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Gestão de Riscos Ambientais, 2023

Economia de Riscos Ambientais

IMPACTOS AMBIENTAIS E ECONÓMICOS CAUSADO PELO


ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE NOVA KAKHOVKA NO SUL DA
UCRÂNIA

Kassanga dos Anjos Goba1

Adolira Mariquele2

Edgar Machacha3

Resumo

O presente artigo indica os impactos ambientais e económicos da ruptura da barragem


de Nova Kakhovka, na Ucrânia, trata-se de uma revisão bibliográfica de natureza
qualitativa. Destacam-se a erosão interna e o galgamento como as principais causas do
rompimento de uma barragem, os riscos associados as barragens são: risco efectivo e
potencial. O poder destrutivo causados pelo rompimento tem em conta o seu tamanho e
sua capacidade de acúmulo, causando uma larga destruição em massa, como mortes,
poluição do ecossistema, desalojamento. Verificou-se que independentemente das
causas da ruptura de uma barragem, os danos causados tanto a nível ambiental como
económico se assemelham.

Palavras-chave: Barragem, risco, rompimento.

Abstract

This article indicates the environmental and economic impacts of the rupture of the
Nova Kakhovka dam, in Ukraine, it is a bibliographical review of a qualitative nature.
Internal security and overtopping stand out as the main causes of a dam breaking, the
risks associated with dams are: effective and potential risk. The destructive power
caused by the collapse takes into account its size and its capacity to accumulate, causing
a long mass destruction, such as deaths, spillage of the ecosystem, displacement. It was
found that regardless of the causes of a dam failure, the damage caused both at an
environmental and economic level are similar.

Keywords: Dam, risk, rupture.

1. Introdução

Uma barragem pode ser definida como um elemento estrutural construído


transversalmente em direcção ao escoamento de um determinado curso de água,

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destinado à elaboração de um reservatório artificial para armazenar a água (Maragon,
2004). Dessa forma, as barragens são definidas em função do objectivo a que se destina,
podendo ser utilizadas para diversas finalidades, como por exemplo, geração de energia
eléctrica, abastecimento de água, controle de cheias, irrigação, navegação, recreação e
contenção de resíduos. Além disso, elas podem ser separadas por duas categorias:
barragens de regularização e de retenção. As barragens construídas para regularização
têm a função de regular o regime hidrológico de um determinado rio, acumulando água
em períodos com condições favoráveis, e utilizando o volume acumulado nos períodos
deficit de afluência. Enquanto as barragens de contenção têm a finalidade de reter água
de forma breve, por servirem para controle de cheias, além de poderem ser destinadas
ao acúmulo de sedimentos, rejeito de minérios ou detritos industriais (Costa, 2002).

Acidentes com barragens são um problema mundial que vem acontecendo cada vez
mais nas últimas décadas. De acordo com o Boletim 99 do CIGB (1995), 70% das
rupturas ocorrem nos primeiros dez anos de vida da barragem. Por possuírem uma
estrutura de grande porte, o seu rompimento pode provocar prejuízos económicos,
ambientais e perda de vidas humanas. Qualquer anomalia causada numa barragem pode
acarretar riscos à população, localizada a jusante. Porém acidentes que ocasionam no
colapso de uma barragem, o seu poder destrutivo pode ser, com tal intensidade, quanto
o seu tamanho e sua capacidade de acúmulo, causando uma larga destruição em massa
(Sampaio, 2014).

Os impactos sobre a ictiofauna decorrem das múltiplas consequências geradas pelo


carreamento da lama pelos rios dentre as quais vale citar: a destruição de habitats;
soterramento de lagoas e nascentes adjacentes ao leito dos rios afectados; e, destruição
da vegetação riparia/aquática, de áreas de reprodução de peixes e de reposição da
ictiofauna. Como agravante tem-se a mortandade de espécimes em toda a cadeia trófica.
O rompimento da barragem pode afectar os seguintes aspectos referentes a qualidade da
água: turbidez, devido ao volume de sólidos em suspensão; os parâmetros físico-
químico e a concentração de metais. A elevação dos níveis de concentração de metais
exerce efeitos tóxicos na vida aquática e nos humanos e animais via processo de
dessedentação e magnificação biológica (Sampaio, 2014).

O colapso da barragem de Nova Kakhovka, no sul da Ucrânia, é um dos maiores


desastres industriais e ecológicos da Europa das últimas décadas. A catástrofe destruiu

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aldeias inteiras, inundou terras agrícolas, privou dezenas de milhares de pessoas de
energia e água potável e causou enormes danos ambientais. Dessa forma, levando em
consideração a importância dessas estruturas no âmbito social e económico, o presente
trabalho possui como objectivo principal avaliar os riscos causados pelo rompimento da
barragem de Nova Kakhovka. Apresentando, com isso, além das causas desencadeastes
do problema, suas consequências a nível social e económico para a população residente.

Para a realização do trabalho de pesquisa foi realizado levantamento bibliográfico de


carácter qualitativo, o qual pode ser entendido como uma pesquisa realizada em artigos
científicos, livros, dissertações e sites que versam sobre o tema.

2. Possíveis causas de rompimento de uma barragem

No quadro 1 são apresentados alguns casos históricos de rompimento de barragens,


destacando as causas dos acidentes e ano de ocorrência. Pode-se notar que dentre as
causas da ruptura citam-se erosão interna e galgamento.

Quadro1: Acidentes históricos de barragens

Fonte: Jansen (1993)

2.1. Erosão Interna (piping)

A erosão interna (piping) é um processo onde se forma um tubo de escoamento


preferencial conhecido como entubamento (piping) causado pela percolação da água.
Falhas ocasionadas por piping são eventos que ocorrem por erosão regressiva, na qual

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se forma um tubo, gerado do carreamento de partículas, de jusante para montante no
maciço do solo compactado. Este tubo tende a expandir gradativamente seu diâmetro
conforme a água percorre pelo solo compactado, levando então ao colapso da estrutura
(Ladeira, 2007). Dentre as falhas comuns de acordo com os trabalhos estudados, nota-se
que um dos grandes problemas enfrentados pelos engenheiros nas barragens, é o
controle da
percolação, sendo que para que isso ocorra devem ser criados elementos ou soluções
que podem ser aplicados nas fundações ou no maciço da barragem, visando à segurança
da mesma, de forma a interceptar o fluxo da água, encaminhando-a para leito do rio a
jusante de forma ordenada.

2.2. Galgamento

O Galgamento também denominado como overtopping, ocorre quando a água


transpassa o coroamento da barragem e se originam das ondas que se desenvolvem no
reservatório, por causa das cheias ou eventos de sismos. Processos como erosão do
material de jusante, cortes profundos no coroamento, podem formar uma zona frágil,
levando ao colapso total de uma barragem, sendo capaz portanto, o modo de falha por
corte em profundidade, progredir até alcançar a base do aterro (Jónatas, 2013).

Ainda é impossível dizer se a barragem desabou porque foi deliberadamente atingida ou


se a ruptura pode ter sido causada por falha estrutural, facto que pode ter ocorrido no sul
da ucrania no rompimento da barragem de Nova Kakhovka decorrente do conflito
Russia-Ucrânia, uma vez que várias autoridades ocidentais culparam a Rússia pelo
desastre, acusando diretamente o Kremlin de atacar a barragem ou dizendo que Moscou
é responsável simplesmente porque é o agressor na guerra contra a Ucrânia.

3. Riscos e impactos causados pelo rompimento de uma barragem

A impossibilidade de garantir às barragens uma segurança completa e permanente,


durante os respectivos períodos de vida da obra (período que abrange as fases desde a
construção ao abandono), introduz o conceito de risco. Este conceito, contudo, tem
diversas definições e o termo risco é encarado de maneiras diferentes para os
especialistas de segurança e para o cidadão comum. O Regulamento de Segurança de
Barragens distingue o risco efectivo e o risco potencial. O risco efectivo corresponde ao
produto do risco potencial pela probabilidade de ocorrência de acidente com ele

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relacionado, num determinado período de tempo ou de vida da obra. O risco potencial
corresponde à quantificação das consequências de um acidente (e.g. o número de
vítimas no vale a jusante), independentemente da probabilidade da sua ocorrência
(Almeida, 2001).

O rompimento da Barragem de uma barragem pode causar enormes riscos biofísicos,


socioeconómicos e culturais, directos e indirectos, de curto e de longo prazo (Sánchez et
al, 2018)

3.1. Impactos biofísicos nos sistemas fluviais e na zona costeira:

Mudança na geomorfologia do rio devido à deposição de rejeito nas margens e leitos do


rio, deterioração da qualidade da água, perda de comunidades bióticas (Sánchez et al,
2018

3.2. Impactos sociais, económicos e culturais nas comunidades a jusante:

Perda de residências e locais de trabalho, Perda de património cultural, Interrupção dos


meios de subsistência, Interrupção do abastecimento de água (Sánchez et al, 2018).

Segundo Lacaz et al (2017), Os danos provocados são classificados em três


subcategorias relacionados aos: efeitos sobre a saúde pública e às condições
fundamentais de segurança das pessoas, danos sobre os elementos simbólicos e acesso à
educação da população atingida, por fim, impactos sobre as formas de organização
social da população envolvida.

No ano de 2015 rompimento a barragem de rejeitos Fundão rompeu no Brasil, Minas


Gerais, do ponto de vista ambiental, a lama proveniente do rompimento destruiu
vilarejos, percorreu 663 km ao longo dos rios Gualaxo do Norte, Carmo e Doce,
chegando à sua foz, tendo afectado esse ecossistema, área de reprodução de várias
espécies animais. Afectou, também, a vida de 35 municípios em Minas Gerais e quatro
no Espírito Santo (ES), deixando cerca de 1,2 milhões de pessoas sem água. Passado
mais de um ano da tragédia, a contaminação da água do rio Doce utilizada para
consumo humano ainda apresenta risco. Várias espécies animais podem ter sido
extintas, estimando-se em décadas o tempo para a recuperação das bacias hidrográficas
atingidas (Sánchez et al, 2018).

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Nas barragens de Malpasset - França e Barragem de Vajont - Itália - 1963 o rompimento
da barragem causou 421 e 2600 mortes respectivamente (Jansen, 1983).

Se se olhar para História, em diferentes cenários de guerra, a destruição de grandes


infra-estruturas serviu para travar o avanço de forças adversárias. Num momento em
que há relatos de que o exército da Ucrânia avançou de forma algo significativa na zona
de Kherson. Os impactos registados na barragem de Fundão supracitados assemelham-
se com o recente rompimento da barreira de Nova Kakhovka na Ucrânia, que obrigou à
retirada de 40 mil pessoas das suas habitações, há ainda confirmação de vítimas mortais.
As grandes inundações aumentam o risco da detonação de minas terrestres, que podem
ser arrastadas das suas posições originais, e, no plano sanitário, destaca-se o risco de
cólera. Do ponto de vista ambiental, foram despejados altas toneladas de óleo
lubrificante tóxico para toda a vida aquática e terrestre, aldeias e cidades podem não
voltar a ser habitáveis durante anos e a agricultura está comprometida
(https://rr.sapo.pt/artigo/explicador-renascenca/2023/06/09/que consequencias-tem-
para-o-mundo-a-destruicao-da-barragem-de-nova kakhovka/334661/).

4. Considerações Finais

De uma maneira geral, grande parte dos autores denotam que os principais factores
relacionados ao rompimento de uma barragem são oriundos de causas provenientes de
fenómenos naturais, as falhas mais frequentes que causam a ruptura de uma barragem
destacaram-se a erosão interna ou piping e galgamento (overtopping). Devido ao alto
impacto que uma ruptura de barragem pode gerar, a premissa básica é determinar como
reduzir o risco de que isso ocorra. Independentemente dos factores que desencadeiam o
rompimento de uma barragem, os seus impactos assemelham-se, desde a perda de vidas
humanas, desalojamento da população residente, contaminação do ecossistema
aquático, a proliferação de doenças e não menos importante condiciona o
desenvolvimento socioeconómico de uma determinada região.

5. Referências Bibliográficas
 COSTA, W. D. Geologia de barragens. 1. ed. São Paulo: Oficina de textos,
2012. 352 p.
 MARANGON, M. Tópicos em Geotecnia e Obras de Terra: Barragens de Terra
enrocamento. 2004. 25 f. Material didático ou institucional. Faculdade de
Engenharia,

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Departamento de Transportes e Geotecnia, Universidade Federal De Juiz De
Fora, Juiz de Fora, 2004.
 JÓNATAS, R. J. L. Rotura de barragens de aterro por galgamento: Ensaios
experimentais com aterros homogêneos. 2013. 96p. Dissertação (Mestrado) –
Universidade de Lisboa. 2013.
 JANSEN, R. B. Dams and Public Safety. 1983. 345 p .The US Department of
the Interior.
 LADEIRA, J. E. R. Avaliação de Segurança em Barragem de Terra, Sob o
Cenário de Erosãoo Tubular Regressiva, por Métodos Probabilísticos. O Caso
UHE São Simão.
2007. 230 f. dissertação (Mestrado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos
Hídricos) Escola de Engenharia. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo
Horizonte, 2007.
 Lacaz FAC. Mariana não foi acidente: foi um grave crime sanitário-ambiental!
São Paulo; 2016. 34 p.
 LOPES, L. M. N. O rompimento da barragem de Mariana e seus impactos
socioambientais. Sinapse Múltipla, 5(1), 1-14, 2016.
 SÁNCHEZ, L.E., ALONSO, K. Alger, BARBOSA, F.A.R., BRITO, M.C.W. Os
impactos do rompimento da Barragem de Fundão, relatório temático no 1 do
painel do rio doce, 2018.
 SAMPAIO, M. V. N. Segurança de barragens de terra: um relato da
experiência do
Piauí. 2014. 77 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil: Recursos
Hídricos) Centro de Tecnologia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,
2014.
 https://rr.sapo.pt/artigo/explicador-renascenca/2023/06/09/que consequencias-
tem-para-o-mundo-a-destruicao-da-barragem-de-nova kakhovka/334661/).

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