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Era um dia importante, um dia que provavelmente entraria para a história do país e,

com sorte, do mundo.

Jeon Jeongguk, com apenas dezenove anos era um dos símbolos de seu movimento e
líder frentista da revolução que planejava tomar o poder da frente parlamentar dominada pela
extrema direita.

Considerado um dos novos gênios contemporâneos, ícone político e de diversas teses


e discursos com um embasamento social, econômico e político surreais para alguém de tão
pouca idade ou estudo, o menino esperava anos para tornar-se o que seria naquele dia.

Mesmo sendo uma das cabeças da revolução, decidiu que estaria na frente, junto de
todos que compartilhavam das mesmas ideias que si e lutariam por aquilo. A importância do
moreno era tamanha que, se apenas ele e outros dois responsáveis pelo movimento fossem
mortos ou apreendidos, a briga era instantaneamente perdida para os liberais sociais.

Jeongguk defendia além da ideia de sua corrente política, a forma como luta pelos
próprios direitos e os direitos das próximas gerações. Morreria lutando e estaria lutando pelo
que era de fato; livre. Apesar de extremamente arriscado, ele não tinha medo algum de dar os
próprios braços a torcer. Faria aquilo a valer a própria vida e morreria satisfeito se pudesse
viver apenas para ouvir que eles venceram aquela luta.

— Você tem certeza? – Disse um de seus colegas, vendo tamanha veracidade com que
o Jeon preparava-se para o ato definitivo.

— Nunca tive tanta certeza antes. – Ele parou o que fazia para encarar o menino nos
olhos, com ambas as mãos pesadas sobre os ombros daquele que o questionava. – Essa é a
minha chance, eu posso sentir que é a hora certa de tudo acontecer.

— Mas... Você sabe as chances de dar errado? Com você na frente temos
praticamente 34% a menos de manter o controle. – Continuava a indagar com as estatísticas e
lógicas. Coisas que, apesar de verdade, não interessavam ao mínimo o mais novo.

— O número de chances de dar errado é exatamente o mesmo para as chances de dar


certo, entende?

E poucas horas depois lá estava ele junto de todos os aliados, dominando as maiores
avenidas da cidade mais influente do país, onde se concentrava boa parte do Estado; com o
peito estufado e o orgulho próprio de estar onde estava.

Em contra partida aproximavam-se os militares, com seus fardos e suas armas em


defesa dos opositores. Chegava a ser cômico para ele quão opostos eram; enquanto um dos
líderes da esquerda atuante – no caso, ele mesmo – lutava com o próprio corpo, os chefes
militares comandavam do topo, olhando seus pequenos aprendizes de guerra fazerem tudo o
que lhes era ordenado.

Dentre as centenas de pessoas paralelamente caminhando, uma delas, por parecer


deslocada, não deixou de chamar-lhe a atenção. Olhou bem e repensou sobre cerca de duas,
três vezes antes de concluir qualquer coisa; mais por não querer acreditar, do que por
realmente duvidas da possibilidade dos seus olhos mostrarem uma verdade como aquela.

Engoliu a seco a saliva que acumulava na própria boca antes de chamar mentalmente
pelo nome dono daquele rosto: Park Jimin.

Havia cinco anos desde que até mesmo sombras daquele rapaz deixaram de existir
para Jeongguk. Cinco anos desde que teve seus sentimentos brutalmente destruídos e fora
obrigado a fingir que nunca nem tivera conhecido alguém com aquele nome.

“[...] — Você não pode chegar perto de mim outra vez, Jeongguk. – Dizia o pouco mais
baixo empurrando-lhe pelos ombros contra a parede, escondendo-os de qualquer terceira
visão.

— Por que você está fazendo isso? O que está acontecendo, afinal?! – Incrédulo, com
os olhos bem abertos de pavor, atropelava as próprias palavras, tomado de infinitas
indagações quais, uma por uma, ele queria as respostas.

— Jimin! – Uma terceira voz ecoava por todo o local por tamanho volume em que
emitia, fazendo o menino chamado virar o rosto rapidamente, aturdido pela voz masculina;
essa que seu rosto nitidamente demonstrava o temor que lhe causava.

— É o seu pai? Por que ele está atrás de você? – Mais e mais perguntas que
aparentemente nunca seriam respondidas.

— É para o seu próprio zelo, por favor, esquece que eu existo. Eu juro que queria
poder te explicar, mas temos pouco tempo e se você for visto comigo nós dois “já éramos”. –
As mãos que continuavam a fazer pressão contra o corpo alheio subiram até o rosto de
Jeongguk, segurando-o pelas laterais e depositando um selar breve na pele exposta de sua
testa. – Agora vai embora.

— Me diz alguma coisa, qualquer coisa! Eu mereço pelo menos entender o que está
acontecendo. – O menino encontrava-se nervoso suficiente para travar entre as palavras e a
voz emitir quebradiça, falha.

— A única coisa que eu posso dizer agora é: eu ainda te amo.

Sem maiores pronunciações, Jimin empurrava-o na direção contrária de onde vieram e


assustado da situação ainda indigesta apenas obedeceu, escondendo-se entre uma das
paredes equiparáveis do prédio.

— Pai, eu... – A voz conhecida ao fundo fora interrompida pelo ruído alto do que se
assemelhava a um soco, seguido do corpo caindo ao chão, entre as folhas secas e a água da
chuva recente. –... Não, por favor... – Implorava, com a voz trêmula de uma lástima
manifestada da maneira que Jeongguk podia claramente reproduzir em sua cabeça. O rosto
ardente e avermelhado da agressão, os olhos inchados e inundados de lágrimas que rolavam
sem permissão pelo rosto levemente moreno e a expressão no rosto que clamava inutilmente
por piedade.

“Eu ainda te amo”. Aquilo ecoava em sua mente enquanto ouvia ao choro baixinho do
menino, sendo friamente maltratado pelo pai, causando ao c mais novo uma profunda fissura
no peito, que doía amargamente, fazendo-o optar por fugir daquele lugar quando a angustia
em si fazia-se grande o suficiente para transbordar-lhe pelos olhos[...]”

— Jeongguk, você está bem? – Perguntou um velho amigo qual acompanhava-o lado a
lado durante a jornada.

— Desculpa, acabei me distraindo. – Disperso das lembranças, o olhar caminhou até o


rapaz ao seu lado, tentando aparentar-se estável outra vez.

— Sua cabeça deve estar uma loucura, é surreal saber que estamos aqui, não é? –
Disse o outro com um sorriso no rosto, afagando-lhe os cabelos de trás da cabeça, como forma
de demonstrar o apoio moral.

Mas a verdade é que, apesar de milhares de coisas realmente percorrerem sua mente,
por um momento todos os acontecimentos foram completamente desconsiderados e Jeon
apenas conseguia ter uma onda de lembranças que há tempos haviam sido enterradas junto
com o Park Jimin que ele fora obrigado a matar de sua consciência.

Como se num piscar de olhos tudo viesse à tona novamente, seus quinze anos de um
sofrimento que custaram meses de luto até que pudesse viver em paz outra vez. O ano que
prometia ser o melhor de todos mostrava apenas que até mesmo nos últimos cinco segundos
tudo pode ser completamente devastado.

“[...]— Jimin, você vai ajudar-nos na movimentação de amanhã, não vai? – Jeongguk
dizia com um vasto sorriso estendido nos lábios enquanto terminava de organizar o material
confeccionado, encarando-o ao esperar pela resposta.

Jeongguk desde que pudera ter uma pequena noção do mundo ao seu redor:
questionou. E sua sede insaciável o fez buscar por respostas, podendo explorar um pouco mais
das informações que os próprios pais ou instituições de ensino sequer davam ao luxo de citar,
uma vez que não lhe eram interessantes. Sozinho o menino tirava suas próprias conclusões e
ao meio de cabeças idênticas, destacava-se a criança de personalidade forte e ideologia e
opiniões próprias devidamente em formação.

Desde sempre o menino desenvolvia a sua afeição contra tudo que parecia injusto
para o mundo, demonstrando a sua indignação e afrontando pessoalmente todos que viviam
de uma ideologia opressora, movimentando pequenos grupos e fazendo pequenas
manifestações que, mesmo que indiferentes comparados ao tamanho do resto, sentia que
faria alguma diferença e, se não fizesse, saía de cabeça erguida tendo noção que sua pequena
parcela para a contribuição das mudanças estava feita.

Jimin, desde que se conheceram, a cerca de nove meses, nunca foi muito de se
importar com os problemas alheios, sequer com os seus próprios. Seu discurso era
extremamente pessimista, para ele nada nunca iria mudar com a mísera ação de uma centena
de pessoas, por isso sequer envolvia-se entre essa centena. Mas, apesar de tudo, parecia que o
outro menino, com todo o seu discurso libertador, filosófico e poético conseguia fazê-lo ao
menos, pensar sobre o que lhe era dito, parecia que aos poucos Jimin pendia para o lado
daquele raciocínio, não podia discordar de que era convincente o suficiente para questionar a
própria posição na sociedade.

Assim que esse assentiu positivamente para a questão a si levantada o outro fizera
questão de parar para abraçar-lhe fortemente por alguns bons instantes e, ao afastar
minimamente os corpos, com suas mãos ainda em volta do pescoço do moreno e os olhos
calorosamente fixados nos alheios, dizer:

— Você sabe que eu fico muito feliz vendo você que decidiu me ajudar, não sabe? –
Não falava num tom muito alto de voz pela curta distância entre ambos os rostos.

— Eu sei, meu anjo. – Sorria com serenidade, logo em seguida recebendo um selar
breve nos lábios do menino que antes encarava-o fixamente.

— Agora eu preciso ir. – Anunciou o Jeon. – Amanhã nos vemos. – Despediu-se ainda
encarando-o antes de virar-se e rumar para fora do prédio em que encontravam-se.

...

O mais novo, com o celular preso entre a lateral do rosto e o ombro, sobre a calçada
da rua movimentada esperava por alguma resposta acerca da ligação que tentava efeturar.

— Jimin?! – Disse assim que o som monótono do celular a chamar foi interrompido,
segurando o aparelho novamente em uma das mãos e livrando seu pescoço da posição
desconfortável. – Você não vem?

— Ele acabou descobrindo tudo, Jeon, me perdoa. Não quis me deixar sair de casa e
ainda me colocou de castigo. – Disse a voz de desanimo do outro lado.

— Ele não pode fazer isso com você! Ele... – A voz subia o tom por tamanha indignação
que sentia, sendo interrompido pelo outro quase em seguida.
— Amor, ele não só pode como faz. – Soltou um suspiro pronfundo. – Eu tenho medo
que ele vai fazer daqui pra frente[...]”

Jeongguk precisava avançar. Precisava agir, precisava ver o que havia ao seu redor,
mas seu corpo parecia simplesmente imobilizar-se e recusar qualquer movimentação. Com
muito esforço ele dava alguns passos para frente, tentando manter o foco no objetivo e não
naquele menino que, aparentemente, voltou a ser tudo o que ele precisava.

“[...]— Jeon, eu... Você sabe que eu gosto de você, mas eu acho que não deveríamos
ficar junto.

— Como assim...? E por quê? – A expressão do menino era de uma mágoa profunda e
um desentendimento do motivo de tais palavras que quebrava seu coração em diminutos
estilhaços. Coração esse que sempre viveu da pureza plena e um sentimento límpido capaz de
amar como ama uma criança, inconsequentemente. E no curto silêncio dado entre os dois
concluiu precipitadamente: – São os seus amigos, não são?

— Não é isso, é mais uma coisa minha. – Tentava disfarçar com desculpas esfarrapadas
a partir do momento que a consciência dos fatos que apresentava o maior era mais clara e
obvia do que ele gostaria.

— Você me prometeu que não teria vergonha de mim, ou o que for que sente quando
é visto comigo.

— Eu quero ficar com você! Mas...

...

— Quem é aquele? – Perguntou confuso no meio dos colegas que zombavam de um


menino específico, não compreendendo o que havia de errado para tornar-se o motivo de
chacota.

— Jeon Jeongguk, um socialista ‘viadinho’ que vive querendo chamar a atenção. Por
mim ele seria menos irritante se não abrisse a boca. – Um deles pronunciou-se, demonstrando
total aversão ao menino.

Jimin encontrava-se levemente confuso, não via por que exatamente ele era linchado
no meio daquele grupo de cinco pessoas onde estava inserido, mas não questionaria ou
tampouco defenderia o desconhecido.
— O problema mesmo não é nem ele sonhar com os “direitos” dele, sei lá, é a falta de
vergonha dele em aparecer na escola com outro menino. – Uma terceira pessoa sentia-se no
direito de mostrar a própria opinião, dizendo num tom de seriedade considerado absurdo pelo
menino que agora arrependia-se de um dia ter perguntado alguma coisa acerca do que era
zombado apenas por caminhar pelo colégio como qualquer outro aluno.

...

— Jeongguk, certo? – Jimin chamou pelo menino virado de costar para si, terminando
de fazer anotações em seu caderno mesmo depois que todos haviam deixado a sala de aula.

— Sim? – Ele ergueu levemente o corpo debruçado sobre o caderno quando chamado
e no instante que seus olhos foram de encontro ao rosto do menino ao seu lado, fazendo com
que a expressão no seu rosto e o tom de voz usado anteriormente entrassem em contradição.

— Meus amigos falaram de você e... – Fez uma leve pausa ao perceber o rosto
desconfortável do menino, tentando no mesmo instante retificar as próprias palavras: – Não é
isso! É que eu realmente queria falar com você.

— Eles te mandaram aqui? É algum outro tipo de brincadeira babaca para cima de
mim? – Nitidamente demonstrava o receio de uma pessoa constantemente atacada, Jeongguk
evitava ao máximo qualquer tipo de coisa que serviria, mais tarde, como uma boa brincadeira
aos outros.

— Não, eu juro. Eu ouço constantemente coisas ruins sobre você e é exatamente por
isso que eu queria uma chance pra conversar. Atualmente você é a única pessoa que eu
conheço que se sente como eu e parece muito mais forte para lidar com pessoas ou muito
mais racional para saber como agir...

— Bem... – Com apenas aquele curto desabafo do menino, já conseguia visualizar


perfeitamente a vida que tinha, levando em consideração as pessoas ao seu redor e todos os
fatores relevantes, não conseguindo expressar-se menos do que chateado por ele.

Desviou o olhar, perdendo-se por alguns instantes, mas logo retornando à realidade e
a linha de raciocínio: — Eu vou te ajudar[...]”

As ruas estavam um caos, de fato, mas não conseguia superar o estado apocalíptico da
cabeça cada vez mais conturbada da quantidade de fatos que reproduziam como uma estória
qual ele já conhecia, previamente sofrendo por lembrar exatamente todos os detalhes, do
início ao fim, apenas com um “era uma vez”.

Tentava ignorar o frio na espinha atingindo-lhe como fortes ondas oceânicas que
atingem a costa, causando vertigem em quem navegasse por tais águas. Vez ou outra
chacoalhava a cabeça para os lados, tentando livrar a cabeça de pensamentos e focando-se no
golpe. O exército não tinha demanda de fogo para atacar, era a chance de Jeongguk, qualquer
passo fora do lugar acabaria com a sua vida – literalmente.

“[...] — Ei, o que você está lendo? E por que aqui? – Disse Jimin ao aproximar-se do
canto onde escondia-se Jeongguk, onde o prédio do colégio cobria completamente os raios
solares de baterem diretamente no chão.

— Só mais um livro chato escrito por caras que servem para os adolescentes acharem
trabalho em decorar suas ideias. – Ele disse rindo leve, marcando a página onde parava com
um pedaço de papel e fechado o livro em suas mãos, convidando o outro num pedido mudo,
apenas dando um sinal com a cabeça, para que sentasse ao seu lado.

Vez ou outra eles arrumavam algo sobre o que falar, mas o silêncio rapidamente
tomava conta se ambos outra vez. Silêncio constrangedor, que os obrigava a olhar para os
lados e disfarçar o olhar. Porém Jimin não conseguia focar a visão em um ponto aleatório de
qualquer lugar no cenário, mas num ponto específico que o levava aos rosados e finos lábios
do colega.

Jeongguk, distraído, acabou por virar o rosto com pouco mais de velocidade,
encontrando o outro encarando-o fixamente, sentindo-se levemente envergonhado. Tomou
grande quantidade de coragem para aproximar seu rosto paulatinamente, saindo do
pressuposto que o olhar fixo em si não poderia significar nada além daquilo.

Jimin consentiu a certeza do moreno, também aproximando seu rosto e logo fazendo
com que os respectivos lábios tocassem um ao outro levemente. A iniciativa foi de Jeongguk
ao que se dizia iniciar um beijo de fato, mantendo o ritmo lento e passional, uma vez que a
intimidade que compartilhavam lhe concebeu o direito de saber que era o primeiro menino na
vida amorosa de Jimin – aliás, era a primeira pessoa com quem envolvia-se de fato.

Passos aproximavam-se, mas apenas fora percebido pelos dois quando uma terceira
alma fez-se presente, revelando-se na parte onde o sol ainda podia bater. Mesmo que fosse
tarde, ambos interrompiam o ósculo num ato involuntário do susto.

— Eu sabia, Jimin... – Mal podia reconhecer o rosto do amigo qual direcionava-lhe a


palavra, uma vez que a face era consumida pelo desgosto. – Sabia que você não passava de um
'viado' como esse merda. Espero que pelo menos você mude de ideia quando perceber que
você está se tornando uma garotinha.

— Cala a sua boca! – Jeongguk e o espírito da igualdade falavam mais alto no


momento, por impulso o fazendo gritar com o menino que falava.

— Não faz isso, Jeongguk, fica quieto. – Pediu Jimin com o tom de voz extremamente
baixo, encarando-o no rosto e mantendo a mão sobre o peito do menino, tentando fazer com
que ele controlasse a si mesmo.

— Jimin, você não pode deixar ele dizer essas coisas!? – Afirmava consumido pelo ódio
assim que o terceiro deixou-os a sós novamente.
— Eu preciso ir embora, eu estou 'fodido' agora que me viram com você. – Levantou-
se batendo as roupas, com a voz ameaçando falhar graças à agonia que tentava transformar-se
em lágrimas.

— Não é assim, Jimin...! – Levantou rapidamente logo em seguida, segurando o outro


pelo pulso e evitando que deixasse o local como dizia. – Eu posso te ajudar, a gente dá um
jeito. A culpa é toda minha. – Suas palavras eram rápidas, ansiosas, as pronunciava como se
não tivesse tempo suficiente para lentamente fazê-lo.

— Você não entende... – Depois de certo esforço libertou-se da mão que pressionava
seu pulso como algemas justas, deixando o local logo depois de deixar-lhe um duradouro
olhar. A medida que se afastava, seus olhos se enchiam de lágrimas apenas de imaginar o
tamanho do estrago que aquela cena de menos de cinco segundos de captura pelos olhos
alheios poderiam causar até mesmo nos próximos anos, mas só escorriam as gotas d'água pelo
aperto no peito de precisar fugir do menino que acreditava amar por tamanho desespero[...]“

Continuava seus passos em direção aos homens armados, resistindo e tentando


enfrentá-los. Seus passos eram calculados, a maioria serviria como distração, enquanto os três
líderes tratariam da dominação, enfim.

Os pés pareciam pisar constantemente em falso, como se o chão estivesse prestes a


desabar, mas ninguém parecia sentir a mesma dificuldade que ele, supondo que tudo isso não
passasse do efeito das memórias sobre si. Era como se, pela primeira vez, ele sentisse uma
fraqueza diante daquilo; nascia uma vantagem da oposição.

“[...] — Jimin...? O que aconteceu com o seu rosto?! – Jeongguk erguia o rosto abatido
completamente tomado por hematomas, não obtendo resposta alguma, sendo obrigado a
insistir: – Quem fez isso com você?

— Quem você acha? – Respondeu ríspido com a voz em tom baixo de derrota. – Meu
pai.

Jeongguk não podia sentir nada além de pena. Conhecia o paradeiro da família que o
outro possuía. Sua cabeça tentava formular algo que pudesse fazer além de sentir a revolta
interior e lamentar a condição do menino.

— Jeongguk... Eu acho que vou ter que ir embora. – Retomou diante do silêncio do
mais novo.

— Para onde? – Os olhos do moreno encaravam o amado fixamente, como quem não
queria acreditar na falta que faria longe de si.
— Escola militar... Ele acha que isso vai me "consertar".

Era difícil para o Jeon digerir aquela informação, engolia saliva com dificuldades,
sussurrando apenas algo como quem se recusava a acreditar.

— Eu não vou poder mais te ver, não é? – Concluía após tanto silêncio, com a voz
embriagada de decepção. Sentia-se completamente inútil ao perceber que lutava contra uma
igualdade social que sequer poderia evitar acontecer com a pessoa ao seu lado[...]”

Jeongguk sorriu aflito repentinamente, como reação para os próprios pensamentos.


Acabando por desligar-se das ações, dando o passo que ele não poderia errar, errado.
Quando percebeu tinha aquele rapaz defronte a si com a arma de fogo diretamente para seu
rosto. A partir daquele momento, sabia que aqueles trinta e quatro por cento haviam se
tornado a favor dos cães de briga do sistema.

— Olha o que você se tornou, Park Jimin, seu pai deve estar orgulhoso. – Disse
extremamente baixo logo depois de remover calmamente o pano que cobria-lhe a parte
inferior da face, para que apenas o menino pudesse ouvir, soando com plena ironia e não
obtendo nenhuma resposta, fazendo-o entender que tinha a permissão de tornar a falar: – Eu
mal consigo acreditar... Um dia você esteve desse lado, comigo, lembra? Hoje você é a parte
da opressão, é quem vai me dar um tiro e acabar com a revolução.

— Cala a boca. – Havia rispidez nas poucas palavras que o outro pronunciava.

— Você está a cara do seu pai! Vestindo o fardo de quem não tem um pingo de
piedade com o próximo. – Tomou uma leve pausa para respirar quando percebeu olhos a
marejar involuntariamente. – Tudo o que eu fiz para você, tudo o que fizemos juntos... Tudo
isso para um dia você ser o sargento que me aponta o rifle na cara.

—Capitão, permissão para atirar! – O mais velho gritou, ignorando completamente


tudo o que Jeongguk dizia.

— Permissão negada, sargento. É preciso aguardar até que recebamos ordem de


terceiros. – Disse um homem alto com uma barba rala no rosto com a cabeça simetricamente
levantada encarando a movimentação a sua frente.

— Eu tenho o líder da manifestação na minha mira, senhor. – Retrucou, mesmo


sabendo que era inútil tentar insistir. Jimin apenas queria poder acabar com aquelas palavras o
mais rápido possível.

— Não posso sargento, já lhe disse. Faça seu trabalho e mantenha-o sobre seu
controle. – As palavras frias que saiam da boca daquele sujeito causava a Jeongguk uma
sensação ruim.
Emburrado o mais baixo apenas manteve-se precisamente focado nos olhos a sua
frente, sem deixar-se expressar qualquer emoção no momento. Não podia deixar com que o
outro menino conseguisse enxergar algum tipo de manifestação de fraqueza, não fazia parte
da sua conduta. Ele sabia quem havia se tornado, por pura obrigação fora ensinado a não ter
nada além de precisão na hora de lutar, não cultivava sentimentos, não cultivava altruísmo;
era pura e simplesmente uma maquina mortífera, assalariado para proteger a população que
ele ataca, sempre a favor do Estado e se não podia abalar-se pelos sentimentos recém-
emergidos pelo menino e acabar com a sua função naquele corpo, teria que acabar com uma
vida.

“[...]— Jeongguk... – Chamou-o bem baixo, com os dedos da mão levemente


removendo os cabelos escuros de frente dos olhos qual ele tanto amava observar. – Você quer
tipo... Namorar comigo?

— Você está falando sério? – As bochechas ruborizaram-se no momento que ouvia tais
palavras serem proferidas, com um sorriso abobalhado nos lábios daquele rosto descrente.

— Eu nunca falei tão sério! – Sorria numa reação involuntária da ingenuidade no rosto
do outro menino a sua frente.

— Eu quero, claro que eu quero! – Tomado de entusiasmo, o mais novo selou os lábios
do rapaz contra os seus num ato duradouro e terno, encarando-o de forma irremovível, sem
sequer conseguir desfazer o sorriso largo dos lábios.

—Eu amo você, Jimin.

— Eu também te amo, Jeon, sempre amei[...]”

— Acaba logo com isso, Jimin. – Disse calmamente mesmo quando cercado de
transtornos, agia como se some houvesse os dois de todo o mundo. Silenciava o alarme dos
carros quebrados a soar amargamente aos ouvidos, como se não houvesse fogo e fumaça para
todos os lados, como se não visse pelo reflexo do capacete do menino toda a destruição; como
quem não aguentava mais a tortura de encarar o amado tão diferente do que costumava ser,
como quem não aguentava ter que se lembrar de toda a cronologia em que esteve em sua
vida, desde quando chegou até quando teve que partir, levando consigo seu pequeno coração
magoado. – Você venceu.

O menino que nunca cansava de lutar agora dava-se como derrotado, aceitando
completamente sua situação. Ele reconhecia o próprio potencial e sabia que poderia ter
ganhado essa luta se o instinto e as emoções sempre guiassem seus passos. Tudo teria saído
como o planejado e, a aquele momento, já estariam comemorando a vitória do centristas se
não houvesse de ser vencido no momento em que botou os olhos naquele rapaz.

Apesar de tudo, o que ele sentia ao ver os segundos contados de sua vida através do
orifício do fuzil apontando diretamente no seu rosto, cada vez mais próximo e cada vez mais
frio, não era a vergonha de provavelmente arruinar a luta por uma ideologia, mas sim,
piedade; porque afinal, ele sabia que:

Quando a educação não é libertadora o sonho do oprimido é ser o opressor.

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