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Barragens derrubam vidas

 1ºp.
 As barragens são estruturas feitas para armazenar “substâncias
ou de misturas de líquidos sólidos”, como define
"substâncias líquidas ou de misturas de líquidos e sólidos", como
define a Política Nacional de Segurança de Barragens,
estabelecida pela Lei 12.334, em 2010. O especialista Carlos
Barreira Martinez explica que essas estruturas podem ser feitas de
concreto, pedra ou terra. Ao todo, o Brasil tem 22.649 barragens
registradas no Sistema Nacional de Informações sobre Segurança
de Barragens (SNISB)
 Quais são os impactos do rompimento de barragens? "O
rompimento — como um desastre tecnológico resultado de
decisões onde o lucro é prioridade e não a segurança e a vida
— é um crime que afeta todas as dimensões da vida das
pessoas atingidas.". Quem diz é Thiago Alves, integrante da
coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB).
Desde o final da década de 1980, o movimento tem lutado a
favor das populações que foram vítimas de desastres com
barragens, buscando garantir reparação para que essas
pessoas possam reconstruir suas vidas. "Nossa experiência na
bacia do Rio Doce, com o crime da Samarco, Vale, BHP Billiton,
e na bacia do Paraopeba, com o crime da Vale, mostra como os
prejuízos econômicos se somam aos aspectos simbólicos e
culturais da vida em comunidade e os aspectos individuais e
coletivos na saúde física e psicológica. Em certa medida, são
danos incalculáveis", conta. Além disso, Thiago destaca que,
para além das mortes, destruição de comunidades e do meio
ambiente, é importante citar outro dano causado por
rompimentos de barragens: o medo. "Moradores que vivem
perto de barramentos, como ocorre em Congonhas, por
exemplo, passam os dias aterrorizados e, desde já, sofrem
prejuízos, como desvalorização de imóveis e a desorganização
dos planos de vida, a perda de espaços coletivos, como escolas"
Por que as barragens se rompem?
O problema começa na escolha do método de disposição dos
rejeitos, que é feita pela própria mineradora sem interferência
do Estado e da sociedade. A empresa escolhe uma forma de
maximizar o lucro, busca o processo e as condições mais
baratas.
Durante a construção da barragem, não há um órgão capaz
de fiscalizar o processo e de garantir a priorização da
segurança ao invés do lucro. Se o processo de licenciamento
e de construção já é falho, depois de construídas, as formas
de fiscalização também não dão conta de garantir a
segurança da estrutura.
2ºp.
O Dique Lisa que transbordou e atingiu um trecho da BR-040,
na manhã de sábado (08/01) em Nova Lima, Região
Metropolitana de BH, passou para nível três de emergência,
segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM). Isso
significa risco elevado de rompimento e é o mais alto nível de
alerta.
A ANM declarou que a desinterdição da Mina será possível
quando a empresa executar medidas que garantam a
estabilidade do Dique e que há uma equipe no local
trabalhando junto a empresa para evitar o rompimento.
A Agência informou que seis pessoas que moram próximas a
barragem, foram retiradas de casa em segurança
3ºp.
A Agência Nacional de Mineração (ANM) — autarquia
federal responsável por fiscalizar empreendimento
minerários e barragens de mineração no Brasil.
Questionada sobre quantos profissionais realizam o
trabalho de vistoria em campo nos distintos

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empreendimentos minerários, a ANM respondeu que
apenas 34 servidores atuam na fiscalização de
barragens, sem esclarecer se há outros servidores que
fazem o trabalho de campo nas minas, por exemplo. Os
profissionais são responsáveis por vistoriar pelo menos
as 790 barragens de mineração existentes no Brasil.
1. As barragens alteram os ecossistemas
Água é vida – E como barragens bloqueiam água, tal condição
impacta a vida, tanto para os ecossistemas como para as populações.
Ecossistemas não dependem unicamente das águas, mas também dos
sedimentos, e ambos são bloqueados pelas grandes barragens. Como
o material sólido se acumula no reservatório artificial, as terras a
jusante ficam menos férteis e os leitos de rios, de acordo com as
operações e características geológicas, podem ficar mais profundos,
ou, com a erosão, assoreados. Emilio Moran, professor de geografia
e meio ambiente na Universidade Estadual de Michigan (Estados
Unidos da América) descreve, em estudos, que a perda de
sedimentos atinge a ordem de 30 a 40% com a construção de
grandes barragens.
“Rios transportam sedimentos que alimentam peixes e a flora ao
longo do rio. Logo, quando se bloqueia o curso livre dos sedimentos
nos cursos de água, temos como resultado um rio morto”.
E os ecossistemas, ao longo de milhares de anos, se adaptaram ao
curso natural, sem interferências, que as barragens eliminam.
As grandes barragens também têm, sempre, uma grande “pegada”,
forma simples de definir os impactos, nas terras a montante do
empreendimento. Além do deslocamento de comunidades humanas,
o enchimento de áreas para a criação do reservatório também mata
plantas, e provoca a morte de animais por afogamento ou os força a
procurarem novas áreas para seguirem suas vidas. Os reservatórios
também fragmentam habitats valiosos e cortam corredores
migratórios.
2. Barragens reduzem a biodiversidade e causam extinção
Espécies aquáticas, particularmente os peixes, são vulneráveis aos
impactos das barragens. Moran explica que a barragem de Itaipu,
construída na fronteira do Paraguai com o Brasil, nos anos 1970 e

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1980, resultou em uma perda de aproximadamente 70% da
biodiversidade.
“Na barragem de Tucuruí, construída nos anos 1980 na Amazônia,
houve uma queda de 60% na produtividade dos peixes”, completa
Moran.
Muitas espécies de peixe dependem da condição de mobilidade com
liberdade em um rio, seja para a busca pelos alimentos, ou para o
retorno aos locais de seus nascimentos (a piracema). Espécies
migratórias são severamente afetadas pela presença de barragens.
Em 2016, a IUCN – Internacional Union for the Conservation of
Nature reportou a queda de 99% na pesca de esturjão e peixe remo –
ambos espécies migratórias – em um período de trinta décadas.
Sobrepesca e alterações nos rios são citadas como as maiores
ameaças à sobrevivência das espécies.
Um estudo de 2018 elaborou uma previsão de que os estoques
pesqueiros no rio Mekong (na Ásia) poderia cair em cerca de 40%
como resultado de projetos de inúmeras barragens – com
consequências não só para a biodiversidade, mas também para as
populações cujas vidas e meios de subsistência dependem desses
peixes.
Os impactos na biodiversidade são particularmente altos para
animais ameaçados de extinção. E não apenas as espécies aquáticas.
O orangutango Tapanuli – a mais rara espécie de grande primata,
com apenas 500 indivíduos remanescentes – pode desaparecer se a
construção de uma barragem projetada em Sumatra, Indonesia, se
configurar. Barragens podem literalmente eliminar espécies.
3. Barragens contribuem para as mudanças climáticas (e são por
elas afetadas)
Quando os reservatórios são enchidos, as florestas a montante são
inundadas, eliminando, portanto, sua função de “sumidouros” de
carbono. A medida em que a vegetação afogada se decompõe, a
massa vegetal em decomposição nos reservatórios libera metano, um
gás importante na produção do efeito estufa. Esse ciclo transforma
os reservatórios em fontes de emissões – sobretudo os localizados
em florestas tropicais, com crescimento adensado. Há estimativas de
as emissões de gases do efeito estufa originada por barragens é de

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algo em torno de um bilhão de toneladas/ano, o que é uma fonte
global significativa.
Conforme verificamos as mudanças do clima, estiagens mais
frequentes e prolongadas significam que as barragens captarão
menos água, resultando em menor produção de energia elétrica
( nota: as estiagens observadas recentemente na bacia do São
Francisco são um exemplo). Países dependentes de hidroeletricidade
estarão particularmente vulneráveis com o aumento das
temperaturas.
Moran descreveu um círculo vicioso, por exemplo no Brasil, onde
cerca de 60 a 70% de sua energia é produzida por hidrelétricas: “se
você elimina metade da floresta úmida, haverá uma perda de metade
da pluviosidade. Logo, não haverá água suficiente para suprir a
demanda [de água] de tais barragens”, explica.
4. Barragens prejudicam a qualidade da água
Reservatórios artificiais acumulam fertilizantes que chegam à água
vindos das áreas no entorno. Como agravante, em alguns países em
desenvolvimento, o esgoto é lançado diretamente nos reservatórios
[nota: como é de conhecimento, no caso da bacia do São Francisco,
a imensa maioria dos municípios não dispõe de saneamento básico
ou sistemas adequados de tratamento de águas servidas]. Este tipo de
poluição produz a floração de algas (os chamados blooms, em
inglês) que absorvem o oxigênio da água, tornando-a ácida e
potencialmente prejudicial para populações humanas e para a fauna.
Também ocorre em grandes lagos artificiais que a temperatura no
topo é maior que no fundo, comprometendo a qualidade da água.
Enquanto a água aquecida promove o crescimento das algas nocivas,
a água fria das zonas mais profundas que é lançada pelas turbinas
geradoras, podem conter altas taxas de minerais prejudiciais
concentradas.
Em alguns caos, a água nos reservatórios artificiais tem sua
qualidade tão ruim que é imprestável para o consumo humano.
5. Barragens desperdiçam água
Nos reservatórios de barragens, com grandes áreas de água
diretamente expostas ao sol, há muito mais evaporação do que na
situação do rio correndo naturalmente, antes da criação da barragem.

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A estimativa é de que ao menos cerca de 7% do total da água
necessária para as atividades humanas é evaporada dos reservatórios
em todo o mundo a cada ano.
Este efeito é piorado em regiões mais quentes, Moran explicou.
“Certamente que um reservatório em zona tropical onde ocorrem
altas temperaturas haverá muita evaporação”, diz ele, e grandes
reservatórios “estão, claro, evaporando constantemente”
Reservatórios também são um local perfeito para diversas espécies
de plantas invasoras, e a cobertura de bancos de plantas invasoras
sobre as águas leva à evapotranspiração – ou seja, a transferência de
água da terra para a atmosfera, através da evaporação do solo e
transpiração das plantas. Tal evapotranspiração é seis vezes maior
que a evaporação da água da superfície. Também deve ser dito que
barragens favorecem o aumento do consumo da água e promovem
desperdício através da criação de uma falsa sensação de segurança
hídrica.
Com a diminuição dos recursos globais de água doce disponíveis, há
questionamentos sobre se barragens devem ser reconsideradas.
Quais seriam as alternativas?
A evidência é condenatória. Se as grandes barragens têm tantos
efeitos nocivos ao meio ambiente, quais seriam as alternativas?
Apesar de alguns grupos – ditos verdes – apontarem a alternativa das
PCHs – Pequenas Centrais Hidrelétricas como uma estrutura mais
adequada em termos ecológicos, Moran é cético:”Uma barragem é
uma barragem – bloqueia o peixe, bloqueia o sedimento”
Ele sugere que é necessário considerar não apenas a maximização da
produção de energia, mas manter a produção ecológica. Uma opção
citada por Moran é o uso de turbinas submersas na água (in-stream
turbines)
Outras tendências voltadas para a proteção do meio ambiente
propõem outras formas de geração de energia como a solar e eólica,
pois teriam a capacidade produção mais limpa e a um custo
ambiental bem menor.

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