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•1
J
CONDUTA
PUNÍVEL i
!
Dissertação apresentada à Faculdade Nacional de Direito,
1
para a Livre Docência da Cadeira de Direito Penal. i
Rua Riochuelo, 201 - 5.° and. (Atrás da Fac. de Direito) - Fone: 37-1252 - S. Paulo
19 6 1
1
CONDUTA PUNÍVEL
HELENO CLÁUDIO FRAGOSO
CONDUTA
PUNÍVEL
Dissertação apresentada à Faculdade Nacional de Direito,
para a Livre Docência da Cadeira de Direito Penal.
Ruo Riochuelo, 201 - 5.° and. (Atrás da Foc. de Direito) - Fone: 37-1252 - S. Paulo
196 1
I
I
TRABALHOS JURÍDICOS DO AUTOR
Em preparo:
Teoria Geral do Delito
Lições de Direito Penal, Introdução e Parte Geral.
B
i
ABREVIATURAS USADAS NESTA OBRA
Aníbal Bruno, Dir. Pen. Aníbal Bruno, Direito Penal, Parte Ge
ral, 1956.
Antolisei, Manuale Francesco Antolisei, Manuale di Diritto
Penale, Parte Generale, 1955.
Asúa, Tratado L. Jimenez de Asúa, Tratado de Derecho
Penal, vols. I/III, 1950/1.
Basileu Garcia, Instituição* Basileu Garcia, Instituições de Direito
Penal, 1954.
Battaglini, Dir. Pen. Giulio Battaglini, Diritto Penale, Par
te Generale, 1949. . f
Beling, Esquema Ernest v. Beling, Esquema de Derecho
Penal (Grundzuege des Strafre-
chts), trad. Soler, 1944.
Bettiol, Dir. Pen. Giuseppe Bettiol, Diritto Penale, Parte
Generale, 1958.
Binding, Handbuch Karl Biding, Handbuch des Strafrechts
1885.
Binding, Normen Karl Binding, Die Normen un ihre
Uebertretungen, vol. I, 1916; vol. II,
1914; vol. IH, 1918 e vtl. IV, 1919.
Carnelutti, Teoria Francesco Carnelutti, Teoria general
del delito, trad. V. Conde, 1953.
Garrara, Programa Francesco Garrara, Programa del curso
de derecho criminal, trad. Soler,
1944.
Delitala, II fatto Giacomo Delitala, II •‘fatto” nella teo
ria generale del reato, 1930.
De Marsico. Dir. Pen. Alfredo De Marsico, Diritto Penale,
1935.
Ferri, Princípios Enrico Ferri, Princípios de Derecho Cri
minal, trad. Rodrigues Munoz, 1933.
Florian, Trattato Eugênio Florian, Parte Generale del
Diritto Penale, vols. I/II, 1934.
Frank, Kommentar Reinhard Frank, Das Strafgesetzbuch
fuer das Deutsche Reich, 1931.
Frank Festgabe Festgabe fuer Reinhard von Frank, vols
I/II, 1930. Publicação em homena
gem a Frank.
Graf Zu Dohna, Aufbau des Alexander Graf Zu Dohna, Aufbau der
Verbrechenslehre Verbrechenslehre, 1950.
Grispxni, Dr. Pen. Filipo Grispini, Diritto Penale Italiano,
vols. I/n, 1950.
viu
| Hellmuth Mayer, Strafrecht Hellmuth Mayer, Strafrecht, Allgemei-
ner Teil, 1953.
i
Kohlrausch-Lange Strafge- Eduard Kohlrausch-Rtchard Lange.
setzbuch Strafgesetzbuch, 1950.
Leipziger Kommentar Ebermayer-Lobe-Rosemberg, Strafgese
tzbuch Kommentar, 8a edição atua
lizada por Jagusch, Mezger, Schae-
fer e Werner, vols. I/II, 1957.
Liszt-Schmujt, Lehrbuch Franz v. Lizt, Lehrbuch des deutschen
Strafrechts, 26.a edição, preparada
por Eberhard Schmidt, 1932.
i M. E. Mayer, Lehbuch Max Ernest Mayer, Der Allgemeiner
Teil des deutschen Strafrechts
Lehrbuch, 1915.
Maggiore, D ir. Pen. Giuseppe Maggiore, Diritto Penale, Par
te Generale, vols. I/II, 1949.
Manzini, Trattato Vincenzo Manzini, Trattato di Diritto
Penale Italiano, vols. I/HI, 1950/52.
Massari, Le dottrine Eduardo Massari, Le dottrine generali
del reato, 1928.
Maurach, Lehrbuch Reinhart Maurach, Deutsches Strafre-
chet, Allgemeiser Teil, ein Lehr
buch, 1954.
Mezger, Strafrechtsdogmatik Edmund Mezger, Moderne Wege der
Strafrechtsdogmatik, 1950.
Mezger, Studienbuch Edmund Mezger, Strafrecht, ein Stu
dienbuch, 9a edição, 1960.
Mezger, Tratado Edmund Mezger, Tratado de Derecho
Penal, trad. Rodriguez Munos, 1955.
Mezger. Festschrift Festschrijf fuer Edmund Mezger, 1954
Publicação em homenagem a Mez
ger.
í Meyer-Allfeld, Lehrbuch Hugo Meyer, Lehrbuch des deutschen
Strafrechts, 8.a edição, preparada
por Phillip Allfeld, 1922.
Nelson Hungria, Nelson Hungria, Comentários ao Códi
Comentários go Penal, vol. I, 1948.
Pannain, Manuale Remo Pannain, Maunale di Diritto Pe
nale, Parte Generale, 1950.
Petrocelli, Principi Biagio Petrocelli, Principi di Diritto
Penale, 1943.
Ranieri, Dir. Pen. Silvio Ranieri, Diritto Penale, Parte
f Generale, 1945.
Rocco, L’oggetto del reato Arturo Rocco, Uoggeto del reato e del
ia tutela giuridica penale, vol. I da?
Opere Giuridiche, 1932.
i Riv. It. ■
Rocco, Lezioni
Rivista Italiana di Diritto Penale.
Arturo Rocco, Lezioni di Diritto Pena
le, 1932*
í Sabatini, Istituzioni Guglielmo Sabatini, Instituzioni di Di
ritto Penale, Parte Generale. 1946
-
IX
Santoro, Circostanze Arturo Santoro, Le circostanze
tt, 1952. < rea_
Santoro, Dir. Pen. Arturo Santoro, Diritto Pendle,
Sauer, Strafrechtslehre Wilhelm Sauer, AUgemeine SíK949.
chtslehre, 1949. hjre-
SCHOENKE-SCHROEDER, Adolf Schoenke, Strafgesetzbuch .
Kommentar mentar, 7* edição, preparad^tom-
Horst Schroeder, 1954. por
Soler, Der. Pen. Sebastian Soler, Derecho Penal 4
tino, vols. I/II, 1954. tfen-
StrAbh Strafrechtliche Abhandlungen,
ção em cadernos (He/íe),
por Hans Benecke e editad^ada
Breslau, desde 1896. em
Von Hippel, Strafrecht Von Hippel, Deutsches Strafrecht^ Al_
Igemeine Grundlagen, vols. t/tt”
1925.
Von Weber, Grundriss Hellmuth Von Weber, Grundris^ ^es
deutschen Strafrechts, 1949.
Welzel, Strafrecht Hans Welzel, Das deutschen Strafrechtt
eine Systematische Darsteliungt
1954.
ZStW Zeitschrift fuer die gesamte Strafrech-
tswissenschaft, revista fundada por
Von Liszt e A. Dochow, editada em
Berlim, desde 1881.
i
Embora o Direito Penal moderno se oriente no sen
tido da culpabilidade, atribuindo a este aspecto do
delito primacial importância, a teoria da ação constitui, i
sem dúvida, o setor mais debatido da teoria do crime,
onde surgem os maiores problemas e as mais graves
incertezas.
O presente trabalho constitui uma tentativa de ela
boração doutrinária da teoria da conduta punível, em
seus vários momentos e aspectos. É dividido em duas
I
partes: a primeira é representada por uma exposição I
doutrinária, e a segunda, pelas conclusões a que chega í
o autor. i
Todo o trabalho é presidido pelo espírito de síntese.
É evidente que cada uma das partes do conjunto poderia
dar lugar a uma obra autónoma, de largas dimensões.
O propósito do autor, todavia, foi o de dar uma visão
ampla dos problemas doutrinários, mantendo-se, porém,
em estreitos limites. A documentação bibliográfica que I
se oferece, servirá para suprir as falhas da exposição e
facilitar a pesquisa dos mais doutos, no estudo de
I
árduos problemas, muitos dos quais apenas puderam ser
I
mencionados.
A matéria que compõe a primeira parte dêste tra
balho, na parte que se refere a conclusões doutrinárias,
não representa, em regra, a opinião do autor. Sempre
que possível, foi seguida a ordem histórica de apareci
mento das questões.
XII
I
í
>
3
i
ÍNDICE
Primeira parte
EXPOSIÇÃO DOUTRINARIA
Ação
I , . lo C'-
Estrutura da ação 27
Vontade e sua manifestação . 28
Face externa do comportamento 30
Espécies de conduta .... 31
Crimes de mera suspeita . 33
Ação em sentido estrito . . . 34
Omissão 87
Causalidade da omissão . . 43
Estrutura da omissão . 52
Antijuridi cidade da omissão 55
XIV
IV
Evento 67
Crimes materiais e formais 74
Evento em relação ao objeto da tutela jurídica . 76
Dano 77
Perigo 80
Limitação do evento 84 i
Relação de causalidade 89
I Teoria da equivalência dos antecedentes . 92
I Teoria da causalidade adequada
Teoria da causa eficiente..................................
98
103
l A questão do nexo causal no direito positivo . 104
A causalidade no direio brasileiro . . . . 106
I
II 1
Tipicidade
1 Conceito de tipo
A tipicidade e a doutrina italiana .
117
127
II 1
!1
Função e estrutura do tipo 131
1
Estrutura do tipo .... 134
Elementos normativos do tipo 138
Elementos negativos do tipo 150
t Ausência de tipicidade . . 153
Tipo de fato e tipo de autor 156
ii
i
XV
SSGUNDA PARTE
CONCLUSÕES
EXPOSIÇÃO DOUTRINÁRIA
2
AÇÃO
1
Teoria naturalista
i
i
8 Heleno Cláudio Fragoso
Teoria sintomática
Teoria normativa
I
Conduta Punível
15
Teoria finalista
8. A teoria finalista resultou de largo desenvolvi
mento doutrinário, fundando-se na filosofia de N. Hart-
3
18 Heleno Cláudio Fragoso
■
II
ESTRUTURA DA AÇÃO
I
I
Lehrbuch, p. 173, evidentemente, as situações de sono e de in
consciência tornam a ação impossível, resolvendo-se com os cri
térios da actio libera in causa.
43. M. E. Mayer, Die schuldhafte Handlung und ihre Arten
im Strajrecht, 1901, p. 18.
44. Maihofer, Der Handlungsbegriff im Verbrechenssys-
■ tem, 1953, págs. 65 e segs.. Welzel afirma que, excluindo a vo-
! luntariedade do conceito de comportamento, Maihofer estabe-
j lece um conceito que é pré e sub-humano, compreendendo inclu-
i sive o comportamento animal (Strafrecht, p. 27). Antolisei,
Uazione e Vevento nel reato, 1928, págs. 59/60, entendendo que
i o coeficiente psíquico da ação non deve ravvisarsi nella volon-
tarietà delVatto, sibbene nelVattribuità delVatto al soggetto; in
i altri termini: nella “suità,” delVatto. Ecco il minimum sufficiente
per Vesistenza delVazione. Destacando a relevância excepcio-
/ nal da vontade, Maggiore, Dir. Pen., vol. I, p. 241, afirma: noi
{ i crediamo che a nessun costo in un diritto penale, a base ética.,
<5 si debba uscire dal concetto di volontà, che è assolutamente
I! fondamentale.
Conduta Punível 29
\/
I u
<
I ’
j 46. Entre muitos outros, cf. Mezger, Tratado, vol. I, p. 215;
—Maggiore, Dir. Pen., vol. I, p. 239.
47. É famosa a regra de Ulpiano, contida no Digesto: co-
i ! gitationis poenam nemo patitur (D. 48.19.18). Os glosadores for
mularam a regra: Statuti puniunt factum et non animum. Em
V alemão há um ditado antigo, que reza: pensamento não paga
I ” I imposto (Gedanken sind Zollfrei).
I
I
1
Conduta Punível
31
por um fazer ou por uma omissão48. Sabatini r-
P°rém,
sustentava que não é indispensável uma modificação
do
mundo exterior, como manifestação da conduta penal
mente relevante: “O caráter comum da ação e da omis'
são é o de determinar uma situação an tijurídica no
mundo exterior, modificando-o quando a lei comanda
deixá-lo imudado, e deixando-o imudado quando a lei
impõe o contrário•”40. Outros preferem falar em efeti-
vação da vontade 50, o que torna mais fácil compreen-
der a ação e a omissão como espécies de um conceito
superior de conduta.
Espécies de conduta
4
'l I-
it
■- I
Ação em sentido estrito
OMISSÃO
!
À teoria normativa censura-se o fato de antecipar o
' juízo de ilictude; de tornar a omissão parte da teoria da
antijuridicidade, pois só esta pode dizer quando uma
I ação é esperada ou devida, o que depende do dever jurí
dico de agir °9. Afirma-se, por outro lado, que faz da
omissão o produto de um juízo de outrem, e não uma
r
realidade existente por si mesma70. \
Realmente, alguns partidários da teoria normativa
i deslocam a omissão para o campo da antijuridicidade,
i
entendendo que somente aí pode ela ser entendida.
I Mezger afirma que, dentro de uma concepção rigorosa
mente sistemática, a omissão pertence à antijuridicidade
I' i
f
I
68. A teoria normativa é hoje amplamente dominante.
Cf., além dos autores já mencionados, Grispigni, Dir. Pen., vol.
II, p. 30; Bettiol, Dir. Pen., p. 196; Ranieri, Dir. Pen., p. 172;
Santoro, Dir. Pen., p. 138; Pannain, Manu ale, p. 214; Sabatini,
i! Istituzioni, vol. I, p. 293. Na Alemanha, pràticamente não se
i cogita de uma concepção naturalista da omissão. São poucos
os autores que se opõem à teoria da ação esperada (Erwartungs-
theorie). Entre êles estão M. E. Mayer, Lehrbuch, p. 108; Wel-
zel. Strafrecht, p. 148; Armin Kaufmann, Die Dogmatik der
i
Unterlassungsdelikte, 1959, p. 56. Êste último afirma que a
teoria tem caráter puramente metafórico (metaphorische Cha-
i rakter). Welzel entende que a teoria não é correta, porque
J há omissão mesmo nos casos em que a ação não era esperada
por aquêle a quem beneficiaria. É evidente, porém, que não é
nesse sentido que se fala em ação esperada. O esperar aqui
j
é uma categoria que independe do juízo de qualquer indi
víduo, constituindo uma exigência objetiva da ordem jurídica.
í T A propósito, com precisão, Gallas, Zum gegenwaertigen Stand
der Lehre vom Vefbrechen, p. 10.
Causalidade da omissão
|1!
I 1 !
realizar 73 A causalidade, pois, a ser considerada era a
l : I que se relacionava com a ação praticada durante a omis
são. Contra esta teoria foram apresentadas objeções se
ríssimas. Krug, ironicamente, observava que, se a mãe
deixa o filho morrer de inanição, enquanto costura meias,
i
causa da morte da criança seria o fato de costurar
meias... Observou-se, ainda, que é possível ao agente
não praticar qualquer outra ação enquanto omite a que
é devida, e que de forma alguma pode o direito atribuir
relevância à conduta diversa, que é indiferente, nem
precisando ser constatada. Por outro lado, enquanto
: omite, pode o agente praticar muitas outras ações diver-
' sas, que não podem, em conjunto, constituir o elemento
físico da omissão74.
Outros autores (Krug, Glaser, Merkel) procura
1;
ram reconhecer o elemento físico e causal da omissão na
! ação que imediatamente a precedia. Tal ação seria,
assim, causa do resultado injurídico. Esta teoria, esbar
rava na dificuldade intransponível de não ser possível
Ii
73. Favoráveis à teoria do aliud agere: Luden, Ueber den
I
Tatbestand der Verbrechen, 1840, p. 250; Massari, II momento
! si esecutivo, p. 56; Delitala, II fatto, p. 134; Redslob, Die krimi-
nelle Unterlassung, StrAbh, Heft 70, p. 13 (1906); Bonucci,
i ’ L’omissione nel sistema giuridico, 1911, p. 17.
74. Petrocelli, Principi, p. 305; Antolisei, Manuale, p.
' Íl u 155; Aníbal Bruno, Dir. Pen., vol. I, p. 301-noía; Dall’Ora,
:I : Condotta omissiva, p. 83. Grispigni, Dir. Pen., vol. II, p. 36,
observa que a teoria do aliud agere é inexata, enquanto con
cebe a omissão como um facere (ação positiva). É exata, po
i rém, enquanto concebe a omissão como uma conduta diversa.
pois de outra forma se chegaria ao absurdo de um crime que,
í
III !
ir11 não sendo uma conduta seria.. .nada. “A conduta diversa,
segundo a concepção normativa, não vem em consideração
como causa, mas só como objeto do juízo de não conformi
dade à conduta devida”.
Conduta Punível 45
i r
h senta) depende de dois pressupostos: o dever de atuar e
que tal atuação evitasse o resultado. Antes, porém,
/ cumpre indagar se o agente tinha possibilidade de reali-
i
I
f zar a ação exigida e se tinha possibilidade de influir no
!
I í resultado77.
I i
I
Conduta Punível
■ i
-S
mi
Hl
■
i
i
mo transcendental de Kant. Welzel, Kausalitaet und Hand~
lung, in ZStW, vol. 51 (1931), p. 705, observa, porém, que há
aqui um equivoco, pois de acordo com a concepção transcen
dental a causalidade não é uma forma de conexão subjetiva
de nosso conhecimento, que nós aplicamos aos objetos, por
• H que nós não podemos compreendê-los diversamente. A cau
salidade é uma lei lógica objetiva, à qual os objetos estariam
submetidos, ainda que nós não existíssemos. Mesmo para o
idealismo transcendental a causalidade é categoria do objeto
(Gegenstandskategorie), que nada tem a ver com a organiza
ção do sujeito. O pensamento de Kant nesta matéria, pode
ser visto na “Crítica da Razão Pura”, trad. José del Perojo,
Buenos Aires, 1957, págs. 218 e segs.. Para Kant, a causalidade
■
i !
II é realmente uma categoria da razão e como tal um conceito
puro do entendimento, que se refere a priori aos objetos da
intuição (p. 220). Kant desenvolveu a concepção de Hume,
para quem na realidade existem apenas sequências, não sendo
a causalidade laço necessário e racional entre duas instâncias.
I Esta posição, como se sabe, foi retomada por vários filósofos
da ciência, no séc. XIX, especialmente Mach, que combateram
a noção de causa, considerando-a vaga e mais metafísica que
científica.
83. Cf., ainda, Frank, Kommentar, p. 17. Beling, Esque
í ma (Grundzuege), resolvia o problema de forma mais simples:
h “Não existe motivo algum para duvidar de que entre o nega
tivo (não fazer) e o positivo (resultado, modificação do mun
do exterior) possa haver relação causal, pois esta dúvida está
I
1
I ■ arraigada em considerações de ordem filosófica (conhecimento
I
í
Conduta Punível 51
Estrutura da omissão
Av /
i
20. Ao estudar a estrutura da ação, vimos que ela
consiste, fundamentalmente, segundo a doutrina domi
nante, na vontade e sua manifestação ou realização. No
que concerne à omissão, porém, a controvérsia é mais
l séria, comprometendo a possibilidade de um conceito
í superior de comportamento, que inclua ambas as espé-
í cies de conduta punível. Liszt afirmava que o conteúdo
psicológico da omissão consiste no voluntário não em
preendimento de um movimento corpóreo80. Mezger
I
censurava a definição de Liszt, mostrando que ela não se
aplica aos crimes de esquecimento. Sustentava, por seu
turno, que a omissão conceitualmente, não precisa ser
voluntária: a omissão pode ser querida, quando é dolosa,
mas em tais casos a exigência do querer pertence à esfera
da culpabilidade, não ao conceito de omissão, o que
afirma ser claro na omissão culposa e nos crimes de es-
/ quecimento. Estabelece-se, assim, a corrente que enten-
! de não pertencer a voluntariedade à essência da
omissão 87.
A maioria dos autores contenta-se com a voluntarie
dade da conduta diversa, o que é uma forma de despistar
o problema fundamental. Grispigni, definindo a omis
são como conduta positiva ou negativa de um sujeito, a
<
88. Grispigni, Dir. Pen., vol. II, p. 38: “Do ponto de vista
naturalístico só existe uma conduta, e só com respeito a essa
é necessário constatar a vontade (p. 41). De acordo: Santoro,
Dir. Pen., p. 142; Maggiore, Dir. Pen., vol. I, p. 269. Contra
esta solução, afirma-se ser inconcebível que a vontade tenha
por objeto o aliud facere, e a culpabilidade o non facere (cf.
Dall’Ora, Condotta omissiva, p. 87).
89. Carrara, Programa, § 126; Delitala, II faito, p. 151.
Antijuridicidade da omissão
94. Cf., entre outros, Von Hippel, Strajrecht, vol. II, p. 153;
Liszt, Lehrbuch (22.a ed.), p. 126; Radbruch, Handlungsbegriff,
p. 141; Sauer, Frank Festgabe, vol. I, p. 213; Vogt, Das Pflicht-
problem der komissiven Unterlassung in ZStW, vol. 63, p. 382;
Mezger, Tratado, vol. I, p. 294; Honig, Frank Festgabe, vol. I,
p. 191. Esta concepção é dominante.
que alguém tenha direito exigível à ação omitida 97. Al <
■
que haja um dever jurídico de agir, afirmando que as
proibições se dirigem a qualquer um, mas as ordens, só
i a um restrito círculo de pessoas 98. Outros afirmam que
a omissão só pode ser equiparada à ação se fôr prelimi
í
narmente estabelecida sua antijuridicidade90, ou que,
tipicamente, a omissão só pode corresponder à ação
quando uma especial relação de dever existe, por força
da qual o agente é chamado a afastar o resultado típico,
através de forças que se lhe oponham 10°. Os partidários
do conceito naturalístico de omissão entendem que a an-
!
I i
cessárias especiais relações jurídicas (besonderen rechtli-
chen Verhaeltnisse). Luden, porém, já sustentava fun
damentação mais ampla, não se limitando à existência
de simples obrigação jurídica de fazer 102. A jurispru
dência e a doutrina são, hoje, no sentido de afirmar a
necessidade de um dever jurídico de agir. Divergem,
porém, grandemente, quando tratam de definir o que
entendem aqui por dever jurídico.
Não há dúvida de que surge dever jurídico de agir
em face da lei: não há quem o negue. A maioria dos
autores, porém, entende que o dever de agir que decorre
dos crimes omissivos puros não basta para fundamentar
o dever de evitar o resultado, nos crimes comissivos por
omissão. Afirma-se que o dever jurídico que surge dos
crimes omissivos puros é um simples dever de agir, ao
passo que nos crimes comissivos por omissão é neces
sário um específico dever de evitar o resultado (Erfolg-
sabwendungspflicht). Meyer-Allfeld esclarecem que o
dever jurídico não se refere aos casos em que a norma
põe uma ordem para agir, e ela mesma comina pena
,1
i
!
Conduta Punível 61
l’'i
112. Asúa, Tratado, vol. III, p. 362, entende que a obriga
ção pode surgir de normas de natureza exclusivamente moral.
De obrigação ética também falava Von Bar, Gesetz und Schuld
im Strafrecht, vol. II, 1907, p. 244. João Bernardino Gonzaga,
O crime de omissão de socorro, p. 65: “O que se pode admitir,
em hipóteses raras, é que se funde no costume”.
113. Welzel, Strafrecht, págs. 155/6; Maurach, Lehrbuch,
p. 245. Grispigni, Dir. Pen., vol. H, p. 55, porém, limita o dever
jurídico na possibilidade de agir, e Antolisei, Uobbligo di impe
dire Vevento, p. 320, no estado de necessidade.
114. Welzel, Strafrecht, p. 156.
I
•I ■
I í
!íi
64 Heleno Cláudio Fragoso
I
I V í t
;r típica, como também da existência de um dever jurí
• i dico de evitar o resultado, bastando o dolo eventual115.
;24.
A esta altura é fácil compreender
x a controvér-
<
sia a que tem dado lugar um conceito superior de com
portamento, que compreenda a ação em sentido estrito
e a omissão. Já fizemos referência à objeção de Rad-
bruch e Graf Zu Dohna, que tem por objeto um con-
; ceito naturalístico. Afirma-se que a omissão é logica
A
mente a negação da ação110. Os que defendem a im
possibilidade de um conceito superior de comportamen
to, entendem que a omissão é um juízo necessàriamen-
li te normativo, de modo que um mesmo comportamento
pode ser, ao mesmo tempo, ação e omissão117.
i
Alguns autores, admitindo como irrecusável esta
premissa, afirmam a unidade do sistema concebendo a
conduta punível de modo puramente formal118, como
! violação de uma norma ou como comportamento refe-
6
PUNÍVEL »
Conduta
alor Partindo dc diferente#
rido a um tl’jna pronunc.lu-.se hoje, de v»"*,
todavia, a do sentido du unidade 6<, Mw*, *.
ou menos paci • c0nccito superior de
l
tÍetXa»^oeaOm'S8S0'"
IV
EVENTO
! *
tam um conceito restritivo de ação, distinguindo-a do
K.z- resultado por ela produzido. Ação seria apenas a sim
ples manifestação de vontade. O evento constituiria,
assim, um conceito distinto, situando-se fora da ação e
• integrando o tipo ou o fato122.
Esta divergência entre os autores conduz a outra,
mais importante, que diz com a própria conceituação
do evento. Surgem aqui duas concepções distintas: a
primeira é a do chamado conceito naturalístico, segun
do o qual se entende por evento o efeito natural da
ação, ou seja, o resultado juridicamente relevante pro
duzido no mundo exterior pelo movimento corpóreo do
agente e a êle ligado por uma relação de causalidade
material123. Haveria, pois, crimes em que não há re-
[
chsstrafrecht, 1922, p. 88; Asúa, Tratado, vol. III, p. 294. Para
I Mezger, Tratado, vol. I, p. 172, no conceito de ação está com
preendido o conceito de resultado. Resultado, porém, é a total
realização típica exterior, ou seja, a totalidade dos efeitos que
produz no mundo exterior o ato de vontade (p. 174), compreen
dendo tanto a conduta corporal do agente, como o resultado
l i exterior (Aussenerfolg). Haveria, assim, um resultado em sen
I H tido estrito (que não é indispensável a todos os crimes)., e um
resultado em sentido lato (cf. Studienbuch, p. 63). Contra a
concepção de Mezger, Grispigni, Dir. Pen., vol. II, p. 59, obser
va: tale terminologia non può servire che ad accrescere la con-
fusione già notevole in tale argomento.
•z122. Esta opinião remonta a Binding, Liszt-Schmidt,
( Lehrbuch, p. 157. Veja-se ainda, no mesmo sentido, Zimmerl,
> Aufbau des Strafrechtssystems, 1930, p. 45; Meyer-Allfeld,
£ \ Lehrbuch, p. 99-nota 7; Antolisei, Uazione e Vevento nel reato,
) 1928, p. 99; Van Calker, Strafrecht, 1927, p. 25; Ranieri, Dir.
d Pen., p. 182; Maurach, Lehrbuch, p. 148; Radbruch, Handlungs-
B
begriff, p. 75.
123. Êste conceito realmente não é naturalístico, porque
introduz um elemento de valor ação jurídica quando limita o
Conduta Punível 69
I
i!
1
70 Heleno Cláudio Fragoso
i
cia do crime 125. Observa-se, por outro lado, que a dis
I tinção entre crimes de dano e de perigo é extremamen
te imprecisa e que a análise de várias figuras de delito
?
demonstra que em muitos casos a existência do crime
não depende da superveniência de um resultado do com
I
portamento, o que basta para tornar válida a categoria
II
IV
de crimes sem evento 12°. Na solução de vários proble
mas, o efeito natural da conduta deve ser considerado
I (relação de causalidade, tentativa, delitos omissivos im
próprios, etc.) e é certo que em várias oportunidades a
lei contrapõe o evento à ação ou omissão. A lei não
se refere a resultado como modificação do mundo jurí
i dico, mas como modificação da realidade exterior, cau
I
sada pela conduta ,27. Santoro chega a dizer que a pró
pria distinção entre crimes dolosos e culposos, que se
funda na voluntariedade ou não do evento, não seria
II !
Pen., p. 100; Battaglini, Dir. Pen., p. 173; Pannain, Manuale,
p. 229; Rocco, L’oggetto del reato, p. 316. Entre nós, Nelson
f
Hungria, Comentários, vol. I, p. 190; Aníbal Bruno, Dir. Pen.,
vol. I, p .291; Basileu Garcia, Instituições, vol. I, p. 204; João
Bernardino Gonzaga, O crime de omissão de socorro, p. 47. Cf.,
I ainda, nesse sentido, Asúa, La ley y el delito, p. 265, bem como
Pisapia, Introduzione, p. 93 e Leone, Del reato abituale, p. 403.
, 131. “Com o vocábulo resultado, o citado artigo designa
o efeito da ação ou omissão criminosa, isto é, o dano efetivo ou
- potencial, a lesão ou perigo de lesão de um bem ou interêsse
-1 í penalmente tutelado. O projeto acolhe o conceito de que não
I há crime sem resultado”.
I -------------
132. Antolisei, Manuale, págs. 160/161, Grispigni, Dir. Pen.,
Dano
I Perigo
pi
ii 31. O conceito de perigo é geralmente referido ao
vI
de dano, sendo, como já vimos, considerado uma especi
ficação do dano, ou dano em potencial. Observava Flo-
rian que é questão puramente terminológica saber se o
! perigo é espécie do dano ou se com êste constitui lesão
ou ofensa.
I • Existem fundamentalmente duas concepções a res
peito do perigo. Uma subjetiva, segundo a qual o perigo
não tem existência concreta, sendo apenas fruto de nossa
imaginação e de nossa incapacidade de conhecer todas
as causas e condições dos fenômenos. Não existem acon
tecimentos perigosos, mas tão somente necessários ou
não necessários153. À teoria subjetiva contrapõe-se a
objetiva, que sustenta haver um perigo objetivo, baseado
i I na possibilidade objetiva de superveniência do dano. O
perigo seria, assim, um trecho da realidade, com existên
cia fundada na experiência comum. Não é verdade que
existam apenas fenômenos necessários ou não necessá
rios, já que podemos afirmar ser um fenômeno possível
ou provável, tendo em vista a potencialidade causal de
seus antecedentes, com base na experiência do que ge
ralmente ocorre154.
Rocco parte da determinação do conceito de possi
bilidade e de probabilidade, junto ao conceito de dano,
I para estabelecer o conceito de perigo. Perigo é a po-
1
tituído de um elemento objetivo e de um elemento subje I -
tivo, o que, aliás, ja era admitido por Rocco 155. Objetiva
mente, constitui perigo o conjunto das circunstâncias e I
condições em que se verifica o fato de que pode surgir
o dano; subjetivamente, integra-o o juízo sôbre o perigo
(Gefahrlichkeitsurteil), ou seja, o juízo que estabelece,
Ií
com base na experiência, a possibilidade ou a probabili F
dade de superveniência do dano. O perigo é, assim, uma
‘I
í
realidade e uma abstração. O juízo deve ser realizado de
!i
acordo com a chamada prognose póstuma, avaliando o
.sujeito ex ante as possibilidades do evento temido. Fa I!
la-se aqui também em perigo subjetivo e perigo objetivo,
conforme o juízo sôbre a existência do perigo seja for
mulado pelo agente ou pelo juiz 15°. A doutrina geral
mente sustenta que o juízo deve ser objetivo, no sentido
de ser estranho ao agente, provindo da coletividade e vá
lido para todos, tendo-se em vista as circunstâncias
II
cognoscíveis pelo homem médio. Em qualquer caso, êsse II í
juízo deve ser formulado pelo julgador 157.
7
82 Heleno Cláudio Fragoso
i ■
l de peritos.
158. Rocco, Uoggetto del reato, p. 303.
159. Florian, Trattato, vol. I, p. 411; Delitala, II fatto,
p. 169; Schoenke-Schroeder, Kommentar, p. 25; M. E. Mayer,
Lehrbuch, p. 128; Von Weber, Grundriss, p. 56; Hellmuth Mayer,
Strafrecht, p. 69.
160. Antolisei, Manuale, p. 161; Petrocelli, Principi,
íI p. 334.
I I 161. Liszt-Schmidt, Lehrbuch, p. 158: Nahe Moeglichkeit.
Meyer-Allfeld, Lehrbuch, p. 100; Mezger, Studienbuch, p. 83.
162. Pannain, Manuale, p. 233; Petrocelli, Principi. p, 334;
Grispigni, Dtr. Pen., vol. H, p. 76. Nelson Hungria, Comentários,
vol. I, p. 195, também declara a insuficiência da mera possibili
dade. Aníbal Bruno observa que é sutilíssima a linha que pode
Conduta Punível 83
Limitação do evento
r, í|
169. Antolisei, Manu ale, p. 159.
170. Florian, Trattato, vol. I, p. 600; Grispigni, Dir. Pen.,
I
I
I
I
I
I;
173. Pannain, Manu ale, p. 231.
í
V
RELAÇÃO DE CAUSALIDADE
1 j
Ii 174. Cf., entre muitos outros, Hegler, Die Merkmale des
Verbrechens, in ZStW, vol. 36 (1915), p. 34-nota; Liszt-Sch-
midt, Lehrbuch, p. 152; Meyer-Allfeld, Lehrbuch, p. 98; M. E.
* Mayer, Lehrbuch, p. 109; Von Hippel, Strafrecht, vol. II, p. 128;
Mezger, Strafrechtsdogmatik, p. 13; Maurach, Lehrbuch, p.
i 172; Beling, Lehre vom Verbrechen, p. 207; Graf Zu Dohna,
Aufbau der Verbrechenslehre, p. 18; Welzel, Strajrecht, p. 34;
’ h
= :■
I
;
Schoenke-Schroeder, Kommentar, p. 21; Hellmuth Mayer,
Strafrecht, p. 126; Sauer, Strafrechtslehre, p. 73; Maggiore, Dir.
Pen., vol. I, p. 260; Petrocelli, Principi, p. 294; Battaglini, Dir.
Pen., p. 166; Carnelutti, Teoria, p. 189; Bettiol, Dir. Pen., p.
203; Grispigni, Dir. Pen., vol. II, p. 85. Engisch, Die Kausali-
I >
taet ais Merkmale der strafrechtlichen Tatbestaende, 1931, p.
I 3, como outros, entende que há relação causal em todos os
crimes, mas em alguns não oferece problema.
(
176. Schoenke-Schroeder, Kommentar, p. 20. Para Be-
ling, Esquema (Grundzuege), p. 65, a causalidade é adequação
ao tipo: “É um êrro metodológico levar a questão da causali
dade a um terreno pré-jurídico e apriorístico, para daí ex
trair consequências de natureza jurídica. O problema jurídico-
-penal de que aqui se trata não é, de modo algum, o problema
u
da causalidade como tal, senão a compreensão do conteúdo
dos delitos-tipos em particular, de uma particular “causali- /
dade típica”’*.. Devemos recorrer à figura e especialmente ao
verbo, que expressa o sentido de causação que quer reprimir”. •
Na mesma orientação, Proebsting, in ZStW, vol. 42, p. 740.
177. Êste entendimento aparece em Radbruch, Frank Fest-
gabe, vol. I, p. 159; Mezger, Strajrechtsdogmatik, p. 14. Em
suas obras anteriores, Mezger seguia a concepção tradicional.
178. Maurach, Lehrbuch, p. 155.
92 Heleno Cláudio Fragoso
Teoria da equivalência
Conduta Punível 93
I
187. Partidários da teoria, da equivalência, na Alemanha:
Welzel, Strafrecht, p. 35; Schoenke-Schroeder, Kommentar, p.
í 23; Von Weber, Grundriss, p. 60; Liszt-Schmidt, Lehrbuch, p.
162; Gerland, Deutsches Reichsstrafrecht, 1922, p. 113; Olshau-
I); ' sen, Kommentar zum Strafgesetzbuch, 1927, p. 56, Von Lilien-
;l i thal, Grundriss, 1916, p. 21; Haelschner, Das gemeine deuts-
íh
nhanges im Straf- und Schadensersatzrecht, 1912. O mais
destacado defensor da teoria (que não teve maior sucesso),
foi Mezger, Tratado, vol. I, p. 243 e Studienbuch, p. 67. Allfeld,
f Lehrbuch des deutschen Strafrechts, 1934, p. 105, observa que
j os resultados da teoria da relevância, coincidem com a teoria
-■ da causalidade adequada. Contra a teoria observa-se, geral-
1 mente, que a questão da relevância é estranha à causalidade.
I’
Conduta Punível 97
8
II 98
I
Conduta Punível
§9
Aperfeiçoando a teoria, Max Ruemelin formulo^
critério da prognose objetiva posterior, segundo a 0
juízo deveria ser realizado pelo juiz, ex ante, iniagiix^0
do-se no momento do fato e considerando tôdas as co^^.
ções existentes e as posteriores previsíveis pelo agente
Ao critério subjetivo, do agente, substituiu-se o critérjo
do homem normal, e mesmo, do homem excepcionai. A
doutrina, via de regra, considera na prognose objetjy^
posterior o critério do homem médio ou do homem nor
mal, mas não faltam os que acrescentam a êste as
condições próprias do agente 195, bem como os que não
excluem um juízo técnico e científico 10°. É evidente
que a teoria em questão introduz uma certa elasticidade
na apreciação do nexo causal (Bettiol). Resumindo as
conclusões da teoria, Florian observava que, em substân-
i
• idónea, e vice-versa. Por outro lado, não exige a pro
babilidade, contentando-se com a possibilidade de certa
I
relevância 202.
207. Art. 40: Nessuno può essere punito per un fatio pre-
veduto dalla legge come reato, se Vevento dannoso o perico-
loso, 7iO7i è co7iseguenza delia sua azione od omissione. Non
impedire U7i evento, che si ha Vobbligo di impedire, equivale
a cagionarlo. Art. 41: II concorso di cause preesistente o si-
multanee o sopravvenute, anche se indipendenti dalVazione o
dalVomissione del colpevole, 7ion esclude il rapporto di causa
lità fra Vazione od omissione e Vevento. Le cause sopravve-
7iute escludO7io il rapporto di causalità quando sono State da
sole sufficiente a deter7?ii7iare Vevento. In tal caso, se Vazione
od omissione costituisce per sè un reato, si appltca la pena
per questo stabilita. Le disposizioni precedenti si applicano
anche qua7ido la causa preesiste7ite o simultânea o sopravve-
nuta consiste nel fatto illecito altrui.
I T
■ If
pressamente a favor da teoria da equivalência. O art. 11
do Cód. Penal não permite dúvidas: “Considera-se causa
a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido”. A Exposição de Motivos é explícita: “O pro
jeto adotou a teoria chamada da equivalência dos antece
I I
! <111 dentes ou da conditio sine qua non. Não distingue entre
causa e condição: tudo quanto contribui in concreto
para o resultado é causa”. Somente de jure condendo
;! •
é possível, assim, à doutrina, pronunciar-se favorável
mente a outra concepção quanto ao nexo causal.
9
I
CONCEITO DE TIPO
Conceito de tipo
F
124 Heleno Cláudio Fragoso
I 'i ■
' I
60. É claro que a teoria do tipo perde muito de
seu interêsse e valor prático, sempre que sua função
de garantia desaparece, através da aplicação analógica
da lei penal. Foi o que sucedeu na Alemanha, com a
II
Escola de Kiel, com o advento do regime nacional-socia
i lista. Para o Direito Penal da Vontade, o delito era
essencialmente um atentado contra a comunidade, se
gundo o “são sentimento do povo alemão”, de modo que
o sentido fundamental do fato punível passava a ser
o de violação de um dever. Em face de tais idéias, a
teoria do tipo, como aspecto objetivo do crime, passou
a um plano secundário, perdendo pràticamente o inte
rêsse 10.
I I
!
!
10
I
II
I
I
63. É mais ou menos generalizado o entendimento
de que ao tipo corresponde, bàsicamente, uma dupla í
função: a de garantia e a de fundamentação do fato
punível32. Por um lado, o tipo limita o poder punitivo I
do Estado, introduzindo um elemento de segurança na
justiça punitiva e excluindo o arbítrio, pois toda ilici- í
I
tude penal só pode ser ilicitude típica. A exata reali
zação da conduta típica constitui pressuposto do crime
e da imposição de pena33. Por outro lado, o tipo fun
damenta a ilicitude penal, constituindo o esquema a
que deve ajustar-se a antijuridicidade (tipo de ilícito),
funcionando como indício ou como expressão da mes
ma 3I.
= i
35. Gallas, Zum gegenwaertigen Stand der Lehre vom
Vefbrechen, 1955, p. 17, afirma que a tendência moderna é no
sentido de uma concepção material. Um conceito livre de valor
é hoje clássico.
36. Cf. n.° 74, infra.
31. Welzel, Das Deutsche Strafrecht, 2.a edição, 1950, págs.
62 e 108. Cf., ainda, seu trabalho, Studien zum System des
Strafrechts, in ZStW, vol. 58, p. 526 (1938).
Conduta Punível 133
Estrutura do tipo
65. A estrutura do tipo tem no verbo que expressa
a conduta punível o seu elemento fundamental, já que
bàsicamente o tipo é a descrição de um comportamento
incriminado. Trata-se, em regra, de um verbo transi
tivo, que surge com seu objeto42. Em geral, não apa
rece no tipo indicado o sujeito ativo, o que ocorre, po
rém, nos crimes próprios. O sujeito passivo, igualmen
te, só em poucas figuras de delito vem determinado.
Há, nos tipos, ainda, elementos relativos ao objeto, ao
lugar, ao tempo, ao instrumento ou aos meios empre
gados, à ocasião, etc. Um estudo comparativo e siste
mático dos tipos constituiria uma parte geral da parte
especial do código, e é reclamada por muitos autores
como indispensável43.
ii
42. Grispigni, Dir. Pen., vol. II, p. 148, lembra como exem
i;
plo de tipo com verbo intransitivo a hipótese de auto-mutila-
ção do código penal militar. Cf. Aníbal Bruno, Dir. Pen., vol. I,
p. 334.
43. O estudo da parte especial do código penal limita-se,
em regra, à exegese, com o que se pode dizer não constitui real
mente ciência do Direito Penal. Deve-se a Grispigni, Dir. Pen..
vol. II, págs. 148 e segs., uma tentativa de estudo sistemático dos
tipos, que examina e classifica segundo as espécies de conduta
— !
I 47. Mezger, Tratado, vol. I, p. 392 e Studienbuch, p. 102.
47 bis. Mezger, Studienbuch, p. 103 e Tratado, vol. I, p.
394; Maurach, Lehrbuch, p. 203.
-- í f
Conduta Punível 137
h
; il'. I
apresentam-se as espécies (e subespécies) de delitos: são
figuras delictivas autónomas. Nas leis penais depen
dentes, surgem figuras delictivas subordinadas, as quais,
sem apoio de uma das espécies delictivas, ficariam no
ar, adquirindo significado jurídico-penal só em união
com uma das mesmas. Estas formas delictivas acessó
I rias, no Direito Penal alemão, Beling afirma serem a
tentativa, a instigação e a cumplicidade: tècnicamente
o legislador teria podido colocar, na parte especial, a
- tentativa de furto e a co-autoria no furto, no homicí
dio, etc., como figuras delictivas autónomas, cada uma
I
Conduta Punível 139
í-
■h!'
Arthur Kaufmann, Unrechtsbewusstsein, 1949, p. 167. Rad-
bruch, Zur Systematik der Verbrechenslehre, in Frank Fest ga
be, vol. I, p. 167, observava que não há qualquer característica
do tipo que não seja, ao mesmo tempo, descritiva e normativa.
Hofmann, Die normative elemente, cit., págs. 8 e 13, sustenta
que a classificação de elementos normativos e descritivos não
significa que êles se situem no mundo dos valores ou no mun
do do ser, mas tão somente, que nos elementos normativos a
valoração é entregue ao juiz, enquanto que nos descritivos tal
valoração já é realizada pelo legislador. Maurach, Lehrbuch,
Hl p. 208, pronuncia-se com reservas sôbre o enquadramento que
fazem Mezger e Schmidt, entre outros, afirmando que a dis
tinção entre elementos descritivos e normativos tem valor
muito restrito, como a prática mais de cem vezes já demons
trou: não erram os que negam a existência de caracteres pu
n- ramente descritivos no tipo. Grispigni, Dir. Pen., vol. II, p.
131, sustenta que a opinião dêstes autores resulta de um equí
voco entre o momento em que se forma a norma e o mo
--11 ■ mento em que ela já está formulada: al dommatico interessa
solo tale secondo momento, rispetto al quale non vi è dubbio
che alcuni concetti delia norma sono meramente descrittivi.
Para Grispigni também a valoração nos elementos normativos
deve ser feita do ponto de vista objetivo do juiz, isto é, segun
do a consciência do povo.
! 63. Apud Kunert, Die normative Merkmale, p. 44: erga-
enzenden Bewertung.
Conduta Punível
*15
ou explícita de um conceito do tipo a quaisquer no^
ou valores (normatividade em sentido estrito ou em
tido próprio) °4.
11
I
i
150 Heleno Cláudio Fragoso
11
152 Heleno Cláudio Fragoso
í
81. Hirsch, Negativen Tatbestandsmerkmale, p. 15.
82. Consideram-no, porém, como êrro de fato vários au
tores, que não aceitam a teoria dos elementos negativos: cf
Schofnke-Schroeder, Kommentar, p. 259.
I
I
i
Conduta Punível 153 i -
í
156 Heleno Cláudio Fragoso
í
função de garantia do tipo 10°. Tendo-se em vista a con
cepção normativa, objetou-se também que nenhum de
seus partidários descreveu um tipo de autor. Tais tipos f
de autor, portanto, segundo Mittermaier, nãho são ho < /
mens em carne e osso, com cérebro e coração, mas con
ceitos normativos que derivam do arbítrio do legislador:
assim, em definitivo, o que vem a'ser apresertfca.do como
k
\ z : tipo de autor é, em realidade, nada mais do qo. e um tipo
ação mm
dea anãn
H uma varía
com nma veste de» autor 102
de fmtnr 1Q2.
CONCLUSÕES
;ia
!
I
CONCEITO DE CONDUTA
u
■
168 Heleno Cláudio .Fragoso
i
172 Heleno Cláudio Fragoso
■I
!■
5-
í
I
II
CONDUTA E TIPICIDAO^^
I
176 Heleno Cláudio Fragoso
1I
III
AÇÃO E OMISSÃO
13
i •
í
d
178 Heleno Cláudio Fragoso
I
I víduo. Pode, assim, dizer-se que a diferença entre ato
e ação é pré-jurídica.
i
87. Ação em sentido estrito é a violação de uma
proibição, um facere quod non debetur, através de uma
atividade positiva, que conduz a um resultado anti-social.
I A omissão pode resultar de uma atividade ou de uma
inatividade. A mãe que deixa o filho morrer de inani-
ção, tanto omite se dorme ou se costura no momento do
fato. Há omissão quando o agente transgride um co
mando, que lhe impõe uma atividade. A omissão con
[ siste em um non facere quod debetur e surge diante
de um comando de agir. São duas as espécies de crimes
jil omissivos: (1) — Omissivos puros, nos quais a omissão
consiste na transgressão pura e simples de um comando
que estabelece um dever de agir; (2) — Omissivos impró
prios ou comissivos por omissão — crimes nos quais a
omissão consiste na transgressão de um dever de impedir
o resultado.
Muitos entendem que este enquadramento da con
duta punível repousa no fato de que as normas penais se
apresentam como proibições (Verbotsnormen) e coman
dos (Gebotsnormen). As primeiras são observadas pela
omissão da atividade proibida, e são transgredidas pela
atuação positiva da conduta proibida. As segundas, são
!
observadas pela atuação positiva que comandam, e trans
gredidas pela abstenção da atividade que impõem. Con
■!í
tra este entendimento, Kelsen afirmava que tôda proibi
ção corresponde a uma ordem ou comando, e vice-versa.
A objeção, todavia, é superficial: evidentemente, a proi
bição de matar corresponde à ordem de respeitar a vida
humana, mas uma e outra constituem uma só e mesma
norma (não matar), que se transgride através de uma
atividade positiva, exigindo a ordem jurídica uma abs-
i.
Conduta Punível 179
i
I
I
I
!
V
OMISSÃO i
I
quecimento da função de garantia do tipo, com nítida
confusão entre o campo do Direito e o da Ética, em si
tuações em que parece não haver nitidamente a cons
ciência de um dever jurídico. Nada impede, porém, que
o direito positivo venha a transformar em dever jurídico
I
o dever moral de agir que decorre de certas situações de
vida. Isto, todavia, é um problema de política criminal,
dependendo da sensibilidade do legislador, e não um pro
1 blema de nosso direito positivo.
É de indubitável procedência a observação que se
I
■
tem feito, de que no caso de negócio jurídico, não é pro
priamente do contrato, que surge o dever jurídico, mas
de sua projeção social, como espécie de dever de direito
público, exercendo-se não em relação ao outro contra
tante, mas ao corpo social. As limitações impostas pelo
contrato e que se fundam no direito privado, não têm,
assim, relevância.
Causalidade da omissão.
í
!
EVENTO
I
192 Heleno Cláudio Fragoso
L
ti !
cias: evento é a realização da conduta típica. Todo
crime tem evento. A distinção entre crimes materiais
e formais é útil e deve ser mantida, mas não se refere
1' aos crimes de resultado e crimes sem evento: esta clas
sificação tem por base o momento consumativo. Cri
mes formais são aqueles que se consumam com a ati
vidade incriminada (ação ou omissão), independente
mente de qualquer outro resultado, ou seja, aquêles em
que ação e evento coincidem, pois a ação realiza,
por si só, a conduta típica. São os chamados crimes de
consumação antecipada. Crimes materiais são os que
exigem um resultado distinto da atividade do agente e
a ela ligado por relação de causalidade. Somente nes
tes últimos é que cabe cogitar da causalidade, sendo
II •
12. Há, no concurso formal, uma múltipla valoração ju
rídica do comportamento.
14
VH
RELAÇÃO DE CAUSALIDADE
I
196 Heleno Cláudio Fragoso
i
l
|
ír
I
VIII
TIPICIDADE
II
200 Heleno Cláudio Fragoso
Função do tipo
I
204 Heleno Cláudio Fragoso
■i Estrutura do tipo
Elementos normativos
9 18. Montesquieu, Uesprit des lois, 1864, liv. XI, cap. VI,
p. 134.
19. Beccaria, Dei delitti e deite pene, Florença, 1950, § IV,
P. 170.
20. Exemplo eloquentíssimo é o do novo código penal so-
viético, de 1958. A legislação do chamado bloco soviético se-
gue, fielmente, a mesma orientação.
15
j
I
210 Heleno Cláudio Fragoso
Ausência de tipicidade
I .
’ I
I
1 i
t
I
IIIIUII
BIBLIOGRAFIA GERAL
1 BIBLIOGRAFIA especial
Sobre omissão:
Sobre evento:
|
Antolisei, La disputa sulVevento, Riv. It., 1934, p. 3; Id., L’evento
I e il nuovo códice penale, Scritti di Diritto Penale, 1955, p. 263; Id.,
i
L’ojjesa e il danno nel reato, 1930; Barsanti, Del delitto esaurito, 1890;
I Battaglini, L’evento come elemento costitutivo del reato, Annali, 1934;
Caiotti, I cosiddetti reati senza evento, Giustizia Penale, 1948, II, p.
769; Carnellutti, II danno e il reato, 1928; Cecchi, Teoria deli’evento
nel reato, 1937; Grispigni, L’evento come elemento costitutivo del
I reato, Annali, 1934, p. 857; Luna, Everardo, O resultado, no Direito
Penal, 1959; Rastiglia, II reato di pericolo nella dottrina e nella le-
gislazione, 1931; Rende, Esistono reati senza evento?, Riv. It., 1935,
p. 663; Riccio, I delitti agravati dali’evento, 1936; Tornaghi, Hélio, A
questão do crime formal, 1944.
,'í
'I
| .! Punti fermi sul problema delia causalità, Scritti di Diritto Penale
Sõbre relação de causalidade:
Antolisei, II rapporto di causalità nel diritto penale, 1934; Id..
1955, p. 287; Asúa, La relación de causalidad y la responsabilidad cri
minal e Nuevas reflexiones sobre la causalidad en matéria penal, in
Conduta Punível ■
217 I
r El Criminalista, tomo U, págs. 107 e 159; Azzali, Contributo alig t
delia causalità nel diritto penale, 1954; v. Bar, Die Lehre vom Kae°ria
!
zusammenhange im Recht, besonders im Strafrecht, 1871;
i L’interruzione del nesso causale, 1953; Id., La causa soprauvenut^1'
sufficiente da sola a determinare Vevento, vn Studi in Memorir? n-
Arturo Rocco, vol. I, 1952, p. 119; Bernau, Causalità adeguata?, Scuoi
Positiva, 1932, p. 112; v. Buri, Ueber Kausalitaet und deren Verant^
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218 Heleno Cláudio Fragoso
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ÍNDICE ALFABÉTICO
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