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2023

Novo
Ensino
Médio
Auditoria Operacional
Coordenada no Acesso
e Permanência no
Ensino Médio
Atricon – Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil
Conselheiro Cezar Miola (TCE/RS)

Instituto Rui Barbosa


Conselheiro Edilberto Carlos Pontes Lima (TCE/CE)

TCU – Tribunal de Contas da União


Ministro Bruno Dantas

Participantes:

Tribunal de Contas da União


Ministro Bruno Dantas
Tribunal de Contas do Estado do Acre – TCE-AC
Conselheiro José Ribamar Trindade de Oliveira
Tribunal de Contas do Estado de Alagoas – TCE-AL
Conselheiro Fernando Ribeiro Toledo
Tribunal de Contas do Estado do Amapá – TCE/AP
Conselheiro Michel Houat Harb
Tribunal de Contas do Estado da Bahia – TCE/BA
Conselheiro Marcus Vinícius de Barros Presídio
Tribunal de Contas do Estado do Ceará – TCE/CE
Conselheiro José Valdomiro Távora de Castro Júnior
Tribunal de Contas do Estado do Mato Grosso do Sul – TCE/MS
Conselheiro Jerson Domingos
Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso – TCE/MT
Conselheiro José Carlos Novelli
Tribunal de Contas do Estado do Pará – TCE/PA
Conselheira Rosa Egídia Crispino Calheiros Lopes
Tribunal de Contas do Estado da Paraíba – TCE/PB
Conselheiro Antônio Nominando Diniz Filho
Tribunal de Contas do Estado do Paraná – TCE/PR
Conselheiro Fernando Augusto Mello Guimarães
Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco – TCE/PE
Conselheiro Ranilson Brandão Ramos
Tribunal de Contas do Estado do Piauí – TCE/PI
Conselheiro Joaquim Kennedy Nogueira Barros
Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro – TCE/RJ
Conselheiro Rodrigo Melo do Nascimento
Tribunal de Contas do Estado de Rondônia – TCE/RO
Conselheiro Paulo Curi Neto
Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul – TCE/RS
Conselheiro Alexandre Postal
Novo
Ensino
Médio

Auditoria Operacional
Coordenada no Acesso
e Permanência no
Ensino Médio

Brasília
2023
NEM : novo ensino médio : auditoria operacional coordenada no acesso
e permanência no Ensino Médio / Tribunal de Contas da União;
Tribunal de Contas do Estado do Acre ...[et al.]. – Brasília :
TCU, Secretaria Geral de Controle Externo, 2023.
75 p.

A iniciativa é fruto de debates e estudos técnicos, ocorri-


dos no âmbito da Rede Integrar de Políticas Públicas Descentraliza-
das, composta por membros e técnicos dos Tribunais de Contas de todo o
país.

1. Educação. 2. Educação básica. 3. Ensino médio. 4. Controle


externo. I. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Ministro Ruben Rosa

© Copyright 2023, Tribunal de Contas da União

www.tcu.gov.br

Permite-se a reprodução desta publicação, em


parte ou no todo, sem alteração do conteúdo,
desde que citada a fonte.
SUMÁRIO

1 _ APRESENTAÇÃO 8

2 _ INTRODUÇÃO 12

INDICADORES EDUCACIONAIS: ENSINO MÉDIO EM


ESTADO DE ALERTA 15

A REFORMA DO ENSINO MÉDIO 26

3 _ METODOLOGIA 32

4 _ PRINCIPAIS DIFICULDADES IDENTIFICADAS NA


IMPLEMENTAÇÃO DO NOVO ENSINO MÉDIO 38
4.1
_ FALHAS RELACIONADAS À GOVERNANÇA
MULTINÍVEL 39

4.1.A _ FALHA NOS MECANISMOS DE


COORDENAÇÃO DA POLÍTICA 41

4.1.B _ DEFICIÊNCIA DOS MECANISMOS DE


MONITORAMENTO E DE AVALIAÇÃO
UTILIZADOS PARA ACOMPANHAR A
IMPLEMENTAÇÃO DO NEM 44

MELHORIAS PROPOSTAS PELAS


UNIDADES TÉCNICAS 48

4.2 _ DIFICULDADES EM ADEQUAR A


INFRAESTRUTURA ESCOLAR E O CORPO
DOCENTE ÀS NOVAS DIRETRIZES
CURRICULARES DO NEM 49

4.2.A
_ DIFICULDADES DE ADAPTAÇÃO DA
INFRAESTRUTURA ESCOLAR 52

4.2.B _ DIFICULDADES NA ADEQUAÇÃO E NA


PREPARAÇÃO DO CORPO DOCENTE PARA
ATENDER OS NOVOS CURRÍCULOS DO
NOVO ENSINO MÉDIO 53

_ MELHORIAS PROPOSTAS PELAS


UNIDADES TÉCNICAS 55
4.3 _ OFERTA DE ITINERÁRIOS FORMATIVOS
DIVERGENTES DA BNCC SEM GARANTIA DO
EFETIVO PROTAGONISMO ESTUDANTIL 57

4.3.A _ ITINERÁRIOS FORMATIVOS COM


DIVERGÊNCIAS EM RELAÇÃO À BNCC 59

4.3.B _ LIMITAÇÕES AO EXERCÍCIO DO


PROTAGONISMO ESTUDANTIL 64

_ MELHORIAS PROPOSTAS PELAS


UNIDADES TÉCNICAS 66

5 _ BENEFÍCIOS ESPERADOS 68

6 _ PRÓXIMOS PASSOS 70

_ EM ÂMBITO NACIONAL 72
_ NO ÂMBITO DE CADA TRIBUNAL DE CONTAS
PARTICIPANTE 72
_ ACOMPANHAMENTO SOCIAL 73
Tribunal de Contas da União

apresentação

Este sumário executivo tem por


objetivo apresentar os principais
resultados da Auditoria Opera-
cional Coordenada Multinível,
realizada pelo Tribunal de Contas
da União (TCU) e por Tribunais de
Contas Estaduais, que avaliou
ações governamentais desenvol-
vidas pela União, por intermédio
do Ministério da Educação (MEC),
e pel os E s ta d o s fi s c a li z a d o s ,
mediante as respectivas Secre-
tarias Estaduais de Educação
(SEE), a fim de apoiar a imple-
mentação do Novo Ensino Médio
( N E M ) , e s t a b e l e c i d o p e l a Le i
nº 13.415/2017, que definiu um

8
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 9

conjunto de mudanças sobre a - P I ) , R i o d e J a n e i ro ( TC E - R J ) ,


oferta dessa etapa da educação Rondônia (TCE-RO) e Rio Grande
básica para as redes de ensino. do Sul (TCE-RS).

Por tratar-se de uma política pú- Esta publicação também tem a


blica descentralizada de caráter expectativa de contribuir com as
multinível, cujo alcance dos re- discussões políticas, jurídicas,
sultados educacionais nacionais técnicas, sociais e acadêmicas
estabelecidos dependem da sobre o Novo Ensino Médio e o
atuação coordenada e colabo- seu provável impacto na garantia
rativa entre a União (como coor- do acesso e da permanência dos
denadora nacional), os estados jovens nesta etapa da educação
e o Distrito Federal (como imple- básica, por meio do fornecimento
mentadores), a sua fiscalização de informações técnicas inde-
também ganhou contorno mul- p e n d e n t e s , a p re s e n t a d a s e m
tinível, planejada e executada de perspectiva nacional, sobre as
forma coordenada pelo Tribunal principais dificuldades de im-
de Contas da União (TCU) e pelos plementação identificadas pelas
Tribunais de Contas Estaduais de equipes de fiscalização.
15 estados, a saber: Acre (TCE-
-AC), Alagoas (TCE-AL), Amapá Além disso, ressalte-se que os
(TCE-AP), Bahia (TCE-BA), Ceará p ro ces s o s d e f i s c a l i z a ç ã o em
(TCE-CE), Mato Grosso do Sul t r a m i t a ç ã o n o s Tr i b u n a i s d e
( TC E- M S ) , M a to G ro s s o ( TC E- Contas participantes não ne-
- M T ) , P a r á ( TC E - PA ) , P a r a í b a cessariamente já foram julga-
(TCE-PB), Paraná (TCE-PR), Per- dos pelos respectivos ministros
nambuco (TCE-PE), Piauí (TCE- e conselheiros. Assim, estes
Tribunal de Contas da União

apontamentos são decorrentes A Rede Integrar é composta pelos


da análise das equipes técnicas Tribunais de Contas do Brasil por
de auditoria. meio do Acordo de Cooperação
Técnica firmado entre o Instituto
A iniciativa é fruto de debates Rui Barbosa (IRB), a Associação
e estudos técnicos, ocorridos dos Membros dos Tribunais de
no âmbito da Rede Integrar de Contas do Brasil (ATRICON), o
Políticas Públicas Descentrali- TCU e os Tribunais de Contas Es-
zadas , composta por membros
1
taduais, municipais e os municí-
e t é c n i c o s d o s Tr i b u n a i s d e pios aderentes.
Contas de todo o país, que in-
cluiu, no centro das discussões, A participação foi disponibilizada
a s i t u a ç ã o c r í t i c a re l a c i o n a d a a todos os Tribunais de Contas
ao acesso de jovens ao ensino com jurisdição estadual (TCE)
médio, evidenciada a partir do e federal (TCU), atuaram todos
painel de indicadores para a aqueles que conseguiram ade-
seleção de objetos de controle quar seus planos de fiscalização
proveniente de metodologia a o c ro n o g r a m a e s t a b e l e c i d o
desenvolvida no âmbito do até pela Rede Integrar.
então Projeto Integrar.

1 Disponível em: https://irbcontas.org.br/rede-integrar/. Acesso em: 3 jul. 2023.

10
Tribunal de Contas da União

introdução

A Constituição Federal do Brasil


(1988) estabelece que a Educa-
ção é um direito de todos e dever
do Estado e da família, a ser pro-
movida e incentivada com a cola-
boração da sociedade, visando ao
pleno desenvolvimento da pes-
soa, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação
para o trabalho (art. 205, CF/88).
Como tarefa pública, assegurar a
obrigatoriedade e o acesso gra-
tuito da educação básica para a
faixa etária de 4 a 17 anos é res-
ponsabilidade compartilhada
entre a União, os estados, o Distri-
to Federal e os municípios.

12
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 13

Coube à Lei de Diretrizes e Segundo a LDB, a oferta do en-


B a s e s d a Ed u c a ç ã o N a c i o n a l sino médio, última etapa da
(LDB), estabelecida pela Lei nº educação básica, cuja obriga-
9 . 3 9 4 /1 9 9 6 , d e s c reve r, s o b a toriedade se deu a partir da pro-
orientação constitucional, fun- mulgação da Emenda Consti-
ções dos entes federativos na- tucional nº 59/2009, cumpre,
cional e subnacionais e ao Plano prioritariamente, aos estados e
Nacional de Educação (PNE), lei ao Distrito Federal, competindo
de previsão constitucional e du- à União exercer o papel de co-
ração decenal (art. 214, CF/88), ordenação federativa 2 mediante
estabelecer diretrizes, objetivos, o estabelecimento de diretrizes
metas e estratégias nacionais, nacionais e de apoio técnico e
para assegurar a manutenção financeiro (funções supletiva e
e o desenvolvimento do ensino redistributiva). Além disso, de
público em seus diversos níveis, acordo com a referida lei, essa
etapas e modalidades, por meio etapa de ensino, a ser cursada
de ações integradas dos pode- por jovens, preferencialmente,
res públicos das diferentes esfe- entre 15 e 17 anos, tem duração
ras federativas. mínima de 3 anos e como finali-
dade (art. 35):

2 Acesso em: https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/10226/1/PapelUniaoPolitEdu-


cBasicaCap03.pdf
Tribunal de Contas da União

I - a consolidação e o apro- com a prática no ensino de


fundamento dos conhe- cada disciplina.
cimentos adquiridos no
ensino fundamental, possibi- O Plano Nacional de Educa-
litando o prosseguimento de ç ã o v i g e n te ( P N E 2 0 1 4 - 2 0 2 4 ) ,
estudos; aprovado por meio da Lei
nº13.005/2014, por sua vez, dis-
II - a preparação básica para põe como meta nacional para o
o trabalho e a cidadania do ensino médio (Meta 3 do PNE):
educando, para continuar “a universalização, até 2016, do
aprendendo, de modo a ser atendimento escolar para toda
capaz de se adaptar com fle- a população de 15 a 17 anos e a
xibilidade a novas condições elevação, até o final do período
de ocupação ou aperfeiçoa- de vigência deste PNE, da taxa
mento posteriores; líquida de matrículas no ensino
médio para 85%”.
III - o aprimoramento do edu-
cando como pessoa humana, Em outras palavras, enquanto a
incluindo a formação ética e universalização do atendimento
o desenvolvimento da auto- escolar indica como meta na-
nomia intelectual e do pen- cional que, até 2016, todas as
samento crítico; pessoas de 15 a 17 anos deveriam
estar matriculadas na escola e
IV - a compreensão dos fun- frequentando as aulas, indepen-
damentos científico-tecno- dentemente da etapa de ensino,
lógicos dos processos pro- a elevação da taxa líquida de ma-
dutivos, relacionando a teoria trículas (TLM), por sua vez, indica

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Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 15

como meta nacional que, até o final de 2024, pelo menos, 85% dos jovens
de 15 a 17 anos devem estar matriculados na etapa de ensino adequada à
sua faixa etária.

Tabela 1: Idade adequada a cada etapa de ensino

ETAPA IDADE ADEQUADA

Creche de 0 a 3 anos

Pré-Escola de 4 a 5 anos

Ensino Fundamental
de 6 a 14 anos; considerados anos iniciais (de 6
(comumente dividido em anos finais e anos
a 10 anos) e anos finais (de 11 a 14 anos)
iniciais)

Ensino Médio de 15 a 17 anos

Fonte: Elaboração baseada nos dados do INEP.

Indicadores educacionais:
ensino médio em estado de alerta

Mesmo com as diretrizes nacionais e as garantias estabelecidas na legis-


lação vigente, ainda são muitos os desafios a ser superados para o alcan-
ce da efetiva universalização do acesso e da permanência dos jovens de
15 a 17 anos na etapa de ensino esperada. Os indicadores educacionais
produzidos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep), a partir do último Censo Escolar da Educação Básica
Tribunal de Contas da União

(2022), apresentam o ensino médio como a etapa com a maior distorção


idade-série, isto é, o maior percentual de estudantes com dois ou mais
anos de atraso escolar 3.

Figura 1: Distorção idade-série

≤ ≤ ≤

Fonte: Qedu (Censo Escolar/2022). Disponível em:

https://qedu.org.br/brasil/distorcao-idade-serie?ano=2022&dependencia_id=5&localizacao_id=0&ciclo_id=EM

3 Disponível em: https://qedu.org.br/brasil/distorcao-idade-serie?ano=2022&dependencia_


id=5&localizacao_id=0&ciclo_id=AI

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Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 17

A oferta pública do ensino médio regular no Brasil é garantida pelas redes


públicas de educação de todo o país. São 20.769 escolas, as quais, juntas,
atendem o total de 6.895.219 alunos (Inep, 2022).

Gráfico 1: Matrícula no ensino médio por dependência administrativa


segundo as unidades da federação
12,3 6,5 5,3 4,3 5,1 8 7,9 6,3 5,6 10,1 8,7 13,1 12,6 10,3 12,1 14,1 9,9 11,2 11,5 21 14,9 13 13,3 12,5 9,8 8,9 12,9 23,1
%

1,3

84,2 87,3 90,8 92,7 89,4 89,8 86,6 89,4 89,6 83,9 89,5 77,1 71,9 87,3 80,9 83,2 87,2 84,3 81,3 75 83,2 85,1 82 82,2 85 86 84,1 73,6

3 6,2 3,9 3 5,6 2,2 5,5 4,2 4 6 1,7 9,8 5,4 2,3 7 2,7 2,4 3,7 7,1 3,5 0,6 1,9 4,5 4,5 5,1 5,1 2,7 3,3
Brasil

Rondônia

Acre

Amazonas

Roraima

Pará

Amapá

Tocantins

Maranhão

Piauí

Ceará

Rio Grande do Norte

Paraíba

Pernambuco

Alagoas

Sergipe

Bahia

Minas Gerais

Espírito Santo

Rio de Janeiro

São Paulo

Paraná

Santa Catarina

Rio Grande do Sul

Mato Grosso do Sul

Mato Grosso

Goiás

Distrito Federal
Federal Estadual Municipal Privada

Fonte: Sinopse Estatística (INEP/MEC, 2022)

Disponível em: https://download.inep.gov.br/censo_escolar/resultados/2022/apresentacao_coletiva.pdf.

Mesmo diante do grande contingente de alunos atendidos em 2022, a série


histórica de matrículas realizadas entre 2007 e 2021, na referida etapa de en-
sino, revela acentuado declínio a partir de 2012, o qual alcançou o seu menor
quantitativo em 2019, ano anterior à pandemia de covid-19.
Tribunal de Contas da União

Gráfico 2: Número de matrículas em série histórica

POR ETAPA DE ENSINO ENSINO MÉDIO

8.600 K

8.400 K

8.200 K

8.000 K

7.800 K

7.600 K

7.400 K

7.200 K
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Fonte: Inep. Disponível em: https://inepdata.inep.gov.br/analytics/saw.dll?Dashboard.

Os dados extraídos do Painel de Monitoramento do Plano Nacional da


Educação 4, plataforma criada para monitorar e dar transparência ao cum-
primento do PNE (2014-2024), informam o crescimento moderado do
percentual da população de 15 a 17 anos que frequenta ou já concluiu a
educação básica no Brasil (indicador 3A da Meta 3 do PNE) (tabela 2). Na
série histórica de 2014 (ano de início de vigência do atual PNE) a 2021, esse
indicador cresceu apenas 6,1% , passando de 89,2% para 95,3%, faltando,
portanto, 4,7% para o alcance da meta prevista.

4 Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiOGY5NWUyMDMtYzc0Mi00Y2Y5LTk3M-


mEtNThjMjJiY2NjNWExIiwidCI6IjI2ZjczODk3LWM4YWMtNGIxZS05NzhmLWVhNGMwNzc0MzRiZiJ9

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Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 19

Tabela 2: Indicador 3A – Percentual da população de 15 a 17 anos que fre-


quentava a escola ou que concluiu a educação básica entre 2014 e 2021

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

INDICADOR
3A

89,2% 89,8% 90,8% 91,0% 91,6% 92,6% 94,3% 95,3%

Percentual da população de 15 a 17 anos que frequenta a escola ou já concluiu a educação básica.

Meta: 100% de cobertura dessa população até 2016.

Fonte: Relatório do 4º Ciclo de Monitoramento das Metas do PNE 2022/Inep – p. 90. Disponível em:

https://www.gov.br/inep/pt-br/assuntos/noticias/estudos-educacionais/

lancado-relatorio-do-4o-ciclo-de-monitoramento-do-pne

Por outro lado, esses dados também indicam o crescimento extrema-


mente lento no percentual da população de 15 a 17 anos que frequenta o
ensino médio ou possui educação básica completa (indicador 3B da Meta
3 do PNE). A Taxa Líquida de Matrícula (TLM) atingiu, no ano de 2021, o
total de 74,5%, ou seja, mais de 10,5% abaixo dos 85% projetados pelo PNE
para 2024, com decréscimo em relação ao resultado de 2020 (76,6%).
Tribunal de Contas da União

Tabela 3: Indicador 3B – Percentual da população de 15 a 17 anos que


frequentava o ensino médio ou que concluiu a educação básica com-
pleta entre 2014 e 2021

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

INDICADOR
3B

66,7% 67,5% 69,4% 69,6% 70,5% 72,7% 76,6% 74,5%

Percentual da população de 15 a 17 anos que frequentao ensino médio ou possui educação básica

completa. Meta: 100% de cobertura dessa população até 2016.

Fonte: Relatório do 4º Ciclo de Monitoramento das Metas do PNE 2022/Inep – p. 96. Disponível em:

h t t p s : // w w w. g o v. b r/ i n e p / p t - b r/ a s s u n t o s / n o t i c i a s / e s t u d o s - e d u c a c i o n a i s /

lancado-relatorio-do-4o-ciclo-de-monitoramento-do-pne

Quando observados sob a perspectiva regional, esses mesmos indicado-


res revelam as desigualdades educacionais entre as diferentes regiões e
as unidades federativas do país (tabelas 4 e 5). No que diz respeito ao per-
centual da população compreendida entre 15 e 17 anos de idade que fre-
quentava a escola ou havia concluído a educação básica (indicador 3A), a
a tabela 4 revela que a região Norte apresentou retrocesso em relação ao
indicador 3A, reduzindo de 94,1%, em 2020, para 93,7%, em 2021, revelan-
do que a região ainda está atrás das demais regiões.

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Auditoria Operacional Coordenada no
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Tabela 4: Indicador 3A -Percentual da população de 15 a 17 anos que


frequentava a escola ou que concluiu a educação completa entre
2014 e 2021, por região

REGIÃO 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Norte 89,0% 88,9% 90,1% 89,6% 90,4% 90,4% 94,1% 93,7%

Nordeste 87,8% 87,9% 88,9% 89,4% 89,8% 91,0% 92,7% 95,0%

Sudeste 90,8% 92,0% 92,7% 92,9% 93,0% 94,3% 95,5% 95,9%

Sul 88,7% 89,4% 89,8% 90,8% 92,5% 93,5% 95,4% 95,9%

Centro-Oeste 87,9% 88,3% 91,5% 89,6% 91,3% 92,1% 93,7% 94,9%

Brasil 89,2% 89,8% 90,8% 91,0% 91,6% 92,6% 94,3% 95,3%

Fonte: Relatório do 4º Ciclo de Monitoramento das Metas do PNE 2022/Inep – p. 92. Disponível em:
https://www.gov.br/inep/pt-br/assuntos/noticias/estudos-educacionais/lancado-relatorio-
-do-4o-ciclo-de-monitoramento-do-pne

A tabela 5, a seguir, apresenta dados segregados por região, referentes ao


percentual da população de mesma faixa etária que frequentava o ensino
médio ou havia concluído a educação básica (indicador 3B). Para a mesma
série histórica de 2014 a 2021, observa-se que, de forma persistente, o
Norte e o Nordeste aparecem como as regiões brasileiras com os meno-
res percentuais de avanço, no cumprimento do indicador 3B do PNE, en-
quanto a região Sudeste apresenta maior percentual, tendo alcançado, em
2021, a taxa de 80,6%, o que representa o crescimento de 5,7% e a queda
Tribunal de Contas da União

3,3% em 2020. As regiões Norte e Nordeste apresentam os menores per-


centuais, tendo atingido, em 2021, apenas 65,9% e 68,2%, respectivamen-
te, o que representa o avanço de 8,7% e 11,7% no período de referência.

Tabela 5: Indicador 3B – Percentual da população de 15 a 17 anos que


frequentava o ensino médio ou concluiu a educação básica entre
2014 e 2021, por região

REGIÃO 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Norte 57,2% 58,1% 59,9% 61,1% 63,7% 64,0% 67,5% 65,9%

Nordeste 56,5% 58,4% 60,1% 61,8% 62,5% 64,6% 68,8% 68,2%

Sudeste 74,9% 75,6% 77,8% 77,2% 77,0% 80,4% 83,9% 80,6%

Sul 71,5% 71,5% 70,7% 71,1% 73,6% 74,4% 79,3% 77,8%

Centro-Oeste 69,1% 68,1% 71,7% 71,3% 72,8% 75,4% 79,1% 76,3%

Brasil 66,7% 67,5% 69,4% 69,6% 70,5% 72,7% 76,6% 74,5%

Fonte: Relatório do 4º Ciclo de Monitoramento das Metas do PNE 2022/Inep – p. 97. Disponível em:
https://www.gov.br/inep/pt-br/assuntos/noticias/estudos-educacionais/lancado-relatorio-
-do-4o-ciclo-de-monitoramento-do-pne

Para além de buscar a universalização do atendimento escolar da popu-


lação de 15 a 17 anos, sem perder de vista a idade adequada para cursar
a etapa de ensino correspondente, o ensino médio, outro aspecto que

22
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 23

deve ser observado na garantia do ensino de qualidade é assegurar o


aprendizado dos estudantes matriculados. Segundo os indicadores de
proficiência em Língua Portuguesa e em Matemática obtidos por meio do
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), que abrange
redes públicas e privadas de ensino de todo o país, em 2019, ano anterior
à pandemia de covid-19, apenas 34% dos estudantes das escolas públicas
de ensino médio concluíram essa etapa com o aprendizado adequado em
Português. Em Matemática, a realidade é mais preocupante, pois apenas
7% tiveram o aprendizado adequado (gráfico 3).

Gráfico 3: Aprendizado adequado

≥ ≥ ≥

* A cor verde foi ancorada na Meta 3 do Todos Pela Educação, de que 70% dos alunos deveriam apresentar

aprendizado adequado e a cor amarela de que ainda se está um pouco abaixo desse percentual. Já a cor

laranja, na visão de que é insucesso se menos de 50% dos alunos demonstra aprendizado adequado. Por

fim, a cor vermelha ilustra que a grande maioria dos alunos não apresenta um bom nível de aprendizagem.

Fonte: Qedu (Censo Escolar/Inep, 2022). Disponível em: https://qedu.org.br/brasil/aprendizado.


Tribunal de Contas da União

Outros indicadores que servem O Censo Escolar de Educação


de alerta para o ensino médio Básica de 2021 indica aumento
referem-se às taxas de evasão e significativo na taxa de abandono
abandono escolar. Esse último escolar dos estudantes do en-
ocorre quando o estudante deixa sino médio da rede pública. Em
de frequentar a escola durante o 2020, o percentual de estudantes
ano letivo, mas matricula-se no que abandonou a escola foi de
seguinte. A evasão escolar, por 2,3%. Em 2021, essa taxa mais
sua vez, acontece quando um que dobrou, chegando a 5,8%. Se
aluno matriculado durante o ano considerados apenas os estados
letivo não realiza a matrícula para d a re g i ã o No r te , e s s e m e s m o
estudar no ano seguinte. índice alcança 10% (Inep, 2021)
(figura 2).

24
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 25

Figura 2: Evolução da taxa de abandono no ensino médio, na rede es-


tadual, entre 2019 e 2021

RR 7,9% AP 11,1%

CE 3,8%
AM PA MA RN 9,5%
10,8% 11,1% 4,8%
PI
8,3%
PB 7,5% 2019
TO
4,5%
PE 1,5%
AL 7,1%
BRASIL 5,5%
AC 6,9% BA SE 7,7%
MT
11% 7,8%
RO 6,9%
DF 4,9%

GO 2,3%
MG
5,3%
MS
6,8% ES 2,3%
SP 2,5%

RJ 7,4%
PR 3,6%

SC 6,1%
RR 5,3% AP 8,5%
RS
6,3%

CE 2%
AM PA MA RN 18,4%
5,9% 17% 6,9%
PI PB 3,8%
8,3%
PE 1,6%
TO
3,5% AL 9%
AC 6,7% BA SE 3,8%
MT
6,1% 11,5%
RO 5,5%
DF 1,3%

GO 1,3%
MG
4%
MS
1,4% ES 2,5%

2021
SP 4%

RJ 2,3%

10% ou mais
BRASIL 5,8% PR 1,3%

SC 8,7%

Entre 5% e 9,9% RS
11,1%

Até 4,9%

Fonte: Fundação Roberto Marinho. Disponível em: https://www.frm.org.br/conteudo/

educacao-basica/noticia/abandono-do-ensino-medio-volta-crescer-em-2021.
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A reforma
Para fazer frente a essa situa-
do ensino médio
ção já histórica e extremamente
Entre os fatores críticos associa- desafiadora, no ano de 2016, o
dos aos resultados educacionais G o v e r n o Fe d e r a l a p r e s e n t o u
do ensino médio, como vistos nova pro p o s t a d e po l í t i c a na -
anteriormente e apontados por cional para o ensino médio pela
diversos estudos e pesquisas, Medida Provisória nº 746/2016,
estão: a baixa atratividade das c o n v e r t i d a n a L e i Fe d e r a l n º
escolas; a necessidade de os jo- 13.415/2017, conhecida como o
vens contribuírem com a renda Novo Ensino Médio (NEM) que,
familiar; a violência no entorno da segundo o MEC, tem o propósito
escola; o excesso de professo- de “garantir a oferta de educação
res temporários; a precariedade de qualidade a todos os jovens
da infraestrutura das escolas; a brasileiros e de aproximar as es-
ausência de articulação interse- colas à realidade dos estudantes
torial; a baixa escolaridade dos de hoje, considerando as novas
pais; a deficiência no transporte demandas e complexidades
escolar dos educandos em área do mundo do trabalho e da
rural; entre outros. vida em sociedade 5”.

5 Perguntas e Respostas. http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=40361

26
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 27

Ent re a s p r i n c i p a i s m u d a n ç a s A f i m d e p ro p o rc i o n a r o e n s i -
e s t a b e l e c i d a s p o r e s s e n ov o no médio mais atrativo e
modelo de ensino, estão a fle- re d u z i r a s t a xa s d e a b a n d o n o
xibilização dos currículos esco- e evasão escolar, foi sugerida
lares e a ampliação progressiva a flexibilização dos currículos
da carga horária letiva. Em rela- para a oferta de diferentes
ção à organização dos currícu- itinerários formativos, inclusive
los, a reforma do ensino médio a oportunidade de o jovem optar
institui a Base Nacional Comum pela formação técnica e profis-
Curricular (BNCC), responsável sional na carga horária do ensino
por definir direitos e objetivos regular, de acordo com seu pro-
d e a p re n d i z a g e m d e s t e n í ve l jeto de vida. Os itinerários for-
de ensino nas seguintes áreas mativos são o conjunto de com-
do conhecimento: ponentes curriculares, projetos,
oficinas, núcleos de estudo, entre
a. Linguagens e suas outras situações de trabalho que
tecnologias; os estudantes poderiam escolher.

b. Matemática e suas As alterações também incluíram


tecnologias; a ampliação progressiva da carga
horária mínima anual de 800
c. Ciências da Natureza e horas para 1.400 horas, sendo,
suas tecnologias; inicialmente, de, pelo menos,
1.000 horas anuais, totalizando
d. Ciências Humanas e 3.000 para a conclusão do ensino
Sociais Aplicadas. médio. Desse montante, 1.800
horas são distribuídas entre as
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áreas de conhecimento obrigató- à Implementação de Escolas de


rias, e 1.200 horas são destinadas Ensino Médio em Tempo Inte-
às disciplinas complementares gral (EMTI), incumbida de prestar
dos itinerários formativos. Por seu apoio às redes de ensino estadu-
turno, a formação inicial e conti- ais na implantação de proposta de
nuada dos profissionais de edu- ensino baseada em mais tempo
cação também demanda adequa- de aula, para a formação ampla do
ção de acordo com as mudanças jovem, nos aspectos tanto cogniti-
advindas com o NEM, como se vos quanto socioemocionais.
verá mais adiante.
Além do EMTI, destacam-se três
Em face das diversas e complexas programas criados em diferentes
mudanças provocadas pela nova momentos, conforme o avanço
configuração do ensino médio e da implementação, e instituídos
das desigualdades em relação pelo governo para o apoio técnico
às capacidades técnicas de que e financeiro na implementação
dispõem as diferentes secretarias do NEM: Programa de Apoio à
estaduais e distrital da educação Implementação da Base Nacional
do país, a União, como formulado- Comum Curricular (ProBNCC);
ra dessa nova política pública na- Programa de Apoio ao Novo En-
cional e em cumprimento ao seu sino Médio (ProNEM); Programa
papel de coordenação, disponibi- de Itinerários Formativos (ProIF).
lizou programas de apoio técnico Cabe evidenciar os recursos fe-
e financeiro aos estados e ao Dis- derais executados (pagos) para fi-
trito Federal, responsáveis pela nanciar alguns desses programas
implementação do NEM. Assim, e ações, referentes ao período de
foi instituída a Política de Fomento 2018 a 2022 (tabela 6).

28
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 29

Tabela 6: Recursos federais executados entre 2018 e 2022

RECURSOS EXECUTADOS (GASTOS )


PROGRAMAS / AÇÕES
2018 a 2022

EMTI - AÇÃO 0509 R$ 1,636 BILHÃO

PDDE - EM/ProNEM - AÇÃO 0515 R$ 354,320 MILHÕES

PDDE - EM/ProIF - AÇÃO 0515 R$ 219,283 MILHÕES

ASSISTÊNCIA TÉCNICA - AÇÃO 0509 R$ 6,980 MILHÕES

BNCC - BOLSAS - AÇÃO OO0O R$ 12,484 MILHÕES

ProBNCC - FORMAÇÃO - AÇÃO 0509 R$ 3.891 MILHÕES

TOTAL R$ 2, 233 BILHÕES

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da SE/MEC, atualizados em 8/2/2023.

Nota-se que o maior gasto relacionado aos programas e às ações


mencionados em apoio ao ensino médio foi com o EMTI, represen-
tando 73,26% do valor total considerado. Os gastos com o ProNEM
e o ProIF totalizaram R$ 573,60 milhões, representando 25,69% do
valor total aplicado.
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Esses programas e ações visam de mecanismos interfederativos


apoiar as secretarias de educa- de governança, fundamentais
ção e suas redes educacionais para a implementação da política
de ensino, envolvendo a descen- pública do NEM. No próximo tó-
tralização multinível de políticas pico, serão apresentados os prin-
e ações, requerendo arranjo cipais aspectos metodológicos
colaborativo entre a União e os que envolveram a construção
entes subnacionais. Diante disso, desta auditoria, com foco na atu-
importa aos Tribunais de Contas ação do MEC e das SEE fiscaliza-
trabalhar de forma integrada e das, voltadas à implementação
cooperativa, na fiscalização que do Novo Ensino Médio.
contemple, além de aspectos
operacionais, a investigação da
existência e do funcionamento

30
Tribunal de Contas da União

metodologia

A seleção do objeto desta fis-


calização deu-se no âmbito
do Projeto Integrar, a partir do
cruzamento de dados e indica-
dores construídos e das análi-
ses de resultados e riscos, cujo
relatório apontou o acesso e a
permanência dos estudantes no
ensino médio como prioritários
para a avaliação da governança
multinível nas políticas votadas
a esta etapa de ensino.

32
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 33

Em respeito à independência e
SAIBA MAIS à autonomia dos órgãos de con-
trole externo, a Rede Integrar
Para mais informações p ro p ô s a o Tr i b u n a l d e C o nt a s
sobre o Projeto Integrar e a da União e a todos os Tribunais
metodologia que fomenta de Contas com jurisdição esta-
a ferramenta de seleção de dual e distrital que avaliassem
fiscalizações de políticas a possibilidade de desenvolver,
públicas descentralizadas de forma conjunta, cooperada
com base em indicadores de e colaborativa, a primeira au-
resultado, confira o Apêndice ditoria operacional coordena-
A do documento Projeto d a d e p e r s p e c t i va m u l t i n í ve l ,
Integrar: propostas para o relacionada à política pública
fortalecimento do controle da educação.
externo de políticas públicas
descentralizadas. Participaram desta fiscaliza-
ção, portanto, os Tribunais que
conseguiram conformar os res-
pectivos cronogramas e planos
de fiscalização à agenda pro-

Disponível em:
posta pela Rede Integrar, sendo
https://portal.tcu.gov.br/ estes, o TCU, tribunal de contas
data/files/60/D6/82/ com competência fiscalizatória
E0/9E3477100CE24177F18818A8/
sobre a União, e 15 dos 26 tribu-
Projeto_Integrar_propostas_fortalec-
imento_controle_externo_politicas_ nais de contas com competên-
publicas_descentralizadas.pdf cia fiscalizatória sobre os esta-
dos e o Distrito Federal.
Tribunal de Contas da União

A d e f i n i ç ã o d o e s c o p o re c a i u e opinar sobre os principais


sobre o processo de implemen- riscos mapeados acerca do
tação do NEM, em curso em todo ensino médio.
o país, a partir de um conjunto de
ações e técnicas de auditoria de- Para levantar os eventuais obstá-
finidas e aplicadas pelas equipes culos das ações governamentais
de auditores designadas pelos desenvolvidas pela União e pelos
TC participantes, entre as quais estados em relação à implemen-
merecem destaque: tação do NEM, considerando as-
pectos de governança multinível,
i. a construção da Matriz as equipes de fiscalização formu-
SWOT e do Diagrama de Ve- laram questões de auditoria, desti-
r i f i c a ç ã o d e Ri s co s ( DV R ) nadas a responder:
de cada TC e com versões
consolidadas entre todos, • no âmbito do TCU: se as
com a colaboração das SEE ações do MEC e das entida-
fiscalizadas, utilizadas para des vinculadas foram con-
identificar os principais riscos duzidas sob a perspectiva da
que pudessem impactar as coordenação do processo de
entregas esperadas para o implementação do NEM, da
ensino médio; articulação com os sistemas
estaduais e distrital, do apoio
ii. a realização de Painel de à formação continuada de
Referência, do qual partici- profissionais da educação e
param especialistas de re- da redução de desigualda-
nome e experiência na área des e assimetrias;
da educação, para discutir

34
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 35

• no âmbito dos TCE: sobre o estágio de implementação do NEM nas


respectivas UF, com vistas a identificar eventuais lacunas, falhas e
omissões na execução deste processo, em nível local e descentrali-
zado, além de uma avaliação, sob a perspectiva estadual, a respeito
da governança multinível exercida pelo MEC e pelas Secretarias Es-
taduais de Educação para a implantação do NEM.

A construção das questões de auditoria foi precedida por um conjunto de


técnicas descritas anteriormente, com a participação de atores externos e
especialistas. A coleta dos dados para responder às questões de auditoria
compreendeu pesquisa documental, entrevistas com gestores da pasta,
aplicação de questionários a professores e gestores escolares e visita in
loco a escolas, de acordo com a amostra selecionada.

Coube a cada equipe de fiscalização designada pelo respectivo TC emitir


relatório de auditoria sobre a situação encontrada na UF sob sua jurisdi-
ção. Esses relatórios foram autuados nos respectivos TC e não se encon-
tram, necessariamente, julgados até o momento.

SAIBA MAIS

Para saber mais sobre o andamento dos processos autuados


em cada TC, referentes a esta fiscalização, confira a tabela 8.
página 74
Tribunal de Contas da União

Para chegar-se a uma perspectiva nacional das principais dificuldades na


implementação do NEM, empreendeu-se a análise multinível dos desafios
mapeados em cada ente federativo fiscalizado, destacando-se aqueles
com maior representatividade. No próximo tópico, os resultados serão
apresentados de forma sistematizada, contemplando falhas relacionadas:

• à governança multinível, abrangendo:

• mecanismos de coordenação;
• mecanismos de monitoramento e de avaliação utilizados
para acompanhar a implementação do NEM.

• à infraestrutura escolar e ao corpo docente diante das novas dire-


trizes curriculares do NEM;

• à oferta de itinerários formativos e ao protagonismo estudantil.

36
Tribunal de Contas da União

principais

dificuldades

identificadas na

implementação do

novo ensino médio

38
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 39

4.1 FALHAS RELACIONADAS À GOVERNANÇA MULTINÍVEL


A construção da boa governança multinível é essencial para a potenciali-
zação do desempenho de políticas públicas descentralizadas. A partir da
recomendação da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE), consideram-se seis componentes para contribuir para a
boa governança, favorecendo o funcionamento efetivo das ações descentra-
lizadas, conforme a figura 3 a seguir (TCU, 20206):

Figura 3: Componentes que viabilizam a boa governança multinível

ABORDAGEM DAS ATRIBUIÇÃO DE FINANCIAMENTO DAS


DESIGUALDADES TERRITORIAIS RESPONSABILIDADES RESPONSABILIDADES

Componentes
da GMN

MONITORAMENTO E MECANISMOS CAPACIDADE DOS


AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE COORDENAÇÃO ENTES FEDERATIVOS

Fonte Referencial para Avaliação de Governança Multinível em Políticas Públicas Descentralizadas

(p. 24). Disponível em: <https://portal.tcu.gov.br/data/files/30/90/36/1D/47F5B710140B5BA-

7F18818A8/Referencial%20de%20Governanca%20Multinivel.pdf.

6 https://portal.tcu.gov.br/referencial-para-avaliacao-de-governanca-multinivel-em-politi-
cas-publicas-descentralizadas.htm
Tribunal de Contas da União

Para avaliar a implementação do execução das ações em âmbito


NEM sob a perspectiva da go- estadual e o monitoramento a
vernança multinível, coube ao cargo dos referidos entes sub-
TCU verificar, em âmbito federal, nacionais (gráfico 4). Em contra-
a atuação do MEC como coor- partida, o resultado consolida-
denador do processo nacional do dessa avaliação revela que
na rede pública e promotor da 62,5% dos tribunais participan-
articulação com os sistemas es- tes identificaram oportunidades
taduais e distrital, considerando de aprimoramento relacionados
a redução das desigualdades e à governança multinível quanto
das assimetrias entre as redes aos mecanismos de planeja-
de ensino. Aos TCE participantes mento, de coordenação, de mo-
cumpriu acompanhar, em nível nitoramento e de avaliação do
estadual, a atuação das respec- processo de implementação do
tivas SEE no processo de imple- NEM, detalhados a seguir nos
mentação do NEM, sobretudo, subtópicos 4.1.a e 4.1.b deste su-
c o n s i d e r a n d o a s a s s i s tê n c i a s mário executivo.
técnica e financeira sob respon-
sabilidade do MEC, a devida

40
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 41

Gráfico 4: Estados onde foram identificadas dificuldades em aspec-


tos relacionados à governança multinível

TCE - AP

TCE - PA

TCE - PI
TCE - CE

TCE - PB

TCE - PE

TCE - AL
TCE - AC

TCE - RO
TCE - BA

TCE - MT

TCE - MS

TCE - RJ
TCE - PR

SIM
TCE - RS

NÃO

Fonte: Elaboração própria. Estão registrados no gráfico apenas os 15 tribunais de contas estaduais que
participaram da fiscalização.

4.1.a Falha nos mecanismos de coordenação da política


Em apoio à implementação da Reforma do Ensino Médio, a República
Federativa do Brasil (RFB) e o Banco Internacional para Reconstrução e
Desenvolvimento (BIRD) celebraram o Acordo de Empréstimo 8.812-BR
e 8.813-BR com período de execução de cinco anos (de 24/5/2018/ a
31/12/2023), no valor total de US$ 250 milhões, distribuídos em dois com-
ponentes descritos a seguir, na tabela 7.
Tribunal de Contas da União

Tabela 7: Acordo de empréstimo entre o Brasil e o BIRD

Constitui-se de Programas
Orçamentários e Ações do Plano
Plurianual (PPA) previamente
selecionados e acordados,
vinculados a uma parte do
COMPONENTE 1 orçamento do MEC a resultados
nº 8.812-BR: educacionais, o que induz à
PforR no valor de continuidade do programa
US$ 221 milhões nas transições de gestão,
ACORDO DE por indicadores vinculados a
EMPRÉSTIMO desembolsos relacionados com
8.812-BR E os objetivos do Programa que
8.813-BR NO condicionam os desembolsos em
VALOR DE função do cumprimento de metas.
U$$ 250
MILHÕES
Consiste em apoiar a
implementação da Reforma do
Ensino Médio por meio de um
COMPONENTE 2
conjunto de assistências técnicas,
nº 8.813-BR
fortalecendo a capacidade
no valor de
institucional do MEC e das SEE,
US$ 29 milhões
para assegurar a adequada
implementação da Reforma do
Ensino Médio.

Fonte: Elaboração própria, baseada em MEC

https://www.gov.br/mec/pt-br/novo-ensino-medio/acordo-de-emprestimo.

Assim, o referido financiamento compreendeu duas operações. A primei-


ra, relativa ao Componente 1, no valor de US$ 221 milhões de dólares, foi

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Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 43

destinada aos programas de ção de consultorias individuais


apoio à implementação do NEM para atendimento local às SEE,
com o recebimento do recurso não ocorreu da forma prevista.
pela União atrelado ao atingi-
mento de indicadores definidos. Mesmo com o início da imple-
A segunda, sobre o Componente mentação do Novo Ensino Médio
2, no valor de US$ 29 milhões de previsto para 2020 (Lei
dólares, foi designada ao projeto nº 13.415/2017) e posteriormen-
de apoio ao NEM direcionado à te alterado para 2022 (Portaria
condução de ações estratégicas, MEC nº 521/2021), observou-se
reunindo um conjunto de ações que, até o mês de novembro de
transversais e essenciais ao pro- 2022, as assistências técnicas
cesso de sua implementação, ainda estavam em fase inicial e
concernentes a ações de assis- com baixa execução físico-finan-
tência técnica para o fortaleci- ceira. Além disso, as consulto-
mento da capacidade das SEE. rias individuais prometidas pelo
MEC encontravam-se na seguin-
Ocorre que, durante a fiscaliza- te situação:
ção, o TCU verificou a intempes-
tividade e a baixa execução da a. somente as SEE dos esta-
assistência técnica ofertada pelo dos do Amazonas, da Bahia
MEC às SEE, o que afetou a coor- e de Santa Catarina eram
denação das ações de apoio pre- atendidas por consultores
vistas para dar suporte à imple- individuais;
mentação do NEM nos estados.
O apoio especializado, que seria b. a contratação dos consul-
prestado por meio da contrata- tores para atender as SEE do
Tribunal de Contas da União

Acre, do Distrito Federal e do ceiro adequado e tempestivo por


Piauí foi considerada fracas- parte do MEC. O TCE-CE apontou
sada, sendo necessário novo d ef i c i ênc i a s rel a c i o na d a s a o s
processo seletivo; mecanismos de estratégia e con-
trole na implementação do NEM.
c. a SEE do MS declinou do
apoio técnico e, consequen- 4.1.b Deficiência
temente, o processo de con- dos mecanismos de
monitoramento e de
tratação do respectivo con-
avaliação utilizados
sultor individual foi revogado; para acompanhar a
implementação do NEM
d. quanto às SEE das outras
20 unidades da federação, o O monitoramento e a avaliação
processo de contratação de da implementação do NEM são
consultores individuais ainda ações de um dos quatro eixos do
não havia sido finalizado. Programa Itinerários Formativos
(ProIF), lançado pelo MEC, com
Assim, a intempestividade e a o objetivo de coordenar a referi-
baixa execução da assistência da implementação e promover o
técnica do MEC comprometeram apoio técnico e financeiro às esco-
as ações de apoio do MEC às SEE, las de ensino médio. Por previsão
prejudicando a estruturação das normativa, ambos deveriam ser
atividades de planejamento, de operacionalizados mediante solu-
execução e de monitoramento da ção informatizada, visando asse-
reforma do ensino médio. O TCE- gurar efetividade e transparência
-AC, por exemplo, constatou au- (arts. 2º, IV e 21, parágrafo único da
sência de suporte técnico finan- Portaria MEC nº 733/2021).

44
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 45

Apesar disso, o TCU verificou que gestores, conforme prevê o Re-


a referida solução informatizada ferencial de Controle de Políticas
n ã o h av i a s i d o i m p l e m e nt a d a Públicas do TCU.
pelo MEC, que ainda utiliza pla-
taformas diversas, fragmenta- Nesse contexto, para que seja
das, não integradas entre si e possível acompanhar o desem-
sem amplo acesso público para penho da política, é necessário
acompanhamento e avaliação do dispor de uma cadeia de indi-
processo nacional de implemen- cadores de insumos, recursos,
tação do NEM. Além disso, a sis- processos, produtos, resultados
temática de acompanhamento e impactos (TCU, 2020). A partir
adotada não provê informações das informações provenientes
específicas sobre o atual estágio do monitoramento e do acom-
de implementação do NEM, por panhamento efetivo das ações a
unidade escolar e UF, tampouco ser executadas, é possível fazer
indica, detalhadamente, o está- a avaliação da política e dos pro-
gio do cronograma e o seu grau gramas, para que se corrijam os
de execução. Recorda-se que desvios e alcance-se o resultado
é durante a implementação da almejado. Assim, deficiências na
política que se deve monitorar o sistematização de acompanha-
desempenho operacional e iden- mento, de monitoramento e de
tificar, de forma objetiva e siste- avaliação também marcaram a
mática, as dificuldades de im- atuação dos gestores estaduais
plementação, os problemas de em razão da ausência de norma-
gestão e os riscos de maior pro- tivos com a definição de critérios
babilidade e impacto, os quais mínimos, com métricas estabele-
requerem atenção por parte dos cidas, periodicidade e identifica-
Tribunal de Contas da União

ção de responsáveis, conforme artigo 11, 1º e o artigo 12, VIII, da


apontado pelo TCE-MT e pelo Portaria MEC nº 649/2018, a qual
TCE-PB. p revê a i n s t i t u i ç ã o d o C o m i tê
de Monitoramento e Avaliação
A existência de um sistema in- do ProNEM, a ser integrado por
tegrado de monitoramento e representantes do MEC, do Inep
avaliação da implementação e do Conselho Nacional de Se-
do NEM pelas SEE, baseado em cretários de Educação (Consed),
critérios e indicadores de resul- com atribuições de acompanhar
tado, visa identificar problemas as ações do programa e propor
e dificuldades a ser sanados para ajustes de acordo com a realida-
o aprimoramento das ações de de de cada unidade da federa-
apoio do MEC e das próprias SEE. ção. Do mesmo modo, ao aderir
Desse modo, as falhas apontadas ao ProNEM, as SEE comprome-
em relação ao sistema de moni- teram-se a instituir o respectivo
toramento e avaliação prejudi- comitê de acompanhamento da
cam o desempenho das ações, implementação.
dificultam a identificação das
redes de ensino em maior atraso Apesar da previsão normativa, ve-
e o direcionamento adequado rificou-se que o comitê nacional
das ações aos entes que mais não foi implementado, tampouco
necessitam de apoio. funcionou conforme previsto. No
caso dos comitês estaduais de
Mecanismos de monitoramento monitoramento, verificou-se que
e avaliação da implementação não estavam instalados ou, quan-
do NEM também foram previs- do formalmente constituídos, não
to s pe lo ProNem, conforme o funcionavam a contento. Essa

46
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 47

situação tende a prejudicar não apesar de também ter aderido ao


só a efetividade e a transparência ProNEM e instituído formalmente
do monitoramento e da avaliação o s e u c o m i tê d e a c o m p a n h a -
da implementação do NEM, mas mento, até o momento da fisca-
também o diálogo interinstitucio- lização, estava implementando
nal e interfederativo. o NEM, sem ainda ter concluído
a elaboração do seu PLI. Por sua
Falhas relacionadas aos Planos vez, o TCE-RJ apontou baixa efi-
de Implementação do NEM (PLI) ciência das ações da Seduc-RJ
e l a b o r a d o s p e l a s S E E , ve r i f i - e o não atingimento de metas do
cadas por diversas equipes de seu PLI. Assim, em nível estadual,
f i s c a l i z a ç ã o, exe m p l i f i c a m o s a fragilidade no planejamento
potenciais efeitos do mau fun- dessa política pública aumenta
cionamento da governança mul- o risco de ocorrerem inconformi-
tinível em seu componente de dades e desalinhamento com o
monitoramento e acompanha- planejamento nacional.
mento. Embora o MEC se tenha
comprometido a prestar apoio Sob o prisma dos indicadores
técnico-financeiro e a monitorar estratégicos estabelecidos pelo
as SEE, entre outras atividades, M EC , e s s e n c i a i s n o p ro c e s s o
na elaboração dos respectivos de monitoramento e avaliação
PLI, que se trata do documento de políticas e programas, veri-
de planejamento norteador da ficou-se que não propiciavam o
implantação do NEM nas redes adequado acompanhamento da
públicas estaduais e distrital de implementação do NEM nas uni-
ensino, o TCE-RO, por exemplo, dades escolares,mas serviam de
identificou que a Seduc-RO, base, prioritariamente, para a ob-
Tribunal de Contas da União

Melhorias propostas
tenção de créditos e o gerencia-
pelas unidades
mento do já mencionado Acordo
técnicas
de Empréstimo firmado com o
Bird. A propósito, tais indicadores Pa ra s u p e ra r o s refe r i d o s d e -
deveriam ser coerentes com o s a f i o s , re l a c i o n a d o s a o s m e -
objetivo do programa, qual seja, canismos de monitoramento e
fortalecer a capacidade das SEE, acompanhamento de governan-
para implementar o novo modelo ça multinível, é importante que
educacional com foco nas es- o MEC, com a participação dos
colas vulneráveis e possibilitar a entes subnacionais, desenvol-
tomada de decisão, para corrigir va e disponibilize os meios ne-
erros e dificuldades identificados cessários à construção de uma
no processo de implementação. base de dados que possibilite a
elaboração de um diagnóstico
n a c i o n a l s o b re a s at u a i s co n -
dições de implementação do
NEM. Mediante esse diagnóstico,
p r i o r i z a m - s e e d i rec i o na m - s e
as ações de apoio relacionadas
às assistências técnicas e finan-
ceiras, além de, efetivamente,
monitorar, acompanhar e avaliar
o processo de reforma do NEM
em todo o país, considerando as
peculiaridades de cada SEE.

48
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 49

Ademais, outras medidas que avaliação da implementação do


também podem contribuir para NEM em todo o território nacio-
aprimorar os mencionados com- nal, de forma que seja contem-
ponentes são: plada a realidade dos estudan-
tes nas redes educacionais.
i. a instituição e o efetivo
funcionamento dos Comitês
de Monitoramento e Avalia-
4.2 DIFICULDADES
EM ADEQUAR A
ção do NEM em âmbito tanto
INFRAESTRUTURA
nacional quanto estadual;
ESCOLAR E O
CORPO DOCENTE ÀS
ii. a produção e a análise de NOVAS DIRETRIZES
dados quantitativos e qualita- CURRICULARES DO NEM
tivos dos entes pela realização
de acompanhamento do cro- A concretização das novas di-
nograma anual de implanta- retrizes curriculares estabele-
ção e produção de estudos e cidas pelo NEM requer amplo
relatórios específicos sobre p ro c e s s o d e a d e q u a ç ã o e i n -
cada UF, devendo ampliar-se vestimento na infraestrutura
a transparência do processo física das escolas e no quadro
de execução da reforma. docente.

Por fim, também é importante Quanto ao primeiro item, a in-


que o MEC elabore, mantenha fraestrutura física escolar apro-
e publique indicadores fina- priada contribui para o proces-
lísticos que possibilitem a de- s o d e e n s i n o e a p re n d i z a g e m
monstração dos resultados e a dos estudantes na medida em
Tribunal de Contas da União

que favorece sua formação plena, Em contrapartida, todas as equi-


assegurando as condições de pes de fiscalização dos tribunais
acesso e permanência necessá- de contas estaduais participan-
rias, estabelecidas na CF/88 e na tes identificaram dificuldades
LDB/1996, proporcionando um relacionadas a esses temas,
clima escolar favorável ao aco- detalhadas nos subtópicos 4.2.1
lhimento do estudante e à apren- e 4.2.2 deste sumário executivo
dizagem e potencializando as (gráfico 5).
interações primordiais ao desen-
volvimento. De modo igual, de-
ve-se assegurar o corpo docente
com formação propícia para le-
cionar disciplinas para as quais foi
concursado ou contratado e com
direito às condições de trabalho
e à formação continuada neces-
sárias para atuar no novo formato
proposto ao ensino médio.

50
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 51

Gráfico 5: Estados onde foram identificados problemas


relacionados à formação docente ou à infraestrutura
indispensável à implementação

TCE - AP

TCE - PA

TCE - PI
TCE - CE

TCE - PB

TCE - PE

TCE - AL
TCE - AC

TCE - RO
TCE - BA

TCE - MT

TCE - MS

TCE - RJ
TCE - PR

SIM
TCE - RS

NÃO

Fonte: Elaboração própria. Estão registrados no gráfico apenas os 15 tribunais de contas estaduais que

participaram da fiscalização.
Tribunal de Contas da União

4.2.a Dificuldades
de adaptação da que, ao tempo da fiscalização,
infraestrutura escolar diversos deles implementa-
vam o NEM, sem ter concluído
De acordo com o levantamento e o diagnóstico e o mapeamento
a análise dos dados produzidos das estruturas físicas escolares
nesta fiscalização, aproximada- das respectivas redes de ensino.
mente 80% das SEE fiscalizadas Foi o caso dos estados do Pará,
contêm escolas com infraestru- de Rondônia, do Ceará, de Per-
tura insuficiente ou inadequa- nambuco, do Rio de Janeiro, da
d a à con cret i z ação d as novas Bahia, do Mato Grosso e do Mato
diretrizes curriculares do NEM. Grosso do Sul.
Entre os principais problemas
identificados, destacam-se a au- Essa situação é apontada com
sência de laboratórios de ciên- frequência, mesmo a realização
cias, informática ou matemática do diagnóstico das capacidades
para aplicação dos itinerários físicas, operacionais e organiza-
formativos e a falta de espaços cionais da rede de ensino sendo
de inclusão digital, como salas a etapa inicial e essencial para
interativas com tablets e outras apoiar a elaboração de currícu-
ferramentas tecnológicas, e de los e a definição de uma estru-
quadras poliesportivas. tura de ensino médio adequada
à realidade local (MEC, 2018) e
Além disso, verificou-se que os todos os estados tendo aderido
estados fiscalizados se encon- ao ProNEM, programa instituído
tram em estágios distintos de pelo MEC com o compromisso
implementação da adequação de fornecer assistências técnicas
da infraestrutura das escolas, eis para a elaboração, a execução, o

52
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 53

4.2.b Dificuldades
monitoramento e a avaliação do na adequação e na
mapeamento das capacidades preparação do corpo
da rede, abrangendo estrutura fí- docente para atender
os novos currículos
sica e corpo docente. A diferença
do Novo Ensino Médio
das condições de infraestrutura
observada tende a agravar as Cerca de 66% (10/15) dos Tribu-
desigualdades educacionais já nais de Contas Estaduais parti-
existentes, não somente entre os cipantes indicaram que as SEE
estudantes oriundos de diferen- tiveram dificuldades relaciona-
tes estados da federação, mas das à adequação e à preparação
também dentro de seu território, do corpo docente, para atender
entre as próprias escolas da rede as novas diretrizes do NEM, es-
pública e essas em relação às da pecialmente as vinculadas aos
rede privadas, ou dentro da pró- itinerários formativos. Figuram
pria rede de ensino, a depender entre os principais pontos men-
da localidade. cionados pelas equipes: ausên-
cia ou incompletude de diag-
nóstico dos professores da rede
(quantitativo, formação, área de
atuação) para subsidiar decisões
relacionadas às formações, às
contratações, às lotações ou às
redistribuições; insuficiência de
formação continuada; desajuste
de carga horária; conteúdo não
relacionado ao itinerário forma-
tivo ou incompatível com a real
Tribunal de Contas da União

necessidade dos profissionais das formações atendeu apenas


do ensino; carência de docentes parcialmente às demandas para
com formação adequada para o ensino das disciplinas.
ministrar as disciplinas da nova
base curricular; entre outros. A i n d a re fe re n t e a e s t a t e m á -
t i c a , re s s a l t a - s e q u e , m e s m o
Cita-se como exemplo a situa- antes da implementação do
ção exposta pelo TCE-AC, ao NEM, a formação docente ade-
identificar que mais de 60% quada, quiçá a formação con-
dos professores que ministram tinuada, apresentava desafios,
disciplinas aos estudantes do como pode ser observado por
ensino médio no Acre possuem m e i o d o i n d i c a d o r “A d e q u a -
v ínculo precário com o Poder ç ã o d a Fo r m a ç ã o D o c e n t e ” e
Público, ou seja, têm contratos que, em 2022 (INEP), apenas
temporários ou provisórios. Isso 6 7, 1 % d o s p ro fe s s o re s a t u a n -
implica despesas adicionais no te s n o e n s i n o m é d i o e s t a d u a l
processo de formação continu- possuíam a formação superior
ada, tendo em vista a rotativida- de licenciatura ou bacharelado
de desses profissionais. com complementação
pedagógica na mesma área da
Fo i o b s e r v a d o t a m b é m p e l a disciplina que leciona.
fiscalização que, apesar do es-
fo rç o c o m fo r m a ç ã o c o n t i n u - Cabe acrescentar que os TCE da
ada, dos 36.000 professores Bahia e de Alagoas detectaram
respondentes ao questionário que as respectivas secretarias
eletrônico disponibilizado, 54,3% de educação utilizaram ou pre-
mencionaram que o conteúdo tendem utilizar plataformas ou

54
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 55

Melhorias
conhecimento de entidades
propostas pelas
privadas em suas formações
unidades técnicas
continuadas com aprendiza-
gem online ou autoinstrucionais Com a finalidade de contribuir
aos educadores. com a superação dos referidos
desafios relacionados à infra-
Essa situação indica a carência de estrutura física das escolas, é
professores com formação ade- indispensável que as redes co-
quada e efetivamente prepara- nheçam suas necessidades por
dos em sala de aula, ministrando meio de diagnósticos acerca da
disciplinas em sua real vocação infraestrutura de suas escolas,
ou contratação, fato que neces- o que possibilitará a elaboração
sita ser superado no processo de de planejamentos condizentes
adequação da implementação com as carências identificadas.
do NEM. Sendo assim, torna-se Assim, será possível priorizar e
essencial o avanço na consoli- direcionar as ações e os recursos
dação do processo de contra- existentes para a implementação
tação, redistribuição, lotação e do NEM, considerando as pecu-
formação para que, concreta- liaridades de cada unidade es-
mente, ocorra a implementação colar. Além disso, outras medidas
do NEM e, consequentemente, relativas à infraestrutura escolar
haja a redução na evasão esco- podem ser adotadas, tais como:
lar e a melhoria da proficiência
dos estudantes. i. a definição de padrões
necessários e transparen-
tes de infraestrutura e equi-
pamentos para as escolas,
visando à adequação dos
Tribunal de Contas da União

estabelecimentos de ensino, paração do corpo docente para


para que garantam condi- as novas demandas do NEM/IF,
ções mínimas de ensino e propõem-se:
aprendizagem;
i. a realização de estudo e
ii. a elaboração de plano de diagnóstico sobre o corpo
reforma e manutenção pre- docente, a fim de identificar
dial das escolas com base as capacidades e as neces-
em levantamentos, para fins sidades de lotação e ade-
de planejamento gerencial quação da carga horária dos
e controle da execução das professores;
melhorias para as adequações
necessárias à nova proposta; ii. a elaboração de plano, es-
tratégia ou instrumento con-
iii. a realização das devidas gênere que, a partir das infor-
i m p l a nt a çõ e s d a s n e ce s - mações levantadas, mediante
sidades estruturais, como referido diagnóstico docente,
reforma e construções das disponha sobre os procedi-
edificações, aquisição e ins- mentos de remanejamento,
talação dos equipamentos contratações e lotações que
necessários, de acordo com se mostrem necessários;
as necessidades levantadas
e nos padrões mínimos. iii. a e l a b o r a ç ã o e a i m -
plementação de plano de
Para a superação dos desafios capacitação e forma-
referentes à adequação e à pre- ção continuada para os

56
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 57

professores com base em observância às diretrizes previstas


diagnóstico que indique na BNCC, os itinerários formativos
suas reais necessidades disponibilizados devem atender
e expectativas; às expectativas dos estudantes,
fortalecendo, assim, o protago-
iv. acompanhamento, mo- nismo deles na escolha dos ca-
nitoramento e avaliação minhos que desejam seguir. Esse
periódica sobre a qualidade, fator, portanto, é indispensável à
a suficiência e a efetividade plena implementação da política
das formações realizadas. em discussão.

Ocorre que, durante a fiscaliza-


4.3 OFERTA DE ção, cerca de 80% dos Tribunais
ITINERÁRIOS FORMATIVOS
de Contas participantes indicaram
DIVERGENTES DA BNCC
SEM GARANTIA DO falhas relacionadas à oferta e à de-
EFETIVO PROTAGONISMO finição dos itinerários formativos
ESTUDANTIL pelas redes, as quais contribuíram
para o enfraquecimento do exer-
S e g u n d o p e s q u i s a d o C e n t ro cício do protagonismo estudantil,
de Políticas Sociais da Funda- conforme detalhado a seguir, nos
ção Getúlio Vargas (FGV), a falta subtópicos 4.3.a e 4.3.b (gráfico 6).
de motivação dos estudantes é
responsável por quase metade
dos casos de evasão escolar no
Brasil, o que, hoje, afeta mais de
2 milhões de crianças e adoles-
centes no país. Para garantir a
Tribunal de Contas da União

Gráfico 6: Estados onde foram indentificadas falhas associadas


aos itinerários formativos e ao protagonismo estudantil

TCE - AP

TCE - PA

TCE - PI
TCE - CE

TCE - PB

TCE - PE

TCE - AL
TCE - AC

TCE - RO
TCE - BA

TCE - MT

TCE - MS

TCE - RJ
TCE - PR

SIM
TCE - RS

NÃO

Fonte: Elaboração própria. Estão registrados no gráfico apenas os 15 tribunais de contas estaduais que

participaram da fiscalização.

58
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 59

4.3.a Itinerários
Formativos com Além disso, as diretrizes apre-
divergências em sentadas às redes estabelecem
relação à BNCC a garantia de autonomia, para
definir os itinerários formativos
A Lei nº 13.415/2017 e as Resolu- oferecidos, considerando suas
ções das Diretrizes Curriculares particularidades e peculiaridades
Nacionais do Ensino Médio e locais e regionais e os anseios de
da BNCC para o ensino médio professores e estudantes, sendo
estabelecem os parâmetros para certo que os itinerários podem
o alinhamento dos conteúdos mobilizar apenas algumas das
curriculares (formação geral áreas de conhecimento previstas
básica e itinerários formativos, na BNCC.
conjuntamente) à BNCC e a oferta
de formação técnica e profissio- A partir desse raciocínio, perce-
nal que devem ser observados beu-se que cada rede de edu-
no âmbito dos currículos do NEM. cação teria critérios mínimos a
ser seguidos de acordo com as
Po r s u a vez , o G u i a d e i m p l e - d i ret r i ze s p rev i s t a s p e l a n ova
mentação do NEM (MEC, 2018) legislação, todavia carecia de
orienta que a formação geral bá- orientação mínima para o exer-
sica deve estar alinhada à BNCC cício da autonomia que lhe cabia
com foco no desenvolvimento de no desenvolvimento dos novos
competências gerais e habilida- currículos que estariam disponí-
des específicas, da educação in- veis aos estudantes das diversas
tegral, do protagonismo dos estu- localidades. Tendo por critério
dantes e de seus projetos de vida. as diretrizes nacionais estabe-
lecidas para o desenvolvimento
Tribunal de Contas da União

dos itinerários formativos pelas Isso reforça a necessidade de


redes de educação, as equipes conhecimentos mínimos pelos
de fiscalização constataram g e s to re s e p e l o s d e m a i s re s -
q u e p a rc e l a s i g n i f i c a t i v a d o s ponsáveis pela elaboração dos
gestores escolares, além de currículos, de forma que pos-
outros profissionais que atuam sam conceber seus itinerários
no ensino médio, responsáveis alinhados e respeitar as diretri-
pela elaboração dos currículos zes nacionais.
ofertados aos estudantes, des-
conheciam as novas diretrizes Com base nas respostas obtidas
curriculares contidas na reforma pelo questionário aplicado aos
do ensino médio. gestores das unidades de ensi-
no, os dirigentes escolares, esta
Sobre o tema, o referido Guia de fiscalização constatou que cerca
implementação dispõe que: de 53% dos 4.848 respondentes
consideram insuficiente a carga
O processo de (re)elabo-
ração do currículo passa por horária das oficinas de capacita-
conhecer a BNCC em seus ção relacionadas à implementa-
diferentes aspectos, bem ção do NEM (gráfico 7).
como as diversas possibil-
idades de construção dos
itinerários formativos e de
organização de sua oferta
nas escolas, considerando as
particularidades e os arranjos
produtivos de cada unidade
federativa. (MEC, 2018)

60
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 61

Gráfico 7: Questionário eletrônico

Na sua percepção, a carga horária das oficinas realizadas foi suficiente para efetiva
capacitação dos gestores e coordenadores responsáveis pela implementação do NEM?

2,83

SIM NÃO
43,59 53,58

SIM

NÃO

NÃO SE APLICA

Fonte: Elaboração própria.

Durante as entrevistas junto aos gestores escolares e aos coordenadores


pedagógicos, as equipes de fiscalização identificaram que os referidos
profissionais não detinham conhecimentos técnicos sobre o funciona-
mento da nova dinâmica de atuação proposta pelo NEM, de acordo com
as novas exigências contidas na BNCC. No máximo, sabiam da ocorrência
de mudanças na sistemática de ensino, sobre a inclusão de disciplinas
eletivas e optativas na grade curricular, inseridas conjuntamente com a for-
Tribunal de Contas da União

mação técnico-profissional, e do comunidade estudantil ou não


projeto de vida para os estudan- consideram o contexto local.
tes matriculados no nível médio.
Em Ro n d ô n i a , p o r exe m p l o, a
Em relação aos estados abrangi- equipe do TCE-RO identificou
dos pela fiscalização, a referida u m a e s c o l a q u e ofe r t ava d i s -
falha merece especial atenção ciplina eletiva e optativa sobre
dos gestores, identificada pelas técnicas culinárias teóricas de
equipes de auditoria dos seguin- panificação, sem, contudo, dis-
tes tribunais de contas: TCE-PB, ponibilizar aulas práticas aos
TCE-PR, TCE-PA, TCE-MT, TCE- alunos. Também se relatou que
-RS, TCE-RO, TCE-CE, TCE-PE e os estudantes não tinham clare-
TCE-RJ. A falta de conhecimento za sobre a área de conhecimen-
aprofundado sobre as novas dire- to à q u a l a re fe r i d a d i s c i p l i n a
trizes curriculares, especialmente teria sido vinculada pelos gesto-
pelos gestores locais, impacta, res responsáveis.
significativamente, a implementa-
ção do novo ensino médio, eis que Em algumas das secretarias de
lhes cabe, em conjunto com suas educação fiscalizadas, após a
equipes pedagógicas e seu corpo análise das matrizes curriculares
docente, atuar de acordo com as aprovadas, identificou-se que
diretrizes nacionais. Como poten- várias escolas localizadas em
cial efeito dessa falta de conheci- regiões com vocação econômica
mento e de alinhamento, obser- específica (como agronegócio,
vou-se a inserção de disciplinas turismo etc.) ofertavam aos seus
eletivas em itinerários formativos estudantes conhecimentos liga-
que não atendem aos anseios da dos a outras áreas.

62
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 63

Em síntese, os principais nição de itinerários formati-


pontos identificados pelas equi- vos a ser ofertados em suas
pes de fiscalização e que me- unidades escolares (TCE-AP,
recem ser considerados pelos TCE-PB, TCE-PR, TCE-PA,
gestores foram: TCE-MT, TCE-RS, TCE-RO,
TCE-CE, TCE-PE e TCE-RJ);
i. falhas no enfrentamento
de fatos de desigualdades iv. desalinhamento dos iti-
socioeconômica, racial e de nerários formativos em re-
gênero na implementação lação às diretrizes contidas
de itinerários formativos do na BNCC (TCE-PR, TCE-MT,
NEM (TCU); TCE-RS, TCE-RO, TCE-CE e
TCE-PE);
ii. desequilíbrio na propor-
ç ã o d e e s c o l a s a te n d i d a s v. a u s ê n c i a d e d i a g n ó s t i -
p e l o P ro g r a m a I t i n e r á r i o s cos prévios exigidos para a
Formativos entre as regiões oferta dos itinerários forma-
do país (TCU); tivos de acordo com as di-
retrizes nacionais (TCE-PR,
iii. falta de estrutura (corpo TCE-PB, TCE-MT, TCE-RO,
docente, infraestrutura e TCE-CE e TCE-AL).
equipamentos disponíveis) da
Secretaria Estadual de Edu-
cação, para oferecer opções
de itinerários, o que desenca-
deou, entre outros aspectos,
a falha no processo de defi-
Tribunal de Contas da União

4.3.b Limitações
ao exercício dos aprendizados em áreas de
do protagonismo conhecimento que pudessem
estudantil ser escolhidas pelos jovens ma-
triculados, aumentando seu in-
A BNCC, alterada por meio da Lei teresse pelos estudos e, assim,
nº 13.415/2017, conhecida como mitigando o risco de abandono
Reforma do Ensino Médio, cita a ou evasão escolar, de maneira
palavra protagonismo em diferen- que o estudante seja o autor do
tes contextos, mais de cinquenta seu processo de formação.
vezes. O principal foco da referida
reforma foi propiciar protagonis- O Guia de implementação do NEM
mo aos estudantes, colocando-os apresenta a diretriz de que o estu-
no centro do aprendizado, por dante participe efetivamente do
meio de escolhas próprias, de processo de definição dos itine-
forma orientada, em suas trilhas de rários formativos que lhes serão
aprendizagem. De acordo com o oferecidos, sendo esse o primeiro
Guia de implementação do Novo passo para a (re)elaboração da es-
Ensino Médio, o protagonismo ju- trutura curricular das redes, com
venil materializa-se principalmen- a escuta dos jovens, por meio de
te na escolha do itinerário pelos canais de comunicação diversos
estudantes (MEC, 2018). que garantam a equanimidade,
estimulando a participação de
Como se evidencia, as mudanças todos, inclusive dos que detêm
a d v in da s da s novas d i retri zes dificuldades, limitações ou des-
curriculares posicionam o es- confianças, independentemente
tudante como principal respon- de características de gênero, raça,
sável pelo seu futuro. Em vista renda, idade, entre outras qualifi-
disso, ampliou-se a flexibilidade cações (MEC, 2018).

64
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 65

locais de ensino, sem que as


Em contrapartida, equipes de fis-
referidas horas majoradas
calização de vários tribunais de pela nova matriz curricular
contas estaduais, como TCE-AL, sejam na modalidade pres-
TCE-CE, TCE-PI, TCE-RJ, TCE-RS encial de ensino;

e TCE-RO, identificaram limitações 3. Em razão do número


ao efetivo exercício do protago- limitado de estudantes por
nismo pelos estudantes, entre as disciplina, uma vez preenchi-
das as vagas disponíveis, os
quais merecem destaque:
alunos remanescentes sem
1. Oferta de itinerários form- matrícula em determinada
ativos pela unidade escolar, disciplina de seu interesse
em apenas uma, no máximo são obrigados a matricular-se
duas, das quatro áreas de na área de conhecimento dis-
conhecimento previstas na ponível;
BNCC. Essa situação, além de
4. Diversas redes de edu-
potencialmente impossibili-
cação não estabeleceram
tar a escolha dos estudantes
diretrizes para o processo
quanto à área do conheci-
de orientação quanto à es-
mento que se alinhe aos seus
colha dos itinerários forma-
objetivos futuros, também
tivos pelos estudantes, fato
tende a agravar as desigual-
que gerou divergências de
dades educacionais, inclusive
atuação das escolas da rede
no mesmo território;
que se organizam de acor-
2. Parte dos estudantes das do com o que acreditam ser
redes está matriculada em diretriz justa para a escolha
aulas ministradas por plata- dos estudantes.
formas de Ensino à Distân-
cia (EAD), principalmente de
disciplinas eletivas e opta-
tivas que compõem os itin-
erários formativos, não ocor-
rendo mudança na carga
horária diária presencial, nos
Tribunal de Contas da União

Melhorias propostas
ve – e especialmente – as de
pelas unidades
ensino mediado) e as expec-
técnicas
tativas dos estudantes nelas
Para superar os referidos desafios, matriculados, em conformida-
relacionados ao alinhamento dos de com as diretrizes estabele-
itinerários formativos às diretrizes cidas na BNCC. Caso isso não
da BNCC, faz-se necessário o forta- ocorra, adotem-se as medidas
lecimento da coordenação do MEC necessárias para a sua revisão;
com as secretarias de educação,
bem como dessas com suas res- ii. com base em estudos re-
pectivas coordenadorias regionais e alizados, definir procedimen-
unidades escolares. Nesse sentido, tos a ser adotados pelas CRE,
sugerem-se aos gestores das redes de forma que se promovam
públicas estaduais de educação: o s a l i n h a m e nto s j u nto à s
unidades escolares subordi-
i. a realização de levanta- nadas, a fim de que acompa-
mento junto às escolas de nhem a implantação e a revi-
ensino médio sob sua são dos itinerários formativos
gestão, com o apoio das suas e das respectivas disciplinas
respectivas Coordenadorias eletivas e optativas.
Regionais de Educação (CRE),
a fim de identificar os itinerá- Para enfrentar os desafios rela-
rios formativos e as disciplinas cionados ao protagonismo estu-
eletivas atualmente ofertadas dantil, é importante que as SEE
e aferir se consideram as pe- atuem de forma mais próxima às
culiaridades regionais e locais respectivas CRE e às unidades
das referidas escolas (inclusi- escolares, promovendo:

66
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 67

i. divulgação ampla e rotineira entre os estudantes e suas famílias,


sobre o conceito, as mudanças e a importância das novas diretrizes es-
tabelecidas para o ensino médio, com panfletos, cartazes, reuniões com
pais e alunos, redes sociais e outros recursos, além da criação de um es-
paço de escuta ativa;

ii. a padronização de orientações gerais às escolas, a fim garantir o ali-


nhamento mínimo ao processo de escolha dos estudantes, fortalecendo
o protagonismo estudantil para que se atinjam as perspectivas de fato
vislumbradas pelos estudantes do ensino médio.
Tribunal de Contas da União

benefícios
esperados

68
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 69

O principal benefício das pro- atuais de infraestrutura física e


postas sugeridas pelas unida- de formação do corpo docente
des técnicas consiste no apri- da rede pública de ensino pela
moramento dos mecanismos qual sejam responsáveis e às
de governança multinível (em necessárias à adequada imple-
especial, os relacionados à co- mentação das novas diretrizes
ordenação, ao monitoramento e propostas pela Lei nº 13.415/2017
à avaliação) e no fortalecimento e pela BNCC. Além disso, quan-
da capacidade gerencial, ope- to às condições atuais dos iti-
racional e técnica do MEC e das nerários formativos ofertados,
SEE, voltados à implantação do orienta-se promover as revisões
novo ensino médio, essenciais à necessárias a garantir sua co-
promoção da educação equita- erência com as diretrizes da
tiva e de qualidade aos estudan- BNCC, assegurando o protago-
tes das redes públicas de ensino nismo aos estudantes, propician-
de todo o país. do a redução das taxas de eva-
são e de abandono escolar e a
O u t ro s b e n e f í c i o s e s p e r a d o s melhoria dos indicadores
consistem em fomentar a rea- de aprendizagem.
lização de diagnósticos e o uso
de dados e evidências pelos
gestores da educação para me-
lhor tomada de decisão, espe-
cialmente quanto às condições
Tribunal de Contas da União

próximos
passos

70
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 71

O ciclo de auditoria operacional compreende uma série de etapas se-


quenciais: seleção de temas, planejamento, execução, relatório, comen-
tários do gestor, julgamento e apreciação, divulgação e monitoramento
(figura 4). Contudo, essa fiscalização, por tratar-se de uma auditoria
operacional coordenada multinível, ou seja, que abrange dois níveis de
governo (no caso, federal e estaduais), cujas competências de atuação
na mesma política pública descentralizada (no caso, a educação) se
complementam, contém uma peculiaridade: terá dois tipos de encami-
nhamentos, distintos e complementares. Um deles contempla o âmbito
nacional; o outro está no âmbito de cada Tribunal de Contas participante.

Figura 4: Etapas da auditoria operacional

SELEÇÃO
MONITORAMENTO DE TEMAS PLANEJAMENTO

DIVULGAÇÃO EXECUÇÃO

COMENTÁRIO
APRECIAÇÃO DO GESTOR RELATÓRIO

Fonte: Elaboração própria.


Tribunal de Contas da União

Em âmbito nacional
j u r i s d i c i o n a d o s d o s TC E ) e o
Como encaminhamento de cará- Ministério da Educação (órgão
ter nacional, os Tribunais de Con- jurisdicionado do TCU) recebe-
tas comunicarão os resultados rão recomendações ou deter-
consolidados desta fiscalização minações voltadas ao aperfei-
ao maior número de interessa- ç o a m e n to d a s o p o r t u n i d a d e s
dos possível, a fim de contribuir de melhorias identificadas. Na
com os inúmeros debates sobre sequência, dentro do prazo es-
o Novo E n s i n o Mé d i o p ro m o - tabelecido pelo respectivo Tri-
vidos pelas diversas instâncias bunal, os órgãos jurisdicionados
governamentais, jurídicas, téc- deverão elaborar um plano de
nicas, acadêmicas e sociais. A ação destinado a formalizar e
produção e a ampla divulgação evidenciar as medidas, os res-
d e s t e s u m á r i o e xe c u t i v o s ã o ponsáveis e o cronograma que
exemplos disso. serão adotados para atender as
re c o m e n d a ç õ e s re c e b i d a s . O
c u m p r i m e n to d e s s e p l a n o d e
No âmbito de cada ação será avaliado pelos Tribu-
Tribunal de Contas
nais de Contas durante a etapa
participante
de monitoramento desta fiscali-
No âmbito de cada Tribunal de zação, a última do ciclo de audi-
Contas participante desta audi- toria operacional, oportunidade
toria operacional coordenada, em qu e a eq u i pe d e a u d ito r i a
após a apreciação dos relató- verifica o cumprimento das deli-
rios pelos respectivos ministros berações do Tribunal e evidencia
e conselheiros, as Secretarias os resultados delas advindos.
Estaduais de Educação (órgãos

72
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 73

Acompanhamento social
Até o momento desta publi-
cação, os Tribunais de Contas
participantes estão em fase de
a p re c i a ç ã o e j u l g a m e n t o d o s
relatórios elaborados por suas
re s p e c t i va s e q u i p e s d e a u d i -
toria, salvo o TCU, o TCE/RO e
o TCE/CE, os quais já tiveram
seus relatórios apreciados pelo
colegiado e os correspondentes
acórdãos publicados.

Para acompanhar as próximas


etapas desta fiscalização e co-
nhecer mais sobre os pontos de
melhoria identificados em cada
Secretaria Estadual de Educa-
ç ã o f i s c a l i z a d a , re g i s t ra m - s e ,
na tabela 8, as informações de
consulta aos processos de con-
trole externo autuados em cada
Tribunal de Contas participante
desta fiscalização.
Tribunal de Contas da União

Tabela 8: Informações de consulta aos processos em cada


Tribunal de Contas

Tribunal Unidade
N° do processo Link de acesso
de Contas jurisdicionada

Ministério da Educação https://portal.tcu.gov.br/ini-


TCU 010.000/2022-4
(MEC) cio/index.htm

Secretaria de Estado da https://externo.tceac.tc.br/


TCE-AC 142.988
Educação (Seduc-AC) gepro/consulta/#

Secretaria de Estado da
TCE-AL 1720/2023 -
Educação (Seduc-AL)

Link indisponível ao público em


Secretaria de Estado da
TCE-AP TC 004371/2022 razão de o processo não ter sido
Educação (Seduc-AP)
julgado

Secretaria de Estado da Consulta de processos: tce.


TCE-BA TCE/004716/203
Educação (Seduc-BA) ba.gov.br

Secretaria de Estado da https://www.tce.ce.gov.br/ci-


TCE-CE 17417/2022-3
Educação (Seduc-CE) dadao/consulta-de-processos

Link indisponível ao público em


Secretaria de Estado da
TCE-MS TC/14224/2022 razão de o processo não ter sido
Educação (Seduc-MS)
julgado

Secretaria de Estado da https://www.tce.mt.gov.br/


TCE-MT 100242/2022
Educação (Seduc-MT) processo/100242/2022#/

74
Auditoria Operacional Coordenada no
Acesso e Permanência no Ensino Médio 75

Tribunal Unidade
N° do processo Link de acesso
de Contas jurisdicionada

https://www.tcepa.tc.br/
portalservicos/processo/pro-
Secretaria de Estado da cessoexpediente-detalhar?h=-
TCE-PA 008516/2022
Educação (Seduc-PA) NgFR8lWM3XVaLxx+YxWi0V-
qlOf2U7rFHSjNMjfkbim4yTZta-
9vtHhdHpglbR4J8G

Secretaria de Estado da https://tramita.tce.pb.gov.br/


TCE-PB 05208/22
Educação (Seduc-PB) tramita/pages/main.jsf

https://servicos.tce.pr.gov.
br/TCEPR/Tribunal/Trami-
Secretaria de Estado da
TCE-PR 11581-9/23 teWeb/Protocolo?nrProtoco-
Educação (Seduc-PR)
lo=2023115819&priorizarExibi-
caoProcedimento=N

https://etce.tce.pe.gov.br/
Secretaria de Estado da epp/ConsultaExternaTCE/lis-
TCE-PE 23100178-2
Educação (Seduc-PE) tView.seam?cprc=23100178&-
digito=2

https://sistemas.tce.pi.gov.br/
Secretaria de Estado da
TCE-PI 009826/2022 tceviewer/index.xhtml?codi-
Educação (Seduc-PI)
goProtocolo=009826/2022

Secretaria de Estado da https://www.tce.rj.gov.br/


TCE-RJ 108.731-0/2022
Educação (Seduc-RJ) consulta-processo/

https://tcers.tc.br/consultas/
Secretaria de Estado da
TCE-RS 021351-0200/23-5 processo_detalhe/?proces-
Educação (Seduc-RS)
so=213510200235

Secretaria de Estado da https://pce.tce.ro.gov.br/tra-


TCE-RO 00959/2022
Educação (Seduc-RO) mita/pages/main.jsf

Fonte: Elaboração própria.


RESPONSABILIDADE PELO CONTEÚDO
Secretaria-geral de Controle Externo - Segecex
Tribunais de Contas participantes:
TCE-AC, TCE-AL, TCE-AP, TCE-BA, TCE-CE,
TCE-MS, TCE-MT, TCE-PA, TCE-PB, TCE-PR,
TCE-PE, TCE-PI, TCE-RJ, TCE-RO e TCE-RS.

RESPONSABILIDADE EDITORIAL
Secretaria-Geral da Presidência (Segepres)
Secretaria de Comunicação (Secom)
PROJETO GRÁFICO, DIAGRAMAÇÃO E CAPA
Secretaria de Comunicação (Secom)
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Secretaria-geral da Presidência - Segepres
Edifício Sede, 1º andar, sala 146
Telefone: 61 35275338
Secretaria-geral de Controle Externo - Segecex
Anexo III, Sala 450
Telefone: 61 35277322

Ouvidoria do TCU
Telefone: 0800 644 1500
ouvidoria@tcu.gov.br

Impresso pela Senge/Segedam


MISSÃO
Aprimorar a Administração Pública em benefício

da sociedade por meio do controle externo.

VISÃO
Ser referência na promoção de uma Administração

Pública efetiva, ética, ágil e responsável.

tcu.gov.br

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