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A CONSCIÊNCIA BÚDICA
C. W. Leadbeater
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Uma percepção posterior lhe revelou que ele havia sido bem-sucedido na
tentativa de unificar sua consciência à de seu professor. Ele viu-se
integralmente compreendendo e compartilhando dos sentimentos do professor,
e possuindo uma noção da vida muitíssimo mais larga e elevada do que jamais
havia tido antes. Uma coisa que impressionou-o profundamente foi a imagem
de si mesmo vista pelos olhos do professor; ela o encheu de uma sensação de
indignidade, mas também de elevada determinação; como ele singularmente
explicou.
“Eu me achei amando a mim mesmo através do intenso amor de meu instrutor
por mim, e eu soube que eu poderia e me faria digno dele”.
Ele sentiu também uma profundidade de devoção e reverência que ele jamais
havia alcançado antes; ele soube que ao tornar-se um com seu instrutor
terreno ele havia também entrado no sacrário de seu verdadeiro Mestre, com
quem era um, por sua vez, aquele professor, e ele vagamente sentiu-se em
contato com uma Consciência de incompreensível esplendor. Mas aqui sua
força faltou-lhe; ele pareceu deslizar de volta para dentro do tubo, e abriu seus
olhos no plano físico.
Dia após dia ele continuou seus esforços (consideramos que uma vez por dia
seria a freqüência máxima com que ele prudentemente poderia tentar); mais e
mais ele penetrou naquele grande lago de amor, mas ainda não achou o seu
fim. Mas gradualmente ele se tornou consciente de algo muito maior ainda; ele
de algum modo percebeu que este esplendor indescritível era permeado por
uma glória mais sutil mas inconcebivelmente ainda mais esplêndida, e tentou
alçar-se até ela. E quando conseguiu, soube por suas características que era a
Consciência do próprio grande Instrutor do Mundo. Ao tornar-se um com seu
professor terreno ele inevitavelmente havia se unido à consciência de seu
Mestre, ao qual aquele professor já estava unido; e nesta maravilhosa
experiência ulterior ele estava apenas comprovando a estreita união que existe
entre aquele Mestre e o Bodhisattva, que por sua vez O ensinara. Naquele mar
ilimitado de Amor e Compaixão ele mergulha diariamente em sua meditação,
com uma elevação e fortalecimento tais para si como prontamente pode ser
imaginado; mas ele jamais pode alcançar seus limites, pois nenhum mortal
pode medir um oceano como aquele.
Tentando penetrar sempre mais fundo neste novo reino estupendo que tão
subitamente se abrira para ele, ele conseguiu um dia alcançar um
desenvolvimento adicional – uma beatitude tão mais intensa, um sentimento
tão mais profundo, que pareceu-lhe a princípio tão superior como aquele
primeiro toque de consciência búdica estivera acima de suas experiências
astrais anteriores. Ele disse: “Se eu não soubesse que me é impossível ainda
atingi-lo, eu diria que isso deve ser o Nirvana”.
Mas o estudante não se quedou satisfeito com isso; ele repetiu sua tentativa
para subir ainda mais alto, ou (como ele diz) ainda mais fundo no real
significado de tudo isso. Uma vez mais ele teve a experiência de irromper em
um estado de matéria mais exaltado e refinado; e desta vez não havia cena
terrestre alguma para recompensar seus esforços, pois o cenário desdobrou-se
em um universo ilimitável cheio de massas de esplêndidas cores, pulsando
com vida gloriosa, e a montanha nevada tornou-se um grande Trono Branco
mais vasto que qualquer montanha, velado em deslumbrante luz dourada. Um
estranho fato ligado a esta visão é que o estudante a quem esta experiência
ocorreu está inteiramente desfamiliarizado com as Escrituras Cristãs, e não era
ciente de qualquer texto que pudesse ter alguma influência no que vira. Eu lhe
perguntei se poderia repetir esta experiência à vontade; ele não o sabia, mas
mais tarde ele tentou o experimento, e conseguiu novamente passar através
daqueles estágios na mesma ordem, dando alguns detalhes adicionais da
paisagem estrangeira que me provaram que isto não era meramente uma
proeza da memória; e desta vez o atemorizado vidente sussurrou que em meio
às fulgurâncias daquela luz ele uma vez teve um fugaz vislumbre do contorno
de uma Poderosa Figura que assentava-Se no Trono. Isto também, diríamos,
poderia ser uma forma-pensamento, construída por algum Cristão de
imaginação vívida; mas quando alguns dias depois surgiu uma oportunidade, e
eu perguntei a um Sábio qual o significado que poderíamos associar a tal
visão, Ele replicou:
“Você não vê que, já que só existe Um Amor, então só existe Uma Beleza? O
que quer que seja formoso, em qualquer plano, o é somente porque se
remontamos muito acima, sua conexão se torna manifesta. Toda a Beleza é de
Deus, assim como todo o Amor é de Deus; e através deles, Suas Qualidades, o
puro de coração pode sempre alcançá-lo.”
Não obstante, o que ele fez com tão marcado sucesso pode seguramente ser
copiado em alguma medida por outros menos dotados. Ele desdobrou sua
consciência num plano que normalmente não é atingido por aspirantes; lá ele
está construindo rapidamente para si um veículo muito capaz e valioso – pois
este é o significado da persistência sempre crescente da sensação de
felicidade e poder. Que esta é uma linha definida de progresso, e não um mero
exemplo isolado, é evidenciado pelo fato de que mesmo já o desenvolvimento
búdico anormal está produzindo seu efeito sobre os corpos causal e mental
aparentemente negligenciados, estimulando-os à atividade de cima em vez de
deixá-los ser influenciados laboriosamente a partir de baixo como o usual. Todo
este sucesso é resultado de contínuo esforço ao longo da linha que eu
descrevi.
“Ide e fazei o mesmo”. Nenhum mal pode advir a qualquer homem derivado de
um esforço diligente para aumentar seu poder de amar, seu poder de devoção,
e de seu poder de apreciar a beleza; e com tal esforço é possível pelo menos
que ele possa atingir um progresso com que sequer sonhou. Somente seja
lembrado que, neste caminho como em qualquer outro, o crescimento é
conseguido só por quem o deseja não só por si, mas por amor ao serviço. O
esquecimento do eu e um ávido desejo de ajudar os outros são as mais
proeminentes características no estudante cuja história interior eu contei aqui;
estas características devem ser igualmente proeminentes em qualquer um que
aspire seguir seu exemplo; sem elas nenhuma consumação semelhante é
possível.
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