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Hannah Arendt foi uma das pensadoras mais importantes e influentes do século
20 e em grande parte do mundo Ocidental. Mas uma das características de sua obra,
são suas concepções e críticas teorico-políticas bastante particulares que, embora
consistentes e aprofundadas, acabaram criando diversas polêmicas e muitas críticas.
Não apenas de representantes dos corpos políticos por ela criticados, mas também dos
próprios analistas de sua obra.
Aqui irei tratar de uma dessas concepções que mais lhe causaram críticas e
incompreensões em sua conturbada trajetória: seus conceitos de “sociedade” e a
diferenciação que ela faz entre “social” e “político” em situações controversas. Por fim
discuto a proposta de Benhabib para caracterizar a filosofia na obra de Hanna Arendt.
Foi isso que levou a filósofa Hannah Arendt a estudar o fenômeno e o descreveu
como “advento da sociedade” em seu livro “A Condição Humana”: uma sociedade de
pobres que passou a atuar no espaço público, ao contrário do abismo que havia desde
a antiguidade entre o espaço privado (como o “lar” grego e romano), e o domínio
público (o espaço reservado à política, às artes, à fama e aos homens). o mundo da
vida privada e da intimidade na antiguidade, completamente fora da “res publica” dos
homens proprietários.
Mas Hannah Arendt tem uma concepção particular do termo “Sociedade”.
Explicando sobre a diferença entre os domínios público e privado de sua “A Condição
Humana” diz que a “sociedade”;
“... surgiu com a ascensão da administração do lar, de suas atividades,
problemas e modelos de organização para a luz da “esfera pública”.
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Mas esse “surgimento” da sociedade, segundo ela, acabou complicando ou
atrapalhando a diferença entre público e privado que havia, mudando o significado na
vida de cada indivíduo e até da política na era moderna a ponto de torná-los “quase
irreconhecíveis”. Arendt diz que o que hoje chamamos de privado é “uma esfera de
intimidade cujos primórdios podemos remeter aos últimos períodos da civilização
romana… mas cujas peculiaridades, multiplicidade e variedade eram certamente
desconhecidas de qualquer período anterior ao moderno” (2016, p.46)
O conceito/idéia de esfera privada na era moderna trata-se do surgimento do
“indivíduo” e do “individualismo”. Num crescente enriquecimento/ fortalecimento da
esfera privada a ponto de se tornar distinto das esferas política e principalmente da
social. Porém;
“O fato histórico decisivo é que a “privatividade” moderna, em sua função mais
relevante, a de abrigar o que é íntimo, foi descoberta não como o oposto da esfera
política, mas da esfera social, com a qual é, portanto, mais próxima e autenticamente
relacionada” (2016, p47)
Para estudar e definir o social, Arendt primeiro analisa a “intimidade”. Ela parte
de um estudo do que ela chama de primeiro teórico da “intimidade”: Jean Jacques
Rousseau que, segundo ela, propôs uma “rebelião do coração” contra “a insuportável
perversão do coração humano pela sociedade, contra a intrusão dela em uma região
recôndita do Humano: a intimidade do coração” . Esse espaço privado, segundo
Rousseau, nunca teve um lugar tangível no mundo e também a sociedade - contra à
qual a intimidade se rebela -, "também não pode ser localizada com a mesma certeza
que o espaço público”. Ambos são “formas subjetivas da existência humana” e por isso
, o indivíduo moderno “e seus intermináveis conflitos” nasceram dessa “rebelião do
coração”. E a partir desse surgimento do indivíduo moderno , seus conflitos, seu
radical subjetivismo é que a leva a caracterizar a “sociedade” ou o social.
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de cada um dos seus membros certo tipo de comportamento, impondo inúmeras e
variadas regras, todas elas tendentes a “normalizar” os seus membros, a fazê-los
comportarem-se, a excluir a ação espontânea ou a façanha extraordinária.” (2016p49).
Ela diz que o surgimento da sociedade de massas, indica que os vários grupos
sociais foram absorvidos por uma sociedade única, tal como as unidades familiares;
“com o surgimento da sociedade de massas o domínio do social atingiu
finalmente, após séculos de desenvolvimento, o ponto em que abrange e
controla, igualmente e com igual força, todos os membros de uma determinada
comunidade” (2016p50)
Após o lançamento de seu primeiro livro “Origens do Totalitarismo” onde também trata
das sociedades populares de massa que aderiram aos movimentos socialista soviético e
nazista, Hannah Arendt publica o livro “Sobre a Revolução”, em que, conforme o organizador
Schiel diz, ela analisa sobre o que ele e outros filósofos chamam de “revoluções arendtianas”
isto é, seriam movimentos “não violentos” (sem armas) que “desde meados dos anos 1970
tem levado ao poder governos democráticos em dezenas de nações de todos os continentes
(...) “ tanto contra como de oposição aos totalitarismos”. (2013,p11)
Nesse livro Arendt trata longamente sobre o que ficou conhecido como a “Questão
Social”, em que analisa o surgimento do “povo” na política, a condição e o conceito de pobreza
e miséria surgidas do princípio da "necessidade" e a diferença entre elas. Analisa também as
diferenças entre as concepções de Marx e Engels e as de John Adams e Federalistas e as de
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Rousseau e vários outros conceitos importantes como: os de “processo vital da sociedade”, a
relação entre “violência” e “necessidade” (por sobrevivência), de “opressão” e “fatores
econômicos”, “distinção/prestígio social” e “piedade/ compaixão” , classes, “consentimento”,
“vontade geral/única” etc.
É a partir desse conjunto de imagens e narrativas sobre algo visto como um fenômeno
inédito para a modernidade até então, é que Arendt determina o surgimento da chamada
“questão social”:
“A realidade que corresponde a esse conjunto moderno de imagens é aquilo que, a
partir do século 18 viemos a chamar de “questão social” e que seria mais simples e
melhor chamar de “existência da pobreza”. A pobreza é mais do que a privação, é um
estado de carência constante e miséria aguda”. (2013p93)
É essa pobreza e sua alta “necessidade” que levou a “multidão” a não só ajudar como
a tomar a Revolução Francesa para si mas que, na opinião de Arendt, também “acabou por
conduzi-la à ruína, pois era uma multidão de pobres”:
Quando apareceram no palco da política, a necessidade apareceu junto com eles e isso
mostrou claramente que tanto o Antigo Regime, como a República eram impotentes para
sanar tal “necessidade”. E Arendt ainda conta que Robespierre acabou invertendo a teoria do
“despotismo da liberdade” pela “mais sagrada de todas as leis, o bem estar do povo” e mudando
de rumo:
Ela cita que o próprio Robespierre disse que “foi a conspiração muito mais poderosa
da “necessidade e da pobreza que os distraiu por tempo suficiente para perder o momento
histórico (de instaurar a liberdade)”. Arendt disse que ele mesmo reconheceu que foi essa
carência premente do povo que desencadeou o período do “terror” e destruiu a revolução. E a
partir disso e da morte dele, a Revolução esqueceu a luta pela “liberdade” - isto é, o processo
aberto ao público de discussão das leis, justiça e organização e metas da sociedade por todos
os setores e camadas sociais dela mesma, sem distinções - e passou a lutar pelo conceito de
“felicidade do povo”.
A esse processo transformativo Arendt diz que foi a transformação dos “Direitos dos
Homem” pela liberdade, nos “Direitos dos Sans- Cullottes” como fundamento básico tanto da
revolução francesa como de todas que se seguiram depois. E isso ocorreu porque, segundo
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ela “o maior de seus teóricos , Karl Marx” estava “mais interessado em História do que em
política”. (2013 p94)
Direitos dos Sans Cullotes teria o mesmo significado que direitos dos “trabalhadores” e
dos “pobres”? Arendt quer significar com isso que a renúncia da motivação inicial da
Revolução Francesa - a luta pela “liberdade” política individual, os direitos iguais de cada
Humano - foi sobrepujada e substituída pelas “imposições da necessidade”. E que foi melhor
incorporada por Karl Marx em sua teoria do “materialismo histórico dialético” E isso ocorreu
porque, segundo ela, a revolução Americana
“não resultou em nada nem remotamente comparável, em termos qualitativos, no nível
conceitual e teórico, as revoluções caíram definitivamente sob a influência da Revolução
Francesa em geral e sob o predomínio da questão social em particular”. (2013 p95)
E por causa disso Marx concluiu e passou a defender que a pobreza poderia ser uma
força política primordial: “A transformação da questão social em força política, efetuada por Marx,
está contida no termo "exploração”, isto é, na ideia de que a pobreza é resultado da exploração de
uma "classe dominante" que possui os meios da violência”. (p96)
Para Arendt essa hipótese tem valor bastante reduzido para a História (como “ciência”)
porque segundo ela, Marx se inspirava na economia da escravidão em que uma "classe"
(aspas dela) de senhores efetivamente domina um substrato de trabalhadores. Mas para
Arendt essa concepção de "domínio de classe” só é válida “apenas para os estágios iniciais do
capitalismo, quando a expropriação à força resultou numa pobreza em escala sem precedentes”
(p96)
E foi em nome da revolução que Marx criou a “economia política” “uma economia
baseada no poder político" e portanto passível de ser subvertido por uma organização
revolucionária e somente por esse conteúdo revolucionário (ao invés de científico) é que essa
concepção sobreviveu até hoje. Para Arendt a teoria dele foi convincente aos pobres porque
defendia que “a pobreza é um fenômeno político não natural, resultado da violência e da
violação e não da escassez”.
Como disse Seyla Benhabib, um século antes dela, Hegel havia descrito esse processo
como o desenvolvimento, no meio da vida ética, de um “sistema de necessidades” (System der
Bedürfnisse), de um domínio de atividade econômica governado pela troca de mercadorias e
pela busca pelo interesse-próprio econômico. Para Hegel, a expansão dessa esfera significou o
desaparecimento do “universal”, do interesse comum pela associação política e pela res publica
do coração e das mentes dos homens. “Arendt vê nesse processo o obscurecimento da política
pelo “social” e a transformação do espaço público da política em um pseudoespaço de interação
em que indivíduos não mais “agem”, mas “apenas se comportam” como produtores econômicos,
consumidores e moradores de cidades urbanas” (Benhabib,p190)
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Contradições contra Marx
A chave para compreender a crítica à Marx talvez esteja na concepção dela de que
“por definição” (de quem?) a condição de miséria nunca poderia gerar um povo mentalmente
livre, por ser a condição em que o indivíduo está preso à necessidade. E para Marx as
necessidades básicas é que deveriam gerar revoluções em vez de conduzi-las à ruína. E
portanto era preciso converter condições econômicas miseráveis em fatores políticos e explicá-
las em termos políticos. E como ela diz, Marx acreditava (com Hegel?) de que a liberdade
surgiria diretamente da necessidade.
Não dá pra entender muito bem porque Arendt considera como “a doutrina politicamente
mais perniciosa dos tempos modernos”, a concepção de que a vida é o bem supremo (e não
é?) e que “o processo vital da sociedade é a própria essência do esforço humano”. (98)
É dificil entender que isso tem a ver com o fato de que, segundo ela, o papel da “revolução”
“não era mais libertar os homens da opressão de seus semelhantes, e muito menos
instaurar a liberdade, e sim libertar o processo vital da sociedade dos grilhões da
escassez, para que ela se convertesse num caudal de abundância. Agora, o objetivo da
revolução não era mais a liberdade e sim a abundância.” (2013:98)
Também dificil entender porque ela diz que a revolta da Comuna de Paris em 1871 contrariava
todas teorias e previsões de Marx. Mas contrariava em que?
A principal crítica de Hannah à Marx é de que, devido à “ambição” do autor em tornar sua
concepção teórica (materialismo histórico) como “ciência”, que foi o que o levou a “inverter
suas próprias categorias” cujo desenvolvimento levou a uma “rendição efetiva da liberdade à
necessidade”. Conforme Hannah:
“Uma vez estabelecida uma relação concretamente existente entre violência e
necessidade, não havia razão para não pensar a violência em termos de necessidade e
entender a opressão como resultado de fatores econômicos, muito embora.
originalmente, essa relação tivesse sido descoberta ao inverso, isto é. desmascarando a
necessidade como violência perpetrada pelos homens.” (2013:98/99)
Para Adriano Correia, a “sociedade” constituiria para Arendt um âmbito híbrido “no qual
os interesses privados assumem importância pública”. Assim a esfera pública seria espúria
justamente por se constituir na medida em que avança sobre o privado e o público, turvando
suas fronteiras até enfim alterar seu significado “ao ponto de torná-los irreconhecíveis”. “Trata-se
da ascensão do processo vital, traduzido no trabalho e no consumo, da obscuridade dos
processos metabólicos acolhidos no lar para o espaço de visibilidade da esfera pública: “a
sociedade constitui a organização pública do “processo vital”
Ele cita que em seu primeiro livro, “As origens do totalitarismo”, Arendt reconhece na fase
do imperialismo o principal motor que transformou o “processo vital” na ocupação central do
Estado-nação, multiplicando ilimitadamente a acumulação de riqueza e quando identificou no
imperialismo “o primeiro estágio do domínio político da burguesia” e cita um trecho importante:
“os interesses privados, que por sua própria natureza, são temporários, limitados pelo
período natural de vida do homem, agora podem fugir para a esfera dos assuntos
públicos e tomar-lhe emprestado aquela infinita duração de tempo necessária para a
acumulação contínua. Isto parece criar uma sociedade muito semelhante àquela das
formigas e abelhas, onde ‘o bem Comum não difere do Privado; e sendo por natureza
inclinadas para o benefício privado, elas procuram consequentemente o benefício
comum’.Não obstante, uma vez que os homens não são nem formigas nem abelhas,
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tudo isto é uma ilusão. A vida pública assume o aspecto enganoso de uma soma de
interesses privados, como se estes interesses pudessem criar uma nova qualidade
mediante a mera adição” (2012p 168)
Assim, como ele diz, a política converte-se em uma mera função da sociedade
(reprodução econômica). A liberdade da sociedade “requer e justifica a limitação da autoridade
política. A liberdade situa-se no domínio do social, e a força e a violência tornam-se monopólio
do governo” - diz Arendt.
“O resultado é a conversão da política em mero governo e enfim do governo em mera
administração, cuja forma acabada é o governo de ninguém ou burocracia, que se
mantém sempre na iminência de ser uma das “mais cruéis e tirânicas versões” do
governo e que Arendt julgava ser em sua época “uma realidade muito maior que a
classe” diz Correia (Correia, p 112)
Ele conta que em “Sobre a revolução” quando analisa a relação entre política e
pobreza, Arendt afirma que “era tão impossível desviar os olhos da miséria e desgraça da
grande maioria da humanidade no século XVIII em Paris ou no século XIX em Londres, onde
Marx e Engels iriam refletir sobre as lições da Revolução Francesa, quanto hoje em alguns
países europeus, em muitos latino-americanos e em quase todos os asiáticos e africanos”.
Para Correia esse diagnóstico é ainda muito atual. “O problema é como conciliá-lo com a tese
arendtiana de que foi a irrupção da pobreza na esfera pública, “a necessidade, a carência
premente do povo, que desencadeou o Terror e condenou a revolução à ruína”.(Correia, p.113)
Arendt diz que a questão social traduzida na existência da pobreza e da miséria trouxe
as obscuras necessidades corporais antes abrigadas no lar para a esfera pública. Mas mesmo
assim, como diz Correia, ela não reconhece na pobreza uma questão política, nem parece
julgar que a questão pré-política elementar consistente na “libertação”, como condição
necessária, mas não suficiente, para a liberdade política, possa ter revelada sua face política,
que poderia então ser legitimamente trazida ao domínio público.
Adriano Correia diz que a posição de Arendt quanto àquilo que chama de “processo vital” ser
também uma questão de poder e política “é de uma dificuldade desconcertante e ao mesmo
tempo surpreendente, se tivermos em conta suas análises sobre o imperialismo e a
emancipação política da burguesia” (p115)
Cita autores como Sheldon Wolin e Maurizio Passerin D’Entrèves que reclamam exatamente
essa mesma incapacidade dela em compreender essa noção:
“(Arendt foi) incapaz de reconhecer que uma economia capitalista moderna constitui uma
estrutura de poder, determinando a alocação de recursos e a distribuição dos ônus e
benefícios. Ao se apoiar na analogia enganosa com a família, Arendt sustentou que
todas as questões relativas à economia eram pré-políticas e,portanto, ignorou a questão
crucial do poder econômico e da exploração” (D´Entreves apud Correia, p 115)
Ele cita a própria Arendt dizendo que mesmo se os pobres fossem “autorizados” a ingressar na
esfera pública, não poderiam ser resolvidos por meios políticos, pois “eram questões
administrativas, a ser entregues às mãos de especialistas, e não questões passíveis de
solucionar com o duplo processo de decisão e de persuasão”
E diz que sua insistência na solução das questões sociais por expedientes técnicos é
reiterada e frequentemente a enredou em embaraços, “como quando sustenta, no caso
específico da escravidão, que foi “a tecnologia e não o surgimento das ideias políticas modernas
em si, que veio a refutar a velha e terrível verdade de que apenas a violência e o domínio sobre
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os outros podiam trazer liberdade a alguns homens” e outros casos quando elogia Lenin por
defender a “eletrificação + sovietes” como fórmula para o desenvolvimento da URSS.
Mas ele mostra também que por várias vezes Arendt também defendeu a necessidade
de uma resolução política para a pobreza, como o caso da “mistoforia” de Péricles. Embora de
forma discreta.
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Richard Bernstein conta que a raiva dela contra os sionistas chegou ao auge quando
a Organização Sionista Mundial decidiu em outubro de 1944 uma resolução em favor de um
Estado apenas Judeu unico em toda a Palestina. Bernstein diz que seu artigo “Sionismo
reconsiderado”, condenando a resolução, foi ainda mais veemente do que qualquer coisa que
ela havia escrito anteriormente sobre questões judaicas ou sionistas. “Ela empregou todas as
suas habilidades retóricas – ironia, sarcasmo, desprezo e denúncia contundente. Sua cólera foi
provocada por sua raiva e decepção com os ideólogos sionistas mais extremos. A linguagem de
“Sionismo Reconsiderado” era tão inflamada que o jornal intelectual judeu Commentary se
recusou a publicá-lo. Por fim, foi publicado no Menorah Journal” . (Bernstein pg 3)
Ele diz que Arendt ficou contrariada não apenas com essa “virada dos sionistas para o
revisionismo extremo”, mas também com as crescentes pressões em direção à conformidade
ideológica que ela tanto condenava e cita o trecho do artigo “Para salvar a Pátria Judaica”
contra os males que a unanimidade em política podem causar.
Por fim em 1961 o comandante nazista Adolf Eichmann é preso na Argentina e levado
para julgamento em Jerusalém. E Arendt foi convidada pelo jornal “The New Yorker” a ir ao
julgamento como correspondente. Após a publicação os textos renderam o livro “Eichmann
em Jerusalém” escrito a partir da cobertura do julgamento. No livro ela conta que percebeu
algo diferente do que a grande maioria pensava: Que Eichmann não era nenhum monstro cruel
e antissemita convicto. “Era tão medíocre que seria incapaz de ser um monstro. Eichmann era
apenas uma pessoa buscando ascensão por meio de um sistema totalitário e teria entrado para
a Gestapo para ganhar dinheiro”. Arendt ressalta que ele era tão medíocre que nem conseguiu
subir para uma patente alta na hierarquia militar.
A obra causou polêmica, sobretudo entre a comunidade judaica, que acusou Arendt de
ter minimizado o mal cometido por Eichmann e por nazistas como ele. Também causou
polêmica as denúncias que Arendt fez no livro sobre lideranças judaicas que teriam entregado
alguns judeus para as forças armadas a fim de salvar outros judeus.
Outra grande polêmica e contradição de sua vida se dá com a questão da mulher ou
feminina ao longo de sua vida acadêmica. Já em 1932 escreveu uma crítica do livro Das
Frauenproblem in der Gegenwart (O problema da mulher na atualidade) de Alice Rühle-Gerstel
que fala sobre a emancipação da mulher na vida pública, mas também discute suas limitações
Nessa crítica, Arendt constata o "menosprezo fático" sobre as mulheres na sociedade de sua
época e critica os deveres que não são compatíveis com sua independência. Arendt dizia que
contemplava o feminismo à distância. Dizia que as frentes políticas são "frentes de homens" e
em algumas vezes considerava "questionáveis" os movimentos feministas, assim como os
movimentos juvenis, porque discordava da tendência de ambos os movimentos em criar partidos
políticos. Foi em 1964 na entrevista a Günter Grauss, que Arendt dizia que era antiquada e que
mulheres não eram feitas para “cargos de mando” que isso não pegava bem.
Benhabib diz que a negação persistente de Hannah Arendt da “questão das mulheres” e
sua inabilidade de relacionar a exclusão das mulheres da política a essa concepção do espaço
público, agonística e dominada por homens, é espantosa”. Segundo ela, a “ausência” das
mulheres como atores políticos coletivos, na teoria de Arendt ( pois só indivíduos como Rahel
Varnhagen ou Rosa Luxemburgo, etc estão presentes) é uma questão difícil. Mas começar a
pensar sobre isso significava para Arendt, primeiramente, desafiar a separação entre privado--
público em seu pensamento, na medida em que ela corresponde à tradicional separação sexista
(homens = vida pública; mulheres = esfera privada). ( Benhabib analisou essa aversão sexista
da autora em seu livro The reluctant modernism of Hannah Arendt. Além dela várias outras
autoras criticaram o sexismo de Arendt como Hanna Pitkin, Anabella di Pego e outras.
Por fim, parece que a última de suas controvérsias foi com o movimento negro dos
Estados Unidos. Após o Senado estadunidense decidir pelo fim da segregação nas escolas
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entre pretos e brancos (black and white), a foto de uma menina afroamericana sendo
perseguida e xingada em publico ao sair da escola na cidade de Little Rock, publicada em um
jornal causou muita polêmica e debate público no país. Não se sabe porque Arendt decidiu
entrar no debate e publicou o texto “Reflexões sobre Little Rock” onde defende que a questão
“racial” é uma questão social e não política e logo no início do texto considerou errado a
mãe da criança enviá-la para uma escola de brancos escreveu : “Ao ver a foto a minha
primeira pergunta foi: o que eu faria se fosse uma mãe “black” ? Resposta: em nenhuma
circunstância exporia meu filho a a condições que dariam a impressão de querer forçar sua
entrada num grupo onde não era desejado” (2008p261) E explicou que a situação de “não ser
desejado” era menos violenta que a de ser perseguido como estava na foto. Ao longo do texto
ela explica porque considera equivocado tanto a segregação como as mães que simplesmente
agiram dentro da lei.
Arendt foi extremamente criticada por diversas pessoas, inclusive sendo chamada de
“racista” e até “supremacista” mais atualmente. Mas depois que viu o artigo do escritor Ralph
Ellison “Who Speaks for the Negro?”, de 1965, Arendt escreveu-lhe uma carta reconhecendo
que se equivocou ao ter escrito o que escreveu e se desculpando.
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solução política no caso de movimentos de mulheres, negros e outros que também foi
contra, por considerá-los parte da “sociedade” ou da questão social - e não política. Talvez
tal contradição poderia ser explicada por sua formação clássica na infância na cidade de
Kant, pelos próprios pais e depois ainda antes da Academia, e posteriormente na
Universidade com professores neo-kantianos em sua defesa do estudo dos fenômenos, da
ontologia, das regras universais e dos cânones da filosofia clássica.
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BIBLIOGRAFIA:
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