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TURBIDEZ DO EFLUENTE DE PISCICULTURA AO PASSAR POR DOIS

DIFERENTES FILTROS BIOLÓGICOS


SILVA, C. L. N.1; SILVA, M. S.2; SOUSA, A. C. D.3 OLIVEIRA, A. A.4; SOUSA, R. A.5
1
Instituto Federal Goiano – Campus Rio Verde; 2 Instituto Federal Goiano – Campus Rio
Verde; 3 Instituto Federal Goiano – Campus Rio Verde; 4 Instituto Federal Goiano – Campus
Rio Verde; 5Instituto Federal Goiano – Campus Rio Verde.

RESUMO
A piscicultura depende de produtos e serviços ambientais para a sua sustentabilidade, tais como
disponibilidade de água de boa qualidade e capacidade de diluição de efluentes e resíduos. Sendo que
uma das preocupações ambientais sobre a prática desta atividade, é a degradação da qualidade da água,
causando eutrofização, devido à alta concentração de nutrientes, matéria orgânica e sólido em suspensão.
Para realização do trabalho foram construídos dois sistemas de piscicultura, com dois diferentes filtros
biológicos, sendo o filtro anaeróbio de bambu (fa) e o filtro aeróbio de brita (fb), onde se realizou coletas
na saída de cada um. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, analisado em
esquema de parcelas subdivididas 2 x 4, com três repetições. Os tratamentos consistiram em dois tipos
de filtros (filtro anaeróbio de bambu e filtro aeróbio de brita) e quatro épocas de coletas (60, 70, 80 e 90
dias após a instalação). Avaliou-se o parâmetro físico-químico turbidez através de um turbidímetro de
bancada. De acordo com a equação de regressão para a turbidez obteve-se um acréscimo e um
decréscimo de 12,15% a cada 10 dias avaliados para os filtros aeróbio de brita e anaeróbio de bambu,
respectivamente. Em geral, pode se concluir que a turbidez se enquadra na resolução Conama 357/05,
para classe ii, que permite o uso para irrigação de hortaliças e plantas frutíferas.
Palavras-chave: Aquicultura; Recursos Hídricos; Qualidade.

INTRODUÇÃO
A qualidade da água em qualquer criação é de suma importância para o sucesso da
produção, mas em piscicultura ela é a principal matéria prima do processo (LEIRA et al., 2016).
Uma das preocupações ambientais sobre a prática desta atividade, é a degradação da qualidade
da água, causando eutrofização, depleção de oxigénio e assoreamento dos corpos d´água,
devido à alta concentração de nutrientes, matéria orgânica e sólido em suspensão (BUFORD et
al., 2003).
Sendo assim é preciso que a qualidade dos efluentes gerados nas pisciculturas seja a
melhor possível, a fim de que os impactos ou alterações provocadas nos corpos hídricos sejam
minimizados (SILVA et al., 2013b). O aproveitamento do efluente de piscicultura para fins
agrícolas por exemplo, é uma alternativa que proporciona minimização dos impactos gerados
por essa atividade, segundo Mehnert (2003) essa é uma alternativa para controle da poluição de
corpos d'água, disponibilização de água para as culturas, reciclagem de nutrientes e aumento de
produção agrícola.
Neste sentido, este trabalho objetivou-se a avaliação da turbidez do efluente de
piscicultura após passar por dois filtros de tratamentos biológicos, sendo eles o filtro anaeróbio
de bambu (fa) e o filtro aeróbio de brita (fb)..

MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido em campo em uma área previamente separada para a
montagem dos sistemas. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado,
analisado em esquema de parcelas subdivididas 2 x 4, com três repetições. Os tratamentos
consistiram em dois tipos de filtros (filtro anaeróbio de bambu e filtro aeróbio de brita) e quatro
épocas de coletas (60, 70, 80 e 90 dias após a instalação).
Os tanques foram montados através de duas caixas de PVC de 500 L, já os filtros e
decantadores foram montados com bombonas de PVC de 60 L.
Foram colocados em cada tanque cerca de 8 kg de tilápias já adultas, totalizando 40
peixes por tanque, que foram alimentados com ração extrusada.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo teste F (p<0,05) e em
caso de significância foi realizada análise de regressão para as épocas de coletas e de teste de
Tukey (p<0,05) para os tipos de filtros, utilizando-se o software estatístico SISVAR
(FERREIRA, 2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
No resumo da análise de variância, houve interação significativa ao nível de 1% de
probabilidade entre os fatores filtros e dias após a instalação (DAI) para a turbidez. A turbidez
do efluente de piscicultura verificada no filtro anaeróbio de bambu e filtro aeróbio de brita não
apresentou diferença significativa aos 60 dias após a instalação (Figura 1).

12 a
10 a a
Turbidez (UNT)

8
a b
a
6
b b
4
2
0
60 70 80 90
Dias após a instalação

FA FB
Figura 1. Turbidez do efluente de piscicultura em função dos filtros anaeróbio de bambu (FA)
e aeróbio de brita (FB) e dos dias após a instalação (Médias com a mesma letra minúscula não
indica diferença significativa pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade).

A turbidez do efluente de piscicultura verificada aos 70, 80 e 90 dias após a instalação


observada no filtro aeróbio de brita foi 31,29; 51,46 e 63,59% maior do que a turbidez do
efluente observada no filtro anaeróbio de bambu (Figura 1). Cezar et al. (2003) observou que a
filtração ascendente mostrou-se eficiente na remoção de turbidez. Os resultados encontrados
por Souza et al. (2010) indicaram uma grande retenção dos sólidos pelo filtro anaeróbio com
recheio de bambu, demonstrando que o recheio possui propriedades de filtração.
A turbidez do efluente de piscicultura em função dos dias após a instalação (DAI) se
adequou a um modelo linear com R2 de no mínimo 87% (Figura 2).
12
YFB = 0,14**X - 1,05
10 R² = 0,93
Turbidez (UNT)

8
6
4
2 YFA = -0,08**X + 11,45
R² = 0,87
0
50 60 70 80 90 100
Dias após a instalação

FA FB

Figura 2. Turbidez do efluente de piscicultura em função dos dias após a instalação para o filtro
anaeróbio de bambu (FA) e filtro aeróbio de brita (FB) (** significativo respectivamente a
(p<0,01) segundo teste F).

Para o filtro aeróbio de brita, os dias após a instalação elevaram a turbidez do efluente
de piscicultura até aos 90 DAI, onde foi atingido turbidez máxima de aproximadamente 11,18
UNT. A turbidez do efluente de piscicultura máxima verificada aos 90 DAI foi 36,46; 24,31 e
12,15% maior do que a turbidez do efluente observada aos 60, 70 e 80 DAI, respectivamente.
Conforme a equação de regressão obteve um acréscimo de aproximadamente 12,15%, para cada
aumento de 10 dias (Figura 2).
Para o filtro anaeróbio de bambu, os dias após a instalação diminuíram a turbidez do
efluente de piscicultura até aos 90 DAI, onde foi atingido turbidez mínima de aproximadamente
4,04 UNT. A turbidez do efluente de piscicultura mínima verificada aos 90 DAI foi 12,54;
25,09 e 37,64% menor do que a turbidez do efluente observada aos 60, 70 e 80 DAI,
respectivamente, consequentemente, de acordo com a equação de regressão obteve um
decréscimo de aproximadamente 12,54%, para cada aumento de 10 dias (Figura 2).
Apesar da resolução CONAMA não estabelecer um padrão de turbidez para o
lançamento do efluente, a CONAMA 357/05 aborda o valor máximo de turbidez para a classe
II que permite o aproveitamento na irrigação, sendo este de até 100 UNT (BRASIL, 2005),
mostrando enquadramento do efluente de ambos os filtros para todos os dias avaliados no
padrão estabelecido.

CONCLUSÕES
A turbidez observada no filtro aeróbio de brita tende a aumentar ao longo dos dias após
a instalação, comportamento contrário foi observado no filtro anaeróbio de bambu onde
turbidez tende a diminuir ao longo dos dias.
O parâmetro turbidez se enquadra nos padrões estabelecidos pela CONAMA 357/05,
para classe II, que permite o uso para irrigação de hortaliças e plantas frutíferas, atendendo esse
padrão pode-se considerar estes viáveis também para o lançamento (considerando o parâmetro
turbidez) se o corpo receptor atender a legislação para classe II.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Resolução nº 357/05. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio
Ambiente. Resolução nº 357, de 17 de março de 2005.
BUFORD, M.A.; COSTANZO, S.D.; DENNISON, W.C.; JACKSON, C.J.; JONES, A.B.;
McKINNON, A.D.; PRESTON, N.P.; TROTT, L.A. A synthesis of dominant ecological
processes in intensive shrimp ponds and adjacent coastal environments in NE Australia. Marine
Pollution Bulletin, v.46, p.1456–1469, 2003.
CEZAR, M. C. M.; ÁLVARES, C. M.; CARDOSO, L. O. D.; PIRES, V. A. C.; BRANDÃO,
C. C. S. Aplicação da filtração lenta e filtração direta ascendente no tratamento de águas com
baixa turbidez e presença de algas. In: Congresso brasileiro de engenharia sanitária e ambiental,
21, 2003, Joinville. Anais. Rio de Janeiro: ABES, 2003.
FERREIRA, D. F. Sisvar: a computer statistical analysis system. Ciência e Agrotecnologia, v.
35, n.6, p. 1039-1042, 2011.
LEIRA, M. H.; CUNHA, L. T.; BRAZ, M. S.; MELO, C. C. V.; BOTELHO, H. A.; REGHIM,
L. S. Qualidade da água e seu uso em pisciculturas. PUBVET, v. 11, p. 1-102, 2016.
MEHNERT, D. U. Reuso de efluente doméstico na agricultura e a contaminação ambiental por
vírus entéricos humanos. Biológico, São Paulo, v.65, n.1/2, p.19-21, 2003.
SILVA, M. S. G. M.; LOSEKANN, M. E.; HISANO, H. Aquicultura: manejo e aproveitamento
de efluentes. Jaguariúna, SP: Embrapa Meio Ambiente, 39 p. 2013b.
SOUZA, R. C.; ISOLDI, L. A.; OLIZ, C. M. Tratamento de esgoto doméstico por filtro
anaeróbico com recheio de bambu. VETOR-Revista de Ciências Exatas e Engenharias, v. 20,
n. 2, p. 5-19, 2010.

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