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Anthony Bourdain é uma festa 15/01/2020 21'26
Num restaurante de sushi em Manhattan, Anthony Bourdain disse, contemplativo: “Tenho o melhor emprego do mundo.
Se eu não estiver feliz, será por falta de imaginação” FOTO_MILLER MOBLEY_AUGUST
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***
Q
uando viaja para o exterior, o presidente dos Estados Unidos
leva seu próprio carro. Momentos depois do Air Force One
pousar no aeroporto de Hanói em maio de 2016, o presidente
Barack Obama se enfiou numa limusine blindada de mais de 5 metros
de comprimento conhecida como Besta – um abrigo antibombas
disfarçado de Cadillac, equipado com uma conexão segura com o
Pentágono e suprimento de sangue. As largas avenidas de Hanói
estão coalhadas de carros que buzinam, vendedores ambulantes e uns
5 milhões de scooters e motocicletas que entopem os cruzamentos
como uma enchente. Era a primeira viagem de Obama ao Vietnã, mas
ele contemplava aquele espetáculo através de um vidro com 5
polegadas de espessura, à prova de balas. Se estivesse assistindo pela
televisão, o efeito seria o mesmo.
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O
encontro no Vietnã foi sugerido pela Casa Branca. De todos os
países em que Bourdain já esteve, o Vietnã, que ele visitou meia
dúzia de vezes, talvez seja o seu favorito. Apaixonou-se por
Hanói muito antes de conhecê-la, ao ler O Americano Tranquilo, o
romance de Graham Greene publicado em 1955. A cidade preserva
até hoje uma carregada atmosfera de decadência colonial – palacetes
caindo aos pedaços, lúgubres figueiras-de-bengala, nuvens de
monções e coquetéis vespertinos – que ele desfruta numa boa. Houve
um tempo em que cogitou seriamente morar lá.
sob as solas dos sapatos. Obama, vestindo uma camisa branca com o
primeiro botão desabotoado, cumprimentou Bourdain, sentou-se
num banquinho de plástico e foi muito receptivo a uma garrafa de
cerveja vietnamita.
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“A
pós três anos sem fumar, recomecei”, disse Bourdain
quando nos encontramos pouco tempo depois, no bar do
Metropole Hotel, onde ele se hospedava. Ele ergueu uma
sobrancelha: “Culpa do Obama.” Bourdain tem 60 anos, é
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“Ele tem sua mise en place”, disse seu amigo, o chef Éric Ripert, ao
comentar que a meticulosidade de Bourdain reflete não só sua
personalidade e sua formação culinária, mas também advém da
necessidade: se não fosse tão organizado, nunca poderia dar conta de
seus compromissos, a cada dia mais numerosos. Além de produzir e
protagonizar Parts Unknown, ele escolhe as locações, escreve o texto
da locução em off e trabalha em estreita colaboração com os
cinegrafistas e o pessoal da trilha sonora. Quando não está diante das
câmeras, está escrevendo: ensaios, livros de cozinha, história em
quadrinhos sobre um sushiman homicida, roteiros etc. (David Simon
o recrutou para escrever as cenas de restaurante da série Treme.) Ou
então está apresentando outro programa de tevê, como The Taste, um
reality show que foi transmitido ao longo de dois anos pela ABC. No
segundo semestre de 2016, num hiato entre filmagens, ele lançou uma
turnê de stand-up por quinze cidades. Ripert aventou que o que move
Bourdain, pelo menos em parte, talvez seja o temor do que ele seria
capaz de fazer caso parasse de trabalhar. “Sou um cara que precisa de
um monte de projetos”, Bourdain reconheceu. “Eu provavelmente
seria feliz como controlador de tráfego aéreo.”
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B
ourdain é extremamente próximo de sua equipe, em parte
porque os caras são companheiros fixos numa vida em que
tudo mais é transitório. “Eu mudo de locação a cada duas
semanas”, ele me disse. “Não sou cozinheiro, tampouco jornalista.
Sou francamente incapaz de proporcionar o cuidado e a atenção que
se espera dos amigos. Não estou presente. Não vou me lembrar do
seu aniversário. Não vamos ser amigos, não importa o que eu sinta a
seu respeito. Há quinze anos, mais ou menos, tenho viajado 200 dias
por ano. Faço boas amizades que duram uma semana.”
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Não era sua primeira experiência na cozinha: nas férias de verão após
concluir o ensino médio, ele tinha lavado pratos no Flagship, um
restaurante de peixe frito e marisco em Provincetown. Em Cozinha
Confidencial ele relembra o momento decisivo em que, durante uma
festa de casamento no Flagship, testemunhou uma escapada da noiva
para um tórrido encontro furtivo com o chef. Conclusão: “Foi então
que eu soube pela primeira vez, caro leitor: eu queria ser um chef.”
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D
epois de se formar no Culinary Institute, em 1978, ele se mudou
com Nancy Putkoski para um apartamento na Riverside Drive.
Casaram em 1985. Ela teve vários empregos, e Bourdain
encontrou trabalho no Rainbow Room, no Rockefeller Center.
Quando perguntei sobre o casamento, que terminou em 2005, ele o
comparou ao filme de Gus Van Sant Drugstore Cowboy, no qual Matt
Dillon e Kelly Lynch encarnam viciados em drogas que roubam
farmácias para sustentar o vício. “Uma mistura de amor, dependência
mútua e senso de aventura – éramos criminosos juntos”, disse.
“Grande parte da nossa vida foi construída em torno disso, e ainda
bem.” Quando contava histórias sobre as “merdas muito estúpidas”
que fez quando usava narcóticos – ser parado pelos policiais com 200
doses de ácido lisérgico no carro, ser flagrado pela Polícia Federal ao
tentar retirar uma “carta do Panamá” numa agência do correio –,
Bourdain alude vagamente a uma “outra pessoa” que o
acompanhava. Tem o cuidado de não citar o nome de Nancy
Putkoski. À parte as drogas, eles levavam uma vida doméstica
relativamente pacata. À noite, pediam comida pelo telefone e
assistiam a Os Simpsons. De tanto em tanto, se juntavam algum
dinheiro, iam para o Caribe nas férias. Caso contrário não viajavam.
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K
ang Ho Dong Baekjeong é um restaurante animado e cacofônico
na rua 32, uma churrascaria coreana com um toque hipster.
Numa noite gélida de fevereiro de 2016 eu cheguei na hora
marcada e encontrei Bourdain já esperando por mim, a meio caminho
de terminar uma cerveja. Ele é mais do que pontual: chega
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Mesmo assim, aonde quer que ele vá, jovens cozinheiros o saúdam
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Bourdain foi além, dizendo que o mercado devia evocar Blade Runner
– varejo sofisticado como forma de distopia molambenta e poliglota.
Quando ele era garoto, seu pai costumava alugar um projetor de 16
milímetros e passar filmes de Stanley Kubrick e Mel Brooks. “Nunca
conheci alguém que tivesse aquele catálogo de filmes na cabeça”,
disse Zach Zamboni, um de seus cinegrafistas de longa data. Um
episódio romano de Sem Reservas fazia alusão em preto e branco a
Fellini. O episódio de Buenos Aires de Parts Unknown era uma
piscada de olhos a Felizes Juntos, de Wong Kar-wai. A maioria dos
espectadores provavelmente não capta essas referências, mas para
Bourdain isso não importa. “Quando outros cinegrafistas e diretores
de fotografia gostam, é um prazer”, ele disse. “É exatamente como
cozinhar, quando outro cozinheiro diz ‘Ótimo prato’. De certo modo,
não tem a ver com os fregueses.” A produtora Lydia Tenaglia, que,
com o marido, Chris Collins, recrutou Bourdain para fazer A Cook’s
Tour na televisão e hoje dirige o Zero Point Zero, disse que, em parte,
a razão pela qual a experiência de Bourdain é filtrada com tanta
frequência por meio de filmes é que, até a meia-idade, ele tinha visto
muito pouco do mundo. “Livros e filmes, era isso que ele conhecia – o
que havia lido em Graham Greene, o que havia visto em Apocalypse
Now.”
O
s organizados camelódromos de Singapura combinam as
delícias da gastronomia de rua com regras de saúde pública
que poderiam cumprir as exigências da Nova York pós-
Bloomberg.[1] “Eles se enquadraram sem perder sua fantástica
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– Foi mesmo – disse Alesch. – Nós o comemos por uns quatro dias.
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Kwak riu e gritou: “Vão direto para o lugar onde vocês acabaram de
comer.”
E
m julho de 2006, Bourdain voou para o Líbano para rodar um
episódio de Sem Reservas sobre Beirute. Planejava centrar fogo
na vida noturna cosmopolita da cidade, beliscando quibe,
bebendo áraque e captando a vibração das casas noturnas à beira-
mar. No programa, ele explica, em off: “Todo mundo passou por aqui:
gregos, romanos, fenícios. Por isso eu sabia que a comida seria
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fazer no Líbano.” Até viajar a Beirute, aonde quer que tivesse ido, por
mais triste que pudesse ser o lugar, ele sempre encerrava o episódio
com uma voz que era, se não otimista, pelo menos esperançosa. Na
conclusão do episódio de Beirute, ele disse: “Olhe para nós nessas
cenas… Estamos ali sentados, em trajes de banho, pegando um
bronze, assistindo a uma guerra. Se existe uma metáfora em toda essa
experiência, provavelmente é essa.”
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correndo em volta? Sim. Me parece bem bom. Mas não tenho a menor
dúvida de que sou incapaz disso.”
T
alvez o texto mais bonito que Bourdain escreveu seja um ensaio
de 2010 chamado “Minha meta é a verdade”, um perfil de Justo
Thomas, um obstinado homem de meia-idade da República
Dominicana que toda manhã desce ao porão do Le Bernardin e lá
prepara uma série de facas bem afiadas para, em seguida, com a
precisão de um cirurgião cardíaco, cortar 300 quilos de peixe fresco.
Os peixes chegam ao restaurante, diz Thomas, “direto do barco”, o
que, segundo Bourdain, significa inteiros, vindos direto do oceano –
“reluzentes, de olhos brilhantes, guelras rosadas, firmes, cheirando só
a água do mar”. A tarefa de Thomas é partir cada carcaça em postas
delicadas que serão servidas no andar de cima, e o texto de Bourdain
é um caloroso tributo a ele e aos detalhes de seu ofício totalmente
invisível. (“As paredes, curiosamente, foram forradas com plástico
adesivo, como o porão preparado por um serial killer, por causa das
escamas de peixe e para facilitar e agilizar a limpeza.”) Quando
Thomas termina seu turno já é meio-dia e Bourdain o convida para
almoçar no salão do restaurante. Em seis anos de trabalho no Le
Bernardin, Thomas até então nunca havia comido lá como cliente.
Bourdain aponta para os fregueses ao redor e observa que alguns
gastarão numa garrafa de vinho o que Thomas talvez leve uns dois
meses para ganhar. “Creio que na vida algumas pessoas recebem
muito, e o resto não recebe nada”, Thomas lhe diz. Mas acrescenta:
“Sem trabalho não somos nada.”
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E
m 1985 Bourdain se matriculou numa oficina de escrita
monitorada pelo editor Gordon Lish. “Ele levou a coisa muito a
sério”, Putkoski me contou. Em cartas a Joel Rose, Bourdain se
referia à oficina como uma experiência transformadora, e falava sobre
a “vida depois de Lish”. (Quando entrei em contato com Lish por
telefone, ele disse que Bourdain era “um sujeito absolutamente
encantador, muito alto”, mas não tinha lembrança de seu texto.)
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assim que pousou em Tóquio ele se animou. “Este lugar é como Blade
Runner”, escreveu a Joel Rose, num e-mail. “Estou falando francês,
ouvindo japonês e pensando em inglês o tempo todo, ainda sob o
efeito do jet lag, enlouquecido pelo sushi gelado, mergulhando no
fugu, e deslumbrado com a porra toda.” Descreveu o frisson de entrar
no restaurante menos convidativo, mais exótico e mais lotado que
podia encontrar e, apontando para um prato que parecia bom, dizer:
“Quero um desse!”
Escrever pode ter feito parte dos planos de Bourdain por um bom
tempo, mas a televisão, segundo Nancy Putkoski, “nunca esteve de
fato em seu horizonte até que o convidaram”. Pouco depois da
publicação de Cozinha Confidencial, Lydia Tenaglia e Chris Collins
começaram a conversar sobre um eventual programa. Ele disse que
estava planejando um livro que desse sequência ao primeiro, no qual
viajaria pelo mundo, comendo. Se estivessem dispostos a segui-lo
com câmeras, por que não?
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o lado de fora da cervejaria em Hanói, embaixo de uma árvore
decorada com luzinhas de Natal, uma senhora corpulenta,
vestindo folgadas calças listradas e munida de um cutelo,
cuidava de uma barraquinha que servia cachorro assado. Bourdain
espairecia nas proximidades com Dinh Hoang Linh, um amável
burocrata vietnamita que era seu amigo desde 2000, quando o
ciceroneou em sua primeira visita a Hanói. Ao longo dos anos, a
receita do programa de Bourdain foi mudando sutilmente. Na
primeira vez que foi à Ásia, brincou que ia comer “cérebro de macaco
e moela de baiacu venenoso”. Num restaurante do Vietnã, o Sabores
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À
medida que Parts Unknown foi evoluindo, a série se mostrou
menos preocupada com a comida e mais interessada na
sociologia e na geopolítica dos lugares que Bourdain visita.
Lydia Tenaglia qualifica o programa de “empreendimento
antropológico”. Chris Collins me disse que, cada vez mais, a palavra
de ordem é “não quero saber o que você comeu, e sim com quem você
comeu”. Bourdain, por sua vez, tem pressionado por rarefazer as
cenas em que ele come e incrementar mais o “lado B” da vida
cotidiana nos países que visita. Tornou-se um mantra para ele, disse
Collins: “Mais ‘lado B’, menos eu mesmo.”
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Seja como for, Bourdain sabe que a maioria dos espectadores que
viram seu episódio do Congo tinha lido muito pouco sobre os
conflitos no país. Lembrei que toda vez que se comentava que muitos
jovens se informavam por meio do programa satírico The Daily Show,
seu apresentador, Jon Stewart, protestava, de modo pouco
convincente, que ele não passava de um comediante fazendo piadas.
O editor de Bourdain, Dan Halpern, disse: “Queira ou não, ele se
tornou um estadista.”
N
uma manhã de agosto de 2016, recebi um e-mail de Bourdain
informando que ele e Busia estavam se separando. “Não vai
mudar muito em termos de estilo de vida, já que vivemos vidas
separadas durante vários anos”, escreveu. “É mais uma mudança de
endereço.” Bourdain sentiu um certo alívio: ele e Busia não
precisavam mais “fazer de conta”. Em nossas conversas até então, ele
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disse: “O tipo de coisa que você escreve, sabe como é, quando acha
que vai morrer. ‘Porra, sinto muito. Sei que agi como se não sentisse.’
Tínhamos muito pouco contato – civilizado, mas escasso. ‘Sinto
muito. Sei que isso não ajuda. Não vai consertar as coisas, não tem
como remediar. Mas não é que eu tenha esquecido. Não é que eu não
saiba o que fiz.’”
A
ntropólogos gostam de dizer que observar uma cultura
geralmente significa, de um modo ou de outro, alterá-la. Algo
similar se aplica ao programa de Bourdain. Toda vez que
descobre uma joia culinária escondida, ele a insere no mapa turístico,
despojando-a da autenticidade que o atraiu. “É um empreendimento
gloriosamente condenado”, reconheceu. “Meu negócio é encontrar
lugares incríveis, e depois nós fodemos com eles.”
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