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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 031.

699/2016-2

VOTO

Trata-se do Relatório Sistêmico do Tema Desenvolvimento com recorte da Região Norte,


doravante denominado de Fisc Norte, abrangendo os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará,
Rondônia, Roraima e Tocantins.
2. Este levantamento, realizado pela Secex/AM, teve a finalidade de produzir diagnóstico
sistêmico sobre o tema desenvolvimento na Região Norte, de modo a apresentar, sob o viés do controle
externo, aspectos atinentes à execução orçamentária federal e aos desafios para o desenvolvimento,
bem como avaliações de algumas políticas públicas e iniciativas federais.
3. Além das informações apuradas na fiscalização pela Secex/AM, este Relatório também
apresenta consolidação dos levantamentos realizados por outras unidades técnicas deste Tribunal nos
sete estados da Região Norte e da fiscalização sistêmica sobre o tema financiamento regional, cujos
processos já foram apreciados pela Corte de Contas (Acórdãos do Plenário 44, 608, 738, 863, 1.078,
1.933 e 1.934, todos de 2016, e 1.655/2017).
4. Relaciona ainda trabalhos relevantes realizados pelo TCU na Região Norte nas seguintes
temáticas: ecoturismo e desenvolvimento sustentável (Acórdão 1.163/2016 – Plenário), regularização
fundiária na Amazônia Legal (Acórdão 627/2015 – Plenário) e fundos de financiamento para o
desenvolvimento da Região Norte (Acórdãos 1.352/2011 – Plenário e 1.991/2012 – Plenário), com o
intuito de trazer para estes autos o mais amplo panorama do desenvolvimento atual da Região Norte.
5. Contribuiu para o Fisc Norte a realização, em Belém/PA, do Diálogo Público – “Amazônia
Sustentável: Desafios para o Desenvolvimento Econômico”, com a apresentação de cinco painéis, com
a participação de governadores, representantes e técnicos de diversos órgãos/entidades, para discussão
dos temas “O Desafio de Desenvolver a Amazônia com Sustentabilidade”, o “Financiamento ao
Desenvolvimento Regional e Visão Integrada dos Órgãos em prol do Crescimento Sustentável”; a
“Marca Amazônia e a Geração de Renda”; os “Desafios e Soluções Factíveis para o Desenvolvimento
da Região Norte”; a “Regularização Fundiária e seus Reflexos no Desenvolvimento Sustentável”.
6. Após o referido evento, ainda em Belém/PA, realizou-se o painel de referência para
validação da análise swot e da matriz de risco dos desafios comuns a maior parte da Região Norte e a
consolidação das propostas de ações de controle a serem adotadas pelo TCU.
7. O Relatório Fisc Norte, organizado em nove capítulos, apresenta desde a visão geral da
Região Norte até o mapeamento dos desafios e a identificação dos principais riscos ao desenvolvimento
regional sustentável.
8. E o resultado do diagnóstico da Região Norte não mostra quadro promissor de alavancagem
do desenvolvimento sustentável, ao contrário, os dados revelam uma série de dificuldades que
atravancam impiedosamente o crescimento socioeconômico sustentável da Região Norte, com pesado
ônus à população regional.
ii
9. No que se refere aos indicadores estratégicos de desenvolvimento, tratados no TC
013.329/2015-4 (Acórdão 608/2016 – Plenário), de minha relatoria, é importante relembrar que o
Índice de Vulnerabilidade Social – IVS, construído pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada –
Ipea, mostra situações de exclusão e vulnerabilidade social. O IVS engloba 16 indicadores estruturados
em três dimensões: infraestrutura urbana, capital humano, renda e trabalho.
10. No grupo de IVS muito alto estão 41,9% dos municípios da Região Norte, situação que
revela o baixo e lento desenvolvimento socioeconômico da região. O Estado do Amazonas tem IVS na
faixa de 80,6% e o Pará 63,6%.
11. A distribuição espacial do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM nos
anos de 1991, 2000 e 2010, nos quais foram realizados Censos Demográficos pelo IBGE, indica
melhora geral no desenvolvimento humano na região, ainda que tal evolução não tenha ocorrido por
igual para todos os municípios do Norte.
12. Em 1991, partiu-se da condição de IDHM “muito baixo” para toda a Região Norte, exceto
para as cidades de Manaus/AM, Boa Vista/RR e Macapá/AP, que apresentavam “baixo” índice; em
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2000, Manaus/AM e algumas capitais regionais evoluíram para o nível “médio” de IDHM, entretanto, a
maioria dos municípios continuaram em situação de índice “muito baixo”, e, finalmente, em 2010,
Manaus/AM alcançou o índice “alto” de IDHM, havendo expressiva ascensão de IDHM ao sul e leste
da Região Norte e na hinterland da Amazônia.
13. Não bastasse a desigualdade de desenvolvimento da Região Norte em relação às demais
regiões brasileiras, a distribuição espacial do IDHM ao longo de 20 anos, comentada alhures, indica
disparidade na evolução do desenvolvimento humano entre os municípios da própria Região Norte.
Algumas cidades, como Manaus/AM, tiveram expressiva melhora no desenvolvimento humano, outras,
em especial as concentradas a oeste da Região Amazônica, com menor concentração populacional,
continuaram com os níveis “baixo” e “muito baixo” de IDHM.
14. Outro instrumento que bem retratou a realidade amazônica é o Índice de Progresso Social –
IPS, elaborado por um grupo de pesquisadores de Havard e que foi metodologicamente aplicado pelo
Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia – Imazon, tomando-se por base dados de 2014. O
IPS revelou indicadores de progresso mais elevados no sul e leste da Amazônia e também nas áreas das
capitais dos estados da região, o que coincide com os resultados apontados pelo IDHM.
15. Interessante observar que a comparação entre o mapa da distribuição espacial do
desmatamento acumulado na Amazônia em 2012 e o mapa de IDHM indica que áreas de desmatamento
coincidem com bons níveis de IDHM, induzindo-se que o modelo de desenvolvimento adotado no
chamado “Arco do Fogo” ou “Arco do Desmatamento” pode estar trazendo melhores níveis de progresso
social e humano, à custa de um passivo ambiental.
16. Nesse contexto, sobressai a importância da Sudam – Superintendência de Desenvolvimento da
Amazônia e da Suframa – Superintendência da Zona Franca de Manaus, como autarquias federais criadas
para o desenvolvimento da Região Norte.
17. Naqueles autos do levantamento de que tratou o TC 013.329/2015-4, já se antevia a premente
necessidade de que os órgãos ministeriais vinculadores dessas duas Superintendências adotassem as
medidas cabíveis, a fim de viabilizar a plena atuação das autarquias no desenvolvimento da Região
Norte, sobretudo em razão das alegadas dificuldades nas áreas de pessoal e de orçamento.
18. E nesse contexto, o Tribunal, dentre outras medidas, recomendou, nos termos do Acórdão
608/2016 – Plenário (subitens 9.1.1, 9.1.1.1, 9.1.1.2, 9.1.2, e 9.1.2.1.), aos órgãos ministeriais
competentes e à Casa Civil, que promovessem estudos com vistas a assegurar o desempenho da Sudam
e da Suframa na finalidade para a qual foram criadas, no sentido de promover o desenvolvimento da
Região Amazônica, bem como que envidassem esforços para implementar os diversos planos de
caráter macrorregional e sub-regionais.
iii
19. Com base no levantamento feito nos autos do TC 011.432/2016-2 (Acórdão 1.655/2017 –
Plenário, rel. do Min. Aroldo Cedraz), acerca do financiamento regional, foram examinados os
montantes de recursos alocados aos estados e municípios, por meio de transferências obrigatórias,
transferências discricionárias, outras transferências, operações de crédito com recursos de origem
pública e arrecadação própria.
20. A unidade técnica destacou, nesse trabalho, os dados relativos à Região Norte, em especial
aqueles que demonstram a alta dependência dos estados e municípios nortistas dos recursos públicos da
União. Como exemplo, tem-se que, em 2014, dos 385 municípios avaliados da Região Norte, 94%
(361) geraram menos de 25% de suas receitas próprias; a União, nesse mesmo ano de referência,
participou com 38% na base de financiamento dos estados e 48% na dos municípios da Região Norte.
21. Comparativamente às demais regiões brasileiras, no período de 2000 a 2014, o Norte foi a
que menos recebeu operações de crédito subsidiadas com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço – FGTS e recursos do Tesouro Nacional e a penúltima em relação à operação de crédito
custeada com recursos do Fundo de Amparo do Trabalhador – FAT. Mesmo assim, nesse período os
recursos oriundos de operações de crédito são percentualmente expressivos em relação às receitas de
geração própria dos entes subnacionais da Região Norte. As regiões sul e sudeste, as mais

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desenvolvidas do país, foram as que mais receberam recursos de operações de crédito subsidiadas com
recursos públicos.
22. Acrescente-se a tais dados a constatação de que quase metade dos municípios da Região
Norte apresentaram situação fiscal considerada fraca nos exercícios de 2006, 2010 e 2014.
23. Dentre os riscos apontados para a Região Norte, destacam-se: a possibilidade de aumento
da dependência dos setores produtivos de estados e municípios em relação a créditos subsidiados,
ocasionando desigualdades inter-regionais, em razão da elevada participação de operações de crédito
com recursos públicos e da sua concentração em determinadas regiões; o aumento no nível de
dependência dos governos municipais e estaduais, o que pode dificultar a sua gestão financeira e
aumentar os riscos da necessidade de socorro financeiro por parte da União; a possibilidade de a
distribuição de recursos públicos entre os entes federativos não estar contribuindo efetivamente para o
desenvolvimento dos municípios.
24. Não se pode perder de vista que tais riscos estão inseridos num cenário em que número
significativo de municípios e estados da Região Norte tem elevada participação de recursos
interfederativos nas suas bases de financiamento, baixa capacidade de geração de receitas próprias,
situação financeira e fiscal frágil e os piores índices de desenvolvimento humano do país. Daí a
necessidade de uma abordagem sobre a estratégia de distribuição de recursos para o financiamento
regional e a efetividade que se espera da aplicação desses recursos para o desenvolvimento da região.
iv
25. Neste levantamento, foram apontados, por eixo, os principais entraves para o
desenvolvimento da Região Norte.
26. No eixo institucional, sobressai a questão da baixa integração entre os diversos planos e os
diversos órgãos voltados para o desenvolvimento regional.
27. Tem-se hoje a Política Nacional de Desenvolvimento Regional – PNDR, o Plano Amazônia
Sustentável – PAS, o Plano Regional de Desenvolvimento da Amazônia – PRDA, a Política de
Desenvolvimento Industrial da Amazônia – PDIAL, o Programa de Integração Inter-regional da
Amazônia, e o Estudo de Identificação de Microeixos de Transporte de Cargas dos Estados do Amapá,
Amazonas e Pará.
28. Porém, nem todas as ações dos planos de desenvolvimento regional estão contempladas nos
planos plurianuais federal e estadual, o que compromete a eficácia na execução desses planos de
desenvolvimento e, via de consequência, acaba por não contribuir efetivamente com a redução das
desigualdades sociais e regionais.
29. A título de exemplo, cabe destacar duas constatações. Os estados da Região Norte não têm
plano estratégico de desenvolvimento de longo prazo, exceto o Estado do Amazonas que possui o
“Planejamento Estratégico de Desenvolvimento do Estado do Amazonas 2030”, ainda que pendente de
validação à época da fiscalização. A outra constatação é de que somente os estados de Roraima e Acre
possuem o Zoneamento Ecológico-Econômico – ZEE.
30. O Zoneamento Ecológico-Econômico, previsto em diversos diplomas legais (Decreto
4.297/2002, Lei Complementar 140/2011, Lei 12.651/2012), constitui instrumento de organização do
território a ser obrigatoriamente seguido na implantação de planos, obras e atividades públicas e
privadas, estabelece medidas e padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a qualidade
ambiental, dos recursos hídricos e do solo e a conservação da biodiversidade, garantindo o
desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida da população.
31. O ZEE tem por objetivo geral organizar, de forma vinculada, as decisões dos agentes
públicos e privados quanto a planos, programas, projetos e atividades que, direta ou indiretamente,
utilizem recursos naturais, assegurando a plena manutenção do capital e dos serviços ambientais dos
ecossistemas.
32. Sem Zoneamento Ecológico-Econômico, a elaboração e execução de planos de
desenvolvimento regional pelos estados fica severamente comprometida: na falta de um mapeamento
das áreas com possibilidade de exploração econômica sustentável não se pode garantir a eficiência e

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eficácia dos planos de desenvolvimento regional sustentável tampouco assegurar que sua
implementação irá reduzir as desigualdades sociais e regionais. É contraproducente aplicar recursos
públicos em políticas de desenvolvimento quando inexiste para a região beneficiada o devido
Zoneamento Ecológico-Econômico que deve ser considerado nos planos de desenvolvimento regional.
33. A Superintendência da Zona Franca de Manaus – Suframa e a Superintendência de
Desenvolvimento da Amazônia – Sudam são autarquias federais, respectivamente vinculadas ao
Ministério da Indústria e Comércio Exterior – MDIC e ao Ministério da Integração Nacional – MI,
voltadas para o desenvolvimento regional da Amazônia.
34. A Suframa administra a Zona Franca de Manaus, implantada para viabilizar uma base
econômica na Amazônia Ocidental (Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima, e as cidades de Macapá e
Santana, ambas no Amapá) e promover a integração produtiva e social dessa região com o restante do
País. Já a Sudam visa a promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia para redução das
desigualdades regionais.
35. Segundo levantamento, a Suframa e a Sudam enfrentam dificuldades relacionadas à
autonomia institucional nas áreas orçamentária, financeira e estrutural.
36. No caso da Suframa, com a edição do Decreto 4.950/2004, a autarquia perdeu a gerência de
suas receitas, haja vista que toda a sua arrecadação passou a ser realizada por meio da conta única do
Tesouro Nacional, havendo, inclusive, contingenciamentos, para composição de superávits primários.
37. No período de 2008 a 2014, do total das receitas arrecadadas pela Suframa, houve
contingenciamento legal de 37% (tabela 14 da instrução transcrita no Relatório precedente). De forma
que, com os contingenciamentos, a autarquia tem, segundo apuração da equipe de auditoria,
dificuldades para o custeio das atividades de sua área meio e também para cumprir sua atividade
finalística.
38. A autarquia relata sérias dificuldades em sua estrutura organizacional. Conforme Nota
Técnica 35/2017 (peça 27), a redução significativa de vinte e três cargos em comissão de direção e
assessoramento superior (DAS), implementada pelo Decreto 8.639/2016; a defasagem remuneratória do
seu quadro de pessoal relativamente aos de outras entidades (tais como o Inmetro e INPI); a expectativa
de 226 vagas de pessoal nos próximos dois a três anos (isto é, até 2020), resultante da possível
aposentadoria de servidores, o que, se efetivamente vier a ocorrer, corresponderá à expressiva saída de
capital humano; a falta de nomeação em cargos efetivos de chefia/direção geral, causando
descontinuidade nos procedimentos, insegurança institucional e prejuízos na gestão do conhecimento;
bem como a manutenção do Centro de Biotecnologia da Amazônia – CBA em sua estrutura, constituem
algumas das questões que, segundo a Suframa, ao longo do tempo podem comprometer o desempenho
institucional nas atividades finalísticas da entidade.
39. Com relação à Sudam, a equipe destacou que a autarquia vem sofrendo um certo
esvaziamento de suas atribuições, com reflexos na condução do desenvolvimento regional.
40. Como exemplo, menciona o fato de a autarquia não exercer sua competência, com base no
Decreto 8.275/2014, art. 4º, inciso XIII, alínea d, na aprovação do regulamento que dispõe sobre
participação do Fundo de Desenvolvimento da Amazônia – FDA, o qual é gerido pela própria Sudam
(Lei Complementar 124/2007, art. 16), porquanto o Ministério da Integração Nacional, por meio de
portarias, tem estipulado diretrizes e orientações gerais para a definição de propostas de programação
do FDA e do Fundo Constitucional do Norte.
41. Além disso, há carência de pessoal e de uma carreira capaz de reduzir a rotatividade de
servidores e de atrair pessoal especializado na área de atuação da Sudam, bem como carência de
recursos financeiros para os projetos de desenvolvimento, custeados com recursos do FDA.
42. Segundo a Nota Técnica 001/2017/Sudam (peça 26, p. 2/15), do quadro de servidores ativos
da Sudam, 38% encontram-se em abono de permanência, portanto, já teriam preenchido os requisitos
básicos de aposentadoria. Assim, e considerando o elevado nível de instabilidade advinda de fatores
macroambientais, tais como o político e econômico, os servidores mais antigos podem acabar buscando
a aposentadoria, o que impõe descontinuidade no processo de transferência do conhecimento das

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questões regionais, com redução impactante de capital humano. No referido documento, a Sudam
enfatiza a necessidade de recomposição adequada de sua força de trabalho, de modo a atrair e manter
pessoal qualificado para o desempenho das atividades.
43. Na questão orçamentária, destaca constante decréscimo em seu orçamento anual, com
sucessivos cortes em suas dotações orçamentárias e limites de empenho, de forma que afetam as
atividades finalísticas da entidade. De 2013 para 2017, o orçamento da Sudam teve uma redução de
38,6% e, quando se considera a inflação nesse período, com as metas inflacionárias projetadas até o
final de 2017, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE e do Banco
Central, a queda pode chegar a 53,6%, de acordo com os cálculos da Sudam.
44. No eixo da gestão ambiental, verificou-se o alto índice de desmatamento na Amazônia
Legal. Comparativamente ao ano de 2015 o desmatamento aumentou 29% em 2016, correspondente a
uma área de 7.989 km² desmatados, de acordo com a estimativa feita pelo Projeto de Monitoramento do
Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite – Prodes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais –
Inpe.
45. Esse aumento da área desmatada é preocupante porque juntamente com o avanço da
destruição dos recursos naturais e de sua biodiversidade há comprometimento também das
oportunidades de desenvolvimento regional, com geração de emprego e renda.
46. Com a floresta preservada, pode-se incrementar a exploração da indústria farmacêutica, a
pesquisa para desenvolvimento de novos produtos (por exemplo: fitofármacos, fitocosméticos,
alimentos nutracêuticos, essências, extratos aromáticos), o financiamento de políticas públicas por
entidades internacionais, o desenvolvimento econômico sustentável de comunidades tradicionais, a
geração de energia limpa, dentre outras atividades sustentáveis. Com a floresta destruída, perde-se a
oportunidade de desenvolvimento sustentável nela baseada.
47. Ainda no eixo ambiental está inserida a questão do saneamento básico que, na Região
Norte, apresenta os piores resultados, segundo dados constantes do Sistema Nacional de Informações
sobre Saneamento – SNIS, considerando o ano de 2015 como referência.
48. A título de exemplo, estão na Região Norte as cidades que apresentam os piores índices de
deficiência de saneamento em ranking nacional: no item saneamento, entre as 100 piores cidades,
estão Manaus/AM, Macapá/AP, Porto Velho/RO e Santarém/PA e Ananindeua/PA, respectivamente
nas posições de 95º, 96º, 97º, 98º e 100º; no item atendimento da população com água tratada, dentre as
10 piores cidades, estão Rio Branco/AC, Santarém/PA, Macapá/AP, Porto Velho/RO e
Ananindeua/PA; no item perda de água na distribuição, tem-se Macapá/AP, Rio Branco/AC e Porto
Velho/RO com respectivamente 69,14%, 59,31% e 67% de perda de água; no item coleta de esgoto,
entre as 10 piores cidades, estão Rio Branco/AC com 22,55%, Belém/PA com 12,8%, Manaus/AM
com 10,4%, Macapá/AP com 5,44%, Porto Velho/RO com, 3,71%, Ananindeua/PA, com 2,09% e
Santarém/PA que não realiza coleta de esgoto.
49. Os investimentos em saneamento básico na Região Norte, segundo a Secretaria Nacional de
Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, estão aquém das necessidades, e, segundo dados de
2015 da SNIS, essa região foi a que menos recebeu recursos para investimento na área de saneamento
comparativamente com as demais regiões do país: Norte 3,1%, Nordeste: 15,9%, Sudeste: 59,7%, Sul
14,1% e Centro-oeste: 7,2%.
50. Não há dúvida de que os dados apurados indicam situação crítica na área de saneamento
básico na Região Norte e requerem por parte das autoridades competentes a adoção de medidas
tendentes a resolver a gravíssima deficiência na infraestrutura de saneamento básico. O Tribunal,
conforme exposto detalhadamente no Relatório precedente, tem inúmeros trabalhos nessa área que,
além de apontar as principais falhas na execução das obras de saneamento, servem para orientar os
gestores públicos na condução desse importante segmento da infraestrutura.
51. No eixo atividades produtivas e infraestrutura econômica, apurou-se regularização fundiária
e infraestrutura econômica precárias que retardam o desenvolvimento sustentável da Região Norte.

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52. A regularização fundiária visa, com a legalização da titulação da terra, habilitar os


empreendedores rurais ao acesso a políticas públicas destinadas ao setor primário, como os
financiamentos disponibilizados por meio do Banco da Amazônia, com recursos originários da
Financiadora de Estudos e Projetos – Finep, do Fundo Constitucional do Norte – FNO, ou por
intermédio da Sudam, com recursos do Fundo de Desenvolvimento da Amazônia – FDA. Portanto,
morosidade e precariedade nos processos de regularização fundiária militam em desfavor do
crescimento sustentável do setor primário.
53. A infraestrutura econômica, neste trabalho, engloba a logística de transporte, serviços de
telecomunicação e a oferta de energia elétrica, três segmentos que impactam o desenvolvimento
regional, na medida em que, quando precários ou inexistentes, afetam diretamente toda a cadeia
produtiva, além de influenciar a atração de novos empreendedores para a região.
54. O levantamento indica como principais modais de transporte na Região Norte o rodoviário
e o fluvial, ambos, porém, com deficiências. Conforme relatório de 2012 da Confederação Nacional de
Transporte – CNT, a Região Norte apresenta a menor extensão rodoviária do país, com apenas vinte
mil quilômetros de estradas federais e estaduais pavimentadas. Dados de 2015 informam o estado de
conservação dessas estradas: 24% ótimo/bom, 40,9% regular e 35,1% ruim/péssimo.
55. O modal hidroviário apresenta deficiências nas estruturas de apoio, como por exemplo
escassez de terminais de passageiros e armazéns, em especial nas comunidades mais distantes; nas
embarcações que precisam de modernização; e nos investimentos em intermodalidade e
multimodalidade na região, de forma a melhor integrar o sistema de transporte.
56. Os serviços de telecomunicação têm sua operacionalização dificultada pelas características
geográficas da Região Amazônica. Grandes distâncias, baixa densidade populacional, isolamento de
comunidades, carência de infraestrutura de transportes e de energia elétrica constituem principais
fatores que impactam o setor de telecomunicações, contribuindo para que a Região Amazônica
apresente, apesar dos avanços na disponibilização dos serviços, elevada inacessibilidade, notadamente
fora dos distritos-sedes dos municípios da região.
57. De acordo com a Anatel, dados de desempenho operacional de 2016 indicam os Estados do
Amapá, Pará, Roraima e Tocantins com a pior internet banda larga do país, fator que representa
entrave à realização de negócios, ao acesso ao conhecimento e, portanto, à interiorização do
desenvolvimento sustentável, com capacidade de geração de emprego e renda.
58. A oferta de energia elétrica na Região Amazônica conta com dois sistemas energéticos
distintos: geração de energia pelo Sistema Interligado Nacional e por sistemas isolados (pequenas
centrais hidrelétricas e outras fontes), ambos porém insuficientes para abastecer de forma regular e com
boa qualidade os usuários desse serviço. A indisponibilidade de energia elétrica com nível de
regularidade adequada limita e, por vezes, impede o desenvolvimento de atividades econômicas
sustentáveis, em especial no interior da Região Amazônica.
59. A infraestrutura econômica precária, com logística de transporte deficiente, serviços de
telecomunicações e de acesso à internet de má qualidade e oferta de energia elétrica irregular, acabam
por impor aumento do “custo Amazônia”, sem atrair novos empreendedores a investir na região e, via
de consequência, contribui para o baixo rendimento das cadeias produtivas já instaladas.
60. No eixo de desenvolvimento social, verificou-se dificuldade de formar e fixar profissionais
com alto nível de qualificação e de contratar mão de obra qualificada, sendo necessário incentivar
pesquisadores para se estabelecerem na região, e, no campo de tecnologia e inovação, constatou-se que
as pesquisas científicas e tecnológicas estão desvinculadas das demandas de mercado, havendo poucas
que desenvolvem produtos de interesse regional.
v
61. Para o alcance do objetivo constitucional de erradicar a pobreza e de reduzir as
desigualdades sociais e regionais é preciso acompanhar a eficiência e eficácia na implementação das
políticas públicas em todas as suas vertentes para verificar se há ou não a evolução do desenvolvimento
regional sustentável a ponto de imprimir qualidade de vida à população que habita a região.

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62. O diagnóstico sistêmico da Região Norte apresentado neste Relatório de Levantamento de


Auditoria, com base em diversos trabalhos fiscalizatórios já realizados pelo Tribunal, indica que, apesar
das políticas públicas existentes, a desigualdade regional apurada no Norte do Brasil ainda se apresenta
de forma bem significativa comparativamente às demais regiões do País, impondo a seus habitantes
pesado ônus no acesso ao desenvolvimento sustentável, à geração de emprego, renda e qualidade de
vida.
63. Como visto no Relatório precedente, em cada um dos trabalhos fiscalizatórios já realizados
naquela região, o Tribunal adotou diversas medidas tendentes a impulsionar a solução das deficiências
diagnosticadas.
64. Nesse contexto, sobre as providências sugeridas pela equipe de auditoria relacionadas ao
fortalecimento institucional da Superintendência da Zona Franca de Manaus – Suframa e da
Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia – Sudam, bem como à implementação dos
diversos planos de caráter macrorregional e sub-regionais, cabe anotar que o Tribunal, como
mencionado alhures, já expediu recomendações aos órgãos ministeriais competentes e à Casa Civil, nos
termos do Acórdão 608/2016 – Plenário, o qual deverá ser monitorado.
65. Considerando, entretanto, que as dificuldades relatadas pela Sudam e Suframa, em especial
aquelas relacionadas às áreas de orçamento e de pessoal, ainda persistem e podem afetar negativamente
o desempenho de suas atividades finalísticas, impondo prejuízos irreparáveis a milhões de pessoas
carentes de um eficiente e eficaz desenvolvimento sustentável da Região Norte, e tendo em vista que
não compete ao TCU definir questões orçamentárias atinentes às unidades jurisdicionadas, entendo que
o caminho mais adequado para equacionar as dificuldades relatadas pelas duas autarquias é dar-lhes a
oportunidade para que, em conjunto com os órgãos ministeriais que as vinculam, elaborem plano de
ação que contemple medidas tendentes a assegurar o desempenho institucional na finalidade para a qual
foram criadas.
66. No que se refere à proposta de recomendar à Casa Civil, ao Ministério do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão e ao Ministério da Integração Nacional que efetuem estudos tendentes a
garantir créditos orçamentários específicos atrelados ao Plano Regional de Desenvolvimento da
Amazônia – PRDA e não sujeito a contingenciamento, bem como a assegurar que os recursos do
Fundo de Desenvolvimento da Amazônia – FDA, gerenciados pela Sudam, e os recursos da Suframa
sejam totalmente aplicados no cumprimento de suas missões institucionais, entendo que tal matéria já
se encontra incluída no escopo do plano de ação retromencionado, cabendo às autarquias juntamente
com os órgãos ministeriais aos quais se vinculam discutir, com a profundidade pertinente, todas as
questões orçamentárias que afetem a execução de suas atividades institucionais.
67. Sobre a criação de uma rede de gestão compartilhada entre as instituições responsáveis
pelo desenvolvimento regional tais como Sudam/Basa, Suframa e representantes da sociedade civil,
para alinhamento das ações e otimização dos recursos humanos e financeiros da Região Norte, entendo
tratar-se de medida importantíssima não só para remir o tempo, mas sobretudo para imprimir
cadenciada e crescente agilização na efetiva implementação de políticas de desenvolvimento
sustentável naquela região.
68. Por fim, ao tempo em que acompanho, com alguns ajustes, as demais medidas sugeridas
pela Secex/AM, parabenizo a unidade técnica, com extensão a toda equipe que atuou neste
levantamento, pela qualidade do trabalho, que certamente norteará futuras ações de controle nos órgãos
e entidades jurisdicionados.
Ante exposto, voto por que seja adotada a Deliberação que ora submeto a este Colegiado.

T.C.U., Sala das Sessões, em 25 de outubro de 2017.

MARCOS BEMQUERER COSTA


Relator

Para verificar as assinaturas, acesse www.tcu.gov.br/autenticidade, informando o código 58069222.

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