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CARVALHO FERREIRA, José Maria. PEIXOTO, João. SORIANO CARVALHO, Anabela.

RAPOSO,
Rita. GRAÇA, João Carlos. MARQUES, Rafael. Sociologia. Lisboa: Escolar Editora, 2013.

Entre sentimento e razão

“Enquanto o tema da razão traz associadas as ideias de progresso, de liberdade e de


individualismo, o tema do sentimento chama a atenção para o lado obscuro da
modernidade: alienação, decadência moral e desencantamento do mundo. “ (p. 149).

“Mas, quando há mais de cem anos os homens ocidentais foram confrontados com as
enormes transformações que deram origem à sociedade moderna o tempo era ainda um
tempo de encruzilhada. Parte das características atribuídas à modernidade não tinham ainda
atingido a dimensão nem a nitidez que encontrariam no século XX. Tempo de transição, de
suspensão entre um e outro estado de coisas, o século XIX foi acima de tudo o palco de uma
crise, que, como qualquer oura crise, impressionou as suas vítimas de modo variável e
obteve delas uma interpretação determinada. “ (p. 151).

Ferdnand Tonnes e a formalização dos temas comunidade e sociedade

“O autor distingue entre a vontade essencial ou orgânica (wesenwille), que corresponde à


comunidade, e a vontade arbitrária, instrumental ou racional (Kürvilli) , que se relaciona com
a sociedade. Destas vontades diz Tonnies terem em comum o facto de ambas poderem ser
concebidas como causas ou tendências que conduzem à acção. Sugere o autor que elas são
princÍpios que empiricamente se encontram sempre juntos, se bem que em tensão
permanente em cada indivíduo, ambos pretendendo à dominação um do outro. Deste modo,
conforme domine a vontade orgânica ou racional, assim a direcção da acção originará uma
relação de tipo comunidade ou sociedade. ” (p. 154).

“A relação comunitária é a forma genuína e perdurável da convivência, humana, enquanto a


relação societária é transitória e superficial. É neste sentido que o autor entende que a
comunidade deve ser equiparada a um organismo vivo, e a sociedade, a um artefacto
mecânico. ” (p. 155).

“De facto, enquanto na comunidade os indivíduos permanecem unidos apesar de todos os


factores que tendem a separá-los, na cidade eles permanecem essencialmente separados
apesar de todos os factores tendentes à sua unificação” (p. 156)”
“Em suma, Tonnies oferece-nos um quadro em que, de modo claro, a razão e o interesse sob
a forma da sociedade se opõem ao sentimento e à moral que encaram na comunidade. A
primeira forma serve a descrição da sociedade tradicional; a segunda, a da sociedade
moderna” (p. 158).

Durkheim: as duas sociedades

“Na longa marcha que corresponde ao avanço da civilização, Durkheim distingue então dois
tipos principais de sociedades a que correspondem dois tipos distintos de solidariedade. ” (p.
161).

“O primeiro evoca o mundo das massas inertes que apenas se movimentam mecanicamente
e em função das forças exteriores que lhe imprimem esse movimento, ou seja, o mundo dos
corpos inanimados, sem vida, energia ou vontade próprias. O segundo decalca-se sobre o
mundo da vida e dos organismos biológicos, diferenciados internamente e dotados de uma
determinada forma de organização. ” (p. 163)

Racionalização e alienação: Weber e Simmel

“O império da razão não conduz necessariamente (como acontecia com a concepção de


razão dos autores dos séculos XVII e XVII) a uma maior autonomia e liberdade dos indivíduos,
mas, antes pelo contrário, sugere Max Weber, a uma cada vez maior sujeição do indivíduo
aos meios racionais que criou (Raynaud, 1987). ” (p. 177).

“Contudo, Simmel experimenta alguma satisfação ou, melhor, observa alguma vantagem
nessa forma de alienação é que ela poderia actuar como factor positivo, na medida em que
poderia contribuir para produção de grandes obras intelectuais (ponto em que diverge
significativamente de qualquer um dos outros autores). ” (p. 181).

“Para Simmel, o grande problema que se levanta ao indivíduo na sociedade moderna é o da


preservação da sua própria identidade e universalidade em face dos movimentos que a
atravessam. ” (p. 182)

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