RTDs do tipo PT100.
Geralmente, esse tipo de sensor é alocado em bainha de metal com cabeçote,
onde os dados da temperatura são transmitidos por meio de cabo, com ligações
que podem variar de dois a quatro fios.
Dentro do cabeçote é instalado o circuito de condicionamento para conver-
ter o padrão elétrico do RTD para padrão de 4 a 20 mA ou em protocolo de
comunicação de rede industrial, dependendo da tecnologia de cada caso.

350
300
RESISTÊNCIA (Ω):

250
200
150
100
50
0
-200
-180
-160
-140
-120
-100
-80
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
100
120
14
160
180
200
220
240
260
280
300
320
340
360
380
400
420
440
460
480
500
520
540
560
580
600
620
640
660

TEMPERATURA (ºC):
Figura 20 - Resistência em função da temperatura para RTDs de platina
Fonte: Lake Shore Cryotronics (2014, p.1-2).

Observe que a curva se aproxima de uma reta, e que se utilizarmos o coeficiente


2
estatístico de verificação R (mínimos quadrados) sobre o conjunto de dados,
constatamos que esta aproximação é de 0,99921. Mesmo assim, para a determi-
nação de valores de resistência para diferentes temperaturas, devemos utilizar
as seguintes regras:

Instrumentação Industrial
262 UNIDADE V

■ Para temperaturas abaixo de 0 °C:


R(t ) = R0 ×[1 + A×t + B ×t 2 + C ×(t −100)×t 3 ]
Equação 1

Onde:
- R(t ) = resistência do termômetro de platina, medido em W à tempe-
ratura t ( t em °C ).
- R0 = resistência a 0 °C [ W ].

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
- A, B e C = são coeficientes de calibração e seus valores são:
−3 −1
■ A = 3, 9083×10 ( °C ).
−7 −2
■ B = −5, 775×10 ( °C ).
−12 −4
■ C = −4,183×10 ( °C ).
■ Para temperaturas acima de 0 °C :
R(t ) = R0 ×(1 + A×t + B ×t 2 )
Equação 2

Exemplo de cálculo:

Calcule a resistência de um RTD de platina para a temperatura de −14 °C .

De acordo com a Equação 1, fica:


R(t ) = R0 ×[1 + A×t + B ×t 2 + C ×(t −100)×t 3 ]

Substituindo os valores na equação, fica:


R(t ) = 100×[1 + 3, 9083×10−3 ×(−14) + (−5, 775×10−7 )×(−14)2 + (−4,183×10−12 )×((−14
4) + (−5, 775×10−7 )×(−14)2 + (−4,183×10−12 )×((−14) −100)×(−14)3 ]

R(t ) = 94, 516 Ω

ELETRÔNICA APLICADA
263

Arredondando, temos:
R(t ) = 94, 52 Ω

Ao compararmos o valor obtido no cálculo com o valor dado pela norma DIN-
IEC-751 (LAKE SHORE CRYOTRONICS, 2014) para a resistência do RTD em
uma temperatura de - 14 °C , temos a confirmação, conforme Quadro 1.
Quadro 1 - Verificação do resultado: valores de resistência em função da temperatura (vista parcial)

ITA- ITA-
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
90 ºC 90 ºC
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

-40 84.27 83.87 83.48 83.08 82.69 82.29 81.89 81.85 81.10 80.70 -40
-30 88.22 87.83 87.43 87.04 86.64 86.25 85.85 85.46 85.06 84.67 -30
-20 92.16 91.77 91.37 90.98 90.59 90.19 89.80 89.40 89.01 88.62 -20
-10 96.09 95.30 95.30 94.91 94.52 94.12 93.73 93.34 92.95 92.55 -10
-0 100.00 99.22 98.83 98.83 98.44 98.04 97.65 97.26 96.87 96.48 0
0 100.00 100.39 100.78 101.07 101.46 101.95 102.34 102.73 103.12 103.51 0
10 103.90 104.29 104.68 105.07 105.46 105.85 106.24 106.63 107.02 107.40 10
20 107.79 108.18 108.57 108.96 109.35 109.73 110.12 110.51 110.90 111.29 20
30 111.67 112.06 112.45 112.83 113.22 113.61 114.00 114.38 114.77 115.15 30
40 115.54 115.93 116.31 116.70 117.08 117.47 117.86 118.24 118.63 119.01 40
50 119.40 119.78 120.17 120.55 120.94 121.32 121.71 122.09 122.47 122.86 50

60 123.24 123.63 124.01 124.39 124.78 125.16 125.54 125.93 126.13 126.69 60

70 127.08 127.46 127.84 128.22 128.61 128.99 129.37 129.75 130.13 130.52 70
80 130.90 131.28 131.66 132.04 132.42 132.80 133.18 133.57 133.95 134.33 80
90 134.71 135.09 135.47 135.85 136.23 136.61 136.99 137.37 137.75 138.13 90

Fonte: Lake Shore Cryotronics (2014, p. 1).

O mesmo raciocínio deve ser utilizado para obter o valor da resistência para
temperaturas acima de 0 °C , porém, utilizando a Equação 2.
O encapsulamento deste tipo de sensor é composto de uma estrutura que é
fixada ao ponto onde se deseja realizar a medição da temperatura. Por exemplo,
um tubo por onde é conduzido determinado fluido (vapor ou água). A Figura 21
mostra uma representação do encapsulamento do sensor de temperatura RTD
com bainha metálica, bulbo e cabeçote.

Instrumentação Industrial
264 UNIDADE V

Perceba que a conexão deste instrumento ocorre por meio de base roscada
diretamente na tubulação do processo e em uma abertura selada denominada
poço de medição, devidamente ocupada com líquido de preenchimento para
transferir o calor para o corpo do sensor que, por sua vez, apresenta variação de
resistência com a temperatura.

selo terminais de bulbo ou bainha


epóxi liga de platina sensor metálica

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
capa Detalhe da bainha metálica preenchimento com pó
isolante de óxido de magnésio

Detalhe do instrumento completo

bainha
cabeçote base roscada metálica
para fixação no
poço de medição instrumento
instalado na
tubulação
capa
isolante poço de
medição
vazão de
fluído
condutores
para o CLP
tubulação
Detalhe do instrumento
montado na tubulação
Figura 21 - PT100: detalhes construtivos e de instalação mecânica
Fonte: o autor.

Na Figura 22, são mostradas fotos dos sensores


com cabeçote prontos para a montagem no pro-
cesso industrial.
O RTD é percorrido por uma corrente
elétrica que varia de acordo com o valor da tem-
peratura. Assim, o circuito de condicionamento
realiza a medição da amplitude térmica a par-
tir da queda de tensão de um resistor shunt, por
exemplo, que é proporcional à variação de cor-
rente na malha do RTD, conforme a Figura 23: Figura 22 - Sensor de temperatura industrial

ELETRÔNICA APLICADA
265

resistor circuito de
i shunt
RTD VRSH condicionamento
+ -

fonte de
tensão
instrumento de medição

Figura 23 - Diagrama em blocos do circuito interno do instrumento


Fonte: o autor.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

De acordo com a Figura 23, o RTD é percorrido por uma corrente devidamente
produzida por uma fonte de tensão interna do instrumento. Esta corrente per-
corre um resistor shunt, que é um resistor com estabilidade térmica e valor
ôhmico ínfimo, calibrado para apresentar determinada queda de tensão VRSH
quando um valor conhecido de corrente circular por ele.
Por exemplo, o modelo de shunt 100 mA / 50 mV , indica que quando uma
corrente de 100 mA passar por este componente, haverá uma queda de tensão
sobre ele de 50 mV . Valores intermediários ocorrem em escala linear, conforme
a Figura 24.
Com base nessa tecnologia, o circuito de con- corrente no queda de tensão
dicionamento pode relacionar a variação de queda shunt do shunt
i (mA) VRSH (mV)
de tensão ( DVRSH ) com a variação de tempera- 100 50
tura ( DT ) diretamente proporcionais, ou seja,
podem ser descritas pela equação diferencial dada
50 25
na Equação 3, onde a taxa de variação de tempera-
tura ( T ) no intervalo de tempo ( t ) é diretamente
proporcional à variação de resistência do shunt (
0 0
RSH ) no intervalo de tempo ( t ), e também dire- Figura 24 - Escalas de queda tensão no
tamente proporcional à queda de tensão no shunt shunt em função da corrente
Fonte: o autor.
( VRSH ) no intervalo de tempo ( t ).

∂T ∂RSH ∂VRSH
= =
∂t ∂t ∂t
Equação 3

Instrumentação Industrial
266 UNIDADE V

A conclusão que o estudante deve considerar é que: em um RTD, com a varia-


ção de temperatura, ocorre uma variação de resistência e, associando este fator
à circulação de corrente, é possível estimar a variação de amplitude térmica por
meio da monitoração da queda de tensão sobre um resistor, lembrando-se que,
no caso do RTD, é necessária uma fonte de tensão para promover a corrente cir-
culante pelo sensor a fim de estimar a temperatura.

Termopar

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O termopar é uma tecnologia de medição de temperatura baseada no efeito
Seebeck, onde uma junção bimetálica dada conforme a Figura 25, com junção
fria e junção quente, permite a análise do efeito da diferença de temperatura
sobre a associação de metais com densidades eletrônicas diferentes, aqui deno-
minados arbitrariamente como metal A e metal B :
junção metal “A” junção
fria quente
Ta = Tamb i Tb=T+∆T

fonte de
metal “B” calor

variação de temperatura (∆T)

Figura 25 - Efeito Seebeck


Fonte: o autor.

Perceba que no lado esquerdo da Figura 25 temos a junção fria, onde a tempe-
ratura Ta é a mesma temperatura ambiente ( Tamb ). Entretanto, do lado direito
da mesma figura, observamos que houve um acréscimo de calor ( Tb ), promo-
vendo uma diferença de temperatura entre a junção fria e junção quente. Esta
condição faz com que os elétrons das junções dos metais envolvidos entrem em
movimento, impulsionados pela diferença de temperatura, ocasionando o sur-
gimento de uma corrente “ i ” na malha formada pelas junções.
Ora, se há uma variação de corrente que é diretamente proporcional à varia-
ção de temperatura, temos uma situação onde é possível associar este fato a uma

ELETRÔNICA APLICADA
267

variação de f.e.m. (força eletromotriz) ou tensão elétrica dada em mV . Esta


relação permite que sensores sejam fabricados com o princípio de que, em um
termopar, a variação de temperatura promove uma variação de f.e.m., que
são diretamente proporcionais.
Semelhante aos RTDs, os termopares são encapsulados em bainhas e fixa-
dos por cabeçotes no processo e devem utilizar condutores com ligas metálicas
semelhantes às ligas metálicas dos termopares, além de respeitar a polaridade
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Como seria possível controlar a qualidade de alimentos como carnes, laticí-


nios, bebidas etc. em câmaras frigoríficas, sem a monitoração da temperatura?

dos condutores para não imprimir desvios à medida de temperatura, conforme


mostrado na Figura 26.
condutores de liga metálica
semelhante ao termopar
tipo J temperatura
registrador/ + no cabeçote
controlador de “Tc ”
- - +
temperatura
temperatura cabeçote
no instrumento
“TI ”
- + termopar
tipo J

temperatura
no processo
“TP”

Figura 26 - Esquema de ligações de um termopar industrial


Fonte: o autor.

Instrumentação Industrial
268 UNIDADE V

A medição de temperatura, utilizando termopares consiste, na verdade, em medir


a tensão em mV que uma liga bimetálica fornece. Para realizar a medição corre-
tamente, devemos identificar a junta de medição, que é onde o sensor tem contato
com a temperatura do processo (duto de vapor, forno etc.) e a junta-fria ou de
referência, que se trata da junção no cabeçote, conforme mostrado na Figura 26.
Nos termopares, para cada valor de temperatura, há um valor de f.e.m. dado
em mV e, assim como nos RTDs, há uma relação direta e precisa que deve ser
respeitada de acordo com o tipo termopar, sendo os principais tipos e faixas de
medição de temperatura dados no Quadro 2:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Quadro 2 - Tipos de termopares e suas faixas de temperatura

TIPO DE TERMOPAR FAIXA (ºC)

B 38 a 1800
C 0 a 2300
E 0 a 982
J 184 a 760
K -184 a 1260
N -270 a 1300
R 0 a 1593
S 0 a 1538
T -184 a 400
Fonte: adaptado de Balbinot e Brusamarello (2011).

As tabelas de valores de mV para temperatura em cada tipo de termopar podem


ser acessadas diretamente no site do fabricante e, assim, servir de referência para
consultas aos valores necessários à compensação da junta-fria ou junta de refe-
rência. Um exemplo de fabricante nacional que disponibiliza todas as tabelas de
valores de mV é a empresa Salcas (SALCAS, [2018], on-line)2.
É importante saber que os termopares apresentam códigos de cores de acordo com
a norma ANSI MC-96.1 (FIRST CAPITOL, [s.d.]). Cada tipo pode ser fabricado com
ligas de diferentes metais, por exemplo: cobre-constantã (tipo T ), ferro-constantã (tipo
J ), cromel-alumel (tipo K ) e etc. de acordo com as faixas de temperaturas e aplica-
ções com determinadas resistências à corrosão, estabilidade térmica, linearidade etc.

ELETRÔNICA APLICADA
269

A fabricação de sensores de tem-


peratura baseados em termopares é
verificada por processos de calibra-
ção, onde existem equipamentos
denominados “forno de calibração
ou calibrador de banho térmico”
que submetem o sensor a variações
de temperaturas para que seja veri-
ficada a sua resposta e, assim, a sua
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calibração, conforme mostrado na


Figura 27 - Processo de calibração de termopar
Figura 27:
As aplicações de sensores de temperatura são diversas e não há como apresen-
tar todas as situações possíveis, mas podemos citar alguns casos mais relevantes:
■ Fornos industriais (indústria alimentícia, química, metalúrgica etc.).
■ Mancais de eixos industriais (turbinas de cogeração, máquinas opera-
trizes etc.).
■ Reações químicas industriais.
■ Temperatura de cura para pintura, fundição etc.
■ Temperatura de fluidos de processo (líquidos, gases etc.).
■ Temperatura de ambiente industrial em estágio de burn-in (teste de
desempenho limiar).
■ Controle de qualidade etc.

Sensores de temperatura monolíticos (integrados)

Além dos sensores de temperatura com encapsulamento mencionados anteriormente,


existem sensores de temperatura adequados ao uso em placas de circuito impresso
ou até mesmo dentro de invólucros metálicos, porém, já são disponibilizados em
encapsulamentos plásticos e oferecem os dados da temperatura em padrão elétrico
definido, informando a variação térmica em termos de tensão ( V / °C ), em corrente
( mA / °C ) ou até mesmo por meio digital, com pacotes de dados (bits).

Instrumentação Industrial
270 UNIDADE V

Alguns exemplos são:


Quadro 3 - Sensores de temperatura eletrônicos integrados
MODELO FAIXA DE MEDIÇÃO PADRÃO ELÉTRICO
LM35 −55 °C a 150 °C 10 mV / °C
AD592 −25 °C to + 105 °C 1µ / K
DS18 B20 −55 °C a 125 °C 1-Wire digital
Fonte: o autor.

Os encapsulamentos dos sensores de temperatura eletrônicos podem variar, desde

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a montagem em superfície (SMD) até a montagem em placas por meio de furos
(through-hole). Diferentes fabricantes adotam os mais diversos tipos de encapsu-
lamentos de acordo com suas especificidades. Seguem alguns tipos mais comuns:

(a) (b)
Figura 28 - Encapsulamentos dos sensores eletrônicos: (a) TO-92, (b) SOIC 8 pinos

Os sensores eletrônicos apresentam faixas de temperaturas de até 150 °C (aproxi-


madamente), inferiores aos sensores baseados em elementos RTDs ou termopares
que podem atingir milhares de °C , dependendo do tipo, entretanto, represen-
tam uma solução de baixo custo adequada à medição de temperatura interna de
instrumentos e equipamentos de precisão.
Uma informação importante que remete ao uso de sensores integrados é
quando temos um equipamento que realiza medições de variáveis em ambien-
tes onde a temperatura não é controlada, por exemplo, um espectrofotômetro,
que deve realizar a medição de uma amostra com concentração de umidade,
por exemplo, e independentemente da temperatura da sala onde o equipamento
está, a leitura deve ser a mesma, para a mesma amostra, ou seja, a temperatura
ambiente não pode influenciar nas medidas de um instrumento.

ELETRÔNICA APLICADA
271

Para minimizar as influências da temperatura sobre um processo de medição,


vários instrumentos de precisão utilizam sensores de temperatura, internamente
aos seus gabinetes, para realizar a compensação automática de temperatura
sempre que houver a medição de sua variável, assim, quando o instrumento é
calibrado em temperatura controlada de 25 °C , por exemplo, o fabricante do
instrumento o submete a testes para estimar a sua curva de resposta em função
da temperatura, assim, obtém a função de transferência que representa a res-
posta do sistema e o quanto precisa compensar a leitura realizada por software,
seja adicionando ou subtraindo valores ao valor mensurado a fim de corrigi-lo,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de acordo com a temperatura mensurada no ambiente onde o instrumento está.


A Figura 29 mostra um esquema de ligação entre o sensor de temperatura
(baseado em RTD ou termopar) e o transmissor de temperatura. Há uma aber-
tura na lateral do corpo do transmissor para permitir a visualização do circuito
eletrônico interno.

cabo de
transmissor de temperatura interligação
(vista lateral)
cabeçote

sensor de
temperatura
na placa

placa de circuito
sensor de temperatura
impresso do
do processo
transmissor

Figura 29 - Esquema de interligação entre sensor e transmissor de temperatura


Fonte: o autor.

Observe a existência de um sensor de temperatura integrado montado na placa


de circuito impresso. Este componente é necessário para que o transmissor possa
realizar a compensação automática de temperatura, corrigindo por softwares
embarcados a influência da temperatura do ambiente onde o transmissor se encon-
tra, pois, normalmente, é instalado em processos onde pode variar de − 10° C até

Instrumentação Industrial
272 UNIDADE V

50 °C exposto às intempéries da natu-


reza, e ainda assim, deve medir com
precisão a temperatura informada pelo
sensor de temperatura do processo. A
Figura 30 mostra vários transmissores
de temperatura industriais montados.
A temperatura, sem dúvida, é a
variável mais abundante em qualquer
ambiente e ela também influencia na

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
maioria dos processos. Nosso estudo
se reserva em apresentar esta faixa de
assuntos relacionados à medição ele-
trônica de temperatura, e nas próximas
seções, abordaremos as demais variá-
veis de processo já mencionadas.
Figura 30 - Transmissores de temperatura instalados em
processo industrial

SENSOR DE PRESSÃO

A pressão é uma variável que submete muitos processos a seus efeitos, como
o processo de aquecimento de água em uma caldeira, onde a pressão é variá-
vel de importante monitoração devido aos riscos de explosão que este processo
contempla.
A variável pressão se refere à força aplicada em determinada área e pode ter
a influência da própria ação gravitacional da qual, obviamente, nos lembramos
todos os dias quando caminhamos pela terra, local onde todos os corpos estão
submetidos a esta força gravitacional.
Quando estudamos a variável pressão, devemos nos lembrar dos conceitos
básicos relativos a ela. Por exemplo: pressão relativa ( PREL ), que consiste na pres-
são de um ambiente específico, confinado (a pressão dentro de um pneu de um
carro, ou dentro de uma bola de futebol ou mesmo dentro da linha pneumática
de uma indústria). É denominada relativa porque é relativa a uma referência,
que é a base para os estudos de pressão: a pressão atmosférica ( PATM ).

ELETRÔNICA APLICADA
273

A pressão atmosférica é a pressão exercida sobre a atmosfera terrestre em


todos os corpos aqui depositados. Quando nos referimos à pressão absoluta (
PABS ), estamos informando que temos a pressão atmosférica somada com a pres-
são relativa, logo:
PABS = PREL + PATM

Há vários métodos de medição de pressão, cuja escolha da melhor técnica depende


da necessidade e do local onde ocorrerá a medição. Por exemplo, em um laboratório
de testes, há instrumentos que utilizam colunas de líquido que quebrariam facilmente
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se fossem utilizadas no processo industrial, já neste ambiente, encontramos sensores


encapsulados em bases metálicas com transdutores robustos ao impacto, às vibra-
ções, à umidade, à poeira e às variações de temperatura abruptas. Esta unidade se
reserva em apresentar técnicas que envolvam a Eletrônica para mensurar a pressão.
Atualmente, boa parte dos processos industriais modernos utiliza sensores
baseados em células capacitivas. Este tipo de sensor é capaz de converter a variação
de pressão em variação de capacitância de uma cápsula sensível e, assim, pro-
cessar o dado do processo em um padrão elétrico padronizado internamente no
transmissor de pressão. A Figura 31 apresenta o desenho de uma cápsula capaci-
tiva de um transmissor de pressão (SMAR AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL, 2014).

CH CL

POSIÇÃO DO DIAFRAGMA
SENSOR, QUANDO
P1=P2
d DIAFRAGMA SENSOR
P1 P2
H ∆d
L
PLACAS FIXAS DOS
CAPACITORES
CH E CL

(a)

(b)
Figura 31 - Sensor capacitivo de um transmissor de pressão
Fonte: adaptado de SMAR Automação Industrial (2014).

Instrumentação Industrial
274 UNIDADE V

Observe na Figura 31 (a) a vista em corte da célula capacitiva (sensor) e os


seus componentes internos, já em (b), a vista externa do sensor montado com
“flat cable” (cabo plano) para a conexão à placa eletrônica do instrumento.
A medição de pressão por este método consiste na diferença de pressão apli-
cada entre as extremidades H (P1) (High) e L (P2) (Low), alta e baixa pressões,
respectivamente, que resulta em variação da capacitância CH e CL (capacitância
de alta e de baixa pressão). O circuito eletrônico da placa de controle do trans-
missor processa os valores de capacitância e correlacionam com a variação de
pressão, informando, em mostrador digital, a sua amplitude e disponibilizando

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
os dados por meio de protocolo de comunicação de rede industrial ou saída ana-
lógica de 4 a 20 mA .
Este método permite a medição de pressão diferencial em tanques de
processos químicos pressurizados e o seu princípio funcional permite a medição
de outras variáveis, como nível e vazão.
Há sensores eletrônicos de pressão que também são largamente utilizados
em instrumentação de precisão eletrônica, como exemplo, a família de senso-
res MPX5700, que oferecem faixas de medição de 0 a 700 kPa e são fornecidos
em encapsulamentos para montagens em placas de circuito impresso, conforme
a Figura 32:

MPX5700A/D MPX5700AP/GP/GP1 MPX5700DP MPX5700AS/GS MPX5700ASX


CASE 867-08 CASE 867B-04 CASE 867C-05 CASE 867E-03 CASE 867F-03
Figura 32 - Encapsulamentos de sensores de pressão eletrônicos
Fonte: NXP Freescale Semiconductor (2012, p. 1).

No caso dos sensores de pressão eletrônicos da família MPX5700, o sinal de


pressão diferencial (entre a pressão relativa e a pressão atmosférica) é um sinal
de tensão proporcional e com escala linear, conforme mostrado na Figura 33:

ELETRÔNICA APLICADA
275

5.0
Função de Transferência:
4.5 Vout =VS *(0.0012858*P+0.04) ± Erro
4.0 VS = 5.0 Vdc
3.5 Temperatura = 0 a 85°C
Típico
Saída (V)

3.0
2.5
Máximo Mínimo
2.0
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1.5
1.0
0.5
0
0 100 200 300 400 500 600 700 800
Pressão diferencial (kPa)
Figura 33 - Sinal de saída do sensor em função da pressão diferencial
Fonte: NXP Freescale Semiconductor (2012, p. 4).

De acordo com os dados do fabricante, a curva característica do sensor envia


um sinal de aproximadamente 0 V a quase 5 V quando a pressão varia de
0 a 700 kPa em escala linear, dentro de uma faixa de temperatura que pode
variar entre 0 e 85 °C com alimentação de 5 V .
O fabricante informa ainda que a tensão de saída ( Vout ) é:
Vout = Vs ×(0, 0012858× P + 0, 04) ± erro

Onde:
Vout é a tensão de saída do sensor.

Vs é a tensão de alimentação do sensor.

P é a pressão mensurada (kPa).

Assim, com este padrão de fornecimento de sinal, este tipo de sensor se adequa
ao uso com a maioria dos tipos de microcontroladores do mercado alimenta-
dos com tensão de 5 V .

Instrumentação Industrial
276 UNIDADE V

SENSOR DE VAZÃO

A medição de vazão (ou de fluxo) de um determinado fluido é a medição da


taxa de variação de volume (que se desloca em determinado circuito ou cami-
nho) por unidade de tempo, podendo ser em uma tubulação fechada ou em um
canal aberto (BALBINOT; BRUSAMARELLO, 2011).
Há diversos métodos de medição de vazão sendo implementados na indús-
tria, desde os medidores que utilizam rotâmetros até medidores que utilizam a
pressão diferencial com o uso de sensor capacitivo.

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A indústria de transmissores eletrônicos para a medição de vazão oferece
métodos totalmente inovadores que atuam com eletrodos e variação de tempe-
ratura, vórtices formados pelo movimento do fluido, pressão diferencial, efeito
Coriolis, eletromagnético etc. Esta unidade abordará a técnica de pressão dife-
rencial que permite o uso de vários tipos de transmissores, em placas de orifício,
bocais, tubos de Venturi etc.
A característica básica da medição de vazão em canais fechados (tubulação)
é a inserção de uma obstrução para a passagem do fluido, onde surge então a
pressão diferencial, que consiste na diferença entre a pressão na área denomi-
nada montante da obstrução e na parte de sua jusante. Montante é a região que
coincide com a direção do deslocamento do fluido e encontra a obstrução, já a
jusante é o que está após a obstrução, levando em conta o sentido de desloca-
mento do fluido, conforme mostrado na Figura 34:
abertura para obstrução
passagem do fluído

montante jusante
sentido de
deslocamento
do fluído
alta pressão baixa pressão

tubulação FT

medidor de vazão por


pressão diferencial
(transmissor)

Figura 34 - Definição de pressão diferencial entre montante e jusante


Fonte: o autor.

ELETRÔNICA APLICADA
277

Para exemplificar este princípio, adotamos um elemento de obstrução tradicional-


mente utilizado na indústria, a placa de orifício, que apresenta baixo custo, mas
alta perda de carga e é utilizada normalmente na medição de vazão de fluidos de
baixa concentração de sólidos em suspensão (embora haja aplicações que apresen-
tem exceções) e cuja perda de carga que, neste caso, é irrecuperável, não seja um
problema para o processo. A Figura 35 mostra um exemplo de montagem deste
tipo de obstrução e o seu respectivo transmissor (ENDRESS+HAUSER, [s.d.]):
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 35 - Medição de vazão por pressão diferencial


Fonte: Endress+Hauser ([s.d.], p. 5).

Perceba que o instrumento acessa via tomadas de impulso (tubos que acessam
a parte interna da tubulação) as pressões atuantes na montante e jusante do
elemento que obstrui a passagem do fluido (placa de orifício). Na medida em
que o fluido se movimenta, existe pressão diferencial entre os referidos pontos
(montante e jusante) e, assim, sob o mesmo princípio já mencionado relativo ao
sensor de pressão capacitivo, o transmissor realiza a medição da variável vazão.
Há mais elementos de obstrução que oferecem menores perdas de carga
e diminuem a turbulência no interior da tubulação. Como exemplo, podemos
citar o tubo de Venturi, que aplica uma obstrução suave na tubulação e apresenta
pressão diferencial, a qual pode ser mensurada pelo transmissor, com baixa ou
nenhuma perda de carga.

Instrumentação Industrial
278 UNIDADE V

Perceba que há “afundamento” maior


do fluido do lado esquerdo do tubo
que comunica a montante e a jusante
Fluxo
do medidor, indicando a diferença de
pressão entre os dois lados. É justamente
este degrau de pressão que permite a Pressão
diferencial
medição por meio deste método.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
SENSOR DE NÍVEL Figura 36 - Tubo de Venturi: medição de vazão
por pressão diferencial

Há vários métodos de medição de nível na indústria, entre eles, a medição feita


por sensores de proximidade, que atuam com a capacitância do fluido ou sólido
no interior de um reservatório. Nesta seção, abordaremos mais um método de
medição que utiliza também a pressão diferencial e permite a determinação da
altura de um fluido dentro de um reservatório.
A Figura 37 apresenta um exemplo de medição de nível de fluido em reser-
vatório, utilizando a pressão diferencial. Neste caso, conhece-se a pressão quando
o tanque de armazenamento apresenta ao estar vazio e também quando está
totalmente cheio. A partir dessa informação, o transmissor realiza a medição e
determina os diferentes níveis ao longo do processo.
O princípio de medição de nível por pressão diferencial é dado pela definição
(Equação 4):
P = h.r
P = h.r
Equação 4
Em que P é a pressão da coluna de líquido, h é
a altura em metros e r é a densidade do fluido.
A ideia é que, de acordo com a altura do fluido
dentro do reservatório, a densidade mantendo-se
constante, a pressão varia e, então, é calculada a
Figura 37 - Medição de nível de reservatório por
diferença de pressão entre pressão de alta ( H ) e pressão diferencial
de baixa ( L ). Fonte: o autor.

ELETRÔNICA APLICADA
279

Há outros métodos utilizados para a medição de nível que também tangem


ao uso de transmissores e utilizam outros princípios físicos, como o ultrassom.
Este método consiste na emissão de uma onda sonora até a superfície do fluido
armazenado e na monitoração do tempo em que a reflexão da onda percorre
para retornar à superfície do sensor.
A Figura 38 mostra como um processo de controle de nível interage com o
seu sensor e os elementos de acionamento para que o reservatório se mantenha
com a quantidade de fluido desejada.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

CONTROLE PID DE NÍVEL EM TANQUE


Sensor de
nível ultrassônico
tanque
de água

Painel de
controle
bomba Válvula
suprimento Solenóide Fluxo
d'água de saída
de
água de água

Figura 38 - Malha de controle de nível com sensor ultrassônico

Normalmente, existem, em processos industriais, agitadores dentro do reser-


vatório que são acionados para manter os sólidos do fluido sempre em mistura
para evitar a decantação e isto pode imprimir erro de leitura, pois quando o agi-
tador está acionado, há ondulação na superfície do fluido e, com isso, o sensor
ultrassônico pode realizar a leitura incorreta, além do agravante da formação
de espuma na superfície.
Para resolver este problema, os sensores ultrassônicos são acoplados a guias
de onda, que consistem em um tubo que é instalado diretamente na saída de
som do sensor e vai até o fundo do reservatório. Dentro desse tubo é inserido
um flutuador que, por sua vez, é mais pesado que a espuma e mais leve do que
o líquido, assim, ele sempre estará na superfície, e as ondas vão até ele e retor-
nam, minimizando as chances de erro de medida.

Instrumentação Industrial
280 UNIDADE V

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na Unidade 5 deste livro, abordamos a eletrônica aplicada e a sua sinergia entre


as áreas analógica e digital, apresentando como um estudante de Engenharia de
Produção pode identificar as diferentes situações onde as variáveis analógicas
devem ser digitalizadas para, posteriormente, serem processadas e armazena-
das na memória ou compartilhadas na rede.
Ainda na Unidade 5, tivemos a oportunidade de estudar a respeito de apli-
cações em algumas áreas de interesse, como a área de instrumentação eletrônica,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
controle e comunicação de dados, onde o estudante teve a oportunidade de ver
uma breve introdução acerca das suas aplicações.
Mais adiante, a unidade abordou a eletrônica de potência em torno de con-
versores chaveados e as suas particularidades, além de características que definem
o seu uso em determinadas situações de projeto.
A unidade finaliza o seu conteúdo com o tema instrumentação industrial,
onde o estudante teve a oportunidade de aprender sobre alguns dos principais
métodos de medição de variáveis, como a temperatura, a pressão, a vazão e o nível.
Esta unidade teve o objetivo de apresentar ao estudante a relação de impor-
tância da Eletrônica com o ambiente industrial, destacando alguns pontos
importantes que podem fazer diferença estratégica nas tomadas de decisão de
um Engenheiro de Produção, como entender as limitações de um sistema eletrô-
nico que utiliza fontes de alimentação chaveadas, prever inovações que possam
contribuir com os processos atuais e etc.

ELETRÔNICA APLICADA
281

1. Uma empresa interessada em comercializar seus equipamentos eletrônicos no


Brasil na área de telecomunicações deve, inicialmente, se adequar às normas
vigentes nacionais, caso contrário, a empresa não poderá comercializar os seus
produtos. Sendo assim, assinale a alternativa correta:
a) A Anatel atribui um selo de conformidade aos produtos que atendem às
normas para operar com vibrações na área de instrumentação industrial,
e para que um produto atuante neste segmento possa ser comercializado,
precisa do selo desta entidade.
b) Os equipamentos de telecomunicações devem obter o selo da Abrinq ou da
Anvisa para que possam atuar no Brasil.
c) A ABNT define as normas para que os equipamentos possam atender às exi-
gências técnicas, e entidades, como a Anatel, utilizam estas normas para os
seus procedimentos de homologação.
d) Para itens de instrumentação, não é necessário utilizar normas, pois no Brasil,
não há regras para o uso de telecomunicações, sendo assim, podemos utilizar
qualquer frequência em nossos equipamentos de rádio, sem restrições.
e) Os instrumentos industriais brasileiros seguem exclusiva e integralmente
apenas as normas internacionais vigentes e atualizadas pela Nema.
2. Os circuitos eletrônicos aplicados ao controle de processo podem ser compos-
tos de eletrônica analógica e digital, pois a interação com sensores e atuadores
depende de componentes discretos e o algoritmo de controle pode estar na
memória de um microcontrolador dedicado. Com base nas afirmações, assina-
le a alternativa correta:
a) A estratégia de controle PID pode ser implementada com o uso de ampli-
ficadores operacionais, embora, atualmente, seja implementada com o uso
de microcontroladores.
b) Os microcontroladores não permitem a implementação de estratégias de
controle baseado em PID, pois a velocidade de resposta do processo é maior
do que a capacidade de resposta do microcontrolador.
c) Os circuitos analógicos só permitem a implementação de estratégia de con-
trole PI (Proporcional + Integral), ficando a ação de controle derivativa pos-
sível apenas por meio de lógica digital.
d) Não é possível mesclar tecnologias analógico + digital em controle de pro-
cesso, pois os microcontroladores emitem ruído elevado que compromete
a resposta dos amplificadores operacionais.
e) Nas aplicações de controle, a eletrônica analógica pode atender a todas as
áreas, inclusive com estratégias PID, pois a frequência máxima permitida pe-
los circuitos analógicos é de 100 kHz. Frequências superiores são restritas
aos circuitos integrados digitais.
282

3. Quando um circuito analógico é projetado para operar como instrumento eletrô-


nico, a preocupação com o ruído é muito grande, pois este pode comprometer
o funcionamento. De acordo com esta afirmação, assinale a alternativa correta:
a) Os ruídos conduzidos e irradiados não comprometem os sinais de circuitos
analógicos, apenas os dos circuitos digitais.
b) A compatibilidade eletromagnética é simples e todos os equipamentos
possuem, assim, ruídos emitidos por um equipamento defeituoso que
não influenciam no funcionamento dos demais, dispensando normas de
homologação.
c) A eletrônica aplicada no projeto de sensores deve levar em conta que os
ruídos conduzidos são aqueles que são transportados pelas ondas eletro-
magnéticas por meio da indução e das antenas, já o irradiado percorre os
cabos para chegar até os equipamentos.
d) Os sinais oriundos dos sensores devem ser amplificados para que possam se
adequar aos padrões elétricos do controlador disponível.
e) Um sinal com frequência de 40 kHz não permite ser somado a um sinal de 1
kHz, pois sinais de frequências diferentes não permitem operação de soma,
apenas subtração.
4. Na eletrônica de potência, é comum o uso de conversores chaveados em alta
frequência. Em relação aos conversores, assinale a alternativa correta:
a) O conversor Boost é recomendado para reduzir a tensão da fonte de entrada
para a carga.
b) O conversor Flyback é utilizado em equipamentos industriais, apenas, en-
quanto o conversor Cuk é utilizado em fontes de alimentação de diversos
eletroeletrônicos.
c) Os conversores CC-CC convertem a corrente contínua em corrente contínua
e são rebaixadores de tensão, enquanto que os elevadores de tensão são os
conversores CC-CA.
d) O conversor Buck-Boost é conhecido por apresentar baixo nível de ruído
para a carga e a fonte de entrada.
e) O conversor Buck-Boost é rebaixador e elevador de tensão, diferentemente,
do Boost, que apenas eleva a tensão da entrada para a carga.
283

5. O uso de RTDs para a medição e temperatura é difundida na indústria mun-


dial, sendo que a sua estabilidade e o seu erro permitem precisão adequada
para a maioria dos processos. Com base nos conhecimentos de RTDs, calcule a
resistência de um RTD de platina para a temperatura de −27 °C e assinale a
alternativa correta:
a) 150, 25 W .
b) 89, 40 W .
c) 2, 38 W .
d) 447, 76 W .
e) 1573, 75 W
6. Os transmissores eletrônicos permitem o registro das variáveis em tempo real
para fins de análise e monitoração. Sobre sensores e transmissores, assinale a
alternativa correta:
a) Os transmissores podem realizar compensação de temperatura automatica-
mente, pois a temperatura pode influenciar na leitura de uma variável.
b) Os sensores que utilizam célula capacitiva não possuem estágio de condi-
cionamento, pois a célula já realiza todas as medidas automaticamente.
c) A medição de nível por ultrassom só pode ser realizada em sólidos, pois os
líquidos podem entrar em movimento, inviabilizando as leituras.
d) A medição de vazão por placa de orifício não apresenta perda de carga.
e) O transmissor de vazão com tubo de Venturi é mais adequado quando a
perda de carga não é importante para o processo, pois o transmissor apre-
senta elevados níveis de perda de carga.
284

UM MEDIDOR DE UMIDADE EM GRÃOS DE CAFÉ, BASEADO NA REFLEXÃO DIFUSA DO


INFRAVERMELHO PRÓXIMO
Na produção do café, o controle da umidade da matéria prima é fundamental em todos os es-
tágios da linha de produção. Por exemplo, o controle nos grãos verdes é fundamental, pois uma
bebida de má qualidade implica em restrições comerciais, que podem ir desde a redução do preço
comercial, a total rejeição do produto pelo mercado consumidor (ALMEIDA et al., 2007). O café
solúvel, por sua vez, pode ser produzido pela secagem do extrato de café torrado e secado a
quente (spray dried) ou a frio (freeze dried) (HUDSON JR, 1969). O controle de umidade nesta
fase segue especificações, variando de 1, 50 a 3, 50% de teor de umidade, especificada por cada
cliente que exige seu controle dentro da faixa pré-estabelecida (BURNS et al, 2001). Abaixo de
1, 50% de umidade, o produto apresenta-se com sabor queimado e, acima de 3, 50% , o mesmo
sofre intumescimento na embalagem. Portanto, o controle da umidade no processo de secagem
é de vital importância (COATES et al., 1999).
Normalmente, o controle de umidade na linha de produção das indústrias de café se dá por meio
de retiradas de alíquotas analisadas em laboratório. Como o volume de produto produzido é mui-
to grande, o tempo gasto na medição já implica em perda na produção, até que ajustes sejam
promovidos aos teores pré-estabelecidos. No processo de secagem a frio, a perda de capital é ain-
da mais crítica, pois o produto, por preservar os aromas, apresenta um valor comercial agregado
ainda maior (LUZ et al., 1993).
Os medidores de umidade comerciais não funcionam bem a baixas temperaturas, como no caso
do café moído a frio, e nem a temperaturas elevadas, como no caso do café moído a quente. Neste
sentido, um medidor capaz de efetuar a medição de umidade na própria linha de produção, ins-
tantaneamente e insensível a grandes variações de temperatura, permitiria o ajuste do processo
produtivo de imediato ao valor proposto, evitando perdas e reprocesso de produto. Se, além dis-
so, o sistema de medição for pequeno, barato, e adaptável a qualquer ambiente, há a possibilida-
de de instalação de vários medidores em vários pontos e linhas do processo produtivo, reduzindo
custos com medições químicas, infraestrutura e mão-de-obra, agilizando a medida e garantindo
um maior controle do processo. (CURCIO e PETTY, 1951)
Em vista do supracitado, neste trabalho, apresenta-se um sistema de medição de umidade em grãos
de café. Tal sistema é rápido e preciso, pois é baseado na medição de umidade pela identificação da
concentração de moléculas de água utilizando o princípio da absorção. Absorção é um processo que
envolve a perda de energia da radiação eletromagnética por um meio. Os resultados experimentais
mostram que o sistema apresenta uma variação bastante perceptível em função da quantidade de
água presente nos grãos.
A Figura 39 apresenta o esboço do sistema desenvolvido. O coração do sistema é um microcon-
trolador HCS908 da Freescale. Este é responsável por excitar as amostras de café com radiação em
três comprimentos diferentes (PT511). Ao incidir nas amostras, de acordo com a quantidade de
moléculas de água presente nas mesmas, parte dessa radiação é absorvida. O que sobra é levado
por um sistema óptico até um sensor do tipo InGaAs (PT511). Em seguida, a resposta desse sensor,
através de um circuito condicionador, é aplicada ao conversor A/D do HCS908. Evidentemente,
este sinal está relacionado a umidade presente nos grãos. No entanto, infelizmente, sensores do
tipo InGaAs são muito sensíveis a mudanças de temperatura. Por isso, foi necessário implementar
um controle de temperatura digital baseado em uma célula Peltier.
Absorção, o princípio físico no qual é baseado o medidor de umidade proposto, é um processo en-
volvendo a perda de energia da radiação eletromagnética por um meio. As moléculas, neste meio,
absorvem energia e mudam seu estado, tornando-se excitadas e apresentando transições específicas
285

de sua conformação energética (FENSHOLT e SANDHOLT, 2003; MCINTOSH e CASADA, 2008). Assim,
através da observação da redução da intensidade do sinal eletromagnético para os comprimentos de
onda correlacionados às transições, é possível estimar a concentração destas moléculas. Tal processo é
comum, podendo ocorrer em diferentes meios como sólidos ou líquidos e gases (CLAUDIO et al., 2006).
O sistema proposto utiliza LEDs para emitir a radiação infravermelha nos comprimentos de onda
de absorção da água, que incide sobre as amostras e é absorvido pelas moléculas de água. A ra-
diação que não for absorvida pela água é, então, refletida difusamente e colimada por um espelho
côncavo. Tal espelho concentra estas radiações em um outro espelho plano, localizado a alguns
centímetros da distância focal do espelho côncavo. Por sua vez, este espelho plano reflete a radia-
ção concentrada para o sensor óptico. Esse sensor está localizado no centro do espelho côncavo.
A utilização dos LEDs possui a vantagem de não radiar calor, portanto, resolveu-se um grande proble-
ma do aquecimento causado pelas lâmpadas, normalmente, utilizadas, neste tipo de equipamento,
diminuindo o tamanho e aumentando a vida útil do sistema. Uma outra vantagem da utilização dos
LEDs é a possibilidade de modulação da radiação emitida, não necessitando, dessa forma, de um obtu-
rador mecânico (chopper). Além disso, devido ao semicondutor emissor de luz apresentar a caracterís-
tica de largura de banda muito estreita, não foi necessário a utilização de filtros ópticos para selecionar
o comprimento de onda desejado, o que permitiu uma redução no custo do equipamento.
A radiação refletida é, então, captada por um sensor óptico sensível à mesma faixa de radiação emiti-
da. Evidentemente, um sistema de condicionamento de sinal foi desenvolvido para amplificar o sinal
de corrente e adéqua-lo aos níveis de tensão do um microcontrolador, responsável pela aquisição
dos dados. Tais níveis de tensão variam de acordo com a quantidade de água presente nas amostras.
Assim, após o sistema ser calibrado, será possível aferir a umidade dos materiais em estudo.

Figura 39 - Diagrama de blocos do sistema desenvolvido


Fonte: Gentilin et al. (2011).
MATERIAL COMPLEMENTAR

Instrumentação e Fundamentos de Medidas (v. 1 e 2)


Alexandre Balbinot e Valner João Brusamarello
Editora: LTC/GEN
Sinopse: Instrumentação e Fundamentos de Medidas foi dividido em
dois volumes caracterizados por uma abordagem teórica e prática
adequada, tanto a iniciantes quanto a profissionais da área. Apresentam
breve histórico da instrumentação e trata de princípios e definições,
análise de erros, fundamentos de estatísticas, técnicas experimentais,
análise de sinais e ruído, eletrônica analógica e digital, medições de
variáveis elétricas, sensores e condicionadores de temperatura e, ainda,
um capítulo de laboratórios envolvendo os temas abordados com
aplicações de recursos computacionais.
Comentário: obras indispensáveis para o estudo da instrumentação
industrial e eletrônica.

Horizonte Profundo - Desastre no Golfo (2016)


Sinopse: baseada em eventos reais, a história se passa no Golfo do México,
na plataforma de perfuração marítima Deepwater Horizon. Diante de um
dos piores vazamentos de petróleo na história dos EUA, Mike Williams (Mark
Wahlberg) e os demais trabalhadores embarcados lutam para escapar com
vida do terrível acidente.
Comentário: o filme relata a realidade da exploração de petróleo em
plataforma marítima onde instrumentos eletrônicos e tecnologia industrial
são exibidos.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Neste link, é possível consultar a norma IEC 60751/IEC 751 para RTDs.
Web: <http://www.isotechna.com/v/vspfiles/pdf_articles/Changes%20to%20the%20
International%20Standard%20for%20Industrial%20PRTs.pdf>.

No site da empresa Salcas, há tabelas de termopares para consulta.


Web: <http://www.salcas.com.br/tabela-milivoltagem-de-termopares>.

Veja, neste link, as tabelas de cores para termopares abertas a consultas.


Web: <http://www.exatacomercial.com/files/produto_arquivo_245.pdf>.

No canal de vídeos da Endress+Hauser, fabricante de sensores e transmissores


industriais, é possível conferir mais detalhes sobre o assunto abordado nesta unidade.
Web: <https://www.youtube.com/channel/UCZGXEDoheb9GkTnB4BPKoaQ>.

Neste vídeo, confira o RD400, transmissor de nível por onda guiada fabricado pela
empresa SMAR.
Web: <https://youtu.be/Fh6SIMwsZ_0>.

Material Complementar
REFERÊNCIAS

BALBINOT, A.; BRUSAMARELLO, V. J. Instrumentação e Fundamentos de Medidas.


2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011.
ENDRESS+HAUSER. Flow measuring technology for liquids, gases and ste-
am products and services at a glance. Greenwood: Endress+Hauser, [s.d.]. Dis-
ponível em: <https://portal.endress.com/wa001/dla/5001053/9178/000/03/FA-
00005DEN_1816.pdf>. Acesso em: 26 dez. 2018.
FIRST CAPITOL. Insulated Thermocouple and Extension Wire Products Guide.
[S.l.], [s.d.]. Disponível em: <http://www.firstcapitol.com/docs/thermocouple_cata-
log.pdf>. Acesso em: 26 dez. 2018.
GENTILIN, F. A. et al. Um medidor de umidade em grãos de café baseado na reflexão
difusa do infravermelho próximo. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROINFORMÁTI-
CA. 8., 2011, Bento Gonçalves. Anais... Bento Gonçalves: SBIAgro, 2011.
JÚNIOR, A. P. Eletrônica Analógica - Amplificadores Operacionais e Filtros Ativos. 8.
ed. Porto Alegre: Bookman, 2015.
LAKE SHORE CRYOTRONICS. DIN-IEC-751 - Temperature/Resistance Table for Pla-
tinum Sensors. Westerville: Lake Shore Cryotronics, 2014. Disponível em: <https://
www.lakeshore.com/Documents/F038-00-00.pdf>. Acesso em: 26 dez. 2018.
MELLO, L. F. P. Análise e Projeto de Fontes Chaveadas. São Paulo: Érica, 1996.
NXP FREESCALE SEMICONDUCTOR. Integrated Silicon Pressure Sensor On-Chip Sig-
nal Conditioned, Temperature Compensated and Calibrated. Austin: NXP Freesca-
le Semiconductor. Datasheet: Technical Data. oct. 2012. Disponível em: <https://
www.nxp.com/docs/en/data-sheet/MPXV4115V.pdf>. Acesso em: 26 dez. 2018.
SMAR AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL. LD400 - Transmissor Inteligente de Pressão. Ser-
tãozinho: SMAR. Manual de instruções, operação e manutenção. ago. 2014. Dis-
ponível em: <www.smar.com/PDFs/manuals/LD400MP.pdf>. Acesso em: 26 dez.
2018.
TDK CORPORATION. PTC thermistors for overcurrent protection. Leaded disks, co-
ated, 230 V. [S.l.]: feb. 2018. Disponível em: <https://en.tdk.eu/inf/55/db/PTC/PTC_
OC_Leaded_230V_C810_C890.pdf>. Acesso em: 26 dez. 2018.

REFERÊNCIAS ONLINE
1
Em: <www.anatel.gov.br/celularlegal/selo-anatel>. Acesso em: 26 dez. 2018.
2
Em: <http://www.salcas.com.br/tabela-milivoltagem-de-termopares>. Acesso em:
26 dez. 2018.
289
GABARITO

1. D.
2. A.
3. D.
4. E.
5. B.
6. A.
CONCLUSÃO

O livro de Eletrotécnica e Eletrônica teve o objetivo de apresentar ao estudante de


Engenharia de Produção os principais assuntos que permitem a sua imersão no uso
das tecnologias industriais em termos do uso da eletricidade, tanto no âmbito da
eletrotécnica quanto da eletrônica.
O estudante teve a oportunidade de conhecer a estrutura da matéria e os conceitos
elementares da eletricidade, que são a base para o estudo dos assuntos que são
estudados a seguir, como as grandezas fundamentais e os diferentes tipos de mate-
riais. Esta base insere o estudante em ambiente onde o uso dos recursos energéticos
é conhecido e as suas limitações são delineadas a fim de permitir a gestão de sua
utilização.
Os assuntos estudados nas Unidades I, II e III permitiram ao estudante conhecer a
eletricidade e o seu uso em nível industrial, com atendimento conceitual aos as-
suntos relacionados às máquinas elétricas, às instalações e às principais normas de
segurança aplicáveis no Brasil.
Esta base forma competências aos futuros engenheiros, os qualificando para a aná-
lise das formas de utilização e para o reconhecimento dos recursos disponibilizados
dentro do ambiente industrial a fim de realizar a gestão de indicadores baseados
nos dados do processo.
A Eletrônica teve participação importante no processo de esclarecer as funções de
cada tecnologia abordada e as suas limitações, além de sua sinergia quando as ca-
pacidades de uma tecnologia se somam às funcionalidades da outra para resultar
no que chamamos de integração industrial, o que permite a gestão em tempo real
dos recursos tecnológicos utilizados na indústria.
O livro contemplou os assuntos mais relevantes relacionados à Eletrotécnica e à
Eletrônica e qualifica o profissional a uma viagem ao mundo da inovação em um
ambiente cheio de desafios denominado indústria, onde as tecnologias avançam a
cada dia e o profissional atuante deve se atualizar constantemente para permanecer
ativo.

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