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o obituário que o New York Times menos: elétrons, raios X e radioatividade.
Cássio Leite Vieira publicou em 20 de outubro de Esta última - radiação cuspida esponta-
Instituto Ciência Hoje, Rio de Janeiro, 1937, lia-se que poucos humanos neamente pelos átomos - era um cons-
RJ, Brasil atingiram, em vida, a imortalidade - e, trangimento para a física e a química do
E-mail: cassio@cienciahoje.org.br muito menos, o Olimpo. O destinatário século 19, que não podiam explicá-la.
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de tão eloquente elogio - morto no dia an- Rutherford, depois de um flerte rápido
terior - foi um explorador do infinita- com as ondas de rádio, descobertas em
mente diminuto e complexo interior do 1887, passou a estudar a radioatividade,
átomo, universo que ele foi o primeiro a que então reunia os elementos básicos
penetrar. para uma (próspera) carreira científica: in-
As palavras refletem a extensão da trigante, fascinante, promissora e - princi-
fama do físico neozelandês Ernest Ruther- palmente - ininteligível. E com pouquís-
ford, cuja biografia lembra a de heróis de sima bibliografia - como justificou, mais
contos infantis em que garotos pobres, da tarde, a física polonesa Marie Curie (1867-
periferia, se tornam nobres e admirados 1934), ao escolher o tema para seu dou-
por seus feitos e seu caráter. torado naquele final de século.
A obra científica de Rutherford im-
pressiona. Mas ele será sempre lembrado Esforço e sorte
como aquele que escavou o átomo a fundo Nascido em 30 agosto de 1871, em
e, de lá, trouxe ao mundo o coração da Spring Grove (hoje, Brighwater), área ru-
matéria, o caroço duro e diminuto que ral ao sul de Nélson (Nova Zelândia), Ru-
ele batizou núcleo atômico. O percurso até therford cresceu em família pobre, com pai
aí, porém, foi longo e árduo. mecânico e agricultor e mãe professora
Para entender Rutherford e suas des- primária. Era o quarto de 12 filhos. Foi
cobertas sobre a radioatividade, a estru- nesse ambiente que, segundo o historiador
tura dos átomos e a transmutação dos ele- da ciência Lawrence Badash (1934-2010)
mentos, é preciso descrever, ainda que bre- [2], se forjaram os princípios que levariam
vemente, a física do final do século 19, da o jovem Ernest da periferia do império
qual ele é fruto. Nas palavras do histo- britânico ao posto de cientista mais famo-
riador da ciência Er- so do início do século
win Hiebert [1], esse A obra científica de Rutherford passado: simplicidade,
cenário era marcado: impressiona. Mas ele será retidão, economia,
i) por uma crescente sempre lembrado como aquele energia, entusiasmo e
percepção de uma que escavou o átomo a fundo respeito à educação -
unidade das ciências e, de lá, trouxe ao mundo o sempre leu muito ao
físicas; ii) pela urgên- coração da matéria, o caroço longo da vida.
Há 100 anos, um garoto pobre que virou lorde cia em abarcar os fe- duro e diminuto que ele Biografias de Ru-
revelou ao mundo o coração da matéria, um nômenos do muito batizou núcleo atômico therford - por exem-
caroço duro e diminuto no qual 99,9% da mas- grande e do muito pe- plo, Arthur Eve [3] -
sa do átomo estão concentrados. A descoberta queno em uma só visão do mundo; iii) costumam extrapolar para sua juventude
do núcleo atômico - como ele o batizou - iniciou por uma nova atitude (mais ousada) em o talento de sua maturidade. Porém,
uma nova etapa em uma das mais belas relação à especulação científica; e, iv) pela pesquisas minuciosas feitas pelo físico e
aventuras do conhecimento humano: a respos-
ênfase nas colaborações científicas. biógrafo John Campbell [4] mostraram
ta à pergunta simples e milenar “De que são
feitas as coisas?”
Para Hiebert, os físicos estavam pron- que o estudante - talentoso em matemá-
Versão resumida deste texto foi publicada no tos para (se preciso) construir um mundo tica e física - estava mais para esforçado e
caderno ‘Ilustríssima’, da Folha de S. Paulo, em radicalmente novo para englobar os novos iluminado pela sorte do que para “gênio”.
13/3/2011. (e aparentemente não relacionados) fenô- Suas oportunidades acadêmicas se concre-

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tizaram porque os primeiros colocados cujo laboratório de física era um dos mais Rutherford - que se tornou o “Sr. Radioa-
acabavam, por algum motivo, não acei- bem equipados do mundo, graças ao pa- tividade” - reforçada pela publicação, em
tando as bolsas de estudo. tronato do dono de uma fábrica de tabaco 1904, de seu livro Radio-Activity, clássico
Foi uma dessas bolsas que levou Ru- que desprezava o hábito de fumar. Ga- da área. No início do século, sua fama
therford, em 1895, ao Laboratório Caven- nhou o emprego indicado por Thomson, ultrapassava a de Henri Becquerel (1852-
dish, em Cambridge (Inglaterra), referên- que o classificou como o melhor aluno 1908), o descobridor da radioatividade, e
cia mundial em física experimental. Em que já tivera. Os resultados que Ruther- a do casal Pierre (1859-1906) e Marie
fevereiro do ano seguinte, Rutherford fina- ford obteria naquele laboratório coloca- Curie (1867-1934), que havia descoberto
lizou um detector que podia captar ondas riam a física canadense no mapa-múndi dois novos elementos radioativos, o polô-
eletromagnéticas a até 800 m - um feito da ciência. nio e o rádio. O trio recebeu o Nobel de
tecnológico semelhante a um telégrafo Com o auxílio do competente químico Física em 1903. Inicialmente, Rutherford
sem fio. Começava assim a manifestar, em inglês Frederick Soddy (1877-1956), Ru- tinha o trio como de competidores. Mais
continente europeu, therford passou a tarde, desentendeu-se (polida e cientifica-
sua grande capacidade Agraciado com o Prêmio Nobel trabalhar intensa- mente) com Becquerel. Com os Curie
de imaginar, projetar de Química de 1908, Ruther- mente. Agora, seu manteve amizade, e com Marie admiração
e construir artefatos, ford comentou: “Lidei com objetivo era publicar mútua longo da vida.
algo incutido nele várias e diferentes muito (e bons resul- Os resultados no Canadá renderam a
ainda na infância, ao transformações em diversos tados), para um dia Rutherford o Nobel de Química de 1908.
observar essas habili- períodos, mas a mais rápida voltar à Inglaterra, Química? Sim, porque o assunto radioa-
dades no pai - ainda com que me defrontei foi a onde poderia não só tividade, para o comitê do prêmio, perten-
criança, desmontava minha própria transformação fazer física de primei- cia a essa área. Rutherford resumiu seu
relógios para cons- de físico em químico” ra, mas também (e espanto assim: “Lidei com várias e dife-
truir miniaturas de mais importante) rentes transformações em diversos perío-
moinhos d’água, por exemplo. estar ao lado de quem a fazia. A ambição dos, mas a mais rápida com que me de-
Rutherford tentou patentear seu de- profissional sempre foi um traço marcante frontei foi a minha própria transformação
tector - talvez, buscando fama e fortuna, de sua personalidade. De Montreal, de físico em químico”. Embutida na frase,
segundo John Heilbron [5] -, mas seus escreveu para sua futura mulher, Mary há seu preconceito em relação à química
ganhos impossibilitavam essa despesa ex- Georgina Newton (1876-1945), com - para ele, ciência “malcheirosa”. Por si-
tra: sua bolsa mal o sustentava, atirando- quem se casaria, em 28 de junho de 1900, nal, classificava todos os outros ramos das
o no limite entre a pobreza e a miséria. em Christchurch (Nova Zelândia): “Quero ciências naturais como “coleção de selos”.
Assim, o desenvolvimento do telégrafo trabalhar bastante e formar uma escola
sem fio ficaria a cargo do italiano Gugliel- de pesquisa, para ofuscar todo o brilho Rumo ao núcleo
mo Marconi (1874-1937), que levaria o dos Ianques!” Décadas mais tarde, o ex- O esforço e a perseverança de Ruth-
Nobel de Física de 1909 pela invenção. físico e escritor inglês C.P. Snow (1905- erford se evidenciaram naquele ano e meio
O detector e outras habilidades expe- 1980), autor do clássico As Duas Cultu- em que ele se debruçou sobre os resultados
rimentais de Rutherford impressionaram ras, o caracterizou como “exuberante, ex- obtidos pelo físico neozelandês Ernest
seu chefe no Cavendish, Joseph John trovertido e nada perceptivelmente mo- Marsden (1889-1970) entre 1909 e 1910.
Thomson (1856-1940), que, em 1897, desto”. A ideia do experimento, baseado no bom-
descobriria a primeira partícula subatô- Em pouco tempo, a dupla Rutherford bardeio de uma folha finíssima de ouro
mica, o elétron - fazendo da palavra áto- e Soddy apresentou resultados surpreen- com partículas alfa (núcleos de hélio),
mo (a = não; tomo = divisível, em gre- dentes sobre a radioatividade. Um deles: havia nascido de observação (desconfiada)
go) uma contradição semântica. Explica- a emissão de radiação fazia com que um feita em um experimento anterior, no qual
se. Até então, pelos últimos dois mil e qui- elemento químico se transformasse em um feixe semelhante de partículas, depois
nhentos anos, vários modelos de átomos outro. Ganhou o nome de transmutação de atravessar uma folha fina de mica, for-
haviam sido idealizados, mas essas enti- nuclear, teoria que derrubava outra pro- mava, em um anteparo, uma mancha
dades diminutas sempre haviam perma- priedade atribuída ao difusa, um borrão. A
necido obedientes aos ditames do filósofo átomo ainda na Anti- Em 1896, Rutherford tentou intuição demandava -
grego Leucipo (c. 500-450 a.C), pai do guidade: a indestruti- patentear um detector de ondas com base no que se
atomismo: “Toda a realidade consiste em bilidade. A transfor- eletromagnéticas, mas não o fez concebia ser o átomo
partículas duras e indivisíveis, movendo- mação cheirava a por questões financeiras. Um e as partículas alfa;
se e colidindo no espaço vazio”. Raros fo- alquimia - na época, já pouco depois, Marconi estas últimas, para
ram os cientistas ou pensadores que, até morta e enterrada -, e apresentava o telégrafo, com o Rutherford, ‘gigan-
a época de Thomson, arriscaram teorizar Rutherford foi cui- qual ganhou o Prêmio Nobel de tescas’ como átomos
sobre um átomo com estrutura interna. dadoso em buscar Física de 1909 - que o feixe não
apoio de químicos sofresse esses desvios.
Ao Canadá renomados, como o britânico sir William Esse mistério permaneceu com Ru-
Rutherford também desistiu de Cam- Crookes (1832-1919), para a ideia. Com therford até que ele e seu assistente, o fí-
bridge - para ele, um ambiente esnobe. base nessa teoria, calculou a idade das ro- sico alemão Hans Geiger (1882-1945),
Percebeu que alguém da periferia - ele foi, chas em bilhões de anos, desmontando as- resolveram atacar a questão na Univer-
no Cavendish, um dos primeiros estudan- sim argumentos geológicos, biológicos e sidade de Manchester (Inglaterra), para
tes de pesquisa não formados em Cam- religiosos sobre a idade da Terra. onde Rutherford havia se transferido, ocu-
bridge - teria poucas chances de promoção Esses e outros resultados (por exem- pando a vaga deixada especialmente para
por lá. A saída foi aceitar, em 1898, uma plo, a descoberta do gás radônio) lapida- ele pelo físico anglo-alemão Arthur
vaga na Universidade McGill (Canadá), ram a imagem científica e pública de Schuster (1851-1934). Para a tarefa de

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investigar a misteriosa mancha difusa, de certa forma, confirmou as ideias de - cada um deles moeda corrente na ciência
designaram Marsden, aos tenros 20 anos 1903 do físico japonês Hantaro Nagaoka atual.
de idade. (1865-1950) - citado por Rutherford -, A tese de Badash - apesar de bem ar-
A engenhosidade - lançar partículas cujo átomo tinha um núcleo gigante, gumentada - causa espanto para aquele
contra um alvo - foi tamanha que o expe- rodeado por elétrons, lembrando os anéis que conheceu o Cavendish nos tempos he-
rimento é base até hoje para perscrutar o de Saturno. roicos, em que para um aluno, em busca
interior do átomo. de um cano de aço para um experimento,
As partículas alfa (formadas por dois O alquimista era dada uma serra e uma bicicleta velha,
nêutrons e dois prótons) vinham de uma Em 1919, Rutherford publicou os re- da qual ele devia extrair o que desejava.
fonte radioativa e, transformadas em fei- sultados que o tornariam o primeiro Era a física experimental no seu modo
xe, eram lançadas contra a folha finíssima alquimista da história - feito tão impres- mais romântico, com experimentos feitos
de ouro (0,00006 cm), que estava circun- sionante quanto a descoberta do núcleo em um prédio úmido, empoeirado, cheio
dada por uma tela cintilante. Em sua atômico. No experimento, bombardeou de fios e equipamentos que se distribuíam
esmagadora maioria, átomos de nitrogênio sem a menor ordem aparente, empestados
as partículas alfa, via- Em 1919, Rutherford publicou com partículas alfa, pela fumaça dos charutos do chefe, que
jando com velocidade os resultados que o tornariam o produzindo oxigênio fazia, para o temor dos estudantes, a
comparável à de uma primeiro alquimista da história e, de quebra, o pró- ronda diária. Época de físicos com mãos e
bala de fuzil, atraves- - feito tão impressionante ton, partícula de car- roupas sujas de graxa.
savam a folha de quanto a descoberta do núcleo ga positiva de cuja
ouro, sem pratica- atômico existência ele já des- Nêutron
mente se desviar da confiava desde pouco A indiferença de Rutherford em rela-
trajetória original. Algumas sofriam des- depois da proposição por ele da existência ção à mecânica quântica - cuja matemá-
vios maiores, atingindo a tela em pontos do núcleo atômico. tica ia muito além de seus conhecimentos
diversos, que brilhavam com a colisão. A transmutação de nitrogênio em - só foi amenizada com a volta dos gran-
Mas - e aí está o que Rutherford ma- oxigênio foi seguida, no entanto, de queda des resultados do Cavendish. Em 1932,
cerou mentalmente por um ano e meio - significativa de resultados importantes no James Chadwick (1891-1974) descobriu
uma em cada 20 mil partículas, em média, Laboratório Cavendish, que, desde 1919, o nêutron, partícula sem carga elétrica,
ricocheteava de volta em direção à fonte estava sob a liderança de Rutherford - companheira do próton no núcleo atômi-
emissora. herdou-a de Thomson. Nessa altura, Ru- co. De modo impressionante, esbarraram
Os cálculos finais de Rutherford therford - que não tinha a física teórica nele, pouco antes, Fédéric Joliot (1900-
sugerem uma caligrafia trêmula - talvez, em grande estima - percebeu que preci- 1958) e Irène Curie (1897-1956) - filha
reação àquilo que ele começava a entender: saria de ajuda para projetar experimentos de Pierre e Marie Curie. O casal levaria o
toda a massa atômica estava concentrada na área da teoria quântica, que lida com Nobel de Química de 1935 pela obtenção
em um caroço central, responsável por os fenômenos do mundo atômico e suba- dos primeiros elementos químicos ra-
desviar ou mesmo rebater de volta as par- tômico e que ganhou grande impulso na dioativos artificiais.
tículas alfa. O átomo, portanto, era um década de 1920. Contratou Ralph Fowler Chadwick percebeu que aquela partí-
grande vazio. Sintetizou seu espanto di- (1889-1944), que, em 1921, casou-se cula, cuspida depois que átomos de berílio
zendo que era como se canhões de grosso com sua única filha, Eileen Mary Ruther- eram bombardeados com partículas alfa,
calibre atirassem contra uma folha de pa- ford (1901-1930). não era um raio gama - como teorizaram
pel e os projéteis voltassem em sua direção. Se tanto fez Rutherford, então por que Frédéric e Irène -, mas algo que seu chefe,
O núcleo era diminuto (cerca de não recebeu um segundo Nobel? A hipó- Rutherford, já havia proposto em 1920:
0,0000000000001 cm), aproximada- tese mais provável é a o nêutron.
mente 10 mil vezes menor que o diâmetro de Campbell: o comi- As pesquisas de Rutherford em Agora, o modelo
atômico. Se o átomo tivesse o diâmetro tê estava certo de que radioatividade e física nuclear atômico parecia se
do Maracanã, o núcleo seria mais ou me- mais um prêmio não hoje levam conforto e saúde a completar: prótons,
nos do tamanho da cabeça de um alfinete. acrescentaria nada à boa parte da população, por nêutrons e elétrons.
Se juntássemos todos os núcleos do corpo fama do físico. meio de usinas nucleares e Mas a descoberta ou a
humano, eles não seriam maiores que um A historiografia equipamentos de diagnóstico e proposição de novas
grão de areia. da ciência vê em Ru- tratamento para o câncer, para partículas subatô-
O modelo atômico nuclear de Ruth- therford as origens da apenas dois casos micas (pósitron,
erford desbancou aquele idealizado por Big Science, o tipo de emblemáticos múon, píon) na déca-
Lorde Kelvin (1824-1907) e aperfeiçoado ciência (principal- da de 1930 viriam
por Thomson, o chamado “pudim de pas- mente física) feito depois da Segunda embaralhar o cardápio dos constituintes
sas”, no qual os elétrons seriam “passas” Guerra, com enormes volumes de dinhei- básicos da matéria, justamente em uma
incrustadas em uma “massa” de carga elé- ro, grande quantidade de pesquisadores, época em que havia muita resistência à
trica positiva. Esse tipo de átomo, pela laboratórios nacionais, temas por vezes aceitação de novos membros nesse clube,
disposição de seus elementos – ou seja, ligados a questões militares. Badash [6] cujas portas os físicos sonhavam em fe-
sem a presença de um núcleo -, não expli- enxerga Rutherford como precursor na char. Foi uma época da qual Rutherford
cava por que as partículas alfa ricoche- formação de equipes de pesquisa, nos desfrutou pouco, assoberbado por pales-
teavam de volta em direção à fonte laboratórios com numerosos integrantes, tras, compromissos, cargos e tarefas
emissora de radiação. no grande fluxo de publicações, na inter- burocráticas.
O modelo de Rutherford não recebeu nacionalização dos resultados, nos esfor-
muita atenção, mas deu início à viagem ços de especialização, nos meios de disse- Aos pés de Newton
da ciência rumo ao centro da matéria. E, minação da informação e na competição Aquele neozelandês de olhos claros,

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voz grave e tenebrosa, que metia medo de Einstein. Até 1930, praticamente tudo rá necessariamente passar por Rutherford.
em seus alunos, exigente e com pouca pa- que havia sido feito sobre a estrutura nu- Muito justo.
ciência para experimentos que tardavam clear havia vindo de Rutherford, escreveu
a dar resultados foi, no entanto, respeitado o historiador da física Daniel Kevles [8].
e admirado. Sua humildade foi reconhe- O problema do modelo atômico nuclear - Referências
cida: não pôs seu nome em artigos impor- instabilidade, segundo as regras da física [1] Erwin N.Hiebert, in: Rutherford and Phys-
tantes, mesmo que a ideia do experimento clássica - foi corrigido com base na teoria ics at the Turn of the Century. Edited by
tenha partido dele. Não pleiteava nem di- quântica, em 1913, por um de seus ex- Mario Bunge and William R. Shea
nheiro, nem equipamento além do que alunos em Manchester, o físico dinamar- (Dawson and Science History Publica-
realmente precisava. quês Niels Bohr (1885-1962). tions, New York, 1979), p. 3-22.
[2] Lawrence Badash, in: Dicionário de
Passou por momentos difíceis. O pior Tornou-se sir (1914) e primeiro Barão
Biografias Científicas (Contraponto,
foi a morte de sua filha no parto do quarto Rutherford de Nélson (1931). Em seu bra- Rio de Janeiro, 2007), p. 2.382-2.393.
neto dele. Lutou pela paz mundial (pediu são, escolheu homenagear seu país natal, [3] Arthur Eve, Rutherford - Being the Life
que aviões não fossem usados em guerra), com símbolos da Nova Zelândia (um and Letters of the Rt Hon. Lord Ruther-
participou do esforço de guerra para de- pássaro kiwi e um guerreiro maori). Suas ford, OM (Cambridge University Press,
ter o avanço nazista, lutou pela liberdade pesquisas em radioatividade e física nu- Cambridge, 1939).
de imprensa e defendeu o direito das clear hoje levam conforto e saúde a boa [4] John Campbell, Rutherford Scientist Su-
mulheres na ciência - sua sogra foi pio- parte da população, por meio de usinas preme (AAS Publications,Christchurch,
1999).
neira do movimento pelo voto feminino nucleares e equipamentos de diagnóstico
[5] John L. Heilbron, Rutherford and the Ex-
na Nova Zelândia -, concedendo bolsas e e tratamento para o câncer, para apenas plosion of Atoms (Oxford University
oportunidades para físicas. dois casos emblemáticos. Press, Oxford, 2003).
Diferentemente do improdutivo No- Os restos de Rutherford - morto em [6] Lawrence Badash, in: Rutherford and Phys-
bel de Física Michael Beard, protagonista 19 de outubro de 1937, aos 66 anos de ics at the Turn of the Century, editado
de Solar [7], Rutherford seguiu impres- idade, em Cambridge, por postergar a ci- por Mario Bunge and William R. Shea
sionando o mundo científico depois do rurgia de sua hérnia umbilical em função (Dawson and Science History Publica-
prêmio de 1908. Além disso, dirigiu o Ca- dos compromissos - estão aos pés do tions, New York, 1979), p. 23-41.
[7] Ian McEwan, Solar (Companhia das
vendish de grandes feitos na década de magnífico altar de Isaac Newton (1642-
Letras, São Paulo, 2010).
1930, como a descoberta do nêutron e a 1727), na Abadia de Westminster, em [8] Daniel J. Kevles, Physics Today 10, 175
primeira comprovação experimental da Londres. Assim, aquele que quiser chegar (1972).
fórmula mais famosa da ciência, E = mc2, a Newton, para observar o passado, deve-

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Un congreso virtual sobre los retos y perspectivas de la enseñanza de las ciencias


11 a 16 de Junio de 2012

Finalidad
El congreso virtual quiere ser un punto de encuentro para el intercambio de experiencias de innovación y/o investigación en
enseñanza de las ciencias.
Presentación de comunicaciones
Se anima a todo el profesorado a hacer una presentación de su experiencia sobre cualquier actividad educativa innovadora y/o
investigadora realizada individualmente o en grupo sobre la enseñanza de las ciencias.
Difusión
Se generarán una o más publicaciones en formato electrónico (ebook) y en papel.
Reconocimiento
Tanto la asistencia como la presentación de comunicaciones recibirán reconocimiento mediante la correspondiente acreditación.
Esperamos contar con su participación
Para más información ver página web
http://webs.uvigo.es/isiec2012/
educacion.editora@uvigo.es

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