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  Nature and Conservation, 
 
  Aquidabã, v.6, n.2, Mai, Jun, Jul, 
Journal homepage: 
Ago, Set, Out 2013. 
  www.arvore.org.br/seer
   
ASPECTOS AMBIENTAIS E HISTÓRICOS DO ISSN 2318‐2881 
SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE  
CONSERVAÇÃO: 12 ANOS DE IMPLANTAÇÃO SECTION: Articles 
TOPIC: Conservação da Natureza 
RESUMO
 
Embora as atenções com as questões ambientais tenham sido iniciadas por volta
da década de 1930, é enfático que o ano 2000 foi um marco, considerando a
implantação do Sistema de Unidades de Conservação da Natureza no Brasil. Não  
se pode negar a evolução do aparato ambiental brasileiro com a criação do SNUC DOI: 10.6008/ESS2318‐2881.2013.002.0001 
que objetiva em linhas gerais a proteção da natureza em nosso país. Ao analisar  
esta evolução, observou-se que em 12 anos, a forte expressividade do SNUC
apresenta atualmente um quantitativo de 1783 UCs estabelecidas entre uso  
sustentável ou proteção integral. Sabe-se que muito é preciso para avançarmos no Elfany Reis do Nascimento Lopes 
que realmente se deseja com o estabelecimento das Unidades de Conservação, Universidade Estadual de Santa Cruz, Brasil 
suas potencialidades e reais objetivos. No entanto, as Unidades de Conservação http://lattes.cnpq.br/7744975674695707  
através do SNUC apesar de toda a problemática têm auxiliado direta ou elfanyl@hotmail.com 
indiretamente o país na conservação de seus recursos naturais. E neste sentido,  
deve-se permanecer, de modo que o sistema seja ampliado com a garantia da
qualidade e do cumprimento de seus objetivos em território nacional. Visando  
discutir tais propósitos, este trabalho aborda as repercussões a cerca das questões  
ambientais e do processo de implantação do sistema de unidades de conservação
da natureza no Brasil em seus doze anos de implantação.  
 
PALAVRAS-CHAVE: Meio Ambiente; Desenvolvimento; Conversação Ambiental.
 
 
 
ENVIRONMENTAL AND HISTORICAL ASPECTS OF THE  
NATIONAL SYSTEM OF CONSERVATION UNITS: 12
 
YEARS OF DEPLOYMENT
 
ABSTRACT  
Although the attention to environmental issues have been initiated by the 1930, is  
emphatic that the year 2000 was a milestone, considering the implementation of Received: 14/05/2013 
nature conservation Units in Brazil. One cannot deny the evolution of Brazilian Approved: 01/10/2013 
environmental apparatus with the creation of the SNUC aimed at the protection of Reviewed anonymously in the process of blind peer. 
nature in our country. When reviewing these developments, it was observed that in
12 years, the strong expressiveness of SNUC presents a quantitative 1783 UCs  
currently established between sustainable use or full protection. It is known that it  
takes to move forward in that really want to with the establishment of protected
areas, their actual capabilities and goals. However, the protected areas through the
 
SNUC despite all the problems have helped directly or indirectly the country in the  
conservation of its natural resources. And in this sense, one should stay, so that the
system be expanded with quality assurance and compliance with its objectives in
 
national territory. To discuss such purposes, this paper discusses the implications  
about environmental issues and the process of implementation of nature  
conservation units in Brazil in his twelve years of deployment.
 
KEYWORDS: Environment; Development; Environmental Conversation.  
 
 
 
Referencing this: 
 
LOPES, E. R. N.. Aspectos ambientais e históricos do 
Sistema Nacional de Unidades de Conservação: 12 anos 
de implantação. Nature and Conservation, Aquidabã, 
v.6, n.2, p.6‐17, 2013. DOI: 
http://dx.doi.org/10.6008/ESS2318‐2881.2013.002.0001  

Nature and Conservation (ISSN 2318‐2881)  
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Aspectos ambientais e históricos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação: 12 anos de implantação 

INTRODUÇÃO

As questões que envolvem o meio ambiente, as ações do homem e a sustentabilidade


tornaram-se algumas das maiores preocupações atuais (ARAÚJO e MELO e SOUZA, 2012).
Embora as atenções com as questões ambientais tenham sido iniciadas por volta da década de
1930, é enfático que o ano 2000 foi um marco, considerando a implantação do Sistema de
Unidades de Conservação, através da Lei nº 9.985/2000 como forma de proteção da natureza,
visando assim à conservação da biodiversidade no país.
Para Araújo e Melo e Souza (2012) a criação de Unidades de Conservação (UC) objetiva
também, consolidar a sustentabilidade entre o ser humano e a natureza em áreas de relevância
natural. De fato, o estabelecimento das Unidades de Conservação tem sido posta como uma
estratégia para reduzir as ações danosas do homem aos ambientes naturais e a conservação da
biodiversidade (DIEGUES, 2001; GASTAL e SARAGOUSI, 2008)
Para tanto, sabe-se que muito é preciso para avançarmos no que realmente se deseja com
o estabelecimento das Unidades de Conservação no Brasil, suas potencialidades e reais
objetivos. É peculiar que tantas UCs apresentam-se registradas no Brasil, porém passam por
diversos problemas estruturais e de gestão, que por fim, terminam sem contribuir com efetividade
para a conservação da natureza. No entanto, ao mesmo tempo, não se pode negar que as
mesmas apresentam-se como um dos instrumentos até então mais utilizados para a garantia
dessa conservação, ainda que não se tenha a proporção da importância destas em seu real
contexto.
Não se pode também, negar a evolução do aparato ambiental brasileiro com a criação do
SNUC, porém, Medeiros (2006) ressalta que o mesmo ainda não conseguiu atingir plenamente
um sistema para integrar, a criação e a gestão das distintas tipologias existentes no país, e que o
tempo empreendido para efetivar o SNUC só evidencia as dificuldades existentes neste campo
decorrentes das diferentes disputas de grupos com interesses nesta área.
Como os problemas com as questões ambientais, e em especial das Unidades
Conservação, são temas recorrentes de discussão na ciência, é necessário traçar discussões
sobre o tema, bem como, divulgar a evolução deste sistema, que por muitas vezes, seus dados de
expansão, avanços e problemáticas, não são disponibilizados, e permanecem sem divulgação
para amplo conhecimento.
Visando discutir tais propósitos, este trabalho aborda as repercussões a cerca das
questões ambientais e do processo de implantação do sistema de unidades de conservação da
natureza no Brasil em seus doze anos de implantação.

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METODOLOGIA

Delineou-se uma abordagem metodológica fundamentada nas contribuições sobre o tema


em questão. Inicialmente realizou-se uma pesquisa documental, através de um levantamento do
aparato legislativo que constrói a questão ambiental no Brasil. Posteriormente desenvolveu-e uma
pesquisa bibliográfica, com o levantamento dos principais relatórios institucionais publicados pelo
Ministério do Meio Ambiente e pelo Instituto de Geografia e Estatística no Brasil que versam sobre
as unidades de conservação no país, utilizando-se destes dados secundários para maximizar a
visualização quantitativa das unidades de conservação existentes no país.
Os documentos levantados foram inicialmente sintetizados, analisados criticamente e de
acordo com a utilidade para o debate do tema em questão. A busca por tais documentos
justificam-se por ser o Ministério do Meio Ambiente o órgão máximo ambiental do país, e por isso,
detém a precisão de dados sobre as Unidades de Conservação no país. Da mesma forma, o
IBGE, por lançar periodicamente os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do Brasil,
contribui com este documento para maximizar as informações sobre o tema.

DISCUSSÃO TEÓRICA

As Primeiras Ações Ambientais

“Constata-se que o surgimento da ideia de implantação de áreas naturais protegidas, pelo


menos no que se refere à parte ocidental, teve início na Europa, durante a idade média, com o
objetivo de proteção de recursos da fauna, flora e seus habitats e para demonstração de status da
aristocracia rural “(BARBOSA, 2008). Para o autor, até meados do século XIX, outras medidas de
proteção de áreas naturais foram tomadas em vários países europeus. Na revolução industrial,
surgiram movimentos voltados à instituição de áreas naturais e em 1872 criou-se o primeiro
Parque Nacional do mundo em Yellowstone nos Estados Unidos.
Segundo Barbieri (2006), no Brasil, a preocupação com o ambiente ganha atenção do
poder público na década de 1930. Em 1945 foi instituído o primeiro refúgio da vida silvestre no
Espírito Santo e posteriormente em 1946, criou-se a Floresta Nacional do Araripe-Apodi
abrangendo os estados do Ceará, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte, segundo dados de
Araújo (2007). A partir de 1959, houve um impulso muito grande para a criação de novas áreas
protegidas, destacando-se o Parque Nacional do Araguaia (Tocantins); Parque Nacional dos
Aparados da Serra (Rio Grande do Sul e Santa Catarina) e de Ubajara (Ceará).
Em 1981 de acordo com Brito (2003) foi implementada a Política Nacional de Meio
Ambiente, por meio da Lei nº 6.931/81. No mesmo ano foi estabelecido também o Sistema
Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), pela Lei nº 6.938/81, sob a direção do Conselho Nacional

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de Meio Ambiente (CONAMA). Antes de tais leis, não havia um tratamento unitário com relação à
defesa do meio ambiente no Brasil, até mesmo por ausência de definição legal.
Em 1988, a Constituição Federal Brasileira reforça a proteção dos recursos naturais e
concede maiores esforços para a instituição da política ambiental nos país, dedicando assim, o
capitulo 6 ao meio ambiente. Em 1989, foi criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, visando
unificar a gestão da política de conservação dos recursos naturais (ARAUJO, 2007).

O Sistema de Unidades de Conservação: Concepção e Estrutura

Para a criação do Sistema Nacional de Conservação, o documento "Uma Análise de


Prioridades e Conservação da Natureza na Amazônia" (WETTERBERG, et al., 1976) foi
essencial, mas, o Plano de Sistema de Unidades de Conservação do Brasil - I Etapa (1979) e II
Etapa (1982), desenvolvido através do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, foi o que
regulamentou os critérios e as normas técnico-científicos necessárias para a criação, implantação
e gestão das UCs (OBARA e SILVA, 2001, citado por MENIS e CUNHA, 2011).
De acordo com Freitas (2009), a primeira etapa do plano visava o levantamento das áreas
protegidas existentes e a avaliação de sua quantidade, além de inventariar as áreas de interesse
para a criação de UCs. Na segunda etapa do plano, aperfeiçoaram-se as propostas da primeira,
além de alocar recursos e pessoal para efetivar as UCs até então criadas.
Em 1992, o projeto de Lei nº. 2.892 foi encaminhado ao Senado, para a criação do
Sistema Nacional de Unidades de Conservação, classificando de acordo com a Lei, as UCs em
três grupos distintos: Unidades de Proteção Integral; Unidades de Manejo Provisório; e Unidades
de Manejo Sustentável. Segundo Araújo (2007), enquanto a aprovação do projeto de Lei do SNUC
não acontecia, o Programa Nacional do Meio Ambiente, foi o percussor da implantação, gestão,
elaboração de plano de manejo das UCs e formação de pessoal para atuação nas áreas
conservadas entre os anos de 1991 a 1998.
Somente no ano 2000, foi instituído o Sistema de Unidades de Conservação, através da
Lei nº 9.985/2000. A criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação corresponde à
soma de debates e interesses múltiplos de ONGs nacionais e internacionais, ambientalistas,
cientistas, instituições privadas e comunidades tradicionais.
De acordo com a Lei nº 9.985/2000 as Unidades de Conservação são definidas como:
[...] espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais,
com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público,
com 37 objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de
administração ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.

São objetivos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação:


I - Contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos
no território nacional e nas águas jurisdicionais;
II - Proteger as espécies ameaçadas de extinção;
III - Contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas
naturais;

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IV - Promover o desenvolvimento sustentável dos recursos naturais;


V - Promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no
processo de desenvolvimento;
VI - Proteger as paisagens naturais de notável beleza cênica;
VII - Proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica,
espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;
VIII - Proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;
IX - Recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
X - Proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos
e monitoramento ambiental;
XI - Valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;
XII - Favorecer condições e promover a educação ambiental, a recreação e o
turismo ecológico;
XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações
tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e
promovendo as social e economicamente (BRASIL, 2000).

Estas Unidades de Conservação podem ser classificadas em dois grupos distintos com
características específicas:
I - Unidades de Proteção Integral, cujo objetivo é preservar a natureza, com uso indireto
dos seus recursos naturais. São consideradas unidades de proteção integrais a Estação
Ecológica; Reserva Biológica; Parque Nacional; Monumento Natural; e o Refúgio de Vida Silvestre
(BRASIL, 2000).
II - Unidades de Uso Sustentável, com objetivos de compatibilizar a conservação da
natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. São consideradas
unidades de proteção sustentáveis a Área de Proteção Ambiental; Área de Relevante Interesse
Ecológico; Floresta Nacional; Reserva Extrativista; Reserva de Fauna; Reserva de
Desenvolvimento Sustentável; e Reserva Particular do Patrimônio Natural (BRASIL, 2000).
Nos quadros 1 e 2, é possível identificar as principais características, objetivos e formas de
uso das Unidades de conservação de proteção integral e de uso sustentável, respectivamente.

Quadro 1: Descrição das características, objetivos e usos permitidos nas Unidades de Conservação de
Proteção Integral, a partir do ano 2000 no Brasil.
Categoria da
Características e Objetivos Usos permitidos
UC
Estação Área de domínio público com objetivo de Pesquisa científica com autorização do
Ecológica preservação da natureza. responsável pela UC.
Pesquisa científica com autorização do
Reserva Área pública com objetivo de preservação
responsável pela UC; visitação pública com
Ecológica integral dos recursos bióticos.
objetivo educacional.
Pesquisa Científica com autorização do
Parque Área extensa com objetivo de preservação de
responsável pela UC; visitação pública;
Nacional ecossistemas naturais
atividades educacionais e turismo ecológico.
Monumento Área com objetivo de preservação de sítios Visitação pública com restrições e normas do
Natural naturais raros. plano de manejo.
Área de proteção de ambientes naturais para a
Refúgio de Vida
existência ou reprodução de espécies ou Visita pública e pesquisa científica.
Silvestre
comunidades da flora e fauna
Fonte: Adaptado da Lei n. 9.985 de 18 de julho de 2000.

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Quadro 2: Descrição das características, objetivos e usos permitidos nas Unidades de Conservação de uso
sustentável, a partir do ano 2000 no Brasil.
Categoria da UC Características e objetivos Usos permitidos
Proteger a biodiversidade e
atributos abióticos, bióticos,
estéticos e culturais; disciplinar o
Área de Proteção Ambiental Ocupação humana;
processo de ocupação humana;
assegurar a sustentabilidade dos
recursos naturais
Área de pequena extensão com
poça ou nenhuma ocupação
Pode ser utilizada a partir de
Área de Relevante Interesse humana; apresenta características
normas e restrições; permite a
Ecológico naturais ou exemplares raros da
ocupação humana.
biota; manutenção dos
ecossistemas regional e local.
Área com presença de cobertura Permanência de populações
Floresta Nacional floresta de espécies geralmente tradicionais que já habitavam a
nativas. área; uso sustentável.
Área publica com proteção dos
recursos bióticos e da cultura das Extrativismo sustentável; visitação
Reserva Extrativista
populações extrativistas e uso pública; pesquisas científicas.
sustentável.
Área natural pública com espécies
Pesquisas científicas ou visitação
Reserva da fauna nativas, de origem terrestre ou
pública.
aquática.
Sistemas sustentáveis de
Área natural pública com exploração de recursos; pesquisas
Reserva de Desenvolvimento
exploração de recursos por científicas; manejo e cultivo de
Sustentável
populações tradicionais. espécies sujeito ao zoneamento do
plano de manejo
Fonte: Adaptado da Lei n. 9.985 de 18 de julho de 2000.

A criação das Unidades de Conservação está disposta no SNUC no seu artigo 22 ao


afirmar que são criadas por ato do Poder Público. Ainda assim, nos § 2º, § 3º e § 4º do artigo 22,
fica claro a necessidade de estudos técnicos e de consulta pública que permitam identificar a
localização, a dimensão e os limites mais adequados para a unidade, sendo o Poder Público
obrigado a fornecer informações adequadas e inteligíveis à população local e a outras partes
interessadas. Estas considerações são liberadas quando se refere à criação de Estação Ecológica
ou Reserva Biológica (BRASIL, 2000).
No tocante a gestão das UCs fica claro no artigo 6º, incisos I, II e III que:
Art. 6º O SNUC será gerido pelos seguintes órgãos, com as respectivas
atribuições (Brasil, 2000):
I – Órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente -
CONAMA, com as atribuições de acompanhar a implementação do Sistema;
II – Órgão central: o Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de coordenar o
Sistema;
III – Órgãos executores: o Instituto Chico Mendes e o IBAMA, em caráter
supletivo, os órgãos estaduais e municipais, com a função de implementar o
SNUC, subsidiar as propostas de criação e administrar as unidades de
conservação federais, estaduais e municipais, nas respectivas esferas de atuação
(BRASIL, 2000).

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O Estado Quantitativo Atual das Unidades de Conservação

Anteriormente à criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, registrava-se


poucas áreas protegidas pelo país, algumas já citadas no primeiro tópico deste trabalho, além de
outras áreas vinculadas às pesquisas cientificas ou restritas as empresas privadas. Com o
advindo do SNUC, pode-se observar um maior rigor tanto para definição conceitual, compreensão
e criação para as áreas protegidas.
Neste sentido, o crescimento destas áreas é incontestável, considerando a evolução
proporcionada pela Lei 9.985/2000 para a garantia da conservação ambiental brasileira. Após 12
anos se sua existência pode-se observar um número expressivo de Unidades de Conservação.
Obviamente, muitas destas encontram-se distribuídas em diferentes tipos e regiões e certamente
também apresentam problemas estruturais que necessitam ser discutidas com profundidade.
Para o ano de 2013, o Cadastro Nacional de Unidades de Conservação apresentou um
quantitativo de UCs de proteção integral, correspondente a um total de 140 UCs federais, 325
estaduais e 94 municipais. Referente às UCs de uso sustentável, o país apresentou 747 federais,
412 estaduais e 65 municipais (BRASIL, 2013). Ao analisar o total de unidades de conservação
existentes no país, observa-se uma totalidade de 887 UCs federais, 737 estaduais e 159
municipais, correspondendo 1783 UCs em todo o Brasil. Dados detalhados sobre as Unidades de
conservação podem ser visualizados na tabela 1 e 2.
Fazendo um comparativo com o ano 2010, em que o Brasil teve o marco de dez anos de
SNUC, observa-se um aumento expressivo, comparado a sua atualidade (BRASIL, 2013).

Tabela 1: Quantitativo de Unidades de Conservação de proteção integral, a nível federal, estadual e


municipal em 2013 no Brasil.
Esfera
Grupo/Categoria
Federal Estadual Municipal Total
Proteção Integral Nº Nº Nº Nº
Estação Ecológica 31 63 1 95
Monumento Natural 3 27 9 39
Parque Nacional/Estadual Municipal 69 190 79 338
Refúgio da Vida Silvestre 7 22 1 30
Reserva Biológica 30 23 4 57
Total 140 325 94 559
Fonte: Ministério do Meio Ambiente (2013).

Tabela 2: Quantitativo de Unidades de Conservação de uso sustentável, à nível federal, estadual e


municipal em 2013 no Brasil.
Esfera
Grupo/Categoria
Federal Estadual Municipal Total
Uso Sustentável Nº Nº Nº Nº
Flor. Nacional/Estadual/Municipal 65 38 0 103
Reserva Extrativista 59 28 0 87
Reserva de Desenv. Sustentável 1 29 3 33
Reserva de Fauna 0 0 0 0
Área de Proteção Ambiental 32 184 55 271
Área de Interesse Ecológico 16 25 6 47
RPPN 574 108 1 683
Total 747 412 65 1224
Fonte: Ministério do Meio Ambiente (2013).

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A Tabela 3 apresenta a quantidade de UCs federais presentes nos estados brasileiros,


distintas por unidades de proteção integral ou de uso sustentável, havendo a exceção da
presença da quantificação de áreas de proteção ambiental.

Tabela 3: Distribuição das Unidades de Conservação nos estados brasileiros até 22.01.2014.
Tipo de Unidade de Conservação
UF
Uso Sustentável Proteção Integral
Acre 9 2
Alagoas 1 3
Amapá 2 5
Amazonas 20 14
Bahia 6 18
Ceará 4 4
Distrito Federal 2 2
Espírito Santo 3 8
Goiás 4 3
Maranhão 6 4
Mato Grosso 0 7
Mato Grosso do Sul 0 2
Minas Gerais 3 9
Pará 35 9
Paraíba 3 1
Paraná 3 11
Pernambuco 2 5
Piauí 2 5
Rio de Janeiro 3 11
Rio Grande do Norte 2 3
Rio Grande do Sul 3 6
Rondônia 7 7
Roraima 2 6
Santa Catarina 6 8
São Paulo 10 4
Sergipe 1 3
Tocantins 1 3
Fonte: Instituto Socioambiental/Programa Monitoramento de Áreas Protegidas (2014).

Na Tabela 4 é possível observar a distribuição de Unidades de Conservação federais por


bioma brasileiro. De acordo com o Instituto Socioambiental, a maioria das UCs federais em
número e extensão, encontra-se no bioma Amazônico.

Tabela 4: Distribuição das Unidades de Conservação nos biomas brasileiros até 22.01.2014.
UCs Total Área (ha) UCs Total Área (ha)
Bioma
Uso Sustentável Uso Sustentável Proteção Integral Proteção Integral
Amazônia 70 27.825.207 39 29.408.881
Caatinga 5 44.449 15 721.104
Cerrado 13 109.939 22 4.210.904
Mata Atlântica 18 66.318 52 1.087.915
Pampa 0 0 2 145.639
Pantanal 0 0 2 148.322
Fonte: Instituto Socioambiental/Programa Monitoramento de Áreas Protegidas (2014).

Na tabela 5, é possível visualizar a quantidade e porcentagem de Unidades de


Conservação em relação à extensão territorial das mesmas e do território brasileiro. De acordo
com o Instituto Socioambiental, embora as UCs de categorias de proteção integral estejam em
numero relativamente menor que as de uso sustentável, ambos os grupos tem representação
territorial similar, situando-se entre 4,2% e 4,5% do território nacional, respectivamente.
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Tabela 5: Distribuição das Unidades de Conservação nos estados brasileiros até 22.01.2014.
Categoria Quantidade Área Oficial (ha) % da Área oficial em relação ao Brasil
Proteção Integral
ESEC 31 6.796.267 0,798
MONAT 3 44.734 0,005
PARNA 69 25.270.474 2,968
REBIO 30 3.975.393 0,467
RESEC 1 109 0,000
RVS 7 202.308 0,024
Total Proteção Integral (Federais) 141 36.289.285 4,262
Uso Sustentável
APA 32 9.755.885 1.146
ARIE 13 34.439 0,004
FLONA 65 15,812.644 1,857
RDS 1 64.735 0,008
RESEX 59 12.275.154 1.442
Total Proteção Sustentável (Federais) 170 37.943.857 4.457
Total Geral 311 74.233.142 100
Fonte: Instituto Socioambiental/Programa Monitoramento de Áreas Protegidas (2014).

Uma Análise da Trajetória das Unidades de Conservação: 12 Anos de Implantação no Brasil

Oficialmente instituído, o SNUC para Freitas (2009) apresentou considerável avanço


comparado a PL 2.982 de 1992, definido de forma mais elaborada os conceitos de plano de
manejo, zoneamento e zona de amortecimento, assim como a obrigatoriedade do plano de
manejo para todas as UCs, garantindo uma organização quanto ao uso da terra na UC e em seu
interior.
É possível verificar o cuidado apresentado pela Lei nº 9.985/00 dada à quantidade de
dispositivos que compreende a sua estrutura. O Sistema Nacional das Unidades de Conservação
da Natureza estabelece critérios para a criação, implantação e gestão das unidades de
conservação. “Disciplina a exploração das unidades, estabelecendo dois grupos diferentes, sendo
possível em um a exploração direta dos seus recursos naturais e noutro apenas o uso indireto”
(BARBOSA, 2008).
O documento publicado pelo Ministério do Meio Ambiente sobre os 10 anos do Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza aponta diversos aspectos que norteiam a
situação da atual vigência da Lei. Para o Ministério, a criação de UCs se dá como uma das
principais estratégias ambientais brasileira, fato que corrobora para que cerca de 1,5 quilômetros
quadrados (17%) do território brasileiro esteja em áreas de UC. O país apresenta atualmente,
mais áreas protegidas do que os países mais ricos, tais como França, Japão e Itália (BRASIL,
2011). O documento de avaliação, também apontou os pontos que mais causam polêmica
destacam-se: a presença humana dentro das unidades de proteção integral, a necessidade de
envolvimento da sociedade na criação de unidades, a pertinência de determinadas categorias, a
sobreposição com terras indígenas e o conceito de populações tradicionais.
Quanto aos aspectos positivos pós década, é possível destacar o incremento significativo
no número de unidades de conservação, a área total protegida pelo sistema que dobrou no
período entre 2003 e 2010, a ampliação da participação pública nos processos de criação de

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Aspectos ambientais e históricos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação: 12 anos de implantação 

unidades de conservação e nos conselhos consultivos e deliberativos das unidades, aumento da


criação de RPPNs, aumento do número de pesquisas cientificas, com cerca de 0,5% das teses e
dissertações realizadas em UCs (BRASIL, 2011).
No que se refere aos aspectos negativos, pode-se citar os planos de manejo não
funcionais com recomendações pouco aplicáveis à gestão da unidade, conselhos frágeis em
conteúdo e participação social e o baixo investimento dos recursos para a gestão das UCs
comparado com outros países (África do Sul, Austrália, Canadá, Costa Rica, Estados Unidos,
Nova Zelândia) (BRASIL, 2011). Referente a este último aspecto, Medeiros (2006) também
ressalta uma falta de planejamento de longo prazo e que o aporte de recursos têm sido os
principais gargalos na consolidação das áreas protegidas brasileiras. Contudo, Creado e Ferreira
(2012) ressaltam que não se pode esperar da ciência ou das leis respostas prontas e imediatas
para tratar os conflitos cotidianos nas UCs espalhadas pelo país.
Apesar destes aspectos negativos, Moraes & Santos (2002) ressalta que a Lei do SNUC
possui grande contribuição ao ordenamento jurídico nacional. E por fim, Martins (2012) destaca
que a implantação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação permitiu a consolidação da
política de gestão do território natural, homogeneizando as políticas públicas e organizando
ambientalmente áreas valiosas dos pais, especialmente na Mata Atlântica e Amazônia, mas ao
mesmo tempo, permitiu uma institucionalização de conflitos ambientais e disputas territoriais em
detrimento da obtenção de recursos nestes espaços.
Nessa concepção, os estudos realizados nas diversas UCs devem estar compatíveis com
o histórico de construção destas áreas e de suas políticas de conservação, visando compreender
a relação destas com a comunidade local, seu estado de conservação, utilização e fiscalização.

CONCLUSÕES

O crescimento do SNUC nos últimos 12 anos é inegável. Com as diversas discussões


sobre a questão ambiental no mundo, certamente essa expansão será ainda maior e a projeção
para seus próximos anos, apresentará uma maior proporção. Observou-se que, embora o sistema
tenha crescido, muitas divergências precisam ser resolvidas, e as UCs precisam ser estabelecidas
a fim de cumprir o objetivo de conservação ambiental, ao invés, de serem carregadas por
objetivos políticos ou midiáticos. Questões como a presença humana e a ausência de uma gestão
eficaz são outros pontos que merecem destaque para avaliação.
Por fim, as unidades de conservação através do SNUC apesar de toda a problemática, tem
auxiliado direta ou indiretamente o país na conservação de seus recursos naturais. E neste
sentido, deve-se permanecer, de modo que o sistema seja ampliado com a garantia da qualidade
e do cumprimento de seus objetivos em território nacional. Observa-se que o trabalho apresentou
importância, não tanto por discorrer a legislação, objetivos, tipos e características do SNUC, pois
tais informações podem ser reconhecidas em diversos trabalhos, mas seu diferencial consiste

N
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LOPES, E. R. N. 

numa discussão da atual situação do SNUC e das UCs no Brasil, em especial após os dez anos
de sua implantação.
Trabalhos desta característica devem ser reconhecidos periodicamente pelo meio
acadêmico de forma que possam maximizar o conhecimento sobre o quantitativo e a situação
destas unidades de conservação no país.

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