Você está na página 1de 23

Kelly 

Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

  DOI: http://dx.doi.org/10.17793/rjc.v1i1.378

11. A RELAÇÃO ENTRE OS SIGNOS E O VINHO NA HISTÓRIA 
 

Kelly Lissandra Bruch1 

Homero Dewes2 

 
RESUMO 
 
Desde  o  período  pré‐histório,  o  homem  já  se  identificava,  marcava  seus  pertences  e 
escrevia  sua  trajetória  por  picturas  e  sinais.  O  presente  trabalho  refere‐se  à  evolução 
que pode ser verificada no uso de signos para distinguir produtos, identificar sua posse, 
indicar  sua  origem.  Sem  o  objetivo  de  uma  análise  exaustiva,  o  que  se  busca  é 
demonstrar, por meio da descrição de fatos considerados relevantes, como o uso dos 
signos distintivos de origem se deu na Antiguidade, na Idade Média e na Modernidade.  
 
PALAVRAS‐CHAVE: marcas, vinhos, denominação de origem 
 
ABSTRACT 
 
Since  the  pre‐historic  period,  the  man  use  to  identify  himself,  marking  his  belongings 
and writing his history by pictures and signs. This paper refers to the evolution that can 
be  observed  in  the  use  of  signs  to  distinguish  products,  identify  their  possession, 
indicate  their  origin.  Without  the  goal  of  a  complete  analysis,  the  aim  of  this  study  is 
demonstrate,  through  the  description  of  facts  deemed  relevant,  how  the  use  of 
distinctive signs of origin occurred in antiquity, the Middle Ages and Modernity. 
 
KEYWORDS: trademarks, vines, appelation of origin

1
 Doutora em Direito pela Université Rennes I, France em co‐tutela com a UFRGS. Graduada em Direito pela 
Universidade  Estadual  de  Ponta  Grossa  (2001),  Especialista  em  Direito  e  Negócios  Internacionais  pela  UFSC 
(2004),  Mestre  em  Agronegócios  pelo  CEPAN/UFRGS  (2006).  Consultora  jurídica  do  Instituto  Brasileiro  do 
Vinho  IBRAVIN  desde  2005.  Consultora  técnica  do  Instituto  Rio  Grandense  do  Arroz  IRGA  desde  2010. 
Professora da Faculdade Iguaçu, professora do MBA em Gestão e Comercialização para a Cadeia do Arroz do I‐
UMA, professora colaboradora no Programa de Mestrado Profissional em Biotecnologia e Gestão Vitivinícola 
da UCS, membro da Comissão Especial de Propriedade Intelectual da OAB/RS, expert indicada pelo Governo 
Brasileiro  junto  à  Organização  Internacional  da  Uva  e  do  Vinho  OIV,  associada  ao  Conselho  Nacional  de 
Pesquisa  e  Pós‐Graduação  em  Direito  CONPEDI,  integrante  do  Grupo  de  Pesquisa  Pluralité  des  signes  de 
qualité et ajustements institutionnels en France et au Brésil projeto integrante do convênio CAPES‐COFECUB, 
membro  do  corpo  editorial  e  revisora  de  vários  periódicos,  além  de  autora  de  diversos  artigos  na  área  de 
propriedade  intelectual  e  agronegócios.  Bolsista  de  Pós‐doutrado  Júnior  do  CNPq  e  Pós‐Doutoranda  em 
Agronegócios CEPAN/UFRGS. 
2
 Professor orientador de mestrado e doutorado no Programa de Pós‐Graduação em Agronegócios e Diretor 
do  Centro  de  Estudos  Interdisciplinares  em  Agronegócios  na  Universidade  Federal  do  Rio  Grande  do  Sul. 
Possui doutorado em Biologia ‐ University of California Los Angeles (1987), Pré e pós‐doutorado em análise de 
proteínas  no  Instituto  Max‐Planck  de  Bioquímica,  Mastinsried‐Munique, mestrado  em  Ciências  Biológicas 
(Bioquimica)  pela  Universidade  Federal  do  Rio  Grande  do  Sul  (1975), possui  graduação  em  Farmácia 
Bioquímica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1971), graduação em Farmácia pela Universidade 
Federal do Rio Grande do Sul (1969). 
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 151
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

   

   

Introdução   

  Este  estudo  desenvolve‐se    mediante  uma  dentre  inúmeros  outros.9 Alguns  autores  vão 
breve  análise  da  história  que  interliga  o  ser  mais  longe  e  encontram  na  pré‐história 
humano,  o  uso  de  signos, 3  os  signos  signos  com  significados  relacionados  à 
distintivos  de  origem 4  e  a  vitivinicultura. 5  origem.10 
Nesse  sentido,  aborda‐se,  de  maneira  mais 
pontual,  o  histórico  que  levou  à  criação,  à  Mesmo  na  Antiguidade  pré‐clássica 
consolidação  e  à  delimitação  dos  signos  podem  ser  encontradas  referências  a  esse 
distintivos  de  origem.  Assim,  inicia‐se  com  a  tipo de signos, como no Código de Hamurabi, 
presença dos signos distintivos de origem na  notadamente,  em  dois  dispositivos  que 
Antiguidade,  para,  em  um  segundo  tratavam  da  proteção  de  ativos  intangíveis 
momento,  considerá‐los  no  percurso  da  diferenciadores  (gênero  do  qual  os  signos 
Idade  Média,  finalizando  com  a  sua  incursão  distintivos constituem uma das espécies).11  
na  Modernidade,  à  qual  se  acrescentam 
alguns  tópicos  relevantes  dos  tempos  atuais  Nas  Cidades‐Estado  da  Mesopotâmia 
que  servem  de  base  para  a  compreensão  do  do  século  XX  a.C.  e  seguintes,  havia  intenso 
período contemporâneo.  comércio  promovido  por  particulares  em 
busca  de  ganhos  privados.12 Essa  prática  de 
  comércio  necessitava  de  um  sistema  de 
registro que tinha duas finalidades: anotar as 
1 – Dos tempos imemoriáveis à Antiguidade  quantidades e mercadorias trocadas e saber a 
quem  cobrar  se  houvesse  algum 
Desde  os  primórdios,  o  ser  humano  descumprimento  nas  trocas.  Para  essas 
busca  “[...]  atribuir  status  de  propriedade  a  necessidades  básicas,  criaram‐se  signos 
produtos  da  mente”. 6  Os  artesãos  livres  distintivos  que  identificavam  tanto  os 
usavam  símbolos  que  distinguiam  seus  produtos  comercializados  quanto  os 
produtos, bem como segredos de manufatura  compradores e vendedores.  
e  produção  de  determinados  objetos  que 
eram  preservados  no  seio  das  famílias  Esses signos, como o selo cilíndrico de 
13
durante  gerações.  Isso  pode  ser  encontrado  Uruk,  que  data  de  cerca  de  3200  a  3000 
na  cultura  das  mais  diversas  civilizações  da  a.C.,  possuíam  uma  função  básica:  dizer  a 
Antiguidade.  Conforme  já  citado,  no  Antigo  quem pertencia o produto.14 Aos poucos, tais 
Testamento  da  Bíblia  cristã,  por  exemplo,  signos  foram  sendo  aperfeiçoados  para 
encontram‐se  indicações  de  sinais  distintivos  informar  de  onde  vinha  o  produto,  quem  o 
de origem para o vinho7 e o cedro do Líbano,8   havia  comprado  e  até  mesmo  para  apor 
dados  mais  precisos  sobre  o  fabricante  do 

3 9
 Vide SANTAELLA, 2004.   Vide VIVEZ, 1943. p. 5 e 6. 
4 10
 Vide  PROT,  1997;  VIVEZ,  1932;  VIVEZ,  1943;   CARVALHO, 2009. p. 468‐470. 
11
PLAISANT, 1932; dentre outros.   CARVALHO, 2009. p. 470. 
5 12
 Vide JOHNSON, 1990; GARRIER, 2008; VIDAL, 2001.   CARVALHO, 2009. p. 471. 
6 13
 VARELLA, 1996. p. 26.   Utilizado  para  marcar  uma  bola  de  barro  que 
7
 BÍBLIA, 1993, OSEIAS, XIV, 7.  fechava sacos de grãos. 
8 14
 BÍBLIA, 1993, Cânticos, III, 9, e Reis, V. 6.   CARVALHO, 2009. p. 471‐473. 
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 152
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

produto e suas qualidades.   produtos diferenciados, justamente, pela sua 
origem, como o bronze de Corinto, os tecidos 
Mesmo  onde  a  troca  de  bens  era  da  cidade  de  Mileto,  as  ostras  de  Brindisi,  o 
gerida  pelos  representantes  dos  templos  ou  mármore  Carrara,  as  estatuetas  de  Tânagra 
palácios,  como  foi  o  caso  do  Egito, 15  havia  feitas  de  terracota,  os  tecidos  de  Sídon  e  as 
signos,  na  forma  de  selos,  que  buscavam  espadas  de  Cálcis. 18  Eram  especialmente 
atestar a origem e a qualidade dos produtos,  conhecidos,  em  Roma,  os  vinhos  de 
especialmente,  dos  vinhos.  E  havia  punições  Falernum, 19  de  Alba  e  de  Sorrento, 20  que 
exemplares  para  a  violação  do  uso  desses  antes  de  indicar  apenas  o  produtor, 
signos,  como  pode  ser  verificado  na  “lei  n.  significavam  a  procedência  e  a  qualidade  do 
227 do Código” de Hamurabi.16  produto.21 

Na  presente  seção  primeiramente  Pode‐se  encontrar,  nesse  período, 


aborda‐se  a  tratativa  dos  signos  na  Grécia  e  signos que, normalmente, apresentavam dois 
em  Roma  (2),  com  o  objetivo  de  tipos  de  símbolos:  o  nome  do  fabricante 
compreender  como  estas  duas  civilizações  (relacionado  ou  não  com  uma  figura)  e  o 
contribuíram para a construção do uso destes  epônimo,  ou  nome  do  magistrado  que 
(2).  certificava  a  exatidão  do  volume  da  ânfora. 
Em  Roma,  utilizava‐se  a  sigla  RPA  –  res 
  publica augustanorum –, inscrita nas ânforas 
de  barro  fabricadas  nos  fornos  do  fisco 
1.1 – Gregos e Romanos 
romano, as quais possuíam dimensões exatas 
Na  Grécia  e  em  Roma 17
,  havia  e poderiam servir para fazer as arrecadações 

século  V  d.C.  e  que,  de  maneira  convencional, 


15
 ALMEIDA, 2010. p. 18.  marca o início da Idade Média. 
16 18
 “227.  Se  alguém  enganar  um  barbeiro,  e  fazê‐lo   ALMEIDA,  2001.  Embora  estes  exemplos  já  sejam 
marcar  um  escravo  que  não  está  à  venda  com  o  comuns  para  quem  trabalha  com  o  tema,  vide, 
sinal  de  escravo,  este  alguém  deverá  ser  especialmente,  VIVEZ,  1943;  CARVALHO,  2009; 
condenado  à  morte,  e  enterrado  na  sua  casa.  O  ALMEIDA, 2010. 
19
barbeiro  deverá  jurar  "Eu  não  fiz  esta  ação  de   Audier faz um breve e interessante resumo sobre a 
propósito" para ser eximido de culpa”. CARVALHO,  percepção  acerca  do  vinho  de  falerno:  “Un 
2009. p. 477. Efetivamente, o autor faz um passeio  souvenir  personnel  peut  illustrer  cette  catégorie: 
impressionantemente detalhado do uso dos signos  en  1947  le  commandant  COUSTEAU,  alors 
não  só  nesse  período,  mas  em  toda  a  história.  débutant,  a  dirigé  des  plongées  d’archéologie 
Optou‐se por ressaltar este trecho, posto que, em  sous‐marine  sur  le  tombant  du  Grand  Conglué,  à 
regra,  os  autores  começam  a  tratar  de  signos  a  proximité immédiate de Marseille, pour fouiller un 
partir  da  Bíblia,  da  Grécia  e  de  Roma,  sem  navire grec antique. Le résultat des fouilles permit 
considerar  a  diversidade  já  existente  mesmo  d’établir  que  du  vin  de  Falerne  (Falernum)  était 
anteriormente  a  essa  época.  Almeida,  2010,  transporté  par  le  propriétaire  du  navire  Maarkos 
apresenta algumas linhas sobre esse período, mas  Sestios.  Ce  résultat  scientifique  fut  la  base  d’un 
efetivamente  é  Carvalho,  2009,  que  explora  mais  roman « Le journal de bord de Maarkos Sestios », 
detidamente o período pré‐clássico.  écrit par l’un des plongeurs, ce qui valut un procès 
17
 O  período  romano,  no  presente  trabalho,  à  son  auteur  accusé  d’utiliser  les  résultats  des 
compreende  a  Roma  Antiga,  que  se  integra  à  fouilles  sans  autorisation.  La  Cour  de  cassation 
Antiguidade  Clássica,  juntamente  com  a  Grécia  donna raison au plongeur car les idées ne sont pas 
Antiga,  iniciando‐se  no  século  VIII  antes  de  Cristo  susceptibles  d’appropriation.  Mais  le  "Falerno  del 
(a.C.),  englobando,  portanto,  o  período  da  Massico"  actuel  de  la  Campanie,  n’a  plus  rien  à 
Monarquia (753 a.C. ‐ 509 a.C), da República (509  voir  avec  le  Falernum  antique.”  AUDIER,  2008.  p. 
a.C. ‐ 27 a.C.) e do Império Romano (27 a.C. ‐ 476  408.  
20
depois  de  Cristo  (d.C))  e  finalizando‐se  com  o  fim   ALMEIDA, 2010. p. 25. 
21
do  Império  Romano  do  Ocidente,  ocorrido  no   PÉREZ ÁLVAREZ, 2009. 
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 153
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

do fisco em volume de vinho, por exemplo.  inclusive,  a  nomes  do  que,  necessariamente, 


a uma localidade.25 
Em regra os signos eram gravados nas 
ânforas  de  barro  (principal  meio  de  Verifica‐se,  já  nesse  período,  a 
transporte,  inclusive,  de  vinhos), 22  presença  de  algumas  funções  para  tais 
especialmente em suas asas, utilizando‐se de  signos:  identificar  o  produto  para  os 
sinetes  (espécies  de  selos  de  pedra  com  distribuidores  e  consumidores  e  servir‐lhes 
desenhos diferenciados), enquanto elas ainda  de  referência  para  a  comparação  com 
estavam  úmidas,  antes  do  seu  cozimento.  mercadorias  concorrentes.  O  que  diferencia 
Isso  fazia  com  que  não  se  “certificasse”  o  os signos antigos dos contemporâneos é que 
conteúdo,  mas  a  embalagem.  Todavia,  eles, hoje, na visão de Carvalho, deixaram de 
algumas  ânforas  foram  adquirindo  constituir  certificação  de  origem  e  de 
características  especializadas,  como  qualidade,  passando  apenas  à  função  de 
tonalidade  ou  formas  diferenciadas,  e  distinguir produtos entre si.26  
começaram a ser relacionadas com produtos 
de  melhor  qualidade,  o  que  ocasionou  a  sua  Talvez  o  adequado  seja  dizer  que 
imitação  para  se  fazer  passar  pelo  produto  houve uma partição entre as funções: hoje há 
que  normalmente  deveriam  conter.23  Trata‐ signos  que  designam  origem,  signos  que 
se de um prelúdio do que viria a ocorrer com  designam  qualidade  e  também  signos  que 
as garrafas que ainda hoje indicam vinhos de  deixaram  de  fazer  isso  ao  se  associarem  a 
determinada qualidade e que são imitadas.  nomes ou a figuras arbitrárias – as marcas de 
produtos e serviços.      
Inclusive  slogans  foram  encontrados 
nessas  ânforas,  relacionados  ao  garum  ‐   
molho  feito  com  as  vísceras  de  peixes  ‐  ao 
vinho  e  a  diversos  outros  produtos,  1.2 – A repercussão jurídica dos signos 
ressaltando  as  suas  qualidades,  o  seu 
Os  vestígios,  tais  como  as  obras 
fabricante ou a sua origem.24  
clássicas  dos  autores  gregos  e  latinos  e  os 
Em  escavações  feitas  na  região  de  textos  da  Bíblia,  cujo  valor  econômico  é 
Pompeia,  foram  encontrados  inúmeros  incontestável,  sobreviveram  aos  tempos. 
objetos  relacionados  com  o  período  romano  Desse  modo,  resta  verificar  qual  teria  sido 
e  que  possuíam  estampas  e  símbolos  sua projeção na esfera jurídica.27 
diferentes  dos  gregos,  mais  associados, 
Embora  seja  possível  identificar,  na 
22
Grécia,  o  uso  de  signos  que  poderiam 
 O  comércio  a  distância  era  bastante  desenvolvido 
diferenciar  a  origem  de  um  produto,  para 
e  havia  regiões  especializadas  em  determinados 
produtos.  No  caso  dos  vinhos,  primeiramente,  a  Ladas28,  nenhuma  evidência  demonstra  que 
Grécia  e,  depois,  Roma,  especialmente,  em  sua  esses  signos  tinham  como  objetivo  atestar 
expansão, levaram para os mais diversos lugares o  sua  propriedade  ou  autoria.  Isso  poderia 
cultivo  da  vinha,  com  destaque  para  a  região  estar  mais  ligado  a  marcas  oficiais  afixadas 
gaulesa  –  que  se  identifica,  hoje,  como  parte  da 
pelas  autoridades  públicas,  comprovando  o 
França –, mas também para a Espanha e Portugal. 
Garrier  (2008),  inclusive,  descreve  o  vinho  e  a  pagamento  de  taxas,  ou  ainda,  estar 
vitivinicultura  como  um  agente  de  romanização  relacionado  a  algum  tipo  de  monopólio 
das  regiões  conquistadas  e  como  uma  forma  de 
25
ocupação  para  os  soldados  entre  uma  batalha  e   LADAS, 1930. p. 7. 
26
outra.   CARVALHO, 2009. p. 508. 
23 27
 CARVALHO, 2009. p. 485‐495.   ALMEIDA, 2010. p. 28. 
24 28
 CARVALHO, 2009. p. 485‐495.   LADAS, 1930. p. 7.  
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 154
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

estatal.29   corporações  passaram  a  ser  vigiadas,  a 


filiação tornou‐se obrigatória como forma de 
Todavia,  para  Almeida, 30  “na  Grécia  controle,  e  o  ofício,  adquirido  por  herança. 
Antiga  já  a  aposição  de  um  sinal  pretendia  Essas  organizações  demonstram  o  caráter 
indicar uma certa proveniência (geográfica ou  cíclico que se apresenta na coordenação dos 
de  orientação  empresarial,  ainda  que  a  mercados,  posto  que,  na  Idade  Média,  elas 
produção  fosse  artesanal)  e,  ao  colocar  uma  voltam a se manifestar e, hoje, outras formas 
assinatura,  fornecer  uma  garantia  pessoal”.  de organização têm tido papéis semelhantes, 
Assim,  o  autor  afirma  que,  desde  aqueles  mas em âmbito mundial.34 
tempos,  o  signo  era  utilizado  como  um 
instrumento de concorrência.31  Certamente  o  império  romano  era 
movido  por  um  impulso  comercial  muito 
Já  naquele  período,  na  Grécia,  semelhante ao da atualidade, admitindo‐se a 
instrumentos  de  restrição  e  de  combate  à  existência,  inclusive,  de  signos  individuais; 
concorrência  desleal  foram  sendo  mas,  provavelmente,  não  havia  uma  base 
implantados:  desde  monopólios  de  legal  para  a  instituição  e  a  proteção  desses 
exploração,  que  utilizavam  selos  oficiais,  as  signos, ficando isso a cargo dos princípios da 
guildas ou corporações como a dos aeinautai,  honestidade  e  integridade  comercial, 
em Mileto, ao trust dos lagares de Azeite, em  segundo  Ladas.35 Almeida36 argumenta  que  o 
Quios,  que  buscavam  identificar  seus  que  se  tinha  era  uma  “tutela  pela  negativa”, 
produtos para não serem confundidos com os  ou  seja,  uma  tutela  contra  as  falsas 
de  falsificadores. 32  Além  dessas  restrições,  indicações.  Nesse  sentido,  poderia  se  aplicar 
também  se  criou  uma  magistratura  a  Lex  Cornelia  de  Falsis  que,  para  reprimir 
especializada  para  as  questões  comerciais,  falsificações, poderia ser utilizada em face de 
cujos  operadores,  denominados  de  falsas  indicações  de  proveniências  e 
agorânomos,  fiscalizavam  os  produtos  e  usurpação de signos individuais.37 
impunham‐lhes  um  selo  de  garantia, 
especialmente  com  relação  aos  pesos,  Para  Vivez  38 ,  nem  em  Estados  do 
medidas e origem.33  Oriente,  nem  na  Grécia  ou  em  Roma,  havia 
disposições  legais  que  regulamentassem  o 
Em  Roma,  também  foram  criadas  uso  das  “appellations”  e  as  fraudes 
corporações,  denominadas  de  collegia,  que,  relacionadas.  Salienta  o  autor  que  essas 
embora  possuíssem  natureza  religiosa  e  fraudes deveriam ser tão frequentes que uma 
social,  influenciavam  monopolisticamente  mesma  palavra  em  helênico,  χαπηλος,  por 
nas  esferas  política  e  econômica.  Na  Lei  das  exemplo,  significava,  ao  mesmo  tempo, 
XII  Tábuas,  constituir  corporações  era  livre,  cabaretier 39  e  fraudeur,  ou  seja,  a 
mas,  quando  tais  collegia  passam  a  ameaçar  denominação  daquele  que  vendia  vinho  em 
o  poder  dos  césares,  a  Lex  Iulia  de  collegiis 
vem  extingui‐las.  Depois  disso,  novas  34
 ALMEIDA, 2010. p. 34‐35. 
collegiae  só  poderiam  ser  formadas  com  35
 LADAS, 1930. p. 7. 
autorização  do  Senado  ou  do  Imperador.  Já  36
 ALMEIDA, 2010. p. 38‐39. 
37
no  denominado  baixo‐império,  as  38
 ALMEIDA, 2010. p. 38‐39. 
 VIVEZ, 1943. p. 8. 
39
 “Cabaretier est  un  métier  ancien;  c'était  le  nom 
29
 Nesse mesmo sentido, VIVEZ, 1943.  donné à une personne qui servait du vin au détail 
30
 ALMEIDA, 2010. p. 30.  et  donnait  à  manger  contre  de  l'argent.” 
31
 ALMEIDA, 2010. p. 30.  Disponível  em: 
32
 ALMEIDA, 2010. p. 32.  <http://fr.wikipedia.org/wiki/Cabaretier>.  Acesso 
33
 ALMEIDA, 2010. p. 33.  em: 01 ago 2010. 
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 155
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

copo  e  servia  comida  em  troca  de  dinheiro  existência  e  da  obrigatoriedade  de 
era  considerada  um  sinônimo  de  fraudador.  cumprimento  de  regulamentos  referentes  às 
Cita  o  autor  que  os  poetas  cômicos,  como  normas  de  fabricação  dos  produtos, 
Juvenal,  colocavam  em  cena  compradores  garantindo‐lhes alguma qualidade ou padrão. 
batendo  em  seus  fornecedores  desonestos  Os  vinhos  desse  período,  por  exemplo,  para 
que os haviam enganado sobre a origem e a  serem  consumidos,  eram  acrescidos  de 
qualidade do produto. Mas parecia que essas  especiarias,  de  água  do  mar,  entre  outros 
“sanções” privadas eram as únicas colocadas  subterfúgios,  para  que  sua  apreciação  se 
em  prática.40 Não  foram  encontrados  relatos  tornasse palatável.43 
concretos  relacionados  com  a  aplicação  de 
sanções  decorrentes  da  prática  de  fraudar  a  Certamente,  novos  estudos, 
qualidade  e,  especialmente,  a  origem  dos  notadamente  no  âmbito  da  história  do 
produtos.  direito,  poderão  auxiliar  na  compreensão 
desse  período.  Com  este  breve  relato 
Carvalho 41  pondera  que,  certamente,  procura‐se  fornecer  uma  noção  de  como 
deveria  haver  conflitos  e,  indubitavelmente,  esses  signos  distintivos  de  origem  eram 
alguma  forma  de  regulá‐los.  As  questões  utilizados  para  significar  o  próprio  objeto, 
relacionadas com o comércio, todavia, “eram  bem  como  sua  origem,  geográfica  e  fabril, 
resolvidas  pelos  ediles  curules,  magistrados  qualificando  e  distinguindo  o  produto  em 
de  categoria  inferior  que  zelavam  sobre  o  face  dos  demais.  Ressalta‐se,  contudo,  que 
funcionamento  dos  mercados  e  proferiam  essa  identificação  possuía  um  cunho 
decisões  arbitrais”.  Portanto,  como  eles  não  estritamente comercial e privado.  
inscreviam  suas  decisões  e,  provavelmente, 
nenhum  jurisconsulto  teria  julgado  esses   
temas, não há registros ou relatos. 
2 – O percurso da Idade Média 
Mas,  mesmo  sem  a  existência  de 
regulamentação de uso ou sanções, inúmeros  A  denominada,  historicamente,  Idade 
eram  os  signos  utilizados  para  designar  Média  (séculos  V  d.C  a  XV  d.C.)44 agrega  um 
produtos  provenientes  de  determinadas  período que, sob o ponto de vista do uso dos 
cidades ou regiões. Indo além dos vinhos, dos  signos  distintivos,  pode  ser  subdividido  em 
alimentos  e  bebidas,  essa  prática  era  três:  sistema  da  economia  familiar  (1); 
empregada,  inclusive,  para  identificar  revolução  comercial  (2)  e  expansão  da 
produtos  de  origem  não  agrícola,  como  o  revolução  comercial  (3). 45  Essa  divisão  é 
ouro de Dalmatie, o papiro do vale do Nilo, os  interessante porque demonstra claramente a 
incensos  da  Arábia,  a  púrpura  de  Tyr,  as  passagem  do  sistema  de  signos  usado  na 
pedras de Thasos, o mármore de Alexandria,  Antiguidade  para  o  sistema  do  período  da 
dentre outros.42   Revolução Industrial.  

Não  há,  por  fim,  relatos  acerca  da   

40 43
 VIVEZ, 1943. p. 8.   VIDAL, 2001. p. 10.  
41 44
 CARVALHO, 2009. p. 508‐509.    Esta  pode  ser  delimitada  entre  o  fim  do Império 
42
 “[...]  la  poupre  de  Tyr  et  de  Milet,  pour  les  robes  Romano do Ocidente, no século V (em 476 d. C.), e 
prétexte,  les  tuniques  des  magistrats  et  les  o  fim  do Império  Romano  do  Oriente,  com 
laticalves  des  sénateurs;  souvent  on  essayait  de  a Queda de Constantinopla, no século XV (em1453 
frauder  em  lui  substituant  une  toison  teinte  du  d.C.). Vide ALMEIDA, 2010. p. 40‐41. 
45
vermillon d’Aquinum.” VIVEZ, 1943. p. 7.   CARVALHO, 2009. p. 509‐599. 
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 156
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

  relacionado  ao  uso  de  brasões  e  armas 


hereditárias,  “que  veio  a  gerar  os  mesmos 
2.1 – Sistema de economia familiar   princípios jurídicos que foram aplicados mais 
tarde às marcas comerciais”. 51 
Naquele  primeiro  período,  entre  os 
séculos  V  d.C  e  X  d.C,  há  uma  estagnação  e   
um  retrocesso  acerca  de  tudo  o  que  se 
compreendia como comércio até o momento.  2.2 – Revolução Comercial 
“A  Europa  dobrou‐se  sobre  si  mesma,  o 
comércio  de  longa  distância  desapareceu,  as  No segundo período, do século X d.C. 
sociedades  empobreceram,  as  cidades  quase  até  o  século  XIV  d.C.,  o  pequeno  comércio 
se  extinguiram.” 46  A  vida  tendeu  à  volta  a  aflorar.  Com  isso,  os  produtos 
subsistência  e  à  autossuficiência.  Sem  retornam  à  circulação  e,  consequentemente, 
comércio,  os  signos  que  identificavam  a  sua  identificação  readquire  sentido. 
produtos perderam seu significado.   Primeiramente,  aparecem  os  signos 
diretamente  relacionados  com  o  produto  ou 
Deve  ser  ressaltada  a  intensa  com  a  sua  origem,  os  denominados  signos 
influência  que  passa  a  exercer  a  Igreja  falantes.  Eles  refletiam  diretamente  o  local 
Católica  na  vida  de  então. 47  Sendo  o  lucro  ou  o  nome  do  fabricante,  ou  faziam  uma 
condenável,  o  comércio  também  o  era  de  evocação  direta  ao  produto,  motivo  por  que 
certa  forma.  A  vida  se  volta  para  uma  também  são  conhecidos  como  signos 
economia agrícola, e o principal bem passa a  evocativos.52 
ser  a  propriedade  da  terra.  Todavia,  a 
vitivinicultura não apresenta uma solução de  Nessa época, emergem a nobreza e a 
continuidade:  passa‐se,  segundo  Garrier 48 ,  monarquia,  e  as  armas  e  os  brasões  de 
“do  vinho  pagão  para  o  vinho  cristão”  família passam a ter um singular valor. Esses 
(tradução da autora). Nesse período, a Igreja  não eram usados no comércio, algo indigno à 
Católica  Apostólica  Romana,  por  meio  de  época para um nobre, mas sua lógica passou 
seus  monastérios  e  abadias,  abarca  a  a ser adotada pouco a pouco. 
produção  de  vinhos,  especialmente,  para  as 
celebrações,  mas  também  para  receber  As corporações de artes e ofícios,53 as 
visitas e convidados e para realizar trocas de  quais  passaram  a  adotar  signos  que  as 
produtos.  São  os  monges  e  abades  que  identificavam,  seguindo  a  base  do  sistema 
mantêm  a  vitivinicultura  e,  inclusive,  a  das  armas  e  brasões  familiares,  são 
aperfeiçoam  ao  longo  do  tempo,  havendo  consolidadas  durante  esse  período.  A 
uma  considerável  concentração  dessa  atividade  industrial  –  no  sentido  lato  do 
atividade em suas mãos.49  termo  –  ocorria  dentro  das  corporações, 

Esse é o período em que também tem  utilizavam nas suas armaduras, para poderem ser 
reconhecidos  durante  as  batalhas,  e  que 
início  um  sistema,  denominado  heráldica, 50  passaram  a  ser  utilizados  como  brasões  de 
família,  criando  a  seu  redor  todo  um  sistema  e 
46
 CARVALHO, 2009. p. 509.  uma  codificação  que  em  muito  influíram  na 
47
 Também  não  deve  ser  esquecida  nesse  período  a  configuração  do  sistema  de  proteção  de  marcas. 
influência  muçulmana,  que  muito  contagiou  Vide CARVALHO, 2009. p. 515‐536. 
51
Espanha e Portugal.    CARVALHO, 2009. p. 512. 
48 52
 “Du  vin  païen  ao  vin  chrétien.”  GARRIER,  2008.  p.   CARVALHO, 2009. p. 512. 
53
36‐38.      Também  denominadas  de  grêmios,  guildas, 
49
 Vide GARRIER, 2008 e VIDAL, 2001.  hansas,  confrarias,  métiers,  jurandes,  Handwerk 
50
 Em  resumo,  eram  os  sinais  que  os  cavaleiros  ou Innung. ALMEIDA, 2010. p. 47. 
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 157
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

onde  as  invenções,  as  inovações  e,  mesmo,  pano  deveria  ter  por  extensão  de  pano,  ou 
os  usos  e  costumes  para  o  fabrico  de  indicando  o  método  que  deveria  ser 
produtos ou prestação de serviços eram tidos  empregado para a fabricação de ferramentas, 
como  monopólio  próprio,  e  não  dos  por  exemplo,    equipara‐se  tanto  aos 
inventores ou artesãos que ali atuavam.54   regulamentos  de  uso  das  marcas  de 
certificação  quanto  ao  das  indicações 
É  no  âmbito  dessas  corporações  que  geográficas  atuais. 57  Trata‐se,  inclusive,  de 
aparece  o  que  se  pode  denominar,  hoje,  de  um  prelúdio  das  atuais  normas  técnicas. 58 
marca  coletiva  ou  marca  de  certificação:  as  Isso,  possivelmente,  distingue  tais  signos 
marcas  corporativas. 55  Elas  eram  utilizadas  daqueles utilizados na Antiguidade. 
para  distinguir  os  produtos  fabricados  por 
uma  corporação  de  uma  cidade  dos  da  Para  diferenciar  um  produto  de  uma 
corporação  de  outra  cidade.  Possuíam  corporação,  era  costume  a  utilização  de  um 
Estatutos  e  Ordenações  que  detalhavam  signo na forma de um selo que, muitas vezes, 
todos  os  aspectos  e  operações  da  produção,  se  constituía  no  nome  da  própria  cidade  ou 
fixando  as  normas  que  seus  associados  da  localidade.  Via  de  regra,  a  ele  se 
deviam  cumprir  para  fabricar  os  produtos  e  agregavam  a  designação  genérica  do 
para  comercializá‐los. 56  Percebe‐se  aí  um  produto,  figuras  ou,  mesmo,  representações 
aspecto bastante particular: os regulamentos  do  produto.  O  objetivo  dessa  estratégia  era 
de uso, ditando a quantidade de fios que um  resguardar o bom nome da corporação, bem 
como  a  boa  fama  dos  produtos  feitos  por 
54
 PÉREZ  ÁLVAREZ,  2009.  Segundo  Roubier  (1952,  p. 
seus  afiliados  e,  consequentemente,  a  da 
79),  “l’usage  des  marques  paraît  d’ailleurs  avoir  cidade  onde  estava  instalada,  distinguindo 
été  général  à  cette  époque,  et  coïncide  avec  le  seus  produtos  dos  demais  e  indicando  sua 
développement des ghildes, corporations et corps  origem.59  
de métier dans les pays d’Europe; on em a relevé 
des  traces  nombreuses  dans  les  villes  Nesse  primeiro  momento,  pode‐se 
commerçantes  de  la  mer  du  Nord  (Anvers, 
Amsterdam,  etc...)  e  dans  les  cités  maritimes 
verificar  que  as  chamadas  marcas 
italiennes (Gênes, Venise, etc...) aussi bien chez les  corporativas nada mais eram que signos que 
artisans  que  chez  les  commerçants,  e  no  remetiam  à  indicação  da  cidade  onde  o 
seulement  por  des  produits  fabriqués,  mais  pour  produto  era  fabricado  e  à  corporação  que 
des produits naturels (beurre, fromage, etc...)”.    regulava a sua fabricação.60 
55
 Ladas  (1930,  p.  7‐8)  ressalta  que  o  uso  desses 
signos  distintivos  eram  muito  mais  obrigatórios 
que  voluntários,  e  seu  objetivo  era  a  prevenção 
Contudo,  com  a  florescência  do 
contra  fraudes.  Agora,  aqueles  que  imitavam  ou  comércio,  também  se  multiplicaram  os 
usavam  essas  marcas  sem  possuírem  o  direito  a 
tanto,  eram  tanto  ou  mais  severamente  punidos 
57
que  aqueles  que  produziam  produtos  sem   BELTRAN,  CHAUVEAU,  GALVEZ‐BEHAR,  2001.  p. 
autorização  –  posto  que  a  produção  era  um  88‐89. 
58
monopólio  corporativo.  Tal  sistema  de   Vide ZIBETTI, 2009; ZIBETTI e BRUCH, 2010. 
59
corporações,  no  inglês  denominado  de  gilds,  teve   LAGO GIL, 2006. p. 36. 
60
como  objetivo  de  criação  um  controle  da   Um exemplo é uma Carta Real, de 1386, em que D. 
produção,  mas  acabou  por  tornar‐se  um  Pedro IV, rei de Aragón, de Valencia, de Mallorca, 
monopólio  de  produção  que,  inclusive,  excluía  a  de  Cerdeña  y  Córcega,  Conde  Barcelona,  de 
possibilidade  de  estrangeiros  poderem  produzir  Rosellon  y  de  Cerdaña,  ordenava  que  os  tecelões 
em um território de uma determinada corporação.  apusessem a marca da cidade em certas peças de 
Para  Ladas,  esse  foi  um  forte  instrumento  no  tecidos,  a  fim  de  se  evitarem  fraudes  e  enganos. 
desenvolvimento  da  proteção  internacional  da  CERQUEIRA,  1946,  p.  344.  Cerqueira  indica,  para 
propriedade industrial de maneira geral.  complementação  deste  estudo  histórico‐
56
 PÉREZ ÁLVAREZ, 2009.  documental, PELLA, 1911. 
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 158
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

artesãos,  membros  dessas  corporações,  o  expulsão do artesão de sua corporação, o que 


que,  por  vezes,  impossibilitava  que  a  significava  a  proibição  de  continuar  o  seu 
averiguação  sobre  o  cumprimento  das  ofício, privilégio exclusivo das agremiações. 
normas  se  desse  com  eficácia. 61  Para 
preservar o nome da corporação e identificar  Assim,  começam  a  emergir  as  marcas 
a  origem  do  produto,  paulatinamente,  que  identificam  a  origem  fabril 
também  se  passou  a  exigir  que  os  artesãos  individualizada do produto, consolidando um 
apusessem  sobre  seus  produtos,  além  do  dos  princípios  dos  signos  distintivos: 
signo  correspondente  à  corporação  de  ofício  identificar a origem fabril e, depois, comercial 
à  qual  este  pertencia,  um  signo  individual,  do produto que portava determinado signo. 
que  permitiria  que  a  corporação  pudesse 
localizá‐lo  e  puni‐lo  no  caso  do  Primeiramente,  surgem  as  marcas  de 
descumprimento  de  alguma  norma  da  fábrica – ou seja, a marca de quem fabricou o 
corporação.62 (tradução da autora)  produto. Todavia, nem sempre era o próprio 
fabricante  que  fornecia  o  produto  ao 
Para  Lago  Gil, 63  essas  eram  “uma  consumidor final. Não raro, ele se utilizava de 
espécie  de  marcas  de  responsabilidade  que  um  intermediário  que  faria  as  suas  vezes, 
permitiam  relacionar  o  produto  e  seu  deslocando‐se  para  comercializar  o  produto 
fabricante  com  a  finalidade  de  aplicar  as  em  outras  localidades,  especialmente,  nas 
correspondentes  sanções  nos  casos  em  que  feiras.  Esse  intermediário,  denominado  de 
estes  não  estivessem  em  conformidade  com  comerciante  ou  negociante,  por  vezes, 
as regras estabelecidas para sua elaboração”.  poderia  fracionar  ou  mesclar  o  produto 
Ou seja, o objetivo era proteger a reputação  adquirido, o que não mais permitia dizer que 
daquela  corporação  de  ofício  –  sua  origem  aquele  produto  era  proveniente  daquele 
fabril,  que  refletia  a  origem  geográfica.64 As  artesão.  Assim,  surge  a  marca  de  comércio, 
sanções para o descumprimento poderiam se  que  indicava  quem  havia  comercializado  o 
constituir  em  advertências  ou,  mesmo,  produto.  

61
 ROUBIER, 1952. p. 79: “D’ailleurs à cette époque, il 
Isso foi relevante, especialmente, para 
faut distinguer deux sortes de marques: la marque  identificar  a  responsabilidade  pelo  produto. 
publicque  ou  corporative,  qui  était  celle  du  corps  Essas  eram  as  antigas  marcas  de  fábrica  e 
de  métier,  et  la  marque  privée,  c’est‐à‐dire  la  marca de comércio, que tinham como um de 
marque individuelle de chaque artisan, qui servait  seus  fundamentos  identificar  a  origem  de 
de signe distinctif à l’interieur de la corporation. La 
première  n’était  pas  une  marque  de  fabrique  au 
fabrico e de comercialização do produto.65  
sens actuel du mot, elle avait pour but de certifier 
que  le  produit  avait  été  fabriqué  conformément  Chega  o  momento  em  que  começa  a 
aux  règlements  minutieux  qui  existaient  alors  au  haver  uma  descolagem  entre  a  marca 
sein  de  chaque  corporation.  Quant  à  la  seconde,  corporativa  –  que  indicava  a  corporação  –,  a 
elle  paraît  bien  avoir  été  obligatóire  à  cette  origem geográfica do produto e as marcas de 
époque,  toutu  ao  moins  dans  un  certain  nombre 
d’industries ou de pays, mais en tous cas celui qui 
fabrico  e  comercio  –  que  apontavam  quem 
avait  adopté  un  marque  ne  pouvait  plus  en  havia fabricado e quem havia comercializado 
changer,  afin  qu’on  eût  bien  l’assurance  que 
l’objet était de sa fabrication propre.”    
62 65
 LAGO  GIL,  2006.  p.  36.  Vide  também  CARVALHO,   As marcas de fábrica e de comércio acabaram por 
2009.  se  transformar  em  marcas  de  produtos  (e, 
63
 LAGO GIL, 2006. p. 36.  posteriormente, de serviços) em face da evolução 
64
 Esses sinais não eram, originariamente, marcas de  na  forma  de  se  realizarem  as  trocas  comerciais, 
uma  empresa,  produto  ou  serviço.  Esse  tipo  de  bem  como  na  forma  de  identificar  os  produtos  e 
identidade surge muito posteriormente.  serviços. 
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 159
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

o  produto.  Todavia,  mesmo  as  marcas  de  ou  signos  para  que  o  comprador  soubesse 
fábrica  e  de  comércio  continuavam  a  utilizar  que se tratava de fabricação sua. Essa prática 
um  elemento  identificador  da  origem,  posto  favorecia  a  procura  e  a  venda  dos  produtos. 
que,  normalmente,  o  signo  utilizado  se  Uma  das  formas  citadas  para  executar  essa 
referia à pessoa do comerciante, a seu nome  identificação  consistia  em  utilizar  um 
ou  a  alguma  característica  sua,  guardando  recipiente diferenciado onde se colocavam os 
ainda  uma  identidade  com  a  origem  do  grandes  vinhos  de  Bourgogne, 
produto em questão.  especialmente, os de Beaune – como se fazia 
com as ânforas. Reconhecida tal notoriedade, 
Para  Cerqueira,66 foi  na  Idade  Média,  poderia  ser  declarado  que  seria  proibido  a 
portanto,  que  “se  originou  o  uso  das  marcas  qualquer outro produtor usar um signo como 
de  fábrica,  pelo  menos  com  caráter  mais  este – a garrafa bordalesa para Bordeaux, por 
aproximado  ao  de  que  hoje  se  revestem  e  exemplo  –  porque  isso  seria  de  interesse 
com função análoga a que desempenham no  geral  e  para  o  bem  comum. 70  Não  havia, 
mundo  moderno”.  Todavia,  embora  porém,  leis  com  tal  determinação.  Isso  era 
existissem  essas  marcas  de  fábrica  e,  tratado muito mais como princípio de ordem 
posteriormente,  de  comércio,  nenhuma  lei  moral  do  que  como  um  problema  jurídico, 
ou privilégio as protegia propriamente.67  ressalta  o  autor.71 Com  o  tempo,  as  sanções 
passam  a  aparecer,  inclusive,  para  esses 
Em  alguns  lugares,  esta  identificação  casos  e,  especialmente,  por  meio  das 
individual,  juntamente  com  o  signo  da  fiscalizações  relacionadas  com  o  pagamento 
corporação,  passou  a  ser  obrigatória,  de taxas. 
havendo sanções pelo seu não uso – como a 
perda  do  próprio  produto  para  o  fabricante   
ou  comerciante  que  não  respeitasse  a 
determinação, em regra de origem real.68  2.3 – Expansão da Revolução Comercial 

Os  vinhos  ainda  estavam,  em  grande  O terceiro período se completa com a 


parte, concentrados nos mosteiros e abadias.  expansão  do  comércio,  a  consolidação  das 
Mas há um início de produção privada que se  feiras internacionais, como as de Champagne 
dá,  inclusive,  em  formas  semelhantes  às  das  e  Flandres,  estendendo‐se  do  final  da  Idade 
corporações,  com  concessão  de  privilégios,  Média  (século  VX)  até  o  início  da  Revolução 
especialmente,  quando  se  tratava  da  venda  Industrial (século XVI). Há certa continuidade 
do  produto  para  a  nobreza  e  a  monarquia,  com  relação  à  tratativa  dos  signos,  mas 
bem como para outras regiões.  distingue‐se  este  período  por  uma  riqueza 
muito  grande  em  relação  ao  seu 
Segundo Roubier,69 foi neste contexto  desenvolvimento.  
que começaram a se destacar certos artisans 
experts et de bonne renommée que passaram  Existe,  também,  uma  crescente 
a identificar seus produtos com certas marcas  percepção  da  importância  dos  signos  que 
identificavam os produtos, especialmente, os 
66
 CERQUEIRA, 1946. p. 340. 
67
 CERQUEIRA,  1946.  p.  341‐344.  Todavia,  há 
70
divergência  na  doutrina,  segundo  Cerqueira,  o   ROUBIER, 1952. p. 80. Ressalta‐se que até hoje se 
qual afirma que não há registro de quais seriam as  guarda  a  relação  com  determinados  tipos  de 
normas  positivadas  que  poderiam,  legalmente,  garrafas  para  vinhos  e  sua  origem  geográfica, 
levar a esta proteção individual.  motivo  pelo  qual  há  uma  certa  disputa  pelo  uso 
68
 CAVALHO, 2009.  exclusivo delas. 
69 71
 ROUBIER, 1952. p. 80.   ROUBIER, 1952. p. 80.  
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 160
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

mais  apreciados.  A  origem  dos  produtos  seus monarcas74 o privilégio do uso exclusivo 


começa  a  ser  percebida  e  requisitada  tanto  de determinados signos, reivindicação que foi 
pelos  consumidores  finais  quanto  pelos  se  alastrando  por  toda  a  Europa. 75  O  uso 
comerciantes.  Esse  entendimento  gera  uma  desses  signos  para  os  mais  importantes 
sobrevalia  no  preço  das  mercadorias,  que  produtos  acabou  por  se  generalizar, 
conduz  às  fraudes  e  falsificações,  praticadas  reforçando a posição das corporações.             
por  outros  produtores  que  as  faziam  passar 
pelas originais.    Um  exemplo  bastante  particular  é  a 
consolidação  da  região  de  Bordeaux  como 
Nesse  período,  são  estabelecidos  os  produtora  e  porto  exportador  de  excelentes 
pressupostos  da  ação  de  passing  off  da  vinhos.  Certamente,  sua  fama  se  deve  à 
Common  Law,  que  nada  mais  é  do  que  qualidade  de  seus  produtos,  mas  os 
alguém  se  fazer  passar  por  outrem  em  privilégios  concedidos,  especialmente,  em 
prejuízo  alheio,  com  efetivo  engano  ao  1206,  por  meio  dos  “36  Actes  du  Grand 
consumidor,  como  pode  ser  verificado  no  Privilége”,  consagraram  sua  competência  em 
caso  Sandforth’s,  julgado  em  1584,  e,  matéria  vitícola. 76  A  história  do  vinho  do 
posteriormente, no caso Southern v. How, de  Porto  também  não  surgiu  de  maneira  tão 
1618.72  diferente.77. E as demais regiões tradicionais, 
como  Bourgogne,  Champagne  e  Cognac,  na 
Inicialmente,  isso  não  foi  visto  como  França,  assim  como  Jerez,  na  Espanha,  e, 
algo  inadequado,  pois  não  havia  a  ideia  de  mesmo,  o  Tokay  húngaro,  possuem  uma 
que  o  goodwill  privado  ou  coletivo  e  o  signo  trajetória  semelhante  na  consolidação  da 
que  representasse  aquela  pessoa,  qualidade  de  seus  vinhos  e  l’eau  de  vie 
corporação, cidade ou coletividade pudessem  (bebidas espirituosas ou destilados de vinho), 
ser  objetos  de  apropriação  e,  portanto,  que se dá por meio da existência de espécies 
violados.  Todavia,  no  caso  Sandforth’s,  um  de  corporações  –  embora  ninguém  afirme 
dos  Juízes  equiparou  a  violação  do  signo  isso claramente – ligadas ou não às abadias e 
questionado 73  a  uma  ação  de  invasão  de  mosteiros, 78  que  buscavam  regular  sua 
propriedade  alheia,  denominada  de 
74
trespassing.   Especialmente  na  França,  um  dos  países  com 
produtos  de  maior  reputação,  com  especial 
Aos poucos, portanto, as cidades com  menção  a  Charles  VI,  um  dos  primeiros  a 
boa reputação com relação aos seus produtos  reconhecer  esse  tipo  de  privilégio,  mas  não  se 
deixando  de  mencionar  a  Inglaterra,  Portugal  e 
e,  especialmente,  as  corporações  de  ofício  Espanha. 
ligadas  a  eles,  apropriaram‐se  da  ideia  de  se  75
 CARVALHO, 2009. p. 561‐584. 
utilizarem  signos  que  garantissem  a  76
 SMITH, MAILLARD, COSTA, 2007. p. 54 e 55, notas 
procedência  e  certificassem  a  qualidade  de  77
9 a 12. Vide ainda DÉROUDILLE, 2008. 
seus produtos aos consumidores (de onde se   MOREIRA, 1998. p. 67 e seguintes. Ressalte‐se que, 
nesse  caso,  é  uma  espécie  de  corporação  de 
extrai o princípio da veracidade dos signos) e  importadores  ingleses,  a  Feitoria  inglesa,  que 
que os diferenciasse dos demais produtos (de  coordenou  isso,  especialmente  no  período  em 
onde  se  consolida  o  princípio  da  que  Portugal  (e  Espanha)  se  tornou  um  dos 
distinguibilidade dos signos).   grandes fornecedores de vinhos para a Inglaterra, 
em  virtude  do  embargo  que  esta  havia  imposto 
Muitas  foram  as  cidades  e  aos vinhos franceses. VIDAL, 2001.  p. 42‐43. 
78
 Vide  o  caso  de  Don  Pierre  Pérignon  “procureru‐
corporações  que  passaram  a  requerer  de  cellérier  de  l’abbaye  bébnedictinde  de 
Hautvillers,  près  d’Épernay,  de  1668  a  1715, 
72
 CARVALHO, 2009. p. 571‐573.  attaché  indissolublement  son  nom  ao 
73
 J.G. + punho de um sabre.  perfectionnement  de  méthodes  viticoles  e 
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 161
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

produção e comércio.79  motivou a edição da Loi du 22 germinal,82 ano 
XI.83 A  Lei  do  25  germinal  do  ano  XI  previu 
Todos  os  signos  utilizados  para  ainda  a  condenação  dos  contrafatores  a 
identificar  os  produtos  de  qualidade,  seja  o  penas  extremamente  severas,  porém  elas 
recipiente  (a  garrafa  bordalesa),  o  nome  da  acabaram não sendo aplicadas.84   
região  (Champagne,  Bordeaux,  Porto,  Jerez, 
etc.),  sejam  outros  signos  figurativos  ou  Este  período  é  marcado  por  um 
mistos,  foram  importantes  para  a  primeiro  momento,  que  engloba  a  situação 
consolidação da qualidade dos produtos e da  de  inexistência  de  qualquer  controle  à  a 
reputação dessas regiões.  necessária  implementação  de  um  controle 
por  meio  da  proteção  negativa  aos  signos 
  distintivos (1). Posteriormente inicia‐se a fase 
que  abarca  a  proteção  positiva  destes  (2). 
3 – A modernidade liberal  Concomitante a este processo, desenvolve‐se 
nos  países  da  Common  Law  uma  lógica 
O ciclo monopolístico das corporações 
distinta  para  a  proteção  dos  signos 
de ofício rompe‐se apenas com a sua forçada 
distintivos,  baseados  na  proteção  ao 
extinção,  já  terminada  a  Idade  Média. 
consumidor  e  no  combate  à  concorrência 
Embora  em  cada  Estado  europeu  a  história 
desleal  (3).  Por  fim,  um  problema  comum 
tenha  tido  suas  nuances  próprias,  é  na 
atinge todos os produtores de vitis vinifera: a 
França,  em  pleno  auge  da  Revolução 
Phyloxera,  e  com  isso,  uma  nova  história  da 
Francesa,  pelo  Décret  d’Allarde,  de  2‐17  de 
vitivinicultura começa a ser contada (4). 
março  de  1791,  que  a  liberdade  de 
comercializar e de produzir é proclamada por   
meio  da  abolição  dos  privilégios  das 
corporações  de  ofício  e  da  extinção  de  seus  3.1  –  Da  ausência  de  controle  à  proteção 
maîtrises e jurandes. No mesmo ano, a lei Le  negativa 
Chapelier,  de  14‐17  de  junho,  é  adotada, 
interditando o retorno das corporações ou de  Esse  período  de  que  se  está  tratando 
quaisquer  agremiações  que  pudessem  é,  particularmente,  marcante,  pois  rompe 
dificultar a liberdade já alcançada.80   com uma lógica quase milenar de monopólios 
e  privilégios,  passando  da  existência  e 
Contudo  houve  problemas  em  se 
passar  de  uma  regulação  absoluta  para  a  82
ausência  total  de  qualquer  regulamentação.   Germinal = sétimo mês do calendário republicano. 
83
 12  de  abril  de  1803.  CARVALHO,  2009.  p.  587. 
Essa  falta  de  normas,  segundo  Carvalho, 81 
“Esta  lei  tratava  da  organização  da  indústria,  da 
“levou  à  contrafação  generalizada,  o  que  proteção  dos  trabalhadores,  do  contrato  de 
aprendizagem  e  das  ‘marcas  particulares’.  [...] 
Esta  lei  reafirma  a  interdição  de  reagrupamento 
dos  trabalhadores,  do  que  se  dissume  a 
vinicoles”  en  Champagne,  especialmente  no  ilegalidade  dos  sindicatos.  Ela  faz  também  da 
tocante  ao  trabalho  para  eliminar  as  borbulhas  greve um delito. Mas, sobretudo, ela institui um 
do  champagne  –  o  que  não  conseguiu  –  e,  novo  sistema  de  controle  mais  estrito  dos 
posteriormente,  a  adoção  de  seus  métodos  para  trabalhadores: o trabalhador livre.” (tradução da 
o  aperfeiçoamento  do  produto.  VIDAL,  2008.  p.  autora).  Disponível  em:  < 
22‐23.    http://www.linternaute.com/histoire/categorie/
79
 VIDAL, 2008  evenement/114/1/a/53003/apparition_du_livret
80
 Vide FRISON‐ROCHE  e  PAYET,  2006.  p.  1 ;  _ouvrier.shtml>. Acesso em: 06 ago. 2010.  
84
CERQUEIRA, 1946. p. 34l.   BELTRAN,  CHAUVEAU  e  GALVEZ‐BEHAR,  2001.  p. 
81
 CARVALHO, 2009. p. 587.  90. 
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 162
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

atuação das corporações para um período de  garantir  o  direito  sobre  marcas  específicas, 


liberdade  absoluta  –  que  se  traduz  no  tais  como  os  Decretos  de  1810  (marcas  de 
liberalismo  burguês  implementado  a  partir  cartas de jogar), de 1811 (marcas de sabão) e 
daí.  A  falta  de  regras  criou  uma  de  1812  (sabões  de  Marselha),  e  as  Leis  de 
degenerescência  generalizada  que  obrigou  à  1816  e  de  1819  (marcas  de  panos  de  lã  e 
edição  de  normas  que  punissem  os  atos  de  algodão)  fixaram‐se  na  regulação  de  casos 
contrafação  que  começaram  a  se  tornar  concretos.89   Posteriormente,  a  Lei  de  28  de 
muito frequentes naquele período.85  abril  de  1824,  que  alterou  o  Code  Pénal, 
especialmente  em  seu  art.  423,  estabeleceu 
Primeiramente,  foca‐se  a  repressão  à  uma  sanção  penal  aos  “atos  de  alteração  e 
contrafação  de  bens  individuais,  substituição  fraudulentas  dos  nomes 
considerando‐se que são esses os primeiros a  comerciais  e  dos  nomes  de  lugares  de 
ter  sua  proteção  garantida  e  partindo‐se  da  fabricação  sobre  objetos  fabricados  e  suas 
lógica  da  concretização  de  um  dos  direitos  embalagens”, 90  estendendo  a  repressão, 
que  nasce  naquele  período,  o  direito  de  inicialmente imposta às marcas, também aos 
propriedade como um direito natural.  nomes comerciais e aos nomes de lugares.  

No  caso  da  França,  o  Code  Pénal  de  Nesse período, verifica‐se, de maneira 


Napoleão,  de  1810,  por  exemplo,  traz,  em  geral,  que  a  proteção  relacionada  a  signos 
seus  artigos  142 86  e  143, 87  uma  punição  distintivos  inicia‐se,  de  forma  negativa,  por 
criminal  para  a  contrafação  de  marcas.88 Na  meio da repressão à concorrência desleal, da 
sequência,  alguns  Decretos  tratam  de  repressão  ao  uso  da  falsa  indicação  de 
procedência  e,  ainda,  da  proteção  ao 
85
 Nesse sentido, a Loi du 22 germinal do ano XI e a  consumidor.  O  foco,  naquele  momento,  não 
86
Loi du 25 germinal do ano XI.  era,  necessariamente,  a  proteção  do 
 “ARTICLE 142.  produtor,  mas  sim,  o  impedimento  a  que  o 
Ceux qui auront contrefait les marques destinées 
à être apposées au nom du gouvernement sur les 
público  fosse  induzido  em  erro  e  a  coibição 
diverses  espèces  de  denrées  ou  de  da  concorrência  desleal  quando,  claramente, 
marchandises,  ou  qui  auront  fait  usage  de  ces  um  produtor  estivesse  buscando  se 
fausses  marques ;  Ceux  qui  auront  contrefait  le  locupletar  da  reputação  de  outro.  Somente 
sceau,  timbre  ou  marque  d'une  autorité  em um segundo momento,  surge  a  proteção 
quelconque, ou d'un établissement particulier de 
banque  ou  de  commerce,  ou  qui  auront  fait 
positiva a esse direito, a criação de um direito 
usage  des  sceaux,  timbres  ou  marques  exclusivo  ao  uso  –  primeiro,  de  marcas  e, 
contrefaits,  Seront  punis  de  la  réclusion.”  depois,  de  determinado  nome  geográfico  – 
Disponível  em:  por meio de uma concessão oficial. 
http://ledroitcriminel.free.fr/la_legislation_crimi
nelle/anciens_textes/code_penal_1810/code_pe Deve‐se  destacar,  neste  ponto,  o 
nal_1810_2.htm. Acesso em: 11 set. 2010. 
87
 “ARTICLE 143. 
momento  histórico  pelo  qual  passava  a 
Sera puni du carcan, quiconque s'étant indûment  Europa.  Hobsbawn 91  denomina‐o  “Era  das 
procuré  les  vrais  sceaux,  timbres  ou  marques  Revoluções”, posto que, de um lado se tem a 
ayant  l'une  des  destinations  exprimées  en  Revolução  Francesa  –  de  cunho  mais 
l'article  142,  en  aura  fait  une  application  ou  político –  e,  de  outro,  a  Revolução  Industrial 
usage  préjudiciable  aux  droits  ou  intérêts  de 
l'état, d'une autorité quelconque, ou même d'un 
89
établissement  particulier.”  Disponível  em:   CARVALHO, 2009. p. 588. 
90
http://ledroitcriminel.free.fr/la_legislation_crimi  CARVALHO,  2009.  p.  588;  BELTRAN,  CHAUVEAU  e 
nelle/anciens_textes/code_penal_1810/code_pe GALVEZ‐BEHAR,  2001.  p.  90;  ROUBIER,  1952.  p. 
nal_1810_2.htm. Acesso em: 11 set. 2010.  81. 
88 91
 ROUBIER, 1952. p. 81.   HOBSBAWN, Eric. 2010. p. 20‐21.  
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 163
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

inglesa,  as  quais  acabam  por  contaminar  A  essa  se  segue  a  Lei  de  23  de  junho 
diversos  continentes  e  provocam  a  crise  dos  de  1857,  da  França,94 editada  por  Napoleão 
anciens  régimes.  Certamente,  esse  contexto  III,  a  qual  só  veio  a  ser  alterada  em  1964. 
possibilitou  a  ascenção  da  burguesia,  do  Trata‐se  de  uma  lei  que  inspirou,  voluntária 
liberalismo  e  da  ideia  de  propriedade  de  ou  involuntariamente,  a  maioria  das 
maneira bastante evidente.  regulamentações  nacionais  dos  demais 
Estados,  especialmente,  pelos  inúmeros 
  acordos  bilaterais  que  a  França  passou  a 
celebrar  com  outros  Estados,  com  a 
3.2 – O início de uma proteção positiva  finalidade de proteger seus signos distintivos 
e as marcas de seus nacionais.  
Já  em  meados  do  século  XIX, 
configura‐se a possibilidade de se estabelecer  Contudo,  ao  contrário  do  verificado 
uma proteção positiva para signos distintivos,  durante  a  Idade  Média,  seu  foco  era  a 
primeiramente  reservada  às  marcas  de  proteção  de  signos  que  servissem  para 
fábrica e de comércio. Essa tendência parece  distinguir  produtos  individuais.  Segundo 
ter contaminado toda a Europa, posto que, a  Carvalho,95 vincula‐se “a função das marcas à 
partir  da  década  de  1850,  inúmeras  distinção  de  produtos  e  serviços  entre 
legislações  passaram  a  ser  elaboradas  nesse  concorrentes”.  As  garantias  da  origem  – 
sentido,  no  entanto  cada  uma  em  seu  especialmente  geográfica  e  da  qualidade  do 
contexto específico.  produto  –  perdem  lugar  para  a 
distinguibilidade entre concorrentes, em uma 
A  esse  respeito  destaca‐se  a  Real 
lógica  claramente  liberal,  com  a  lei  aplicável 
Ordem  de  20  de  novembro  de  1850,  da 
somente para marcas individuais. 
Espanha,  editada  por  Isabel  II  com  força  de 
Lei. Essa ordem determinava as regras para a  Essa  garantia  de  proteção,  contudo, 
concessão  de  marcas  de  fábrica  no  país,  de  não  significava,  ainda,  o  registro  obrigatório. 
forma  bastante  detalhada:  com  registro  Assim  como  na  Real  Ordem  de  1859,  da 
centralizado,  possibilidade  de  oposição  e  Espanha, o registro era necessário para que o 
proibição  de  registro  de  insignias  oficiais,  seu  “proprietário”  pudesse  exercer  o  seu 
dentre  outras  características.  O  registro  era  direito  contra  terceiros.  No  caso  francês,  o 
feito  no  Conservatório  de  Artes  da  registro  se  dava  nos  Tribunais  de  Comércio 
Universidade  de  Madri.  A  usurpação  de  uma  do  domicílio  do  comerciante  ou  industrial, 
marca era punida: dava‐se por meio do artigo  com  validade  de  quinze  anos.  Essa  mesma 
217  do  Código  Penal  espanhol  de  1848. 92  prerrogativa  era  estendida  aos  estrangeiros 
Com  a  Real  Ordem  de  29  de  setembro  de  domiciliados  ou  estabelecidos  na  França  e 
1880,  também  se  estende  tal  proteção  às  para  outros  estrangeiros,  dependendo  de 
marcas de comércio.93  acordos  bilaterais  ou  da  aplicação  do 
princípio  da  reciprocidade  para  marcas 
francesas.96 
92
 Real  decreto  estabelecendo  as  regras  para  a 
concessão de marcas de fábrica na Espanha. SAÍZ  Após,  têm‐se,  dentre  outras,  a  Lei  n. 
93
GONÁLEZ, 1996. p. 77.  4577  de  30  de  agosto  de  1868,  da  Itália;97 a 
 Faz‐se  especial  referência  a  essa  norma  por 
verificar‐se ser ela a primeira editada no período 
94
moderno e ser anterior à lei de marcas francesa,   VEIGA JUNIOR, 1887. p. 127‐136. 
95
de  1857,  que,  em  regra,  os  autores  consideram   CARVALHO, 2009. p. 598. 
96
como  a  primeira  lei  de  marcas  desse  período.   CARVALHO, 2009. p. 589. 
97
Vide CARVALHO, 2009.   Legge  30  agosto  1868,  n.  4577,  concernente  i 
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 164
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

Lei  Imperial  de  30  de  novembro  de  1874,  da  época  também,  na  Inglaterra,  os  tribunais 
Alemanha;98 a  Lei  de  4  de  junho  de  1883,  de  iniciaram  a  regulação  do  uso  dos  signos, 
Portugal;99 a Lei de 25 de agosto de 1883, da  punindo  casos  de  fraude  e  confusão  –  o 
Inglaterra.100   primeiro  caso,  de  1837,  denominou‐se 
Thompson  v.  Winchester. 103   É  esse  que  dá 
  origem  à  construção  jurisprudencial  sobre  o 
tema.  
3.3 – A lógica da Common Law 
Nos  EUA  e  no  Reino  Unido,  só  foram 
Com  relação,  especificamente,  ao  aprovadas  leis  após  a  celebração  de  acordos 
Reino  Unido,  a  situação  era  um  pouco  bilaterais  firmados  com  terceiros  Estados. 
diferenciada.  Não  havendo  revolução,  foi  a  Tais  acordos  garantiam  mais  direitos  aos 
tradição  que  levou,  gradualmente,  às  estrangeiros  do  que  aos  nacionais  desses 
adaptações  e  mudanças  nas  tratativas  dos  Estados  em  seu  próprio  território. 104  Foi 
signos,  como  é  da  lógica  da  Common  Law.  necessário,  desta  forma,  garantir  uma 
Nesse  sentido,  devem  ser  citados  os  casos  igualdade de direitos. 
Day v. Day, de 1816, que, de forma indireta, 
protegeu uma marca, e Edmonds v. Benbow,  Verifica‐se,  assim,  uma  formação 
de  1821,  que,  de  forma  direta,  protegeu  a  relativamente diversa da proteção dos signos 
marca  The  Real  John  Bull  para  um  jornal.  Só  distintivos  nesta  segunda  fase.  De  um  lado, 
em  1875,  a  Inglaterra  adota  sua  primeira  no caso da França, há uma ruptura abrupta e 
Trade Mark Registration Act .101  a busca de uma nova forma de proteção dos 
signos;  de  outro,  nos  Estados  da  Common 
Já  nos  EUA,  em  1791,  um  grupo  de  Law,  uma  relação  de  lenta  continuidade  e 
fabricantes  de  velas  requereu  um  direito  evolução  com  base  na  construção 
exclusivo  de  denominar  seus  produtos  com  jurisprudencial.  
suas  marcas.  Esse  pedido  resultou  em  um 
relatório  de  Thomas  Jefferson,  o  qual  Um  ponto  em  comum,  contudo, 
pugnava  pela  competência  federal  para  evidencia‐se:  a  migração  progressiva  para  a 
promover  uma  lei  que  protegesse  marcas  possibilidade  e  posterior  obrigatoriedade  do 
utilizadas  no  comércio,  entre  os  vários  registro  dos  signos  distintivos,  a  fim  de  
Estados  daquela  Federação,  com  as  tribos  assegurar a garantia de sua proteção. 
indígenas  e  com  Estados  estrangeiros.  Isso, 
entretanto,  só  ocorreu  em  1870. 102  Nessa   

3.4 – Um problema em comum: a Phyloxera 
marchi  ed  i  segni  distintivi  di  fabbrica.  GHIRON, 
1929.  Appendice  n.  5.  Vide  DI  FRANCO,  1907.  p. 
39 e seg.  Nesse período, na segunda metade do 
98
 VEIGA JUNIOR, 1887. p. 137‐145.  século  XIX,  começa  uma  história  bastante 
99
 ASCENSÃO, 2002. p. 21.  peculiar para a vitivinicultura mundial, a qual 
100
 VEIGA JUNIOR, 1887. p. 153‐164.  precisa  ser  explanada  para  que  se 
101
 CARVALHO, 2009. p. 593. 
102 compreendam  os  motivos  por  que,  após 
 Esta  lei  foi,  posteriormente,  declarada 
inconstitucional,  pois  a  Constituição  americana  milênios  de  uso,  finalmente  se  consolida  a 
não  admitia  a  proteção  perpétua  de  um  direito  proteção  positiva  das  indicações  geográficas 
de  propriedade  imaterial,  como  seria  o  caso  das  vitivinícolas.  
marcas,  sendo,  em  momento  subsequente, 
substituída  por  uma  lei  de  1905,  estando  hoje 
103
vigente  o  Lanham  Act,  de  1946,  com  todas  as   CARVALHO, 2009. p. 594‐595. 
104
suas ulteriores modificações.   CARVALHO, 2009. p. 594‐595. 
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 165
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

Primeiramente,  deve‐se  afirmar  que,  Vitis ripari, Vitis rupestris.109 


embora  existissem  certos  privilégios  para 
determinadas cidades ou regiões com relação  Havia,  entre  essas  espécies  nativas, 
ao  uso  da  designação  de  seu  nome  como  um tronco comum em seus primórdios, mas, 
sinônimo de uma qualidade diferenciada, não  como  seu  desenvolvimento  ocorreu  de 
havia,  propriamente,  até  aquela  época,  um  maneira separada nos dois continentes, cada 
registro  positivo  de  signos  distintivos  de  qual sofreu alterações a fim de se adaptar às 
origem.  O  que  existia,  portanto,  era  uma  condições de seu meio. 
proteção  negativa: 105  impedimento  a  que 
terceiros utilizassem indevidamente o signo.  Com  a  intensificação  das  trocas 
comerciais  e  rotas  marítimas  entre  os 
Ocorre que, especialmente na França,  continuentes  Europeu  e  Americano,  também 
houve  um  período  de  desregulação  e  certa  se  intercambiaram  mudas  de  videiras. 
liberdade  após  o  advento  da  Revolução  Todavia, em face da adaptação que cada qual 
Francesa.  Abolindo‐se  antigos  institutos  e  tinha  a  seu  habitat  de  desenvolvimento, 
formas  de  controle,  outros,  paulatinamente,  várias  pragas  –  inofensivas  às  espécies  de 
os  foram  substituindo.  No  entanto,  viderias procedentes dos EUA –, ao tomarem 
certamente,  não  havia  preparo  suficiente  contato  com  as  viderias  nativas  da  Europa, 
para  o  advento,  no  setor  vitivinícola,  da  foram  nocivas  a  elas,  pois  não  possuíam 
problemática  relacionada  à  Phyloxera,  resistência  natural.  A  primeira  praga  que 
acompanhada  do  oïdium,  do  míldio  e  do  causou  certo  estrago  nos  vinhedos  europeus 
black‐rot.106  –  o  oïdium  –, 110  por  volta  de  1850,  foi 
rapidamente controlada.111 
Na  Europa,  cultivava‐se,  até  o  século 
XIX, videiras da espécie Vitis viníferas, nativas  A  segunda,  entretanto,  um  inseto 
da  Eurásia. 107  Elas  sempre  foram  plantadas  denominado Phyloxera, que ataca ao mesmo 
em  “pé  franco”,  ou  seja,  diretamente  no  tempo  as  folhas  e  as  raízes  da  videira,  teve 
solo.108  um efeito devastador no continente europeu. 
A espécie vitis vinifera sucumbiu rapidamente 
Já na América do Norte, notadamente  ao  seu  ataque  e  todos  os  testes  e  soluções 
nos  EUA,  as  espécies  de  videira  que  podem  técnicas  apresentados  à  época  não  surtiam 
ser  denominadas  nativas  são  as  seguintes:  qualquer  efeito.  Esse  inseto  apareceu  em 
Vitis  aestivalis,  Vitis  berlandieri,  Vitis  1863, em Pujaut, Departament du Gard, e se 
bourquina,  Vitis  labrusca,  Vitis  lincecumii,  alastrou rapidamente por toda a França.112 O 
resultado  foram  vinhedos  dizimados,  uma 
queda  violenta  na  produção  vitivinícola  e  o 
105
maior  Estado  produtor  e  consumidor  de 
 Pode‐se  reconhecer  em  favor  do  titular  de  um  vinhos do mundo, praticamente, sem vinhos, 
direito  de  exclusividade  sobre  um  determinado 
bem imaterial uma face positiva e outra negativa. 
em 1890.113  
A face positiva determina que o titular do direito 
é  o  único  legitimado  para  fazer  uso  do  bem  Após  a  Phyloxera,  surgiram  ainda  o 
imaterial  sobre  o  qual  recai  a  exclusividade.  Na 
109
face negativa, encontra‐se o direito que o titular   BRUCH, 2006a. 
110
tem  de  impedir  que  terceiros  não  autorizados   VIDAL, 2001. p. 69‐80. 
111
usem  deste  bem  imaterial  sobre  o  qual  recai  a   VIDAL, 2001. p. 69‐80. 
112
exclusividade. LEMA DEVESA, 1997. p. 13‐15.   VIDAL,  2001.  p.  69‐80.  O  autor  apresenta, 
106
 VIDAL, 2001. p. 69.  detalhadamente,  a  ocorrência.  Vide,  também, 
107
 BRUCH, 2006a.  GARRIER, 2008; JOHNSON, 1990. 
108 113
 BRUCH, 2006a.   VIDAL, 2001. p. 69‐80. 
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 166
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

mildiou  e  o  black‐rot  que  terminaram  de  produção  e  comercialização  de  vinhos. 


destruir os vinhedos europeus.114  Ocorriam  trapaças,  desde  as  mais  sutis,  em 
que  era  vendido  um  vinho  de  qualidade 
Durante  quase  trinta  anos  (1850‐ inferior  no  lugar  de  outro  de  melhor 
1880),  os  mais  diversos  experimentos  foram  qualidade,  à  fabricação  de  vinhos  sem  uva  – 
realizados.  Uma  das  melhores  soluções  apenas com açúcar, água, álcool e corante.119 
encontradas  foi  a  enxertia,  que  possibilitou 
utilizar uma raiz de vitis americana resistente  O controle por meio de análises ainda 
à Phyloxera – porta enxerto ‐, com a enxertia  era  precário,  e  esses  vinhos  eram  vendidos, 
da espécie de vitis desejada – em regra a Vitis  geralmente,  à  população  mais  simples,  que 
vinifera.115 A segunda solução foi a hibridação  não  diferenciava  muito  bem  a  qualidade  do 
entre espécies americanas e europeias, com a  vinho. 120  Enquanto  não  havia  vinho 
finalidade  de  se  obterem  as  características  suficiente,  a  prática  foi  sendo  tolerada. 
desejáveis  nas  duas,  o  que  originou  as  Porém,  após  a  retomada  da  produção,  a 
variedades híbridas.116   fraude  não  cessando,  e  os  “négociants” 
continuando  com  suas  práticas  lucrativas  e 
Todavia,  até  que  a  implementação  desleais, foi preciso disciplinar a questão. 
dessas  soluções  fosse  aceita  e  realizada  – 
lembrando‐se que uma videira precisa de, no  Uma  das  atitudes  tomadas  pelo 
mínimo,  quatro  anos  para  iniciar  sua  governo  francês,  nesse  interim,  foi  a  adoção 
produção  –,  a  França  passou  por  duas  da  Loi  Griffe,  de  14  de  agosto  de  1889,  que 
situações  complicadas:  um  aumento  buscava  definir  o  que  poderia  ser 
descontrolado  da  importação  de  vinhos  dos  considerado  vinho. 121  Ao  que  parece,  essa 
Estados  ainda  não  afetados  e  um  aumento  definição  não  foi  suficiente  e,  em  especial, 
avassalador  das  mais  diversas  fraudes,  uma  fraude  mais  sofisticada  veio  se 
especialmente,  quanto  à  origem  do  instalando:  fazer  um  vinho  passar  por  sendo 
produto.117  de  uma  região  que  não  a  de  sua  verdadeira 
origem.  
A  Phyloxera,  sem  embargo,  também 
se  espalhou,  gradativamente,  aos  Estados  Para  controle  dessa  e  de  outras 
vizinhos, tais como Portugal, Espanha, Itália e  práticas  desleais,  foi  editada  a  Lei  de  1°  de 
Alemanha. Mas, como estes já conheciam as  agosto  de  1905,  sobre  a  repressão  das 
soluções encontradas na França, o recomeço,  fraudes  comerciais,  incriminando,  dentre 
para eles, foi bem mais rápido e com menos  essas, a prática de enganar ou tentar enganar 
danos, ainda que não de todo.118  o  contratante  sobre  a  origem  do  produto. 
Essa  lei  definia  que  a  origem  deveria  ser 
A  partir  desse  momento,  pela  regulada mediante a delimitação das grandes 
fragilidade  da  situação,  instalou‐se,  regiões  vitivinícolas  pela  via  regulamentar,  o 
efetivamente,  uma  fraude  generalizada  na  que  foi  feito  em  Ato  de  05  de  outubro  de 
1908,  que  traçou  os  limites  geográficos  das 
114 appellations  com  base  nos  usos  locais  e 
 VIDAL, 2008. p. 69‐80. 
115
 SANTOS, 2004. p. 16. 
116
 GIOVANNINI, 1999. Hoje os porta‐enxertos são  119
 COELLO MARTÍN, 2008. p. 84 e seguintes. 
usados em, praticamente, todo o mundo, com  120
 GARRIER, 2008. p. 69‐80. 
raras exceções, como o Chile, que não teve a  121
 “Nul  ne  pourra  expédier,  vendre  ou  mettre  em 
contaminação do seu solo com a phyloxera.  
vente,  sou  la  dénomination  de  vin,  un  produit 
117
 VIDAL, 2008. p. 69‐80.  autre  que  celui  de  la  fermentation  des  raisin 
118
 GARRIER, 2008. p. 69‐80.  frais.” VIDAL, 2001. p. 81.     
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 167
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

constantes.122  das “appellations d’origine”.125 

Esse  Ato  passou  a  ser,  Contudo,  a  via  judiciária  não  podia 


paulatinamente, regulamentado por decretos  garantir  uma  análise  profunda  desses 
específicos  para  cada  região,  como  é  o  caso  quesitos,  e  a  legislação  vigente  não  era 
de  Champagne,  disciplinada  pelo  Decreto  de  suficiente  para  proteger  os  denominados 
17 de dezembro de 1908,123 e de Bourdeaux,  grandes  vinhos.  Há,  assim,  uma  profusão  de 
regulada  pelo  Decreto  de  18  de  fevereiro  de  pedidos de AO, muitos sem fundamento.126 
1911. Esses Decretos, no entanto, não foram 
bem  aceitos,  especialmente,  o  de  Joseph  Capus,  deputado  proveniente 
Champagne,  posto  que  deixou  partes  da região de Gironde e considerado o mentor 
territoriais  importantes  fora  da  delimitação,  das  AOC,    propôs  uma  modificação  nesse 
necessitanto  inclusive  de  intervenção  estatal  critério  por  meio  da  Lei  de  22  de  julho  de 
para deter os viticultures que ficaram de fora  1927.  Essa  lei  determinava  que,  além  de  a 
da delimitação.124  uva  vir  da  região  determinada,  para  ter 
direito  às  “appellations  d’origine”  (AO) 
Sua  relevância,  no  âmbito  francês,  deveriam  ser  observadas  as  condições  do 
deve‐se  ao  fato  de  se  tratar  de  uma  das  terroir  e  as  variedades  consagradas  pelos 
primeiras  manifestações  legislativas  que  usos  locais,  leais  e  constantes.  Nasce,  nesse 
garante o direito positivo a uma “appellation  momento,  a  atual  AOC.  Mas  a  legislação 
d’origine”  –  mesmo  que  daí  tenha  surgido  a  existente  não  garantia  uma  proteção 
polêmica  sobre  o  direito  “a”  e  o  direito  suficiente  aos  grandes  vinhos,  e  continuava 
“sobre” essa appellation.  permitindo  ao  mesmo  tempo  uma 
multiplicação anárquica de novos pedidos de 
Em  1911,  é  apresentado  por  Jules  reconhecimento.127 
Pams  um  projeto  de  lei  que  propõe  a 
instituição  da  delimitação  da  área  por  via  Nesse  momento,  Joseph  Capus 
judiciária.  propõe uma nova reforma, que se concretiza 
no  Decreto‐Lei  de  30  de  julho  de  1935,  que 
 Após  o  interregno  da  guerra,  esse  institui  o  Comitê  Nacional  das  “appellations 
projeto é aprovado na forma da Lei de 06 de  d’origine  des  vins  et  eaux‐de‐vie”, 128  bem 
maio  de  1919,  que  tratava,  especificamente,  como, finalmente, cria e regulamenta as AOC. 
da  proteção  às  “appellations  d’origine”  –  Esse  Comitê  tinha  como  função  determinar, 
embora  não  trouxesse  qualquer  definição  após  a  concordância  dos  sindicatos 
sobre  este  termo.  O  problema  é  que  a  interessados,  as  condições  que  deviam  ser 
expressão foi interpretada como uma simples  satisfeitas  pelos  vinhos  e  aguardentes  de 
indicação  geográfica,  sem  que  houvesse  a  vinho  de  cada  uma  das  AOC. 129  Estabelecia 
necessidade  de  incluir  qualquer  qualificativo 
para  o  vinho  nem  qualquer  garantia  de  125
 VIDAL, 2001. p. 81 a 89. 
qualidade.  Ou  seja,  comprovando  a  126
 VIDAL, 2001. p. 81 a 89. 
procedência  do  produto  como  de  127
 VIDAL, 2001. p. 81 a 89. 
determinada  área,  independente  da  sua  128
 Esse  passa,  a  partir  de  1947,  a  se  charmar  de 
qualidade,  o  produtor    tinha  direito  ao  uso  “Institut  Nacional  des  Appellations  d’Origine  – 
INAO”  –  e,  recentemente,  sob  a  mesma  sigla, 
teve  a  sua  função  ampliada,  abarcando,  agora, 
não  apenas  as  AOCs,  mas  também  todos  os 
122
 VIDAL, 2001. p. 81 a 89.  label/selos  de  qualidade,  denominando‐se 
123
 Promulgado em 04 de janeiro de 1909.  “Institut national de l'origine et de la qualité”. 
124 129
 VITAL, 2001. p. 81 a 89.   Da  simples  indicação  de  uma  origem,  passa‐se  à 
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 168
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

que,  depois  disso,  o  documento  fosse  específica de uma origem geográfica.136 


encaminhado  pronto  ao  Ministério  da 
Agricultura,  para  que  esse  decidisse,  Já  os  Estados  que  construíram  sua 
definitivamente,  se  publicava  ou  não,  por  proteção com base na concepção francesa de 
meio  de  Decreto,  a  aprovação  do  AOC, 137  entre  os  quais  Espanha, 138 
reconhecimento  de  uma  AOC  sem,  contudo,  Portugal, 139  Itália 140  e  a  própria  França, 
alterar o documento apresentado.130  objetivavam,  além  da  proteção  da  origem 
geográfica, também a proteção da tradição e 
Outros  Estados  seguiram  caminhos  cultura  que  estavam  relacionadas  com  os 
diferenciados,  o  que  resultou  na  diversidade  produtos,  o  que  se  traduz  no  savoir‐faire 
de proteção deste signo distintivo de origem.  aplicado  ao  produto  e  na  escolha  do  terroir. 
Há  Estados  cuja  proteção  se  construiu  no  Em  suma,  os  fatores  naturais  e  humanos 
âmbito  da  definição  da  indicação  de  faziam  parte  da  proteção  conferida  a  uma 
prodecência – AO –, enquanto outros deram  denominação de origem. 
maior  ênfase  à  denominação  de  origem  – 
AOC.  O  Brasil,  primeiramente,  tendeu  mais 
à  proteção  da  indicação  de  procedência,141 
Os primeiros, entre os quais se inclui,  apenas  recentemente  incluindo  no 
notadamente,  EUA,131 Chile,132 Nova  Zelândia  ordenamento  nacional  a  proteção  clara  da 
e  Austrália, 133  mas  também  os  Estados  do  denominação  de  origem  conforme  a 
norte  da  Europa,  especialmente,  a  concepção francesa.142 
Alemanha134 e  o  Reino  Unido,135 objetivavam 
a  proteção  da  verdadeira  origem  geográfica   
do  produto.  Sem  atribuírem  maior  ênfase  à 
qualidade  relacionada  com  a  influência  dos  Considerações Finais 
fatores naturais e humanos sobre o produto, 
Com  esses  exemplos,  verifica‐se  que, 
reportavam‐se ao princípio da veracidade dos 
inicialmente, cada Estado começa a atuar por 
signos  distintivos  tão  somente.  Todavia  deve 
meio  da  proteção  interna  desses  signos 
ser  ressaltado  que  essa  proteção  deu‐se 
distintivos  de  origem,  sob  a  forma  de 
muito mais com base na legislação referente 
monopólio,  em  sua  face  mais  clássica:  a 
à  concorrência  desleal  do  que  à  proteção 
136
 Vide PELLETIER e NAQUET, 1902. Como exemplos, 
citam‐se a lei alemã de 27 de maio de 1896, o Act 
de 28 de agosto de 1894 dos EUA, a lei do Reino 
exigência  de  especificação  relativa  à  área  de  Unido  de  23  de  outubro  de  1887  e  sua 
produção,  variedade,  rendimento  máximo  por  jurisprudência. 
137
hectare,  grau  alcoólico  mínimo  do  vinho,   Vide AUBOUIN, 1951; HODEZ, 1923; DENIS, 1995; 
processos  utilizados  na  viticultura  e  na  LAVENANT,  1941;  AUBY  e  PLAISANT,  1974; 
vinificação. VIDAL, 2001. p. 89‐90.  OLSZAK,  2001;  VIVEZ,  1932;  BERNARD,  1932; 
130
 Outras  modificações  foram  implementadas  até  a  MARCY, 1927; VIVEZ 1943. 
138
unificação  da  legislação  no  âmbito  da  União   Vide LÓPEZ BENÍTEZ, 1996; LÓPEZ BENÍTEZ, 2004; 
Europeia,  o  que  será  tratado  na  primeira  parte  MAROÑO  GARGALLO,  2002;  FERNANDEZ 
do presente trabalho.  NOVOA,  1970;  BOTANA  AGRA,  2001;  GÓMEZ 
131
 Vide  ECHOLS,  2008;  O´BRIEN,  1997;  BERESFORD,  LOZANO,  2004;  GUILLEM  CARRAU,  2008; 
1999; O´CONNOR, 2006; LAPSLEY, 2007.  MARTÍNEZ GUTIÉRREZ, 2008. 
132 139
 Vide ALVAREZ ENRÍQUEZ, 2001.   Vide MOREIRA, 1998; e  ALMEIDA, 1999. 
133 140
 Vide  RYAN,  1999;  O´CONNOR,  2006;  BARKER,   Vide  DI  FRANCO,  1907;  FREGONI,  1994;  RUBINO, 
2006; VINCENT. 2006.  2007. 
134 141
 Vide O´CONNOR, 2006.   Vide BRUCH e COPETTI, 2010.  
135 142
 Vide O´CONNOR, 2006; PROT, 1997.   Vide LOCATELLI, 2007; GONÇALVES, 2007. 
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 169
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

concessão  de  privilégios  para  que  apenas  Coimbra  Editora.  Coimbra:  Almedina,  2010. 
determinado  grupo  tenha  o  direito  de  apor  1475 p. 
sobre seus produtos o signo de uso exclusivo. 
São o mercado, as crises e a própria evolução  ALMEIDA,  Alberto  Francisco  Ribeiro  de. 
dos  produtos  que  moldam,  em  cada  Estado,  Denominação  de  origem  e  Marca.  Série 
sua  forma  peculiar  de  proteção,  seja  ela  Stvdia  Ivridica  n.  39,  Coimbra:  Universidade 
negativa ou positiva.  de Coimbra, 1999. 446 p. 

Todavia,  embora  a  existência  de  ALMEIDA,  Alberto  Francisco  Ribeiro  de.  IG, 
algum  tipo  de  proteção  seja  um  avanço,  a  indicação de proveniência e denominação de 
disparidade  que  ela  alcança  provoca,  em  um  origem: os nomes geográficos na propriedade 
segundo  momento,  um  descompasso  no  industrial. In:  
âmbito  internacional.  Isso  ocorre  porque,  ao 
circularem  internacionalmente,  os  produtos  ALVAREZ  ENRÍQUEZ,  Carmen  Paz.  Derecho 
levam  –  especialmente  os  vinhos  –  o  seu  del  vinho:  denominaciones  de  origen. 
signo  distintivo  de  origem  a  destacá‐los,  Santiago: Editora Jurídica de Chile, 2001. 150 
dentre os demais, no mercado. Desse modo,  p. 
não  havendo  uma  proteção  internacional, 
ASCENSÃO,  José  de  Olivera.  Concorrência 
mas  local,  a  exclusividade  do  uso  do  signo 
Desleal. Coimbra: Almedina, 2002. 
não tem sua garantia definida. Pelo contrário, 
se  um  determinado  signo  é  uma  AUBOUIN,  Jean‐Michel.  Le  droit  au  nom  de 
denominação  de  origem  em  um  Estado,  em  Cognac. Paris: Sirey, 1951. 357 p. 
outro  pode  esse  mesmo  signo  ser 
considerado  como  um  descritivo  do  próprio  AUBY, Jean‐Marie; PLAISANT, Robert. Le droit 
produto  ou,  pior,  ter  sido  apropriado  des  appellations  d´origine:  l´appelltion 
localmente  por  outro  titular,  impedindo  o  cognac. Paris: Libraries Techniques, 1974. 444 
verdadeiro de utilizá‐lo.   p. 

Na  prática,  esses  conflitos  são  cada  AUDIER, Jacques. Passé, présent et avenir des 


vez  mais  crescentes  e,  diretamente  appellations d’origine dans le monde:  vers la 
proporcionais à notoriedade do signo. Assim,  globalisations?  Bulletin  de  l’OIV,  v.  81,  n. 
levam  os  Estados  a  buscar  acordos  929‐931, p. 405‐435. 2008. 
internacionais que regulem a convivência e o 
respeito mútuo.   BARKER,  John.  National  territory  as  a 
geographical  indication.  Bulletin  de  L’OIV,  v. 
É  neste  momento,  concomitante  à  79, n. 909‐910, p. 689‐696. 2006. 
própria consolidação dos signos distintivos de 
origem  em  todos  os  Estados,  que  se  iniciam  BELTRAN, Alain; CHAUVEAU, Sophie; GALVEZ‐
os ciclos de acordos bilaterais e multilaterais  BEHAR, Gabriel. Des Brevets et des Marques: 
visando à proteção destes signos.  Une  histoire  de  la  propriété  industrielle. 
Paris: Fayard, 2001. 309 p. 
 
BERESFORD,  Lynne.  The  Protection  of 
Referências  Geographical Indications in the United States 
of  America.  In:  Symposium  on  the 
ALMEIDA,  Alberto  Francisco  Ribeiro  de.  A  international  registration  of  geographical 
Autonomia  Jurídica  da  Denominação  de  indications.  Sumerset  West:  WIPO,  1999.  p. 
Origem. Wolters Kluwer Portugal sob a marca 
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 170
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

39‐50.  DÉROUDILLE,  Jean‐Pierre.  Le  vin  face  à  la 


mondialisation. Paris: Dunod, 2008. 136 p.  
BERNARD,  P.  Max.  Le  regime  des  vins  a 
appellations  d’origine.  Montpellier:  Progrés,  DI  FRANCO,  Luigi.  Le  Indicazioni  di 
1932. 125 p.  Provenienza  dei  Prodotti.  S.  Maria: 
Francesco Cavotta, 1907. 285 p. 
BÍBLIA.  Tradução  de  João  Ferreira  de 
Almeida.  2.  ed.  rev.  atual.  São  Paulo:  ECHOLS, Marsha A. Geographical  Indications 
Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.  for  Food  Products:  International  Legal  and 
Regulatory  Perspectives.  The  Netherlands: 
BOTANA  AGRA,  Manuel  José.  Las  Kluwer Law International, 2008. 315 p. 
denominaciones  de  origen.  2.  vol.  Madrid: 
Marcial Pons, 2001. 252 p.   FERNANDEZ‐NOVOA,  Carlos.  La  Proteccion 
Internacional  de  las  Denominaciones 
BRUCH,  Kelly  Lissandra;  COPETTI,  Michele.  Geograficas  de  los  Productos.  Madrid: 
Evolução  das  indicações  geográficas  no  Tecnos, 1970. 203 p. 
direito  brasileiro.  Revista  Brasileira  de 
Viticultura e Enologia, Bento Gonçalves: ABE  FREGONI.  Mario.  La  piramide  DOC:  storia, 
‐  Associação  Brasileira  de  Enologia,  n.  2,  p.  contenuti,  interpretazione  della  164/92. 
15‐23, set. 2010.   Padova: Edagricole, 1994. 994 p. 

BRUCH, Kelly Lissandra. Limites do Direito de  FRISON‐ROCHE,  Marie‐Anne;  PAYET,  Marie‐


Propriedade  Industrial  de  Plantas.  2006a,  Stépahne.  Droit  de  la  concurrence.  Paris: 
223  p.  Dissertação  (Mestrado  em  Dalloz, 2006. 451 p. 
Agronegócios) – Universidade Federal do Rio 
Grande do Sul, Centro de Estudos e Pesquisas  GARRIER,  Gilbert.  Histoire  sociale  et 
em Agronegócios.    culturelle  du  vin.  Paris:  Larousse,  2008.  767 
p.  
CARVALHO,  Nuno  Tomaz  Pires  de.  A 
estrutura  dos  sistemas  de  patentes  e  de  GHIRON,  Mario.  Corso  di  diritto  industriale. 
marcas – passado, presente e futuro. Rio de  vol. II. Roma: S.E.F.I., 1929. 329 p. 
Janeiro: Lumen Juris, 2009. 749 p. 
GIOVANNINI,  Eduardo. Produção  de 
CERQUEIRA,  João  da  Gama.  Tratado  da  uvas: para  vinho,  suco  e  mesa.  Porto  Alegre: 
propriedade  intelectual.  Vol.  I.  Rio  de  Renascença, 1999. 364 p.  
Janeiro: Revista Forense, 1946. 538 p.  
GOMEZ  LOZANO,  Maria  del  Mar. 
COELLO MARTÍN, Carlos. Las bases históricas  Denominaciones  de  origen  y  otras 
y  adminsistartivas  del  derecho  vitivinícola  indicaciones  geográficas.  Navarra:  Thomson 
español:  el  sistema  jurídico  de  las  Aranzadi, 2004. 187 p. 
denominaciones  de  origen.  Sevilla:  Instituto 
Andaluz  de  Administración  Pública,  2008.  GONÇALVES,  Marcos  Fabrício  Welge. 
1460 p.   Propriedade  industrial  e  a  proteção  dos 
nomes  geográficos:  indicações  geográficas, 
DENIS,  Dominique.  Appellation  d'origine  et  indicações  de  procedência  e  denominações 
indication  de  provenance.  Paris:  Dalloz,  de origem. Curitiba: Juruá, 2007. 345 p. 
1995. 121 p. 
GUILLEN  CARRAU,  Javier.  Denominaciones 
geográficas  de  calidad:  estudio  de  su 
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 171
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

reconocimiento  y  protección  em  la  OMC,  la  262 p. 


UE  y  el  derecho  español.  Valencia:  Tirant, 
2008. 524 p.  LÓPEZ  BENÍTEZ,  Mariano.  Las 
Denominaciones  de  Origen.  Barcelona: 
HOBSBAWN, Eric. A era das revoluções 1789‐ Cedecs, 1996. 201 p. 
1848.  25.  ed.  São  Paulo:  Terra  e  Paz,  2010. 
535 p.  MARCY,  Jeanne.  La  réglementation  des 
Appellations  d’origine.  Paris:  La  Presse 
HODEZ,  Roger.  Du  droit  a  l  ‘appellation  française, 1927. 121 p. 
champagne. Paris: PUF, 1923. 329 p.  
MARONO  GARGALLO,  Maria  del  Mar.  La 
JOHNSON,  Hugh.  Une  historie  mondiale  du  proteccíon  jurídica  de  las  denominaciones 
vin:  de  l  ‘antiquité  à  nous  jours.  France:  de  origem  en  los  derechos  español  y 
Hachette, 1990. 684 p.   comunitario.  Madrid:  Marcial  Pons,  2002. 
304 p. 
LADAS,  Stephen.  P.  The  international 
protection of industrial property. Cambridge:  MARTÍNEZ  GUTIÉRREZ,  Ángel.  La  tutela 
Harvard University Press, 1930. p. 933.  comunitária  de  las  denominaciones 
geográficas:  conflictos  con  otros  signos 
LAGO  GIL,  Rita.  Las  marcas  colectivas  y  las  distintivos. Barcelona: Atelier, 2008. 235 p.  
marcas  de  garantia.  2.  ed.  Navarra:  Civitas, 
2006. 350 p.   MOREIRA,  Vital.  O  governo  de  Baco:  a 
organização  institucional  do  Vinho  do  Porto.  
LAPSLEY, J.T. Implications of the evolution of  Porto: Afrontamento, 1998. 301 p.  
appellation  in  the  United  States:  the  case  of 
Napa. Bulletin  de  l’OIV, v. 80, n. 914‐916, p.  O’BRIEN, Vincent. Protection of Geographical 
223‐227. 2007.  Indications  in  the  United  states  of  America. 
In:  Symposium  on  the  international 
LAVENANT,  Louis.  De  l’indication  d’origine  protection of geographical indications in the 
des  produits  importés  en  France  e  à  worldwide  context.  Eger:  WIPO,  1997,  p. 
l’Étranger. Rennes: Réunies, 1941. 350 p.   163‐186. 

LEMA  DEVESA,  Carlos.  Las  medidas  O’CONNOR,  Bernard.  The  Law  of 
provisionales em el acuerdo sobre los ADPIC.  geographical  Indications.  London:  Cameron 
In:  IGLESIAS    PRADA,  Juan  Luis  (Dir.).  Los  May, 2006. 500 p. 
derechos  de  propiedad  intelectual  en  la 
organización  mundial  del  comercio.  T.  II,  OLSZAK,  Norbert.  Droit  des  appellations 
Madrid: CEFI, 1997, 239 p.   d’origine et indications de provenance. Paris: 
Tec e Doc, 2001. 187 p.  
LOCATELLI,  Liliana.  Indicações  geográficas:  a 
proteção  jurídica  sob  a  perspectiva  do  PELLA.  Tratado  teorico‐practico  de  las 
desenvolvimento  econômico.  Curitiba:  Juruá,  marcas  de  fabrica  y  comercio  in  Españha. 
2007. 337 p.  Madrid:  General  de  Victoriano  Soarez,  1911. 
s/p. 
LÓPEZ  BENÍTEZ,  Mariano.  Del  Estatuto  del 
vino  a  las  leyes  del  vino:  un  panoorama  PELLETIER,  Michel;  VIDAL‐NAQUET,  Edmond. 
actual  y  de  futuro  de  la  ordenación  La Convention d’Union pour la protection de 
vitivinícola  en  España.  Madrid:  Civitas,  2004.  la  propriété  industrielle  du  20  mars  1883  et 

Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 172
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  
Kelly Lissandra BRUCH 
Homero  DEWES 
                                                           11. Relação entre os signos e o vinho na história 

les  conférences  de  revision  postérieurs.  la mondialisation. Paris: Press de Science Po, 


Paris: Larose, 1902. 542 p.   2007. 395 p. 

PÉREZ  ÁLVAREZ,  Félix.  Diferencias  juridicas  VARELLA,  Marcelo  Dias.  Propriedade 


que  permiten  la  distinción  entre  las  intelectual  de  setores  emergentes.  São 
Denominaciones  de  Origen  y  las  Marcas.  Paulo: Atlas, 1996. 255 p. 
Disponível  em: 
<http://www.seain.es/es/noticias/?3>.  VEIGA  JUNIOR,  Didimo  Agapito  da.  MARCAS 
Acesso em 30 mar. 2009.  DE  FÁBRICA.  Rio  de  Janeiro:  B.  L.  Garnier, 
1887, p. 127‐161. 
PLAISANT,  Marcel.  Protection  Internationale 
de  la  Propriété  Industrielle.  In:  Recuiel  des  VIDAL,  Michel.  Historie  de  la  vigne  et  des 
Cours , Paris: Recueil Sirey, 1932. p. 355‐545.  vins  dans  le  monde.  Bordeaux:  Féret,  2001.  
175 p.  
PROT,  Vérinique  Romain.  Protection 
internationale  des  signes  de  qualite  agro‐ VINCENT,  Michel.  Impacts  de  l’extension  de 
alimentaire.  Thèse  de  Doctorat  Droit  Agro‐ la  protection  des  indications  géographiques 
alimentaire.  Université  de  Nantes,  Nantes,  dans l’Union Européenne et en Amérique du 
1997. 586 p.  Nord. Thèse: École Doctorale de Sciences Po. 
Paris, 2006. 261 p.  
ROUBIER,  Paul.  Le  droit  de  la  propriéte 
industrielle.  Paris:  Librarie  du  Recuel  Sirey,  VIVEZ,  Jacques.  Les  appellations  d’origine: 
1952. 612 p.  legislation  et  jurisprudente  actuelles. 
Bordeaux: Gadoret, 1932. 144 p.  
RUBINO,  Vito.  Le  denominazioni  di  origine 
dei  prodotti  alimentari.  Alessandria:  Taro,  VIVEZ,  Jacques.  Traité  des  appellations 
2007. 235 p.  d’origine:  legislation,  réglementation, 
jurisprudence.  Paris:  Droit  et  Jurisprudence, 
RYAN,  Desmond.  Protection  of  Geographical  1943. 190 p. 
Indications  in  Australia  and  New  Zealand.  In: 
Symposium  on  the  international  protection  ZIBETTI,  F.  W.  A  relação  entre  propriedade 
of geographical indications in the worldwide  intelectual  e  normalização  técnica  no 
context. Eger: WIPO, 1997, p. 243‐242.  cenário do comércio internacional. Pontes, v. 
5, p. 9‐10, 2009. 
SAÍZ  GONZÁLEZ,  J.  Patricio.  Legislación 
histórica  sobre  propiedad  industrial:  España  ZIBETTI,  F.  W.;  BRUCH,  Kelly  Lissandra  .  The 
(1759‐1929). Madri: OEPM, 1996. 484 p.  tension  inherent  to  the  relationship 
between  intellectual  proprty  rights  and 
SANTAELLA, Lucia. A Teoria Geral dos Signos:  technical  standards:  alternatives  to 
como  as  linguagens  significam  as  coisas.  São  standardization  organizations  in  the  wine 
Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.  153  sector.  In:  33  World  Congress  of  Vine  and 
p.  Wine – Touch the history. Tbilisi: OIV, 2010. 

SANTOS, José Ivan. Vinhos: o essencial. 2. ed.   
São Paulo: SENAC, 2004. 299 p. 

SMITH, Andy; MAILLARD, Jacques de; COSTA, 
Olivier. Vin et politique: Bordeaux, la France, 

Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | Site: www.cesuca.edu.br 173
REVISTA JURÍDICA DO CESUCA ‐ ISSN 2317‐ 9554 ‐  v.1, n. 1, jul/2013 
                             http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revistajuridica  

Você também pode gostar