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A História anímica da humanidade e sua relação com o

desenvolvimento da memória
[ Extraído e adaptado da palestra proferida por Rudolf Steiner em 24 de dezembro de 1923,
contida no livro “A História Universal à Luz da Antroposofia” ]

1- Introdução

Toda pessoa que pense com mais profundidade deveria formular a seguinte
pergunta: “Como a configuração atual, a disposição atual da alma humana surgiu de
uma evolução de tão longa duração ?”.

Afinal, não se pode negar que somente podemos compreender o presente


quando procuramos entender seu surgimento a partir do desenvolvimento em
tempos passados.

De início, imaginamos que assim como o ser humano se apresenta hoje em


relação à sua vida anímico-espiritual, ele tenha sido, em essência, durante todo
o período histórico. É verdade, que em relação ao que é considerado
genuinamente científico, imagina-se que em tempos antigos as pessoas eram
infantis, acreditando em toda espécie de fantasias, e que apenas recentemente
elas se tornaram realmente inteligentes.

Se, no entanto, deixarmos de lado a mentalidade científica, imaginamos que o


ser humano de hoje possui, de um modo geral, um estado de alma semelhante
ao dos gregos, dos orientais. Mesmo admitindo que possa ter havido pequenas
transformações na vida anímica, acredita-se que durante o período histórico
tudo era como hoje.

Supondo-se que a vida da era histórica regrida a tempos pré-históricos, afirma-


se que faltam conhecimentos verdadeiros. Remontando ainda mais, imagina-se
o ser humano em sua configuração animalesca.

Retrocedendo na história, imagina-se a vida anímica praticamente inalterada;


depois a imagem desaparecendo na névoa; e finalmente o ser humano na
imperfeição animalesca, algo como um ser simiesco melhorado.

Esta é a imagem que se costuma fazer atualmente. Ela repousa numa


extraordinária parcialidade, pois não se procura conhecer as diferenças
profundas que já existem no estado de alma do ser humano atual e o de uma
época relativamente nem tão longínqua, digamos, nos séculos XI, X, IX d.C.

Atenção: Não se considera a grande diferença entre o estado anímico de um


ser humano atual e o de um contemporâneo do Mistério do Gólgota, ou mesmo
de um antigo grego.

Quando retrocedemos ao mundo oriental, no qual a Grécia era uma espécie de


colônia, chegamos a constituições anímicas totalmente diversas das do ser
humano atual. Quero mostrar por meio de exemplos, de situações reais, como
o ser humano que vivia no Oriente, digamos, 10 mil ou 15 mil anos atrás, era
totalmente diferente do grego ou de nós mesmos.
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2 – A constituição anímica atual

Coloquemos nossa própria vida anímica diante do olhar anímico.


Selecionemos um aspecto qualquer de nossa vida anímica.

* Temos uma experiência qualquer.


* Dessa experiência, da qual participamos mediante os nossos sentidos ou
nossa personalidade, formamos uma ideia, um conceito, uma representação
mental.
* Conservamos essa representação em nosso pensar, e depois de algum
tempo ela pode emergir do nosso pensar em nossa vida anímica consciente,
sob forma de recordação.

Suponhamos que hoje os senhores se recordem de uma vivência qualquer que


os remeta à sua vivência percebida, talvez, 10 anos atrás. Procurem
compreender o que isso realmente significa.

Os senhores vivenciaram algo 10 anos atrás. Suponhamos que há 10 anos


atrás os senhores vivenciaram uma comunidade de pessoas, formaram
representações mentais de cada uma dessas pessoas, de sua fisionomia, etc.
Os senhores vivenciaram o que cada uma lhes disse, o que fizeram em comum
e assim por diante.

Hoje, tudo isso pode surgir como uma imagem diante dos senhores. Trata-se
de uma imagem anímica interior do acontecimento de 10 anos atrás, que existe
dentro dos senhores. Dizemos então a nós mesmos que aquilo que existe
como recordação de um evento está localizado na cabeça.

3 – A constituição anímica no Oriente remoto


3.1 A vivência da cabeça

Façamos agora um salto bastante grande na evolução da humanidade, e


observemos as populações das regiões orientais, das quais os chineses,
hindus e assim por diante, descritos pela história, são meros descendentes.

Atenção: Remontemos, pois, realmente alguns milhares de anos. Observando


uma pessoa daquelas épocas passadas, ela não vivia de modo a poder dizer
que em sua cabeça estivesse a lembrança de algo que tivesse experimentado
na vida exterior. Ela não tinha essa experiência interior. Ela não tinha
pensamentos, ideias preenchendo a sua cabeça. [...] Não vivenciavam esse
conteúdo abstrato em suas cabeças.

Entretanto, por mais grotesco que isso possa parecer, eles vivenciavam a
cabeça inteira, eles simplesmente percebiam, vivenciavam suas cabeças. [...]
Não sabiam o que era vivenciar ideias dentro da cabeça, mas eram capazes de
vivenciar a própria cabeça.
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Quando os senhores têm essa imagem de recordação com a vivência, os


senhores relacionam essa imagem de recordação com a vivência. Assim como
existe uma relação da sua imagem de recordação com a vivência exterior,
aquelas pessoas relacionavam a experiência de sua cabeça com a Terra, com
a Terra inteira.

Elas diziam “No Universo existe a Terra, eu existo no Universo, e eu possuo


minha cabeça. E essa cabeça que eu carrego sobre os ombros é a recordação
cósmica da Terra. A Terra já existia antes, minha cabeça veio a existir mais
tarde. O fato de eu possuir uma cabeça constitui a lembrança, a recordação
cósmica da existência da Terra. Esta continua existindo; no entanto, toda a
configuração, toda a conformação da cabeça humana tem uma relação com a
Terra inteira.”

Assim como o ser humano moderno relaciona uma imagem da recordação à


sua vivência, aquela pessoa relacionava sua cabeça toda com o planeta
terrestre. Podem notar que essa concepção interior do ser humano era bem
diferente.

[...] Nesses tempos antigos, todas as pessoas consideravam particularmente


importante, e mesmo essencial, a região onde elas mesmas viviam. Então, um
antigo oriental considerava uma parte qualquer da superfície terrestre como
sendo sua; embaixo estava a Terra, em cima, o entorno voltado em direção ao
Sol. O restante da terra, à esquerda e à direita, à frente e atrás, perdia-se em
contornos menos nítidos.

Portanto, quando um antigo oriental que vivesse, por exemplo, na Índia, tivesse
considerado esse solo indiano como particularmente importante para ele, o
restante que havia na Terra, a Oeste, a Leste, ao Sul, desaparecia para ele em
algo de caráter genérico. [...]
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Atenção: Ele achava extremamente significativo o que emanava dessa região


da Terra para o Espaço Cósmico. Hoje em dia, raramente as pessoas se
perguntam como se respira numa determinada região. Na realidade, o antigo
oriental tinha uma vivência profunda, justamente em conformidade com a
maneira como ele podia respirar.

3.2 A vivência do coração

O ser humano considerava a Terra inteira como aquilo que vive em sua
cabeça. Ora, a cabeça está fechada por paredes ósseas duras na parte
superior, nos lados e atrás. No entanto, ela possui algumas saídas, ela se abre
livremente para baixo, em direção ao tórax.

Isso era extremamente importante para o ser humano antigo; sentir como a
cabeça se abre de modo relativamente livre em direção ao tórax. Essa pessoa
sentia a configuração interior da cabeça como imagem da Terra.

Se ela tinha que relacionar a Terra com sua cabeça, ela tinha de sentir o
entorno, aquilo que se encontra acima da Terra, com o que nela própria se
abre para baixo. Essa abertura para baixo, voltar-se em direção ao coração, o
ser humano sentia como associado ao entorno, como imagem, como abertura
da Terra em direção ao Cosmo.

Para ele, era uma vivência poderosa quando afirmava: “Em minha cabeça eu
sinto a Terra inteira, essa cabeça é uma pequena Terra. Mas essa Terra inteira
abre-se em direção ao meu tórax, que sustenta o meu coração. O que se
passa entre minha cabeça e o meu tórax e meu coração é uma imagem daquilo
que de minha vida se dirige ao Cosmo, ao entorno voltado para o Sol.”

Assim o ser humano atingiu o que em tempos antigos correspondia à esfera


dos nossos sentimentos.

Nós ainda possuímos a vida de sentimentos abstratas, e nada sabemos


diretamente do nosso coração. Acreditamos saber algo a respeito dele pela
anatomia, pela fisiologia. No entanto, esse conhecimento equivale
aproximadamente àquele que temos de uma cópia do coração feita em papel
marchê.

Nós relacionamos nosso sentimento com o mundo no qual vivemos; sentimos


se amamos uma pessoa, se temos antipatia por alguém, se gostamos desta ou
daquela flor, se temos aversão a outra qualquer. Relacionamos nosso
sentimento com o mundo, porém um mundo que foi arrancado, por assim dizer,
como abstração aérea, do universo sólido real.

Entretanto, o antigo ser humano oriental relacionava seu coração com o


Cosmo, ou seja, com aquilo que emanava da Terra para o entorno, em direção
ao Sol.
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3.3 A vivência dos membros

Atenção: Hoje em dia, quando andamos, dizemos, por exemplo: “Nós


queremos andar”, nós sabemos que nossa vontade vive em nossos membros.
O ser humano do antigo Oriente tinha uma vivência bem diferente, pois ele não
conhecia o que hoje chamamos de vontade. Não passa de mero
prejulgamento acreditarmos que os antigos povos orientais possuíam o que
nós chamamos de pensar, sentir, querer. Isso não existia naquela época. Eles
tinham vivências da cabeça, que na realidade eram vivências da Terra;
vivências do tórax ou do coração, que eram vivências do entorno imediato até o
Sol.

Eles sentiam, porém, que se esticavam para dentro dos membros, eles
percebiam sua própria humanidade quando moviam as pernas e os pés, os
braços e as mãos. Eles estavam dentro de seus membros.

Quando esticavam com sua essência íntima para dentro de seus membros,
eles não sentiam apenas uma imagem do entorno da Terra, porém sentiam de
modo imediato uma imagem da relação do ser humano com o mundo dos
astros.

Diziam: “Na minha cabeça tenho uma imagem da Terra. Naquilo que se
estende livremente da cabeça para baixo, até o tórax e o coração, eu tenho
uma imagem do que existe no entorno da Terra. Nas forças dos braços e das
mãos, das pernas e dos pés, tenho a imagem da relação que a Terra tem com
os astros distantes do Universo.”

Portanto, naqueles tempos antigos a pessoa que quisesse expressar suas


vivências enquanto pessoa volitiva, como diríamos hoje, não teria dito: “Eu
ando.” As próprias palavras não conseguiriam expressá-lo. Tampouco ela diria:
“Eu me sento.”

Se fôssemos investigar as antigas línguas sob o aspecto desses conteúdos


sutis, encontraríamos por toda parte que, para o fato que nós designamos
pelas palavras: “eu ando”, o antigo ser humano oriental diria: “Marte me
impulsiona; Marte atua dentro de mim”.

* Caminhar para frente era a sensação dos Impulsos de Marte nas pernas.
* Pegar algum objeto, sentir com as mãos, era expresso por: “Vênus atua em
mim”.

* Apontar para algo, dar uma indicação, mesmo que uma pessoa grosseira
quisesse indicar algo para dando-lhe um chute, qualquer indicação era
expressa dizendo que Mercúrio estava atuando nessa pessoa.

* Sentar-se era atividade de Júpiter;


* e deitar-se, seja para descansar, seja por preguiça, era expresso quando se
dizia que a pessoa estava se entregando aos impulsos de Saturno.
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Atenção: Ou seja, as pessoas sentiam em seus membros as amplidões do


Cosmo exterior. [...] Em sua cabeça, ele está na Terra; em seu tórax e coração,
no entorno; em seus membros, lá fora, no Cosmo Estelar.

4 – O desenvolvimento da memória

Justamente pelo fato de colocarmos o nosso mísero pensar no lugar da nossa


cabeça, temos a possibilidade de ter recordações mentais. Nós formamos
imagens conceituais daquilo que vivenciamos, sob forma de recordações
abstratas em nossa cabeça. Isso não era possível a quem ainda não tinha
pensamentos, mas sentia sua cabeça; essa pessoa não era capaz de formar
recordações.

4.1 Memória local [ ou memória espacial ]

Se, então, chegássemos àquelas regiões do antiquíssimo Oriente, onde as


pessoas ainda tinham consciência de suas cabeças, mas não tinham
pensamentos e, consequentemente, recordações, encontraríamos algo
especialmente formado, que novamente estamos necessitando.

Quando, na época à qual estou me referindo, se chegava às regiões onde


viviam pessoas que tinham essa consciência, da sua cabeça, do seu tórax, do
seu coração e dos seus membros, como acabei de descrever, podia-se notar
em toda parte uma pequena estacada fincada na terra e algum símbolo
colocado em cima, ou um símbolo colocado numa parede qualquer. Todas as
áreas em que se vivia, todas as localidades onde havia pessoas, estavam
repletas de marcos simbólicos, pois ainda não existia uma memória mental.

Quando acontecia algo, colocava-se no local um pequeno monumento, e


quando se voltava a esse local, a marcação fazia reviver o acontecimento
original, pois havia essa interligação da cabeça da pessoa com a Terra. [...]
Naquele tempo não se faziam anotações mentais, pois ainda não existiam
pensamentos ou ideias; em toda parte havia marcos recordativos. Dessa
disposição natural do ser humano surgiu a essência dos monumentos.

Atenção: Tudo o que surgiu na história evolutiva da humanidade foi


determinado pelo interior da natureza humana. Deveríamos apenas ser
honestos e confessar que o ser humano atual ignora o fundamento mais
profundo da essência dos monumentos.

Os monumentos são resquícios daqueles antigos marcos recordativos dos


tempos em que o ser humano não possuía uma memória como a de hoje, mas
dependia dessa marcação no lugar onde tivera uma vivência para quando
retornasse ao mesmo lugar, deixá-la voltar a viver em sua cabeça, pois ela
permitia reviver tudo o que estava ligado à Terra. Entregamos à Terra o que a
cabeça vivenciou: este era o princípio em tempos passados.

A memória não era interiorizada, ela estava lá fora, em toda parte havia
“anotações”, havia marcos em pedras. Esta era a memória localizada, a
recordação localizada.
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4.2 Memória rítmica

Numa segunda fase, o ser humano passa da memória localizada para a


memória rítmica. Temos, portanto, primeiro a memória relacionada com o
lugar, em seguida a memória relacionada com ritmos. Aí o ser humano sentiu a
necessidade de viver no ritmo, não por alguma sutileza consciente esperta
qualquer, mas partindo de sua essência íntima.

Ele desenvolveu a necessidade de reproduzir em seu interior o que tinha


escutado, de tal modo que surgisse um ritmo. Quando vivenciava uma vaca,
ele não a chamava simplesmente “mu”, mas “mu-mu” ou até mesmo, em
épocas mais remotas, “mu-mu-mu”.

Em outras palavras, ele encadeava o que tinha percebido de tal maneira, que
disso resultasse um ritmo. Isso ainda pode ser encontrado hoje em algumas
formações de palavras, como por exemplo “titia” ou “bombom”. Ou, então,
quando as formações de palavras não estão diretamente encadeadas, os
senhores podem notar como, ao menos nas crianças, ainda se evidencia essa
necessidade de fazer essas repetições.

Trata-se de uma reminiscência do tempo em que a lembrança rítmica tomou


vulto, quando as pessoas não se lembravam do que era apenas vivenciado,
mas lembravam somente o que era vivenciado ritmicamente, na repetição, ou
seja, por meio de repetições rítmicas. Na verdade, foi dessa memória rítmica
que se desenvolveu toda a Arte antiga da versificação; na realidade, toda a
poesia em versos.

4.3 Memória temporal

Somente numa terceira fase surgiu o que conhecemos ainda hoje: a memória
temporal. Nela, não temos o ponto de referência da recordação no espaço do
mundo exterior, nem dependemos mais do ritmo, mas podemos tornar
presente, posteriormente, o que se coloca no tempo. Essa nossa memória
totalmente abstrata é apenas o terceiro passo na evolução da capacidade de
recordar.

Nela evocamos em imagem o que é possível evocar; se quisermos que nossa


vivência volte, isso não mais requer que tenhamos que despertar algo por meio
da repetição rítmica, numa atividade semi consciente ou mesmo totalmente
inconsciente.

4.4 A transição da memória rítmica para a memória temporal

Procurem esse momento da transição da recordação rítmica para a memória


temporal, e descobrirão que foi quando o antigo Oriente começou a colonizar a
Grécia, o período que a história relata como o do surgimento das colônias
fundadas pela Ásia.
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O que os gregos narram daqueles heróis que, vindo da Ásia e do Egito, se


estabeleceram em solo grego é, na verdade, a narrativa de que certa vez os
grandes heróis deixaram o país onde reinava a memória rítmica e procuraram
um ambiente no qual a memória rítmica pudesse evoluir para a memória
temporal, para a lembrança temporal.

Atenção: Desse modo apontamos com precisão o momento em que surgiu a


cultura grega, pois, o que no Oriente constituiu o berço da civilização grega é,
na realidade, uma região com uma memória rítmica bem estruturada. Ali vivia
o ritmo. Somente quem imagina o antigo Oriente como a região do ritmo
consegue compreendê-lo corretamente.

Se o 'Paraíso' remonta apenas ao tempo considerado pela Bíblia, e se o


localizarmos na Ásia, temos de imaginá-lo como um lugar onde os ritmos mais
puros soavam pelo Cosmo, desencadeando, por sua vez, a memória rítmica
do ser humano; ali ele vivia como alguém que vivenciava o ritmo num Cosmo
que produzia o ritmo.

Procurem sentir ainda na Bhagavad-Gita os ecos do que outrora foi aquela


grandiosa vivência dos ritmos, procurem senti-la na literatura dos Vedas, e até
na poesia e literatura da Ásia Ocidental, se nos é permitido usar esse termo
moderno. Atenção: Ali vivem os ecos do ritmo que antigamente permeava toda
a Ásia como um conteúdo majestoso, que se espelhava no tórax humano, no
coração humano, como o segredo do entorno da Terra.

4.5 A transição da memória espacial para a memória rítmica

Depois retrocedemos a tempos ainda mais antigos, nos quais a memória


rítmica segue retrogradamente para a memória espacial, época em que os
seres humanos ainda não possuíam recordações rítmicas, quando
dependiam da colocação de marcos de recordação nos lugares onde tinham
vivenciado algo.

Atenção: Se não estivessem neste local, não necessitavam disso; se voltassem


a essa localidade, tinham de se lembrar. Contudo, não eram eles que se
lembravam; era o 'marco', a Terra, que os fazia recordar. [...] O ser humano
convivia inteiramente com a Terra, sua memória estava totalmente ligada a ela.
O Evangelho se refere a isso apenas num trecho: quando narra que o Cristo
Jesus inscreve algo no solo.

JOÃO, 8:3-11 A MULHER ADÚLTERA


3 - Os escribas e os fariseus trouxeram a Jesus uma mulher apanhada em adultério.
Puseram-na de pé no meio do grupo,
4 - e disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em adultério.
5 - Na lei nos ordenou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas. Ora, o que dizeis ?
6 - Eles usavam esta pergunta como uma armadilha, para terem de que acusá-lo. Mas
Jesus se inclinou, e começou a escrever na terra com o dedo.
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7 - Como insistissem na pergunta, ele se endireitou e disse: Aquele que dentre vós está
sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra.
8 - Inclinando-se novamente, escrevia na terra.
9 - Quando ouviram isto, foram-se retirando um a um, a começar pelos mais velhos,
até que ficou só Jesus e a mulher no meio onde estava.
10 - Jesus endireitou-se, e disse: Mulher, onde estão eles ? Ninguém te condenou ?
11 - Respondeu ela: Ninguém, Senhor. Disse Jesus: Nem eu te também te condeno. Vai,
e não peques mais.

Registramos um momento que marcou a transição da memória localizada em


recordação rítmica.
É o momento no qual, durante o desaparecimento da antiga Atlântida, os
antiquíssimos povos pós-atlânticos migraram do Oeste para o Leste, para a
Ásia, temos primeiro a migração da antiga Atlântida, que hoje é o fundo do
Oceano Atlântico, em direção à Ásia [ ver figura abaixo] e em seguida a migração
da civilização em sentido contrário, avançando em direção à Europa.

* Na migração dos povos atlânticos em direção à Ásia temos a transição da


memória localizada para a memória rítmica, que teve seu apogeu na vida
cultural asiática.

* Posteriormente, durante a colonização da Grécia, temos a transição da


memória rítmica para a memória temporal, que ainda carregamos em nós.

Toda a civilização entre a catástrofe atlântica e a cultura grega reside nessa


evolução da memória que, em caráter mais lendário e mitológico do que
histórico, contém tudo o que ressoa até nós, proveniente da antiga Ásia.
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Atenção: Não podemos conhecer a evolução do ser humano na Terra


focalizando os aspectos exteriores das coisas, examinando documentos
exteriores, porém, considerando a evolução daquilo que vive dentro do ser
humano, como a faculdade de lembrar desenvolveu-se do exterior para o
interior.

Somente por deixarmos essa transformação anímica da humanidade passar


diante de nossas almas, podemos compreender todo o significado da evolução
histórica da humanidade.

Somente quando observarmos algo desse modo, lança-se uma luz sobre a
história. Eu queria mostrar, primeiramente, por meio de um exemplo, como se
passa a história anímica da humanidade em sua relação com a capacidade de
lembrar.

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