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Aula 1

QUEM É
DEUS?
“Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus!
Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus cami-
nhos! Pois, quem conheceu a mente do Senhor? Quem se tornou seu conse-
lheiro? Quem primeiro lhe deu alguma coisa, para que lhe seja recompen-
sado? Porque todas as coisas são dele, por ele e para ele. A ele seja a glória
eternamente! Amém.” (Rm 11.33-36)
Conhecer a Deus e a sua obra é, sem dúvidas, a maior necessidade dos seres humanos.
O próprio Deus adverte seu povo a respeito da importância de conhecê-lo. Através
do profeta Jeremias¹, ele diz que o verdadeiro motivo para se gloriar não seria outro,
senão conhecê-lo. Conhecer a Deus implica em compreender as facetas do seu cará-
ter e seu plano eterno. Portanto, esse será o objetivo dessa disciplina, um mergulho

1. Jr 9. 23,24

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

profundo nos aspectos importantes do caráter de Deus e sua obra. O intuito é le-
vá-lo a compreender algumas das características que compõem a mensagem do
evangelho na palavra de Deus.
A pregação do evangelho deve ser proclamada aos que não creem, com intuito de
levá-los a Cristo, mas também àqueles que já foram alcançados por essa mensagem.
Os nascidos de novo devem ser constantemente alimentados pelas boas novas da
salvação. O homem precisa ser relembrado que a graça de Deus é o único motivo
que o torna livre da condenação eterna. Sendo assim, no decorrer dessa disciplina
você será relembrado sobre as grandezas de um Deus que salva e liberta o homem
do pecado.
O conteúdo do evangelho, que explicaremos ao longo dessas oito aulas, é concen-
trado em: Deus, o homem, Jesus e a resposta (Criação, Queda, Redenção e Consu-
mação). Em cada um desses pontos se desenvolve a narrativa bíblica que culmina
na grande revelação da salvação e restauração apresentadas pelo evangelho.
Nessa primeira aula falaremos sobre Deus. Veremos sobre alguns de seus atributos,
com intuito de esclarecer a ligação entre a pessoa de Deus e o evangelho. É im-
portante compreender quem Deus é na mensagem do evangelho (as boas novas da
salvação), para que dessa forma possamos compreender com intelecção a sua obra.
A centralidade do evangelho está na pessoa de Deus, portanto, é necessário conhe-
cê-lo para assimilar com clareza a mensagem que ele quer transmitir à humanidade.

ONIPOTENTE

“Eu sou o SENHOR, o Deus de toda a humanidade; existe alguma coisa


impossível para mim?” (Jr 32.27)

“Há alguma coisa difícil para o SENHOR?” (Gn 18.14a)


Deus é Todo-Poderoso, não existe nada que ele não possa fazer. Ele possui capaci-
dade suficiente para fazer tudo que lhe agrada. Sua vontade pode ser plenamente
satisfeita, pois ele é todo-poderoso para cumpri-la. Sua voz foi forte o suficiente
para dar vida ao mundo que conhecemos e nada escapa do seu controle. Segundo
A. W. Pink (2016)² o poder de Deus é “aquilo que dá vida e movimento a todas as

2. PINK, A. W. Os atributos de Deus. São Paulo: Publicações evangélicas selecionadas, 2016.


p. 73.

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perfeições de Deus.” Nenhum demônio, enfermidade ou fenômenos naturais resis-


tem ao comando daquele que tudo criou. Seu poder é ilimitado, é impossível ao
homem mensurá-lo ou medi-lo. Outra característica a respeito da onipotência de
Deus é que ela é imutável, ele jamais deixará de ser eternamente poderoso.
O poder de Deus é inato e inerente a ele, não foi adquirido, mas sempre existiu.
Nas palavras de A. W. Pink (2016): “o poder de Deus é como ele mesmo - auto existente,
auto sustentado. O mais poderoso dos homens não pode acrescentar sequer uma sombra
de poder ao Onipotente.”³ A mente humana é limitada, não sendo capaz de com-
preender a totalidade da onipotência de Deus, ainda que vislumbrando aspectos
visíveis da sua magnitude. O intelecto humano é inepto no que diz respeito ao
conhecimento das grandezas do Criador. A totalidade de quem Deus é não caberia
nos pensamentos humanos. Nem mesmo a mais grandiosa de suas obras poderia
revelar, em plenitude, a grandeza do seu poder.
Deus é possuidor de tão grande poder que criou tudo que existe por meio de sua
voz; ao seu comando tudo veio a existir, enquanto os seres humanos necessitam de
recursos e ferramentas para o exercício de seus trabalhos.

“Teus são os céus, e tua é a terra; tu estabeleceste o mundo e tudo que há


nele. O Norte e o Sul, tu os criaste; o Tabor e o Hermom regozijam-se em
teu nome.” (Sl 89.11,12)

“Pois ele falou, e tudo se fez; ele mandou, e logo tudo apareceu.” (Sl 33.9)

Todos os aspectos do poder de Deus deveriam despertar no homem um sincero


ímpeto de adoração. As grandiosas obras feitas por suas mãos deveriam arrancar
os mais belos louvores da humanidade. Nas sábias palavras de A. W. Pink (2016), a
alma iluminada deve muito bem adorar um Deus tal como esse! As estupendas e infinitas
perfeições de um ser como Deus requerem fervoroso culto.4
Ainda sobre a onipotência de Deus, existem algumas atitudes que são contrárias
ao seu caráter, portanto, impossíveis de serem feitas por ele. Deus pode fazer tudo
quanto deseja, contudo, jamais fará algo que seja contrário ao seu caráter, vejamos:

3. ibid., p.75.
4. PINK, A. W. Os atributos de Deus. São Paulo: Publicações evangélicas selecionadas, 2016.
p. 81.

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A. Deus não pode mentir.

“Deus não é homem para que minta, nem filho do homem, para que se
arrependa.

Por acaso, tendo ele dito, não o fará? Ou, havendo falado, não o cumpri-
rá?” (Nm 23.19).

“Céu e terra passarão, mas as minhas palavras nunca.” (Mt 24.35).


Deus é a própria verdade, seria contrário ao seu caráter mentir.

B. Deus não pode ser tentado pelo mal.

“Quando tentado, ninguém deve dizer: Sou tentado por Deus, pois Deus
não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta.” (Tg 1.13).
Deus é separado de todo pecado, portanto, é impossível que seja contaminado ou
tentado pelo mal.

3. Deus não pode negar a si mesmo.

“se somos infiéis, ele permanece fiel; pois não pode negar-se a si mesmo.”
(2 Tm 2.13).
Embora o poder de Deus seja infinito, o uso que ele faz desse poder é qualificado
por seus outros atributos. A limitação não está em seu poder, mas na sua falta de
desejo por fazer o que é mau.
O intuito de discorrer a respeito desses três pontos, não é revelar as fraquezas de
Deus, o contrário é verdadeiro. Essas características revelam que Deus, mesmo
tendo poder para fazer tudo que quer, fará apenas aquilo que é de acordo com seu
caráter. Ele não fará algo que transgrida a sua santidade. Precisamos entender que
ele é onipotente, contudo, esse poder está direcionado à sua santidade e soberania.

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INDEPENDENTE

“Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus!


Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus cami-
nhos! Pois, quem conheceu a mente do Senhor? Quem se tornou
seu conselheiro? Quem primeiro lhe deu alguma coisa, para que lhe
seja recompensado? Porque todas as coisas são dele, por ele e para
ele. A ele seja a glória eternamente!” Amém. (Rm 11.33-36)

“Quem primeiro deu a mim, para que eu lhe retribua? Tudo o que existe
debaixo do céu é meu.” (Jó 41.11)

“O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, Senhor do céu e da terra,
não habita em templos feitos por mãos de homens. Tampouco é servido por
mãos humanas, como se necessitasse de alguma coisa. Pois é ele mesmo
quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas.” (At 17.24,25)
Deus não depende de nada nem de ninguém. O homem que vive de maneira inde-
pendente está sujeito ao erro, porém, Deus, sendo autossuficiente, não necessita
de auxílio ou amparo. Segundo A. W. Pink (2016), “toda criação dá testemunho, não
só do grande poder de Deus, mas também da sua inteira independência de todas as coisas
criadas”.5 Deus não resgatou o homem, por meio da mensagem do evangelho, por
carência ou necessidade, ele criou e salvou a humanidade por causa do amor que
transborda de seu ser. Deus não possui necessidades a serem supridas, mas é glori-
ficado quando o seu amor é derramado sobre os homens, satisfazendo suas almas.
Ele é exaltado quando o homem supre cada uma de suas necessidades nele, e so-
mente nele. Nisso são demonstradas a glória e beleza de Deus, ele salva e convida
o homem a ser inundado de amor, ainda que este não possua nada para oferecer em
troca. Por meio do sangue de Cristo, derramado em favor dos homens, ele com-
prou os seus, não para preencher alguma lacuna, mas para demonstrar a sua glória.
Portanto, ele é digno de receber nossas vidas como oferta de adoração.

“Porque todo animal da floresta é meu, assim como o gado, aos milhares
nas montanhas. Conheço todas as aves dos montes, e tudo o que se move
no campo é meu. Se eu tivesse fome, não te pediria, pois o mundo é meu e
tudo que nele existe.” (Sl 50.10-12)

5. PINK, op. cit., p. 75.

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Deus criou tudo que existe de acordo com a sua vontade, sem auxílio algum. Ele
criou o homem para ser eternamente dependente dele, mas em nada depende de
nós. A independência de Deus revela seu poder, ele tem controle e domínio sobre
todas as coisas e em nada necessita de auxílio. Em contrapartida a essa verdade, a
independência do homem gera morte, pois até mesmo o ar que respira é dádiva de
Deus. Mesmo os homens que se posicionam contrários a Deus, têm seu fôlego de
vida sustentado pelas mãos daquele que tudo criou.

CRIADOR

“No princípio, Deus criou os céus e a terra.” (Gn 1.1)

“Nosso Senhor e nosso Deus, tu és digno de receber a glória, a honra e o


poder, porque tu criaste todas as coisas e, por tua vontade, elas existiram e
foram criadas.” (Ap 4.11)
Deus criou o universo e tudo que nele há, portanto, possui direito sobre toda a
criação. O mesmo que, por meio da sua voz, deu vida a tudo que existe, continua
a reger o mundo com o poder inerente a ele. Segundo Albert M. Wolters (2006)
“o mesmo Deus criador e o mesmo poder soberano que chamou o cosmos à existência no
princípio, o mantém na existência de momento a momento até hoje.”6 Ele não criou o
mundo e se ausentou, tampouco absteve-se, ele continua a reger o universo que
está debaixo do seu poder criativo. Muitos podem se indignar com o fato de Deus
determinar um padrão correto de conduta, ou ainda com o fato de ele julgar aqueles
que vivem longe desse padrão. Mas a grande verdade a respeito disso é que Deus,
por ter criado todas as coisas, tem direito sobre sua criação. Ele é o único que pode
julgar a moral dos homens, o único que pode dizer o que deve ou não deve ser feito,
pois foi seu sopro divino que deu vida aos homens. Tudo que foi criado por Deus
está debaixo de sua tutela.
O mesmo poder que atuou na criação vem atuando ao longo dos séculos, governan-
do todas as coisas. Como dito anteriormente, Deus não criou o universo e o que
nele há para deixá-lo à mercê da sorte. Ele é o criador, dono e Rei, sua poderosa
mão continua a reger o universo. Sobre isso Wolters (2006) diz:

6. WOLTERS, Albert M. A criação restaurada: Base bíblica para uma cosmovisão reformada.
São Paulo: Cultura Cristã, 2006. p 25.

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A ONIPOTÊNCIA DO COMANDO DE DEUS, PELA


QUAL ELE FAZ TODAS AS COISAS COMO SÃO, É
A MESMA QUE FOI NO PRINCÍPIO DA CRIAÇÃO E
EM CADA MOMENTO DA HISTÓRIA. ISSO É O QUE
OS TEÓLOGOS QUEREM DIZER QUANDO ESCRE-
VEM QUE É DIFÍCIL, SENÃO IMPOSSÍVEL, FAZER
UMA DISTINÇÃO DECISIVA ENTRE “CRIAÇÃO” E
“PROVIDÊNCIA” COMO OBRAS DE DEUS. A OBRA
DIÁRIA DE DEUS, DE PRESERVAR E GOVERNAR O
MUNDO, NÃO PODE SER SEPARADA DO SEU ATO
DE CHAMAR O MUNDO À EXISTÊNCIA. NO VOCA-
BULÁRIO DE DEUS, “FAZER” E “GOVERNAR”
SÃO SINÔNIMOS.7

Deus deu origem, sustenta e governa a humanidade, tudo por amor ao seu nome.
Todas as obras criadas por Deus foram feitas para o seu prazer, para que fosse glori-
ficado. Ele não é apenas todo-poderoso e independente, mas aquele que criou tudo
que existe de acordo com o propósito da sua santidade.

“Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras


das suas mãos.” (Sl 19.1)

SANTO

Deus é santo, ou seja, separado de todo pecado. Mesmo antes que o pecado viesse
a existir como uma prática real, ele já era santo, eternamente santo. Contudo, não
é santo apenas por ser separado de tudo aquilo que é mau, mas por ser dedicado a
tudo que é bom e honroso. Segundo A. W. Pink (2016):

7. ibid., p.26.

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Muitas vezes ele é intitulado “o Santo” nas Escrituras. Sim, porque nele
se acha a soma total de todas as excelências morais. Ele é pureza absoluta,
que nem mesmo a sombra do pecado mancha. “Deus é luz” (1Jo 1.5). A
santidade é a excelência propriamente dita da natureza divina: o grande
Deus é “majestoso em santidade” (Êx 15.11).8
Vejamos alguns outros aspectos sobre a santidade de Deus:
Deus abençoa e santifica o sábado:

“Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e


farás o teu trabalho; mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR teu Deus.
Nesse dia não farás trabalho algum (...). Porque o SENHOR fez em seis
dias o céu e a terra, o mar e tudo o que neles há, e no sétimo dia descansou.
Por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou.” (Êx 20.8-
11)
Deus orienta o que deve ser feito à porta da tenda da congregação (ou Tabernáculo):

“Este será o holocausto contínuo através de vossas gerações, à entrada


da tenda da revelação, diante do SENHOR, onde vos encontrarei, para
falar contigo. Virei aos israelitas ali, e a tenda será santificada pela minha
glória. Santificarei a tenda da revelação e o altar. Também consagrarei
Arão e seus filhos, para que me sirvam como sacerdotes. Habitarei no meio
dos israelitas e serei o seu Deus; e eles saberão que eu sou o SENHOR seu
Deus, que os tirou da terra do Egito para habitar no meio deles. Eu sou o
SENHOR seu Deus.” (Êx 29.42-46)
A santidade de Deus é exaltada pelos homens e pelos anjos:

“Eu também te louvarei ao som do saltério, pela tua fidelidade, ó meu


Deus; eu te cantarei ao som da harpa, ó Santo de Israel. Meus lábios,
assim como a minha vida, que remiste, exultarão quando eu cantar teus
louvores.” (Sl 71.22,23)

“... eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de


seu manto enchiam o templo. Acima dele havia serafins; cada um tinha
seis asas; com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés e com duas

8. PINK, op. cit., p.65.

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voavam. E clamavam uns aos outros: Santo, santo, santo é o SENHOR


dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.” (Is 6.1-3)

“O SENHOR reina! Tremam os povos! Ele está entronizado sobre os que-


rubins. Estremeça a terra! O SENHOR é grande em Sião; exaltado acima
de todos os povos. Louvem teu grande e tremendo nome, pois tu és santo.
(...) Exaltai o SENHOR, nosso Deus, e prostrai-vos diante do estrado de
seus pés, pois ele é santo. (...) Exaltai o SENHOR, nosso Deus, e adorai-o
no seu santo monte, pois o SENHOR, nosso Deus, é santo.” (Sl 99.1-3,5,9)
Padrão moral para a humanidade:

“O SENHOR disse a Moisés: Fala a toda a comunidade dos israelitas:


Sereis santos, porque eu, o SENHOR vosso Deus, sou santo.” (Lv 19.1,2)

“Como filhos obedientes, não vos amoldeis aos desejos que tínheis em tem-
pos passados na vossa ignorância. Mas sede vós também santos em todo
vosso procedimento, assim como é santo aquele que vos chamou, pois está
escrito: Sereis santos, porque eu sou santo.” (1 Pe 1.14-16)

“Naquele dia se gravará sobre as campainhas dos cavalos: consagrado


ao SENHOR; e as panelas no templo do SENHOR serão como as bacias
diante do altar. E todas as panelas em Jerusalém e Judá serão consagra-
das ao SENHOR dos Exércitos; todos os que vierem sacrificar as pegarão
e cozinharão nelas. Naquele dia não haverá mais comerciantes no templo
do SENHOR dos Exércitos.” (Zc 14.20,21)

A santidade de Deus é condição moral, determinada por ele, necessária à saúde


do universo.9 O mal, como uma doença moral, traz morte, mas em contraste a
isso temos a santidade de Deus, que representa tudo aquilo que é saudável e traz
vida. Deus tem interesse em tornar o universo criado por ele um lugar revestido de
saúde moral, mas para que isso venha a acontecer faz-se necessário a destruição de
tudo aquilo que fere a sua santidade.

9. TOZER, A. W. O conhecimento do Santo. São Paulo: Impacto, 2018. p. 215

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JUSTO / RETO

“Ele é a Rocha! Suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos
são justos. Deus é fiel, e nele não há pecado; é justo e reto.” (Dt 32.4)
Tudo que Deus faz é justo e reto, ele é o próprio padrão de justiça e retidão. Ele é
glorificado quando sua justiça é estabelecida. Tudo que ele criou e faz tem como
propósito principal a honra do seu nome. Sendo assim, Deus age em retidão quan-
do se dedica à sua própria glória. Quando o homem se dedica à sua própria glória
ele está pecando, mas quando Deus trata a si mesmo como o centro do universo,
ele é justo. A nenhuma criatura é dado o direito de colocar-se como centro do uni-
verso, mas àquele que tudo criou é concedido esse direito.
Outro ponto é que sua justiça está contida no fato dele enviar pecadores para o in-
ferno,10 da mesma forma que está contida no fato dele salvar pessoas da condenação
eterna. Esse é um preceito que escandaliza diversas pessoas, todavia o estabeleci-
mento do padrão moral de Deus não deveria escandalizar. A ofensa com a justiça
de Deus sendo instaurada revela um coração centrado em si próprio e não na glória
daquele que é santo. Tal atitude deveria conduzir ao arrependimento.
Segundo A. W. Pink (2016), muitas pessoas se ofendem com o fato de Deus se irar,
porém, a Bíblia apresenta mais referências a respeito da ira de Deus do que do seu
amor. Ele é o padrão de justiça, o homem que se ofende com a forma como Deus
governa e julga o mundo, escandaliza-se com aquele que criou e tem domínio sobre
todas as coisas. Ainda segundo Pink:

A IRA DE DEUS É UMA PERFEIÇÃO DIVINA TANTO QUANTO A


SUA FIDELIDADE, O SEU PODER OU A SUA MISERICÓRDIA. [...]
COMO PODERIA AQUELE QUE É A SOMA DE TODAS AS EXCE-
LÊNCIAS OLHAR COM IGUAL SATISFAÇÃO PARA A VIRTUDE
E O VÍCIO, PARA A SABEDORIA E A TOLICE? COMO PODERIA
AQUELE QUE É INFINITAMENTE SANTO FICAR INDIFERENTE
AO PECADO E SE NEGAR A MANIFESTAR A SUA “SEVERI-
DADE” (RM 11.22) PARA COM ELE? [...] A PRÓPRIA NATUREZA
DE DEUS FAZ DO INFERNO UMA NECESSIDADE TÃO REAL,
UM REQUISITO TÃO IMPERATIVO QUANTO O PRÓPRIO CÉU.
[GRIFO NOSSO]11

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Deus odeia a injustiça, é contrário à sua natureza ser apático frente a maldade e o
pecado. Deus, por amor ao seu nome, rege a terra em justiça e retidão e detesta
tudo que vai contra seu padrão divino. Ele é o único puro e santo capaz de deter-
minar o que é correto, portanto, cabe ao homem entregar-se aos preceitos divinos,
confiando que ele sabe a forma justa e reta de guiar a humanidade, seja manifestan-
do sua graça ou sua ira.
Tudo no universo é bom na medida em que segue a natureza de Deus e é mau na
medida em que deixa de fazê-lo. Deus é o seu próprio princípio autoexistente de
equidade moral, e, quando condena o homem mau ou recompensa o justo, ele está
meramente agindo de acordo com a sua natureza, influenciado por coisa alguma
além de si próprio.12

O EVANGELHO EXPLÍCITO

O evangelho explícito é composto por duas perspectivas a respeito das boas novas
da salvação, elas apontam para a relação existente entre a obra de Cristo com o
homem e a criação.

Evangelho no chão (aspecto antropológico):

Engloba a narrativa bíblica sobre Deus, o homem, Cristo e a resposta. Ao observar


o evangelho sob essa perspectiva, o homem pode perceber claramente a obra re-
dentora de Cristo estendida à humanidade, sendo possível ainda perceber a glória
de Deus reinando sobre o seu plano eterno para o homem.

Evangelho no alto (aspecto cosmológico):

Por meio dessa perspectiva é possível ver a conexão entre a salvação e a restauração
cósmica, a narrativa bíblica a respeito da redenção.13
Todos os pontos vistos até agora têm como propósito fazê-lo compreender a men-
sagem do evangelho. Fechar os olhos para quem Deus de fato é nas Escrituras
é o mesmo que abster-se de uma correta compreensão a respeito do evangelho.

10. “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; pelo contrário, temei
aquele que pode destruir no inferno* tanto a alma como o corpo.” ( mt 10.28)
11. PINK, op. cit., p.144.
12. TOZER, op. cit., p. 177, 178.
13. WILSON, Jared. CHANDLER, Matt. Evangelho Explícito. São José dos Campos, SP: Edi-
tora Fiel, 2013. p.17.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Esse é o sentido por trás do título dessa disciplina, tendo em vista que Deus é aque-
le que idealizou e proclama as boas novas por meio do seu Filho.

CONCLUSÃO

A justiça e retidão de Deus revelam que ele sempre age de acordo com seu padrão
justo. A justiça, em termos bíblicos, tem a ver com organizar tudo em seu devido
lugar. Em contrapartida, o mundo prega que justiça tem a ver com igualdade, ideia
que não condiz com o padrão de justiça imutável de Deus.
Todo o assunto que circunda a onipotência, independência, santidade e justiça de
Deus, nos conduz a um dilema. Esse dilema consiste no fato de que, todos esses
atributos revelam que Deus não deveria salvar o homem, uma vez que o jugo desi-
gual entre Criador e criatura é extremamente perceptível. Deus deveria condenar
a humanidade, sem exceções, ao inferno. Todavia, ainda assim, condenados eter-
namente ao castigo da ira divina, não seriam capazes de pagar a dívida gerada pela
ofensa feita contra Deus. Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus14,
portanto: Todos os seres humanos mereceriam o inferno!
Quando tentamos de alguma forma cobrar que Deus faça determinada coisa por
nós, ou quando o julgamos como déspota, isso revela que cremos em um evange-
lho distorcido. Outro ponto alarmante, que demonstra o quanto o evangelho vem
sendo distorcido, encontra-se definido na expressão “deísmo moralista terapêutico
cristão”, criada pelo sociólogo Christian Smith. Segundo Matt Chandler e Jared
Wilson, “a ideia por trás do deísmo moralista terapêutico cristão é que somos capazes de
ganhar o favor de Deus e nos justificar diante dele em virtude de nosso comportamento”
(2013).15 Tal ideia se disfarça de pensamento cristão no meio de muitas igrejas. Mui-
tas vezes, em grupos religiosos, os assuntos discutidos dizem respeito ao bem-es-
tar, ao fato de considerarem a bondade algo inato nos seres humanos e ainda sobre
como o mal pode ser evitado por eles. Crenças como essas, por mais que circulem
ao redor do nome de Jesus, estão longe de serem assuntos centrados nas verdades
do evangelho.

13. WILSON, Jared. CHANDLER, Matt. Evangelho Explícito. São José dos Campos, SP: Edi-
tora Fiel, 2013. p.17.
12. TOZER, op. cit., p. 177, 178.

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O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica

Deísmo - parte do princípio de uma crença em Deus;


Moralista - tem a conduta moral como centro, e não a cruz;
Terapêutico - tem como objetivo o bem estar do ser humano e
não a gloria de Deus
Cristão - usa símbolos e linguagens cristã, mas a sua essência
não é Cristo

Por vezes, os cristãos são revestidos por justiça própria, fato que os impede de
compreender com clareza a mensagem da salvação. Por algum motivo, presume-se
que a obra da cruz salva o homem apenas dos pecados cometidos antes da conver-
são, mas a partir desse ponto ele deve assumir o controle e ser o responsável por
se autopurificar. O homem acredita que, por meio do seu esforço, obterá a melhor
performance espiritual, fato que não corresponde à verdade. É necessário conhecer
as verdades a respeito de Deus e das boas novas que ele quer comunicar ao homem.
A mensagem do evangelho, revelada nas Escrituras, aponta para um Deus todo-po-
deroso, bom, reto e rico em misericórdia. A Bíblia tem o evangelho como centro de
sua mensagem, mas para compreender essa mensagem de boas novas é necessário,
primeiramente, olhar para o coração daquele que proclama ao homem essa palavra.
A mensagem do evangelho é o próprio Deus.

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