Você está na página 1de 4

VI ENCONTRO NACIONAL SOBRE SUBSTRATOS PARA PLANTAS

MATERIAIS REGIONAIS COMO S UBSTRATO


9 a 12 de setembro de 2008 - Fortaleza - CE - Realização: Embrapa Agroindustria Tropical, SEBRAE /CE e UFC

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DE SUBSTRATOS FORMULADOS A PARTIR DE


CASCA DE PINUS E TERRA VERMELHA

Fernanda Ludwig 1; Dirceu Maximino Fernandes 2,3; Luiz Vitor Crespaldi Sanches2; Roberto Lyra Villas
Bôas2,3.
1
Doutoranda em Agronomia / Horticultura; ludwig.fernan da@yahoo.com.br; Depto. Rec.Naturais/Ciência do Solo,
FCA/UNESP, R. Dr. José Barbosa de Barros, 1170, CEP: 18 .603-970. Botucatu, SP; 2 Depto. Rec. Naturais/Ciência
3
do Solo, FCA/UNESP, Botucatu, SP ; bolsista CNPq.

RESUMO
O objetivo deste trabalho foi ca racterizar fisicamente diferentes substratos formulados a partir de
casca de pinus e terra vermelha. O experimento foi desenvolvido em laboratório do
Departamento de Recursos Naturais, área de Ciência do Solo da FCA / UNESP de Botucatu, SP.
O mesmo constou de 5 tratamentos, sendo: 1 – 40% terra vermelha (TV) + 40% casca pinus fina
(CF) + 20% casca pinus grossa (CG); 2 – 60% casca fina + 40% casca grossa; 3 – 100% casca
fina; 4 – 40% terra vermelha + 60% casca fina; 5 – 50% terra vermelha + 50% casca fina, em 4
repetições. Avaliou-se densidade úmida e seca, relação sólido / água / ar e granulometria. A
adição de casca de pinus grossa contribuiu para a diminuição da densidade dos substratos,
melhorando a relação sólido / água / ar , principalmente pelo aumento de partículas de maiores
granulometrias.
Palavras-chave: substrato, caracterização física, densidade, porosidade.

ABSTRACT
The objective of this study was to characterize different substrate physically formulated starting
from pine bark and soil. The experiment was developed at laboratory of the Departamento de
Recursos Naturais, área de Ciência do Solo da FCA / UNESP de Botucatu, SP . The same
consisted of 5 treatments, being: 1 – 40% soil + 40% fine pine bark + 20% coarse pine bark;
2 – 60% fine pine bark + 40% coarse pine bark; 3 - 100% fine pine bark; 4 – 40% soil + 60% fine
pine bark; 5 – 50% soil + 50% fine pine bark, in 4 repetitions . Was evaluated humid and dry
density, relationship solid / water / air and particle size. The addition of coarse pine bark
contributed to the decrease of the density of the substrate , improving the relationship solid / water
/ air, mainly for the increase of particles of larger particle size.
Key-words: substrate, physical characterization, density, porosity.

O substrato exerce grande influência na produção de flores e plantas ornamentais, em


especial as de cultivo em vaso, onde há restrição do volume disponível para o crescimento das
raízes. O manuseio de substratos, as proporções e tipos de misturas interferem nas su as
características, devendo o produtor conhecer o material a ser utilizado para evitar perdas na
produção.
Segundo Mercurio (2000), as propriedades físicas e químicas representam a condição
fundamental para a escolha do substrato, o qual não é possível de modificar quando a cultura está
em desenvolvimento. É imprescindível que seja realizada a escolha correta do substrato, de
acordo com a necessidade da planta.
VI ENCONTRO NACIONAL SOBRE SUBSTRATOS PARA PLANTAS
MATERIAIS REGIONAIS COMO S UBSTRATO
9 a 12 de setembro de 2008 - Fortaleza - CE - Realização: Embrapa Agroindustria Tropical, SEBRAE /CE e UFC

O comportamento hídrico do substrato deve ser tal que garanta uma eficiente retenção de
água, sem que a sua porosidade de aeração seja prejudicada (SPOMER, 1974). Para
VERDONCK et al. (1983) as propriedades físicas dos substratos devem proporcionar condições
ótimas para o desenvolvimento das plantas, sendo que a relação água facilmente disponível as
plantas e a porosidade de aeração são as mais importantes. Destaca ainda que o equilíbrio entre
estes dois fatores deve ser buscado.
Este trabalho foi realizado com o objetivo de caracterizar fisicamente diferentes substratos
formulados a partir de casca d e pinus e terra vermelha.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi desenvolvido em laboratório do Departamento de Recursos Naturais,


área de Ciência do Solo da FCA / UNESP de Botucatu, SP.
Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado com 5 tratamentos e 4 repetições. Os
substratos utilizados foram: 1 – 40% terra vermelha (TV) + 40% casca pinus fina (CF) + 20%
casca pinus grossa (CG); 2 – 60% casca fina + 40% casca grossa; 3 – 100 % casca fina; 4 – 40%
+ 60% casca fina; 5 – 50% terra vermelha + 50% casca fina.
Avaliou-se a densidade úmida e seca, relação sólidos / ar / água, e granulometria. Os
substratos foram secos ao ar, antes da realização das avaliações.
Para a determinação da densidade, utilizou -se a metodologia da auto-compactação (Brasil,
2006). Após, o substrato foi colocado em estufa a 105°C, por 24 horas, para determinar a matéria
seca do substrato e assim, a densidade seca.
Para a determinação da relação sólidos / água / ar , o substrato foi colocado em anéis
metálicos de volume de 90,48 cm³, calculando a massa com base na densidade. Nestas amostras
foram determinados os conteúdos de água retidos nas tensões de 0 hPa, 10 hPa, 50 hPa e 100 hPa
em mesa de tensão e panela de pressão. Estes anéis foram postos para saturar durante 24 horas,
quando então foram pesados, tendo-se assim o peso saturado (0 hPa). Após a mesa de tensão foi
ajustada para as demais tensões, sendo pesada após a permanência dos mesmos durante 24 horas.
Para a tensão de 100 hPa, utilizou -se a panela de pressão. Determinou-se a porosidade total (PT),
espaço de aeração (EA), água disponível (AD) e água remanescente (AR), conforme De Boodt e
Verdonck (1972).
A granulometria foi determinada pelo tamisamento via seca, peneirando 100 g de cada
substrato seco ao ar, o qual era acoplado em um jogo de peneiras com malha de 4,00 – 2,00
– 1,00 – 0,50 – 0,25 – 0,125 mm, e agitado por 5 minutos. As frações retidas em cada peneira
foram pesadas e calculadas as porcentagens sobre o peso total das amostras .
Os dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F, utilizando o teste de Tukey
a 5 % com o uso do programa estatístico Sisvar (Ferreira , 2000).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com os valores sugeridos por Kämpf (2000), os substratos 2 e 3 (Tabela 1) são
recomendados para uso em vasos de 20 a 30 cm de altura (DS: 300 a 500 kg m -3), e os demais,
são recomendados para vasos maiores. As menores densidades encontradas nos substratos 2 e 3
estão relacionadas ao uso de casca de pinus grossa na composição, o qual aumentou também a
VI ENCONTRO NACIONAL SOBRE SUBSTRATOS PARA PLANTAS
MATERIAIS REGIONAIS COMO S UBSTRATO
9 a 12 de setembro de 2008 - Fortaleza - CE - Realização: Embrapa Agroindustria Tropical, SEBRAE /CE e UFC

porosidade total destes materiais. Segundo Fermino (2003) substratos compostos por casca de
pinus têm a densidade diminuída.
À medida que a proporção de terra vermelha era aumentada, a densidade seca também
apresentava comportamento crescente. Quanto mais alta a densidade, mais difícil é o cultivo em
recipiente, pela limitação no crescimento das plantas (Kämpf, 2000), pela dificuldade de
penetração e desenvolvimento das raízes e pela redução no volume de poros. Entretanto, quanto
mais baixa a densidade do substr ato, mais difícil é o uso em recipientes grandes, devido a maior
facilidade de tombamento.

Tabela 1. Valores médios de densidade úmida (DU) e seca (DS) ( kg m-3), porosidade total (PT),
espaço de aeração (EA), água facilmente disponível (AFD), água tampon ante (AT) e
água remanescente (AR) (%), em substratos formulados à base de casca de pinus e terra
vermelha. Botucatu, 2008.
Substrato DU DS PT EA AFD AT AR
--------kg m-3------- --------------------------%-------------------------------
1 797,7 ab 691,2 b 69,9 ab 6,3 b 15,1 ab 14,5 a 34,5 b
2 593,9 d 451,7 c 71,7 a 9,2 a 15,4 a 9,9 b 37,2 b
3 667,9 c 484,3 c 73,3 a 6,9 ab 13,7 bc 11,9 ab 40,8 a
4 763,7 b 668,8 b 70,4 ab 8,4 ab 13,3 cd 12,9 a 35,8 ab
5 838,8 a 768,7 a 68,0 b 7,4 ab 11,9 d 14,5 a 34,2 b
Substrato ** ** ** * ** ** **
CV (%) 4,09 4,02 2,21 13,52 4,92 9,93 3,20
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. *; **
significativo a 5 e 1%, respectivamente. Substratos: 1 – 40% TV + 40% CF + 20% CG; 2 – 60% CF + 40% CG;
3 – 100% CF; 4 – 40% TV + 60% CF; 5 – 50% TV + 50% CF.

A maior porosidade foi obtida no substrato 3, formado somente por casca de pinus fina n
(Tabela 1), entretanto, abaixo do valor considerado ideal, de 85% (De Boodt e Verdo nck,1972).
Porém, o espaço de aeração foi baixo, inferior à faixa ideal de 20 a 40% (De Boodt e Verdonck,
1972) do volume e apresentou água remanescente superior ao recomendado, de 20 a 40%. O
volume de água retido foi superior no substrato 3, por apresent ar um maior volume de
microporos, conferido pela maior proporção de partículas menores que 0,25 mm.
De acordo com Fermino (2003), partículas de tamanho inferior a 1 mm causam um
brusco decréscimo na porosidade e aumento na retenção de água. Isto pode ser registrado nos
substratos testados, pois a porção mais significante das partículas situou -se entre 0,5 a 0,25 mm
(Tabela 2), e sua porosidade foi inferior ao recomendado.
É importante que haja um equilíbrio entre o espaço de aeração e água disponível, por ém,
verificou-se que houve um baixo espaço de aeração e alta retenção de água, o que pode ser
prejudicial à planta, por reduzir a oxigenação para as raízes.
Os substratos 4 e 5 apresentam poucas partículas grandes, sendo constituído
principalmente por tamanhos entre 1 a 0,25 mm (Tabela 2). Substratos com grande porcentagem
de partículas pequenas tornam -se inadequados para vasos menores, pois retêm mais água e
diminui o espaço de aeração. A baixa porosidade e baixo espaço de aeração podem estar
relacionados com a grande quantidade de partículas de tamanho reduzido, aliando a isso uma alta
densidade.
VI ENCONTRO NACIONAL SOBRE SUBSTRATOS PARA PLANTAS
MATERIAIS REGIONAIS COMO S UBSTRATO
9 a 12 de setembro de 2008 - Fortaleza - CE - Realização: Embrapa Agroindustria Tropical, SEBRAE /CE e UFC

Tabela 2. Valores médios da distribuição do tamanho das partículas (%), em substratos


formulados à base de casca de pinus e terra vermelha. Botucatu, 2008.
Substrato > 4 mm 4 a 2 mm 2 a 1 mm 1 a 0,5 mm 0,5 a 0,25 mm < 0,25 mm
----------------------------------%----------------------------------
1 13,1 a 15,5 ab 16,2 b 20,2 a 24,2 ab 10,8 c
2 11,5 ab 17,9 a 18,0 a 18,2 b 23,3 b 14,2 bc
3 11,0 ab 13,7 b 16,2 b 18,1 b 22,8 b 18,2 a
4 7,1 c 13,3 b 16,3 b 21,1 a 27,4 a 14,9 ab
5 8,8 bc 13,9 b 16,0 b 20,3 a 25,6 ab 15,2 ab
** ** ** ** ** **
CV (%) 14,24 10,55 3,82 2,81 7,55 12,19
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste d e Tukey a 5%. **:
significativo a 1% de probabilidade . Substratos: 1 – 40% TV + 40% CF + 20% CG; 2 – 60% CF +
40% CG; 3 – 100% CF; 4 – 40% TV + 60% CF; 5 – 50% TV + 50% CF.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Instrução Normativa n° 46 de 12/09/2006. (Aprova os Métodos Analíticos Oficiais


para Análise de Substratos e Condicionadores de Solos, na forma do Anexo à presente
Instrução Normativa). Diário Oficial da União, n° 177 de 14/09/2006. 2006

DE BOODT, M.; VERDONCK, O. The physical properties of the su bstrates in horticulture.


Acta Horticulturae, Wageningen, v.1, n.23, p.37 -44, 1972.

FERREIRA, D.F. Análises estatísticas por meio do Sisvar para Windows versão 4.0. In...45a
Reunião Anual da Região Brasileira da Sociedade internacional de Biometria. UFSCar , São
Carlos, SP, Julho de 2000. p.255 -258.

FERMINO, M. H. Métodos de análise para caracterização física de substratos para planta .


2003. 89f. Tese (Doutorado em Fitotecnia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto
Alegre, 2003.

KÄMPF, A. N. Produção comercial de plantas ornamentais. 2000. 254 p.

MERCURIO, G. Gerbera cultivation in greenhouse . The Netherlands: Schreurs, 2002. 206 p.

SPOMER, L. A. Two classroom exercises demonstrating the pattern of container soil water
distribution. Hortscience. v.9, n.2, p.152- 153, 1974.

VERDONCK, O.; PENNINCK, R.; DE BOODT, M. The physical properties of different


horticultural substrates. Acta Horticulture 150. p.155-160, 1983.

Você também pode gostar