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A arte da

vida:
seja vencedor no âmbito
pessoal e profissional!

EUDES DE DEUS CANUTO


1
FICHA CATALOGRÁFICA (PROVISÓRIA)

Editor responsável:
Preparação de originais: Kellen Raquel da Silva Ramos Mandarino
Colaboração: Kellen Raquel da Silva Ramos Mandarino
Revisão de texto:
Projeto gráfico:
Capa:
Diagramação:
Tiragem:

2
À minha mãe, a mulher mais guerreira que já conheci e que me ensinou o valor das coisas que
não se compram.
3
Agradecimentos
Primeiramente, quero agradecer a Deus por Seu amor incondicional e por nunca ter
desistido de mim.
Agradeço também à minha mãe, Honorina Ferreira Santos (Dona Nora), a minha
referência, o meu baluarte, o meu exemplo, a minha base, não há palavras pra descrevê-la!
Que Deus lhe abençoe, minha mãe guerreira de fé!
À Família Canuto, que sempre esteve comigo. Amo muito vocês!
Obrigado, Joel dos Santos e Pr. Paroschi, amigos e companheiros de jornada, por não
desistirem de mim!!!
Aos meus maiores mentores e incentivadores, Ione Maciel e Pr. João Rubens, a minha
gratidão e reconhecimento!
Às muitas pessoas que torcem por mim e por meu sucesso. Que Deus continue
abençoando todos vocês!!!

4
“– Filho, há um preceito que você deve guardar ao começar essa nova vida. Tenha-o
sempre presente e vencerá obstáculos aparentemente impossíveis, que com certeza encontrará,
como todos aqueles que têm ambição.
Hafid esperou.
– Sim, senhor?
– O fracasso jamais o surpreenderá se sua decisão de vencer for
suficientemente forte. Pathros adiantou-se para o jovem.
– Você compreende todo o significado de minhas palavras?
– Sim, senhor.
– Repita-as então para mim.
– O fracasso jamais me surpreenderá, se minha decisão de vencer for suficientemente
forte.”

Extraído do livro “O Maior Vendedor do Mundo”, de Og Mandino (itálico do autor).

5
Sumário

QUANDO VOCÊ PAROU DE CANTAR?


1.O poder da música na mente e no corpo
2. O poder espiritual da música

QUANDO VOCÊ PAROU DE DANÇAR?


3. O poder do movimento

QUANDO VOCÊ PAROU DE ACREDITAR?


4. Correndo o risco de perder
5. O Colecionador de lágrimas
6. A vida é feita de (re) começos
7. Antes de partir
8. Agir é questão de vida e de morte
9. Sentindo na pele
10.Filho de guerreira, aprende logo a batalhar
11. Saia da penumbra cinzenta!

QUANDO VOCÊ PAROU DE SE ENCANTAR?


12.O poder da autoestima
13. Corra do “espírito de porco”
14.A “Ciência” da Felicidade
15. Faxina mental
16.Quando a tristeza é patológica

QUANDO VOCÊ PAROU PARA SILENCIAR?


17. Simples, de graça e sem contraindicação
18. “Faxina noturna”
19.A morada dos fortes
20. O Efeito Einstellung
21.Tempo de silenciar!
6
QUANDO VOCÊ PAROU PARA AMAR?
22. A maior necessidade humana
23. Amor próprio não é opcional
24. Amor em forma de gratidão
25. Amor que transborda e derrama
26. Amor incondicional
27. A mais difícil e necessária forma de amar

7
Refletindo...

arte | s. f .1
1.Conjunto dos meios pelos quais é possível obter a realização prática de algo. = TÉCNICA
2. Conjunto de regras e preceitos necessários para o exercício de uma atividade ou
profissão (ex.: o ensino de uma arte).
3. Tratado que contém essas regras e preceitos.

Este livro é ARTE.


vida | s. f. 2
1. O período de tempo que decorre desde o nascimento até à morte dos seres. =
EXISTÊNCIA
2. Determinada fase desse período.
3. Modo de viver.
4.Comportamento.
5.Ocupação, profissão, carreira.
6.Princípio de existência, de força, de entusiasmo, de atividade (diz-se das pessoas e das
coisas).
7. Fundamento, essência; causa, origem.
8. Biografia.

Este livro é VIDA.

Nas próximas páginas, você encontrará uma história de coragem, amor e


determinação. Também será desafiado a rever seus conceitos, enxergar seu potencial,
abandonar as cargas inúteis e rumar para o sucesso na vida pessoal e profissional.
Acredite, será uma jornada inspiradora e, depois dela, permanecer inerte não será
uma opção.

Kellen Ramos Mandarino


(autora de “A culpa é do namoro”)

1
"arte", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013,
https://dicionario.priberam.org/arte [consultado em 21-12-2018] – adaptado.
2
"vida", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013,
https://dicionario.priberam.org/vida [consultado em 21-12-2018] – adaptado.

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Introdução
Conta-se que, nas antigas tribos indígenas, quando um índio estava acabrunhado, triste, com
problema, uma dificuldade, buscava o suporte de seu líder espiritual. Neste encontro, o índio
estava disposto a falar sobre suas lutas e a ouvir os conselhos de seu líder. Este, em sua
sabedoria, fazia algumas perguntas ao índio, com o objetivo de diagnosticar seus problemas e,
ao mesmo tempo, ajudá-lo na retomada de uma vida saudável e feliz. Essas perguntas faziam
o índio refletir e mudar o foco da sua vida, o foco do problema. Eram perguntas reflexivas,
que tinham o propósito de fazer com que o índio visse a vida de um outro prisma, a partir de
uma outra perspectiva. Ei-las:
Quando você parou de cantar?
Quando você parou de dançar?
Quando você parou de acreditar?
Quando você parou de se
encantar? Quando você parou
para silenciar? Quando você parou
de amar?
Ao ouvir essas perguntas, o índio saía dali refletindo sobre a sua vida e, na maioria das
vezes, iniciava uma guinada vitoriosa, retomava o gosto pela vida, o desejo pelo trabalho, a
alegria dos momentos simples entre amigos e familiares.
Bem, amigo, provavelmente, não nos conhecemos pessoalmente, mas nós estamos aqui
na mesma sintonia. E, através dessa ilustração, eu também quero levá-lo a refletir. Não tenho
a pretensão de ser seu líder espiritual ou me autodenominar mais sábio do que você. Mas os
princípios contidos nas perguntas daquele líder mudaram a minha vida e, creio, podem fazer
muita diferença na sua. Podem levá-lo a enxergar a vida sobre um outro foco, partindo de
outra perspectiva. Podem fazer com que você dê uma guinada, uma retomada em sua vida,
tirando o foco dos problemas, das dificuldades e acreditando mais em você.
Assim, faço minhas as palavras daquele sábio líder:
Quando você parou de cantar?
Quando você parou de dançar?
Quando você parou de acreditar?
Quando você parou de se
encantar?

Quando você parou para


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silenciar? Quando você parou de
amar?

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QUANDO VOCÊ PAROU DE CANTAR?

[...] Foi quando Volta Seca deixou o cavalo onde montara Lampião e veio para eles:
-- Quer ver uma coisa
bonita? Todos queriam. O sertanejo trepou no carrossel, deu corda na pianola e começou a
música de uma valsa antiga. O rosto sombrio de Volta Seca se abria num sorriso. Espiava a
pianola, espiava os meninos envoltos em alegria. Escutavam religiosamente aquela música
que saía do bojo do carrossel na magia da noite da cidade da
Bahia só para aí ouvidos aventureiros e pobres dos
Capitães da Areia. Todos estavam silenciosos. Um operário que vinha pela rua, vendo
a aglomeração de meninos na praça, veio para o lado deles. E ficou também parado,
escutando a velha música.
Então a luz da lua se estendeu sobre todos, as estrelas brilharam ainda mais no céu, o
mar ficou de todo manso [...] e a cidade era como que um grande carrossel onde giravam
em invisíveis cavalos dos Capitães da Areia. Neste momento de música eles sentiram-se
donos da cidade. E amaram-se uns aos outros, se sentiram irmãos porque eram todos eles
sem carinho e sem conforto e agora
tinham o carinho e conforto da música.
(Capitães de Areia, de Jorge Amado, p. 42)

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1.O poder da música na mente e no
corpo
Seja como os pássaros que, ao pousarem um instante
sobre ramos muito leves, sentem-nos ceder, mas cantam!
Eles sabem que possuem
asa
s. (Victor
Hugo)

Quero falar um pouco do poder da música. Aqui, não vinculo a música à religião. Eu
estou falando do poder que a música tem pra ajudar as pessoas.
Em uma reportagem publicada em 2010, na Revista Mente e Cérebro, Karen Schrock
faz um apanhado de pesquisas que explicam o poder dos sons sobre o que sentimos e como
a música pode trazer benefícios para o bem-estar físico e mental. Em estudo realizado com
39 pacientes de Alzheimer, Linda Gerdner, pesquisadora da Universidade do Arkansas para
Ciências Médicas, utilizou a música preferida de cada paciente 2 vezes por semana e
concluiu que “a canção favorita reduziu os níveis de agitação [...] durante e após a sessão
muito mais que as clássicas músicas de relaxamento”. A repórter menciona também outro
exemplo clássico de redução da ansiedade através da música: uma mãe acalmando seu bebê
com uma canção. De acordo com a reportagem, cientistas afirmam que a música pode
acalmar, reduzir os níveis do cortisol (o hormônio do estresse) na corrente sanguínea,
“baixando as taxas cardíacas e respiratórias e aliviando a dor”.
Sobre os efeitos psicológicos (e, por consequência, fisiológicos) da música, Caroline
Pacheco, professora adjunta do Departamento de Educação Musical da Universidade Federal
do Paraíba e doutoranda do programa de Arte Educação da Simon Fraser University, afirma
que nossas experiências pessoais e sociais, aliadas à memória, dirão qual lembrança, desejo
ou emoção será ativada ao ouvir, dançar, cantar ou tocar determinada música. Assim,
“dificilmente, uma pessoa irá se sentir feliz ou realizada ouvindo uma música que faz com
que ela recorde um momento triste”.
Neste sentido, práticas médicas como as mencionadas por Karen Schrock podem ser
consideradas uma espécie de musicoterapia: o uso da música como meio de tratamento
para os problemas emocionais, mas não é só isso. Assim como produz tranquilidade, estudos

12
mostram que “a música alegre, tensa ou empolgante pode excitar fisicamente o ouvinte,
desencadeando resposta de luta e fuga: as taxas cardíacas e respiratórias aumentam, a
pessoa

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pode suar e a adrenalina penetra na corrente sanguínea”. É por isto que músicas agitadas
são as preferidas na hora da atividade física; elas instigam “respostas do sistema fisiológico
para a execução de movimentos de alta energia” e causam um efeito psicológico
importante: a distração. Distraídos, o esforço do exercício fica mais divertido, menos
estressante, dando a sensação de que não estamos tão cansados, mesmo que já tenhamos
feito um super treino!

Como a música é capaz de interferir tanto em nossa mente e nosso corpo?

Daniel Levitin, neurocientista e músico, explica que atividade musical envolve quase
todas as regiões cerebrais e subsistemas neurais conhecidos. Ao ouvir uma música, por
exemplo, o núcleo cloclear, o bulbo cerebral, o cerebelo se movem para cima, para os córtex
auditivos, de ambos os lados do cérebro. Quando acompanharmos músicas conhecidas ou
de algum estilo com o qual estejamos familiarizados, são mobilizados o hipocampo (centro
da memória) e subseções do lobo frontal, particularmente o córtex frontal inferior.
Acompanhar o ritmo da música envolve os circuitos de tempo do cerebelo e, para executá-
la, acionamos os lobos frontais (para o planejamento), o córtex motor na parte posterior do
lobo frontal (para cantar ou tocar, a gente precisa se mexer, não é?) e o córtex sensorial, que
dá respostas táteis, imprescindíveis para tocar um instrumento, por exemplo. A leitura, da
letra ou da partitura, envolve o córtex visual, localizado na parte mais traseira do cérebro, no
lobo occipital. Mesmo que você já tenha decorado letra e partitura, precisará dos centros
dos centros da linguagem, nas áreas de Broca e Wernicke e nos lobos temporal e frontal. E
as emoções, inevitáveis ao ouvir uma música, envolvem estruturas do vermis cerebelar e da
amídala – o coração do processamento emocional no córtex. Em outras palavras, a música é
uma espécie de remédio (ou de veneno) que atua diretamente em nosso cérebro, o centro
de operações do corpo. Você compreende o poder da música? O líder espiritual daquela
tribo sabia, mesmo sem compreender cientificamente, que a música tinha este poder e, por
isto, fez deste tema a sua primeira pergunta: quando você parou de cantar?
O adágio popular diz “quem canta seus males espanta!”
Aristóteles afirma que “a música é celeste, de natureza divina e de tal beleza que
encanta a alma e a eleva acima da sua condição”.
E a minha pergunta a você hoje, com todo o carinho, é: você já experimentou cantar
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em meio aos obstáculos, às dificuldades da vida?

15
2. O poder espiritual da música
Quereis cantar louvores a Deus? Sede vós mesmos o
canto que ides cantar. Vós sereis o seu maior
louvor, se viverdes santamente.
(Santo Agostinho)

Existe um personagem bíblico, Davi, que compôs centenas de músicas, muitas delas
registradas no livro de Salmos, na Bíblia. A maioria destes salmos, que são verdadeiras
canções de Davi, foram compostas por ele quando passava por dificuldades, problemas.
Muitas foram escritas nas ocasiões mais difíceis de sua vida, ocasiões em que se encontrava
triste, abatido, muitas vezes, traído, perseguido, cheio de problemas, com pessoas querendo
tirar sua vida...
O Salmo 3, por exemplo, foi escrito quando Davi escapou de seu filho Absalão, que
queria matá-lo. Isto mesmo, seu filho queria matá-lo e Davi cantou:
“Ó Eterno, vê! Quantos inimigos!
Brotam como erva daninha,
Um enxame deles me cerca, gritando insultos:
‘Nenhuma ajuda de Deus vem para ele!’
[...]
“Levanta-te, ó Eterno! Ajuda-me, meu Deus!
Bate no rosto dessa gente,
Primeiro numa face, depois na outra [...]”

Em outro momento, depois de ter cometido adultério e ter ordenado a morte do esposo
traído, Davi cantou o Salmo 51:
“Deus generoso, em amor, preciso da tua graça!
Deus imenso em misericórdia, apaga meu passado sujo.
Limpa minha culpa e purifica-me dos meus pecados.
Sei que fui muito mau;
Meus pecados ficam me olhando o tempo todo.
Purifica-me, e sairei limpo;
Lava-me [...] e terei uma vida branca como a neve.

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Põe uma música alegre para mim,
Conserta meus ossos quebrados para que eu possa dançar.
[...]
Deus, faz um novo começo em mim,
Dedica uma semana para organizar o caos da minha vida - uma nova gênese.
[...]”

Você entende? Em meio à angústia da perseguição ou durante o caos da culpa, Davi se


retirava, compunha e cantava estas canções. As canções são assim. Elas têm o poder mágico
de transformar uma situação. Eu diria até que a canção tem um poder espiritual, pode levar
você para uma outra dimensão, ao encontro da calmaria, do alívio da alma, da paz que vem
de Deus.
Houve um momento na vida de Davi em que ele foi chamado para cantar na frente de
um rei, Saul. Este rei estava possuído de espíritos maus e seus conselheiros buscaram Davi.
Assim, sempre que a angústia atormentava Saul, Davi dedilhava sua harpa, cantava e o rei se
acalmava.
Percebe o poder da música?
O que estou querendo dizer pra você é: diante dos problemas da vida, perseguição,
lutas, dificuldades, experimente dar um tempo pra si e cantar.
E você pode ir ainda mais além. Cante louvores a Deus e experimente o poder
espiritual da música. A sua mente vai ser elevada para uma outra atmosfera, eu garanto.
Era isto o que fazia o povo de Israel durante os 40 anos em que caminhou no deserto.
Eles cantavam as vitórias que Deus havia lhe dado na saída do Egito, na abertura do Mar
Vermelho, no livramento de doenças e de inimigos, nas vezes em que foram perdoados.
Assim, elevavam os pensamentos acima das provações e dificuldades do caminho,
acalmavam o coração angustiado e desnorteado e experimentavam o encontro com a
calmaria, do alívio da alma, da paz que vem de Deus. A mesma paz que experimentou Davi,
Saul e que eu também experimento quando faço da música o meu louvor.

E então: você já experimentou cantar?


Você já experimentou louvar?
Não?!
Que tal começar agora?

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QUANDO VOCÊ PAROU DE DANÇAR?

Ela dança com a música de


dentro. (Fabrício Carpinejar, poeta
e escritor)

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3. O poder do movimento

Se você pode andar, você pode dançar. Se você pode falar, você pode
cantar. (Provérbio africano)

Faço a você a segunda pergunta do líder espiritual indígena: quando você parou de
dançar? Isto. Dançar. Não aquelas danças horrorosas que visam apenas a sensualidade
exagerada, a objetificação do corpo da mulher, mas dançar a sua música preferida, a música
que lhe traz alegria. Dançar no chuveiro, na chuva, em casa com seu companheiro ou
companheira, na hora da faxina enquanto segura a vassoura e, em plenos pulmões, solfeja
uma canção que lhe dá ânimo e energia pra continuar na luta diária.

A dança aqui também pode ser pensada como um meio movimentar o corpo, de se
exercitar. Não fomos feitos pra ficar parados. Nosso corpo é uma máquina, uma engrenagem
que precisa de movimentos.

É provável que você já tenha lido, ouvido ou até estudado sobre o assunto. Mas não
custa lembrar alguns dos benefícios do movimento.

Além dos benefícios para o corpo, estudos científicos revelam que a prática regular de
exercícios físicos nos ajuda a pensar com mais clareza e melhorar a memória.
Consequentemente, temos um grande ganho na aprendizagem, indispensável para
continuarmos vivendo de maneira relevante. Segundo a médica Gisele Sampaio Silva, as
vantagens do movimento começam com a elevação dos níveis de oxigenação e do fluxo
sanguíneo no corpo como um todo, o que, por si só, melhora o funcionamento da memória,
da concentração e previne o acidente vascular cerebral (AVC). Conhecido popularmente
como derrame, o AVC, é a segunda principal causa de morte no mundo, de acordo com
dados da OMS – Organização Mundial de Saúde. Em 2015, por exemplo, 8,8 milhões de
pessoas perderam a vida por causa deste mal.

Há ainda outros estudos que sugerem uma relação entre a prática regular de atividade
física e mudanças significativas na constituição do cérebro, alterando a estrutura deste órgão

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ao incentivar o nascimento (algo que até pouco tempo era considerado impossível pela
comunidade científica) e o desenvolvimento de neurônios! Veja só: a prática regular de
atividade física pode incentivar o nascimento e desenvolvimento dos neurônios, a células do
cérebro que são responsáveis por conduzir os impulsos nervosos que processam as
informações e os estímulos de todo o nosso corpo!

Estas também foram as conclusões de Henriette van Praag (Ph.D), uma neurocientista
norte-americana de renome internacional. Henriette e sua equipe, do Laboratório de
Neurociências do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, detectaram que o
exercício aumenta a capacidade do cérebro de se adaptar e criar novas conexões, o que os
cientistas chamam de neuroplasticidade. Também puderam observar que “quem se exercita
regularmente produz uma intensa atividade no hipocampo. Essa região cerebral está
relacionada à memória e à aprendizagem, e lá estão armazenadas as células-tronco que
darão origem aos novos neurônios”.

Deixe a preguiça de lado!

Você precisa de exercitar, você precisa caminhar, você precisar ir em uma academia,
você precisa fazer um exercício. Seu corpo precisa disto.

Além dos vários benefícios que já falamos, a atividade física atua na produção de
endorfina, um hormônio que age no humor, ameniza estresse, ansiedade e depressão. Já
percebeu que durante e depois da atividade física surge uma sensação de bem-estar? É a
endorfina, que também tem efeito analgésico, aliviando as tensões musculares e a dor, além
de regular a liberação de outras substâncias muito importantes para o bom funcionamento
do nosso corpo.

O exercício físico é necessário pra você se sentir bem, portanto, se ainda não tem este
hábito, comece já! Pode ser uma caminhada em meio à natureza ou uma aula de pilates.
Você pode correr, pular, nadar e tantas outras opções, só não pode ficar parado!

Os índios dançavam, se movimentavam nas tribos, caminhavam na floresta. Todos os


dias, durante a vida inteira. E você: quando parou de dançar?

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QUANDO VOCÊ PAROU DE ACREDITAR?

Rir é correr risco de


parecer tolo. Chorar é correr o risco
de parecer sentimental. Estender a
mão é correr o risco de se envolver.
Expor seus sentimentos é correr o risco de mostrar seu
verdadeiro eu. Defender seus sonhos e ideias diante da
multidão é correr o risco de
perder as
pessoas. Amar é correr o risco de não
ser correspondido.
Viver é correr o risco de
morrer. Confiar é correr o risco
de se decepcionar. Tentar é correr
o risco de fracassar.
Mas os riscos devem ser
corridos, porque o maior perigo é
não arriscar nada. Há pessoas que
não correm nenhum risco,
não fazem nada, não têm nada e não
são nada. Elas podem até evitar
sofrimentos e desilusões,
mas elas não conseguem nada, não sentem nada, não mudam,
não crescem, não amam, não
vivem. Acorrentadas por suas atitudes, elas
viram escravas,
privam-se de sua
liberdade. Somente a pessoa que
corre riscos é livre!
(Sêneca)

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4. Correndo o risco de perder
Acredite que você pode, assim você já está no meio do caminho.
(Theodore Roosevelt)

Há muito tempo, estava trabalhando em Curitiba, no Paraná. Lá, entrei em um


escritório de advocacia onde li uma frase que impactou minha vida pra sempre. O
pensamento era de Theodore Roosevelt, 26º presidente dos Estados Unidos, que governou
aquele País durante os anos de 1901 a 1909, e dizia: “É muito melhor arriscar coisas
grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se à derrota, do que formar fila com
os pobres de espírito que nem gozam muito nem sofrem muito, porque vivem nessa
penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota.”

Ah... Que frase maravilhosa, hein? Como uma frase tem o poder de mudar uma vida
(a propósito, é por isto que estou escrevendo)! Aquela frase mudou a minha história pra
sempre! A partir daquele dia, reafirmei meu compromisso de seguir lutando, arriscando,
desbravando o caminho dos meus sonhos. Decidi prosseguir em busca de meus objetivos, de
minha realização pessoal, das conquistas que eu queria pra minha vida.

Primeiramente, quero explorar a primeira parte desta frase (tratarei da segunda


parte no capítulo 11): “É muito melhor arriscar coisas grandiosas [...] MESMO EXPONDO-SE À
DERROTA ...” (a ênfase é minha).

Ninguém gosta de perder, mas a derrota faz parte do jogo, então, o jeito é aprender
com ela. E acredite, a derrota pode ensinar lições importantes para trilhar o caminho da
vitória.

Gosto muito dos textos de Gonçalves Dias. Além de poeta, Antônio Gonçalves Dias
(este é seu nome completo) foi professor, crítico de história, etnólogo. Nascido em agosto de
1823, na cidade de Caxias, estado do Maranhão, no nordeste brasileiro, morreu jovem, aos
41 anos, vítima de um naufrágio. É muito conhecido por seu poema “Canção do Exílio”, sem
dúvida uma das grandes obras do nacionalismo romântico brasileiro. Mas hoje quero
destacar outra grande obra de Gonçalves Dias, o poema “Canção dos Tamoios”.

22
Tamoio é uma palavra originária da tribo dos Tupinambás. Os tupinambás fizeram
parte da Confederação dos Tamoios, entre 1556 e 1567, na luta contra os colonizadores
portugueses. Dizem que tamoio significa reunião dos fortes. Faz sentido, especialmente
levando em conta a luta daquele povo.

Neste contexto, Gonçalves Dias se apropria da bravura de um índio tupinambá, que


prepara seu filho para a luta da vida e proclama corajosamente:

I
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.

II
Um dia vivemos!
E o homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
[...]

IV
[...] Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!

V
E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.

VI
Teu grito de guerra

23
Retumbe aos ouvidos
D'imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d'ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.
[...]

X
As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.

No início e no fim do poema, a ênfase é na luta e na possibilidade de derrota, que é


inerente à batalha. Eu escolhi este poema, de propósito, por que a vida é isto: viver é lutar, a
vida é combate, é luta renhida e nem sempre as coisas acontecem da forma e da maneira
que a gente idealiza. Não temos o controle de tudo e é necessário, eu diria imprescindível,
saber como posso lidar quando o trem sai dos trilhos.
A quem vou recorrer diante de uma derrota? Na hora da perda, da dor, do
sofrimento, como você vai reagir? Não podemos nos entregar à derrota. Ou a gente senta na
esquina e chora, ou vamos à luta, como um bravo tamoio, revestido de brio e coragem,
valente, guerreiro, que não se abate diante do duro combate, mas dele se fortalece.

O lado positivo da derrota

Podemos encarar a derrota a partir de uma perspectiva positiva? Sim! A derrota pode
um degrau para alcançarmos nossos objetivos.
Muitas vezes, as dificuldades, são mensagens personalizadas. São o meio que nos
leva a despertar, são um convite para a guerra, para a batalha, para a luta. Quem sabe, esta
dificuldade que você está passando faça parte de uma faceta, que está lhe convidando ao

24
combate, à luta. Esta pode ser uma oportunidade que a vida lhe dá para recomeçar. Posso
afirmar isto por experiência própria.
Em 2017, tive um ano bem tumultuado, cheio de obstáculos e aparentes derrotas. A
primeira foi quanto sofri um acidente de carro. Lembro de ter visto um carro vindo pra cima
de mim e de ter desviado dele. Nessas horas, as coisas acontecem muito rápido e, quando
voltei para a pista, perdi o controle do carro e atravessei na frente de um caminhão. O
motorista do caminhão, que veio me dar assistência, disse que, em condições mais comuns,
mais normais, teria passado por ali com muito mais velocidade, mas naquele dia, dirigia bem
mais devagar, pois estava muito cansado.
Falei pra ele sobre o carro que tinha visto e do qual havia desviado, mas o rapaz
afirmou categoricamente que nenhum carro passara por ali e provavelmente eu havia
dormindo no volante. Até hoje, não entendo direito o que aconteceu, se perdi dormi,
cochilei... O fato é que perdi o controle do carro em uma estrada reta! Sem nenhum perigo
aparente ou risco por conta de algo na pista. Se o motorista do caminhão estivesse andando
mais rápido, provavelmente, eu teria capotado ou bateria de frente com o caminhão, o que
poderia ter sido fatal.
Por causa disto, ficaria sem carro durante 3 meses, período que o mecânico precisaria
para consertá-lo. Parte do meu trabalho era feita em cidades diferentes das que eu morava e
sendo assim não podia ficar sem carro. Uma pessoa conhecida, sabendo de minha situação,
decidiu emprestar seu carro. Parecia ser uma grande bênção, afinal, teria como trabalhar.

Então, a situação piorou: roubaram o carro que haviam me emprestado! Foi durante
o dia, em um lugar aparentemente seguro. Dentro dele estavam roupas, livros, Bíblia e
outros objetos de valor. Naquele ano, além do prejuízo dos objetos roubados, tive que arcar
com o conserto do meu carro (mais de R$ 1.000) e comprar um novo para a irmã, que me
emprestara o seu, já que ela não tinha seguro. Com o carro da irmã, precisei desembolsar R$
7.000.

E as lutas de 2017 continuaram. No final do ano, acabei adoecendo. Tive uma


embolia pulmonar3, fiquei internado durante dez dias, quatro destes na UTI. Seria muito
hipócrita se falasse que foi fácil suportar tantas derrotas. Mas preciso dizer a você: cada
uma destas

3
A embolia pulmonar é causada pela obstrução das artérias dos pulmões por coágulos (trombos ou êmbolos)
25
que, na maior parte das vezes, se formam nas veias profundas das pernas ou da pélvis e são liberados na
circulação sanguínea. Coágulos maiores podem interromper completamente a circulação pulmonar; essa
condição pode ser mortal.

26
batalhas perdidas me deram uma nova chance de recomeço. Do acidente, em que não tive
nenhum arranhão; da possibilidade de pagar prejuízos financeiros e ainda ter como viver; da
coragem de recomeçar depois de um relacionamento desfeito; da cura de uma embolia
pulmonar severa, posso afirmar bravamente: ESTOU VIVO! Deus cuidou de mim e me deu a
oportunidade de recomeçar, outra vez, e de novo, e de novo, e mais uma vez.

27
5. O Colecionador de lágrimas

“O campo da derrota não está povoado de fracassos, mas de homens


que tombaram antes de vencer.”
“O êxito da vida não se mede pelo caminho que você
conquistou, mas sim pelas dificuldades
que superou no caminho.”
(Abraham Lincoln - XVI° presidente dos Estados Unidos)

Ainda falando sobre o lado positivo da derrota, lembrei de um texto de um poeta


carioca, Francisco Rosa4. No poema “Ilusões da vida”, ele expressa a realidade dos benefícios
da derrota, do sofrimento, porque tudo na vida tem um propósito, sobretudo o de
transformar as derrotas em meios ou degraus pra se alcançar o êxito. O poema diz o
seguinte:

Quem passou pela vida em branca


nuvem, E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem, não foi
homem, Só passou pela vida, não viveu.
Percebe aqui que no poema, Francisco Otaviano de Almeida Rosa está expondo o lado
positivo das dificuldades, das lutas, da derrota? As derrotas servem como meios, como
instrumentos (podemos dizer, até, divinos) para nos preparar, para nos tornar mais fortes,
pessoas mais vencedoras diante dos obstáculos e das dificuldades da vida.

A História está repleta de pessoas que foram exemplo de vitórias, exemplo de


heroísmo, de dedicação e de garra mesmo diante das piores dificuldades que a vida impôs
ou das aparentes derrotas. Gosto muito da biografia de um sujeito que lutou muito para
chegar

28
4
Advogado de formação, Francisco Otaviano de Almeida Rosa (1825-1889) também atuou como jornalista, deputado,
senador e diplomata. Um dos patronos da Academia Brasileira de Letras, suas principais obras são Cantos de Selma e
Traduções e Poesias.

29
aonde chegou. Esse homem sofreu um monte de derrotas, mas apesar de tudo, continuou
acreditando com muita tenacidade, garra, dedicação e disciplina até chegou onde pretendia.
Estou falando de Abraham Lincoln, o 16º presidente dos Estados Unidos da América – EUA.

Nascido em uma família muito simples, em 1809, Lincoln perdeu a mãe quando ainda
era criança. Iniciou sua vida profissional como lenhador e, em certa ocasião, quando
trabalhava na fazenda de um homem poderoso e rico da região, acabou se apaixonando pela
filha do fazendeiro. Lógico que o dono da propriedade o expulsou de lá, mas a história conta
que, antes de sair, Lincoln escreveu na cerca da fazenda a seguinte frase: “Abraham Lincoln,
futuro presidente dos Estados Unidos”.

Após a demissão, em 1831, Lincoln foi tentar a vida como comerciante. Não deu certo.
Fracassou, inicialmente.

Migrou para a política e, a partir de então, coleciona uma série de derrotas:

1832: concorreu à câmara de deputados de Illinois e perdeu. Neste ano, decidiu estudar
direito, mais teve sua inscrição rejeitada;

1833: fez um empréstimo para iniciar um negócio, mas faliu e passou 17 anos pagando
esta dívida;

1834: tentou se eleger deputado estadual novamente e, novamente, perdeu;

1835: sua noiva morreu;

1836: teve uma crise nervosa que o deixou de cama durante 6 meses;

1838: concorreu à presidência da câmara e foi derrotado;

1840: concorreu a uma vaga no colégio eleitoral e perdeu;

1843: mais uma tentativa de eleição, desta vez, ao congresso nacional. Perdeu de

novo; 1848: disputou a reeleição para o Congresso (havia vencido em 1846) e perdeu;

1854: perdeu a eleição para o Senado;

1856: perdeu nas prévias para vice-presidente (recebeu menos de 100 votos em seu
partido);

1860: venceu a eleição para presidência dos Estados Unidos e se tornou um de seus
maiores presidentes.

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Da primeira eleição disputada – e perdida – até a vitória na corrida presidencial
americana, foram 28 anos. Vinte e oito anos colecionando derrotas e frustrações. Mas, a
cada perda, foi se tornando mais forte. Foi (e é) como disse Freud, o que não me destrói, me
torna mais forte.

Abraham Lincoln 28 anos para viver o seu sonho! E este é o nosso desafio: como
Lincoln, fazermos da derrota os meios que precisamos para vencer os obstáculos.

Esse homem lutou 28 anos por um sonho que estava dentro do seu coração. Aí, eu
pergunto pra você: até quanto você está disposto a pagar o preço de acreditar e lutar por
seus sonhos?

31
6. A vida é feita de (re) começos
Se é que minha opinião importa, nunca é tarde demais
ou, no meu caso, cedo demais para ser quem você quer
ser. [...] Podemos tirar o máximo ou o mínimo proveito
das coisas. Espero que você tire o máximo. Espero que
veja coisas surpreendentes. Espero que sinta coisas que
nunca sentiu antes. Espero que conheça pessoas com
um ponto de vista diferente. Espero que tenha uma vida
da qual se orgulhe. E se não se orgulhar dela, espero
que encontre forças para
começar tudo de novo.

(Scott Fitzgerald - Escritor americano, em fala do


personagem Benjamin no filme “O Curioso
Caso de Benjamin Button”)

Cecília Meireles foi a primeira voz feminina de grande expressão na literatura


brasileira. Poetisa, professora, jornalista e pintora, viveu entre os anos de 1901 a 1964 e
estreou na literatura aos 18 anos, com o livro "Espectros". De lá pra cá, mais de 50 obras de
sua autoria foram publicadas.
Da obra dela, quero destacar uma frase que diz muito sobre as chances de
(re)começo que a derrota nos proporciona: “Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e
a voltar sempre inteira”. (A esta altura da nossa conversa, você já deve ter percebido como
eu gosto de pensar sobre frases e trechos literários e o quanto acredito que eles podem
impactar nossa vida).
O pensamento de Cecília Meireles contém uma lei da natureza, a necessidade de
poda. De maneira geral, pode-se dizer que as podas servem para corrigir o desenvolvimento
das plantas, mantê-las saudáveis, arrancar ramos e galhos que não servem e só ficam
sugando, literalmente, a energia vital da planta. Para aquelas que trabalham com a produção

32
de alimentos, por exemplo, uma poda correta pode aumentar a produtividade e o lucro.

33
Toda poda é um tipo de agressão à planta. Toda poda causa sofrimento. Mas uma
poda bem feita é garantia de recomeço, pois concentra a energia vital naquilo que vale a
pena, na parte que pode crescer e dar frutos, ou flores.
Quando penso na palavra recomeçar, lembro de um poema de Carlos Drummond de
Andrade, outro grande artista do Brasil. Neste poema, “Recomeçar”, Drummond está
enfatizando o recomeço após uma perda amorosa, mas podemos pensar nestes versos como
inspiração para quaisquer outras perdas da vida em que, assim como nas desilusões
amorosas, não podemos ficar prostrados diante da dor. Tomei a liberdade de suprimir alguns
trechos e fazer pequenas adaptações, mas estas não modificaram a essência deste convite
ao recomeço. Um convite pra você:

Não importa onde você parou, em que momento da vida você cansou… o que importa
é que sempre é possível e necessário “Recomeçar”.
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo, é renovar as esperanças na vida e o
mais importante: acreditar em você de novo.
Sofreu muito nesse período? Foi aprendizado…
Chorou muito? Foi limpeza da alma…
Ficou com raiva das pessoas? Foi para perdoá-las um dia…
[...] Acreditou que tudo estava perdido? Era o início da tua melhora…
Pois é…agora é hora de reiniciar, [...] de encontrar prazer nas coisas simples de novo.
Que tal um corte de cabelo arrojado, diferente? Um novo curso? Ou aquele velho
desejo de aprender a pintar, desenhar, dominar o computador… ou qualquer outra
coisa…
Olha quanto desafio…quanta coisa nova nesse mundão de meu Deus te
esperando. [...]
Quando nos trancamos na tristeza, nem nós mesmos nos suportamos. Ficamos
horríveis, o mal humor vai comendo nosso fígado, até a boca fica amarga.
Recomeçar! Hoje é um bom dia para começar novos
desafios. Onde você quer chegar?
Sonhe alto! Queira o melhor do melhor! Queira as coisas boas para a vida!
[...] Se pensamos pequeno, coisas pequenas teremos.

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Já se desejarmos fortemente o melhor e principalmente lutarmos pelo melhor, o
melhor vai se instalar na nossa vida. [...]
Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura.

ES – PE – TA – CU – LAR!
Em poucas palavras, este poema resume a ideia deste capítulo. Somos capazes de
nos refazer, de renascer das cinzas, de juntar os cacos e começar outra vez.
Em 2017 e em muitas outras vezes, Deus cuidou de mim e me deu a oportunidade de
recomeçar, outra vez, e de novo, e de novo, e mais uma vez.

Não importa o momento da vida que esteja passando, hoje, você também tem a
chance de (re) começar, de pensar grande, de lutar por seus sonhos, por que você é do
tamanho daquilo que vê, e não do tamanho de sua altura.

35
7. Antes de partir

Sonhe com aquilo que você


quiser. Seja o que você quer ser, porque você
possui apenas uma vida e nela só se tem uma
chance de fazer aquilo que se quer.
[...] As pessoas mais felizes não têm as
melhores coisas. Elas sabem fazer o
melhor das oportunidades que
aparecem em seus caminhos.
[...] A vida não é de se brincar, porque um belo dia se morre.
(Cecília Meirelles)

Você já ouviu falar em uma enfermeira australiana chamada de Brone War? Esta
enfermeira ficou conhecida mundialmente após a publicação do livro “Antes de partir”.
Nesta obra, ela relata os maiores arrependimentos de dezessete pacientes terminais que
acompanhou, pessoas que estavam no fim da vida. Brone passou parte de sua vida ajudando
a amenizar o sofrimento dessas pessoas. A maioria delas, ricas e bem-sucedidas financeira e
profissionalmente.

O título original do livro deixa claro seu conteúdo: “The top five regrets of the dying:
a life transformed by the dearly departing” (Os cinco maiores arrependimentos dos que estão
morrendo: a vida transformada (revista) na hora da partida). Na obra, Brone retrata as
reflexões de pessoas à beira da morte, diante do fim da linha, sem chances de uma nova
vida, com novas oportunidades e (re)começos. O livro se best-seller, porque retrata a
fragilidade da da raça humana e nos convida a refletir em como esta vida é rápida e breve e,
de repente, a gente não deixar de sonhar e realizar algo por medo, pela opinião dos outros,
que, pensamos, podem definir como devemos agir.

Achei interessante este tema, e a reflexão que o livro propõe a respeito da nossa
vida, de como a gente perde tempo não se arriscando, não se expondo com medo do que as

36
outras pessoas vão dizer, do que as pessoas vão pensar a nosso respeito. A propósito, este é
primeiro

37
arrependimento listado por Brune: o arrependimento de não ter vivido aquilo que se
desejava por dar mais importância ao que os outros iriam pensar.

É uma pena que este também seja o grande arrependimento de boa parte das pessoas.

A vida é breve demais para viver uma vida que não é a sua

Na maioria das vezes, não estamos engajados naquilo que gostaríamos de fazer.
Muitas são as razões para isto, dentre elas, o medo da reprovação dos outros, aquele temor
do tipo “o que fulano vai pensar de mim se eu escolher este caminho?”. Diante da iminência
da morte, este foi um dos grandes arrependimentos dos pacientes da enfermeira Brone
War, razão pela qual é extremamente importante refletirmos sobre esta questão e
decidirmos não cometer o mesmo erro do qual lamentavam profundamente aqueles
doentes terminais.

Nós temos 70, 80 anos de vida, alguns tem a sorte de ganhar um pouco mais de
tempo. Olhando de longe, parece um tempo que não chega, que não se esgota, mas o
relógio é implacável, não para nem por um segundo e, sem atraso, a velhice chega pra todos.
Que tragédia será chegar na velhice e chegar à conclusão de que você poderia ter vivido o
que desejava, mas não o fez por medo ou falta de foco.

E se uma doença encurtar seus anos de vida? O que você vai enxergar ao olhar pra
trás? Uma vida de lutas e desafios, mas que foram superados e recompensados por dias
felizes de realização pessoal ou o retrato de alguém que não ousou lutar por seus sonhos?

Então, o que eu estou querendo trocar em miúdos, retratar e propor pra você é o
seguinte, amigão: viva a sua vida. Arrisque, pague o preço, não dê ouvidos para o que as
pessoas vão pensar de você. A vida é muito rápida e muito breve pra gente perder tempo
com bobagem. Conheço pessoas que não dão um passo à frente, não fazem nada sem
buscar a aprovação dos outros, sem consultar, sem se preocupar com o que as pessoas vão
dizer, com o que os outros vão falar. Se este é o seu caso, pare pra pensar um pouco: eles
pagam a sua conta?
38
Entenda, uma coisa é pedir conselho a alguém de confiança quando você tem
dúvidas sobre a melhor decisão, ou compartilhar suas angústias e dúvidas com um amigo
mais chegado que um irmão. Outra, muito diferente, é buscar aprovação e balizar suas
escolhas pela vontade outro que não seja você.

Aproveite o maior dom que a vida está lhe dando: o tempo. Invista-o em você e
naquilo que está dentro do seu coração. No confronto com a morte, encare o fim com a
cabeça erguida e alegria de poder olhar pra trás e se orgulhar da vida que você escolheu
viver.

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8. Agir é questão de vida e de morte
Quem faz pode cometer falhas, mas a maior de todas as falhas é não
fazer nada. (Benjamin Franklin)

Tenho o costume de buscar inspiração na vida das pessoas e, nas biografias da Bíblia,
encontrei muitas lições importantes pra minha vida. Dos personagens bíblicos que me
inspiram de alguma forma, Salomão é um dos meus favoritos. Em um de seus livros que
foram incorporados aos textos sagrados, ele aconselha:
“Cada dia é um presente de Deus. É tudo o que se pode receber pelo árduo trabalho
de se manter vivo.
Portanto, tire o máximo de cada dia!
Agarre cada oportunidade com unhas e dentes e faça o melhor que puder.
E com prazer!
É sua única chance, pois, junto com os mortos, para onde você vai com certeza, não há
nada a fazer nem haverá o que pensar”5

Neste verso, ele está falando dentro do contexto da fragilidade da vida e da certeza
da morte, “para onde você vai com certeza” e onde “não há nada a fazer nem haverá o que
pensar”. Assim, se tivermos que arriscar, tem que ser agora. Se tivermos que pagar o preço,
tem que ser hoje. Não podemos postergar e deixar pra amanhã algo que temos de fazer hoje
e a razão é simples: só temos o hoje, o agora, este instante. A morte é a certeza de nossa
vida e só temos esta vida para agarrar “cada oportunidade com unhas e dentes” e fazer o
melhor que pudermos.

Esse é o nosso desafio: entender que a nossa vida é rápida, é breve e que, de
repente, podemos estar colocando o foco em coisas que não têm importância, ou vivendo
para atender às expectativas de outros.

5
Eclesiastes 9:7-10 (versão bíblica A Mensagem).

40
As pessoas que são felizes, são as pessoas que assumem a rédea da sua vida, que
controlam seu destino, que se arriscam, que pagam o preço por aquilo que acreditam, por
seus sonhos. Mesmo que amanhã ou depois a decisão tomada não dê certo, é importante
chegar e lá e dizer: “isso não deu certo, mas fui eu quem escolhi este caminho, eu estou
construindo meu destino”.

Proponho a você dar uma analisada na biografia de Salomão. Se vivesse em nossos


dias, em nossos tempos, ele seria um desses empresários bem-sucedidos que alcançaram
sucesso, fama, poder, dinheiro e tudo mais que o coração do ser humano poderia desejar.
Em sua época, ele foi um rei bem-sucedido que fez “projetos formidáveis como ninguém”,
construiu casas, plantou vinhas, projetou jardins e parques repletos de árvores, fez
reservatórios para irrigar seus pomares, entre outras grandes realizações estruturais. Além
disto, tinha servos e servos à sua disposição, adquiriu grande rebanho, “mais do que
qualquer” outro antes dele “em Jerusalém”, acumulou muita prata e muito ouro dos reis que
dominou e dos reinos que conquistou6. Diante de todas estas conquistas, sabe qual foi a
conclusão de Salomão a respeito da vida? A de que tudo é vaidade, um grande vazio, que
não vale nada, que não faz sentido.

O sentido da vida não tem preço

Pensar em realizar algo vai muito além de conquistas materiais, embora elas sejam
importantes e necessárias para sobrevivermos dentro desta estrutura socioeconômica na
qual estamos inseridos. Entretanto, coisas que podem ser compradas não têm o poder de
trazer felicidade para sua vida. Por isso, quando insisto na ação, da luta pelos objetivos,
estou falando especialmente de ambições pessoais; estou falando de sonhos que estão no
seu coração e que estão envelhecendo, enquanto você os adia por causa da opinião de
outros, de terceiros.

Estou falando daquela viagem tão desejada, do sonho de ingressar em um curso


universitário, de trabalhar no que gosta. De repente você está passando a vida inteira
dentro

41
6
De acordo com Eclesiastes 2:4-8.

42
de uma instituição que não representa seus valores, ou em uma função diferente daquela que
você queria realizar.

Você tinha outros planos, mas sua vida virou uma coisa está pré-estabelecida, como
se tudo já estivesse definido, como um jogo de cartas marcadas. E embora você perceba
estar aprisionado, não tem coragem de assumir sua vida e fazer aquilo que está dentro do
seu coração. Você prefere engavetar seus sonhos a enfrentar o medo e tomar uma decisão.

Epitáfio
Tem uma música do Titãs, uma banda brasileira, que propõe uma reflexão sobre a
vida diante da morte. A canção se chama “Epitáfio”, em referência às palavras que
costumam ser escritos nas lápides dos túmulos. Leia este trecho:
“Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração
Devia ter complicado menos, trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado a vida como ela é
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier [...]”

Depois da notícia de uma doença incurável, ou da velhice que prenuncia a morte, não
adianta pensar naquilo que poderia ter feito, em como poderia ter arriscado, errado e feito o
que “queria fazer”. Em como “queria ter amado mais” e “ter visto o sol se pôr”. Por que não
fazemos isto? Por que somos escravos do tempo? Por que somos escravos do trabalho, disto
ou daquilo?

43
Não, amigão. A vida é breve, amigo. Ela é rápida. E, de repente, nós damos o foco nas
coisas erradas.

Quero encerrar este capítulo com dois textos. O primeiro deles é uma frase (mais
uma) que há muito tempo está no meu coração: “Deus prefere pessoas que tomem a
decisão, ainda que seja errada, do que aqueles que não se decidem.”

O outro texto é aquele de Eclesiastes, escrito pelo homem mais rico e mais sábio que
se tem notícia, Salomão:
“Cada dia é um presente de Deus. É tudo o que se pode receber pelo árduo trabalho
de se manter vivo.
Portanto, tire o máximo de cada dia!
Agarre cada oportunidade com unhas e dentes e faça o melhor que puder.
E com prazer!
É sua única chance, pois, junto com os mortos, para onde você vai com certeza, não há
nada a fazer nem haverá o que pensar”7

Não fique em cima do muro, esperando a vida passar, não! Assuma a sua vida. Seja o
senhor do seu destino. Realize aquilo que está dentro do seu coração enquanto você ainda
tem vida e saúde. E comece hoje, agora, é o único instante que, de fato, lhe pertence.

7
Eclesiastes 9:7-10 (versão bíblica A Mensagem).
44
9. Sentindo na pele
“Um dia, quando olhares para trás, verás que os dias mais belos foram
aqueles em que lutaste.” (Sigmund Freud)

Era o ano de 1996, na cidade de Curitiba, Paraná. Estava sozinho, trabalhando para
conseguir meu sustento e tentar fazer uma reserva para entrar na faculdade. O trabalho era
duro. Batia de porta em porta vendendo coleções de livros. Vender livros em um país que
não tem o hábito de ler, é um grande desafio. E pra mim, trabalhar sozinho e no Sul do
Brasil, aumentava consideravelmente o nível de dificuldade.

Sou baiano de nascimento e negro. Na época, o sotaque denunciava minhas origens e


minha cor não era o melhor cartão de visitas. Na região onde estava trabalhando, as pessoas
não costumam demonstrar muita simpatia. Em alguns casos, agiram de forma racista
mesmo, me tratando como alguém de raça menor ou inferior.

Eu seguia batendo em todas as casas, quarteirão por quarteirão, até que todo o
bairro fosse visitado. Tinha acabado de tocar a campainha de uma casa grande, que ficava no
fundo do terreno. A dona não me atendeu, mas eu a vi enquanto espiava através da cortina
da janela. Percebi que ela não queria falar comigo e fui embora. Era a última casa do
quarteirão. Atravessei a avenida e fui embora para o próximo.

Depois de uns minutos, vi um carro da polícia que passou por mim. Dentro, policiais
que me olharam por baixo. Eles seguiram a patrulha e eu continuei trabalhando.

Pouco tempo depois, aquele carro se aproximou novamente. Desta vez, os policiais
me abordaram, perguntaram o que eu fazia da vida, por que estava andando por ali e
batendo em todas as portas. Pediram também que eu abrisse minha bolsa. Nela, eu
carregava alguns dos livros que vendia, eram minha amostra para os clientes interessados.
Mostrei todo o meu material e falei do serviço que os estudantes faziam nas férias a fim de
pagar seus estudos.

Ao explicar que chamávamos esta atividade de colportagem, umas das policiais


afirmou conhecer este tipo de trabalho, pois sua mãe era adventista do sétimo dia, religião
45
que ela também tinha professado há algum tempo e da qual estava afastada naquele
momento.

Percebendo o mal-entendido, elas me pediram desculpas e contaram o motivo da


revista. A mulher daquela casa grande no fundo do terreno, que me espiou através da
cortina da janela e resolveu não me atender, havia feito uma denúncia, alegando que eu
estaria tentando forçar o cadeado de seu portão.

As policiais se ofereceram para serem minhas testemunhas no caso de eu decidir


denunciar aquela senhora e registrar um boletim de ocorrência sobre a calúnia que estava
sofrendo, algo que poderia, inclusive, gerar um processo judicial por danos morais. Decidi
que não tomaria esta atitude, mas agradeci o respeito, a solidariedade e o esclarecimento que
aquelas agentes prestaram.

Naquele dia, voltei para casa de uma senhora que me dera abrigo e chorei muito.
Senti na pele – literalmente – a crueldade do preconceito racial, a dificuldade de vencer
longe de casa e no Sul do Brasil.

Aquele episódio me marcou profundamente. Senti-me derrotado, mas não poderia


desistir; se aquele era o preço do meu sonho, deveria pagá-lo. Aquela não era a primeira vez
que teria de enfrentar a vida e trabalhar pra vencer. Também não seria a última. E as
lembranças de um menino guerreiro nascido e criado em Itabuna, me ajudaram a levantar a
cabeça, enxugar as lágrimas e partir pra luta.

46
10. Filho de guerreira, aprende logo a
batalhar
Há pessoas que estão sempre atribuindo às
circunstâncias aquilo que são. Não acredito nas
circunstâncias. As pessoas que vencem neste mundo são
as que procuram as circunstâncias de que precisam e,
se não as encontram, as criam. (George Bernard Shaw)

Na minha casa, morava muita gente. No primeiro casamento, meu pai teve seis filhos
e minha mãe, quatro. Juntos eles tiveram outros nove, dos quais eu fui a penúltimo a nascer.
Sou o mais novo dentro os homens e, abaixo de mim, só tem nossa irmã caçula.
Resumindo: eram muitos filhos, uma casa pequena e pouco dinheiro. Meu pai
trabalhava na prefeitura. Minha mãe lavava roupa dos bacanas da cidade. Na Bahia, a gente
chamava isto de roupa de ganho.
Em casa, era tudo limitado, tudo contadinho, mesmo! Era um pão e um pedaço (um
pão e uma banda) pra cada um e ai daquele que às vezes pegasse o pão do outro! Criança
com fome sempre queria comer mais. No nosso caso, não tinha mais. Então, o jeito era
garantir o pedaço de direito, nem que, pra isto, a gente tivesse que sair no tapa!
A gente dormia em duas camas, dentro de um quarto com um monte de irmãos.
Quando a perna adormecia, não dava pra saber se estávamos pegando a nossa perna ou a
de algum irmão. O pior era quando alguém fazia xixi na cama! Molhava todo mundo, já que
dormiam uns por cima dos outros.
A vida era de muita luta! Minhas irmãs mais velhas já trabalhavam em alguma coisa e
eu lembro que, desde pequeno, tentava encontrar um jeito de ganhar dinheiro. Já entendia
o tamanho da dificuldade, já tinha experimentado a dor de passar fome e me perguntava:
“como posso ajudar em casa?” Com 7, 8 anos, já fazia um carrinho de pau improvisado e me
oferecia (e cobrava) para levar as coisas que as pessoas compravam na feira. Outra tentativa
de ganhar dinheiro era quando chovia. No sul da Bahia, chove bastante e onde a gente
morava, em uma estrada de terra, tinha uma subida. Quando chovia, a enxurrada trazia a

47
terra
de cima do morro e ficava perto da nossa casa. Daí, juntávamos aquela terra pra vender. Não

48
lembro se conseguia algum dinheiro, mas não esqueço das vezes em que tentei vender terra
da chuva.

Perto de casa tinha um armazém onde a gente comprava as coisas. E eu via que, pela
manhã, sempre tinha um rapaz, um menino mais velho que eu, ajudando o dono, o Seu
Erasmo (até hoje eu lembro o nome dele... como estas coisas marcam a nossa vida, né?).
Daí, fiquei sabendo que ele iria sair e decidi correr atrás daquele emprego. Conversei com o
seu Erasmo, prometi dedicação ao trabalho e ele me deu uma oportunidade. Acordava bem
cedo para levar pão no armazém e, apesar do meu esforço, tinha muita dificuldade para
realizar as tarefas. Como o seu Erasmo foi muito bondoso paciente comigo durante o tempo
em que trabalhei com ele.

Foi uma infância difícil, mas de muita inspiração da minha mãe e minhas irmãs,
mulheres batalhadoras que, desde cedo, davam um exemplo de luta e superação. A partir
daqueles exemplos, fomos construindo um espírito de sobrevivência, de companheirismo.
Ajudávamos uns aos outros nas dificuldades da vida, que eram inúmeras.

Lá pelos 12, 14 anos, comecei a vender mel. Um pessoal que era apicultor chegou na
cidade e eles tinham mel puro, com própolis, com alho. Eu pegava os produtos deles e saía
pra vendê-los no centro da cidade. Além de ganhar dinheiro, fui me desenvolvendo,
ganhando espaço e tendo a chance de ajudar minha família. Mas, ao trabalhar, a mãe não
permitia que a gente abrisse mão dos estudos. Desde pequeno, ela estava me ensinando a
sonhar grande, a focar no mais importante, a pagar o preço das conquistas, mesmo diante
dos riscos que teria de enfrentar ao longo do caminho.

49
11. Saia da penumbra cinzenta!
Que os nossos esforços desafiem as impossibilidades.
Lembrai-vos que as grandes proezas da história
foram conquistas daquilo que
parecia
impossível. (
Charlie
Chaplin)

Neste capítulo, quero voltar à segunda parte da frase de Theodore Roosevelt que
marcou minha vida: “É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias,
mesmo expondo-se a derrota, do que FORMAR FILA COM OS POBRES DE ESPÍRITO QUE NEM
GOZAM MUITO NEM SOFREM MUITO, PORQUE VIVEM NESSA PENUMBRA CINZENTA QUE
NÃO CONHECE VITÓRIA NEM DERROTA.” (a ênfase é minha)

A pior coisa que pode acontecer na vida de um ser humano é fazer parte do grupo de
pessoas indecisas, que vivem nesta penumbra cinzenta, que não saem de cima do muro. A
vida é feita de decisões, e, pra viver plenamente, a gente precisa decidir.

“Viver”, alguém disse, “é se arriscar”. Quando eu arrisco, acredito, me exponho,


estou tomando a minha vida nas mãos. Não estou deixando meu sonho e meu futuro à
mercê de uma decisão incerta. Não estou deixando a minha vida na mão de outras pessoas.
Pelo contrário, estou estabelecendo meu destino. Nós devemos ser senhores do nosso
destino. Não podemos viver ao sabor de possibilidades incertas ou da sorte. Aliás, a “sorte”
não existe. Nada na nossa vida é fruto do acaso. Por isto, as grandes personalidades da
humanidade que conquistaram alguma coisa ou que inspiram outros na busca pelo sucesso,
não ficaram à mercê da sorte.

O preço da “sorte”

50
Em 1954, Ray Kroc ficou intrigado pelo volume de pedidos que recebera de uma
lanchonete em San Bernardino, no estado da Califórnia e resolveu visitá-la. Daquela visita,
no

51
restaurante dos irmãos Maurice e Richard McDonald, surgiu a ideia do McDonald, esta
grande cadeia mundial de lanchonetes que também está presente no Brasil. É deste
empresário visionário e bem-sucedido a seguinte frase: “Sorte é um dividendo do suor,
quando mais você suar, mais sorte você tem.”

Se quero que algo dê certo na minha vida, preciso suar a camisa da sorte, preciso sair
da inércia, preciso me mobilizar, sair do estado de paz e ir para o estado de guerra.

Você pode estar perguntando? Como assim? Vou deixar tudo? Devo deixar de lado o
planejamento? A resposta é não! Quando digo “arriscar”, falo de tomar uma atitude, de agir,
de um comportamento, de ousadia. É ser ousado para correr os riscos necessários, é
acreditar em si e em seu sonho, é estar disposto a pagar o preço.

Você há de concordar comigo de que existem milhares de pessoas que tem sonhos,
vontades, desejos. Pode ser a comprar de uma casa, de um carro novo ou a vontade de
morar em lugar melhor. Muitos almejam estas e outras coisas, mas o meu questionamento
é: quantos estão disposto a tomar atitude? Quantos aceitam sair da zona de conforto?
Quantos estão dispostos a renunciar, largar, pagar o preço da realização do sonho? Almejar,
todos almejam. Desejar, todos desejam. Entretanto, quantos estão dispostos a levar cedo,
abrir mão de algumas coisas para conquistar outras, viver uma vida de disciplina, a pagar o
preço, adotar uma atitude atrevida diante da vida?

Ao ler o livro “Educação”, esta frase me chamou a atenção: “um caráter nobre é
resultado da disciplina própria”. O fato é que nada em nossa vida acontece por acaso. O
sucesso sempre será resultado de disciplina, foco e determinação para enfrentar as lutas e
assumir os riscos necessários para que se tenha a possibilidade de alcançar aquilo que está
dentro do coração.

Quero dizer uma coisa pra você. Preste atenção, pois o que vou dizer aqui é muito
forte: Deus prefere uma pessoa que toma uma decisão, ainda que seja errada, do que aquela
que não se decide. Em outras palavras: Deus prefere pessoas que arriscam, que saiam de
cima do muro, do que aquelas que não se decidem, aquelas que vivem à beira do caminho.

52
A vida passa muito rápido, e a gente não pode deixar de se expor, de arriscar, de lutar
para conquistar aquilo que está dentro do nosso coração, os nossos sonhos. Se vale a pena,
a gente tem que se arriscar, se expor, pagar o preço

Então, amigão, quero terminar repetindo esta frase que marcou minha vida pra
sempre: “É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo
expondo-se a derrota, do que formar fila com os pobres de espírito que nem gozam muito
nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem
derrota.”

53
QUANDO VOCÊ PAROU DE SE ENCANTAR?

O homem converte-se aos poucos naquilo que acredita


poder vir a ser. Se me repetir incessantemente a mim
mesmo que sou incapaz de fazer determinada coisa, é
possível que isso acabe finalmente por se
tornar
verdade. Pelo contrário, se acreditar que a posso fazer,
acabarei garantidamente por adquirir a capacidade
para a fazer, ainda que
não a tenha num primeiro
momento. (Mohandas Gandhi, in 'The
Words of Gandhi')

54
12.O poder da autoestima

Você ganha força, coragem e confiança através de cada


experiência em que você realmente para e
encara o medo de frente.
(Eleanor Roosevelt)

Nasci dentro da realidade de muita pobreza, muita necessidade de tudo: comida,


roupa, calçado e respeito. Minha mãe fazia o que podia pra suprir nossa carência de coisas e
de amor, mas este não era o caso de meu pai. Ele bebia muito, tinha uma vida promíscua,
traía minha mãe e não ajudava a criar os filhos. A única coisa que meu pai dava pra gente era
apelido; não aqueles carinhosos, mas os piores possíveis, quanto mais deixasse a gente triste
ou enraivecido, mais satisfeito ele ficava. No lugar de palavras de incentivo, dizia que as
coisas não dariam certo na vida da gente, que a gente não prestava pra nada. E a gente
acredita, quase sempre.
Como bebia muito, meu dizia que era traído. Então, na “cabeça dele”, a maioria dos
filhos da minha mãe eram de outro homem. Segundo ele, este era o meu caso. Insistia que
eu não era seu filho e alimentava uma birra pessoal entre a gente. Cresci muito rebelde,
revoltado com tudo, provavelmente acreditando que não prestava pra nada, que a vida não
daria certo pra mim, como dizia meu pai.
Com 9 anos, fui convidado para participar de uma peça de teatro na Igreja Católica. A
roteiro falava sobre escravatura e eles precisavam de um menino negro que fosse dar a
notícia para um padre. Fui convidado para fazer um teste, passei e, a partir de então, meu
universo de abriu. Cresci muito tímido, travado mesmo. Não conseguia me comunicar em
público, tinha vergonha e o teatro fez com que me desenvolve muito e me tornasse o cara
falante e descolado que sou hoje.

Depois de um tempo, comecei a fazer teatro amador. Também estudei em um curso


profissional de teatro, ministrado na Bahia. Durante este período, fui me envolvendo com as
atividades da Igreja Católica, participando cada vez mais e desenvolvendo os princípios

55
morais

56
que minha mãe tinha me ensinado. Estava começando a enxergar meu valor enquanto ser
humano. Estava começando a experimentar o poder da autoestima e acreditar em mim.

E você, já experimentou o poder da autoestima?

Este é um assunto muito importante, a crença em si mesmo. Ao tratar da crença em


si mesmo, estou falando pra você do poder da autoestima.
Em artigo publicado em janeiro de 2018, Leandro Zavam, detalha vários aspectos
importantíssimos sobre o poder da autoestima e da autoimagem na nossa vida. Paulo Vieira,
Ph.D e Master Coach, um dos especialistas ouvidos na reportagem, afirma que “as crenças
que você tem sobre si mesmo vão determinar desde o seu valor próprio até a sua
autoimagem e todos os seus resultados e comportamentos”. A psicóloga social Carol S.
Dweck, especialista na área de comportamento há mais de 20 anos, é ainda mais enfática ao
afirmar que “a opinião que você adota a respeito de si mesmo afetará profundamente a
maneira pela qual você leva sua vida. Ela pode decidir se você se tornará a pessoa que deseja
ser e se realizará aquilo que é importante para você”. Em outras palavras, sua autoestima
impacta profundamente suas crenças e comportamentos, o que vai, inevitavelmente, afetar
sua vida pessoal e profissional.
Na mesma reportagem, especialistas da área explicam que a construção da
autoimagem e, consequentemente, da autoestima, ocorre desde a infância. Como uma
espécie de “sistema operacional de computador”, “vamos recebendo instruções” de forma
consciente ou não, sobre a forma “como o mundo funciona e como nos relacionarmos com
as pessoas ao redor”. Assim, incorporamos conceitos, ideias, pressupostos, medos, dúvidas,
opiniões, atitudes, valores e expectativas que irão influenciar - positiva ou negativamente - o
que dizemos, pensamos e sentimos”’. E, aos nos voltamos para este conjunto de instruções,
criamos nossas verdades sobre quem somos, do que somos capazes, do que acreditamos
merecer e do quanto gostamos de nós mesmos.
Deste texto, quero ainda extrair algumas dicas importantes para levantar a autoestima.
Além de pedir ajuda, se preciso, dê uma olhada nas sugestões:

 Não tenha medo de errar e não tenha medo do "não" (ou, conforme falamos bastante
nos capítulos anteriores, se arrisque!);
48
 Defina sua missão e propósito de vida, proponha-se metas importantes, divida as
atividades em pequenas tarefas e comemore cada vitória (ou, como já dissemos, escolha
o seu sonho e lute para alcançá-lo);
 Alimente constantemente o cérebro com informações positivas e inspiradoras (boa
música é uma ótima maneira de dar um upgrade no cérebro, lembra?);
 Construa diálogos internos positivos (e a pergunta do líder ecoa outra vez: “quando você
parou de se encantar?”;
 Saia da situação de vítima e aja (falamos disto no capítulo 7);
 Use afirmações motivadoras (veja quantas já citamos desde a primeira página...);
 Pratique a "gratidão" diariamente (falaremos disto na última seção deste livro);
 Cultive pensamentos positivos e construa relacionamentos com pessoas positivas e
maduras emocionalmente (falaremos disto nos capítulos a seguir).

A esta lista, quero acrescentar mais um item:

ACREDITE NO SEU POTENCIAL

Todos nós nascemos com potencial e aptidão pra fazer algo ou alguma coisa. Não
existe ninguém nesse universo de meu Deus, nesse mundo, nessa galáxia que não tenha a
pré- disposição, o potencial pra fazer alguma coisa. Agora, a questão, é você descobrir qual é
o seu ponto forte, ou melhor, quais são seus pontos fortes, pois podem ser vários! E sabe o
que é triste? É que, às vezes, apesar de sabemos o que temos de melhor, não acreditamos
em nós mesmos.
Você já experimentou acreditar em você? Olhe pra você! Faça este exercício diário:
olhe-se no espelho, veja quem você é, lembre de onde você já chegou e para o que mais
você pode alcançar se aproveitar o que tem de melhor! Seja mais você, acredite no seu
potencial, acredite que você é capaz. Acredite nos seus sonhos, acredite que você é capaz.
Diga a si mesmo, em alto e bom som, todos os dias: “eu sou capaz, eu vou conseguir”.

Do ponto de vista espiritual, quero reafirmar que você é um filho ou filha de Deus,
criado por Ele, com uma baita capacidade e um universo imensurável de possibilidades ao
seu dispor. Você não está aqui por acaso, você não é obra da casualidade, não. Você é um
ser humano, com um potencial imenso e à sua disposição. E aí, você já experimentou

49
acreditar?

50
13.Corra do “espírito de porco”
Seja ridículo, mas seja feliz e não seja
frustrado. " Pague mico", saia gritando e falando o que
sente, demonstre amor. Você vai descobrir mais cedo ou
mais tarde que o tempo para ser feliz é curto, e cada
instante que vai embora não volta mais.
Não se importe com a opinião dos outros. Antes ser um
idiota para as pessoas do que infeliz para si
mesmo. (Arnaldo Jabor)

Sabe aquelas pessoas que têm uma postura mental negativa a respeito da vida? Que
sempre estão reclamando? Se tem sol, reclamam do calor. Quando vem o frio, reclamam do
inverno que não acaba. Conhece alguém assim? Dependendo da região em você mora, estas
pessoas recebem nomes diferentes: pessimista, pobre de espírito, espírito de porco.

Enfim, quem são esses? Onde estão? Como agem? O que fazer pra nos protegermos
desta postura mental negativa que eles insistem em cultivar?

Meu conselho inicial é: afaste-se desse tipo de gente. Isto mesmo: fuja do pessimista!
Não se associe ao pobre de espírito! Corra do “espírito de porco”! Não desperdice seu
tempo com quem não acredita nos seus sonhos, caçoa das suas ideias, faz escárnio daquilo
em que você acredita ou que debocham dos seus projetos. O pessimismo, ou negativismo, é
pernicioso. Mais do que, é contagioso, contamina o ambiente e a sua mente. A tristeza é
uma doença que corrói a alma e tirar de nós o brilha da vida e a esperança na vitória.

Veja este texto de Salomão, escrito no verso 22 de Provérbios 17: “A disposição


alegre faz bem à saúde; mas a tristeza e o abatimento esgotam as forças”. Em outra versão
bíblica, o texto foi traduzido assim: “O coração alegre é um bom remédio, mas o espírito
abatido, faz secar os ossos”. A tristeza esgota nossas forças, seca nossos ossos, enquanto a
alegria é um remédio que faz bem à saúde!

Neste texto, Salomão está falando de nossa postura mental. Dentro do ângulo
bíblico, coração é o nosso centro de controle, que exerce o controle sobre nossos desejos e
51
vontade. Assim, quando a Bíblia se refere ao coração, está tratando de nossa mente e,
neste verso

52
especificamente, como nossa atitude mental tem relação direta com nosso bem-estar físico
e emocional.

Íntima é a ligação do corpo e da mente. Aquilo que você imagina na sua alma, você
tem grande possibilidade de se tornar.

Para Richard M. Devos, listado pela Revista Forbes, em 2012, como a pessoa mais rica
em renda dos Estados Unidos e a 205ª mais rica do mundo, “poucas coisas no mundo são
mais poderosas do que um impulso positivo - um sorriso. Uma palavra de otimismo e
esperança, um 'você pode fazer isso!' quando as coisas estão difíceis.” Devos faleceu em
setembro de 2018, mas tenho certeza que esta afirmação repercute hoje, em você,
enquanto lê estas páginas.

Meu próximo conselho pode parecer arrogante. Mas, lembre-se você está numa
trajetória ascendente, que pretende estabelecer sonhos, alcançar alvos, pensar em projetos
e, por isto, afirmo com toda a certeza: fuja do “espírito de porco”! Mantenha-se bem longe
de pessoas negativas. Elas são perniciosas, contaminam o ambiente, esgotam as suas forças,
secam seus ossos!

Mais uma dica: escolha as batalhas que vai encarar! Você não precisa falar ou fazer
alguma coisa toda vez que alguém lhe irrita, seja por um comentário maldoso e uma
daquelas profecias do tipo “Você não conseguir!”, “não compensa gastar tanto tempo e
dinheiro com isto!”. Ao se importar ou se deixar envolver com pessoas negativas e o que elas
dizem e/ou fazem, você já estará permitindo a entrada da negatividade em sua vida, mesmo
pensando que está lutando contra isto, entendeu? Por isto, faça o seu melhor para ignorar
comentários tóxicos e fuja -LITERALMENTE - do espírito de porco!

E se você for o “espírito de porco”?

Então, teremos muito o que conversar no próximo capítulo!

53
14. A “Ciência” da Felicidade
Os tristes acham que o vento
geme; Os alegres acham
que ele canta. (Luis
Fernando Verissimo)

A história da humanidade é repleta de filósofos, artistas e poetas que se dedicaram a


falar de felicidade. Muitos destes registros diziam, intuitivamente, o que a medicina e a
neurociência têm confirmado através dos estudos de substâncias que, se presentes na nossa
corrente sanguínea, trazem a sensação de prazer. Dentre estas, está a dopamina, um
hormônio produzido no cérebro que, quando liberado, produz a sensação de bem-estar.

O artigo “A ciência neuroquímica da satisfação”8 traz uma explicação de Maia


Szalavitz, autora do livro Unbroken brain: A revolutionary new way of understanding
addiction, sobre a relação entre dopamina e o que temos chamado de atitude mental
positiva: “Sob a óptica da neuroquímica, a dopamina cria o registro de que a vida valha a
pena ser vivida, pois nos permite reconhecer experiências prazerosas” (a ênfase é minha). A
mesma reportagem cita outra descoberta científica muito importante sobre uma função
muito interessante da dopamina: a de estimar a “quantidade” de bem-estar que teremos em
determinada situação. O Dr. Wolfram Schultz, neurologista, explica que “O neurotransmissor
[dopamina] codifica a diferença entre o que estamos obtendo e o que esperávamos” e,
embora não possa quantificar com precisão o “’quanto’ uma experiência será agradável,
pode determinar seu valor para o organismo naquele momento”. De acordo com a
reportagem, as descobertas dos estudos de Shultz, levaram os cientistas à compreensão de
que a sensação de prazer produzida pela dopamina pode começar antes mesmo que a
vivência começa antes da vivência de experiências prazerosas que acionaria a liberação do
hormônio.

54
8
Escrito por Gláucia Leal e publicado em março de 2017, na revista “Mente e Cérebro”.

55
Percebe como ter uma atitude mental positiva, pensar que a vida vale a pena ser
vivida, sonhar com a realização de seus sonhos pode, antes mesmo que as coisas boas
comecem a acontecer, gerar uma sensação de bem-estar?

Quando a alegria de um sonho prolongou a vida

Na cidade Santa Izabel do Oeste, estado do Paraná, conheci um senhor de muita fé, o
seu Amasílio. Na época, ele tinha mais de 90 anos, 70 destes como membro praticante de
uma denominação religiosa. Seu sonho era ter um templo desta igreja pertinho de sua casa.
Quando cheguei para pastorear a região, seu Amasílio já tinha conseguido um terreno para a
construção e coloquei como meta em meu coração ajudar o seu Amasílio a realizar aquele
sonho. Ainda que o sonho fosse dele, em um primeiro momento, certamente também seria
uma bênção pra muitas outras pessoas.

Enquanto eu corria para resolver as questões burocráticas da construção, seu Amasílio


adoeceu. Ele ficou muito mal, mal mesmo. Chegou a ser desenganado pelos médicos! Aos 90
e poucos anos, parecia que morreria sem ver a igreja em pé. A família me pediu que fosse ao
hospital orar por ele. Na ocasião, fizemos sua unção, um ritual diferente da extrema-unção,
praticado por sacerdotes católicos, em que oramos pela pessoa que, consciente, confessa
seus pecados e reafirma seu compromisso de crer em Cristo. Depois disto, derramamos óleo
na testa simbolizando a presença do Espírito Santo e oramos para que a pessoa seja curada,
física e espiritualmente.

Dois dias após a unção, o seu Amasílio estava de pé. Lembro de que, ao orar por ele,
pedi a Deus a oportunidade do seu Amasílio contemplar, enquanto vivo, a realização de seu
grande sonho: ter um templo da igreja pertinho de sua casa. Deus ouviu nossa oração!
Colocamos a mão na massa, buscamos doadores para custear a obra (o seu Amasílio foi um
dos grandes colaboradores financeiros da construção), concluímos o templo e o dedicamos a
Deus.

Aquele homem de fé foi presentado por Deus com quase 2 anos de vida após ter sido
desenganado pelos médicos. E viveu cada um dos seus últimos dias de vida usufruindo a
alegria de vislumbrar, dia a dia, a proximidade da realização de seu sonho. Ele sabia que a vida
56
valia a pena ser vivida e, ao sonhar com a realização de seus sonhos pôde, antes mesmo da
inauguração do templo, experimentar o bem-estar de uma atitude mental positiva diante da
vida, que ele sabia, seria breve. Sua história de fidelidade a Deus me impressionou
profundamente!

Lute para ser feliz

É necessário lutar todos os dias para ter uma postura mental positiva e não se juntar
ao lamaçal das pessoas que, no capítulo anterior, chamamos de “espíritos de porco”.
Entenda: não estou dizendo que você deva fechar os olhos pra realidade e ignorar os fatos,
nem que sairá por aí distribuindo sorrisos falsos para todo mundo. Não! Não é nada disto!
Ter postura mental positiva é seguir lutando, mesmo que as derrotas pareçam inevitáveis e,
ao continuar acreditando, experimentar um pouco da realização que teremos quando,
enfim, alcançar nosso objetivo. Estou falando de ter uma mente positiva, de acreditar
mesmo diante dos problemas e dificuldades, de colocar em sua mente que, de alguma
forma, de alguma maneira, você vai chegar lá, naquele “lá” onde você sonhou.

Se você é um desses “espíritos de porco” ou conhece alguém muito importante pra


você que seja, precisa compreender que a mudança deve ser feita in head: dentro da sua
cabeça, dentro da sua mente. As vitórias, antes de acontecerem na vida, acontecem dentro
da nossa cabeça. Nossa postura mental positiva traz a satisfação de que a vida vale a pena
ser vivida; a satisfação de que a vida vale a pena ser vivida, torna a luta menos dolorosa e
aumenta nosso poder de atuação nas lutas em direção ao nosso objetivo; com mais poder
para vencer os obstáculos, maiores serão nossas expectativas de sucesso; maiores
expectativas de sucesso geram mais sensação de bem-estar, já que a dopamina “calcula” o
bem-estar que teremos e o transforma em bem-estar antecipado e assim, o ciclo de
satisfação vai se repetindo.

Foi assim que seu Amasílio não viveu e morreu aos 95, mas viveu feliz até os 95 anos.

57
15.Faxina mental
Há duas formas para viver a sua vida. Uma é
acreditar que não existe milagre. A outra é
acreditar que todas as coisas são um
milagre. (Albert Einstein)

Para iniciar o “ciclo da dopamina”, você precisa de atitude mental positiva, certo? E
como fazer isto? BLINDANDO sua mente contra os pensamentos negativos.

Repetindo (com outras palavras, pra ter certeza de que você vai compreender): Se
você quiser iniciar o “ciclo da dopamina” e caminhar para alcançar a vitória, quiser que seus
planos deem certo, você precisa se esgueirar, precisa blindar sua mente. Como fazer isto?

Quero repartir dois conselhos com você. Não são conselhos meus, mas eu os sigo e
funcionaram comigo. Tenho certeza que dará certo com você também. Vamos lá?

O primeiro conselho é de Salomão e está registrado no livro de Provérbios. Muitos


acham que a Bíblia foi escrita apenas para nos indicar o caminho para o Céu, mas embora
seja esta uma grande preocupação dos escritores, não é a única. Vários textos bíblicos têm o
propósito de nos ensinar a ter uma vida plena e saudável neste mundo. Este é o caso, por
exemplo, do livro de Provérbios, que se concentra nas preocupações cotidianas e em como
agir sabiamente para ter sucesso em todos os sentidos. Os provérbios eram usados para
educar as pessoas na prática de viver o mundo real.

No capítulo quatro do livro de Provérbios, versos 23 a 27, Salomão aconselha:

“Vigie sempre os seus pensamentos: dele depende a sua vida!


Não se distraia com conversas maldosas; evite a falsidade, mentiras e fofocas.
Mantenha os olhos fixos à frente; não se distraia com coisas fúteis.
[...] Não olhe nem para a direita nem para a esquerda: e fique bem longe da maldade.”
(a ênfase é minha)

58
Conversas maldosas, falsidade, mentiras, fofocas, coisas fúteis, maldade. Você conhece
alguém que “alimenta” a mente destas coisas e consegue blindá-la dos pensamentos
negativos? Parece óbvio, eu sei. Mas, acredite, conheço muita gente que deixa as avenidas
da mente escancaradas para pensamentos negativos e sequer percebe isto!

O conselho de Salomão é, literalmente, bloquear sua mente destes “alimentos


venenosos”. Perceba que uso o verbo ALIMENTAR e o substantivo ALIMENTO. Uma
propaganda da Globo News dizia que informação é como comida, pois alimenta. Isto é uma
grande verdade e Salomão já sabia muito tempo antes. Nossa vida, segundo o rei mais sábio
do mundo, depende de vigiarmos nossos pensamentos e não nos alimentarmos destas
porcarias que, em um primeiro momento, podem parecer guloseimas deliciosas.

O segundo conselho é do apóstolo Paulo e oferece uma alternativa de “cardápio


saudável” para nossa mente. Antes de transcrever o texto, do livro de Filipenses, gostaria de
contextualizar o momento em que este foi escrito.

Filipenses é um dos 27 livros do Novo Testamento que, em sua maioria, foram escritos
por Paulo. Este livro é na verdade uma carta de Paulo os cristãos que moravam em Filipos,
uma colônia romana nas montanhas do norte da Grécia, cujos moradores eram
predominantemente italianos veteranos de guerra, e em função de seu forte sentimento
patriótico, rejeitavam os judeus, como Paulo.

Eugene Peterson (1932-2018), pastor, teólogo e escritor cristão de grande destaque,


afirmou que Filipenses é a carta mais alegre de Paulo: “Antes de chegarmos à décima linha,
já começamos a sentir a alegria – a dança das palavras e exclamações de contentamento nos
envolvem completamente”. A alegria de Paulo, entretanto, contrasta com suas condições à
época da escrita da carta, já que ele estava preso em Roma, há anos aguardava julgamento,
não tinha dinheiro para custear suas próprias despesas e acorrentado a um soldado romano,
passava o dia ditando cartas aos colegas, que as entregavam aos destinatários
pessoalmente, já que na época, não existia serviço postal.

Neste contexto de cárcere, humilhação e nenhuma perspectiva de liberdade, Paulo


escreve a mais alegre de suas cartas e, segundo o pastor Peterson, “não nos diz que
podemos ser felizes e como ser felizes. Ele simplesmente é feliz. Nenhuma das circunstâncias
contribui para essa alegria [...] mas as circunstâncias são incidentais comparadas com a vida
59
de Jesus, o

60
Messias que Paulo experimenta em seu íntimo. [...] Cristo é a revelação de que Deus não
pode ser contido ou armazenado. É essa “extravagante” qualidade da vida de Cristo que
conta para a felicidade dos cristãos, pois alegria é vida em excesso, o fluir que não pode ser
contido dentro de alguém”.

Só o contexto histórico do texto é uma baita lição de ATITUDE MENTAL POSITIVA!


Apesar das circunstâncias terríveis do cárcere, pensar na satisfação do futuro prenunciado
por Cristo e nas revelações que a vinda do Messias fez sobre a natureza de Deus, ativavam o
“ciclo da dopamina” e faziam de Paulo um homem que sofria, mas era feliz; estava preso,
mas era livre!

Agora, o conselho de Paulo:

“Resumindo, amigos, o melhor que vocês têm a fazer é encher a mente e o


pensamento com coisas verdadeiras, nobres, respeitáveis, autênticas, úteis, graciosas – o
melhor, não o pior; o belo, não o feio. Coisas para elogiar, não para amaldiçoar.” (Filipenses,
4:8)

O “cardápio” de Paulo é variado, mas todos os “alimentos” são plenamente saudáveis.


Diferentemente das “guloseimas” mortais que Salomão disse para nos abstermos.

Resumindo, para blindar nossa mente dos pensamentos negativos, devemos consumir
coisas que produzam pensamentos positivos. Isso inclui livros, músicas, filmes, atitudes e
pessoas! Sim, pessoas, os “espíritos de porco” estão sempre por aí, emporcalhando os
lugares onde passam, mesmo que pareçam limpinhos e cheirosos.

Quer se tornar vitorioso, amigão? Blinde sua mente das porcarias e faça um bom
estoque de “comida” saudável!

61
16.Quando a tristeza é patológica
Era a luta de todos os dias de ter de enfrentar o seu “eu”
em pedaços e, depois, juntá-lo novamente. É como estar no
meio da maré e ela querer te levar: você tenta, com todas as
suas forças, mas uma hora cansa.
E ninguém entendia o medo que eu sentia de falar das
minhas dores, o peso da angústia em me manter acordada, a
busca de refúgio no sono para me esquecer da dor e fazer o
tempo passar mais rápido. Ninguém entendia o quanto eu
queria sair daquela prisão de medos, fracassos, mágoas e
angústias. Ninguém conseguia ver a minha luta diária para
virar a página, como eu me sentia impotente demais diante
de tanta dor e
quantas vezes eu pensei em entregar
os pontos. (Depoimento de Thamilly
Rozendo – adaptado)

Acho que foi em 2002, no Maracanã. Bati várias vezes na porta de uma casa, mas
ninguém atendia. Decidi insistir e continuei batendo. De repente, a porta se abriu e um rapaz
apareceu. Ele passava por um momento muito difícil, e enquanto ouvia as batidas insistentes
na porta da casa, planejava tirar a própria vida. Depois de nossa conversa, entendeu que
minha visita ali foi a maneira que Deus usou para lhe trazer a esperança de uma nova
chance.

Algo parecido aconteceu em um outro dia. Estava na casa de uma mulher


apresentando as literaturas que vendia nas férias para pagar meus estudos, e do nada, ela
começou a abrir o coração e contar as dificuldades e tristeza que estava enfrentando.

Casos como estes e outros tantos que você já deve ter presenciado, ouvido ou sentido,
são situações em que a tristeza é mais do que atitude mental negativa. A tristeza e o
desespero se tornaram doença. A depressão, por exemplo, afeta 322 milhões de pessoas no
mundo! No Brasil a taxa de pessoas depressivas (5,8%) é a maior entre os países da América
Latina, e supera a média mundial, de 4,4%. São 11,4 milhões de brasileiros depressivos! De
62
acordo com a Organização Mundial de Saúde - OMS, a depressão é a doença mais
incapacitante do mundo e a principal causa de mortes por suicídio.
Quando o assunto é o transtorno de ansiedade, outra patologia psicossomática que
afeta nossa atitude mental, o Brasil, infelizmente, também lidera o ranking entre os países

63
latino-americanos. 9,3% dos brasileiros têm depressão, 3 vezes mais do que a média
mundial, de 3,6%!9

Compreender a existência destas doenças e a necessidade de tratamento são


indispensáveis! Por incrível que pareça, ainda tem gente achando, por exemplo, que
“psiquiatra é médico de louco”, que “depressão é frescura ou falta de Deus”, que tomar
“remédios antidepressivos é pecado” ou que “remédios para transtornos psicossomáticos
não resolvem o problema”, que “gastar com psicólogo não vale nada”!

Poderia citar outras tantas frases estapafúrdias que pessoas sem o devido conhecido
ficam vociferando por aí. Não caia nestas histórias, não! Os profissionais de saúde são
instrumentos que Deus está disposto a usar para ajudá-lo a vencer as lutas da sua mente.
Assim como Deus me usou naquelas duas visitas.

9
Dados da OMS, referentes a 2015, divulgados em fevereiro de 2017.
64
QUANDO VOCÊ PAROU PARA SILENCIAR?

[...] Minha infância de menina sozinha deu-me


duas coisas que parecem negativas, e foram sempre
positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a
área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios
inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios
revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo
do seu olhar. Mais tarde, foi nessa área que os livros se
abriram e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em
combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo
como se possa estabelecer uma separação entre esses dois
tempos de vida, unidos como os fios de um pano.
(Cecília Meirelles, poetisa e professora brasileira, 1901-1964)

65
17.Simples, de graça e
sem contraindicação
Para todos os males, há dois remédios: o tempo e o silêncio.
(Alexandre Dumas, pai)

Na verdade, mesmo o silêncio pode ser considerado


um discurso, enquanto refutação ao uso que os
outros fazem da palavra.
(Italo Calvino - romancista italiano)

Retomando o quinto do líder espiritual indígena, eu pergunto pra você: em algum


momento, você já experimentou silenciar? Silenciar mesmo, ficar quieto, sair de cena, não
falar nada, se refazer. É disso que eu estou falando: do poder do silêncio.

Em meio às tempestades e aos obstáculos da vida, no silêncio nós podemos encontrar


encontramos força, no silêncio podemos (re) descobrir quem somos. Arturo Graf (1848-
1913), poeta, literato e crítico nascido em Atenas, afirmou certa vez que, para ouvir a voz
sincera da consciência, é preciso “fazer silêncio em torno de si e dentro de si.” Fazer este
mergulho dentro da gente nem sempre é uma tarefa simples e indolor. Por vezes, somos
confrontados com facetas de nós mesmo que lutamos para esconder ou com recordações
que não queremos reviver. Mas, acredite, o silêncio introspectivo é uma poderosa arma na
batalha por nossos sonhos!

De graça, mas tem preço!

É meio consenso no mundo científico que a meditação, se praticada com regularidade


e por um bom tempo, traz muitos benefícios para o corpo e para a mente, como reforço da
imunidade, melhora da resistência à dor, aumento das capacidades de concentração e
aprendizagem etc. Artigo publicado em 201510 relata outras descobertas científicas sobre os

10
O que (quase) ninguém diz sobre meditação, escrito por Gláucia Leal.

66
benefícios da meditação, que incluem o rejuvenescimento das células e até a transformação
da anatomia e da dinâmica cerebrais, o que, de acordo com o texto, ajudaria no
desenvolvimento de qualidades como “empatia, compaixão e bondade – ainda que sem
nenhuma conotação religiosa, apenas com intuito de desfrutar bem-estar interior”.

Sendo um “remédio” tão eficaz, causaria estranhamento que esta prática milenar não
seja praticada por todos, exceto pelo fato de exigir regularidade, disciplina e concentração.
“Ao contrário do que pode parecer à primeira vista”, afirma a autora do texto, “aquietar-se
por 15 ou 20 minutos e prestar atenção na própria respiração não é exatamente fácil [...] E
fazer isso, mesmo sabendo de antemão que, principalmente no início, os pensamentos vão
voar. O exercício, aliás, é justamente esse, trazer a mente de volta, centrar-se de novo na
respiração, e de novo e de novo, sem julgamentos [...] [meditação] não é magia. Cuidar de si
mesmo é trabalhoso, requer determinação, paciência e tempo”. Trocando em miúdos,
investir 15 a 20 minutos para ouvir apenas sua respiração é de graça, mas precisamos pagar
o preço do silêncio.

Nem todos conseguem ou gostam de meditar, e a boa notícia é que existe outra forma
excelente de silenciar: falar consigo mesmo.

Não é blá, blá, blá...

Diana Tamir e Jason Mitchell, neurocientistas da Universidade Harvard, descobriram, a


partir de exames de ressonância magnética da atividade neural de 195 voluntários entre 18 e
27 anos, que falar de si gera mais prazer do que ganhar dinheiro. Isto acontece porque, de
acordo com notícia publicado em 201211, descrever as próprias experiências ativa os circuitos
de recompensa do cérebro.

11
Falar de si mesmo é mais prazeroso que ganhar dinheiro, disponível em
<http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/falar_de_si_mesmo_e_mais_prazeroso_que_ganhar_dinheiro.
html>. Acesso: 15/08/2018.

67
Em outro estudo da Universidade Harvard, apresentado no artigo “Desabafar é bom”,
de autoria de Suzana Herculano-Houzel12, os participantes poderiam optar entre responder
perguntas sobre os gostos e hábitos dos outros, sobre simples fatos, ou sobre si mesmos.
Resultado? A maioria preferiu falar de si. Tal preferência, afirmam os cientistas, está
relacionada à ativação das estruturas do sistema de recompensa, o que gera prazer.

No mesmo artigo, a autora explica o funcionamento de nosso cérebro em momentos


de tensão e os efeitos relaxantes de um bom “desabafo”. De acordo com a Suzana,
preocupações são representações mentais angustiantes que ativam uma estrutura do
cérebro especializada em antecipar problemas, o córtex cingulado anterior. Ativado, ele,
dispara uma série de alarmes que deixam corpo e cérebro tensos. Enquanto isto, ficamos
remoendo a preocupação ensaiando mentalmente sua versão motora, já que não temos
como desabafar e nosso cérebro, cada vez mais aflito, que tem de fazer força para segurar
ativamente suas palavras. Quando “colocamos nossas aflições pra fora”, o programa motor
ensaiado é executado e não precisa mais ser segurado pelo seu córtex pré-frontal; o
cingulado anterior desliga os alarmes que ajudavam o resto do cérebro a manter o controle
e conseguimos relaxar. Essa é, afirma a autora, uma das razões, pelas quais a psicoterapia
pode ser tão boa: o simples desabafo.

É claro que desabafar com alguém de confiança pode ser mais relaxante, mas você não
precisa, necessariamente, falar de si para outra pessoa. Pode falar consigo mesmo. Manter
um diário, escrito ou em arquivo de áudio, falando sobre seus sonhos, desafios, percepções.
Não pense que é coisa de adolescente, não. A linguagem organiza o pensamento. Falar de si,
consigo, é uma ótima maneira de organizar as ideias, redefinir prioridades, se conhecer ou se
reconhecer, resolver conflitos internos que ficaram escondidos lá dentro enquanto você
engolia o choro e tocava a vida pra frente. Se a conversa for em voz alta, então, melhor
ainda.

68
12
Conforme “Desabar é bom”, disponível em
<http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/desabafar_e_bom.html>

69
18.“Faxina noturna”

Existe um tempo para muitas palavras, e também existe um tempo


para dormir. (Homero - poeta grego)

Poucas coisas são piores do que uma noite mal dormida. O corpo fica dolorido, a
cabeça latejando e o cérebro funciona com o freio de mão puxado. Tarefas simples, viram
um monstro e as horas andam igual a uma tartaruga. Não é pra menos, dormir não é luxo.
Dormir é necessidade básica, fisiológica do corpo humano. Durante o sono, o cérebro
aproveita pra organizar as informações aprendidas durante o dia e dar uma relaxada a fim
de estar preparado para a maratona de ficar acordado depois do sol nascer.

Pessoas que não dormem bem ficam doentes, inevitavelmente. Não precisa nem de
experimento científico pra comprovar. A realidade dos fatos confirma tudo. Mas a Ciência, a
gente sabe, vive buscando compreender por que as coisas são como são e, no final de 2013,
um estudo conduzido13 pela Dra. Maiken Nedergaard, neurocientista norte-americana,
trouxe algumas possibilidades de explicações científicas para a necessidade inevitável que
temos de dormir.

De acordo com a pesquisa, durante o sono, o cérebro elimina os metabólitos,


substâncias tóxicas excretadas pelas células. Isto faria com que as células pudessem indicar
um novo dia limpinhas e sem nadar na sujeita que produziram no dia anterior. Em outras
palavras, durante o sono - e somente durante o sono – começa uma faxina no cérebro, a
limpeza do lixo que ficou acumulado após o tempo que ficamos acordados.

13
Conforme artigo Faxina noturna, de Suzana Herculano-Houzel, publicado em 2015.

70
Assim, aquela sensação gostosa de acordar revigorado não é só física. É cerebral
também. E uma mente clara para pensar e agir é imprescindível pra qualquer coisa que
alguém se proponha a realizar.

Por isto, silenciar e desfrutar de uma boa noite de sono é fundamental. Não adianta
ocupar a cabeça com planos e preocupações durante a noite. A melhor estratégia é
descansar e dormir. Depois que o faxineiro deixar a casa em ordem, é partir para o
planejamento. Afinal, você tem um mundo pra conquistar!

71
19.A morada dos fortes
Cada gota de silêncio é a possibilidade de um
fruto maduro. (Paul Valéry, filósofo, escritor e
poeta francês, 1871-1945)

Eu não acredito que, em todas as circunstâncias da vida, a gente tenha que aceitar
calado, sem falar nada, ficando em silêncio. Não! Há momentos na vida em que a gente tem
que se impor, tem que falar, tem que mostrar quem somos, entende? Temos que deixar
claro nosso posicionamento, nossa personalidade, por que, se não, o mundo judia da gente.

Quando lhe desafio a silenciar, não estou falando disso. É que, em algumas das
batalhas da vida (que, às vezes, são tão grandes como se pensa) é bobeira encarar,
enfrentar. É gastar muita energia sem ter certeza de que aquela luta será importante para
vencermos a guerra.

Nestes casos, não entenda o silêncio como fuga ou como covardia, não é nada disso.
Aqui, o silêncio é de suma importância pra você refazer a sua vida, repensar e reestruturar
as suas estratégias. É o silêncio com estratégia de retirada pra poder perguntar a si mesmo:

 O que eu tentei, mas não deu certo?


 Por que não estou alcançando os resultados que esperava?
 Será que estou usando todo o potencial que tenho à minha disposição?
 Quais são as melhores armas para vencer?

É infinitamente melhor reorganizar sua estratégia no silêncio do que com uma mente
barulhenta.

Neste sentido, eu lembro de uma frase do livro “A Arte da Guerra”, um tratado militar
escrito durante o século IV a.C por Sun Tzu. A obra é composta de 13 capítulos que abordam
13 estratégias de guerra e compõe um um panorama de todos os eventos e estratégias que
devem ser abordados em um combate. Em um de seus capítulos, autor afirma que a
excelência suprema não é você vencer o inimigo mil vezes. Para o estrategista militar,
excelência suprema é você vencer o inimigo sem precisar usar as armas, excelência suprema
72
é você vencer seu inimigo sem precisar lutar. Alcançar a excelência suprema, portanto, é
vencer com a arma da estratégia, da inteligência do planejamento.

Estes princípios valem para o combate bélico e valem para a guerra da vida. E você
pode usar o silêncio uma arma excelente, uma arma estratégica. No silêncio, você vai refazer
as forças, vai rever as maneiras, reavaliar os métodos, revisar os pontos, repensar a
estratégia, compreender onde e por que falhou.

Mudar de ideia, alterar uma rota não é vergonhoso ou perda de tempo. É sinal de
maturidade e foco. O preparo sempre antecederá o sucesso. E o silêncio é um ótimo
momento para buscar capacitação.

73
20. O Efeito Einstellung
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas
usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer
os nossos caminhos, que nos
levam sempre aos mesmos
lugares. (Fernando Pessoa, escritor e poeta
português, 1888-1935)

Se você passa a vida inteira fazendo as mesmas coisas, não vai alcançar resultados
diferentes. É preciso rever conceitos e o silêncio é um bom momento pra isto, o que não
significa – de jeito nenhum – que mudar é tarefa simples. E uma parte desta dificuldade
decorre do funcionamento de nosso cérebro, que tem a tendência de persistir em “uma
solução familiar para resolver um problema”, fenômeno que os neurocientistas
denominaram fixação funcional. Esta espécie de “teimosia” do cérebro, insiste em se ater na
primeira solução que vem à mente e ignorar outras possibilidades, como explicam os
cientistas Merim BilalićePeter McLeod, doutores em psicologia. Eles reconhecem que esta
“teimosia” é bem útil em situações do cotidiano, como dirigir um carro, cortar frutas ou
fazer contas de matemática. O problema, no entanto, é que o Efeito Einstellung pode inibi-lo
de buscar outras possibilidades de solução, de enxergar as coisas de outra perspectiva.

Compreendendo esta tendência teimosa de nosso cérebro (e nossa, é claro!),


desconfiar de nossas certezas pode ser uma boa estratégia nos momentos de silêncio. E
insistir no aperfeiçoamento pessoal e profissional diário é imperativo se quisermos vencer.
Não quer dizer que você deve passar a vida sentado em uma sala de aula, fazendo cursos e
mais cursos formais, ainda que isto não seja ruim. O que estou querendo dizer é que é
possível aprender muito, de muitas formas, inclusive com as pessoas.

Conhecimento não garante sabedoria

Minha mãe foi mãe e pai ao mesmo tempo. Meu pai era vivo, mas minha mãe era
quem tomava a frente da nossa criação e não descuidava da nossa educação, em casa e na
74
escola. Ela lavava a roupa dos bacanas da cidade. Na Bahia, a gente falava “roupa de
ganho”. E não

75
tinha tanque nem máquina de lavar, não! Mainha lavava roupa no rio, embaixo de sol,
agachada na beiradinha. Com o dinheiro da roupa, pagava nossos estudos. Nunca faltava o
lápis, o caderno, o uniforme, porque a gente ganhava da mãe, que, com muita dignidade,
lavava roupas para gente estudar.

Na Bahia, no Nordeste, tem a literatura de cordel. São histórias ilustradas e em versos


que são penduradas em uma corda. Minha mãe comprar estes cordéis e, sentados na
calçada de casa, era nos incentivava a ler pra ela. Lembro de um trecho que dizia assim: “Lá
vem Sabino, mais lampião, chapéu de couro, fuzil na mão. Lampião tava dormindo, acordou
todo assustando...”.

Lembro de muitas frases que ela dizia. Talvez venha daquela época o meu gosto por
frases.

Quando faltavam as coisas em casa, ela batia nas panelas, dava risada e dizia: “Deus
proverá!” E Deus sempre provinha. Lá em casa, 1 kg de peito de frango durava uma semana
inteira. E olhe que eram 19 bocas pra comer! Sobre a provisão divina, ela falava também:
“Enquanto há Deus no céu, urubu não come capim”.

Pra dar bronca e alertar sobre amizades suspeitas, ela falava: “Quem se mistura com
os porcos, farelo come” ou “As más companhias corrompem os bons costumes”. E aquele
“Abra o olho, menino!” que dava um medo danado!

A gente cresceu ouvindo minha mãe repetir provérbios e histórias. Ela tinha o
impressionante dom de contar histórias pra crianças. Quando faltava luz, todo mundo se
reunia em volta de mãe, que, à luz dos astros, contava histórias mirabolantes. Toda a história
contada, tirava um fundo moral. Tinha uma da caveira, pra alertar sobre quem falava mal:

“Num reinado muito antigo, tinham caçadores. Todo caçador era conversador, e um
caçador começou a espalhar que tinha uma caveira no mato. O rei mandou o caçador trazer
a caveira pra ver se ela falava mesmo. Só, que pra desespero do caçador conversador, na
frente do rei, a caveira não falou. O rei mandou matar o caçador e, assim que ele morreu, a
caveira olhou para o corpo do caçador e falou:

- Quem me matou foi a língua, e a você também.”

76
Quando a gente falava uma palavra errada, ela corrigia. Ensinou a gente a estudar,
comprava os livros e fazia a gente ler. A ironia é que ela frequentou, no máximo, a segunda
série primária. Foi tirada da escola pelo pai, meu avô. Por ignorância do povo antigo, ele dizia
que filha dele não podia aprender a ler a escrever pra não escrever cartinha pra namorado.

Na época, a gente não sabia disto. E hoje eu compreendo que a sabedoria é diferente
do conhecimento formal. As pessoas mais sábias que eu conheci não tinham conhecimento
cognitivo, uma delas foi a minha mãe. Embora iletrada, foi dela que recebi os conselhos mais
sábios. Napoleão tinha razão ao afirmar: “Sabei escutar, e podeis ter a certeza de que o
silêncio produz, muitas vezes, o mesmo efeito que a ciência.”

77
21.Tempo de silenciar!
Um dia calei; um dia, venci a batalha.
(Daniel Figueiredo)

Sócrates disse o seguinte: “cala-te ou diga algo que valha mais que o silêncio”.

O sábio Salomão, grande empreendedor, juiz, o homem mais sábio de todos os tempos
dizia: “Até mesmo o tolo passará por sábio, se conservar sua boca fechada; e, se dominar a
língua, parecerá até que tem grande inteligência”.

Ainda ontem, eu ouvi uma frase de William James Durant (1885-1981). Filósofo,
historiador e escritor estadunidense, ficou conhecido pela coleção “A História da
Civilização”, produzido em parceria com sua esposa Ariel Durant, na frase da qual falo, ele
afirmou que os nossos conhecimentos nos destroem, nos embebedam com o poder que nos
dão e a nossa única salvação está na sabedoria.

Se meu conhecimento não está dando certo, preciso ir atrás de sabedoria. Já que toda
a estratégia que eu usei não deu, eu não consegui alcançar os alvos... opa! Está na hora de
parar um pouco, dar um stop e me refazer. É tempo de silenciar!

Preciso ter estratégias sábias, eu preciso agir com sabedoria para que mês resultados
sejam melhores do que aqueles que conquistei até aqui, somente com meu conhecimento. E
agir através do silêncio é, meu amigo, usar o silêncio com sabedoria, agir com estratégia.
Parar e silenciar é uma escolha sábia, tenha certeza. Você já experimentou fazer isso?

Então, meu conselho pra você é: silencie, não lute, não grite, não esperneie, talvez, o
momento não seja pra isso agora. Pense na resposta que você vai dar, não fale agora. Faça o
seguinte: retire-se. Há momento em que a luta é tão grande, que enfrentar o gigante é
bobeira. Retire-se, refaça suas forças, tome aquele ar que você está precisando, respire
fundo, e depois de silenciar, falar consigo mesmo, rever a estratégia, identificar suas falhas,
buscar sabedoria para montar um plano, estabelecer metas, definir onde vai atacar, quais
armas usará ou não, aí sim, você estará bem mais preparado para vencer.

78
Depois do silêncio, volte à cena. Você vai voltar mais forte, abastecido, revigorado,
com brilho nos olhos e vai retomar o lugar central do palco de sua vida!

Saindo da caverna

Elias, um personagem bíblico, depois de sofrer uma perseguição de Jezabel, foi pra
dentro de uma caverna. Ficou ali durante algum tempo, com medo, e Deus se manifestou
pra ele no vento, nas chamas de fogo e na brisa suave. E foi na brisa suave, que Elias foi
tocado e abastecido de coragem para sair da caverna.

Às vezes, você está usando a arma errada, às vezes, não é força, é jeito. Às vezes, não é
grito, é carinho. Às vezes, tem que saber perder, para poder ganhar. Perder a batalha, para
poder ganhar a guerra. Lembra do conceito de excelência suprema? A excelência suprema
não é você vencer o inimigo mil vezes. É vencer o inimigo sem precisar usar as armas,
excelência suprema é você vencer seu inimigo sem precisar lutar. Alcançar a excelência
suprema, portanto, é vencer com a arma da estratégia, da inteligência do planejamento.

Quando eu falo em preparo, gosto muito de uma frase do Abraham Lincoln. A gente
fala destas coisas de motivação, de história de vida e é impossível não ter um olhar
retrospectivo para história desse guerreiro, o XVI presidente dos Estados Unidos, que disse:
“Eu vou me preparar e qualquer dia a oportunidade surgirá”.

A oportunidade aparece? Sim.

E eu tenho que estar como? Preparado. Eu tenho que me antecipar. Talvez o silêncio
sirva pra isto, pra me preparar, pra rever, pra afiar o machado, como Lincoln: “Se eu tivesse
oito horas para derrubar uma árvore, passaria seis afiando meu machado.”

Hoje pode ser o seu tempo de silenciar.

Pense nisto!

79
QUANDO VOCÊ PAROU PARA AMAR?

Se eu falar com eloquência humana e com êxtase própria


dos anjos e não tiver amor, não passei de um rangido
de uma porta enferrujada.

Se eu der tudo que tenho aos pobres e ainda for para a fogueira
como mártir, mas não tiver amor, não cheguei a lugar
alguma. Assim, não importante o que eu diga, no que eu creia
ou o que eu faça: sem amor, estou falido.

O amor nunca

desiste. O amor se preocupa mais com os outros do

que consigo mesmo.

O amor não é esnobe, não tem a mente soberba, não se


impõe sobre os outros, não age na base do “eu primeiro”, não
perde as estribeiras, não festeja quando os outros rastejam,
tolera qualquer coisa, confia sempre em
Deus, sempre procura o

melhor. Nunca olha pra trás, mas

prossegue até o fim.

(1 Coríntios 13:1-7 - adaptado)

80
22. A maior necessidade humana
Mas há
vida que é para
ser intensamente
vivida,
há o
amor. Que tem
que ser vivido até
a última gota.
Sem nenhum medo.
Não
mata. (Clarice
Lispector)

A última pergunta do líder espiritual ao índio que foi procurá-lo para ouvir um
conselho e obter ajuda foi: “quando você parou de amar?” Daquela aldeia ecoa em mim e
mesma indagação e quero desafiá-lo mais uma vez ao perguntar: você já experimentou
amar?

Costumo dizer que o amor é o mais nobre de todos os sentimentos. Não foi à toa que
deixei este tema para o final do livro, queria poder encerrar com o mais importante de todos
os ensinamentos: o amor, a maior necessidade do ser humano. Aqui não falo apenas como
teólogo, mas como estudioso das ciências humanas. Todas as áreas de estudo da
humanidade são unânimes ao afirmar que a maior necessidade do ser humano é amar e ser
amado. E isto vem desde sempre, nascemos assim.

Mesmo os maiores conquistadores na vida reconheceram isso. As pessoas que mais


tiveram riquezas materiais, compreenderam que precisam de amor, que a felicidade não
está nos bens, nas coisas; a felicidade está no amor.

Peço licença para abrir um parêntese neste assunto e, agora, falar como teólogo. O
capítulo 4 da primeira carta do apóstolo João à igreja cristã, é categórico ao afirmar que
Deus é amor dEle procede o amor:

“[...] o amor vem da parte de Deus. Quem ama é nascido de Deus e tem um
relacionamento real com ele. Quem se recusa a amar não sabe o que mais importa
sobre Deus, pois Deus é amor. Vocês não podem conhecê-lo se não amam” (1 João
4:7-8)
81
Mesmo aqueles que não creem no Deus da Bíblia, sabem da necessidade humana de
amar. Todas as civilizações estiveram em busca do amor. E a Bíblia diz que o Amor habitou
entre nós.

82
Amor em forma de gente

No mesmo capítulo de sua primeira carta, o apóstolo João segue a temática do amor:

“Foi assim que Deus demonstrou seu amor por nós: Deus enviou seu único Filho ao
mundo para que pudéssemos viver por meio dele. É desse amor que estamos falando.
Não que tenhamos amado a Deus, mas ele nos amou e enviou o seu Filho como
sacrifício para purificar nossos pecados e consertar os danos que eles causaram em
nosso relacionamento com Deus.” (1 João 4:9 e 10)

Quando a gente fala do nascimento de Jesus, logo pensamos no Natal. E, com este
pensamento, vêm também as árvores enfeitadas, as luzes brilhantes nas casas, os presépios
dourados nas vitrines das lojas, as propagandas emocionantes na televisão...

Mas você já entrou em um estábulo? Já sentiu o cheiro dos animais comendo,


dormindo, fazendo suas necessidades fisiológicas... tudo no mesmo lugar? Sem muita
semelhança com a imagem romântica que fazemos dos presépios enfeitados para o Natal,
não é? Mas foi em um lugar como este que Jesus nasceu.

Este trecho de C. S. Lewis é ótimo pra termos uma vaga noção do que aconteceu em
Belém: “O Ser Eterno, que tudo sabe e criou todo o universo, tornou-se não apenas um
homem, mas (antes disso) um bebê, e antes disso ainda, um feto dentro de um corpo de
uma mulher. Se você quer saber como ele deve ter se sentido, imagine se você se
transformasse numa lesma ou num caranguejo.”

A comparação pode parecer estranha, mas é boa para exemplificar o fato de Jesus,
sendo Deus, vir como homem para morar na terra com os homens. A Bíblia e a natureza
revelam muitas coisas sobre Deus. Mas Jesus veio para mostrar quem Deus, como disse o
apóstolo João em seu evangelho: “Ninguém jamais viu Deus, no máximo fora um vislumbre.
Foi, então, que essa Expressão única de Deus, que existe no próprio coração do Pai, se
revelou, com a clareza do Dia”. (João 1:18)

Quero fazer este parêntese teológico com uma frase, atribuída a Napoleão, que faz um
contraste entre os reinos terrenos e o reino de Cristo: “o meu reino, o Alexandre o Grande, o
de Carlos Magno, foram reinos baseados na força e, por isto, não conseguiram sobreviver

83
muito tempo. Mas Jesus baseou seu reino no amor e, por isso, até hoje, milhões de pessoas
estão dispostas a dar a vida por Ele, porque Ele fundamentou seu reino em cima do amor.”

Vivendo o amor

Fechado o parêntese teológico, falemos agora de Jesus como mestre do


comportamento humano. Não estou falando do ponto de vista de teologia, de doutrina, de
religião, mas falando de Jesus como um grande conselheiro, mestre ou filósofo que, baseou
seus ensinamentos em dois princípios vitais:

1. Ame a Deus sobre todas as coisas;

2. Ame ao próximo como a ti mesmo.

Falaremos, agora, do seguindo ensinamento: ame ao próximo como a ti mesmo. Deixe-


me lhe dizer uma coisa: o amor é um princípio. Perceba, também, que o verbo está no
imperativo; é uma exortação, uma ordem, o amor é um mandamento: AME! Se o amor é um
mandamento, é um princípio, isso significa pode ser aprendido, ensinado, vivenciado.
Perceba também que a ordem é para amar duas pessoas: VOCÊ e o seu PRÓXIMO. E mais,
amar VOCÊ e seu PRÓXIMO na mesma medida.

84
23. Amor próprio não é opcional
Estamos habituados a condenar o amor-próprio; mas
aquilo que pretendemos realmente condenar é o
oposto do amor-próprio.
É aquela mistura de egoísmo e aversão por nós
próprios que permanentemente nos persegue, que nos
impede de amar os outros e que nos proíbe de nos
perdermos no amor com que somos
eternamente
amados. (Paul Johannes Tillich, filósofo e teólogo
luterano, 1886-1965)

No capítulo 11, falamos do “poder da autoestima”. Por isto, não vou me demorar em
falar de amor próprio. No entanto, não poderia deixar de reforçar que amar a si mesmo é
pré- requisito para amar outra pessoa, para ter relacionamentos saudáveis, sejam
relacionamentos de a amizade ou relações amorosas e conjugais. Somente aos que amam a
si mesmos é dada a chance de ser amado plenamente, sem concessões despedaçadoras
como as que ocorrem em relacionamentos abusivos, que resultam em vários tipos de
violência, como a psicológica e a física.

A falta de amor próprio, traduzida em baixo autoestima, medo de reprovação social,


falta de confiança em si mesmo e de reconhecimento do seu potencial são alguns dos
terríveis inimigos de um coração saudável. É muito comum que pessoas com baixo
autoestima estejam dispostas a pagar qualquer preço na busca por um amor fora de si
mesmo, mesmo que isto custe a sua dignidade. O problema é o amor que elas buscam é o
delas mesmas, o amor próprio, que não pode ser substituído por nenhum outro.

Para finalizar este capítulo (prometi ser breve, lembra?), trago dois textos de dois
grandes escritores: a brasileira Clarice Lispector e o português Fernando Pessoa.

Respeite a você mais do que aos outros, respeite suas exigências, respeite mesmo o
que é ruim em você - respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você - pelo

85
amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita - não copie uma pessoa
ideal, copie você mesma - é esse o único meio de viver. (Clarice Lispector)

86
Para ser grande, sê
inteiro: nada Teu exagera
ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe
quanto és No mínimo que
fazes.
Assim em cada lago a lua
toda Brilha, porque alta
vive
(Fernando Pessoa, escritor e poeta português, 1888-1935)

87
24. Amor em forma de gratidão

Um homem orgulhoso raramente é


grato, porque tudo quanto recebe, ele crê
que é merecido.
(Henry Ward Beecher, clérigo norte-americano, 1813-1887)

Tive uma infância muito difícil. Fui privado de muita coisa, de sonhos que a gente não
realizou. E sonhos são fases, depois que passam, parecem que perdem o significado.

Um destes sonhos era ter uma bicicleta. Na época, a molecada tinha caloi 10,
monareta... a gente, só carrinho de caixa de feira mesmo.

Também queria um kichute, mistura de tênis e chuteira que foi produzido no Brasil a
partir da década de 70, pela marca Alpargatas. A gente jogava muita bola quando criança.
Nosso campo era a rua e as traves eram as pedras. Naquela época, a sensação era ter um
kichute e meu sonho era ter um também.

Hoje consigo enxergar como o kichute era horrível! Feito de lona, todo preto, um
solado com cravos de borracha que pareciam de pneu de caminhão, uma coisa bem mal
elaborada! Pra piorar, tinha menino que amarrava o cadarço na canela ou ficava dando
voltas em torno do sapato de tão grande que era o cadarço, um horror! Mas, na época era
como um ter nike. A gente também queria “desfilar” de kichute, mas eram muitos filhos e as
condições financeiras, muito precárias. O jeito era ficar sonhando mesmo...

Crianças do bairro ganhavam brinquedos no aniversário, no final do ano... e a gente


não. Nestas datas eram as únicas vezes que ganhávamos uma roupa nova. Em uma destas
vezes, lembro que minha mãe, com todo o carinho, comprou uma roupa e me deu uma
bermuda. Eu era criança (como criança, a gente não se contém), queria acompanhar a
modinha e tal e, ao ver a cor da bermuda, decretei: “Não vou usar isto! Não quero este
short! É horrível!”

Até que tinha um pouco de razão, a cor do short era horrorosa: verde e um amarelo
que parecia uma abóbora. Mas o semblante e as palavras da minha mãe cortaram meu
88
coração:

89
“Que pena, comprei com tanto carinho...”. Mesmo sendo criança, aquele foi o short que eu
mais usei na vida e esta é uma das histórias de infância que nunca vou tirar do coração.

Giovana, minha irmã guerreira

A Giovana era virada! Trabalhava, lutava capoeira, protegia a gente... Quando os caras
mais velhos queriam nos bater ela aparecia do nada, que nem o Jiraiya 14, dando voadora e
nos salvava. Ela trabalhava como doméstica em casas de família e em um dos seus
empregos sua patroa, a doutora Seluta, fez a gentileza de ser sua fiadora em um crediário.
Até aí, tudo certo. Ela trabalhava e tinha o direito de comprar, em parcelas, o que julgasse
necessário ou desejado. O detalhe é que o crediário foi feito para Giovana pudesse comprar
roupas novas para a família em um final de ano. Não fosse por sua atitude generosa,
teríamos de iniciar o ano sem ter o que vestir! Aquele foi um momento de muita alegria e de
muita gratidão à nossa irmã ninja!

Ter um coração agradecido é uma forma de oferecer amor. Por vezes, um simples
“muito obrigado” - carregado de sinceridade, é claro - é o presente mais desejado de uma
mãe esforçada ou de uma irmã batalhadora!

Ter um coração agradecido também é uma forma de ser feliz!

Artigo publicado em 2014 por Suzana Herculano-Houzel, traz algumas descobertas


científicas muito interessantes. Leia este trecho:
“Os pesquisadores descobriram que a diferença entre culpa e raiva, orgulho e gratidão
de fato depende de partes do cérebro que processam o envolvimento pessoal. No caso
das emoções morais positivas, contudo, um achado é particularmente interessante:
não importa se a causa do bom resultado é você mesmo ou outra pessoa; em ambos os
casos há ativação do sistema de recompensa do cérebro, que nos deixa
instantaneamente felizes e satisfeitos. Pensar em algo de bom que nos fizeram é,
portanto, uma maneira tão eficaz de nos deixar felizes como fazer algo de bom nós
mesmos. A gratidão, portanto, leva à felicidade.”

14
Jiraya é o protagonista de uma série de televisão japonesa, “Sekai Ninja Sen Jiraiya” traduzido como “Guerra
Mundial dos Ninjas Jiraiya” e lançada no Brasil em 1989 sob o título de “Jiraiya: O Incrível Ninja”.

90
Ter um coração agradecido, portanto, é uma grande oportunidade de estimular o
cérebro a “produzir” felicidade em nós e naqueles a quem damos amor em forma de gratidão.
Um dia desses recebi amor em forma de gratidão. Recebi uma ligação de uma senhora
de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Enquanto conversámos ela explicou, que na época
em que trabalhei como pastor naquela cidade orei por seu sobrinho, que estava afundado
no mundo das drogas. Pelo poder de Deus o rapaz foi liberto daquela escravidão, razão pela
qual ela era muito agradecida a mim.

É claro que tenho completa consciência que fui apenas um instrumento divino, que o
poder não veio de mim, mas a gratidão daquela senhora me deixou muito feliz. E ainda mais
feliz fiquei quando ela, confiando em meu ministério pastoral, pediu que orasse por seu
marido, pois, segundo ela, eu era um homem de Deus. Esta história me lembra um
pensamento de Machado de Assis: “A gratidão de quem recebe um benefício é bem menor
que o prazer daquele de quem o faz.”

Amor em forma de gratidão!

Felicidade pra quem agradece.

Felicidade pra quem recebe gratidão.

Simples. De graça. E transformador.

Experimente!

91
25. Amor que transborda e derrama

Pode-se desfrutar de tanta alegria em dar prazer a alguém


que às vezes sentimo-nos quase na obrigação de
agradecer a essa pessoa.
(Henry de Montherlant, romancista francês, 1896 - 1972)

Em 2015, um grupo de alunos de Nova Hampshire, nos Estados Unidos, viraram notícia
por uma razão pra lá de bonita. Após saberem que Courtney Vashaw, professora delas,
estava com câncer, decidiram doar todo o dinheiro que haviam economizado para a viagem
de formatura a fim de ajudar Vashaw a pagar seu tratamento de saúde. A quantia em
dinheiro, cerca de 8 mil dólares, seria usada para uma viagem às montanhas em Nova York,
mas a decisão de doar todo o valor foi unânime e, segundo os próprios alunos, partiu de um
dos muitos ensinamentos que receberam da professora: “Ela se importa muito e não é nem
um pouco egoísta e nós queríamos ter essa postura também”, afirmou Ian Baker, um dos
doadores.

Evidentemente, a professora reagiu emocionada. Não é sempre que se recebe amor


em forma de solidariedade e em uma situação tão difícil como um tratamento contra o
câncer, um gesto deste toma proporções ainda maiores. O amor ao próximo foi um dos
mandamentos de Jesus, lembra? Mesmo que você não seja cristão, concordará que este
ensinamento de Cristo pode e deve ser praticado por todos.

Em uma de suas cartas, o apóstolo Paulo aconselha os moradores de Tessalônica: “Que


o Senhor possa enchê-los de amor, e que ele transborde na vida de cada um, derramando-se
sobre todos ao redor”15 (a ênfase é minha). Acho que solidariedade é isto: amor que
transborda e a gente derrama sobre os outros. Quando o amor transborda, a gente
consegue se colocar no lugar do outro, sentir e praticar compaixão. Ah, como é bom ser
abraçado pela solidariedade, pela compaixão de alguém... A gente nunca esquece, não é?

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15
1 Tessalonicenses 3:12 (versão A Mensagem).

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Quero lhe contar duas histórias em que fui abraçado pela compaixão. A primeira
aconteceu em Santa Catarina, no ano de 2003. Um amigo e eu, que no momento mora em
Curitiba, no Paraná, estávamos vendendo livros para pagar nossos estudos. Participávamos
de uma equipe, com vários outros, que também estavam trabalhando com o mesmo
objetivo.

Nossa equipe de vendas era mista, tinha homens e mulheres que moravam, em sua
maioria, na mesma casa. Além das regras de horários, organização e trabalho, tinha também
regras de conduta dentro da casa, como a proibição que os rapazes andassem sem camisa
nos locais comuns ou entrassem no quarto das meninas. A gente procurava seguir tudo à
risca, mas percebemos que, nos finais de semana, os caras que trabalhavam em cidades
vizinhas vinham para a casa da equipe e não cumpriam as regras. Além de entrar e sair onde
e quando quisessem, rapazes e garotas perturbavam nosso sono com barulho e cantorias até
altas horas da madrugada, deixavam tudo bagunçado, tomavam banho no quarto das
meninas...

Meu amigo e eu, muito questionadores, ficamos incomodados e resolvemos reclamar


com a liderança da equipe, os “autores” das regras. A lógica, a gente pensava, era que eles
iriam advertir os “transgressores” e tal, mas não foi isto que aconteceu. Fomos, literalmente,
expulsos da campanha de vendas e pra piorar, sem nenhum dinheiro! Estávamos na primeira
semana de trabalho, visitando as casas de porta em porta, com alguns pedidos de livros, mas
que seriam pagos pelos clientes só no início do próximo mês!

No meio do desespero, meu amigo, que já tinha trabalhado naquela cidade, lembrou
de uma pastora do evangelho quadrangular, com quem tinha feito amizade. Fomos até a
casa dela. Além de nos dar abrigo e comida, essa mulher comprou a passagem e colocou a
gente dentro do ônibus para voltarmos pra casa.

Nunca vou esquecer daquele dia. Aquela pastora não me conhecia e não tinha
nenhuma obrigação de me ajudar. Mas o amor transbordava nela e se espalhou até mim, em
um grande gesto de compaixão e solidariedade.

A segunda história aconteceu em Porto Alegre. Depois de um tempo em São Paulo


aguardando uma oportunidade de trabalho como pastor, recebi um convite para atuar no
Rio Grande do Sul. Quando cheguei lá, ainda não tinha lugar pra morar e fiquei hospedado
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durante duas semanas na casa de uma família, membros da igreja onde trabalharia.

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Depois de alugar uma casa, um colega pastor foi me ajudar a fazer minha mudança.
Não era muita coisa e cabia no carro dele. Colocamos quase tudo e, quando voltei com as
ripas da minha cama, últimos objetos que levaria, vi o pastor sentado na calçada e seu carro
subindo a rua. No começo, não entendi. Mas, ao sair na rua, com aqueles pedaços de pau na
mão, um homem me mostrou sua arma e eu entendi: roubaram o carro e, dentro dele,
minha mudança: roupa, livros, documentos etc. Pouca coisa, mas era tudo o que eu tinha!

Comecei o ministério pastoral sendo roubado! Daquele episódio triste, no entanto,


surgiu amor em forma de solidariedade. Os membros da igreja se uniram e me deram o que
eu precisava para trabalhar em Porto Alegre. A igreja me abraçou, fez até um enxoval pra
mim! E outra vez eu senti a alegria de receber amor em forma de compaixão!

Dar é melhor do que receber

Para finalizar, quero contar uma terceira história. Aconteceu no meu quinto ano de
ministério pastoral, na cidade de Foz do Iguaçu, estado do Paraná. Estava ministrando uma
semana especial de cultos diários em um templo da cidade. Durante a noite, palestrava e,
durante o dia, aproveitava para visitar famílias e orar com elas. Em uma destas visitas, me
deparei com uma situação de extrema pobreza. Pessoas que viviam de forma caótica, de
total sobrevida, de miséria mesmo, em condições precárias de calamidade.

A família era grande. Os filhos do casal já tinham outros filhos, e sem condições
financeiras de viver em outro lugar, moravam todos juntos. Aquilo me impressionou
profundamente. Deus me tocou, me fez transbordar de amor. Não tinha muita coisa, mas
poderia ajudar com um pouco. E, além de orar, dei dinheiro àquela família.

Aquilo me impressionou. Saí dali chocado e pensando que, às vezes, a gente convive
com pessoas sem saber, de fato, como elas vivem. Em igrejas, por exemplo, quantas vezes
convivemos com uma dezena, uma centena de pessoas que não conhecemos, sequer, onde
moram, como vivem, se têm o que comer na próxima refeição...

O que pode parecer apenas um descuido ou um lapso, na verdade, pode estar


revelando muito sobre nós. Sobre o amor que falta em nós. E, por isto, não transborda, nem

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derrama!

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26. Amor incondicional
Quem ama porque o amam, é agradecido; quem
ama para que o amem, é interesseiro; quem ama, não
porque o amam nem para que o
amem, esse só é

fino. (Padre

António Vieira)

Como já contei algumas vezes, tive uma infância de muita luta. Além da falta de
dinheiro, sobravam problemas. Quando a comida acabava, uma irmã que era deficiente
mental pegava um prato vazio e ia pedir na rua. Talvez, o verbo certo neste caso não seja
pedir, mas mendigar. Nestas ocasiões, ficávamos grudados na barra da saia da mãe, que
batia nas panelas e falava: “Deus proverá”. E Deus provinha. De algum jeito, Ele provinha.

Além de prover, muitas vezes, Deus também multiplicava! Minha mãe comprava um
peito de frango e servia pedaços fritos, com farinha e feijão. Um único peito de frango
durava a semana inteira! Deus provinha! Deus multiplicava! Deus honrava a fé da minha
mãe!

Houve um momento muito difícil, na adolescência, quando dei um pouco mais de


trabalho para a mãe. Virei um revoltado, temperamental, explosivo. Queria resolver tudo na
base da briga, da violência. Fiz amizade com gente da pesada, fui me envolvendo com festas,
bebedeiras, comecei fumar, usar drogas. Participava de um grupo chamado “galera da
corrente”. Nós íamos para o Carnaval, na Bahia, com um gomo de corrente e cadeado na
ponta para bater em todo mundo.

Quanta tristeza trouxe ao coração de minha mãe naquela época. Um coração já


calejado pela falta de amor do meu pai, que lhe batia, lhe traía com prostitutas, que não lhe
ajudava na criação dos filhos!

Foi ela, minha mãe, que me ensinou o que, realmente, é amor incondicional ao cuidar
de meu pai doente, contaminado por doenças venéreas e vítima de um câncer de próstata.
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Isto mesmo! Minha mãe cuidou daquele marido que a oprimiu e desrespeitou das piores
formas possíveis! E o fez até os últimos instantes da vida dele.

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27. A mais difícil e necessária forma
de amar
Ser feliz é encontrar força no perdão, esperanças
nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos
desencontros. É agradecer a
Deus a cada minuto pelo milagre
da vida. (Fernando Pessoa, escritor e poeta
português, 1888-1935)

Nunca vou esquecer daquela cena. Meu pai deitado no leito, sem conseguir falar,
entubado, sofrendo profundamente por causa do câncer. Ele sabia que tinha pouco tempo.
Minha mãe também; por isto me levou até o hospital para que eu pudesse perdoá-lo e ser
perdoado por ele.

Carregávamos mágoas profundas. Eu tinha muito ódio em meu coração por causa de
todas as coisas horríveis que o vi fazendo com minha mãe, meus irmãos, e especialmente
comigo. Ele nos rejeitava e sentia que, comigo, a rejeição era ainda maior, o que me marcou
profundamente.

Naquele dia, nos abraçamos. Ele já não conseguia dizer nada. Vi uma lágrima descer
dos seus olhos, a gente apertou a mão um do outro e aquele foi o último instante em que o
vi.

Tinha 18 anos quando meu pai faleceu, após um sofrimento terrível. E não fosse pela
sabedoria de minha mãe, eu viveria ainda hoje morrendo por dentro. Meu pai morreu em
junho de 1996, aos 85 anos. E eu renasci, aos 18, em 1996.

O fardo do rancor

O perdão é uma forma de amor. Uma das mais difíceis, talvez; e das mais necessárias,

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0
certamente. Não consigo imaginar quão terrível teria sido conviver com aquele ódio por meu
pai sem ter mais a chance de perdoá-lo. Não fosse pela iniciativa de minha mãe, ainda
estaria cheio de rancor e infeliz.

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Então, por experiência própria, vou dizer uma coisa pra você: há coisas, há cargas,
bagagens na vida que não compensam, não valem a pena serem carregadas. Um trajeto
curto se torna muito cansativo por causa do peso destas bagagens! Eu estou falando das
mágoas, do ódio, de ressentimentos, que são sentimentos que não valem a pena e, às vezes,
tem gente que carrega durante 20, 30 anos numa existência de 70, 80 anos no máximo, que
é a nossa média de vida. Passamos um terço da nossa vida odiando, alimentando mágoas, e
são sentimentos que não valem a pena. E aí, eu recorro a um pensamento que diz o
seguinte: você odiar outra pessoa, ou não perdoar outra pessoa é você tomar um copo de
veneno e esperar que o outro morra. Como somos miseráveis e mesquinhos como seres
humanos! Passamos 1/3 da nossa vida guardando ódio, mágoas. Precisamos entender o
poder do amor manifestado através do perdão.

Talvez você esteja nessa situação, carregando bagagens, malas, fardos que podem ser
aliviados pelo perdão. Amigo, você precisa se desprender destas cargas, dessas mágoas,
desses pesos. Você precisa liberar perdão sobretudo porque, ao liberar o perdão, você está
fazendo bem a si mesmo.

Deixe-me dizer uma coisa científica: 30% das causas de câncer são de ordem
emocional. E aí, dentro dessa janela, você coloca mágoas, estresse, ressentimentos,
angústia. Alimentamos e construímos monstros que não são nossos e que só vão nos fazer
mal. Por isto, a importância do amor, do perdão, porque, quando eu libero o perdão ao
outro, ao próximo, sou o maior beneficiário, ao me desfazer dessas bagagens torno minha
viagem menos cansativa e mais feliz!

Amar ao próximo é um mandamento áureo. Precisamos mais de amor do que de ódio.


Precisamos amar, inclusive e especialmente, aqueles que não fazem parte da nossa lista de
afetos ou aqueles que nos fizeram coisas ruins. Aprendi que mesmo nossos “supostos
inimigos” merecem respeito. As pessoas estão morrendo por falta de amor e carinho. Se
houvesse mais amor no lar, nas negociações humanas, nas ações humanas, muitos
problemas poderiam ser evitados, não estaríamos nessa tragédia hoje, aqui. Precisamos
amar. Ou nossas relações estão fadadas ao fracasso.

Que tal se, em lugar de propagar o ódio, nós levantarmos a bandeira do amor?

Já experimentou compartilhar o amor?


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RETORNANDO AO PONTO
DE PARTIDA

Conta-se que, nas antigas tribos indígenas, quando um índio estava acabrunhado,
triste, com problema, uma dificuldade, buscava o suporte de seu líder espiritual. Neste
encontro, o índio estava disposto a falar sobre suas lutas e a ouvir os conselhos de seu líder.
Este, em sua sabedoria, fazia algumas perguntas ao índio, com o objetivo de diagnosticar
seus problemas e, ao mesmo tempo, ajudá-lo na retomada de uma vida saudável e feliz.
Essas perguntas faziam o índio refletir e mudar o foco da sua vida, o foco do problema. Eram
perguntas reflexivas, que tinham o propósito de fazer com que o índio visse a vida de um
outro prisma, a partir de uma outra perspectiva. Ei-las:
Quando você parou de cantar?
Quando você parou de dançar?
Quando você parou de acreditar?
Quando você parou de se encantar?
Quando você parou para silenciar?
Quando você parou de amar?
Ao ouvir essas perguntas, o índio saía dali refletindo sobre a sua vida e, na maioria das
vezes, iniciava uma guinada vitoriosa, retomava o gosto pela vida, o desejo pelo trabalho, a
alegria dos momentos simples entre amigos e familiares.

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PALAVRAS FINAIS

Ao longo destes 26 capítulos, estendi a você o convite daquele líder ao levá-lo a refletir
e convidá-lo a experimentar:
O poder da MÚSICA: na mente, no corpo e no espírito;
O poder do MOVIMENTO;
O poder de CRER, de agir, de recomeçar, de enfrentar seus medos, de sentir na pele as
dores das batalhas, de correr o risco e sair da penumbra cinzenta da covardia;
O poder de SE ENCANTAR consigo, com os outros e, se preciso, fugir de quem é tóxico,
de buscar tratamento quando a tristeza é patológica, de abastecer a mente com o que vale a
pena;
O poder do SILÊNCIO, que é de graça, que regenera, que capacita, que traz foco;
E o poder do AMOR, a maior de todas as necessidades, que se materializa, antes de
tudo, em amor próprio, e transborda em gratidão, solidariedade e perdão.
Agora, ao final deste ciclo, quero desejar-lhe sucesso e felicidade plena todos os dias.
Por que estas dádivas são conquistas diárias daqueles que decidem, dia após dia, “arriscar
coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se a derrota” e não “formar
fila com os pobres de espírito que nem gozam muito nem sofrem muito, porque vivem nessa
penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota”.
Abraço e até a próxima!

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