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CEDERJ
CONSTRUINDO A ORTODOXIA:
POLO RESENDE
Resende-RJ
2021
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CEDERJ
CONSTRUINDO A ORTODOXIA:
POLO RESENDE
Resende-RJ
2021
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Sumário
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA____________________________________________ 6
3 OBJETIVOS__________________________________________________________ 11
4 FONTES E METODOLOGIA___________________________________________ 12
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS_____________________________________ 15
4
No contexto histórico no qual está inserida a Igreja romana e toda a sua importância
para as sociedades medievais, não seria de se estranhar que decorressem conflitos e disputas de
poder ou, basicamente, desentendimentos de forma e conteúdo2 que ganhassem tais dimensões
que extrapolassem o controle e a normalidade aceitáveis, considerando para tal os seus próprios
entendimentos e limites sobre os assuntos de seu maior interesse. Dessa forma, a questão da
heresia enquanto fenômeno histórico e social3, surge como um tema central no qual a Igreja foi
obrigada a envidar esforços dos mais variados graus – inclusive violentos - com o objetivo de
manter-se íntegra ou até mesmo intocável, posto que considerava-se como única herdeira dos
ensinamentos de Cristo e da delegação divina dos poderes espiritual e temporal.
O tema deste trabalho está centrado no estudo das heresias e sua relação direta com
a ortodoxia inventada da Igreja romana no contexto histórico do medievo, notadamente
analisadas sob as fontes dos Concílios Lateranenses, ocorridos nos séculos XII e XIII, na cidade
de Latrão, Itália. Dessa forma, o presente trabalho pretende realizar uma pesquisa sobre o tema
“Construindo a Ortodoxia: as Heresias nos Concílios Lateranenses nos Séculos XII e XIII” a
partir das contribuições da História das Religiões, de modo a estudar as heresias no contexto da
crise da religiosidade e da Reforma da Igreja – intensificada desde o século XI -, bem como
analisar o discurso dominante de poder da instituição papal no referido período em
1
BARROS, José D’Assunção. Heresias na Idade Média: Considerações sobre as Fontes e Discussão
historiográfica. p.4.
2
Vamos considerar como forma e conteúdo as observações de Barros (2010, p. 7), em que este reproduz os “dois
filões de heresias”: primeiro, no que se considera relativo à forma, a intenção de pregar o Evangelho por aqueles
que viviam a vita apostolica como um pretenso direito (pregações não-autorizadas), e em segundo lugar, os
questionamentos aos fundamentos dogmáticos impostos pela Igreja. Notemos que enquanto o primeiro não discute
a doutrina católica em si, o segundo confronta-se com esta.
3
Idem, p. 4.
5
Com efeito, é preciso partir do princípio de que a história das religiões não é o
mesmo que história religiosa ou eclesiástica, de modo que o seu objeto é mais abrangente e
deve afastar-se de qualquer influência ou dominação que ponha em suspeição o objeto que se
pretende pesquisar. Como bem destaca Sérgio da Mata, “[…] a história das religiões se
diferencia da história eclesiástica em três aspectos fundamentais: ela é autônoma como
disciplina, multicultural na percepção do seu objeto e agnóstica em sua forma de abordá-lo.”
(MATA, 2010, p. 20).
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Nos dizeres do célebre professor José D’Assunção Barros, a “[...] a ideia de uma
Revisão Bibliográfica é enunciar alguns ‘interlocutores’ com os quais você travará o seu
diálogo historiográfico e científico.” (BARROS, 2015, p. 54-55), portanto, em que pese a
existência de vários outros autores e obras de destaque, optamos pelas cinco abaixo descritas,
como forma de apresentar um apanhado geral que permita entender a nossa pesquisa de forma
coerente e o mais inteligível possível.
O historiador acima mencionado introduz a sua obra com uma afirmação bastante
instigante para um pesquisador, notadamente acerca dos séculos XII e XIII, in verbis, “os
séculos XII e XIII poderiam ser chamados de séculos heréticos, caso pudéssemos olhar a
história de uma época ou período sob um único prisma, ou seja, o da história da Igreja
Ocidental.” (FALBEL, 1976, p. 13, grifo nosso). Diante dessa afirmação, podemos perceber a
dimensão do período acima mencionado para a história do Cristianismo e da Igreja ocidental
institucionalizada, pois, a partir daí, clarificam as questões relacionadas à heresia e à ortodoxia,
dado que o homem mais consciente e capaz de entender o ambiente que o cerca começa a
7
questionar, a partir de novos repertórios culturais, os preceitos morais e doutrinais que lhes
eram impostos, forçando – mesmo que de forma incipiente – a própria Igreja a revisar seus
preceitos em um movimento reagente que buscava manter o seu poder dominante por meio do
seu discurso existencial. Os próprios Concílios Lateranenses fazem parte dessa força
reacionária por meio dos seus cânones e decretos.
A Reforma da Igreja, por fim, surge como uma resposta ao que Brenda Bolton
denomina de “a crise religiosa do Século XII” (BOLTON, 1983, p. 19). Dentre as raízes da
crise destacadas pela historiadora, encontram-se aquilo que “[…] se considerava errado na
Igreja e sobre o que era ineficaz na posição do papa no mundo [...]” (BOLTON, 1983, p. 20).
Além disso, há que se assimilar o fato de que ocorria uma nova e crescente conscientização do
que significava ser cristão, pois o homem comum passava a ter uma maior importância e voltava
a desejar e promover a pregação dos tempos dos apóstolos (BOLTON, 1983, p. 24).
antagônicas e que se revelaram importantes por determinado período, mas que, segundo os
autores, não se sustentaram diante de um rigor histórico e analítico mais atual, sem influências
próprias anteriormente defendidas pelo historiador francês Augustin Fliche – católico -, bem
como a contestação/revisão de sua posição pelo historiador alemão Gerd Tellenbach, por
exemplo.
Este artigo deu vazão à produção historiográfica de Leandro Duarte Rust, atual
professor do Departamento de História da UnB, notadamente nas obras que pretendemos
estudar mais a fundo, como, por exemplo: Colunas de São Pedro: a política papal na Idade
Média Central, de 2011, e A Reforma Papal (1050-1150), publicada em 2013, nas quais o autor
aprofunda ainda mais a discussão sobre a Reforma Gregoriana e sua necessária revisão
conceitual. Não que este seja o tema principal de nossa pesquisa, mas sua tratativa surge como
um assunto de inevitável abordagem para entendimento e contextualização do período e das
relações políticas da Igreja na Idade Média, e que por vezes direcionou a maior parte dos
esforços da sua cúpula em detrimento do combate às heresias.
Vale destacar, com isso, que a nossa pesquisa, que será materializada em nosso
TCC, inevitavelmente deverá abordar cada um dos Concílios, seu contexto, circunstâncias
específicas, integrantes, papas etc, de modo a permitir um entendimento daqueles que o leiam
sobre o seu significado historiográfico e sua relação com a problemática proposta para
discussão e posicionamento.
aspirações de natureza proselitista. […]” (MATA, 2010, p. 18). Com efeito, é preciso entender
que a história das religiões não é a mesma coisa que a história religiosa ou eclesiástica, de modo
que o seu objeto é mais abrangente e deve afastar-se de qualquer influência ou dominação que
ponha em suspeição o objeto que se pretende pesquisar. Como bem destaca Sérgio da Mata,
“[…] a história das religiões se diferencia da história eclesiástica em três aspectos
fundamentais: ela é autônoma como disciplina, multicultural na percepção do seu objeto e
agnóstica em sua forma de abordá-lo.” (MATA, 2010, p. 20). Ao analisarmos mais
especificamente o objeto de pesquisa, podemos identificar na História das Religiões um
enquadramento teórico que permite balizar as interpretações sobre os Concílios Lateranenses
dos séculos XII e XIII, enquanto aparato normativo-institucional da Igreja romana e sua relação
direta com a construção dos conceitos de heresia e do herético, como forma de manter a sua
dominação política, sua riqueza e privilégios numa sociedade subjugada pela religião e da
violência tanto externa quanto interna corporis. Sérgio da Mata (2010, p. 23), lembra-nos muito
bem que a Igreja não cuidou única e exclusivamente da fé, da santidade e da salvação, posto
que sua atuação ia muito além disso, ou seja, interessava-se, fundamentalmente, pela política e
até mesmo pela sexualidade.
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3 OBJETIVOS
Este trabalho, com a ajuda da análise de discurso, tem por objetivos específicos:
4 FONTES E METODOLOGIA
1. Lateranense I: http://www.intratext.com/IXT/ENG0059/;
Outras abordagens historiográficas serão feitas com base em obras clássicas e que
temos em nosso poder, tais como: do professor Nachman Faubel (1976), Heresias Medievais;
de Brenda Bolton (1983), A Reforma na Idade Média; de Jérôme Bâschet (2006), A Civilização
Feudal; de Peter Brown (1999), A Ascensão do Cristianismo no Ocidente; entre outras, e mais
recentes, como: Monique Zerner (2009), Inventar a Heresia?; Leandro Rust (2013), A Reforma
Papal (1050 - 1150); José D’Assunção Barros (2012), Papas, Imperadores e Hereges na Idade
Média; Andréia Frazão (2009), artigo A Luta entre o Regnum et Imperium e a Construção da
Ecclesia Universalis4; Chris Wickham (2019), Europa Medieval; Antonio García y García
(2005), Historia Del Concilio IV Lateranense de 1215; entre outras. Esse material procede de
livros físicos que, em sua maioria, se encontram em nossas mãos, bem como livros, artigos,
4
FRAZÃO, A. A Luta entre o Regnum et Imperium e a Construção da Ecclesia Universalis. Disponível em:
https://www.academia.edu/30753204/_2009_SILVA_A_C_L_F_A_luta_entre_o_regnum_et_imperium_e_a_co
nstru%C3%A7%C3%A3o_da_ecclesia_universalis_uma_an%C3%A1lise_comparativa_dos_conc%C3%ADlios.
13
Vislumbra-se, dessa forma, a abordagem das fontes com destaque para a análise dos
cânones que se relacionam com a temática da heresia e da ortodoxia estabelecida pela Igreja.
Essa abordagem terá como norte uma sistemática simples de análise ordenada dos quatro
Concílios Lateranenses, de modo que possamos estabelecer uma visão crítica e evolutiva a cada
apresentação que se fizer destes. Os Concílios seriam, de forma bem objetiva e simples, aquelas
“assembleias de prelados católicos em que se tratam assuntos dogmáticos, doutrinários ou
disciplinares.” 5. Foram quatro os Concílios Lateranenses ocorridos entre os séculos XII e XIII.
Tais Concílios, denominados de universais pela tradição eclesiástica, por serem convocados e
presididos pelo papa e contarem com a participação de várias dioceses, ocorreram entre os
séculos XII e XIII. O Primeiro Concílio – com seus 22 cânones -, ocorrido no ano de 1123,
centrou suas resoluções na Questão das Investiduras6. O Segundo – com 30 cânones -, no ano
de 1139, tratou de um cisma e condenou a heresia de Arnoldo de Bréscia7. O Terceiro – com 27
cânones -, sob o pontificado de Alexandre III, no ano de 1179, além de iniciar uma ampla
reforma, serviu para ratificar o acordo com Frederico Barba-Ruiva8. O Quarto e último Concílio
de Latrão produziu 70 cânones, convocado por Inocêncio III, no ano de 1216, foi considerado
5
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. 8ª ed. rev. atual.
Curitiba: Positivo, 2010, p. 184.
6
“A Questão das Investiduras foi o conflito que envolveu a Igreja e o Sacro Império Romano-Germânico durante
os séculos XI e XII, e que questionava a supremacia do Poder Temporal sobre o Espiritual, ou a supremacia
do poder do Imperador sobre o dos eclesiásticos.”. Disponível em:
https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-geral/questao-das-investiduras. Acesso em 25 ago 2020.
7
“Arnaldo de Bréscia entrou para a história da Idade Média como herege, cônego e político italiano. Erudito,
realizou parte de seus estudos nas escolas de Paris, tendo como mestre Pedro Abelardo.” Disponível em:
https://www.prp.unicamp.br/pibic/congressos/xxcongresso/paineis/105354.pdf . Acesso em 25 ago 2020.
8
Frederico Barba-Ruiva ou Barba-Roxa, imperador do Sacro Império Romano-Germânico. A pedido do papa
Adriano IV, foi para a Itália com o propósito de libertar Roma do poder de Arnaldo da Bréscia. Após capturar
Arnaldo foi proclamado imperador pelo papa (1155). Com o objetivo de estabelecer o domínio germânico na
Europa ocidental, invadiu e conquistou Milão, e, desafiando a autoridade papal convocou a Dieta de
Roncaglia. Apoiou a nomeação de um antipapa (1159), Vítor IV, em oposição ao papa legítimo, Alexandre III.
Foi obrigado mais tarde a reconhecer a legitimidade deste último papa e assinar a paz de Veneza. Disponível
em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/frederico-i-barba-roxa.htm. Acesso em 25 ago 2020.
14
o maior deles e o mais importante, pois tratou de uma reforma moral e de doutrinal, além da
questão da supressão das heresias (LOYN, 1997, p. 233).
15
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS, José D'Assunção. Papas, Imperadores e Hereges na Idade Média. Petrópolis: Vozes, 2012, p. 214.
BASCHET, Jérôme. A Igreja, Instituição Dominante do Feudalismo. In.: ______. A Civilização Feudal: do
Ano 100 à Colonização da América. São Paulo: Globo, 2006, p. 167-246.
BROWN, Peter. Cristianismo e Império. In.: ___. A Ascensão do Cristianismo no Ocidente. Lisboa: Presença,
1999, p. 36-51.
FOREVILLE, Raymonde de. Latran I, II, III et Latran IV. Paris: Éditions de L'Orante, 1965, p. 420.
_________________. A verdade e as formas jurídicas. 4ª ed., Rio de Janeiro: NAU, 2013, p. 151.
GARCÍA Y GARCÍA, Antonio. História Del Concilio IV Lateranense de 1215. Salamanca, España:
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MATA, Sérgio da. A Religião como Objeto: da História Eclesiástica à História das Religiões. In.: História &
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RUST, Leandro Duarte. A monarquia papal (1000-1300): a fundação de um conceito. Tempo, Dez 2015, vol.
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_________________. Colunas de São Pedro: a política papal na Idade Média Central. São Paulo: Annablume.
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_________________. Reforma na Idade Média, Memória da Igreja Romana: ou sobre como vigiar as
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SILVA, Andréia Cristina L. F. da. A Luta entre o Regnum et Imperium e a Construção da Ecclesia
Universalis: uma Análise Comparativa dos Concílios Lateranenses (1123-1215). In.: SILVA, Francisco Carlos
16
Teixeira da.; et al. Impérios na História. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. cap. 8, p. 95-105.
ZERNER, Monique et al. Heresia. In.: LE GOFF, Jacques e SCHMITT, Jean-Claude (Orgs.) Dicionário
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________________. Inventar a Heresia?: Discursos polêmicos e poderes antes da Inquisição. 1. ed. Campinas,
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