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DEDICATÓRIA
Para meu esposo e filha, minhas mais sinceras desculpas pelo tempo
que me ausentei para escrever essa história incrível. Eu os amo muito mais pelo
apoio que me deram, não foi fácil, mas sobrevivemos.
Para minha primeira Beta, minha sobrinha Chay, que suportou
todos meus devaneios lá no primeiro manuscrito (eu escrevi cinco até chegar a
esse).
Como mensurar essa amizade improvável? Como alguém que nunca
vi ou toquei, foi acima de tudo uma companheira constante na aventura que é
finalizar um livro. Com o título de Grilo Falante, Camila (pois é, alguém tão
admirável só poderia ter esse nome), você foi minha voz na consciência me
orientando para o melhor e o melhor para esse livro do qual você é madrinha.
Para Norma, que fez a revisão final, sua paciência e bondade é algo
que levarei para todo sempre, seu apoio foi fundamental para eu conseguir
chegar até aqui.
Aos meus Betas finais, vocês foram imensamente importantes, pois
pela visão de vocês pude limpar o caminho para que meus leitores tenham uma
maravilhosa viagem ao ler esse livro.
Todas as pessoas que dediquei acima são a prova de que ainda
existem pessoas boas nesse mundo. Amém a todos vocês!
A cada um que cedeu seu tempo para ler o meu livro, obrigado!
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
EPÍLOGO
SOBRE A AUTORA
PRÓLOGO
— Ela não fala, deve ter algum problema! — Eles voltam a brigar. A
pequena criança está em pé no corredor ouvindo-os, sem ser notada. — Deus do
céu! Será que é pedir demais, por uma filha perfeita. — Lamuria o pai. — De
todos, logo eu tenho que ficar com a criança defeituosa.
— O médico disse que ela não tem nenhum problema, ela irá falar no
tempo dela. — A mãe fala com a voz sem esperança.
— E o quê? Ficaremos com uma criança retardada, as pessoas já
estão falando sobre ela. E eu não quero ser o pai de uma aberração. — Salienta.
A criança limpa as lágrimas que corre por seu rosto pequeno.
Não era a primeira vez que ouve seus pais se referindo a ela com
essas palavras, mas a dor nunca diminui não importa quantas vezes escuta.
— O que você quer fazer? — Eles decidem tudo apenas com um
olhar, para eles isso deveria ter sido feito muito antes, concordam mútua e
silenciosamente. — Mariah? — A mãe chama e não percebe a menina parada do
seu lado, tão pequena e indefesa, quanto uma criança de cinco anos pode ser. —
Vamos fazer um passeio.
A criança treme amedrontada, pois eles são tudo que ela tem e
conhece no mundo.
“Não conseguia te olhar nos olhos, você é como um anjo.
Você é especial pra caralho.
Mas eu sou insignificante, eu sou um esquisitão”.
(Creep – Radiohead)
CAPÍTULO 1
LED
Poderia ser mais uma criança ficando órfã, mas não era. Poderia ser
seu primeiro pesadelo, mas também não era.
Desse momento em diante tudo que conhece, ele assiste ruir diante
de seus olhos, com tão pouca idade, mesmo que ainda não saiba o significado da
palavra ruir. Sente o último toque e vê o último suspiro, ela não irá mais voltar,
ninguém precisa lhe contar, simplesmente sabe. Sua mãe dormiu para nunca
mais acordar.
Fica sentado ao lado dela no hospital, até que os enfermeiros o tiram,
mas do corredor assiste quando desligam cada aparelho ligado a ela, uma por
uma as luzes se apagam, o silêncio impera. O último enfermeiro levanta o lençol
que cobre por completo o corpo morto, em seguida a leva por um corredor de
milha infinita.
Permanece sentado na cadeira desconfortável, os braços abraçam os
joelhos e os olhos encaram o chão sem exatamente vê-lo, quando um par de
sapatos de couro preto para em sua linha de visão, focando-o vagarosamente
levanta os olhos para olhar quem os calça.
— Vamos. — O homem de olhar de gelo comanda.
Sem ter outra opção o menino levanta-se e o segue, no fim do
corredor olha para trás uma última vez para ver a milha infinita e a porta para
onde sua mãe foi levada.
— Se apresse, eu não tenho a noite inteira.
Assusta-se e encolhe-se sentindo a voz gélida penetrar em seus
ossos.
A criança conhece esse senhor de olhar frio, ele frequenta sua casa
constantemente e apesar dos esforços de sua mãe para esconder o menino podia
ver as marcas que o homem deixava nela, sozinho e sem opção ele obedece.
Nikolai
Brincando de fazer compras?
Ela é minha!
Lembre-se o que acontece com quem toca no
que é meu.
03:27 pm
A mensagem brilhou até a tela apagar, nada nunca pode ser bom.
São duas horas da tarde quando o alarme da fuga dela vem por
mensagem, ao ser questionado negou conhecimento, pela primeira vez Led fica
minimamente contente em ver Nikolai ser desafiado debaixo de seu nariz.
Nikolai diante da insolência dela, mobiliza todos para procurá-la,
unicamente para mostra-lhe poder quando a achar.
Porque ele a acharia.
Ao entrar no apartamento pela área de serviço, ouve os gritos e
ofensas, não entra onde eles estão e deixa que os seguranças da portaria avise a
Nikolai que ele chegou, pois sabe que a informação só chegará quando estivesse
indo embora e, assim não será obrigado assistir.
Do seu quarto Led ouve tudo que dizem e pelos sons sabe
exatamente o quanto Nikolai bate nela e até os momentos em que ela revida,
cada som do punho a acertando é como voltar ao passado e reviver o quanto ele
mesmo fora espancado e violentado desde criança, como sendo nada além de um
objeto. Cada vez que revidou sofreu mais agressões, privações extremas, ou tudo
de uma vez, com o tempo simplesmente parou e aceitou. Nikolai regozija em vê-
lo tão completamente quebrado, ainda mais por que o tamanho e força de Led
supera o dele, parecia fazê-lo gostar ainda mais de castigar e subjugá-lo.
Sem poder revidar, Led passou a descontar sua impotência em um
ringue, logo Nikolai viu potencial e o colocou na jaula do Arena, ainda
adolescente Led já brigava constantemente por sua vida. Aceitou tudo de cabeça
baixa, um dia o demônio se cansou da brincadeira, desde de então, Led vive à
margem para sobreviver um dia após o outro com o inconstante sadismo de
Nikolai à espreita.
— Sua cadela! Espero que tenha aprendido a lição, esta cidade é
minha. Eu controlo todos nessa maldita cidade e não há um único lugar para se
esconder de mim!
A porta bate e o silêncio perdura por toda casa, Led entra na sala e à
encontra jogada no chão olhando para o corpo morto do capanga designado a
vigiá-la. Os hematomas já começam a ficar em seu tom mais escuro, seu rosto o
contraste perfeito e imaculado se comparado com o resto do corpo.
Ela sorri calmamente.
— Esse cara era um idiota perfeito. — Refere-se ao capanga morto e
de jeito desordenado levanta-se nua coberta de hematoma e resquícios de
sangue.
— Espero que tenha valido a pena. — Com as mãos oferece ajuda,
mas ela se afasta negando com a cabeça.
— Não imagina o quanto.
Mancando e tropeçando cambaleia até o quarto, deixando o morto e
Led na sala, que agora exala por suas paredes a tensão do confronto sucedido
entre elas.
— Louca. — Ele olha o morto. — Você era um idiota mesmo, foi
tarde. — Chuta-o no estômago do recém-falecido.
Como a ordem é nunca deixá-la sozinha solicita o serviço de limpeza
para darem um jeito com o corpo, não demora muito eles chegam e limpam.
Led encerra a noite e antes de ir para cama ingere vários
comprimidos junto com whisky, ao fechar os olhos podia ouvir os gritos dela
misturados com o dele e no fundo os risos diabólicos de Nikolai. Dormiu um
sono pesado, não o tipo de sono depois de um dia trabalho de uma pessoa
comum, o dele vem acompanhado de um rio de torturas, destinado a poucas
pessoas no mundo, implorou ao divino que durante seus sonos não houvesse
sonhos, pois de nada adiantaria vislumbrar o que não se tem e de pesadelos já
basta a sua vida, esses poucos dias com ela e já não será capaz de voltar em
como era antes.
O que torna tudo muito pior.
Às vezes deseja que Maya o trate como todos fazem, assim a dor
será menor quando ela se for, ou pior quando for ele a dar o golpe final que à
libertará do mundo, mundo esse que Led não entende porque fizera isso com ele.
Nunca entendeu porque é tanto penalizado, se o que dizem de carma é verdade,
ele deve ter sido o diabo a andar na terra em outra vida.
Dias se passaram até que Maya estivesse melhor, as visitas de
Nikolai se tornaram constantes, como se não fosse capaz de se afastar dela, até
mesmo liga para ter relatórios diários, quanto mais bate mais ela revida e mais
ele vicia. Cruel como é, muitas das vezes obriga Led assistir, Maya não chora e
nem implora por sua vida, algumas vezes Led intervém, alertando Nikolai sobre
o quão perto está de matá-la nesse momento, torna-se seu alvo.
A violência de Nikolai não tem um tipo ou preferência, tudo que ela
quer é se alimentar.
MAYA
LED
Ele sofre cada golpe violento por Maya, que está deitada no chão
assistindo à demonstração de poder de Nikolai sobre ele.
Ela passa força através de seus olhos, quase que um pedido
silencioso para aguentar o quanto podia por ela.
— Obrigado. — Ela sussurra e se arrasta até ele, depois que a porta
bate com força, dando fim a mais uma noite de terror.
Led permite que ela se aproxime, pela primeira vez não está sozinho
na escuridão e mesmo machucada a luz dela brilha para ele, como um farol
sinalizando o caminho de volta, ele a enjaula em seus braços com cuidado, ainda
que a segure como se ela fosse sua tábua de salvação.
— Por que você faz isso…? Chegará o dia em que ele não irá parar.
— Respira fundo e com dificuldade, uma costela ao menos está quebrada.
— Porque preciso. — Foi a resposta de Maya, ele a aperta mais e ela
segura os braços dele com os dela.
Teme por ela, por não ser forte o suficiente para ajudá-la a fazer o
que for preciso para conseguir fugir, nunca houve ninguém que chegou tão perto
de conquistar a liberdade do mundo em que vive, mas se alguém tem uma
chance esse alguém é ela,
Nem que para isso ele tenha que ser o sacrifício.
Ficam assim por quase uma hora, quando se levantam para irem
lamber suas feridas no clausuro de seus quartos, eles se olham, em cada olhar
uma promessa. Nos dela a liberdade e nos dele o sacrifício. Eles tem metas que
nunca tiveram antes e mesmo perdendo para que a salve é a maior e melhor das
vitórias.
Em seu quarto Led toma mais comprimidos e duas doses de whisky,
não está longe o dia em que ele não voltará, mas nesse momento ele deseja ter
apenas mais alguns dias, então, no fim a morte pode levá-lo de vez.
O aviso de fuga veio logo pela manhã, Nikolai parece adorar as fugas
de Maya, para ele se tornou uma preliminar para suas punições e abusos, todos
foram mobilizados, horas se passaram e ela não havia dado notícia e Led ainda
não havia terminado as cobranças, mas deseja que enfim ela tenha conseguido
partir, mesmo que isso significasse que ele voltaria para sua vida solitária e
dolorida.
— Se afasta ou matarei seu capanga!! — Ela grita com voz gélida.
Led entra na sala para se deparar com Maya segurando uma faca na
garganta do homem que o substituiu na segurança dela hoje.
— Eu não ligo, sua cadela fujona, — Nikolai exibe um brilho
demoníaco nos olhos com expectativas de vê-la fazer o que dizia, — você
matando-o, só prova que somos iguais, faça isso! Faça! Quando eu te vi, sabia
que seria minha a qualquer custo, sabe como sei? Porque somos iguais, sua
cadela fria. — Ele instiga.
— Senhor ela não é o que você pensa, eu sei o que… — A faca
talhou de uma ponta a outra da garganta do homem fazendo jorrar sangue por
todo o chão e pelo sofá como uma fonte medonha de sangue.
— Seu filho da puta desgraçado! Eu quero ir embora!! — Maya grita
descontrolada agitando a faca ensanguentada na mão, parecendo um maldito
anjo vingador. — Eu não pararei de tentar!
Nikolai sorri para ela em sua maior onda de excitação, nota Led
parado na porta.
— Desarme ela. — Comanda.
Led se aproxima a passos cautelosos e com calma tenta desarmá-la,
ela o golpeia e ele se defende como ela o havia ensinado, estava claramente
deixando-o vencer, golpeando-o fracamente, os olhos dele estreitam nos dela.
Maya deixa a faca cair fazendo-o parecer que ele a tinha golpeado.
Com a faca longe Nikolai a puxa pelo cabelo e a estapeia com força
em seu rosto, depois soca suas costelas, ela por sua vez soca seu rosto fazendo
ele sorrir e atacar de novo e de novo até que ele a imobiliza e a joga no chão em
meio ao sangue e o corpo drenado, ele a penetra com força duro e cruel,
enquanto ela tenta escapar fazendo ele mais violento e excitado, como se ela
fosse a gasolina para seu fogo.
Led assiste a cena sem entender como Nikolai não percebe que está
quebrando algo tão lindo, Maya é a pessoa mais linda que já conheceu de todas
as formas, vê-la sendo constantemente abusada por mais que seja forte, nada a
preparou para o que aconteceria no interior deste apartamento, ela nunca chora
uma única lágrima sequer.
Porra, seus olhos nem marejados ficavam.
Mas estava lá, no fundo de seus lindos e grandes olhos verdes, a dor,
a fúria, o ódio e o pesar todos guerreando entre si, para ver quem leva a melhor
sobre ela, por fora Maya aparenta a indiferença e altivez, Led é o único que pode
ver a guerra que seus olhos dissimula.
— Implora para que eu pare! — O demônio grita.
— Não! Seu monstro, você nunca terá o que quer de mim!
Led evita ao máximo olhá-los, mas jamais a deixaria sozinha.
— Sua Puta, vou quebrar você e quando terminar, você passara a ser
minha cadela de estimação. — Ameaça.
— Nunca acontecerá!!!
Nikolai sorri, ainda montando ela como um animal de procriação,
pressionando a cabeça dela no tapete ensanguentado, assim que termina olha
para ela no chão, admirado com a obra de arte a sua frente, a mulher deitada
inquieta ao lado do cadáver de olhos abertos com o sangue vermelho fresco
fazendo sua margem transitando por ela como um rio tentando achar seu
caminho.
— Eu não vou desistir. — Afirma.
— Nem eu. — Maya sussurra.
Rindo como diabo cobrando uma de suas dívidas, parte plenamente
satisfeito como nunca havia acontecido em sua vida.
Maya ainda fica no chão em meio ao sangue, as marcas em seu corpo
começam a aparecer e a se misturar com as outras que ainda não se curou.
— Pelo menos assim, trocaremos esse sofá horroroso, pena o sangue
não chegar às cortinas. — Ela mira o corpo ainda com o olho aberto que está a
centímetros do dela. — Hoje foi por pouco, esse merda, quase ferrou com tudo.
— Levanta segurando suas feições não demonstrando a dor, que muito
provavelmente sente. — E você, está bem? — Ela encara os olhos de Led.
Ele beija sua testa com ternura.
— Sim eu estou bem, o que você quis dizer com ele quase ferrou
com tudo? — Olha em seus olhos verde escuro perdidos de dor.
Pega-a em seus braços e leva-a para a banheira colocando-a sentada
enquanto enche de água.
— Não se preocupe com isso. — Seus olhos não deram nada além de
vazio. — Você já jantou? — Pergunta enquanto limpa o sangue de seu corpo.
— Você não está com dor? Isso tudo é arriscado, ele não vai parar até
conseguir o que quer. — Led alerta com pesar. — Ele te trata diferente de
qualquer outra que já vi, todas que tentaram fugir morreram no mesmo dia, mas
você?… Parece até que ele gosta, não… parece que ele espera que você faça
isso. E depois vocês lutam. Isso… — passa as mãos no cabelo com impaciência,
— porra! É tão fodidamente louco, você é louca! Não entende, ele vai matá-la ou
pior fará com que eu faça isso. Eu simplesmente não posso, não posso… —
vocifera deixando a dor fluir pelas palavras.
— Eu sei, eu sei. — Ela se aproxima e o abraça com seu corpo
pequeno e braços meio ensanguentado e molhado. — Ficará tudo bem. — Suas
mãos massageiam as costas de Led e o rosto pequeno se enterra no peito largo
dele, Led a aperta com tudo que tinha, como se quisesse fundi-la a seu corpo,
para que pudesse tomar suas dores para ele. — Está machucando. — Maya
protesta com choramingo.
Rindo afrouxa seu aperto sem propriamente soltá-la.
— Achei que fosse imune a dor. — Brinca.
— Eu sei, somente um tolo se recusa a pedir ajuda. — Ela sorri.
— Então por que? — Nos olhos dela, Led não identifica nada, além
da dor escondida no mais profundo oceano verde.
— Ele não merece, enquanto não fizer ficarei viva, é assim que eu o
prendo a mim. — Insanamente preciso, Led pensa. — Eu preciso mesmo comer,
não gosto de tomar remédio com o estômago vazio e hoje tomarei muito deles
para dor. — Solta-a e termina de banhá-la.
Se tinha dúvida de que ela escondia algo, hoje se confirmou.
Nikolai
Onde ela está?
02:20 pm
Led
No Spa em frente ao shopping.
02:21 pm
Nikolai
Não tenho acesso a esse lugar, se você a perder
você sabe o que acontecerá.
02:25 pm
Led
Ambiente seguro, ela não tem
como fugir.
02:30 pm
Nikolai
Eu vejo como você a olha, não se esqueça ela é
minha, assim como você é.
Quem sabe, antes do fim eu deixo você se
divertir com ela.
02:31 pm
Ele encara o celular até que a tela perde o brilho, morreria para que o
fim dela nunca chegue. A vida dele pode não importar, mas a dela era
importante. A pequena mulher conseguiu invadir seus muros de proteção e
chegou onde nunca ninguém esteve. Onde não tinha nada, agora tem ela e nada a
colocaria em risco.
As horas passam, Led vigia a porta, não havia demorado muito
depois dele sair e as massagistas também saíram, deixando Maya e a mulher
sozinhas na sala, a porta permaneceu fechada e ele não deixou seu posto, poderia
não saber o que acontecia lá dentro, mas também não deixaria que ninguém
soubesse.
— Led faria tudo por Maya e mesmo sem saber, ela está
no caminho de fazer tudo por ele.
As vezes não sabemos o que procuramos, até que se
encontra algo que não se pode viver sem.
“Nós vimos brilho quando o mundo estava adormecido. Se
um momento é tudo que somos. Quem se importa se mais
uma luz se apagar? Bem, eu me importo”.
(One More Light – Link Park)
CAPÍTULO 4
LED
— Hei, acorda! Por que você fez isso? — Maya esbraveja assustada.
Led mal pode ouvi-la. A voz dela fica cada vez mais distante.
Apressada Maya vira o corpo entorpecido dele de lado, ela limpa seu
rosto, tirando o cabelo de sua testa, enquanto ele jorra uma mistura de bile, jantar
e whisky. Sente de longe a urgência dos toques quente como brasa queimando
por onde ela toca.
— Led!! — Grita. — Acorda! — Ulula. — Por favor…
A voz dela se aproxima, cada vez mais com dor e urgência em seus
gritos ou toque.
— Maya, perdão eu tentei… — A escuridão que o rodeia tece seu
encanto e alimenta o desejo de segui-la, para usufruir da sensação de alívio e o
cessar de todas as dores e males. — Eu quero ir…
— Para morrer? — Maya fala com a voz engasgada.
— E se for… você não entende eu não aguento mais…
Por que ela não me deixa, eu quero descansar…
O entorpecimento o carrega.
— Que porra você tem a ver com isso, segue seus planos e me deixa,
eu quero descansar! — Não sabe ao certo se tais palavras saíram de sua boca ou
se entorpecimento impediu.
Led não queria que sua voz saísse endurecida, o machuca mais ainda
saber que ele poderia feri-la.
— Não!! — Foi a última coisa que ouve ao longe.
MAYA
LED
Desconhecido
Saia daí agora!!
08:15 pm
Desconhecido
AGORA!!!!
08:20 pm
Desconhecido
Saia em cinco minutos. Sem dar bandeira,
apresse-se.
08:45 pm
— Diga ao Nikolai que isto é tudo, avisa que o carregamento não foi
entregue. Precisamos de uma reunião com ele, com urgência. — Led se mantém
insondável e passivo, pega o dinheiro e sai de forma rápida sem chamar atenção.
Led
Quem, porra é você?
08:50 pm
Desconhecido
Aprendeu rápido. Segue para próximo e saia
rápido o tempo está se esgotando.
09:13 pm
Led
Quem é você?
09:13 pm
A chuva fica cada vez mais forte. Assim como nos postos anteriores,
não há o mesmo movimento de sempre, está vazio, exceto, o responsável pela
área que quando o viu, veio a seu encontro com pressa.
— Precisamos do Nikolai para resolver isso, todos estão caindo esta
noite, um por um! — Fala agitado e amedrontado, olhando para os lados assim
como os outros faziam.
— O pagamento. Eu não sei do que você está falando, eu venho pelo
pagamento. — Led fala friamente, se isso está mesmo acontecendo seu lugar não
é aqui é ao lado da Maya para protegê-la.
— Claro que você não sabe, você pode ser um dos seus melhores
soldados, talvez o mais confiável, mas isto não faz de você o mais inteligente.
Volte para Nikolai e diga-lhe que eu não darei nada! As promessas que ele fez de
nada serviram, já que levaram todo o nosso dinheiro debaixo do nariz dele. —
Ele o espanta com a mão, como se faz com um cachorro de rua. — Vai cão, corre
para seu dono. — O tiro foi certeiro em sua testa, Vladimir cai no chão a sua
frente com seus miolos espalhados pelo salão.
Desconhecido
Cortesia da casa, agora corre o tempo está
acabando.
09:22 pm
Desconhecido
Protocolo de encerramento ativado, avise a
ela para continuar.
09:48 pm
— Maya?
Ela já está de pé quando desvia os olhos da tela do celular para ela.
— Como você está? — Ela corre para ele e o abraça. — Te
machucaram? — Suas mãos pequenas passeia por seu corpo, tateando a procura
de ferimentos.
— Maya o que está acontecendo? — Ela tira o celular da mão dele e
lê a mensagem.
— Vamos, não temos muito tempo. — Ela o puxa para fora do
quarto, a campainha do elevador toca. — Chegou vamos.
— Para, espera. Vamos para onde? Que porra está acontecendo? —
Led fala agitado por fazer parte de algo que não sabe o que é, mesmo sabendo
que ela não gosta quando ele xinga.
— Não temos muito tempo, vamos, eu vou te explicar. Apenas faça o
que eu digo. Pegue o que está no elevador e traga para dentro.
Ele respira profundamente, e faz o que ela pediu, no elevador tem
dois sacos pretos com o que parecia ser muito obvio seu conteúdo, puxando
ambos do elevador para levar um de cada vez para dentro do apartamento.
Maya está esperando-o.
— Leve o maior para seu quarto.
Ele carrega o grande e pesado saco preto até seu quarto e o coloca no
chão, começa a abrir e o cheiro de morte invade suas narinas.
— Maya quem é esse? — O corpo está fresco para sua surpresa.
— É você. — Juntos tiram o corpo do saco. — Estamos indo. — Ela
avisa.
— Como?
— Do único jeito que dá, morrendo.
Ela corre para sala e começa a tirar o outro corpo do saco preto esse
é menor, quando o rosto aparece é inegável em como se parece com ela o mesmo
corte de cabelo e a mesma cor. Ela coloca o corpo na mesa de centro quebrada.
— Por gentileza traz o Nikolai para sala e o deixa no sofá. — Led
deixa Nikolai onde ela pediu. Maya pega a mala com os pagamentos do dia e
coloca ao lado do sofá.
Desconhecido
Eles chegaram, saiam pelos fundos.
10:12 pm
— Maya, temos que ir. — Ela veio caminhando com dois pacotes,
um ela coloca perto do corpo da mulher morta. — Vamos. — Apressa, enquanto
ela olha ao redor. Ela corre para garrafa com o whisky batizado e o arremessa na
parede, depois pega uma bolsa preta, estilo mochila.
Led assiste e não entende o que via e nem o que estava prestes a
acontecer.
Segurando sua mão, Maya os leva para cozinha depois, para seu
quarto e na parede perto de onde deixaram o corpo do homem ela coloca o outro
pacote preto.
Fechavam a porta da área de serviço, quando ouvem o aviso do
elevador principal, o elevador de serviço está à espera, eles apressam-se para
entrar a porta fecha e começar a descer, chegando ao décimo andar sentem o
abalo da explosão na cobertura, o elevador para e as luzes de emergência são
acionadas.
— Merda! — Esbraveja Maya apertando o botão para descer. —
Temos que abrir a porta manualmente. — Ela começa a puxar de um lado e Led
do outro, a porta começa abrir pesadamente, o elevador que está na metade do
andar começa a balançar, os sons estridentes dos cabos soam, fazendo eles
frenéticos onde estão presos.
— Maya, dá para você pular, vai, eu vou em seguida.
— Não irei sem você!
Seus olhos brilhantes no tom mais escuro de verde que já havia visto.
Ela olha para Ele e foi como se estivesse vendo sua alma. Maya não sairia sem
ele e ele não a deixaria morrer.
Led entra no vão da porta meio aberta e empurra com as mãos um
lado e com as pernas empurra o outro, enquanto Maya tenta puxar um lado com
suas mãos, o elevador começa a balançar mais, eles param na espera da morte
iminente, contudo o elevador para.
— Led já está bom. Vamos, não temos muito tempo.
— Você primeiro. — Ela deu alguns passos para trás pegou impulso
e pulou, ele fez o mesmo em seguida, caindo quase que em cima dela. Nunca
será possível saber se foram os impulsos deles para o pulo de escape, mas o cabo
do elevador partiu no momento em que Led pousou no chão, a tempo de ver o
elevador fazer seu último mergulho no fosso.
— Acho melhor ir de escada.
Ela sorri e o ajuda a levantar. Tira uma touca da bolsa e dá a ele.
— Coloca, não podemos ser identificados. — Ela fecha o casaco que
veste, coloca uma peruca loira e cobre com o capuz do casaco. De mãos dadas
entram nas escadas de emergência e se juntam com os moradores que estão
sendo evacuados.
Todos falam que a explosão foi na cobertura e que poderia ser
vazamento de gás e que com a queda de energia os elevadores pararam.
Misturados entre as pessoas, Maya e Led descem o mais rápido que podem sem
chamar atenção para eles.
Perto da saída Led a segura. — Os seguranças do Nikolai? — Seus
olhos vagavam a sua volta à procura de perigo, como uma águia procura por
comida.
— Já cuidaram deles. — Ela fala instigando-o pela mão para irem,
passam pela saída ignorando a cena perturbadora e os gritos de assombro dos
moradores, seguem direto para rua de mãos dadas com Maya liderando o
caminho.
Naveen
Boas escolhas, elas podem chegar amanhã.
10:23 am
Antony
Obrigado.
10:24 am
Sentado na cadeira, Leo traduziu para Antony, o que Paris fala com a
cabeleireira, pedindo a opinião dele sobre se gosta do que elas propuseram. No
fim, ele opta por um corte médio com as pontas repicadas que falaram que era
para dar volume. Paris explica como manter e as opções para usá-lo e, como lhe
daria o visual pós foda que ela tinha mencionado no carro.
— Você tem o rosto marcado, a mandíbula acentuada e sobrancelha
grossa. Seus olhos ganharão vida e se destacará em seu rosto. Fará as mulheres
brigarem por você. — Paris comenta enquanto acompanha a cabeleireira para
saída, envergonhado desvia o olhar e elas sorriem.
— Vou adorar ver as mulheres brigarem por você. — Leo se anima.
— Você está bem com isso? — Antony pergunta para estabelecer
limites.
Se ela falar que não, mesmo que não exista sexo entre eles.
Ele aceitaria qualquer relação desde que ela fique ao seu lado.
— Claro que sim. Não posso pedir para não transar com ninguém ou
conhecer outras pessoas. Tudo, que quero é fazer parte da sua vida e, que você
faça parte da minha. Se um dia conhecermos pessoas e nos apaixonarmos, eu
aceitarei a sua escolha, desde que você aceite a minha e nunca, nunca, me afaste,
porque ninguém me afastaria de você. — Suas palavras o surpreende.
— Feito. Mas não acho que quero dividir você. — Antony declara,
sela seus lábios com os dela.
— Essa decisão não cabe a você. Não seja hipócrita, nossos direitos
são iguais. — Adverte com leveza, mas muita seriedade.
Raphael
Não, tenho que estudar.
07:40 am
Saul
Não seja tão nerd, suas aulas nem
começaram e acabamos de nos formar…
07:41 am
Raphael
Passo desta vez, quem sabe a
próxima…
07:42 am
Saul
Encontro você na construtora.
07:42 am
O nome Paraíso foi a primeira coisa que chamou a atenção de seus
pais quando eles procuravam por um lugar para começar a vida deles, quando
chegaram na cidade e se deparam com as praias de águas claras, tiveram certeza
de que esse era o lugar certo.
A cidade costeira tem em seu distrito a Ilha de São Pedro e outras ilhas menores
que faz da cidade estância turística, como também um grande polo comercial. A
construtora Verona está localizada no centro comercial de Paraíso, ela cresceu
muito nos últimos anos. Tudo graças aos prêmios de destaque de Gabriel,
Raphael cresceu nesse espaço essa é a vida dele.
E ele não poderia desejar uma melhor.
— Bom dia, Senhor Raphael!
— Senhor? — Balança as mãos. — Jesus, você praticamente ajudou
meus pais a me criar.
— Agora você é chefe menino Raphael, não é apropriado chamá-lo
pelo nome. Sou apenas o porteiro.
Jesus é um homem simples com sorriso fácil e estatura mediana, ele
vive para prover para sua família se dedicando em fazer o melhor nas suas
funções, anos se passaram dando-lhe alguns cabelos brancos, mas ele ainda é o
mesmo homem que oferecia balas a Raphael, enquanto ele esperava seus pais
para levá-lo a escola.
— Você não é apenas o porteiro. Você é O PORTEIRO! Se hoje
somos grande é porquê você abriu as portas para nossos clientes. Você é nossa
arma secreta. — Raphael pisca conspiratório.
O homem sorri envergonhado, mas orgulhoso de si mesmo.
— Bom dia, garoto! Pare de contar histórias. — Rindo Raphael entra
no elevador seguindo para o andar de desenvolvimento da construtora,
atualmente eles ocupam dois andares dos quatro que este edifício tem: Recursos
Humanos, Presidência e a sala de apresentação ficam no quarto andar, o
Desenvolvimento fica no terceiro andar junto com a informática.
— Bom dia, Raphael!
Ela sim, poderia chamá-lo de senhor, desde que foi designada para
ser a secretaria dele. Há cada dia fica mais pessoal e muito pouco profissional,
para desconforto dele.
— Bom dia senhorita Lysebel. — Ela veste um dos seus muitos
vestidos provocantes, dos quais ele sempre evita olhar. — Tenho que analisar os
projetos para o resort. Não quero ser incomodado durante esta amanhã.
Ele espera que ela entenda, que não deve entrar para iniciar
conversas casuais, que ele nunca gostou de ter com ela.
Deveria demiti-la.
— Chame sua esposa também. Ângela ficará mais que feliz em vê-la
novamente. — Gabriel sugere a Álvaro, enquanto inicia a chamada para sua luz
inspiradora. Ter mais tempo com Ângela é o principal motivo desta sociedade.
— Raquel vai adorar! Ela sempre diz que não a levo para sair com
frequência, como se houvesse tempo. Eu trabalho quase o dia inteiro para suprir
seus caprichos, enquanto ela cuida unicamente da casa e de nossa filha se ela
trabalhasse de verdade saberia como é.
Se sua mãe o ouvisse agora, com certeza rasgaria o acordo e o
mandaria para muito longe. Ela trabalhou duro para ajudar seu pai, cuidando da
casa e deles, sempre pensando em tudo, antecipando as necessidades. Ângela é
tão importante para eles quanto o ar, ambos ficariam perdidos sem ela. Ela
jamais aprovaria esse tipo de comentário que Álvaro fez. Papai não cansa de
dizer que se não fosse ela em lhe dar força, não estariam onde estão. No começo,
eram os dois em um escritório minúsculo, mamãe mantinha a jornada tripla
cuidando de casa, trabalhando como professora e ajudando no escritório. Todo
momento que Gabriel quis pôr o pé no freio, Ângela o fazia continuar e não
desistir. Sem ela nada disso seria possível.
— Então está certo, eu vou voltar a minha sala, enquanto os senhores
comemoram. — Raphael se despede.
— Não Raphael, venha participar chamarei Sophie também. —
Álvaro tira do bolso o celular.
— Obrigado. Mas tenho um projeto para finalizar. Fica para
próxima. — Seu pai sorri com orgulho de seu empenho nos projetos que
assumiu, quando se formou. — Pai. — Se abraçam.
— Sua mãe quer que você venha jantar hoje em casa. — Gabriel
avisa.
— Ela sempre tem o que quer. — O riso de Gabriel, segue o filho
para além da sala de reuniões.
Sophie
Seu apartamento hoje à noite?
10:30 am
Raphael
Não estarei lá.
11:45 am
FAMÍLIA
HEITOR
ANTONY
HEITOR
GOHAN
ANTONY
Quarenta minutos depois Tony volta para casa com um prato cheio
de sushi, deixa na ilha e sobe para chamar Leo que está dormindo jogada na
cama dele.
— Zhizn?
Ela abre seus olhos grandes e se espreguiça esticando-se para todos
os lados.
— Você achou? — Ele faz que sim e é agraciado por um enorme
sorriso megawatts dela. Ajuda-a se levantar e descer a escada.
Leo devora tudo satisfeita. Acaricia a barriga quando a onda vem de
uma vez fazendo-a correr para pia principal, pois não daria tempo de chegar no
lavabo. O vômito vem em jatos fortes saindo pelo nariz e boca, pedaços de arroz
e salmão.
Tony segura seu cabelo para não ficar no caminho. Com a outra mão,
a conforta com toques leves em suas costas curvadas. Quando ela choraminga
com a ardência do vômito ele tenta confortá-la com palavras de carinho. Depois
lhe oferece água para fazer um bochecho.
— Lyubov, eu quero picolé de limão… — Choraminga.
Tony a olha abismado, sem entender como ela consegue ir de um
ponto a outro em tão pouco tempo. Arruma o cabelo dela, passa mão em seu
rosto.
— Vou pegar na casa dos nossos pais, Heitor tem uns escondidos
para emergências.
— Por que você não fica a noite? — Tony nem olha para estudante
nua na cama, enquanto veste a calça.
— Porque isso faria parecer um relacionamento e não tenho
relacionamentos.
Quando perguntas deste tipo aparecem, é hora de dispensar a garota e
partir para próxima. Por mais que diga não querer nenhum envolvimento
amoroso, elas sempre criam expectativas.
— Se o seu casamento fosse bom, nossa tarde não teria acontecido.
Talvez sua esposa deva ser uma dessas caipiras que engravidou para segurar um
bom marido. — A estudante hostiliza.
Tony olha com frieza para ela.
— Você não poderia estar mais enganada, minha esposa é tudo. —
Aproxima dela e segura seu queixo com força calculada. — Nunca se refira a ela
com menos do que respeito você não chega aos pés dela e nunca, nunca fale dos
meus filhos. — Assevera e solta ela.
— Se ela fosse tudo isso, você não me procuraria. — Fala com
petulância.
— Você é um buraco e nada mais, não deixe isso subir a sua cabeça e
não se preocupe não irei te procurar novamente. — Com essas palavras vai
embora.
Ao chegar no estacionamento, três veteranos estão ao redor de sua
motocicleta.
— Com licença! — Pede educadamente.
— Aí está ele! — O mais alto fala em tom de deboche com os
outros. — Estou aqui para mostrar o que acontece quando se mexe com a mulher
dos outros.
Tony estuda o campo a sua volta se preparando para combate.
— Se eu transei com ela enquanto era sua mulher, sugiro que troque
de namorada. — Esquece a educação, enquanto eles o cercam.
— Ela disse que você a forçou!
O rosto de Tony fica sombrio com que escuta.
— Nunca forcei ninguém, elas se oferecem. Se sua garota disse que a
forcei, ela mentiu. Todas sempre vieram por vontade própria. — Sorri sombrio e
maliciosamente.
— Se oferecem a você? — Eles riram. — Você é uma aberração.
Leve apenas o que importa. Leve apenas o que importa…
Se aproxima da motocicleta e o líder se coloca em sua frente.
— Está fugindo? Todos comentam que você é um homem casado,
você fodeu a minha garota, acho que seria justo foder a sua.
O Soco foi certeiro no rosto do veterano, seus seguidores seguram os
braços de Tony para impedir que ele dê mais golpes e para que seu líder pudesse
revidar.
No momento em que o veterano deferiria o golpe, Tony chuta o
aluno que segura seu lado esquerdo que o solta rapidamente. Tony o coloca na
linha do golpe, o estudante cai no chão com o nariz sangrando. O outro que
segura o lado direito inicia o golpe, Tony não teve dificuldade de se esquivar e
golpeou contra seu rosto duas vezes. Ele caiu e ficou no chão gritando de dor ao
lado do amigo. O líder ficou por último, seus punhos estavam cerrados e em
frente do rosto como um pugilista mediano ficaria.
Tony sorri com deboche.
— Aprendeu a posição em um filme? Vem, — acena com a mão, —
vou deixar você tentar primeiro. — Uma multidão se aglomera a volta gritando.
De repente para Tony é como estar de volta no Arena. — Vem seu merda, ataca!!
— O veterano avança com o punho cerrado. Tony se esquiva e com o joelho,
acerta o estômago do adversário fazendo ele se curvar. Finaliza acertado suas
costelas derrubando-o não chão. — Nunca fale da minha esposa! — Chuta-o
fazendo ele se retorcer de dor.
Passa por cima dele e de seus colegas, monta em sua motocicleta e se
afasta da multidão. Seu corpo treme para finalizar cada um deles, as pessoas
gritando incentivando, o cheiro de sangue e violência desperta o seu pior.
— Zhizn!? — Tony grita assim que entra em casa, ela corre ao seu
encontro, segurando a barriga de trinta semanas.
— Lyubov o que foi? — Leo é puxada para um abraço apertado. —
O que houve? — Ele inala o seu cheiro até se acalmar e seu corpo tenso relaxar,
Leo segura sua mão com as lesões da briga. — Sente. — Ela coloca a mão dele
em sua barriga para sentir os bebês se mexendo. — Eles sentem você. —
Levando Tony pela mão escada acima indo direto para o banheiro, ela liga a
água da banheira e começa a desabotoar sua camisa e a tira, abre o cinto e a
calça. Limpo de tudo, indica para ele entrar na banheira com água quente. —
Agora diga, o que aconteceu? — Leo senta na borda, o escuta relatar a briga, as
pessoas gritando, a lembrança da Arena e o desejo de matá-los. — Está tudo
bem! Já passou! — Suas mãos massageiam sua cabeça, vez ou outra ela beija-o
carinhosamente. — Podemos adiar o nosso encontro e ficarmos em casa. —
Oferece.
— Não. É o nosso encontro, nada atrapalhará nossa tradição. — Ela
sorri orgulhosa.
— Eu te amo!
— E eu te amo mais! — Ele a beija, a mão esquerda acarinha seu
rosto delicado. — Estou em casa. — Declara.
Tony
Gaia precisa do tio.
02:11 pm
Naveen
A caminho…
02:12 pm
— Vamos, faz tempo que você não sai e, perdemos nosso encontro
nas últimas quatro semanas. — Tony fala ansioso tentando convencer Leo a sair.
Desde o nascimento das crianças ela se recusa a se afastar delas.
— Não quero deixá-los e se acharem que os larguei? Não posso! —
Leo reluta.
— Zhizn, Heitor e Paris ficarão com eles. — Segura sua mão com
carinho. — Vamos? — Ela olha para bebês no berço e depois para ele que faz
beicinho.
— Eu não vou abandonar vocês, papai vai levar a mamãe para jantar
e já voltamos! — Seus olhos lacrimejam.
— Zhizn, eles sabem que você jamais os abandonariam.
— E se eles sentirem medo? — Pranteia.
— Não vão, eles têm os avós mais legais do planeta. — Ela meneia
que sim. — Vá se arrumar. — Ela beija as crianças com relutância em largá-los.
Tony admira Leo terminar de se arrumar, nunca imaginou que ela
poderia ficar ainda mais linda. Seu corpo perdeu o peso que os bebês a havia
dado na gestação, ela não está magra como antes, está curvilínea e seus seios
estão maiores por causa da amamentação.
— Não imagina como é estranho voltar a usar salto.
— Antes de sair gostaria de lhe dar isso. — Abre a caixa de veludo
azul. —Representa o nascimento das crianças e o começo da nossa família.
— Oh! É lindo!
Ela toca o colar em ouro branco com diamantes, safiras rosa e azuis,
diamantes amarelos, granadas demantóides e tsavoritas, todas elas incrustadas
formando um laço e flores coloridas.
— É tão colorido! — Ela pula no colo dele abraça-o e sela seus
lábios nos dele. — Eu amei! — Ele devolve com um sorriso igual ao dela. —
Vou trocar de roupa, essa que estou vestindo não destacará essas belezas.
Tira o vestido deixando caído no chão e volta para o closet, cinco
minutos depois saí com um vestido verde-claro estilo tomara que caia de renda,
deixando seus ombros a mostra. O cabelo que estava solto agora parte dele está
preso no alto deixando o pescoço e rosto livre, vira-se para Tony colocar o colar.
Ela reluz felicidade, seus olhos competem com o brilho das pedras, o que é
desnecessário, pois para Tony eles são muito mais impressionantes que qualquer
pedra preciosa.
— Está além do que imaginei, seus olhos se destacam e a joia fica
em segundo plano, dando suporte para eles. — Beija-a na curva do ombro com o
pescoço e são pegos de surpresa pelo som da câmera fotográfica.
— Paris! — Leo e ele falam juntos.
— Que foi? Estavam tão íntimos e apaixonados, vocês formam o
casal perfeito. É como essas histórias que as pessoas leem e passam a vida
tentando ter algo parecido.
— Está pronta? — De mãos dadas vão ao berçário ver as crianças
que brincam com suas mãozinhas, Paris não para de fotografá-los.
— Não vamos abandonar vocês. — Leo fala, beija-os e saí olhando
para eles no berço.
Ao entrar no restaurante todos os olham com curiosidade, não é
exagero falar que chamam atenção.
— Acho que Paris disse a verdade.
— Fazer o quê, se somos lindos a ponto de autocombustão. — Tony
fala incitando o sorriso dela.
A próxima hora passa com eles conversando sobre tudo, Leo conta
suas histórias para Tony que as acha hilárias pelo fato dela não entender as
reações das pessoas, esses eram seus momentos, o mundo poderia estar em
chama e eles não ligariam.
Logo a professora de Tony se aproxima da mesa em que os dois
estão.
— Tania, não começa. — Ele alerta ao vê-la com olhar cevado de
ódio.
— Não começar o quê? Está com medo de escândalo? — Sua voz
eleva e chama mais a atenção para os que já estavam sobre escrutínio das
pessoas. — Tem medo que sua esposinha troféu saiba de suas atividades extras?
— O que ele quer, é que você não torne tudo mais vergonhoso para
você. Eu sei muito bem o que ele faz. O que me chateia é você por um segundo
achar que tem qualquer direito sobre ele. Você não tem. Agora se recomponha e
volte para sua mesa, contente-se com que você teve dele, pois não terá mais que
isso. — Tania olha para Leo por vários segundos atônita. — Não ouviu? Saia! —
Ela se assusta com a ferocidade das palavras. — Ou meu próximo ato será ligar
para o reitor da faculdade e pedir a sua demissão, já que sua transferência não foi
suficiente. — Tania fica paralisada em choque. — O quê? Achou que poderia
tocar o MEU marido e sair impune, se enganou. Saia e fique longe, caso o
contrário, você implorará aos céus para voltar ao dia em que era apenas uma
professora de meia idade que transa com os alunos para aliviar sua crise
existencial. — Como se tivesse levado um tapa na cara, Tania se sobressalta e saí
constrangida por entre as pessoas que agora foca exclusivamente nela, já que as
palavras ditas por Leo, foi alto o suficiente para ser ouvida nas mesas ao lado.
— Desculpe, era para nossa noite ser perfeita. — Tony fala
enraivecido.
— Não se desculpe, você não é responsável pelo que não controla. E
nossa noite está perfeita com possibilidade de melhorar. — Leo aperta a mão
dele, eles respiram profundamente juntos e, voltam para a bolha. — Não sabia,
mas senti falta dos nossos encontros. Quer ir dançar?
— O que você quiser. — Tony sorri animado.
Ao chegar no clube são enviados direto a área VIP e se deparam com
Naveen.
— Irmãos sejam bem-vindos a festa!! — Grita acima do som alto, a
área estava cheia de conhecidos de Naveen.
Leo é puxada para a pista de dança por seu irmão, juntos são
hipnotizantes. Uma nova música começa e Leo dança para Tony tendo toda sua
atenção.
Seus olhos verdes hipnotizam Tony. Ela é dele, indubitavelmente
dele. Ela se move com fluidez, suas curvas arrebata-o. Outra música começa e
Leo o chama com o dedo.
Tony segue o chamado e seus corpos se unem em comunhão com a
música, dançam com sensualidade e intensidade. A excitação que emana deles
contagia todos em volta.
Naveen junta-se a eles dando um show de dança sexy em trio, muitos
tentaram entrar no meio e ter uma lasca, mas ninguém poderia alcançar a
venustidade que eles invocavam.
Três é com certeza um número mágico.
— Lyubov, preciso ir ao banheiro. — Leo avisa, ele assente e
contempla ela caminhar para longe, enquanto ele senta e descansa.
Naveen estava aos beijos com um homem moreno todo tatuado. Leo
volta do banheiro quando é segurada pelo braço por um homem que fala com ela
invadindo seu espaço pessoal. Tony observa a cena cerrando os punhos para se
conter, em seguida Leo o leva para o banheiro. Não demora muito, ela volta
sozinha e fala com um dos funcionários do clube, arruma o cabelo, ajeita o colar
e volta para Tony que relaxa visivelmente.
Ela senta em seu colo com as pernas abertas o enredando e fazendo
seu vestido subir, mostrando mais de sua pele. As mãos dele captura seu quadril
mantendo-a junto a ele com uma pegada possessiva.
— Tudo bem? — Averígua indicando o banheiro com a cabeça.
— Claro que sim. — Beija sua boca. — É possível, ou não, que
tenha um homem desacordado no banheiro, que ao cair, bateu a cabeça na pia e
se machucou. — Ela fala em seu ouvido. Suas mãos apertam mais ela. — Enfim
sabe como é essas coisas, as pessoas bebem demais fazem e falam o que não
devem e depois acidentes acontecem. — Tony a puxa mais perto, se é que é
possível.
— Por isso que parei com a bebida. — Responde em seu ouvido,
beija abaixo da sua orelha fazendo-a rir alto.
— Qual a piada? — Naveen pergunta. Tony a mantém junto ao seu
corpo.
— Acabou o exame bucal no seu amigo? — Tony fala e olha para o
homem se afastando.
— Ah, sim! Ele foi buscar uma amiga para brincar junto. Então qual
a graça? — Ajeita a bagunça de seus cabelos escuros, provocado pelo beijo
inflamado.
— Nada demais, Leo estava contando as mazelas de quem exagera
na bebida. Falei que é por isso que não bebo. — Naveen olha de Tony para Leo
com uma sobrancelha duvidosa arqueada.
— Que seja! Bom, estou indo para casa desse meu amigo, vejo vocês
amanhã. — Sorri maliciosamente.
— Estamos encerrando também. — Tony levanta com Leo ainda em
seu colo, que envolve as pernas em sua cintura.
— Te amo Naveen!!! — Leo grita para ser ouvida por cima da
música.
— Te amo também princesa, amo você também irmão! — Grita de
volta e todos olham.
— Eu te amo mais! — Tony responde caminhando pela multidão
com os braços segurando Leo apertado até o carro.
Em casa tudo está silencioso.
— Tenho que tirar leite. — Tony a ajuda com o vestido e o sutiã. —
Liberdade ainda que tardia! — Ela relaxa com alívio da pressão em seus seios
cheios. — Eles já estavam doloridos.
— Por que não avisou? Podíamos ter voltado antes.
— Não Lyubov e acabar com a noite. Precisávamos desse tempo, eu
adorei cada segundo. Isso, — apontou para os peitos. — não foi nada.
— Também gostei. — Leva uma mecha de cabelo que cobria o olho
dela, para trás da orelha.
— Pronto! A mamãe está devidamente ordenhada. — Guardam os
recipientes na geladeira e seguem direto ao berçário.
As crianças estão acordados para a alimentação da madrugada, Paris
e Heitor trocavam eles.
— Olhem, mamãe e papai chegaram! — Paris fala — São lindos!
Agora vocês dois para fora. É a noite dos avós. A situação está controlada. —
Leo e Tony beijam as crianças na cabeça e saem do quarto dando aos avós seu
momento com os netos.
Eles se preparam para dormir e como toda noite de encontro, nunca
terminam sem companhia. Tony a espera em sua cama antes de apagar a luz.
9 MESES DE IDADE…
— Pegue a câmera, corre! — Tony corre rápido para o escritório e
pega a câmera. — Chame! — Ele liga, enquadra e aperta o play.
— Gael, vem para o papai! — Leo o segue de perto com os braços
em volta para o caso dele cair. — Vem Gael! — Ele fica de quatro levantando
lentamente com a ajuda de suas mãos até ficar de pé, cambaleando Gael dá seu
primeiro passo, seguido do segundo. — Vem!
Os pegando de surpresa, Gaia também levanta e cambaleia até o pai,
que agora está transcendendo de felicidade.
— Oh, minha nossa! — Leo a passos lentos segue as crianças de
perto com os braços abertos. — Lyubov, são tão lindos! — As crianças chegam
até o pai que os esperam de joelhos. Os abraça entregando a câmera para Leo.
— Vem Zhizn, abraço em família! — Segurando a câmera, ela os
abraça sendo recebida com beijos. — Peguem a mamãe! — Tony pega a câmera
de volta, Leo se afasta.
— Gaia, Gael, vem pegar a mamãe! — Eles a seguem dando passos
cambaleantes, cada vez mais seguros.
Quando se cansam, sentam e voltam a brincar com seus brinquedos.
— Zhizn, já disse que te amo hoje? — Enquadra a câmera neles.
— Não Lyubov, você não disse. — Ela sorri para câmera.
— Como posso ser tão descuidado e não dizer a mulher mais linda
desse mundo, a mãe dos meus filhos, que eu a amo mais do que amei ela ontem.
— Inclina-se para ela ficando de frente. — Eu te amo e sou louco por vocês!
— Também amo você! Muito mais do que ontem e menos do que
amanhã. — Beija-o tendo esse momento sendo registrado pela lente precisa e
enquadrada da câmera.
Olham para as crianças brincando, cópias perfeitas deles. Gaia tem o
cabelo volumoso com cachos nas pontas e os olhos verdes que mudam sempre o
tom como os da mãe. Gael não é totalmente albino como Tony, a pediatra, logo
após as crianças nascerem, disse que ele é parcialmente albino o que é bem mais
raro pois sua pele não é totalmente branca como a de Tony. Com o passar dos
meses, seus olhos não mudaram de cor, ficando roxo como os dele, mas o uso de
óculos será importante em breve.
10 MESES DE IDADE…
Todos a mesa para o almoço de domingo em família.
— É verdade! Leo achou a obra de arte que procurava em uma
mansão em Singapura e o único disfarce que achei, na hora para invadir, era de
dançarino exótico. Então fui. — Naveen conta.
— Isso explica como você fugiu correndo usando apenas uma aljava.
Mas não o fato de ser caçado, durante um mês, por uma senhora muito saudosa.
— Tony alfineta.
— Fazer o quê se fui um Robin Hood muito bom! Acho que até hoje
a proprietária pensa que quem a roubou foi o Frei, já que ele não foi receptivo
com suas indulgências. — Todos riram.
— Papa! — Foi baixo, mas fez todos pararem para ouvir. — Papa,
papa! — Gaia batia as mãos na cadeira enquanto fala. — Papa!
— Mamãe! — Leo incentiva a filha. Gael está quieto na cadeira dele
comendo uma fatia de maçã. — Fala mamãe! — Insiste.
— Papa!
— Não, mamãe!
— Papa! — Gaia sorri mostrando seus dois dentes da frente.
— Zhizn aceite, você perdeu! — Tony brinca cheio de orgulho.
— Papa! — As mãozinhas dela alcançaram o prato com maçã na
cadeira de Gael e pega uma fatia. — Papa!
Houve silêncio e depois risos, muitos deles.
— Aceite Lyubov, você também perdeu. — Leo fala bagunçando o
cabelo de Tony com orgulho ferido. — Sua filha com fome e você se gabando,
— tsc-tsc — que feio… — Ele é rápido e a puxa para seu colo fazendo cócegas
em sua cintura — Para! Cocegas não!! — Suplica se contorcendo e rindo.
— Essa foto ficará linda! — Paris comenta, abaixando o celular que
usou para registrar o momento.
ANIVERSÁRIO DE 1 ANO
Leo confeita o bolo na cozinha e as crianças brincam no solário,
onde ela pode vê-los.
— Sobrou recheio?
— Sobrou, fiz a mais prevendo a minha grande e gulosa formiga
albina. — Entrega a vasilha com recheio restante, ele beija-a na ponta do nariz.
Pega uma colher e encosta no balcão ao lado dela e observam as
crianças brincando — Um ano, um ano inteiro se passou!
— Eu sei, passou rápido. Antes o tempo tendia a se arrastar, depois
você chegou e em seguida as crianças, parece até que ele está correndo em alta
velocidade. — Com a colher na boca Tony concorda com a cabeça — Acho que
está na hora de fazer aquele curso de culinária que você indicou. — Sua mão
alisa com a espátula a cobertura no bolo.
— Será bom, prometo ser sua cobaia. — Sorri.
— Como se já não fosse.
— Bom ponto!
— Hora dos presentes! — Naveen grita da porta. Em suas mãos, um
embrulho decorado em papel brilhante. Foi direto para as crianças.
— Você sabe o que é? — Leo pergunta desconfiada para Tony.
— Não.
Eles seguem Naveen. Gael puxa um lado do papel enquanto Gaia
puxa o outro, revelando uma caixa de madeira com desenhos intrincados.
Naveen abre a caixa para as crianças, que olham o conteúdo e não se importam
tanto, pois o que lhes chamou a atenção, foi o papel que eles voltam a rasgar e
amassar.
— Agora vocês não ligam, mas no futuro vocês irão me agradecer.
— Senta-se ao lado deles.
Leo pega um dos Ovos Fabergé em sua mão.
— Não é original? — Analisa o ovo incrustado de pedras verdes e
azuis. Dentro havia uma surpresa decorada em ouro e safiras.
— São, meu avaliador garantiu a originalidade deles.
— Então porquê? — Tony pergunta confuso.
— A história não os queria comigo, esse tempo todo a minha busca
era para trazer algo maior que alguns ovos bobos. — Olha para Tony expectante.
— Trouxe você e, não há pessoas melhores que meus sobrinhos para ficar com
eles. — Leo abraça Naveen que puxa Tony junto ao abraço.
— Ele se cansou dos ovos?
— Com certeza! A graça mesmo é a caçada e nunca o prêmio. —
Leo responde.
Os braços de Naveen os apertaram.
— Estou ouvindo, vocês sabiam?
— Sabemos, mas não deixa de ser verdade. — Leo e Tony falam
juntos, Naveen os soltam.
— Onde você colocará? — Pergunta.
— Aqui, perto das crianças. Assim poderão brilhar por todo lugar. —
Levanta e coloca o ovo de safiras e esmeraldas em cima de uma mesa de canto, e
o outro de rubi com linhas em ouro e madrepérola ao lado. Ao menos uma hora
por dia o sol beijaria tais peças tão distintas e fariam com que reluzissem ainda
mais.
Paris organiza uma mesa no jardim para cortar o bolo, as crianças
estão animadas com tudo ao redor. Os balões foram o que mais chamou a
atenção, eles fizeram até um sistema onde Gael puxa o fitilho do balão e Gaia o
empurra.
Para eles é o ápice da diversão.
— Pronto para os parabéns? — Paris pergunta, arrumando os doces.
Tony segura Gaia e Leo o Gael no colo, juntos inicia os parabéns. No
meio da canção Leo começa a rir, pois Gael empurra o pé no bolo lambuzando
tudo de cobertura, os pais assopram as velinhas por eles que estão impacientes
para voltar aos balões.
— Eu te amo!
— Eu te amo mais! — Com dedo indica que ele se abaixe para poder
beijá-lo.
O som da câmera é anunciado. Com certeza uma nova foto será
adicionada no mural e mais vídeos de família para a coleção.
OTÁVIO
Ele passa pelo corredor e encontra a sala e a cozinha limpa como não
estava desde do dia em que se mudou, uma bela mulher está sentada no sofá
lendo um livro qualquer.
— Acordou, finalmente! — Ela levanta e agita as mãos com falsa
animação.
Ele olha tudo à sua volta, não sente ausência de nenhum objeto. Ele
nem se lembrava das coisas desse apartamento, achando que está bêbado demais
para acreditar que a mulher à sua frente é de verdade, ele ignora a possível
alucinação e corre para o bar. Pega mais uma garrafa e leva direto a boca.
— Meu tempo acabou, eu volto amanhã. — Ela segue para a porta
fechando ao sair.
Durante semanas, em horários diferentes, a mulher permeia por seu
apartamento. Ora limpando ou apenas o observando. Quando dá o seu horário, se
levanta e vai embora para voltar no dia seguinte.
No vigésimo dia ele a espera, em seu pior estado de alcoolismo. Ela
entra em seu apartamento como se fosse dona do lugar, isso o irrita, ela não tem
esse direito. Ele estava ali para se distanciar do mundo e ela não faz parte do
plano.
Levantando-se contra ela, a prende contra a parede sobrepujando-a
não só em tamanho, mas também em força.
— Eu não quero você aqui! — Fala com frieza para assustá-la.
Segura-a puxando seu cabelo, o suficiente para causar dor e medo.
O que não acontece, ele vê o brilho em seus grandes olhos verdes
fazendo parecer satisfeita. Com a mão livre, ela atreve-se por sua calça, o
tocando.
Ele aperta ainda mais seu cabelo e ela sorri ainda mais. Atrevida
desabotoa sua calça e abre o zíper, levando para ela seu membro que o trai
começando a enrijecer ao seu toque.
— O que você quer comigo? — Ele pergunta enquanto ela o
massageia na velocidade exata.
Ele tenta não se importar, não sentir, mas o atrito continua e seu
pênis o trai ainda mais.
— O que eu quero não importa. Mas o que você quer, sim. — Ela
fala com displicência continuando a massagem incessante.
E mesmo que não assuma, ele gosta.
— Você não lê os jornais? Estou falido! E mesmo que não estivesse,
não farei nada para você. — Ela pressiona ainda mais fazendo-o engolir um
gemido.
— Eu sei. Sei também sobre sua família.
A menor menção da família o faz irado, usa mais a sua força contra
ela. Otávio a bate na parede com brutalidade, quebrando o contato dela com ele.
— Não fale deles! — Ele queria quebrar algo, mais do que ele
mesmo já estava. — Você é mais uma vagabunda interesseira.
— E você é o quê? Além de um bêbado falido!
Ele levanta a saia dela, empurra a calcinha de lado e a penetra sem
consideração. O mundo não podia lhe tirar mais nada, então, passaria a tirar o
que queria, doa a quem doer. Se ela está aqui, pior para ela, pois sofrerá
também.
— Mal sabe ele, que contra tudo que é considerado
certo, Leo gostou. E enquanto a possuía, ela expurga seus
próprios demônios.
Infelizmente para algumas pessoas o processo para
aliviar suas dores emocionais é causar mais dor, entender
que precisa de ajuda é o primeiro passo para a cura.
“Eu sinto você, seu sol brilha. E me guia através da
Babilônia. Eu sinto você, sua alma preciosa e eu estou
completo”.
(I Feel You – Depeche Mode)
CAPÍTULO 12
ANTONY
Leo
Acho que meu carro quebrou…
02:16 pm
Não quebrou!
02:19 pm
Ou os dois.
02:23 pm
Leo
Quer ser minha cobaia para uma nova
receita?
06:02 pm
Tony
Sempre!
06:03 pm
Leo
O carro parou de novo . Voltarei de táxi.
03:27 pm
Tony
Estou próximo, me espera.
03:27 pm
Leo
Tenho uma dúvida!
03:40 pm
Tony
Qual??
03:41 pm
Leo
Um aluno me convidou para ir à casa dele
testar umas receitas. Isso quer dizer sexo?
03:42 pm
Tony
Ele é hétero? Convidou
mais alguém?
03:44 pm
Leo
Sim e Não
03:44 pm
Tony
Ele é do tipo de aluno que
precisa de ajuda?
03:45 pm
Leo
Ele é um dos bons.
03:46 pm
Tony
Não sei, mas acho que é
sexo.
03:47 pm
Leo
Como faço?
03:47 pm
Tony
Como faz o quê??
03:48 pm
Leo
É livre de regras. Ou posso falar delas,
como falo com os profissionais do sexo
que contrato?
03:49 pm
Tony
Se quiser usá-lo mais
vezes, evite falar as regras.
03:50 pm
Leo
Ah! E como faço sem elas ?
Não sei se consigo…
03:51 pm
Tony
Você não precisa ir se não
quiser.
03:51 pm
Leo
Mas eu quero…
03:51 pm
Tony
Então vá, na dúvida me
chame.
03:53 pm
Leo
Ok
03:53 pm
Tony
Onde você está?
05:12 pm
Leo
Na casa dele, mas precisamente no
banheiro.
05:12 pm
Tony
Regras
1: Preservativo!
2: Faça apenas o que achar
confortável.
3: Divirta-se!
05:17 pm
Leo
1, 2 e 3 Eu consigo!
05:18 pm
Tony
Você está bem?
Já se passaram 4 horas…
09:22 pm
5 horas??
10:23 pm
NÃO ESTOU
BRINCANDO!!!
10:36 pm
Leo
Oi, estou bem!!!
10:38 pm
Tony
Por que a demora??
10:38 pm
Leo
Regra 3: Divirta-se!
10:39 pm
Naveen
Caminhada da Vergonha da Leo.
Carregar foto
Rss…
11:07 pm
Tony
Não conte que rastreamos
o celular dela.
11:08 pm
Naveen
Seu segredo está guardado.
11:08 pm
Tony
Provavelmente a
seguradora trará depois.
11:11 pm
Ela precisa de um
motorista, por mais que Gohan e eu
abasteça e carregue o carro dela, ela
sempre dá um jeito de ficar sem ele.
11:13 pm
Naveen
Motorista seria bom.
Você não imagina quantas vezes ela já
invadiu o departamento de trânsito para
apagar as multas.
São tantas, que ela salvou o acesso na
barra de favoritos.
Rss…
11:15 pm
Tony
Ela entrou, tenho que ir…
11:15 pm
Leo
Ele tem namorada!!!
03:44 pm
Tony
Quem??
03:45 pm
Leo
O aluno do curso.
03:45 pm
Tony
Não se envolva em dramas
de casais, lembre-se do Carlos e da
Prym.
03:46 pm
Leo
Certo, evitarei eles…
03:47 pm
Tony
É o melhor.
03:47 pm
Leo
Preciso de ajuda!
04:18 pm
Tony
O que houve??
04:18 pm
Leo
Como funciona a dinâmica de um ménage
à trois?
04:19 pm
Tony
Que porra é essa Zhizn!?
04:20 pm
Leo
A namorada sugeriu?
04:21 pm
Tony
Quando e como?
04:21 pm
Leo
Ela me cercou no banheiro, achei que ela
queria brigar, como essas mulheres loucas
da internet.
Mas não, ela disse que o namorado falou
que sou boa…
04:22 pm
Tony
Pensei que esse lugar fosse
seguro, acho melhor você mudar de
escola.
04:23 pm
Leo
Sério, como isso funciona??
04:23 pm
Tony
Você quer fazer?
04:24 pm
Leo
Por que não?
Assisti a uns filmes agora pouco, mas é
superficial e mecânico.
04:25 pm
Tony
Para! Estou morrendo de
tanto rir…
04:30 pm
Regras
1: Preservativo!
2: Faça apenas o que achar
confortável.
3: Divirta-se!!
04:33 pm
Leo
1, 2 e 3 Eu consigo!
04:34 pm
Tony
Te amo!!
04:34 pm
Leo
Eu te amo mais!!
04:35 pm
Leo
Como é sexo 50 tons?
04:02 pm
Tony
É moda por causa do livro
50 tons de Cinzas, as mulheres se
apegaram nessas coisas.
04:03 pm
O aluno?
04:04 pm
Leo
Não o professor
04:05 pm
Tony
Terei uma conversa séria
com o diretor dessa escola!
04:06 pm
Te amo.
04:06 pm
Leo
Eu te amo mais!!!
04:06 pm
Leo
Comemoração do fim do curso, chegarei
tarde!
06:20 pm
Tony
Mande notícias…
Boa festa!
06:21 pm
Leo
Eu te amo muito mais do que ontem e
menos do que amanhã…
06:22 pm
MIGUEL
— Não pense assim minha querida, estamos trabalhando para dar aos
nossos netos um futuro confortável. Mais alguns anos e irei me aposentar e
Raphael assumirá minha posição. — Gabriel a acalma.
— Ouviu seu pai? Quero netos em alguns anos!
Raphael sorri de boca cheia.
— Tem uma garota. — Ele confessa. Sua mãe fica exultante, seu
sorriso poderia competir com a luz solar.
— Conte-me sobre ela!
Raphael suspira preparando o ânimo.
— Ela se chama Valentina, nos conhecemos através de Saul em uma
festa. Trocamos mensagens e a convidei para um encontro… E ela é modelo.
E o sorriso dela esvanece.
— Ou seja, ela não trabalha.
— Ela é nova na área, mas fez algumas campanhas. — Sua mãe faz
cara de desanimo. — Mas ainda é cedo para formalizar um relacionamento.
— Claro, me mantenha informada. — Finaliza sem interesse.
— Tem que tentar meu filho. O dia do seu casamento, será o mais
feliz da sua vida, assim como foi para mim. Nada supera no mundo se casar com
a mulher que ama e, dividir com os outros essa felicidade. — Gabriel aconselha.
6 MESES DE NAMORO…
— Minhas coisas estão todas aqui. Estava pensando… eu poderia
me mudar para sua casa!
Raphael está concentrado lendo uma matéria importante sobre as
tendências de arquitetura, ouve o que ela propõe, mas não presta a devida
atenção.
— Claro, se você acha. — Responde distraído. Ela pula no colo
dele e o beija deixando-o aborrecido por ter interrompido sua leitura.
— Seremos tão felizes aqui!
— Como assim?
— Raphael! Você fez de novo? Eu acabei de perguntar sobre
morarmos juntos e você falou que sim. Mas de novo, você não estava dando
atenção. Quer saber, que se foda! — Valentina sai do colo de Raphael e lhe dá
as costas e já começa a vestir suas roupas.
Ele a assiste se vestir se perguntando como não previu isso.
Ele vacilou.
— Valentina, me desculpe…
Não sabe o que mais pode lhe dizer. Para ele, ainda é cedo dar esse
passo. Ela não é pegajosa, na verdade, sempre o incentiva a trabalhar mais e
melhor. Eles são bons juntos, exceto quando ele a magoa. Então ele tem que dar
atenção e presentes, algo que ele aprendeu logo na primeira discussão. Naquela
ocasião ela só o perdoou depois que ele lhe deu flores e uma pulseira de ouro.
Até hoje, não sabe o motivo da briga, mas sabia exatamente qual pulseira teria
que comprar, pelas indiretas que ela havia dado algumas semanas antes de tudo
acontecer.
— Adoraria ter você aqui comigo todos os dias. — Ele se levanta e
a abraça por trás. Por hora a situação foi controlada.
10 MESES DE NAMORO…
— Por que você não diz que me ama? — Ela faz a cara de choro
que Raphael evita a todo custo.
— Eu te amo Valentina.
— Assim não!
Ele não entende aonde ela quer chegar. Ele não foi sincero. Gosta
dela? Sim, mas não à ama. É provável que isto não seja possível para ele como
aconteceu com seus pais.
— Moramos juntos há meses! Se você se importasse comigo já teria
me pedido em casamento. — Sua voz sai cheia de mágoa e os olhos cheios de
lágrimas que correm livremente. — Talvez, seu amor só não seja grande o
suficiente. — Ela limpa o rosto tentando parecer refinada.
— Eu te amo muito! — Mentiu.
— Oh meu Deus! Isto é o que eu acho que é?
Raphael fica perdido, ela queria que ele falasse que a ama e ele
falou.
Durante a tarde, Tony notou como Leo estava inquieta. Sabia que ela
queria contar-lhe alguma coisa, mas deixou que ela tivesse seu próprio tempo.
Enquanto preparavam o jantar Leo respira e inspira lentamente e
Tony percebe que ela finalmente toma coragem.
— As crianças precisam conviver com outras crianças. — Tony está
cortando os legumes.
Ele olha para os gêmeos brincando no solário.
— Podemos matriculá-los em uma escola.
— Você não acha que eles são muito novos? — Ela para de mexer o
conteúdo da panela, absorta dentro de seus pensamentos.
— Não acho. Três anos é uma boa idade para interação, podemos
colocá-los por meio período. Se acharmos que eles não estão gostando podemos
tirar. — Tony sugere.
Leo pondera e volta a mexer a panela.
— Parece um bom plano. — Olha as crianças brincando e sorri. —
Podemos pesquisar algumas escolas depois do jantar?
Com as crianças dormindo começam a pesquisar. Na região, apenas
duas escolas têm potencial. Anunciam no grupo da família sobre a visita nas
escolas e claro todos confirmam presença.
Tony
Ela está bem?
03:06 pm
Miguel
Sim.
03:06 pm
Tony
Pegou o responsável?
03:07 pm
Miguel
Sim.
Ele está no fosso.
03:08 pm
Tony
Estou a caminho.
Lidarei com ele quando
chegar.
03:08 pm
O homem está amarrado e Miguel já havia tido sua cota de surra com
ele, Tony constatou pela aparência.
Quando o culpado notou a presença violenta de Tony, o pavor fica
estampado em seu rosto.
— Não! Por favor eu imploro! Não sabia quem era, se soubesse
jamais teria tentado roubá-la… eu não sabia! — Ele chora e até mesmo mijou
em suas calças.
Tony encara o homem menor.
— Clemência é algo que definitivamente desconheço. — Dobra as
mangas da camisa com calma. — Você mexeu com o que tenho de mais valioso,
não posso relevar o que aconteceu. — Se aproxima do culpado, preso em um
poste de tortura. — Você entende? Se coloca em meu lugar, o que você faria se
estivesse deste lado? Leve em consideração nossa reputação. — Tony assiste o
culpado se debater tentando alcançar o solo.
— Eu não sabia! Sou doente, tudo que pensei era em pegar as joias
dela e vender para comprar mais drogas… — Chora — Por favor senhor! Eu não
tinha intenção de feri-la… — Mais choro sem sentido.
— Você não respondeu. O que faria em meu lugar?
As secreções do homem escorrem do nariz se misturando as
lágrimas.
— Por favor…
— Acho que você não quer responder porque sabe exatamente o que
se deve fazer em uma situação como essa.
— Por favor… Eu tenho família! Nãooo… — Suplica apelando para
o lado emocional.
As suplicas batiam e voltavam nos ouvidos blindados.
— Eu também tenho e é por ela que estou aqui. — Explica com
calma.
— Não!!!!
— Enfim, você sabe que daqui não tem volta. — Saca a arma e a
engatilha.
— Serei rápido. — Anuncia.
— Não!!! Por favor. Não… eu imploro… — O alvo entra na mira do
carrasco. — Eu implo…
TÁ…
O tiro ecoa pela sala o som seco procura liberdade sendo segurado
pelas paredes acústicas, foi certeiro entre os olhos uma entrada limpa, um fim
rápido.
Tony
Necessário limpeza no
fosso.
03:44 pm
Kala
Imediatamente senhor.
03:44 pm
Depois de arrumado, Tony leva para Leo seu mais novo presente.
— Zhizn?
— Aqui! — Ela grita de dentro do closet.
Enquanto aguarda ela terminar de se maquiar, Tony nota como o
cofre dela está abarrotado de caixa e mais caixas de joias.
— Você poderia alimentar um pequeno país com esse cofre? — Ela o
olha pelo espelho.
— Por isso exerço com fervor a filantropia. — Ele sorri de canto.
Ela solta o cabelo, que agora está abaixo do ombro volumoso com
cachos grandes, colocando-o de lado. O verde-esmeralda dos olhos se destacam
na maquiagem.
— Como estou? — Se levanta e gira para lhe dar a visão total.
— Perfeita!
Com delicadeza, pega o pulso dela e leva-o ao rosto para sentir o
perfume direto da fonte, com floreio exagerado prende o mais novo presente
nele.
Leo admira a pulseira de diamante com nove pingentes de em forma
de cruz cheia de história e valor sentimental.
— As cruzes de Wallis[11]? — Ela sorri eufórica, tocando cruz por
cruz lendo as dedicatórias gravadas no verso de cada pingente para dona
original. — WE are too[12]. — Ela diz com reverência a dedicatória gravada na
cruz. — É impressionante, como?
— Sei do seu fascínio por história, acho que pior que Nav só você.
Então procurei algo histórico, raro e especial que pudesse nos representar
também. — Beija-a no rosto. — Pois não há joia mais íntima do que a do
romance mais famoso da história. — Ela acaricia cada uma das nove cruzes
admirando-as.
— Moy lyubov, você é maravilhoso! Nada poderia ser mais
romântico. Abaixe. — Ela sela os lábios nos deles, no processo transfere um
pouco do batom, que ela tira com o polegar, mas antes de afastar o dedo ele o
beija.
Para complementar, Leo escolhe um colar de platina simples com um
diamante pendente que combina com macacão preto de decote em V. O tecido
leve marca com perfeição as curvas de seu corpo. Beleza, sofisticação e
sensualidade na medida certa.
— Pronta?
Ela volta ao cofre e tira uma caixa-preta, abre e lhe mostra a pulseira
em ouro branco com porcas de parafusos rosqueados em seu entorno.
— Você não é como eu todo vidrado em joias, por isso algo simples,
mas que demonstra sua masculinidade e força com elegância. — Ela coloca em
seu pulso.
Tony sorri admirado, para cada mimo que ele lhe presenteou ela
retribuiu com outro. Vezes eram abotoaduras com datas especiais como
aniversário das crianças ou motivos engraçados, como uma com formato de
mosca, ou anéis masculinos na versão de alguns colares da Cartier que ele lhe
deu.
— Você sabe que adoro e venero cada presente que me dá. Esse não
será diferente. Mas fique sabendo, você é o melhor de todos. — Beija-a na testa.
— Acho que junto poderíamos montar uma joalheria. — Brinca.
— Só falta uma coroa.
— Um dia acharei a coroa digna da minha rainha. — Sela os lábios
nos dela.
Miguel os esperava encostado no carro. Quando se aproximam ele
abre e segura a porta para que entrem.
— Hoje teremos motorista? — Ela sorri e entra no carro.
— E piloto. Como disse, esse será um encontro especial. —
Conspira.
Há dias ele vem planejando o encontro de hoje para que tudo saísse
perfeito e ela não descobrisse.
— Onde iremos?
— Surpresa…
Durante a curta viagem de carro até o aeroporto eles já estavam na
bolha dividindo suas histórias, tendo o momento só deles. Leo está como uma
criança, louca para saber o que aconteceria a seguir. Tony se orgulha de ter
conseguido esconder dela, não foi fácil, mas ele teve sucesso em sua missão,
pois até ele falar hoje ela não sabia de nada e por mais que tente tirar informação
ele continua irredutível.
A viagem no avião durou duas horas e meia. Ao desembarcar,
seguiram direto para o restaurante jantar com tempo de folga para a grande
surpresa.
— Por que isso? — Leo pergunta.
— Nunca comemoramos nossos aniversários e até entendo. Eu não
gosto de comemorar o meu, do mesmo jeito que você não gosta de comemorar o
seu. Mas hoje comemoraremos a nossa união. O início de nossa família, nossas
bodas de flores e frutas. — Aperta sua mão na dela. — Foi nesta data que uma
linda princesa salva a fera que foi mantida em cativeiro durante toda uma vida.
— Feliz aniversário de quatro anos! — Ela diz.
Durante o jantar, eles contam suas histórias com as crianças. Foi uma
surpresa para Tony como a maternidade e a paternidade foi para eles algo
natural, houve sim muito medo em falhar, mas houve muito mais alegrias. O que
para eles foi inesperado, pois os exemplos que ambos tiveram os condenavam ao
fracasso.
A surpresa da noite se aproxima. O carro corta o trânsito enquanto
Tony observa Leo notar tudo e todos ao redor. No exato momento em que
Miguel começa a manobrar pelo trânsito e entrar no estacionamento, o sorriso
dela chega aos olhos dando muito mais brilho a eles.
— NÃO.
— Sim! — Aperta a mão dela. — Vamos assistir Rei Leão o
musical!
— Isso é fantástico! Não, isso é melhor que fantástico. Mas está
vazio?
— Sim, teremos uma sessão exclusiva. — Tony confidencia. Ela
pula para o colo dele em completa alegria. — Uma mulher qualquer ficaria
exultante em ganhar a joia e comer em um bom restaurante, mas a minha não.
Ela tem gostos peculiares tipo: assistir repetidamente “O rei Leão”. Então
pensei: como seria se ela assiste ao musical? — Ela beija-o no rosto.
— Só nós dois? — Ele faz que sim. — Ah!!! — O carro para ela
desce sem nem esperar Miguel abrir a porta.
— Zhizn, espera! — Corre para acompanhá-la. — Como alguém
com perninhas pequenas pode andar tão rápido? — Segura a mão dela.
— É meu peso, sou mais leve por isso sou mais rápida. — Fala séria.
Tony sorri pensando que Gael tem a quem puxar. De mãos dadas
entram no teatro reservado a eles.
São escoltados para suas cadeiras especiais de onde podiam ver o
palco por completo. Na música inicial Leo se surpreende com aparição de alguns
personagens cantando ao lado dela. Ela olha abismada do palco para o ator
cantando do lado dela e vice e versa.
Seus olhos lacrimejam ao ver a morte do rei Mufasa e a solidão do
Simba. Ri quando vê a entrada do Timão e Pumba e cantou junto Hakuna
Matata.
Tony esperava essas reações dela, a alegria completa. Nesse instante
são apenas ele e ela sem um passado hediondo. Um menino e uma menina tendo
um momento de pura e imaculada diversão.
No fim tiraram fotos com os atores que foram cordiais em atendê-los
e principalmente em dar atenção a Leo e suas inúmeras curiosidades com o
equipamento e fantasias.
O que um montante de dinheiro não é capaz de fazer?
Leo tiete, quem poderia imaginar?
— As crianças ficarão chateadas que não puderam assistir. — Pesou,
franzindo o nariz, Tony a toca no nariz fazendo ela voltar a rir.
— Eles assistirão em breve. E se a reação deles for igual à sua, vou
adorar ainda mais.
— Melhor definição de encontro! — Afirma.
— Melhor definição de companheira! — Atesta.
De volta em casa, foram direto para o quarto de Tony onde se
trocaram. Leo colocou uma das camisetas dele. Ela tira a maquiagem, enquanto
ele escova os dentes. E depois, quando ela escova os dentes, ele faz xixi.
— Por que gosta anto de O Rei Leão? — Tony pergunta. Estão
virados um para o outro com os braços embaixo da cabeça, as pupilas dela
dilatam enquanto pensa na resposta.
— Dois anos depois que meus pais me abandonaram no orfanato, a
diretora se casou com o homem que se tornou meu Sensei[13]. No começo, o
relacionamento deles foi como dizem “o conto de fadas”. Ele levou todas as
crianças para o cinema e esse foi o primeiro filme que assisti no cinema. Foi
mágico, as cores, as sensações, as surpresas… Eu ainda podia ser uma criança
com mínimo de normalidade. Está foi minha última lembrança onde ainda era
intocada. — Ela tira o cabelo que caia na testa dele. — Meses depois a diretora
estava outra pessoa. De alguma forma, ele a viciou em metanfetamina. Ela vivia
alta. Com isso, ele começou a tomar cada vez mais conta da direção do orfanato.
Não éramos muitos, exigia poucos funcionários para trabalhar e ele foi trocando
um por um e colocando gente da confiança dele. Começou com aulas de artes
marciais simples, depois os treinos passaram a serem pesados. Ele passou a
cobrar mais e mais, não era só um estilo ou doutrina, ele ensinava um pouco de
tudo se atentando nas mais violentas. Passamos a treinar quase que o dia inteiro
parando apenas para comer.
Na primeira noite ele nos acordou dizendo que iriamos fazer um passeio
divertido, não foram todas as crianças, dentre as mais novas estava eu. Um
ringue como o Arena nos esperava. Ele disse que era um campeonato onde só as
crianças mais fortes participavam. Nos orientou fazer o melhor e o principal: Só
parar quando o adversário estivesse acabado. Desistência não era permitido,
ficamos assustados e animados ao mesmo tempo, achando que era como nos
filmes que ele nos deixava assistir. — Os olhos de Leo estão vidrados. Tony
segura a mão dela tentando trazê-la de volta. — A luta começou, as outras
crianças demoraram a perceber o que eu havia descoberto logo no primeiro
combate. O ‘apagado’ queria dizer morto ou muito próximo disso. — Uma
lágrima desceu sorrateira por cima do seu nariz. — Meu primeiro combate foi
com um menino da minha idade, ele era maior, mas lento. Eu não sabia o que
estava fazendo. Era ele ou eu. Fui sua última visão, ele chorava de medo e tudo
que eu queria era acabar com aquilo rápido. Assisti a vida do menino se
esvaindo, eu ouvi seu último suspiro, vi quando a luz dos olhos dele se
apagaram. — Outra lágrima. — Conforme ganhava as lutas, passei a receber
regalias. Em uma delas obtive o piano e um livro de partituras. Aprendi a tocar
sozinha depois que estudei alguns livros teóricos. O orfanato passou a ter um
rodízio de crianças, muitas não voltavam das lutas e muitas outras chegavam
para tomar os lugares vagos. Em um dado momento, passei a ensiná-las junto
com meu sensei. Tudo era tão permissivo que passei a gostar do que fazia,
comecei a demorar mais em finalizar, protelava o combate para durar mais o
meu show. Eu não tinha ninguém para falar que estava certo ou errado, tudo que
ouvia eram estímulos e elogios para continuar. Ouvia as pessoas gritarem meu
nome e adorava. Enfim eu fazia parte de algo e as pessoas gostavam de mim,
não me achavam estranha quando eu estava dentro do ringue. — Ela funga o
nariz.
—Meu sensei começou a me colocar para lutar mais e mais, dizendo que eu era
sua estrela, “sua melhor criação” eram essas palavras que ele usava para mim.
Passei a questioná-lo e foi quando as discussões começaram, as regalias foram
cortadas uma a uma. Ele exigiu mais que apenas lutar, foi injusto de tantas
formas, mas me neguei a ceder. Um dia fui ao pátio e ele estava ateando fogo no
meu piano, os sons das cordas dissonantes fizeram o meu pior despertar naquela
hora. Enquanto ele ria do seu feito cruel eu o ataquei pelas costas com a katana
que ficava de exposição no tatame, a lâmina atravessou seu rim. Ele ficou
surpreso com meu ataque, de frente, eu ataquei novamente e o assisti perder sua
centelha de vida. Diferente das outras mortes que causei, eu sorri ao vê-lo
morrer. E nenhuma morte foi tão boa como a dele. Exceto talvez quando matei
meus pais. Mas isso fica para o próximo encontro épico. — Ela limpa suas
lágrimas.
— Eu te amo mais hoje do que te amei ontem! — Tony sussurra e
beija sua testa.
— Eu te amo muito mais do que ontem e menos do que amanhã. —
Ela sela os lábios dele transferindo o sal de suas lágrimas.
— A katana do Sensei é a que está no seu QG? — Ela faz que sim.
O sono quando chegou levou duas pessoas dividindo uma mesma
alma.
MESES DEPOIS…
— Bom dia senhor formando! — Leo e as crianças invade a cama de
Tony o enchendo de abraços e beijos.
— Bom dia! — Ele abraça e beija todos eles.
— Trouxemos café na cama. A mamãe nos ajudou a fazer um bolo.
— Gael fala.
— Olha papai!
Gaia pula e aponta para bandeja bem arrumada com uma xícara de
café, fatias de bolo, pães recheados e uma tigela de frutas cortadas e ainda um
vaso com uma flor solitária.
— É lindo e, tenho certeza de que tudo está delicioso. — Tony senta
no meio da cama cada filho de um lado e Leo na frente fotografando. As
crianças esperam ansiosos ele dar a primeira mordida no bolo. — Vocês dois que
fizeram? — Acenam que sim, os deles olhos brilham em expectativa. — Está
muito bom é o melhor bolo que já comi. — Soltam o sorriso junto com a
respiração. — O quê? Vocês não comerão comigo? — Cada uma pega uma fatia
de bolo e se deliciam.
— Amo vocês!
— Te amamos mais!!! — Leo, Gaia e Gael respondem juntos.
SAMUEL
ANTONY
ÂNGELA
Ela assistiu por sessenta dias seu filho em coma, considerava uma
vitória cada novo dia. O viu perder peso, testemunhou quando teve parada
cardíaca, chorou por horas quando penteou o cabelo dele e mechas inteiras saiu
nas cerdas da escova. Os médicos lhe informaram que era por causa dos
medicamento, deu o próprio sangue quando ele precisou. Ela não podia perder a
esperança, rezou e pediu a Deus que intercedesse por seu menino. Raphael fora
tudo que sobrou do sonho que um dia teve.
Ele é seu milagre.
Começou com um movimento espasmódico dos dedos, depois ele
abriu os olhos, aos poucos foi acompanhando a melhora de seu filho. Choraram
juntos a morte do seu marido. O incentivou a melhorar e a dar o melhor de si
para sobreviver. Eles teriam muitas lutas para vencer e a melhora dele é a
primeira delas pois, ainda não havia lhe contado toda a verdade sobre o que
aconteceu depois do acidente.
RAPHAEL
Por sua mãe ele lutou, mas quando ela não estava por perto, se
permitia cair no limbo onde a tristeza o abraçava.
Ângela era a única presente, nos primeiros dias achou que ela não
havia divulgado a sua melhora, como não conseguia falar, não tinha o que fazer,
contudo os dias se tornaram semanas e ninguém o visitou. Entendeu que
somente sua mãe viria.
— O que aconteceu com o carro? — Pergunta assim que consegue
falar frases completas e não apenas balbuciar.
Queria saber o que deu errado, como se só assim seria possível dar
um encerramento.
— O seguro disse que foi falha mecânica, sem mais explicações,
apenas: Falha mecânica. Vou chamar a enfermeira. — Ângela o solta e sai em
vez de apertar o botão do lado.
Raphael sabe que ela fez isso para que ele não a veja desmoronar.
— Você avisou a Valentina que eu acordei? — Pergunta quando ela
volta.
O olhar de sua mãe foi de tristeza a ódio em uma única respiração.
— Ela disse que não poderia lidar com a situação e a carreira dela ao
mesmo tempo. Você pode constatar o que ela escolheu. — Fala secamente.
A enfermeira entra para fazer os procedimentos rotineiros e sentindo
o clima pesado, não se demora no quarto, e termina tudo rapidamente.
Desde quando acordou Raphael ainda não andou, apenas alguns
passos com ajuda da fisioterapeuta, com sua mãe visivelmente abalada, se sente
determinado a animá-la. Com um pouco de esforço desce a primeira perna e a
apoia no chão em seguida foi a segunda, as pernas bambeiam e é preciso muita
força para se manter de pé, se sente aprendendo a andar novamente. Mais se
arrastando do que caminhando, se segura na cama e o que encontra ao redor até
chegar a Ângela, quando próximo suas mãos a segura e ela lhe dá apoio,
tornando o suporte que mantêm ambos em pé. Beija-a na cabeça, enquanto ela
chora em seus braços.
— Eu sinto muito por passar por tudo sozinha.
Ela o ajuda a chegar de volta na cama.
— Não sinta meu filho. Descanse, você não deve se esforçar. — Ela
senta na cadeira ao seu lado e segura sua mão, como se fosse criança novamente.
— Como está a construtora? Um acontecimento dessa magnitude
pode afetar o progresso dos contratos e projetos em andamento. Quem está
cuidando dos clientes do papai? Qual a repercussão sobre o acidente? — De uma
vez, solta a enxurrada de perguntas. Além de sua mãe, seu trabalho foi tudo o
que lhe restou.
Raphael percebe como sua mãe fica pálida com todas suas perguntas,
sabe que algo mais está acontecendo, ela desaba a cabeça sobre sua mão e
começa a chorar.
— Nesses meses aconteceram coisas das quais não consegui impedir.
Eu fiz o que achava ser melhor. — Soluçou.
— O que aconteceu?
— Depois do funeral de seu pai, Álvaro me procurou e mostrou
documentos que seu pai recebia propina das prestadoras de serviço para
favorecer nas licitações. Eu não acreditei e falei que era impossível, que Gabriel
jamais faria algo parecido, mas ele tinha papéis que comprovavam. A
construtora foi auditada e várias irregularidades foram encontradas nos projetos.
— Ela limpa o nariz com um lenço. — Foi uma avalanche de desgraça. Seu
nome foi citado em muitas das irregularidades, cálculos incorretos, uso de
material de baixa qualidade e tinha até risco de desabamento, estavam falando
em caçar suas credenciais, foram tantas as coisas… — Ela suspira pesadamente.
— Foi quando o diabo estendeu a mão. Álvaro ofereceu um acordo, haviam
várias multas, falavam de prisão e mandatos… — Ela divaga confusa.
— Mãe, qual foi o acordo?
— Usando clausuras de fraude do contrato de associação ele pediu a
construtora, nossos bens… enfim tudo. Disse que impediria que a notícia vazasse
e manchasse o seu nome e a memória do seu pai permaneceria intacta, mas ele
não arcaria com a falta de ética de nossa família. Para livrar você, concordei
desde que você também fosse protegido dos escândalos.
— Nada disso é verdade! Papai não roubou e nem foi desonesto e, eu
não fui negligente com meu trabalho. — Esbraveja.
— Eu sei meu filho, mas não temos como provar. Eles têm todas as
provas… Eu sinto tanto. Seu pai não tinha um osso ruim no seu corpo e ele deu o
sangue por aquela construtora… — Ela segura o choro.
Ele recorrerá para limpar o nome da família e obter de volta o que
lhe foi tirado.
— Como estão as finanças agora?
— Não muito, a maioria está cobrindo os gastos do hospital. Ficou o
seu apartamento, seu carro. Tenho minhas joias e o pouco que sobrou da venda
da nossa casa e uma apólice de seguro de seu pai.
— Você vendeu a sua casa? — Disse em choque.
Ela amava aquela casa.
— Era muito grande para uma pessoa só. — Afirma.
— Não! Eles não podem ficar com a construtora! — Protesta,
socando a cama de novo e de novo.
— Filho, ele fez isso, aquela cobra ardilosa deu o bote. Procurei
vários advogados e todos disseram a mesma coisa, o acordo era o melhor a se
fazer. Pelo menos assim você fica com suas credencias e sua reputação intacta
para poder trabalhar na área. Eu lutei meu filho, fiz o que podia, no entanto cada
vez mais o dinheiro se perdia e não podia esgotar nossos recursos. Eu não sabia
até quando você ficaria em coma. — Abraça-o.
— Sei como é teimosa, mãe. Quando diz que lutou, sei que lutou.
Leva alguns dias até encontrar Valentina, Raphael a espera por entre
as colunas do edifício do seu novo apartamento. Um prédio muito caro para ela
manter sozinha. De longe a vê com as mãos cheias de sacolas de grifes.
Seus olhos cravaram nos dela, que para a um passo de distância.
— Raphael? — Ela olha para os lados nervosamente. — Você
sobreviveu? — A língua se arrasta por seus lábios secos e pálidos.
— Não vai nem ao menos perguntar como estou? — Fala secamente.
— Claro. — Sorri sem humor. — Como está? — Os olhos castanhos
que um dia achou bonito, procuram por uma rota de fuga. Raphael dá mais um
passo e fica frente a frente com ela.
— Nada bem. E você deve saber o motivo. — Ela se afasta.
— Eu não sei do que você está falando? — Dá outro passo para trás
ele se aproxima.
— Será mesmo? Sumiram coisas da minha casa, o computador e os
projetos pelos quais fui acusado levianamente de negligenciar e corromper.
Quanto eles te pagaram? — A voz de Raphael fica mais grossa que o normal e
afiada como uma faca.
— Raphael, você deve estar confuso com o acidente… — Tenta
passar por ele, que a impede bloqueando a sua passagem. — Raphael…
— Valentina, tudo bem?
A voz do ex amigo chega quente como labaredas do inferno por suas
costas.
Ela corre e o abraça aliviada.
Entendi.
— Desde quando estão juntos? — Saul a segura olhando para ele
com indiferença.
— Quando perguntou se poderia sair com ela, nunca senti tanto ódio.
Eu nem sabia que vocês se falavam. Mas você sempre teve tudo! Deixei seguir
em frente, sabia que você não a manteria por muito tempo. Nenhuma garota
suporta ficar com você, era sempre trabalho e trabalho. Enquanto isso nos
divertíamos, quando você não estava com ela, eu estava. Não imagina quantas
vezes rimos a suas custas, ficamos nas festas em que estavam. Você a exibia e eu
a degustava. No dia de seu noivado a fodi no banheiro do restaurante, você
filhinho da mamãe, era nossa preliminar.
O punho de Raphael atinge em cheio a mandíbula de Saul, como se
sentisse fome e socar o ex amigo fosse o melhor alimento, por isso o acerta uma,
duas, três vezes.
Os gritos de Valentina o impulsiona a bater mais.
— Olha só quem aprendeu a bater! — O nariz sangrando e a boca
cortada não impede Saul de provocar.
Então o acerta de novo, se esquivando de cada golpe que Saul tenta
revidar até fazê-lo cair no chão.
— Você armou e fraudou os projetos! — Brada furioso.
Saul cuspe sangue no chão da rua vazia, o único que observa de
longe é o porteiro do edifício, que parece não estar surpreso com o que via.
— Você não tem como provar, não tem mais nada. Eu ganhei, tenho
tudo.
Raphael não reconhece a pessoa que encara no chão.
Como Saul pode esconder tão bem a verdade sobre si mesmo?
— Nunca foi uma competição.
— Sempre foi.
Enquanto discutia com Saul, Valentina ligava para polícia.
— Não perca seu tempo. — Disse a ela. — Talvez você deva saber,
ele não se casará com você. Se eu não te amei, ele amou muito menos. Você
pode pensar que terá tudo com ele, mas garanto ele te usará e a jogará fora. —
Sorri friamente. — Ele está noivo da Sophie e você é nada além de passatempo.
— Ela olha para Saul com raiva.
— Noivo? — Diz olhando para ele ainda no chão.
Saul levanta com as mãos para segurá-la.
— Calma, não é o que você está pensando! Eu contaria no momento
certo.
Sorrindo Raphael se afasta.
— Quando estivesse casado com ela!? — Ela grita.
A adrenalina corre a mil em sua circulação, o ódio não foi aplacado
mas estava minimamente saciado. Caminha para o único lugar que desejava estar
desde que se recuperou plenamente. Ao passar no lobby, Jesus, o porteiro, o
reconhece e libera a entrada.
— Menino Raphael, você acordou! Minha esposa orou todas as
noites para que se recuperasse. — Ele sorri afetuosamente e quase quebra a fúria
que o alimenta.
— Jesus diga a sua esposa que agradeço as orações. Vou subir, tenho
que prestar algumas contas. — Jesus acena percebendo o estado de espírito de
Raphael e as marcas no punho.
Enquanto o elevador sobe, sente seu coração acelerado, quando
chega no último andar abre a porta abruptamente da recepção.
No escritório que era de seu pai todos os olhos estão nele, sua antiga
sala está com nova identificação: Saul. A secretaria Lysebel parece ver um
fantasma.
— Senhor Raphael, deixa-me anunciar a sua presença. — Fala
apressada.
— Agora sou a porra do senhor Raphael! — Passa direto por ela indo
para segunda maior sala do andar.
Entra surpreendendo o ocupante. Raphael vê vermelho, o gosto do
sangue na boca é combustível para sua fúria. A força antes desconhecida vem
novamente para se alimentar.
Golpeia.
— Seu bandido. Você roubou minha família! Essa empresa foi criada
pelo meu pai! Seu canalha!!
Mãos fortes o separam de Álvaro, seus punhos estão famintos e
mesmo longe do alvo pareciam não querer parar e acerta quem o segura.
— Levem esse homem para fora desse edifício, ele está proibido de
entrar novamente! — Álvaro levanta cambaleante e caminha na direção de
Raphael. — Saia e não volte mais! Ou encherei você com tantos processos que
levarei cada centavo restante de sua mãe. — A voz fria e odiosa crava na pele de
Raphael que se impulsa sobre quem o contêm para atacá-lo. — Leve-o e proíba
sua entrada.
Arrastado por dois seguranças por todo o andar, ele olha uma última
vez o lugar que considerava sua segunda casa.
Caminhando a esmo pelas ruas sem saber para onde ir, deixando seus
pés o levar onde quer que fossem. Já estava escurecendo quando chega a entrada
do cemitério, entra a passos lentos absorvendo aquele silêncio sepulcral e para
em frente a lápide de mármore com o nome do pai e os dizeres:
Amado pai e marido
— Como pude ser tão cego pai? — Senta-se na grama em frente a
lapide.
A resposta não vem. Nunca virá.
— Se tivesse sido eu, você saberia o que fazer agora… farei tudo que
for preciso para cuidar da mamãe.
O vento toca seu rosto. Minutos se passam.
— Eu te amo pai.
Sente a derrota o possuir e quando se levanta já não é mais o menino
doce que viveu e cresceu rodeado de amor, esse se enterrou tão fundo quanto a
cova de seu pai.
O mundo a partir de agora não tem mais cor.
Tony
A caminho.
01:24 am
Heitor, Paris e Naveen esperam na SUV que está ligada e pronta para
sair.
— Miguel está com as crianças e elas estão bem. — Tony avisa ao
entrar no carro com Leo em seu encalço.
A mãe de Ane se assusta ao abrir porta e encontrar toda a família
enchendo seu portal. Eles passam por ela sem amenidades, na sala estavam
sentados Gaia e Gael juntos de Miguel. O marido sentado na poltrona sozinho e
em pé estava Jaime, o filho mais velho e, em cima da mesa de centro uma
tesoura muito grande que não estava lá quando deixaram as crianças.
Podiam ouvir as outras crianças agitadas no outro cômodo da casa.
A mãe anfitriã fica atrás do menino de forma protetora.
— O que aconteceu? — Heitor inicia.
Gaia olhou séria para Jaime antes de iniciar.
— Acordei com Gael rendendo Jaime no chão e a tesoura estava
jogada perto do saco de dormir.
— Eu senti ele mexendo no meu cabelo e vi a tesoura na mão. O
golpeei e Gaia acordou e emitiu o alerta. — Gael termina.
— Vamos voltar para a festa, seus amigos devem estar preocupados.
— Leo acompanha as crianças para o cômodo onde estavam as outras.
Claramente ela não queria que eles vissem como seria lidado com o incidente.
Sozinhos com os pais e com o irmão de Ane, Heitor senta no sofá
tira a arma e coloca na mesa ao lado da tesoura, o pai se ajeita na poltrona agora
verdadeiramente preocupado. Todos na cidade sabem dos rumores que gira
entorno da família da colina, se ele tinha dúvida, agora não tem mais. A mãe
começa a chorar segurando ainda mais seu filho perto dela.
— Ele não tem culpa, é só um menino confuso. Por favor,… não nos
façam mal. — Ela implora.
Jaime encara a arma na mesa com olhos arregalados e um pouco
curioso.
— Eu falei para não fazer essa merda de festa do pijama, uma
celebração na escola seria suficiente. — O pai protesta, mas não pede pelo filho.
— Posso? — Naveen pergunta apontando para o garoto. Tony o
deixa lidar com a situação, já que ele está tendo visões do passado, quando
passou pela mesma situação que o filho, a diferença é que ele teve o cabelo
raspado e uma série de contusões.
Naveen caminha até ficar em frente ao garoto.
— Não… ele é só um menino… — A mãe olha suplicante para o
marido para que intercedesse por eles.
— Ele precisa de uma lição mesmo, quem sabe assim ele para de dar
problemas na escola. — O anfitrião brada com arrogância.
Naveen se abaixa ficando na mesma altura que o garoto. Do cós da
calça, tira uma faca de arremesso.
— O que você pretendia fazer com a tesoura?
Jaime com medo segura apertado a mão da mãe.
— Era uma brincadeira, eu queria cortar o cabelo dele. — Responde
amedrontado.
— Por que? — Aproxima a faca do garoto.
— O cabelo dele é de menina todo comprido e trançado, era só uma
brincadeira.
— Alguém nesta sala está rindo? — Naveen pergunta sério e Jaime
acena que não.
Tony senta ao lado do Heitor que segura sua mão notando a
instabilidade dele. Paris fica em pé encarando o pai do garoto como uma leoa
observando a presa.
— Isso por que não é engraçado, não se corta o cabelo das pessoas
sem o consentimento delas. — Gira a faca na mão e o garoto fica tão
aterrorizado que mija nas calças. — Não existe cabelo de menina e menino, o
que existe é preferência. Gael prefere o dele longo é uma escolha. Se sua mãe
quiser cortar o cabelo, será uma escolha dela também. Você entende isso? — O
garoto acena que sim. — A masculinidade não está em um corte de cabelo ou na
cor da roupa, você não deixa de ser homem se você usa o cabelo comprido, mas
deixa quando impõe a sua vontade sobre outra pessoa. Está me acompanhando?
— O punho da faca bate de leve na têmpora de Jaime, seus olhos arregalados
não desgrudam da faca.
— Sim senhor.
— Ótimo garoto! Mude a forma como pensa ou quando estiver maior
ninguém dará uma hora do tempo para ficar com você. O que quer ser quando
crescer?
— Médico como meu pai, mas não quero ser igual a ele. —
Responde de voz baixa.
— Uma profissão louvável, os médicos cuidam das pessoas. Você
deve cuidar delas a partir de agora e não violentá-las como fez hoje. Tenho sua
palavra de que cuidará das pessoas ao seu redor? — A faca gira de novo.
— Sim senhor.
— Agora sobre seu pai, me conte, por que não quer ser igual a ele?
Eu, por exemplo, queria fazer todas as coisas que meu pai faz, ele é um herói de
verdade. E o seu?
Jaime olha para o pai que se remexe desconfortável na poltrona.
— Eles acham que não ouvimos mas sabemos quando eles brigam. A
mamãe chora e no dia seguinte ela tenta esconder as marcas com as roupas ou
com o creme de cobrir, mas sabemos que elas estão lá. — Ele olha para mãe que
agora chora por outro motivo.
— Sinto muito Jaime, também não gostaria de ser como ele. Você
pode ser melhor e nunca mais intimidar as pessoas ou violentá-las de forma
alguma. Se seguir o que te falo, você será muito superior, todos gostarão de você
e não irão odiá-lo. — A faca volta para bainha presa nas costas. — Agora vá
para seu quarto se limpar, amanhã você acordará um novo garoto e será muito
melhor do que foi hoje.
— Desculpe senhor. Não sabia que a brincadeira fosse ruim, amanhã
eu vou me desculpar com Gael. — Naveen sorri agradecido. O garoto olha para
mãe uma última vez e sai.
— Mãe ele é todo seu. — Naveen levanta e senta ao lado de Tony e
segura sua mão. — Como fui?
— Melhor do que imaginava. Mas se houver uma próxima, melhor
evitar facas com as crianças, elas podem querer copiar o que fez e se cortar.
Nav meneia a cabeça ponderando e concorda.
Paris cerca sua presa.
— Odeio homens que violentam mulheres. — O anfitrião a olha
friamente. — Por que deixa ele fazer isso? — Direciona a mãe.
— Quando tentei ir embora com as crianças, ele ameaçou me tirar a
guarda deles, falou que juiz nenhum deixaria os filhos ficar com uma fracassada
como eu. O que eu poderia fazer? Eles são o que tenho de mais importante. —
Ela chora.
— Sei como é. — Paris olha para sua família sentada no sofá. —
Você quer o divórcio? — Paris pergunta.
— Deixei de amá-lo no primeiro tapa que me deu, o divórcio é tudo
que quis desde que as agressões começaram. Mas não posso deixar minhas
crianças com ele. — Miguel entrega uma caixa de lenços de papel que ela a
aceita.
— Você ouviu sua esposa? Você não é bem-vindo aqui e, ao ver
como estão suas crianças, também não é bom para elas. — Paris assevera.
— Você não pode… — O punho da Paris acertou a boca dele.
— Eu posso e vou! Miguel leve-o, talvez uns dias com a gente possa
ser benéfico para essa família. — Olha para a anfitriã. — Você se importa?
Ajudaremos no processo de divórcio e garanto que você terá uma boa pensão
para as crianças e o conforto de sua casa.
Os olhos da mulher brilharam esperançosos.
— Não me importo.
Paris sinaliza para Miguel que imobiliza o anfitrião com pouco
esforço e a ajuda de uma arma apontada para sua cabeça por Tony, Miguel o
algema.
— Por gentileza você poderia chamar minha filha, acho que já
atrapalhamos em muito as comemorações de hoje.
— Claro. — Antes de sair a esposa agradecida olhou para o marido.
— Adeus.
— Senhor, — Miguel se dirigi a Tony — Gohan veio me cobrir,
cuidarei do anfitrião aqui para senhora Paris e voltarei para liberá-lo.
— Ok Miguel.
Com aceno de cabeça ele leva o homem.
— Se você mijar no porta mala, farei você limpar com a língua… —
Miguel ameaça da porta.
Leo volta em seguida.
— Eles dormiram. Gael ensinou a todas como fazer as tranças do
Legolas, o quarto parece uma convenção de míni elfos. — Ela pega sua mão e
Tony leva a boca para um beijo casto. — Tudo certo? — Faz que sim. — Vamos,
no carro vocês me informam o que eu perdi.
— Você vai deixá-los ficar? — Heitor pergunta sabendo que não é
um comportamento normal para sua filha.
— Sei o que parece, não estou agindo como de costume, mas fiz uma
atualização no meu sistema interno. As crianças estavam ansiosas pela festa.
Quanto à situação de perigo, agiram corretamente, imobilizaram a ameaça e
pediram ajuda. Não sei vocês, mas parece que eles sabem se cuidar, então porquê
atrapalhar a diversão. — Afirma.
— Sim, Zhizn. Eles sabem! — Beija-a.
Naveen, sendo quem é, encheu a anfitriã de gracejos relaxando-a,
pois a mulher está em um misto de medo e felicidade. Tony ainda abalado fala
muito pouco e deixa que sua família lide com a situação ajudando a mulher se
recompor.
Uma hora depois de ouvir a mulher chorar e relatar sobre o que
sofria com o marido ela os acompanham até a porta agradecendo pela
intervenção deles e se desculpando pelas ações de seu filho.
— Se a cada festa do pijama for assim, vou abrir outro nicho para
caça.
— Naveen!!! — Todos exclamam, quando entram no carro.
MIGUEL
ANTONY
Miguel
Ela achou um novo parceiro.
10:25 am
Tony
Onde?
10:25 am
Miguel
Musico de rua.
Ela está tocando com ele no parque perto da
loja de decoração de festas.
10:26 am
Tony
Tocando na rua?
10:27 am
Miguel
Segue…
Arquivo de vídeo…
10:30 am
Tony
Mantenha ela em segurança.
10:33 am
Heitor
Tenho missão em oito dias quer ir?
10:47 am
Tony:
Não poderia existir timing
melhor.
10:47 am
Heitor
O que aconteceu?
10:47 am
Tony
Leo encontrou um novo
parceiro.
10:48 am
Heitor
Mas e aquele que ela estava saindo semana
passada?
10:49 am
Tony
Não era ele.
10:49 am
Tony
Tenho missão em oito dias,
você pode cuidar sozinha das transações
no banco.
10:50 am
Alina
Claro!
Tudo bem eu usar o chalé nos Alpes no fim de
semana?
10:50 am
Tony
Claro.
10:51 am
Naveen
Será uma missão de pai e filhos.
Paris ficará com a Leo trabalhando
remotamente.
10:51 am
Tony
Pare de invadir meu celular!
10:52 am
Naveen
Não posso! Você recebe muitos nudes.
É viciante!
10:52 am
Tony
Você é impossível!
10:53 am
Naveen
Tento ser.
10:53 am
Desconhecido
Esse é o meu!
10:23 am
Ele sorri ao ler a mensagem dela e rapidamente salva o novo contato
na agenda.
— Como e quando planejava contar sobre este lugar? — Pergunta
ainda duvidoso de como tudo ocorreu.
— Não sei, acho que seria assim: Você estaria no confessionário em
um dia de confissão, eu chegaria em um lindo vestido vermelho justo e decotado
com salto stiletto. As carolas ficariam alvoraçadas, mas você, dentro do
confessionário não percebe nada. Eu me ajoelharia…
Enquanto ela descreve a cena para ele, sua voz fica um pouco mais
que um sussurro, a imagem perdura em sua mente por mais tempo do que
deveria.
Ela, em um vestido justo marcando seu corpo e saltos alto,
ajoelhada olhando para ele o cabelo trançado, seus olhos focados nos dele
enquanto sua boca toma seu…
Não, não, não! É errado.
Sou exemplo! Sirvo a Deus e não aos meus prazeres.
— Padre? — Ela o chama, tirando-o de seus devaneios. Ele se ajeita
na cadeira para que ela não note o efeito das suas palavras. — Eu preciso ir. Se
importa de analisar os documentos sozinho? — Fez tanto para esconder, mas ela
lhe lança um olhar sugestivo e ele sabe que ela havia notado.
O sorriso predador naquele lindo rosto, é a prova.
— Não, tudo bem. Você mostrou como tudo funciona, tenho certeza
de que me viro. Caso não consiga, posso te chamar?
— Sempre que quiser. — Anuncia sedutoramente.
Três palavras. Ela falou três míseras palavras e seu corpo acendeu
como fogos de artifício.
O aroma dela fica na sala embalando sua mente e desconcentrando-o,
mesmo que tenha passado minutos que ela se foi. Com dificuldade de
concentração, analisa cada documento constatando que tudo está em ordem,
tendo até o mesmo contador da paróquia cuidando dos números do Centro de
Apoio Mateus Coelho. O seu nome. Ela deu o nome dele para o lugar.
Como ela sabia?
Mateus
Por que meu nome e como
obteve essa informação?
11:07 am
Eleonora
Porque você idealizou tudo e eu pesquisei
você.
Só fui um meio para o fim.
11:07 am
Mateus
Modesta?…
11:08 am
Eleonora
Nem de longe.
Tudo faz parte de um plano maior.
11:08 am
Mateus
Tem certeza de que não é
religiosa?
11:08 am
Eleonora
Meu plano não envolve religião…
11:09 am
Fica olhando para tela do celular até se apagar, sem saber o que
pensar ou como reagir.
Essa foi a primeira noite em que sonha com ela, para seu desespero.
SEIS SEMANAS DEPOIS, EVITANDO A TODO CUSTO A
PRESENÇA DELA…
A Senhora Margarida ajuda preparar a igreja para missa junto com
alguns outros membros.
— Você conhece as pessoas que moram na casa da colina? —
Mateus pergunta.
Ela para de dobrar a estola e o encara confusa.
— Eles são tudo que tem de pior nesta cidade. Eles mandam em
praticamente tudo e vivem em uma comunidade sexual no topo da colina. Os
mais velhos se intitulam pais, mas eles têm quase a mesma idade! Tenho pena
das crianças que moram lá, imagina as atrocidades que devem ser obrigados a
fazer ou assistir.
E disse tudo isto na sacristia, enquanto ajuda a preparar à missa.
Julgadora?
O quê?…
Claro que não…
Imagina…
Mateus fica estarrecido com a postura de Margarida.
— Alguma coisa eles fazem de bom? Crianças? Eles têm crianças?
— Quem fez o quê? — Um dos ministros extraordinários da
comunhão entra na sacristia.
— Padre Mateus quer saber sobre o povo da colina. — Margarida
fala com desprezo. — Eu disse a ele como eles são pessoas ruins e da pena que
sinto das crianças.
— Não é bem assim Margarida, Salon estava mergulhada nas drogas,
a política e a polícia era corrupta e praticamente abandonou a população.
Quando chegaram, à cidade mudou da noite para dia. — Margarida bufa e sai
batendo os pés. Mateus o olha confuso. — O filho dela era um dos políticos que
tiveram que renunciar ao cargo. — O ministro sussurra a última parte.
— Como assim renunciar?
O ministro olhou para os lados antes de se aproximar.
— São boatos. Mas o filho dela e outros vereadores estavam
envolvidos em um sistema de desvio de verba, ele e todos os envolvidos
renunciaram. Dizem que foram os moradores da colina que os forçaram a sair.
Quem assumiu o cargo no lugar deles são mantidos na rédea curta. Os policiais
foram um caso diferente. Não foram forçados a se retirar, mas mudaram a forma
de agir e passaram a ser corretos. Dizem que muitos deles sumiram por dias e
quando voltaram eram outras pessoas. Os traficantes? Esses sumiram e levaram
as drogas com eles para fora da cidade. Dizem muito sobre a família, mas acho
que ajudou mais do que atrapalhou. Só as pessoas que perderam com isso é que
não gosta deles. — Olha sugestivamente para a saída por onde Margarida
passou.
— A cidade é uma das melhores que já vi, achava que era por ser do
interior. — Mateus fala pensativo.
— Não era, tínhamos muitos casos de assaltos e homicídios por
causa das drogas, muitos adolescentes foram perdidos, até eles aparecerem.
Sendo coincidência ou não, tudo parou. — Afirma.
— E as crianças que moram com eles?
O ministro sorri.
— Eles estudam na escola onde minha esposa é conselheira. Ela
sempre diz como eles são adoráveis, os gêmeos, o menino Gael e a menina Gaia,
são prodígios. Minha esposa sempre fala como eles são inteligentes e amáveis,
de uma educação suprema. Eles tratam as outras crianças como igual, não as
menospreza. Mesmo que, enquanto as outras estão aprendendo a ler, eles estão
fazendo dissertação de algum livro ou resolvendo equações matemáticas
avançadas. Tem momentos que eles agem como assistente da professora e
ensinam aos os colegas.
— E os pais das crianças? — Mateus está ávido por mais
informações.
— A família deles tem uma composição não convencional. Minha
mãe deu aula para a família inteira no curso para pais de primeira viagem no
hospital. Na época, teve muita fofoca por causa da gravidez da menina. O pai da
família se chama Heitor, um homem ruivo, tem tantos músculos que parece uma
montanha, sua esposa se chama Paris, uma mulher de pele oliva, parece
supermodelo de tão bonita que é. O filho mais velho se chama Naveen, é indiano
e forte como pai, tem fama de conquistador, mas ele não é mais velho em idade e
sim porque foi o primeiro a ser adotado. Eleonora é a filha mais nova e mãe dos
gêmeos, muito bonita, refinada como se fosse da realeza. Ela engravidou com
dezessete anos, o motivo de todo o falatório na época se deu porque o pai das
crianças é irmão dela. Antony, o gigante albino. Se o pai, Heitor, é uma
montanha de músculos ele é o Everest, apesar de ser o último em adoção ele é o
mais velho dos filhos.
Chocado interrompe.
— Irmãos?
— Pelo que disse, você percebeu como eles são muito diferentes um
do outro, isso é por que eles são adotados, ou assim dizem. A mãe e o pai têm
diferença de poucos anos entre os filhos. Também poderiam dizer que são todos
irmãos. Antony chegou alguns anos depois que eles se mudaram para cidade e a
menina engravidou. Todos os chamavam de incestuosos, mas como poderiam
ser, se não são irmãos de verdade? Apesar de apresentá-la como sua esposa e ela
como marido, eles saem com outras pessoas abertamente. Uma criança da escola
disse a minha esposa que queria que os pais dormissem em quartos separados
como os pais da Gaia e Gael, assim eles seriam felizes e não ficariam brigando o
tempo todo. — Ele sorri pensativo.
— Ele a trata como esposa, mas não vivem exatamente como casal?
— Investiga.
Por quê?
— Se você um dia ver eles na rua, perceberá que existe amor entre
eles de uma forma que não vemos muito mais. Antony nunca tira os olhos dela e
a trata como uma rainha. O dono da joalheria me contou que ele compra joias
sempre exclusivas para ela, ele é tão meticuloso que quando encomenda uma
peça sempre faz questão de pedir as pedras mais raras, nem se importa com o
valor. Ela não é diferente, venera ele e também adora presenteá-lo. — O ministro
balança a cabeça. — Muitos na cidade o invejam. Do dinheiro principalmente,
mas na verdade, deveriam invejar o amor que eles têm. Isso é único. Eu tive
minha cota de namoradas erradas até encontrar minha esposa, mas eles agem
assim desde sempre, como se estivessem nascidos um para o outro. Podem não
ser uma família ou casal convencional, quem sou para julgar, se para eles
funciona, que assim seja. — Termina.
Casada e filhos.
A missa passa em um piscar de olhos. A senhora Margarida entra na
sacristia para guardar a taça do vinho e a hóstia.
— Margarida, você sabe o que aconteceu com os moradores de rua
da cidade? — Ela o olha duvidosa.
— Espero que tenham mudado de cidade. — Desdenha.
Mesmo depois da missa e enquanto guarda à hóstia consagrada.
Olha para ela e percebe que por mais que passe os ensinamentos do
Senhor, não está sendo suficiente.
— Não, agora eles vivem em um centro de apoio. Não são mais
moradores de rua. — Fala com orgulho. — Talvez você devesse visitar e ajudá-
los, é bom para alma ajudar o próximo. — Ela o olha incrédula.
— Centro de apoio, quando? Como? Pensei que o dinheiro que
arrecadamos era exclusivamente para a reforma da paróquia. Não sabia que era
possível você usar esse dinheiro para financiar essas pessoas. — Acusa.
— Basta Margarida! Olhe a sua volta e veja onde está. Você fala
como se ajudá-los é menos importante que pintar uma parede. Você ao menos
ouviu meu sermão? Ouviu quando disse sobre amar uns aos outros como a ti
mesmo? — Ela abaixa a cabeça. — O dinheiro arrecadado na paróquia será
usado único e exclusivamente para a reforma da igreja e é o que está sendo feito.
O centro de apoio foi a Eleonora. Ela dedicou tempo, pediu doações e fez tudo
isso para ajudar pessoas em necessidade. — Seus olhos se alargam, Mateus
pode-se ver a dureza neles ao mencionar a Eleonora. — Ela ajudou essas pessoas
a ter um teto seguro sobre suas cabeças, ofereceu comida e um cobertor sem
pedir nada em troca. Em vez de julgar se espelhe na bondade dela!
Ela ri com desdém.
— Essa mulher tem fama! Mesmo casada, ela se deita com uma
enxurrada de homens. Nada que vem dela pode ser bom. Você só pode estar
enfeitiçado por aquela messalina! — Acusa furiosa.
— Esse adjetivo é novo!
Como se tivesse sido evocada de seus pensamentos proibidos,
Eleonora entra na sacristia usando vestido vermelho justo que marca as curvas
de seu corpo. No pé um sapato com salto fino, o cabelo solto em ondas grandes,
um colar com fileiras de pedras brancas e vermelhas menores intercalando e no
centro, uma pedra vermelha grande em formato de gota, e brincos combinando.
Diamantes e rubi, lembra da conversa de mais cedo:
“O marido a presenteia com joias caras e raras.”
Linda…
Não, não…
Ela se aproxima de Margarida.
— Se te faz se sentir melhor falar de mim, continue. — Sua voz
metódica não dá para saber se ela foi sincera ou ameaçadora.
— Você e sua família foram a pior coisa para essa cidade. — Acusa.
— Não acho. Está cidade estava morrendo quando chegamos! Mas
se você não está satisfeita em como ela está agora, fique à vontade para se
mudar. — A mulher se encolhe, se foi uma ameaça ele não sabe. — “Não
julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes
sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a
vós.” — Ela cita Mateus 7: 1, 2, pegando Margarida e Mateus de surpresa.
Com a fúria contida, Margarida foge da sacristia.
— Você está me evitando? — Foi direta.
— Você leu a bíblia?
— Sim. E também a Torá[18], Alcorão[19] e pelo meu irmão li os
Vedas[20]. — Se aproxima. — Sua vez. — Seu perfume embriaga-o.
— D… do quê? — Fala perdido, olhando para seus lábios rosados
hipnotizantes.
— Está me evitando?
Meneia que sim, agindo por impulso.
Um toque, só um toque…
Não, não…
Balança a cabeça para afastar os pensamentos impróprios.
— Não, quero dizer. Eu não te evitei de propósito. — Mente. Olha
para imagem de Jesus na cruz. Perdão. — Estava ocupado nessas últimas
semanas com a reforma. Meus horários no centro foram alterados. — Ela sorri
com malícia.
— Irina contou que você se mudou para a casa dos fundos do centro.
— Seus olhos brilham.
— Sim, percebi que tinha uma chave no molho que me deu, Vitor
disse que a casa era para o caso de eu querer ficar próximo.
— É sua, assim você não precisa se locomover da sua casa para
igreja e da igreja para o centro, fica mais fácil. — Ele confirma com a cabeça. —
Então não está me evitando? — Repete.
— Não. — Mente. Olha a imagem de novo. Perdão.
— Sendo assim, acho melhor eu ir. — Ela aproxima-se de seu rosto.
Sua pele toca a dele. — Não me faça voltar, da próxima vez, o vestido pode ser
menor… — Sente o arrepio na pele enquanto ela fala ao pé do ouvido.
— Eleonora eu não…
— Eu sei, você é ordenado, seu casamento é com Deus, seu dever é
ajudar as pessoas com os ensinamentos do Senhor. Mas isso não muda o fato de
que você é um homem e, a menos que isso na sua batina seja um microfone,
talvez lá no fundo eu tenha uma chance e não importa quanto tempo leve, eu
conseguirei o que quero. — Sua boca toca a bochecha dele. — Adorei a batina.
— Sente seu sorriso e frio onde sua pele não toca mais. A observa sair da
sacristia.
Olha para baixo encara a ereção latente.
— Seu traidor. — Olha a imagem. — Perdão Senhor, eu pequei.
Eleonora
Voltarei…
02:20 pm
— Oh, mas isso faz todo o sentindo. — Ângela enrubesce com o que
assistia no celular de Luka.
— Olha isso! — Luka vira a tela do celular para Raphael assistir
também.
O vídeo gravado amadoramente, mostra um casal transando. A
mulher está de costas para o parceiro que parecia protegê-la. É possível ver o
contorno de seu corpo, o homem a mantêm junto a ele, a mão esquerda segura
seus seios cobrindo eles com o braço e o braço direito a segura apertado. É
possível ver seus dedos pressionando a carne, ele beija a curva do pescoço e
morde algumas vezes enquanto a cabeça dela está virada para o outro lado
impossibilitando a câmera de mostrar seu rosto. O casal parece estar no auge da
paixão. Um momento de entrega total.
— Sabe o padre que está aparecendo nos jornais por causa de um
escândalo sexual? Foi isso que ele fez no confessionário. — Luka conta. — Uma
coisa é certa, um homem desse faz qualquer um perder a linha. — Suspira.
— E quanto a mulher? — Raphael Indaga.
— Ninguém sabe quem é. Nas poucas entrevistas que o padre deu, se
negou falar dela. Mas seja quem for, sou fã. Essas botas vermelhas ficarão para
história.
— O homem achou que valia a pena ficar com ela acima de tudo, até
mesmo de seus votos. Esse tipo de paixão incendeia o mundo… — Ângela fala.
— Talvez, devêssemos trabalhar. — Raphael alerta. — Luka você
tem pedidos para fazer.
— Filho, os pedidos estão sendo preparados. — Ângela o adverte-lhe
com o olhar. — Segure seu mau humor, todos estão entristecidos e em luto pelo
menino que morreu. Não carregue mais o ambiente. — Ela se entristece. —
Adriano pediu para abrir o Bar para que os moradores pudessem se distrair, é
isso que faremos.
Raphael não se importa que abriu o Bar em um dia de folga, se
dependesse dele abriria todos os dias e não apenas de terça a domingo. Trabalhar
o coloca em modo automático.
— Será bom, o povo desta ilha precisa de um tempo para descontrair.
É uma pena a morte do garoto. Os pais estão desolados, perder um filho é uma
dor inimaginável. — Luka fala enquanto acaricia o braço de Ângela que está
entristecida. — Não quero ser portador de notícia ruim, mas acho que tem mais
por detrás do pedido do Adriano. Minha tia disse que eles estão querendo
vingança pelo que aconteceu com o garoto. — Luka revela.
— Contra quem? — Ângela o encara.
— Você sabe, a guarda. — Ele respira profundamente. — Todos
sabemos que se tem drogas rodando nesta ilha, é porque eles trouxeram. —
Assegura.
— Não há o que fazer, eles são a polícia. — Ângela fica
amedrontada.
— É verdade o que ela disse, não se pode fazer nada, os culpados
sempre saem impune.
Raphael sabe que falou mais sobre ele do que sobre o garoto morto.
INÍCIO DE TEMPORADA…
O Bar está cheio de turistas. Ângela está no caixa, Luka na cozinha,
Manuela e Alessia servem as mesas e Raphael no bar fazendo os drinques.
A turista que está no bar, o observa de longe. Pediu uma única bebida
alcoólica, depois continuou bebendo apenas coquetéis de frutas.
Ela se levanta sedutoramente e se aproxima, antes de sair lhe entrega
o copo.
— Estou no hotel bangalô Sete. Posso esperar por você?
Ele a avalia. Mesmo que não tenha critério algum.
— Pode. Mas chegarei tarde e sairei antes do amanhecer.
Como regra não come a carne, onde conquista o pão. Ela, sendo
turista, favorece para ocasião. Sem envolvimento, apenas sexo e mais nada.
— Esperarei.
Raphael está arrumando os copos quando vê o policial Tomas, com a
mesma feição homicida de sempre, colocar algo na bebida da mulher que entrou
com ele. Tomas pega-o olhando e lhe dá um sorriso ameaçador, instigando-o a
fazer algo.
É tudo que ele quer, desde a primeira vez que entrou no Bar.
Não importa onde Raphael está, seja na academia, na praia, ou em
alguma loja ele sempre começa a provocá-lo. Se alguma mulher mostra interesse
em Raphael, é exatamente essa que o Tomas quer. Por sua mãe, Raphael faz o
seu melhor em ignorá-lo.
Ele ignora o que vê, mesmo sabendo que a garota passará por maus
momentos em breve. Segue com seus pedidos, até que eles saem e a noite chega
ao fim.
— Por que não saímos um dia desses? — Alessia pergunta enquanto
ele fecha o caixa e ela arruma as mesas.
Logo que Alessia começou a trabalhar no Bar, a pedido de sua mãe,
nunca perdeu a oportunidade de investir nele ou destilar seu veneno falando de
outras pessoas. Muitos na ilha exaltavam seu corpo farto de pele bronzeada e os
cabelos tingidos de vermelho que destacam seus olhos castanhos claros, sua
aparência não era ruim, mas Raphael vê além do físico e tirando sua beleza ela
não tem mais nada.
— Porque você trabalha pra mim e, não me envolvo com
funcionários. — Fala direto.
Ela se aproxima e toca seu braço.
— Não importa quanto tempo passe, um dia você estará pronto para
sossegar e eu estarei aqui para você.
Tira o braço de perto dela bruscamente.
— Não segure a respiração enquanto espera. — Fala com frieza e ela
sorri dissimuladamente com o desafio.
ANTONY
— Quanto tempo? — Naveen pergunta incrédulo.
— Dois anos, ela não se envolveu com ninguém há dois anos. —
Assegura.
— E você e ela… — Investiga. — Não fizeram nada?
Tony encara o irmão como se ele tivesse desenvolvido uma segunda
cabeça.
— Não!
— Sabe, nunca entendi isso. O que faz vocês recusarem um ao
outro? Seria muito mais fácil se fossem além dessa relação complicada. — Fala
um pouco raivoso.
Naveen pode provocar sua irmã, mas isso não quer dizer que gosta
de vê-la infeliz, ela é sua irmãzinha, a mesma que ficava de castigo com ele para
que não se sentisse sozinho. A única a quem procura quando quer contar um
segredo importante ou alguma coisa boba.
— Você não estava lá, no primeiro momento que a vi sabia que ela
era diferente e o demônio também soube e a usou contra mim. Ele nos fazia
assistir. Ela me viu no meu pior, assim como eu a assisti. Era horrível viver no
inferno, mas ficou muito pior quando ela passou a dividi-lo comigo. — Encara o
irmão profundamente. — Eu a desejo, mas o desejo não vem sozinho, com ele
vem o fardo que compartilhamos e o desejo se esvai. Fica apenas a lembrança
dolorosa de ver a mulher da minha vida sendo violentada repetidamente na
minha frente e eu sem poder ajudá-la. Se entrarmos por essa porta, nunca mais
poderemos voltar e, isso é um risco que não estamos dispostos a correr. Eu
simplesmente não posso… — Confessa.
— Sinto muito irmão, eu não conseguiria sobreviver assim. Eu te
amo mais agora que entendo sua dor. — Ele bebe mais da cerveja. — E o
Miguel? — Especula.
— Não. Ele disse que ela não o procura desde que conheceu o padre.
— Toma mais de sua bebida também.
— Foi o padre? — Pergunta incrédulo.
— Acho que sim, mas não de forma direta. Miguel conversou com
ele e não trouxe nada de novo, a não ser que ele continua rezando por ela. Seja lá
o que isso signifique.
— Só isso? Vocês não o forçaram suficiente. — Bate a garrafa com
força na mesa e se prepara para levantar.
— Onde você vai? — Tony segura-o pelo braço.
— Falar com aquele merda, do meu jeito! — O aperto no braço
cessa. — Quem ele pensa que é para rejeitar a minha irmã.
— Não. — Impôs. — Não devemos tocar nele ou nos outros. —
Alerta.
— Como assim, não tocar!?
— Ela impôs o limite sobre seus amigos! — Naveen volta a sentar na
cadeira, — Ela os uniu, agora eles são uma família. Não podemos fazer nada a
eles sem receber a fúria infinita dela como resultado. — Finaliza a cerveja. — E
depois, diremos o quê? Que depois dele ela não fodeu mais ninguém? Ele não a
rejeitou, ela sim. E acho que se estalasse o dedo, ele corre para ela.
— Não é o problema do sexo ou, o não sexo. Ela está diferente,
mesmo que ainda seja ela mesma, não é ela! — Ressalta. — Que merda! A
minha irmã está quebrada e não podemos fazer nada. — Bate o punho na mesa.
— Ela o beijou? — Acena que não. — Merda. Talvez devêssemos nos mudar, já
ficamos muito tempo em Salon. Poderíamos encontrar uma nova cidade, talvez
menor. O que você acha? Esse lugar também já deu para mim!
Tony, mais que todos, quer que ela encontre o que tanto procura e
que ele é incapaz de lhe dar.
— Parece um bom plano, agora que as crianças terminaram a escola
seria mais fácil nos adaptar em um novo ambiente. — Concorda, olha às horas
em seu relógio. — Vamos, está na hora. — Deixa mais dinheiro que o necessário
para pagar a conta e partem.
— Desde quando você frequenta este clube? — Pergunta.
— Zhizn o encontrou logo após eu chegar. Era o único lugar que ela
deixou que eu falasse russo enquanto aprendia português. — Confessa.
O clube exclusivo com total segurança do anonimato, garante a
liberdade completa de seus associados. Entram e logo se separam. Naveen não
participa das cenas de Tony e ele não participa das dele, um acordo estabelecido
mutuamente entre irmãos.
Sobre seu irmão, Tony sabe que apesar de se vestir como indiano,
assistir filmes indianos e ser quase um hinduísta, ele odeia a Índia. Quando falou
do clube, Naveen passou a acompanhá-lo. Ele vem percebendo que, seu irmão
tem saído cada vez menos para suas noitadas com parceiros aleatórios. Isso
também vem incomodando-o, não tanto quanto a solidão de sua Zhizn, mas,
ainda assim, preocupante.
A sala verde está com todos os instrumentos que solicitou. No centro,
a peça principal, o corpo virado de bruços com as pernas e braços estendidos
firmemente presos à mesa feita especialmente para esse tipo de procedimento.
Passa direto para organizar metodicamente cada um dos instrumentos na ordem
de uso. No banheiro, troca de roupa colocando um macacão branco, touca
cirúrgica, luvas, máscara e botas para evitar contaminação. Volta para sala e
analisa o plano de ação, estudando o procedimento passo a passo.
Batendo a faca na mão, enquanto analisa o local onde fará a primeira
incisão confirma o lugar próximo ao tórax. Mesmo amordaçado, o sujeito grita.
— Nikolai, o que foi, não aguenta? É só o começo. Você já ouviu
falar do termo Águia de Sangue? — Alarga a incisão. — E você dizia ser o
diabo!
Não importa quantas encenações faz, todos sempre são Nikolai e o
que queria fazer com ele.
Com as incisões abertas, começa quebrar e puxar as costelas
separando-as da coluna, mas sem arrancá-las. Os gritos abafados persiste em
vão.
Bom, muito bom…
Com as costelas para fora é possível ver o formato de asa que nomeia
a tortura.
— Geralmente eu não sou tão carniceiro, mas estou em uma semana
ruim em casa com a minha esposa. — A criatura tenta falar. — Não Nikolai, ela
está bem. Você não tocará em um único fio de cabelo dela novamente. Ela é
minha de uma forma que nunca foi sua. Eu tenho uma família com ela. —
Declara com orgulho. Inserindo a mão na incisão toca um pulmão e o sente
inflando. — Se lembra de quando batia nos meninos da escola porque eles
tinham pais e mães amorosos? Se lembra? Das festas que você nunca foi
convidado? Era uma alegria ver como todos eles te excluíam. — Gargalha
enquanto remove o pulmão para fora da caixa torácica do corpo ‘Nikolai’. — Eu
tenho pais amorosos e sou um ótimo pai! Meus filhos são lindos e inteligentes.
Amor é o que não falta a eles. Impressionante, achava que nunca saberia o que é
amar, mas ela me ensinou amar e ser amado, enquanto você nos mantinha presos
achando que nos castigava. Nos deu algo que jamais teve. Ela me ama pelo que
sou e como sou. É tão puro e sem interesse você nunca saberá como é ter isso.
— Brada sorrindo cruelmente.
Coloca a mão na outra incisão.
— Você nunca teve quem te amasse e eu tenho em abundância. —
Tira o outro pulmão para fora e admira o trabalho, eles inflam lindamente dando
o efeito do bater de asas carmesim. — Antes de chegar aqui, meu irmão deu uma
ótima ideia, talvez eu consiga fazer com que a minha esposa fique bem,
novamente. — Os pulmões começam a diminuir a velocidade do seu trabalho de
inflar.
— Você ouviu o que eu disse? Eu tenho um irmão ele não é como
você. Ele é melhor, muito melhor. Será que se você soubesse teria feito o que fez
comigo? As agressões, as torturas. Você me violentou quando eu era apenas uma
criança! Seu monstro! Eu era a porra do seu irmão!
O pulmão finalmente para enquanto ‘Nikolai’ agonizava.
Tony assiste como o verdadeiro Nikolai deveria ter morrido se ele
tivesse chance e forças para matá-lo. Não importa quantas vezes mate esses
falsos, a dor não diminui, porém sua besta fica satisfeita.
Leo
Lyubov, acabei de
desembarcar.
10:15 am
Tony
Estou com saudades…
10:15 am
Leo
Também, nos veremos em dois
dias.
10:16 am
Tony
Te amo mais hoje do que amei ontem!
10:16 am
Leo
Eu te amo muito mais do que
ontem e menos do que amanhã!
10:17 am
Leo
Segue as informações dos
primeiros alvos.
04:16 pm
Encaminha os dossiês que fez dos policiais.
Gohan
OK.
04:16 pm
ELEONORA
Leo
É ele!!
Encontrei o único.
O meu único!
07:01 am
Tony
Como você sabe que é ele?
07:01 am
Leo
Eu o beijei e foi inexplicável.
Toda vez que eu o toco é como
se levasse choque, e meu coração pula.
07:02 am
Leo
A boca dele parecia me
chamar, isso nunca aconteceu.
Nem mesmo com você.
07:03 am
Tony
Mas você me beija…
07:03 am
Leo
Porque te amo!
A atração com o Raphael é
diferente da nossa, você é uma extensão
minha que não posso viver sem.
Mas ele… eu não sei mensurar.
Só sei o que sinto e mesmo
assim eu não sei classificar o que é…
É tudo, é um conforto
diferente.
É libertador e cárcere ao
mesmo tempo.
07:04 am
Tony
Zhizn, você está descrevendo o que eu sinto
por você!
Se ele der a você, o que você me dá, serei
eternamente grato a ele.
07:04 am
Leo
Estou chorando…
07:05 am
Tony
Não Zhizn, é para você estar feliz.
07:05 am
Leo
Acho que é por isso que eu
choro.
07:06 am
Tony
Onde ele está?
07:06 am
Leo
Dormindo.
07:06 am
Tony
Eu te amo!
07:07 am
Leo
Te amo mais!
07:07 am
Leo
Ficarei no Bar.
Bom dia!
07:08 am
Miguel
Ok, bom dia!
07:08 am
Leo
Eu achei esses desenhos bons,
o que você acha como especialista?
08:05 am
Naveen
Bons, muito bons estes estudos.
De quem são?
08:07 am
Leo
Raphael, morador da ilha.
E meu, muito meu!
08:07 am
Naveen
Manda foto dele.
08:08 am
Naveen
É lindo, agora estou arrependido de não ter ido
fazer o reconhecimento.
08:09 am
Leo
Ele ainda seria meu.
08:10 am
Naveen
Ele trabalha com arte?
08:10 am
Leo
Não, ele é arquiteto e tem um
bar na ilha que, pelo que vi, é bem
movimentado.
08:11 am
Naveen
Ele é bom com desenhos.
Tenho que ir meu alvo chegou.
Chamo você depois.
Te amo!
08:11 am
Depois que termina de organizar tudo que pode sem fazer barulho
para acordá-lo e não há mais o que fazer, volta para cama. Ainda dormindo
Raphael a prende entre seus braços e pernas.
Tudo parece certo e ela adormece.
RAPHAEL
ÂNGELA
RAPHAEL
ÂNGELA
A fúria é uma porta pouco utilizada por ela, contudo, com Raphael
decaindo em sua escala de humor, depois da pequena evolução que fez, a deixou
de frente com ela.
— Como é?
Ela abriu a porta!!! ELA ABRIU!!
RAPHAEL
— Não se faça de idiota, você acha que não percebi o que vem
fazendo, esqueceu rápido o meu pai! — Acusa.
Ângela fecha o caixa com força e o encara enquanto se aproxima.
Porque você fez isso?
“Eu avisei que evolui, não consigo mais suportar a ausência da
Anjo.”
Mas ela é a mamãe!
“Eu sei, mas não posso ficar sem a Anjo, se esse é o único jeito de
fazer você ligar, ferirei qualquer um para ter o que eu quero.”
Essa é a sua evolução?
O tapa o acerta em cheio, surpreendendo-o.
— Ninguém amou mais o seu pai que eu. Mas ele morreu, eu não.
Não me julgue por fazer o melhor que posso para sobreviver, pois é assim que eu
honro a memória de tudo que eu vivi com Gabriel. EU VIVO!! — Ela grita.
Ele afasta um passo para trás assustado, ela nunca levantou a voz ou
lhe deu um tapa sequer.
— Me recuso a fazer parte do seu culto de aversão à humanidade,
não era isso que seu pai iria querer que eu fizesse com a minha vida, ou você
com a sua. — Esbraveja.
— Mãe? — Volta a se aproximar arrependido, ela recua.
Seus olhos cheios de lágrimas miram ele com decepção e tristeza.
— Eu não te reconheço mais, Raphael, você se tornou um homem
amargo e insensível, mas agora é cruel, nunca estive mais decepcionada com
você, como estou agora. Quando aquela menina apareceu, achei que tinha
conseguido de volta, meu filho doce, sensível e bom. Como pude me enganar
tanto.
Tenta se aproximar dela novamente.
— Mãe? — Leva a mão até ela e de novo ela recua.
— Não!
— Mamãe?
Ângela vira o rosto.
— Me perdoe, eu não quis… Eu sinto muito. — Limpa os olhos
cheios de lágrimas com as mãos.
— Chega Raphael! Apenas saia da minha frente. — Ordena fria.
Raphael nota as mãos trêmulas da mãe ao sair e dá de cara com Luka
e Manuela que assistiam tudo de camarote.
— Sinto muito… Cuide dela por favor. — Luka faz que sim e vai
para Ângela.
Arrependido e devastado, sobe as escadas para casa dois degraus de
cada vez.
Você é um monstro?
Para no deck e olha o mar escuro a sua frente.
“Eu sou o que você se tornou.”
Eu jamais faria isso com ela.
“Você fez, há anos ela tem sido negligenciada. É tão mais fácil ter
alguém para expiar seus pecados. Mas você não tem! Você fez tudo isso e só
agora está notando o que tem feito. Não me culpe. Aqui, você é o juiz, o réu e o
júri. EU SOU VOCÊ!”
Por que agora?
“Por que a tivemos. Ela nos deu à vida de volta, só que não foi
permanente, foi um estoque limitado e acabou… PRECISAMOS DELA!!!…
Quanto antes você assumir isso, mas rápido e menos danos faremos.”
Eu quero ela, muito. Está satisfeito? Mas não podemos, e se a
história se repetir? Se ela nos trair? Tanto já foi tirado de nós, que se ela fizer
alguma coisa, não sobreviveremos e eu prometi cuidar da mamãe.
“Não vai se repetir.”
Como pode ter certeza?
“Porque nós a queremos de um jeito que nunca quisemos ninguém,
vamos cuidar dela, dar atenção, priorizá-la. Será diferente de antes.”
E o irmão/ marido?
“Vigiaremos ele, mas o melhor caminho é aceitá-lo.”
E os filhos dela?
“Amaremos eles como se fossem nossos.”
Segura o celular com dúvida, a tela é o único foco de luz por todo o
deck. Nem precisa correr pelos contatos, ela é o segundo nome na lista. Receia,
por minutos, até que pressiona ligar, toca duas vezes e foi suficiente para fazê-lo
perder a coragem, recém-concebida, e encerrar a chamada.
— Alô?
Encara o aparelho, paralisado.
— Alô? — A voz rouca dela informa-o que ele a acordou. —
Raphael, é você? Você está bem? — Seu tom muda para preocupação.
O fato dela saber que é ele ligando, é o que falta para romper a
represa que encheu por anos com inanição de sentimentos e até mesmo luto.
Ele não sabe por quanto tempo chorou no telefone com ela o ouvindo
do outro lado.
— Não. Eu não estou bem. Eu preciso de você! — Chora sem
vergonha que ela ouça seus soluços ou seu nariz fungando. — Eu estraguei tudo.
— Começa a balbuciar em meio aos soluços.
— Chegarei o mais rápido que conseguir. — Ela fala quando ele
abranda.
Raphael fica olhando a tela com olhos embaçados até ela desligar
deixando-o na completa escuridão.
“Ela está vindo.”
Não sabe quanto tempo passa, mas sente seu coração disparar.
“Ela está chegando.”
Levanta e olha para rua, assiste o carro preto estacionar no meio-fio e
Leo desce segurando uma bolsa na mão e outra no ombro. Ela fala com o
motorista pela janela que, de onde Raphael está, não consegue ver quem é. Ela
usa um casaco preto o cabelo preso no alto, um tipo de coque bagunçado, ele
fica olhando o carro se afastar e não percebe quando Leo bate na porta.
Acorda com o raiar do sol, Leo dorme tranquila, sua aliança reflete o
mínimo de luz, mas a pulseira brilha com mais intensidade, distraído Raphael
traça com os dedos sentindo as pedras e as intersecções em ‘X’.
“Será que mamãe acordou?”
Está cedo.
“Podemos acordá-la?”
Não seria certo, deixe-a descansar. Eu sei o que quer, estou mais
duro que uma rocha, mas não acordarei a mamãe porque quero transar com a
Anjo.
“E se ela for embora agora cedo?”
Não vai, ela trouxe uma mala, isso quer dizer que ela ficará mais
tempo.
“Ou quer dizer que ela não vai voltar usando apenas uma camisola
de seda.”
Ficarei acordado, ela não sairá sem que vejamos.
“Bom plano.”
O que faço agora?
“Reivindique-a.”
Como namorado?
“Não, como sua.”
É, mas não podemos ser donos de pessoas!
“Certo entendi, namoro seria um bom começo assim ganhamos
tempo com ela e não devemos esquecer o irmão.”
Posso falar que quero conhecer a família dela? Não… Vai parecer
que quero marcar território, ou que estou avançando muito rápido.
“Vamos com calma. Devemos pegar mais informações da família e
das crianças enquanto passamos segurança a ela. Lembra, ela nunca namorou,
se nunca fez isso quer dizer que ela nunca apresentou alguém a família.”
Precisamos que ela se sinta segura ao nosso lado a ponto dela
mesma nos deixar entrar no mundo dela. Isso também não quer dizer que
daremos a chance para qualquer outro se aproximar.
“Ela é minha.”
Eu entendi.
“Que bom que você caiu em si. Aleluia!”
Idiota.
“Você é mesmo.”
Você que é.
“Sério? Vamos voltar a isso. Pensei que minha identidade já
estivesse estabelecida.”
Você acha que ela se sentirá bem aqui?
Olha a simplicidade de sua casa.
“Acho que sim, se ela fosse uma dessas ricas esnobes, não teria
voltado para nós. No primeiro dia teria notado que não temos muito a oferecer.”
Sim, mas as roupas dela são de grife e a seda dessa camisola
minúscula não é barata. Lembra o quanto custava os mimos de Valentina? Não
posso mais bancar isso. Esse anel sozinho paga no mínimo dois anos de lucro do
bar. Ele deu a ela, ou seja: Não posso competir com o irmão/ marido.
“Ela está aqui e não com ele, ganhamos. É só manter o jogo assim,
no momento certo a teremos por completo. Mantenha a calma.”
ÂNGELA
RAPHAEL
LUKA
RAPHAEL
“O que perdemos?”
Raphael mira a mãe, questionando e ela dá de ombros.
— Ângela, adorei nosso tempo. Quando voltar, com certeza,
repetiremos. — Leo a abraça.
— Oh, minha menina, você é uma mulher incrível, só Deus sabe o
quanto rezei para que minha nora fosse alguém como você. — Beija-a. — Boa
noite e boa viagem amanhã, ligarei para mostrar como ficou o pão que você deu
a receita.
— Você adorará, é uma das receitas que eles mais vendem no Centro
de Apoio. — Ela volta e fica ao lado de Raphael.
— Centro de Apoio? — Sobem as escadas.
— Lembra sobre o trabalho filantrópico? Começou comigo
angariando doações para várias causas, o Centro de Apoio para ajudar
desabrigados veio depois, com o tempo se tornou uma fundação que ajuda
muitas causas humanitárias. No Centro eu ajudava dando aulas de culinária, um
dia sugeriram fazer pão para vender e o dinheiro do lucro seria revertido para
ajudá-los. — Orgulha-se. — Hoje eles produzem e fornece para três cidades
vizinhas.
— Você é perfeita! — Raphael aperta a mão dela.
— Não, eu definitivamente não sou e meu maior medo é que um dia
você descubra os meus defeitos. — Entristece.
— Nada em você poderá me afastar. — Ela fica pensativa enquanto
tira a sandália e não fala nada. — Conte-me um defeito seu? Pois até agora não
achei nenhum. — Provoca.
— Hoje não, e se puder, talvez nunca. — Tira o vestido. — Cama ou
banho primeiro? — Oferece encerrando o assunto.
— Cama. — Puxa-a para ele e a levanta, as pernas dela se fecham a
sua volta prendendo-o.
Leo começa beijar seu pescoço, ele sente o arrepio que provem do
toque. E em vez da cama, a leva para parede mais próxima.
Seus dedos sente a excitação que transfere para a calcinha de renda
molhada, puxa a peça para o lado sentindo sua pele e a entrada encharcada.
— Muito gostosa…
Ela geme e morde levemente seu pescoço e continua subindo até a
boca dele. Seu dedo é sugado por sua entrada faminta então, dá a ela um
segundo dedo e a sente apertá-los o movimento retumba em sua ereção que
implora por alívio, com pesar, retira a mão dela para poder abrir a calça. E logo
está dentro dela, Raphael urra de prazer ao senti-la apertá-lo quando estoca para
dentro dela.
— Continua, não para. — Comanda enquanto arremete até seu
máximo e volta para fazer novamente. — É tão bom…, nada pode ser melhor
que isso…
— Meu. — Ela o aperta mais e as pernas também, suas mãos
seguram ele pelo cabelo mantendo-o onde quer.
— Seu. — Crava com mais vontade. Segura-a na bunda e a leva de
encontro a ele, fazendo descer com força até o final. — Minha. — Ela morde seu
lábio inferior e geme deliciosamente atiçando o fogo que o consome.
— Sua. — Ele chupa seu lábio depois explora a boca dela com a
língua. — Mais forte. — Ele dá o que ela quer de novo e de novo. — Quero
sentir você em mim enquanto estiver longe, marque-me com o seu corpo. — A
assim ele faz.
Suas palavras o coloca em um estado animalesco, Raphael a leva
para cama onde muda a posição, sabendo de sua elasticidade, eleva uma perna
dela para seu ombro e se coloca inteiramente nela em uma única estocada, ela
grita de prazer e o aperta, com uma mão ele segura um seio, enquanto chupa o
outro. As mãos de Leo ditam a intensidade apertando e soltando seu cabelo, os
gemidos incoerentes se misturam, ele enrola a mão no cabelo dela e toma sua
boca, possuindo-a por completo.
— Goza para mim, Anjo, quero sentir você me ordenhando. — Os
olhos verdes dilatados de desejo mostram o momento exato que ela chega no
máximo e se deixa cair. — Isso… — sem mais resistência a segue. — Anjo… —
Sussurra quando se junta a ela em total plenitude.
A perna dela desce, ele encosta a testa na dela até a respiração se
normalizar, enquanto salpicam beijos um no outro, a eletricidade vem em
pequenas doses de energia pura.
— Eu te amo. — Declara.
— Eu também te amo, meu único. — Quando o chama assim, não
importa o que, ele é o único para ela. — Que tal você tirar a roupa e irmos tomar
banho?
Ele percebe que ainda está parcialmente vestido e sorri.
Depois do banho seguem direto para cama e ficam de conchinha,
nada fica entre eles, sem roupas, sem barreiras. — Como será amanhã sem você?
— Sua mão a aperta.
— Ligaremos um para o outro, tem videochamada, podemos mandar
mensagens, farei o possível para apressar a mudança. — Ela responde, mas não
ameniza seus medos.
As malditas palavras de Alessia voltam em sua cabeça
atormentando-o.
“Ela não vai enjoar, ela se guardou por dois anos para nós.”
Mas o que temos a oferecer?
“Nós. E parece ser o suficiente para ela.”
Ficam acordados por quase uma hora entre beijos e afagos até que
ela sucumbe ao cansaço e dorme agarrada a ele. Às cinco da manhã ele desperta
com o alarme do celular dela, depois de desligar Leo rola na cama para olhá-lo.
— Bom dia! — Se eleva sobre ele dando um beijo rápido, tenta se
afastar quando ele a exige de volta e a coloca abaixo dele, fazendo-a rir, logo
emenda para mais do que apenas beijos, foi carinhoso e profundamente
apaixonado. — Definitivamente, agora sim o dia pode ser bom! — Ela se
levanta indo para o banheiro, tomar um banho rápido e se arruma.
— Por que tão cedo?
Leo o olha através do espelho passando máscara para cílios.
— As crianças acordam às oito, quero estar lá para o café da manhã.
Às nove e meia tenho uma reunião importante com o administrador da fundação.
Depois do almoço tenho reunião com meus pais sobre a mudança. Meu ma… —
olha para ele e se corrige, — Tony sairá da cidade a negócios para cuidar de algo
importante, não nos vemos a quase quatro dias, temos muita coisa para conversar
e estou ansiosa para vê-lo.
Raphael repara no brilho dos olhos dela ao falar do irmão, segura
apertado o lençol entre as mãos.
— Parece um dia agitado. — Fala entre dentes e ela para em sua
frente.
— Estou ansiosa para vê-lo e falar de você, não reaja assim sempre
que o menciono. Você completa o meu mundo, mas para que exista paz, você
terá que aceitá-lo. O que mais quero, é que vocês sejam amigos, pense nisso. —
Pisca e sorri.
Amigos?
“Leve todos ou não leve nenhum, temos que fazer funcionar.”
Pega a bolsa mágica e tira dela um conjunto de lingerie cor-de-rosa,
coloca a calcinha e sabendo que ele está assistindo, Leo sensualiza ao colocar, o
que faz o efeito desejado no corpo dele. O mesmo com o sutiã, pega a bolsa de
joias e tira o colar com a infame pantera e o coloca.
— Você nunca mencionou que tipo de consultoria a empresa da sua
família faz?
Ela olha em seus olhos em um empasse.
— Podemos falar que é algo como restruturação e organização
administrativas, depende do ponto de vista. — Dá de ombro indiferente.
Ele percebe que ela foi evasiva sobre o ramo da empresa.
Por qual motivo? Não sabe e não quer tocar nisso agora, com ela
indo embora.
Ela veste uma camisa branca transpassada e saia lápis, de couro,
verde-oliva de cintura alta por cima, calça a sandália de salto que usou no bar. O
cabelo está preso numa trança embutida que cai em suas costas, por último veste
o casaco com que veio.
Ela está sofisticada e linda, poderia ser mãe, CEO ou a Mulher
Maravilha.
Raphael veste a calça que está jogada no chão, enquanto ela pega
suas coisas e as coloca de volta na mala e é como se nunca estivesse em sua
casa, nada dela vai ficar.
— Vou deixar um espaço no armário para você. — Informa.
Ele quer que ela pertença a essa casa e a ele.
— Adoraria, quando voltar trarei uma mala maior e deixarei. —
Acompanha ela até o sedan preto que espera no meio-fio, o dia começa a
amanhecer. — Sentirei sua falta. — Ele a abraça e a beija, o motorista desce para
pegar a bolsa dela e abrir a porta.
— Eu também. — Beija novamente. — Te amo, Anjo, me liga
quando chegar. — Outro beijo.
— Te amo mais! — Separam-se, Leo entra no carro e o motorista
fecha a porta, dando a ele um rápido bom dia.
Raphael assiste o carro ficar cada vez mais distante, seu coração fica
cada vez mais desolado com a partida.
“Já sinto falta dela.”
São seis da manhã e não é dia de entrega. Sem ter muito o que fazer,
Raphael volta para casa, se troca e segue para academia para bater fora a falta
que Leo faz.
Anjo
Para você não esquecer
Carregar imagem…
06:19 am
A primeira foto é uma dele dormindo com ela sorrindo ao seu lado, a
outra é deles no jardim interno do convento e a última são eles na torre do sino
com o oceano no fundo. Não importa qual, em todas ele a acha linda.
É como se ela fosse encantada.
Raphael
Obrigado, já sinto sua falta.
06:23 am
Anjo
Cheguei!
08:32 am
Raphael
Pegou trânsito?
08:32 am
Anjo
Não, por quê?
08:33 am
Raphael
Você não respondeu antes, por
quê?
08:33 am
Anjo
Sem sinal.
Beijos, as crianças já acordaram.
08:34 am
Raphael
Estou na seção de higiene, você
quer alguma coisa daqui?
Têm uma infinidade de coisas
rosas que dizem ser de importância vital
para vida da mulher?
03:07 pm
Anjo
Que atencioso, mas não há necessidade.
Podemos comprar quando eu estiver em casa
com você.
03:08 pm
Raphael
Tudo bem, beijos…
03:08 pm
Anjo
Olha o acampamento pronto
Carregar imagem…
07:20 pm
Raphael
Eles fizeram tudo sozinhos?
07:21 pm
Anjo
Sim.
07:21 pm
Raphael
O que você sabe sobre a
Manuela e o namorado?
05:15 pm
Anjo
Ele é abusivo.
05:15 pm
Raphael
O que você aconselhou ela a
fazer?
05:16 pm
Anjo
A terminar com ele.
O que mais poderia ser feito?
05:16 pm
Anjo
Ele tocou nela?
05:18 pm
Raphael
Não sei.
05:18 pm
Anjo
Espere, descobrirei
05:19 pm
Raphael
Como você descobriu?
05:20 pm
Anjo
RS
Luka…
05:21 pm
Raphael
Como foi seu dia?
05:12 pm
Anjo
Bem produtivo.
05:12 pm
Raphael
Onde está?
05:12 pm
Anjo
Relaxando na banheira.
05:13 pm
Raphael
Manda uma foto.
05:13 pm
Anjo
Oba, teremos sexting…
05:13 pm
Carregar foto…
Raphael
Linda…
05:14 pm
Anjo
Sua vez…
05:14 pm
Carregar foto…
Anjo
Tão gostoso.
Eu quero tocar…
05:17 pm
Raphael
Eu preciso ser tocado e te tocar
também, de todas as formas.
05:18 pm
Preciso de você.
05:18 pm
Anjo
Chamada de vídeo quando o Bar fechar?
05:18 pm
Raphael
Sim, com certeza.
Três dias sem você, é como se
tivesse te visto a uma eternidade.
05:19 pm
Anjo
Eu sei, sinto mesmo.
05:19 pm
Acorda com uma foto dela vestida com roupas de treino mandando
um beijo.
Anjo
Bom dia!
05:10 am
Raphael
Está muito cedo
05:10 am
Anjo
Não é não, aqui em casa é hora de treino em
família.
05:11 am
Raphael
Assim, você me faz parecer
preguiçoso.
05:11 am
Anjo
Não mesmo.
05:11 am
Anjo
O que tem para fazer hoje?
09:16 am
Raphael
Acho que vou reformar o loft,
começando pelo banheiro.
09:16 am
Anjo
Por quê?
09:16 am
Raphael
Você tomando banho de
banheira, me deu ideias.
09:17 am
Anjo
Adoro ser sua fonte de inspiração.
09:17 am
Raphael
Você com certeza é.
09:18 am
Anjo
Tony e eu contamos para as crianças sobre você.
09:18 am
Raphael
Como eles reagiram?
09:18 am
Anjo
Eles estão deliberando, amanhã teremos um
veredito.
09:19 am
Raphael
Isso é bom ou ruim?
09:19 am
Anjo
É bom, se não estivessem bem eles teriam
protestado na hora.
09:20 am
7234-539
Criou o grupo
Sobre suas intenções
04:16 pm
7234-540
Adicionou você
04:16 pm
7234-539
Sou a Gaia
04:16 pm
7234-540
Sou o Gael
04:16 pm
Raphael
Sou o Raphael
04:17 pm
Fica olhando a tela do celular sem saber o que mais poderia fazer
além de salvar os contatos.
Gaia
Você beijou a mamãe?
04:18 pm
Raphael
Sim.
04:18 pm
Gael
Desculpe, senhor Raphael, mas precisamos que
seja específico.
Você à beijou na boca e com a língua?
04:19 pm
Raphael
Sem senhor, apenas Raphael.
Sim eu a beijei na boca e sim
houve língua.
Por que não colocamos a sua
mamãe no grupo?
04:20 pm
Gael
Não.
04:20 pm
Gaia
Ela não pode saber, para não interferir em nosso
julgamento.
04:20 pm
Raphael
Oh, certo… Por que a pergunta
especifica?
04:21 pm
Gael
Mamãe beija o papai somente com selinho
desde de sempre e nunca com a língua como os
outros casais.
04:21 pm
Gaia
Gosta de crianças?
04:22 pm
Raphael
Sim.
04:22 pm
Gaia
Toca algum instrumento?
04:22
Raphael
Não, mas eu gosto de desenhar.
04:23 pm
Gael
Sabemos, vimos fotos dos seus desenhos.
04:23 pm
Gael
Quais são as suas intenções com a mamãe?
04:24 pm
Raphael
As melhores.
04:24 pm
Gael
Seja específico, não sei lidar com alguns
preceitos do comportamento comum.
04:25 pm
“Que fofo.”
Raphael
Quero tudo com ela.
04:25 pm
Gael
Só com ela.
04:26 pm
Gael saiu do grupo
Raphael
Não!
Com todos vocês.
04:26 pm
Raphael
Gaia, eu juro que não é só ela,
eu sei que tenho que amar vocês também.
04:26 pm
Gaia
Só está piorando…
Você não é obrigado a nos amar, temos isso em
abundância aqui em casa.
04:27 pm
Raphael
Desculpe, foi só um uso ruim
de palavras, eu amo cada parte da sua mãe
e quero muito conhecer todos.
04:27 pm
Gaia
A mamãe acha que não sabemos o que falam de
nossa família na escola e em toda a cidade
praticamente, filhos de incesto, anormais,
estranhos, etc…
04:27 pm
Raphael
Eu entendo e sinto muito.
04:29 pm
Gaia
Ela está diferente esses dias, está melhor que o
normal e muito melhor do que esteve nos
últimos anos.
Obrigado!
04:30 pm
Gaia removeu você.
“Você fodeu com tudo.”
Não, eu posso concertar.
Se desespera.
Leo disse que Gaia é a porta-voz…
Ele faz dela a primeira tentativa para concertar o erro. A espera para
ser atendido é como ficar com uma faca no pescoço.
— Um momento, colocarei no viva voz. — Gaia anuncia, a voz
infantil parece um sininho. — Gael está comigo.
— Olá. — Gael fala com a voz um pouco mais grossa.
— Crianças, eu quero que saibam, que eu amo a mãe de vocês e
quero muito conhecê-los. A minha família é só minha mãe e eu, tenho certeza de
que ela está mais que ansiosa para conhecer vocês. Eu não imagino pelo que
passaram ou o que tiveram que ouvir, não quero e não vou estragar o que vocês
têm, essa é uma promessa.
— Não prometa o que não se pode cumprir, aqui em casa, promessas
são valiosas assim como nossas palavras, temos regras. — Gael ressalta
conciso.
Um pequeno defensor.
— Eu não sei as regras, conte-me e as seguirei de hoje em diante.
— 1: A família em primeiro lugar.
2: Ter e manter sua palavra.
3: Nunca se curvar a ninguém.
A voz da Gaia é decidida para cada regra.
— São boas regras e as cumprirei. Posso fazer uma pergunta?
— O senhor acabou de fazer.
Raphael sorri lembrando que a mãe dele, com certeza, teria falado a
mesma coisa, escuta a voz da Gaia bem baixinho.
— Ah tá, entendi, pode falar senhor.
— Raphael, apenas Raphael combinado?
— Tudo bem! — Ambos respondem.
— Por que nunca contaram a seus pais sobre o que falam da família?
— Pessoas ferem muito mais com suas línguas do que com sua força
física, levamos do mundo apenas o que quisermos e o que não queremos
deixamos, mas não é por isso que deixamos de sentir também, porque o papai e
a mamãe não merecem o que falam deles. — Gaia fala com pesar.
— Vocês são as melhores crianças com quem já conversei e são mais
sábios que muitos adultos. É possível que vocês me perdoem e iniciemos a partir
desse momento nossa amizade?
Raphael escuta os cochichos do outro lado com apreensão.
— Vamos deliberar. — Gaia responde. — Agora temos que ir, o vovô
e o titio irão nos levar para jantar.
— Bom passeio, crianças!
— Obrigado, bom trabalho! — Respondem juntos.
Anjo
Você foi aprovado!
As crianças, falaram que conversaram com
você.
Devo me preocupar?
10:03 am
Raphael
Sem preocupação, eles são
adoráveis.
10:03 am
Anjo
Eu sei…
10:04 am
Raphael
Agenda de hoje?
10:04 am
Anjo
Acompanharei um amigo em um evento.
10:05 am
Raphael
Amigo?
Que amigo?
10:05 am
Premiação da agroindústria.
Clique aqui para acompanhar ao vivo.
Ele clica.
Otávio Rangel
Agricultor
Estado civil: Solteiro.
Idade: 41 anos.
Patrimônio avaliado em 70 milhões.
Fim de transmissão…
Clique aqui para rever a entrega dos
prêmios.
Chega!
“Até que fim.”
Tudo não passou de divertimento para ela.
“O quê? Não! Para de dar chilique e se controla!”
A porta do Bar abre.
— Já fechamos! — Esbraveja sem olhar para a porta.
— Ótimo, assim será melhor.
Diante da voz ameaçadora e rude que ouve, Raphael levanta a cabeça
para encarar um Lázaro muito transtornado e armado.
— Cara, fica calmo e vamos conversar. — Raphael fala com a voz
calma erguendo as mãos.
— Onde está a Manuela? — Ele grita.
— Por que você está procurando ela?
Todos escolhem esse momento para saírem da cozinha.
Ângela, Manuela e Alessia gritam assustadas quando Lázaro aponta
a arma na direção delas.
— Manuela, vem comigo e ninguém se machuca. — Ordena.
Luka a segura no momento que ela tenta dar um passo para se afastar
deles e fazer o que o Lázaro manda.
— Manuela não me faça fazer algo drástico! Venha! — A arma na
mão dele oscila apontando na direção de todos sem preferência de alvo.
— Ela não vai com você! — Luka e Raphael falam juntos.
Raphael se aproxima do grupo e Alessia o agarra assustada.
— Quem foi que colocou essas ideias na sua cabeça? Quem disse
que era para você terminar o que tínhamos? — Questiona.
— Lázaro, abaixe essa arma, não há necessidade disso. — Manuela
dá um passo para se afastar deles novamente.
— Manu não. — Luka a segura mais forte.
— Ele vai machucar a todos se eu não for com ele. — Explica
assustada. — Deixe-me tirar ele daqui. Eu posso lidar com isso. — Limpa as
lágrimas do rosto.
— Não, você não vai sair do meu lado. — Ângela a segura e Luka
puxa as duas para ele.
— Foi você, sua aberração, que colocou essas coisas na cabeça dela?
— Aponta a arma para Luka o dedo corre para o gatilho.
Todos, sem exceção, fecham os olhos em antecipação ao disparo, os
braços de Alessia apertam mais Raphael.
O coração de Raphael dispara em um aviso alegre de
reconhecimento, mas assustando-o, pois, ela não poderia estar aqui, não agora.
— Ora, ora… — A voz da Leo invade seus ouvidos. Não, não pode
ser! — O que temos aqui?
— Quem é você?
Raphael abre os olhos para ver seu pior pesadelo, Lázaro apontando
a arma para o peito de Leo.
— Quem, porra, é você!? — Grita aproximando a arma ainda mais
nela.
Calma, como em um passeio na praia, seus olhos encontram os de
Raphael e semicerram quando vê os braços de Alessia à sua volta. Ela agarra a
arma com a mão esquerda e com a direita afasta a mão de Lázaro que a
empunha, desarmando-o e apontando a arma para ele.
— Ajoelha. — Ela comanda com voz fria como a água do oceano,
Lázaro sorri em descrença, mas para quando ela pressiona o gatilho apontando
para cabeça dele.
— Calma docinho… — Ele ajoelha ainda sorrindo incrédulo, com a
coronha da arma, ela o golpeia na lateral da cabeça dele com força e ele cai no
chão desacordado.
“Puta que pariu!!! Uhu.”
Com a arma na mão ela tira o carregador depois abre em cima e tira
uma bala.
Puta merda a arma estava carregada!
“Não sei você, mas existe um apelo sexy em ver uma mulher
desmontando uma arma.”
Seus grandes olhos se voltam para eles.
— Tire as suas mãos do Raphael. — Exige ainda em tom de ameaça
e os braços de Alessia caem com urgência. — Vamos para casa precisamos
conversar. — Leo passa por cima do corpo de Lázaro como se fosse merda no
caminho, o vestido fluindo como uma neblina negra fazendo-a parecer flutuar.
Ela para na frente de Luka e entrega a arma desmontada. — Lide com isso, a
polícia já está a caminho. — Comanda. Ele assente em choque. — Ângela, você
está bem? — Pergunta ainda com calma e até mesmo com carinho, colocando a
mão no braço dela.
— Sim minha filha, foi um susto e tanto, mas estou viva, isso é o que
importa. — Ela sorri descrente e também em choque.
— Sim estar viva é tudo que importa. — Leo a beija no rosto.
Todos seguem Leo com olhar de alarde e descrença enquanto ela
caminha para a escada de acesso do loft.
— Raphael?
Olhando Lázaro no chão Raphael passa por eles, para na frente da
mãe.
— Mamãe?
— Estou bem meu filho, pode ir com ela, ficarei aqui para ajudar
Luka. — Olham para Luka que mesmo abalado está com Manu agarrada a ele
em estado de choque.
Leo o espera no topo da escada segurando a porta, quando ele passa,
ela tranca.
Raphael para de frente e mensura que apesar de parecer calma
minutos antes no Bar, Leo está tensa, como se estivesse contendo mais energia
do que poderia suportar.
— Você está bem? Sua mão está machucada? Como você sabe fazer
aquilo? Foi arriscado, você poderia ter se ferido…
— Calado Raphael, você vai me ouvir. — Decreta.
Ele fecha a boca surpreso por ser alvo de tanta frieza.
“Eu falei para atender a porcaria do telefone.”
— 1: você não tem o direito de dizer onde vou e com quem vou.
2: você nunca mais encerrará uma ligação sem que os fatos estejam
esclarecidos.
3: você não tem o direito de julgar o meu passado com outras
pessoas.
4: você jamais duvidará da minha palavra.
Ela o encara com olhos distantes e frios, como ele nunca tinha visto,
depois suspira…
— Eu não sou ela. Você decidiu os parâmetros da nossa relação e
concordei, você pediu para não trair a sua confiança e eu faço. — Alisa o vestido
impaciente. — Mas parece que está via é de mão única, onde somente eu fico à
mercê das suas vontades, e não compactuarei com isso. Quando fiz qualquer
coisa que me fizesse indigna de confiança? — Pergunta aborrecida e triste na
mesma medida.
“Ela está puta da vida e tudo por sua culpa.”
— Responde! — Ela esbraveja pegando-o de sobressalto.
— Nunca. — Responde com voz baixa e envergonhado.
— Se você não tivesse encerrado a ligação, ou ao menos atendido
quando liguei de volta, saberia que eu viria para você logo depois do evento.
Saberia que passaria três dias com você. Saberia que há dois dias trabalho noite e
dia para que eu possa ter esse tempo com você. E eu contaria que Otávio já havia
me convidado há meses para esse evento e eu não te conhecia quando aceitei,
não que minha resposta fosse mudar agora que te conheço.
“Como você pode ser tão idiota.”
Merda!
— Anjo, eu sinto muito, eu…
— Eu sei Raphael. Eu sei que você tem problemas de confiança. Sei
que você está condicionado a isso por causa do seu passado, mas eu sou seu
presente e quero ser seu futuro! Só quero que você pense antes de sair agindo
por impulso. — Ela volta para porta.
— Onde você vai? — Pergunta com medo de que ela estivesse indo
embora.
— A polícia vai querer meu depoimento, melhor fazer agora. — Fala
e nem ao menos olha para ele.
“Você magoou ela.”
Não brinca, sério?
“Já disse hoje como você é idiota.”
Como ela havia falado, a polícia estava no Bar algemando um
Lázaro muito confuso e furioso.
Leo presta depoimento ao policial que toma nota do que dizia.
— Como eu disse. — Ângela fala entregando um copo com café para
o filho que olha confuso para ela. — Ela é um furacão, você viu aquilo que ela
fez para desarmá-lo e depois com a arma? Que mulher… — Suspira. — Mas ela
parecia e parece ainda muito brava com você, o que eu perdi? — Sua
sobrancelha arqueia questionando-o.
— Fui idiota, tipo, muito… idiota. — Bebe o café envergonhado.
— Você tem um bom caminho para se desculpar com ela, sugiro que
seja criativo, enormemente criativo. — Aconselha.
— Serei.
Leo se aproxima, mas fica mais próxima de Ângela que dele, e ele
não gosta da distância.
— Querida, como você aprendeu aquelas coisas que fez? — Ângela
pergunta curiosa.
— Meus pais, quando você os conhecer, e meus irmãos, você
entenderá. — Sorri enigmática.
O que isso quer dizer?
Alessia escolhe esse momento para se aproximar.
— Leo, achei que não a veria tão cedo, Raphael e eu assistimos você
no evento com um amigo especial. — Sorri dissimulada.
— Não vejo como minha vida pode ser da sua conta e me chame de
Eleonora.
— Mas o Luka e a Manu te chamam de Leo. — Alessia Rebate.
— Eles são meus amigos.
Com isso ela os deixa, Ângela segura o riso e Raphael ignora as
queixas de Alessia e segue Leo com os olhos que vai consolar Manu ainda em
choque.
— Criatividade meu filho, muita criatividade… Querida, a noite foi
longa, é melhor você ir para sua casa descansar, pois vejo que você já se
recuperou do choque, nos vemos amanhã. — Ângela praticamente enxota
Alessia.
Depois que os guardas saem, todos se despedem. Ângela vai para
casa, e ele sobe com Leo ainda muito brava.
— Anjo, me descu… — As batidas na porta o interrompem. —
Merda o que pode ser agora!? — Abre a porta para encontrar um homem de
terno preto e camisa branca com porte bem construído. — Você é? — Pergunta
irritado.
— Venho entregar a bagagem da senhora Eleonora. — Responde
sem nenhuma expressão, Raphael abre a porta e permite a entrada do homem
que puxa para dentro duas malas grandes e a já conhecida mala da Louis Vuitton
deixando próximo do sofá. — Tenha uma boa noite senhor, senhora. — O
segurança olha para Leo uma última vez antes de sair e Raphael fecha a porta
atrás dele.
Leo lhe dá as costas e começa a tirar a sandália com o salto
estupidamente fino e alto, depois o brinco enorme, que provavelmente deve ser
de diamante, e coloca no móvel ao lado da cama, abre o fecho do vestido nas
costas liberando a parte de cima, em seguida o fecho da cintura e o vestido cai
no chão, ficando única e exclusivamente de calcinha de renda preta, seu pênis
ganha vida.
— Anjo? — A voz de Raphael sai falha e a respiração eleva-se.
— Agora não Raphael, estou cansada, preciso muito tomar um banho
e dormir. — Pega sua necessaire de dentro de uma das malas e entra no banheiro
fechando a porta ainda evitando olhá-lo.
“Você fodeu com tudo.”
Eu vou concertar.
“Você se tornou mecânico? Porque ultimamente está consertando
coisas demais.”
Vinte minutos depois Leo deixa o banheiro, que Raphael reformou
para estrear quando ela chegasse e que passa despercebido, praticamente
ignorado, limpa de qualquer maquiagem, enrolada na toalha que ele comprou
para poder secá-la depois do banho inaugural de banheira que ambos tomariam
juntos. Ele deixa Leo tomar seu tempo e vai para o banho sozinho, quando sai,
ela está na cama vestida em uma camisola de seda roxa com renda marfim.
Suspira de pesar.
Eu puxo ou não ela para mim?
“Deixá-la, só vai aumentar mais a distância entre nós.”
Seu corpo pequeno se encaixa no dele sem resistência quando a puxa
e beija seu cabelo sentindo seu cheiro.
— Me desculpe, eu te amo tanto que tenho mais medo de te perder
do que ficar sem ar para respirar. — Beija-a de novo.
— Eu sei, também sinto o mesmo. — Ela responde sussurrando, a
aperta mais contra ele não muito tempo depois dorme um pouco mais aliviado.
“Direta.”
Dentro do embrulho encontra três camisas com cores de xadrez
diferentes, azul-escuro, vermelho, quase vinho e preto. São parecidas com as que
usa, exceto claro, as grifes gritantes.
— Adorei. — Tenta sorrir.
— Sério, porque parece que você está segurando uma cobra
venenosa. — Ele olha para ela que o encara de volta. — Se não gostou é só
ignorar no fundo do armário ou devolver, Paris não se importará. Na verdade, ela
levará você direto na loja para que mostre exatamente o que gosta assim ela pode
passar a comprar suas preferências. — Leo o consola.
— Não é isso, eu de fato gostei. É que foram muitos anos longe
dessas coisas, quero dizer as marcas exclusivas, o luxo e suas extravagâncias.
Desculpe, foram só lembranças ruins que recordei…
— Você está vendo pela ótica errada, houve coisas e pessoas ruins,
mas também existiram seu pai e sua carreira. É isso que deve levar a maior, não
o ruim.
“Será que eles engarrafam a água do riacho onde eles tomaram
banho?”
— Você tem razão, houve muito mais coisas boas que ruins.
Ela sorri e abre a mala menor ‘LV’, dela tira a bolsa de joias profanas
e as coloca ao lado da roupa que escolheu para vestir. Com isso ele não consegue
evitar o revirar de olhos.
— Qual sua história com joias?
— Elas brilham. — Afirma simplesmente. Mas Raphael espera uma
explicação melhor. — A primeira que ganhei foi minha aliança, — levanta a mão
esquerda para mostrá-la — o brilho e os reflexos coloridos me encantaram no
mesmo instante, foi como o ligar de um interruptor e desde de então Tony
garante que eu sempre as tenha. — Ela olha para a bolsa. — Mas sei que ele faz
isso como uma apólice de seguro para crianças e eu, se acontecer alguma coisa e
ele não estiver lá para nós. — Ela comprime os lábios pensativa. — O que nunca
acontecerá. — Afirma. — Olha, as crianças mandaram um presente para sua
mãe. — Ela segura outro pacote com embrulho dourado e depois o coloca na
cama.
Segue para o banheiro com uma bolsa menor, Raphael a observa
encher as gavetas e depois o box com suas coisas.
— É oficial, existe uma mulher habitando sua casa! — Salta
eufórica. — Temos roupas no armário e gavetas, absorventes e maquiagens no
banheiro. — Ela olha a volta. — Sua caminhada envolve me levar as compras?
Porque eu precisarei de um secador, prancha e babyliss para meu cabelo.
— Se é o que deseja, você terá. — Ela se aproxima feliz e o beija.
— Hora do show! — Sussurra.
Raphael abre o maior sorriso sem conseguir evitar.
— Saudade ter um show ao vivo e não por videochamada?
— Você nem imagina. — Ele veste a primeira roupa do armário
depois se senta na cama animado e cheio de expectativas.
O show começa com ela puxando a barra da camisola verde escura
de renda, expondo suas coxas grossas. Ela gira para que ele possa admirar o
bumbum arredondado que ele adora apertar e morder, outro giro, e admira o
umbigo lindo como se tivesse sido desenhado a mão, seguido por sua barriga
definida escorrendo feminilidade, então os seios perfeitos e deliciosos. Ela joga a
camisola para ele, que a pega no ar levando-a ao nariz.
Ela tirando ou colocando?
“Dúvida cruel.”
A renda fina da calcinha contra sua pele levemente bronzeada é o
contraste perfeito para o marfim da peça. Ela gira e ele assista o ajuste da peça
que faz a curva perfeita no bumbum parecendo um meio coração. O sutiã vem
em seguida, seus mamilos ficam discretamente a mostra pela renda fina,
implorando para que ele os toque e os libertem. Leo senta na cama e coloca as
sandálias. De salto e lingerie ela caminha de forma sexy para o banheiro e inicia
a aplicação da maquiagem primeiro os olhos, e depois, a boca se destaca com o
batom vermelho claro. Solta o cabelo com ondas grandes caindo por suas costas.
— Apreciando? — Pergunta caminhando até a bolsa infame.
— Muito, tanto que estou com vontade de te trazer para cama e
mostrar a fase três e quatro. Foda-se, vamos ficar na cama!
— Faço o que você quiser. — Ela responde sorrindo — Você pode
pegar os brincos que estão do seu lado?
O brinco longo, com pequenas pedras de diamante formando padrão
de espinha de peixe, são impressionantes e de muito bom gosto.
— É você quem escolhe suas joias?
— Eu escolho as coisas pequenas, como o anel que eu dei àquela
criança, Tony cuida do restante, a única da coleção que escolhi foi a pulseira. —
levanta o pulso com a pulseira de pedras roxas.
— Ele parece ser legal.
Ela sorri tirando duas pulseiras de platina da bolsa e coloca no pulso
junto com a pulseira que nunca tira.
— Ele é maravilhoso, inteligente e dedicado. Não há nada que ele
não faria pela família, assim como você. — Levanta da cama e coloca o vestido,
abotoando lentamente. Seus seios ficam muito evidentes no decote. Raphael
limpa a garganta, chamando sua atenção, quando ela o olha ele indica que feche
mais um botão, o que ela faz com revirar de olhos. — Não se acostume. — Volta
a abotoar deixando a saia muito aberta, ele limpa de novo a garganta e indica
mais dois botões. — Sério? Nem está muito aberta. — Ele mostra dois dedos,
com outro revirar de olhos ela faz. — Satisfeito? — Ele Faz sinal de afirmativo
com o dedo e sorri, ela amarra o cinto para finalizar. — Podemos ir ver a sua
mãe?
— Claro Anjo. — Raphael se levanta e pega o presente destinado à
sua mãe.
Luka
Tudo pronto!
11:15 am
Raphael
Obrigado, estamos a
caminho.
11:15 am
Seu braço cai no colchão, em vez do corpo macio dela, o Sol começa
a nascer e a claridade desponta no horizonte, o lençol frio significa que ela saiu
faz tempo. Levanta e a procura por toda a casa, e só relaxa quando a encontra no
deck. Leo está com as mãos plantadas no chão e os joelhos junto aos seus
antebraços que está sustentando todo seu corpo. Ela parece não se esforçar com a
posição, seu braço estica as pernas e os pés levantam e passam pelo externo dos
seus braços enquanto olha para frente, até que relaxa e desce.
— Bom dia!
— Bom dia, Anjo!
— Temos muitas coisas programadas para hoje, mas ainda é cedo e
você pode querer descansar um pouco mais.
— E você não precisa?
— Eu não costumo ter muitas horas de sono. — Ela o beija e segue
para cozinha.
— Que tal comermos e irmos para academia? Geralmente vou cedo,
é mais vazio.
— Tudo bem.
Leo preparam um lanche e se veste, mas Raphael não se alegra, pois
muito dela fica exposto no top e no short.
— Não me olha assim, não é como se estivesse nua.
— Não é fácil fazer uma série se o meu pênis estiver tão duro
quando uma barra de ferro. — Reclama, descendo as escadas.
— Então é melhor ele não ficar assim, além de não ser fácil, não é
educado para com as pessoas a nossa volta.
No caminho até a academia Leo lhe conta que começou a praticar
yôga para manter sua agitação em ordem, além de ser parte de sua rotina algo
que para ela é essencial.
— Precisa de ajuda? — Raphael oferece assim que chegam na
academia.
— Não, eu posso me virar. Pode ir. Eu estarei por aqui.
Ela lhe dá um beijo rápido e se afasta, ele começa seu treino mas
nunca a perde de vista.
Ela conversa um pouco com o personal, depois faz alguns exercícios
de musculação, que o surpreende pela quantidade de peso que ela consegue
levantar.
— Foco, Raphael! — O seu personal chama. — Sua namorada é
linda, agora eu vejo porque todos os caras falam sobre ela. — Raphael olha para
ele com o olhar homicida. — Use essa vontade que você tem de me matar para
se esforçar mais, não saia até terminar sua série. — Ele sorri e se afasta, indo na
direção da Leo.
Como aconselhado, usa sua força e energia para treinar e cada vez
que ela ri de algo que o personal fala, mais se esforça.
Que porra é essa? Ele está dando em cima dela.
“Acho que sim. Mas se controle, não faça merda e foda tudo depois
do dia maravilhoso que tivemos ontem.”
No final do treino, Leo faz uma série de perna. O personal havia se
afastado para falar com outro aluno, Gohan chega indo direto para o aparelho ao
lado dela, Raphael não havia reparado em como ele é forte. Assiste de longe eles
conversando, Leo se senta olha para Raphael e sorri, depois volta a falar com
Gohan que passa a olhá-lo como se estivesse o avaliando-o, desconfortável
Raphael termina sua série.
— Vamos, Anjo?
Gohan e ela se levantam juntos.
— Raphael, lembra sobre o que conversamos das aulas de
autodefesa? Gohan pode nos ajudar com seus treinos, ele se ofereceu em treiná-
lo! Não é legal da parte dele!? — Fala animada.
— Anjo, talvez devêssemos ver com um dos professores da
academia?
— Já verifiquei e todas as turmas estão cheias e só iniciarão outra
turma em meses. — Ela faz bico e repuxa seus lábios para o lado direito.
— Senhor Raphael, se me permite seria uma honra treiná-lo. Sou
faixa preta em várias artes marciais além de saber autodefesa. Tenho tempo livre
e podemos usar o espaço da academia mesmo e fazer um combinado com várias
lutas.
“Porra, estamos encurralados pela educação e pelo biquinho dela.
Mas sabe de uma coisa? Mantenha os amigos perto, e os inimigos… você
entendeu? Com ele nos treinando podemos ter informações sobre os novos
moradores.”
— Se não irá te atrapalhar, eu agradeço a sua ajuda. Podemos
combinar um pagamento pelas aulas e…
— Não é preciso pagamento, treinar você irá me ajudar a manter a
forma. Como disse, é uma honra treiná-lo. — Gohan se curva agradecido.
— Obrigado.
Leo fala com ele em japonês e ele sorri em resposta, é a primeira vez
que Raphael vê Gohan fazendo isso, ele responde também em japonês. Depois,
pega a mão do Raphael e começam a se afastar.
— O que você falou?
— Disse que você começa a treinar depois de amanhã pois não
estaria aqui, assim você estaria descansado. E ele falou que estará aqui para você
todo dia nesse mesmo horário.
Raphael não fala japonês, se ela disse isso, então, ela disse.
— O que faremos hoje?
— Amélia fará a primeira prova do vestido de noiva e me convidou
para acompanhar junto com sua mãe, você pode nos encontrar para almoçar
depois. O que você acha?
— Acho que minha manhã será tediosa sem você, mas adorarei levá-
la para almoçar.
Chegam em casa e vão direto para o chuveiro. Fazem amor
aproveitando cada momento, uma sessão dessas, valeu mais que uma hora e
meia de treino pesado.
Raphael
Onde está?
12:11 pm
Anjo
No shopping, ao lado da loja de noivas.
Estou na livraria perto da entrada.
12:11 pm
Raphael
Já estou te vendo.
12:12 pm
Raphael olha para o telefone que Leo deixou carregando e que toca
pela segunda vez, o nome acende: Tiago. A chamada encerra, apenas para
começar novamente com a vibração insistente. É a terceira ligação, quando
Raphael finalmente atende.
— Lollipop[24]. — Ouve o suspiro aliviado.
— Alô?
— Quem fala? — A outra pessoa pergunta, asperamente.
— Você quer falar com quem? — Devolve a grosseria.
— Miguel é você?
“Por que ele acha que o segurança atenderia o telefone?”
— Não é o Miguel.
— Cara, eu não faço a mínima ideia de quem é você, mas eu preciso
falar com a Lollipop. — Fala com urgência.
— A Eleonora não está, mas pedirei para ela retornar assim que
chegar. — Avisa enfatizando o nome dela.
— Porra, não! — Ele grita espantando Raphael.
— Alô? — Outro homem fala. — Quem fala?
— Raphael. — Responde em alerta e ainda ríspido.
— Certo Raphael, — estabelece. — Eu sou o Samuel e antes de mim
você falou com meu companheiro Tiago, acontece que temos um caso de máxima
urgência e precisamos falar com a Lollipop… Eleonora, — Se corrige. — ou,
Miguel. Por a caso você poderia localizá-los?
“De novo o segurança? Por que acham que eles estão juntos?”
Ele é o segurança dela, faz sentido. Onde ela está ele também está.
— Samuel, a Eleonora saiu, mas voltará em breve e quanto ao
Miguel eu não sei como localizá-lo.
— Oh certo! — Fala surpreso, — Diga a ela para retornar a ligação
o mais rápido possível.
“E se for algo com as crianças ou a família dela?”
— Aconteceu alguma coisa com as crianças ou com a família dela?
— Agora é ele que tem urgência.
— Não, não. Eles estão bem!
— Certo Samuel, eu aviso a ela assim que chegar. — Responde mais
calmo.
— Obrigado.
Raphael fica olhando o celular na mão até a tela apagar.
— Pela sua cara, você deve ter lido as mensagens dela. Descobriu
alguma coisa? — Alessia pergunta, atrevida.
— Talvez você devesse chegar no seu horário em vez de se
preocupar com a minha vida.
— Eu só me preocupo com você. Essa mulher chega aqui do nada e
de repente, todos da cidade parecem idolatrá-la, ela o tem entre os dedos e isso
não é sadio em uma relação. — Se aproxima. — Essa é a minha opinião. —
Termina.
Ela passa por ele indo para cozinha.
Ele liga o celular.
“O que você está fazendo? Não, não mexa no aplicativo de
mensagem.”
Leo
Lyubov, estou com
saudades.
10:34 am
Tony
Eu também Zhizn.
Voltarei da Suíça amanhã.
10:34 am
Leo
Eu te amo muito mais do
que ontem e menos do que amanhã
10:35 am
Tiago
Estamos com saudade, quando você vêm?
09:22 pm
Leo
Irei amanhã, podemos
passar à tarde juntos.
09:30 pm
Tiago
Perfeito, mal posso esperar Lollipop!
09:30 pm
Miguel
Cuidei de tudo como pediu.
01:04 pm
Leo
Obrigado.
01:04 pm
Miguel
Sou seu para fazer o que precisar.
01:04 pm
Raphael lê e relê algo que não pode e não quer acreditar: Extratos de
contas bancárias em paraísos fiscais, com grandes remessas de dinheiro, trajetos
de lavagens e a volta para contas em nome de Álvaro, esquemas de licitações e
contratos superfaturados. Tantas provas, várias datadas de quando Gabriel ainda
era vivo e muitas mais, depois que ele morreu. Passa a mão pelo rosto exausto
enquanto encara a tela do computador.
Ela nos deu um milagre.
“Ela fez.”
Como conseguiu?
“Por que importa?”
Essas provas podem ser consideradas crime de invasão e
espionagem? Não sei, mas sei que ter isso é crime.
“Ela conseguiu isso para você, por você. Não a prejudique.”
Não posso contar isso para mamãe.
“Acho melhor assim.”
Tira o pen drive e o guarda onde ninguém pode encontrá-lo.
O que devemos fazer? Anda pela casa enquanto medita as
possibilidades.
“Matar todos eles.”
O quê? Não.
“Eles merecem.”
“Não. Pensa na mamãe, na anjo e na família dela. O que eles
pensariam? Poderia nos afastar para sempre dela. É isso que você quer?”
“NÃO!!!”
Então para de tentar matar as pessoas!
“Aquele merda não merece respirar, ele não merece viver em um
mundo em que a anjo vive.”
Não cabe a você decidir.
O telefone toca e pela música sabe que é ela. Ansioso corre para
atendê-lo.
— Raphael, acabei de chegar em casa.
— Que bom, Anjo. — Suspira. — Como você conseguiu? —
Contempla o mar azul a sua frente.
— Vou usar a cláusula de omissão por motivos de segurança. — Ela
responde evasiva.
— Anjo, ter e obter essas informações é crime, você pode se colocar
em problemas e não posso permitir.
Ouve seu sorriso.
— Não se preocupe ficarei bem. Nada disso chegará a mim. E você,
como está?
— Eu não sei…, com raiva, temeroso por você. Mais raiva por ele
denegrir o nome do meu pai desta forma. — Admite.
— E o que mais? — Ela insiste.
— Tem está parte minha que deseja que eles morram
necessariamente pelas minhas mãos. — Confessa envergonhado.
— É compreensivo, eles feriram você e sua mãe, tiraram tudo que
tinham. Desejar vingança faz de você humano, não realizar o ato te faz melhor
que eles.
Respira com alívio por suas palavras de apoio.
Não poderia esperar menos do meu anjo.
— Obrigado, Anjo.
— Não por isso.
— Mamãe!! — Raphael ouve os gritos das crianças e sons de passos
correndo.
— Crianças! — O som do telefone é abafado.
— É o Raphael? — Eles perguntam.
— Sim, é ele. — Ela responde. — Querem falar com ele?
— Podemos? — O sorriso de Raphael se alarga, seu coração parece
querer sair pela boca.
— Claro que sim!
— Raphael, a senhora Ângela gostou da bolsa? — Gaia fala
animada.
— Sim ela adorou. Muito obrigado. — O sorriso parece ter sido
entalhado em seu rosto.
— E as camisas, você gostou? — Sua voz fica mais contida.
— Muito, eu adorei! A mamãe disse que as cores que escolheram
fazem com que eu fique mais bonito, se isso não é o melhor elogio que posso
escutar, então não sei o que é. Só posso agradecer a quem escolheu. — Gaia ri e
o som é o mais lindo.
Se o coração de Raphael estava cheio antes com Leo, ele expandiu
para as crianças.
— Eu ajudei a vovó escolher elas, e as outras também, você verá.
Ele segura a respiração.
— Haverá mais? — Pergunta contido tentando manter a linha.
— Mas é claro! Você e a senhora Ângela são da família temos um
nome a zelar. A vovó disse.
Sorri da seriedade das palavras dela.
— Ah, sim. Claro eu entendo… — Responde tentando parecer sério.
— Você já falou, posso falar também? — Gael pergunta com voz
calma.
— Pode sim. — Gaia responde, ele até pode ouvir seu sorriso. — Eu
vou contar para a vovó que ele gostou do presente. — Ela diz com a voz
distante. — Tchau Raphael!
— Tchau, Gaia!
— Raphael? — Gael chama com voz séria.
— Oi Gael! — Raphael responde da mesma maneira.
— Mamãe mencionou que você usa, em seu estabelecimento, um
software e que sua mãe tem dificuldade de usar. Eu desenvolvi um mais
avançado, que abrange mais funções e tem um layout mais simples. Acho que
ela poderá se adaptar melhor com ele. Se for interessante para você podemos
testá-lo.
A preocupação com Ângela e o sistema o pega desprevenido.
— Eu adoraria. — Engole seco a emoção.
— Certo, disponibilizarei o software na nuvem e mandarei as
instruções para você acessá-lo. Qual seria o melhor momento para iniciar o
teste?
— Podemos fazer às treze horas. Tudo bem para você?
— Sim. — Foi sucinto. — Vou devolver para mamãe, até as treze
horas.
— Obrigado Gael, até.
— Não por isso. — Responde como sua mãe.
— Ângela mandou para você e para sua irmã. Leve para vovó, para
que vocês possam abrir. — Ouve Leo falar e passos de corrida se distanciando.
— Raphael?
— Eles são incríveis, Gaia é tão espirituosa e Gael é atencioso e tão
sério. — Fala emocionado.
— Eles são. — Fala orgulhosa.
— Amo você anjo!
— Eu te amo mais. Beijos, falo com você em breve.
Trinta minutos depois recebe as instruções detalhadas que Gael
enviou por e-mail e segue à risca o que ele passou, o que foi bom, pois isso o fez
pensar em outras coisas além das informações de um certo pen drive escondido
no fundo de uma gaveta.
— O que está fazendo? — Ângela pergunta entrando no bar.
— Gael desenvolveu um software para o Bar para te ajudar com
fechamento das mesas e do caixa. — Conta orgulhoso sorrindo como o gato que
comeu o canário.
— Que adorável! Mal posso esperar para conhecê-los.
— Eu também, mãe, eu também!
Anjo
Está vivo?
12:43 pm
Raphael
Sim. Seu irmão salvou Luka de
uma briga e acho que minha mãe o
adorou.
12:43 pm
Anjo
E você como está?
12:44 pm
Raphael
Primeiro fiquei cético…
ELES TÊM A MINHA IDADE!!
12:44 pm
Anjo
São apenas números, já tivemos essa conversa…
12:44 pm
Raphael
Ter avisado seria bom.
12:45 pm
Anjo
Rss…
12:45 pm
Raphael
Enfim, depois tive medo de não
passar no interrogatório de seu pai agora
acho que ele está começando a gostar de
mim.
12:46 pm
Anjo
Isso é bom?
12:46 pm
Raphael
Com certeza! Seu pai e eu
vamos pescar amanhã em alto-mar.
12:47 pm
Anjo
Você não tem ideia no que está se metendo…
12:47 pm
Raphael
O quê?
12:47 pm
Anjo
Ele te convidar para pescar quer dizer que ele te
aprova. Se prepare, pois agora você faz parte do
clube e vou te falar, ele vai sugar sua energia.
12:48 pm
Raphael
Meus Deus…
12:48 pm
Anjo
Carregar imagem…
07:21 pm
Raphael
Você está linda!
Alguma comemoração especial?
07:21 pm
Anjo
Encontro com Tony, vamos jantar e dançar.
Você conversou com a sua mãe sobre a
construtora?
07:22 pm
Raphael
Não.
07:22 pm
Anjo
Por quê?
07:22 pm
Raphael
Recebi os documentos da
advogada e estava estudando-os.
Seus pais vieram e não quis
estragar o dia dela.
07:23 pm
Anjo
Entendo…
07:23 pm
Raphael
Bom encontro.
Me chama quando chegar.
07:24 pm
Raphael
Te amo!
07:25 pm
Anjo
Te amo mais!
07:25 pm
Raphael
Estou indo a construtora.
08:05 am
Anjo
Vá lá e tome o que é seu!
Lembre-se, você não está sozinho, a família lhe
dará apoio.
08:05 am
Raphael
Nove dias sem você parece um
ano…
Seu cheiro já saiu do
travesseiro…
08:07 am
Anjo
Sinto sua falta também.
Irei em breve, só preciso resolver algumas
coisas da mudança.
08:07 am
Raphael
Você está trabalhando demais.
Ontem se eu não ligasse para Tony te
buscar, você teria dormido no sofá do
escritório.
08:07 am
Anjo
Eu não estava dormindo, estava criando uma
estratégia de ataque.
08:08 am
Raphael
Para mim, parecia que estava
dormindo.
Vem para casa e descansa um
pouco.
08:08 am
Anjo
Irei, me dê alguns dias…
08:08 am
Raphael
Dias? Não, esqueceu que o
diretor da sua fundação chegará na ilha
depois de amanhã? Você tem que estar
aqui para recebê-lo.
08:09 am
Anjo
Já conversei com a sua mãe, ela cuidará dele.
Estou a ponto de encontrar uma peça importante
e quando terminar, esse sindicalista será alvo
fácil.
08:10 am
Raphael
Anjo…
ALVO?
ESTRATÉGIA DE ATAQUE?
O que você está realmente
fazendo?
08:11 am
Anjo
Modo de falar.
Eu estou juntando informações sobre ele.
Tenho que conhecer para poder saber como
lidar…
08:11 am
Raphael
Só venha para casa e poderá
explicar melhor sobre como você está
obtendo informações.
08:12 am
Anjo
Eu te amo!
08:12 am
Raphael
Eu te amo mais!
08:13 am
Seria mais fácil se ele entendesse, de uma vez por todas, Zhizn e eu
somos um!
Antony para no estacionamento do Bar.
— Quer um tempo com a sua mãe para contar como foi, ou posso
entrar com você? — Tenta ser amigável para não forçar muito Raphael.
— Não, tudo bem. Pode vir. — Descem do carro e seguem pela
entrada externa do loft de Ângela atrás do Bar.
Tony admira a praia de areia branca e a água azul clara do mar, os
coqueiros criam sombras pela orla e a brisa que vem do oceano deixa tudo mais
confortável.
— Estando aqui é fácil entender o porquê a Zhizn gosta tanto desta
ilha, é muito bonita. Ganha de qualquer lugar que já fomos.
— Antes dela eu nunca verdadeiramente encontrei beleza aqui, era
só mais um lugar qualquer.
— Entendo. — Ele entende muito mais do que Raphael pode
imaginar.
As portas francesas estão abertas com as cortinas tremeluzindo com
o vento libertando o aroma da comida, dando-lhes as boas-vindas.
— Mamãe? — Raphael entra primeiro enquanto Tony o acompanha.
O ambiente muito bem decorado com azul-claro e branco, a área do
quarto aconchegante como se fosse uma suíte de hotel cinco estrelas. As fotos na
parede se destacam, várias delas são com os pais de Raphael em lugares
diferentes e em idades diferentes.
— Onde você foi? E por que não atendeu minhas ligações? Você
pode ter trinta e seis anos, mas seria bom ao menos me avisar quando for sair. A
cada dia é noticiado atentados e mais atentados próximos de nós e se por acaso
você estiver em algum desses lugares, eu não tenho como saber! Isso não se faz
com sua mãe. Não tenho problemas do coração, mas não quer dizer eu não possa
desenvolver um. — Ângela discursa enquanto termina de lavar a louça na pia de
costas para eles.
Tanto Raphael quanto Tony seguram o riso.
— Mamãe desculpe, mas coisas aconteceram e tive que ir resolver as
pressas. Temos visitas. — Ângela se vira, secando a mão em um pano de prato.
Seus olhos azuis, como o de Raphael, fita Tony.
— Tony?
— O próprio!
Ela sorri e Tony se vê sorrindo abertamente.
— É ainda mais bonito pessoalmente! Gael tem muito de você.
— Obrigado. — Responde orgulhoso.
Sua estatura a faz ter que inclinar levemente a cabeça para trás para
olhar em seus olhos.
— O almoço está quase pronto. Você irá nos acompanhar?
— Seria uma honra, Naveen não parou de falar em como a senhora
cozinha bem e as crianças não pararam de falar que a vovó Ângela é legal e que
conta várias histórias divertidas.
Ela abre um sorriso largo e brilhante.
— As crianças são adoráveis. Não imagina a surpresa, quando eles
ligaram para conversar e falei que contava histórias para Raphael quando
pequeno, foi como abrir um velho baú, achei que elas ficariam entediadas, mas
eles retornaram no dia seguinte e nos outros, agora temos uma rotina toda
tarde…
— Mamãe, temos algo importante para dizer.
Ela olha do filho para Tony e volta.
— Leo está bem?
Essa família de fato ama minha Zhizn!
— Ela está ótima atolada com trabalho, mas ótima. — Tony
assegura.
Raphael a leva pela mão até o sofá e Tony permanece na poltrona de
frente para eles.
— Parte da construtora, que foi à venda, foi comprada por Tony. —
Os olhos de Ângela mira-o arregalados, mas seu sorriso não denota surpresa.
Como Zhizn disse, ela é muito perspicaz. — Lá ele descobriu tudo que havia
ocorrido, com a ajuda da advogada dele foi redigido um acordo parecido com o
qual a senhora assinou há anos. — As mãos dela apertam as de Raphael com
carinho e seus olhos lacrimejam. — A construtora voltou a ser nossa!
Por alguns segundos Tony olha diretamente para Raphael intrigado
com a falta de informação e até mesmo a imprecisão da sua história, ele devolve
o olhar e sinaliza brevemente que não. Tony dá de ombros discretamente, volta a
atenção para Ângela que olha fixamente para um dos retratos na parede.
— Ele não tem como voltar? — Ângela pergunta com a voz baixa.
— Não. — Raphael confirma.
— Ele irá para cadeia? — Seu olhar foca em Raphael com
expectativa.
— Sinto muito, mãe. — Seu lábio entorta insatisfeito. Tony tem
vontade de matar Álvaro com as próprias mãos por ela. — Para ele pagar na
justiça por seus crimes, a construtora levaria um baque do qual não poderia mais
se levantar. Fiz o que achei melhor para o legado do papai. — Conforta,
abraçando-a.
Ela suspira pesadamente.
— Dos males o menor. Ao menos a construtora voltou para família.
— olha para Tony. — Quando digo família, vocês estão incluídos. Pode ser um
tanto quanto precipitado, mas não imagino meus dias futuros sem vocês e as
crianças neles. — Ela sorri afetuosamente.
Suas palavras são como bálsamo para qualquer preocupação de Tony
quanto a adaptação de Raphael ao estilo de vida da família. Mesmo Leo
escondendo a real natureza do que fazem, não permitindo que ele atravesse esta
linha.
Durante o almoço, a conversa segue para todos caminhos, ora as
crianças, ora Leo. Um dado momento, Ângela pergunta por que ele a chama de
Zhizn e depois que ele explica, ela fez perguntas sobre a sua família e a Rússia.
Como Leo havia-o alertado, Ângela é responsável pelo interrogatório e Raphael
se beneficia do ato como espectador de jogo de tênis. A cada pergunta sobre a
Rússia, ele presta muito mais atenção. Tony já estava preparado e fez seu melhor
papel de órfão adolescente problemático, tanto mãe e filho compram o que ele
vende.
Se me sinto mal? Um pouco. Se me arrependo? Não.
Terminam a refeição e Tony ajuda Ângela a limpar tudo.
— Não precisa.
— Ah, mas a regra é clara: se a senhor… — Ela levanta a
sobrancelha, — você faz a comida, a limpeza é minha responsabilidade. — Ele
sorri amigavelmente para ela que lhe sorri de volta.
— Vocês não são nadas que eu já tenha visto.
— Isso é verdade! Talvez seja o que faz de nós especiais. — Coloca
o pano de prato na pia.
— Leve ele para conhecer o Bar e sua casa, Raphael.
Raphael olha por cima do celular e assente, se levanta e pela sua
cara, Tony sabe que ele falava com Leo por mensagem.
— Sim, vamos.
Quando estão longe o suficiente para não serem ouvidos, Tony
questiona.
— Porque não contou a verdade para ela sobre o dossiê?
— Achei que Leo havia cometido um crime ao ter todas essas
provas. E posso dizer que se protelei tanto para responder a Alina é porquê não
queria colocá-la em perigo. Depois que descobri que foi você quem comprou a
empresa, apenas juntei dois mais dois e deduzi que foi você também que deu a
ela as informações. O que não deixa de ser um crime, eu quis poupar a ambos.
Quanto menos pessoas souber da verdade melhor.
Tony absorve suas palavras.
Se Raphael ao menos soubesse a infinidade dentro de seus
cálculos… Mas ele os protegeu, ou ao menos acha que fez. O que não é ruim.
— Aqui é a cozinha do Bar. Você ficará na ilha essa noite?
— Já está ansioso para se livrar de mim?
— Não, é que o Luka faz o melhor hambúrguer da região e você tem
que experimentar.
— Então é um convite para jantar? — Continua descontraído. — Um
encontro?
— Você também… Eh humm… ‘varia o cardápio’?
— Não! Eu não vario meu cardápio. — Tony pode ver a centelha de
esperança de Raphael se apagar. — Zhizn, por outro lado… — Então Raphael
fecha a cara, fazendo-o gargalhar com sua reação.
— Nem me fale! Na adolescência eu fantasiava com uma mulher
experiente e liberta a novas experiências, mas quando ela contou e mostrou o
que pode fazer, eu… — ele levanta as mãos exacerbado, — fiquei apavorado. Eu
fiz coisas, mas ela… caramba! Ela fez muito mais. — Ele parece aliviado por
dizer essas palavras.
— Queria dizer que te entendo, mas estamos no mesmo barco, ainda
lembro da vez que ela perguntou sobre ménage. Porra, eu a incentivei a fazer o
maldito curso de culinária e ela me vem com uma dessa. Não foi fácil, ela me
ultrapassou em muito. Quando achei que ela estava grávida e feliz, ela se
encontrava com garotos de programas, um deles foi até responsável pelo parto
das crianças. — Sentam-se no Bar, Raphael oferece cerveja.
— Você não sabia que ela se encontrava com eles?
— Não, ela sabia que minha reação não seria muito boa, era muito
recente o que tínhamos e ela estava grávida. É claro que eu não queria o pênis de
outro homem cutucando meus filhos. — Fala enquanto bebe.
— Eu também não reagiria bem. — Concorda. — E o Otávio?
— Queria matá-lo com minhas mãos, foi quando a zona proibida foi
instaurada e ela o colocou nela. — Suspira. — Ela só queria legumes e frutas
orgânicas. Até hoje não sei como isso aconteceu, ela saiu para ir a uma feira
orgânica e esse homem apareceu, ela ainda amamentava as crianças. — Balança
a cabeça em negação repelindo as imagens. — Então pensei: Porra, ela precisa
de segurança e motorista. Por vezes eu tinha que ir buscá-la ou o guincho dava
carona para ela. Eu estava a ponto de desenvolver uma úlcera.
Raphael parecia entendê-lo.
— Assim Miguel aconteceu?
— Era para ser uma reunião de despedida do curso, estava tão
agradecido por essa merda acabar, então ela some do radar, Heitor aparece
enfurecido em casa procurando-a, eu estava cuidando das crianças. Até hoje não
acredito no que ela fez por um desconhecido, me pergunto como no mundo
dentre tantas pessoas foi Miguel que chamou sua atenção na única noite em que
ela escolhe beber além da conta. — Tony continua bebendo, as comportas estão
abertas, ele não sabia que precisava aliviar o entulho até começar a falar. —
Naveen e eu encontramos ela na casa dele e os trouxemos para casa. No fim, ela
conseguiu encontrar a pessoa perfeita para o trabalho. Quando não estou com
ela, ele é meus olhos e ouvidos, a protege como se fosse a própria vida e faz o
mesmo pelas crianças.
— Mas ainda existem os outros, isso me intimida. Esses homens
parecem ainda amá-la, não posso culpá-los, pois ela é adorável, linda, sexy,
inteligente e tem esse mistério no olhar e estranhamente me escolheu, não saber
o motivo do porquê me incomoda. Eu pesquisei esses parceiros e eles são
estrelas em suas áreas, a ficha simplesmente não cai. Cada vez que acordo e a
vejo pelo celular, agradeço a qualquer deus por me conceder mais um dia com
ela, e imploro que me impeçam de fazer alguma merda que possa perdê-la de
vez.
— Eu também não sei o motivo, mas agradeço por você aparecer e
agradeço mais ainda se fizer de tudo para ficar. Ela não é uma pessoa fácil, a
teimosia dela ultrapassa qualquer limite. Contudo com você ela é paciente e
temerosa como ela nunca foi com ninguém. Leve isso a seu favor e não faça
merda, pois o seu anjo nem sempre é bonzinho.
— Você me disse isso, mas não entendo o que quer dizer?
— Pense assim, ela tem dois pesos e duas medidas, seus opostos são
extremos, não a subestime por sua aparência, pois pode parecer uma linda gata
por fora, mas ela traz uma leoa feroz por dentro e quando acuada ela ataca
usando todos seus dentes e garras. Nem as pedras permanecem no mesmo lugar.
— Tony vê nos olhos de Raphael milhares de outras perguntas que deseja fazer,
mas sabe que ele não responderá.
— Que eu nunca desperte a sua leoa! — Levanta sua garrafa em um
brinde e Tony bate de volta.
— Ela esconde os óculos quando você a chama por vídeo. A primeira
vez que notei que ela faz isso, fiquei apenas olhando, quando questionei, ela
disse que tem vergonha.
— Ela usa óculos? Por que esconderia?
— Ela tem medo que a ache feia. No geral, os óculos é para trabalhar
e ler, mas quando você a chama já a vi arremessá-lo longe.
— O que mais?
— A maioria das camisolas dela, desde que te conheceu são azuis.
Quando notei a mudança, ela disse que lembra você. Ela toca a música do Nando
Reis ao menos uma vez ao dia e cantarola enquanto trabalha, alternando entre a
minha e a sua, ela nem percebe que faz isso. No dia em que você tentou impor
limites, ela me ligou injuriada com suas condições e quando eu achei que elas
eram boas, ela ficou ainda mais ofendida. Eram boas ideias, a regra das roupas
foi a que mais gostei, mas não repita ou ela passará a se vestir com muito menos,
então teremos um problema. Ela nunca chora e se faz, você deve se preocupar,
pois só acontece quando ela tem medo, muito medo. Quando ela toca piano é
como se ela viajasse para outra dimensão, nada é mais lindo do que vê-la tocar e
nada é mais perfeito do que escutar sua voz. — Tony repassa o que disse para
ver se esqueceu algo e percebe que falou tudo que poderia compartilhar com ele.
— O resto, terá que achar você mesmo. — Termina a bebida.
— Você a ama de verdade. Eu ouvi você todas as vezes, mas como
disse, teoria e prática são coisas diferentes, agora eu vejo na prática e tanto
quanto me perturba também me acalma. Eu tenho problemas de confiança, é
difícil para mim simplesmente aceitar a bondade alheia, pior ainda é aceitar
dividir a mulher, mas fico feliz em saber que você a ama tanto quanto eu. Assim
ela nunca sofrerá e isso é mais do que suficiente para aceitar compartilhá-la.
— Bem-vindo a família! — Tony o felicita.
— Obrigado por deixar fazer parte dela, eu não sabia que queria uma
até Leo aparecer. E seus filhos, eu os adoro. Não vejo a hora de conhecê-los
pessoalmente.
Tony achava que seria mais difícil lidar com Raphael, mas passou
uma hora inteira conversando sobre sua Zhizn e tudo que a envolve. Tudo está
saindo como esperado, é bom ter com quem falar sobre Leo.
Raphael mostra a casa dele e Tony percebe que, diferente da casa de
Ângela que parece uma grande suíte de hotel de luxo, a dele é como a casa de
uma dessas pessoas desapegadas. Os móveis são simples. Mas à vista para praia
e o oceano é de tirar o folego. Conversam mais um pouco e depois vai para hotel
fazer check in.
Leo
Você falou dos óculos!
Ele me obrigou a usar para falar com ele e falou
que fico ainda mais linda, obrigado.
Beijos…
02:45 pm
Tony
Você é linda de qualquer jeito.
02:45 pm
Te amo!
Já estou com saudades!
02:46 pm
Leo
Te amo mais e também sinto a sua falta.
02:46 pm
Alina
Tudo certo, os documentos foram protocolados.
A varredura de contratos e clientes inicia
amanhã.
02:55 pm
Tony
Ótimo.
02:55 pm
Alina
Sobre o projeto do convento, como proceder?
02:56 pm
Tony
Dê a Raphael o que ele pediu,
não tem como chegar a nós pelo nome do
comprador e de qualquer jeito, o arquiteto
da Paris que lidará com ele. Falarei com
ela para que o arquiteto não dê detalhes
dos moradores.
02:56 pm
Alina
É seguro?
02:57 pm
Tony
Até acabar a limpeza da área, é
melhor manter ele no escuro…
Sim, é seguro.
02:57 pm
Alina
Prosseguirei com os arranjos para a nova
administração.
Faremos da construtora nosso QG de
investimentos?
02:58 pm
Tony
Sim. Heitor e Zhizn estão
fazendo os ajustes de segurança para
nossas máquinas e em toda a rede da
empresa, será seguro trabalhar da
construtora.
02:59 pm
Tony
Preciso que fale com o
arquiteto da reforma do convento, para
que ele não dê detalhes da família ao
Raphael.
02:59 pm
Mãe
Ele pegou o projeto?
02:59 pm
Tony
No momento em que assinei o
documento.
Não perdeu tempo.
03:00 pm
Mãe
Ele ficará bravo quando perceber o que fizemos.
03:00 pm
Tony
É por uma boa razão. Raphael é
boa pessoa e tenho certeza que adorará
saber que a Zhizn estará há minutos dele.
03:01 pm
Mãe
Assim espero.
Seu pai pousará para te pegar amanhã às
10:00hs, não se atrase.
03:01 pm
Tony
Não há necessidade ele ir
comigo.
03:02 pm
Mãe
Sabemos, mas ele verificará mais sobre o
problema em nossa nova cidade.
03:02 pm
Tony
Zhizn conseguiu mais alguma
coisa?
03:02 pm
Mãe
Remessas de pagamentos. Achamos um
conhecido na lista e seu pai irá encontrá-lo para
descobrir quem é o fornecedor dele.
03:03 pm
Tony
Entendi.
03:03 pm
Mãe
Te amo!
03:03 pm
Tony
Te amo mais!
03:04 pm
Tony
Estou no bangalô 9.
03:08 pm
Gohan
A caminho.
03:08 pm
Alina
Já jantou? Gohan fez uma infinidade de temaki,
sou incapaz de comer tudo sozinha.
10:15 pm
Tony
Comi no Bar, estou cheio.
Obrigado.
10:15 pm
Alina
Os prospectos para as reuniões de amanhã estão
no seu e-mail.
10:15 pm
Tony
Já os li, obrigado.
10:16 pm
Alina
Boa noite!
10:16 pm
Tony
Boa noite!
10:16 pm
Leo
Se alimentou direito?
10:16 pm
Tony
Sim. Ângela me serviu um
menu degustação. Não sabia o quanto de
coisas poderia ser feita com peixes e
frutos do mar.
10:17 pm
Leo
Ligarei quando chegar no hotel, tenho muito o
que falar.
Te amo!
10:17 pm
Tony
Te amo mais!
10:18 pm
— Lyubov!
— Zhizn, está tarde, você deveria ir dormir. — Ela bufa em protesto.
— Irei, mas antes tenho que te contar o que descobri e como
lidaremos com a limpeza da cidade.
— Entregue o relatório.
— Descobri ligações dos traficantes menores com o nosso
sindicalista misterioso. Ele é o distribuidor, ele compra de fora e faz a passagem
dos produtos para todo o país. Heitor irá se encontrar com um dos fornecedores
dele. Já previmos todos os cenários possíveis, e suspeitamos que ele pedirá um
serviço como pagamento pela informação, já que está tendo problemas com a
concorrência.
— Parece lógico. O que mais?
— Paris e eu achamos melhor parar o ataque em conjunto com a
polícia e devemos seguir por algo mais conciso. Exterminaremos os traficantes,
cada um deles passando uma mensagem clara de que não estamos de
brincadeira. Destruiremos todos os centros de distribuições. Paris está
fabricando pequenas bombas, imperceptíveis, para liberar nos laboratórios que
encontrei e os esconderijos. Com isso, o grande rato sai da toca e damos a ele
as boas-vindas.
— De onde estou posso imaginar seus olhos brilhando com
excitação.
— Não posso negar, esse cara é muito bom, mas nós somos melhores
e iremos levá-lo. Ele não saberá o que o atingiu.
— Estou de acordo com tudo. Espero que isso seja o suficiente para
que você tenha uma boa noite de sono.
— Terei, lyubov. — Ela responde em meio a um bocejo.
— Te amo mais hoje do que te amei ontem!
— Eu te amo muito mais do que ontem e menos do que amanhã. Boa
noite moy lyubov!
— Boa noite, Zhizn!
Pelas câmeras de segurança ele assiste as crianças em seus quartos,
Gaia está dormindo com um mangá em suas mãos e a luz acesa. Gael está
acordado mexendo no computador.
— Papai? — Ele atende ao primeiro toque.
— E aí garotão! Sua irmã dormiu com a luz acesa de novo.
Assiste Gael sair do quarto, segundos depois entrar no quarto de
Gaia. Ele tira o mangá e o coloca no criado-mudo ao lado da cama, cobre os pés
dela e antes de sair apaga a luz.
— Pronto papai! — Fala animado. — Mamãe, você já vai dormir? —
Eles se encontram no corredor.
— Já mini elfo. Precisa de alguma coisa? Quer um chocolate quente
ou alguns biscoitos antes de dormir? É o papai no telefone?
— É sim, Gaia dormiu enquanto lia. — Ele responde. — Já escovei
os dentes e estou sem fome.
— Certo. — Escuta sons de beijos. — Mamãe te ama. Boa noite!
— Eu te amo mais. Boa noite, mamãe!
Assiste Gael entrar no quarto e também Leo entrar no quarto da Gaia
para dar um beijo de boa noite nela.
— Papai, podíamos colocar lâmpadas inteligentes na casa nova,
assim podemos ligá-las e desligá-las pelo celular? — Ele senta novamente ao
computador.
— Isso parece uma ótima ideia. O que você está fazendo?
— Investi parte do que Gaia e eu recebemos de mesada em
criptomoedas e tivemos rendimentos significativos. — Fala orgulhoso.
— Em quanto está suas contas de investimentos?
— Com o retorno que tive hoje com as moedas, chegamos na casa do
meio milhão cada.
— Desse jeito vou me aposentar mais cedo, suas mãos são mais que
capazes de cuidar das finanças da família. — Brinca.
— Não papai, é chato ter que ir a reuniões de bancos e investidores.
— É mesmo! Vou deixar você ter uma boa vida, por enquanto… —
Gael suspira aliviado. — Certo, não demore muito para ir dormir. Papai te ama!
— Não demorarei. Te amo mais. Boa noite!
— Boa noite, filho! — Encerra a ligação.
Ele assiste sua Zhizn entrar no quarto e se preparar para dormir,
enquanto ele também o faz e quando se deita na cama dá uma última olhada
nela.
A maresia é como a falta que sente dela, está em tudo. Um dia inteiro
e Leo continua o evitando, pela centésima vez ele liga para ela.
Vamos atende, atende, atende.
A ligação é recusada.
Alina
O arquiteto responsável pelo projeto do
convento estará na ilha a partir das 10:00hs.
08:04 am
Raphael
Irei encontrá-lo, obrigado.
08:04 am
Raphael
Ela está bem?
08:10 am
Tony
Sim.
08:10 am
Raphael
Você já voltou para casa?
08:10 am
Tony
Não, tive um contratempo, ficarei fora por mais
um dia.
08:11 am
Raphael
Certo, obrigado!
08:11 am
Raphael
Anjo?
08:25 am
Eu te amo!
08:53 am
O quê?
Você não vai responder, Anjo!
09:13 am
O arquiteto anda pelo terreno tão alheio e pensativo que nem o ouve
se aproximar.
Raphael observa por pouco tempo o senhor moreno de cabelos
grisalhos e encaracolados.
— Noah?
Ele para e o olha com curiosidade, ajeita os óculos que estão um
pouco baixo no nariz.
— Este sou eu! Em que posso ajudar?
— Sou Raphael, desculpe pelo atraso. — Oferece a mão e ele aperta
com leveza.
— Alina me informou de sua presença. Venha, tenho muito que
mostrar, esse lugar é simplesmente lindo e temos muito pouco tempo para
finalizar. — Ele começa a caminhar para o prédio principal. O lugar antes
isolado, agora é um canteiro de obra de um grande empreendimento, vários
empreiteiros estão liberando as janelas e as portas.
— Os proprietários desejam fazer o que com esse lugar?
— Restaurar é o principal motivo, modernizar o sistema elétrico e
hidráulico, paisagismo na área externa e decoração na interna.
— Restaurar?
— Sim, essa maravilha será restaurada. Tudo externamente ficará
novo em folha e boa parte da área interna também. As alterações que faremos
será para deixar o lugar funcional, com mais aspecto de casa do que convento.
— Passam pela porta principal, a luz que adentra o lugar mostra sua real beleza.
— Então a ideia não é destruir? — Pergunta descrente.
— De forma alguma, a ideia é unir o moderno com clássico. — Ele
responde observando algumas pessoas trabalhando.
Miguel
A senhora Eleonora chegará as 09:00hs.
01:27 pm
Raphael
Esperarei por ela.
Ela terá outros seguranças
protegendo-a?
01:28 pm
Miguel
Uma equipe à paisana fará a segurança.
Você pode não os ver, mas eles estarão atentos.
01:28 pm
Raphael
Obrigado e boa viagem!
01:29 pm
Raphael
Por que eu tenho os telefones
dos seus amigos?
01:33 pm
Anjo
Para que você possa falar com eles sempre que
quiser.
Eu nunca escondi nada de você.
01:33 pm
Raphael
Não precisava.
01:33 pm
Anjo
Ignore, mas saiba eles são ótimas pessoas e é
sempre bom ter amigos.
01:34 pm
Raphael
Você é minha amiga e para mim
já basta.
01:34 pm
Anjo
Não seja difícil! Eles adorariam conhecer você.
01:34 pm
Te amo!
01:35 pm
Raphael
Te amo mais!
01:36 pm
Raphael acorda sozinho na cama, o lugar ao seu lado está frio, volta
a cabeça para o travesseiro. Foi um sonho. Pega o celular, imaginando ser a hora
do treino na academia, a porta do deck abre e Leo entra com o cabelo preso em
um coque frouxo vestindo roupa de yôga. Ela sorri para ele.
— Bom dia, meu único!
Senta a seu lado, ele continua olhando para ela estupefato, achou que
havia sonhado que ela estava em casa e que passaram um dia inteiro juntos.
— Bom dia, Anjo! — Ela abaixa dando um beijo casto. — Faz
tempo que acordou?
— Faz um tempo sim. — Se levanta indo para cozinha. — Levanta
amor, está na hora do seu treino. — Vê-la pegar frutas e folhas verdes da
geladeira é revigorante. Com destreza ela corta tudo e os coloca no liquidificador
junto com água, depois de batido ela serve dois copos e entrega um para ele.
Raphael bebe como ela faz e se surpreende que a bebida verde pode ter aspecto
feio, mas é boa como não pensou ser possível.
— Você virá para academia comigo? — Ela confirma com a cabeça.
Depois do café da manhã, seguem para academia. A primeira hora
foi treino pesado de crossfit enquanto ela corria na esteira, alheia aos olhares que
recebia, os fones em seus ouvidos deviam ajudar um pouco com isso. A segunda
hora ele treina com Gohan, Raphael sente que está melhor em suas técnicas de
ataque, bateu mais do que apanhou, o que foi uma grande vitória, Leo fez
musculação e novamente o surpreendeu com o quanto ela pode aguentar. Exceto
o personal que tentou puxar assunto, ela não falou com ninguém e cada vez que
seus olhares se encontravam, ela sorria para ele.
Quando voltam ele a teve no banho, renovando suas energias em vez
de esgotá-las, Leo fez seu show e se vestiu para ele e o ajudou a se arrumar para
seu primeiro dia de trabalho. Animado com tudo que estava acontecendo,
Raphael pediu para ela trançar seu cabelo.
— Lindo! — Ela sorri orgulhosa. Raphael se olha no espelho, as
laterais têm uma trança fina e uma grossa no meio, o resto do cabelo ela prendeu
em um coque.
— Sua mão é tão leve que nem senti as tranças sendo feitas. — Ela
senta com as pernas abertas no colo dele e seus braços assentam no ombro.
— Posso desarmar uma bomba com elas. — Afirma séria e seus
olhos avaliavam os dele.
Raphael beija a ponta do nariz dela.
— Se um dia você se deparar com uma, você corre. — Sorri.
Minha gatinha e bomba. Nunca!
Ela suspira depois o beija.
— Está na hora, senhor engenheiro gostoso. — Levanta com ela
ainda no colo.
— Volto para o almoço. — Avisa já sentindo saudade dela, beija-a
novamente quando chega na porta. A contragosto a coloca no chão. — Te amo!
— Eu te amo mais! — Beija sua testa antes de sair pela porta.
Quando chega na rua ela acena do deck e lhe manda um beijo, ele recebe o gesto
com sorriso.
“Ela é perfeita.”
A casa está silenciosa quando Raphael entra, sua mãe disse que Leo
havia acabado de subir. No balcão uma boleira bonita de vidro e porcelana
descansa com a metade de um bolo de chocolate incrivelmente apetitoso, ouve o
chuveiro ligar e não tem vestígio de mais ninguém pela casa, confirmando que
Tony não está.
Bate uma vez na porta.
— Anjo?
— Oi?
Não espera por convite para entrar.
Raphael
A cidade está um caos, tenha
cuidado.
04:11 pm
Anjo
Terei.
Te amo!
04:12 pm
Raphael
Te amo mais!
04:12 pm
Anjo
Desculpe…
Não chegarei há tempo, teremos que visitar um
novo cliente fora da cidade.
06 : 07 pm
Raphael
Você não costuma ter tantas
reuniões assim, aconteceu alguma coisa?
06:07 pm
Anjo
A mudança para a área que mudou minha rotina,
parece que atraímos muita atenção no processo
de limpeza. Aparentemente, tem muito mais
sujeira que imaginamos, estou bem.
Prometo resolver tudo o mais rápido possível.
06:08 pm
Raphael
Posso saber onde será sua
reunião?
06:09 pm
Anjo
Estarei em Assis.
06:09 pm
Raphael
Fica a uma hora.
06:10 pm
Anjo
Vamos de helicóptero.
06:10 pm
Raphael
Ok, se cuida.
06:10 pm
Anjo
Te amo!
06:10 pm
Raphael
Te amo mais!
06:11 pm
É pouco mais da meia-noite, seu coração dispara, ele sabe que Leo
está chegando, a porta abre e ela entra distraída com o celular.
— Anjo, você poderia ter me ligado durante a noite, eu fiquei
preocupado. — Ela ainda olha o celular o ignorando-o. — Anjo? Oi terra
chamando.
— Ah! — Ela grita de susto. — Raphael, desculpe! — Ela sorri
envergonhada.
— Anjo, eu falei com você.
— O quê? Eu não estou ouvindo direito, a viagem de helicóptero
tampou meus ouvidos. — Coloca a bolsa na poltrona, segue em sua direção,
dando-lhe um beijo apaixonado. — Será que o Luka fechou a cozinha? —
Raphael acena que não. — Você se importaria de descer e pedir para ele fazer
lanche de salmão e uma salada? Estou com fome! — Ele confirma e a beija no
pescoço quando sente um cheiro diferente, parecido com queimado, ela se
levanta. — Vou tomar um banho rápido enquanto você desce. — Começa a tirar
a roupa, distraindo-o de qualquer coisa que tinha que fazer ou estava pensando.
Raphael desce e encontra Luka encostado perto do fogão mexendo
no celular.
— Você viu isso? Mais assassinatos e, desta vez, houve até
explosões. É como um filme de ação, só que em vez de ser encenação é
brutalmente verdade. — Ele abaixa o celular. — O que posso fazer por você?
— Leo acabou de chegar e pediu um lanche de salmão e salada, você
poderia preparar?
— O que eu não faria para minha Diva suprema. — Inicia os
preparativos.
— Você teve mais notícias sobre Lázaro e o Wagner? — Especula
apoiando na parede e cruzando os braços.
— Só o que todos comentam, ossos quebrados, ossos curados de mal
jeito e piora cada vez mais. A mãe deles está desolada, ela sabe que os filhos
eram pessoas ruins, mas mãe é mãe e por pior que seja nenhuma deseja um final
desse para os filhos.
— E sobre a cadeia onde eles estavam, falaram alguma coisa sobre
isso, porque é estranho todos esses ferimentos. Essa tortura foi de dias a fio e
não uma única noite.
— Não falaram nada, você sabe como é o sistema prisional desse
país, coisas como essas são enterradas na escuridão. — Luka responde enquanto
finaliza a salada. — E sobre os novos moradores da ilha, alguma novidade?
— Nada, o único que sabe quem é o proprietário é Noah, o arquiteto
responsável, mas ele está sob sigilo e não quis forçar o assunto, eu vejo e leio as
notas fiscais de entrega, recibos e tudo que encontro é o nome da empresa.
Pesquisei na internet e não encontrei nada. — Luka termina o lanche e arruma
tudo em uma bandeja.
A porta que dá para o bar, abre.
— Raphael? — A voz de Alessia o faz encolher só de ouvir. — O
Bar não é o mesmo sem você. — Toca o braço dele. — Sentimos a sua falta,
alguns mais que outros. — Seu dedo indicador faz círculos na pele exposta pela
camiseta. Seu sorriso poderia ser comparado a um gollum diante do anel.
— Nem todos me fazem falta. — Tira a mão dela de seu braço. Luka
acrescenta o suco natural que Leo gosta na badeja.
— A miss simpatia agora é boa demais para ficar no Bar?
— Quando você se refere a miss simpatia: é de mim que está
falando? — Todos se viram ao ouvir a voz gélida de Leo. Seu cabelo está
levemente molhado pendendo por seu ombro, ela veste camisola de seda preta
que marcam as curvas de seu corpo sem dar espaço para imaginação, ela
caminha para Alessia como um tigre.
“Tigre não, como uma leoa cercando sua caça.”
— É melhor você guardar suas mãos para você na próxima a miss
simpatia pode mostrar uma versão que assustará cada célula do seu corpo. — O
ar fica pesado, Alessia engole seco e afasta as mãos de Raphael, Leo aumenta o
sorriso gélido. — Ótimo, fico feliz que podemos estabelecer alguns limites. —
Alessia volta quase correndo para o Bar.
— Você conseguiu ser mais malévola que a Angelina Jolie, quem
sabe assim ela não aprende a se comportar. — Luka fala.
Raphael ainda está atônito pois a mulher que viu agora não era a
dele, essa tem uma frieza no olhar que sua anjo nunca demonstrou. Leo o encara
e sorri, o olhar gélido transmuta para um caloroso e cheio de amor.
Como ela faz isso?
— É, quem sabe? — Ela se aproxima a abraça Luka. — Mas só fui
convincente porque estou esfomeada.
— Pelo jeito a sua audição voltou.
— De um ouvido apenas.
— Vamos para casa. — Raphael pega a bandeja com o lanche e
segue para escada de acesso.
— Obrigado Luka, boa noite! — Ela se despede.
Ao entrar em casa ele escuta a máquina de lavar.
— Anjo, por que está lavando roupa agora?
— Uma mancha, se deixasse mais tempo poderia não sair. — Ela
sorri e senta na banqueta ajeitando a bandeja à sua frente e começa a comer.
— Como foi a reunião?
Ela morde o lanche e enquanto mastiga, meneia a cabeça
ponderando.
— Fácil, eles não imaginavam a nossa capacidade, — sorri. —
Ficaram mortificados.
— Por que todo esse movimento agora? Em Salon parece que você
não participa ativamente dessas reuniões.
Ela bebe um pouco de suco.
— Eu participo as vezes. Meus pais, Tony e Naveen fazem o serviço
externo, mas essa mudança alterou a rotina. O movimento de agora é por conta
desse sindicalista, ele tem sido um verdadeiro obstáculo, quem é da região
assiste esta disputa de território e acha que pode lucrar com isso e ficam como
abelhas atrás de pólen. — Da outra mordida.
— Esse sindicalista é concorrente direto?
— Não exatamente, é como se nós fossemos tubarões e ele uma foca
impertinente brincando de esconder com seu predador.
— E o que isso quer dizer exatamente? — Não entende como essa
analogia se aplica ao ramo de consultoria.
— Quer dizer que caçar ele fará a refeição mais divertida. Minha
vez, como foi seu dia?
— Muito bom! O proprietário aprovou as melhorias que indiquei e já
começamos a fazer muitas delas. Descobri algo parecido com um calabouço na
propriedade, perguntei ao Noah o que faríamos, ele disse que o proprietário
pediu para colocar o acesso independente da casa principal e portas blindadas. O
que você acha que ele fará nesse espaço?
— Ah, pode ser um quarto vermelho da dor.
— Como cinquenta tons de cinza? — Duvida.
— Ou como Hannibal Lecter.
— Quando acho que essas pessoas podem ser boas, coisas estranhas
acontecessem. Tem esse calabouço e eles têm não um, mas três quartos do
pânico na casa principal, como também na casa que descobri ser dos
funcionários.
— Amor, até eu entendo a necessidade de segurança, você está
preocupado demais com essas pessoas quando não deveria estar. Até que você as
conheça, dê a elas o benefício da dúvida. — Abaixa o garfo se levanta da
banqueta e joga as sobras no lixo.
— Você tem razão! Ultimamente é como se a cidade da costa tivesse
se transformado em território de guerra e eles só estão garantindo a segurança.
Esses criminosos… Como alguém pode escolher levar uma vida assim? Essas
pessoas que estão sitiando a cidade são monstros. O pior que deve haver em toda
raça humana! Me preocupa você e as crianças tão perto do perigo. — Ela lava o
copo e o prato. — Por falar nisso, você ainda não disse aonde irá morar. — Ela
parece não ouvir. — Anjo? — Levanta-se indo até ela. O rastro vermelho de
sangue corre para o ralo da pia junto com a água da torneira. — Anjo! — Com
cuidado solta a faca serrilhada que ela pressiona na mão, seus olhos estão
distantes e distraídos.
Foram apenas cortes superficiais e já estavam parando de sangrar, ela
volta em si, olha para mão.
— Oh, merda! — Puxa a mão dele.
— Você está bem? — Ela ainda está distante.
— Sim Raphael, estou bem! — Ela se afasta indo para o banheiro,
deixando-o sem reação plantado na cozinha.
Raphael espera por ela na cama. O relógio marca uma e dez da
manhã, ao menos amanhã é sábado e ela poderá dormir até mais tarde, ela sai do
banheiro e vai para cama evitando olhá-lo. Ele puxa-a para perto sentindo seu
corpo tenso.
— Anjo, não esconda seus olhos de mim.
Tira o cabelo do pescoço dela e inala seu cheiro, a barba passa por
sua pele causando arrepio. O corpo dela reage com o quadril se esfregando no
membro dele, fazendo-o despertar, trilha beijos da mandíbula até a boca e seus
lábios são recebidos pelos dela. Um pequeno gosto deles e anseia por mais, a
boca dele abre dando acesso total a língua que sai para brincar com a dela,
Raphael se encaixa entre suas pernas e o atrito de seu membro no clitóris dela a
faz relaxar. Ele se delicia com seus gemidos, recebe seus toques e as ondas de
eletricidade que causam o faz beijá-la com paixão desmesurada.
A necessidade de oxigênio os obriga se afastar, seus olhos se
encontram ao mesmo tempo que a mão dela direciona o membro rijo e saudoso
para sua entrada encharcada, sua casa.
Devagar, leva centímetro por centímetro na mais deliciosa tortura,
ela fecha os olhos com o prazer elevado.
— Anjo, deixa-me ver seus olhos. — Pede, pois somente assim pode
ver a imensidão de seu amor.
Ela os abre e, com a luz do quarto baixa, o verde está escuro como
um oceano profundo, leva tudo dele segurar o orgasmo enquanto a faz chegar ao
cume da satisfação e quando ela chega, Raphael se entrega para caírem juntos.
Gaia
Comprei vários presentes lindos para você e
para vovó, mandaremos por postagem.
07:16 pm
Raphael
Quero continuar mantendo
contato com vocês e tenho certeza que a
vovó Ângela também.
07:17 pm
Gaia
Mamãe falou que faria isso.
07:17 pm
Raphael
Ela não se incomoda que vocês
mantenham contato comigo?
07:17 pm
Gael
Ela e o papai falaram que ter amigos é
importante.
07:18 pm
Raphael
Eles têm razão.
07:18 pm
Velas: Confere.
Vinho: Confere.
Naveen se olha no espelho pela centésima vez, alisa a roupa e ajeita
o cabelo novamente, seus olhos procuram qualquer desalinho pela suíte e, como
já havia acontecido nas outras vezes, está tudo perfeito.
Hoje é seu grande dia, o dia de seu salto de fé!
O toque suave na porta sinaliza que ele chegou. Contendo sua
alegria, abre a porta para ter seu sorriso esmaecido ao olhar a feição de Luka.
— Desculpe a demora, o Bar hoje estava cheio.
Ressabiado, Naveen lhe dá passagem analisando a postura tensa de
Luka. Se tem uma coisa que seus pais lhe ensinou bem foi avaliar uma pessoa e
claramente algo aconteceu ou acontecerá.
— Sem problema, quer algo para beber?
— Sim, pode ser.
Indo para o frigobar, Naveen percebe que diferente de todos seus
encontros com Luka, hoje ele permanece a uma distância segura. Naveen lhe
entrega o vinho escolhido a perfeição para essa noite e Luka o bebe
imediatamente.
— Qual o problema?
— Assim que começamos a nos envolver, eu lhe contei que não
queria um relacionamento sério pois ainda tenho sentimentos pelo meu ex.
Acontece que ele voltou para ilha e nos encontramos, nada aconteceu, mas a
química que temos nem mesmo a distância foi capaz de romper. Você é um
homem maravilhoso, assim como sua irmã, é perfeito. Mas eu não posso manter
a nossa relação quando ainda tenho sentimentos por outro.
Lá está a palavra ‘PERFEITO’.
Naveen não é e sua irmã muito menos, contudo é exatamente isso
que vendem: Perfeição.
Uma obra de arte admirada da linha de segurança é perfeita, mas se
feito além do limite de segurança é possível notar as ranhuras das pinceladas, as
camadas sobrepostas de cores para corrigir erros e até mesmo a avaria do tempo.
Ele e sua família são isso: Uma obra de arte para ser admirada à distância.
Nunca ninguém será capaz de admirá-los além da linha limite e ver
as ranhuras e avarias que a segurança da beleza esconde.
— Um dia eu quero ter alguém para falar de mim assim como você,
com essa idolatria em seus olhos com o mero pensamento. Desejo a benção dos
Deuses para que a fonte de amor entre vocês não seque. Fui um homem
abençoado por ter você, mesmo que por pouco tempo e espero que possamos ser
amigos.
E aqui, estou eu sendo perfeito.
— Jamais considerei excluir você da minha vida, você e Leo são da
minha família. Mesmo que ela e Raphael não estejam mais juntos, sempre
considerarei vocês.
Luka o abraça pegando Naveen de surpresa, evidente que nunca
houve química entre eles, mesmo assim, Naveen estava disposto em fazer isso
acontecer. O fim da relação deles é selado com um beijo na bochecha macia de
Luka e um adeus sorridente.
RAPHAEL
— Todos confirmaram…
Como todo dia nos últimos cinco anos, Joel acorda, se exercita, se
masturba no fim do banho, come e trabalha. Nada nunca muda, ele ainda é o
mesmo homem alto e magro levemente fortificado, seu cabelo liso é da mesma
cor que seus olhos castanhos claros, sua pele branca sem ver por cinco anos o
Sol, está pálida com aparência doentia. Sempre sozinho, a não ser pelos
comandos que recebe por e-mail de um endereço que nunca conseguiu rastrear.
Sua casa atual é um grande quadrado de quarto, cozinha e um
banheiro sem janela. Somente uma porta que nunca viu aberta.
— Eu quero sair!!!! — Grita como faz todos os dias.
É parte da rotina do que agora é sua vida.
Raphael espera pela mãe para entrar na limusine enviada para buscá-
los, Ângela caminha acompanhada de Adriano, seu vestido branco com punho
tem mínimos pontos de luz bordado com elegância, o cabelo está cortado na
altura do pescoço, os fios estão puramente brancos e não mais grisalhos como
antes.
— Mãe, você está maravilhosa! — Não se lembra da última vez que
a viu vestida para algo tão formal e elegante.
— Obrigado meu filho, você também está maravilhoso de smoking.
Adriano beija-a na testa ternamente.
— Divirta-se! E não se preocupe, Luka e eu daremos conta do Bar.
— Ele a ajuda entrar. — Boa festa Raphael!
— Obrigado!
Adriano fecha a porta e eles seguem, Raphael nota em sua mãe o
colar com rosas esculpidas em diamantes e entre elas, safiras e esmeraldas.
— Bonito o colar, é emprestado?
Só conhecem uma pessoa que teria algo como isso.
— É muito bonito mesmo. — Não menciona mais nada e mina
qualquer outra oportunidade dele saber sobre ela. — Você estudou os convidados
que Alina enviou por e-mail? Leu o discurso? — Fala com tom de censura.
— Sim.
Alina enviou um dossiê dos convidados alvos, de fato, os
empreendimentos são formidáveis e serão construídos em áreas estratégicas em
todo país.
Hoje eu sou um homem com uma meta a cumprir ou pelo menos
tentarei ser.
A movimentação de fotógrafos e paparazzi não era o que esperava na
frente do local reservado para o baile.
— Os bailes de antes não tinham tanta atenção da mídia assim. —
Olha as pessoas e até identifica um fã clube com cartazes. — Era necessário tudo
isso?
— Muitas celebridades foram convidadas, é normal esse tipo de
comoção, um post de algum ídolo confirmando presença já é o suficiente. —
Ângela responde enquanto olha para as pessoas do lado de fora.
— Você viu a lista de convidados?
— Sim e até convidei alguns conhecidos do passado, afinal está festa
é para honrar o legado do seu pai.
— Desculpa, eu estou fazendo meu melhor. — Arfa sentindo-se
culpado.
— Não parece, eu perdi o amor da minha vida para morte e você?
Por qual motivo perdeu o seu? — Atira.
A porta abre e Raphael se prepara para enxurrada de flashes, ajuda a
mãe a descer e juntos dão o melhor sorriso falso.
Pelo menos o dele é.
Os fotógrafos chamam por eles, que pousam para algumas fotos,
Ângela fala com alguns repórteres, enquanto ele permanece em silêncio.
Para entrar no salão do baile é necessário descer uma escadaria
ricamente decorada, o salão está cheio de convidados. Alina se aproxima com
Mateus ao seu lado, mas foi o colar em seu pescoço que chamou a atenção de
Raphael, com turmalinas verdes e paraíbas, safiras e diamantes adornadas como
se fossem penas de pavão.
Só podia ser de Leo, assim como o que sua mãe usa.
— Ângela, você está incrível! — Alina cumprimenta com beijo no
rosto e Mateus faz o mesmo. — Você também Raphael. — E tudo que ele faz é
olhar para o colar.
Não importa para onde olhe, só procura uma única pessoa e o resto
fazia lembrar-se dela.
— Obrigado Alina, você também está incrível. — Se força a sorrir.
— Mateus como tem passado?
— Bem, obrigado. — Apertam a mão um do outro.
Alina toma a dianteira deixando Ângela com Mateus fazendo social
com os convidados e leva Raphael para iniciar a missão. Está conversando com
um cliente em potencial quando seu coração acelera, seus olhos focalizam o
motivo da elevação de batimentos.
No auto da escada está Eleonora, a necessidade de tocá-la quase lhe
deixa de joelhos, imediatamente nota a mudança em seu cabelo que está
castanho claro, ressaltando seus grandes olhos verdes, o vestido violeta é de
longe o mais bonito do baile. Engole seco ao admirar o decote profundo e
elegante, entre seus seios um longo colar de diamantes com uma pedra maior no
centro com formato de lágrima.
Leo está imponente e etérea como uma rainha, Tony segura sua mão
para descerem as escadas, todos olham o casal que se eleva a qualquer um no
recinto, ele a olha com adoração e ela faz o mesmo. Eles são bonitos separados,
mas juntos formam um casal inigualável.
— Quem são? — O cliente pergunta.
— Antony, o segundo sócio da construtora e Eleonora, sua irmã. —
Alina responde, já que Raphael é incapaz de formular qualquer palavra, ou tirar
os olhos de Leo que segue para o outro lado do salão onde Ângela e Mateus
estão.
O cliente fala um pouco mais do seu projeto e Raphael faz um
esforço hercúleo para prestar atenção. Depois de finalmente conseguir escapar
dos clientes, Raphael observa Leo falando animada com sua mãe, sem olhar para
mais ninguém.
Eu só queria um olhar.
Mas é como se ela estivesse bloqueando-o.
— Eu vou ver minha mãe. — Avisa à Alina que lhe sorri com
malícia enquanto toma uma taça de champanhe.
— Eu sei, sua mãe…
Pouco antes de chegar em Ângela, Leo e Tony se afastam, seguindo
para outra direção.
— Como foi a conversa com o cliente? — Ângela pergunta.
— Muito boa entraremos em contato com ele na próxima semana. —
Responde sem olhar para ela, se seus olhos estão programados para seguir uma
só pessoa nesse salão.
— Muito bem! Que tal levar sua mãe para dançar? — Leva-a para a
pista, mas de tempos em tempos, seu olhar se desvia para Leo. — Sabe, não é
educado ignorar sua parceira de dança.
— Você sabia que ela viria?
— Sim. — Responde indiferente.
Por que todos estão escondendo informações sobre a Leo.
Depois de dançar com sua mãe, passa a próxima hora conversando
com os convidados, Tony se junta a ele e Alina divulgando a nova visão da
construtora, Raphael até mesmo rascunha alguns desenhos que um cliente havia
pedido. Mesmo entretendo as outras pessoas, tudo que vê e ouve é ela dançar
com um homem diferente a cada música, o último parceiro parecia muito íntimo
com o braço em sua cintura. Raphael tem certeza de que o vê beijar seu pescoço,
ele não consegue esconder sua insatisfação e o possível cliente estranha a
mudança repentina.
Não importa onde vá ela sempre se mantém na outra extremidade.
Enquanto seus olhos são atraídos para ela, os dela o evitam a todo momento. Na
segunda hora do baile, Leo dança pela terceira vez com o mesmo homem, ele
fala alguma coisa em seu ouvido fazendo-a rir, a mão desce por suas costas
como se estivesse acariciando-a. Quando estavam se aproximando de Mateus,
ele reconhece o homem.
Chamber, o cantor.
— Só pode ser brincadeira! — Exclama irritado ao reconhecer o
grupo inteiro, Otávio, Samuel, Tiago além de Mateus, todos se revezando para
dançar com ela.
— Estão todos na cidade, parece que vieram inaugurar a casa nova
de Mateus. E eu os convidei para o baile, eles são bons para minha Zhizn, e
como você pode ver, ela fica feliz com eles. — Tony sorri com frieza.
— Quem são? — Ângela pergunta curiosa.
— A família do Mateus. — Tony responde.
Enquanto assiste Leo com os outros, seus punhos cerram e seu corpo
fica tenso.
— As mulheres nos dias de hoje, fariam de tudo para conseguir a
atenção de uma família linda como essa. — Ângela provoca.
Ele encara a mãe irritado, enquanto ela levanta uma sobrancelha para
ele.
Quando Leo finalmente está sozinha e caminha para o banheiro, ele a
segue. Do lado de fora espera impaciente até que ela saia, duas mulheres saem e
sorriem maliciosamente quando o vê, quando não escuta mais ninguém falar do
lado de dentro, ele entra.
Eleonora está retocando a maquiagem e quando o vê pelo espelho,
Raphael por um breve momento percebe o fogo em seus olhos.
— Banheiro errado. — Ela fala.
O fogo é substituído por gelo.
— Você está bem?
Seus olhos se demoram nos dele.
— Verdade ou mentira?
— Sempre a verdade. — Responde afetado.
— Não. — Ela guarda a maquiagem na bolsa minúscula.
— Não é o que parece.
— Acredite no que quiser.
Caminha para porta ignorando-o, Raphael a segura pelo braço
impedindo-a de sair. A corrente elétrica os possui ao primeiro toque, a pele
exposta dela se arrepia assim como a dele. Seu cheiro o atrai e seus lábios o
hipnotizam tornando a atração irresistível a ele.
— Por favor…, não faz isso. — Ela sussurra na iminência do beijo
roubado.
Raphael para antes de encostar nos lábios dela, roça o nariz na curva
de seu pescoço, sentindo o toque macio e aquecido de sua pele e inalando seu
perfume único.
— Eu sonho com você todas as noites. Quando estou acordado é
tudo sem cor, sem cheiro e sem gosto. Eu fiquei mais tempo sem você, do que
com você e cada dia eu morri um pouco. Daria qualquer coisa para ter de volta
nossos momentos roubados. Daria qualquer coisa para tê-la. — Respira
sôfrego. — Me rasgo por dentro cada vez que te vejo nos braços de outro. Quero
ser aquele que beija seu pescoço enquanto dança. — Acaricia o rosto dela. —
Quero te dizer que está linda como céu em uma noite estrelada, quero poder
sussurrar no seu ouvido o quanto eu te amo enquanto danço com você.
Sente a respiração dela acelerar, nota suas mãos trêmulas e como na
primeira vez, ela inicia o movimento que faz dele seu único. Seus lábios leve,
como o bater de asas de uma borboleta, roça os dele em reconhecimento, a
respiração se acelera. O mais lindo par de olhos verdes o encara, lhe revelando o
paraíso.
A segura entre seus braços e seus corações se tornam uma sinfonia
de amor e paixão, seu gosto doce é muito melhor que qualquer iguaria servida
aos deuses e, ele como simples mortal diante da prova do sagrado, leva tudo que
pode com gula desmedida. A porta se abre e escutam alguém arfar um pedido de
desculpa. E como o fim do melhor encanto o beijo é interrompido,
imediatamente Raphael anseia por mais, olham a mulher que passa por eles
apressada e envergonhada.
— Dança comigo? — Sussurra.
Seus olhos brilham como nenhuma estrela seria capaz, sem dar a
chance de ter seu pedido revogado, leva-a para a pista de dança e se banqueteia
com a proximidade de seus corpos.
O mundo poderia ruir e nada o afastaria dela.
Beija seus lábios levemente.
— Você está linda! — Sussurra.
— Você também. — Ela deita a cabeça em seu ombro, de forma que
Raphael tem acesso a seus lábios e mais proximidade a seu corpo.
— A cidade está segura suficiente para as crianças? — Ela prende a
respiração, com a abordagem direta do assunto.
— Praticamente. O “sindicalista” ainda não foi localizado, mas
minamos qualquer forma dele se reerguer, o deixamos sem muitas opções para
agir. — Mesmo tensa lhe responde. — Enquanto isso nossa mudança não será
oficialmente divulgada, as pessoas na ilha acham que a casa está vazia.
— Entendo. Sabe, antes ficava intrigado com algumas coisas que
falava sobre seu trabalho e sua família. Você de alguma forma sempre deixou a
verdade exposta, parte minha sempre soube que havia muito mais do que
deixava aparecer. — Sente seu sorriso. — Eu, muito teimoso, só enxerguei o que
queria ver.
— Fiz o possível para não ficar longe da verdade. Eu queria ser seu
anjo.
— Eu vejo isso agora. E você sempre será meu anjo. — Beija ela
novamente.
— Você está bem? — Leo pergunta carinhosamente.
— Não estava, mas ao menos desta vez não levei ninguém para meu
tormento. — Inala seu cheiro. — Esses meses sem você foram como ficar no
vazio.
Seus olhos ficam tristes.
— Parte minha também. — Roça o nariz nela. — Mas isso não muda
nada. — Ele para a dança, olhando confuso para ela.
— O que eu disse antes, ainda é válido. — Leo insiste.
— Como? Por quê?
Como assim? Eu e ela aqui, muda tudo.
Ela tenta se afastar e ele a segura mais apertado.
— Desta vez você não vai a lugar algum. — Estabelece com firmeza.
— É para te manter seguro! Olhe…, era para eu encontrar um novo
endereço e de todos os lugares do mundo, escolhi o quintal da pior pessoa que
poderia encontrar. Esse “sindicalista” não só é traficantes de drogas, mas
também de armas e pessoas, ele é perigoso a ponto de temerem falar sobre ele.
Não importa o que, se é perigosamente mortal isso me encontra. — Desabafa
com tristeza. — Não arrastarei você para esse caminho.
— Se você pode viver assim, eu também posso! Eu fiz a minha
escolha, eu quero você e sua família.
— Você não sabe o que está falando.
— Você não pode escolher o meu caminho. Não importa o quanto
tente me afastar, eu irei atrás de você. Nem que para isso tenha que adentrar os
portões do inferno ou bater de frente com a sua teimosia. — Ela levanta o rosto
para encará-lo. — Não me importa como ganha a vida, desde que ao fim do dia
eu possa ter você em meus braços. Não quero que mude por mim, eu quero você,
as cores e o preto.
— Eu não…
Interrompe ela com um beijo apaixonado e só para quando sente seu
corpo relaxar.
— Posso ficar sem você. — Termina a frase por ela. — Eu não posso
ficar sem você. É isso que você deve assumir, o oposto seria mentira e você sabe
disso.
Olhos por toda parte os observam, Ângela sorri de um lado, Tony
está ilegível do outro e um grupo distinto de cavalheiros os encaram. Outros
convidados os observam curiosos, mas Raphael não se importa.
Decisões estão sendo tomadas, vidas estão sendo decididas.
— Me apresente a seus amigos? — Ele pede, ela sorri e o conduz
para onde os cavalheiros estão.
— Meninos, esse é o meu Raphael. Raphael, esses são Tiago,
Samuel, Otávio, Chamber e, Mateus, que você já conhece. — Ele aperta a mão
de cada um deles.
Seu braço pousa na cintura dela.
— É um prazer conhecê-los.
— Não podemos dizer o mesmo, se isso significa que irá nos afastar
dela. — Chamber fala em tom de brincadeira, mas deixando claro seu ponto de
vista, enquanto os outros o arrostam.
— Não afastaria ela das pessoas que ama. Se fosse para afastar algo
dela a primeira ordem seria as roupas curtas, transparente e decotadas.
Todos sorriem e a bandeira da paz é hasteada.
— Você deveria ver alguns dos vestidos que ela usava para ir na
missa. — Todos olham para Mateus abismados. — O que foi? Eu era padre, mas
não cego. — Todos riram.
Conversam por um bom tempo.
Estou vivo novamente!
Esses homens são irmãos de fato, menos Tiago e Samuel que são um
casal.
Raphael foi aceito pelo grupo e ele os aceitou com total segurança e
nenhuma mácula de ciúme.
Na mesa Leo se senta entre Tony e Raphael.
— Vejo que você se resolveu. — Ângela comenta ao seu lado.
— Acho que sempre esteve resolvido, só demorei muito tempo para
enxergar.
Ela sorri em resposta.
Mateus apresenta os futuros projetos da fundação em parceria com a
construtora e agradece as doações feitas pelos convidados. Os projetos têm a
soma altíssima, Raphael não imaginava todas essas cifras e se surpreende com a
quantidade de pessoas que serão beneficiadas.
— As doações que arrecada é parte de seu patrimônio pessoal? —
Sussurra quando beija seu pescoço.
Ela vira o rosto num gesto delicado.
— Não, eu roubo de contas ilícitas em paraísos fiscais.
Ele sorri e beija sua testa.
— Eu senti tanto a sua falta. — Ela aperta sua mão por debaixo da
mesa e ele sente a eletricidade.
A hora de Tony e Raphael fazerem o discurso de encerramento
chega, antes de sair Tony a beija carinhosamente na testa e Raphael em sua boca.
— Amo vocês!
— Te amamos mais! — Respondem juntos.
Raphael inicia o discurso homenageando seu pai e seu legado,
enquanto fala uma minúscula luz vermelha brilha em seu relógio e o mesmo
acontece com o de Tony que olha o punho de Raphael e em seguida para Leo.
Tony sinaliza para ele continuar o discurso e com uma anedota que faz a plateia
rir, continua como se nada tivesse acontecido.
Tony inicia sua parte do discurso falando sobre a renovação e pela
reação da plateia, todos aprovam. Terminam o discurso de encerramento sendo
ovacionados.
Ângela os recebem emocionada quando voltam para mesa.
— Onde está Leo? — Pergunta enquanto abraça a mãe.
Tony a abraça depois.
— Ela disse que tinha que atender uma ligação importante.
— Deve ser sobre meus pais, eu vou falar com ela. Fiquem aqui,
poderemos ir todos juntos para casa. — Tony oferece antes de se afastar.
Muitas pessoas os felicitam, Ângela e Raphael são os melhores
anfitriões, pois muitas dessas pessoas são seus contratos alvo. Raphael procura
Alina e também não a encontra, Mateus se despede seguido por seus irmãos, que
gracejam com Ângela, lhe prometendo uma visita. Todos saem pelo tapete
vermelho e os fotógrafos que se amontoam na porta.
Alina volta agitada e olhando para os lados.
— A multidão se aglomerou na saída por conta dos convidados.
Temos carros esperando nos fundos, vamos? — Oferece sorrindo, tentando
parecer amigável.
Ângela suspira aliviada e começa a acompanhá-la.
— Espere, onde está Leo e Tony? — Raphael a bloqueia e seus olhos
a denunciam.
— Eles estão nos esperando. Vamos! — Seus olhos vagam pelo
salão.
Caminham pelo salão a passos certeiros, na medida entre pressa e
indiferença, pegam o elevador de serviço e param no terceiro subsolo.
— Joel estamos aqui, faça acontecer. — Alina fala ao telefone.
As luzes se apagam assim que saem do elevador, tudo fica um breu
total, somente o tilintar de chaves ecoam pela garagem.
— Querida, talvez devêssemos chamar alguém da manutenção para
nos ajudar. — Ângela se preocupa.
— Não há necessidade, nosso carro está próximo. — O Som do
alarme automotivo soa e os faróis do carro piscam rapidamente. — Vamos. — A
voz de Alina soa firme.
— Onde está Leo? — Raphael enfatiza.
— Raphael, ela irá em outro carro. Precisamos ir. Agora.
— O que está acontecendo?
— Houve uma ameaça de sequestro. — Alina fala e Ângela arfa
preocupada, Raphael a conduz para o carro. — No caminho posso explicar
melhor. Não se preocupem, temos um plano de ação para sairmos em segurança.
Ele não consegue ver nada, se sua anjo está aqui, não tem como
saber. Entra no carro relutante e assim que Alina da partida, outros dois carros,
fazem o mesmo na escuridão da garagem, os carros entram em movimento, um
se posiciona a frente e lidera para a saída e o outro fica atrás. Ele sente o aperto
em seu coração, sentindo que seu lugar não é nesse carro.
— Pare, eu vou com ela! — Abre a porta antes mesmo de Alina
frear, o pequeno comboio também para. — Cuide da minha mãe! — Fecha a
porta.
Entra no carro de trás.
— Que merda você está fazendo?
— Anjo, eu não vou ficar longe de você.
— Como você sabia que seria eu no carro de trás? — Ela pergunta
embravecida, mas continua dirigindo.
— Fácil, Tony jamais deixaria você na linha de frente.
— Não é seguro… — Ela suspira enquanto os carros avançam. —
Joel, como está a movimentação na saída?
— Têm dois carros e duas motocicletas nos fundos. Os sentinelas
que se infiltraram no baile renderam o motorista da limusine que era do senhor
Raphael e da mãe e os aguardam na saída. — A voz sai do sistema de som.
Antes de entrar na rua mais três carros idênticos se juntam ao
comboio.
— O que está acontecendo? — Raphael questiona se mantendo
atento, ele não imaginou que usaria tão cedo os exercícios de foco e atenção que
Gohan lhe ensinou.
— Uma emboscada. — Ela responde. — Joel, por gentileza, repasse
os eventos.
— O último contato da família foi às 14:20 horário local. A missão
estava programado para às 23:00. O dinheiro que monitoramos foi
movimentado às 22:45, segui o dinheiro e ele foi para uma das contas do
Helsing, o alarme de segurança disparou às 23:15 e perdi contato com a
família.
— E as crianças?
Já na rua, os seis carros seguem o fluxo, Leo está calma e ele
extremamente nervoso.
— Foram evacuadas com Gohan e a Kala. Miguel estará no ponto
de encontro para pegar os pacotes.
Ela olha sugestivamente para ele.
— Eu não irei sem você. — Ela dá um rolar de olhos, consternada.
— Que alarme de segurança é esse?
— Meus pais e Naveen tinham uma missão, o alarme disparou
porque eles foram capturados.
Fique firme!
— O que tem no meu relógio?
— Um transpônder ligado à rede da família. Quando meus pais
mandaram o sinal, todos na rede receberam. Aconteça o que acontecer, não tire
seu relógio. Se nos separarmos, eu irei encontrá-lo por ele. — Ele acena com a
cabeça e segura a mão dela.
— Zhizn, estou saindo. Te amo!
— Te amo mais! — O balé de carros acontece como fosse ensaiada.
Assim que Tony sai do comboio um carro inimigo o segue e outro do comboio
entra no lugar antes ocupado por Tony.
— Senhora Eleonora, agora tem apenas um carro e uma motocicleta
seguindo vocês. Miguel já está pronto. — A voz de Joel avisa.
Eles e o carro de Alina que está a frente aceleram e ultrapassam o
sinal vermelho, o restante dos carros do comboio permanecem no sinal fechado.
— Senhora Eleonora uma motocicleta avançou e se aproxima de
vocês.
O carro de Alina, ainda a frente deles, entra em um estacionamento e
um carro idêntico sai do acostamento ocupando seu lugar acelerando assim
como eles fazem.
— A motocicleta está se aproximando e passou direto pelo
estacionamento.
Raphael suspira aliviado.
Continuam por quase dois quilômetros, seguindo pela rodovia e
saindo da cidade quando retornam ao comboio. Um clarão, algumas quadras
atrás, chama a atenção.
— Tony? — Leo chama.
Param no sinal e Raphael olha atentamente para qualquer movimento
ou carro que se aproxima.
— A porta. — Escutam Tony falar pelo canal de comunicação.
Imediatamente Leo destrava e Tony entra agachado. Somente o carro
de trás seria capaz de ver alguém entrando. Ele fecha a porta e Leo fura o sinal
em alta velocidade deixando o comboio novamente para trás.
A motocicleta os seguem, mas Leo se mantém a frente, costurando
por entre os carros. Quando pegam a rodovia o fluxo diminui consideravelmente
e ela acelerara.
— Alina e Ângela seguem para Gohan e as crianças. — Joel avisa.
— Quem é esse que está falando?
— Joel, resgatamos ele e agora faz parte da família. — Tony
responde.
— Por quê?
— Ele é uma espécie de computador humano. Zhizn, o rastreou
através das movimentações bancarias de um cliente do “sindicalista”. Achamos
o local onde estava confinado, levamos ele e todo o dinheiro, deixando seu mau
feitor sem recursos. Exceto uma conta bancária da qual ficamos monitorando a
movimentação para rastrear o “sindicalista”. — Tony abre uma bolsa tirando
várias armas de dentro.
— Quem é a pessoa por detrás de tudo isso?
Tony dá de ombros.
— O que importa? Em breve estará morto. — Fala enquanto carrega
uma arma.
— Senhora, não tenho olhos onde está, as câmeras de trânsito desta
área estão em manutenção. Aguardo instruções. — Joel fala.
A rodovia está com fluxo lento, quase não há carros. Raphael engole
em seco apreensivo do que poderá acontecer a eles.
Três carros e motocicletas surgem do acostamento cercando-os. Leo
comprime os lábios quando olha para Raphael.
— Eu nunca quis isso para você. Sinto muito… — Fala com pesar.
Logo seus olhos endurecem. — Lyubov, entregue uma arma para ele! — Ela
acelera escapando dos carros a frente, mas as motocicletas se aproximam cada
vez mais.
Eu não posso chegar até aqui somente para morrer com ela!
Ele a observa dirigir e lembra de quando disse ser boa piloto de fuga,
na época ele achou se tratar de uma brincadeira.
MOMENTOS ANTES…
— Eu contei vinte do lado de dentro e doze no lado de fora. Você faz
sentido horário e eu anti-horário, nos encontramos aqui. — Miguel orienta. —
Joel, conseguiu?
— Já estou dentro, aguardo sinal. — Ouvem-no falando alto no
ponto de comunicação. Miguel inicia a contagem e as luzes se apagam.
O ataque inicia.
Com lentes noturnas, Leo segue derrubando um alvo de cada vez
com tiros certeiros. Os mercenários não viram o que lhes atingiu.
— Terminei! — Leo fala enquanto Miguel chega quase junto com
ela no ponto de encontro. — Você invade pela porta principal enquanto entro
pela lateral… — Ela orienta. — Joel, prepare a partida. — Ordena
— Estarei a postos.
— Tenha cuidado. — Ela sussurra para Miguel.
Os olhos dele suavizam e em seu rosto desponta um meio sorriso.
— Terei e você também. — O meio sorriso dela completa o dele em
resposta.
A porta lateral está liberada e desprotegida, todos correram para
cuidar da entrada principal.
Amadores.
Segue o caminho e como esperado tudo está liberado até o
pavimento central.
— Joel, a leitura de calor, terminou?
— Sim, você tem treze no andar de cima. Não tenho como saber com
certeza se uma delas é Tony e Raphael, mas a julgar sobre a comoção na entrada,
eles só podem ser uma das pessoas no andar superior.
Na escada, Leo permanece o mais próximo da escuridão para se
camuflar.
Entra silenciosa no corredor, e não tarda a se depara com um grupo
de mercenários que cuidam da entrada para o andar.
RAPHAEL
Pelo monitor, não vê nada além do brilho etéreo e mortal dos tiros, as
luzes se acendem e os mercenários atiram a esmo sem saber pra onde mirar. Leo
se aproxima vestida com macacão preto colado ao corpo quase como uma
segunda pele, preso em ambas as pernas têm coldres com armas e no cinto várias
munições. Ela ataca por trás dois capangas que tentam acertá-la, ela esquiva
devolvendo os golpes com precisão derrubando-os.
Em uma dança demoníaca, Raphael assiste a mulher da sua vida,
avançando e matando todos a sua frente, ora com arma de fogo, ora com sua
katana. É lindo e ao mesmo tempo assustador. Raphael é incapaz de assimilar
sua pequena e delicada anjo com essa amazona linda e feroz.
“Puta merda, ela é foda.”
— Onde está o resto dos homens, é apenas uma mulher! Mande
todos para cima dela e mate essa desgraçada! — Álvaro está desesperado.
Tony e Raphael se deliciam com o sabor doce de sua queda iminente.
Da sala de controle eles a assistem, Leo impulsiona o corpo, salta
para uma parede e assim que chega nela, salta de novo e prende o agressor entre
as pernas. Com as mãos o golpeia quebrando seu pescoço, enquanto cai atira no
homem a sua frente e faz dele escudo para os projeteis direcionados a ela. Mais
dois se aproximam, Leo os mata e continua seu caminho.
— Você disse que seria um trabalho fácil e não só eles conseguiram
acabar com muitos dos meus homens na estrada, com um poder de fogo que
você não avisou que eles tinham como esses dois demônios, — aponta para
Raphael e Tony, — mataram muitos mais com as mãos. E agora não suficiente
toda essa merda, tem uma mulher que parece a fusão do diabo com um ninja se
aproximando!! — Esbraveja o líder dos mercenários em estado de pavor.
Miguel entra no galpão eliminando cada um que se entrepõe em seu
caminho e Leo avança cada vez mais até eles.
— Sua equipe é uma merda, faça o serviço da qual você é pago. —
Álvaro brada.
— Essa é a questão! Até que ele, — aponta para Tony, que ergueu a
mão com deboche, — pague, você não tem como me pagar e tudo isso foi em
vão! — O mercenário balança a arma pontuando desvairadamente cada palavra
dita.
— Ele vai transferir!
A aspereza na voz de Álvaro beira a insanidade, ele caminha até
Tony, saca a arma e atira acertando a parede ao lado da cabeça de Raphael.
Puta merda!
— Agora, que tal você transferir o dinheiro? — Álvaro segura
novamente o gatilho mirando Raphael.
— Pedindo assim com carinho. — Tony ironiza com a voz fraca.
O líder mercenário se aproxima.
— Não. Eu não vou ficar aqui para morrer. Vamos nos separar e
pedimos o resgate pelos dois. — Tony e Raphael olham para o líder dos
mercenários com surpresa. — Já que você o conhece melhor, você o leva e eu
fico com o gigante albino. — Ele puxa Tony para se levantar.
— Você não ficará com ele! — Álvaro protesta.
— Essa é nossa melhor chance. Olhe a sua volta, ACABOU! —
Puxa Tony com ele.
Eles paralisam ao ouvir o som dissonante do riscar da espada no
chão se aproximando.
Acuado e desesperado, Álvaro aponta a arma para o mercenário
prestes a fugir com Tony, que faz o mesmo apontando a arma de volta.
— Você responde a mim! — Álvaro elucida.
— Olhe ao seu redor velho, se ficar esse será o seu fim. A melhor
chance é levá-los como reféns e nos separar. — O líder tenta ponderar, segue
para porta com Tony e congela. — Saia ou mato ele! — Ele ameaça para a
mulher na porta empunhando a pistola.
Álvaro puxa Raphael, fazendo dele seu escudo.
— Sairemos com eles ou todos morreremos aqui! — Álvaro fala, a
arma ainda quente passeia pelo pescoço de Raphael causando arrepio ao mesmo
tempo que queima.
— Solte-os e darei a vocês uma morte rápida. Machuque-os e a
morte será lenta e tortuosa. — A voz dela alcança o já acelerado coração
fazendo-o pular progressivamente de alegria a cada batida. — Um…, dois…
Foi tão rápido que Raphael não viu o que aconteceu. Em um
momento o mercenário estava em pé fazendo Tony de refém e no outro está no
chão.
— Menos um, sua vez Álvaro, como vai querer, rápida ou tortuosa?
— Leo oferece, as mãos dele tremem. Ele está por um fio de perder o controle.
— Acabou! Todo o seu reinado foi destruído, você não é mais nada além de um
homem morto. Amanhã os jornais mostrarão o tipo de pessoa que você é. O
mundo conhecerá você e cada inimigo que acumulou ao longo de sua vida de
merda, colocará um alvo em sua cabeça. — Leo sorri diabolicamente levando ao
extremo cada gatilho de controle dele.
Tony está ao lado dela, ainda incapacitado e muito ferido.
— Sua cadela, você não sabe o que está falando, eu sou bom por um
motivo. Eu nunca deixei nada que pudesse me incriminar. — Álvaro se
vangloria.
— Acho que não foi tão bom assim. Hoje sua esposa visitou a
polícia, que já estava munida de um enorme dossiê detalhando cada merda que
fez: Tráfico de narcóticos, armas e pessoas. Envolvimento com células
terroristas. Aliciamento de menores. Pagamento de propina à polícia,
empresários e políticos, sem contar o que você fez com a construtora e claro, os
assassinatos. Enfim, foram tantos crimes, em tantos territórios que não só a
polícia deste país quer você, como outras agências pelo mundo afora. — Raphael
não consegue tirar os olhos de seu pequeno anjo vingador. — E os principais
jornais receberam o mesmo dossiê, então veja, você perdeu.
Com sua última reserva de força, Raphael o golpeia no estômago
com o cotovelo e se joga no chão.
— Não! — Álvaro grita e tão rápido atira nela.
“Não.”
— NÃO!! — Leo grita.
Tony começa a cair com uma mancha de sangue crescente em suas
costas. Enquanto o grito dela ecoa por toda a sala, Raphael é arrastado por
Álvaro.
— Não! Lyubov, por que fez isso? — Ela tenta sair de baixo de Tony
já desacordado.
— Você será o próximo se não cooperar? — Álvaro o arrasta para
cada vez mais longe, mas seus olhos continuam focados em sua anjo.
As escadas parecem uma zona de guerra com corpos e sangue por
todos lados, apressado Álvaro lhe dá puxões. A dor lancinante em Raphael
somado ao que presenciou, deixa-o em um novo estado de inconsciência.
A escuridão tenta arrastá-lo para as profundezas que abranda a dor.
— Saia do meu caminho! — A voz de Álvaro está distante.
Nem os sons secos dos tiros é o bastante para mantê-lo desperto, em
algum momento Raphael cede e cai de vez na escuridão que o cerca.
“Não banque o herói!” Tony o avisou.
O que eu fiz?
ELEONORA
AGORA…
Chegam ao hospital, Tony e Raphael ainda permanecem
desacordados, Tiago os espera na porta da emergência para fazer a triagem. Ela
não sabe para onde ir enquanto assiste seus dois amores seguirem para caminhos
opostos.
— Anjo? — A voz de trovão do seu único ecoa baixa e cheia de
sofreguidão.
Leo chora pelo mal que infligiram a ele.
— Shh… amor, você ficará bem eu prometo. — Segura sua mão
sentindo a familiar eletricidade ao tocá-lo.
— Não chore Anjo, não precisa ter medo, tudo ficará bem. — Ele a
consola quando deveria ser ela a consolá-lo, então chora mais. — Fique com
Tony, assim que eu estiver melhor irei até vocês.
Esse momento para Leo é a confirmação de que ele é o Único para
ela.
Antes dele partir ela beija seus lábios inchados e cortados pela
tortura que sofrera.
— Eu te amo!
— Eu te amo mais! — Ele sussurra e desmaia novamente.
Leo corre para Tony que está indo para centro cirúrgico.
— Eu darei o meu melhor na cirurgia para extrair o projetil que ficou
alojado. — Tiago tenta acalmá-la.
— Por favor, eu não posso ter uma vida sem ele ao meu lado. — Leo
limpa as lágrimas com as mãos de forma grosseira e desolada.
— Eu darei notícias. — Ele entra apressado pelas portas duplas e ela
fica olhando se fecharem vagarosamente enquanto a sua outra metade se
distância cada vez mais.
Eu jurei te proteger e olha o que fiz, perdão, perdão, perdão…
— Eleonora, querida, vamos sentar. — Os braços fortes de Mateus
levam-na para longe da porta.
— Por que…? Se seu Deus existe, por que me trouxe para esse
mundo só para ter tudo que mais amo sempre arrancado de mim? Qual o intuito
de viver só para sofrer e causar sofrimento aos outros, por quê? — Chora no
ombro dele, enquanto suas mãos gentis acarinham suas costas.
— Sofrer faz parte da vida, Deus não quer fazer você sofrer, ele quer
que você viva para ver que depois de cada tempestade, sempre haverá um novo
começo.
Ela soluça com a dor entalada em sua garganta.
— Seu Deus é cruel!
— Ele é as vezes, mas ele também é bom. — Mateus levanta seu
rosto e o limpa com o nó do dedo indicador as lágrimas que não deixam de cair.
— Alguns dias serão brilhantes e preciosos e outros serão sombrios e ordinários.
É assim que é, não construa um muro a sua volta, isso impede o perigo, mas
também mantém a dor. — Ele a abraça apertado.
Leo derrama cada gota de dor que manteve aprisionada por toda
vida.
GOHAN
OS GÊMEOS
RAPHAEL
ELEONORA
Naveen
Boas escolhas, elas chegarão no domingo.
11:45 am
Raphael
Obrigado.
11:45 am
Naveen
Um SUV é importante para sair em família…
11:46 am
Raphael
A Leo tem um?
11:46 am
Naveen
Tem…
11:46 am
Raphael
Tony tem um?
11:46 am
Naveen
Tem…
11:46 am
Raphael
Então tenho 2!
Rss…
11:47 am
Naveen
Rss…
11:47 am
Faz quase dois meses que estavam morando juntos, Raphael assiste
Leo se vestir para iniciar o dia com treino na academia, yôga na praia ao nascer
do Sol e sexo no chuveiro.
— Anjo, ele já está recuperado, não vejo porque não podemos nos
casar, me dê um motivo para que isso não aconteça? — Intima.
Esse tem sido um assunto recorrente e a única farpa que ficou no
caminho, ele faz o pedido e ela sempre muda o foco, ora inicia sexo, ora
simplesmente fala do trabalho, mas nunca lhe dá uma resposta.
— Você sempre responde que sim, que adoraria, mas quando quero
marcar uma data, você foge do assunto.
Quanto mais o tempo passa e ela lhe nega uma resposta conclusiva o
assunto vem ficando sob sua pele, pinicando e incomodando, seus olhos o evita
propositalmente, suas bochechas coram ficando cada vez mais forte.
Eu sei… Eu somente sei que tem merda aí!
— Anjo, desembucha. Seja o que for, de hoje não passa. — Exige
cruzando os braços no peito e a encara, ela ainda está o evitando. — Eleonora!
— Ela pula com som elevado da voz de trovão como uma vez disse que ele tem.
— Você me ama? — Inicia com a voz contida e temerosamente
baixa.
— Te amo com tudo que sou. — Responde ainda sério. — Olha para
mim, não me prive dos seus olhos. — Ela levanta o olhar, seus olhos estão no
tom de verde que invoca tempestades carregados de medo. — Não precisa sentir
medo, só solta isso. — Fala contido controlando sua tensão.
— Antes de tudo, queria te dizer que não é o que parece e que não
fui deliberadamente desonesta. Foi por motivos administrativos e aconteceu há
muito tempo, muito tempo… — Ela começa a divagar. — Quando te conheci,
você estava inseguro em relação ao Tony. Tinha aquela faca da verdade pairando
sobre nosso relacionamento, o que tínhamos era delicado, frágil se comparado a
tudo que temos hoje. — Suspira, ele continua a encará-la. — Então as coisas
aconteceram e quando lhe contei a verdade naquela noite fatídica, falar disso
teria sido o golpe final. E eu tinha esperanças de você escolher a mim, mesmo
com tudo que te contei eu tinha uma chama minúscula, mas existente de que
você me aceitaria como sou, portando não lhe contei. — Ele se aproxima um
passo na direção dela, Leo está cada vez mais agitada e falando cada vez mais
rápido, ela dá um passo para trás. — Então, voltamos e tem a coisa da bola de
neve que vai crescendo, eu perdi o controle, só não sei como fazer para lhe
contar isso sem que você fique imensamente bravo e corra para longe de mim.
Eu te amo! Lembre se. Eu. Te. Amo! — Enfatiza.
Ele fica tenso vendo o quanto ela está inquieta.
— Anjo o que é isso? — Mais um passo para ela e ela dá outro para
trás.
— Eu já sou casada.
O coração de Raphael para uma batida, ela prende a respiração
enquanto seus olhos perscrutam os dele.
— Não… Você o quê? — Ela pula ao som alto e grave da voz dele e
corre para longe. — Eleonora, você não vai escapar disso! — Corre atrás dela.
— Pai? — Gael o chama parado no corredor vestido com pijama. —
Tudo bem? — Seus olhos sonolento estudam-no.
Respira profundamente e solta.
— Sim, a mamãe só está sendo um pouco dramática.
Gael dá um rolar de olhos.
— Oh, ela está naqueles dias? Por que se tiver o papai falou para dar
chocolate antes de qualquer coisa. — Aconselha.
— Esse é um ótimo conselho filho, obrigado. — Ele sorri e volta
para o quarto, antes de Raphael entrar no lugar que ela se escondeu, ele respira
fundo e entra sem bater. — Onde ela está?
Tony avalia-o.
— Não é o que parece, foi por motivos administrativos. Você
entende? Não estávamos brincando com você. — Ele fita-o tentando por algum
sentido em tudo.
— Eleonora, vem aqui agora! — Ordena.
— Raphael irmão, ela só estava esperando o melhor momento para
contar. — Tony tenta acalmá-lo.
Leo sai de trás dele vindo do closet.
— Ela teve infinitas oportunidades, mas ela escolheu não fazer. —
Embravece um pouco magoado.
— Amor, eu sinto muito. Estava com medo. — Ela se aproxima com
os olhos marejados.
Raphael assiste quando as barragens cedem e as lágrimas correm por
suas bochechas.
— Porra, não chora! — Puxa ela para ele e a abraça apertado.
— Zhizn, vocês ainda podem se casar. — Olham para Tony sem
entender. — Nosso casamento é válido somente onde fica a sede da nossa
empresa, mas nada impede de vocês se casarem aqui. — Ela suspira entre
soluços. — Isso ainda seria crime de bigamia, mas só se houver denúncia.
Raphael levanta seu queixo para que ela olhe em seus olhos.
— Estive tão perto de fazer isso com a pessoa errada e tudo que mais
quero é ter esse dia com você. Meus pais tiveram esse momento e meu pai
sempre falou em como foi o melhor dia da vida dele. E que quando eu achasse a
pessoa que fizesse meu mundo parar, esse dia seria também o meu. — Limpa
suas bochechas molhadas. — Não me importa o pedaço de papel onde isso
estará, o que me importa é termos esse dia para oficializar com a nossa família e
amigos. — Beija-a na testa, ela suspira pesadamente. — Se você tivesse falado
antes e não escondido a verdade eu teria lhe falado a mesma coisa.
— Viu, não foi tão difícil. — Tony fala.
Só agora Raphael percebe que ele está molhado e usando nada além
de uma toalha presa na cintura.
— Você ainda teria a opção do divórcio e por questões
administrativas, vocês poderiam ser sócios e não cônjuges. — Admoesta.
— É poderia, mas eu não quero. — Tony enfatiza.
— Lyubov, existia essa opção? — Leo pergunta e Tony desvia o
olhar dela. — Ah, sua raposa sorrateira! — Estoura.
— Anjo, você não sabia? — Ela faz que não, olhando para um Tony
muito deslocado, até um pouco temeroso.
— Nunca me interessei em estudar sobre leis e direitos patrimoniais,
mas parece que alguém aqui teve interesse. — Ela olha para Tony que parece
diminuir com a advertência na voz dela.
— Zhizn? — Tony se aproxima. — Eu não vou dar o divórcio. —
Afinca.
— Não vou pedir, mas isso não quer dizer que não fico triste por
você agir nas minhas costas, eu teria aceitado se você tivesse falado.
Tony segura a mão dela e a leva a boca.
— Desculpa, eu fui um idiota, possessivo. Tudo que queria era te
prender a mim de todas as formas possíveis, existiam aqueles seus parceiros e
fiquei com medo. Perdão. — Ele chora.
Ela o abraça, Tony abaixa e a beija com um selinho delicado.
— Raposa tolinha, sou seu cativeiro e você é o meu, não pode haver
um eu sem um você.
Ele a beija de novo e soluça.
— Oook…, agora devolve-me ela, tenho um pedido a fazer.
Ele a beija de novo e à solta, Leo está sorrindo.
— Anjo…
— SIM!!!! — Ela grita e pula em seu colo.
— Mas eu nem perguntei. — Segura ela apertado.
— Oh! — Ela se solta. — Desculpa, continua.
— Anjo, você me daria a honra em compartilhar sua vida com a
minha, os momentos coloridos e os pretos, os dias de luz e os de tempestade?
Seu coração avança, não, melhor. Ele pula em suas batidas.
“É isso ela é nossa, para todo sempre.”
Ela limpa o rosto choroso com a mão.
— SIM!!!
Anjo
Como está?
05:26 pm
Raphael
Ansioso. E você?
05:26 pm
Anjo
Muito ansiosa, falta pouco…
05:26 pm
Raphael
Posso te ver…
05:27 pm
Anjo
Agora…
05:27 pm
Raphael
Sim. Por favor, um beijo.
E tudo que peço…
05:27 pm
Estou implorando…
Um beijinho…
05:28 pm
Anjo
Entrada da lavanderia, corre…
05:28 pm
Raphael
Onde você está?
05:30 pm
Anjo
Feche os olhos, não vale espiar.
05:30 pm
Anjo
Te amo!
05:35 pm
Raphael
Te amo mais!
05:35 pm
[1]
Led é a pronúncia da palavra gelo em russo, no original se escreve assim лед.
[2]
Gretchka é conhecido como trigo sarraceno, no Brasil pode-se equiparar ao arroz.
[3]
Your Song, Elton John 1970
[4]
Divindade hinduísta, Ganesha reconhecido como o deus com cabeça de elefante, é a
divindade que remove obstáculos, o patrono da sabedoria, das artes e da ciência.
[5]
Os bankers são cibercriminosos que utilizam técnicas hacker para roubar informações de
acesso à Internet Banking e desviar o dinheiro das vítimas para outras contas.
[6]
Divindade hinduísta, Lakshmi é a deusa da prosperidade e da riqueza, também representa
a energia feminina do ser supremo em todas as suas facetas.
[7]
Divindade hinduísta, Rama, símbolo da fraternidade é a personificação do sacrifício e
sobretudo um guerreiro inigualável.
[8]
Divindade Hinduísta, Vishnu é o deus protetor, suas qualidades são incontáveis e dentre
elas se destacam a onisciência, a soberania, a energia, a força, o vigor e o esplendor.
[9]
Can't help falling in love-Elvis Presley,1961
[10]
Divindade hinduísta, Hanuman simbolicamente representa a devoção pura, a ausência de
ego ou egoísmo representa a natureza em toda a sua beleza e é por isso que apresenta traços físicos de um
macaco, mas também de um ser humano.
[11]
Wallis, Duquesa de Windsor, ela se casou com Eduardo VIII do Reino Unido. Dentre os
vários presentes que deu a sua amada a pulseira com pingentes de cruzes é considerada a mais significativa
emocionalmente.
[12]
WE são as iniciais do nome Wallis e Eduardo. WE are too significa em inglês Nós
somos demais ou Wallis e Eduardo são demais.
[13]
Sensei é instrutor de arte marcial.
[14]
Jodhpuri ou terno Bandhgala, é um terno formal da Índia.
[15]
Sári é um traje tradicional das mulheres na Índia no Nepal é chamado de Guniu.
[16]
Cholo ou Choli é uma blusa colada no corpo por baixo da tira de tecido.
[17]
Uma das extremidades que tem a borda mais estampada e adornada do tecido que forma
o sarí e fica solto e mais visível por cima do ombro.
[18]
Torá é o texto sagrado do judaísmo, a Torá é composta pelos primeiros cinco livros da
Bíblia hebraica (chamada pelos cristãos de Antigo Testamento).
[19]
Alcorão é o livro sagrado do Islã.
[20]
Os Vedas são os textos mais antigos do hinduísmo.
[21]
Supernova é um evento astronômico que ocorre durante os estágios finais da evolução de
algumas estrelas, que é caracterizado por uma explosão muito brilhante.
[22]
Mise en place é um termo francês que significa “pôr em ordem”. É de fundamental
importância que antes de qualquer ação dentro de uma cozinha.
[23]
É uma expressão usada para pais que estão sempre sobrevoando os filhos, observando e
controlando tudo que eles fazem.
[24]
Lollipop significa pirulito em inglês.