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RESUMO
Com o objetivo de avaliar os efeitos do processamento na
qualidade do produto defumado, foi realizada a defumação
líquida de filés de anchova sem pele, utilizando aroma natural
de fumaça (conhecido comercialmente por fumaça líquida). A
aplicação por aspersão da fumaça líquida na concentração de
20% sobre os filés de anchova apresentou grande aceitação
sensorial. A utilização de salmoura a 20% por 15 minutos
assegurou a estabilidade microbiológica necessária no processo.
Uma pré-secagem de 45 minutos a 49,5ºC antes da aplicação da
fumaça líquida favoreceu uma maior penetração da mesma no
músculo da anchova. O tratamento térmico utilizado
posteriormente (52,8ºC por 45 minutos; 67ºC por 45 minutos e
80,8ºC por 2 horas e 30 minutos) foi suficiente para obter um
produto com boa preservação. Tanto para a matéria-prima
quanto para o produto defumado obteve-se os seguintes
resultados de composição centesimal: 69,38% e 59,79% de
umidade; 1,09% e 2,45% de cinzas; 16,80% e 22,30% de
proteínas; e, 12,43 e 15,21% de gordura, respectivamente.
Obteve-se baixa contagem microbiana e ausência de coliformes
fecais e de Salmonella, tanto na matéria-prima como no produto
final, confirmando higiene adequada durante o processo de
preparação da matéria-prima e no processamento posterior.
Palavras-chave: anchova, processamento, defumação líquida,
alterações químicas, microbiologia
SUMMARY
LIQUID SMOKING OF BLUE FISH (Pomatomus saltatrix):
EFFECTS OF PROCESSING ON THE CHEMICAL AND
MICROBIOLOGICAL PROPERTIES. In order to evaluate the
effects of processing on the quality of smoked product,
unskinned bluefish fillets were liquid smoked using natural
smoke flavouring (known commercially as liquid smoke). The
sprinkling of liquid smoke in the concentration of 20% on
bluefish fillets showed great sensorial acceptance. The 20%
pickling brine used for 15 minutes assured the necessary
microbiological stability in the process. A daily 49,5ºC pay-
drying of 45 minutes before the liquid smoke application
favored its larger penetration in the bluefish muscle. The
thermal treatment used (52,8ºC for 45 minutes; 67ºC for 45
minutes and 80,8ºC for 2 hours and 30 minutes) was enough to
get a product with good preservation. For the raw material and
smoked product there were the following results of centesimal
composition: 69,38% and 59,79% of humidity; 1,09% and
2,45% of ash; 16,80% and 22,30% of protein; 12,43 and 15,21%
of fat, respectively. Low microbiana counting and absence of
fecal coliforms and Salmonella, were found in the raw material
and in the end product as well, confirming adequate hygiene
during the process of preparation of the raw material and
posterior processing.
Keywords: bluefish, processing, liquid smoking, chemical
changes, microbiology.
1 — INTRODUÇÃO
Em nosso país, a exploração e uso dos recursos pesqueiros não alcançam os
benefícios nutricionais e econômicos que deles se espera. Uma alternativa para
melhorar os níveis nutricionais da população é propiciar o consumo de
produtos curados, cujo custo de produção é baixo comparado à outras formas
de conservação.
Dentre os produtos marinhos, a anchova (Pomatomus saltatrix) constitui um
dos principais recursos pelágicos explorado no litoral do Rio Grande do Sul,
porém apresenta baixo custo comercial. Se parte da captura desta espécie fosse
utilizada na elaboração de um produto defumado, haveria um crescimento
econômico considerável comparando-se com a atual comercialização da
anchova pelas indústrias locais, principalmente para aquelas que vêm
desenvolvendo a comercialização de anchova congelada, sem um
processamento mais sofisticado.
Além da obtenção de um produto processado, a técnica de defumação
convencional de peixes é, hoje em dia, empregada com finalidades
preservativas [14], bem como para obter um produto característico por suas
qualidades sensoriais "sui generis", de excelente palatabilidade [24, 27].
Desta maneira, a defumação do pescado contribui na dieta do consumidor,
dando-lhe proteína de baixo custo e incentivando o consumo de pescado, além
de proporcionar uma nova alternativa de sabor, cor, aroma e textura agradável
ao pescado [25, 40, 41].
A defumação de alimentos por meio de aspersão de fumaça (defumação
convencional) está sendo substituída cada vez mais pelo emprego de fumaça
líquida. O âmbito de aplicação das fumaças líquidas é muito amplo, sendo
principalmente utilizadas em carnes (bovina, suína e aves), carnes processadas,
pescado, queijo podendo-se estender, por sua grande versatilidade, a uma
grande variedade de alimentos que tradicionalmente não se defumam, como:
temperos, sopas, vegetais enlatados, ou condimentos [11, 32, 37].
As fumaças líquidas eliminaram muito dos problemas associados com o
método tradicional de defumação de pescado, além de proporcionar uma
uniformidade de sabor e cor, sem o inconveniente uso de serragem e limpeza
dos fumeiros. Os problemas de poluição utilizando fumaça de lenha também se
eliminaram, visto que o alcatrão, resina e o 3,4-benzo(a)pireno foram
eliminados nas fumaças líquidas naturais por envelhecimento e filtragem.
Várias indústrias americanas, canadenses e européias, vêm desenvolvendo
extensas linhas de fumaça líquida disponíveis para peixes, mariscos, alimentos
marinhos, carnes, aves e outros setores da indústria alimentícia desde 1960,
somando mais de 40 patentes [15, 32, 35, 36].
A composição da fumaça líquida comercial é muito variável, pois depende
principalmente da fonte de fumaça (madeira utilizada). Informações sobre os
componentes que constituem a fumaça líquida são muito importantes para
estabelecer relações entre suas propriedades sensoriais com a estabilidade de
sua estocagem e com o produto final defumado [8, 9, 10, 11, 31].
Outro aspecto de grande importância no processo de defumação de pescado é o
processo de salmouragem. Esta, em produtos defumados a quente é crítica, pois
o teor de sal na fase aquosa do produto deve ser suficientemente alto (superior
a 3%) para inibir o crescimento de qualquer organismo deteriorador,
principalmente o Clostridium botulinum [3].
MORAIS et al. [28] consideram o tratamento térmico uma etapa fundamental
no processo de defumação líquida, pois promove a formação de cor na
superfície do músculo e a homogeneização do extrato.
O produto de melhor qualidade só será obtido se parâmetros como temperatura,
umidade relativa e concentração de fumaça líquida, bem como o tempo de
defumação, estiverem em proporções adequadas ao tipo e tamanho do pescado
exposto. Além disso, para aumentar a vida-de-prateleira do produto elaborado,
também devem ser levadas em conta as condições de higiene durante o
processamento, além do local de estocagem e da embalagem utilizada [27, 40].
Verifica-se que em pescados defumados, o conteúdo de proteína e lipídios é
mais alto que no pescado in natura, principalmente devido à perda excessiva de
umidade quando comparado com a perda de lipídios e proteínas solúveis. As
mudanças químicas nos grupos funcionais dos resíduos de aminoácidos, devido
à defumação, são limitados, e não têm uma influência significativa no valor
nutritivo das proteínas desse produto [13, 14, 24].
Assim, o presente trabalho foi direcionado com o intuito de se verificar os
efeitos do processamento nas propriedades químicas e microbiológicas da
anchova defumada com fumaça líquida existente no mercado.
2 — MATERIAL E MÉTODOS
2.1 – Matéria-prima
A matéria-prima utilizada foi a espécie anchova (Pomatomus saltatrix),
capturada na região sul do Rio Grande do Sul, e desembarcada nos trapiches
localizados na 4a Secção da Barra da Lagoa dos Patos, em Rio Grande (RS).
2.2 – Infra-estrutura
O trabalho foi realizado nos Laboratórios de Bioquímica Tecnológica, de
Análise Sensorial, de Análise Instrumental Química e de Microbiologia de
Alimentos, do Departamento de Química da Fundação Universidade do Rio
Grande (FURG), na cidade do Rio Grande (RS).
2.3 – Insumos
A fumaça líquida indicada para o processo de defumação líquida [1, 37] foi
obtida por meio de uma doação da ADICON Indústria e Comércio de Aditivos
Ltda (São Bernardo do Campo - SP) e apresentava as seguintes características
físico-químicas: acidez total (como ácido acético, 14,0-16,0%), compostos de
aroma de fumaça (15,0-22,0 mg/ml), carbonilos (17,0-22,0%) e densidade
(1,12 Kg/l).
O reagentes químicos e microbiológicos (todos de qualidade P.A.) foram
adquiridos no comércio da região de Rio Grande (RS).
2.4 – Metodologia
2.4.1 - Processamento experimental
O processo de defumação líquida da anchova foi realizado de acordo com o
fluxograma apresentado na Figura 1.
3 — RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 – Análise sensorial
Com os resultados da análise sensorial das amostras defumadas por aspersão
superficial da fumaça líquida na concentração 20%, pôde-se verificar a
distribuição das pontuações outorgadas pelos julgadores (n = 60) (Figura 2).
2,45 ± 0,02
* feitas em quadruplicata.
3 4,02 6,30
6 4,32 6,74
9 4,73 7,33
12 5,14 7,92
15 5,38 8,26
4 — CONCLUSÕES
Nas condições em que os ensaios experimentais foram realizados, os resultados
obtidos permitem concluir que:
− Foi obtido um produto defumado à base de anchova (Pomatomus saltatrix)
utilizando aroma natural de fumaça, conhecido comercialmente por fumaça
líquida;
− tempo de imersão dos filés de anchova na salmoura a 20% assegurou a
estabilidade microbiológica necessária, além de conferir um sabor agradável;
− A aplicação por aspersão de fumaça líquida na concentração de 20% da
solução, sobre os filés de anchova sem pele, apresentou uma boa aceitação na
análise sensorial;
− A baixa carga microbiana e ausência de coliformes totais e fecais no produto
final mostrou boa higiene durante o processamento, indicando uma qualidade
microbiológica aceitável;
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