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Pós-doutor em Ciências Agrárias pela Federal Agricultural Research Centre, Alemanha. Doutor. Mestre e Graduado
em Agronomia pela Universidade de São Paulo. E-mail: gerd@eslaq.usp.br
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Pós-doutora em Ciências Florestais pela Universidade de São Paulo. Mestre em Agroecologia de Ecossistemas. Graduada
em Licenciatura Plena e Bacharel em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: francisca. costa@ucb.org.br
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Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo. E-mail: esdrascavalcante@trt15.jus.br.
Guaiquica e como a presença das áreas legais de APP (L (Reserva Legal)
podem contribuir para melhoria da Ecoeconomia na região.
INTRODUÇÃO
A sociedade encontra-se envolvida em um grande processo de transformação que
afeta diversos setores, sendo que todas essas mudanças acabam por gerar alertas e cuida-
dos em relação à própria vida no planeta. A sensação de insegurança é constante, muito
embora alguns mecanismos sejam utilizados com a intenção de estabelecer uma falsa im-
pressão de normalidade, a incapacidade de controle institucional e a dimensão dos novos
problemas evidenciam que nem tudo está no rumo certo, gerando os resultados esperados.
A impressão que fica é que o perigo e a incerteza estão presentes em todas as áreas. Como
a área econômica, ao longo da história, tem sido o setor das decisões mundiais, o que per-
cebe é que diante de claros e fortes sintomas, ela está começando a olhar o risco ecológico,
outrora calculável e previsível, com novas características, e o anuncio de probabilidade
de ocorrência de grandes desastres evolvendo inclusive a economia de forma geral, tem
10 levado muitos a um estudo mais cauteloso entre economia e meio ambiente.
Segundo Ferreira (2004, p. 7),
cidadania global. Ela configura-se em uma ecoformação, pois será necessária uma nova
forma de ver o mundo e se agir sobre o consumo para que isso aconteça sem que seja
utopia, será realmente importante uma nova forma de educação ou uma ecoformação.
O contexto atual direciona para a necessidade de mais estudos sobre a relação produção
e conservação do meio. Partindo dessa temática, surgiu o interesse na realização deste estudo,
que teve como foco as áreas de preservação permanente da Microbacia do Guaiquica, uma
das microbacias que compõe o Município de Engenheiro Coelho no Estado de São Paulo. Esta
microbacia atualmente tem sua produção agrícola voltada em maior escala para produção de
cítricos e, consequentemente, o uso de agrotóxicos é um fator preponderante no ambiente.
Não foi foco do estudo o grau de comprometimento do solo ou da água pelo uso de produtos
químicos, a intenção foi fazer um levantamento das áreas naturais destinadas à APP e RL da
microbacia, enfocando dessa maneira as possibilidades da Ecoeconomia na região.
METODOLOGIA
A metodologia do trabalho empregou procedimentos de coleta de dados em diferentes
bibliografias que versam sobre a temática de Ecoeconomia e áreas destinadas a preserva-
ção ambiental. A pesquisa pode ser classificada quanto aos seus objetivos em uma pesquisa
exploratória e informativa, tendo a natureza em uma pesquisa dialética, ou seja, usando
métodos quantitativos e qualitativos para análises dos dados (GONSALVES, 2001. p. 64). 11
O trabalho identificou as APPs e as áreas de RL da microbacia do Guaquica através
de fotos aéreas (ortofotos-2000) da região, obtidas pela empresa BASE Aerofotograme-
tria e Projetos S.A. A visita a campo confirmou algumas mudanças locais.As fotos aéreas
foram georrefereciadas através das cartas topográficas do IBGE nas escalas de 1:10.000
e trabalhadas em ambiente de Sistemas de Informação Geográfica (SIG). O programa
escolhido para trabalhar as imagens e produzir os mapas foi o Mips TNT 6.8. Este pro-
grama tem sido utilizado em diversos trabalhos de geoprocessamento na ESALQ - USP e
suas ferramentas têm possibilitado maiores opções nas interpretações dos dados, alcan-
çando satisfatoriamente os resultados desejados no uso das geotecnologias. O objetivo
desta etapa foi identificar e delimitar as áreas de APP e RL da microbacia e confirmar a
rede hidrográfica e a declividade do terreno, vetorizando todas as informações.
Depois foi elaborada a projeção legal da área destinada a APP através de um pro-
grama que projeta em 30 metros a área no entorno das nascentes e ao longo dos cursos
d’águas. Todos os córregos do município não ultrapassam 10 m de largura e, de acordo
com a lei a metragem estabelecida para a existência da vegetação, consiste em 30m (Lei n.º
4.771/15.09.65/ art. 2º). Ainda na parte de geoprocessamento, foram vetorizados todos os
locais com presença de vegetação nativa, seja em área de APP ou não. A vegetação externa
às áreas de APP foi designada como RL para cada propriedade. Foram separados, dentro
das APPs, os lugares com vegetação original, sem a presença da vegetação e com outro uso,
ASPECTOS ECONÔMICOS
A economia de Engenheiro Coelho é dominada pelo cultivo de laranja e cana de
açúcar, no entanto, tem também aplicações nas mais diversas áreas da agricultura, certo
que com menor expressão, exatamente por conta do grande domínio dessas duas outras
culturas, isso pode ser notado a partir dos gráficos à baixo, que retrata as culturas, per- 13
manentes e temporária do município.
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Apesar de relativamente jovem, o Município de Engenheiro Coelho teve seus recursos
naturais explorados há mais de dois séculos, contanto com uma devastação quase que total
das suas áreas de vegetação natural. O cultivo agrícola iniciado com o café proporcionou
aos seus proprietários bons rendimentos, pois as terras com teor predominante de Latossolo
Vermelho Escuro conferiram ao Município terras de alta qualidade fértil e produtiva. Os
ciclos da produção agrícola transcorreram do café (1880 a 1930) para o do algodão na década
de 40, depois o do arroz, da mandioca, da cana-de-açúcar e finalmente o de citrus (a partir
dos anos 50), com predomínio da laranja tipo exportação. As matas nativas, constituintes de
parte da Mata Atlântica, foram sendo substituídas pelo avanço agrícola, e em menor escala
o pastoril. Na porção mais plana do município (microbacia do Guaiquica), a devastação
ocorreu de forma mais intensa, impulsionado pelo crescimento econômico.
Em relação ao potencial de água, a microbacia conta com boa rede de drenagem.
O abastecimento da área urbana é feito pela estação de tratamento da água em uma área
cedida pelos proprietários da fazenda Pinhalzinho, onde o poder municipal mantém a esta-
ção e funcionários no local. Esta estação está vinculada ao ribeirão Guaiquica, o maior em
extensão e volume de águas.
Na figura 3, o mapa da estrutura fundiária da microbacia do Guaiquica apresenta o
predomínio de pequenas propriedades, que geralmente contam com o trabalho familiar, e
isto contribui para caracterizar algumas propriedades como recantos de descanso e lazer. As
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Na figura 4, as áreas em amarelo são os locais de APP que estão sem a vegetação original,
algumas aparecem com capim alto,mas sem a presença de árvores.
A projeção ideal para a APP dessa microbacia seria semelhante ao que está na figura 5, onde o
traçado do Buffer delimitou os 30m no entorno dos cursos d’águas em toda a estrutura hidrográfica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com (OLIVEIRA, 2001; SIMÕES, 1996; SPAROVEK et al., 2001), as defini-
ções legais têm mostrado que as faixas marginais aos cursos d’água destinados às áreas de
preservação permanente nem sempre possuem a extensão necessária para exercer o papel de
filtro para nutrientes (nitrogênio e fósforo, principalmente) e sedimentos transportados pela
água, proveniente das áreas agrícolas adjacentes.
De acordo com Gleick (1998) ; Lima e Zakia (2001) ; Rodrigues e Gandolfi (2004):
a erosão, a perda de fertilidade dos solos e o assoreamento dos rios e degradação dos cursos
d’água foram os principais motivos que levaram ao estabelecimento da APP. Entretanto, a
largura da faixa de proteção ciliar foi estabelecida sem o suporte científico necessário e sem
considerar adequadamente as principais variáveis físicas (como tipo de solo, declividade e
produção de sedimentos) e biológicas (como dinâmica e sucessão de florestas) da microbacia.
Estas variáveis, que estão diretamente envolvidas no cumprimento das funções da Floresta
Ribeirinha, assegurariam os benefícios ecológicos adequados e o bom funcionamento hidro-
lógico da microbacia. Desta forma, pelo menos o estabelecido legalmente deve ser respeitado.
Ainda de acordo com Cullen (2007), programar corredores entre os fragmentos de flo-
resta para promover fluxo gênico das espécies de fauna e flora, mantendo sua integridade 23
ecológica; oferecer aos proprietários de terras a oportunidade de se adequar ambientalmente,
através do reflorestamento, com espécies nativas, das áreas de proteção e preservação am-
biental de suas propriedades rurais; desenvolver novas técnicas de restauração florestal de
menor custo e mais adaptada à realidade local tornou-se aspectos importantes nos projetos
de recuperação de áreas de APP e de RL no pontal do Paranapanema. Modelo semelhante foi
projetado neste trabalho para o município de Engenheiro Coelho.
Em alguns locais, o proposto ultrapassa a delimitação estipulada para a área de APP.
Porém, são locais que não estão em utilização agrícola e nem apresentam outra forma de uso,
podendo ser acrescida com a vegetação natural, aumentando assim o potencial ecológico des-
ses ambientes. Isso também porque, como foi discutido na parte teórica, o ideal para que haja
corredores ecológicos e uma manutenção de espécies seria um tamanho superior ao estipu-
lado pela própria lei. Metzger et al (1997), “visando à conservação da biodiversidade, obser-
varam que uma largura de floresta ribeirinha entre 60 a 90 m seria suficiente para manter a
diversidade e a equabilidade de espécies de plantas”. Portanto, os locais que ultrapassam o
limite da APP só estariam completando o ideal para a região, e poderão ser considerados na
porcentagem das áreas de reserva legal (RL) das propriedades. As áreas destinadas à RL são
praticamente inexistentes em todo o município, e o plano de intervenção possibilitará o reflo-
restamento dessas áreas indicando os locais específicos, promovendo assim o cumprimento às
global, das fontes difusas de poluição, condicionando conforto térmico e possibilitando lo-
cais de recreação e lazer, pode ser considerada parte importante no momento de informar a
comunidade sobre a importante de recuperar e manter as áreas naturais. Locais preservados
possivelmente exercem influências no equilíbrio dos ciclos naturais, mas independente disso,
a relação entre o plano de intervenção das áreas de APP e RL do município, possibilitaria aos
produtores sua legalidade quanto às leis ambientais que legislam sobre essas áreas.
O estudo não contou com muitos pontos de delimitação, mas ressaltamos aqui a não
existência de ortofoto mais recente da região. Porém, o uso do programa de SIG - TNT MIPs
fez a diferença para as interpretações e vetorização das áreas para estudo e diagnóstico. Os
mapas gerados localizaram as áreas passivas dentro do limite estipulado por lei para as áreas
de APP e indicou os locais mais aceitáveis para o plantio da RL. Estas informações possibili-
tam aos responsáveis por estas áreas uma orientação e ao mesmo tempo organiza o plano de
intervenção para a criação de corredores florestais no município.
Por fim, diante dos levantamentos realizados, espera-se que outros trabalhos surjam em con-
sequência deste, e possam viabilizar parcerias entre o poder público municipal, estadual, federal,
instituições privadas e a comunidade local, possibilitando ações concretas para a adequação das
áreas de preservação permanente e reserva legal em todo o município de Engenheiro Coelho-SP.
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