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Apostila da Disciplina TH026 Engenharia de Recursos Hídricos - texto elaborado por Miriam R. M.

Mine

CAPÍTULO I - BARRAGENS

1. BREVE HISTÓRIA

A primeira barragem da qual se tem notícias foi construída no rio Nilo pouco antes de
4000 a.C. Serviu para desviar o rio Nilo e deixar livre um local para a antiga cidade de
Menfis. Essa barragem não existe mais. A barragem mais antiga, ainda em operação, é a
de Almanza, localizada na província espanhola de Albacete. Essa barragem, do tipo arco,
foi construída em alvenaria de pedra bruta. Sua operação iniciou em 1384 e foi reformada
em 1736 (Linsley & Franzini, 1978). Com o decorrer do tempo materiais e métodos de
construção foram se aperfeiçoando permitindo construir grandes barragens como Hoover
Dam (Figura 1a) no rio Colorado (USA), Itaipu no rio Paraná (Brasil) (Figura 1b) e Três
Gargantas no rio Yang Tsé (rio Azul na China) (Figura 1c).

b) Barragem de c) Barragem de
a) Barragem
Itaipu Três Gargantas
Hoover
Figura 01 – Exemplos de grandes barragens

Segurança de barragens

Uma das maiores agressões a que o meio ambiente e a sociedade podem ser
submetidos é o rompimento de uma barragem trazendo grandes danos sociais,
ambientais e econômicos. As principais causas de colapso estão relacionadas às
fundações sobretudo no que diz respeito a avaliação correta das forças
ascensionais (subpressão) e da percolação (piping). Eventos hidrológicos
extremos, terremotos e deslizamentos, erros na operação hidráulica do
vertedouro, erros de projeto, recalques também caracterizam pontos críticos na
segurança das barragens.
Empresas de geração de energia e de abastecimento de água realizam,
normalmente, projetos bem elaborados, tendo em vista as responsabilidades
envolvidas – as barragens são, normalmente, de grande porte. Por outro lado, a
maneira até certo ponto empírica com que são construídas as barragens de
rejeitos de indústrias de papel e celulose ou mineradora, além de pequenos
açudes, expõe a população a ameaças constantes.
No dia 17 de junho de 2004 a barragem de Camará (Fabiani, 2012), no
município de Alagoa Grande, Estado de Alagoas, rompeu-se em função de
problemas de fundação, quando estava com aproximadamente 65% de seu
volume, durante o primeiro enchimento. As cidades de Alagoa Grande e
Mulungu foram seriamente atingidas pela onda de ruptura. A imagem da Figura
02 mostra cena da destruição da barragem que trouxe muitos prejuízos na
cidade de Alagoa Grande. Neste acidente, sete pessoas perderam a vida, vinte
foram contabilizadas como desaparecidas (muito provavelmente mortas) e mais
de 3.300 pessoas ficaram desabrigadas.

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Figura 02 – Barragem de Camará, logo após a ruptura e o esvaziamento do reservatório


Fonte: Fabiani (2012)

A título de ilustração de outros casos reais de rupturas, pode-se citar as


barragens de Euclides da Cunha (1977 – Brasil), Malpasset (1959 – França) e
Teton (1976 – EUA). A Figura 03 ilustra o rompimento da barragem brasileira.

Figura 03 – Barragem de Euclides da Cunha, depois da ruptura


Fonte: Fabiani (2012)

2. DEFINIÇÃO E FINALIDADES
Barragem é uma estrutura permanente destinada a obstruir um rio ou vale para
criar um desnível. Uma barragem está sujeita permanentemente a um desnível
de água.
Dique é uma estrutura sujeita a desnível apenas temporariamente. A palavra
dique é também usada para uma barragem de terra de pequena altura (h<10m).

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Ensecadeira é uma estrutura tipo barragem de caráter temporário para desviar


um rio durante a construção de uma obra hidráulica.
As barragens podem ser usadas para: criar reservatórios, regularizar vazões,
criar meios de recreação (pesca, natação), desviar cursos de água, controlar
cheias, criar profundidade para o calado dos navios (navegação), aproveitar
áreas submersas (diques da Holanda); criar desnível (usinas hidrelétricas).

Figura 04 – Esquema de Barragem

Na figura 04 pode-se observar o desnível (diferença do nível de água entre o


reservatório a montante e o canal de restituição a jusante), o reservatório, o
vertedouro e a casa de força (quando o objetivo é gerar energia elétrica).

3. ELEMENTOS DE UMA BARRAGEM E ÓRGÃOS HIDRÁULICOS

1. Paramentos ou Barramentos – correspondem às superfícies mais ou


menos verticais que limitam o corpo da barragem: o paramento de montante,
em contato com a água e o paramento de jusante.
2. Coroamento – a superfície que delimita superiormente o corpo da barragem.
3. Encontros – as superfícies laterais de contacto com as margens do rio.
4. Fundação – a superfície inferior de contacto com o fundo do rio.
5. Descarregador de Cheia ou Extravasor ou Vertedouro – órgão hidráulico
para descarga da água em excesso no reservatório, em período de cheia,
em caso de atingir a cota máxima do reservatório.
6. Tomadas de água – órgãos hidráulicos de extração de água do reservatório
para utilização.
7. Descarregador de fundo – órgão hidráulico para esvaziamento do
reservatório ou manutenção da vazão ecológica a jusante da barragem.
8. Eclusas ou Comportas – órgão hidráulico que regula a entrada e saída de
água entre montante e jusante da barragem e permite à navegação fluvial
vencer o desnível imposto pela barragem.
9. Escada de peixes – órgão hidráulico que permite aos peixes vencer o
desnível imposto pela barragem (Ex. Figura 05).

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Figura 05 - Exemplo de escada para peixes


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Barragem#Elementos_da_barragem_e_.C3.B3rg.C3.A3os_hidr.C3.A1ulicos
(acesso – 11/02/2014)

Como funciona uma eclusa?


A eclusa funciona como um verdadeiro elevador aquático, ajudando navios a
transpor rios ou canais onde existe desnível no terreno provocado pela
construção de uma barragem. A eclusa nada mais é que uma grande câmara de
concreto com dois enormes portões de aço. Depois que o navio entra, os portões
são fechados. Quando a embarcação passa do ponto mais baixo para o mais
alto, a água entra e eleva o navio. Quando o caminho é o inverso, a água escoa
e a embarcação desce. O truque desse estranho elevador é a tubulação por
onde a água entra e sai. O segredo está nas válvulas. A eclusa funciona sem
necessidade de bombas e nenhuma energia é gasta para erguer o navio. Tudo é
feito aproveitando o peso da própria água. Exemplos (ver Figura 06).

Figura 06 – Exemplos de Eclusas


https://www.google.com.br/search?q=funcionamento+de+eclusas&tbm=isch&imgil=i7YPVW1HQGSowM%253A
%253B acesso em 11/02/2014

4. TIPOS DE BARRAGENS
Os principais tipos de barragens são apresentados no Quadro 01 a seguir,
juntamente com o material de construção, seção transversal tipo e vista em
planta.
Barragens tipo Gravidade - A estabilidade depende de seu próprio peso; são
em geral em linha reta embora possam apresentar pequena curvatura.
Barragens em Arco – Transmitem às encostas, por ação do arco, a maior parte
do empuxo horizontal exercido sobre elas pela água represada e podem ter
seções transversais mais esbeltas do que as barragens por gravidade de mesmo
porte. Só podem ser construídas em vales profundos e estreitos, com vertentes
capazes de resistir aos esforços transmitidos pelo arco.
Barragens de Contrafortes – o tipo mais simples é em lajes planas, que
consiste em placas inclinadas apoiadas em contrafortes dispostos a intervalos
determinados.
Barragens de Terra – tanto as construídas com terra como as que utilizam
blocos de rocha (enrocamento) são denominadas genericamente “barragens de

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terra”. Dispõem de recursos para evitar a percolação, podendo estes ser um


núcleo impermeável ou tapete (cobertura relativamente impermeável, sob o
fundo do reservatório e da barragem, ligada ao núcleo central).
Quadro 01 – Principais tipos de barragens
Fonte: (Linsley & Franzini, 1978)
Tipo Material Seção transversal Planta
de construção Típica
_______________________________________________________

Em uma mesma barragem pode-se ter mais de um tipo de estrutura, composta


de barragens de terra, enrocamento, gravidade e concreto aliviado (contrafortes).
A barragem de Itaipu é composta por barragens: terra, gravidade, enrocamento,
concreto aliviado ou contrafortes maciços (Figura 07).

Figura 07 – Barragens de Itaipu


Fonte: https://www.itaipu.gov.br/

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5. FORÇAS QUE ATUAM SOBRE AS BARRAGENS


Uma barragem deve ser relativamente impermeável à água e capaz de resistir às
forças que atuam sobre ela. As principais forças são: peso próprio, pressão
hidrostática, pressão ascensional (subpressão), pressão do gelo e forças sísmicas
(Figura 08). Os esforços são transmitidos ao terreno que reage contra a barragem
com tensões iguais e contrárias. Os efeitos da pressão hidrostática provocada pelos
depósitos de sedimentos no reservatório podem exigir, em alguns casos, atenções
especiais.

Figura 08 - Forças atuantes em uma barragem tipo gravidade


Fonte: (Linsley & Franzini, 1978)

O peso W de uma barragem é o produto de seu volume V pelo peso específico γ c


dos materiais que constituem a barragem (concreto, terra). A linha de ação dessa
força passa pelo centro de gravidade da área da seção transversal.
As forças hidrostáticas podem atuar tanto no paramento de montante como de
jusante. A componente horizontal Hh da força hidrostática é dada pela equação (1)

γh 2
Hh = (1)
2
onde h é a profundidade da água e γ seu peso específico. A linha de ação dessa
força passa por uma altura h 3 acima da base da barragem.
A componente vertical da força hidrostática é equivalente ao peso de uma coluna de
água sobre a face da barragem e passa pelo centro de gravidade dessa coluna.
A água, quando sob pressão, sempre acha um meio de percolar sob a barragem,
entre esta e o terreno sobre o qual está implantada; e por efeito da percolação gera
pressões ascensionais (subpressões). A subpressão é influenciada pelo tipo de solo
e pelos métodos de construção. Admite-se que seu valor varia linearmente entre o
valor máximo da pressão hidrostática a montante (calcanhar da barragem) e o valor
máximo dessa pressão a jusante (pé da barragem). Sob esta hipótese o valor da
pressão ascensional Pa sob a barragem é dado pela equação (2).

h1 + h2
Pa = γ b (2)
2
onde b é a largura da barragem na base; h1 e h2 são alturas máximas de água
respectivamente sobre o calcanhar e o pé da barragem. A linha de ação da pressão
ascensional passará pelo centro de gravidade da área do diagrama trapezoidal das
pressões (ver Figura 08). Medidas feitas em barragens mostram que o valor real

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dessa força é inferior ao valor obtido pela equação (2). Várias hipóteses têm sido
feitas quanto à distribuição da subpressão.
A partir da Lei de Darcy para escoamento em meios porosos saturados (equação
(3)) e admitindo-se distribuição hidrostática das pressões ascensionais (equação
(4)), pode-se avaliar a variação da distribuição dessas pressões num plano
horizontal com a permeabilidade. Combinando as equações (3) e (4) chega-se a
equação (5) que fornece o gradiente do diagrama de subpressão.

dh
v = −K (3)
dx
dp = −γdh (4)

dh dp 1
= .
dx dx γ
dp γv
= (5)
dx K
A Figura 09 mostra diagramas de subpressão total para três situações de
variação da permeabilidade do solo no calcanhar e no pé da barragem: i) para
fundação homogênea o diagrama é linear, representado pela trapézio formado
pela linha tracejada; ii) para solo menos permeável a montante o diagrama de
subpressão é representado por um trapézio e um retângulo, caminho a na figura;
iii) para solo menos permeável a jusante, tem-se a situação mais crítica, com o
diagrama de subpressão seguindo o caminho b da figura 09.
Injeções de cimento próximas à face de montante reduzem a permeabilidade
implicando em um gradiente de pressão favorável (caminho a da Figura 09)

a) Menos permeável a montante


h1 (gradiente favorável)
h2 b) Menos permeável a jusante
(gradiente adverso)
a γh2
γh1
Linear - fundação homogênea
b = “SUBPRESSÃO PLENA”

Figura 09 - Variação do diagrama de subpressão com a permeabilidade do solo


Fonte: Fill (1999)

Outra maneira de reduzir a subpressão é através de uma drenagem bem


eficiente. Os tipos de drenagem conforme a decomposição da rocha podem ser
feitos das maneiras apresentadas a seguir:
i) Fundação sobre rocha sã - as galerias são feitas com furos de 3" a cada 2 m;
as injeções de cimento a montante reduzem a permeabilidade. (Figura 10).

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BARRAGEM

galeria

FUNDAÇÃO

furos de 3" a cada 2 m

injeções de cimento a montante reduzem K

Figura 10 - Drenagem em rocha sã


Fonte: Fill, H. D. notas de aulas

ii) Fundação em terra ou rocha decomposta - há necessidade de uma cortina de


impermeabilização (injeções ou estaca prancha) a montante e um tubo de
drenagem envolvido em brita e areia (Figura 11).

-----
----- BARRAGEM
----
-----
------
------
-----

areia
brita
tubo de drenagem
FUNDAÇÃO
areia
cortina de vedação (injeções ou estaca prancha)

Figura 11 - Drenagem em fundação em rocha decomposta ou terra


Fonte: Fonte: Fill (1999)

A eficiência da drenagem η é dada em função da relação entre a subpressão


com o dreno (h") e a subpressão sem o dreno (h*). A equação (6) e a Figura 12
apresentam a eficiência da drenagem analiticamente e graficamente. Em geral
adota-se para projeto η variando entre 50% e 75%.

h"
η = 1− (6)
h*

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b-x
h’’
x
H
h*

b
Figura 12 Diagramas de subpressão total e parcial com drenagem eficiente
Com base na Figura 12 é possível se fazer a análise exata e aproximada da
subpressão. Por semelhança de triângulos pode-se escrever a equação (7).
b− x
h* = H (7)
b
Combinando as equações (6) e (7) chega-se à equação (8):
b− x
h '' = (1 − η )H (8)
b
A área do diagrama em azul da Figura 12 multiplicada pelo peso específico da
água fornece a subpressão por metro de largura (equação (9)).

 h '' ( b − x ) h '' + H 
S =γ + x (9)
 2 2 
Substituindo a equação (8) na equação (9) obtém-se a equação (10).

γHb   x 
S= 1 − η 1 −  (10)

2  b 

=r
Nota-se que:
γHb
(1 − η ) onde r = (1 − η )
x
se x << b →0 e S= (11)
b 2
A notação r representa o coeficiente redutor da subpressão. A equação (10)
representa a análise exata e as equações (11) a análise aproximada da
subpressão.
6. DESVIO DE RIOS PARA CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS
A preocupação deste item é mostrar que as águas de um rio podem ser
desviadas por túnel ou em duas fases antes do início da construção de uma
barragem, conforme Figura 13.

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Figura 13 - Casos típicos de desvios de rios para construção de barragens


Fonte: (Linsley & Franzini, 1978)

Na construção em duas fases, isola-se primeiramente uma parte do leito do rio


por meio de uma ensecadeira (Figura 13b) obrigando a água a escoar pela parte
livre, enquanto a construção prossegue. Após construída a parte inferior de um
trecho da barragem, o escoamento é dirigido através de condutos de descarga
desse trecho já construído. Na segunda fase, constrói-se uma segunda
ensecadeira, no outro lado do leito do rio, para a continuação da obra.
O desvio é feito por túnel (ou canal de derivação) quando as condições
geológicas e topográficas forem favoráveis. Um túnel é particularmente útil se
puder ter alguma utilidade após a construção da barragem. Na construção da
barragem Hoover (Figura 14) foram utilizados quatro túneis de seção circular de
cerca de 15 m de diâmetro para desviar o rio Colorado no Grand Canyon (USA)
que posteriormente foram adaptados como condutos de descarga. O canal de
derivação ou túnel deve ser dimensionado para extravar a vazão de projeto de
25 a 100 anos de período de retorno, com um risco razoável, em função de
imprevistos em cada fase da obra. É conveniente programar a construção da
parte inferior da barragem para a época de estiagem com a finalidade de
diminuir os problemas com desvio de rios.

Figura 14 - Barragem Hoover - rio Colorado


Fonte: http://www.usbr.gov/lc/hooverdam/

7. BARRAGENS TIPO GRAVIDADE


Até meados do século XIX as barragens eram muito grandes porque eram
projetadas “a sentimento” sem levar em conta os princípios do comportamento
dos materiais. A tabela 01 apresenta algumas das maiores barragens do tipo
gravidade brasileiras.

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Tabela 01 – Exemplos de Barragens Tipo Gravidade Brasileiras


Nome Bacia Estado Ano Altura Comprimento Forma
hidrográfica/área término
(m) (m)
2
Divisa Divisa/ 100km RS 1960 26 239 m reta
2
Jupiá Paraná/470.000 km MS/SP 1974 3ª. maior hidrelétrica brasileira
Jurumirim Paranapanema/17.800 SP 1962 55 420 -
2
km
2
Peixoto Grande/143.000 km MG 1968 - - curva

Estabilidade das estruturas das barragens tipo gravidade

A Figura 15 é um diagrama da seção transversal de uma barragem tipo


gravidade. As forças indicadas são: o peso da barragem W; a componente
horizontal da pressão hidrostática Hh; sua componente vertical Hv; a pressão
ascensional (subpressão) Pa, a pressão do gelo Fi; o aumento da pressão
hidrostática provocado pelo terremoto Ew e a força de inércia decorrente da ação
do terremoto na própria barragem Ed. O vetor resultante dessas forças é igual e
contrário a R que é a reação do terreno agindo sobre o embasamento da
barragem.
As barragens do tipo gravidade podem desmoronar por escorregamento ao
longo de um plano horizontal, por tombamento (rotação) em torno do pé da
barragem, ou por ruptura do material. As rupturas podem ocorrer ao nível do
terreno ou em qualquer outro plano da barragem. O deslizamento e a ruptura por
cisalhamento poderão ocorrer se a resultante horizontal dos esforços acima de
qualquer cota da barragem superar a resistência ao cisalhamento no mesmo
nível. Pode-se aumentar a resistência ao deslizamento fazendo-se degraus nas
fundações. O tombamento bem como as tensões excessivas de compressão
podem ser evitadas pelo dimensionamento apropriado da seção transversal em
tamanho e forma. As tensões de trabalho usuais para o concreto, no projeto das
barragens, são da ordem de 42 kgf/cm2 para compressão e 0 kgf/cm2 para
tração. Os esforços de tração são anulados desde que se mantenha a resultante
dentro do terço médio da base.
Apresenta-se, a seguir um método simplificado para estudo das barragens de
gravidade, baseado no comportamento elástico do concreto. Este método é
apropriado para pequenas barragens e também em estudos preliminares de
grandes barragens. Um material mais completo sobre o assunto pode ser
encontrado em WES (1995).
Nos estudos preliminares de uma barragem do tipo gravidade considera-se uma
seção transversal típica de largura unitária. Admite-se que a seção escolhida
atue de forma independente das demais seções adjacentes. A análise estrutural
da seção típica é feita passo a passo, do topo ao fundo e deve considerar duas
possibilidades: reservatório vazio e reservatório cheio.
O procedimento a seguir apresenta a sequência de cálculos necessários para a
verificação da estabilidade de uma faixa, no caso a faixa B1 da seção transversal
típica próxima ao centro de uma barragem tipo gravidade, conforme Figura 15.
Cálculos semelhantes são feitos para as faixas B1 e B2 em conjunto (como uma
só faixa) bem como para toda a barragem (faixas B1, B2 e B3 em conjunto).
Admite-se, neste exemplo, que não há borda livre.

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Figura 15- Esquema de cálculo de uma barragem tipo gravidade


Fonte: (Linsley & Franzini, 1978)

Para reservatório vazio, as forças que atuam na faixa superior B1 aparecem na


Figura 15b. Quando o reservatório está vazio não há forças hidrostáticas e
desprezando-se as forças sísmicas e do gelo, a única força em ação é o peso W
da barragem. Está força atua no centro de gravidade da faixa B1. A reação R da
faixa inferior é igual e oposta a W. Como W atua na vertical e corta a base de B1,
esta faixa é estaticamente estável. Deixa-se para o leitor verificar que W=58.320
kgf/m e seu ponto de aplicação está a 2,9 m do pé da barragem, dado que o
peso específico do concreto é 2400 kgf/m3.
Admitindo uma distribuição linear de esforços, a tensão normal no concreto é
devida à ação contínua conjunta da resultante da carga vertical e da flexão
devida ao momento resultante da excentricidade da carga. A hipótese de
linearidade na distribuição das tensões implica em perfeita elasticidade do
concreto. Embora isto não se verifique na prática, o método é conveniente. A
excentricidade é calculada pela diferença entre o ponto de aplicação da
resultante das forças e a metade da largura da base. A tensão normal ou de
compressão σ nos bordos da faixa é dada pelas equações (12).
Rv M c b
σ= ± onde M c = Rv e (12)
A I 2
Rv - resultante das forças verticais
I - momento de inércia da área A = b x 1
Para a faixa B1 resultam os seguintes valores: excentricidade e= 0,35 m; tensão
de compressão a montante σ 1 = 1,61 kgf/cm2 e tensão de compressão a jusante
σ 2 = 0,67 kgf/cm2. Logo, para reservatório vazio, pode-se concluir que a área da
seção transversal projetada para a faixa B1 satisfaz as condições de
estabilidade.
Para o reservatório cheio (Figura 15c) as componentes horizontal Hh e vertical Hv
da pressão hidrostática por metro de largura da faixa B1 resultam nos seguintes
valores: Hh=18 tf e Hv=0,9 tf.
Apesar de alguns autores considerarem uma suposição exagerada, neste
exemplo admite-se que a água pode percolar através das juntas no concreto,
exercendo pressão hidrostática ascensional tal como ocorre entre a barragem e
a fundação. A pressão ascensional plena em 1 m de faixa dá 15,3 tf.
Os pontos de aplicação das forças Hh, Hv e Pa estão a um terço das alturas de
seus respectivos diagramas de forças (todos triângulos, neste caso). Seus
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pontos de aplicação distam do pé da barragem de 2,0 m, 4,9 m e 3,4 m


respectivamente.
A tendência de que a faixa B1 gire em torno do pé da barragem é dada pelos
momentos em torno desse ponto, chamado de momento tombador, função da
pressão hidrostática a montante e da subpressão, tal que MT = f(Hh,Pa). As forças
W e Hv contrariam a tendência de rotação gerando outro momento, chamado de
momento restituidor MR=f(W,Hv). O coeficiente de segurança contra a rotação ou
tombamento sT da faixa B1 é dado pela equação (13):
MR
sT = ≥2 (13)
MT
O coeficiente de segurança ao tombamento resultou neste caso sT = 1,97 ≅ 2,0 ,
o que indica não haver movimento de rotação da faixa B1.
A força horizontal Hh tende a fazer a faixa B1 deslizar em relação a B2. Admitindo
que as duas faixas sejam monolíticas, a tensão média de cisalhamento τ ao
longo do plano de 1 m de largura, entre as duas faixas é dada pela equação
(14):
RH
τ= (14)
A
onde RH é a resultante das forças horizontais.
No exemplo numérico este valor dá 0,35 kgf/cm2, valor bem inferior a tensão
admissível de cisalhamento no concreto ( τ adm = 8 kgf/cm2).

Outra forma é calcular a resistência do concreto ao cisalhamento pela equação


(15) e verificar se esta tensão supera 4 vezes o valor da tensão média de
cisalhamento τ .
RV
τ res = c + tan φ (15)
A
onde:
c- coesão do concreto - 30 kgf/cm2=300 000 kgf/m2;
tan φ =0,75 - tangente do ângulo de atrito interno do concreto.
Admitindo-se que as faixas B1 e B2 não funcionem como um único bloco, surgem
forças de atrito FA na face de contato dadas pela expressão (16):
FA = µRV (16)

onde RV é a resultante das forças verticais e o coeficiente de atrito µ =0,65 é


usado para superfícies de contato concreto-concreto e µ =0,85 para superfícies
de contato concreto-rocha.
O fator de segurança ao deslizamento sE é dado pela equação (17):
FA
sE = ≥ 1,5 (17)
RH
No exemplo numérico resultaram os seguintes valores: FA=28,5 tf/m e sE=1,59.
Para calcular a tensão de compressão na parte inferior da faixa B1 calcula-se o
ponto de aplicação d da resultante das forças verticais RV pela equação (18) e a
excentricidade conforme já definido anteriormente, isto é e=d-b/2. :

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RV d = M R − M T (18)

As tensões normais são calculadas pelas equações (12). Os valores obtidos


para o exemplo numérico são: d=1,95 m ; e= - 0,60 m e as tensões normais são:
σ 1 = 0,25 kgf/cm2 no bordo de montante e σ 2 = 1,47 kgf/cm2 no bordo de
jusante.
Os cálculos do exemplo numérico indicam que as dimensões adotadas para a
faixa superior B1 são satisfatórias. O próximo passo será efetuar cálculos
semelhantes para as faixas B1 e B2 em conjunto, como uma só faixa da
barragem. Em seguida toda a seção deve ser estudada (faixas B1, B2 e B3 em
conjunto). Por último estuda-se a adequação do terreno da fundação. Admite-se
que as tensões normais no concreto, na base da barragem, são transferidas
para a fundação. As taxas admissíveis dos solos à compressão são: i) para solos
em granito entre 42-70 kgf/cm2, ii) para solos em calcário entre 28-56 kgf/cm2 e
iii) para solos em arenito entre 28-42 kgf/cm2 .
Na prática começa-se admitindo uma determinada seção transversal e a seguir
verifica-se sua estabilidade ao tombamento e ao escorregamento. Se sT ≥ 2 e
sE ≥ 1,5 a seção é aceitável, caso contrário deve ser modificada. A seção
transversal da barragem da Figura 15a é típica, com uma largura na base da
ordem de dois terços de sua altura. Determina-se a cota da crista da barragem
somando ao nível normal de projeto o valor da carga máxima provável sobre a
soleira do vertedouro e a máxima altura prevista da onda devido a ventos. As
larguras no topo das barragens do tipo gravidade variam cerca de 0,15 vezes a
altura. Uma largura de 6m no topo é suficiente para a maioria das barragens,
salvo projetos rodoviários especiais.
Neste texto não são tratados assuntos referentes à construção de barragens tais
como lançamento de concreto, cortinas de vedação, cura do concreto, juntas e
guarnições vedantes e outros assuntos relevantes na construção, os quais o
leitor poderá encontrar em referência citadas no final do texto.
8. BARRAGENS DE CONTRAFORTES
Uma barragem de contrafortes consiste de uma placa inclinada que transmite a
pressão da água a uma série de contrafortes perpendiculares ao eixo da
barragem. Há vários tipos de barragens de contrafortes, sendo os mais típicos os
de laje plana e os de arcos múltiplos. Diferem entre si porque no primeiro tipo o
paramento de montante é constituído por uma laje plana de concreto armado e
no segundo caso o paramento de montante é constituído por superfícies curvas,
em arco, possibilitando maior distância entre os contrafortes. A Figura 16 ilustra
a seção transversal característica de uma barragem de contrafortes em laje
plana, tipo este a ser tratado neste texto. A Figura 17 apresenta a barragem da
Aguieira, localizada em Penacova, distrito de Coimbra, Portugal. É formada por
três arcos e dois contrafortes centrais, nos quais se situam dois descarregadores
de cheia.

Figura 16 - Seção transversal de uma barragem de contrafortes em laje plana


Fonte: (Linsley & Franzini, 1978)

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Apostila da Disciplina TH026 Engenharia de Recursos Hídricos - texto elaborado por Miriam R. M. Mine

Figura 17 Exemplo de barragem de contrafortes de arcos múltiplos


fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Barragem_da_Aguieira - acesso em 02/04/2014

Apresentam-se a seguir algumas características importantes desse tipo de


barragem e comparações com o tipo gravidade:
 necessitam em geral de apenas um terço ou metade do concreto usado
em uma barragem do tipo gravidade;
 não são mais baratas porque despendem custos altos em formas e
armaduras de aço;
 são menos volumosas, logo as pressões nas fundações são menores e
portanto podem ser construídas em terrenos que não suportariam o peso
de uma barragem do tipo gravidade;
 em terreno permeável é recomendada a construção de uma cortina de
vedação que atinja a rocha sã;
 apresentam a montante uma inclinação de 45o e portanto, com
reservatório cheio, é considerável o valor da componente vertical da
pressão hidrostática;
 essa componente vertical estabiliza a barragem tanto em relação ao
tombamento como ao escorregamento;
 a altura de uma barragem de contrafortes pode ser aumentada pelo
prolongamento da laje e dos contrafortes, logo, também usadas quando
se admite possibilidade futura de aumento da capacidade do reservatório;
 casas de força e estações de tratamento têm sido construídas entre os
contrafortes, propiciando custos de construção do sistema;
Forças que atuam nas barragens de contrafortes
As barragens de contrafortes estão sujeitas às mesmas forças nas barragens do
tipo gravidade. A subpressão é reduzida por causa dos vãos entre os
contrafortes e muitas vezes é negligenciada, salvo se houver um radier. Uma
drenagem bastante eficiente a jusante também pode reduzir em muito a
subpressão que atua somente na base da laje. A estabilidade é analisada para
um conjunto laje-contraforte.
Barragem de contrafortes com laje plana
A Figura 16 mostra uma seção transversal típica de uma barragem de
contrafortes com laje plana. O espaçamento entre os contrafortes varia com a
altura da barragem. Muitas vezes o espaçamento acaba sendo uma decisão de
análise financeira, isto é, que resulte em custo mínimo total da obra.
Uma característica das barragens de laje plana é sua articulação, ou seja, a laje
não é engastada no contraforte (ver Figura 18). Entre a laje e o contraforte é

15
Apostila da Disciplina TH026 Engenharia de Recursos Hídricos - texto elaborado por Miriam R. M. Mine

colocada uma emulsão asfáltica ou qualquer outro material elástico próprio para
juntas. Assim cada parte da laje pode agir isoladamente e um pequeno recalque
do terreno não causará sérios prejuízos à estrutura. Em geral aumenta-se a
espessura dos contrafortes junto à laje. Estas barragens são em geral
recomendadas para grandes vãos, onde se faz necessária uma barragem
extensa e onde os terrenos são pouco resistentes. Essas barragens têm sido
construídas em terrenos variando de areia fina a rocha firme. Claro que em
terrenos pouco resistentes a altura das barragens é menor.

Figura 18 - Ligação da laje aos contrafortes


Fonte: (Linsley & Franzini, 1978)

Barragens de contrafortes maciços


Nesse tipo de barragem o elemento resistente à pressão da água é formado pelo
alargamento da face de montante dos contrafortes. Em alguns casos uma série
de colunas tem sido utilizada para suportar uma viga sobre a qual se apoia um
painel de vedação (ver Figura 19). A barragem principal de Itaipu é do tipo
contrafortes maciços ou "concreto aliviado" (ver Figuras 20 e 21).

Figura 19 - Partes de uma barragem de contrafortes maciços


Fonte: (Linsley & Franzini, 1978)

Figura 20 - Barragem principal de Itaipu e vertedouro


Fonte: https://www.itaipu.gov.br/

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Apostila da Disciplina TH026 Engenharia de Recursos Hídricos - texto elaborado por Miriam R. M. Mine

Figura 21 - Barragem de Itaipu - contrafortes maciços (concreto aliviado)


Fonte: https://www.itaipu.gov.br/

9. BARRAGENS EM ARCO
As barragens em arco apresentam curvaturas em planta e transferem a maior
parte da pressão da água, horizontalmente, às ombreiras do arco por ação do
próprio arco. Os esforços gerados exigem que as vertentes do vale sejam
capazes de resisti-los. A primeira e única barragem em arco do Brasil, Funil,
entrou em operação em 1969. Pertence à bacia hidrográfica do rio Paraíba do
Sul, município de Resende, estado do Rio de Janeiro. As Figuras 21 e 22
ilustram a barragem.
/

Figura 22 Vista da barragem de Funil


Fonte: http://www.ahefunil.com.br/home
Figura 23 – Seção transversal da
barragem de Funil
Fonte: http://www.ahefunil.com.br/home

Para as estruturas das barragens em arco há necessidade de muitos cálculos,


longos, e complexos. Em tese uma barragem em arco é encarada como uma
série de arcos horizontais transmitindo esforços pelas encostas, ou como uma
série de balanços verticais engastados no terreno (Figura 24). A componente
horizontal do empuxo da água é equilibrada pela ação conjunta dos arcos e dos
balanços. A distribuição da carga entre arcos e balanços é, em geral,
determinada pelo método da repartição das cargas por tentativa.
Há dois tipos principais de barragens em arco: i) centro constante ou raio
constante, usadas nos vales em forma de “U”; ii) centro variável ou raio variável,
usadas nos vales em forma de “V”. Nas barragens de raio constante a maior
parte da carga, na parte inferior, é suportada pela ação dos balanços. Nos vales
em forma de “V” a barragem de centro variável se adapta melhor, já que se pode
ter certeza do trabalho do arco em qualquer cota.

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Apostila da Disciplina TH026 Engenharia de Recursos Hídricos - texto elaborado por Miriam R. M. Mine

Figura 24 – Componentes estruturais de uma barragem em arco


(Linsley & Franzini, 1978)

As formas para uma barragem de centro constante são de construção muito


mais simples, mas a melhor eficiência do arco na barragem de raio variável
resulta em geral em grande economia de concreto. A Figura 25 apresenta os
dois tipos de barragens.

Figura 25 – Tipos de barragens em arco


(Linsley & Franzini, 1978)

As forças que atuam nas barragens em arco são as mesmas forças que atuam
nas barragens do tipo gravidade; apenas que devido à base estreita das
barragens em arco as pressões ascensionais (subpressão) são menos
importantes.
Na fase de pré-projeto pode-se supor que o empuxo horizontal da água é
resistido somente pela ação do arco. A figura 26 representa um diagrama das
forças horizontais atuando em um arco elementar da Figura 25.

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Apostila da Disciplina TH026 Engenharia de Recursos Hídricos - texto elaborado por Miriam R. M. Mine

Figura 26 – Arco elementar e forças atuantes


(Linsley & Franzini, 1978)

Como o valor da força de pressão hidrostática é p = γh o valor da componente


horizontal atuando de montante para jusante, em um arco elementar de altura
unitária é:
H h = γh2rsen(θ 2) (19)

Essa força deve ser equilibrada pela componente horizontal da reações das
encostas, atuando de jusante para montante, ou seja, R y = 2 Rsen(θ 2) .
Havendo equilíbrio tem-se ∑F y = 0 e, portanto

2 Rsen(θ 2) = 2γhrsen(θ 2) (20)


onde:
R = γhr (21)
Se a espessura t do arco elementar for pequena, comparada a r, haverá pouca
diferença entre as tensões média e máxima de compressão, e σ ≅ R t . A
espessura do arco elementar é:
γhr
t= (22)
σw
onde:
σ w é a tensão de trabalho admissível do concreto à compressão. Da equação
(22) vê-se que a espessura dos arcos cresce linearmente com a profundidade da
água e que, para cada pressão de água, a espessura necessária é proporcional
ao raio de curvatura.
O volume de concreto necessário para um arco elementar transpondo o vale de
largura B da Figura 26, é
V = Aθr (23)
onde :
A é a área da seção transversal do arco elementar;
θ é o ângulo central em radianos.
Como t é proporcional a r tem-se A = kr e, portanto

V = kr 2θ (24)
B
Da trigonometria: r =
2 sen(θ 2)

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Apostila da Disciplina TH026 Engenharia de Recursos Hídricos - texto elaborado por Miriam R. M. Mine

2
 B  1 θ   θ 
V = k   θ = kB 2   = K   (25)
 2 sen(θ 2  4  sen (θ 2   sen (θ 2 
2 2

Diferenciando a equação (25) em relação a θ e igualando a zero tem-se


θ = 133o 34 ' para um arco elementar de volume mínimo. Logo, uma barragem de
ângulo constante pode ser projetada com menor volume de concreto do que
uma barragem de centro constante. Na prática os ângulos situam-se entre 100o
e 140º. A base das barragens em arco, em geral, tem de 10% a 50% da altura.
Na Europa têm sido construídas barragens muito mais delgadas.
10. BARRAGENS DE TERRA
As barragens de terra utilizam material natural com um mínimo de
beneficiamento. O desenvolvimento tecnológico em movimentação de terra
barateou bastante os custos totais desse tipo de barragens que se tornaram
bastante atrativas quando comparadas às barragens de concreto. Ao contrário
das altas barragens em arco e das do tipo gravidade, que exigem fundação em
rocha sã, as barragens de terra adaptam-se bem sobre uma base de terra. A
tabela 02 apresenta as principais barragens de terra brasileiras.
Tabela 02 - Exemplos de Barragens de Terra Brasileiras
Nome Bacia Estado Ano de Altura (m)
hidrográfica/rio término
Capivari-Cachoeira Rio Ribeira/rio PR 1970 58
Capivari
Água Vermelha Rio Grande/rio MG 1979 67
Grande
Ilha Solteira Rio Paraná/rio SP/MS 1978 76
Paraná
Guarapiranga Bacia do rio SP 1928 19
Tietê/ rio
Pinheiros/rio
Guarapiranga
Graminha/Caconde Rio Pardo MG 1966 -
Balbina Bacia AM 1989 51
Amazônica/rio
Uatumã
Samuel Bacia AM 1996 -
Amazônica/rio
Madeira/rio
Jamari
Porto Primavera Bacia do Rio SP/MS 2000 257
Paraná/rio
Paraná

Tipos de barragens de terra


Os diques de terra são essencialmente homogêneos em toda sua largura,
embora uma camada de material relativamente impermeável possa ser colocada

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Apostila da Disciplina TH026 Engenharia de Recursos Hídricos - texto elaborado por Miriam R. M. Mine

sobre seu paramento de montante. As grandes barragens não são construídas


dessa forma.
Os diques zonados, conforme Figura 27, têm em geral uma zona central feita
com terra selecionada, a fim de construir um núcleo impermeável e em seguida
zonas de transição, ao longo das duas faces do núcleo, para impedir que haja
erosão tubular regressiva a partir de trincas que possam ocorrer no núcleo e, a
seguir, zonas externas construídas com material que pode ser mais permeável,
visando estabilidade do conjunto.
Projeto das barragens de terra
O projeto de uma barragem de terra consiste em dimensionar um aterro com
baixa permeabilidade, para atender certa finalidade, com materiais disponíveis e
a baixo custo.
O projeto estrutural de uma barragem de terra é um problema de Mecânica dos
Solos envolvendo segurança quanto à estabilidade do aterro e do terreno sobre
o qual está apoiada, bem como adequado controle da infiltração de água e das
pressões de percolação. Não há muito inconveniente na percolação através de
uma barragem construída com o único objetivo de controlar cheias, desde que a
estabilidade do aterro não seja prejudicada, porém uma barragem para
acumulação de água deve ser o mais impermeável possível. Neste texto será
tratada somente a questão da percolação.

Figura 27 - Seções transversais típicas de barragens de terra


Fonte: (Linsley & Franzini, 1978)

Nenhuma barragem de terra pode ser considerada completamente impermeável;


sempre haverá percolação através do aterro e sob ele. Quando a força de
percolação em um ponto exceder a resistência ao deslocamento de uma
partícula nesse ponto, ela entra em movimento. Em consequência as partículas
menores começam a escoar, em geral, a partir da região imediatamente a
jusante do pé do aterro, fenômeno conhecido como piping (erosão interna ou
escoamento tubular regressivo).
A percolação através das barragens de terra pode ser reduzida por meio de uma
base larga, pela cobertura impermeável a montante, por um núcleo de argila ou
por um diafragma.

21
Apostila da Disciplina TH026 Engenharia de Recursos Hídricos - texto elaborado por Miriam R. M. Mine

A percolação através de terrenos permeáveis sobre os quais se apoia a


barragem pode ser reduzida aumentando o percurso da percolação por meio de
um tapete impermeável, estendendo-se sobre o terreno a montante da barragem
(Figura 27c), ou por um ou mais núcleos formados por estacas de concreto ou
de argila, implantados no terreno sob a barragem, como prolongamento do
núcleo do interior do aterro (Figura 27b). Um modo eficiente de deter o
vazamento através de rochas fraturadas é fazer uma cortina de vedação com
injeções de argamassa de cimento pouco espaçadas entre si. Sempre se deve
instalar drenos próximos ao pé da barragem para possibilitar o livre escoamento
das águas percoladas que sempre atravessam qualquer tipo de vedação
utilizada.
Os drenos em geral são filtros de pé (Figura 27b) ou enrocamentos de drenagem
feitos com brita ou pedregulho grosso para o qual convergem as águas
percoladas e conduzidas a locais onde possam ser lançadas sem causar danos.
Para impedir o carreamento das partículas finas do aterro em direção ao dreno,
o material deste compreende partículas finas na periferia até material mais
grosso no seu interior. Se essas providências não forem tomadas, a água pode
ascender e brotar nas proximidades do pé da barragem, exceto se o peso do
material sobrejacente for suficiente para resistir às pressões ascensionais.
O volume de águas percoladas é calculado por uma rede de fluxo, constituída de
linhas equipotenciais (linhas de igual energia) e linhas de corrente do
escoamento. A vazão entre cada par de linhas de corrente é a mesma e a perda
de energia é a mesma entre duas linhas equipotenciais consecutivas. A distância
entre linhas de corrente equipotenciais é a mesma, formando uma série de
quadrados. Onde as linhas de corrente são curvas os quadrados são
deformados, porém eles serão mais exatos se o número de linhas de corrente e
equipotenciais for aumentado. A figura 28 apresenta alguns tipos de redes de
corrente para barragens de terra.

Figura 28 Redes de fluxo da percolação através e sob barragens


Fonte: (Linsley & Franzini, 1978)

Admite-se aqui a hipótese de solo homogêneo e isotrópico, quando a


permeabilidade independe da direção do escoamento. Em muitos solos, com
escoamento preferencialmente na horizontal, a permeabilidade é bem maior

22
Apostila da Disciplina TH026 Engenharia de Recursos Hídricos - texto elaborado por Miriam R. M. Mine

nessa direção do que na vertical. As redes de fluxo referentes a esses casos são
estudadas na maioria dos livros de Mecânica dos Solos.
O traçado das redes de corrente pode ser feito por: i) modelo de aterro usando
corante; ii) analogia elétrica com base nas leis de Ohm e de Darcy; iii) por
tentativa, iv) por soluções numéricas da equação de Laplace.
Em casos simples as redes de fluxo são traçadas por meio de esboços à mão
livre, com ajustes e correções gradativas, até que as linhas de corrente e as
linhas equipotenciais se interceptem em ângulos retos. As linhas de corrente
externas da rede são: ao alto a linha de percolação e embaixo qualquer limite
impermeável na barragem ou no terreno sob ela.
A linha de percolação, também dita de saturação ou freática em uma barragem
de terra é a linha acima da qual não há pressão hidrostática. Foi Arthur
Casagrande, fundador da Engenharia Geotécnica, que propôs um método
aproximado para traçar a linha de percolação para uma barragem de terra
assentada sobre terreno impermeável, baseado na hipótese de que ela é uma
parábola com foco em f (Figura 29) que é a interseção da linha equipotencial
mais a jusante com a linha de corrente ao longo da fronteira impermeável.
A parábola também intercepta a superfície da água a cerca de 0,3 da distância
horizontal, medida na superfície livre da água, entre o paramento de montante e
o sopé de montante do aterro, isto é: AB=0,3 BC (Casagrande, 1937 e Marques
et al. 2006). Tem-se a posição da diretriz da parábola determinando-se o ponto
D, no prolongamento de CB, com o auxílio de um compasso, com raio AD=Af e
com centro em A; todos os pontos da parábola são equidistantes do foco e da
diretriz. O fim da linha de percolação no paramento de jusante (no filtro de pé ou
enrocamento de drenagem) fica além do ponto onde a parábola intercepta esse
paramento da barragem, a uma distância medida ao longo desse mesmo
paramento, e definida pela equação (26).
180 − θ
∆y = ( y + ∆y ) (26)
400
onde y, ∆y e θ são definidos nas Figuras 27 e 29.

Figura 29 Posição da linha de saturação e traçado da rede de corrente em uma


barragem de terra
Fonte: (Linsley & Franzini, 1978)

Em http://www.em.ufop.br/deciv/departamento/~romerocesar-acesso 11/04/2014
o leitor encontra a aula do Prof. Romero Cézar Gomes da Universidade Federal
de Ouro Preto - UFOP. O professor apresenta transparências interessantes

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Apostila da Disciplina TH026 Engenharia de Recursos Hídricos - texto elaborado por Miriam R. M. Mine

sobre o fluxo através de barragens de terra e o método gráfico para o traçado


das redes de corrente com a determinação da linha freática através da parábola
de Kozeny. Um exemplo de aplicação da parábola de Koseny encontra-se no
Apêndice A deste texto (Sant'Ana, 1990).
A velocidade de percolação pode ser calculada pela Lei de Darcy para o
escoamento em meios porosos saturados (equação (3)). Aplicando o princípio da
continuidade entre duas linhas de corrente e considerando uma largura unitária
da barragem, o escoamento através do prisma cuja seção transversal é dada
pela quadrícula abcd na Figura 29 é Δq=KΔD(Δh/ΔL). Como ΔD=ΔL e Δh=h/N,
onde N é o número de intervalos entre as linhas equipotenciais, tem-se que
Δq=Kh/N. Logo o fluxo total, através de uma largura unitária de barragem é dado
pela equação (27), onde N' é o número de divisões entre as linhas de corrente.
N'
q = N ' ∆q = Kh (27)
N
11. BARRAGENS DE ENROCAMENTO
As barragens de enrocamento situam-se quanto às suas características entre as
barragens tipo gravidade e as barragens de terra. Ela têm dois componentes
estruturais principais: uma membrana impermeável e um dique em que se apoia
a membrana. A Figura 30 ilustra seções transversais típicas de barragens de
enrocamento.

Figura 30 Seções transversais típicas de barragens de enrocamento


Fonte: (Linsley & Franzini, 1978)

O dique, em geral, é composto a montante de alvenaria de pedra bruta (irregular)


argamassada ou seca e a jusante por blocos de rocha solta. As rochas utilizadas
devem ser capazes de resistir à erosão e de suportar grandes esforços
concentrados mesmo quando molhadas. O enrocamento (a parte a jusante do
dique) deve ser o apoio do resto da barragem e da membrana, bem como resistir
ao empuxo da água. A parte de montante, em alvenaria de pedra bruta transfere
a carga da membrana para o enrocamento a jusante. Grandes blocos de formas
mais ou menos regulares são utilizados para proporcionar uma superfície lisa
sobre a qual se constrói a membrana. As barragens de enrocamento estão
sujeitas a grandes recalques que podem provocar trincas na membrana. Este se
caracteriza como o pior inconveniente dessa barragens. Um exemplo é a
barragem de Salt Springs, rio Mokelumne, California, USA, com 99 m de altura, e
recalcou mais de 60 cm em 10 ano (Linsley & Franzini, 1978).
Atualmente distinguem-se dois tipos de barragens de enrocamento: i) ECRD –
Earth Core Rockfill Dam ii) CFRD – Concrete Face Rockfill Dam) (Figura 31).
Exemplos típicos no Brasil são as barragens de Salto Santiago e Salto Osório
que se enquadram no tipo ECRD e as barragens de Foz do Areia e Segredo que
se enquadram no tipo CFRD, todas construídas em cascata na bacia
hidrográfica do rio Iguaçu, Estado do Paraná.

24
Apostila da Disciplina TH026 Engenharia de Recursos Hídricos - texto elaborado por Miriam R. M. Mine

Figura 31 - Tipos de barragens de enrocamento


Fonte: Fonte: Fill (1999)

CFRD (Concrete Face Rockfill Dam)


Projetos modernos usam barragens de enrocamento compactado o que reduz o
recalque e evita maior abertura da junta perimetral (plinto). São barragens
bastante seguras e o projeto é mais baseado na experiência do projetista do que
em análise de estabilidade. Os taludes são normalmente 1,3H:1,0V. A Figura 32
apresenta a seção transversal típica desse tipo de barragem, onde: 1A solo
impermeável; 2 brita graduada e compactada; 3A pedra pequena; 3B
enrocamento compactado com camada de 1m; 3C enrocamento compactado
com camada de 2m; 3D enrocamento jogado; 1B proteção de enrocamento.

2
laje
3B 3C

1B 1A 3A
3D

plinto
Figura 32 Seção típica de uma barragem CFRD
Fonte: Fill (1999)

O ponto crítico está no plinto; para evitar vazamento coloca-se uma junta
perimetral. Requer projeto detalhado e cuidadoso para evitar vazamentos.
O plinto é uma estrutura de concreto ancorada na rocha da fundação, executada
no calcanhar da barragem destinada a proteger a ligação da laje com a
fundação, garantindo estabilidade. Serve também como área de trabalho para
injeções de impermeabilização da fundação (Silva, 2007).
As principais características da CFRD são: enrocamento todo a jusante da zona
estanque; não há subpressão; não há pressão intersticial; os recalques são
pequenos; não requer galeria e drenagem nas ombreiras; bem resistentes a
terremoto. A única possível causa de ruptura seria devido a erosão causada por
galgamento prolongado.
As principais vantagens construtivas da CFRD com relação à ECRD são: a
chuva não interfere na construção; não há restrições ao tráfego por regiões
especiais (núcleo e filtro no caso da ECRD); a construção do plinto é feita fora da
área de enrocamento, há grande flexibilidade na execução da laje.

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Apostila da Disciplina TH026 Engenharia de Recursos Hídricos - texto elaborado por Miriam R. M. Mine

PROBLEMAS
As respostas dos Problemas estão no Apêndice B. Problemas de 01 a 06 foram
propostos por Sant'Ana (1990) e Gomide (1990) e adaptados por Gomes (2013).
Os Problemas 07 a 11 foram propostos por Fill (1999) e adaptados por Mine
(2000).
Orientação Inicial para os problemas de 01 a 06: onde necessário adotar ρ =
1000 kg/m3 e ρc = 2400 kg/m3.
01 - Uma barragem de seção transversal retangular (por incrível que pareça) tem
5 m de altura e 2,5 m de base. Supondo que o reservatório está cheio, que não
há borda livre e que não há água a jusante, verificar a estabilidade do maciço:
a) quanto ao tombamento (utilizar coeficiente de segurança igual a 2,0) e;
b) quanto ao escorregamento (utilizar coeficiente de atrito igual a 0,65 e
coeficiente de segurança igual a 1,5).
02 – Resolver literalmente o exercício anterior, substituindo o valor de 5 m pela
variável h e o valor de 2,5 m pela variável b. Calcular a condição de estabilidade
ao escorregamento em termos da relação b/h (b/h > k1). A seguir calcular a
condição de estabilidade ao tombamento (b/h > k2) e comparar k1 e k2.
03 – Calcular os coeficientes de segurança ao tombamento e ao escorregamento
de uma barragem de concreto homogênea, com seção transversal conforme a
figura a seguir.

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Apostila da Disciplina TH026 Engenharia de Recursos Hídricos - texto elaborado por Miriam R. M. Mine

04 – Verificar a estabilidade da barragem de concreto com a seção transversal


indicada a seguir. Calcular também as tensões na base. Para o tombamento,
usar coeficiente de segurança igual a 2,0, e para o escorregamento, utilizar
coeficiente de atrito igual a 0,65 e coeficiente de segurança igual a 1,5.

05 – Considerar uma barragem de concreto com seção transversal triangular,


conforme a figura a seguir, e determinar:
a) o valor de Z de tal modo a obter um coeficiente de segurança ao
tombamento igual a 2,0;
b) o valor de Z de tal modo a obter um coeficiente de segurança ao
escorregamento igual a 1,2. Usar coeficiente de atrito igual a 0,65;
c) Entre as respostas dos itens a) e b), adotar o valor mais conveniente de Z,
isto é, aquele que torna a barragem segura tanto ao tombamento quanto ao
escorregamento, e determinar as tensões junto à base da barragem.

Obs: Usar H = 10 m

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Apostila da Disciplina TH026 Engenharia de Recursos Hídricos - texto elaborado por Miriam R. M. Mine

06 – Considerar as barragens de seção triangular, indicadas a seguir, onde os


valores de H (altura) e Z (talude de jusante) são os mesmos para as duas
barragens. Somente há água a montante. Pede-se:
a) Fazer uma discussão conceitual sobre as diferenças entre as forças
(grandeza e ponto de aplicação) atuantes em cada uma das seções;
b) Calcular o peso específico da barragem (γb) de modo que a segurança ao
tombamento seja igual nos dois casos;
c) Nessas condições, determinar qual a barragem mais estável ao
escorregamento (usar coeficiente de atrito igual a 0,65).

Orientação Inicial para os Problemas de 07 a 11: onde necessário adotar


γ = 1000 kgf/m3 e γ c = 2400 kgf/m3.
07 - Verificar a estabilidade da barragem de concreto tipo gravidade apresentada
na figura. Considerar reservatório cheio e seção transversal total. Dados:
γ c = 2400 kgf/m3; µ =0,65; tan φ =0,75; c=30 kgf/cm2, borda livre = 1m,
paramento de jusante H/V:1,0/1,25
2m
1m

9m

2m
10 m

08 - Considerar uma barragem de contrafortes (tipo Ambursen) de 31m de altura,


contrafortes de 3m de espessura e espaçados em 8m. A laje tem espessura
variando de 1m no pé a 0,4m no topo da barragem. Analisar a estabilidade com
relação ao tombamento, escorregamento e tensões normais na fundação. A
inclinação na laje é de 45o e a subpressão atua apenas no pé da laje (há um
sistema de drenagem eficiente imediatamente a jusante da laje).

28
Apostila da Disciplina TH026 Engenharia de Recursos Hídricos - texto elaborado por Miriam R. M. Mine

laje
0,4 m borda

0,5
1
1 1

Contra forte

1m
Drenagem
Base total: 46,9m
Subpressão só na laje

Obs.: A figura não está em escala.


09 - Fazer uma análise de sensibilidade para verificar a influência do ângulo de
abertura em uma barragem em arco de raio constante, simétrica, com o volume
da barragem.
10 - Considerar uma barragem em arco de raio constante igual a 50 m. Pede-se:
a) determinar a variação da sua espessura com a profundidade;
b) determinar a espessura na base, sabendo-se que a altura da barragem é 150
m;
c) Comparar a espessura do item b) com a espessura de uma barragem tipo
gravidade equivalente, com talude de jusante H/V:0,75/1,0.
Dado σ = 80 kgf/cm2
11 - Comparar o volume de concreto usado na construção de uma barragem em
arco e de uma barragem tipo gravidade equivalente. Há necessidade de se
considerar o limite da tensão normal nos apoios ( σ adm = 25 kgf/m2). Considerar a
espessura nos apoios igual ao dobro da espessura no coroamento.
Características da barragem em arco: θ = 130o ; b=90 m; h=120 m; espessura na
crista t=2 m.
Características da barragem tipo gravidade: declividade do paramento de jusante
m=0,75 (H/V: m/1,0); h= 120 m; b= 90 m, largura na crista igual a 2m.

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Apostila da Disciplina TH026 Engenharia de Recursos Hídricos - texto elaborado por Miriam R. M. Mine

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
CASAGRANDE, A. (1937). Seepage through dams, Journal of the New England
Water Works Association, 51, 131-172. ISSN 0028-4939
FABIANI. A. L. T Modelagem em duas dimensões da onda gerada pela ruptura
de uma barragem utilizando o método dos volumes finitos. Texto apresentado a
Banca Examinadora da Disciplina Seminários de Doutorado I do
PPGERHA/UFPR, 2012. Não publicado.
FILL, H. D. Notas de aula da disciplina Engenharia de Recursos Hídricos. Curso
de Engenharia Civil, UFPR, 1999. Não publicado.
GOMES, J. Notas de aula da disciplina Engenharia de Recursos Hídricos. Curso
de Engenharia Civil, UFPR, 2013. Não publicado.
GOMIDE, F. S. Notas de aula da disciplina Engenharia de Recursos Hídricos.
Curso de Engenharia Civil, UFPR 1990.
LINSLEY, K. L.; FRANZINI, J. B. Engenharia de Recursos Hídricos. Traduzido e
adaptado por PASTORINI L. A. USP, McGraw-Hill do Brasil, Ltda, São Paulo,
1978.
MARQUES, J. C., OLIVEIRA, P., LOPES S. Percolação não confinada: uma
comparação de métodos de solução. In: Primeiras Jornadas de Hidráulica,
Recursos Hídricos e Ambiente, FEUP, 2006.
MINE, M. R. M. Notas de aula da disciplina Engenharia de Recursos Hídricos.
Curso de Engenharia Civil, UFPR, 2000. Não publicado.
SANT'ANA R. F. Notas de aula da disciplina Engenharia de Recursos Hídricos.
Curso de Engenharia Civil, UFPR, 1990. Não publicado.
SILVA, A. F. da Análises tridimensionais de barragens de enrocamento com face
de concreto com objetivo de otimizar os critérios de projeto. Tese de Doutorado.
Publicação G.TD-050/07, Universidade de Brasília, 2007.
WES Waterways Experiment Station, Gravity Dam Design, Engineer Manual
1110-2-2200, Us Army Corps of Engineers, 1995.

BIBLIOGRAFIA SOBRE BARRAGENS (não segue ABNT)


LINSLEY & Franzini Water Resources Engineering, McGraw Hill
Design of Small Dams, USBR, United States Bureau of Reclamation
Design of Gravity Dams, USBR
Design of Arch Dams, USBR
Hand Book of Applied Hydraulics, Davis (Editor), McGrawl Hill
The Engineering of Large Dams, Henry H Thomas, John Wiley & Sons
Dams ( 3 volumes) Creager, Justin & Hinds
Earth & Earth Rock Dams, James Shred et al., John Wiley & Sons
Saltos y Presas de Embalse (3 volumes), Navarro y Aracil
Presas de Tierra y Enrocamento, Raúl Marsal y Daniel Nuñez, Editora Limusa
SA, Mexico
Presas de Embalse, H. Varlet Interciencia, Madrid
Dighe e Traverse, Felice Contessini, Editrice Politecnica, Milano

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Apostila da Disciplina TH026 Engenharia de Recursos Hídricos - texto elaborado por Miriam R. M. Mine

Publicações diversas: USBR - United States Bureau of Reclamation


TVA - Tennesse Valley Authority
Corps - US Army Corps of Engineering
Anais dos Congressos da IAHR
Publicações do ICOLD (International Commission on Large Dams)

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Apostila da Disciplina TH026 Engenharia de Recursos Hídricos - texto elaborado por Miriam R. M. Mine

APÊNDICE A
TRAÇADO DA REDE DE CORRENTE E INFILTRAÇÃO EM UMA
BARRAGEM DE TERRA
Resumo do traçado da linha freática da barragem (Sant'Ana 1990)
Parábola Koseny:

AB = 0,3BC
z 2 − Z o2
Zo = h + b − b
2
⇒ x=
2Z o
1
bo = Zo
2
Casagrande
∆y = f (θ )
θ < 30o ⇒ y = b 2 + h 2 − b 2 − h 2 cot 2 θ

30o < θ < 180o ⇒ y = Z o


(1 − a )
1 − cosθ
θ = 30o a = 0,37
∆y 
onde a = θ = 45 a = 0,34
o

y + ∆y θ = 60o a = 0,32

Casos especiais
180 − θ
∆y = ( y + ∆y ) para θ = 180o ⇒ ∆y = 0
400

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Exercício Resolvido
Uma barragem de 24 m de altura será construída com silte sobre fundação de
argila. A seção transversal é apresentada na Figura A01. A barragem tem 7,8 m
no topo e taludes 1,0V:2,1H com bermas de 3 m a meia altura. A base da
barragem tem 114,6 m. Verificar seu comportamento em termos de infiltração
considerando borda livre de 1,5 m e a existência de filtro nos 20 m finais. Dado o
coeficiente de permeabilidade do silte K=0,0027 m/min.
a) Traçado das redes de corrente
Geometria:
BC - distância da borda livre até o calcanhar da barragem BC=50,25 m
AB=0,3 BC AB = 15,08 m
b=59,43 m

Z o = h 2 + b − b Z o = 22,52 + 59,432 − 59,43 = 4,117 m


1 1
bo = Z o = 4,117 = 2,058 m = 2,06 m
2 2
Equação da Parábola
z 2 − Z o2
x= ou z = (8,234 x + 16,95)
1/ 2

2Zo
O foco da parábola está em f (x,z)=(-2,06; 0)

Figura A01 - Traçado da rede de corrente - parábola Koseny


Fonte: Sant'Ana (1990)
Pontos da parábola
x z
-2,06 0,00
-1,00 2,95
0,00 4,12
5,00 7,62
10,00 9,96
20,00 13,43
30,00 16,25
40,00 18,61
50,00 20,70
59,43 22,50
Ver traçado das redes de corrente, por tentativas, na Figura A01.

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b) Determinação da vazão de percolação


N'
Usando a equação q = N ' ∆q = Kh tem-se:
N
N' 3
q= Kh = × 0,0027 × 22,5 = 0,0144 m 3 /min.m
N 16

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APÊNDICE B
RESPOSTAS DOS PROBLEMAS (EXERCÍCIOS)

Exercício 07
- Forças
hidrostática horizontal a montante e ponto de aplicação - 40.000 kgf/m; 3m
hidrostática horizontal a jusante e ponto de aplicação - 2.000 kgf/m e 0,67 m
hidrostática vertical a jusante e ponto de aplicação - 1.600 kgf/m e 0,53 m
peso próprio e ponto de aplicação - 144.000 kgf/m e 6,56 m
subpressão total - 55.000 kgf/m e 6,06 m
- Momentos:
momento tombador - 454.800 kgf.m/m
momento restituidor - 946.828 kgf.m/m
coeficiente de segurança - 2,08 - estável ao tombamento

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- Escorregamento:
força de escorregamento - 38.500 kgf/m
força de atrito - 58.890 kgf/m
coeficiente de segurança ao escorregamento - 1,53 - estável ao escorregamento
- Tensão tangencial na base
2
tensão de cisalhamento - 3.850 kgf/m por m de largura de barragem
2
tensão de resistência - 306.798 kgf/m por m de largura de barragem
estável
- Tensões de compressão na base
2
tensão a montante - 11.397 kgf/m por m de largura de barragem
2
tensão a jusante - 6.723 kgf/m por m de largura de barragem
estável
Exercício 08
- Forças
hidrostática horizontal a montante e ponto de aplicação - 3.600 tf/m; 10m
hidrostática vertical a montante e ponto de aplicação - 3.600 tf/m e 36,9 m
peso próprio do bloco laje-contraforte e ponto de aplicação - 5.537 tf/m e 21,45 m
subpressão na laje - 120 tf/m e 46,6 m
coeficiente de segurança - 6,0 - estável ao tombamento
coeficiente de segurança ao escorregamento - 1,63 - estável ao escorregamento
- Tensão tangencial na base
2
tensão de cisalhamento - 25,6 tf/cm por m de largura de barragem
2
tensão de resistência - 348 tf/m por m de largura de barragem
estável
- Tensões de compressão na base
2
tensão a montante - 62,78 tf/m por m de largura de barragem
2
tensão a jusante - 65,4 tf/m por m de largura de barragem
estável
Exercício 09
o
133 34'
Exercício 10
a) t=0,035 h
b) 1,75 m
c) 10 vezes maior
Exercício 11
Vc/Va = 5,25

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