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Resenha livro de Economia Internacional (capítulo 6) - Balança de Pagamentos

Maryana Vieira Rocha - Relações Internacionais

O capítulo seis do livro de Economia Internacional trás conceitos, estruturas e registros


básicos do balanço de pagamentos. Começando pelo Fundo Monetário Internacional
(FMI) que é conceituado, de acordo com o livro, como aquele que define o balanço de
pagamentos como o registro sistemático das transações econômicas entre residentes
de um país em determinado período de tempo.
Os autores descrevem, em um pequeno parágrafo, a distinção entre um sujeito
residente e não residente, pois o não esclarecimentos gera confusões, onde é aplicado
que essa distinção não se refere à nacionalidade, mas sim ao centro de interesses
econômicos. É considerado, pelos autores, uma pessoa física ou jurídica alguém que
possui interesse econômico em determinado país, quando à entre esse indivíduo e o
país uma certa atividade econômica por pelo menos um ano, no país em questão. Em
outras palavras, por exemplo, são consideradas pessoas residentes do Brasil todos
aqueles indivíduos que vivem no território em caráter permanente.
A transação, segundo os autores, é definida de acordo com o fluxo econômico
refletindo a criação ou extinção de valores econômicos e envolve, também, a troca de
propriedade entre os agentes envolvidos. Esses fluxos podem causar mudanças nos
estoques da dívida externa, acabando por limitar as transações realizadas entre
residentes de não residentes durante certo período. Essas transações constam que o
balanço de pagamentos envolve bens, serviços, rendas, doações e entre outros. Na
regra geral os envolvidos são registrados pelo valor de mercado, à taxa de câmbio
vigente e são subdivididas em grupos de contas, sendo os principais grupamentos de
acordo com seu volume e interesse analítico, ou seja, transações correntes (TC) e
conta financeira (CF).
As Transações Correntes são aquelas responsáveis por produzirem os chamados
fluxos reais, isso quer dizer que essas transações movimentam bens, serviços e rendas
entre os residentes e não residentes. Estas são subdivididas em: balanço comercial
(BC), balanço de serviços (BS), renda primária (RP) e renda secundária (RS).
Essas subdivisões formam a seguinte fórmula: TC = BC + BS + RP + RS
Onde balanço comercial registra o saldo das exportações e importações de
mercadorias pelo valor. O balanço de serviços registra o saldo do valor dos serviços
prestados e recebidos pelos residentes de um país. O balanço de renda primária é
composto por salários, ordenados e renda de investimento, onde os salários e
ordenados correspondem aos pagamentos a trabalhadores sazonais, temporários e
outros não residentes. E, por fim, a renda secundária, registra transferências
correntes entre residentes e não residentes de um país, essas transferências
consistem em transações não envolvendo obrigações em contrapartida, ou seja,
aquelas que afetam o nível de renda disponível e influenciam no consumo de bens e
serviços.
A Conta Capital é aquela que registra transações ativas à alienação de bens não
financeiros e não produzidos e às transferências unilaterais de capital. Estas passaram
a fazer parte da conta capital e financeira. É identificado pelo BPM6 ativos não
financeiros não produzidos com recursos naturais. Entre as transferências unilaterais
de capital é identificado as dívidas, os subsídios concedidos pelos governos ou
organizações internacionais.
A Conta Financeira substitui o que antes era a conta de capitais autônomos e registra
as transações relativas à formação de ativos e passivos externos. Essa conta foi
estruturada de forma que evidencie essas transações. A conta financeira é subdividida
pelo BPM6 em categorias, sendo elas: investimentos diretos (ID), investimentos em
carteira (IC), derivativos (DR), outros investimentos (OI) e ativos das reservas (AR).
Ou seja: CF = ID + IC + DR + OI + AR.
Sendo assim, os investimentos diretos consistem que o residente em um país
bloqueie o controle na gestão de uma empresa residente em outro país; os
investimentos em carteira registram os fluxos ativos e passivos organizado pela
emissão de títulos de crédito negociado; os derivativos registram o fluxo financeiro
relativo à liquidação de haveres e obrigações, ou seja, é identificada pelo envolvimento
de transferência de risco. E os outros investimentos englobam não só moedas e
depósitos, como também empréstimos, créditos comerciais, seguros, esquemas de
pensão e fundos de garantia. Os ativos de reserva correspondem ao resultado do
balanço de pagamentos global, ou seja, ao saldo de todas as transações realizadas
entre residentes e não residentes de certo período. Os saldos considerados positivos
significam o aumento de ativos e superávit no balanço de pagamentos. Caso o saldo
seja negativo, os ativos são reduzidos e déficit no BP. Além de todas essas categorias,
há também os erros e omissões (EO), onde a contabilização do balanço de
pagamentos não garante que o resultado agregado dos saldos seja zero, ou seja, os
EO compensam a sobrestimação ou a subestimação dos demais componentes.
As transações registradas do balanço de pagamentos obedecem ao método das
partidas dobradas, isso quer dizer que um método em uma conta corresponde a um
crédito em outra e vice-versa. Sendo assim, não existe, em termos econômicos,
modificações em relação às regras adotadas no passado. O BPM6 indiciou que a
principal diferença na forma de contabilizar o balanço de pagamentos se dá à
convenção dos sinais das operações exercidas. Segundo o mesmo, sinais positivos
indicam exportações e importações, receitas e despesas de rendas e de transferências
e aumentos entre ativos e passivos. Essa ideia surgiu através do BPM5 que registrava
duas entradas com valores iguais e absolutos, sendo uma como crédito (sinal positivo)
e a outra, débito (sinal negativo).
De acordo com a nova convenção dos sinais, o valor das exportações menos o valor
das importações, equivale ao saldo da balança comercial, podendo apresentar déficit,
se as receitas (exportações) tiverem um valor inferior ao das despesas com
importações. Nas contas financeiras, tanto o aumento de ativos como o aumento de
passivos são apresentados com sinais positivos. As reduções dos mesmos, todavia,
são apresentadas com sinais negativos. Isso significa que o saldo da conta
corresponde à diferença entre as variações de ativos e passivos.
Seguem abaixo alguns exemplos de operações implicantes com o aumento e redução
de ativos e passivos (de acordo com o livro):
 O Brasil importa equipamentos da Alemanha financiados pelo fornecedor: a
conta importação leva um lançamento positivo, mas a contrapartida é lançada
como sinal positivo, apesar da importação mediante financiamento, como crédito
comercial (aumento do passivo) da conta de outros investimentos (OI).
 Um brasileiro que reside no Japão remete dinheiro para seus familiares
residentes no Brasil: o ingresso de divisas é lançado com sinal positivo como
transferência pessoal, onde subitem a conta renda secundária (RS), e a
contrapartida na conta AR com sinal positivo pelo acréscimo dos ativos de
reserva.
 O FMI concede um empréstimo de regularização ao Brasil: o lançamento com
sinal positivo na conta IO (aumento do passivo), assim como na conta AR
(aumento do ativo).

O FMI, como é de conhecimento geral, foi criado em Bretton Woods, nos EUA, e posto
em ação em 1946. Quando este foi criado, era composto de apenas 44 países e tinha
como finalidade de formar um tipo de sistema cooperativo de pagamentos
internacionais. Hoje, o FMI conta com a participação de 189 países, denominado uma
instituição permanente, com o objetivo de promover cooperação monetária
internacional, facilitar a expansão do comércio internacional, promover a estabilidade
do câmbio, auxiliar o estabelecimento de um sistema multilateral, promover recursos à
disposição dos países-membros e reduzir os desequilíbrios nos balanços de
pagamentos.
Para que essas metas estabelecidas sejam alcançadas, os países-membros
contribuem com recursos próprios e cada um desses membros doa e ajuda de acordo
com seu desempenho econômico, ou seja, quanto mais rico e maior for sua
participação no comércio mundial, maior a quota. A cada 5 anos são realizadas, nos
países-membros, uma nova análise afim de determinar se a quota de determinado país
aumenta ou diminui. Além disso, as quotas constituem o montante de recursos
disponíveis para empréstimo os membros com dificuldades na balança de pagamentos.
Nas primeiras fases do sistema em Bretton Woods, foi fixado um acordo entre os
primeiros países que o dólar americano iria servir de referência para as moedas, por
assim dizer, os outros países deveriam mantes a taxa de câmbio fixa em relação ao
dólar. Colocar o dólar como um denominador comum das moedas significava manter
paridades fixas entre si (EUA) e com o ouro próprio, esse ciclo constituía uma certa
garantia de estabilidade do sistema. Uma contradição a esse sistema era que a liquidez
internacional dependia da oferta de dólar e da produção de ouro, fato que causava
pressão devido ao contexto pós-Segunda Guerra Mundial.
Durante os anos de 1960, vários desequilíbrios econômicos passaram pela economia
norte-americana, como os déficits no balanço de pagamento, a Guerra do Vietnã, a
Guerra Fria e o programa espacial. O agrupamento desses desequilíbrios resultou
numa grave crise de credibilidade do dólar, onde os outros países-membros do FMI
passaram a “desconfiar” do potencial da moeda estadunidense. Uma solução
encontrada para esse descaso foi a criação dos Direitos Especiais de Saque (DES).
Esse sistema que o FMI identifica se há necessidade de aumentos das reservas
mundiais.
O DES se trata de uma moeda escritural definida em ouro, com mesma paridade do
dólar. Após várias modificações ao longo dos anos, o volume do DES acrescido da
quota passou a constituir as reservas do país ao FMI e a garantia de acesso a crédito,
caso aja necessidade. Essa quota consiste em depósitos de cerca de 75% na moeda
do próprio país e de 25% em ouro ou moedas conversíveis. Se um país-membro
apresentar problemas de pagamentos, este poderá sacar esses 25%depositados
anteriormente. Caso seja insuficiente, o país em questão pode pedir um requerimento
de mais recursos. Esse saque é feito contra depósitos equivalentes em moeda
nacional.
A contabilização da balança de pagamentos do Brasil teve seu início em 1947 e seus
levantamentos eram feitos, originalmente, pelo Banco do Brasil e pela fundação Getúlio
Vargas. Atualmente esses levantamentos são responsabilidades do BCB, onde
processa à contabilidade a partir de seus dados primários vindos de fontes diversas.
Desde 1947, as transações brasileiras são ditas como deficitárias, fato considerado
natural para economias de países pobres ao qual necessitam de popança externa para
seu desenvolvimento. Entre os anos de 1947 e 2015, as transições brasileiras
apresentaram superávit na balança comercial. Em 1970, o país acumulou déficits nos
balanços comercial, de serviços e rendas, sendo que, em sua maior parte das
dificuldades desse período resultou no aumento de gastos com importação devido à
crise do petróleo ocorrida em 1973.
Os anos de 1980 ficaram marcados pela Crise da Dívida do Terceiro Mundo, essa se
caracterizou pelo corte bruto dos fluxos de capitais dos países desenvolvidos para os
não desenvolvidos ou pouco desenvolvidos. Contudo, os países, principalmente, da
América Latina devedores foram submetidos a muitas pressões para pagamentos dos
créditos tomados anteriormente. Ou seja, foram obrigados a obter rápido incremento de
divisas, através de programas de ajustamento.
Entre os anos de 1990 e 1991 a redução drástica dos investidores diretos, assim como
empréstimos e financiamentos, se tornaram consequência da insegurança dos
investidores internacionais no mandato do governo Collor. A partir de 1992, o governo
brasileiro superou essa crise de confiança e recuperou os recursos internacionais,
perdidos, em quantidades suficientes, gerando superávits no balanço de pagamentos.
A partir de 1994, o Plano Real implantado no Brasil afetou seu relacionamento
econômico com o resto do mundo. Um dos objetivos do Plano Real foi a privatização
das empresas estatais, onde muitas delas foram adquiridas por empresas
internacionais, e a liberação comercial e financeira e o sistema de câmbio flutuante em
1999. Essas medidas geraram um resultado de situação vulnerável aos movimentos
internacionais.
Essas transformações realizadas ao longo dos anos geraram certo impacto no balanço
de pagamentos, pois este é um documento que registra todas as transações entre os
brasileiros e os residentes no exterior. Contudo, o BCB forneceu estatísticas do
balanço de pagamentos sob a metodologia do BPM6. Entre os períodos de 2005 a
2015, as estatísticas apresentaram déficits em transações correntes (desde 2008),
financiados com recursos pela conta financeira em montantes suficientes para resultar
em saldos positivos e nos acúmulos de ativos das reservas. Com exceção em 2013.

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