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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CEDERJ

LICENCIATURA EM HISTÓRIA – EaD

CONSTRUINDO A ORTODOXIA:

as Heresias nos Concílios Lateranenses dos séculos XII e XIII.

EDUARDO JORGE CHÍXARO SARRAFF DE REZENDE – 1821609069

POLO RESENDE

Resende-RJ

2021
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CEDERJ

LICENCIATURA EM HISTÓRIA – EaD

CONSTRUINDO A ORTODOXIA:

as Heresias nos Concílios Lateranenses dos séculos XII e XIII.

EDUARDO JORGE CHÍXARO SARRAFF DE REZENDE – 1821609069

POLO RESENDE

Anteprojeto de pesquisa apresentado ao


Curso de Licenciatura em História (Modalidade à Distância) UNIRIO/CEDERJ
como requisito parcial para a aprovação na disciplina de
Metodologia da Pesquisa História

Resende-RJ

2021
3

Sumário

1 APRESENTAÇÃO E DELIMITAÇÃO DO TEMA DE PESQUISA______________ 4

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA____________________________________________ 6

3 OBJETIVOS__________________________________________________________ 11

3.1 Objetivo geral_______________________________________________________ 11

3.2 Objetivos específicos__________________________________________________ 11

4 FONTES E METODOLOGIA___________________________________________ 12

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS_____________________________________ 15
4

1 APRESENTAÇÃO E DELIMITAÇÃO DO TEMA DE PESQUISA

A Ortodoxia da Igreja romana durante a sua existência como Instituição em


constante construção, notadamente no período compreendido entre os séculos IV e XV, serviu
de base para as ações e reações do seu corpo de mandatários, seja para estabelecer suas diretrizes
ou para confirmar perante os integrantes do seu clero o seu corpus doutrinário e jurídico. Com
efeito, a Ortodoxia deve ser entendida, como destacada José D’Assunção Barros1, como uma
referência baseada em “um pensamento fundador original” do que podemos extrair que a
heterodoxia seria toda e qualquer consideração que se contraponha àqueles fundamentos
estabelecidos ou que sejam considerados como tal a posteriori, como, por exemplo, em um dos
seus cânones, bulas papais, tratados anti-heréticos etc.

No contexto histórico no qual está inserida a Igreja romana e toda a sua importância
para as sociedades medievais, não seria de se estranhar que decorressem conflitos e disputas de
poder ou, basicamente, desentendimentos de forma e conteúdo2 que ganhassem tais dimensões
que extrapolassem o controle e a normalidade aceitáveis, considerando para tal os seus próprios
entendimentos e limites sobre os assuntos de seu maior interesse. Dessa forma, a questão da
heresia enquanto fenômeno histórico e social3, surge como um tema central no qual a Igreja foi
obrigada a envidar esforços dos mais variados graus – inclusive violentos - com o objetivo de
manter-se íntegra ou até mesmo intocável, posto que considerava-se como única herdeira dos
ensinamentos de Cristo e da delegação divina dos poderes espiritual e temporal.

O tema deste trabalho está centrado no estudo das heresias e sua relação direta com
a ortodoxia inventada da Igreja romana no contexto histórico do medievo, notadamente
analisadas sob as fontes dos Concílios Lateranenses, ocorridos nos séculos XII e XIII, na cidade
de Latrão, Itália. Dessa forma, o presente trabalho pretende realizar uma pesquisa sobre o tema
“Construindo a Ortodoxia: as Heresias nos Concílios Lateranenses nos Séculos XII e XIII” a
partir das contribuições da História das Religiões, de modo a estudar as heresias no contexto da
crise da religiosidade e da Reforma da Igreja – intensificada desde o século XI -, bem como
analisar o discurso dominante de poder da instituição papal no referido período em

1
BARROS, José D’Assunção. Heresias na Idade Média: Considerações sobre as Fontes e Discussão
historiográfica. p.4.
2
Vamos considerar como forma e conteúdo as observações de Barros (2010, p. 7), em que este reproduz os “dois
filões de heresias”: primeiro, no que se considera relativo à forma, a intenção de pregar o Evangelho por aqueles
que viviam a vita apostolica como um pretenso direito (pregações não-autorizadas), e em segundo lugar, os
questionamentos aos fundamentos dogmáticos impostos pela Igreja. Notemos que enquanto o primeiro não discute
a doutrina católica em si, o segundo confronta-se com esta.
3
Idem, p. 4.
5

contraposição ao poder temporal. Com isso, vislumbra-se interpretar o fenômeno político-social


da ficcionalização da heresia nos Concílios Lateranenses em diálogo direto com as abordagens
historiográficas disponíveis e que buscam deslindar o fenômeno histórico sobre o tema, assim
como entender a sua estreita relação com a pretendida ortodoxia tratada pela Igreja romana
durante os séculos XII e XIII. Vale destacar que a orientação sobre a análise do discurso aqui
proposta pretende ter por base as considerações e a metodologia defendidas pelo filósofo
francês Michel Foucault, especialmente na obra “A Ordem do Discurso”. Com efeito, há que
se considerar que as fontes a serem analisadas devem ser interpretadas de forma bastante
criteriosa e crítica, pois a elaboração dos cânones dos Concílios Lateranenses, por exemplo,
advém justamente da Igreja, o que nos permite entender como manifestações religiosas válidas,
embora sempre alertas, à desconfiança necessária aos discursos que tal instituição produziu
sobre si mesma.

Com efeito, é preciso partir do princípio de que a história das religiões não é o
mesmo que história religiosa ou eclesiástica, de modo que o seu objeto é mais abrangente e
deve afastar-se de qualquer influência ou dominação que ponha em suspeição o objeto que se
pretende pesquisar. Como bem destaca Sérgio da Mata, “[…] a história das religiões se
diferencia da história eclesiástica em três aspectos fundamentais: ela é autônoma como
disciplina, multicultural na percepção do seu objeto e agnóstica em sua forma de abordá-lo.”
(MATA, 2010, p. 20).

Este trabalho intenciona debruçar-se, portanto, sobre o tema da heresia e, mais


especificamente, como ela foi tratada nos quatro Concílios Lateranenses entre os séculos XII e
XIII. Vale mencionar aqui que a abordagem inevitável sobre a questão da Reforma da Igreja
como instrumento de adequação às demandas existentes à época, modificaram, de forma
profunda e de ampla duração, pontos importantes de sua estrutura institucional sob o ponto de
vista político, social e eclesiástico. Além disso, a crise de religiosidade, a emergência das
universidades, a expansão demográfica e urbana, fazem parte de uma análise mais profunda
que envolve o tema e que devem servir de base para a escrita da nossa pesquisa.
6

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A revisão bibliográfica aqui proposta pretende delinear os aspectos gerais que


nortearão o nosso trabalho de pesquisa. Dessa forma, afigura-se para nós como uma base na
qual fincaremos as primeiras estacas do conhecimento geral do tema a que nos propomos
desenvolver.

Nos dizeres do célebre professor José D’Assunção Barros, a “[...] a ideia de uma
Revisão Bibliográfica é enunciar alguns ‘interlocutores’ com os quais você travará o seu
diálogo historiográfico e científico.” (BARROS, 2015, p. 54-55), portanto, em que pese a
existência de vários outros autores e obras de destaque, optamos pelas cinco abaixo descritas,
como forma de apresentar um apanhado geral que permita entender a nossa pesquisa de forma
coerente e o mais inteligível possível.

A obra do professor Nachman Falbel (1976), Heresias Medievais, considerada


clássica para a historiografia brasileira, na qual Falbel apresenta-nos as considerações
historiográficas preliminares sobre heresias no medievo, diferenciando-as das primeiras
heresias de caráter filosófico e teológico. Como se vê, sua forma explicativa de tratar as heresias
deve servir para iniciar a pesquisa sobre o tema, na medida em que enquadra muito bem o
conceito e o contexto das heresias medievais diante de uma Igreja romana que visava combater
aqueles que não seguiam a sua pretensa ortodoxia.

Insta destacar que as primeiras considerações sobre heresias baseavam-se,


principalmente, nos dogmas e princípios cristãos, mais especificamente no tocante à questão da
Trindade, ao argumento centrado na divindade e nas naturezas humana e divina do Cristo. Já
as heresias nos séculos XII e XIII, que nos interessam neste trabalho, tinham um caráter mais
popular e intentavam uma visão modificada da Igreja enquanto instituição e do Cristianismo
em si como religião predominante no ocidente (FALBEL, 1976, p.13).

O historiador acima mencionado introduz a sua obra com uma afirmação bastante
instigante para um pesquisador, notadamente acerca dos séculos XII e XIII, in verbis, “os
séculos XII e XIII poderiam ser chamados de séculos heréticos, caso pudéssemos olhar a
história de uma época ou período sob um único prisma, ou seja, o da história da Igreja
Ocidental.” (FALBEL, 1976, p. 13, grifo nosso). Diante dessa afirmação, podemos perceber a
dimensão do período acima mencionado para a história do Cristianismo e da Igreja ocidental
institucionalizada, pois, a partir daí, clarificam as questões relacionadas à heresia e à ortodoxia,
dado que o homem mais consciente e capaz de entender o ambiente que o cerca começa a
7

questionar, a partir de novos repertórios culturais, os preceitos morais e doutrinais que lhes
eram impostos, forçando – mesmo que de forma incipiente – a própria Igreja a revisar seus
preceitos em um movimento reagente que buscava manter o seu poder dominante por meio do
seu discurso existencial. Os próprios Concílios Lateranenses fazem parte dessa força
reacionária por meio dos seus cânones e decretos.

Brenda Bolton (1983), em A Reforma na Idade Média, considerada clássica sobre


o tema, apresenta-nos uma linguagem bastante simples e direta e que nos permite entender em
toda a sua plenitude a chamada reforma Gregoriana do século XI. Desde o movimento interno
na Igreja e sua reação à simonia e o nicolaísmo, até a interferência laica na nomeação episcopal
e que tanto incomodava a cúpula da Sé romana. Destacamos nessa obra as suas considerações
sobre o século XII, pois este surge como um período importante para a humanidade com o
desenvolvimento dos centros urbanos, crescimento demográfico, criação das universidades e o
progresso das escolas urbanas, e tudo isso acarretou à Igreja a necessidade crescente de reagir
às objeções que lhes eram impostas através das armas de que dispunha, dentre as quais podemos
destacar os cânones decorrentes dos Concílios Lateranenses e também os anátemas, por
exemplo.
Tal período de desenvolvimento é comumente denominado de Renascimento do
século XII. Bolton considera como justificável a terminologia “Renascimento do Século XII”
diante das circunstâncias e características desse período, em que havia “uma crescente tomada
de consciência da História e suas perspectivas e estavam impregnadas de uma tal atmosfera de
renovação e renascimento que justificam a denominação de Renascimento do Século XII.”
(BOLTON, 1983, p. 13).

A Reforma da Igreja, por fim, surge como uma resposta ao que Brenda Bolton
denomina de “a crise religiosa do Século XII” (BOLTON, 1983, p. 19). Dentre as raízes da
crise destacadas pela historiadora, encontram-se aquilo que “[…] se considerava errado na
Igreja e sobre o que era ineficaz na posição do papa no mundo [...]” (BOLTON, 1983, p. 20).
Além disso, há que se assimilar o fato de que ocorria uma nova e crescente conscientização do
que significava ser cristão, pois o homem comum passava a ter uma maior importância e voltava
a desejar e promover a pregação dos tempos dos apóstolos (BOLTON, 1983, p. 24).

Em destacado artigo, A Reforma Gregoriana: trajetórias historiográficas de um


conceito. História da historiografia, os autores Andréia Frazão da Silva e Leandro Duarte Rust
apresentam e discutem muito bem o conceito da chamada Reforma Gregoriana e suas diversas
análises pela historiografia ocorridas desde o início século XX, confrontando posições
8

antagônicas e que se revelaram importantes por determinado período, mas que, segundo os
autores, não se sustentaram diante de um rigor histórico e analítico mais atual, sem influências
próprias anteriormente defendidas pelo historiador francês Augustin Fliche – católico -, bem
como a contestação/revisão de sua posição pelo historiador alemão Gerd Tellenbach, por
exemplo.

Ao analisarmos esse artigo científico, vemos o início do posicionamento do


historiador Rust no sentido de revisar o conceito sobre o que a historiografia convencionou
denominar de Reforma Gregoriana. Essa denominação decorre da influência de Augustin Fliche
em sua mais famosa obra, La Reforme Grégorienne, publicada originariamente na década de
1920, na qual o autor francês enaltece as medidas tomadas pela cúpula da Sé romana no sentido
de combater, principalmente, o nicolaísmo e a simonia dentro da Igreja, além de tentar deter as
interferências laicas na nomeação de bispos. Tais medidas seriam como que um movimento
articulado e proposital, chegando a ser considerado como um verdadeiro “partido gregoriano”
que perdurou em Roma por décadas, a ponto de escolher os sucessores de Pedro, ou seja, os
papas.

Este artigo deu vazão à produção historiográfica de Leandro Duarte Rust, atual
professor do Departamento de História da UnB, notadamente nas obras que pretendemos
estudar mais a fundo, como, por exemplo: Colunas de São Pedro: a política papal na Idade
Média Central, de 2011, e A Reforma Papal (1050-1150), publicada em 2013, nas quais o autor
aprofunda ainda mais a discussão sobre a Reforma Gregoriana e sua necessária revisão
conceitual. Não que este seja o tema principal de nossa pesquisa, mas sua tratativa surge como
um assunto de inevitável abordagem para entendimento e contextualização do período e das
relações políticas da Igreja na Idade Média, e que por vezes direcionou a maior parte dos
esforços da sua cúpula em detrimento do combate às heresias.

Outro artigo, A Luta entre o Regnum et Imperium e a Construção da Ecclesia


Universalis: uma Análise Comparativa dos Concílios Lateranenses (1123-1215), de Andréia
Cristina L. Frazão da Silva (2009), embora curto, apresenta-nos uma descrição sobre os
Concílios Lateranenses de grande importância para a nossa pesquisa, destaca de forma
cronológica e delineia as medidas gerais deles decorrentes, o que nos permite entender o
envolvimento da Igreja nessas assembleias conciliares e as decisões que se materializaram nos
respectivos cânones.

Os Concílios Lateranenses ocorreram entre os séculos XII e XIII. O Lateranense I,


ocorrido no ano de 1123, convocado e presidido pelo papa Calisto II, centrou suas resoluções
9

no objetivo de eliminar a intervenção de leigos nos assuntos considerados eclesiásticos, tratando


sobre questões de ordem econômica, medidas contra a simonia e o nepotismo, dedicou alguns
cânones de orientação aos clérigos e, também, à moral sexual destes. O Lateranense II, no ano
de 1139, convocado e presidido por Inocêncio II, buscou, em suma, reafirmar a unidade, a
autoridade e institucionalidade da Igreja, além de tratar de vários outros assuntos pertinentes
aos clérigos, tais como ordenações, casamentos, benefícios doados por leigos, eleição de bispos,
regulamento das ordens femininas etc. O Lateranense III, sob o pontificado de Alexandre III,
no ano de 1179, buscou combater mais um cisma e as heresias que estavam em expansão. Nesse
sentido, regulamenta a eleição papal e busca impedir a intervenção laica no estabelecimento de
clérigos nas igrejas, impede que judeus e muçulmanos tenham escravos cristãos, mas protege
os bens de judeus convertidos, além de vários outros assuntos. O Lateranense IV, convocado
pelo papa Inocêncio III, no ano de 1215, foi considerado o maior deles e o mais importante,
pois tratou de uma reforma moral e doutrinal da Igreja, bem como a adoção de um novo projeto
jurídico-canônico com a participação inédita de juristas na sua elaboração, legislando sobre
questões civis e estabelecendo medidas de controle social. Tratou ainda das heresias, da
confissão e da comunhão anual, entre outros vários assuntos (SILVA, 2009, p. 99-104).

Vale destacar, com isso, que a nossa pesquisa, que será materializada em nosso
TCC, inevitavelmente deverá abordar cada um dos Concílios, seu contexto, circunstâncias
específicas, integrantes, papas etc, de modo a permitir um entendimento daqueles que o leiam
sobre o seu significado historiográfico e sua relação com a problemática proposta para
discussão e posicionamento.

Com o intuito de estabelecer uma introdução e um embasamento teórico na História


das Religiões, trouxemos à discussão as considerações de Sérgio da Mata (2010), em História
& Religião. Ao entendermos que a História das Religiões visa a compreensão e o aclaramento
da religião e suas estreitas ligações com a sociedade e a cultura existentes em pleno acordo com
a sua respectiva época, podemos partir desse princípio fundamental para analisar toda a história
que envolve as questões oriundas de tais relações. Vale destacar, no entanto, que a religião
institucionalizada e produtora de seus discursos existenciais e de poder deve ser motivo de –
pelo menos em um primeiro momento - desconfiança para o historiador no que tange à
interpretação que se deve fazer daquilo que dela emana, haja vista que todo o estudo e pesquisa
voltados para qualquer campo das ciências sociais, notadamente da História das Religiões que
aqui nos interessa nesse momento, deve sempre ter uma base interpretativa de caráter crítico e
reflexivo, ou seja, “[…] teoricamente fundamentado, não confessional e sem quaisquer
10

aspirações de natureza proselitista. […]” (MATA, 2010, p. 18). Com efeito, é preciso entender
que a história das religiões não é a mesma coisa que a história religiosa ou eclesiástica, de modo
que o seu objeto é mais abrangente e deve afastar-se de qualquer influência ou dominação que
ponha em suspeição o objeto que se pretende pesquisar. Como bem destaca Sérgio da Mata,
“[…] a história das religiões se diferencia da história eclesiástica em três aspectos
fundamentais: ela é autônoma como disciplina, multicultural na percepção do seu objeto e
agnóstica em sua forma de abordá-lo.” (MATA, 2010, p. 20). Ao analisarmos mais
especificamente o objeto de pesquisa, podemos identificar na História das Religiões um
enquadramento teórico que permite balizar as interpretações sobre os Concílios Lateranenses
dos séculos XII e XIII, enquanto aparato normativo-institucional da Igreja romana e sua relação
direta com a construção dos conceitos de heresia e do herético, como forma de manter a sua
dominação política, sua riqueza e privilégios numa sociedade subjugada pela religião e da
violência tanto externa quanto interna corporis. Sérgio da Mata (2010, p. 23), lembra-nos muito
bem que a Igreja não cuidou única e exclusivamente da fé, da santidade e da salvação, posto
que sua atuação ia muito além disso, ou seja, interessava-se, fundamentalmente, pela política e
até mesmo pela sexualidade.
11

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

O presente trabalho objetiva realizar uma pesquisa sobre o tema “Construindo a


Ortodoxia: as Heresias nos Concílios Lateranenses (Séculos XII e XIII)”, a partir das
contribuições da História das Religiões, de modo a estudar as heresias no contexto da crise da
religiosidade e da Reforma da Igreja ocorrida no decorrer dos séculos XII e XIII.

3.2 Objetivos específicos

Este trabalho, com a ajuda da análise de discurso, tem por objetivos específicos:

- Analisar o fenômeno político-social da ficcionalização da heresia nos Concílios


Lateranenses; e

- Refletir sobre as análises historiográficas acerca da produção social e do fenômeno


histórico que cerca a heresia enquanto discurso de poder dominante, considerada para tal a
pretendida ortodoxia da Igreja romana durante os séculos XII e XIII.
12

4 FONTES E METODOLOGIA

Para a realização desta pesquisa, utilizaremos as fontes disponíveis sobre os


Concílios Lateranenses em língua francesa, bem como a bibliografia considerada clássica e a
mais atual sobre o tema e até agora consultadas - sejam elas em livros físicos e/ou artigos
disponibilizados na internet que versem sobre o tema -, as quais listaremos abaixo, constituindo
estas importantes fontes já tratadas, a serem estudadas de forma mais aprofundada, notadamente
no que concerne às diversas posições historiográficas, sejam elas divergentes ou não, o que nos
permitirá problematizar mais adequadamente. Dessa forma, o presente projeto terá por base
analítica tanto fontes ditas primárias quanto secundárias, embora consideremos que tal divisão
não soa de forma mais adequada.

Os cânones decorrentes dos Concílios Lateranenses serão analisados em sua versão


em língua francesa, notadamente na obra de Raymonde Foreville (1965), intitulada Latran I, II,
III et Latran IV. Na versão em língua inglesa, temos a consulta às fontes disponibilizadas na
internet nos seguintes sítios:

1. Lateranense I: http://www.intratext.com/IXT/ENG0059/;

2. Lateranense II: http://www.intratext.com/IXT/ENG0065/_INDEX.HTM;

3. Lateranense III: http://www.intratext.com/ixt/eng0064/; e

4. Lateranense IV: http://www.intratext.com/X/ENG0431.htm.

Outras abordagens historiográficas serão feitas com base em obras clássicas e que
temos em nosso poder, tais como: do professor Nachman Faubel (1976), Heresias Medievais;
de Brenda Bolton (1983), A Reforma na Idade Média; de Jérôme Bâschet (2006), A Civilização
Feudal; de Peter Brown (1999), A Ascensão do Cristianismo no Ocidente; entre outras, e mais
recentes, como: Monique Zerner (2009), Inventar a Heresia?; Leandro Rust (2013), A Reforma
Papal (1050 - 1150); José D’Assunção Barros (2012), Papas, Imperadores e Hereges na Idade
Média; Andréia Frazão (2009), artigo A Luta entre o Regnum et Imperium e a Construção da
Ecclesia Universalis4; Chris Wickham (2019), Europa Medieval; Antonio García y García
(2005), Historia Del Concilio IV Lateranense de 1215; entre outras. Esse material procede de
livros físicos que, em sua maioria, se encontram em nossas mãos, bem como livros, artigos,

4
FRAZÃO, A. A Luta entre o Regnum et Imperium e a Construção da Ecclesia Universalis. Disponível em:
https://www.academia.edu/30753204/_2009_SILVA_A_C_L_F_A_luta_entre_o_regnum_et_imperium_e_a_co
nstru%C3%A7%C3%A3o_da_ecclesia_universalis_uma_an%C3%A1lise_comparativa_dos_conc%C3%ADlios.
13

teses e dissertações disponibilizadas na internet e que constam em nossos arquivos pessoais,


todos elencados em nossa referência bibliográfica.

A análise de obras clássicas faz-se necessária porquanto introduzem e dimensionam


a parte conceitual sobre a temática e permitem entender melhor as críticas e/ou embasamentos
utilizados nos estudos posteriores. Essa reflexão é importante na medida em que localiza o
pesquisador no contexto historiográfico do tema que pretende desenvolver e estabelece uma
gama de conhecimentos capaz de responder às pretensões perseguidas pelo projeto de pesquisa.

Vislumbra-se, dessa forma, a abordagem das fontes com destaque para a análise dos
cânones que se relacionam com a temática da heresia e da ortodoxia estabelecida pela Igreja.
Essa abordagem terá como norte uma sistemática simples de análise ordenada dos quatro
Concílios Lateranenses, de modo que possamos estabelecer uma visão crítica e evolutiva a cada
apresentação que se fizer destes. Os Concílios seriam, de forma bem objetiva e simples, aquelas
“assembleias de prelados católicos em que se tratam assuntos dogmáticos, doutrinários ou
disciplinares.” 5. Foram quatro os Concílios Lateranenses ocorridos entre os séculos XII e XIII.
Tais Concílios, denominados de universais pela tradição eclesiástica, por serem convocados e
presididos pelo papa e contarem com a participação de várias dioceses, ocorreram entre os
séculos XII e XIII. O Primeiro Concílio – com seus 22 cânones -, ocorrido no ano de 1123,
centrou suas resoluções na Questão das Investiduras6. O Segundo – com 30 cânones -, no ano
de 1139, tratou de um cisma e condenou a heresia de Arnoldo de Bréscia7. O Terceiro – com 27
cânones -, sob o pontificado de Alexandre III, no ano de 1179, além de iniciar uma ampla
reforma, serviu para ratificar o acordo com Frederico Barba-Ruiva8. O Quarto e último Concílio
de Latrão produziu 70 cânones, convocado por Inocêncio III, no ano de 1216, foi considerado

5
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. 8ª ed. rev. atual.
Curitiba: Positivo, 2010, p. 184.
6
“A Questão das Investiduras foi o conflito que envolveu a Igreja e o Sacro Império Romano-Germânico durante
os séculos XI e XII, e que questionava a supremacia do Poder Temporal sobre o Espiritual, ou a supremacia
do poder do Imperador sobre o dos eclesiásticos.”. Disponível em:
https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-geral/questao-das-investiduras. Acesso em 25 ago 2020.
7
“Arnaldo de Bréscia entrou para a história da Idade Média como herege, cônego e político italiano. Erudito,
realizou parte de seus estudos nas escolas de Paris, tendo como mestre Pedro Abelardo.” Disponível em:
https://www.prp.unicamp.br/pibic/congressos/xxcongresso/paineis/105354.pdf . Acesso em 25 ago 2020.
8
Frederico Barba-Ruiva ou Barba-Roxa, imperador do Sacro Império Romano-Germânico. A pedido do papa
Adriano IV, foi para a Itália com o propósito de libertar Roma do poder de Arnaldo da Bréscia. Após capturar
Arnaldo foi proclamado imperador pelo papa (1155). Com o objetivo de estabelecer o domínio germânico na
Europa ocidental, invadiu e conquistou Milão, e, desafiando a autoridade papal convocou a Dieta de
Roncaglia. Apoiou a nomeação de um antipapa (1159), Vítor IV, em oposição ao papa legítimo, Alexandre III.
Foi obrigado mais tarde a reconhecer a legitimidade deste último papa e assinar a paz de Veneza. Disponível
em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/frederico-i-barba-roxa.htm. Acesso em 25 ago 2020.
14

o maior deles e o mais importante, pois tratou de uma reforma moral e de doutrinal, além da
questão da supressão das heresias (LOYN, 1997, p. 233).
15

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, José D'Assunção. Papas, Imperadores e Hereges na Idade Média. Petrópolis: Vozes, 2012, p. 214.

_______________________. O Projeto de Pesquisa em História: Da escolha do tema ao quadro teórico.


Petrópolis: Vozes. 10ª ed., 2015, p. 236.

BASCHET, Jérôme. A Igreja, Instituição Dominante do Feudalismo. In.: ______. A Civilização Feudal: do
Ano 100 à Colonização da América. São Paulo: Globo, 2006, p. 167-246.

BROWN, Peter. Cristianismo e Império. In.: ___. A Ascensão do Cristianismo no Ocidente. Lisboa: Presença,
1999, p. 36-51.

BOLTON, Brenda. A reforma na Idade Média. Lisboa: Edições 70, 1983.

FALBEL, Nachman. Heresias Medievais. São Paulo: Editora Perspectiva, 1976.

FOREVILLE, Raymonde de. Latran I, II, III et Latran IV. Paris: Éditions de L'Orante, 1965, p. 420.

FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. Aula Inaugural no Collège de France, Pronunciada em 2 de


dezembro de 1970. São Paulo: Edições Loyola, 2006.

_________________. A verdade e as formas jurídicas. 4ª ed., Rio de Janeiro: NAU, 2013, p. 151.

GARCÍA Y GARCÍA, Antonio. História Del Concilio IV Lateranense de 1215. Salamanca, España:
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MATA, Sérgio da. A Religião como Objeto: da História Eclesiástica à História das Religiões. In.: História &
Religião. Belo Horizonte. Autêntica, 2010, p. 35-69.

______________. Introdução. In.: História & Religião. Belo Horizonte. Autêntica, 2010, p. 11-20.

______________. Tempo, Consciência histórica e religião. In.: História & Religião. Belo Horizonte.
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RUST, Leandro Duarte. A monarquia papal (1000-1300): a fundação de um conceito. Tempo, Dez 2015, vol.
21, n. 38, p. 260-280. ISSN 1413-7704.

_________________. A Reforma Papal (1050-1150). Cuiabá: EdUFMT, 2013, p. 246.

_________________. Colunas de São Pedro: a política papal na Idade Média Central. São Paulo: Annablume.
2011, p. 569.

_________________. O Concílio, o Papado e o Tempo: ou algumas considerações críticas sobre a


institucionalização do papado medieval (1050-1270). História. Questões e Debates, v. 46, 2007, p. 163-187.

_________________. Reforma na Idade Média, Memória da Igreja Romana: ou sobre como vigiar as
próprias algemas. Revista Espaço Acadêmico (UEM), v. 9, 2009, p. 127-133.

__________________. Revisitando a História institucional do Papado Medieval: representação eclesiástica


do tempo e relações de poder durante o pontificado de Inocêncio III (1198-1216). Tempos Históricos
(EDUNIOESTE), v. 08, 2006, p. 35-62.

SILVA, Andréia Cristina L. F. da. A Luta entre o Regnum et Imperium e a Construção da Ecclesia
Universalis: uma Análise Comparativa dos Concílios Lateranenses (1123-1215). In.: SILVA, Francisco Carlos
16

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