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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


CURSO DE DIREITO - BACHARELADO
DIREITO DO TRABALHO

JOSÉ ALCIRAN FERNANDES OLIVEIRA JÚNIOR E PETUNIA GALVÃO


BEZERRA

Conto de Direito do Trabalho

São Luís
2021
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
CURSO DE DIREITO - BACHARELADO
DIREITO DO TRABALHO

JOSÉ ALCIRAN FERNANDES OLIVEIRA JÚNIOR E PETUNIA GALVÃO


BEZERRA

Conto de Direito do Trabalho

Trabalho apresentado à disciplina de Direito do


Trabalho, ministrada pela professora Jaqueline
Demétrio, para obtenção de nota parcial referente a
primeira avaliação.

São Luís
2021
Uma jornada de luta

Na cidade de Fortaleza, mais especificamente no bairro Guatelajara, vivia uma


mulher batalhadora chamada Siri Silva, de 36 anos, cabelos pretos como o carvão
recém-saído, olhos cor de mel, estatura mediana e uma personalidade que chamava
atenção por sua extrema gentileza, educação e capacidade de superar seus
obstáculos fizeram parte de sua jornada desde a infância, a qual a fez lidar com
diversas adversidades.

Aos 16 anos, Siri ainda não tinha sido alfabetizada, dada a ausência de escolas
ou de meios que possibilitasse o acesso à educação na pequena comunidade rural
em que vivia. Sua história mudou a partir da chegada da advogada e professora
Karoline Samantha, que fazia uma pesquisa sobre escolaridade e leitura no local o
qual Siri morava. Logo, a jovem, cheia de curiosidade e vontade de conhecer o mundo
das letras se apegou a professora, ao conhecê-la na quermesse da única paróquia da
região.

Assim, o destino de Siri teve uma nova direção, pois, com a ajuda da
professora, que se tornou sua grande amiga e incentivadora, a adolescente aprendeu
a ler e se apaixonou pelo universo da leitura e do conhecimento. Vendo o interesse e
o entusiasmo da menina, Karoline sugeriu aos pais de Siri que ela a acompanhasse,
em seu retorno à capital, para que a jovem pudesse realizar seu início aos estudos.

Vinte anos mais tarde, Siri Silva, agora uma mulher, possui o ensino médio
completo e, depois de exercer diversas atividades autônomas, visto não ter adentrado
a nenhum curso de Ensino Superior, começou a trabalhar numa loja de roupas
femininas, denominada "Empoderadas” e localizada no centro da cidade'.

No ambiente de serviço, era sempre requisitada pelos clientes, que logo foram
conquistados pela sua simpatia e por seu carisma, o que fez a proprietária do negócio
se tornar sua grande amiga. Valéria era uma senhora de cabelo loiro esbranquiçado
por conta de seu envelhecimento, que tinha passado a meia idade e consagrado seu
comércio.

Além dessa trajetória, Siri também se encontra casada com seu amoroso
companheiro, Bruno Jorge Jefferson, um homem alto, esperto, de cabelos cacheados,
sorriso acolhedor, com quem formou uma família encantadora com a presença de
Fred, seu filho serelepe, de apenas 2 dois anos.

Fred era o único filho dessa união, tinha puxado a gentileza da mãe e a
esperteza e traquinagem de Bruno, por isso o casal desejava colocá-lo em uma creche
o quanto antes, para que pudesse desenvolver sua curiosidade e habilidades
educativas.

Em uma manhã de segunda-feira, a mãe trabalhadora estava a caminho de


seu serviço, quando se deparou com um anúncio de promoção de curso de técnico
em Administração, em um grande prédio de um centro comercial. Vislumbrada com
as oportunidades que o curso poderia lhe proporcionar no mercado de trabalho, a
gentil mulher decidiu inscrever-se naquele meio de aprendizado.
Um ano e meio depois de iniciado o curso, a funcionária da “Empoderadas”
adquiriu diversos conhecimentos técnicos a respeito do ambiente corporativo e se
sentia motivada a conquistar novos espaços de emprego. Nessa situação, buscou por
sites de vagas e ligou para várias empresas localizadas em sua cidade, até que
encontrou um anúncio de auxiliar administrativo na conhecida “Gladiadora”, uma
empresa de pequeno porte, localizada em um prédio comercial, que prestava serviços
de engenharia elétrica e mecânica, realizando consultorias, projetos, pareceres e
manutenções em máquinas e circuitos. Decidiu então, ligar para a firma e conseguiu
agendar uma entrevista no local.

No dia da entrevista, Siri se sentia nervosa, porém confiante pois tinha grandes
expectativas a respeito da sua atuação naquele novo ambiente e havia estudado
bastante sobre a trajetória da companhia. Após chegar ao ambiente em que seria
entrevistada, ela é bem recebida pelo diretor administrativo Luís Fernandes, que iria
lhe entrevistar. Após o início da conversação, a candidata é questionada qual o seu
maior defeito, sua melhor qualidade e o que ela teria a oferecer para a empresa.

Diante dessas perguntas, a recém-formada no curso de técnico em


Administração responde:

— Como maior qualidade minha, sou uma pessoa que sempre preza pelo bem
feito e me disponho a realizar todas as atividades que são solicitadas da melhor
maneira possível. Meu maior defeito é se preocupar muito com o que os outros
pensam. Além disso, - acrescentou a candidata - eu tenho a oferecer à empresa
serviços de qualidade e uma funcionária que irá contribuir com o crescimento da firma.

Então, Luís afirma que foi uma excelente resposta e questiona qual a sua meta
ou seus sonhos. Siri prontamente responde:

— Minha meta é crescer aqui dentro e como sonho desejo ser uma CEO de
uma empresa de sucesso e pagar uma faculdade de Administração.

— Obrigado pela conversa, Siri. Boa sorte! - com isso, o chefe encerra a
entrevista.

Uma semana após o processo seletivo da “Gladiadora”, Siri recebe uma ligação
dizendo que havia sido admitida como auxiliar administrativo. Diante disso, a nova
funcionária da prestadora de serviços de engenharia encheu-se de felicidade e foi
contar animada a novidade ao seu companheiro, que recebeu com alegria a notícia e
a parabenizou.

No seu primeiro dia de trabalho, a recém-admitida pela empresa é apresentada


às funções que iria desempenhar que seriam: elaborar planilhas, marcar reuniões,
criar apresentações, buscar por potenciais clientes e realizar comunicação entre os
clientes e a “Gladiadora”.

Após seu primeiro mês de trabalho, foi notificada que o aluguel da quitinete
onde morava iria sofrer um aumento. Logo, Siri teve a ideia de começar a vender trufas
para os trabalhadores dos outros escritórios e salas comerciais, durante seu intervalo
de almoço, para complementar sua renda.
Primeiro Siri avisou ao diretor que iria oferecer seus produtos, dada a difícil
situação em que se encontrava para os demais colegas de prédio e não dentro da
empresa, visto que esta prezava pela conservação de seu emprego.

De imediato, seu chefe não se pronunciou quanto a aceitação ou rejeição ao


oferecimento das trufas pelo prédio, dado que Siri não era vista divulgando o que
vendia dentro do ambiente de trabalho.

No entanto, com o aumento da demanda pensou ser necessária a contratação


de uma nova auxiliar administrativa, mas Luís não queria ter mais custos com pessoal
de trabalho. Então teve a ideia de usar a venda dos doces de Siri, como pretexto para
que a funcionária passasse a tomar conta do excedente de atividades da empresa.

A partir de então, o diretor passou a sobrecarregar o número de tarefas e


funções requisitadas a Siri e começou a demonstrar aversão a atividade extra
praticada pela técnica em administração, em seus intervalos e entendeu que a venda
das trufas interferia na produtividade da empresa, mesmo sabendo que Siri só vendia
suas trufas durante seu horário de intervalo e fora de sua sala comercial. Essa
situação fazia com que a funcionária saísse mais tarde, visto que seu chefe não
permitia que ela deixasse o local de trabalho enquanto não terminasse as atividades
solicitadas. Além disso, Luís ordenava que ela realizasse a supervisão administrativa
de todo escritório, o que fugia de sua competência original.

Após diversos dias de venda de trufa, Siri se aproximou de Maísa, uma


advogada especialista em Direito Penal, que trabalhava em um escritório do mesmo
prédio comercial.

Em mais um horário de almoço, a técnica administrativa para na sala de


escritório vizinha e oferta seus doces aos clientes que lá estavam, já que o dono do
local já havia permitido que esta o fizesse.

Seguidamente, Maisa retorna ao escritório enquanto Siri ainda estava por lá e


a advogada nota sua aparência abalada. Enxergando uma oportunidade para
desabafar com a amiga, a auxiliar administrativa conta a situação que estava
vivenciando no ambiente de trabalho e suas consequências. Relata que tem que sair
um longo tempo depois do término de seu expediente, o que a prejudicava por conta
do horário o qual teria que apanhar seu filho na escola e devido a isso, Bruno teve que
passar a ir buscá-lo Fred antes de ir trabalhar, o que o fazia chegar atrasado em seu
emprego. Essa circunstância provocava ao casal diversas discussões e
desentendimentos, intensificando um desgaste mental que a mãe já sofria na
“Gladiadora”. Então, a ex-vendedora continuou:

— Amiga, a única solução que eu encontrei sobre esse problema do meu filho
foi deixar ele às vezes na casa da avó, às vezes na casa da nossa vizinha. Isso me
deixou mal fisicamente, pois tenho menos tempo com meu filho e não consigo produzir
uma boa quantidade de trufas. Isso tudo me fez perder a disposição e a vontade de
me alimentar.

— Eu não fazia ideia que a situação estivesse tão complicada, amiga. Vou te
apresentar o Roberson, advogado especialista em Direito do Trabalho e Direitos
Humanos. Ele pode te orientar melhor, mas estou disposta a ajudar - respondeu Maísa
de forma solícita.

No dia seguinte, no horário de almoço, Siri conhece Roberson e se sente


confortável para falar sobre o que estava passando. Após saber da situação da mãe
trabalhadora, Roberson adverte:

— Amiga, você é muito ingênua, mas como advogado e pessoa que aprecia
muito sua presença em nosso escritório, não posso deixar que você seja enganada
por seu patrão. Ele está lhe explorando!

— O que você quer dizer, Roberson?

— Quero dizer que seu chefe está pedindo que você ultrapasse sua o período
de sua jornada de trabalho semanal, Siri… e muito!

— Mas o seu Luís Augusto é tão bom conosco, Roberson. Não consigo
acreditar que ele esteja fazendo isso intencionalmente. [...] É que a empresa tem
andando tão cheia de demanda esses tempos, que acho que ele só queria pra
ajudarmos um pouco mais…

— Tenho uma dúvida, minha amiga…

— Qual?

— Nesses últimos meses, só você tem ficado até mais tarde na empresa? Ou
algum colega seu também lhe faz companhia?

— Pior que não. Não lembro de ter notado a presença de ninguém do pessoal
por lá, não… [...] Mas acho que é porque o administrativo é mais atarefado, né?

— Ai ai, você é uma querida mesmo, já volto em uns minutinhos.

Minutos após deixar a recepção, Roberson volta com suas anotações jurídicas
acerca da jornada de trabalho. E retomou ao assunto:

— Quero que você veja uma coisa, olha aqui - Roberson apontou para o
material impresso cheio de anotações e legislação destacada em marca texto.

— Tá na Constituição: “XIII - duração do trabalho normal não superior a oito


horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e
a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho.”. Além
disso… - o advogado virou a página do escrito que segurava e mais uma vez leu para
Siri - a CLT, legislação trabalhista, também traz em seus artigos alguns apontamentos
sobre isso que estou lhe falando: “Art. 58 - A duração normal do trabalho, para os
empregados em qualquer atividade privada, não excederá de 8 (oito) horas diárias,
desde que não seja fixado expressamente outro limite.” – e continuou – “§ 3º As horas
suplementares à duração do trabalho semanal normal serão pagas com o acréscimo
de 50% (cinquenta por cento) sobre o salário-hora normal”.

— Espera aí, tudo isso parece muito chique pra mim, estou um pouco confusa…
aonde você está querendo chegar com todas essas leis?
— Então, minha amiga, o que te mostrar, é que isso que seu Luís tá fazendo é
contra a lei… você não deve exceder essa carga horária em sua jornada de trabalho,
a menos que ele estivesse por hora extra, ainda com seus limites.

— Oh - a auxiliar administrativa ficou pensativa por alguns segundos -, você


acha que eu deveria falar com o seu Luís?

— Não vejo problema em tentar resolver isso entre vocês, Siri. Mas como
amigo, sugiro que você também tente um acordo para retomar sua rotina de trabalho
e receber pelo tempo que trabalhou a mais. Porém, como advogado…

— O que foi, Roberson?

— Acho que devemos entrar com ação pedindo o pagamento das horas extras
e o acréscimo relativo ao desvio de função, já que você foi contratado como auxiliar
administrativa, mas desempenhava as funções de supervisora administrativa...

— Você poderia ir comigo até a empresa amanhã?

— Posso sim, resolveremos essa situação.

Reflexiva sobre a conversa, Siri convida Roberson a conversar com o chefe


juntamente com ela, para que juntos expusessem os argumentos e fundamentos
jurídicos. Pois Siri queria realizar uma tentativa de diálogo para resolver o conflito sem
ajuizar uma ação e conseguir voltar a sua vida normal, a qual tinha tempo para ficar
com seu filho, ir buscá-lo, não influindo mais no horário de trabalho do seu marido e
acabando em discussões desgastantes.

O quanto antes resolvesse tal questão, Siri imaginava que o estresse e cansaço
excessivo, que agora lhe afetam, seriam amenizados e assim poderia continuar
tentando obter renda extra (que não influísse em seu trabalho) para pagar seu aluguel
e um dia alcançar o sonho da tão desejada faculdade.

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