Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
QUEM É
DEUS?
“Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus!
Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus cami-
nhos! Pois, quem conheceu a mente do Senhor? Quem se tornou seu conse-
lheiro? Quem primeiro lhe deu alguma coisa, para que lhe seja recompen-
sado? Porque todas as coisas são dele, por ele e para ele. A ele seja a glória
eternamente! Amém.” (Rm 11.33-36)
Conhecer a Deus e a sua obra é, sem dúvidas, a maior necessidade dos seres humanos.
O próprio Deus adverte seu povo a respeito da importância de conhecê-lo. Através
do profeta Jeremias¹, ele diz que o verdadeiro motivo para se gloriar não seria outro,
senão conhecê-lo. Conhecer a Deus implica em compreender as facetas do seu cará-
ter e seu plano eterno. Portanto, esse será o objetivo dessa disciplina, um mergulho
1. Jr 9. 23,24
1
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica
profundo nos aspectos importantes do caráter de Deus e sua obra. O intuito é le-
vá-lo a compreender algumas das características que compõem a mensagem do
evangelho na palavra de Deus.
A pregação do evangelho deve ser proclamada aos que não creem, com intuito de
levá-los a Cristo, mas também àqueles que já foram alcançados por essa mensagem.
Os nascidos de novo devem ser constantemente alimentados pelas boas novas da
salvação. O homem precisa ser relembrado que a graça de Deus é o único motivo
que o torna livre da condenação eterna. Sendo assim, no decorrer dessa disciplina
você será relembrado sobre as grandezas de um Deus que salva e liberta o homem
do pecado.
O conteúdo do evangelho, que explicaremos ao longo dessas oito aulas, é concen-
trado em: Deus, o homem, Jesus e a resposta (Criação, Queda, Redenção e Consu-
mação). Em cada um desses pontos se desenvolve a narrativa bíblica que culmina
na grande revelação da salvação e restauração apresentadas pelo evangelho.
Nessa primeira aula falaremos sobre Deus. Veremos sobre alguns de seus atributos,
com intuito de esclarecer a ligação entre a pessoa de Deus e o evangelho. É im-
portante compreender quem Deus é na mensagem do evangelho (as boas novas da
salvação), para que dessa forma possamos compreender com intelecção a sua obra.
A centralidade do evangelho está na pessoa de Deus, portanto, é necessário conhe-
cê-lo para assimilar com clareza a mensagem que ele quer transmitir à humanidade.
ONIPOTENTE
2
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica
“Pois ele falou, e tudo se fez; ele mandou, e logo tudo apareceu.” (Sl 33.9)
3. ibid., p.75.
4. PINK, A. W. Os atributos de Deus. São Paulo: Publicações evangélicas selecionadas, 2016.
p. 81.
3
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica
“Deus não é homem para que minta, nem filho do homem, para que se
arrependa.
Por acaso, tendo ele dito, não o fará? Ou, havendo falado, não o cumpri-
rá?” (Nm 23.19).
“Quando tentado, ninguém deve dizer: Sou tentado por Deus, pois Deus
não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta.” (Tg 1.13).
Deus é separado de todo pecado, portanto, é impossível que seja contaminado ou
tentado pelo mal.
“se somos infiéis, ele permanece fiel; pois não pode negar-se a si mesmo.”
(2 Tm 2.13).
Embora o poder de Deus seja infinito, o uso que ele faz desse poder é qualificado
por seus outros atributos. A limitação não está em seu poder, mas na sua falta de
desejo por fazer o que é mau.
O intuito de discorrer a respeito desses três pontos, não é revelar as fraquezas de
Deus, o contrário é verdadeiro. Essas características revelam que Deus, mesmo
tendo poder para fazer tudo que quer, fará apenas aquilo que é de acordo com seu
caráter. Ele não fará algo que transgrida a sua santidade. Precisamos entender que
ele é onipotente, contudo, esse poder está direcionado à sua santidade e soberania.
4
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica
INDEPENDENTE
“Quem primeiro deu a mim, para que eu lhe retribua? Tudo o que existe
debaixo do céu é meu.” (Jó 41.11)
“O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, Senhor do céu e da terra,
não habita em templos feitos por mãos de homens. Tampouco é servido por
mãos humanas, como se necessitasse de alguma coisa. Pois é ele mesmo
quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas.” (At 17.24,25)
Deus não depende de nada nem de ninguém. O homem que vive de maneira inde-
pendente está sujeito ao erro, porém, Deus, sendo autossuficiente, não necessita
de auxílio ou amparo. Segundo A. W. Pink (2016), “toda criação dá testemunho, não
só do grande poder de Deus, mas também da sua inteira independência de todas as coisas
criadas”.5 Deus não resgatou o homem, por meio da mensagem do evangelho, por
carência ou necessidade, ele criou e salvou a humanidade por causa do amor que
transborda de seu ser. Deus não possui necessidades a serem supridas, mas é glori-
ficado quando o seu amor é derramado sobre os homens, satisfazendo suas almas.
Ele é exaltado quando o homem supre cada uma de suas necessidades nele, e so-
mente nele. Nisso são demonstradas a glória e beleza de Deus, ele salva e convida
o homem a ser inundado de amor, ainda que este não possua nada para oferecer em
troca. Por meio do sangue de Cristo, derramado em favor dos homens, ele com-
prou os seus, não para preencher alguma lacuna, mas para demonstrar a sua glória.
Portanto, ele é digno de receber nossas vidas como oferta de adoração.
“Porque todo animal da floresta é meu, assim como o gado, aos milhares
nas montanhas. Conheço todas as aves dos montes, e tudo o que se move
no campo é meu. Se eu tivesse fome, não te pediria, pois o mundo é meu e
tudo que nele existe.” (Sl 50.10-12)
5
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica
Deus criou tudo que existe de acordo com a sua vontade, sem auxílio algum. Ele
criou o homem para ser eternamente dependente dele, mas em nada depende de
nós. A independência de Deus revela seu poder, ele tem controle e domínio sobre
todas as coisas e em nada necessita de auxílio. Em contrapartida a essa verdade, a
independência do homem gera morte, pois até mesmo o ar que respira é dádiva de
Deus. Mesmo os homens que se posicionam contrários a Deus, têm seu fôlego de
vida sustentado pelas mãos daquele que tudo criou.
CRIADOR
6. WOLTERS, Albert M. A criação restaurada: Base bíblica para uma cosmovisão reformada.
São Paulo: Cultura Cristã, 2006. p 25.
6
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica
Deus deu origem, sustenta e governa a humanidade, tudo por amor ao seu nome.
Todas as obras criadas por Deus foram feitas para o seu prazer, para que fosse glori-
ficado. Ele não é apenas todo-poderoso e independente, mas aquele que criou tudo
que existe de acordo com o propósito da sua santidade.
SANTO
Deus é santo, ou seja, separado de todo pecado. Mesmo antes que o pecado viesse
a existir como uma prática real, ele já era santo, eternamente santo. Contudo, não
é santo apenas por ser separado de tudo aquilo que é mau, mas por ser dedicado a
tudo que é bom e honroso. Segundo A. W. Pink (2016):
7. ibid., p.26.
7
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica
Muitas vezes ele é intitulado “o Santo” nas Escrituras. Sim, porque nele
se acha a soma total de todas as excelências morais. Ele é pureza absoluta,
que nem mesmo a sombra do pecado mancha. “Deus é luz” (1Jo 1.5). A
santidade é a excelência propriamente dita da natureza divina: o grande
Deus é “majestoso em santidade” (Êx 15.11).8
Vejamos alguns outros aspectos sobre a santidade de Deus:
Deus abençoa e santifica o sábado:
8
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica
“Como filhos obedientes, não vos amoldeis aos desejos que tínheis em tem-
pos passados na vossa ignorância. Mas sede vós também santos em todo
vosso procedimento, assim como é santo aquele que vos chamou, pois está
escrito: Sereis santos, porque eu sou santo.” (1 Pe 1.14-16)
9
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica
JUSTO / RETO
“Ele é a Rocha! Suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos
são justos. Deus é fiel, e nele não há pecado; é justo e reto.” (Dt 32.4)
Tudo que Deus faz é justo e reto, ele é o próprio padrão de justiça e retidão. Ele é
glorificado quando sua justiça é estabelecida. Tudo que ele criou e faz tem como
propósito principal a honra do seu nome. Sendo assim, Deus age em retidão quan-
do se dedica à sua própria glória. Quando o homem se dedica à sua própria glória
ele está pecando, mas quando Deus trata a si mesmo como o centro do universo,
ele é justo. A nenhuma criatura é dado o direito de colocar-se como centro do uni-
verso, mas àquele que tudo criou é concedido esse direito.
Outro ponto é que sua justiça está contida no fato dele enviar pecadores para o in-
ferno,10 da mesma forma que está contida no fato dele salvar pessoas da condenação
eterna. Esse é um preceito que escandaliza diversas pessoas, todavia o estabeleci-
mento do padrão moral de Deus não deveria escandalizar. A ofensa com a justiça
de Deus sendo instaurada revela um coração centrado em si próprio e não na glória
daquele que é santo. Tal atitude deveria conduzir ao arrependimento.
Segundo A. W. Pink (2016), muitas pessoas se ofendem com o fato de Deus se irar,
porém, a Bíblia apresenta mais referências a respeito da ira de Deus do que do seu
amor. Ele é o padrão de justiça, o homem que se ofende com a forma como Deus
governa e julga o mundo, escandaliza-se com aquele que criou e tem domínio sobre
todas as coisas. Ainda segundo Pink:
10
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica
Deus odeia a injustiça, é contrário à sua natureza ser apático frente a maldade e o
pecado. Deus, por amor ao seu nome, rege a terra em justiça e retidão e detesta
tudo que vai contra seu padrão divino. Ele é o único puro e santo capaz de deter-
minar o que é correto, portanto, cabe ao homem entregar-se aos preceitos divinos,
confiando que ele sabe a forma justa e reta de guiar a humanidade, seja manifestan-
do sua graça ou sua ira.
Tudo no universo é bom na medida em que segue a natureza de Deus e é mau na
medida em que deixa de fazê-lo. Deus é o seu próprio princípio autoexistente de
equidade moral, e, quando condena o homem mau ou recompensa o justo, ele está
meramente agindo de acordo com a sua natureza, influenciado por coisa alguma
além de si próprio.12
O EVANGELHO EXPLÍCITO
O evangelho explícito é composto por duas perspectivas a respeito das boas novas
da salvação, elas apontam para a relação existente entre a obra de Cristo com o
homem e a criação.
Por meio dessa perspectiva é possível ver a conexão entre a salvação e a restauração
cósmica, a narrativa bíblica a respeito da redenção.13
Todos os pontos vistos até agora têm como propósito fazê-lo compreender a men-
sagem do evangelho. Fechar os olhos para quem Deus de fato é nas Escrituras
é o mesmo que abster-se de uma correta compreensão a respeito do evangelho.
10. “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; pelo contrário, temei
aquele que pode destruir no inferno* tanto a alma como o corpo.” ( mt 10.28)
11. PINK, op. cit., p.144.
12. TOZER, op. cit., p. 177, 178.
13. WILSON, Jared. CHANDLER, Matt. Evangelho Explícito. São José dos Campos, SP: Edi-
tora Fiel, 2013. p.17.
11
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica
Esse é o sentido por trás do título dessa disciplina, tendo em vista que Deus é aque-
le que idealizou e proclama as boas novas por meio do seu Filho.
CONCLUSÃO
A justiça e retidão de Deus revelam que ele sempre age de acordo com seu padrão
justo. A justiça, em termos bíblicos, tem a ver com organizar tudo em seu devido
lugar. Em contrapartida, o mundo prega que justiça tem a ver com igualdade, ideia
que não condiz com o padrão de justiça imutável de Deus.
Todo o assunto que circunda a onipotência, independência, santidade e justiça de
Deus, nos conduz a um dilema. Esse dilema consiste no fato de que, todos esses
atributos revelam que Deus não deveria salvar o homem, uma vez que o jugo desi-
gual entre Criador e criatura é extremamente perceptível. Deus deveria condenar
a humanidade, sem exceções, ao inferno. Todavia, ainda assim, condenados eter-
namente ao castigo da ira divina, não seriam capazes de pagar a dívida gerada pela
ofensa feita contra Deus. Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus14,
portanto: Todos os seres humanos mereceriam o inferno!
Quando tentamos de alguma forma cobrar que Deus faça determinada coisa por
nós, ou quando o julgamos como déspota, isso revela que cremos em um evange-
lho distorcido. Outro ponto alarmante, que demonstra o quanto o evangelho vem
sendo distorcido, encontra-se definido na expressão “deísmo moralista terapêutico
cristão”, criada pelo sociólogo Christian Smith. Segundo Matt Chandler e Jared
Wilson, “a ideia por trás do deísmo moralista terapêutico cristão é que somos capazes de
ganhar o favor de Deus e nos justificar diante dele em virtude de nosso comportamento”
(2013).15 Tal ideia se disfarça de pensamento cristão no meio de muitas igrejas. Mui-
tas vezes, em grupos religiosos, os assuntos discutidos dizem respeito ao bem-es-
tar, ao fato de considerarem a bondade algo inato nos seres humanos e ainda sobre
como o mal pode ser evitado por eles. Crenças como essas, por mais que circulem
ao redor do nome de Jesus, estão longe de serem assuntos centrados nas verdades
do evangelho.
13. WILSON, Jared. CHANDLER, Matt. Evangelho Explícito. São José dos Campos, SP: Edi-
tora Fiel, 2013. p.17.
12. TOZER, op. cit., p. 177, 178.
12
O EVANGELHO DE DEUS
A boa nova de uma perspectiva pessoal e cósmica
Por vezes, os cristãos são revestidos por justiça própria, fato que os impede de
compreender com clareza a mensagem da salvação. Por algum motivo, presume-se
que a obra da cruz salva o homem apenas dos pecados cometidos antes da conver-
são, mas a partir desse ponto ele deve assumir o controle e ser o responsável por
se autopurificar. O homem acredita que, por meio do seu esforço, obterá a melhor
performance espiritual, fato que não corresponde à verdade. É necessário conhecer
as verdades a respeito de Deus e das boas novas que ele quer comunicar ao homem.
A mensagem do evangelho, revelada nas Escrituras, aponta para um Deus todo-po-
deroso, bom, reto e rico em misericórdia. A Bíblia tem o evangelho como centro de
sua mensagem, mas para compreender essa mensagem de boas novas é necessário,
primeiramente, olhar para o coração daquele que proclama ao homem essa palavra.
A mensagem do evangelho é o próprio Deus.
13