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FERNANDES C; CORÁ JE; BRAZ LT. 2006.

Alterações nas propriedades físicas de substratos para cultivo de tomate cereja, em função de sua reutilização.
Horticultura Brasileira, 24: 94-98.

Alterações nas propriedades físicas de substratos para cultivo de tomate


cereja, em função de sua reutilização
Carolina Fernandes; José Eduardo Corá; Leila T Braz
UNESP, Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n, 14884-900 Jaboticabal-SP; E-mail: carol@fcav.unesp.br; cora@fcav.unesp.br;
leilatb@fcav.unesp.br

RESUMO ABSTRACT
O objetivo deste trabalho foi avaliar as alterações nas proprieda- Effects of the reutilization of substrates on its physical
des físicas de substratos em função de sua reutilização para o culti- properties on growing cherry tomato
vo do tomateiro do grupo cereja, cultivar Sindy. O delineamento The objective of this work was to evaluate the effects of the
experimental adotado foi em parcelas subdivididas com os sete reutilization on the physical properties of different types of substrate
substratos (nas parcelas) e três épocas de caracterização física dos used to grow cherry tomato, at Jaboticabal, São Paulo State, Brazil
substratos (nas subparcelas). As parcelas foram agrupadas em blo- (21°14’05" S, 48°17’09" W). We used the split-plot experimental
cos casualizados, com quatro repetições. Os sete substratos resulta- design with complete randomized blocks and four replications. In
ram da combinação de diferentes proporções volumétricas de três the plots were placed seven types of substrates, and in the subplots,
componentes: areia, bagaço de cana-de-açúcar e casca de amendoim. three periods of physical characterization of the substrates. The seven
As propriedades físicas dos substratos avaliadas foram submetidas substrates were prepared with different combinations of three
à análise de variância, sendo as médias comparadas pelo teste de materials: sand, crushed sugarcane and peanut bark. The physical
Tukey a 5% de probabilidade. A reutilização do substrato composto properties evaluated were submitted to variance analysis and the
por partes iguais dos três componentes promoveu aumento da den- averages were compared by the Tukey test, at 5% probability level.
sidade seca e do volume de água facilmente disponível, e redução The reutilization of the substrate prepared with equal parts of the
da porosidade total, do espaço de aeração e do volume de água re- three components promoted the increase of bulk density and easily
manescente. available water content, and the decrease of total porosity, aeration
space, and remaining water content.

Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, areia, bagaço de cana- Keywords: Lycopersicon esculentum, sand, crushed sugarcane,
de-açúcar, casca de amendoim, cultivo sem solo. peanut bark, soilless growth.

(Recebido para publicação em 05 de abril de 2005; aceito em 10 de fevereiro de 2006)

A crescente demanda por hortaliças


de alta qualidade e ofertadas duran-
te o ano todo tem contribuído para o in-
em função do manejo, conseqüentemen-
te, as demais propriedades físicas do
substrato também podem ser modifica-
mais cultivos consecutivos, sem redu-
zir a produção e a qualidade de hortali-
ças (Baevre, 1981; Baevre &
vestimento em novos sistemas de culti- das. A determinação da curva de reten- Guttormsen, 1984; Verlodt et al., 1985;
vo, que permitam produção adaptada a ção de água para um substrato é impor- Andriolo et al., 1999; Celikel & Caglar,
diferentes regiões e condições adversas tante, porque fornece dados sobre o vo- 1999; Reis et al., 2001). Entretanto,
do ambiente (Carrijo et al., 2004). No lume de água em determinadas tensões deve-se avaliar as alterações nas proprie-
Brasil, nota-se um crescente interesse (De Boodt & Verdonck, 1972). A partir dades físicas dos substratos reutilizados,
dos produtores pelo cultivo de hortali- desses valores, pode-se calcular para que o manejo da irrigação, nos cul-
ças em substratos. porosidade total, espaço de aeração, tivos sucessivos, possa ser modificado
A avaliação da qualidade de um água facilmente disponível, água em função das propriedades físicas dos
substrato baseia-se na sua caracteriza- tamponante e água remanescente. substratos reutilizados.
ção física e química. Dentre as proprie- A reutilização de substratos carac- Baevre & Guttormsen, (1984) obser-
dades físicas, destacam-se a distribui- teriza-se como uma possibilidade de varam que a reutilização do substrato
ção do tamanho das partículas, a densi- reduzir o custo de produção, uma vez não alterou significativamente a
dade e a curva de retenção de água. A que dispensa a aquisição de novos porosidade total, mas reduziu o volume
composição granulométrica, que repre- substratos. Além disso, pode-se conse- de poros maiores e aumentou o volume
senta a distribuição do tamanho das par- guir um menor impacto ambiental, uma de poros menores. A reutilização do
tículas, tem influência determinante no vez que a reutilização possibilita a re- substrato por cinco anos proporcionou
volume de ar e água retidos pelo dução do volume de substrato descarta- aumento da densidade, diminuição da
substrato (Ansorena, 1994). A densida- do após o cultivo. porosidade total, aumento do conteúdo
de, que expressa a relação entre a mas- Algumas pesquisas têm evidencia- de água e diminuição do espaço de
sa e o volume ocupado pelas partículas do resultados econômicos positivos com aeração (Verlodt et al., 1985). Os auto-
que formam o substrato, pode se alterar a reutilização de substratos por dois ou res relacionaram essas alterações físi-

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Alterações nas propriedades físicas de substratos para cultivo de tomate cereja, em função de sua reutilização

cas com o aumento linear da decompo- Tabela 1. Distribuição do tamanho de partículas dos componentes e dos substratos utiliza-
sição do substrato em função dos anos dos no cultivo do tomateiro do grupo cereja, cultivar Sindy, em casa de vegetação. Jaboticabal,
de cultivo. UNESP, 2004.
A decomposição de substratos orgâ-
nicos promove a redução no tamanho
das partículas, conseqüentemente, no
tamanho dos poros formados pelas mes-
mas (Ansorena, 1994). De acordo com
Andriolo et al. (1999), a vida útil de um
substrato orgânico é determinada, prin-
cipalmente, pela velocidade das reações
de decomposição, que modificam a
granulometria do material e, conseqüen-
temente, a proporção entre as fases só-
lida, líquida e gasosa.
Vários são os materiais utilizados
como substratos para plantas, tais como,
turfa, areia, isopor, espuma fenólica, e as laterais protegidas com telas de para 5 L, com 25 cm de diâmetro de
argila expandida, perlita, vermiculita, polipropileno preto com 50% de boca, 17 cm de diâmetro de fundo, 18
casca de arroz, casca de pínus, fibra da sombreamento. A temperatura e a umi- cm de altura e 8 furos na base.
casca de coco, serragem, entre outros. dade relativa do ar, no interior da casa Os substratos resultaram da combi-
Entretanto, Carrijo et al. (2004), ressal- de vegetação, foram obtidas por meio nação de diferentes proporções
tam que a caracterização de produtos de um termohigrógrafo com registro volumétricas de areia (A), bagaço de
encontrados nas diferentes regiões do contínuo dos valores. O aparelho foi cana-de-açúcar (BC) e casca de amen-
país é fundamental para reduzir o custo instalado em abrigo de madeira, a 1,0 doim (CA). A areia utilizada foi a co-
de produção de hortaliças em substratos. m de altura, no centro da casa de vege- nhecida comercialmente como areia
Devido às atividades agrícolas de- tação. Durante o primeiro cultivo, as média. O bagaço utilizado foi o resíduo
senvolvidas na região de Jaboticabal, médias mensais para a temperatura má- fibroso resultante da extração do caldo
bagaço de cana-de-açúcar e casca de xima diária, nos meses de fevereiro, dos colmos da cana-de-açúcar. A casca
amendoim são resíduos disponíveis em março, abril e maio foram, respectiva- de amendoim utilizada foi moída e pas-
grande quantidade, apresentando, por- mente, 39, 36, 33 e 29 °C; para a tem- sada em peneira com abertura de 6 mm
tanto, potencial para serem utilizados na peratura mínima diária, 21, 18, 15 e 11 x 18 mm. Os substratos testados foram:
composição de substratos. °C; para a umidade relativa do ar máxi- S1 = A; S2 = 2/3 A + 1/3 BC; S3 = 2/3 A
O objetivo deste trabalho foi avaliar ma diária, 93, 95, 97 e 99%; e para a + 1/3 CA; S4 = 2/3 A + 1/6 BC + 1/6
as alterações nas propriedades físicas de umidade relativa do ar mínima diária, CA; S5 = 1/2 A + 1/2 BC; S6 = 1/2 A + 1/
sete substratos, compostos por areia, 37, 38, 39 e 40%. Durante o segundo 2 CA e S7 = 1/3 A + 1/3 BC + 1/3 CA.
bagaço de cana-de-açúcar e casca de cultivo, as médias mensais para a tem- Para cada componente dos
amendoim, em função de sua peratura máxima diária, nos meses de substratos, determinou-se a densidade
reutilização, para o cultivo do tomatei- julho, agosto, setembro, outubro e no- seca (Ds), segundo Hoffmann (1970),
ro do grupo cereja, cultivar Sindy. vembro foram, respectivamente, 33, 33, citado por Backes (1988) e a distribui-
35, 36 e 38 °C; para a temperatura mí- ção do tamanho de partículas
MATERIAL E MÉTODOS nima diária, 11, 11, 13, 14 e 16 °C; para (granulometria), utilizando-se peneiras
a umidade relativa do ar máxima diária, de 4,0; 2,0; 1,0; 0,5; 0,25 e 0,125 mm
98, 98, 96, 95 e 94%; e para a umidade de abertura. Os valores da densidade
Foram realizados dois cultivos do
relativa do ar mínima diária, 40, 40, 39, seca foram: 1.691 kg m-3 para a areia,
tomateiro do grupo cereja, cultivar
38 e 37%. 58 kg m-3 para o bagaço de cana-de-açú-
Sindy, em casa de vegetação, no Setor
O delineamento experimental ado- car e 186 kg m-3 para a casca de amen-
de Olericultura e Plantas Aromático-
tado foi em parcelas subdivididas com doim. A distribuição do tamanho de par-
Medicinais, na UNESP em Jaboticabal.
sete substratos (nas parcelas) e três épo- tículas dos componentes dos substratos
O clima, segundo a classificação de
cas de caracterização física dos encontra-se na Tabela 1.
Köppen, é do tipo Aw com transição
para Cwa. A casa de vegetação foi substratos (nas subparcelas). As parce- Posteriormente, os componentes fo-
construída em estrutura metálica, do tipo las foram agrupadas em blocos ram misturados nas diferentes combina-
teto em arco, com 3 m de pé-direito, 30 casualizados, com quatro repetições. A ções e a granulometria dos substratos
m de comprimento e 8 m de largura, unidade experimental foi representada (Tabela 1) foi determinada como des-
coberta com filme de polietileno trans- por dois vasos, contendo uma planta por crito anteriormente.
parente, aditivado contra raios vaso. Os vasos utilizados foram de plás- Procedeu-se, então, ao preenchimen-
ultravioleta, com 150 mm de espessura, tico de cor marrom, com capacidade to dos vasos com os diferentes

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C Fernandes et al.

A. Colocou-se 1L de substrato no fundo do B. Adicionou-se substrato lentamente para tade dos vasos foi utilizada para poste-
vaso e posicionou-se o anel volumétrico no preencher o anel volumétrico e o vaso. rior caracterização física dos substratos.
centro do vaso. A outra metade dos vasos, utilizada no
primeiro cultivo, foi utilizada no segun-
do cultivo. Para isso, os substratos não
foram removidos dos vasos. Somente a
parte aérea da planta, proveniente do
primeiro cultivo, foi retirada, cortando-
se a haste próximo à superfície do
substrato, deixando-se o sistema
radicular. Para a determinação das pro-
priedades físicas dos substratos, após o
primeiro (C1) e segundo cultivo (C2), os
vasos foram desmontados, e os anéis
volumétricos foram cuidadosamente
C. Prosseguiu-se com o preenchimento do D. Vaso e anel volumétrico totalmente pre- retirados dos vasos, conforme apresen-
vaso e do anel volumétrico. enchidos. tado na Figura 2.
As variáveis avaliadas foram subme-
tidas à análise de variância, e as médias
comparadas pelo teste de Tukey a 5%
de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados demonstraram que


houve diferenças significativas nas pro-
priedades físicas dos sete substratos,
exceto para o volume de água
tamponante. Entretanto, somente o
Figura 1. Preenchimento dos vasos. substrato S7 (1/3 A + 1/3 BC + 1/3 CA)
apresentou alterações nas propriedades
físicas em função da sua utilização nos
substratos. No centro de cada vaso, foi meira determinação das propriedades dois cultivos (Tabela 2).
colocado um anel volumétrico de PVC físicas dos substratos (C0). Porém, como Os valores da densidade seca dos
com aproximadamente 285 cm3 (7,2 cm a casa de vegetação não comportava o substratos (Ds) decresceram com a di-
de diâmetro e 7,0 cm de altura), confor- número de vasos necessários para reali- minuição do volume de areia e o aumen-
me apresentado na Figura 1, com o ob- zar essa caracterização, reproduziu-se to de bagaço de cana-de-açúcar (BC) e/
jetivo de determinar densidade seca, essa fase em laboratório. Para tanto, fo- ou de casca de amendoim (CA) (Tabela
porosidade total (PT), espaço de aeração ram utilizados 35 vasos (cinco 2), porque os valores de densidade seca
(EA), água facilmente disponível replicações de cada um dos sete dos componentes BC (58 kg m-3) e CA
(AFD), água tamponante (AT) e água substratos), que foram preenchidos com (186 kg m-3) foram menores, quando
remanescente (AR), segundo De Boodt os diferentes substratos, conforme des- comparados com a densidade seca da
& Verdonck (1972), nas três épocas de crito anteriormente. Diariamente, os 35 areia (1.691 kg m-3).
caracterização física dos substratos. vasos receberam, manualmente, o mes- Os valores da porosidade total dos
As épocas de caracterização física mo volume de água que os vasos substratos (PT) aumentaram com a di-
dos substratos foram: C0 = antes do pri- alocados na casa de vegetação recebe- minuição do volume de areia e o aumen-
meiro cultivo, C1 = após o primeiro cul- ram, via irrigação. Após uma semana, os to de bagaço de cana-de-açúcar (BC) e/
tivo e C2 = após o segundo cultivo. 35 vasos foram desmontados e os anéis ou de casca de amendoim (CA) (Tabela
volumétricos foram cuidadosamente re- 2), possivelmente em decorrência da
Antes do transplantio das mudas
tirados dos vasos, conforme apresentado redução na quantidade de partículas
para o primeiro cultivo, os vasos já pre-
enchidos com os diferentes substratos na Figura 2, para a determinação das pro- menores, provenientes do componente
foram alocados na casa de vegetação e priedades físicas dos substratos, antes do areia, e aumento na quantidade de par-
irrigados, durante uma semana, a fim de primeiro cultivo (C0). tículas maiores, provenientes dos com-
promover a acomodação natural das Para o primeiro cultivo, todos os ponentes BC e CA. A areia apresentou
partículas dos substratos e uniformizar vasos foram preenchidos com os dife- predominância de partículas com diâme-
a umidade dos substratos dentro do vaso. rentes substratos até então não utiliza- tro entre 0,125 mm e 0,50 mm, o baga-
Depois desse período, realizou-se a pri- dos. Após o primeiro cultivo, uma me- ço de cana-de-açúcar com diâmetro

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Alterações nas propriedades físicas de substratos para cultivo de tomate cereja, em função de sua reutilização

maior que 0,25 mm e a casca de amen- A. Entornou-se o vaso dentro de uma ban- B. Retirou-se o substrato até encontrar o
doim com diâmetro entre 1,00 e 4,00 deja. anel volumétrico.
mm (Tabela 1).
O maior valor do espaço de aeração
(EA) e o menor valor da água facilmen-
te disponível (AFD) foram observados
no substrato com 1/3 A + 1/3 BC + 1/3
CA (Tabela 2), provavelmente, por cau-
sa da sua granulometria. Esse substrato
apresentou a maior porcentagem de par-
tículas com diâmetro maior que 1,0 mm
e a menor porcentagem de partículas
com diâmetro entre 0,25 mm e 1,0 mm
(Tabela 1). De acordo com Richards et
al. (1986) e Abad et al. (2004), partícu-
las com diâmetro maior que 1,0 mm for- C. Nivelou-se as duas extremidades do anel D. Anel volumétrico pronto para a caracte-
mam poros responsáveis pelo volumétrico. rização física.
armazenamento de ar e partículas com
diâmetro entre 0,25 mm e 1,0 mm for-
mam poros responsáveis pelo
armazenamento de água facilmente dis-
ponível às plantas.
Comparando-se as épocas de carac-
terização física do substrato S7, antes
(C0) e depois do primeiro cultivo (C1),
observou-se que o valor da densidade
seca (Ds) aumentou e proporcionou a
redução da porosidade total (PT) (Ta-
bela 2). Os volumes do espaço de
aeração (EA) e da água remanescente
Figura 2. Retirada dos anéis volumétricos.
(AR) diminuíram, e o volume da água
facilmente disponível (AFD) aumentou.
Assim, durante o primeiro cultivo, cons-
tatou-se a redução do volume total de primeiro cultivo, pode ter sido ses componentes. Assim, as partículas
poros e a alteração no tamanho dos po- provocada pela irrigação, que promoveu maiores, que proporcionavam a forma-
ros do substrato S7. Esses resultados a movimentação das partículas do ção de poros maiores, responsáveis pelo
corroboram com aqueles obtidos por substrato, fazendo com que as menores armazenamento de ar, reduziram de ta-
Verlodt et al. (1985), que observaram ocupassem os espaços formados entre manho e passaram a formar poros me-
aumento da densidade, diminuição da as maiores. Além disso, o desenvolvi- nores, responsáveis pelo
porosidade total, aumento do volume de mento do sistema radicular do tomatei- armazenamento de água.
água e diminuição do volume de ar no ro também pode ter promovido o A redução do volume de água rema-
substrato reutilizado por cinco anos. arrastamento das partículas do substrato. nescente (AR) do substrato S7, observa-
Comparando-se as épocas de carac- Essa movimentação e acomodação das da durante o primeiro cultivo, pode ter
terização física do substrato S7, antes partículas promoveram o adensamento sido provocada pelo desenvolvimento
(C1) e depois do segundo cultivo (C2), do substrato e, conseqüentemente, a re- de raízes finas entre as partículas do
observou-se redução do EA e aumento dução da porosidade total. Porém, du- substrato, promovendo o aumento do
da AFD (Tabela 2). Assim, durante o rante o segundo cultivo, não se obser- diâmetro dos poros. Assim, reduziu o
segundo cultivo, constatou-se apenas a vou redução do volume total de poros, volume de poros responsáveis pelo
alteração no tamanho dos poros do possivelmente porque a relação entre armazenamento de água remanescente
substrato S7. Esses resultados corrobo- massa e volume do substrato S7 acondi- e aumentou o volume de poros respon-
ram com aqueles obtidos por Baevre & cionado no vaso estabilizou-se durante sáveis pelo armazenamento de água fa-
Guttormsen (1984), que observaram re- o primeiro cultivo. cilmente disponível.
dução do volume de poros maiores e A alteração no tamanho dos poros Ao contrário do substrato S7 (1/3 A
aumento do volume de poros menores, do substrato S7, observada durante os + 1/3 BC + 1/3 CA), os demais
sem, entretanto, alterar a porosidade to- dois cultivos, pode ter sido provocada substratos não apresentaram alterações
tal do substrato reutilizado. pela decomposição do bagaço de cana- nas propriedades físicas em função da
A redução do volume total de poros de-açúcar e da casca de amendoim, re- utilização nos dois cultivos (Tabela 2).
do substrato S7, observada durante o duzindo o tamanho das partículas des- Possivelmente, por possuir maior volu-

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C Fernandes et al.

Tabela 2. Densidade seca (Ds), porosidade total (PT), espaço de aeração (EA), água facil-
mente disponível (AFD), água tamponante (AT) e água remanescente (AR), em três épocas AGRADECIMENTOS
de caracterização, dos sete substratos utilizados no cultivo do tomateiro do grupo cereja,
cultivar Sindy, em casa de vegetação. Jaboticabal, UNESP, 2004.
Ao CNPq, pela concessão da bolsa
de doutorado.

LITERATURA CITADA

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1
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2
S1 = A; S2 = 2/3 A + 1/3 BC; S3 = 2/3 A + 1/3 CA; S4 = 2/3 A + 1/6 BC + 1/6 CA; S5 = 1/2 A CARRIJO OA; VIDAL MC; REIS NVB; SOU-
+ 1/2 BC; S6 = 1/2 A + 1/2 CA e S7 = 1/3 A + 1/3 BC + 1/3 CA; onde A = areia; BC = bagaço ZA RB; MAKISHIMA N. 2004. Produtividade do
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98 Hortic. bras., v. 24, n. 1, jan.-mar. 2006

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