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Dr.

Arnaldo Schizzi Cambiaghi

São Paulo
2010

www.ipgo.com.br

Editora
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida
em qualquer meio ou forma, seja mecânico, eletrônico, fotocópia, gravações, etc., nem sofrer
apropriação ou ser estocada em sistema de banco de dados sem a expressa autorização da
Editora LaVidapress.

Capa e projeto gráfico: Walter Cesar Godoy


Ilustração do miolo: Rosana Elizabeth Rôlo
Revisão de texto: Ricardo Costa Lima / TopTexto (www.toptexto.com.br)
Pesquisas e entrevistas: jornalista Camila Santos Fornereto
Colaboração: Carmem Franco e Ana Maria Vaccarelli

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Cambiaghi, Arnaldo Schizzi


Os Tratamentos de Fertilização e as Religiões: O permitido e o proibido /
Arnaldo Schizzi Cambiaghi. São Paulo: Editora LaVidapress, 2010.

1. Fertilização humana – Aspectos religiosos 2. Religião 3. Reprodução


humana – Aspectos Religiosos I. Título.

10-01870 CDD - 200

ISBN 978-85-98127-28-6

Editora: LaVidapress
R. Abílio Soares, 1.111 – 1º andar
Paraíso – Cep: 04005-004
São Paulo – SP – Brasil
editora@lavidapress.com.br
Tel. (11) 3057-1796
Fax. (11) 3057-0006
Contatos com o autor:
saude@ipgo.com.br
www.ipgo.com.br
Dr. Arnaldo Schizzi
Cambiaghi
CRM - 33.692

• Médico Ginecologista Obstetra


• Atua nas áreas de Infertilidade conjugal, Reprodução Humana e Cirurgia
Endoscópica (Videolaparoscopia e videohisteroscopia)
• Diretor clínico do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia)
• Formado pela Faculdade de Ciências Médicas de Santa Casa de São Paulo
• Residência em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
• Título de Especialista pela Federação Brasileira de Ginecologia e
Obstetrícia (no 96/97) – RQE no 42074.
• Certificado de Atuação em Reprodução Assistida pela FEBRASGO
(Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia) – REGISTRO AMB :
182838
• Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões – Ginecologia
• Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica
• Especialização em Videolaparoscopia, Histeroscopia e Laser na Catholic
University of Leuven – Bélgica
• Especialização (Avançada) em Videolaparoscopia a Laser no Institute for
Reproductive Medicine – Annandale, Vírginia – USA
• Pos Graduate Course – Advance Laparoscopic Surgery including Laser
Endoscopy – AAGL – Chicago, Illinois, USA
• Pos Graduate Course – Laparoscopic Hysterectomy, incluindo
Retroperitoneal Dissetion: Lymphnode dissection, the ureter, Retropubic
Urethropexy & Appendectomy – AAGL – Chicago, Illinois, USA
• Pos Graduate Course – “Surgical Approaches to Endometriosis” – AAGL
23rd Meeting, New York – New York USA
• Membro da European Society of Human Reproduction and Embriology
• Membro da The American Association of Gynecologic Laparoscopists
• Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana
• Membro Efetivo da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida
• Membro da International Society Fertility Preservation • Laboratory
Training Program and Seminar in the area of auto Suture Surgical Staplers
in General Surgery – USC – Norwalk Connecticut – USA
• Prêmio Internacional – Troféu Best Video PRODUCTION “The Cambiaghi
Fastener for Extracorporeal Suturing”- Secound International Gynecologic
Endoscopic Film Festival & Instrumentation; Exhibition – San Diego,
California – USA
Agradecimentos

A gradeço a todos que, de alguma forma e cari-


nhosamente, me apoiaram neste projeto. E principal-
mente àqueles mais próximos, pela demonstração de
amor ao ser humano e pela paciência e tolerância que
tiveram com os meus insistentes questionamentos:
• Dagoberto Boim – Padre da Paróquia Nossa Senhora
da Esperança – São Paulo-SP;
• Ivone Gebara – Doutora em Teologia pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC) e doutora
em Ciências Religiosas pela Universidade Católica
de Leuven (Bélgica);
• Professor Leo Pessini – Professor doutor em
Teologia Moral; pós-graduado em Clinical Pastoral
Education and Bioethics pelo St. Luke’s Medical
Center, em Milwaukee (EUA); membro da Diretoria
da Associação Internacional de Bioética; superin-
tendente da União Social Camiliana e vice-reitor do
Centro Universitário São Camilo;
• Débora Diniz – Doutora em Antropologia pela
Universidade de Brasília (UnB), Diretora da
Organização Não-Governamental Anis: Instituto de
Bioética, Direitos Humanos e Gênero;
• Anacleto Luiz Gapski – Frei, Guardião e Vigário pa-
roquial do Convento São Francisco, São Paulo-SP;
• Fabio Daniel Romanello Vasques – advogado,
Mestre em Direito na Sociedade da Informação pe-
las Faculdades Metropolitanas Unidas; professor
da Escola Superior da Administração, Marketing
e Comunicação de Santos – ESAMC Santos e da
Universidade Presbiteriana Mackenzie (Autor do
Capítulo “Biodireito em Reprodução Humana”);
• Tatiana Lionço – Doutora em Psicologia pela UnB,
pesquisadora da Anis - Instituto de Bioética, Direitos
Humanos e Gênero, professora de Psicologia da
Saúde do UniCEUB/Brasília (e autora do capítulo
“Bioética em Reprodução Humana”);
• Rosana Castro – Antropóloga, mestranda em
Antropoloia Social na Universidade de Brasília, pes-
quisadora da Anis – Instituto de Bioética, Direitos
Humanos e Gênero (e também autora do Capítulo
“Bioética em Reprodução Humana”).
Mas, acima de tudo, agradeço

A DEUS,
que me deu saúde, inteligência, uma família ma-
ravilhosa, uma profissão abençoada e uma equipe de
profissionais incríveis que trabalham ao meu lado, aju-
dando e apoiando sempre para que o melhor seja feito
pelas minhas pacientes.
As principais religiões do mundo
Monoteísmo1
Politeísmo2 Neopaganismo
• Asatrú
• Druidismo
• Helenismo
• Kemetismo
• Wicca
• Xamanismo
• Satanismo

Não-teísmo3 Tradições asiáticas


• Ayyavazhi
• Budismo: Vajrayana, Zen, Mahayana, Hinaiana, Reiyukai,
Honmon Butsuryu-Shu ,Nitiren, Teravada, Terra Pura e Civaísmo
• Taoísmo
• Confucionismo
• Jainismo
• Cao Dai
• Tenrikyo

Abraâmico4 • Cristianismo5:
Catolicismo, Protestantismo, Mormonismo, Adventismo, Jeovismo,
Espiritismo, Ortodoxia e Assíria
• Judaísmo:
Fariseus, Saduceus, Essênios, Cabala, Masorti, Haredi Mitnagdim, Nazarenos,
Neturei Karta, Chabad Lubavitch, Caraísmo, Mashichismo, Ebionismo,
Reconstrucionista, Messiânico e Humanístico
• Islamismo:
Sunismo, Xiismo, Kharijismo, Wahhabismo, Ismaelismo, Sufismo Babismo,
Fé Bahá’í e Rastafári
Não-abraâmico6 • Seicho-No-Ie
• Messianismo
• Bramanismo
• Zoroastrismo
• Sikhismo
• Religiões de matriz africana
• Religiões tradicionais africanas
• Religiões afro-americanas
• Religiões afro-caribenhas: Santería e Vodu
• Religiões afro-brasileiras: Batuque, Candomblé, Tambor de Mina, Xangô do
Nordeste, Umbanda, Quimbanda

1 Monoteísmo: é a crença na existência de um só Deus.


2 Politeísmo (do grego: Poli, muitos; Théos, deus – muitos deuses): conceitua a natureza de vários deuses. Consiste na crença
em mais do que uma divindade, de gênero masculino, feminino ou indefinido.
3 Não-teísmo: é a crença da não existência de um Deus.
4 Abraâmico: também referido como monoteísmo do deserto, é uma designação genérica para as religiões que derivam da
tradição semítica, que tem na figura do patriarca Abraão.
5 Cristianismo (do grego Xριστός, “Cristo”): é uma religião monoteísta centrada na vida e nos ensinamentos de Jesus de Nazaré.
6 Não-abraâmico: Oposto de Abraâmico – que derivam da tradição semítica que tem na figura do patriarca Abraão.
Respeito à fé
e à religiosidade
de cada um

Esta obra tem objetivo puramente informativo.


Não há qualquer intenção de opinar, influenciar, discutir
ou criar conflitos sobre as religiões apresentadas.
Existem centenas de religiões e muitas delas com
ramificações espalhadas pelo Brasil e pelo mundo. Por
isso, o número de capítulos apresentados foi reduzido
às principais, que contam com um maior número de
fiéis. Algumas se recusaram a opinar ou indicar repre-
sentantes para se manifestarem sobre este assunto.
O conteúdo apresentado foi obtido por ampla pes-
quisa bibliográfica e por entrevistas éticas realizadas di-
retamente com conceituados representantes de cada
religião, as quais foram gravadas, escritas e autorizadas
pelos entrevistados segundo a lei que concerne à pro-
priedade intelectual, art. 5º da Constituição Federal.
Este livro é dedicado a todos aqueles que se inte-
ressam por este tema, inclusive os religiosos, e princi-
palmente aos casais que têm dificuldades em engra-
vidar, que têm conflitos sobre este assunto e querem
estar em sintonia com sua fé e religião.
Sumário

Respeito à fé e à religiosidade de cada um .............................. 9

Quem somos........................................................................... 13

Capítulo 1 Biorreligião – Mensagem do autor......................... 19

Capítulo 2 Aspectos importantes sobre a Pesquisa e


..... os Tratamentos da Infertilidade.......................... 25

Capítulo 3 Bioética em Reprodução Humana


..... Tatiana Lionço e Rosana Castro................................ 61

Capítulo 4 Biodireito em Reprodução Humana


..... Fabio Daniel Romanello Vasques............................. 79

Capítulo 5 Ortodoxismo....................................................... 91

Capítulo 6 Judaísmo ........................................................... 95

Capítulo 7 Budismo............................................................ 101

Capítulo 8 Catolicismo....................................................... 109


..... O outro lado da moeda – reflexões do autor
...... em prol da vida.................................................... 116

Capítulo 9 Taoísmo............................................................. 145


Capítulo 10 Jeovismo........................................................... 151

Capítulo 11 Espiritismo........................................................ 155

Capítulo 12 Seicho-No-Ie..................................................... 161

Capítulo 13 Islamismo.......................................................... 167

Capítulo 14 Protestantismo ................................................. 173

Capítulo 15 Presbiterianismo............................................... 179

Capítulo 16 Anglicanismo.................................................... 185

Capítulo 17 Metodismo....................................................... 191

Capítulo 18 Luteranismo...................................................... 197

Capítulo 19 Adventismo....................................................... 203

Capítulo 20 Congregação Cristã do Brasil........................... 209

Capítulo 21 Igreja Renascer em Cristo................................ 215

Capítulo 22 Umbanda e Candomblé.................................... 221

Referências bibliográficas e leituras recomendadas............. 227

Outras obras do autor............................................................ 237


Quem somos

IPGO (Centro de Reprodução Humana do Instituto


Paulista de Ginecologia e Obstetrícia)

Dividindo sonhos,
multiplicando alegrias

O Centro de Reprodução Humana do Instituto Paulista


de Ginecologia, Obstetrícia e Medicina Reprodutiva vem,
há muitos anos, trabalhando em prol do bem-estar da mu-
lher. Em Reprodução Humana, acolhe com sucesso vá-
rios casais, vindos de todo o Brasil e do exterior, com pro-
blemas para engravidar. Atuando na área de Infertilidade,
desenvolve e aprimora técnicas de Reprodução Assistida,
que envolvem novos tratamentos e exames para diagnós-
ticos das causas que impedem a gravidez.
14 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Ter todas as tecnologias de ponta utilizadas


para o acompanhamento da saúde física é parte
de uma das metas da clínica: a manutenção da in-
tegração corpo-mente. Por esse motivo, o Instituto
dispõe de um corpo clínico multidisciplinar, com
profissionais que avaliam e tratam a mulher sob
todos os problemas ligados ao seu bem-estar:
Ginecologia Geral, Obstetrícia, Clínica, Cardiologia,
Fisio­
terapia, Reeducação Alimentar, Sexualidade,
Apoio Psicológico, Tensão Pré-Menstrual (TPM),
Videolaparoscopia e Videohisteroscopia.
O Instituto entende que os cuidados com as mu-
lheres não se restringem ao consultório. Por isso,
além dos livros publicados com finalidade educativa
e esclarecedora, faz da Internet um importante canal
de comunicação para aprofundar a relação médico-
-paciente, por meio da criação de vários sites:
www.ipgo.com.br: é o principal site do IPGO. Nele, os
casais podem encontrar diversas informações so-
bre os tratamentos de Infertilidade, além de ser a
base para o direcionamento aos demais.
www.fertilidadenatural.com.br: traz esclarecimentos
sobre os tratamentos naturais e como eles podem
melhorar a fertilidade do casal.
www.guiaendometriose.com.br: dedicado às mu-
lheres que sofrem dessa doença e aos que es-
tão próximos a elas, para esclarecer as principais
dúvidas.
www.fertilidadedohomem.com.br: um site feito
para os homens que pretendem construir uma
família.
www.gravidafeliz.com.br: é um site direcionado às
mulheres e aos homens “grávidos” que querem sa-
ber mais sobre esse período mágico da vida.
Quem somos 15

www.doadorasdeovulos.com.br: site dedicado às mu-


lheres que precisam receber óvulos doados para
conseguir a própria gestação. São mulheres que
querem ter uma família, mas não têm óvulos capa-
zes de serem fertilizados. Orienta, também, como
é possível doar óvulos.
www.preservesuafertilidade.com.br: mostra como
alguns comportamentos e hábitos de vida inade-
quados podem prejudicar a fertilidade das pesso-
as. Inclui uma importante seção sobre a preserva-
ção da fertilidade em pacientes com câncer.
www.trigemeos.com.br: é um canal de informações
para pessoas interessadas em aprender sobre tri-
gêmeos, com espaço para troca de experiências
entre os pais e esclarecimento de dúvidas.

Nossa Missão
Usar a arte da Medicina, o Conhecimento e a Tecnologia
em prol do bem-estar da mulher, valorizando, no atendimen­-
to, as relações entre médico, equipe e paciente.
Enfatizar que o Universo Humano não se limita à
esfera orgânica. A saúde perfeita envolve também as-
pectos emocionais e afetivos.

Nossos Valores
Respeito, honestidade e transparência nas rela-
ções com os clientes e colegas da área de saúde.
Valorizar, sem exceção, os princípios éticos que re-
gem a Medicina.
16 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Acreditar que a excelência dos resultados depende


não só do nosso trabalho, mas também da dedicação
à ciência e da fé, credibilidade e vontade do cliente em
ser tratado.

Visão
Atingir o máximo de sucesso nos procedimentos
médicos realizados, utilizando o que há de melhor e
mais atual na ciência, sem esquecer a ética e a humani-
zação dos tratamentos.
Capítulo 1

Biorreligião
Mensagem do autor

Religião é um tema difícil e polêmico, mas faz


parte de todas as atitudes públicas de uma nação. Na
maioria das vezes, é o freio da impulsividade da hu-
manidade e dos indivíduos que têm a religiosidade no
seu cotidiano. É um assunto intrigante e diretamente
ligado à vida e ao bem-estar de grande parte da popu-
lação. No meu caso, médico da reprodução humana, o
binômio vida-religião, que agora chamo de Biorreligião,
é essencial para o entendimento dos casais. A palavra
Biorreligião, até este momento, não existe no dicionário
brasileiro nem na internet; é uma criação minha; mas
pode ser traduzida como a responsabilidade e o res-
peito dos médicos e embriologistas à religião das pes-
soas envolvidas nos tratamentos ligados à vida. Pode
ser feita uma analogia dela com Bioética (conjunto de
problemas levantados pela responsabilidade moral dos
médicos e biólogos em suas pesquisas e na aplicação
20 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

destas) e Biodireito (normas jurídicas reguladoras dos


procedimentos a serem utilizados para que a ciência
atinja seus objetivos, sem ferir os princípios éticos e os
direitos humanos fundamentais, tais como a “dignida-
de do ser humano” e o “direito à vida”).
Este livro, como outros que já escrevi, é inspira-
do no dia a dia do atendimento às minhas pacientes
que sofrem, junto aos seus maridos, dos problemas
de infertilidade. Essa rotina, que me deixa conectado
ao conceito de que os seres humanos são dotados de
corpo e alma, provoca em mim reflexões permanentes
e acabam me inspirando na pesquisa de assuntos que
pouco ou mal conheço.
Penso nas minhas pacientes quase o tempo todo,
e em como ajudá-las: penso nelas quando estou na clí-
nica, nos hospitais, em casa, no automóvel, nos con-
gressos, nos momentos de lazer, nas minhas corridas
de rua, durante as meias maratonas e em outras ativi-
dades. Qualquer desvio desse foco é sempre interrom-
pido por rasgos de lembranças das dificuldades que
esses casais enfrentam.
Como se não bastassem os problemas de saúde re-
produtiva, físicos e funcionais, causadores deste mal, mui-
tos casais ainda enfrentam as dúvidas e interpretações
conflitantes de suas religiões: o proibido, o permitido e o
interpretativo. Embora esses casais não venham até mim
em grande número, a intensidade desses sentimentos é
tão grande que me inspiraram nesta iniciativa de estudar
as religiões, dentro dos limites cabíveis para um médico.
Não sou um teólogo, mas li muito. Consultei várias ve-
zes a Bíblia, teólogos, depoimentos de religiões variadas,
li várias vezes o Catecismo e Encíclicas Papais – Carta
encíclica HUMANAE VITAE (Papa Paulo VI),Carta encí-
clica INSTRUÇÃO SOBRE O RESPEITO À VIDA HUMANA
Biorreligião - Mensagem do autor 21

NASCENTE E A DIGNIDADE DA PROCRIAÇÃO (Papa


João Paulo II) e a Carta encíclica DEUS CARITAS EST (Papa
Bento XVI) – e conversei com orientadores de muitas re-
ligiões. Por meio de entrevistas, busquei a opinião viva
de representantes religiosos, que responderam questões
objetivas sobre as principais dúvidas dos tratamentos.
Elaborei o roteiro das entrevistas, muitas delas realizadas
brilhantemente pela jornalista Camila Fornereto, meu
braço direito neste trabalho, que muito colaborou com o
resultado final do livro. Afinal, essa tarefa exige disponi-
bilidade de tempo integral, o que é impossível no meu
ritmo profissional. Aprendi, cresci muito e tive surpresas
positivas e negativas. Ouvi religiosos que sabem muito
deste assunto e outros que orientam seus fiéis, mas pou-
co conhecem sobre o tema.
Aprendi que todas as religiões têm objetivos se-
melhantes e estão em harmonia entre elas. Podem ter
diferenças substanciais do ponto de vista filosófico,
mas são iguais quando se trata de ajudar a humanida-
de. Quando colocamos lado a lado suas crenças fun-
damentais comuns, descobrimos que as diferenças
são superficiais e as semelhanças profundas. Cada
uma enfatiza suas regras, mas todas desejam desen-
volver os seres humanos da melhor maneira, valori-
zando qualidades como generosidade, amor, compai-
xão, altruísmo, perdão e respeito pelo outro, além de
princípios como “ama o teu próximo”, “honra o teu pai
e a tua mãe”, “fala a verdade”, “é melhor dar do que
receber”etc.. O código moral e os dez mandamentos
são os mesmos para os católicos e para a Torah, e não
há religião que pregue prejudicar o próximo, invejá-lo
ou odiá-lo. O menino católico integra-se à comunida-
de pelo batismo, e o menino judeu pela circuncisão,
vindo, depois, a confirmá-la.
22 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Para aqueles que acreditam em algo superior, a


fé e a religiosidade podem contribuir para melhorar
a própria saúde – física, psicológica e espiritual. Na
Reprodução Humana equilibram-se a produção de hor-
mônios, endorfinas e o sistema imunológico.
Tanto nos tratamentos de infertilidade como em
qualquer doença, a ciência é fundamental para os me-
lhores resultados, e os avanços tecnológicos nunca
devem ser desconsiderados, mas o respeito à espiri-
tualidade fortalece ainda mais o casal na busca de um
resultado positivo.
A necessidade de poder gerar filhos é natural do
ser humano. A humanidade quer se perpetuar e o ins-
tinto da reprodução é inato. Essa verdade vale para os
homens e para os animais. Os casais que não conse-
guem gerar filhos, na maioria das vezes, tornam-se
infelizes, inconformados e frustrados. Encontramos
demonstrações dessa necessidade em passagens bí-
blicas, como o nascimento do filho de Sara:
 “Sara, mulher de Abrão, não lhe tinha dado filhos;
mas, possuindo uma escrava egípcia, chamada Agar,
disse a Abrão: Eis que o Senhor me fez estéril; rogo-te
que tomes a minha escrava, para ver se ao menos por
ela, eu posso ter filhos.” (Gênesis 16:1 e 2)
O histórico bíblico não está limitado a Sara, Abrão e
Agar. Há a passagem em que Raquel, não tendo filhos,
oferece sua escrava e até mesmo sua irmã, Lia, para co-
abitar com Jacó, procurando, assim, resolver o problema
de infertilidade.
É o que mostram os seguintes versículos do 30º
capítulo do livro de Gênesis da Bíblia:
1 Vendo, pois, Raquel que não dava filhos a Jacó,
teve Raquel inveja de sua irmã e disse a Jacó: Dá-
me filhos, senão morro.
Biorreligião - Mensagem do autor 23

2 Então, se acendeu a ira de Jacó contra Raquel e


disse: Estou eu no lugar de Deus, que te impediu o
fruto de teu ventre?
3 E ela disse: Eis aqui minha serva Bila; entra a ela,
para que tenha filhos sobre os meus joelhos, e eu
assim receba filhos por ela.
4  Assim, lhe deu a Bila, sua serva, por mulher; e Jacó
entrou a ela.
5 E concebeu Bila e deu a Jacó um filho.
Algumas Religiões condenam parte dos tratamen-
tos de Fertilização, mas isso é esperado, pois muitas
vezes não sabemos se a busca pela evolução tecno-
lógica nos levará a destinos prejudiciais a nós mesmos
ou a nossos familiares. Talvez, algumas exagerem nas
proibições, mas nos seguram e impõem reflexões para
que possamos planejar para a humanidade um futuro
melhor. Não é fácil descobrir em nossas vidas os ca-
minhos dos acertos e dos erros. Mas todos temos o
livre arbítrio, que nos torna responsáveis por nossas ati-
tudes. Nos momentos difíceis, quando se apresentam
dois caminhos conflitantes, precisamos privilegiar a sa-
bedoria, ter calma e não tomar decisões precipitadas.
Se em um primeiro julgamento algo se apresenta ma-
ravilhoso, incrível e sedutor, deve-se ponderar, e con-
siderar com profundidade, uma outra opção que pode
privilegiar o nosso destino e não somente o presente.
“CRIAMOS NOSSO PRÓPRIO DESTINO.”

Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi


Capítulo 2

Aspectos importantes sobre a


Pesquisa e os Tratamentos
da Infertilidade
(Alguns esclarecimentos)

O que é Infertilidade?
Um indivíduo, homem ou mulher, é considerado in-
fértil quando apresenta alterações no sistema reprodutor
que diminuem a capacidade ou o impedem de ter filhos.
A princípio, um casal é considerado infértil quando após
12 a 18 meses de relações sexuais frequentes e regula-
res, sem nenhum tipo de contracepção, não conseguem
a gestação. Entretanto, esse período pode variar com a
idade da mulher e a ansiedade do casal. Não é necessário
que um casal cuja mulher tenha mais de 35 ou 38 anos
espere este tempo, pois nesta fase de vida em que a fer-
tilidade diminui gradativa e progressivamente, seis meses
valem muito, e, por isso, poderemos abreviar esse perío-
do para seis a doze meses, ou menos. Após os 40 anos,
três ou quatro meses já são o suficiente. Nem sempre
os casais, mesmo os mais jovens, com menos de 30,
26 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

aguentam a ansiedade e esperam os 18 meses. Por isso,


mesmo tendo conhecimento do período teórico de espe-
ra, muitas vezes antecipamos a pesquisa para ajustar a
ciência ao bom-senso e ao bem-estar do casal. A chance
de um casal que não tenha nenhum tipo de problema e
mantenha relações sexuais nos dias férteis conceber por
meios naturais é de 20% ao mês. Com o auxílio de técni-
cas de reprodução assistida, a taxa de gestação pode che-
gar a 50% ao mês em mulheres com menos de 35 anos.
A infertilidade, ao contrário do que se acreditava
no passado, é um problema do casal, e não exclusivo
da mulher. Sabemos que 30% das causas são femini-
nas e outros 30% são masculinas. Em 40% dos casos,
ambos os fatores estão presentes.
A infertilidade pode ser primária, quando o casal
nunca engravidou, ou secundária, quando já houve
gestação anterior. Antigamente, utilizava-se o termo es-
terilidade como sendo a impossibilidade de gestação e
infertilidade quando havia a diminuição da capacidade
de conceber. Atualmente, as duas palavras são geral-
mente empregadas como sinônimos.
Estudos mostram que até 15% dos casais em ida-
de fértil apresentam dificuldade para engravidar, e me-
tade deles terá de recorrer a tratamentos de reprodu-
ção assistida.

Exames que avaliam


a fertilidade do casal
Na pesquisa da fertilidade, os fatores são estuda-
dos levando-se em consideração cada uma das etapas
Aspectos importantes sobre a Pesquisa e os Tratamentos da Infertilidade 27

no processo de reprodução. Para cada uma delas exis-


tem exames básicos que devem ser solicitados já na
primeira consulta, com o objetivo de afastar ou confir-
mar hipóteses diagnósticas.
Resumindo de uma forma didática, são cinco os
fatores que devem ser pesquisados e que podem atra-
palhar um casal para ter filhos. Entretanto, deve-se con-
siderar que alguns casais não conseguem a gestação
durante um determinado período e não se encontram
justificativas médicas para esta dificuldade, a chama-
da Infertilidade Inexplicável ou Infertilidade Sem Causa
Aparente (ISCA). Os fatores de infertilidade são:
I. Fator hormonal e fator ovariano: problemas hor-
monais da mulher e da ovulação;
II. Fator anatômico: pesquisa da integridade anatô-
mica do útero, tubas, colo uterino e aderências;
III. Fator endometriose;
IV. Fator masculino;
V. Fator imunológico: pesquisa da incompatibi-
lidade entre o muco cervical e o espermatozoide, o
embrião e o útero, ou entre os gametas femininos e
masculinos, causada pela hostilidade, uma espécie de
“alergia”. Esse fator, entretanto, não tem evidências
científicas que comprovem os resultados encontra-
dos e as vantagens nas chances de fertilização. Por
esse motivo, só devem ser solicitados exames em si-
tuações específicas;
VI. Infertilidade Inexplicável: Infertilidade Sem Causa
Aparente (ISCA), já descrita acima.
28 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

I. Fator hormonal e fator ovariano


Esse fator representa 50% dos casos de infertilida-
de, por falta total de ovulação (anovulação) ou por um
defeito da mesma (disovulia – insuficiência de corpo
lúteo). A pesquisa da ovulação é feita por meio de mé-
todos indiretos que, em conjunto, dão o diagnóstico da
existência ou não da ovulação. O tratamento depende
das alterações observadas.
Dosagens hormonais: São realizadas durante o
ciclo menstrual, procurando-se avaliar a existência, a
qualidade e o período da ovulação. As dosagens devem
ser feitas na época adequada, estipulada pelo médico,
e os hormônios dosados são geralmente: FSH, LH, es-
tradiol, prolactina, progesterona e outros que poderão
ser indicados de acordo com as suspeitas diagnósticas
(tireoide, por exemplo).
Ultrassonografia transvaginal seriada: Por meio
deste exame, que é repetido algumas vezes durante
o ciclo ovulatório, pode-se prever a rotura do folículo
(ovulação). Nos momentos que antecedem a ovulação,
o folículo que contém o óvulo atinge seu tamanho má-
ximo, mais ou menos 20 mm, formando um pequeno
cisto (cisto funcional). A ovulação nada mais é que a
rotura desse “cisto” com a expulsão do óvulo, que será
encaminhado ao útero por meio da tuba uterina, onde
deverá ser fertilizado, passando a se chamar embrião.
Enfim, o acompanhamento ultrassonográfico da ovu-
lação prevê facilmente o dia mais fértil da mulher em
determinado mês.
Biópsia do endométrio: Fornece material para
exame microscópico e pode ser realizada no próprio
consultório, durante o exame de vídeohisteroscopia, ao
redor do 24º dia do ciclo menstrual. O exame desse
Aspectos importantes sobre a Pesquisa e os Tratamentos da Infertilidade 29

material permite avaliar também a ação efetiva dos hor-


mônios, informando se o endométrio está em sincronia
com a fase do ciclo menstrual.

II. Fator anatômico


Consiste na pesquisa de alterações do órgão re-
produtor, que podem impedir o encontro do esperma-
tozoide com o óvulo dentro das tubas e a consequente
fecundação. O útero e as tubas devem exibir normali-
dade na sua morfologia e no seu funcionamento.
As alterações ocorrem em 20 a 30% dos casos
de infertilidade. Além das causas inflamatórias, trau-
máticas, cirúrgicas, de malformações, de mioma etc.,
cumpre assinalar o papel dos fatores emocionais. O
estresse pode ocasionar alterações do peristaltismo
(movimento) das tubas, comprometendo a captação e
o transporte do óvulo. Alguns exames podem ajudar a
detectar melhor possíveis problemas. São eles:
Histerossalpingografia: É um raio X contrastado.
Constitui um importante exame para que o médico ava-
lie se a paciente apresenta tubas e cavidade uterina ín-
tegras, o que é essencial na avaliação de sua fertilidade.
O médico deve estar envolvido diretamente na interpre-
tação e, sempre que possível, acompanhar a própria
execução do procedimento. A avaliação das chapas do
exame deve ser cuidadosa, verificando a presença de
estenoses, sinéquias (aderências), septos, pólipos, mal-
formações uterinas, obstruções tubárias e lesões míni-
mas tubárias. Os casos que demonstrem anormalidade
podem seguir-se de laparoscopia e histeroscopia diag-
nósticas para prosseguir na avaliação. É interessante ob-
servar que até 20% das histerossalpingografias normais
mostram anormalidade na videolaparoscopia.
30 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Histerossonografia: É um exame que pode


ser realizado no próprio consultório. Uma sonda es-
pecial é colocada no útero por via vaginal, e através
dela injeta-se um fluido que distende a cavidade ute-
rina, caminha em direção às tubas e atinge a cavida-
de pélvica. Esse procedimento é acompanhado pelo
ultrassom e permite avaliar a anatomia da cavidade
uterina e, indiretamente, dá a ideia da permeabilidade
tubária pelo acúmulo de líquido intra-abdominal atrás
do útero. Entretanto, este exame não substitui a histe-
rossalpingografia para avaliação das tubas.
Ultrassonografia endovaginal: É um instrumen-
to importante na avaliação inicial da paciente infértil.
No passado, eram necessários procedimentos mais
agressivos para averiguar anormalidades ovarianas e
uterinas. Com o uso do ultrassom vaginal, hoje é mais
fácil e segura a avaliação dessas estruturas pelo médi-
co. Pode-se usar o ultrassom vaginal para diagnosticar
uma variedade de problemas.
O comprometimento pode atingir os seguintes ór-
gãos do sistema reprodutor:
Útero:
• miomas uterinos (tamanho e localização);
• anomalias estruturais, como alterações do formato
do útero (útero bicorno ou didelfo);
• alterações anatômicas do endométrio.
Ovários:
• cistos;
• tumores;
• aspecto policístico.
O ultrassom vaginal pode também diagnosticar
problemas ovarianos e, conforme descrito no item an-
terior, é muito útil ao se acompanhar uma paciente por
Aspectos importantes sobre a Pesquisa e os Tratamentos da Infertilidade 31

meio da fase ovulatória de seu ciclo e avaliar a presença


do folículo dominante. Quadros como cistos de ovários
e endometriomas podem ser facilmente visualizados
com o uso do ultrassom vaginal.

FIGURA 1

Alterações da anatomia que podem comprometer


a fertilidade:
miomas, malformações, endometriose, aderências
e hidrossalpinge.

Videolaparoscopia: É um exame muito útil e so-


fisticado, feito em ambiente hospitalar sob anestesia
geral. Com uma microcâmera de vídeo, introduzida no
abdômen por meio de uma incisão mínima na região
do umbigo, são visualizados os órgãos genitais: útero,
tubas, ovários e órgãos vizinhos. Com esse aparelho
é realizado um “passeio” pela cavidade abdominal,
numa extraordinária visão panorâmica ao vivo e em
cores. É possível ver tudo, com magníficos detalhes,
na tela do monitor. Alterações na permeabilidade tu-
bária, aderências e endometriose são diagnosticadas
32 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

dessa forma e podem, ao mesmo tempo, ser trata-


das cirurgicamente, sem a necessidade de cortar o
abdômen. Esse equipamento permite a introdução de
pinças especiais para a realização e atos operatórios,
fazendo correções, como liberar os tecidos aderidos,
cauterizar e vaporizar focos endometrióticos, coa-
gular sangramentos, e até realizar cirurgias maiores se
necessário (de miomas, cistos, gravidez tubária etc.).
O diagnóstico e o tratamento cirúrgico por video­
laparoscopia devem ser feitos por profissionais com
experiência em infertilidade e microcirurgia. Ao se
detectar determinada alteração durante um exame, o
cirurgião especializado em Reprodução Humana deve-
rá ter experiência e capacidade para discernir as reais
vantagens de um tratamento cirúrgico. Caso contrário,
os traumas dessa cirurgia poderão piorar ainda mais a
saúde reprodutiva dessa paciente.
Videohisteroscopia: Pode ser feita em consultório
e permite, sem qualquer tipo de corte, o exame do inte-
rior do útero (endométrio). Com a mesma microcâmera
utilizada no exame descrito acima é possível diagnos-
ticar, na cavidade uterina, a existência de alterações,
como miomas, pólipos, malformações e aderências,
que são corrigidas cirurgicamente, quando necessário,
pela mesma via.
Colo do Útero: O muco cervical, como já foi des-
crito, é extremamente importante no processo de fer-
tilização, pois é nele que o espermatozoide “nada” em
direção ao óvulo a ser fecundado. Alterações no colo
uterino são responsáveis por 15% a 50% das causas
de Infertilidade. A análise desse fator é feita por meio
da avaliação do muco cervical, da videohisteroscopia e
da colposcopia.
Aspectos importantes sobre a Pesquisa e os Tratamentos da Infertilidade 33

Aderências: Constituem o fator causado pela


presença de obstáculos (aderências) na captação dos
óvulos pela(s) tuba(s), que deve(m) estar sem obstru-
ção em toda a sua extensão. Muitas vezes, os órgãos
grudam uns nos outros, impedindo que exerçam sua
função adequada. Geralmente, isso provém de in-
fecções pélvicas, endometriose ou cirurgias nessa
região. O diagnóstico inicial é sugerido pela histeros-
salpingografia, mas a confirmação é feita por meio
da videolaparoscopia, o único exame que permite o
diagnóstico definitivo e, concomitantemente, o trata-
mento cirúrgico. Quando não for possível a resolução
pela via endoscópica, deve-se realizar a cirurgia pelas
técnicas convencionais, levando-se em consideração
os princípios da microcirurgia.

III. Fator endometriose


Endométrio é o tecido que reveste o útero interna-
mente e é formado entre as menstruações. Esta “pe-
lícula” solta-se e sai juntamente com o sangue cada
vez que a mulher menstrua. Por razões ainda não de-
finidas, esse revestimento pode migrar e se alojar em
outros órgãos, como ovários, tubas, intestinos, bexi-
ga, peritônio, e até mesmo no próprio útero, dentro
do músculo. Quando isso acontece, dá-se o nome de
endometriose (inserida na musculatura do útero tem
o nome de adenomiose), ou seja, endométrio fora do
seu local habitual. A endometriose é responsável por
cerca de 40% das causas femininas de infertilidade. A
moléstia não é maligna e em certas pacientes se ma-
nifesta apenas discretamente, com leve aumento na
intensidade das cólicas menstruais. Em outras, pode
ser um martírio, com dores fortes e sangramentos
34 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

abundantes (endometriose profunda). Em qualquer


uma das situações, seja qual for o grau de endometrio-
se, a fertilidade pode estar comprometida. Os indícios
da existência dessa doença podem ser dados, além
da história clínica, pela dosagem no sangue de uma
substância chamada CA125, e por imagem suspeita
vista pelo ultrassom com preparo intestinal, e realiza-
dos por profissionais especialistas nessa doença. Em
casos mais avançados, devem ser solicitados resso-
nância magnética, colonoscopia e urografia excretora.
Novos exames, como PCR, SAA, anticardiolipina IgG,
IgA e IgM, além de outros marcadores, representam
uma opção para pesquisa e tratamentos imunológicos
futuros dessa patologia. Para confirmar o diagnóstico
e graduar o comprometimento dos órgãos afetados
pela doença, a videolaparoscopia é essencial, poden-
do, por meio dela, obter também a cura com a cauteri-
zação e ressecção dos focos. Um especialista em en-
dometriose deve avaliar o caso. O tratamento clínico
medicamentoso complementar é uma alternativa que
deve ser avaliada caso a caso.

IV. Fator masculino


A pesquisa da fertilidade no homem é um capítulo
importante na Reprodução Humana, tanto pela partici-
pação nas dificuldades do casal em ter filhos, quanto
pelo constrangimento e a maneira da coleta do mate-
rial (pela masturbação), além dos preconceitos que ain-
da existem envolvendo os possíveis diagnósticos (por
mais absurdos que isso pareça).
Aspectos importantes sobre a Pesquisa e os Tratamentos da Infertilidade 35

NOTA 1

NOS CASOS EM QUE A RELIGIÃO CONDENA


A MASTURBAÇÃO, O SÊMEN É COLETADO DURANTE
O ATO SEXUAL, UTILIZANDO-SE
UM TIPO ESPECIAL DE PRESERVATIVO,
E ENCAMINHADO AO LABORATÓRIO LOGO APÓS
A RELAÇÃO DO CASAL.

A pesquisa da fertilidade masculina é sempre


muito mais simples que a feminina. É fundamental
que se saiba o que é relevante nessa pesquisa, para
que resultados superficiais não levem o casal a perder
tempo e dinheiro, além de sofrer com o desgaste psi-
cológico que envolve esse tipo de tratamento. O fator
masculino é responsável, isoladamente, por 30% a
40% dos casos de infertilidade e, associado ao fator
feminino, por mais 20%; cúmplice, portanto, de 50%
dos casais com dificuldade para engravidar. Visto que
a avaliação deste fator é relativamente simples e pou-
co dispendiosa, esta deve ser realizada em todos os
casos antes de qualquer indicação terapêutica. Este
estudo é baseado na história clínica (antecedentes de
infecção, traumas, cirurgias pregressas, impotência,
hábitos como alcoolismo, tabagismo etc.), por meio
de exame físico, espermograma e, em casos espe-
ciais, exames genéticos.
Causas da infertilidade masculina
• Diminuição do número de espermatozoides.
• Pouca mobilidade dos espermatozoides.
• Espermatozoides anormais.
• Ausência da produção de espermatozoides.
• Vasectomia.
• Dificuldades na relação sexual.
36 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Doenças mais comuns


• Varicocele
• Infecções
• Problemas cromossômicos/genéticos
• Malformações
Alterações mais comuns encontradas
no espermograma
Astenospermia: É quando a motilidade dos esper-
matozoides está diminuída ou, segundo alguns
autores, é a alteração mais frequente no espermo-
grama. As causas mais comuns são as infecções
imunológicas, varicocele, tabagismo, alcoolismo,
medicamentos, problemas psíquicos, endócrinos,
estresse e doenças profissionais.
Oligosastenospermia: É a diminuição do número e da
motilidade dos espermatozoides. As causas são as
mesmas citadas no item anterior.
Teratospermia: São alterações do formato do esper-
matozoide. Os principais responsáveis por estas al-
terações são: as inflamações, algumas drogas, ori-
gem congênita e varicocele. Os espermatozoides
capazes de fertilização devem ter formato perfeito.
O formato ideal é o formato oval.

NOMENCLATURA
Quantidade de
Nome científico
espermatozoides
AZOOSPERMIA AUSÊNCIA DE
ESPERMATOZOIDES
OLIGOSPERMIA ABAIXO DE 20 MILHÕES/ML
OLIGOSPERMIA SEVERA ABAIXO DE 05 MILHÕES/ML
POLISPERMIA ACIMA DE 250 MILHÕES/ML
NECROSPERMIA ACIMA DE 30% DE
ESPERMATOZOIDES MORTOS
Aspectos importantes sobre a Pesquisa e os Tratamentos da Infertilidade 37

Tratamentos do homem em casos difíceis


Recuperação dos espermatozoides diretamente
dos testículos ou epidídimo.
Em alguns casos, a qualidade dos espermato-
zoides é tão inadequada que é impossível realizar-
mos um tratamento por meio da coleta obtida pela
ejaculação. Assim, temos duas alternativas para que
consigamos sucesso no tratamento: PESA e TESA.
Por meio desses procedimentos, os espermatozoi-
des são recuperados diretamente do testículo ou do
epidídimo (região próxima do testículo) e, por meio
de ICSI, os óvulos são fertilizados. As principais
técnicas são:
PESA (aspiração microepididimal do esperma): Aspira-
-se uma pequena quantidade de sêmen do epidídi-
mo e os espermatozoides recuperados são utiliza-
dos para fertilização por ICSI.
TESA (biópsia do tecido testicular): É uma técnica si-
milar, na qual os espermatozoides são retirados por
uma minúscula biópsia de tecido testicular. Depois,
são recuperados e, a exemplo da técnica anterior,
são utilizados para fertilização por ICSI.
MICRODISSECÇÃO: É uma microcirurgia que possi-
bilita a retirada dos espermatozoides diretamente
dos ductos seminíferos, que é o local onde eles
estão em maior concentração. Essa técnica é uti-
lizada em homens que não eliminam espermato-
zoides pela ejaculação, mas fabricam em pequena
quantidade. A vantagem, quando comparada com
outras técnicas, é o fato de ser menos agressiva e
oferecer a possibilidade de se retirar várias amos-
tras de esperma, possibilitando o congelamento
para uso futuro.
38 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Os resultados de PESA, TESA e MICRODISSECÇÃO


têm sido bastante encorajadores, sugerindo que os
homens que, por motivos diversos (inclusive vasec-
tomia), são incapazes de ejacular ou produzir esper-
ma, voltam a ter capacidade, por essas técnicas, de
suprir o(s) espermatozoide(s) para fertilização dos
óvulos de sua esposa. A mulher, evidentemente,
deve seguir os procedimentos rotineiros de super
ovulação e coleta de óvulos.

FIGURA 2
Aspectos importantes sobre a Pesquisa e os Tratamentos da Infertilidade 39

Banco de Sêmen (Sêmen de doador)


Em algumas situações especiais de infertilidade
masculina grave, a única opção é a utilização de es-
perma de doador, guardado em “Banco de Esperma”,
de idoneidade indiscutível. São casos de falta total
de esperma (azoospermia, vasectomia), Aids, do-
enças hereditárias transmissíveis e tratamentos de
quimioterapia. Mulheres solteiras que desejam ter
filhos, dentro dos princípios éticos, podem também
se beneficiar desse recurso. Os doadores são sele-
cionados segundo critérios rigorosos: idade superior
a 21 anos, mas inferior a 40 anos, integridade física
e mental comprovada, fertilidade reconhecida – sem-
pre anonimamente e de acordo com as característi-
cas físicas e intelectuais que estejam em harmonia
com o interesse do casal.

V. Fator Imunológico
O fator imunológico, que já teve sua importância
no passado, tornou-se restrito e, atualmente, sua con-
tribuição como causa de infertilidade é bastante limita-
da. Alguns testes como o Pós-Coito, ou Sims-Huhner,
que consiste em identificar, sob a luz do microscópio,
o comportamento dos espermatozoides em contato
com o organismo feminino, já há algum tempo deixou
de ser utilizado. Outros exames, incluindo as trombo-
filias – que são: anticorpos, anticardiolipina, anties-
permatozoides, antitireoidianos, fator anticoagulante
lúpico, fosfatidil serina, células NK, IgA, Fator V de
Leiden, MTHFR (Metilenotetrahidrofolatoredutase),
25OH Vit D, entre outros – podem ainda ser indicados
em situações específicas. Em alguns casos especiais,
e somente em casos muito bem selecionados, pode
40 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

ser solicitado o exame “Cross Match”, que avalia a


“rejeição” do embrião pelo organismo materno.

VI. Infertilidade Inexplicável –


Infertilidade Sem Causa Aparente (ISCA)
É muito difícil para um casal quando, após o término
da realização de todos os exames solicitados, ao retornar
ao consultório ou clínica, eles têm como resposta do mé-
dico que todos os resultados estão normais. Ante essa
normalidade, alguns exames são repetidos, outros novos
são sugeridos, uns mais difíceis e outros agressivos, mas,
às vezes, ainda assim a resposta final é: NORMALIDADE.
Qual o motivo, então, da dificuldade para engravidar? Não
tem explicação? A resposta é: NÃO.
A Infertilidade “Inexplicável” ou Infertilidade Sem
Causa Aparente (ISCA) é a dificuldade de um casal
para engravidar, sem nenhuma razão aparente, após
um ano ou mais de relações sexuais frequentes e
sem o uso de qualquer método anticoncepcional.
Aproximadamente de 10% a 15% dos casais inférteis
pertencem a este grupo. Sem dúvida, esta “falta de
diagnóstico” definitivo leva essas pessoas a um sen-
timento de frustração e angústia bastante grande.
Entretanto, não podemos esquecer que a ciência pro-
gride numa velocidade tão grande, que o desconheci-
do de hoje poderá, em um curto prazo de tempo, ser
esclarecido, e o que hoje não tem explicação, amanhã
pode ser explicável e tratável. Portanto, quando se
fala em INFERTILIDADE SEM CAUSA APARENTE, ou
INFERTILIDADE INEXPLICÁVEL, significa o inexplicá-
vel no presente, e não no futuro. Mas o que interessa
ao casal que procura um especialista é um diagnósti-
co e um tratamento para o presente.
Aspectos importantes sobre a Pesquisa e os Tratamentos da Infertilidade 41

O que fazer?
A conduta médica deve ser baseada na idade da
mulher, no tempo de infertilidade, na ansiedade e ex-
pectativa do casal e na disponibilidade econômica. Se
uma mulher é extremamente jovem e está tentando
engravidar há pouco tempo (um ano, por exemplo), po-
de-se aguardar ou realizar tratamentos simples e con-
servadores, como a indução da ovulação (ou relação
sexual programada, coito programado, “namoro” pro-
gramado). Para esses casais, a introdução de terapias
naturais ou complementares e algumas mudanças de
hábitos podem trazer benefícios. Mulheres com mais
idade merecem tratamentos com maiores chances de
êxito (Inseminação Intrauterina, Fertilização in Vitro),
pois, com o passar dos anos, as chances de gravidez
diminuem gradativamente. O importante é deixar claro
que Infertilidade Sem Causa Aparente ou Infertilidade
Inexplicável é bastante comum em casais que não con-
seguem ter filhos.
Tratamentos convencionais
A indicação terapêutica baseia-se na história clíni-
ca do casal, juntamente com a avaliação da pesquisa
básica laboratorial. Leva-se também em consideração
a ansiedade do casal e as alterações encontradas nos
exames realizados. A idade da mulher tem força deci-
siva por ser um fator que desequilibra as tendências e
norteia o melhor caminho para obtenção da gestação.
Quase sempre haverá mais do que um tratamento
disponível e, na maioria das vezes, caberá ao casal a
decisão final pelo tipo de tratamento. O médico dará
as opções, orientando e ponderando, mas quem de-
cidirá o caminho será a mulher e o homem que dese-
jam ter filhos.
42 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

EVOLUÇÃO DA TAXA DE FERTILIDADE DA MULHER


DE ACORDO COM A IDADE

Até 25 anos
25 a 30 anos (-) 4%
30 a 35 anos (-) 19%
35 a 40 anos (-) 40%
> 40 anos (-) 95%

Queda da taxa de fertilidade de acordo com a idade da


paciente comparando com pacientes com menos de 25 anos
(valores e estatísticas que se aplicam às mulheres de maneira
geral, podendo haver variação de mulher para mulher).

Fonte: Tognotti, E. e Pinotti, J.A. A Esterilidade Conjugal na Prática da Propedêutica


Básica à Reprodução Humana...

Os tratamentos
1 Tratamento medicamentoso: com remédios que
corrigem distúrbios hormonais que estariam preju-
dicando a fertilidade (hormônios).
2 Tratamento cirúrgico: para correção das alterações
anatômicas dos órgãos reprodutores – por micro-
cirurgia, videohisteroscopia e/ou videolaparoscopia
(inclusive em casos de endometriose).
3 Reprodução assistida: indução da ovulação (coito
programado), inseminação artificial e fertilização in
vitro (ICSI).
4 Doação de óvulos: se a mulher não produzir óvulos.
5 Banco de esperma: se o homem não produzir
espermatozoides.
Embora todos esses tratamentos sejam importantes,
será dada ênfase aos TRATAMENTOS DE FERTILIZAÇÃO
ASSISTIDA.
Aspectos importantes sobre a Pesquisa e os Tratamentos da Infertilidade 43

Os Tratamentos
de Fertilização Assistida
A Fertilização Assistida consiste em um conjunto
de técnicas laboratoriais utilizadas pelos médicos e
embriologistas para promover a fecundação do óvulo
pelo espermatozoide, quando ela não ocorre por meios
naturais. Os procedimentos médicos na Fertilização
Assistida são rigorosamente técnicos, feitos com equi-
pamentos de alta precisão, tecnologia de ponta e por
uma equipe especializada.
A Reprodução Assistida pode ser classificada
quanto à complexidade:
A) Baixa Complexidade
- Indução da Ovulação – coito programado, “Namoro”
programado.
B) Média Complexidade
- Inseminação Intrauterina
C) Alta Complexidade
- FIV (Fertilização In Vitro convencional; Bebê de
Proveta)
- ICSI (Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide)

A) Indução Da Ovulação – coito programado,


“Namoro” programado (Baixa Complexidade)
Com todos os exames laboratoriais ultranormais, a
paciente poderá ter sua ovulação induzida por medica-
mentos, para que seja recrutado um maior número de
óvulos naquele mês. O crescimento deles é acompanha-
do por ultrassonografia seriada transvaginal até que os
folículos atinjam um tamanho ideal (em sincronia com o
endométrio – que é o tecido que reveste o interior do úte-
44 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

ro, onde ocorre a implantação do embrião). Por meio do


estímulo hormonal, os óvulos devem ter um crescimento
progressivo e atingir um tamanho aproximado de 18 mm,
e o endométrio, uma espessura superior a 7 mm. Atingido
esse ponto ideal (o que geralmente ocorre ao redor do
12º ao 14º dia do ciclo), a ovulação é desencadeada 24
a 36 horas após a injeção de um medicamento adequa-
do (HCG). A partir desse momento, o médico orientará
a melhor época para as relações sexuais. Pelo maior nú-
mero de óvulos disponíveis, e pela certeza da época da
ovulação, as chances de gravidez são substancialmente
maiores quando comparadas ao ciclo espontâneo (sem
medicação). A chance de sucesso desse método é ao
redor de 12% a 15% a cada ciclo. Embora essa chance
seja inferior aos 20% definidos para gravidez espontânea,
deve-se lembrar que os casais em tratamento já possuem
alguma dificuldade para engravidar. Por isso, essa taxa de
sucesso é menor do que a esperada quando a gravidez é
obtida naturalmente, por casais sem problemas.

B) Inseminação Intrauterina –
(Média Complexidade)
A Inseminação Intrauterina, conhecida desde a
Antiguidade, é um recurso terapêutico de grande valor
no tratamento do casal infértil. As indicações dessa op-
ção são baseadas na impossibilidade ou dificuldade do
sêmen para alcançar o óvulo no aparelho genital da mu-
lher (tubas), impedindo, assim, a fecundação. As candi-
datas a essa modalidade terapêutica são as pacientes
que apresentam:
a) Muco cervical pobre ou deficiente.
b) Infertilidade Sem Causa Aparente (ISCA), Infertilida­
de Inexplicável.
Aspectos importantes sobre a Pesquisa e os Tratamentos da Infertilidade 45

c) Maridos com espermograma alterado (oligosper-


mia, astenospermia ou problemas anatômicos).
Importante: Como a fertilização ocorre no am-
biente natural, isto é, nas tubas, estas devem estar
permeáveis.
Indução da Ovulação,
Técnica e Dia da Inse­minação
Da mesma forma feita no coito programado, os
ovários são estimulados por hormônios, com o obje-
tivo de obter um maior número de óvulos recrutados.
Esses óvulos também têm seu crescimento acompa-
nhado pela ultrassonografia até que atinjam um diâme-
tro aproximado de 18 mm, e o endométrio, uma espes-
sura superior a 7 mm. A ovulação também é desenca-
deada no momento adequado por um medicamento.
A diferença consiste nas dosagens dos medicamentos
utilizados para o estímulo ovariano e no fato de que,
em vez das relações sexuais, os espermatozoides se-
rão colocados dentro do útero.
A inseminação artificial é um procedimento relati-
vamente simples. É realizada no consultório, sem anes-
tesia, é indolor e não dura mais que alguns minutos.
Com a paciente em posição ginecológica, o esperma é
colocado dentro do útero, perto dos orifícios internos
das tubas, através de um cateter delicado que trans-
passa a vagina e o canal cervical. Após a inseminação,
a paciente deverá ficar em repouso no consultório por
cerca de 20 minutos, a fim de que o sêmen alcance o
interior das tubas e ocorra a fertilização. Ao final desse
período, poderá voltar às suas atividades cotidianas.
Os índices de sucesso da Inseminação Intrauterina,
em seguida à estimulação ovariana (superovulação), es-
tão ao redor de 18% a 25% por ciclo, mas podem chegar
a 50% depois de algumas tentativas. Nos casos em que
46 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

o parceiro masculino for portador de distúrbios muito


graves do esperma (azoospermia – falta total de esper-
matozoides), pode ser usado o esperma congelado de
um doador anônimo, disponível nos Bancos de Sêmen.

NOTA 2

NESTE PROCEDIMENTO, O CASAL PODERÁ TER


RELAÇÕES SEXUAIS NATURALMENTE ATÉ DOIS
DIAS ANTES DA INSEMINAÇÃO, NO DIA DO
PROCEDIMENTO E NOS DIAS SEGUINTES, SEM
PREJUÍZO NO RESULTADO DO TRATAMENTO.
CONTUDO, NESTE CASO NÃO SE PODERÁ PRECISAR
SE A FERTILIZAÇÃO FOI OU NÃO RESULTADO DA
INSEMINAÇÃO.

FIGURA 3

C) Fertilização In Vitro (FIV) ou Bebê de Proveta


Consiste na mais sofisticada e avançada de to-
das as técnicas de Fertilização Assistida. Para se rea-
Aspectos importantes sobre a Pesquisa e os Tratamentos da Infertilidade 47

lizar esta técnica (ou programa), a mulher recebe, da


mesma forma que nas técnicas anteriores, alguns hor-
mônios, porém em maiores doses, para se obter um
maior número de óvulos recrutados. Também neste
procedimento, os óvulos têm seu crescimento acom-
panhado pela ultrassonografia até que atinjam um di-
âmetro aproximado de 18 mm, e o endométrio, uma
espessura superior a 7 mm. A paciente recebe uma
última injeção (HCG) para terminar o amadurecimento
dos óvulos, que são aspirados 35 horas após, por meio
de uma agulha especial. Em seguida, são colocados
em contato com espermatozoides (in vitro), permitin-
do a sua fecundação fora do corpo da mãe. Quando a
quantidade de espermatozoides for pequena, utiliza--
-se a técnica da ICSI (Injeção Intracitoplasmática de
Espermatozoide), que consiste na injeção de um es-
permatozoide dentro do óvulo. Os embriões são de-
senvolvidos inicialmente em laboratório, retornando,
depois, ao útero onde continuam o crescimento até o
dia do nascimento.
A chance de sucesso desta técnica pode chegar a
até 55% em pacientes com menos de 35 anos.
Indicações clássicas:
• Mulheres com alterações peritoneais (aderências).
• Obstrução nas tubas.
• Infertilidade Sem Causa Aparente (ISCA) ou Infer­
tilidade Inexplicável.
• Fatores imunológicos graves.
• Endometriose.
• Falhas repetidas em tratamentos menos complexos.
• Idade avançada.
• Fator masculino (contagem baixa, alteração grave
em morfologia ou motilidade dos espermatozoides).
48 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Técnica
A técnica é relativamente complexa e sua execu-
ção pode ser dividida em seis fases:
1ª Fase - Bloqueio dos hormônios do organismo.
2ª Fase - Estímulo do crescimento dos óvulos.
3ª Fase - Coleta dos óvulos.
4ª Fase - Fertilização dos óvulos.
5ª Fase - Transferência do(s) embrião(ões) para o útero.
6ª Fase - Controle hormonal até o teste de gravidez.
Assim, detalhadamente, temos:
1ª Fase - Bloqueio dos hormônios do organismo
Consiste no bloqueio parcial do funcionamento
dos ovários com medicação adequada. Com esta con-
duta é possível ter o controle da função ovariana, não
havendo perigo de ocorrer ovulação fora do momento
previsto.
2ª Fase - Estímulo do crescimento dos óvulos
Existem vários esquemas de medicação para es-
timular o crescimento de um maior número de óvulos.
Havendo maior quantidade, têm-se mais embriões,
podendo ser escolhidos os melhores e, consequente-
mente, aumentando as chances de gravidez.
Esta fase dura de oito a doze dias e é acompanhada
pelo ultrassom transvaginal e por dosagens hormonais.
3ª Fase – Coleta dos óvulos
Em um ambiente cirúrgico e com sedação pro-
funda, os óvulos são aspirados através de uma agulha
acoplada ao ultrassom. Este processo é praticamente
indolor e dura alguns minutos. Neste dia, é realizada a
coleta do sêmen do marido.
Aspectos importantes sobre a Pesquisa e os Tratamentos da Infertilidade 49

FIGURA 4

4ª Fase - Fertilização dos óvulos


No laboratório, um embriologista experiente reali-
za a fertilização dos óvulos, que poderá ser espontânea
ou pela técnica de ICSI (Injeção Intracitoplasmática do
Espermatozoide). A decisão dependerá da quantidade e da
morfologia dos espermatozoides e do número de óvulos.

FIGURA 5
50 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

5ª Fase - Transferência dos embriões


Dois a cinco dias após a fertilização, os embriões são
colocados no útero. Neste dia, serão conhecidos os de me-
lhor qualidade, e assim o médico e o casal decidirão juntos
quantos deles serão transferidos, número este que pode
variar de um a quatro. A transferência é realizada com ca-
teter flexível, sem anestesia, através da vagina; é indolor e
semelhante ao desconforto do exame ginecológico.
NOTA 3

1. EMBRIÕES EXCEDENTES NÃO SÃO


DESCARTADOS. CASO SEJAM FERTILIZADOS UM
NÚMERO MAIOR DE EMBRIÕES QUE O ESPERADO,
O EXCEDENTE PODERÁ SER CONGELADO PARA
UTILIZAÇÃO POSTERIOR. SE O CASAL NÃO
DESEJAR TER MAIS FILHOS PODERÁ DOÁ-LOS PARA
OUTRO CASAL OU PARA PESQUISA CIENTÍFICA.
2. OS CASAIS QUE, EM NENHUMA HIPÓTESE,
CONCORDAREM COM O CONGELAMENTO DE
EMBRIÕES, PODERÃO TER UM NÚMERO LIMITADO
DE ÓVULOS FERTILIZADOS, IMPEDINDO, ASSIM, O
EXCESSO E A NECESSIDADE DO CONGELAMENTO.

FIGURA 6
Aspectos importantes sobre a Pesquisa e os Tratamentos da Infertilidade 51

6ª Fase - Suporte hormonal


Nesta fase são realizados exames de sangue que
comprovam o equilíbrio hormonal. Caso haja necessi-
dade, as doses poderão ser modificadas. O teste de
gravidez é realizado 11 dias após a transferência dos
embriões.
IMPORTANTE
A probabilidade de ocorrer um aborto ou de nascer
um bebê com malformação é a mesma, tanto após a
indução da ovulação quanto após a concepção natural.
Os riscos existentes dependem da idade da mãe e de
fatores genéticos. Se a paciente ficar grávida após este
tratamento, não serão necessárias quaisquer medidas
especiais; a gravidez será tratada exatamente como
qualquer outra, e o pré-natal é exatamente igual ao de
uma gestação espontânea. O trabalho de parto e a ama-
mentação não serão afetados de nenhuma maneira.

Congelamento de embriões
Quando no início de um tratamento de fertilização
in vitro, uma questão bastante importante para mé-
dicos e casais diz respeito ao número de óvulos que
potencialmente serão produzidos durante o ciclo. Este
dado inicialmente parece ser de pouca relevância, mas
torna-se importante, pois o número de óvulos a serem
produzidos está diretamente relacionado ao número de
embriões que serão obtidos. Um número maior de em-
briões produzidos oferece à equipe médica uma maior
chance de escolha para a transferência, aumentando
as chances de sucesso. Oferece, também, melhores
condições para cultivos mais longos, cultura de blasto-
52 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

cistos, minimizando as chances de perda embrionária


durante o cultivo.
No entanto, a obtenção de números altos de óvu-
los pode gerar um grande número de embriões exce-
dentes ao ciclo realizado. Segundo o Conselho Federal
de Medicina, atualmente os embriões excedentes aos
ciclos de fertilização in vitro podem ter três destinos:
congelamento, doação a outro casal ou doação à pes-
quisa científica.
O congelamento de embriões possui uma longa
história dentro da medicina reprodutiva, com nasci-
mento na metade da década de 1980 e, hoje, com-
provadamente um procedimento já bastante dissemi-
nado nos centros de reprodução humana espalhados
pelo mundo. Neste campo, existe uma variedade de
leis que geralmente mudam de acordo com o país.
Mas, de um modo geral, o congelamento de embriões
é aceito pela maioria. Isso possibilita que casais que
produzam números altos de óvulos e, consequente-
mente, embriões, possam ter mais uma chance para
obter a sua tão desejada gestação. Do mesmo modo,
casais que conseguiram ter sucesso na primeira ten-
tativa, e congelaram alguns embriões excedentes po-
dem voltar depois de alguns anos e utilizar estes mes-
mos embriões para uma segunda tentativa.
Os embriões a serem congelados devem passar por
um processo de desidratação, visando perder um pouco
da água que se encontra em suas células. Isso evita que
os embriões estourem durante o processo. Realizada
essa etapa, eles são submetidos a congelamento com-
putadorizado, iniciando em 37ºC e, em um período de
duas horas, alcançando -30ºC, sendo, depois, estocados
a -196ºC em nitrogênio líquido. O tempo de permanên-
cia em nitrogênio líquido parece afetar pouco a viabili-
Aspectos importantes sobre a Pesquisa e os Tratamentos da Infertilidade 53

dade embrionária, já existindo casos de gestações após


um período de oito anos de congelamento. A perda de
viabilidade durante o armaze­namento parece ser peque-
na, contudo ainda existem dúvidas quanto ao período
máximo que os embriões poderiam aguentar.
Mesmo que ainda existam interrogações com re-
lação aos processos de congelamento, o número de
procedimentos realizados até agora e o índice de suces-
so por tentativa mostram que este é um procedimento
que oferece bons índices de sucesso e deve ser utili-
zado quando for necessário, ou seja, naqueles casais
que produzem um alto número de embriões. Uma outra
abordagem seria o acúmulo de embriões em casais que,
ao contrário, produzem poucos embriões. Estes casais
poderiam fazer vários ciclos com números baixos de
embriões e congelá-los. Depois de alguns meses, este
“estoque” de embriões poderia ser utilizado de uma só
vez para maximizar suas chances. Este procedimento é
muito realizado quando se utilizam ciclos espontâneos,
ou seja, só ocorre a produção de um óvulo, ou naquelas
mulheres em que a produção de óvulos é muito baixa.
De modo geral, este procedimento deve ser sem-
pre lembrado quando se inicia um tratamento de fer-
tilização in vitro, pois suas chances de utilização são
relativamente grandes.

Congelamento de óvulos
O congelamento de óvulos é um procedimento re-
servado a casos especiais. O grande problema no pas-
sado era a perda da capacidade de fertilização destes
óvulos após o descongelamento, mas esse problema já
54 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

está praticamente superado. O primeiro nascimento pro­


veniente de um óvulo congelado foi em 1984 e, desde
essa época, os avanços desta técnica são encorajadores.
As indicações mais importantes são nos tratamentos on-
cológicos, na preservação da fertilidade, em mulheres
que têm medo de perder a fertilidade com o passar dos
anos, nas que possuem histórico familiar de menopausa
precoce e em fertilização in vitro com excesso de óvulos,
pois evita o descarte de embriões excedentes.
Nos tratamentos oncológicos, a sua utilização ocorre
em pacientes que deverão ser submetidas a quimiotera-
pia ou radioterapia. Este tratamento pode causar proble-
mas irreversíveis aos óvulos. A retirada e o congelamento
do mesmo antes do tratamento preservará a fertilidade.
Com o término do tratamento, o óvulo poderá ser ferti-
lizado em laboratório, e o embrião, implantado no útero.
Para a preservação da fertilidade, algumas mulhe-
res, quando estão próximas dos 35 anos e ainda não se
casaram, nem encontraram o futuro pai de seus filhos,
podem ficar aflitas por saber que a fertilidade diminui
com o passar dos anos. Nesse caso elas passam por
um processo de estimulo ovariano, depois retiram-se
os óvulos estimulados e os congelam. Caso, no futuro,
encontrem seu “príncipe encantado” e na época seus
óvulos já estejam envelhecidos pela idade, os conge-
lados poderão ser utilizados. Os óvulos serão fertiliza-
dos, e os embriões, implantados no útero.
Mulheres com histórico familiar de menopausa pre-
coce podem congelar seus óvulos preventivamente. Na
época que desejarem ter filhos, caso seu ovário não es-
teja funcionando adequadamente, elas poderão utilizar os
óvulos que foram congelados anteriormente. Caso con-
trário, podem manter os óvulos congelados e utilizar os
coletados na época.
Aspectos importantes sobre a Pesquisa e os Tratamentos da Infertilidade 55

No caso da fertilização in vitro, algumas vezes, pode


haver o excesso de óvulos, que formam vários embriões.
Como apenas uma parte deles são transferidos para a
futura mamãe, os outros devem ser congelados. Caso
ocorra gestação e o casal não quiser mais ter filhos, po-
dem se ver em um problema ético, pois embriões são
considerados seres vivos e não podem ser descartados.
O congelamento de óvulos resolve esse problema, pois
óvulos são células, não são seres vivos, e podem ser des-
cartados. Se não for realizado o congelamento de óvu-
los, a única alternativa, caso o casal aceite, é a doação
de embriões para outro casal ou pesquisas científicas.

Doação de óvulos
Existem muitas causas de infertilidade, e pratica-
mente todas são tratáveis. Medicamentos induzem a
ovulação, quando ela não for adequada; cirurgias recu-
peram problemas da anatomia do aparelho reprodutor,
quando houver alterações, como aderências pélvicas
ou obstrução tubária; a endometriose é tratável pela
videolaparoscopia; os espermatozoides, quando não
estiverem presentes no sêmen, poderão ser retirados
do testículo por mini intervenções cirúrgicas e, por fim,
a fertilização in vitro resolve quase todos os problemas.
Todas essas dificuldades causam uma dor maior ou
menor no sentimento da mulher, e os tratamentos dispo-
níveis para esses problemas aliviam o sofrimento com al-
guma facilidade. De todos os diagnósticos conhecidos, o
mais difícil de ser aceito pela mulher é o da ausência de
óvulos capazes de serem fertilizados, isto é, o ovário não
fabrica mais óvulos capazes de gerar filhos. É um momen-
to de decepção, pois ela acredita que não será mais possí-
56 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

vel ser mãe. Este fato pode acontecer em mulheres jovens


com falência ovariana prematura, também chamada de
menopausa precoce (www.menopausaprecoce.com.br);
em casos de cirurgias mutiladoras, em que são retirados
os dois ovários; em idade avançada, quando os óvulos
produzidos não formam embriões de boa qualidade, ou na
própria menopausa na idade certa (em torno dos 50 anos),
época em que não existem mais óvulos. Nos dias de hoje,
cada vez mais as mulheres retardam o casamento ou a
busca de um filho por darem prioridade à sua formação
e carreira profissional ou à conquista de bens materiais.
Outras, perto dos 50 anos, reencontram uma vida afetiva
feliz num segundo casamento com um homem sem filhos
e que deseja uma família. Para outras, o destino quis que
casassem mais tarde.
Existem também casos de doenças genéticas e
cromossômicas transmissíveis, quando não é possível
ou permitido, por motivos religiosos, o Diagnóstico Pré-
-Implantacional (DPI - www.ipgo.com.br/pgd.html). Não im-
porta o motivo: a solução é a DOAÇÃO DE ÓVULOS. Essas
mulheres podem ser mães e gerar seu(s) filho(s) no seu
próprio ventre, tendo um bebê fruto dos espermatozoides
do seu marido e de um óvulo de uma mulher doadora.
O primeiro impacto desta proposta de tratamento para
essas pacientes é sempre de indignação, acompanhada
de comentários como: “Desta maneira não me interessa”,
“Então este filho não será meu”, “Esta criança não terá as
minhas características, nem o meu DNA”, e outros. Essas
afirmações são feitas por quase todas as mulheres numa
fase inicial. Mesmo quando fornecemos uma vasta quan-
tidade de informações necessárias para a compreensão
desse processo, deixam a clínica frustradas e acreditando
que desistirão de ter filhos para sempre. Mas, após um pe-
ríodo de reflexão e conhecimento, retornam, aceitando esta
Aspectos importantes sobre a Pesquisa e os Tratamentos da Infertilidade 57

opção para ter seus filhos. É muito gratificante cuidar des-


ses casais, porque a tristeza que tinham por considerarem
irreversível a sua fertilidade torna-se uma felicidade inespe-
rada. A doação de óvulos é um tratamento muito sigiloso
que é do conhecimento exclusivo do médico, do casal, e,
algumas vezes, dependendo deles, de alguém muito íntimo
(mãe ou irmã). As doadoras devem ser anônimas, isto é,
não podem ser da própria família nem conhecidas do casal.
Devem ter semelhança física, tipo de sangue compatível e
saúde física e mental comprovadas por exames. A incor-
poração do sentimento de mãe e o espírito de paternidade
após a constatação do sucesso da gravidez é tão grande,
que todos os casais, após esse momento, mal se lembram
de que a gestação foi conseguida por óvulos doados. O que
importa para essas mães é que o bebê veio do seu próprio
ventre. Ela dará à luz, e desse momento em diante, pelo
resto da sua vida será SEU FILHO! E é por este motivo que
um dos capítulos do livro, “Gravidez: caminhos, tropeços e
conquistas”, de minha autoria, tem o título “Bendito o fruto
do vosso ventre”.
FIGURA 7
58 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

FIGURA 8

Biópsia Embrionária
PGD (Pré-Implantation Genetic Diagnosis) ou
DPI ( Diagnóstico Genético Pré-Implantacional)

PGD (Pré-Implantation Genetic Diagnosis) ou DPI


(Diagnóstico Genético Pré-Implantacional) é um exame
que pode ser utilizado no processo de FIV (fertilização
in vitro) com o objetivo de diagnosticar nos embriões
a existência de alguma doença genética ou cromossô-
mica antes da implantação no útero da mãe. Por este
exame, casais com chances de gerar filhos com pro-
blemas como Síndrome de Down, Distrofia Muscular,
Hemofilia, entre outras anomalias genéticas, podem
descobrir se o embrião possui tais doenças ou não.
Essa técnica utilizada em tratamentos de fertilidade
consiste na retirada de uma célula do embrião (biópsia
Aspectos importantes sobre a Pesquisa e os Tratamentos da Infertilidade 59

embrionária), em laboratório, no terceiro dia de desen-


volvimento, quando o embrião tem ao redor de oito cé-
lulas, para análise, antes mesmo de ele ser colocado
no útero. Este procedimento não afeta o futuro bebê e
o resultado pode ser obtido em poucas horas. Também
não deve se tornar um procedimento de rotina para as
mulheres mais velhas que desejam engravidar. Além do
alto custo do exame, existem alguns princípios éticos
e religiosos que devem ser respeitados – como a acei-
tação de uma seleção natural, a não concordância com
o congelamento ou o descarte dos embriões que apre-
sentam problemas e as chances de erro (mosaicismo),
que podem chegar a 10%.

NOTA 4

IMPORTANTE:
POR SER UM LIVRO DE ÂMBITO RELIGIOSO,
NÃO FORAM CONSIDERADOS OS EXAMES E
TRATAMENTOS DE BIÓPSIA EMBRIONÁRIA,
MANIPULAÇÃO GENÉTICA E CROMOSSÔMICA,
DIAGNÓSTICO GENÉTICO PRÉ-IMPLANTACIONAL,
REDUÇÃO EMBRIONÁRIA E CLONAGEM POR
CONTRARIAREM OS PRINCÍPIOS ÉTICOS DE TODAS
AS RELIGIÕES APRESENTADAS.
Capítulo 3

Bioética em
Reprodução Humana
Tatiana Lionço1 e Rosana Castro2

A bioética emerge como estratégia de garantia


dos direitos humanos face ao horror do holocausto e
aos abusos da experimentação científica envolvendo se-
res humanos. Originalmente, propôs como parâmetros
éticos os princípios da autonomia, beneficência, não
maleficência e justiça, mas logo estendeu seu campo de
regulação e crítica para a consideração da vulnerabilida-
de de certos grupos populacionais à violação de seus di-
reitos humanos no contexto da assistência à saúde e da
exposição ou limitação do acesso às novas tecnologias

1 Tatiana Lionço: Doutora em Psicologia pela UnB, pesquisadora da Anis -


Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, professora de Psicologia da
Saúde do UniCEUB/Brasília.
2 Rosana Castro: Antropóloga, mestranda em Antropoloia Social na
Universidade de Brasília, pesquisadora da Anis - Instituto de Bioética, Direitos
Humanos e Gênero.
62 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

biomédicas (DINIZ & GUILHEM, 2002). Assim, A bioética


é um campo de conhecimento e intervenção que visa
proteger os direitos humanos de pessoas envolvidas em
pesquisas científicas e em práticas médicas.
O exercício da medicina envolve, em grande par-
te, experimentação científica, sobretudo nos casos em
que propõe novas tecnologias para fins de viabilização
de mudanças inovadoras nas condições de vida e de
saúde. Essas mudanças, operadas pela biomedicina,
visam inaugurar alternativas à vida e à saúde anterior-
mente não viáveis, mas tornadas possíveis pelos avan-
ços biotecnológicos. Nesse cenário, surgem diversas
questões éticas, sobretudo em relação aos critérios
de acesso às novas tecnologias, mas também quanto
às repercussões que os avanços científicos impõem à
vida e às experiências humanas.
A reprodução humana sempre foi uma experiên-
cia social regulada por práticas culturais e históricas.
Diferentes povos em diferentes momentos históricos
adotaram estratégias tanto para potencializar a fertili-
dade quanto para garantir que as relações sexuais não
acabassem necessariamente em procriação. Em mea-
dos do século 20, avanços biomédicos desencadearam
uma revolução na reprodução humana (BLANK, 1990).
A tecnologia biomédica permitiu desvincular tanto a se-
xualidade da reprodução (pelo uso da pílula anticoncep-
cional), quanto a reprodução humana do coito heteros-
sexual (por meio das novas tecnologias reprodutivas).
Medicações hormonais sintéticas prescritas para fins de
regulação do organismo para a fertilidade, mas também
as técnicas de manipulação de material genético, como
a inseminação artificial e a fertilização in vitro, por exem-
plo, permitiram a viabilização de concepções que não se-
riam consumadas senão por meio dessas intervenções.
Bioética em Reprodução Humana 63

As novas tecnologias reprodutivas, nesse sentido, po-


dem ser definidas como um conjunto de procedimentos
tecnológicos voltado para o tratamento de condições de
infertilidade e infecundidade, por meio de técnicas que
substituem a relação sexual no processo da concepção
de embriões humanos (CORRÊA & LOYOLA, 1999; DINIZ
& COSTA, 2005).
A emergência de experiências de reprodução hu-
mana assistidas no Brasil, na década de 1980, foi acom-
panhada de grande publicidade, tendo sido inclusive
tema de uma novela de grande audiência, a “Barriga de
Aluguel” (CORRÊA, 1997). O tema foi mais largamente
debatido na mídia do que pela comunidade científica ou
mesmo por meio de fóruns públicos de deliberação de
normas e políticas relativas à sua aplicabilidade como
serviço na atenção à saúde da população (CORRÊA,
1997; DINIZ, 2000). A tendência da exposição do tema
na mídia, no entanto, favorece a sobrevalorização das
tecnologias reprodutivas, reforçando a ideia de que o
poder médico teria superado as limitações reproduti-
vas, ocultando suas limitações e silenciando os desa-
fios éticos de democratização desses serviços a possí-
veis usuários que não se encaixam no modelo familiar
heterossexual.
Pode-se observar também uma polarização no de-
bate público sobre a avaliação social das novas tecno-
logias reprodutivas. Apesar de a mídia explorar com
mais frequência os aspectos positivos das tecnologias,
também se veiculam valores negativos sobre os efeitos
desse avanço na medicina reprodutiva. Os avanços tec-
nológicos no campo da reprodução humana são apre-
sentados ora como conquista benéfica da biomedicina,
por meio da exaltação do poder médico na superação
de entraves individuais para a consumação da repro-
64 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

dução humana, ora como práticas de risco, sobretudo


moral, sobre a família e a ordem patriarcal. Abrangem
também o tema da diversidade humana, já que o deba-
te muitas vezes vem acompanhado da sombra da eu-
genia na seleção de embriões (CORRÊA, 1997).
Questões éticas e de proteção aos direitos humanos
fundamentais devem ser consideradas nesse debate, no
qual podemos destacar a contribuição dessas novas al-
ternativas terapêuticas para a manutenção de padrões
morais hegemônicos em relação à ordem de gênero e,
mais especificamente, à família patriarcal. A considera-
ção crítica dessas novas tecnologias biomédicas a partir
da perspectiva da Bioética feminista permitirá questio-
nar os limites da autonomia no acesso à assistência re-
produtiva, sinalizando para a necessidade da defesa dos
direitos humanos como estratégia de enfrentamento do
poder de normatização disciplinar que a medicina pode
impor aos corpos e costumes (FOUCAULT, 1995).
No Brasil, não existe ainda nenhuma legislação
que regulamente os procedimentos de reprodução
assistida. O único documento de que se dispõe para
tanto é a Resolução 1358/923 do Conselho Federal de
Medicina. Este, apesar de não ter força de lei, oferece
as orientações éticas para utilização das novas tecnolo-
gias reprodutivas nas clínicas de fertilização. Nesse do-
cumento estão presentes algumas informações sobre
o que os médicos estão permitidos ou impedidos de
fazer no uso das tecnologias reprodutivas.
Em uma análise das sessões dessa resolução, perce-
be-se uma tentativa de balizar a atividade médica quando
da manipulação de gametas para fins reprodutivos. A uti-
lização de técnicas médicas para realização de procedi-

3 Disponível para consulta em http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/


cfm/1992/1358 1992.htm
Bioética em Reprodução Humana 65

mento de fecundação abriu uma série de novas situações


que impõem dilemas específicos, os quais demandam re-
flexão e regulamentação ética para além dessa resolução.
Diversos aspectos do uso das novas tecnologias concep-
tivas, porém, encontram-se defasados nesse documento,
como a assistência à reprodução para casais não-hete-
rossexuais, a doação de embriões pré-implantados para
pesquisa científica e clonagem humana.
Para este capítulo, foram eleitas algumas questões
éticas sobre a reprodução humana assistida e a regu-
lamentação ética dessa prática. Nas sessões seguintes
serão abordadas problemáticas referentes às tecno-
logias reprodutivas que requerem reflexão crítica, tais
como a compulsoriedade da maternidade, os critérios
de elegibilidade para o acesso às tecnologias reproduti-
vas, as relações entre médicos e usuários e a figura do
embrião extracorporal. Todos esses pontos aqui levan-
tados merecem reflexão ética para que a aplicação de
procedimentos em reprodução assistida e seus efeitos
não contribuam para a violação de direitos humanos.

Um olhar bioético feminista


sobre as novas tecnologias
reprodutivas
A expectativa social pelo cumprimento do papel da
maternidade ganha nova força com a disponibilização no
mercado das novas tecnologias reprodutivas concepti-
vas. Apesar de a reprodução assistida implicar em me-
diação tecnológica da reprodução humana, persiste a
ideia de que a maternidade promovida pelas tecnologias
66 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

reprodutivas seria natural, apenas com uma pequena in-


terferência da ciência. Assim, o fato de a maternidade se
concretizar a partir de etapas como concepção, gesta-
ção e parto parece chancelar a suposta naturalidade dos
procedimentos em reprodução assistida.
De acordo com Luna (2007), as técnicas de repro-
dução assistida teriam como objetivo a produção do
corpo grávido. Nesse sentido, o nascimento de um
bebê não seria necessariamente o foco dos tratamen-
tos, mas sim a realização da gravidez. Para tanto, uma
série de procedimentos são necessários, a grande
maioria deles executados no corpo feminino: exames,
remédios, ultrassonografia, aspiração folicular, fertiliza-
ção e implantação no útero – muitos deles extrema-
mente incômodos e doloridos, envolvendo variados
graus de risco. Nota-se, assim, que a medicalização da
reprodução humana incide particular e principalmente
sobre os corpos das mulheres (CORRÊA, 1997). Mais
do que isso, essa medicalização busca justificativa par-
tindo do pressuposto de que a maternidade expressa
como desejo é algo destinado às mulheres como parte
de sua própria natureza particular, quadro no qual a me-
dicina exerce o papel de intervir tecnicamente quando
a natureza não realiza a maternidade por si só.
Salienta-se, ainda, que aliada à compulsoriedade
da maternidade se apresenta a falibilidade das novas
tecnologias reprodutivas, o que relança a mulher à vul-
nerabilidade ao sofrimento psíquico quando a gravidez
não se consuma por meio da reprodução assistida.
Predomina um silêncio sobre o alto índice de insuces-
so das tecnologias reprodutivas, aliado à exaltação da
tecnologia biomédica e à falsa ideia de que não have-
ria impedimentos para a consumação da procriação
(CORRÊA & LOYOLA, 1999).
Bioética em Reprodução Humana 67

Apesar de a intervenção tecnológica sobre a re-


produção explicitar a não restrição dos processos re-
produtivos a uma suposta ordem natural, tende-se a
atribuir naturalidade à maternidade e mesmo à família
que se visa constituir por meio da assistência reprodu-
tiva. Essa “naturalidade” do processo se reforça a partir
do nascimento de um filho do próprio sangue dos en-
volvidos, mesmo nos casos em que há doação de ga-
metas. Contudo, esse estatuto somente é reconhecido
quando os procedimentos são realizados em um casal
hetorossexual. Nesse sentido, a configuração familiar
legítima e legitimada nesses processos é a tradicional
patriarcal, na qual não há espaço para a homoparen-
talidade ou para mães solteiras. Nessa reprodução da
ordem familiar patriarcal, a posição da mulher como ser
gestante e maternal se reforça pelo advento das tecno-
logias reprodutivas. Explicita-se, assim, um processo
de intensa intervenção médica com vistas ao cumpri-
mento de uma expectativa social sobre as mulheres,
calcada na maternidade.

A relação médico-paciente,
consentimento livre e
esclarecido e vulnerabilidade
Na reprodução assistida, a transferência do mo-
mento da fecundação do ambiente íntimo domiciliar
do casal para o consultório introduziu o médico como
peça indispensável para a procriação. Esse profissio-
68 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

nal está no cerne do atendimento aos usuários dessas


novas tecnologias reprodutivas conceptivas, sendo ele
responsável pela avaliação diagnóstica do casal, pres-
crição e avaliação dos exames e definição da forma de
tratamento (LUNA, 2007).
Há na relação médico-paciente uma assimetria de
conhecimento e de poder (BOLTANSKI, 1989), na qual
o médico se constitui como a autoridade moral perante
os usuários e responsável pelas decisões éticas do tra-
tamento (TAMANINI, 2003). Essa situação pode com-
prometer a autonomia dos pacientes quanto a suas
próprias escolhas, já que todo o processo terapêutico
é conduzido pelo médico. Nesse sentido, para que os
usuários de reprodução assistida tenham condições de
exercer sua autonomia por meio de suas escolhas re-
produtivas, é necessário que essa relação assimétrica
seja atenuada ao máximo possível. Após constatada a
necessidade de utilização das tecnologias reprodutivas
para realização do projeto reprodutivo do casal, é fun-
damental que o médico lhes ofereça, de maneira clara
e acessível, todas as informações possíveis sobre as
opções de procedimentos, o tempo necessário para
fazê-los, os riscos e benefícios destes, seus custos e
as taxas de sucesso e fracasso do tratamento indicado.
Tais informações são essenciais para que os pacien-
tes façam suas escolhas de maneira livre e esclarecida,
podendo inclusive desistir do tratamento de modo a
resguardar sua integridade física e psicológica.
O compromisso ético dos médicos com o resguar-
do dos usuários da reprodução assistida não se encer-
ra com o esclarecimento dos riscos dos procedimen-
tos na assinatura do termo de consentimento livre e
esclarecido. Isso ocorre porque os usuários podem não
ter domínio das categorias médicas e dos procedimen-
Bioética em Reprodução Humana 69

tos e efeitos destes sobre sua saúde. Nesse sentido,


o termo de consentimento não é elemento suficiente
para resguardar a integridade dos usuários nem para
garantir sua autonomia perante as escolhas a respeito
do tratamento. Mesmo após a assinatura do termo, os
médicos ainda estão obrigados a agir de modo a garan-
tir a melhor terapêutica para os usuários, sem que es-
tas lhes causem qualquer malefício. Deste modo, ainda
que o termo de consentimento opere como elemento
de distribuição da responsabilidade entre o médico e
os usuários (LUNA, 2007), já que esses concordam em
realizar os tratamentos apesar dos riscos descritos,
cabe à equipe médica zelar integralmente pelo bem-
-estar dos pacientes em todas as etapas do tratamento.

Critérios de elegibilidade
e normatização da família
A popularização das tecnologias reprodutivas no
Brasil se deveu à apropriação do seu debate pela mí-
dia, que tende a apresentar o tema de modo sensacio-
nalista, idealizando os feitos médicos e omitindo o alto
grau de insucesso que os procedimentos apresentam
na efetiva consumação da procriação (CORRÊA, 1997).
O imaginário popular é o de que a medicina venceu
as limitações biológicas dos casais inférteis, havendo
disponíveis no mercado alternativas terapêuticas que
garantem a realização do projeto reprodutivo de casais
para os quais a relação sexual não vinha viabilizando
uma gestação. Aliada a essa idealização da tecnologia
biomédica comparecem também muitas alusões aos
70 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

efeitos danosos dessas novas tecnologias, tais como


a seleção eugenista de traços genéticos de embriões,
como, por exemplo, o sexo, a viabilização de geração
de descendentes biológicos de homossexuais, a ges-
tação em mulheres solteiras ou em idade avançada,
entre outros.
A regulamentação do acesso às tecnologias repro-
dutivas conceptivas apresenta como premissa moral a
normalidade da família patriarcal (DINIZ, 2000). Mulheres
solteiras e pessoas homossexuais são considerados su-
jeitos inadequados para o acesso à assistência reprodu-
tiva, havendo uma polarização maniqueísta no debate
sobre a qualidade das novas tecnologias reprodutivas:
se, por um lado, persiste a idealização da tecnologia
biomédica na pretensa superação de limites encontra-
dos pelos casais heterossexuais em seu planejamento
reprodutivo, por outro vige a ideia de que pessoas ho-
mossexuais ou fora de relacionamentos heterossexuais
estáveis não estariam aptas a educar crianças.
A questão da elegibilidade dos beneficiários das
tecnologias reprodutivas evidencia esse pressuposto
moral, já que se considera apenas casais heterossexu-
ais inférteis ou infecundos como possíveis beneficiá-
rios da reprodução assistida. Esse pressuposto moral
desconsidera o potencial transgressor que as novas
tecnologias apresentam para a moralidade heteronor-
mativa vigente. Nesse sentido, a prática da reprodução
humana assistida tem mantido afirmações convencio-
nais sobre a sexualidade, o gênero e a reprodução, pre-
dominando a noção de que as tecnologias não mais que
replicariam uma suposta reprodução sexual natural e
heterossexual (DINIZ & COSTA, 2005; CORRÊA & ARÁN,
2008). Um dos principais argumentos para a normatiza-
ção restritiva do acesso às tecnologias reprodutivas é
Bioética em Reprodução Humana 71

o do risco para a criança nascida por esse meio, mas


o risco é o “de que outros arranjos familiares tenham
acesso à tecnologia reprodutiva e constituam famílias
concorrentes à ‘família completa’” (DINIZ, 2000).
Estamos em plena revolução na reprodução hu-
mana, sendo que as tecnologias genéticas e de repro-
dução, implementadas atualmente, abalam as estrutu-
ras sociais fundamentais (BLANK, 1990). Essas novas
tecnologias reprodutivas trazem grandes desafios para
a estrutura familiar tradicional, que era supostamente
natural mas que atualmente se torna possível apenas
pela intervenção biomédica, nos casos de infertilidade
e infecundidade.
Não cabe, portanto, delimitar uma diferenciação
entre reprodução natural e reprodução artificial: diver-
sas experiências de reprodução humana, atualmente,
são mediadas tecnologicamente, mesmo entre casais
heterossexuais, e mesmo as experiências de procria-
ção não convencionais carregam a marca indelével da
biologia humana e da genética. No Brasil, por exemplo,
houve o caso, amplamente noticiado pela mídia im-
pressa e virtual, de duas mulheres lésbicas que produ-
ziram uma gestação que abalou a própria noção de ma-
ternidade. O óvulo de uma delas foi fertilizado in vitro
por material seminal adquirido em banco de esperma,
tendo sido implantado o embrião no útero da segunda
mulher. Do ponto de vista médico, o bebê seria filho
daquela que transmitiu a carga genética; do ponto de
vista jurídico, mãe é aquela que gestou o bebê. Esse é
apenas um exemplo de como as tecnologias reproduti-
vas permitiram a realização de novas formas de consti-
tuição de linhagens familiares, apesar de ser um tema
polêmico e que é atravessado por discursos morais so-
bre o que haveria de ser uma família “normal”.
72 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Na perspectiva dos direitos humanos, é fundamen-


tal resgatar o direito à constituição de família como direi-
to universal. A esse direito não caberiam exclusões, ape-
sar de a família patriarcal ser uma forma de constituição
familiar hegemônica em várias sociedades. Isso significa
que as novas tecnologias reprodutivas abrem a possibi-
lidade de constituição de famílias para muitas pessoas
que supostamente não teriam condições de procriar, e
o desafio contemporâneo é não tornar valores morais
majoritários parâmetro para a exclusão de determinadas
pessoas do acesso à reprodução humana assistida.

Manipulação genética
e destino de embriões
A criação de técnicas que permitem a fecundação
fora do corpo feminino inaugurou uma série de novas
situações para as quais a reflexão ética se mostra fun-
damental (NOVAES & SALEM, 1995). Um dos maiores
desafios éticos das novas tecnologias reprodutivas diz
respeito a pessoas e embriões que não estarão envol-
vidos na configuração familiar viabilizada pela reprodu-
ção assistida. As questões da barriga de aluguel, dos
doadores de esperma e dos embriões excedentes e
não implantados no útero merecem reflexão.
De acordo com a Resolução 1358/92 do Conselho
Federal de Medicina, é proibida a prática de doação tem-
porária do útero, popularmente conhecida como “barriga
de aluguel”, salvo quando a doadora mantiver parentesco
de até segundo grau com a mulher impedida de gestar o
bebê em seu próprio útero. Essa restrição não se funda-
Bioética em Reprodução Humana 73

menta apenas em questões de incompatibilidade orgâni-


ca, mas sobretudo visa coibir o uso instrumental do corpo
feminino com fins comerciais. Dessa forma, é proibida a
prática de comercialização do útero para fins de gestação
de um embrião gerado por meio de fertilização in vitro.
Essa prática, no entanto, é corriqueira no País, e
uma rápida busca pela ferramenta Google a partir do ter-
mo “barriga de aluguel” denuncia que muitas mulheres
se disponibilizam a alugar o útero a terceiros em troca de
dinheiro. Essa é uma situação que vulnerabiliza tanto a
mulher doadora do útero quanto o casal que busca for-
mas de consumar o seu desejo procriativo. A mulher do-
adora se encontra em situação de assimetria de poder, já
que sua disponibilidade tem fundamento na dificuldade
econômica, e também porque quando o acordo sobre a
gestação é realizado ela não pode prever a repercussão
emocional que a experiência da gestação irá ter sobre
seus projetos de vida. Por outro lado, o casal que doou
material genético para a fecundação do embrião, ao se
expor a uma prática ilícita, não tem assegurado o direito
ao acesso ao bebê após o nascimento, devendo recorrer
à Justiça. A manutenção da possibilidade de utilizar um
útero temporariamente doado para a reprodução assisti-
da apenas em caso de parentesco próximo visa assegu-
rar que hajam laços entre todos os envolvidos, inclusive
com a mulher que gestou o bebê em seu útero.
A doação de gametas também não pode ter fins
comerciais de acordo com a Resolução 1358/92 do
Conselho Federal de Medicina. A norma determina que
a identidade dos doadores de gametas e receptores de
material seminal ou ovular seja mantida em sigilo, res-
guardando o anonimato dos envolvidos e prevenindo,
assim, conflitos éticos que poderiam emergir da dispu-
ta pela responsabilidade na concepção.
74 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

A fertilização in vitro (FIV) é o procedimento que


propiciou o surgimento do embrião extracorporal. Esta
tecnologia permite a criação de embriões em labora-
tório para posterior implantação no útero da mulher.
Desse modo, pode-se identificar, em termos gerais,
a FIV como procedimento que cria embriões fora do
corpo feminino (CORRÊA, 2005). Nesse processo, re-
correntemente são produzidos mais de quatro embri-
ões por procedimento, quantidade máxima estipulada
pela norma médica para a implantação de embriões no
útero com segurança para a mulher e para os futuros
fetos. O excedente não transferido para o corpo femini-
no não pode ser destruído e obtém destinação a partir
da decisão dos genitores (Resolução CFM nº 1358/92).
Essa produção supranumerária de embriões visa
cobrir possíveis falhas e perdas nas diversas etapas que
compõem os procedimentos de reprodução assistida.
Devido à impossibilidade de controlar esses eventos,
a solução encontrada foi a superprodução de óvulos –
por meio da hiperestimulação ovariana – e de embriões
(CORRÊA, 2005). Esse processo, que visa a ampliação
da margem de sucesso do tratamento para engravidar
(DINIZ & CORRÊA, 2000), faz com que o resultado dos
procedimentos de reprodução assistida não seja so-
mente a gravidez, mas também um montante de embri-
ões que precisam receber destinação. Dentre os des-
tinos possíveis atualmente para esses embriões exce-
dentes está o congelamento em tanques de nitrogênio
líquido, a doação para pessoas usuárias da reprodução
assistida e a sua utilização em pesquisas científicas en-
volvendo células-tronco embrionárias.
De acordo com a Resolução CFM 1358/92, os
embriões excedentes produzidos a partir de FIV não
podem ser eliminados ou destruídos, sendo os labo-
Bioética em Reprodução Humana 75

ratórios obrigados a mantê-los congelados por tempo


indeterminado4 caso os genitores não lhes dêem outra
destinação. No momento da coleta de gametas para
fertilização, os genitores são chamados a explicitar qual
destino deve ser dado aos embriões extracorporais su-
pranumerários em caso de doença grave ou falecimen-
to de uma das partes, ou divórcio. Aos usuários, cabe
também expressar o desejo pela doação dos embriões
excedentes criopreservados.
Os embriões não implantados no útero podem tam-
bém ser destinados para a realização de pesquisas cien-
tíficas. No mês de maio de 2008, o Supremo Tribunal
Federal passou a permitir que o Brasil desenvolva pes-
quisas a partir de células-tronco embrionárias. A partir
de então, os laboratórios estão autorizados a manipular
embriões humanos de modo a produzir conhecimento e
terapêuticas a partir de células totipotentes. Os embri-
ões a serem utilizados nesses procedimentos são aque-
les excedentes de tratamentos de reprodução assistida,
os quais somente podem ser doados para pesquisa com
o consentimento dos genitores e se estiverem congela-
dos há mais de três anos (Brasil, 2005)5. Contudo, as di-
versas possibilidades de destinações para os embriões
extracorporais, todas submetidas ao consentimento li-
vre e informado dos genitores, não eliminam os desafios
éticos impostos pela existência do embrião extracorpo-
ral. Caso os genitores decidam doar embriões para ou-
tros casais, por exemplo, esbarram no fato de não haver

4 A interdição para descarte ou destruição de embriões humanos está atrelada


à proibição da realização de aborto no Brasil (Lei 2848, de 1940 – Código Penal).
Evidencia-se, assim, a centralidade do embrião nos debates públicos sobre
aborto, pesquisas com células-tronco e regulamentação da RA no Brasil.
5 Ressalte-se, ainda, que todos os projetos de pesquisa envolvendo embriões
humanos deverão passar por avaliação de um Comitê de Ética em Pesquisa e
da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Ver Resolução CNS 196/96.
76 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

qualquer legislação que regulamente os termos dessa


transação, bem como a responsabilidade de cada uma
das partes sobre o futuro bebê.
Merece consideração, ainda, a seleção e manipula-
ção de embriões para implantação no útero. O procedi-
mento de escolha de embriões com determinadas ca-
racterísticas, mesmo que para aumento da efetividade
do tratamento e satisfação dos usuários, é um tema que
desafia da discussão sobre reprodução humana assis-
tida em termos éticos. Entre aqueles embriões que se-
rão de fato implantados no útero, existem alguns que
podem sofrer manipulações genéticas de modo a evitar
que determinadas enfermidades genéticas e hereditá-
rias sejam desenvolvidas. Para esses casos específicos,
a Resolução 1358/92 do Conselho Federal de Medicina
permite que seja feita a manipulação do embrião.
Mas há casos em que a manipulação genética
não é permitida, tais como a definição de característi-
cas físicas – como cor da pele, dos olhos e dos cabelos
– ou eliminação de deficiências. De acordo com Costa
(2006), a manipulação de embriões para determinação
do sexo de futuros bebês é um dos pontos mais recor-
rentes de violação da Resolução do CFM. Nessas situ-
ações, preocupa eticamente manipulações que visem
um “melhoramento da espécie”, no sentido de eliminar
diversidades corporais que fujam de padrões estéticos,
funcionais e raciais hegemônicos.

Considerações Finais
Essa primeira aproximação ao tema da ética impli-
cada na assistência à reprodução humana visa conside-
Bioética em Reprodução Humana 77

rar a autonomia dos usuários dessas tecnologias bio-


médicas, por meio de um diálogo real e claro com os
profissionais de saúde que conduzem os tratamentos.
Diferentes indivíduos que realizam seu planejamento
familiar e que reconhecem nas tecnologias reprodu-
tivas uma oportunidade para o desejo da procriação
apresentam modos de vida diversos, não cabendo ao
profissional da saúde a aprovação moral ou não de uma
dada constituição familiar.
O olhar bioético é fundamental nesse processo
por aproximar as decisões éticas no campo da assis-
tência reprodutiva aos direitos humanos fundamentais.
A adoção de tecnologias biomédicas deve estar com-
prometida com a promoção da autonomia e liberdade
das pessoas, e não com a manutenção de padrões mo-
rais hegemônicos e com a hierarquização de valor ins-
taurada na comparação entre seres humanos distintos
entre si. Os procedimentos de manipulação genética
de embriões com a intenção de eliminação da diversi-
dade humana considerada indesejada merecem espe-
cial atenção dado seu viés discriminatório e eugênico.
Da mesma forma, a restrição do uso das tecnologias
reprodutivas a indivíduos que aderem à configuração
familiar patriarcal e heterossexual deve ser considerada
criticamente, dado o caráter discriminatório do não re-
conhecimento da legitimidade de famílias homossexu-
ais ou formadas por mães solteiras. Por fim, alertamos
para a urgência de uma legislação que regulamente os
procedimentos envolvendo tecnologias reprodutivas e
na qual os abusos sejam rechaçados e o respeito aos
direitos humanos resguardado.
Capítulo 4

Biodireito
em Reprodução Humana
Fabio Daniel Romanello Vasques1

T oda vez que tratamos ou conversamos sobre os


procedimentos ou formas de reprodução assistida, do-
ação de espermas ou óvulos, trazemos à tona as atuais
notícias que envolvem os procedimentos médicos que
visam à constituição de uma família.
A origem da vida e a existência do homem po-
dem ser explicadas pela Bíblia ou pelos ensinamentos
científicos.
Numa leitura jurídica antiga, tínhamos a ideia da
família vinculada à religião, num formato em que o ca-
samento tinha o fim primário, que é a procriação e a

1 Fabio Daniel Romanello Vasques, advogado, Mestre em Direito na Sociedade


da Informação pelas Faculdades Metropolitanas Unidas; professor da Escola
Superior da Administração, Marketing e Comunicação de Santos – ESAMC
Santos e Universidade Presbiteriana Mackenzie
80 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

educação da prole e o secundário, que consiste na co-


laboração mútua e no remédio concupiscência.
Buscando fundamentar o conceito de família, o
falecido jurista Edgard De Moura Bittencourt, em sua
obra antiga “Família”, cita um civilista na época que en-
sinava seus alunos que tratava a família como um fato
natural; não cria do homem, mas da própria natureza.
Segundo ele o professor assim falava aos seus alunos:
“(...) Que é que vedes quando vedes um homem
e uma mulher, reunidos sob mesmo teto, em torno de
um pequenino ser, que é fruto do seu amor? Vereis uma
família...”
Os conceitos apresentados demonstram uma
ideia antiga para família, em muito diversa das famílias
atuais, com núcleos familiares totalmente fora dos pen-
samentos religiosos.
Na sociedade moderna, não podemos restringir
a existência da família ao núcleo tradicional do pai e
mãe, casados, que geram filhos. Houve mudanças na
sociedade, revoluções culturais, especialmente em de-
corrência do acesso à informação.
Tais transformações, como não poderia deixar de
ser, revolucionaram todas as áreas da vida humana, in-
cluindo a biologia e a medicina. Aliás, os avanços nes-
ses campos foram maiores nos últimos 50 anos do que
nos 50 séculos anteriores.
Podemos hoje falar da possibilidade de reprodu-
ção, sem qualquer tipo de conjunção carnal, algo im-
pensado em tempos antigos. Essa possibilidade de
procriação sem sexo deriva de todo o desenvolvimento
da sociedade, sendo este potencializado pelos estudos
científicos, desde a antiguidade até os momentos atu-
ais, bem como pelos avanços tecnológicos proporcio-
Biodireito em Reprodução Humana 81

nados pela sociedade contemporânea, pela desvincu-


lação das regras religiosas, pela busca do sexo livre e
pela equiparação de direitos entre homens e mulheres.
Toda essa revolução da busca da vida digna e uma
sociedade humana mais justa e igualitária, deriva dos
princípios norteadores da Revolução Francesa: liberda-
de, igualdade e fraternidade.
A família é tratada também na Declaração Universal
dos Direitos Humanos, de 1948, em seu Art. XVI, 3,
que coloca a família como ponto básico de toda a
sociedade:
“a família é o núcleo natural e fundamental da so-
ciedade e tem direito à proteção da sociedade e do
Estado.”
Dessa mesma forma, observando toda a revolu-
ção cultural e social que acontece, especialmente em
nosso País, em 1988 foi promulgada A Constituição da
República, a Constituição Cidadão, um grande marco
na democratização e difusão da justiça social no Brasil.
Após anos de cerceamento, a Constituição vigente
buscou alterar aquela realidade até então vivida e, as-
sim, a ideia de família nela descrita está voltada à sua
instituição.
Dentre as principais primícias de nossa Lei Maior
estão princípios da dignidade humana. Podendo esse
ser considerado como uma cláusula geral de tutela dos
direitos da personalidade.
O direito ao livre planejamento familiar está pre-
visto no parágrafo 7º do artigo 226 da Constituição da
República nos seguintes termos:
Artigo 226. Fundado nos princípios da dignidade da
pessoa humana e da paternidade responsável, o plane-
82 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

jamento familiar é livre decisão do casal, competindo


ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos
para o exercício desse direito, vedada qualquer forma
coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.
O Código Civil vigente, ainda que se tenha espe-
rado décadas para sua promulgação, reconhece essa
nova forma de núcleo familiar, estabelecendo em seus
artigos 1.596 e seguintes, as normas quanto à filiação.
O professor JORGE SHIGUEMITSU FUJITA fala que
no século 20 houve mudanças que alteraram o modelo
da família em que o marido era o chefe da sociedade
conjugal, sendo a ele pertinente todas as atribuições,
não havendo limites de seus mandos. Para o ilustre au-
tor, “A filiação biológica pode resultar do casamento,
da união estável ou de uma relação concubinária. Mas
pode decorrer de uso de uma das técnicas da repro-
dução humana assistida, homóloga ou heteróloga...”.
Acrescenta ainda:
O conjunto do ato sexual e das intervenções da re-
produção medicamente assistida pode considerar-se
como integrado numa ação significativa única de amor
do casal. Consequentemente, é o amor, tendencial-
mente procriador, de um casal infértil, e o ato técnico
que estabelecem a unidade entre a sua vida conjugal
e as técnicas da reprodução assistida a que ele se
submete. Poder-se-ia dizer até que as próprias dificul-
dades físicas e psicológicas dessas técnicas consti-
tuem uma prova de amor recíproco do casal, a prova
de amor com o nascituro. Mas, pela falta de uma si-
tuação ideal, as técnicas de reprodução assistida são
consideradas o último recurso.
Mas a busca pela fertilização, qualquer que seja
o método aplicado, visa principalmente à constituição
de um núcleo familiar, seja ele qual for, o moderno
Biodireito em Reprodução Humana 83

ou o tradicional. Fato é que, além do desenvolvimen-


to contínuo de técnicas de reprodução assistida, o
número de clínicas especializadas em reprodução
humana cresce a cada ano, bem como o número de
mulheres e casais que buscam esses procedimentos.
Importante frisar que a manipulação genética huma-
na, a redução embrionária (aborto seletivo de fertili-
zação artificial) e a cessão de útero ou a reprodução
humana mediante gestação substituta (barriga de
aluguel) não estão reguladas por nosso ordenamento
jurídico. Logo, acabamos por nos ater às questões
éticas e às regras emanadas dos Conselhos Federal
e Regional de Medicina atinentes a cada espécie de
procedimento.
Mas a possibilidade de gerarmos uma família, ou,
colaborar para que outras pessoas possam realizar o
sonho da maternidade está ligado ao nosso íntimo e às
informações que trazemos de nossas próprias famílias.
Ainda, para fazer ou colaborar para a utilização de qual-
quer procedimento de reprodução assistida, contamos
necessariamente com a participação de profissionais
da área médica.
Esses profissionais, assim como qualquer outro
profissional que tenha acesso à informação íntima de
outro ser humano, tais como os advogados, psicólo-
gos, psiquiatras e até mesmo os religiosos, devem res-
peitar regras básicas de procedimento, especialmente
aquelas com condizem em não expor ou individualizar
situações a outras pessoas.
O juramento de Hipócrates, realizado por todos os
formandos de medicina, é, em sua essência, um do-
cumento que positiva a conduta moral e ética do pro-
fissional de medicina. Todas as colocações apontadas
não tratam de nada além da ética.
84 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Um trecho do juramento trata o seguinte:


“Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo
o meu poder e entendimento, nunca para causar dano
ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem
remédio mortal nem um conselho que induza à perda.
Do mesmo modo, não darei a nenhuma mulher uma
substância abortiva”.
Ética e bioética são questões ligadas muitas vezes
ao íntimo de cada cidadão ou, no caso, médicos e cien-
tistas. Mas “a preocupação com a vida humana não se
dá apenas na forma de simples respeito, como tam-
bém na defesa ativa, perfeitamente identificável nas
Cartas dos direitos internacionais, que estabelecem a
“inviolabilidade da vida”.
O termo ética deriva de dois vocábulos gregos: o
primeiro seria o costume, e o segundo entendido como
comportamento resultante da repetição dos mesmos
atos.
De acordo com o professor José Carlos Souza Silva,
“A ética estuda o comportamento do homem livre dian-
te de si próprio e do meio em que vive. Tem como fi-
nalidade traçar-lhe deveres no plano mental, exigindo-
-lhe a prática do bem. Se o homem tem liberdade para
comportar-se, pode, se quiser, agir eticamente. A ética
não se esgota na teoria, ela é prática do bem, e praticar
o bem é agir respeitando os valores morais que estão
dentro da consciência individual e coletiva. E, assim, ela
exerce o poder de censura sobre as relações sociais”.
Derivada da ética, a bioética visa à discussão e à con-
servação dos valores humanos e de sua dignidade, além
dos valores morais, não se resumindo aos valores morais
das pessoas, aqueles valores atingidos pelo desenfreado
desenvolvimento científico.
Biodireito em Reprodução Humana 85

Melhor entendimento pode dizer que “A bioéti-


ca deve ser um instrumento intelectual de reflexão e
elaboração de critérios cuja finalidade precípua deve-
rá ser a proteção do ser humano”. A origem do termo
ocorreu à primeira vez em 1970, com o oncologista Van
Rensselaer Potter, em seu artigo The sience of survi-
val, “Definida como o estudo sistemático da conduta
humana no âmbito das ciências da vida e da saúde,
considerado à luz de valores morais”.
Do direito, com toda essa diversidade de novi-
dades, passamos a tratar da bioética, uma forma de
estudo sistemático da conduta humana no âmbito
das ciências da vida e da saúde, considerada à luz de
valores e princípios morais, dentro de um contexto
jurídico.
Cumpre relembrar que, para muitas situações,
novas para a sociedade, por exemplo, o procedi-
mento de utilização de útero alheio, vulgarmente co-
nhecido como barriga de aluguel, não é definido em
nosso ordenamento Jurídico, estando os julgadores
e médicos atrelados às regras estabelecidas pelo ór-
gão médico.
Outro ponto muito discutido recai quanto ao arma-
zenamento de embriões. Seria correto, no caso de fale-
cimento de um dos cônjuges, ou na separação destes,
sua utilização? Muitos autores que tratam a matéria
visam evitar a coisificação do ser humano. O embrião
não pode ser tratado como uma coisa, um objeto. A
discussão sobre a quem cabe o material genético no
caso de separação é muito debatida. Sua utilização in-
devida, por qualquer um dos cônjuges, seja pelo fale-
cimento ou pela separação do casal, poderá criar situa-
ções jurídicas de difícil solução.
86 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Imaginemos, após a morte do marido ou compa-


nheiro, ultrapassado todos os atos da sucessão, tais
como inventário e partilha dos bens, o que ocorreria
se a mulher utilizasse o embrião congelado de seu fa-
lecido marido e se tornasse mãe? Essa criança, assim
como os irmãos já existentes, tem o mesmo pai, faleci-
do, e, por sua vez, pode vir a ter direitos de sucessão,
como seus irmãos.
Importante ressaltar que nossa legislação (Código
Civil) já reconhece a paternidade fora do “conceito
tradicional”:
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância
do casamento os filhos:
I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois
de estabelecida a convivência conjugal;
II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dis-
solução da sociedade conjugal, por morte, separação
judicial, nulidade e anulação do casamento;
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mes-
mo que falecido o marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de
embriões excedentários, decorrentes de concepção
artificial homóloga;
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, des-
de que tenha prévia autorização do marido.
Mas imagine uma ex-mulher que, de má-fé, utilize
o embrião sem autorização do ex-marido. Podem, daí,
surgir muitas consequências jurídicas, e algumas delas
podem atingir a parte econômica do ex-marido.
Analisando casos análogos, a doutrina manifesta
que, quando da contratação do serviço de criopreser-
vação, deve, nesse ato, existir a expressa manifestação
dos titulares (casal contratante), quanto ao destino do
embrião, seja na separação dos contratantes ou “post
Biodireito em Reprodução Humana 87

mortem”. Importante ressaltar ainda que a Resolução


1358/92 do Conselho Federal de Medicina não autoriza
o descarte do embrião.
A Consulta 20.631/98, realizada junto ao Conselho
Federal de Medicina, estabelece o intuito de obrigar o
casal contratante a definir o destino dos embriões con-
gelados em um prazo máximo de três anos. Tal período
levou em consideração a possibilidade de transferência
“a fresco” do material, e ainda evitar a superpopulação
de pré-embriões nas clínicas..
Devemos sempre considerar que nenhum embrião
pode ser transferido, destruído ou usado para pesqui-
sa, sem que haja um acordo mútuo entre o casal.
É de suma importância que o casal, nesse momen-
to de muita tensão e incertezas, tenha conhecimento
de que não estamos tratando de algo, mas de um ser.
Caso não seja possível a continuidade do casamento,
seja pela morte, seja pela separação, ambos devem es-
tabelecer as regras vindouras, ou mesmo pactuar que
a transferência dos embriões criopreservados somente
será realizada mediante a autorização expressa do casal.
Assim, para a análise das questões éticas nos pro-
cedimentos médicos, buscamos entender cada atitude
das partes e qual a real circunstância e situação.
Muitos doutrinadores tratam a respeito do tema,
mas aqui traço a colocação da médica e advogada Lilian
Maria Albano: para ela a Bioética está dividida em ge-
ral, especial e clínica. A geral está vinculada aos valores
da ética médica e às fontes documentais. A especial
está atrelada aos grandes dilemas médico-biológicos,
como a engenharia genética, o aborto, a eutanásia e
a experimentação clínica. Por fim, a clínica analisa os
valores e princípios, a fim de aplicá-los a uma situação
concreta da medicina.
88 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Todavia, há um estudo das atitudes do médico


ante ao paciente. Essas atitudes seriam exatamente a
forma com que ele informa ao paciente de todos os as-
pectos que envolvem a doença ou procedimentos a se-
rem adotados, de forma clara, expositiva e explicativa,
visando não pairarem dúvidas ou lacunas na compreen-
são, ou, quando não for habilitado, melhor dizendo, não
tiver conhecimento técnico para determinada atividade
ou tratamento, indicar um colega que possa proporcio-
nar ou informar sobre um tratamento, ajudar a decidir e
dar apoio às decisões tomadas pelo paciente.
Concluímos que os princípios éticos ligados à me-
dicina e aos procedimentos médicos adotados perse-
guem a linha limítrofe entre a lei e a necessidade de
desenvolvimento de técnicas ou medicamentos para a
melhora da vida, ou sua manutenção.
Sem dúvida, as legislações vigentes podem punir
aquele que as transgride, mas a ética de cada um deve
observar o limite de cada regra.
Capítulo 5

Ortodoxismo
Entrevista com o Padre Gregório Teodoro
(Arquidiocese de São Paulo e de todo o Brasil)

“Eu os conduzirei ao Monte Santo e os encherei de alegria em minha


casa de oração...” (Is 57,6)

T radicionais em seus costumes, a Igreja Ortodoxa


existe há quase dois mil anos e é mundialmente conhe-
cida por seus milhares de fiéis, que são chamados de
cristãos ortodoxos. De longe, parece uma tradicional
Igreja Católica, mas não é; tem características de uma
arquitetura planejada com minuciosos detalhes de um
estilo clássico de Igreja antiga.
Silenciosa ao ponto de se ouvir o eco da própria res-
piração, a Catedral Ortodoxa é bela e possui um grande
espaço para receber os fiéis nos dias de missa.
Os ortodoxos prezam pela constituição base de
uma família, e acreditam que o sexo é algo sagrado e
que, dentro do casamento, é algo saudável. Na entre-
vista com o Padre Gregório Teodoro, da Igreja Ortodoxa
(Arquidiocese de São Paulo e de todo o Brasil), ele com-
parou o sexo com um sacramento.
92 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Quando se trata de métodos de reprodução huma-


na, a Igreja Ortodoxa pensa no casamento, no valor do
matrimônio e na união do homem e da mulher aprovada
por Deus e sob sua vontade. Os ortodoxos acreditam
que essa união é algo abençoado por Deus para fortale-
cer o amor e para as pessoas viverem juntas com a sua
graça. Segundo o Padre Gregório, os filhos para os orto-
doxos são uma benção e devem ser expressão e conse-
quência do amor do casal e da sua união.
No entanto, na Igreja Ortodoxa, a finalidade do matri-
mônio não é primeiramente a “procriação”, e sim a felici-
dade do casal. “Quando entra na questão das dificuldades
que se possa enfrentar para gerar uma família, os ortodoxos
em primeiro lugar colocam tudo o que for útil para sua vida
espiritual e física. Portanto, não temos restrições aos trata-
mentos de fertilização”, diz o Padre Gregório. Segundo ele,
os ortodoxos não fazem distinção entre aquilo que é bené-
fico espiritualmente ou fisicamente. Porém, pensam muito
nesse sentido, respeitando o ciclo natural de vida criado
por Deus, até onde for possível respeitar aquilo que é da
natureza do ser humano. No entanto, a Igreja Ortodoxa não
proíbe terminantemente outro meio de gerar uma criança.
O que eles consideram como primordial é pensarmos no
aspecto de que os filhos não só são uma benção de Deus
mas também podem contribuir para a união e felicidade do
casal, pois essa é a finalidade do sacramento. “Cada caso é
um caso, e nós não generalizamos”, afirma o Padre.
Quanto aos tratamentos de forma individualizada, no
caso do coito programado ou “namoro programado”, “O
casal primeiro, deve conversar muito a respeito, deve con-
sultar sua própria consciência, rezar, e também procurar
orientação da Igreja”, ressalta o entrevistado. O ideal é que
os casais tenham um diretor espiritual e um padre que os
acompanhe sempre nesses momentos mais difíceis, em
que eles precisam de orientação. A figura do pai espiritual
Ortodoxismo 93

na Igreja Ortodoxa é muito importante a todos os fiéis, pois


é ele que aconselha o casal em qualquer momento difícil.
Padre Gregório diz: “Para nós, a Igreja deve ajudar o
casal em tudo aquilo que, no final, nós vemos que con-
tribuirá para a sua salvação. Então, ter filhos pode estar
nessa caminhada do casal e a Igreja não vai dizer que
você pode, ou não, ter filhos por outros meios que não
os naturais. Pode. É claro! O que nós recomendamos é
que o casal consulte o seu diretor espiritual, para que não
haja peso na consciência. Quanto aos princípios da Igreja,
ela não proíbe os tratamentos, tanto que fica de portas
abertas para que o casal se oriente e, se for por bem, que
opte por algum método da medicina da reprodução, que
irá ajudá-los a serem felizes, e terem filhos”.
Em relação ao congelamento de embriões, os ortodo-
xos acreditam que é um procedimento que foge um pouco
dos padrões da Igreja. “Uma coisa é você ajudar em um
processo que deveria ser natural, e que há dificuldades por
um problema do casal ou de um dos parceiros. Mas isso
já acho um procedimento muito frio e mecânico, pois ter
filhos deve envolver o amor, o relacionamento, e não só um
planejamento”.
O método de doação de embriões, sêmen e óvulos
não é aceito pela doutrina Ortodoxa. “Nós diríamos ao ca-
sal: adote um criança, tem tanta criança precisando de
amor, carinho e uma família. Entendemos que o ideal se-
ria um bebê do resultado do amor dos dois, mas esse
amor pode ser todo transferido para uma criança adoti-
va”, finaliza Padre Gregório.

QUADRO GERAL
FIV
Coito Inseminação (Fertilização Doação de Congelamento Congelamento deDoação
sêmen/
programado artificial embriões de óvulos de embriões
in vitro) óvulos
LIVRE LIVRE LIVRE LIVRE
CONTRA CONTRA CONTRA
ARBÍTRIO ARBÍTRIO ARBÍTRIO ARBÍTRIO
Capítulo 6

Judaísmo
Entrevista com o Rabino Chamai Ende especialista
em Leis Judaicas, da Sinagoga Beit Chabad do Brasil

“Dê a seu filho raízes. Mais tarde, asas.” (provérbio judaico)

C onsiderada a principal entre as religiões mo-


noteístas, o Judaísmo originário das crenças do povo
judeu é estruturado em três pilares principais: a Torá,
boas ações e adoração. Por ser uma religião que super-
valoriza a moralidade, grande parte de seus preceitos
baseia-se na recomendação de costumes e comporta-
mentos “retos’’, com o dever a pratica da justiça, amor
e misericórdia, caminhando humildemente nas sendas
divinas. O Deus apresentado pelo Judaísmo é uma en-
tidade viva, vibrante, transcendente, onipotente e justa.
Não é uma religião de conversão; efetivamente respei-
ta a pluralidade religiosa, desde que não venha a ferir
os preceitos do judaísmo.
A prática da religião está presente no dia a dia do
judeu com especial atenção à sua alimentação, que de-
ver ser livre de substâncias consideradas impuras; para
96 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

tanto, é adotado um cardápio específico, denominado


kosher. O Shabat, ou dia do descanso, também é fiel-
mente seguido do pôr do sol da sexta-feira até o pôr
do sol do sábado, celebrado com orações, leituras e
liturgias na Sinagoga, o templo judaico.
As escrituras sagradas, leis, profecias e tradições ju-
daicas remontam a aproximadamente 3.500 anos de vida
espiritual e estão registradas em duas principais leituras:
a Torá, também conhecida como Pentateuco, correspon-
dente aos cinco primeiros livros do antigo testamento bí-
blico, e o Talmud, uma coleção de leis que inclui o Mishná,
compilação em hebraico das leis orais, e o Gemará, co-
mentários de rabinos sobre essas leis em aramaico.
No Brasil, a religião surgiu no século 19, com a imi-
gração de aproximadamente 5,5 milhões de judeus, en-
tre 1870 e 1920. Hoje, o judaísmo é praticado por cerca
de 15 milhões de pessoas em todo o mundo.
“O Judaísmo dá importância ao trabalho médico.”
Essa foi a primeira observação feita, durante a entrevis-
ta, pelo Rabino Chamai Ende, especialista em leis judai-
cas da sinagoga Beit Chabad do Brasil. Para ele, as do-
enças e deficiências são fragilidades colocadas na vida
do homem por Deus. Contudo, segundo a visão judaica,
o homem pode intervir para sua cura, e ele ressalta que,
em uma das leis orais, Deus diz que devemos ouvir os
médicos. O Rabino explica que Deus atribuiu ao médico
a força de curar, sendo ele o responsável por este dom.
O médico tem como obrigação se especializar ao máxi-
mo para vencer as doenças e fragilidades humanas.
Quanto aos métodos da medicina atual, o Rabino
salienta que apenas em três situações, ainda que para
evitar risco de morte, os princípios judaicos não abrem
mão da religião e vetam; são elas: idolatria, homicídio
e relações incestuosas.
Judaísmo 97

Com muita convicção no que diz, o Rabino Chamai


Ende cita que dentro das leis judaicas tudo deve ser
feito para a construção de uma família, desde que esse
filho seja fruto de um casamento realizado sob os pre-
ceitos da religião judaica, sendo vetada qualquer forma
de ajuda para casais que não se enquadrem nela, seja
por médicos judeus ou não judeus.
Perguntado sobre os métodos de inseminação
artificial, o Rabino declara que os três tratamentos
são aprovados pelos judeus. Porém, ele cita algumas
recomendações específicas de cada procedimento.
O coito programado é aceito, desde que seja feito
dentro das leis da religião, como foi esclarecido no
começo do capítulo. Além do apoio da religião, o ca-
sal com dificuldade para engravidar encontra todo o
apoio dentro da comunidade judaica para a realização
de seu sonho.
No caso da inseminação artificial e da fertilização
in vitro. O religioso explica que há algumas recomen-
dações que devem ser respeitadas. A maneira como o
sêmen é retirado, para ambos os tratamentos não pode
ser da forma costumeira. Ele explica que deverá ocorrer
uma relação sexual entre o casal e a coleta do sêmen
deve ocorrer utilizando-se uma camisinha especial.
Quanto ao procedimento de congelamento de
óvulos e embriões, a prática é aceita desde que com
acompanhamento de um rabino, assim como nos
outros métodos, e com a garantia de que estes não
serão utilizados por outra pessoa. Mesmo quando o
rabino cita a obrigação do casal judeu de ter filhos,
faz questão de lembrar que são totalmente contra a
doação de embriões. O mesmo vale para doação de
sêmen e óvulos.
98 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Dentro dos costumes judaicos, todos os proce-


dimentos de uma inseminação assistida precisa do
acompanhamento e da supervisão de um rabino em to-
das as etapas, desde a coleta do sêmen e óvulos até e,
principalmente, o processo da fecundação. Hoje exis-
tem rabinos especializados nesta área para auxiliar os
casais judeus com esse tipo de tratamento.
“Nós consideramos o casamento algo sagrado.
Gerar uma criança é um ato físico normal, mas dentro
do Judaísmo não pode ser usado em outra pessoa. É
como se estivéssemos profanando o embrião que foi
feito por esse casal, comparado a uma invasão fami-
liar”, ressalta o Rabino.

QUADRO GERAL
FIV
Coito Inseminação Doação de Congelamento Congelamento deDoação
programado artificial (Fertilização sêmen/
embriões de óvulos de embriões
in vitro) óvulos

A FAVOR A FAVOR A FAVOR CONTRA A FAVOR A FAVOR CONTRA


Capítulo 7

Budismo
Entrevista com Carlos Satio Mitsugui MD, MSc
(coordenador geral do NEBio – Núcleo de Estudos
de Bioética da Associação Brasil SGI)

“Mesmo o homem de bem prova maus dias enquanto as suas boas


ações não produzirem frutos; mas quando amadurecem as suas boas
ações, então provará dias felizes.” (Máximas do Dhammapada)

o Budismo é uma filosofia de vida baseada integral-


mente nos profundos ensinamentos de Buda para todos
os seres, que revelam a verdadeira face da vida e do uni-
verso. Quando pregava, Buda não pretendia converter
as pessoas, mas iluminá-las. É uma religião de sabedo-
ria, em que conhecimento e inteligência predominam.
O Budismo é uma religião prática, que trouxe paz
interior, felicidade e harmonia a milhões de pessoas
durante sua longa história de mais de 2.500 anos. É
devotada a condicionar a mente inserida em seu coti-
diano, de maneira a levá-la à paz, serenidade, alegria,
sabedoria e liberdade perfeitas. Por ser uma maneira
de viver que extrai os mais altos benefícios da vida, é
frequentemente chamado de “Budismo Humanista”.
A religião foi fundada na Índia, no século 6º antes
de Cristo, por Buda Shakyamuni, nascido ao norte do
país (atualmente Nepal) como um rico príncipe chamado
102 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Sidarta. Aos 29 anos, ele teve quatro visões que transfor-


maram sua vida. As três primeiras visões – o sofrimento
devido ao envelhecimento, doenças e morte – mostra-
ram-lhe a natureza inexorável da vida e as aflições uni-
versais da humanidade. Em sua quarta visão, um ere-
mita com um semblante sereno revelou-lhe o meio de
alcançar paz. Compreendendo a insignificância dos pra-
zeres sensuais, ele deixou sua família e toda sua fortuna
em busca de verdade e paz eterna. Sua busca pela paz
era mais por compaixão pelo sofrimento alheio, já que
ele desconhecia essa experiência. Ele não abandonou
sua vida mundana na velhice, mas no alvorecer de sua
maturidade; não na pobreza, mas em plena fartura.
Após seis anos de ascetismo, ele compreendeu
que deveria praticar o equilíbrio entre a automortifi-
cação, que só enfraquece o intelecto, e a autoindul-
gência, que retarda o progresso moral. Aos 35 anos
(aproximadamente 525 a.C.), sentado sob uma árvore
Bodhi, em uma noite de lua cheia, ele, de repente, ex-
perimentou extraordinária sabedoria, compreendendo
a verdade suprema do universo e alcançando profunda
visão dos caminhos da vida humana – os budistas cha-
mam essa compreensão de “iluminação”. A partir de
então, ele passou a ser chamado de Buda Shakyamuni
(Shakyamuni significa “Sábio do clã dos Shakya”, e a
palavra Buda pode ser traduzida como: “aquele que é
plenamente desperto e iluminado”).
O Budismo se espalhou pela Índia, Ásia, Ásia Central,
Tibete, Sri Lanka (antigo Ceilão) e Sudeste Asiático como
também para países do Leste Asiático, incluindo China,
Myanmar, Coreia, Vietnã e Japão. Hoje o budismo se en-
contra em quase todos os países do mundo, amplamente
divulgado pelas diferentes escolas budistas, e conta com
cerca de 376 milhões de seguidores, representando apro-
ximadamente 6% da população mundial.
Budismo 103

Na visão budista, o sexo é uma força dominante na


vida humana, que assegura a sobrevivência das espécies.
Assim, muitas das sociedades declaram que a procriação
é a única função da sexualidade e proclamam um rígido
código moral no que se refere ao sexo. Se a procriação é a
única função do ato sexual, então parece haver um grave
defeito nos seres humanos. Nós temos inúmeras zonas
erógenas, diferente de muitos animais, que apresentam
um período de cio para se acasalarem. Além disso, somos
capazes de ser sexualmente ativos por toda a existência,
como, por exemplo, mesmo após a menopausa feminina.
Para eles, é inevitável a ênfase nos aspectos agra-
dáveis do sexo. A questão importante consiste em não
suprimir os desejos humanos naturais, mas na cons-
cientização de certa ética que os impeça de gerar tra-
gédias. Por exemplo: se nos sentirmos atraídos por
alguém que não nos inspira o mínimo de respeito, a
relação sexual será regida pelo estado de animalidade,
que busca a mera satisfação do instinto individual e
momentâneo. Desse modo, este ato poderá gerar con-
sequências desagradáveis para ambas as partes.
O budismo faz-se ainda mais impressionante quan-
do se torna aparente que ele não apresenta nenhuma
contradição ao fato científico. Isso acontece, em par-
te, porque o domínio em que o budismo se abre e faz
suas elucidações é completamente diferente da dimen-
são da ciência. A ciência investiga o mundo fenomenal
onde o homem vive e atua, lidando com os aspectos
objetivamente perceptíveis da existência.
O aspecto material é apenas parte da realidade,
mas os fenômenos físicos são os mais acessíveis a uma
mensuração e a uma correlação objetivas. Por essa ra-
zão, as ciências naturais se desenvolveram antes que os
outros campos da ciência. Os fenômenos sociais foram
104 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

estudados e examinados, o que resultou no desenvol-


vimento das ciências sociais. No final do século 19, as
questões humanas tornaram-se um importante objeto
de estudo e, posteriormente, resultaram num grande
avanço das ciências culturais. Indo mais além, o estudo
da mente humana progrediu da superstição e da supo-
sição para o fato comprovável e à teoria fundamentada.
Os domínios daquilo que chamamos de “ciência”
estão se ampliando gradativamente, mas uma vez que o
“método científico” baseia-se na observação metódica e
científica e no raciocínio, é limitado pela sua própria na-
tureza. Há esferas que estão fora do alcance da cognição
científica. Essas esferas podem ser compreendidas, mes-
mo que de algum modo, apenas pela mente intuitiva e
subjetiva. Esse método é mais frequentemente aplicado
ao fenômeno social do que à natureza, e mais ao estudo
da mente humana do que ao da sociedade. O budismo
elucida as verdades com base nas capacidades subjetivas
das pessoas, extraindo, assim, a sabedoria prática da vida.
Segundo Carlos Satio, representante do budismo
de Nitiren Daishonin, essa religião milenar não atribui
condutas fixas e pré-determinadas em relação às ativi-
dades do dia a dia. Não há dogmas ou paradigmas, ela
apenas fixa a vida como valor absoluto do próprio univer-
so. O nível de compreensão da natureza, do universo e
da lei fundamental intrínseca contida em todos os fenô-
menos determina de forma autônoma e independente
a postura de todos os seres e a sua inteira responsabili-
dade na complexa rede de causas e efeitos ao longo do
passado, presente e futuro. A verdadeira felicidade no
Budismo Nitiren é a capacidade de compreender esta
natureza e vencer os quatro sofrimentos (Nascimento,
Envelhecimento, Doença e Morte), manifestando a sa-
bedoria e a natureza de Buda.
Budismo 105

De acordo com os ensinamentos budistas, os pro-


blemas que afligem a humanidade foram criados pelos
próprios seres humanos, portanto também existe solu-
ção humana para eles. As pessoas criam os princípios,
não devendo tornar-se dogmáticas, se aprisionando e
gerando mais sofrimentos. O budismo entende que para
o triunfo do humanismo, os seguintes pontos devam ser
considerados: 1) Tudo é relativo e mutável; 2) Manifestar
a capacidade de discernir a natureza relativa e mutável
da realidade, bem como a autonomia saudável que não
seja dominada por esta natureza; 3) Aceitar tudo que é
humano, sem discriminação, não restringindo ou este-
reotipando as pessoas pela ideologia, nacionalidade, et-
nia, condição econômica e social, religião, saúde etc..
O desejo e a decisão pela paternidade, preservan-
do a espécie e transmitindo os valores morais, cultu-
rais, religiosos e familiares são naturais e legítimos. As
infinitas possibilidades de condições geradoras de difi-
culdades, angústias e alegrias, em todas as etapas da
relação entre os pais e seus filhos são determinadas
pelo carma individual e coletivo (entre os pais, pais e
seus filhos, família e sociedade). Estes carmas interli-
gados e interdependentes estendem-se além da con-
cepção, atingindo o ciclo eterno de nascimento, enve-
lhecimento, doença e morte.
No Budismo Nitiren as pessoas são incentivadas
a procurar orientação médica adequada e a manifes-
tar a sabedoria diante das adversidades impostas pe-
las doenças. Assim, não existem restrições ao uso de
medicamentos e tratamentos, desde que façam parte
da prática médica. O próprio Buda Nitiren, assim se di-
rige ao seu discípulo Shijo Kingo (médico e samurai):
Justamente quando eu estava pensando que devia ser
meu carma imutável (morrer), o senhor enviou-me um
106 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

excelente remédio. Desde que o venho tomando, meu


padecimento tem diminuído e agora representa uma
mera fração de sua intensidade anterior. (Escrituras de
Nitiren Daishonin, vol.4, p.210-211, 1991).
Dessa forma, a utilização dos conhecimentos apli-
cados nos procedimentos e técnicas de reprodução as-
sistida (coito programado, inseminação artificial e fertili-
zação in vitro) que permitam casais inférteis atingir em
seus objetivos é legítima, e os profissionais envolvidos
no tratamento podem ser considerados como agentes
ou funções positivas e protetoras.
Carlos explica que nenhum tratamento médico está
fora de risco, e a tecnologia das técnicas reprodutivas não
é uma exceção. Deve-se dar prioridade máxima às consi-
derações éticas e à segurança de cada pessoa. Essa res-
ponsabilidade é, em grande parte, dos profissionais en-
volvidos nesse campo, que está em rápida evolução. Em
análise final, a responsabilidade dos pais em relação aos
filhos gerados com a ajuda da tecnologia médica deve
determinar o uso de tais técnicas. Os pais que se preocu-
pam verdadeiramente com seus filhos devem examinar
com muito cuidado o uso da tecnologia reprodutiva com
base em sólidos conceitos de vida, como conduzem a
própria vida e que tipo de vida eles desejam para seus
filhos. (Daisaku Ikeda – Livro: Ser Humano, 2007).
Consideração especial deve ser dada às questões
que envolvem a doação de embriões, pois a compai-
xão budista estende-se ao respeito pela vida que ma-
nifestam. Os escritos budistas esclarecem que o ser
começa no momento da concepção e representa uma
entidade única em processo de individualização.
O budismo interpreta a vida como algo contínuo.
Do ponto de vista da reencarnação, a vida se torna uma
“existência intermediária” entre o momento da morte e
Budismo 107

o do próximo nascimento. A concepção é o momento


em que essa existência intermediária se une à sua pró-
xima forma humana. No Budismo Daishonin, desde o
sucesso do nascimento do primeiro ser humano, pela
fertilização in vitro, em 1978, por Edwards e sua equipe,
foram introduzidas surpreendentes variáveis (procriação
sem relações sexuais e novas formas de paternidade e
maternidade) que rapidamente infiltraram-se entre as
mudanças sociais e culturais em curso na sociedade. O
desenvolvimento de tecnologias de reprodução propor-
cionou benefícios inquestionáveis a casais inférteis e, ao
mesmo tempo, uma complexidade de novas relações
humanas – afetivas, sexuais, familiares e sociais.
Na concepção do budismo, o destino de embriões
deve ser considerado com a máxima seriedade e reflexão,
pois as causas e efeitos deste ato determinarão a própria
condição de vida e a felicidade das pessoas. Assim, a de-
cisão pelo procedimento de congelamento de embriões
ou doação destes, requer uma análise de consciência
pessoal. Segundo Carlos, não existe o certo ou o errado.
Quanto ao procedimento de congelamento de óvu-
los e embriões, não há interferência por parte do bu-
dismo. Carlos declara que a felicidade encontra-se na
capacidade de compreender a natureza da vida e do
universo, percorrendo o processo da vida e da morte
com energia e sabedoria. Isso vale também para a doa-
ção de óvulos e sêmen.

QUADRO GERAL
FIV
Coito Inseminação (Fertilização Doação de Congelamento Congelamento deDoação
sêmen/
programado artificial embriões de óvulos de embriões
in vitro) óvulos
LIVRE LIVRE LIVRE LIVRE
A FAVOR A FAVOR A FAVOR ARBÍTRIO ARBÍTRIO ARBÍTRIO ARBÍTRIO
Capítulo 8

Catolicismo
Entrevista com Frei Antonio Moser – Professor de Teologia
Moral e Bioética no Instituto Teológico Franciscano

Entrevista realizada por meio da assessoria de imprensa


“Comunicação Livre”, enviada por e-mail

C onsiderada a religião que tem maior número de


adeptos no Brasil, o Catolicismo é uma das vertentes
do Cristianismo. Baseia-se na crença de que Jesus foi
o Messias, enviado à Terra para redimir a humanidade e
restabelecer nosso laço de união com Deus, surgindo o
Novo Testamento, ou Nova Aliança.
Um dos mais importantes preceitos católicos é o
conceito de Trindade, ou seja, do Deus Pai, do Deus
Filho (Jesus Cristo) e do Espírito Santo. Estes três seres
seriam ao mesmo tempo um só. Existem os chamados
Mistérios Principais da Fé, os quais constituem os dois
mais importantes pilares do Catolicismo. Eles são: a
Unidade e a Trindade de Deus, a Encarnação, a Paixão e
a Morte de Jesus.  
O Catolicismo é  uma doutrina ligada ao Judaísmo.
Seu livro sagrado é a Bíblia, dividida em Velho e Novo
110 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Testamento. Do Velho Testamento, que corresponde ao pe-


ríodo anterior ao nascimento de Jesus, o Catolicismo apro-
veita não somente o Pentateuco (livros atribuídos a Moisés),
mas também agrega os chamados livros “deuterocanô-
nicos”: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque,
Macabeus e alguns capítulos de Daniel e Ester. Esses livros
não são reconhecidos pelas religiões protestantes. 
O termo “católico” significa universal, e a primeira
vez em que foi usado para qualificar a Igreja foi no ano
105 d.C., em uma carta de Santo Inácio, então Bispo de
Antioquia. No século 2º da Era Cristã, o termo voltou a ser
usado em inúmeros documentos, traduzindo a ideia de
que a fé cristã já se achava disseminada por todo o pla-
neta. No século 4º d.C., Santo Agostinho usou a designa-
ção “católica” para diferenciar a doutrina “verdadeira” das
outras seitas de fundamentação cristã que começavam a
surgir.  Mas foi somente no século 16, após o Concílio de
Trento (1571), que a expressão “Igreja Católica” passou a
designar exclusivamente a Igreja que tem seu centro no
Vaticano. O Concílio de Trento aconteceu como reação
à Reforma Protestante, incitada pelo sacerdote alemão
Martin Lutero.  
Segundo dados socioeconômicos dos censos
demográficos do IBGE, o percentual de brasileiros ca-
tólicos está diminuindo desde o primeiro estudo, em
1872, e caiu de forma acelerada na década de 1990,
quando o retrocesso foi de um ponto percentual anual.
Em 1872, 99,72% dos brasileiros eram considerados
católicos, taxa que caiu para 82,24% em 1991, quando
a queda se acelerou, para chegar a 73,89% em 2000.  
Na década de 1990, uma queda em aceleração mos-
trou que a porcentagem de católicos no Brasil se estabi-
lizou com o novo milênio e, em 2003, último ano sobre o
qual há dados, a taxa alcançou 73,79% da população.O
Catolicismo 111

retrocesso da religião católica na década passada se


registrou por causa de um crescimento dos cristãos
evangélicos, que de 9% em 1991 passaram a constituir
16,2% da população em 2000. O que caiu, entre 2000 e
2003, foram os sem religião, que eram 7,4% em 2000 e
5,1% em 2003, exatamente o mesmo nível de 1991. A
história mostra a substituição dos sem religião por evan-
gélicos, pentecostais e tradicionais. 
O estudo, baseado em censos oficiais de 2002 e
2003, também indicou que os católicos, sendo 73,8%
da população, apenas contribuem com 30,9% das do-
ações feitas às igrejas. Algumas das razões para essa
diferença podem ser o celibato a que estão obrigados
os sacerdotes católicos e o fato de deverem dedicar
cerca de nove anos para se formar, enquanto um pastor
evangélico o faz entre três e quatro anos. 
A Igreja Católica, quando fala de sexualidade e do
relacionamento afetivo e amoroso do casal, recorre a
uma linguagem delicada, às vezes poética ou simbóli-
ca, como o faz a Bíblia em passagens, mas é clara nos
seus objetivos: há relacionamentos permitidos, outros
desaconselháveis e outros proibidos. Os proibidos, se-
gundo a Igreja, não são a resposta apropriada para a
dignidade da pessoa, da mente e do corpo ou não con-
tribuem para o crescimento do amor.  
E há os que vão ou não vão contra a finalidade do
sexo. Por isso, a Igreja permite ou proíbe. Acusam a
Igreja de se envolver na vida íntima do casal e dizer a
eles que, se pretendem ser um bom casal católico, não
podem se amar desta ou daquela forma. Oficialmente,
para a Igreja Católica, não importa se ao falar das rela-
ções entre o casal a sua posição é popular ou não. Em
sua doutrina sobre a sexualidade, nem mesmo para o
casal é tudo válido entre quatro paredes. 
112 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Visto como insensibilidade ou risco de perda de


fiéis, a Igreja, contudo, mantém sua opinião. O adjeti-
vo conservador não pode ser aplicado a algum grupo
apenas porque mantém seu ponto de vista – outros
mantêm seu ponto vista favorável e nem por isso são
conservadores. Optar por apoiar o sexo sem nenhum
limite não é necessariamente ser futurista. 
Para a Igreja Católica, a ciência não pode ser te-
mida, nem poderia, pois é ela que  traz à luz as ver-
dades latentes da natureza, que é obra de Deus. Está
relacionada com a mente de Deus, que é criador, logo,
não poderia entrar em oposição à verdade da fé. Por
essa razão, a Igreja incentiva o trabalho dos cientistas e
aprecia o valor de suas pesquisas. 
Quando os cientistas chegam à conclusão de que
é possível desenvolver terapias altamente promissoras
para a medicina, isso para eles merece admiração e
aplauso, assim como a possibilidade de alcançar a cura
de doenças graves a partir de pesquisas que demoram
anos. Tanto a ciência como a religião originam-se desta
sede humana de desvendar os segredos do universo
que nos envolve. 
A Igreja Católica não deseja, em hipótese alguma,
deter o progresso da ciência. Assim procedendo, recor-
da ao cientista que não se pode fazer como Deus, mas
é sua missão colocar a ciência a serviço da vida. A Igreja
não pode ir contra a revelação da Sagrada Escritura,
deve de todos os meios proclamar que o homem tem
uma origem divina. A imagem e semelhança de Deus é
uma dignidade que nem a ciência pode violar.  
A Igreja apoia e incentiva todo o progresso científico
que contribua para uma melhoria na qualidade de vida
biológica dos seres humanos. Ao mesmo tempo, não
aceita qualquer experimento que venha a ferir o caráter
Catolicismo 113

sagrado da vida criada por Deus. Não é legítimo fazer o


mal com o objetivo de alcançar um bem. A ciência não
pode ter somente uma dimensão técnica, um interesse
pontual, como pode ser o de necessitar de células esta-
minais e fazer, por isso, o que bem entende. 
Ela não pode perder de vista que está trabalhando
com seres humanos, e isso tem uma dimensão mui-
to grande, porque não é um órgão, mas um organismo.
Segundo a Igreja Católica, se não houvesse fé não existiria
a ciência, pois não se teria de onde retirar possibilidade de
estudos para montar diversas teorias sendo que, para a
fé, só Deus teria a explicação definitiva para esse mistério. 
Não é de se estranhar que a Igreja Católica sempre
teve uma postura objetiva quando se trata de assuntos
que envolvam alguns preceitos de caráter moral, como
é o caso de questões como a sexualidade e pesquisas
cientificas. E não seria diferente com os tratamentos vol-
tados à medicina da reprodução. Isso não quer dizer que
o Catolicismo seja contra tudo. Porém, quando se trata de
temas que exigem um certo cuidado, é nítido que há um
consenso padrão para não criar divergências, ou acabar
entrando em contradição com os dogmas da religião que
foram estabelecidos desde o início do Cristianismo.
Segundo a entrevista concedida por Frei Moser,
Professor de Teologia Moral e Bioética no Instituto Teológico
Frasciscano, a Igreja sempre viu os filhos e filhas como
dom de Deus. Por isso mesmo vê com bons olhos as ten-
tativas que são feitas para superar a infertilidade. Ela se ale-
gra com as conquistas na linha de diagnósticos e terapias,
no sentido restrito da palavra. O que ela não pode aceitar é
a mecanização da vida. Ou seja: sempre se pressupõe que
as terapias subsidiem, mas não substituam o casal.
Para ele, o procedimento do coito programado está
plenamente de acordo com o que a Igreja há muito vem
114 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

pregando: nada contra um planejamento familiar com


métodos que não mecanizem a transmissão da vida. Essa
sempre deve ser a expressão concreta de um gesto de
amor. Para o Frei, os procedimentos acima não apenas
são aceitáveis, como louváveis, pois correspondem ao
justo desejo de acolher uma vida respeitando os proces-
sos normais. A Igreja se alegra com os avanços tecnológi-
cos em todos os campos. Entretanto, acredita que nunca
a tecnologia nela mesma vai trazer sozinha a solução para
os problemas humanos. Não que sejam contra aos labo-
ratórios, muito menos os especialistas que se dedicam a
auxiliar os casais. A questão de fundo é a da mecanização
da vida, seja na fase inicial, seja na fase final.
Frei Moser explica que é claro que é difícil compreen-
der esse “não” da Igreja em relação a todos os procedi-
mentos de reprodução, pura e simples da vida em labora-
tório, exceto o coito programado. Para entender o posicio-
namento da Igreja nesse particular, convém ter presente o
sentido da “fecundidade”. Em se tratando de seres huma-
nos, fecundidade não é sinônimo de reprodução.
Há muitos casais que produzem muitos filhos, mas
não são fecundos, por não se amarem. Há casais estéreis
que são extremamente fecundos: irradiam alegria, dedi-
cam-se a todo tipo de atividade que traz mais alegria e
mais vida para o mundo. É significativo que nos momentos
críticos da história da salvação vamos encontrar pessoas
estéreis: Sara, de Abrão, Elcan, de Ana, Isabel e Zacarias,
pais de João Batista: Deus se serve de pessoas aparente-
mente estéreis para mostrar que Ele é a vida e quem vive
com Ele é fecundo, tendo ou não filhos biológicos.
Para a Igreja Católica, ser estéril não é uma maldi-
ção. Não ter filhos carnais pode ser uma bênção. É o
caso dos celibatários. No caso de um casal querer mes-
mo ter filhos, o caminho indicado é o da adoção, afinal,
há tantas crianças esperando por um lar...
Catolicismo 115

Segundo ele o problema não é como fazer depois:


o problema é anterior. “Uma vez colhidos espermato-
zoides e óvulos, e ainda mais depois de uma fecunda-
ção, nos encontramos num beco sem saída. Ninguém
tem e nunca terá uma resposta, a não ser aquela dada
acima: não arme problemas para os quais depois não
se encontra solução”.
E, para finalizar, o Frei Moser conclui: “Todas es-
sas questões são de extrema atualidade. Sabemos
dos grandes benefícios que os avanços nos conheci-
mentos genéticos e biotecnológicos podem prestar à
humanidade. Assim também sabemos dos benefícios
que podem se originar dos laboratórios destinados ao
que se denomina reprodução assistida. Com isso, são
louváveis os esforços dos pesquisadores que têm pro-
cedimentos realmente éticos, no caso, limitando-se
a ajudar e nunca a substituir a união do homem e da
mulher”.
Para o Frei, a vida é um dom precioso e só uma ati-
tude de admiração reverente diante dela, em qualquer
etapa e em qualquer manifestação, é eticamente justifi-
cável. Está na hora de todos juntos, teólogos, filósofos
e pesquisadores mergulharem mais profundamente
nos mistérios da vida. A Igreja Católica não é a Igreja
do “não”. Mas ela quer proclamar o Evangelho da vida.
Sem esse evangelho, em vez de humanização, caire-
mos em procedimentos sempre mais desumanizantes.

QUADRO GERAL
FIV
Coito Inseminação (Fertilização Doação de Congelamento Congelamento deDoação
sêmen/
programado artificial in vitro) embriões de óvulos de embriões óvulos

A FAVOR CONTRA CONTRA CONTRA CONTRA CONTRA CONTRA


116 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

O outro lado da moeda


Reflexões do autor em prol da vida

PARTE 1
O MILAGRE DA VIDA PERTENCE A DEUS,
NADA SUPERA A SUA VONTADE.
O MÉDICO É SÓ UM “FACILITADOR”,
UM INSTRUMENTO DE DEUS;
“O HOMEM PÕE – DEUS DISPÕE”. *1

É conhecido que somente uma parte dos tratamentos


de Fertilização Assistida (menos do que 50%) tem resulta-
dos positivos. O médico é simplesmente um “facilitador”,
um instrumento de Deus na produção da vida, pois não
garante a gravidez e muito menos o sucesso dos tratamen-
tos. Nesses procedimentos, só parte dos óvulos consegue
ser fertilizada. Mesmo quando o embriologista injeta um
espermatozoide dentro dele, só alguns embriões se de-
senvolvem e por fim só um ou outro embrião se implanta,
ou, em grande parte das vezes, nenhum implanta, e o re-
sultado é negativo. Os abortos naturais ocorrem em mais
da metade das gestações espontâneas, com embriões
sendo eliminados do organismo materno naturalmente,
pela determinação divina. Deus decide se o embrião ficará
ou não. O homem tem participação nula na manipulação
da vida. E isso nos leva a pensamentos mais profundos so-
bre a impotência do ser humano frente ao poder de Deus.
“Eu plantei, mas foi Deus quem a fez crescer”. (Cfr. 1 Cor 3:6).

*1 “O homem propõe e Deus dispõe” – Homo proponit, sed Deus disponit


(Tomás de Kempis). Este ditado foi escrito por um europeu que nasceu em 1380.
Catolicismo - O outro lado da moeda - comentários do autor 117

PARTE 2
COMPREENDENDO O CATOLICISMO
E A REPRODUÇÃO HUMANA

A Doutrina Católica talvez seja considerada, entre


todas as religiõoes, a mais democrática. Permite inú-
meras interpretações de suas leis que, embora possam
ser conflitantes, têm como objetivo o amor a Deus e
o bem da humanidade. Entretanto, onde há leis, exis-
te a contravenção, que no cristianismo recebe o nome
de pecado. Assim, o pecado, para o cristianismo, é a
transgressão ou desobediência deliberada do homem
às Leis de Deus e aos mandamentos divinos (Os Dez
Mandamentos – Quadro 2), contrariando princípios
religiosos, éticos ou normas morais (Pecados Capitais
– Quadro 1, Lei Natural – Quadro 3, Catecismo). O pe-
cado pode acontecer por palavras, ações ou por negli-
gência ou omissão (deixar de fazer o que é certo).
As leis do catolicismo estão descritas em publica-
ções específicas:
• Os Dez Mandamentos/ Bíblia *2
• O Catecismo*3

*2 Bíblia: A Bíblia é o Livro Sagrado de judeus e cristãos. É uma coleção de


textos, os mais diversos: nela se encontram testemunhos de fé, meditações
religiosas, orações, narrativas, trabalhos históricos, normas para o culto divino
e para a vida de cada dia. Muitos e diferentes autores colaboraram na redação
da Bíblia. Seus 73 livros foram escritos ao longo de um período de mais de mil
anos. Para os judeus e cristãos é o próprio Deus quem fala na Bíblia. Judeus
e cristãos têm em comum a primeira parte da Bíblia, conhecida como Primeiro
ou Antigo Testamento, que narra a formação do povo escolhido de Deus, o
povo judeu. Os cristãos acrescentam o Novo Testamento, que traz a vida e os
ensinamentos de Jesus Cristo. É composta pelos quatro Evangelhos, os Atos
dos Apóstolos, as Epístolas [cartas dos apóstolos às primeiras comunidades] e
o Apocalipse de São João.
*3 Catecismo: Manual para ensinar e explicar a doutrina católica. Em geral, era
redigido por meio de perguntas e respostas.
118 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

• Encíclicas *4
• Lei Natural (Quadro 3)
O pecado é previsível no ser humano; todos, sem
exceção, pecam. Conforme encontramos na Primeira
Carta de São João, capítulo 1, versículo 18:
“Se dizemos que não temos pecados, estamos nos
enganando, e não há verdade em nós. Mas, se confes-
samos os nossos pecados a Deus, ele cumprirá a sua
promessa e fará o que é correto: ele perdoará os nossos
pecados e nos limpará de toda a maldade. Se dizemos
que não temos cometido pecados, fazemos de Deus um
mentiroso, e a sua mensagem não está em nós.”

OS TRATAMENTOS DE FERTILIZAÇÃO
DESOBEDECEM OS ITENS 2376 E 2377
DO CATECISMO E A ENCÍCLICA DO
PAPA JOÃO PAULO II
• Observação: Avaliação no Catecismo é semelhan-
te à Encíclica INSTRUÇÃO SOBRE O RESPEITO À
VIDA HUMANA NASCENTE E A DIGNIDADE DA
PROCRIAÇÃO (Papa João Paulo II)

§ 2376 As técnicas que provocam uma dissocia-


ção do parentesco, pela intervenção de uma pessoa
estranha ao casal (doação de esperma ou de óvulo, em-
préstimo de útero), são gravemente desonestas. Estas
técnicas (inseminação e fecundação artificiais heteró-

*4 Encíclica: Documento mais ou menos extenso do Papa, dirigido diretamente


aos Bispos, depois aos fiéis da Igreja Católica, e a todos os homens de boa
vontade. Nessas cartas, o Papa expõe sua posição sobre questões específicas
de Fé e Moral. Encíclicas Papais mais recentes consultadas para os próximos
comentários: HUMANAE VITAE, de Paulo VI); Carta encíclica INSTRUÇÃO
SOBRE O RESPEITO À VIDA HUMANA NASCENTE E A DIGNIDADE DA
PROCRIAÇÃO de João Paulo II e a Carta encíclica DEUS CARITAS EST do
atual papa Bento XVI).
Catolicismo - O outro lado da moeda - comentários do autor 119

logas) lesam o direito da criança de nascer de um pai e


uma mãe conhecidos dela e ligados entre si pelo casa-
mento. Elas traem “o direito exclusivo de se tornar pai
e mãe somente um por meio do outro”.
§ 2377 Praticadas no seio do casal, estas técnicas
(inseminação e fecundação artificial homóloga) são talvez
menos prejudiciais, mas continuam moralmente inaceitá-
veis. Dissociam o acto sexual do acto procriador. O acto
fundador da existência do filho deixa de ser um acto pelo
qual duas pessoas se dão uma à outra, e «remete a vida
e a identidade do embrião para o poder dos médicos e bi-
ólogos, instaurando o domínio da técnica sobre a origem
e destino da pessoa humana. «Tal relação de domínio é,
de si, contrária à dignidade e à igualdade que devem ser
comuns aos pais e aos filhos» (128). «A procriação é mo-
ralmente privada da sua perfeição própria, quando não
é querida como fruto do acto conjugal, isto é, do gesto
específico da união dos esposos. [...] Só o respeito pelo
laço que existe entre os significados do ato conjugal e o
respeito pela unidade do ser humano permite uma pro-
criação conforme a dignidade da pessoa» (129).

SÃO MUITAS AS DESOBEDIÊNCIAS (PECADOS)


COMUNS À HUMANIDADE
No Catecismo, na Bíblia e nas Encíclicas existem
várias orientações que, se NÃO forem seguidas, serão
consideradas pecados. Assuntos como preguiça, gula,
inveja, avareza, vaidade, fertilização in vitro, inseminação
artificial, pílula anticoncepcional, masturbação, castida-
de, homossexualismo e divórcio, todos, de acordo com
o que foi exposto, são considerados pecados que pode-
rão ter diferentes graus de gravidade. São inúmeros os
pecados descritos. A maioria deles são frequentemente
cometidos por todos os seres humanos de boa índole,
inclusive os seguidores fervorosos do Catolicismo.
120 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Alguns exemplos:
Os pecados capitais (Quadro 1): vaidade, avareza,
inveja, ira, luxúria, gula e preguiça
§ 1866 Os vícios podem ser classificados segundo
as virtudes que contrariam, ou ainda ligados aos pe-
cados capitais que a experiência cristã distinguiu se-
guindo S. João Cassiano e S. Gregório Magno. São cha-
mados capitais porque geram outros pecados, outros
vícios. São o orgulho (=vaidade), avareza, a inveja, a ira,
a impureza, (luxúria), a gula e a preguiça.

Contracepção: Presevativo-camisinha-pílula
anticoncepcional
§ 2370 A continência periódica, os métodos de re-
gulação da natalidade baseados na auto-observação e
no recurso aos períodos infecundos estão de acordo
com os critérios objetivos da moralidade. Estes méto-
dos respeitam o corpo dos esposos, animam a ternura
entre eles e favorecem a educação de uma liberdade au-
têntica. Em compensação, é intrinsecamente má “toda
ação que, ou em previsão do ato conjugal, ou durante a
sua realização, ou também durante o desenvolvimento
de suas consequências naturais, se proponha, como
fim ou como meio, tornar impossível a procriação”.

Castidade
§ 2349 “A castidade há de distinguir as pessoas
de acordo com seus diferentes estados de vida: umas
na virgindade ou no celibato consagrado, maneira
eminente de se dedicar mais facilmente a Deus com
um coração indiviso; outras, da maneira como a lei
moral determina, conforme forem casados ou celiba-
tários”. As pessoas casadas são convidadas a viver a
castidade conjugal; os outros praticam a castidade na
continência:
Catolicismo - O outro lado da moeda - comentários do autor 121

Existem três formas da virtude da castidade: a primei-


ra, dos esposos; a segunda, da viuvez; a terceira, da
virgindade. Nós não louvamos uma delas excluindo as
outras. Nisso, a disciplina da Igreja é rica.
§ 2350 Os noivos são convidados a viver a casti-
dade na continência. Nessa provação, eles verão uma
descoberta do respeito mútuo, uma aprendizagem da
fidelidade e da esperança de se receberem ambos da
parte de Deus. Reservarão para o tempo do casamento
as manifestações de ternura específicas do amor con-
jugal. Ajudar-se-ão mutuamente a crescer na castidade.

Homossexualidade
§ 2357 “A homossexualidade designa as relações
entre homens e mulheres que sentem atração sexu-
al, exclusiva ou predominante, por pessoas do mes-
mo sexo”. A homossexualidade se reveste de formas
muito variáveis ao longo dos séculos e das culturas.
Sua gênese psíquica continua amplamente inexplica-
da. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apre-
senta como depravações graves”, 513 a tradição sem-
pre declarou que “os atos de homossexualidade são
intrinsecamente desordenados”, 514 são contrários à
lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não
procedem de uma complementaridade afetiva e sexual
verdadeira. Em caso algum podem ser aprovados.

Adultério e Divórcio
§ 1650 São numerosos hoje, em muitos países, os
católicos que recorrem ao divórcio segundo as leis civis
e que contraem civicamente uma nova união. A Igreja,
por fidelidade à palavra de Jesus Cristo (“Todo aquele
que repudiar sua mulher e desposar outra comete adul-
tério contra a primeira; e se essa repudiar seu marido e
122 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

desposar outro comete adultério” – Mc 10:11-12), afir-


ma que não pode reconhecer como válida uma nova
união, se o primeiro casamento foi válido. Se os divor-
ciados tornam a casar-se no civil, ficam numa situação
que contraria objetivamente a lei de Deus. Portanto,
não podem ter acesso à comunhão eucarística enquan-
to perdurar essa situação. Pela mesma razão, não po-
dem exercer certas responsabilidades eclesiais. A re-
conciliação pelo sacramento da Penitência só pode ser
concedida aos que se mostram arrependidos por haver
violado o sinal da aliança e da fidelidade a Cristo e se
comprometem a viver numa continência completa.
§ 2384 O divórcio é uma ofensa grave à lei natu-
ral. Pretende romper o contrato livremente consentido
pelos esposos de viver um com o outro até a morte. O
divórcio lesa a Aliança de salvação da qual o matrimô-
nio sacramental é o sinal. O fato de contrair nova união,
mesmo que reconhecida pela lei civil, aumenta a gravi-
dade da ruptura; o cônjuge recasado passa a encontrar--
-se em situação de adultério público e permanente:
Se o marido, depois de se separar de sua mulher, se
aproximar de outra mulher, se torna adúltero, porque faz
essa mulher co­meter adultério; e a mulher que habita
com ele é adúltera, por­que atraiu a si o marido de outra.

Masturbação
Texto da Encíclica “INSTRUÇÃO SOBRE O RESPEITO
À VIDA HUMANA NASCENTE E A DIGNIDADE DA
PROCRIAÇÃO”, PÁG. 47:
“A masturbação mediante a qual se obtém normalmente
o esperma, é um outro sinal de tal dissociação: também
quando é efetuado em vista da procriação, o gesto per-
manece privado do seu significado unitivo: « falta-lhe ... a
relação sexual exigida pela ordem moral, aquela que rea-
Catolicismo - O outro lado da moeda - comentários do autor 123

liza “o sentido integral da doação mútua e da procriação


humana” no contexto do verdadeiro amor ».“

No catecismo
§ 2351 A luxúria é um desejo desordenado ou um
gozo desregrado do prazer venéreo. O prazer sexu-
al é moralmente desordenado quando é buscado por
si mesmo, isolado das finalidades de procriação e de
união.
§ 2352 Por masturbação deve-se entender a excita-
ção voluntária dos órgãos genitais, a fim de conseguir
um prazer venéreo. “Na linha de uma tradição constan-
te, tanto o magistério da Igreja como o senso moral dos
fiéis afirmaram sem hesitação que a masturbação é um
ato intrínseca e gravemente desordenado.” Qualquer
que seja o motivo, o uso deliberado da faculdade se-
xual fora das relações conjugais normais contradiz sua
finalidade. Aí o prazer sexual é buscado fora da relação
sexual exigida pela ordem moral que reza, no contexto
de um amor verdadeiro.
* Observação: A Masturbação é uma desobediên-
cia ao Catolicismo, mesmo na coleta do sêmen para
o exame da fertilidade masculina. Ao questionar um
importante sacerdote sobre este assunto, recebi a se-
guinte reposta:
“O método para recolher esperma para exames, apro-
vado hoje pela Igreja (por não ser contrário à moral)
é o de realizar o ato sexual com o uso de um preser-
vativo parcialmente roto. Com isso se garante que o
ato sexual se realize na plenitude de suas dimensões
e também se pode recolher o esperma residual que
permanece no preservativo”. (Comentário: o volume
do sêmen é um dado importante para a avaliação da
fertilidade.)
124 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

QUADRO 1

Os Pecados Capitais ( ou Vícios Capitais)


A Igreja Católica classificou e selecionou os pecados em dois
tipos: os pecados veniais, que são perdoáveis, sem a necessidade
do sacramento da confissão, e os pecados mortais ou graves, mere-
cedores de condenação e que necessitam de confissão.
Os sete pecados capitais tratam de uma classificação de condi-
ções humanas conhecidas atualmente como vícios, que é muito antiga
e que precede ao surgimento do cristianismo, mas que foi usada mais
tarde pelo catolicismo com o intuito de controlar, educar, e proteger os
seguidores, de forma a compreender e controlar os instintos básicos
do ser humano.
Já houve muitas classificações segundo Evágrio do Ponto
e Papa Gregório Magno (este último considerou os sete pecados
como mortais), mas, a classificação mais atual é obra de São Tomás
de Aquino (1225-1274).
O que significa vício capital? S. Tomás ensina que recebem
este nome por derivar-se de caput: cabeça, líder, chefe (em italia-
no, ainda hoje, há a derivação: capo, capo-Máfia); sete poderosos
chefões que comandam outros vícios subordinados. São capitais
porque deles nascem outros, e outros, e outros. São Tomás, na sua
Suma Teológica, explica que a grande característica desses pecados
não é sua gravidade, mas “é que eles são extremamente desejáveis,
tanto que por eles um homem comete muitos outros pecados”.
Assim, atualmente se aceita a seguinte lista dos sete pecados
capitais:
Vaidade: Também chamada de Orgulho ou Soberba, é consi-
derado o mais grave dos pecados capitais. Vaidade é o desejo de
atrair a admiração das outras pessoas. Uma pessoa vaidosa cria uma
imagem pessoal para transmitir aos outros, com o objetivo de ser
admirada. Mostra com extravagância seus pontos positivos e escon-
de seus pontos negativos. Ela gera altivez e falta de humildade na
pessoa, que se acha, então, autos-suficiente. Essa sensação de que
“eu sou melhor que os outros”, por algum motivo, leva o indivíduo a
ter uma imagem de si mesmo inflada, aumentada, e que não corres-
pondendo à realidade. Surge, com isso, a necessidade de aparecer,
de ser visto; o que faz a pessoa passar, inclusive, por cima dos pa-
drões éticos e a inferiorizar ou minimizar os outros colaboradores ou
colegas. Podemos visualizar a imagem de pavões relacionando-se na
empresa, o que certamente traz resultados desastrosos. Podemos
citar o exemplo de gestores que tomam determinadas decisões por
Catolicismo - O outro lado da moeda - comentários do autor 125

questões de orgulho pessoal ferido e que, ao dar vazão a este senti-


mento, ferem, muitas vezes, as próprias metas organizacionais.
Inveja: Pode ser definida como um sentimento de aversão ao
que o outro tem e que eu não possuo. Tal sentimento gera o desejo de
ter exatamente o que a outra pessoa tem (pode ser tanto coisas ma-
terias como qualidades inerentes ao ser) e de tirar essa mesma coisa
da pessoa, fazendo com que ela fique sem. É um sentimento gerado
pelo egocentrismo e pela soberba de querer ser maior e melhor que
todos, não podendo suportar que outrem seja melhor. É desejar atribu-
tos, status, posse e habilidades de outra pessoa.É o desgosto ou pesar
pelos bens do outro, a dificuldade de admirar o outro. É a incapacidade
de alegrar-se com o que o outro tem, faz ou é; o sentimento de injus-
tiça. O slogan que melhor exemplifica a inveja: “ele é mais do que eu;
também quero”. A inveja nos faz perder o contato com nossas reais
possibilidades. Não devemos confundir a inveja com a competição. A
competição é um processo que pode levar ao crescimento mútuo. A
inveja almeja a destruição ou a queda do outro!
Ira: É a junção ou mistura dos sentimentos de raiva, ódio e ran-
cor que às vezes é incontrolável, provocando agressão, geralmente
derivada de causas acumuladas ou traumas. Pode ser visto como uma
cólera e um sentimento de vingança, ou seja, uma vontade frequen-
temente tida como incontrolável dirigida a uma ou mais pessoas por
qualquer tipo de ofensa ou insulto. As origens da ira podem ser por
meticulosidade, por perfeccionismo ou até mesmo por desqualificar
nossa capacidade de solucionar problemas bem como a importância
desses problemas. Basicamente, a atitude mental que está por trás
da ira é “quero destruir’ ou “eu quero e você deve”. Como ficaria essa
atitude em termos de gestão? Como será o processo de tomada de
decisão sob o impacto da ira? Certamente, o mais destrutível possível,
com ranço de autoritarismo, desrespeito e baixo clima de confiança
mútua entre o gestor e sua equipe. Uma maneira de detectarmos a
manifestação da ira é observar a destruição do patrimônio da empresa
bem como a expressão facial das pessoas. Por baixo de toda ira quase
sempre detectamos medo: de errar, de expressar-se de outra maneira,
de perder espaço etc.. Ao invés de tremer, as pessoas atacam para
defendem-se de seus fantasmas.
Preguiça: É definida como aversão ao trabalho, esforço físico,
indolência, mandrice, morosidade, lentidão, pachorra, moleza ou ne-
gligência, dentre outros. O preguiçoso, conforme o senso comum, é
aquele indivíduo avesso a atividades que mobilizem esforço físico ou
mental, de modo que lhe é conveniente direcionar a sua vida a fins
que não envolvam maiores sacrifícios. Este sentimento faz com que
as pessoas desqualifiquem os problemas e a possibilidade de solu-
ção destes. Além da preguiça física e intelectual, podemos anotar ain-
126 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

da uma forma de preguiça que talvez nos interesse mais ainda, e que
os padres da Igreja qualificaram como uma depressão decorrente do
relaxamento da ascese, diminuição da vigilância ou negligência do
coração, que leva a um descompasso entre o corpo e o espírito: “O
espírito quer, mas a carne é fraca...” (Cfr. CIC 2733). A crença básica
da preguiça é: “não necessito fazer nem aprender nada”. Isso coloca
um freio nas ideias e ações dentro das organizações. No cotidiano, tal
atitude é traduzida pelo “deixa para depois”.
Avareza: Pode ser definida como o apego excessivo ou imo-
derado às posses ou bens materiais. Esse apego leva ao medo de
perder o que se tem e ao desejo de acumular sempre mais... É a co-
biça de bens materiais e do dinheiro. O avarento tem dificuldade de
partilhar ou abrir mão do que tem mesmo que receba algo em troca.
Cuida com obsessão egoísta de seus pertences. Considera qualquer
perda como um desastre pessoal. No cotidiano da vida, especialmen-
te nas relações empresariais e comerciais, a avareza se manifesta
como desconfiança, individualismo, falta de partilha de ideias, sen-
timentos e opiniões: “o projeto é meu e eu cuido dele”. Pessoas
avarentas têm dificuldade de lidar com a diversidade e com a trans-
parência. São extremamente centralizadoras e vivem na defensiva.
Gula: Ser guloso é comer demais, comer além do necessá-
rio e/ou a toda hora. Segundo tal visão, esse pecado também está
relacionado ao egoísmo humano quando nos leva a não pensar nos
outros, querer sempre mais e mais, não se contentando com o que
se tem... O controle da gula é feito pela virtude da temperança ou da
moderação. Entretanto, a gula não é um pecado universal. Em alguns
lugares e culturas, comer muito ou demais é visto como um sinal de
bênção (fartura) e status. Além da gula no sentido estrito da alimen-
tação em exagero, ela também pode ser vista e entendida como uma
forma exagerada de consumismo de bens e instrumetais de trabalho
cujos recursos se mostram superiores às nossas necessidades bási-
cas e, portanto, inúteis ou supérfluos.
Luxúria: Entendido em seu sentido original: “deixar-se dominar
pelas paixões”. É o desejo passional, desordenado e egoísta, pelo pra-
zer sensual, venéreo ou carnal. É fruto de uma impulsividade desen-
freada, um prazer descontrolado ou excessivo, no uso da sexualidade.
Um prazer egoísta que visa a satisfação pessoal! É definida também
como corrupção de costumes, sexualidade extrema, lascívia e sensu-
alidade (CIC 2351). No relacionamento empresarial, a luxúria é, muitas
vezes, identificada pelo comportamento libidionoso, pelo assédio se-
xual a subordinados, decorrentes de uma manifestação de poder e
dominação. A luxúria gera uma distorção no comportamento e no rela-
cionamento entre homem e mulher, tornando-os meros objetos de uso
e prazer, expressão de força e superioridade hierárquica.
Catolicismo - O outro lado da moeda - comentários do autor 127

Pecados Capitais (continuação)


Demônios correspondentes
Em 1589, Peter Binsfeld comparou cada um dos pecados
capitais com seus respectivos demônios, seguindo os significados
mais usados. De acordo com Binsfeld’s Classification of Demons,
esta comparação segue o esquema:
• Asmodeus - Luxúria
• Belzebu - Gula
• Mammon - Avareza
• Belphegor - Preguiça
• Amom - Ira
• Leviatã - Inveja
• Lúcifer - Soberba

Sete Virtudes
Para combater cada pecado capital, foram classificadas sete
virtudes. É alegado que a prática dessas virtudes protege a pessoa
contra tentações dos sete pecados capitais, com cada um tendo
sua respectiva contraparte. Ordenadas em ordem crescente de san-
ticidade, as sete virtudes sagradas são:
• Castidade (latim: castitate) - opõe luxúria
• Generosidade (latim: liberalis) - opõe avareza
• Temperança (latim: temperantia) - opõe gula
• Diligência (latim: diligentia) - opõe preguiça
• Paciência (latim: patientia) - opõe ira
• Caridade (latim: humanitas) - opõe inveja
• Humildade (latim: humilitas) - opõe soberba
128 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

QUADRO 2 - Os Dez Mandamentos


O Decálogo, ou os Dez Mandamentos (Dez Palavras ou Dez Ditos) é
o nome dado ao conjunto de leis que, segundo a Bíblia, teriam sido, original-
mente, escrita por Deus em tábuas de pedra e entregues ao profeta Moisés
(as Tábuas da Lei). Enunciam as obrigações religiosas e sociais fundamentais
que norteiam a relação correta do indivíduo com Deus, com a família (pais,
esposa e filhos) e com a comunidade. São eles:
• 1º - Adorar a Deus e amá-lo sobre todas as coisas
• 2º - Não invocar o Santo Nome de Deus em vão
• 3º - Guardar domingos e festas de guarda
• 4º - Honrar pai e mãe (e os outros legítimos su­­periores)
• 5º - Não matar (nem causar outro dano, no corpo ou na alma,
a si mesmo ou ao próximo)
• 6º - Guardar castidade nas palavras e nas obras
• 7º - Não furtar (nem injustamente reter ou danificar os bens do
próximo)
• 8º - Não levantar falsos testemunhos
• 9º - Guardar castidade nos pensamentos e nos desejos
• 10º- Não cobiçar as coisas alheias
No Novo Testamento, esses mandamentos foram resumidos em ape-
nas dois: “Amar a Deus sobre todas as coisas”; e “Amar o próximo como a si
mesmo”. A transgressão de um só destes mandamentos infrige o Decálogo
todo, porque ele é um “conjunto orgânico e indissociável”.

QUADRO 3 - Lei Natural


• Exprime o sentido moral original que permite ao homem discernir, pela ra-
zão, o bem e o mal, a verdade e a mentira.
• Está escrita e gravada na alma de todos e de cada um dos homens, porque
não é senão a razão humana ordenando fazer o bem e proibindo pecar.
• Enuncia os preceitos primários e essenciais que regem a vida moral e não
é senão a luz da inteligência posta em nós por Deus;
• Por ela, nós conhecemos o que se deve fazer e o que se deve evitar.
• Esta lei é dada por Deus ao homem no momento da criação.
• É universal nos seus preceitos, na diversidade das culturas, e permanece
como regra que une os homens entre si, impondo-lhes, para além das
diferenças inevitáveis, princípios comuns.
• É imutável.
• Fornece os fundamentos sólidos sobre os quais o homem pode construir o
edifício das regras morais que orientam as suas escolhas e decisões.
*Resumo baseado no livro EM BUSCA DE UMA ÉTICA UNIVERSAL –
novo olhar sobre a lei natural, Comissão Teológica Internacional, Libreria Editrice
Vaticana, 2008, Paulinas.
Catolicismo - O outro lado da moeda - comentários do autor 129

CATEGORIAS DOS PECADOS


A doutrina católica distingue o pecado em três
categorias:
• Pecado original, adâmico ou atual, que é trans-
mitido a todos os homens, sem culpa própria,
devido à sua unidade de origem, que é Adão e
Eva. (A mulher teria sido o primeiro ser humano
a pecar, e teria induzido Adão a pecar. Nota: eu
excluiria esta frase. Cria uma polêmica de gênero
que é desnecessária.) O pecado original consistiu
numa rebelião contra a Autoridade divina. Em con-
sequência direta do pecado original, toda a huma-
nidade ficou privada da perfeição e da perspectiva
de vida infindável. A existência do pecado original
não justifica a prática deliberada do pecado. Ele,
felizmente, pode ser “apagado” pelo sacramento
do Batismo.
• Pecado venial, acontece quando se trata de ma-
téria leve, ou mesmo quando, se tratando grave,
a pessoa o comete sem pleno conhecimento ou
sem total consentimento. Não quebra a aliança
com Deus, mas enfraquece a caridade; manifes-
ta um afeto desordenado pelos bens criados;
impede o progresso da alma no exercício das
virtudes e na prática do bem moral; merece pe-
nas purificatórias temporais, nomeadamente no
Purgatório. É menos grave e não faz perder a
graça divina.
• Pecado grave ou mortal, faz o crente perder a co-
municação com a graça de Deus e o leva à conde-
nação se não for objeto de confissão (admissão da
culpa) e de um genuíno arrependimento e penitên-
cia (retratação perante Deus). Este tipo de pecado
destrói a caridade, priva-nos da graça santificante e
nos conduz à morte eterna no Inferno, se dele não
130 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

nos arrependemos sinceramente. Sua consequên-


cia é a privação da graça santificante ou do estado
de graça, fato capaz de causar a ruptura definitiva
entre Deus e o homem. São João nos alerta que:
“Há pecado que leva à morte” (1Jo. 5:16).
Pecado mortal é aquele que tem como objeto uma
matéria grave, e que é cometido com plena consciên-
cia e pleno consentimento (§1857). A matéria grave é
precisada pelos Dez Mandamentos, segundo a respos-
ta de Jesus ao jovem rico: “Não mates, não cometas
adultério, não roubes, não levante falso testemunho,
não defraudes ninguém, honra teu pai e tua mãe” (Mc.
10:19 e CIC § 1858).

GRAUS DA GRAVIDADE DOS PECADOS


A gravidade do pecado é determinada pelo seu ob-
jeto, ou seja, pelo dano que provoca e de acordo com
o quanto contraria a razão humana que é iluminada por
Deus para agir bem, de acordo com a Lei Natural.
A graduação dos pecados pode ser vista na Summa
Theologiae de Santo Tomás de Aquino I-IIae q.73 a.3
(também em todas as questões dedicadas ao pecado,
I-IIae qq. 71 a 89).
São Tomás de Aquino assim explica:
“Quando a vontade se volta para uma coisa de per si
contrária à caridade pela qual estamos ordenados ao
fim último, há no pecado, pelo seu próprio objeto, ma-
téria para ser mortal. Quer seja contra o amor a Deus,
como a blasfêmia, o perjúrio etc., ou contra o amor
ao próximo, como o homicídio, o adultério etc.. Por
outro lado, quando a vontade do pecador se dirige às
vezes a um objeto que contém em si uma desordem,
Catolicismo - O outro lado da moeda - comentários do autor 131

mas não é contrário ao amor a Deus, e ao próximo,


como, por exemplo, palavra ociosa... tais pecados são
veniais” (S. Th. 1,2, 88,2; Catecismo 1856).
Portanto, a gravidade dos pecados pode ser maior
ou menor conforme o dano provocado pelo mesmo.
O gênero ou a espécie do ato moral é considerada de
acordo com sua matéria ou objeto: daí é que o ato mo-
ral é bom ou mau de acordo com seu gênero.
A vida da alma é a virtude da caridade [o amor] que
nos une a Deus, por quem a alma vive, como diz João (I
Jo. 3:14): “Quem não ama, permanece na morte”; ora,
a morte é a privação da vida.
Quando se examina a matéria de um ato, e se
encontra algo que se opõe a esse amor [a caridade],
necessariamente aquele ato é pecado mortal por seu
gênero. Por exemplo, matar um homem é algo frontal-
mente oposto à caridade, pela qual amamos o próximo
e queremos que ele tenha o ser, a vida e outros bens,
o que é próprio da amizade, como diz o Filósofo São
Tomas de Aquino (IX Ethic.4; 1166a, 4-5). E, assim, o
homicídio é pecado mortal por seu gênero.
Quando, porém, o exame do objeto de um ato
não revela algo que se oponha à caridade, como,
por exemplo, falar palavras fúteis etc., esse ato NÃO
é pecado grave por seu gênero, mas pode vir a ser
por algo que se lhe acrescenta, como já foi discutido
anterioremente.

“Para conhecer O Mal é necessário voltar-se para os


modos concretos em que ele ocorre” – Trecho do livro
Tomás de Aquino – Sobre o Ensino (De Magistro)
& Os Sete Pecados Capitais
132 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

A INVEJA (PECADO CAPITAL),


COMO OUTROS PECADOS, PODE
SER CONSIDERADA PECADO GRAVE
Como exemplo, a inveja, pelo seu próprio objeto,
implica algo contra a caridade, pois é próprio do amor
de amizade querer o bem do amigo como se fosse
para si mesmo, porque,como diz o Filósofo (IX Ethic.4;
1166a, 30-32), o amigo é como se fosse outro eu. Com
isso, entristecer-se com a felicidade do outro é clara-
mente algo oposto à caridade, pois por ela amamos
ao próximo. Daí que Agostinho diga (De vera rel. 47):
“Quem inveja a quem canta bem não ama ao que canta
bem”. Assim, a inveja é pecado mortal por seu gênero.

São Tomás de Aquino (1226-1274) Filósofo e teólogo italiano. A sua


obra marca uma etapa fundamental na escolástica. É ele que pros-
segue e conclui o trabalho de Alberto Magno. Monge dominicano,
ficou conhecido como o «doutor angélico». Em 1879, as suas obras
foram reconhecidas como sendo a base da teologia católica. A fi-
losofia de  Tomás de Aquino é conhecida como tomismo. Nasceu
em Roccasecca, próximo de Cassino, no reino de Nápoles, ao sul da
Itália, na família dos condes de Aquino. Iniciou a sua educação na aba-
dia de Montecassino. Em 1243, em Nápoles, ingressa na ordem dos
dominicanos. Estuda, pouco depois, com o erudito alemão Alberto
Magno, em Paris (1243-1248) e em Colônia(1248-1252). Volta a Paris,
em 1252, iniciando os seus comentários sobre a Bíblia. Começa a
ensinar nesta cidade, sendo nomeado mestre da Universidade, em
1257; dois anos depois, regressa à Itália. Em 1265, é encarregado
de organizar os estudos da Ordem dos Dominicanos em Roma. Em
1269, volta a Paris ocupando a sua cátedra de mestre de teologia.  Em
1272, voltará ainda à Itália para ensinar na Universidade de Nápoles.
Morreu em 1274, quando se dirigia ao Concílio de Leão.
Catolicismo - O outro lado da moeda - comentários do autor 133

PARTE 3
REFLEXÕES E CONTRADIÇÕES
Críticas à Igreja
A Igreja Católica é uma entidade que tem dois milê-
nios de história. Está entre as mais antigas e sérias ins-
tituições do mundo contemporâneo. Historicamente,
as críticas a esta igreja já tiveram muitas formas e par-
tiram de diversos pressupostos ao longo das gerações.
Algumas vezes, essas críticas trouxeram importantes
consequências, como as contestações morais e teo-
lógicas de Martinho Lutero no século 16, que levaram
ao nascimento do protestantismo (veja capítulo 14) ou
ao surgimento da Igreja Anglicana (veja capítulo 16),
que teve sua origem na Inglaterra, em 1530, em decor-
rência do pedido negado de divórcio do rei Henrique
VIII (1509-1547), que vendo que o papa vacilava em
atender seu pedido de divórcio de Catarina de Aragão,
para poder se casar com Ana Bolena, desligou-se da
Igreja Católica. Vale aqui lembrar que, recentemente,
o Vaticano anunciou uma decisão histórica, facilitando
a conversão (ou a volta) de anglicanos ao catolicismo.
O papa Bento XVI abriu as portas da Igreja Católica,
admitindo a ordenação de antigos membros do clero
anglicano, bispos e sacerdotes (inclusive os casados).
Essas medidas demonstram que a Igreja, frente a algu-
mas orientações rigorosas em uma determinada épo-
ca, pode modificar ou flexibilizar sua posição no decor-
rer do tempo, desde que esta posição não seja consi-
derada um dogma de fé (artigo imutável de fé da Igreja
Católica). Conclui-se que atitudes consideradas como
PECADO em um determinado tempo, podem, em ou-
tras épocas, não ser mais consideradas dessa forma.
A vida é curta, o tempo passa e nem sempre podemos
134 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

esperar as mudanças da Igreja para sermos felizes. A


história da Igreja demonstra que a desobediência de
hoje poderá ser permitida no futuro.
No contexto atual, as críticas tendem a centrar-se
em dois pontos. Em primeiro lugar, a história dessa
instituição possui episódios que, em maior ou menor
grau, são vistos por muitos como injustos ou em con-
tradição com a mensagem cristã que a fundamenta.
Outro aspecto importante é que muitos dos conceitos
e modelos de comportamentos adotados na sociedade
atual parecem estar se distanciando de seus ensina-
mentos (ou indo em oposição a eles). Tal distanciamen-
to é notável em temas como bioética, sexualidade e
matrimônio, entre outros.
Exemplos para refletir
1. Sobre a Encíclica “Humanae Vitae” que proíbe
a pílula, preservativos e o controle da natalidade
Uma dessas críticas encontra-se no livro “Diálogos
Noturnos em Jerusalém Sobre o Risco da Fé”, de au-
toria dos Cardeais Carlo M. Martini e Georg Sporschill
no Capítulo Aprender a amar. É o que podemos ver no
seguinte trecho:
“A igreja continua com a fama de ser inimiga do corpo
ou afastada da vida. Uma expressão disso é a Encíclica
Humanae Vitae, da qual só se divulgou que proíbe a
pílula e o controle da natalidade. A pergunta é se esta
proibição ainda pode ser mantida num mundo com a
epidemia da AIDS e da medicina moderna. Em todo
caso, a Igreja ergueu com isso uma barreira que a se-
para da juventude.”
Outras, como esta, são críticas importantes de
muitos cientistas e políticos, católicos e não católicos,
que mantêm diálogo com a Igreja e acreditam que es-
Catolicismo - O outro lado da moeda - comentários do autor 135

tas posturas afetam de modo negativo os fiéis do cato-


licismo. Os Cardeais, autores desse livro, argumentam
que é impossível não observar o comportamento dos
jovens de hoje e ignorar a proximidade corporal en-
tre eles e acreditar que tenham uma vida sexual nula.
Viajam juntos e dormem juntos. Na maioria das vezes,
com a permissão dos pais, que observam e sentem-se
incapazes de impedir este comportamento.
“A Igreja ignora estes fatos. Nada se ganha com ilu-
sões e proibições”, comentam os autores.

2. Contradições do Catecismo
Mesmo no Catecismo existem contradições. Os itens
2379 e 2375 (contrários aos itens 2376 e 2377) favore-
cem a pesquisa científica em prol da cura da infertilidade
e afirmam que os recursos médicos devem ser esgotados
antes da adoção. No item 2366 está escrito: “A Igreja, que
‘está do lado da vida’, ensina que ‘qualquer ato matrimonial
deve permanecer aberto à transmissão da vida’”. Os itens
2373 e 2374 descrevem a importância da família numero-
sa, considerada uma bênção de Deus, e ainda o sofrimen-
to dos casais que não conseguem ter filhos.
§ 2379 O Evangelho mostra que a esterilidade fí-
sica não é um mal absoluto. Os esposos que, depois
de esgotados os recursos médicos legítimos, sofrem
de infertilidade, associar-se-ão à cruz do Senhor, fonte
de toda a fecundidade espiritual. Podem mostrar a sua
generosidade adotando crianças abandonadas ou reali-
zando serviços significativos em favor do próximo.
§ 2375 As pesquisas que visam diminuir a esterili-
dade humana devem ser estimuladas, sob a condição
de serem postas “a serviço da pessoa humana, de seus
direitos inalienáveis, de seu bem verdadeiro e integral,
de acordo com o projeto e a vontade de Deus”.
136 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

§ 2373 A Sagrada Escritura e a prática tradicional


da Igreja veem nas famílias numerosas um sinal da
bênção divina e da generosidade dos pais.
§ 2366 A FECUNDIDADE DO MATRIMÔNIO. A fe-
cundidade é um dom do Matrimônio, porque o amor
conjugal tende naturalmente a ser fecundo. O filho
não vem de fora acrescentar-se ao amor mútuo dos
esposos; surge no próprio âmago dessa doação mú-
tua, da qual é fruto e realização. A Igreja, que “está
do lado da vida”, ensina que “qualquer ato matrimo-
nial deve permanecer aberto à transmissão da vida”.
“Esta doutrina, muitas vezes exposta pelo Magistério,
está fundada na conexão inseparável, que Deus quis
e que o homem não pode alterar por sua iniciativa,
entre os dois significados do ato conjugal: o signi-
ficado unitivo e o significado procriador.” (Meu co-
mentário: assim, o amor conjugal entre o homem e
a mulher atende à dupla exigência da fidelidade e da
fecundidade).
§ 2374 É grande o sofrimento de casais que des-
cobrem que são estéreis. “Que me darás?” Pergunta
Abrão a Deus. “Continuo sem filho...”. “Faze-me ter
filhos também, ou eu morro”, disse Raquel a seu ma-
rido Jacó.

3. Pensamentos Bíblicos comentam a dor na


esterilidade, o sofrimento das mulheres e o milagre
de Deus em situações consideradas impossíveis:
Gênesis 16:1
a) “Sara, mulher de Abrão, não lhe tinha dado filhos;
mas, possuindo uma escrava egípcia, chamada
Agar, 2. Disse a Abrão: Eis que o Senhor me fez
estéril; rogo-te que tomes a minha escrava, para
ver se, ao menos por ela, eu posso ter filhos.”
Catolicismo - O outro lado da moeda - comentários do autor 137

b) Gênesis, Versículos 25 a 27
“Durante muitos anos, Sara (até então chamada
Sarai) não conseguia engravidar. Então, Sara pediu
a seu esposo Abraão (até então chamado Abrão)
que se unisse (sexualmente) a sua criada, chama-
da Agar, para que a mesma engravidasse. E disse:
‘Ao menos por meio dela, talvez eu tenha filhos’, o
que induz que ela queria se apropriar do filho que
a criada tivesse. A criada, ao engravidar, começou
a tratar sua senhora com desprezo e, em razão
disso, aquela se sentiu afrontada e começou a
maltratar sua criada que acabou fugindo. Um anjo
do Senhor foi atrás de Agar e pediu que ela vol-
tasse. Prometeu que sua descendência seria tão
numerosa que não poderia ser contada. Agar vol-
tou e teve seu filho e deu a ele o nome de Ismael,
como o anjo lhe havia determinado. Depois de
muito tempo, quando Sara já tinha passado dos
90 anos de idade, Deus a agraciou com uma gravi-
dez e ela teve Isac.”

4. Fertilização Heteróloga
Um artigo de autoria da advogada Dra. Aline Ferraz
de Gouveia Granja, formada em Direito pela Faculdade
Jorge Amado, Salvador, Bahia, foi publicado pela
webartigos.com sob o título de “Filiação afetiva nas técni-
cas de reprodução assistida heteróloga”. Esse artigo utiliza a
simbologia bíblica do nascimento de Jesus e questiona
o item 2376 do Catecismo, já citado anteriormente, que
determina a rejeição dos tratamentos de Fertilização
Heteróloga (Banco de sêmen ou óvulos doados) por
motivo da dissociação do parentesco.
“Desde os tempos dos nossos ancestrais existem len-
das, como a de Ates e a de Jesus já mencionadas,
sobre a gravidez sem o ato sexual entre homem e
138 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

mulher. O presente tema é de tamanha perplexida-


de e imaginação, até então, que desde a antiguidade
vêm povoando histórias dos nossos antepassados.
Entretanto, nos dias atuais, com o avanço da ciência
médica e o surgimento de novas tecnologias, essas se
tornaram possíveis.”
Atualmente uma das maiores religiões aceitas
no País e no mundo, a Católica baseia sua história em
uma reprodução heteróloga (que mesmo só recebendo
esse nome milênios depois, já se encontrava em um
dos relatos mais importantes para os fiéis). Em Lucas,
capítulo 1, versículo 18 da Bíblia, encontra-se a prova
disso:
“a uma virgem desposada com um homem que se cha-
mava José, da casa de Davi, e o nome da virgem era
Maria. Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça,
o Senhor é contigo. Perturbou-se ela com estas pala-
vras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante
saudação. O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois
encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás
e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus.
Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o
Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e rei-
nará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não
terá fim. Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso,
pois não conheço homem? Respondeu-lhe o anjo: O
Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo
te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo
que nascer de ti será chamado Filho de Deus. Também
Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua
velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por
estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível.”
(Meu comentário: incluir também do mesmo capítulo
1, os versículos 11 até 22).
Catolicismo - O outro lado da moeda - comentários do autor 139

“Desta forma, ficam comprovados duas essenciali-


dades da reprodução assistida heteróloga: uma em re-
lação a Maria, que o filho concebido não será do mari-
do e ocorreu sem que houvesse ato sexual; e outra em
relação a Isabel, que mesmo sendo estéril, conseguiu
engravidar, comprovando que nada é impossível.
Apesar do texto expresso da Bíblia, a Igreja Católica
se opõe a esse tipo de concepção.  De acordo com
Frazão, os argumentos dados pela Igreja baseiam-se no
fato de que apenas o matrimônio torna legítima a pro-
criação, sendo necessária a união carnal dos cônjuges
unidos em casamento; caso não haja essa harmonia de
preceitos, estaríamos diante de uma imoralidade.
Assim, é possível observar na posição da Igreja
Católica, frente a sua base teórica, que Maria era vir-
gem, não podendo, portanto, seu filho ter advindo de
uma relação carnal, e também não era José o pai bio-
lógico do filho a quem ela deu à luz. Isso implica que o
filho não surgiu da união desses; consequentemente,
utilizando os próprios argumentos da Igreja Católica,
haveria uma procriação ilegítima, sem união carnal, que
seria, em si, uma imoralidade.
Não obstante para os seguidores dessa religião,
não há contradição, pois somente para pessoas toca-
das pela divindade, seria acessível essa técnica. Em ou-
tras palavras: só Deus pode fazer uso da inseminação
artificial, os mortais não.
Entretanto, conforme a história relatada na Bíblia,
José primeiro negou o filho, depois, segundo a lenda,
ele foi visitado por um anjo que o esclareceu e, então
acolheu o filho que estava por vir como se seu fosse e
deu-lhe amor e afeto, mesmo sabendo não ser este seu
descendente biológico. Assim, por mais retrógrada que
seja essa oposição católica às técnicas de reprodução
140 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

assistida heteróloga na conjuntura atual, por ser realiza-


da pelo homem, devemos considerar que o afeto já exis-
tia como fator determinante nas relações paterno-filiais.
É o que pretende se demonstrar na referida tese.”

5. Subestimando a inteligência científica


Alguns editoriais publicados nos Estados Unidos
e disponíveis na Internet, dentre eles um intitulado “IVF
and Catholic Teaching” (A fertilização in vitro e os en-
sinamentos católicos), reforçam a condenação das
técnicas de fertilização pela Igreja Católica e indicam
clínicas especializadas em tratamentos conservadores
que respeitam a religião.
Naquele país, as clínicas mais conhecidas são
os Instituto Paulo VI e a NaPro Technology (Natural
Procriative Tecnology – Tecnologia Natural para a
Procriação) –, esta última coordenada pelo médico e
Professor de Ginecologia Dr. Thomas Hilgers. Essa clí-
nica tem filiais na Europa que podem ser encontradas
pelo site www.fertilitycare.net. Eles realizam um único
tratamento, o coito programado, descrito no primeiro
capítulo deste livro, “Aspectos importantes sobre a
Pesquisa e os Tratamentos da Infertilidade”. Este trata-
mento consiste no acompanhamento da ovulação pelo
ultrassom para identificar o dia provável da ovulação e
o melhor momento para o casal ter relações sexuais e
conseguir a gravidez. É um tratamento extremamente
simples, realizado pelo ginecologista geral, não espe-
cialista, e que é normalmente indicado para casais jo-
vens, sem problemas graves. A taxa de sucesso deste
tratamento está em torno de 14%. Mesmo assim, a
NaProTechnology faz comparações com tratamentos
mais sofisticados, como a fertilização in vitro (FIV) e pro-
cura demonstrar que os tratamentos mais simples que
eles realizam, levam a resultados superiores aos mais
Catolicismo - O outro lado da moeda - comentários do autor 141

sofisticados, o que é contrário às evidências científicas


do mundo inteiro (Medicina Baseada em Evidências).
Essas demonstrações subestimam o conhecimento
dos pacientes interessados neste assunto.
Em outro estudo, comparam o tratamento clínico
conservador dos ovários policísticos com uma inter-
venção cirúrgica que utiliza uma técnica antiquada e
já abandonada há muitos anos (Ressecção em cunha
dos ovários) por não apresentar comprovação científica
da sua eficiência (Medicina Baseada em Evidências).
Estes tratamentos com medicação são realizados por
quase todos os médicos que entendem desta altera-
ção ovariana. Com essa comparação inapropriada
procuram, mais uma vez, demonstrar a superioridade
de seus tratamentos ultraconservadores idênticos aos
normalmente usados pela comunidade médica.
Assim, é fundamental um olhar crítico para estes
resultados e não permitir que a fé cegue as evidências
da ciência médica e despreze o que há de melhor no
Catolicismo.

6. Reflexões Bioéticas
Trecho do livro “Problemas Atuais de Bioética”,
Edições Loyola, Capítulo “Técnicas de Reprodução
Assistida”, Autores: Leo Pessini e Christian de Paul de
Barchifontaine:
“Oficialmente, sabemos que a moral católica se opõe
à fecundação in vitro ou em laboratório. Mas a refle-
xão em busca da verdade e do bem continua, não é
questão fechada. Notamos que a fecundação in vitro
recebe crescente aceitação nos meios científicos, que
a submetem, todavia, a condições e restrições éticas,
ora na perspectiva clínica, ora na científica. Essas con-
dições foram expressas pelo Comitê Federal de Ética
142 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

norte-americano e receberam aprovação de moralistas


católicos como Patrik Vespieren, Oliver de Dinechin e
outros participantes do 1º Congresso Internacional
de Transferência de Embriões (Annecy, setembro de
1982). Deixando de lado a validade puramente cientí-
fica das experimentações, três condições básicas são
exigidas para que o processo aconteça: 1. A insemina-
ção artificial deve ser intraconjugal; 2. Que ela tenha
o objetivo de contornar um caso de esterilidade; 3.
Que ela tenha o objetivo de almejar uma criança que o
casal quer assumir e criar.
Como se percebe, as condições para a fecundação
in vitro e para a inseminação artificial são substancial-
mente as mesmas para vários moralistas católicos.
Eles frisam que o dom da vida se situa no contexto de
um relacionamento personalizado no amor. Na cami-
nhada da conquista da verdade, das descobertas, ob-
servamos os conflitos dos princípios ético-religiosos
já estabelecidos num contexto sócio-histórico-cultu-
ral e técnico determinado, com as novas realidades
e descobertas técnicas no campo da medicina. São
questões de fronteira, de um lado (ético-religioso)
procura-se sempre salvaguardar do ser humano, o
respeito à vida, e de outro lado (científico) procura-se
sempre descobrir algo novo do ser humano, quando
por vezes, técnicas agressivas brincam com vida. Na
situação de conflito, em que entra o posicionamento
ético-religioso, a moral católica deve ser repensada à
luz das conquistas das ciências humanas.
A posição do Magistério da Igreja Católica, no
Documento Domum Vitae, deixou muita gente perple-
xa: povo, imprensa, moralistas, cientistas e até mes-
mo bispos. Universidades católicas e também hospi-
tais religiosos tinham entrado na era da fecundação
in vitro. A medida tomada pelo Vaticano não é dogma
Catolicismo - O outro lado da moeda - comentários do autor 143

(um artigo imutável de fé da Igreja Católica) e, além


do mais, nem todo mundo é católico, nem todos os
católicos seguem as decisões da Congregação para
a Doutrina da Fé. A ciência continua se desenvolven-
do, a fecundação in vitro continua e as universidades
e hospitais religiosos caminham na área científica,
tendo por princípio o respeito pela dignidade.

PARTE 4
CONCLUSÃO
Entendo que nem todas as respostas aos princi-
pais questionamentos do povo católico estão nos do-
cumentos da Igreja. Por isso, acredito que as perguntas
e dúvidas devem continuar desafiando os teólogos e
moralistas a aperfeiçoarem o seu conhecimento.
Tenho consciência de que teremos o conhecimen-
to pleno somente no Céu. Entretanto, enquanto estiver-
mos na Terra, é fundamental o diálogo entre a Ciência e
a Igreja, o entendimento dos casais, e que as ligações
afetivas entre ambos sejam cada vez mais fortes. É ne-
cessário valorizar o amor, fazer o bem sem pensar em
um possível reconhecimento e negar o egoísmo, este
último tão prejudicial às relações humanas.
Os filhos modificam e definem a vida no casamento e
por isso devem ser frutos do amor sincero entre o homem
e sua mulher e considerados o prêmio maior do amor de
Deus, independente da forma como foram concebidos.
O importante é que todos se empenhem em rea-
lizar um bom trabalho em prol da vida e a “Serviço da
vida” (“Exortação apostólica de João Paulo II, Capítulo
II – O serviço à Vida – A Missão da Família Cristã no
mundo de hoje”).
Capítulo 9

Taoísmo
Entrevista com o Sacerdote Wagner Canalonga da
Sociedade Taoísta do Brasil – São Paulo

“Toda a dificuldade deve ser resolvida enquanto ainda é fácil.”


(autor desconhecido)

O Taoísmo remonta ao século 2º, incorporando


alguns dos elementos religiosos mais antigos da China.
Seu precursor foi Lao Tzu, considerado o fundador da
religião, mas que na realidade foi responsável por im-
pulsioná-la baseado em alguns conceitos primitivos já
existentes. No Taoísmo, acredita-se na essência de to-
das as coisas, e duas forças regem seus princípios: Yin
(passivo, feminino, noturno, escuro, frio) e Yang (ativo,
masculino, diurno, luminoso, quente).
São encontradas duas vertentes religiosas, a primei-
ra focada na meditação, seguindo feições metódicas, de
uma maneira geral como uma ordem filosófica, e a outra
mais ortodoxa, voltada fundamentalmente para os ritu-
ais, renovação cósmica e controle espiritual.
O termo Tao significa caminho e está presente
em todas as tradições filosóficas chinesas, dentre
146 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

elas o Confucionismo. Em seus rituais é marcante a


presença do incenso e um de seus símbolos, talvez o
mais conhecido, faz parte também da cultura ociden-
tal onde o Yin/Yang é utilizado como representação
de equilíbrio e complementaridade entre as forças
naturais. Sua organização clerical é constituída por
uma estrutura monástica e sacerdotal. Dentre os
principais textos sagrados encontram-se Dao de Jing
ou Tao Te Ching (“O Caminho e seu poder”), suposta-
mente escrito por Lao Tzu, e os escritos de Chuang
Tzu (369-268 a.C.).
No Brasil, são encontradas diversas ramificações
do Taoísmo, tanto religiosas (Taochiao) quanto filosó-
ficas (Taochia), destacando-se entre elas a vertente re-
ligiosa representada pela Sociedade Taoísta do Brasil,
instituída em 15 de janeiro de 1991, no Rio de Janeiro,
RJ, com o objetivo de difundir o ensinamento do
Taoísmo em todas as suas formas de expressão – reli-
giosa, filosófica, científica e cultural – e contribuir para
o aperfeiçoamento espiritual dos frequentadores. Seu
idealizador e fundador foi Wu Jyh Cherng (1958-2004),
sacerdote taoísta Kao Kon Fa Shi (Alto Ofício, Mestre
da Lei). Mestre Cherng escreveu diversos livros so-
bre artes taoístas e traduziu o Tao Te Ching, o livro do
Caminho e da Virtude, e o Yi Jing (I-Ching), o livro das
Mutações, entre outros clássicos do taoísmo.
O caminho taoísta propõe a restauração do estado
pleno de vida e consciência, chamado Tao. Para isso,
utilizam-se vários meios, como as práticas que promo-
vem a boa saúde física e mental, o estudo de clássicos
escritos pelos grandes mestres do passado, os méto-
dos místicos para a restauração da ordem interna e,
fundamentalmente, a meditação, como caminho de au-
totransformação e elevação espiritual.
Taoísmo 147

De acordo com os últimos dados do IBGE, o nú-


mero de adeptos ao Taoísmo vem crescendo, calcu-
lado aproximadamente em dois milhões de fiéis es-
palhados pelo Brasil. Apesar de não ser uma religião
oficial nos Estados Unidos, seus princípios filosóficos
são encontrados na maior parte das seitas orientais
no Ocidente. Atualmente, a religião conta com cerca
de três mil monges e 20 milhões de adeptos em todo
o mundo, sendo muito popular em Hong Kong, com
mais de 360 templos.
Em São Paulo, o famoso e tipicamente oriental
bairro da Liberdade, abriga o Centro Taoísta do Brasil,
um ambiente com ar místico onde o silêncio predo-
mina e um agradável aroma de incensos paira na
atmosfera.
Em entrevista, o Sacerdote Wagner Canalonga ex-
plica que o foco da filosofia Taoísta está na observação
das leis da natureza, e foi baseado nestes preceitos
que ele esclareceu o que a religião milenar pensa sobre
a utilização dos métodos de reprodução assistida.
Segundo o Sacerdote, todos os tratamentos de
reprodução humana não ferem os princípios filosófi-
cos. Toda pesquisa científica é fundamentada na ob-
servação da natureza, logo, cada um desses processos
descritos passaram por um estudo para comprovar sua
viabilidade.
“Acredito, eu, que todos os procedimentos de reprodu-
ção humana foram testados de diferentes formas, para
chegar aos procedimentos padrão como a inseminação
artificial, e a fertilização in vitro.”, diz Wagner.
Para Wagner, o coito programado nada mais é que
a observação do ciclo natural da mulher, uma com­
preensão da fertilidade para indicar qual o dia mais
148 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

apropriado para o casal ter a relação sexual e facilitar


uma gravidez desejada. Na visão dele, isso é observar a
natureza e tentar usar esse conhecimento pra benefício
próprio, e complementa que isso é essencialmente um
princípio Taoísta.
Na doutrina Taoísta não há nenhuma restrição
quanto às técnicas de reprodução assistida, assim
como a inseminação artificial. O sacerdote explica que
não ver nenhum problema no método que nada mais é
que um recurso da medicina que possibilita às pessoas
alcançarem um objetivo almejado e que não foi possí-
vel pelos meios naturais.
Em sua visão, a fertilização in vitro, necessita de
uma aproximação do processo natural, pois da forma
como é realizada não fornece garantias de sucesso. Ele
ressalta que mesmo de uma forma artificial o método
não deixa de ser uma variação do processo natural, no
qual ocorre a união do esperma com o óvulo e, conse-
quentemente, a fecundação.
Para Wagner, todos os métodos apresentados, in-
cluindo o congelamento de embriões e congelamento
de óvulos, diz em respeito a um pensamento cartesia-
no, individual, de atendimento de desejos singulares
de cada pessoa. Ele comenta que hoje existem todos
os tipos de tecnologia disponível, visando a satisfação
pessoal do ser humano, com êxito na maioria das ve-
zes. Assim, o aspecto técnico não apresenta problema
algum para o Taoísmo.
Quando questionado sobre doação de embriões, o
sacerdote explica que não se deve descartar a questão
do lado emocional do casal, por saber que o ser gerado
é parte de outra pessoa. Porém, dentro da questão es-
piritual, esse procedimento não fere nenhum princípio
Taoísmo 149

ético Taoísta. Eles acreditam no conceito de carma, de


causa e efeito, e o fato de nascermos em uma época
na qual temos toda essa tecnologia disponível está re-
lacionado com nosso carma.
Uma mulher que gestou um embrião biologica-
mente filho de outros pais, segundo ele já cria uma co-
nexão cármica com o bebê que está para nascer. Essa
foi a oportunidade que ela teve de encontrar esse em-
brião. Desde o momento do início da gravidez, a mu-
lher já possui um vínculo de amor com aquele ser, fruto
biológico de outras vidas. O mesmo vale para doação
de sêmen e óvulos.

QUADRO GERAL
FIV
Coito Inseminação (Fertilização Doação de Congelamento Congelamento deDoação
sêmen/
programado artificial embriões de óvulos de embriões
in vitro) óvulos

A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR


Capítulo 10

Jeovismo
Entrevista com o Ancião Walter Freoa (Departamento de
notícias da Igreja Testemunhas de Jeová)

“Cabe à pessoa tomar a decisão. Se ela decidir aceitar, não estará


ferindo nenhum principio bíblico.” (Walter Freoa)

O movimento religioso que deu início às Teste-


mu­ nhas de Jeová surgiu na década de 1870, em
Allegheny, Pensilvânia, Estados Unidos, liderado por
Charles Taze Russell. No início, Russell e alguns amigos
criaram um grupo de estudo pessoal sobre a “verdade
bíblica”, com o intuito de expor suas ideias e compará-
-las aos princípios dogmáticos de outras religiões.
Posteriormente, surgiu a ideia da criação de um
veí­culo para divulgar supostas contradições que ocor-
riam nas igrejas da época. Nasceu, então, a Sentinela,
que em alguns anos tornou-se a revista religiosa com
maior distribuição mundial.
Com a circulação da revista, outros pequenos gru-
pos de estudo surgiram com a finalidade de aprender
um pouco mais sobre o livro sagrado. Esses grupos
passaram a ser conhecidos como estudantes da bíblia
e, mais tarde, com a publicação da Sentinela em outras
línguas, como estudantes internacionais da bíblia.
152 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Após a morte de Russell, a Associação Bíblica


Dawn, por ele fundada foi assumida por Joseph Franklin
Rutherforf, que recebeu a função do controle da “Torre
de Vigia” e, em 1931, mudou o nome da associação
para “As Testemunhas de Jeová”.
Em 1923, a religião chegou ao Brasil com um gru-
po de marinheiros norte-americanos e, em 1999, já
contava com 750 mil fiéis e sede nacional instituída em
Cesário Lange, interior de são Paulo. Dados divulgados
pelo anuário das Testemunhas de Jeová de 2009 apon-
tam aproximadamente 18 milhões de membros ativos
da igreja e outros 10 milhões de simpatizantes, que
participam semanalmente de seus cultos.
A base fundamental de suas crenças é a bíblia, por
eles aceita como a palavra de Deus e interpretada de
forma literal em seus estudos, exceto quando nos tex-
tos há evidências de simbolismo ou sentido figurado.
Consideram 66 os livros que compõem a bíblia, entre
Novo e Velho Testamento, também chamados de escri-
turas gregas cristãs e escrituras hebraicas.
As congregações são formadas por um ancião, supe-
rintendentes e voluntários, que conduzem os ensinamen-
tos com o apoio de servos ministeriais. Semanalmente,
são realizados cultos de estudo à bíblia e anualmente ocor-
rem assembleias nas quais novos membros são batizados.
O depoimento de Walter Freoa, que além de ancião
é responsável pelo departamento de comunicação da
igreja, revela que os fiéis desta religião valorizam muito
a ciência e estão muito bem informados com relação
aos tratamentos de reprodução humana assistida. Para
ele a escolha por uma dentre as técnicas disponíveis,
depende exclusivamente da decisão de consciência de
cada pessoa, e ressalta que os tratamentos menciona-
dos não ferem os preceitos bíblicos.
Jeovismo 153

“Cabe à pessoa tomar a decisão. Se ela decidir aceitar, não


estará ferindo nenhum principio bíblico.”, diz Walter Freoa.
Segundo ele, o coito programado é um dos trata-
mentos mais admirados pelas Testemunhas de Jeová,
pois explica que é uma forma válida e eficiente tanto para
ter filhos como para evitá-los. E, mesmo com acompa-
nhamento médico e a indução de hormônios, como é o
caso, não há nenhuma restrição, pois não fere nenhum
conceito bíblico, tendo a mesma opinião quanto à inse-
minação artificial. E complementa de forma espontânea,
dizendo que apoiam o método de “útero de substitui-
ção” mais conhecido como “barriga de aluguel”.
Freoa declara ser a favor da ciência e consequen-
temente da evolução da medicina, como é o caso do
tratamento de fertilização in vitro, procedimento que foi
minuciosamente pesquisado por profissionais da área
de medicina da reprodução.
Quando questionado sobre congelamento de óvulos
e embriões, o Ancião esclarece que a opção vale como
um exame de consciência. E ainda complementa que a
Igreja apoia que a mulher se beneficie dos avanços da me-
dicina, e compreende que isso não fere nenhum princípio,
sendo uma forma de cuidar de seu próprio corpo, e da sua
saúde quando estiver preparada para ter esse bebê.
Quanto ao procedimento de doação de embriões,
sêmen e óvulos, é sucinto e objetivo. Ele explica que
dentro da ética cristã não é permitido e ainda cita um
trecho da bíblia em Levítico, capítulo 18, versículo 20:
“Não deve usar a tua missão com o sêmen a esposa de
seu colega se tornando impuro por ela”.

QUADRO GERAL
FIV
Coito Inseminação (Fertilização Doação de Congelamento Congelamento deDoação
sêmen/
programado artificial embriões de óvulos de embriões
in vitro) óvulos
A FAVOR A FAVOR A FAVOR CONTRA A FAVOR A FAVOR CONTRA
Capítulo 11

Espiritismo
Entrevista com Roberto dos Santos Aparecido
(Diretor da Sociedade Espírita Allan Kardec de São Matheus –
Filiada à Federação Espírita do Estado de São Paulo)

“A nossa felicidade será naturalmente proporcional em relação à


felicidade que fizermos para os outros.” (Allan Kardec)

O termo espiritismo (“espiritisme”) surgiu como


um neologismo, criado pelo pedagogo francês Hippolyte
Léon Denizard Rivail, sob o pseudônimo de “Allan Kardec”,
para nomear especificamente o corpo de ideias por ele
sistematizadas inicialmente em “O Livro dos Espíritos”
(1857). Sua principal característica é a crença em que os
mortos são fonte de ensinamento para os homens, além
da divisão dos espíritos em imperfeitos, bons e puros.
No Brasil, o espiritismo começou a ganhar força
a partir do ano de 1884, com a criação da Federação
Espírita Brasileira, cujo trabalho era expandir as práti-
cas do espiritismo. Um dos pioneiros da nova prática
religiosa foi Bezerra de Menezes, que, ao converter-se
à nova crença, acreditava estar vivenciando o ápice da
fé cristã. Essa figura histórica do espiritismo brasileiro
abraçou a nova religião, influenciado pela vivência com
156 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

o médium João Gonçalves do Nascimento, que pratica-


va curas na cidade do Rio de Janeiro.
Uma figura muito importante, e talvez a mais co-
nhecida entre os leigos e praticantes, é o médium
Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier. Por meio
de suas obras psicografadas, popularizou ainda mais
o espiritismo. Entre elas, podemos destacar “Brasil,
Coração do Mundo Pátria do Evangelho”, em que é nar-
rada a intervenção dos espíritos em diferentes aconte-
cimentos da história nacional.
A grande aceitação da prática espírita se deve à
sua capacidade de articular elementos cultos e popu-
lares, com os quais uma pessoa de origem simples
poderia incorporar figuras de prestígio. Muitos dos
adeptos daquela época insistiam em assinalar como a
nova religião andava em acordo com os princípios li-
berais e científicos vigentes no período. Um exemplo
claro dessa associação pode ser visto no fato de mui-
tos republicanos e abolicionistas simpatizarem com o
espiritismo. No entanto, a nova religião sofreu grande
oposição em um contexto histórico em que o catolicis-
mo tinha grande presença. Nos códigos de lei da época
e no receituário de alguns psiquiatras, o espiritismo era
considerado uma manifestação de insanidade mental.
Segundo dados do último censo, o espiritismo é
uma das religiões que mais têm crescido no Brasil.
Em 2000, a religião contava com cerca de 2,3 milhões
de seguidores. Já em 2005, estimava-se a existên-
cia de 10 milhões no mundo inteiro (Encyclopedia
Britannica), sendo que aproximadamente três milhões
vivem no Brasil, fazendo dessa a maior nação espírita
do planeta. Acredita-se ainda que o número de simpa-
tizantes do espiritismo no Brasil gire em torno de 20
milhões.
Espiritismo 157

Roberto declara que o espiritismo estuda vários cam-


pos da ciência, dentre eles o da medicina da reprodução.
Quanto aos tratamentos, ele explica que a doutrina acei-
ta os métodos utilizados atualmente, e que não há nada
que condene o trabalho cientifico nesse sentido, além de
incentivar qualquer tratamento que estimule a vida. Os
espíritas acreditam que os problemas de infertilidade de
um casal têm origem em vidas passadas. Em sua visão,
se hoje estes pais enfrentam alguma dificuldade nesse
sentido é porque tiveram sua oportunidade no passado e
não estavam preparados para essa missão.
O tratamento de coito programado não é vetado por
eles. Nosso entrevistado complementa que no livro dos
espíritas e médiuns, há relato que pessoas que hoje têm
dificuldade para ter filhos, em vidas passadas maltrata-
ram seu próprio órgão genital, trazendo para sua vida atu-
al esse tipo de problema. Contudo, o tratamento natural,
controlando o melhor dia fértil da mulher não é proibido.
Quanto à inseminação artificial, o procedimento
envolve o mesmo conceito do coito programado. Eles
não proíbem, só aconselham que, além do trabalho
médico, haja um acompanhamento espiritual. Roberto
aconselha aos “irmãos” que é preciso primeiramente
tratar a alma e o corpo.
Isso vale também para a fertilização in vitro; de forma
cuidadosa e muito bonita, ele se refere ao procedimento
da seguinte forma: conta que todos nós temos nosso
corpo físico, que é o que vemos, e também o corpo es-
piritual, que complementa e se torna matéria. Para ele,
quando algum irmão ou irmã pede qualquer tipo de ajuda
ligado à saúde, ou à infertilidade, ele incentiva a pessoa a
procurar um acompanhamento médico, e se a opção for
a FIV, ou outro tratamento, não há problemas. Para ele, o
importante é a felicidade do casal.
158 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

O líder espiritual apoia o procedimento de conge-


lamento de óvulos e embriões, pois o fato do mesmo
estar congelado por determinado tempo não significa
que ao ser fertilizado não receberá carinho materno e
não será amado. Para Roberto, mesmo que esse óvulo
esteja guardado para ser utilizado futuramente não sig-
nifica que não será um ser humano comum dotado de
matéria e espírito.
Quanto à doação de embriões, para ele esse tipo
de procedimento é aplausível, pois é comparado com
uma doação de órgãos. Aceita o procedimento e com-
para esse ato como uma doação de córnea, rins ou o
que for necessário para que esse outro “ser” continue
sua missão aqui na Terra. Roberto diz que até incenti-
vam a doação de embriões.
Da mesma forma, não tem restrições quanto à
doação de óvulos ou sêmen. Para Roberto, é como
se fosse um ato de caridade que ajuda na realização
do desejo da paternidade de outros casais. De acordo
com a filosofia espírita, os laços espirituais não têm li-
gação com os laços carnais, o corpo serve apenas de
envoltório para o espírito. Dessa forma, o afeto é deter-
minado muito mais pelos laços espirituais. A mãe que
não gerou ou que não passou pelo processo normal da
gestação pode, com essa doação de terceiros, depo-
sitar todo seu amor em um bebê que de certa forma
pode ter tido elos antigos em vidas passadas, segundo
os princípios da doutrina espírita.

QUADRO GERAL
FIV
Coito Inseminação (Fertilização Doação de Congelamento Congelamento deDoação
sêmen/
programado artificial embriões de óvulos de embriões
in vitro) óvulos

A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR


Capítulo 12

Seicho-No-Ie
“Todos os acontecimentos são ótimas oportunidades para a evolução.”
(Seicho Taniguchi)

F undada por Masaharu Taniguchi, em 1° de mar-


ço de 1930, no Japão, a Seicho-No-Ie é uma filosofia
que transcende o sectarismo religioso, pois acredita
que todas as religiões são luzes de salvação que ema-
nam de um Deus único. Sua doutrina baseia-se no en-
sinamento de amor que prega que o ser humano é
filho de Deus, que o mundo da matéria é projeção da
mente e também nos revela qual é a nossa verdadeira
natureza.
O professor Seicho Taniguchi é um dos mais co-
nhecidos e influentes líderes espirituais do Japão, ocu-
pando a função de Supremo Presidente da Seicho-No-
-Ie. Suas mensagens simples, objetivas e capazes de
modificar vidas, atingem milhões de pessoas por meio
de suas preleções, livros e artigos.
162 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

A Seicho-No-Ie pode ser considerada uma filo-


sofia de vida e também uma religião; não há rigidez
de conceito nesse sentido. Ela tem como objetivo
despertar no coração das pessoas a verdade de que
todos são filhos de Deus e fazer com que, por meio
de atos, palavras e pensamentos, tornemos este um
mundo melhor.
Aqueles que praticam os ensinamentos da Seicho-
-No-Ie aprendem a reconhecer sua verdadeira natureza
de filho de Deus. Em consequência disso, começam en-
tão a ocorrer fatos milagrosos como a cura de doenças,
reconciliação de lares em desarmonia, exteriorização de
grandes talentos, êxito profissional, solução de proble-
mas econômicos e amorosos etc.. Existem pessoas que,
mesmo já sendo adeptas de uma religião e frequentan-
do assiduamente suas atividades, sentem-se muito bem
e felizes ao entrar em contato com os ensinamentos da
Seicho-No-Ie, que por sua vez recebe, com muito amor e
carinho, todas as pessoas, sem nenhuma restrição.
De acordo com dados da sede da Seicho-No-Ie do
Brasil, no Estado de São Paulo existem dois milhões
de adeptos e simpatizantes da religião. Entre os ins-
trumentos de disseminação de sua crença, a revista
Acendedor e os Preceitos Diários (calendário com men-
sagens) se tornaram muito populares nas grandes ci-
dades brasileiras. Houve uma expansão da religião nas
décadas de 1960 e 1970. A Seicho-No-Ie conta ainda
com a divulgação por meio de publicações como: as
revistas Fonte de Luz, Pomba Branca, Mundo Ideal e
Querubim; o Jornal Círculo de Harmonia; programas de
TV e rádio; e web site.
Para eles, a união do homem e da mulher se dá
primeiro como uma união espiritual de duas almas, que
se fundem em uma só. Essa união se realiza também
Seicho-No-Ie 163

no aspecto físico com a relação sexual entre ambos.


Na verdade, não se trata da união de duas almas, mas
a união de duas metades de alma, que se fundem em
uma só alma. Isso porque, originariamente, eles eram
uma só alma, uma só personalidade. Para eles, cada
um dos cônjuges é a metade da alma do outro. E por
meio dessa cópula, realiza-se aquilo que Deus determi-
nou, ou seja, “crescei e multiplicai-vos”. Dessa forma,
o momento ideal para que isso ocorra só poderia ser
com o casamento.
A ciência é vista como um avanço para o benefício
humano. Contudo, a grande questão é a preocupação
que a Seicho-No-Ie tem de que a ciência seja usada de
forma abusiva, não tendo limites e podendo causar da-
nos à natureza. Defendem ainda que toda doença pos-
sa ser curada pela mente, com o abandono sistemático
dos maus pensamentos e ignorando os sintomas, sem
o uso de remédios. A Seicho-No-Ie afirma que o ho-
mem é um ser puramente espiritual e a matéria que
constitui seus órgãos não explica o que é o homem. A
verdade é a natureza puramente espiritual do homem
que o liberta do sofrimento.
Para alguns, os princípios do Seicho-No-Ie são vis-
tos como uma religião; para outros, como uma filosofia
de vida. Os adeptos trabalham muito com a questão
da espiritualidade do ser humano e o exercício da men-
te com pensamentos positivos. O interessante é que
esse trabalho mental de vibrações benéficas envolve
vários campos da ciência, inclusive o que está ligado à
saúde da mulher.
Existe dentro da Seicho-No-Ie um projeto voltado
para as mulheres, chamado Pomba Branca. É uma or-
ganização que realiza reuniões semanais com palestras
e práticas de orações, responsável por encontros es-
164 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

pecíficos para mães, gestantes e crianças. É realizado


um trabalho filantrópico sistemático na arrecadação de
enxovais para bebês, que são doados para mães ca-
rentes. Além disso, são promovidos seminários para
mulheres nas academias de treinamento espiritual,
eventos que duram de dois a cinco dias. A Associação
Pomba Branca  é o grande carro-chefe da Seicho-No-Ie
do Brasil, representando mais de 70% do corpo da enti-
dade religiosa. Contudo, mesmo com a existência des-
se projeto focado na mulher, não há um posicionamento
quanto aos tratamentos de reprodução, no sentido de
se mostrarem a favor ou contra a tais métodos.
Por outro lado, pesquisam e revelam a existência
de livros que fazem algumas menções sobre infertilida-
de. No livro “Coleção Verdade da Vida”, de Masaharu
Taniguchi, volumes nove e dez (livro de ensinamentos
sobre a religião), há citações sobre todos os métodos
que iriam se desenvolver e que desde 1930 são estuda-
dos pelos religiosos da crença Seicho-No-Ie. No livro,
Masaharu, que foi um grande estudioso, afirma que
“no futuro as pessoas irão conceber seus filhos por
métodos não naturais”, como é o caso da inseminação
artificial e da fertilização in vitro.

QUADRO GERAL
FIV
Coito Inseminação Doação de Congelamento Congelamento deDoação
programado artificial (Fertilização sêmen/
in vitro) embriões de óvulos de embriões óvulos
LIVRE LIVRE LIVRE LIVRE LIVRE LIVRE LIVRE
ARBÍTRIO ARBÍTRIO ARBÍTRIO ARBÍTRIO ARBÍTRIO ARBÍTRIO ARBÍTRIO
Capítulo 13

Islamismo
Entrevista com o Chaikh Mohamad Al Bukai
(Liga da Juventude Islâmica do Brasil)

“As crianças são o ornamento da vida neste mundo.”


(Corão)

M aomé, nascido em Meca (Arábia Saudita), em


570 d.C., segundo a tradição muçulmana teria recebido
diretamente do arcanjo Gabriel os fundamentos do Islã
acerca dos preceitos religiosos, dogmáticos e morais
que se encontram reunidos no Corão, o livro sagrado
Islâmico. Assim nasceu o Islamismo, cuja tradição reza
que Alá é o único Deus e Maomé seu profeta.
Apesar de sua origem fundamentada pela tese
da revelação divina, o Islamismo agrupa e sintetiza
elementos de diversas crenças. A circuncisão, por
exemplo, é herança do Judaísmo, do qual provavel-
mente deriva também seu princípio monoteísta; já
o conceito de juízo final é de caráter judaico-cristão,
assim como admite o culto aos santos e a crença em
espíritos e na crença djinn, originários de sistemas
mais primitivos.
168 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

O Islã, (que em sua tradução literal significa “sub-


missão à vontade de Deus”), mais que uma religião é
um sistema moral e político. Baseado na adoração de
Alá, Deus único, ensina que após a morte os justos se-
rão recompensados com a vida eterna no Paraíso, e os
injustos, condenados a padecer no fogo do Inferno. O
Corão afirma que o destino de cada homem é previa-
mente traçado por Alá. “Estava escrito” é uma máxima
que explica bem o imaginário islâmico.
O muçulmano (como é designado o fiel do Islã)
é obrigado a orar cinco vezes por dia, ajoelhado num
tapete e voltado para Meca. Ele é proibido de cultuar
imagens, pois isso é considerado como pecado de ido-
latria e pelo menos uma vez na vida, deve fazer uma pe-
regrinação até Meca. Não há uma hierarquia dentro da
tradição islâmica, com sacerdotes, bispos etc.. As pre-
ces públicas são de responsabilidade de um dirigente,
denominado Imã, e os teólogos eruditos são chamados
de Ulemás.
Os templos muçulmanos são denominados mes-
quitas, e em seu interior somente os homens são admi-
tidos. Essa tradição demonstra bem a postura islâmica
com relação à mulher, que é conservada em posição in-
ferior. Em países onde o Estado não proíbe a prática da
poligamia, o muçulmano pode ter até quatro esposas,
pois esse costume é permitido pelo Corão.
Dados do último censo revelam que atualmente o
Islamismo é a segunda maior religião do mundo, com
um percentual acima da marca de 50% da população
em três continentes. Com objetivo final de subjugar o
mundo e regê-lo pelas leis islâmicas, mesmo que para
isso necessite matar e destruir os “infiéis ou incrédu-
los”, o número de adeptos que professam a religião
mundialmente já passa dos 935 milhões.
Islamismo 169

Segundo sua filosofia, Alá deixou dois manda-


mentos importantes: subjugar o mundo militarmente
e matar os inimigos do Islamismo (Judeus e Cristãos).
Algumas provas dessa determinação foram o assas-
sinato do presidente do Egito, Anwar Sadat, por ter
feito um tratado de paz com Israel, e o massacre nas
Olimpíadas de Munique, em 1972.
Na visão islâmica, o sexo é considerado uma fonte
mútua de prazer e afeto e a busca pelo contato sexual,
momento em que seus corpos passam por processos se-
melhantes, é inerente tanto ao homem quanto à mulher.
Para evitar que o homem negligencie suas obriga-
ções com Deus, o contato do casal é restrito e se es-
tabelece uma relação submissa da mulher, que é vista
muito mais como uma serva do que como uma compa-
nheira. Os laços entre mãe e filho são encorajados em
detrimento aos laços matrimoniais.
O Islamismo valoriza a lógica da ciência e acredita
em métodos de mentalização aplicados pela ciência para­
psicológica e metafísica com as quais podemos progra-
mar nossa mente para que vivamos melhor, métodos já
aplicados por nossos ancestrais, e usados nos Templos.
Em entrevista, o Chaikh Mohamad declara: “Há um
dito do profeta Muhammad, que a paz de Deus esteja
com ele; não há nenhuma doença no mundo que Deus
não tenha criado um remédio para a sua cura”. Ele ex-
plica que alguns dos métodos de reprodução assistida
são aceitos pelo islamismo com algumas restrições, de
acordo com seus ensinamentos, sendo vetado o uso
de outros homens ou mulheres como “matriz” com o
objetivo de preservação da base familiar.
O coito programado é um dos métodos de repro-
dução assistida aceitos pelo Islamismo. Para eles, esse
170 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

tipo de acompanhamento médico é permitido desde


que seja feito dentro do casamento.
Ela ainda complementa que, ao contrário do que
se possa imaginar, uma vez realizadas no seio do ma-
trimônio, outras técnicas de fertilização, com acompa-
nhamento médico são aceitas pela religião, entre elas a
inseminação artificial e a fertilização in vitro.
A única observação que o líder muçulmano faz ques-
tão de frisar é que tanto o óvulo quanto o esperma utili-
zados para a fecundação sejam da mulher e do homem
casados e, tirando isso, também não há nenhum tipo de
restrição para essa técnica de fecundação artificial. 
Comparada a uma invasão familiar, a doação de
embriões é considerada totalmente fora dos princípios
do alcorão (bíblia sagrada dos muçulmanos). O Chaikh
cita que não sendo na mesma família, e fora do contra-
to do casamento, o procedimento é vetado, já que o
envolvimento de terceiros causa uma mistura das raí-
zes familiares.
Ele esclarece que a preocupação dos muçulmanos
está em se conhecer a procedência e continuidade dos
membros da família. Segundo ele, o casal que obtiver
sucesso na primeira tentativa e que, portanto não for
mais utilizar os embriões congelados, deve descartá--
-los. O Islã considera um embrião com 120 dias uma
vida e em hipótese alguma pode ser utilizado por outro
casal.
Ele cita as palavras do profeta Muhammad: “Em
verdade, qualquer um de vocês é conformado no úte-
ro de sua mãe quarenta dias em esperma, e depois é
transformado em um coágulo, permanecendo assim
o mesmo período (40 dias), e depois é transformado
em ‘uma substância mastigada’, permanecendo assim
Islamismo 171

pelo mesmo período (40 dias), depois é enviado sobre


ele um anjo que lhe assopra o espírito, e lhe decreta
quatro questões: o seu sustento, a sua existência, os
seus atos e se será um desventurado ou venturoso...”.
Na cultura muçulmana, é normal o homem ter
até quatro esposas – no Brasil são proibidos casos de
poligamia. Mesmo colocando a possibilidade de doa-
ção de óvulos de uma das quatro esposas para uma
do mesmo casamento, não é permitido. Segundo ele,
esse tipo de procedimento foi proibido no Conselho
de Jurisprudência Islâmica de 1984, pois essa situação
pode causar brigas entre as esposas sobre a legitimida-
de e o direito da maternidade sobre a criança. 
A doação de sêmen também não é permitida, pois
se trata de uma invasão na árvore genealógica da famí-
lia, além de representar a formação de uma vida fora do
casamento, ou seja, uma mulher ficará grávida de outro
homem ou utilizará o óvulo de outra mulher para que
seu marido tenha um filho. Filhos fora do casamento
não são considerados legítimos para o Islã.
O congelamento de óvulos e embriões é permitido
em situações como mulheres em tratamentos de radio
ou quimioterapia, por exemplo, ou no período próximo
da menopausa, como uma maneira de planejamento
familiar dentro do casamento. Entretanto, os casais
que optarem pelo congelamento de óvulos, deverão
descartá-los quando não forem utilizados, para que
nunca sejam utilizados por outros casais, diz o Chaikh.

QUADRO GERAL
FIV
Coito Inseminação Doação de Congelamento Congelamento deDoação
programado artificial (Fertilização sêmen/
embriões de óvulos de embriões
in vitro) óvulos

A FAVOR A FAVOR A FAVOR CONTRA A FAVOR A FAVOR CONTRA


Capítulo 14

Protestantismo

O nome “protestante” provém dos protestos dos


cristãos do século 16. Foi iniciado pelo teólogo alemão
Martinho Lutero, que rompeu com a Igreja Católica. As
críticas de Lutero ao Catolicismo começaram em 1517,
defendendo ele ser a fé o elemento fundamental para a
salvação do indivíduo.
Em 1519, Lutero afastou-se definitivamente do
Catolicismo ao negar o primado do papa. Dois anos depois
foi excomungado pelo Papa Leão, no século 10º. Com a
simpatia de diferentes setores da nobreza e dos campone-
ses, o luteranismo difundiu-se na Alemanha, onde Lutero
traduziu a Bíblia para o alemão e aboliu a confissão obri-
gatória, o culto aos santos, o jejum e a obrigação de não
poder constituir uma família por normas da igreja.
Os motivos para esse rompimento incluíram princi-
palmente as práticas ilegítimas da Igreja Católica, além
174 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

da divergência em relação a outros princípios católicos,


como: a adoração de imagens, o celibato, a celebração
das missas em latim, a autoridade do papa etc..
Para os protestantes, a salvação é dada median-
te a graça e bondade de Deus, e cada pessoa pode
se relacionar diretamente com seu Criador, sem a ne-
cessidade de um intermediário; diferentemente da fé
católica, a qual diz que o único método de se obter a
salvação é pelos sacramentos e rituais para purifica-
ção da alma feitos por pessoas santificadas (padres,
bispos etc.).
A Igreja Protestante, também conhecida como
Evangélica, reivindica a reaproximação da Igreja com o
cristianismo primitivo. Os protestantes aceitam os sa-
cramentos do batismo e da eucaristia, mas negam o
culto a Virgem Maria e aos santos.
Todas as Igrejas Protestantes celebram Natal,
Páscoa, Pentecostes e as demais festividades cristãs.
Também há comemorações particulares a cada uma
delas, como o Dia de Ação de Graças, celebrado pelos
luteranos, e o Dia da Escola Dominical, comemorado
pelos metodistas.
Ao Brasil, o protestantismo foi trazido com a inva-
são holandesa entre os anos de 1624 e 1625, sendo
propagado principalmente entre os índios. Pesquisas
recentes mostram o crescimento do protestantismo
no Brasil: em 1970, o Censo do IBGE registrava cer-
ca de 4,8 milhões de evangélicos; em 1980, eram
7,9 milhões; em 1991, 13,7 milhões; e em 2000,
26,1 milhões. Segundo o IBGE, se esse crescimen-
to se mantiver estável ao longo dos anos, em 2020
metade da população brasileira será evangélica.
Sabe-se que existe atualmente cerca de 593 milhões
de protestantes no mundo. O país mais protestante
Protestantismo 175

é os Estados Unidos da América, com um número de


quase 163 milhões de fiéis.
As tradicionais igrejas formadas a partir da refor-
ma, consideradas protestantes são:

Protestantismo histórico
Luteranismo, Anglicanismo, Calvinismo, Presbi­
te­­
rianismo, Congregacionalismo, Anabatismo, Meto­
dismo, Metodismo Calvinista, Igreja Batista, Millerismo
e Adventismo.

Pentecostalismo
Assembleia de Deus, Congregação Cristã do Brasil,
Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja Pentecostal
“Deus é Amor” e Igreja Pentecostal “O Brasil para
Cristo”.

Neopentecostalismo
Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Universal
da Graça de Deus, Comunidade Evangélica Sara
Nossa Terra, Igreja Apostólica Renascer em Cristo e o
Ministério Internacional da Restauração.

Evangélicos
Nos países anglo-saxões, onde a Reforma Pro­
testante eclodiu no século 16, o termo “evangélico”
é usado para definir quase todas as doutrinas cristãs
protestantes. Na Alemanha, berço do luteranismo, seu
uso chega a ser mais específico: é comum se referir
176 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

aos membros da Igreja Luterana como evangélicos,


excluindo-se o resto dos protestantes. Já no Brasil,
quando se fala em evangélicos, trata-se de uma forma
genérica de se referir às correntes protestantes pente-
costais e neopentecostais, surgidas somente no sécu-
lo 20. De forma simplificada, pode-se dizer que todo
evangélico é protestante, mas nem todo protestante se
considera evangélico.

Observação: Muitas dessas igrejas foram procuradas


para opinarem sobre o assunto “Reprodução Humana”,
mas preferiram não se manifestar. Só foram possíveis
as entrevistas com as Igrejas: Presbiteriana (Cap. 15),
Anglicana (Cap. 16), Metodista (Cap. 17), Luterana
(Cap. 18), Adventista (Cap. 19), Congregação Cristã
do Brasil (Cap. 20) e Renascer (Cap. 21).
Capítulo 15

Presbiterianismo
Entrevista com Reverendo Carlos Aranha Neto
(Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo)

“A fé não consiste na ignorância, mas no conhecimento.”


(João Calvino)

O s milhões que aceitam a fé reformada creditam


a Calvino a mais importante fundamentação doutriná-
ria do movimento que abalou, no século 16, as estru-
turas de poder do Catolicismo romano. A esta funda-
mentação deu-se o nome de Calvinismo, e à forma de
organização eclesiástica concebida pelo reformador
de Genebra, de Presbiterianismo, que transformou a
cidade suíça no modelo de execução de suas ideias.
Calvino ensinava que a salvação é um assunto de elei-
ção incondicional e independente do mérito humano.
Os pressupostos da fé reformada foram trazidos
para Genebra pelo francês Guilherme Farel, que com seu
carisma profético convenceu a assembleia municipal da
cidade a aceitar a fé reformada. Farel se tornaria grande
amigo e colaborador. Juntos promoveram a reforma da
igreja local, estendendo-a para a sociedade.
Na Genebra de Calvino e Farel não havia separação
entre Igreja e Estado; os membros do conselho da Igreja
180 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

eram praticamente os mesmos membros do conselho


municipal. Assim, em muitos momentos, as penalidades
tornaram-se severas demais. Em 1546, o conselho da
cidade executou 28 pessoas e exilou outras 76. A maior
contribuição de Calvino para a fé reformada foram suas
Institutas, aceitas como expressão acabada da teologia
reformada, acentuando a importância da sã doutrina e a
centralidade de Cristo na visão cristã.
Calvino deu grande contribuição para o desenvolvi-
mento da democracia no ocidente, aceitando o princípio
representativo da direção da Igreja e do Estado, enten-
dendo que a Igreja e o Estado foram criados por Deus e
que deviam cooperar para o progresso do Cristianismo.
Contrariando a mentalidade medieval, Calvino resgatou
a dignidade do trabalho, uma vez que toda a ação dos
crentes era para a honra e glória de Deus.
Na visão calvinista, no mundo não havia dicotomia
entre atividades profanas e sagradas; a vida do crente
deveria ser uma extensão da vida no templo. O desen-
volvimento econômico foi evidente nas nações moder-
nas que abraçaram a fé reformada.
Quando a Igreja Presbiteriana aborda a questão da
sexualidade humana, como cristãos, recorrem em pri-
meiro lugar, à Bíblia. Embora a mensagem bíblica seja
a de mostrar o eterno amor de Deus demonstrado na
pessoa de Jesus, eles acreditam que ele tem muito a en-
sinar ao ser humano nas questões relacionadas ao sexo.
Segundo a Igreja Presbiteriana Cristã, o sexo deve
ser praticado no seio de um matrimônio. A Bíblia é clara
ao afirmar que a união entre um homem e uma mulher
deve ocorrer somente neste contexto. O adultério, a
prostituição e toda forma de imoralidade em geral são
condenados por Deus e distorcem seu plano para a fe-
licidade sexual das pessoas.
Presbiterianismo 181

Embora a cultura e os costumes modernos tentem


passar para os cristãos que uma relação sexual entre sol-
teiros ou fora do contexto do casamento não seja errada,
a Igreja Presbiteriana aconselha seus fiéis a basearem-se
nos inúmeros versículos bíblicos que mostram o contrário.
O sexo, segundo a visão cristã Presbiteriana, não
tem como objetivo somente a procriação, mas também
o prazer. Dentro de seus preceitos, eles acreditam que
os casais precisam repensar e explorar a sensualidade
que um pode oferecer ao outro, o que muitas vezes,
por ignorância, é visto como algo pecaminoso.
De acordo com a Igreja Presbiteriana, quando um
casal cristão explora a sensualidade para enriquecer a re-
lação conjugal, colhe grandes benefícios. Para tanto, pre-
cisam valorizar mais os toques físicos (abraços, afagos
afetuosos, etc.), o olfato (perfumes, velas perfumadas), a
audição (música romântica, palavras de admiração), a vi-
são (pessoal e do ambiente) e o paladar na relação a dois.
A Igreja Presbiteriana acredita que um bom cami-
nho para os casais cristãos “reinventarem” suas vidas
sexuais é fazerem, a dois, uma releitura do livro de
Cantares de Salomão. O relacionamento sexual para os
presbiterianos deve ser enriquecedor para que ambos,
marido e esposa, experimentem todo o prazer que o
sexo pode trazer. Para eles, Deus projetou a sexuali-
dade para ser praticada no contexto conjugal, sendo
suficiente o bastante para saciar o apetite sexual.
Segundo o Reverendo Carlos, ainda não existe uma
manifestação oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil, da
qual faz parte a igreja Presbiteriana Unida de São Paulo,
sobre o assunto medicina da reprodução. Os princípios
bíblicos básicos a respeito da reprodução humana e ao
direito inalienável da vida humana, são, porém, inques-
tionáveis. Voltando ao nível da Igreja Presbiteriana, as
182 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

opiniões dos seus pastores têm grande valor, mas de-


vem ser limitadas à responsabilidade individual destes.
Pessoalmente, ele afirma que essa questão de medicina
da reprodução precisa ser reconhecida como algo novo,
e em caminho de rápidas evoluções.
Ele declara que o fundamental é o valor da vida
humana, portanto são contrários ao aborto, exceto em
caso de aborto terapêutico, quando está em risco a
saúde da mãe ou quando a gravidez for fruto de um
estupro. Assim, se existem técnicas de reprodução hu-
mana como os caminhos planejados para a gravidez,
consideram tais procedimentos extraordinários, e si-
nais da aprovação divina. Se tais procedimentos cola-
boram para assegurar, melhorar, ou conservar a vida,
não há restrições que impeçam o tratamento.
Para o líder da Igreja Presbiteriana, todas as téc-
nicas da medicina de reprodução assistida, dentre
elas, o coito programado, são perfeitamente válidas,
pois não existe restrição em prol da vida. E ainda com-
plementa que tanto a inseminação artificial quanto
a fertilização in vitro, são vistas como procedimento
médico científico sem interferência no aspecto moral
de uma ética religiosa. Se o médico do casal acredita
que a única maneira de terem filhos é por estes méto-
dos, não há problemas, e finaliza dizendo: “Que Deus
abençoe!”.
Em relação à doação de embriões, o Reverendo diz
que não há nenhuma restrição desde que os doadores
e receptores tenham plena consciência do que estão fa-
zendo. Espiritual e eticamente, não vê problema algum,
desde que dentro do limite do respeito, da dignidade.
Porém, salienta que o uso com segundas intenções, com
objetivo de multiplicação ou comercial, é uma deturpa-
ção, mas acredita que a medicina não caminha por essa
Presbiterianismo 183

área. Ele complementa que se pode comparar essa alter-


nativa como uma adoção, só que em forma de embrião.
Para o representante, também não existe empecilho
algum do ponto de vista da ética cristã quanto ao con-
gelamento de óvulos e embriões. Porém, uma situação
paralela não abordada na pergunta trará dificuldades mo-
rais, caso o relacionamento com um homem não envolver
os compromissos normais de um casamento. O proble-
ma não estaria nessa perspectiva de planejamento e sim
na atitude da mulher quanto à utilização dos óvulos ou
embriões, como por exemplo, o envolvimento com um
homem qualquer apenas com o objetivo da maternidade.
Já se, após anos, ela encontrar sua alma gêmea e resol-
ver ter um filho dentro do matrimônio, essa atitude sim é
que terá importância mediante a igreja, e não os métodos
adotados.
Do mesmo modo ele é favorável à doação de sê-
men e óvulos, pois se a doação tiver o propósito de
celebrar a vida, com intuito de trazer felicidade para o
ser humano, dentro da visão cristã não há problemas.
Contudo, novamente ressalta que, caso haja fins co-
merciais, essa prática é vetada pela igreja presbiteriana.

QUADRO GERAL
FIV
Coito Inseminação (Fertilização Doação de Congelamento Congelamento deDoação
sêmen/
programado artificial embriões de óvulos de embriões
in vitro) óvulos
A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR
Capítulo 16

Anglicanismo
Entrevista com Rev. Aldo Quintão, Deão (chefe do colégio de
cardeais) da Catedral Anglicana de São Paulo

A Igreja Anglicana busca equilibrar a tradição


católica com as influências benéficas da reforma pro-
testante. Por isso, ela é essencialmente católica, mas
também reformada. A liturgia preserva a mais antiga
estrutura de culto cristão, com grande ênfase na pro-
clamação da Palavra de Deus. O Anglicanismo dá valor
à Liturgia, definindo crenças e doutrinas no próprio ma-
nual litúrgico (o Livro de Oração Comum).
O Anglicanismo chegou ao Brasil no século 16, em
duas etapas: com os imigrantes ingleses que aqui se
estabeleceram a partir de 1810 e por meio do trabalho
de missionários norte-americanos a partir de 1889. O
cristianismo chegou às ilhas britânicas no final do pri-
meiro século, levado por cristãos que fugiam das perse-
guições. Ali, a Igreja Cristã foi estabelecida inicialmente
entre os celtas, que enviaram três bispos ao Concílio
186 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

de Arless, em 314 d.C. Em 596, o bispo de Roma, São


Gregório Magno, enviou missionários para evangelizar
o sudeste da Grã-Bretanha, região conhecida por Kent,
onde habitavam os anglo-saxões.
Essa missão foi liderada pelo bispo Agostinho,
que estabeleceu em Cantuária as primeiras comunida-
des subordinadas ao bispo de Roma. A partir de então,
houve um gradativo processo de avanço da Igreja de
Roma nos territórios celtas até que, em 664, a Igreja
Celta submeteu-se ao governo da Igreja Romana, ado-
tando parcialmente seus ritos, mas mantendo diversas
tradições celtas e britânicas.
O povo britânico, porém, nunca concordou com a
submissão ao poder romano. Assim, em 1534, a Igreja
Anglicana voltou a separar-se da Igreja Romana por de-
cisão do Parlamento, após iniciativa do Rei Henrique
VIII. A partir de então, o anglicanismo deixou-se influen-
ciar positivamente pelo movimento da Reforma, sem
deixar de preservar as mais puras e sadias tradições.
De acordo com a Igreja Anglicana, a Bíblia decla-
ra que a sexualidade é uma criação de Deus para ser
celebrada. Na visão dos Anglicanos, a união sexual é
uma dádiva de Deus para ser gozada exclusivamente
dentro dos vínculos do matrimônio, que une marido e
mulher. Assim como todas as dádivas, dever ser regida
como os mandamentos de Deus. O sexo tem um po-
der particular sobre os seres humanos, e a santidade
sexual permite que esse poder seja usado para o bem,
enquanto sua falta leva a consequências desastrosas.
A elaboração bíblica e teológica da compreensão tradi-
cional sobre a sexualidade humana tem sido bem feita
em diversos lugares.
A Igreja Anglicana acredita que em cada lugar e em
cada época a fé cristã tem uma missão à cultura que a
Anglicanismo 187

cerca. No Ocidente, valores da liberdade humana e do


individualismo têm dominado a cultura. Entre as con-
sequências estão o enfraquecimento da vida familiar e
o abandono da autodisciplina. Na concepção anglica-
na, quando os seres humanos abandonam a santida-
de sexual, a Igreja deve adverti-los sobre o julgamento
de Deus sobre isso, assim como todos os pecados, e
ajudá-los a retornar aos caminhos de Deus.
“A Comunhão Anglicana é uma ‘democracia ecle-
siástica’ oriunda culturalmente do pensamento liberal e
ao mesmo tempo colonialista dos britânicos, que marca-
ram a nossa maneira de ser. Não temos uma autorida-
de concentrada e vertical representada por uma Cúria ou
um Papa. Desse modo, ninguém pode falar em nome da
Igreja Anglicana. Ela representa 38 províncias autônomas
espalhadas pelo mundo e que se reúnem periodicamen-
te, com pessoas devidamente eleitas, para trocarem ex-
periências e firmar seus laços de solidariedade e fraterni-
dade. Portanto, nossa Igreja é uma autoridade diluída e
partilhada que mostra tendências e não dogmas ou defi-
nições finais; logo, o princípio básico para considerações
morais é o do amor”, explica o Reverendo Aldo Quintão.
Assim, respeitando a ciência que se desenvolve
para o benefício da humanidade, a Igreja Anglicana pro-
cura suscitar e não julgar o que é desenvolvido para a
evolução tecnológica. Segundo ele, apontar uma posi-
ção favorável ou contrária seria responder por todos os
fiéis que seguem a doutrina anglicana, fato esse que
não pode ser decretado, pois até mesmo dentro na
“democracia eclesiástica” existem grandes divergên-
cias de opiniões, que certamente são respeitadas.
Sobre os métodos para engravidar, Aldo Quintão
explica: “Apesar da palavra ‘coito’ não ser muito ade-
quada para descrever uma relação sexual entre se-
188 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

res humanos, apoio essa relação programada, pois


a intenção planejada de ter filhos envolve um ato de
amor que em muitas vezes inexiste numa relação não
programada”.
“Sou favorável a tudo o que a ciência aprimora
para a felicidade do ser humano, sou a favor das célu-
las tronco, de alguns métodos da medicina de reprodu-
ção e indico aos fiéis da igreja que se encontram aflitos
diante dessa situação. Tudo que se gerar com amor e
trouxer felicidade ao casal é bem visto aos olhos de
Deus”, diz Reverendo Aldo.
“A Igreja Anglicana não se pauta por respostas finais
sobre questões éticas referente ao assunto medicina
da reprodução, pois diante do que vemos, nossa preo-
cupação é se o que se faz está em ligação com nossa
liberdade de escolha, sendo para o bem da humanida-
de”, finaliza.

QUADRO GERAL
FIV
Coito Inseminação (Fertilização Doação de Congelamento Congelamento deDoação
sêmen/
programado artificial embriões de óvulos de embriões
in vitro) óvulos

A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR


Capítulo 17

Metodismo
Entrevista com o Bispo Stanley da Silva Morais,
da Igreja Metodista do Brasil

“Não vos inquieteis com o dia de amanhã; basta ao dia seu próprio
mal.” (Mt. 6:34)

A o observar o símbolo que identifica a religião


Metodista, poucos sabem a história de fé que o de-
senho representa. O movimento Metodista surgiu na
Inglaterra em 1738, com a necessidade despertada
em John Wesley pela renovação de suas crenças.
Baseando-se na modificação da doutrina Anglicana,
Wesley buscava a vivência na santidade individual e
social. A mensagem de conversão individual e a trans-
formação da sociedade causam o crescimento do mo-
vimento, resultando na fundação da Igreja Metodista.
Segundo pesquisas em números, o Metodismo
se faz presente em 130 países. No mundo, os meto-
distas somam 12 milhões de membros. Atualmente,
os números no Brasil são de aproximadamente 350
mil membros, 630 Igrejas, 593 Congregações e 508
Pontos Missionários.
192 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Apesar da formalidade que os protestantes trans-


mitem e da origem do nome metodista na palavra
metódico, existem muitos outros conceitos imbuídos
nessa religião, por muitos desconhecidos e que não a
torna contrária a certos conceitos morais, como errone-
amente se deduz, inclusive em assuntos mais polêmi-
cos como sexualidade e suas ramificações.
O sexo é visto pelos metodistas como uma forma
de alegria onde as reações do corpo satisfazem o con-
vívio de um casal e a consumação do amor que um
sente pelo outro. Os metodistas não aceitam o sexo
meramente como instrumento de procriação da raça
humana, e sim como algo divino.
Em sua visão, o sexo é fruto do amor e este amor
possibilita a constituição de uma família feliz. Porém,
esse sonho pode ser impedido por algum tipo de di-
ficuldade do casal, como a infertilidade, por exemplo,
e, nesse caso, a ciência oferece métodos para o trata-
mento dessas dificuldades.
Segundo entrevista com o Bispo Stanley da Silva
Morais (Igreja Metodista do Brasil – Sede Nacional),
os tratamentos para reprodução assistida, desde que
dentro dos princípios éticos cristãos, são aceitos e
também recomendados pela igreja. Ele ressalta ain-
da que tudo que a ciência oferece de recurso, se for
para a felicidade do individuo, é válido e aceito pelo
Metodismo.
De acordo com o Bispo, o coito programado é um
método que já foi muito utilizado no passado ajudando
a muitos casais, assim, ele não vê restrições aos que
quiserem utilizá-lo. A Igreja Metodista recomenda e frisa
que o planejamento familiar é uma coisa boa e este tra-
tamento pode ser parte desse planejamento. Para ele,
Metodismo 193

a sexualidade não está exclusivamente ligada à procria-


ção; é uma área da vida do casal que merece ser cuida-
da, utilizando-se os melhores recursos disponíveis.
Na visão do Bispo, nada substitui o calor huma-
no de uma relação conjugal, este é o caminho natural;
porém, caso necessário, a alternativa é buscar meios
diferenciados para que se possa atingir o objetivo
maior. Assim, a inseminação artificial é valorizada, e ele
entende que muitas pesquisas foram feitas para que
casais superassem suas limitações e impossibilidades.
Ressalta ainda que o conhecimento científico é um
dom de Deus, e próprio de sua criação. “A ciência des-
cobre o que já existe”, diz o Bispo.
Para ele, o casal que enfrentar dificuldades para
gerar um filho, mas estiver imbuído de amor, pode
escolher essa técnica sem constrangimentos. A falta
do calor humano no momento da concepção pode ser
compensada por uma vida saudável, em que o amor se
expresse abundantemente.
Quanto à fertilização in vitro, o Bispo apresenta
formalmente a palavra do Colégio Episcopal da Igreja
Metodista: “A Igreja entende que, apesar dos benefí-
cios, os riscos são grandes”. A Igreja não condena a
utilização do método, mas indica que apenas seja
escolhido caso as técnicas anteriores se mostrarem
ineficazes.
Para os metodistas, o casal precisa se conscienti-
zar que se afastando do caminho natural terá mais situ-
ações adversas a vencer. Para enfrentá-las terá que estar
mais solidamente em comunhão com Deus e o próximo.
Segundo o representante da Igreja Metodista, a Palavra
de Deus nos diz que “tudo é possível ao que crê”, sendo
possível ser gerada uma pessoa com vida plena.
194 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Para expor sua opinião quanto ao procedimento de


congelamento de óvulos e embriões, ele cita um dizer
de Jesus: “Não vos inquieteis com o dia de amanhã;
basta ao dia seu próprio mal” (Mt. 6:34). Para eles, a
pessoa precisa saber viver o seu próprio dia, e o futuro
não nos pertence. Segundo o Bispo, aprender a viver
bem cada dia contribui para que a família humana viva
melhor na Terra.
Segundo ele, se a ciência descobriu recursos para
que a vida seja preservada, melhorada, qualificada, ela
vai colocando diante da sociedade e da pessoa a tenta-
ção de não só viver o melhor, como garantir que no fu-
turo alcançará aquilo que hoje lhe é impossível. Como
quem abre mão do presente para viver o futuro, quan-
do for curada, ou quando achar a alma gêmea, ou quan-
do entrar na menopausa. Na visão dele, essas pessoas
não vivem nem o presente, nem o futuro.
Quanto à doação de embriões, sêmen e óvulos,
o Bispo explica que não pode dar a opinião da Igreja
Metodista. Para ele, este assunto ainda é muito novo
e restrito a uma pequena roda da sociedade. Mas
acredita que a vida é o maior dom do universo e, se-
gundo a visão Metodista a ciência descobriu poucas
opções. Segundo o Bispo, nesse contexto, o caminho
é fazer uma das opções existentes da medicina atu-
al. Dentro dos princípios que possuem, veem como
o melhor caminho o congelamento desses embriões,
considerando que é responsabilidade do casal cuidar
dos gerados.
Segundo o representante dos metodistas, Deus
nos fez homem e mulher, formando a família humana.
Portanto, ultrapassar esse limite e oferecer o gerado
para uma “terceira” pessoa, quebra esse princípio. A
questão da geração de filhos não é individual, mas
Metodismo 195

de um casal numa sociedade, e o princípio deve ser


aberto a fim de se preservar a vida em situações em
que ele foi desrespeitado. Mas neste caso, tratam
como exceção.

QUADRO GERAL
FIV
Coito Inseminação (Fertilização Doação de Congelamento Congelamento deDoação
sêmen/
programado artificial embriões de óvulos de embriões
in vitro) óvulos

A FAVOR A FAVOR A FAVOR CONTRA CONTRA CONTRA CONTRA


Capítulo 18

Luteranismo
Entrevista com o Pastor Dr. Rudolf von Sinner
(IECLB – Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil)

“A ciência sem fé é loucura. E a fé sem ciência é fanatismo.”


(Lutero)

A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no


Brasil, sediada em Porto Alegre (RS), teve sua origem
no movimento de reforma da igreja iniciado no século
16, protagonizado por Martim Lutero. Em sua desco-
berta doutrinária, baseada em seus estudos da Bíblia
Sagrada, Lutero afirma que o ser humano é salvo por
graça e fé e não por obras que se valem de méritos.
Os Luteranos são caracterizados por um estilo de
vida sem proibições e sem a imposição de regras de
comportamento que possam ter como objetivo a ob-
tenção da salvação, já que esta é alcançada por graça,
mediante a fé. O luteranismo chegou ao Brasil em 1824,
junto com a imigração alemã e, embora tenha perma-
necido mais concentrado no Sul e Sudeste do Brasil
por mais de um século, hoje há comunidades luteranas
espalhadas em quase todos os estados brasileiros.
198 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Desde sua origem, a IECLB buscou na comuni-


dade sua base de sustentação mais importante, ten-
do a vida celebrativa um espaço privilegiado em seu
seio. A Palavra de Deus é pregada e os sacramentos
são administrados. A Igreja Luterana procura exercitar
solidariedade e comunhão no testemunho da fé cris-
tã. Orienta os membros das comunidades e expressa
para a sociedade brasileira a sua visão sobre temas e
situações desafiadoras. O conteúdo de sua palavra e
outros documentos, entre eles o guia prático de vida
comunitária, chamado “Nossa fé – Nossa vida”, revela
o que pensa, em que crê e como se caracteriza e se
articula essa igreja.
A iniciação na vida sexual, segundo a Igreja
Luterana, é compatível com a dignidade humana e o
amor singular conquistado por seu Deus. Sexo e reli-
gião continuam a intrigar as pessoas; porém, aos olhos
da doutrina luterana, o sexo é a preservação das rela-
ções de amor, e não algo que seja relacionado ao peca-
do, mas sim um estímulo a uma vivência de liberdade.
A Igreja Luterana acredita que cabe à nova geração
estudar as escrituras sagradas para entender o que a
ética sexual dentro da religião luterana pode ter como
referência. Para os luteranos, é primordial a intenção do
amor e não a procura de seus próprios interesses de
satisfação sexual. Sempre com a preocupação de não
se fechar para as novas formas do amor, e entender
a complexidade e riqueza que o sexo pode atribuir no
relacionamento entre homem e mulher.
Na opinião do Pastor Rudolf, embora a IECLB ain-
da não disponha de um posicionamento oficial acerca
dos assuntos referidos, pautados em boa medida por
avanços recentes na área da medicina, a visão da igre-
ja quanto ao assunto medicina da reprodução é apre-
Luteranismo 199

sentada, com a concordância do Pastor Presidente da


IECLB, Dr. Walter Altmann, refletindo como correto e
adequado o estado atual da pesquisa no âmbito dessa
igreja, baseada na teologia de confissão luterana.
Ele explica que a tradição luterana, como as igrejas
cristãs em geral, apoia o bem-estar da família e alegra-se
com os filhos oriundos do amor entre um homem e
uma mulher. Conhece, por outro lado, as dificuldades
que casais podem ter em realizar este sonho. Não há,
sob este olhar, nenhum impedimento religioso na ob-
servação do ciclo menstrual para facilitar a gravidez,
como é o caso do tratamento do coito programado.
O Pastor aponta também que não há impedimento
algum em apoiar a gravidez por meio da inseminação
artificial e da fertilização in vitro, desde que o esperma
seja do marido. Ele salienta que, em relação à FIV, a
técnica em si não enfrenta resistência no meio lutera-
no, uma vez que é mais uma forma de ajudar um casal
que, por uma razão ou outra, não consegue a gravidez
por meio do coito.
O líder religioso ressalta que diante de questiona-
mentos éticos relativos aos embriões excedentes para
uso em pesquisa, a seleção dos embriões, a análise e
eventual modificação genética do embrião in vitro, é
preferível que haja o menor número possível de embri-
ões congelados. Para os luteranos, não há problema
se forem implantados posteriormente como é o caso
do procedimento de congelamento de embriões ou a
doação de embriões a outros casais.
Rudolf diz que, de fato, um embrião é considera-
do “vida humana”, embora ainda não seja “pessoa” no
sentido pleno, pela falta de relacionamento com a mãe
no útero. O embrião e depois e feto adquirem status
de pessoa gradualmente, até o atingirem plenamente
200 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

no momento do nascimento. Portanto, um embrião exi-


ge cuidado e proteção, pois não é simplesmente uma
“coisa”, mas também não se pode exigir o mesmo cui-
dado e proteção que se dá a um bebê nascido.
Quanto ao congelamento de óvulos, é uma ques-
tão ainda pouco discutida no meio luterano. A princípio,
por tratar-se de uma técnica de apoio à gravidez, pode
ser considerada positiva. Também evita produzir embri-
ões cujo destino depois faria surgir questionamentos
éticos sérios. O óvulo em si ainda não pode ser con-
siderado vida humana. O que pode ser discutido, con-
tudo, é se não há um exagero no desejo pela gravidez,
querendo ultrapassar os limites biológicos naturais
(menopausa). Se não existe impedimento para ajudar
na gravidez mediante as técnicas citadas, também não
existe propriamente um direito a ter filhos.
A tradição luterana incentiva a construção da fa-
mília estável, contudo, há restrições em relação à do-
ação de sêmen e óvulos por terceiros, uma vez que
uma criança deveria ser concebida com o óvulo da
mãe e o sêmen do pai, com os quais conviverá em
família após o nascimento e, de certo modo, mesmo
antes. A família é constituída pelos relacionamentos
pessoais, mas também pelo laço genético. Se não for
possível conceber um filho biológico, recomenda-se a
adoção de uma criança.

QUADRO GERAL
FIV
Coito Inseminação Doação de Congelamento Congelamento deDoação
programado artificial (Fertilização sêmen/
embriões de óvulos de embriões
in vitro) óvulos

A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR CONTRA


Capítulo 19

Adventismo
Entrevista com o Pastor Manuel Andrade
(Associação Paulista Leste das Igrejas Adventistas)

“A perpetuação da família humana é um dos propósitos de Deus


para a sexualidade humana.” (Gen.1:28)

A publicação do livro La Venida Del Mesias en


Gloria y Majestad, impresso em 1812, agitou os meios
religiosos e foi a precursora da ideia de que Jesus vol-
taria uma segunda vez. Entre as décadas de 1850 e
1860, nasce a Igreja Adventista do Sétimo Dia, conco-
mitantemente nos Estados Unidos e Europa. O termo
adventista é uma referência à crença no advento, se-
gunda vinda de Jesus.
No início do século passado, o movimento alastrou-se
no seio das igrejas evangélicas, com atenção espe-
cial ao estudo da Bíblia, tanto do Novo como do Velho
Testamento. Surgiu também a compreensão do dia do
repouso bíblico de acordo com Êxodo 20, bem como
o relato do Velho Testamento, confirmado por nosso
Senhor Jesus Cristo no Novo Testamento. A observân-
cia do quarto mandamento da lei de Deus como uma
204 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

homenagem semanal ao criador e ao salvador que vai


voltar à Terra caracterizou também essa nova igreja.
No Brasil, a mensagem Adventista chegou por
meio de impressos que ingressaram nas colônias de
imigrantes alemães e austríacos, nos Estados de Santa
Catarina, São Paulo e Espírito Santo. Após a leitura de
“Der Grosse Kampt” (O Grande Conflito), que descreve
a história universal sob os enfoques religioso e bíblico,
dando, além do vislumbre do passado, uma projeção
quanto ao futuro, em termos proféticos, tendo como
base especialmente os livros de Daniel e Apocalipse,
o jovem Guillerme Stein Jr, resolveu unir-se à igreja
Adventista do Sétimo dia, tendo sido batizado no Brasil
em 1985, nas proximidades de Piracicaba, São Paulo.
Pesquisas mostram que hoje existem cerca de um
1,5 milhão de guardadores do santo sábado que congre-
gam na igreja adventista no Brasil, o que representa pou-
co menos de 1% da população nacional (mais de 180
milhões, segundo dados do IBGE). No mundo existem
cerca de 16 milhões de pessoas que se uniram à Igreja
Adventista. Aproximadamente 2.800 novos adventistas
são batizados diariamente. Este número indica que há
um adventista para cada 425 pessoas no planeta.
Os números deste ano refletem uma auditoria
feita na divisão Sul Americana que resultou no declí-
nio de mais de 300 mil membros. Entre 2003 e 2005,
a Divisão Southern Asia-Pacific também perdeu 400
mil membros. Os padrões de crescimento da igreja
indicam que a maior parte do aumento ocorreu em
sociedades não-ocidentais. Cerca de 89% aconteceu
em seis das 13 regiões do mundo: América do Sul,
América Central, East-Central Africa, South Africa-
Indian Ocean, Southern Asia e Southern Asia-Pacific.
A África e a América Latina são os continentes onde
Adventismo 205

residem cerca de 70% dos membros da igreja. E ain-


da: 18% residem na Ásia, 7% na América do Norte e
5% na Europa e Oceania.
Firmes em suas doutrinas, os adventistas têm com
base os princípios de uma família tradicional regrada
aos bons costumes. Para eles, o amor tem o propósito
de oferecer e não de receber. Baseados nos escritos
do livro Cânticos dos Cânticos da Bíblia, não repudiam
o ato sexual como um pecado.
Ciente de que a intenção de uma família feliz e
completa pode ser interrompida por algum proble-
ma natural do homem ou da mulher, o Pastor Manuel
Andrade acredita que os recursos hoje disponíveis pela
medicina da reprodução podem e devem ser utilizados
pelos casais que de algum modo enfrentam dificuldade
para engravidar. Ele apenas observa que o tratamento
deve ser programado dentro do casamento e sem con-
sequências para o corpo, de acordo com os princípios
bíblicos. Essa seria mais uma opção além da fé na pro-
vidência divina.
O Pastor cita Gênesis: “a perpetuação da família
humana é um dos propósitos de Deus para a sexualida-
de humana – Gen.1:28”, ao discorrer sua opinião sobre
algumas técnicas da reprodução assistida. Ele afirma
que desde que o casal esteja em comum acordo e com
orientação médica, o coito programado é uma técnica
aceita pela Igreja Adventista. Ainda nessa mesma linha
de pensamento está de acordo com a inseminação
artificial.
Em sua opinião, a fertilização in vitro é também um
tratamento científico sério, aprovado pela medicina e
respeitado pela Igreja Adventista. Sua única ressalva
está no envolvimento de uma terceira pessoa (barriga
de aluguel), para que se evitem problemas de caráter
206 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

moral. Ele se mostra favorável ao congelamento de


óvulos e embriões, baseado na liberdade de escolha
que Deus nos deu, cabendo aos casais o uso respon-
sável dela, e volta a declarar que tal técnica deve ter
acompanhamento médico responsável e de qualidade.
Já quando o assunto é a doação de sêmen, óvu-
los e embriões, por questões morais, uma vez que a
criança gerada nessas circunstâncias manteria caracte-
rísticas biológicas de seus doadores, o Pastor não está
de acordo com sua utilização. Novamente foi citada a
liberdade de escolha, mas que neste caso esbarra na
questão moral. Para ele a escolha de métodos para a
procriação deve ter limites.

QUADRO GERAL
FIV
Coito Inseminação (Fertilização Doação de Congelamento Congelamento deDoação
sêmen/
programado artificial embriões de óvulos de embriões
in vitro) óvulos

A FAVOR A FAVOR A FAVOR CONTRA A FAVOR A FAVOR CONTRA


Capítulo 20

Congregação Cristã
do Brasil
“Vós, servos, obedecei em tudo a vossos senhores segundo a carne, não
servindo só na aparência, como para agradar aos homens, mas em
simplicidade de coração, temendo a Deus.” (Colossenses 3:22)

A Congregação Cristã foi fundada pelo italia-


no Louis Francescon no século 19, com a compreen-
são do novo nascimento e aceitando Cristo como seu
Salvador, em 1881. Em março do ano seguinte, junto
ao grupo evangelizado pelo irmão Nardi e algumas fa-
mílias da Igreja Valdense, fundaram a Primeira Igreja
Presbiteriana Italiana, tendo sido eleito Filippo Grili
como pastor e Francescon como diácono e, após al-
guns anos, ancião dessa Igreja.
Conforme o próprio relato de Luis Francescon,
após três anos de frequência e organização da Igreja
Presbiteriana Italiana, enquanto lia a Bíblia Sagrada, em
Cl. 2:12, em que está escrito: “Sepultados com ele no
batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder
de Deus, que o ressuscitou dos mortos”, ouviu duas
vezes as seguintes palavras: “Tu não obedecestes a
210 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

este meu mandamento”. A partir daí, inicia o questio-


namento do batismo por aspersão praticado pela Igreja
Presbiteriana Italiana.
Devido a uma viagem do Pastor Filippo Grilli para
a Itália, coube a Francescon, como ancião, presidir a
reunião dominical em 6 de setembro de l903, oportuni-
dade em que, após nove anos da revelação acerca do
batismo, falou com a Igreja acerca deste assunto. Nessa
oportunidade, convidou todos os membros da Igreja
Presbiteriana para assistirem ao seu batismo por imer-
são. O batismo foi realizado no dia 7 de setembro de
l903, e compareceram cerca de 25 irmãos, dos quais 18,
além de Francescon, foram batizados. Com o retorno de
Filippo Grilli, Francescon não teve outra opção senão pe-
dir seu desligamento e dos demais batizados, mesmo à
revelia. Assim, estabeleceram uma pequena comunida-
de evangélica livre, reunindo-se na casa dos irmãos.
Vindo para o Brasil em 20 de abril de 1910,
Francescon realizou o primeiro batismo em Santo
Antonio da Platina, Paraná, batizando o italiano Felicio
Mascaro e mais dez pessoas; depois, dirigiu-se para
a cidade de São Paulo, onde foram batizadas mais 20
pessoas. Durante alguns anos, os fiéis reuniram-se
sem denominação e, após adquirirem o primeiro pré-
dio, na cidade de São Paulo, foi escolhido o nome
“Congregação Christã do Brasil”, oficializado quando
da realização da Convenção, em 1936. Alterado nos
anos 1960 por questões internas, substituiu-se a con-
tração “do” pela contração “no”. Possuiu maioria italia-
na até a década de 1930 e, desde então, passaram a
preponderar as demais etnias; desde 1950 está pre-
sente em todo território brasileiro e em diversos paí-
ses. Sua igreja central é estabelecida em São Paulo, no
bairro do Brás, onde o Ministério reúne-se anualmente
Congregação Cristã do Brasil 211

em Assembleia Geral, quando são estabelecidos con-


venções e ensinamentos.
Mulheres de um lado, homens do outro. Essa é
a primeira impressão da Igreja Congregação Cristã no
Brasil. Em porcentagem, a Congregação é a segunda
igreja pentecostal mais importante do Brasil. Segundo
a última pesquisa do IBGE, os fiéis da Congregação re-
presentam 14% desse grupo religioso. Apesar de estar
presente na maior parte do País, ela se concentra no
Estado de São Paulo.
De acordo com pesquisas e mediante conversas in-
formais com pessoas praticantes da religião, observa-se
que a Congregação Cristã no Brasil não tem um posicio-
namento formal quanto aos tratamentos de reprodução
humana. Em questões pessoais de decisão familiar, mui-
tos desses fiéis não se comprometem a dizer se a igreja
é contra ou a favor dos tratamentos para casais que têm
dificuldade de constituir uma família de forma natural. O
não posicionamento quanto a assuntos de caráter não
religioso tem uma explicação objetiva, que, por meio
de coleta de dados, foi esclarecido. Segue o trecho de
um texto sobre a organização, extraído do site oficial da
Congregação (cristanobrasil.com):
“A Congregação Cristã é uma comunidade civil-reli-
giosa de doutrina apostólica, fundamentada na Bíblia
Sagrada. Nela não há hierarquia, entretanto, é respeita-
da a Antiguidade do Ministério. Como principal carac-
terística (uma das mais marcantes e que mais a difere,
quando comparada a outras instituições religiosas, e
também o que faz tão bonita e única), é a de que todo o
Ministério é formado por voluntários. Não existe remu-
neração para nenhum cargo. Todo trabalho é espontâ-
neo e voluntário.” (Trecho do site da CCB http://www.
cristanobrasil.com/index.php?ccb=ccborganizacao)
212 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Esta citação explica que o fato da igreja ser impar-


cial quanto ao assunto, é devido a opiniões particulares
de membros que podem ser contraditórias; é por esse
motivo que não há um consenso formal pré-estabeleci-
do. Muitos dos fiéis consultados disseram que o papel
da igreja é orientar sobre espiritualidade e não apontar
o que é certo ou errado na ciência ou na medicina.

QUADRO GERAL
FIV
Coito Inseminação (Fertilização Doação de Congelamento Congelamento deDoação
sêmen/
programado artificial embriões de óvulos de embriões
in vitro) óvulos
LIVRE LIVRE LIVRE LIVRE LIVRE LIVRE LIVRE
ARBÍTRIO ARBÍTRIO ARBÍTRIO ARBÍTRIO ARBÍTRIO ARBÍTRIO ARBÍTRIO
Capítulo 21

Igreja Renascer em Cristo


Entrevista com o Apóstolo Estevam Hernandes

“Ó quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união... ali o


Senhor ordena a sua bênção e a vida para sempre.” (Salmo 133)

A Igreja Cristã Apostólica Renascer em Cristo é


uma denominação neopentecostal pregadora da teolo-
gia da prosperidade, fundada em São Paulo, em 1986,
por Estevam e Sônia Hernandes. Inicialmente, as reu-
niões eram realizadas no apartamento do casal, sendo
posteriormente alugado um salão, no piso superior do
edifício onde se encontrava a Pizzaria Livorno, na rua
Vergueiro, Vila Mariana, em São Paulo.
Classificada como neopentecostal, a igreja utiliza a
designação “Apostólica” por acreditar na existência da
figura do apóstolo como um cargo eclesiástico válido
na atualidade. É fundadora da Confederação das Igrejas
Evangélicas Apostólicas do Brasil (CIEAB), entidade
que congrega as igrejas que aceitam essa doutrina.
Com o aumento do número de membros, foi dis-
ponibilizado um espaço, na Igreja Evangélica Árabe de
216 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

São Paulo, ainda na Vila Mariana. O foco principal era


os cultos para jovens. Após um rápido crescimento, foi
adquirido um prédio na Avenida Lins de Vasconcelos,
onde seria erguida a sede internacional, com capacida-
de para cinco mil pessoas.
Segundo o site de notícias “LEU LEUTRAIX NEWS”
a Igreja Renascer controla uma rede de TV, uma grava-
dora, rede de rádio, uma editora e uma linha de confec-
ções; no Brasil, há cerca de 1.200 templos e mais de
dois milhões de seguidores. A Renascer é a segunda
maior denominação neopentecostal brasileira.
Para a Igreja Renascer em Cristo, a sexualidade é
uma criação divina, assim como tudo neste mundo.
Para eles, tudo no princípio foi feito para trazer prazer,
e nada pode ser comparado com esta relação íntima
entre um homem e uma mulher. Eles discordam que o
sexo é apenas para procriação, caso contrário, homem
e mulher não nasceriam com certas peculiaridades.
Em sua visão, enquanto tal conceito puritano existir
como uma ideia extremamente banal do sexo, as con-
sequências serão os altos índices de separações matri-
monias, da violência e das desgraças pessoais e fami-
liares. Acreditam que o Criador, após a queda humana
pelo pecado, ditou algumas regras também no uso da
sexualidade. Para a Igreja Renascer, aceitando ou não,
as regras sobre o sexo foram dadas. É inevitável a ênfa-
se nos aspectos agradáveis do sexo. A questão impor-
tante consiste não em suprimir os desejos humanos
naturais, mas na conscientização de certa ética que os
impeçam de gerar tragédias futuras.
De acordo com a Renascer, duas realidades são
colocadas diante do homem. De um lado, existe a reli-
gião que faz com que o homem tenha uma base para
se constituir no mundo, conferindo a ele a esperança
Igreja Renascer em Cristo 217

de viver a crença em algo maior e a segurança de uma


vida futura. Por outro lado, irrompe a ciência que apre-
senta ao homem a realidade do mundo enquanto visí-
vel e sensível.
Para eles, durante muitos séculos, sustentou-se uma
infindável discussão entre a ciência e a religião, onde a
religião se identificava com a fé e a ciência com a razão.
Cada uma dessas realidades tem uma forte tendência
de se mostrar como soberana. Entretanto, sua visão é
de se constituírem como realidades completamente dis-
tintas, mas não opostas. Nada mais são do que faces
de uma mesma realidade. Assim, toda essa discussão
serve somente para que uma auxilie na purificação da
outra. Na medida em que a ciência apresenta os pontos
falhos da religião, esta se vê na obrigação de dar uma
resposta cabível e cada vez mais depurada às questões
da fé. É evidente a existência de religiões fundamentalis-
tas que não têm a coragem de se dispor aos questiona-
mentos da ciência, são religiões incoerentes e estão fora
da dinâmica da vida, pois criam um mundo paralelo e
totalmente supersticioso, enquanto a verdadeira religião
tem essa coragem de se colocar numa discussão com
a ciência. Neste embate, as duas se completam e se
purificam. A religião sabe-se inócua sem a razão, e a ci-
ência tem consciência de sua limitação e sabe que pode
ir somente até um determinado ponto e que, além disso,
não há uma explicação racional aceitável. Assim, cala-se
e deixa que a religião responda às últimas questões.
Segundo Estevam, os tratamentos de reprodução
como o coito programado são bem-vindos, para que
haja mais garantias de sucesso em uma gestação pro-
gramada. Portanto, não há restrições. Em sua visão
a respeito da inseminação artificial, tudo aquilo que
possa aperfeiçoar a propagação da vida e da felicida-
218 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

de familiar é aceito. “A relação sexual é algo de grande


importância para manter um casamento equilibrado,
mas a geração de um filho traz muita alegria também.
Ambos são viabilizados pela mesma via natural; porém,
na dificuldade de engravidar, não somos contra outras
vias artificiais que possam trazer a geração de filhos”,
diz ele. A fertilização in vitro é também aceita para que
haja continuidade na sucessão familiar.
Ele se coloca mais uma vez a favor da propagação
e da preservação da vida. Portanto, se o congelamento
de embriões pode facilitar a vinda de filhos para que se
aumente a felicidade de uma família, para a Renascer
não há nenhuma inconveniência para uso dessa técnica
também, mesmo que sejam outros casais que venham
a receber.
Além de achar excelente o procedimento de con-
gelamento de óvulos, já que esses óvulos retirados
numa idade com maior integridade física por parte do
doador podem, também, evitar degenerações mais
presentes em pessoas gestantes com idade avança-
da. “Um exemplo seria a síndrome de Down (Trissomia
do cromossomo 21), que tem uma incidência de um
para cada 11 casos em mulheres com mais de 49 anos
contra um em 1.490 casos em mulheres entre 20 e 24
anos”, diz o líder religioso, que também concorda com
a doação de óvulos, sêmen e até de embriões, desde
que seja uma verdadeira doação sem cunho comercial.

QUADRO GERAL
FIV
Coito Inseminação Doação de Congelamento Congelamento deDoação
programado artificial (Fertilização sêmen/
embriões de óvulos de embriões
in vitro) óvulos

A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR


Capítulo 22

Umbanda e Candomblé
Entrevista com o Sacerdote Pai Guimarães de Ogun
(Presidente da ABRATU – Associação Brasileira dos Templos
de Umbanda e Candomblé e de religiões Afro-Brasileiras)

“As transformações importantes a nossa vida sempre são acompanhadas


de algum tipo de sofrimento.” (site Tempo de Umbanda
Cantuá dos Orixás)

A Umbanda é uma religião inserida na cultura bra-


sileira e é estruturada moralmente pelos princípios da
fraternidade, caridade e respeito ao próximo. Admite
um deus chamado Zambi, que é o criador de tudo e de
todos. Seus adeptos, chamados de “umbandistas” ou
também de “filhos de fé”, cultuam divindades denomi-
nadas Orixás e reverenciam espíritos chamados Guias.
Sua orientação espiritual ou doutrinária é feita pe-
los Guias – espíritos que atuam na Umbanda sob uma
determinada linha de trabalho que, por sua vez, está
ligada diretamente a um determinado Orixá. Os guias
têm consciência da natureza humana e os atributos para
que essa humanidade possa evoluir e seguir por um
caminho melhor. Eles se manifestam através da mediu-
nidade dos médiuns, sendo a prática da incorporação
a matriz do trabalho deles – ato pelo qual uma pessoa
222 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

médium, inconsciente, consciente ou semiconsciente,


permite que espíritos falem através de seu corpo físico
e mental.
O Candomblé é uma religião originária da África,
trazida ao Brasil pelos africanos escravizados na época
da colonização brasileira. Os Orixás são arquétipos de
uma atividade ou função e representam as forças que
controlam a natureza e seus fenômenos, tais como a
água, o vento, as florestas, os raios etc.. Candomblé é
uma religião monoteísta, embora alguns defendam que
cultuam vários deuses.
Existem no Candomblé algumas vertentes conheci-
das como nações e em cada uma delas seu deus único
recebe diferentes nomenclaturas: Olorum para a nação
Ketu, Zambi para a Bantu e Mawu para a Jeje. Elas são
independentes na prática diária e, em virtude do sincre-
tismo existente no Brasil, a maioria dos seguidores con-
sidera como sendo o mesmo Deus da Igreja Católica.
Cada Orixá tem um dia da semana a ele consagrado,
sexta-feira é dia de Oxalá, a divindade da Criação, e bran-
co é a sua cor. Ele é sincretizado com o Nosso Senhor do
Bonfim, padroeiro da cidade do Salvador. O sincretismo
entre o candomblé e a religião católica foi uma forma
de defesa visando à preservação da religião proibida pe-
los escravocratas. Também é denominado candomblé o
templo em que são realizados os ritos e cerimônias.
De acordo com os dados da ABRATU, há no Estado
de São Paulo o registro oficial de mais de 2.300 tem-
plos de Umbanda e Candomblé com número de adep-
tos que varia de 20 a 300 pessoas, sendo em média 60
adeptos por templo. A ABRATU é classificada como a
5ª instituição em tempo de existência e a 3ª em estru-
tura. O Estado conta com 52 instituições que atuam
da mesma forma que a ABRATU, sendo que a menor
Umbanda e Candomblé 223

conta com 20 templos associados. Estima-se que em


São Paulo o número de adeptos seja aproximado aos
600 mil, sem contar os simpatizantes e frequentado-
res esporádicos, que fazem parte de outras religiões
mas buscam em vários templos algum tipo de apoio e
orientação. Cerca de 12% a 18% da população brasi-
leira participa de reuniões em templos onde entidades,
com variações na apresentação e identidades, são re-
cebidas, seja na Umbanda, Candomblé ou outras.
Para a Umbanda e o Candomblé, o sexo tem dupla
finalidade. É um recurso da vida para sua própria per-
petuação na carne, e também uma forma de unir pes-
soas de sexos opostos, proporcionando-lhes o prazer
físico e a comunhão espiritual por meio de laços fortes.
Quanto ao momento em que ele deve acontecer, só
sob as bênçãos do casamento civil e religioso, e com
as pessoas conscientes de seus deveres, tanto conju-
gais como os extraconjugais.
Para os adeptos destas crenças não há precon-
ceitos contra a ciência moderna, desde que sejam
respeitados os limites quando se trata de vida. Tanto
o Candomblé como a Umbanda mesclam essa “confu-
são” organizada por algumas religiões que condenam
o avanço da ciência. Segundo eles, não se sabe quan-
do termina a religião para se iniciar a filosofia de vida
e, logo após, falando de ciência, rotação de elétrons,
difração magnética, interferência construtiva. É carac-
terístico destas religiões saber miscigenar tudo, desde
ciência à religião, de uma forma harmônica.
Em breve explicação, Pai Guimarães esclarece que
a Umbanda e o Candomblé são religiões que trabalham
a energia natural presente na natureza, que é a força do
divino presente na terra e a espiritualidade. Segundo
ele, nós somos energia pura manifestada numa carne
224 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

na Terra, e a santa trindade se representa pela natureza,


espírito e encarnação.
Segundo ele, tanto a Umbanda como o Candomblé
não impõem dogmas. Entende-se que quando você
está aqui na Terra é para viver suas emoções, prova-
ções e tentações, e para enfrentar suas fraquezas, difi-
culdades e caminhar. Aquilo que é certo para alguns é
errado para outros. Ele ressalta que não temos como
determinar ou impor a verdade a ninguém; baseado
nesse parâmetro, que cada um siga sua vida.
Quanto aos tratamentos de reprodução humana,
na opinião dele a mulher tem todo o direito de sentir
o prazer de ser mãe, pois existem vários fatores como
uma dificuldade física provocada, talvez não por conta
dela, e sim por conta de uma vida degradada da mãe
ou do pai ou uma dificuldade na sua formação duran-
te sua juventude. Para ele, não importa a questão, o
que importa é que para os adeptos da Umbanda e do
Candomblé existe uma lei do merecimento.
Caso a pessoa não mereça, não existe tratamento,
ou alternativa que fará com que a mulher seja mãe, ou
que o homem seja pai. Não há ciência que irá conseguir
romper a barreira do merecimento. Ele cita exemplos
de pessoas que alcançaram milagres considerados im-
possíveis pela ciência por conta de seu merecimento,
mulheres que eram inférteis e hoje são mães.
Em sua visão, para os praticantes da Umbanda e
Candomblé nada é ao acaso, se o homem está desco-
brindo pela ciência a oportunidade para trazer a felicida-
de, a alegria, o prazer e a missão a uma pessoa, então
é porque existe a permissão do divino, caso contrário,
isso não aconteceria. Deus criou o homem, o universo
e a terra baseados no princípio universal que é respei-
tado por quase todas as religiões, o livre arbítrio. Deus
Umbanda e Candomblé 225

não impõe a nós condições, como amá-lo, respeitá-lo


ou segui-lo, e sim coloca o livre arbítrio que é a liber-
dade de escolha, e conforme as suas ações, seu com-
portamento, sua postura, você irá colher na sua vida os
seus merecimentos, que nem sempre é algo que você
tenha escolhido. O Sacerdote declara que as técni-
cas como o coito programado, a inseminação artificial
e a fertilização in vitro são aceitas pela Umbanda e o
Candomblé, e para ele isso é uma unanimidade dentro
das duas crenças.
A doação de embriões, segundo as duas religiões,
também não é proibida. Na opinião dele, simplesmente
o procedimento faz com que a semente de Deus possa
gerar uma vida. Na visão espiritual da Umbanda e do
Candomblé, a vida nasce depois da formação do feto,
por eles chamada de cruzamento de energia. Em sua
opinião, o livre arbítrio para compartilhar e enraizar de
alguma forma algo de si mesmo, é uma forma de dar
sua contribuição aqui na terra.
Pai Guimarães afirma que a humanidade acabou
evoluindo e chegando onde chegou pelo desprendi-
mento do que os outros irão pensar. Quantas pesso-
as nos tempos antigos foram tachadas de loucas por
conseguirem invenções que eram absurdas na época,
e que hoje graças à iniciativa e a coragem delas de se
doar de tal forma, temos avanços e mais avanços na
natureza e na humanidade. “Essa doação espontânea
de uma vida a outra pessoa que irá trazer felicidade é
comparada por nós, umbandistas e candomblés, a uma
missão determinada pelo divino aqui na Terra, e não
pode ser condenada, pois traz a felicidade”, diz ele.
Quanto ao processo de congelamento de óvulos
e embriões, as doutrinas Umbanda e Candomblé tam-
bém não são contra. Isso envolve o mesmo princípio,
226 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

sendo um procedimento que mais para frente irá ge-


rar uma vida, e caindo na mesma situação. Para ele, a
doação de sêmen, óvulo ou embrião é permitida e o
fato de congelar para usar algum tempo depois, ou até
mesmo pra doar pra outra pessoa, vai gerar uma vida
de qualquer forma, futuramente. Para a Umbanda e o
Candomblé, o sêmen e o óvulo não são considerados
vida e sim uma semente que irá se tornar um ser vivo.
“Isso é geração de vida, então, nós temos que estimu-
lar.” finaliza o sacerdote.

QUADRO GERAL
FIV
Coito Inseminação (Fertilização Doação de Congelamento Congelamento deDoação
sêmen/
programado artificial embriões de óvulos de embriões
in vitro) óvulos

A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR A FAVOR


Referências bibliográficas
e leituras recomendadas

CAP 3 - BIOÉTICA EM REPRODUÇÃO HUMANA


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BARCHIFONTAINE, Christian De Paul De; PESSINI,
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Em Busca de Uma Ética Universal. Novo Olhar sobre a
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preimplantation genetic diagnosis amc - Center for
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e o Dhammapada do budismo). Ed. Ver. Nova York: P.F.
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Bahler. Oxford: Clarendon Press, 1886.
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Sacred Books of the East. The Upanishads. Trad. F. Max


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http://grupoadventury.br.tripod.com/Materiais/IASD/
Historia_da_Igreja_Adventista_no_Brasil.htm
http://crescimentoadventista.blogspot.com/
Cap 7 – Budismo
http://www.bsgi.org.br/
Cap 11 – Espiritismo
http://www.brasilescola.com/religiao/espiritismo-no-
brasil.htm
http://www.guia.heu.nom.br/historico_do_
espiritismo.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Espiritismo
Cap 13 – Islamismo
http://www.sepoangol.org/islam.htm
http://www.ligaislamica.org.br/v8/
Cap 15 – Presbiterianismo
http://www.ipb.org.br/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Presbiterianismo
Cap 16 – Anglicana
http://www.ieab.org.br/
Cap 17 – Metodista
http://www.metodista.org.br/
Referências bibliográficas e leituras recomendadas 235

Cap 19 – Congregação Cristã


http://www.cristanobrasil.com/index.
php?ccb=ccborganizacao
Cap 20 – Renascer
http://www.igospel.org.br/2009/index.php
http://pt.wikipedia.org/wiki/Renascer_em_Cristo
Cap 22 – Umbanda e Candomblé
http://abratu.com.br/
http://www.fietreca.org.br/
Outras obras
do autor

Fertilização um ato de amor - 4a edição


Acompanha DVD
Nova edição que descreve tratamentos atualizados sobre a
utilização da imunologia, yoga e acupuntura no combate à
Infertilidade. Acompanha um DVD que descreve com ima-
gens e em detalhes como é feita a Indução de Óvulos, a
inseminação artificial, a fertilização in vitro (ICSI) e a Biópsia
Embrionária.

Fertilidade Natural
Dr. Arnaldo S. Cambiaghi e Dra. Daniella S. Castellotti
Um livro para aqueles que querem saber mais sobre os tra-
tamentos alternativos que podem melhorar a fertilidade do
casal. Capítulos: O que é infertilidade; A escolha da clínica
certa e do médico ideal; O processo reprodutivo normal;
Os exames que avaliam a fertilidade do casal; A infertili-
dade inexplicável; Alimentação; Hábitos; Fator emocio-
nal; Acupuntura; Fitoterapia; Aromaterapia; Homeopatia;
Reflexologia e shiatsu; Yoga; Fé e religiosidade; Terapia flo-
ral e tratamentos convencionais.
Outras obras do autor 237

Gravidez: Caminhos, tropeços e... Conquistas.


O livro apresenta depoimentos envolventes – de pacientes
que se trataram no IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia,
Obstetrícia e Medicina da Reprodução) – comentados pelo
autor, que emocionam leitores de todas as idades, homens
e mulheres, independente de terem ou não dificuldade para
engravidar. São casos reais de mulheres que ficaram grá-
vidas utilizando as técnicas de Reprodução Assistida e as
suas variações – como a doação de óvulos, a barriga de alu-
guel, o banco de sêmen (comenta como os homens enfren-
taram a infertilidade), além da superação das dificuldades
nos casos de endometriose, idade avançada e problemas
emocionais.

Fertilidade é assunto sério


Como homens e mulheres podem prevenir que os inconve-
nientes da vida atrapalhem sua fertilidade. O autor explica
que cada um de nós é responsável por grande parte das
causas da infertilidade. O uso de drogas e bebidas, taba-
gismo, bem como a falta de cuidado com doenças sexu-
almente transmissíveis são considerados fatores de risco.
Além disso, pacientes com endometriose ou curados de um
câncer podem preservar a fertilidade através de um diagnós-
tico precoce. Sabe-se também que cerca de 15% dos casais
encontrará dificuldade para ter filhos, na época que dese-
jarem engravidar. Problema que gera ansiedade, frustração
e altos gastos com tratamentos especializados. Com uma
linguagem simples e esclarecedora, o autor mostra como
mudanças de estilo de vida e cuidados básicos com a pró-
pria saúde podem evitar que a infertilidade aconteça.

Doadoras e receptoras de óvulos:


uma integração perfeita e ética que ajuda a
construir famílias
Dr. Arnaldo S. Cambiaghi e Dra. Daniella S. Castellotti
“A doação de óvulos não consiste em um simples ato de
entrega descontrolada, mas sim em uma atitude pensada e
generosa com o objetivo maior de proteger, preservar, eterni-
zar, restaurar e conservar a família e o amor.”
É um livro que trata de um tema polêmico que desperta
interesse entre os casais e curiosidade aos médicos. É
dedicado às mulheres que não possuem óvulos capazes de
serem fertilizados e têm dificuldade em aceitar óvulos doa-
dos e também àquelas que querem doar seus óvulos, mas
desconhecem como isso pode ser realizado. É um livro éti-
co que explica o aspecto legal e descreve passo-a-passo o
procedimento para doação de óvulos. Mostra também de-
poimentos de mulheres que doaram e receberam óvulos.
238 Os Tratamentos de FERTILIZAÇÃO e as RELIGIÕES

Ser ou não ser fértil? As questões e respostas


Este livro tem um aspecto objetivo e didático, numa lingua-
gem simples em forma de questões e respostas.
Capítulos: Questões iniciais, Respostas fundamentais, Pre-
servação da fertilidade (prevenção e proteção), Exames
para a avaliação da fertilidade do homem e da mulher,
Infertilidade inexplicável ou esterilidade sem causa aparente
(ESCA), Infertilidade masculina, Abortamento de repetição
(AR), Síndrome dos ovários policísticos, Miomas uterinos,
Endometriose, Coito programado – indução da ovulação, IAIU
inseminação artificial, Fertilização in vitro, A fertilidade dos 35
aos 45 anos, A fertilidade dos 46 anos aos 55 anos e daí em
diante, A fertilidade após vasectomia e laqueadura tubária, DPI
biópsia embrionária, Congelamento de embriões, Óvulos e
ovário, A gravidez após os tratamentos de fertilização assistida.

Por que os tratamentos de fertilização


in vitro podem falhar?
Este livreto descreve as possíveis causas do insucesso dos
tratamentos de fertilização in vitro, como diagnosticá-las e
os possíveis tratamentos. Se o seu tratamento ainda não
deu certo, muitos destes diagnósticos poderão ajudar a au-
mentar a chance de gravidez em uma próxima tentativa.

DVD - A Reprodução Assistida em Foco


Este DVD explica passo-a-passo e por imagens os tratamen-
tos de infertilidade: a Indução Ovulação, o coito programa-
do, a inseminação artificial, a fertilização in vitro (ICSI), e o
Diagnóstico.
Pré-Implantacional (DPI - Biópsia Embrionária)
GRATUITO para os estados de Minas Gerais, Paraná, Rio de
Janeiro, Mato Grosso, São Paulo. (para casais que querem
engravidar)

Grávida feliz, obstetra feliz


Um livro de dicas para médicos e pacientes terem um rela-
cionamento feliz em perfeita harmonia.
Capítulos: O milagre da vida, Como fazer o cálculo para saber
a data provável do parto, Exames realizados durante a gesta-
ção, Alterações orgânicas durante a gravidez, Descobrindo o
sexo do bebê, Ameaças ao bem-estar da mamãe e do bebê,
Aspectos psicológicos da gravidez, Cuidados com a alimenta-
ção, Ginástica na gravidez, Cuidados estéticos, O parto harmo-
nizado, Aprenda a anotar suas dúvidas antes das consultas,
Cuidados maternos após o nascimento do bebê, Ginástica
pós-parto.
Outras obras do autor 239

Bem Estar da Mulher – a essência da vida


É um livro completo da saúde feminina. Escrito por vários
autores colaboradores, explica aspectos gerais da saúde
da mulher, como: Saúde Ginecológica, Ovários policísti-
cos, Sexualidade, Síndrome do Coração Partido, Relações
Afetivas, Qualidade de Vida, Dores de Cabeça, Problemas
Digestivos, Envelhecimento Saudável etc...

Manual da preservação da fertilidade


em pacientes com câncer
Os avanços tecnológicos dos últimos anos na área da on-
cologia têm proporcionado aos pacientes tratamentos que
revolucionaram a esperança de uma vida melhor. Jovens,
que tinham muitas vezes um futuro desenganado, podem
agora olhar com esperanças concretas a cura de sua do-
ença. Entretanto, essa evolução nem sempre tem evitado
o prejuízo da saúde reprodutiva causado pelas cirurgias,
quimioterapias ou radioterapias, comuns a essas pacientes.

Grávida feliz, obstetra feliz – Em braille


Livro escolhido pela Fundação Dorina Nowill para Cegos. A
iniciativa, do Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi e que foi patro-
cinada pelo Bradesco, mereceu a homenagem entitulada
“Parceiros de Visão”.

RECEBEU O “TROFÉU CORUJA” -


SÍMBOLO DA SABEDORIA
Este livro se encontra disponível na
Fundação Dorina Nowill para Cegos

Adquira o seu exemplar direto com a


Editora LaVidaPress, pelo site:

www.lavidapress.com.br
Os Tratamentos de Fertilização e as Religiões
Ciência, ética, direito e religiosidade

“A medicina reprodutiva exige um conhecimento científico profundo e atualizado, res-


peito e comprometimento com a ética e a valorização da relação médico-paciente.”
Arnaldo Schizzi Cambiaghi

Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi é médico especialista em Reprodução Humana e


responsável por uma das Clínicas de maior credibilidade desta especialidade no País:
o Centro de Reprodução Humana do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia
– IPGO (www.ipgo.com.br). É considerado um expoente nesta área e devoto ferrenho
da ciência atualizada e da tecnologia avançada para os tratamentos de infertilidade,
porém, acredita que para a excelência dos tratamentos e obtenção dos melhores
resultados, o lado humano da relação médico-paciente deve ser sempre valorizado.
“Os Tratamentos de Fertilização e as Religiões – O permitido e o proibido” é o
11º livro de sua autoria e apresenta um tema inédito sobre os tratamentos de Repro-
dução Humana, algo que só poderia ser escrito por um especialista com vontade e
sensibilidade para entender o lado espiritual dos seus pacientes. À primeira vista, esse
assunto pode parecer espinhoso, mas estimula instigantes discussões sem fim, seja o
leitor religioso ou não.
O tema é enaltecido pelo autor, que cunhou o termo Biorreligião – até agora ine-
xistente em dicionários brasileiros ou mesmo na internet – que, em sua opinião, traduz
a responsabilidade e o respeito dos médicos e embriologistas à religião dos envolvidos
nos tratamentos ligados à vida.
“Os Tratamentos de Fertilização e as Religiões – O permitido e o proibido” é
dedicado a todos aqueles que se interessam em saber como cada religião avalia os
tratamentos de fertilização, não sendo preciso estar envolvido em algum tratamento
de infertilidade para entender como é interessante conhecer a diversidade de opiniões
entre os representantes religiosos e as leis da doutrina que cada um representa: o
proibido, o permitido e o interpretado.
São orientações diferentes que não têm a pretensão de apontar se alguma crença
está correta e a outra errada. A intenção é apenas apresentar ao público como cada
uma (Catolicismo, Judaísmo, Espiritismo, Jeovismo e Protestantismo, entre outras) lida
com um tema tão atual e, por vezes, ainda polêmico.
E vale lembrar, como bem escreveu Dr. Arnaldo em um dos capítulos, que: “Nos
momentos difíceis, quando se apresentam dois caminhos conflitantes, precisamos pri-
vilegiar a sabedoria, termos calma e não tomarmos decisões precipitadas. Se em um
primeiro julgamento algo se apresenta maravilhoso, incrível e sedutor, deve-se pon-
derar e considerar com profundidade uma outra opção que pode privilegiar o nosso
destino e não somente o presente”.

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