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ESTUDO DE ESCOAMENTOS BIFÁSICOS GÁS-LÍQUIDO

EM DUTO CIRCULAR HORIZONTAL E LIGEIRAMENTE


INCLINADO

Lívia Alves de Oliveira

Projeto de Graduação apresentado ao


Curso de Engenharia de Petróleo da
Escola Politécnica, Universidade Federal
do Rio de Janeiro, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título
de Engenheiro.

Orientadores: Su Jian e José Luiz Horácio


Faccini

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL


Outubro de 2011
Estudo de Escoamentos Bifásicos Gás-Líquido em Tubo Circular
Horizontal e Ligeiramente Inclinado

Lívia Alves de Oliveira

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Petróleo da


Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro.

Aprovado por:

___________________________________
Prof. Jurandyr de Souza Cunha Filho, D. Sc.

___________________________________
Prof. Theodoro Antoun Netto, Ph.D.

____________________________________
Prof. José Luiz Horácio Faccini, D. Sc.

____________________________________
Prof. Su Jian, D. Sc.

ii
Oliveira, Lívia Alves de
Estudo de Escoamentos Bifásicos Gás-Líquido em Tubos
Horizontais e Ligeiramente Inclinados/ Lívia Alves de
Oliveira. - Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2011
X, 107 p. 29,7cm
Orientadores: Su Jian e José Luiz Horácio Faccini
Projeto de Graduação da UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso
de Engenharia do Petróleo, 2011.
Referencias Bibliográcas: p. 85-91.
1. Escoamentos Bifásicos 2. Regimes de Escoamento
3. Escoamento Intermitente 4. Sistema ar-água I. Jian, Su.
II. Horácio Faccini, José Luiz. III. Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia do Petróleo.
IV. Título (série)

iii
Agradecimentos

Aos meus pais, Tito e Sonia, meu irmão, Yuri, pelo suporte.
Ao professor Su Jian, pela grande paciência, incentivo, apoio e ótimos momen-
tos que me proporcionou ao longo dos últimos dois anos e meio da graduação.
Ao José Luiz Horácio Faccini, por toda a instrução e experiência que procurou
me transmitir nos trabalhos no Laboratório de Termo-hidráulica.
Ao Jurandyr de Souza Cunha Filho, pelos conselhos, assistência e atenção
dispensados.
Aos amigos do curso de Engenharia de Petróleo - especialmente ao Breno e à
Tatiana - que tanto me ajudaram a chegar até aqui.
E a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a conclusão desse
trabalho.

iv
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como
parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Petróleo.

ESTUDO DE ESCOAMENTOS BIFÁSICOS GÁS-LÍQUIDO EM DUTOS


CIRCULARES HORIZONTAIS E LIGEIRAMENTE INCLINADOS

Lívia Alves de Oliveira

Setembro/2011

Orientadores: Jian Su e José Luiz Horácio Faccini


Curso de Engenharia de Petróleo

Os escoamentos multifásicos estão presentes em diversas fases da produção de


petróleo: recuperação, elevação, escoamento e até mesmo exportação para rena-
rias. As fases existentes podem se organizar de diferentes formas na tubulação e o
conhecimento desses regimes é de extrema importância para cálculo de gradientes
de pressão, holdup, etc. O escoamento intermitente é bastante relevante para a
indústria, dado que costuma ser indesejado por gerar alta pressão, utuação nas
taxas de uxo, ineciência do processamento primário e/ou problemas operacionais.
Neste trabalho foi realizado um estudo experimental sobre o escoamentos
bifásicos gás-líquido em tubulações horizontais e levemente inclinadas através de
uma técnica de visualização de alta velocidade. A visualização dos escoamentos
foi realizada para escoamentos ascendentes a 5◦ e 10◦ e para escoamentos descen-
dentes a 2, 5◦ , 5◦ e 10◦ , assim como escoamentos horizontais. A partir das imagens
obtidas foram medidos parâmetros do escoamento intermitente (velocidade e compri-
mento das bolhas alongadas e pistões de líquido) e os regimes de escoamentos foram
identicados (exceto o escoamento anular), observando o efeito dos ângulos de in-
clinação nas fronteiras de transição de regime. Modelos de regimes de escoamento
disponíveis na literatura foram implementados e os parâmetros do escoamento in-
termitente foram calculados segundo correlações a m de se comparar com os dados
experimentais.

v
Abstract of an Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as partial fulll-
ment of the requirements for the Engineers degree.

STUDY OF GAS-LIQUID TWO-PHASE FLOW IN HORIZONTAL AND


SLIGHTLY INCLINED CIRCULAR PIPES

Lívia Alves de Oliveira

September/2011

Advisors: Su Jian and José Luiz Horácio Faccini


Major: Petroleum Engineering

Multiphase ows are present at various stages of oil production: recovery, lift,
owlines and even export to reneries. The existing phases can be organized in
dierent ways inside the pipe and knowledge of these schemes is extremely impor-
tant for calculation of pressure gradients, holdup, etc.. The intermittent ow is
quite relevant to the industry as it is often undesirable for generating high pres-
sure, uctuation in ow rates, inecient in primary processing and/or operational
problems.
This work carried out an experimental study of the gas-liquid two-phase ow
in horizontal and slightly inclined pipes with a high speed visualization technique.
The ow visualization was performed to upward ow (5◦ and 10◦ ) and downward
ow (2.5◦ , 5◦ and 10◦ ), as well as horizontal ow. From the obtained images, inter-
mittent ow parameters were measured (elongated bubbles and slugs velocity and
length) and the ow regimes were identied (except the annular ow), to analyse
the eect of inclination angles in the boundaries of regime transition . Models of
ow regimes available in the literature have been implemented and the parameters
of the intermittent ow were calculated by correlations in order to compare with
experimental data.

vi
Sumário

Resumo v

Abstract vi

Lista de Figuras x

Lista de Tabelas xiii

Lista de Símbolos xiv

1 Introdução 1
1.1 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Objetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

2 Fundamentos de Escoamentos Bifásicos 4


2.1 Regimes de Escoamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.2 Parâmetros multifásicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

3 Revisão Bibliográca 9
3.1 Técnicas de Medição em Escoamentos Multifásicos . . . . . . . . . . . 9
3.1.1 Técnicas Invasivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.1.2 Técnicas Invasivas Indiretas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3.1.3 Técnicas Não Invasivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
3.2 Mecanismos de Transição de Regimes de Escoamento . . . . . . . . . 17
3.3 Mapas de Regimes de Escoamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.4 Escoamento Intermitente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

vii
4 Métodos Experimentais 36
4.1 Instalação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
4.1.1 Planta para Testes Bifásicos Horizontais e Inclinados . . . . . 36
4.2 Técnica Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.2.1 Sistema de Visualização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.2.2 Descrição dos Procedimentos Experimentais . . . . . . . . . . 45
4.2.3 Correções Experimentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

5 Modelos de Regimes de Escoamento 53


5.1 Mapa de Mandhane et al. (1974) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
5.1.1 Dados de Entrada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
5.1.2 Descrição do Programa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
5.1.3 Aplicabilidade do Programa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
5.2 Mapa de Taitel e Dukler (1976) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
5.2.1 Dados de Entrada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
5.2.2 Descrição do Programa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
5.2.3 Aplicabilidade do Programa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

6 Análise dos Resultados e Discussões 62


6.1 Escoamento Intermitente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
6.1.1 Escoamento Horizontal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
6.1.2 Escoamento Ascendente de 5◦ . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
6.1.3 Escoamento Ascendente de 10◦ . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
6.2 Mapas de Regimes de Escoamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
6.2.1 Escoamento Horizontal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
6.2.2 Escoamento Ascendente de 5◦ . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
6.2.3 Escoamento Ascendente de 10◦ . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
6.2.4 Escoamento Descendente de 2, 5◦ . . . . . . . . . . . . . . . . 78
6.2.5 Escoamento Descendente de 5◦ . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
6.2.6 Escoamento Descendente de 10◦ . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

viii
7 Conclusões e Sugestões 83
7.1 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
7.2 Sugestões de Trabalhos Futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

Referências Bibliográcas 86

ix
Lista de Figuras

2.1 Regimes de escoamentos horizontais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

3.1 Mapa de Mandhane et al. (1974) para escoamentos horizontais. . . . . 23


3.2 Condição inicial de um escoamento estraticado em equilibrio se-
gundo Taitel e Dukler (1976). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.3 Mapa de Taitel e Dukler (1976) para o escoamento horizontal, ar-
água, 25◦ C , 1 atm, D = 2, 5 cm. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.4 Escoamento horizontal gás-líquido intermitente. . . . . . . . . . . . . 28
3.5 Pers que a bolha alongada pode assumir de acordo com Fagun-
des Netto et al. (1999). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

4.1 Esquema da planta para testes bifásicos horizontais e inclinados. . . . 37


4.2 Sistema de inclinação da seção de testes. . . . . . . . . . . . . . . . . 39
4.3 Sala de controle. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
4.4 Sistema de regulagem, distribuição e monitoramento da vazão do ar
comprimido. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4.5 Esquema do sistema de visualização. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
4.6 Progressão do nariz da bolha alongada de gás. . . . . . . . . . . . . . 46
4.7 Progressão da cauda da bolha alongada de gás. . . . . . . . . . . . . 46
4.8 Bolha imersa em um líquido. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

5.1 Fluxograma com o raciocínio lógico do algoritmo de Mandhane et al.


(1974). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
5.2 Gráco de hL /D versus X para o escoamento horizontal. . . . . . . . 58

x
5.3 Fluxograma com o raciocínio usado para o mapa de Taitel e Dukler
(1976) para escoamento horizontal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

6.1 Comparação entre a velocidade translacional da bolha alongada me-


dida pelo sistema de visualização e a correlação de Bendiksen (1984)
para o escoamento horizontal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
6.2 Comparação entre a velocidade translacional da bolha alongada me-
dida pelo sistema de visualização e pela correlação de Cook e Behnia
(2001) para o escoamento horizontal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
6.3 Comprimentos das bolhas alongadas em função da velocidade super-
cial do gás. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
6.4 Correlação de Cook e Behnia (2000) para estabilidade de pistão de
líquido e pontos experimentais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
6.5 Pers da cauda da bolha alongada para escoamento horizontal. . . . . 66
6.6 Pers do nariz da bolha alongada para escoamento horizontal. . . . . 67
6.7 Comparação entre a velocidade translacional da bolha alongada me-
dida pelo sistema de visualização e a correlação de Bendiksen (1984)
para o escoamento ascendente de 5◦ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
6.8 Comparação entre a velocidade translacional da bolha alongada me-
dida pelo sistema de visualização e a correlação de Cook e Behnia
(2001) para o escoamento ascendente de 5◦ . . . . . . . . . . . . . . . 68
6.9 Comprimentos das bolhas alongadas em função da velocidade super-
cial do gás. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
6.10 Correlação de Cook e Behnia (2000) para estabilidade de pistão de
líquido e pontos experimentais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
6.11 Pers da cauda da bolha alongada para os testes realizados para es-
coamento ascendente de 5◦ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
6.12 Pers do nariz da bolha alongada para os testes realizados para es-
coamento ascendente de 5◦ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

xi
6.13 Comparação entre a velocidade translacional da bolha alongada me-
dida pelo sistema de visualização e a correlação de Bendiksen (1984)
para o escoamento ascendente de 10◦ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
6.14 Comparação entre a velocidade translacional da bolha alongada me-
dida pelo sistema de visualização e a correlação de Cook e Behnia
(2001) para o escoamento ascendente de 10◦ . . . . . . . . . . . . . . . 74
6.15 Comprimentos das bolhas alongadas em função da velocidade super-
cial do gás. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
6.16 Correlação de Cook e Behnia (2000) para estabilidade de pistão de
líquido e pontos experimentais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
6.17 Pers da cauda da bolha alongada para escoamento ascendente de 10◦ . 76
6.18 Pers do nariz da bolha alongada para escoamento ascendente de 10◦ . 77
6.19 Localização dos dados experimentais com relação aos mapas de Mand-
hane et al. (1974) e Taitel e Dukler (1976) para escoamento horizontal. 77
6.20 Comparação dos dados experimentais com o mapa de Taitel e Dukler
(1976) para o escoamento ascendente de 5◦ . . . . . . . . . . . . . . . 78
6.21 Localização dos dados experimentais com relação ao mapa de Taitel
e Dukler (1976) para o escoamento ascendente de 10◦ . . . . . . . . . . 79
6.22 Localização dos dados experimentais com relação ao mapa de Taitel
e Dukler (1976) para o escoamento descendente de 2, 5◦ . . . . . . . . 80
6.23 Localização dos dados experimentais com relação ao mapa de Taitel
e Dukler (1976) para o escoamento descendente de 5◦ . . . . . . . . . . 81
6.24 Localização dos dados experimentais com relação ao mapa de Taitel
e Dukler (1976) para o escoamento descendente de 10◦ . . . . . . . . . 82

xii
Lista de Tabelas

3.1 Faixa de abrangência dos parâmetros usados por Mandhane et al.


(1974) para escoamentos horizontais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.2 Faixa de abrangência dos parâmetros usados como critério para os
sistemas ar-água. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

4.1 Exemplo de valores de velocidade da bolha alongada de gás obtidos


pelo programa da câmera para o contexto da gura 4.6. . . . . . . . . 46

5.1 Exemplo de dados de entrada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54


5.2 Condições de Trabalho no Laboratório de Termo-hidráulica Experi-
mental. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

6.1 Velocidades superciais das fases nos escoamentos horizontal e ascen-


dentes (5◦ e 10◦ ). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

xiii
Lista de Símbolos

AK Área da seção transversal ocupada pela fase K

AT Área total da seção transversal do tubo

c Velocidade de propagação da onda

C0 Coeciente de distribuição do perl de velocidade no escoamento


bifásico

C1 Coeciente de deslizamento

CG Coeciente do fator de atrito do gás

CL Coeciente do fator de atrito do líquido

Cp Calor especíco a pressão constante

Cv Calor especíco a volume constante

D Diâmetro interno do tubo

F Grupo de transição de Taitel e Dukler (1976)

Fr Número de Froude

F rL Número de Froude da fase líquido

g Aceleração da gravidade

h Entalpia

hL Altura do lme de líquido

xiv
K Grupo de transição de Taitel e Dukler (1976)

LB Comprimento da bolha alongada

LP L Comprimento do pistão de líquido

m Expoente do fator de atrito do gás

n Expoente do fator de atrito do líquido

N Número de amostras

P Pressão

Pacr Pressão no trecho de acrílico

Pcal Pressão de calibração do medidor

Pop Pressão de operação do medidor

Qacr Vazão no trecho de acrílico

QG Vazão volumétrica da fase gás

QK Vazão volumétrica da fase K

QL Vazão volumétrica da fase líquida]

Qreal Vazão real

Qrot Vazão lida no rotâmetro

R Constante dos gases

Re Número de Reynolds

s Coeciente de envoltória

SG Perímetro do tubo em contato com o gás

Si Perímetro da interface das fases

SL Perímetro do tubo em contato com o líquido

xv
t Tempo

T Grupo de transição de Taitel e Dukler (1976)

T Temperatura

Tcal Temperatura de calibração do medidor

Top Temperatura de operação do medidor

u Energia interna

UGS Velocidade supercial da fase gás

UK Velocidade da fase K

UKS Velocidade supercial da fase K

ULS Velocidade supercial do líquido

UM Velocidade da mistura

V Volume

V0 Velocidade de deslocamento da bolha alongada no líquido parado


(drift velocity)

VCB Velocidade da cauda da bolha alongada

VF P L Velocidade da frente do pistão de líquido

VM B Velocidade de média da bolha alongada

VM P L Velocidade média do pistão de líquido a frente da bolha

VN B Velocidade do nariz da bolha alongada

VP P L Velocidade da parte posterior do pistão de líquido

x Distância

X Parâmetro de Lockart e Martinelli (1949)

xvi
Y Grupo adimensional de Taitel e Dukler (1976)

θ Ângulo de inclinação do tubo a partir da horizontal

αL Hold up

αG Fração de vazio

ρcal Massa especíca a pressão de calibração

ρG Massa especíca do gás

ρL Massa especíca do líquido

ρop Massa especíca a pressão de operação

νL Viscosidade cinemática do líquido

τi Tensão de cisalhamento na interface gás-líquido

τwL Tensão de cisalhamento na inteface parede-líquido

τwG Tensão de cisalhamento na inteface parede-gás

xvii
Capítulo 1

Introdução

A grande maioria dos escoamentos que ocorrem na natureza são multifási-


cos. Por exemplo, as nuvens são gotas de líquido movendo-se envoltas em gás.
Petróleo, gás e água coexistem na crosta terrestre. Na indústria sua presença tam-
bém é constante, como na transferência de calor por ebulição, que é de fundamental
importância na geração de energia elétrica; nas reações químicas que envolvem mis-
turas, emulsões e catálises; em diversos procedimentos da medicina; em sistemas
projetados pela engenharia; entre muitos outros casos.
Na indústria petrolífera, os uxos multifásicos (óleo, água e/ou gás) são fre-
qüentes, principalmente na parte de upstream, que abrange recuperação, elevação,
escoamento e até mesmo exportação para renarias.

1.1 Motivação

Em reservatórios de petróleo, o óleo está associado ao gás natural, seja como


gás livre ou dissolvido. Durante sua extração e transporte, variações de pressão e
temperatura provocam a liberação do gás que estava dissolvido na fase líquida, de
modo a formar um escoamento bifásico gás-líquido, onde os uidos presentes (óleo,
gás e água) escoam sempre juntos. O conhecimento dos parâmetros envolvidos no
escoamento é de suma importância para uma correta especicação de equipamentos,
redução de custos operacionais e garantia de segurança durante todo o processo.
O petróleo representa um recurso natural de grande relevância no Brasil. O

1
sucesso da atividade de produção dos campos de petróleo depende da qualidade
do planejamento das estratégias para desenvolvimento e gerenciamento dos reser-
vatórios. O tipo de poço a ser utilizado, as condições operacionais, características
do reservatório e cenário econômico são algumas das variáveis a serem analisadas
em um projeto.
Nas últimas décadas tem sido crescente o uso de poços horizontais, que jun-
tamente com os poços direcionais, constituem hoje o padrão utilizado na indústria
para poços de desenvolvimento. Isso foi possível devido à evolução das técnicas
de perfuração e de completação, reduzindo problemas técnicos e custos envolvidos,
além do interesse da indústria pelas muitas vantagens apresentadas em relação aos
tradicionais poços verticais. Entre elas podem ser citados o aumento da área ex-
posta ao uxo de hidrocarbonetos, a redução das quedas de pressão, viabilização
economica da exploração de campos oshore em situações onde o posicionamento
das plataformas marítimas de produção é crítico devido às condições adversas do
mar, entre muitas outras.
A limitação de só poder drenar uma zona por poço já foi superada, com poços
horizontais sendo usados para drenar múltiplas zonas através de vários trechos hori-
zontais, em diferentes camadas, perfurados a partir de um mesmo poço vertical ou da
fratura hidráulica de um trecho horizontal do poço previamente cimentado. Porém,
uma outra desvantagem persiste, que é a necessidade de fechamento ou transfor-
mação dos poços horizontais em injetores a partir do momento em que eles atingem
um contato óleo/água. Esses são os próximos desaos a serem superados.

1.2 Objetivo

O objetivo deste trabalho é realizar um estudo experimental sobre o escoa-


mento bifásico gás-líquido em tubulações horizontais e levemente inclinadas uti-
lizando uma técnica de visualização de alta velocidade. A partir das imagens obtidas
foram determinados parâmetros do escoamento intermitente (velocidade e compri-
mento das bolhas alongadas e pistões de líquido) para comparação com correlações
da literatura, de Bendiksen (1984) e Cook e Behnia (2001), além da identicação

2
dos regimes de escoamentos (exceto o escoamento anular), observando o efeito dos
ângulos de inclinação nas fronteiras de transição de regime. Modelos de mapas de
regimes de escoamento disponíveis na literatura, Taitel e Dukler (1976) e Mand-
hane et al. (1974), foram implementados e contrapostos com os dados experimentais
obtidos em laboratório. Com isso, algumas conclusões foram remarcadas.

3
Capítulo 2

Fundamentos de Escoamentos
Bifásicos

Escoamentos bifásicos em tubulações horizontais e pouco inclinadas são larga-


mente encontrados nas indústrias, envolvendo diversos parâmetros e fenômenos físi-
cos que necessitam ser quanticados e controlados a m de se alcançar projetos
econômicos de processos e garantir a eciência e segurança operacional dos equipa-
mentos. Nesta seção serão apresentados conceitos relacionados aos escoamentos
bifásicos e uma revisão da literatura.

2.1 Regimes de Escoamento

Quando um gás e um líquido escoam em co-corrente em uma tubulação, muitos


padrões ou regimes de escoamento podem se desenvolver, devido às diferentes formas
em que as fases podem se dispor. Existem diferentes técnicas para reconhecimento
dos padrões de escoamentos bifásicos. A mais comum e simples é a observação vi-
sual direta do escoamento através de um tubo transparente ou um visor, geralmente
através de equipamentos fotográcos ou vídeos de alta velocidade. O maior pro-
blema dessas técnicas é que a observação e interpretação são altamente subjetivas,
especialmente em altas velocidades da fase gás, onde a movimentação das interfaces
ao longo do tubo a elevadas velocidades dicultam a padronização da classicação.
Diferenças na interpretação das observações visuais são, sem dúvida, a principal

4
razão para que os experimentos apresentem diferentes resultados de padrões de es-
coamento para condições essencialmente similares. Um dos fatores importantes na
aplicação da técnica de visualização, fotográca ou vídeo, é o ajuste da intensidade
de iluminação e problemas decorrentes de reexões que ocorrem na superfície do
tubo transparente e nas interfaces das fases, induzindo a diferentes interpretações.
Os regimes de escoamentos horizontais podem ser classicados, de acordo com
Mandhane et al. (1974), em:

• Escoamento em bolhas (Bubbly ow )

Este regime está situado dentro dos escoamentos chamados dispersos (Beggs e
Brill (1973)). Nesta conguração as bolhas tendem a escoar na parte superior
do tubo uma vez que a fase dispersa é menos densa do que a contínua. Estas
bolhas podem se apresentar na forma esférica com pequenos diâmetros ou em
tamanhos maiores com formas elípticas alongadas. Quando a velocidade do
líquido aumenta o escoamento tende a se tornar mais disperso e com bolhas
menores. (Figura 2.1).

• Escoamento pistonado (Plug ow )

À medida que a velocidade da fase gás aumenta, ocorre a coalescência das


bolhas, formando bolhas maiores e alongadas. Devido a diferença de velocidade
das fases ocorre a formação de pistões de líquido, também chamados de slugs
de líquido. As bolhas tendem a escoar pela metade superior do conduto. Neste
caso, a condição assimétrica é mantida independentemente da velocidade de
escoamento, devido ao maior tamanho das bolhas (Figura 2.1).

• Escoamento estraticado suave ou liso (Stratied Smooth Flow )

Acontece em velocidades muito baixas de líquido e de gás. As duas fases são


separadas por uma interface suave e lisa, sem ondulações (Figura 2.1).

• Escoamento estraticado ondulado (Wavy ow )

Quando no escoamento estraticado a velocidade do gás aumenta, aparecem


oscilações na interface, ou seja, surgem ondas que não chegam a tocar na

5
superfície superior do tubo. O padrão e a amplitude das ondas variam com as
variações das vazões das fases gás e líquido e com as propriedades físicas dos
uidos como a densidade e a tensão supercial (Figura 2.1).

• Escoamento slug (Slug ow )

É similar ao escoamento pistonado, porém como a velocidade do gás é maior do


que a velocidade do líquido formam-se ondas ( slugs  de líquido) maiores que
periodicamente molham a parede superior do tubo, gerando grandes bolhas
de gás presas entre duas ondas. Pequenas bolhas de gás misturam-se a fase
líquida, tornado-a altamente aerada. Este escoamento é caótico uma vez que
os pistões de líquido ( slugs  de líquido) são intermitentes e não periódicos
(Figura 2.1).

• Escoamento anular (Annular ow )

Aumentando-se ainda mais a velocidade do gás, haverá concentração do gás


no centro do tubo, com a formação de uma camada de líquido totalmente
em contato com a parede do tubo. A camada de líquido é geralmente muito
mais espessa na parte inferior do tubo devido à ação da gravidade. A fase gás
escoa a alta velocidade e freqüentemente apresenta quantidade signicante de
gotículas líquidas dispersas (Figura 2.1).

A gura 2.1 é uma representação esquemática dos regimes de escoamentos


horizontais descritos acima.

Figura 2.1: Regimes de escoamentos horizontais.

É interessante ressaltar que esta classicação não é única. Diversos autores


utilizam termos diferentes para designar os mesmos regimes, ou até mesmo ampliam
ou reduzem a lista.

6
2.2 Parâmetros multifásicos

Velocidade da Fase
A velocidade da fase UK é denida como a razão entre a vazão volumétrica de
cada fase K (QK ) e a área da seção transversal ocupada por cada fase no tubo
(AK ).
QK
UK = . (2.1)
AK
Velocidade Supercial da Fase
A velocidade supercial da fase UKS é denida como a razão entre a vazão
volumétrica fase K (QK ) e a área total da seção transversal do tubo (AT ).
QK
UKS = . (2.2)
AT
As velocidades superciais das fases gás (UGS ) e líquido (ULS ) correspondem
as velocidades que as fases teriam se estivessem escoando sozinhas no tubo.
Aparecem como variáveis nos eixos coordenados de vários mapas de escoa-
mento.

Velocidade da Mistura
No escoamento bifásico gás-líquido a velocidade da mistura UM é denida como
a soma das velocidades superciais das fases:
QG + QL
UM = UGS + ULS = . (2.3)
AT

Velocidade de Deslizamento
A velocidade de deslizamento (drif t velocity ) é denida como a velocidade do
gás escoando no líquido parado e a simobologia utlizada será V0 .

Número de Froude
O número de Froude é um número adimensional que relaciona o efeito das
forças de inércia com as forças de gravidade que atuam na mistura, sendo
expresso por:
UM 2 (UGS + ULS )2
Fr = = . (2.4)
gD gD
Onde:

7
• g é a aceleração da gravidade,

• D é o diâmetro interno do tubo.

8
Capítulo 3

Revisão Bibliográca

3.1 Técnicas de Medição em Escoamentos Multi-

fásicos

Cunha Filho (2010) fez uma abrangente revisão das técnicas que podem ser
utilizadas na medição de parâmetros de escoamentos bifásicos. O autor as dividiu
em técnicas invasivas, invasivas indiretas e não invasivas.

3.1.1 Técnicas Invasivas

Para as técnicas invasivas aplicadas em escoamento bifásico utiliza-se normal-


mente a medição da impedância elétrica do meio bifásico por meio de eletrodos,
assim procura-se relacionar a impedância elétrica do meio com parâmetros bifási-
cos.
Este método baseia-se no fato de que as fases líquido e gás apresentam dife-
rentes condutividades elétricas e permissividades relativas (constante dielétrica), po-
dendo ser dividido em duas categorias: método capacitivo e resistivo. O produto
entre a resistência R e a capacitância Cel elétrica está relacionado com a constante
dielétrica el e a condutividade elétrica Kel do meio bifásico.

el
RCel = , (3.1)
Kel

9
O produto RCel relaciona as grandezas elétricas do equipamento com as carac-
terísticas elétricas do meio bifásico. Em escoamentos bifásicos os métodos resistivos
são utilizados com freqüências abaixo de 100 KHz e os métodos capacitivos com
freqüências bem superiores.

a) Método Resistivo

Os sensores resistivos funcionam de acordo com diferença de condutividade


entre as fases, sendo os anemômetros de lme-quente AF Q muito utilizados em
escoamentos bifásicos (Fossa et al., 2003, Serizawa et al., 1975). Seu funcionamento
baseia-se na transferência de calor de um pequeno sensor aquecido eletricamente e
exposto ao escoamento, estabelecendo uma relação de pertinência entre a velocidade
do escoamento e a resistência observada no lamento aquecido. A Lei de King (1914)
é uma das mais conhecidas e utilizadas em anemometria a o-quente. A forma geral
proposta por King pode ser expressa como:

N u = D1 + D2 Re−0,5 , (3.2)

Para aplicações práticas a Lei de King pode ser escrita como:

Eel = D1 + D2 Rep , (3.3)

onde:

• N u é o número de Nusselt,

• Re é o número de Reynolds,

• Eel , é a tensão elétrica na saída no anemômetro,

• D1 , D2 e p são constantes empíricas a serem determinadas mediante a cali-


bração do sensor.

A velocidade local instantânea do escoamento pode ser determinada, medindo


a diferença de tensão na saída do circuito que alimenta o sensor e realizando-se, em
seguida, a conversão deste sinal elétrico em velocidade.

10
Segundo Freire et al. (2006) a anemometria de lme-quente AF Q constitui-
se um método de investigação pouco intrusivo devido às pequenas dimensões do
elemento sensível.
Segundo Boyer et al. (2002) a calibração do sensor, isto é, a determinação dos
parâmetros de King, é realizada através de uma técnica de medição por referência,
sendo necessário, por exemplo, um ajuste para cada tipo de regime de escoamento.
Também, é necessária a vericação diária da curva de calibração, pois as caracterís-
ticas do sensor podem variar rapidamente.

b) Método Capacitivo

O método capacitivo é encontrado na literatura para caracterização de escoa-


mentos bifásicos (Cho et al., 2005, Divora et al., 1980, Hogset e Ishii, 1997), sendo seu
funcionamento baseado na diferença entre as constantes dielétricas das fases. Deve-
se observar que os transdutores de capacitância ao entrarem em contato elétrico com
o uido, necessitam operar em alta freqüência (20-30 MHz) para determinação da
permissividade elétrica. O uso de fontes de alta freqüência introduz instabilidades
elétricas que tornam o instrumento muito suscetível às variações de capacitância e
aos efeitos de proximidade.
Os métodos resistivo e capacitivo, em razão de serem intrusivos, são suscep-
tíveis a vazamentos e o fato de os transdutores carem xos no local de medição,
torna, muitas vezes, difícil a calibração e impossível a troca do ponto de medição.

3.1.2 Técnicas Invasivas Indiretas

Como técnicas invasivas indiretas existem os métodos de medição por dife-


rença de pressão que são utilizados para distinguir regimes de escoamento. Weis-
man et al. (1979) concluíram que a utuação das diferenças de pressão possibili-
tava a determinação dos regimes de escoamento e desenvolveram um conjunto de
critérios relativamente simples que foram aplicados para criação de um oscilógrafo
de traços de pressão diferencial. Os regimes de escoamento eram simplesmente dis-
tinguidos pela comparação da amplitude e freqüência da variação de pressão em

11
relação ao tempo. Matsui (1984) realizou a identicação de regimes de escoamento
bifásico vertical relacionando propriedades estatísticas com a variação da pressão
diferencial. Tutu (1982) também realizou a identicação de regimes de escoamento
relacionando a raiz quadrada média da utuação de pressão (RMS) com a técnica
estatísitca função densidade de probabilidade. Embora estas técnicas sejam relati-
vamente simples, necessitam de pontos de medição onde é necessário a realização de
furos na tubualação para tomadas de pressão, incorrendo em riscos de vazamento
e interferindo no escoamento em razão da existência de descontinuidade (furos) na
superfície interna da tubulação.

3.1.3 Técnicas Não Invasivas

As técnicas não invasivas podem ser classicadas em visualização (fográ-


ca/vídeo e óptica), atenuação da radiação e ultra-sônica.

a) Técnica de Visualização

O aspecto do escoamento visto através do tubo transparente permite o estudo


de importantes parâmetros bifásicos. As técnicas de visualização permitem estudar
o perl, tamanho e velocidade das bolhas em escoamentos bifásicos.

a.1) Técnica Fotográca/Vídeo

O aspecto do escoamento e o comportamento transiente das interfaces gás-


líquido visto através do tubo transparente são importantes características a serem
estudadas. A utilização de técnicas fotográcas ou, mais recentemente, a utilização
de câmeras de vídeo de alta freqüência permite obter e analisar imagens dos regimes
de escoamento e de suas interfaces. Lage e Esposito (1999) utilizaram a técnica
fotográca para medir diâmetros de bolhas e fração de líquido em uma coluna
de borbulhamento, Bendiksen (1984) utilizou a mesma técnica para realizar uma
investigação experimental de bolhas alongadas. Faccini et al. (2007) utilizaram
uma câmera de alta resolução para medição do comprimento e da velocidade da
bolha alongada no escoamento bifásico horizontal e Filho et al. (2009) utilizaram a

12
mesma técnica para medir a velocidade e o perl de bolhas alongadas no escoamento
pistonado horizontal.

a.2) Técnica Óptica

As principais técnicas ópticas aplicadas em escoamentos bifásicos são a


anemometria laser-Doppler (ALD) e velocimetria por imagem de partículas (VIP).

a.2.1) Anemometria Laser-Doppler (LDA)

O princípio desta técnica baseia-se se no movimento relativo entre a onda


(laser) emitida pelo transdutor e a onda reetida por interfaces (gás-líquido), que
apresentam entre si variação de freqüência. A essa variação de freqüência normal-
mente atribui-se o nome de desvio Doppler ( do inglês Doppler shif t) ou desvio de
freqüência. Está técnica não requer calibração e devido a sua alta resolução espacial
e temporal tem a vantagem de obter detalhes da estrutura do escoamento. É uma
técnica de medição pontual. (Freire et al., 2006)

a.2.2) Velocimetria por Imagem de Partículas (PIV)

Esta técnica consiste em iluminar uma seção do escoamento com um plano


laser pulsátil onde são gravadas imagens das interfaces dispersas no uido através
de uma câmera situada perpendicularmente ao plano de luz. As imagens adquiridas
são divididas em pequenas áreas chamadas regiões de interrogação. Através da corre-
lação cruzada entre duas imagens consecutivas determina-se o deslocamento sofrido
pela partícula. Esta técnica fornece dados globais do escoamento, ao contrário da
ALP. (Freire et al., 2006)
Lindken e Merzkirch (2002) utilizaram a velocimetria por imagem de partículas
V LP para medição de velocidade de bolhas no escoamento em bolhas.
As duas técnicas, ALD e V IP , necessitam para sua aplicação que o material
do tubo seja transparente e não podem ser aplicadas em uidos opacos.

b) Atenuação da Radiação (Raios-X, Raios Gama e Neutrongraa)

13
b.1) Energia Magnética por Raios-X e Raios Gama

O princípio destas técnicas consiste na emissão de energia de alta intensidade


e na medição de sua atenuação após percorrer o uxo bifásico. A aplicação de
técnicas utilizando alta energia soluciona as limitações em relação à transparência
do material do tubo e também da opacidade do uido. Jones e Delhaye (1976)
utilizaram a técnica de radiação por raios-X juntamente com uma análise estatística
para relacionar a fração de vazio com os regimes de escoamento. Heindel (2000)
utilizou a técnica radiográca instantânea (f lash X ray ) para determinar a forma
e posição de bolhas em uma coluna de borbulhamento.
Sthal e von Rohr (2004) utilizaram a técnica por raios gama (fonte Iodine 125)
para determinação da fração de vazio em uma mistura bifásica ar-água escoando em
um tubo horizontal de acrílico de diâmetro interno 21 mm.
Quando se utiliza à técnica de radiação com apenas um sensor somente a
primeira interface pode realmente ser observada. A m de obter informações do
perl total do escoamento utiliza-se um conjunto de sensores que é interligado a um
sistema de tomograa computadorizada, permitindo assim obter a imagem da seção
transversal do escoamento. Os sistemas tomográcos solucionam este problema, mas
requerem equipamentos sosticados e mão-de-obra bastante especializada. Na to-
mograa o elemento emissor de radiação gira 360◦ em torno da região a ser estudada,
sendo obtidas uma seqüência de imagens que formam o todo da região estudada. As
imagens são processadas através de técnicas matemáticas.
Harvel et al. (1996) utilizaram um sistema tomográco por raios-X para ca-
racterizar os regimes de escoamento e medir a fração de vazio em escoamento bifásico
vertical escoando em tubo anular.
Kumar et al. (1995) apresentaram um sistema tomográco utilizando raios
gama para obtenção de imagens da distribuição de vazios em escoamento bifásico.
Os raios-X e gama são idênticos do ponto de visto físico, são energia eletro-
magnética, porém diferem na forma que são produzidos e no nível energético. A
radiação por raios-X apresenta um nível de energia menor que 100 keV e seu uso é
limitado a materiais de baixa atenuação ou em tubos de pequeno diâmetro. A ra-

14
diação por raio gama apresenta uma maior penetração e necessita de uma fonte de
alta energia, em torno de 1 MeV, para escoamentos que ocorram grandes mudanças
em sua estrutura, como no escoamento estraticado ondulado, são necessários altos
níveis de energia. Segundo Boyer et al. (2002) o tempo de medição é diretamente
dependente da atividade da fonte, na radiação por raio gama o tempo de medição
em condições industriais pode demandar várias horas.

b.2) Neutrongraa

A Neutrongraa é obtida posicionando-se a amostra a ser inspecionada entre


um uxo colimado de nêutrons e um conjunto formado por um conversor de nêutrons
em luz e um sistema de imageamento. O feixe neutrônico pode provir de fontes, tais
como um reator nuclear, um acelerador de patículas ou radioisotópicas.
Luiz (2007) utilizou a técnica Neutrográca em Tempo Real para visualizar
regimes de escoamento bifásico vertical em tubo de alumínio de pequeno diâmetro
e da fração de vazio no escoamento slug
Takenaka et al. (1999) aplicaram a técnica da radiograa com nêutrons rápidos
para determianção de baixas frações de vazio no escoamento bifásico ar-água no
espaço correspondente ao arranjo de feixes tubulares 4 x 4.

c) Técnicas Ultra-Sônicas

As técnicas ultra-sônicas, por não serem intrusivas e, portanto não provocarem


mudanças no regime de escoamento, tornam sua aplicação bastante interessante.
Além disso, não necessitam de cuidados especiais de proteção para os operadores,
apresentam baixo custo, podem ser utilizadas em escoamentos a alta pressão e tem-
peratura. Em relação às técnicas ópticas tem a vantagem de poderem ser aplicadas
em tubulações e recipientes de qualquer material e em uidos opacos. Segundo
Chang e Morala (1990) existem três principais técnicas ultra-sônicas para diag-
nósticos de parâmetros de escoamento bifásico, denominadas: Doppler (ultrasonic
shif t − Doppler), transmissão (ultrasonic contrapropagating transmission) e
pulso-eco (ultrasonic pulse − echo). Estas técnicas podem ser aplicadas em es-

15
coamentos bifásicos horizontais, verticais e inclinados para medição de velocidades
de fases, altura de interfaces, fração de vazio e comprimento de bolhas alongadas e
outros parâmetros bifásicos.

c.1) Técnica Ultra-Sônica por Efeito Doppler

Segundo Masala (2004) a aplicação da técnica ultra-sônica utilizando o efeito


Doppler apresenta vantagens quando é aplicada na medição das velocidades das
fases gás e líquido em baixas frações de vazio. O princípio de funcionamento é o
mesmo descrito anteriormente para a técnica anemotria laser-Doppler, sendo medido
o desvio de freqüência (Doppler shift) entre a velocidade da onda ultra-sônica emitida
pelo transdutor e a reetida por interfaces dispersas no meio líquido.
Bröring et al. (1991) realizaram um estudo da estrutura do escoamento bifásico
com frações de vazio de até vinte porcento em um reator piloto utilizando o método
Doppler ultra-sônico. Segundo Boyer et al. (2002) na aplicação desta técnica é pre-
ciso uma focalização pontual do feixe ultra-sônico, pois a resolução espacial e a
relação sinal-ruído são reduzidas à medida que se a aumenta a distância do trans-
dutor.

c.2) Técnica Ultra-Sônica por Transmissão

Na técnica ultra-sônica por transmissão são utilizados dois transdutores que


são posicionados em lados opostos e alinhados segundo o mesmo eixo. Um transdutor
emite pulsos de ondas ultra-sônicas que atravessam a parede do tubo, propagam-se
através do escoamento, atravessam a parede oposta e são captados pelo segundo
transdutor. Através das informações do tempo de trânsito ou da atenuação das
ondas ultra-sônicas ao longo do escoamento são obtidas informações que permitem
a análise de parâmetros do escoamento.
Chang et al. (1984) utilizaram esta técnica no escoamento bifásico ar-água
vertical em bolhas. Faccini et al. (2004) desenvolveram um método ultra-sônico
híbrido por transmissão no escoamento bifásico ar-água horizontal.

c.3) Técnica Ultra-Sônica por Pulso-Eco

16
Nesta técnica utiliza-se apenas um transdutor que emite em intervalos periódi-
cos pulsos de ondas ultra-sônicas que atravessam a parede do tubo, propagam-se
através do escoamento, incidem sobre uma interface reetora e retornam ao trans-
dutor pelo mesmo caminho. Da mesma forma que a técnica por transmissão, é
obtido o tempo de trânsito ou da atenuação das ondas ultra-sônicas ao longo do
escoamento. Através do tempo de trânsito da onda ultra-sônica é possível a deter-
minação da posição de interfaces e através da atenuação é possível uma correlação
com a fração de vazio. Conforme descrito no item deste capítulo, Reexão e Trans-
missão de Ondas, as interfaces gás-líquido por apresentam alto coeciente de reexão
apresentam mínima perda de energia durante a reexão. Matikainen et al. (1986)
utilizaram a técnica ultra-sônica pulso-eco para estudo do padrão de reexão do
feixe ultra-sônico sobre bolhas esféricas. Chang e Morala (1990) desenvolveram um
sistema ultra-sônico para medição de parâmetros bifásicos no escoamento horizontal
e vertical utilizando as técnicas por transmissão e pulso-eco.

3.2 Mecanismos de Transição de Regimes de Escoa-

mento

Os mecanismos de transição apresentados para escoamentos horizontais


diferem consideravelmente dos sugeridos para escoamentos verticais. Assim sendo,
ao analisar os escoamentos inclinados, é muito importante avaliar em qual faixa de
ângulos pode ser feita uma extensão do escoamento horizontal e onde os mecanismos
associados ao escoamento vertical começam a prevalecer.
Para análise dos mecanismos de transição envolvidos na mudança de um regime
de escoamento para outro, serão consideradas condições de baixas vazões tanto de
líquido quanto de gás. Neste contexto, o escoamento bifásico gás-líquido horizontal
no interior de um tubo que aparece é o estraticado, onde as duas fases escoam
separadas (devido à gravidade, o líquido ocupa a parte inferior e o gás, a parte
superior do tubo). Essa escolha se deve ao fato de muitos estudos experimentais e
analíticos, como Dukler e Hubbard (1975), apontarem que na entrada da tubulação
o escoamente é, primeiramente, estraticado.

17
O regime estraticado pode ser subdivido em dois subregimes: estraticado
suave e estraticado ondulado. A formação de ondas na interface gás-líquido suave
ocorre devido à ação do gás escoando sobre o líquido, que geraria um "efeito de
vento", ou seja, o gás cisalhando o líquido. O fenômeno de geração de ondas é
bastante complexo e há bastante controvérsia sobre qual mecanismo de transferência
de energia ocorre. Em Jereys (1925) e Jereys (1926) são introduzidas algumas
idéias sobre geração de ondas. O autor realizou um estudo básico de ondas rasas
em canais inclinados, apontando que as ondas se formariam em uma na camada
de água em regime turbulento e interagiriam com a camada inferior através de um
arrasto turbulento proporcional ao quadrado da velocidade do uido. Este, por
sua vez, equilibraria a componente do peso do uido. O modelo consiste de duas
camadas dinamicamente distintas: uma superfície turbulenta que promove tensões
na camada abaixo e uma região não-turbulenta acima. Desse trabalho resulta a
seguinte equação:

4νL g(ρL − ρG )
(UG − c)2 c > . (3.4)
sρG
Onde:

• s é o coeciente de "envoltória", para o qual Jereys (1926) sugere o valor de


0,3 (Benjamin (1959) indica valores muito menores, entre 0,01 e 0,03),

• c é a velocidade de propagação das ondas (para efeito de simplicação pode


ser considerada igual a UL ),

• νL é a viscosidade cinemática do líquido,

• ρL é a massa especíca do líquido,

• ρG é a massa especíca do gás.

A ação da gravidade também pode gerar ondulações na interface gás-líquido,


até mesmo na ausência de escoamento de gás (caso típico em escoamentos descen-
dentes). Barnea et al. (1982), trabalhando com escoamento turbulento em tubos,
adotaram o seguinte critério para início das ondas:

18
UL
F rL = √ ≥ 1, 5. (3.5)
ghL
Onde:

hL é a altura do lme de líquido.

Para ângulos maiores que 5◦ , a teoria e os experimentos demonstram que essas


ondas devido à gravidade existem em todo o escoamento estraticado.
Dukler e Hubbard (1975) mostraram que para a faixa de condições onde o
escoamento intermitente é observado, o escoamento na entrada do tubo é primeira-
mente estraticado. Então, partindo do escoamento estraticado, mantendo-se a
vazão da fase gasosa constante e aumentando gradativamente a vazão da fase líquida,
o nível de líquido aumenta. A partir de uma determinada altura de líquido, ocorre a
formação de ondas que crescem rapidamente tendendo a bloquear o escoamento de
gás, ou seja, as ondas passam a molhar a parte superior do tubo formando pistões
de líquido. A obstrução total do escoamento do gás origina o regime de escoamento
intermitente (slug ou pistonado). Partindo novamente do escoamento estraticado,
mas mantendo-se a vazão de líquido constante e aumentando a vazão de gás, a fase
gás começa a empurrar o líquido contra a parede do tubo, originando o escoamento
anular.
Enquanto o gás acelera, a pressão sobre a onda decresce devido ao efeito
Bernoulli, e isso tende a causar o crescimento da onda. Esse processo pode ser
descrito através de uma extensão do critério de estabilidade de Kelvin-Helmholtz
(Milne-Thomson (1968)) para o caso de uma onda nita em tubo inclinado, que é
expresso pela equação:

 1/2
(ρL − ρG )gcosθAG
UG > C2 , (3.6)
ρG dAL /dhL
Onde:

hL
C2 = 1 − , (3.7)
D

θ é o ângulo de inclinação a partir da horizontal.

19
Conforme mencionado anteriormente, após o crescimento das ondas no es-
coamento estraticado, dois regimes diferentes podem surgir: o intermitente ou o
anular. Butterworth (1972) discorreu sobre a inuência do nível de líquido para que
a onda seja "empurrada"para a parede do tubo, o que sugere que este fator seria
o único determinante no desenvolvimento do escoamento intermitente ou anular.
Taitel e Dukler (1976) apontaram a linha de centro do tubo como a fronteira para
o surgimento de um ou outro regime, ou seja, quando a altura de líquido estiver
abaixo, inicia-se o regime anular, acima, o intermitente.
Para altas velocidades de líquido e baixas velocidades de gás, o gás tende a
se misturar no líquido e a transição para o escoamento em bolhas dispersas aparece
quando a turbulência é forte o suciente para sobrepor as forças de empuxo que
tendem a manter o gás no topo do tubo. Taitel e Dukler (1976) utilizaram uma
estimativa das forças devido à turbulência descrita por Levich (1962), para fazer o
equilíbrio com o empuxo.

3.3 Mapas de Regimes de Escoamentos

Na literatura já foram desenvolvidos muitos e diferentes tipos de mapas de


regimes de escoamentos. Os mapas de regimes de escoamentos são elaborados para
predizer o regime de escoamento a partir de determinados parâmetros e conseqüen-
temente, fornecer alguma informação sobre o gradiente de pressão, o holdup, etc.
Ou seja, os mapas são uma representação gráca de modelos físicos. Os regimes
de escoamento são representados nos mapas como regiões limitadas por linhas de
transição, obtidas através de equações algébricas ou relações adimensionais, que
representam a mudança de um regime de escoamento para outro.

Abordagem Empírica
Mapas empíricos foram construídos a partir de dados experimentais, como os
de Baker (1954), de Beggs e Brill (1973) e de Mandhane et al. (1974). Em geral, os
mapas empíricos são desenvolvidos a partir de dados experimentais representados
em um par de eixos coordenados formados por grupos adimensionais ou grandezas

20
físicas, tais como as velocidades superciais das fases, os uxos de massa ou de mo-
mento. Na literatura, há um grande número de dados experimentais sobre os regimes
de escoamento, envolvendo principalmente a mistura bifásica ar-água. Existe uma
necessidade de generalizar os dados disponíveis a m de abranger uma faixa mais
ampla de parâmetros, como as propriedades físicas dos uidos, as dimensões da
tubulação e as condições operacionais. A exatidão na determinação das linhas de
transição depende do número de experimentos e da medição dos parâmetros uti-
lizados nos eixos coordenados do mapa. As diferentes classicações dos regimes de
escoamento e os diferentes termos utlizados para designá-los, por diferentes autores,
tornam ainda mais difícil a determinação das linhas de transição.
O mapa de regimes de escoamentos proposto por Mandhane et al. (1974) é
o resultado de uma correlação (uma extensão do estudo de Govier e Aziz (1972))
desenvolvida em concordância com aproximadamente seis mil observações de regimes
de escoamento horizontais. Esse banco de dados experimentais expressivo abrange
uma larga faixa de parâmetros, conforme pode ser visto na Tabela 3.1. O mapa é
bem aceito e utilizado por muitos pesquisadores. Uma observação importante a ser
feita é o fato de a maioria dos dados terem sido coletados para escoamentos de ar e
água em tubos de 12, 7 a 154, 9 mm de diâmetro interno, o que resulta em fronteiras
de transição substancialmente dependentes desses sistemas. Dentro desse conjunto
de observações experimentais para escoamentos horizontais, ainda foi separado um
grupo de interesse de sistemas ar-água, cujos parâmetros estão dispostos na Tabela
3.2. Posteriormente foram introduzidas correções para as propriedades físicas de
outros uidos a m de ampliar a abrangência do mapa.

21
Tabela 3.1: Faixa de abrangência dos parâmetros usados por Mandhane et al. (1974)
para escoamentos horizontais.
Parâmetro Valores
Diâmetro interno do tubo (D) 0, 0127-0, 1549 m
Densidade da fase líquida (ρL ) 704, 8122-1009, 1630 kg/m3
Densidade da fase gás (ρG ) 0, 8009-50, 4581 kg/m3
Viscosidade da fase líquida (µL ) 0, 0003-0, 09 P a.s
Viscosidade da fase gasosa (µG ) 0, 00001-0, 000022 P a.s
Tensão supercial (σ ) 0, 024-0, 103 N/m
Velocidade supercial do líquido (ULS ) 0, 000914-7, 3152 m/s
Velocidade supercial do gás (UGS ) 0, 04267-170, 688 m/s

22
Tabela 3.2: Faixa de abrangência dos parâmetros usados como critério para os
sistemas ar-água.
Parâmetro Valores
Densidade da fase líquida (ρL ) 961, 1-1041, 2 kg/m3
Densidade da fase gasosa (ρG ) 1, 0412-1, 4417 kg/m3
Viscosidade da fase líquida (µL ) 0, 00075-0, 0011 P a.s
Viscosidade da fase gasosa (µG ) 0, 000017-0, 00002 P a.s
Tensão Supercial (σ ) 0, 069-0, 073 N/m

O mapa de regimes de escoamentos de Mandhane et al. (1974) associa as


velocidades superciais de gás e líquido através de um algoritmo construído a partir
do banco de dados experimentais. A Figura 3.1 apresenta o mapa de Mandhane
et al. (1974).

Figura 3.1: Mapa de Mandhane et al. (1974) para escoamentos horizontais.

Abordagem Teórica
Os mapas teóricos são desenvolvidos a partir de modelos que expressam
matematicamente os mecanismos de transição dos regimes, baseados apenas em

23
conceitos físicos. Pouco ou nenhum tipo de dado experimental é usado na sua ela-
boração.
Os mecanismos de transição de regimes de escoamentos descritos na seção an-
terior foram utilizados por inúmeros autores no esforço de formular um modelo físico
capaz de predizer analiticamente os regimes de escoamento e suas fronteiras. Taitel
e Dukler (1976), Husain e Weisman (1978), Kadambi (1982) e Lin e Hanratty (1986)
desenvolveram modelos voltados para escoamentos horizontais e levemente inclina-
dos em tubos. Barnea et al. (1985) dirigiram seu estudo ao escoamento inclinado
ascendente, enquanto Barnea et al. (1982) se voltaram para o escoamento inclinado
descendente. Barnea (1987) construiu um raciocínio lógico para determinação sis-
temática dos regimes de escoamento que abrange todos as vazões, as geometrias do
duto, os ângulos de inclinação e as propriedades físicas dos uidos. Ou seja, trata-
se de um método geral para prever o regime de escoamento a partir de critérios
de transição de regimes discutidos anteriormente na literatura, através de equações
algébricas ou mapas adimensionais.
Taitel e Dukler (1976) desenvolveram uma abordagem mecanicista associando
as seguintes variáveis importantes nos processos de transição de regimes de escoa-
mentos: vazão mássica do gás e do líquido, propriedades físicas dos uidos, diâmetro
da tubulação e seu ângulo de inclinação com a horizontal. A análise de Taitel e Duk-
ler (1976) considera as condições para a transição entre cinco regimes de escoamento
básicos: estraticado suave, estraticado ondulado, intermitente (pistonado e slug),
anular com líquido disperso no gás e bolhas dispersas.
A análise parte da condição de existência de um regime estraticado e então,
os mecanismos de transição para os outros regimes são discutidos. A Figura 3.2
representa a condição inicial de um escoamento estraticado em equilíbrio. O ba-
lanço da quantidade de movimento em cada fase fornece uma relação para a queda
de pressão bifásica na condição de equilibrio do escoamento estraticado suave:

 
dP
−AL − τW L SL + τi Si + ρL gAL sin θ = 0, (3.8)
dx
 
dP
−AG − τW G SG − τi Si + ρG gAG sin θ = 0, (3.9)
dx

24
Figura 3.2: Condição inicial de um escoamento estraticado em equilibrio segundo
Taitel e Dukler (1976).

 
SG SL 1 1
τW G − τW L + τi Si + + (ρL − ρG )g sin θ = 0. (3.10)
AG AL AL AG
Onde:

• τi é a tensão de cisalhamento na interface gás-líquido

• τwL é a tensão de cisalhamento na inteface parede-líquido

• τwG é a tensão de cisalhamento na inteface parede-gás

• SG é o perímetro do tubo em contato com o gás

• Si é o perímetro da interface das fases

• SL é o perímetro do tubo em contato com o líquido

• P é a pressão.

A equação de queda de pressão (eq. 3.10) é adimensionalizada através das


seguintes variáveis de referência: o diâmetro para comprimento, o quadrado do
diâmetro para área e as velocidades superciais das fases para as velocidades das
fases. Com isso, são obtidos dois grupos adimensionais importantes: X e Y, re-
presentados nas equações 3.11 e 3.12 respectivamente. O grupo X é o parâmetro
de Lockart e Martinelli (1949), que expressa a razão entre a perda de carga da fase
líquida escoando sozinha no duto e a perda de carga da fase gasosa escoando sozinha
no duto. O grupo Y representa as forças relativas que agem no líquido na direção
do escoamento devido à gravidade e a queda de pressão.

25
v
u  −n
u 4CL ULS DρL ρL (ULS )2 s
u D µL 2 |(dP/dx)LS |
X=u −m = , (3.11)
|(dP/dx)GS |
t  2
4CG UGS DρG ρG (UGS )
D µG 2

(ρL − ρG ) g sin θ (ρL − ρG ) g sin θ


Y = −m = . (3.12)
|(dP/dx)GS |

4CG UGS DρG ρG (UGS )2
D µG 2

Onde:

• CG é o coeciente do fator de atrito do gás

• CL é o coeciente do fator de atrito do líquido

• µG é a viscosidade dinâmica do gás,

• µL é a viscosidade dinâmica do líquido,

• m é o expoente do fator de atrito do gás

• n é o expoente do fator de atrito do líquido

Existem mais três grupos adimensionais que representam as transições de


regimes de escoamentos. O grupo F (eq. 3.13) representa a transição entre os
escoamentos estraticados e o intermitente ou entre os estraticados e o anular com
líquido disperso no gás. Ele também é utilizado para a transição entre entre o regime
intermitente e o regime anular com líquido disperso no gás para um valor constante
de X, quando hL /D = 0.5. O grupo K (eq. 3.14) representa a transição entre o
regime estraticado suave e o regime estraticado ondulado. O grupo T (eq. 3.15)
representa a transição entre o regime intermitente e o regime de bolhas dispersas.

r
ρG
F = UGS , (3.13)
gD (ρL − ρG ) cos α
s
ρG (UGS )2 ρL ULS D
K= , (3.14)
gD (ρL − ρG ) cos α µL
v  −n
ρL (ULS )2
u
u 4CL ULS DρL
t D µL 2
T = . (3.15)
(ρL − ρG ) g cos α

26
Posteriormente, esses grupos adimensionais representando as linhas de tran-
sição foram expressos gracamente em termos das velocidades superciais das fases,
como é mostrado para o escoamento horizontal na Figura 3.3.

Figura 3.3: Mapa de Taitel e Dukler (1976) para o escoamento horizontal, ar-água,
25◦ C , 1 atm, D = 2, 5 cm.

3.4 Escoamento Intermitente

O escoamento intermitente é caracterizado por uma célula unitária (conceito


descrito por Wallis (1969)), que pode ser dividida em duas partes: uma é o pistão
de líquido, que contém apenas a fase líquida na seção transversal do tubo e a outra,
é a bolha alongada, que contém a bolha alongada com a fase gás na parte superior
do tubo e um lme de líquido na parte inferior. Esta conguração típica pode
ser observada na Figura 3.4. De acordo com a literatura, bolhas alongadas são
aquelas cujas dimensões apresentam diâmetros maiores do que 30% do diâmetro da
tubulação e elas também são chamadas de bolhas de Taylor.
No modelo de célula unitária, a fração do volume de gás na região da bolha
alongada é normalmente determinada assumindo que o lme de líquido abaixo da

27
Figura 3.4: Escoamento horizontal gás-líquido intermitente.

mesma tem uma espessura constante, como em um escoamento estraticado plena-


mente desenvolvido. Também é assumido que as bolhas alongadas e os pistões de
líquido possuem comprimentos constantes, o que leva a uma estrutura de escoamento
periódica.
No modelo de célula estatística, a hipótese é menos restritiva. A estrutura
não é necessariamente periódica, embora também seja assumido que os lmes de
líquido sejam plenamente desenvolvidos. Na verdade, a estrutura resultante nunca é
periódica dado o caráter transiente do escoamento, o que faz com que os parâmetros
envolvidos (velocidades, comprimentos, fração de vazio, etc.) possam apresentar
oscilações, agregando uma alta complexidade ao escoamento inerentemente instável.
Mesmo quando a pressão, as vazões mássicas do gás e líquido e a seção transver-
sal do tubo são mantidas constantes, o escoamento intermitente apresenta grandes
variações interfaciais ao longo do tempo.
O regime de escoamento intermitente ocorre em uma grande faixa de ângulos
de inclinação das tubulações e em uma grande faixa de vazões de líquido e gás.
Conforme discutido por Cook e Behnia (2001) o comportamento da dinâmica das
bolhas permite que o escoamento intermitente seja dividido em dois subregimes:
pistonado e slug. No escoamento pistonado as bolhas alongadas apresentam forma
bem denida e se movem lentamente entre pistões de líquido relativamente não-
aerados, o que proporciona gradientes de pressão baixos. Já no escoamento slug,
as maiores velocidades geram vórtices que se misturam, causando instabilidades na
cauda da bolha alongada com o aparecimento de um "salto hidráulico" e propiciando
uma grande aeração no interior do pistão de líquido que a acompanha. Bendiksen
(1984) atribuiu a formação destes vórtices à movimentação do nariz da bolha a partir
da parte superior do tubo para a linha de centro e ao aumento da velocidade da
bolha alongada e do pistão de líquido em relação à velocidade do lme de líquido

28
abaixo da bolha, durante a transição entre o escoamento pistonado e o escoamento
slug.
O escoamento intermitente é normalmente encontrado em linhas multifásicas
de tubulações de óleo cru/gás, tubulações de caldeiras e trocadores de calor. O
regime pistonado, especicamente, é bastante comum em linhas de escoamento de
campos de petróleo com grandes diâmetros.

Velocidade Translacional da Bolha Alongada


Uma teoria geral capaz de predizer a velocidade de deslizamento e a veloci-
dade de translação da bolha em tubos inclinados não é encontrada na literatura, em
razão da complexidade em se modelar as mudanças que ocorrem no perl da bolha
variando-se o ângulo de inclinação. As informações existentes na literatura são pre-
dominantemente experimentais. Observa-se que a maioria das correlações existentes
são baseadas na relação proposta por Nicklin et al. (1962), pautada em experimen-
tos realizados no escoamento intermitente vertical. Em seu trabalho, Nicklin et al.
(1962) utilizaram uma técnica de visualização para medir as velocidades das bolhas
alongadas escoando em líquido parado e em movimento. Para o caso de líquido
estagnado, observaram que o movimento da bolha alongada é equivalente a uma
bolha de Dimitrescu (1943). Para o caso de líquido e gás escoando, concluíram que
a velocidade translacional da bolha alongada é muito próxima da soma da velocidade
média do líquido na linha de centro, à frente do nariz da bolha, com a velocidade de
ascenção da bolha no líquido parado, para uma faixa do número de Reynolds entre
8000 a 50000. Esta velocidade média do líquido, nada mais é do que a velocidade
da mistura (UM ), o que é demonstrado pela aplicação da equação da continuidade,
conforme Grith e Wallis (1997).

p
VN B = C0 UM + V0 = C0 UM + C1 gD , (3.16)

onde:

• VN B é a velocidade translacional da bolha alongada (velocidade do nariz da


bolha alongada),

29
• C0 é o coeciente de distribuição do perl de velocidade,

• C1 é uma constante devido ao deslizamento das fases, sendo denominada coe-


ciente de deslizamento.

O que costuma variar de autor para autor são os valores para os parâmetros
C0 e C1 .
Há muita controvérsia quanto ao valor real da velocidade de deslizamento
da bolha (V0 ), no escoamento horizontal. Dukler e Hubbard (1975), Heywood e
Richardson (1979) e Wallis (1969) armaram que ela valeria zero. Porém, alguns au-
tores, entre eles Mattar e Gregory (1974) que trabalharam com ar e óleo, ajustaram
seus dados com uma velocidade de deslizamento não-nula, embora reconhecendo
que um valor não-nulo para V0 não tinha nenhum signicado físico no caso de es-
coamentos horizontais. Bonnecaze et al. (1971) foram os primeiros a tratar da
velocidade de deslizamento máxima, observada nas bolhas de Taylor em ângulos de
inclinação intermediários. Cook e Behnia (2001) concluiram que o comprimento da
bolha alongada não inuencia essa velocidade, como já havia sido observado por
Dimitrescu (1943) e Davies e Taylor (1950), além de determinar que ela atinge seu
máximo nas inclinações entre 30◦ e 45◦ .
Bendiksen (1984) realizou uma investigação experimental sobre a propagação
da bolha em função dos seguintes parâmetros: o número de Reynolds [5x103 ,105 ],
a velocidade média do líquido (<5 m/s) e o diâmetro da tubulação (24, 2 mm).
Os uidos utilizados foram ar e água, em uma tubulação cujo comprimento total
disponível para o escoamento variava em função do ângulo de inclinação analisada:
10 metros para −30◦ ≤θ≤45◦ e 7 metros para θ≥+60◦ . Testes adicionais foram feitos
em tubos de 4 metros, com diâmetros internos de 19, 2 mm e 50, 0 mm, para θ≤0◦ .
A medida das velocidades das bolhas foi realizada através de uma técnica ótica.
Em seu trabalho, Bendiksen (1984) vericou que C0 e V0 são dependentes dos
números de Reynolds (Re) e Froude (F r), como também, da tensão supercial e do
ângulo de inclinação do tubo (θ). Bendiksen (1984) adotou a correlação proposta
por Nicklin et al. (1962) para a velocidade do nariz da bolha e propôs as seguintes
correlações para o escoamento horizontal ou inclinado ascendente (θ ≥ 0◦ ):

30
• F rL < 3, 5:

C0 = 1, 00 + 0, 20 (sin θ)2 , (3.17)

C1 = 0, 35 sin θ . (3.18)

• F rL ≥ 3, 5:

C0 = 1, 2 , (3.19)

C1 = 0, 35 sin θ . (3.20)

Segundo Bendiksen e Espedal (1992) os valores de C0 e V0 propostos por


Bendiksen (1984) podem ser aplicados para pistões de líquido de comprimento maior
ou igual a dez vezes o diâmetro, LP L ≥ 10D.
Cook e Behnia (2001) realizaram um estudo, experimental e numérico, sobre o
movimento da bolha no escoamento intermitente inclinado. Os experimentos foram
realizados em tubos de acrílico de diâmetros internos de 32 mm e de 50 mm, com
escoamentos ascendentes segundo os ângulos de +5◦ e +10◦ , tendo como uidos de
trabalho ar e água. A técnica experimental empregada foi a mesma utilizada por
Cook e Behnia (2000): uma técnica de condutância onde através do contato entre
os eletrodos e as interfaces foram identicadas a frente e a cauda da bolha.
Não foram vericadas diferenças signicativas entre as velocidades das bolhas
escoando individualmente e as velocidades em uxo contínuo.
Duas regiões distintas, onde a velocidade translacional da bolha alongada apre-
senta uma relação linear com a velocidade da mistura, foram observadas: uma para
escoamentos pistonados e outra para escoamentos slug. Para os escoamentos pisto-
nados, os autores sugeriram que a bolha parecia ser controlada por forças de em-
puxo; enquanto para os escoamentos slug, a bolha seria controlada pela velocidade
máxima do líquido a frente do nariz.
Através da análise dos dados obtidos, Cook e Behnia (2001) aferiram que o
número de Froude que caracteriza a transição entre as duas regiões não era con-
stante, mas variava de acordo com a inclinação devido à variação da velocidade de
deslizamento. Segundo Paglianti et al. (1996), que trabalharam com ar e óleo, as
propriedades dos uidos ainda seriam mais um fator a ser considerado.

31
As equações 3.21 e 3.22 mostram as correlações para os escoamentos pisto-
nados e para os escoamentos slug, respectivamente. A equação 3.23 mostra o limite
de transição entre os dois regimes, abaixo dessa velocidade de mistura crítica, o
escoamento é pistonado, acima, é slug.

VM B = 1, 0UM + V0 , (3.21)

VM B = 1, 2UM , (3.22)

VM B = 5, 0V0 . (3.23)

No caso do escoamento horizontal slug, vemos que a correlação de Cook e


Behnia (2001), eq. 3.22, se iguala a correlação de Bendiksen (1984), eq. 3.19 e eq.
3.20, pois C0 vale 1, 2 e o termo correspondente à velocidade de deslizamento é nulo.

Comprimento da Bolha Alongada e do Pistão de Líquido


Os comprimentos dos pistões de líquido no escoamento intermitente são bas-
tante relevantes por duas razões. Primeiramente, todos os modelos mecanicistas,
como os de Dukler e Hubbard (1975) e Taitel e Barnea (1990) exigem uma esti-
mativa do comprimento médio do pistão de líquido como dado de entrada para os
cálculos de perda de carga e fração volumétrica. Em segundo lugar, e talvez mais
importante para o projetista de linhas de escoamento, a distribuição estatística dos
comprimentos e o comprimento máximo desejado do pistão de líquido são impor-
tantes para o design dos equipamentos de processamento e capturadores de slug,
já que eles devem ser capazes de lidar com a faixa de comprimentos de pistão de
líquido que pode ser produzida.
Cook e Behnia (2000) realizaram um estudo experimental para determinar
a taxa de colapso de pistões de líquido curtos em função de seus comprimentos.
Neste trabalho os autores apresentaram uma correlação experimental que relaciona
a razão entre as velocidades da frente e da parte posterior do pistão de líquido com

32
a distância de separação entre as bolhas anterior e seguinte ao pistão de líquido, da
seguinte forma:

 
VP P L LP L
= 1, 0 + 0, 56 exp −0, 46 . (3.24)
VF P L D
Com isso, encontraram um valor mínimo para o comprimento de um pistão
de líquido estável, que seria de aproximadamente dez vezes o diâmetro do tubo. A
insensibilidade da razão de velocidades da equação 3.24 à variações na velocidade do
líquido está em acordo qualitativo com os resultados obtidos por Pinto et al. (1998)
para escoamentos verticais.
A função densidade de probabilidade (PDF) dos comprimentos da bolha e do
pistão são largamente distribuidos em torno da média, conforme Grenier (1997).

Perl da Bolha Alongada


No estudo do regime de escoamento intermitente a formação e a estabilidade
de bolhas alongadas, que ocorrem entre pistões de líquido, são de grande interesse.
As bolhas podem ter formas bem denidas, mas em escoamentos com maiores ve-
locidades de mistura (slug) elas podem se desviar signicativamente do formato
padrão.
Bendiksen (1984) assimilou que um perl estável de bolha nunca é observado.
Porém, para uma dada velocidade de líquido, a espessura do lme a jusante do nariz
da bolha adquire um valor praticamente constante. As únicas mudanças observadas
seriam uma leve oscilação radial do nariz da bolha e do salto hidráulico e a produção
de pequenas bolhas na cauda da bolha alongada. Seu estudo também indicou que a
posição radial média da ponta do nariz da bolha alongada, em relação ao centro do
tubo, é função da velocidade da mistura. Há um consenso em torno da idéia de que
o perl da bolha alongada dependa da velocidade da mistura, como já mostraram
Bendiksen (1984), Woods e Hanratty (1996) e Grenier et al. (1997).
Fagundes Netto et al. (1999) investigaram os pers e volumes das bolhas alon-
gadas, com comprimentos conhecidos, como função das velocidades e propriedades
dos uidos. Para isso utilizaram um aparato experimental que contava com 90 m de
comprimento de tubo de PVC transparente com diâmetro interno de 53 mm, onde

33
escoava ar e água. A técnica de medição utilizada foi um conjunto de cinco sen-
sores capacitivos ("wire probe"), além de dois sensores condutivos ("rings probes")
para validação dos primeiros. Paralelamente, os autores desenvolveram um modelo
para representar o perl da bolha baseado nas equações de conservação de massa e
momentum de cada fase.
Foi constatado que o perl da bolha permanece praticamente inalterado du-
rante seu movimento. Duas categorias de bolhas puderam ser distinguidas, de acordo
com a sua forma, como aparece na Figura 3.5.

Figura 3.5: Pers que a bolha alongada pode assumir de acordo com Fagundes Netto
et al. (1999).

Para velocidades mais baixas da mistura (regime pistonado), a bolha apresenta


um nariz curto localizado no topo do tubo, com sua ponta tocando a parede superior.
Em seguida surge uma interface ondulada com um comprimento de onda constante
e amplitude descrescente. No nal, há um salto de nível que pode ser descrito como
um salto hidráulico associado ao m da bolha. O salto hidráulico não atinge o topo
da tubulação. Antes disso, ele cria um prolongamento por trás da bolha, que dá um

34
aspecto de estrela cadente.
Conforme o escoamento ganha velocidade, o nariz se alonga e se move em
direção ao centro do tubo (conforme Bendiksen (1984) havia notado), a amplitude
das ondas diminui e a cauda ana e encurta. Grenier (1997) destacou que em
escoamentos de pistões regulares, a cauda pode se desprender da bolha de tempos
em tempos. Isso ocorre porque no escoamento slug, a velocidade de cada bolha oscila
enquanto sucessivas bolhas e pistões de líquido entram pelo tubo. Essa oscilação faz
com que o salto de nível na parte posterior da bolha varie, e quando ele atinge o
topo da tubulação, ocorre a separação da cauda.
Para velocidades altas (F rL > 2), o prolongamento da cauda e a onda esta-
cionária associada ao nariz da bolha desaparecem. Na ausência do prolongamento,
foi observada a entremeação de pequenas bolhas ao nal da bolha alongada, sendo
que o pistão de líquido é livre de bolhas quando há o prolongamento. Ruder e
Hanratty (1990) utilizaram essas características do perl da bolha para denir a
transição entre os regimes de escoamento pistonado e slug. Ou seja, quando há
prolongamento da cauda é o regime de escoamento é o pistonado, quando não há, é
o slug.
Grenier et al. (1997) observaram, assim como Nicklin et al. (1962), que o
perl é independente do comprimento da bolha. Porém, Fagundes Netto et al.
(1999) destacaram que existem valores do número de Froude do líquido (F rL ) in-
termediários, entre 1 e 3, onde a existência do prolongamento da cauda da bolha
depende do comprimento da mesma.

35
Capítulo 4

Métodos Experimentais

As atividades de laboratório desenvolvidas neste trabalho abrangem a infra-


estrutura disponível e a técnica experimental, que serão descritos a seguir.

4.1 Instalação

Nesta seção é apresentada a descrição da seção horizontal e inclinável de testes


e dos outros sistemas que compõem a planta para geração dos regimes bifásicos
de escoamento horizontal e inclinado. Em seguida é realizada a descrição do seu
funcionamento e dos principais procedimentos para operação da mesma.

4.1.1 Planta para Testes Bifásicos Horizontais e Inclinados

Os experimentos foram realizados no Laboratório de Termohidráulica Expe-


rimental do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN/CNEN). A planta para testes
bifásicos horizontais e inclinados é constituída por: uma seção de testes de diâmetro
1” que permite a variação de ângulo, um sistema de alimentação e circulação de
água, um sistema de alimentação de ar comprimido, instrumentação eletrônica para
indicação e controle das variáveis de operação do circuito de água e componentes
complementares como destiladores de água, tanques de expansão e de separação
água-ar. A gura 4.1 mostra o esquema da planta.
A seção de testes bifásicos recebe a mistura bifásica vinda do misturador
através do sistema de alimentação de água e ar comprimido a ele conectados, que

36
Figura 4.1: Esquema da planta para testes bifásicos horizontais e inclinados.

promove a mistura adequada para o início do desenvolvimento dos regimes de escoa-


mento pistonado e slug. A seção de testes permite trabalhar nas posições horizontal
e inclinada com variação de ângulo de −10◦ a +10◦ .
A tubulação inclinada é composta de um tubo de aço inoxidável AISI 316 com
6, 0 m de comprimento, diâmetro interno de 25, 4 mm e espessura de parede de 1, 5
mm, conectado através de um ange de PVC a um tubo de acrílico transparente com
comprimento de 1, 8 m, diâmetro interno 25, 2 mm e espessura de parede 6, 5 mm.
Portanto, a seção de testes tem um comprimento total (aço mais acrílico) de 7, 8 m,
apresentando então um comprimento relativo total de aproximadamente 310 vezes
o diâmetro interno da tubulação. O tubo de acrílico é utilizado para visualização
dos regimes de escoamento. A conexão entre o tubo de acrílico e o tubo de aço
inoxidável foi especialmente desenvolvida para garantir vedação e reduzir esforços
sobre o acrílico. A interligação entre a entrada e saída da tubulação inclinada é feita
através de tubo exível reforçado de PVC, que permite sua livre inclinação e não
ca susceptível a riscos de transmissão de vibrações que venham inuenciar o regime
de escoamento. O sistema de inclinação é composto basicamente pelas tubulações

37
de aço inoxidável e acrílico, por cinco dispositivos de regulagem, por uma estrutura
rígida formada por dois pers quadrados soldados e por um cavalete.
A tubulação por onde a mistura bifásica escoa (tubos de aço inoxidável e
acrílico) apóia-se em cinco dispositivos de regulagem, que por sua vez são xos
sobre a estrutura rígida de aço, fabricada em perl quadrado de espessura 3, 0 mm.
Esta estrutura é xa ao cavalete, próximo da metade de seu comprimento, cando
todo o sistema em balanço e permitindo assim a mudança do ângulo de inclinação
nos dois sentidos. Para posicionamento do ângulo desejado, o sistema de inclinação
é apoiado em suas extremidades em dois dispositivos de posicionamento de ângulo.
Os dispositivos de regulagem foram fabricados de modo a permitir o ajuste
no do ângulo de inclinação da tubulação, sendo sua regulagem realizada através de
quatro parafusos localizados em sua base.
O cavalete também foi construído em estrutura rígida de perl quadrado, onde
nas extremidades superiores foram montados dois mancais robustos, distantes entre
si de 0, 2 m. Uma barra quadrada de aço inoxidável de 2 12 ” sofreu um processo de
usinagem nas suas extremidades de modo a ser acoplada aos mancais e xada ao
sistema de inclinação, através de soldagem, atuando como pivô. O sistema pode ser
observado na gura 4.2.
Para ajuste no do ângulo de inclinação foi usado um medidor de inclinação
com resolução de 0, 1◦ . Este mesmo medidor também foi utilizado para marcação
do centro do tubo de acrílico, onde uma linha foi posicionada longitudinalmente,
servindo como referência para o sistema de lmagem.
Foi utilizado um misturador PVC acoplado na entrada da tubulação da seção
inclinada, de maneira a acompanhar a mudança de inclinação.

Sistema de Alimentação e Circulação de Água - Circuito de Água


O circuito de água consiste de uma tubulação em aço inoxidável de diâmetro
interno 50 mm, ao longo da qual estão dispostas válvulas e medidores de pressão,
vazão e temperatura, sendo a água impulsionada por uma bomba centrífuga de um
estágio, marca KSB, modelo CPK-cm-200, faixa de vazão de 0 m3 /h a 40 m3 /h,
com altura manométrica máxima de 51 mca. A variação de vazão da bomba é feita

38
Figura 4.2: Sistema de inclinação da seção de testes.

através de um variador de corrente contínua, marca Baumüller Nurnberg, modelo


GNV 132 MTE14.
O monitoramento da vazão de água é realizado em dois estágios, de acordo com
a faixa de vazão estudada. Na faixa de 2 m3 /h a 5 m3 /h são utilizados concomitante-
mente dois transmissores de vazão, um do tipo turbina Thermo Measurement-Flow
Automation, modelo 6500, faixa de vazão de 7, 0 m3 /h a 40 m3 /h, exatidão de
+/ − 0, 5% do valor lido e o outro do tipo placa de orifício acoplado a um trans-
missor de pressão, marca Smar, modelo LD 302, faixa de vazão de zero a 40 m3 /h,
exatidão de +/ − 3% do valor lido. Na faixa de vazão de 100 l/h a 1000 l/h foi
utilizado um medidor de vazão do tipo rotâmetro, marca CONAUT, modelo 440. No
nal do circuito de água e imediatamente antes da água entrar no misturador, uma
válvula tipo globo KSB, modelo ND10/16 DIN 3791, é utilizada para regulagem das
vazões de água.
O sistema de monitoramento e registro de dados de parte da instrumentação
utilizada no circuito de água é feito com tecnologia Fieldbus Foundation de au-
tomação da rma SMAR, no qual cada instrumento interligado a mesma, possui

39
Figura 4.3: Sala de controle.

um microprocessador controlado por uma rede digital através de um sistema su-


pervisório. Fieldbus é um sistema de comunicação digital bidirecional que interliga
equipamentos inteligentes com um sistema de controle. Esse sistema possibilita,
além do trabalho com dados digitais, melhoria na exatidão.
Como a água circula em um circuito fechado, ocorre seu aquecimento devido
ao atrito com a superfície interna da tubulação. Para evitar o rápido aquecimento
da água, o controle da temperatura é realizado por um trocador de calor tipo duplo
tubo, localizado imediatamente a jusante da bomba, que impede o rápido aumento
da temperatura da água no circuito.

Sistema de Alimentação de Ar Comprimido


O sistema de ar é constituído por um compressor, localizado na casa de
máquinas, que gera ar comprimido na pressão de 2, 2 bar. O ar comprimido ao
chegar ao laboratório passa por uma unidade de tratamento que ltra e seca o ar,
marca HB Dominic-Hunter, modelo DPR 0020, evitando que impurezas como gotícu-
las de óleo e partículas sólidas sejam incorporadas à água da seção de testes. Em
seguida o ar passa por um sistema de controle de pressão constituído por um contro-

40
lador de pressão FESTO, modelo LR-1/2-D-MIDI, onde a pressão é medida através
de um manômetro do tipo Bourdon, marca Terbrasma. O controle volumétrico do
ar injetado é feito por um manifold, marca FESTO, modelo GRA-1/4-B composto
por quatro válvulas de agulha, permitindo assim um controle preciso da vazão de
ar injetado no misturador. O monitoramento da vazão de ar é realizado através de
dois medidores do tipo rotâmetro montados em paralelo, utilizados de acordo com a
faixa de vazão estudada. Na faixa de vazão de 0, 42 m3 /h a 4, 2 m3 /h é utilizado o
modelo 440 da CONAUT e na faixa de vazão de 1, 2 m3 /h a 12 m3 /h o modelo 400
da CONAUT. A gura mostra o sistema de regulagem e monitoramento da vazão
de ar comprimido, onde são vistos os rotâmetros e o manifold de ar comprimido com
as quatro válvulas de agulha.

Figura 4.4: Sistema de regulagem, distribuição e monitoramento da vazão do ar


comprimido.

A instrumentação utilizada para indicação da temperatura e da pressão da


água, é constituída por um termômetro de resistência de platina marca Hartmamn
& Braun, tipo Pt 100 0◦ C , ligado a um transmissor de temperatura tipo Fieldbus,
marca SMAR, modelo TT302. A montante da válvula reguladora de vazão existe um

41
termômetro de expansão Arma Therm e um manômetro tipo Bourdon OTA, modelo
DIN 16070 que indicam a temperatura e pressão da água antes do misturador.

Funcionamento da Planta de Seção de Testes


A água a ser utilizada no experimento é previamente ltrada, destilada e ar-
mazenada em um tanque de aço inoxidável localizado pouco acima do circuito de
água. Inicialmente a água é impulsionada do tanque de armazenamento para o cir-
cuito de água através de uma bomba centrífuga, marca Dancor, modelo KM39A,
vazão de 4 m3 /h, altura manométrica máxima de 9, 8 mca até que ocorra seu com-
pleto enchimento. Bolhas de ar são retiradas do circuito por válvulas manuais de
purgação colocadas nos pontos altos da tubulação. Em seguida a bomba do circuito
é posta em marcha girando-se gradativamente um potenciômetro, ocorrendo o au-
mento de rotação do motor e fazendo com que ocorra circulação da água apenas pelo
circuito de água. Através de um visor, observa-se a presença de pequenas bolhas
de ar incorporadas à água até seu desaparecimento. Inicialmente, a água é impul-
sionada passando pelo trocador de calor que mantém sua temperatura próxima de
25◦ C , ocorrendo também o monitoramento da temperatura, pressão e vazão. Na
etapa seguinte a válvula de controle de vazão de água é aberta lentamente fazendo
com que a água ua para o misturador, localizado na entrada da seção inclinada,
onde recebe o ar comprimido proveniente do sistema de alimentação de ar, ocorrendo
a mistura das duas fases. Após a passagem pelo misturador, a mistura bifásica es-
coa através da seção de testes bifásicos, ao longo do tubo de aço inoxidável, com o
objetivo de estabilizar o regime de escoamento. Em seguida passa pelo tubo trans-
parente de acrílico onde é feita a visualização e registro de imagens do regime de
escoamento. Finalmente, a mistura bifásica ui por uma mangueira exível até
chegar a um tanque atmosférico de aço inoxidável, onde o ar comprimido se separa
da mistura sendo liberado livremente para a atmosfera, e a água é succionada pela
bomba do circuito, reiniciando o ciclo.
Antes de iniciar a aquisição das imagens dos regimes de escoamento, as vazões
de água e ar comprimido são cuidadosamente ajustadas e a planta é mantida com
estes valores por cerca de 10 minutos para garantir que não haverá utuações nas

42
variáveis operacionais.
A menor vazão que a bomba do circuito de água fornece é 0, 2 m3 /h. A menor
vazão que a placa de orício pode medir é 2, 0 m3 /h e a maior vazão que pode ser
medida pelo rotâmetro de água é 1, 0 m3 /h. Portanto, vazões menores que 0, 2 m3 /h
e na faixa entre 1, 0 m3 /h e 1, 5 m3 /h não puderam ser medidas.

4.2 Técnica Experimental

4.2.1 Sistema de Visualização

O sistema de lmagem utilizado foi da Redlake Imaging Corporation, modelo


Motionscope PCI 8000S formado por uma lmadora digital monocromática de alta
velocidade, modelo 1108 - 0014, equipada com um sensor CCD (resolução máxima
480 x 420 pixels) e lentes Toyo 12, 5 - 75 mm, f/1, 8 w Macro, uma placa controladora
PCI de 12 bits, um programa de aquisição e análise de imagens e um microcom-
putador com processador AMD K6 800 MHz, 128 Mb de memória RAM e sistema
operacional Windows NT. Essa conguração foi suciente para atender os requisitos
mínimos do sistema empregado neste trabalho. A lmadora é conectada à placa,
que ca posicionada no barramento PCI do microcomputador, por meio de um cabo
de potência tipo 44-pin. Dispositivos de suporte e xação completam o sistema, que
tem capacidade para gravar imagens preto e branco com velocidades de 50 até 8000
quadros por segundo.
O ajuste da lmadora requer preparo cuidadoso, pois é necessário que haja um
alinhamento com o eixo axial do tubo de acrílico. Durante a montagem do sistema
de vizualização, utilizando um gabarito e o medidor de inclinação, foram marcados
pontos alinhados com o eixo axial do tubo de acrílico e distribuidos ao longo de seu
comprimento. Estes pontos serviram como guia para xação de uma linha na, que
foi utilizada como referência para posicionamento da lmadora digital. A seleção
da taxa de aquisição de imagens é função da velocidade do escoamento e da nitidez
das interfaces que se deseja lmar. No presente estudo foram utilizadas taxas de
aquisição de 50 quadros por segundo, 125 quadros por segundo, 250 quadros por
segundo e 500 quadros por segundo.

43
O sistema de iluminação permite exibilidade de intensidade e direção da luz
de modo a possibilitar a melhor reexão entre as diferentes interfaces da mistura
bifásica. A iluminação adequada é primordial na aplicação da técnica de visual-
ização de modo que se possa denir a posição e o contorno das interfaces com boa
nitidez. A iluminação necessária para lmagem foi fornecida por um reetor Lowel
PRO 250 W e outro Sargent 1000 W, colocados acima e lateralmente em relação a
lente da lmadora e orientados para o trecho de acrílico da seção de testes. Tam-
bém foi posicionado um fundo branco, por detrás do tubo transparente, com a na-
lidade de melhorar o contraste das imagens. O fabricante do sistema de lmagem
fornece tabelas de capacidade de memória, por modelo, em termos da velocidade em
quadros/s, ou seja, para cada velocidade corresponde uma capacidade de armazena-
mento em número de quadros gravados. Então, um compromisso entre velocidade
e memória precisa ser levado em conta para seleção das velocidades das lmagens.
Foi escolhida a faixa de 50 a 500 quadros/s como a mais adequada para as condições
deste trabalho. Uma representação esquemática do sistema de visualização é feita
na Figura 4.5.

Figura 4.5: Esquema do sistema de visualização.

44
4.2.2 Descrição dos Procedimentos Experimentais

Primeiramente, são colocados em funcionamento os circuitos que envolvem


a seção de testes, que foram descritos anteriormente. Estando a parte hidráulica
em ordem, o escoamento passa a ser registrado pelo sistema de visualização, onde
a câmera de alta velocidade grava as imagens no trecho de acrílico. Uma régua
milimétrica foi colocada perto da tubulação para auxiliar como referência para as
dimensões medidas através do programa da câmera.
A dimensão e o movimento de uma imagem foram medidos quadro a quadro, a
partir do programa de aquisição e análise de imagens do equipamento de lmagem.
O programa fornece o número de quadros registrados durante o tempo de duração de
um experimento e apresenta um par de eixos, situados no plano de lmagem perpen-
dicular à lmadora, que permitem ao operador determinar a posição e a velocidade
de um ponto de interesse em relação à uma referência calibrada. Determinadas a
posição e a velocidade de um ponto, foi feito o estudo da evolução dos parâmetros
dos escoamentos com o tempo.
O escoamento bifásico intermitente, conforme já mencionado, é caracterizado
por uma unidade típica com duas principais regiões: o pistão de líquido que contem
a fase líquida e apresenta, dependendo das vazões das fases gás e líquido, baixa
ou alta dispersão de pequenas bolhas; e a região bolha-lme que contém a bolha
alongada na parte superior do tubo e um lme de líquido na parte inferior. Estas
duas regiões foram analisadas.

Cálculo da Velocidade da Bolha Alongada e do Pistão de Líquido


Para medir a velocidade do nariz da bolha alongada de gás, um ponto de
referência é escolhido no início do nariz (x0 ). No quadro seguinte, outro ponto é
marcado na mesma linha horizontal do ponto anterior (x1 ), de modo a acompanhar
a progressão do nariz e garantir que seja calculada somente a velocidade axial da
bolha. Automaticamente, através destes dois pontos, suas distâncias são calculadas
a partir da calibração feita anteriormente, assim como a velocidade do nariz da bolha
alongada é fornecida pela razão entre essa distância (x1 -x0 ) e a diferença de tempo
(t1 -t0 ) conhecida entre os dois quadros registrados:

45
x1 − x 0
VN B = . (4.1)
t1 − t0
A mesma idéia é utilizada para medir a velocidade da cauda da bolha alongada
de gás (VCB ), com a observação de que a cauda tem um comportamento bastante
instável e isso se torna um fator de diculdade.
Esse processo é repetido de forma sequencial e sucessiva. O resultado é uma
planilha com diversos valores de velocidades instantâneas para cada conjunto de
dois pontos marcados. A partir desses dados são obtidos os valores médios das
velocidades. Um exemplo é dado na Tabela 4.1. Essa metodologia é mostrada nas
Figuras 4.6 e 4.7 para o nariz e a cauda da bolha alongada, respectivamente.

Tabela 4.1: Exemplo de valores de velocidade da bolha alongada de gás obtidos pelo
programa da câmera para o contexto da gura 4.6.

P onto Coordenada Quadro# Distancia(cm) V elocidade(cm/s)


0 (296, 150) −511 0 0
1 (330, 150) −508 3, 304348 206, 5218
2 (335, 150) −505 6, 521739 201, 0869

Figura 4.6: Progressão do nariz da bolha alongada de gás.

Figura 4.7: Progressão da cauda da bolha alongada de gás.

Um procedimento análogo foi realizado para cálculo das velocidades médias


frontais e posteriores do pistão de líquido, VF P L e VP P L respectivamente.

46
Cálculo do Comprimento da Bolha Alongada e do Pistão de Líquido
Os valores médios das velocidades da bolha alongada de gás e do pistão de
líquido são utilizados para o cálculo dos comprimentos dos mesmos.
O cálculo da velocidade média da bolha alongada, VM B , é o resultado da média
do somatório entre as velocidades médias do nariz (VN B ) e da cauda (VCB ):

P VN Bi +VCBi
VM B = 2
. (4.2)
N
O pistão de líquido é analisado de forma análoga:

P VF P Li +VP P Li
VM P L = 2
. (4.3)
N
O comprimento da bolha alongada é então obtido através do produto entre a
velocidade média da bolha alongada VM B e o intervalo de tempo decorrido entre os
quadros lmados desde a passagem do nariz da bolha até a detecção da passagem
da sua cauda por um determinado ponto. Este intervalo de tempo pode ser medido
a partir de qualquer ponto do campo visual da imagem, desde que o ponto de início
e m da bolha sejam coincidentes.
O comprimento médio da bolha alongada foi obtido pela equação:
P
VM Bi ∆tBi
LB = . (4.4)
N

onde:

• VM Bi é a velocidade média da bolha alongada,

• ∆tB é o intervalo de tempo da passagem da bolha alongada por um ponto.

O comprimento médio do pistão de líquido é obtido de forma análoga, porém


utilizando o produto entre a velocidade média do pistão de líquido VM P Li e o intervalo
de tempo decorrido entre os quadros lmados desde a passagem da frente do pistão
de líquido até a detecção da passagem de sua parte traseira por um determinado
ponto.
O comprimento médio do pistão de líquido é obtido pela equação:

47
P
VM P Li ∆tP Li
LP L = . (4.5)
N
onde:

• VM P Li é a velocidade média do pistão de líquido,

• ∆tP Li é o intervalo de tempo correspondente a passagem do pistão de líquido


por um ponto.

4.2.3 Correções Experimentais

Conceitualmente, o erro experimental é a diferença entre o real valor da


grandeza física e o respectivo valor dessa grandeza obtido através de medições ex-
perimentais.
Mesmo que o experimento seja realizado com o máximo de cuidado, há sempre
fontes de erro que podem afetá-lo. Os erros experimentais podem ser de dois tipos:
erros sistemáticos e erros aleatórios. Cunha Filho (2010) descreveu os procedimen-
tos utilizados nos experimentos do Laboratório de Termo-hidráulica do IEN para
correção das vazões de ar comprimido e que serão abordados a seguir.

Erros Sistemáticos
São causados por fontes identicáveis e, em princípio, podem ser eliminados ou
compensados. Estes erros fazem com que as medidas feitas estejam consistentemente
acima ou abaixo do valor real, prejudicando a exatidão da medida. Decorre de uma
imperfeição no equipamento de medição ou no procedimento de medição. Pode
também ser devido a um equipamento não calibrado.

Correção em relação à calibração do rotâmetro

Sempre que possível, os rotâmetros são calibrados em condições próximas às


de seu uso. Porém, em muitas circunstâncias esse objetivo pode não ser atingido,
seja pelo fato de as amostras estarem em ambientes remotos ou pelo fato de o

48
dispositivo de amostragem causar uma queda de pressão signicante no gás que
está sendo medido através do rotâmetro. Este último representa o caso do sistema
experimental deste trabalho e a análise dos efeitos da variação da pressão nos valores
de vazão de gás indicados pelo rotâmetro é muito importante.
O rotâmetro utilizado para medir as vazões de ar foi calibrado para o-
perar a uma pressão de 1bar manométrico e durante os experimentos, operou a
1, 15kgf /cm2 .
Urone e Ross (1979) com base no princípio de funcionamento do rotâmetro,
ou seja, no equilíbrio entre as forças de arraste e gravitacional que atuam sobre o
utuador do mesmo, propuseram a equação 4.6 para relacionar as vazões medidas e
reais.

s
Pcal Top ρcal
r
Qreal = Qrot = Qrot . (4.6)
Pop Tcal ρop
Onde:

• Qrot = vazão volumétrica do ar indicada no rotâmetro,

• Qreal = vazão volumétrica real para as condições de operação,

• Pop = pressão de operação = 2, 15 bar abs,

• Pcal = pressão de calibração = 2, 00 bar abs,

• Top = Temperatura de operação = 25◦ C = 298 K,

• Tcal = Temperatura de calibração = 25◦ C = 298 K,

• ρop = massa especíca a pressão de operação = 2, 53

• ρcal = massa especíca a pressão de calibração = 2, 35.

Fazendo uma interpolação de valores tabelados de massa especíca do ar a


temperatura de 25◦ C variando com a pressão, é obtida a seguinte expressão:

ρAR = 1, 168613515P + 1, 184912494. (4.7)

49
A correção da vazão volumétrica pode ser rescrita:

s r
Pcal Top 2 × 298
Qreal = Qrot = Qrot = 0, 96Qrot . (4.8)
Pop Tcal 2, 15 × 298

Correção em relação à variação de pressão na seção bifásica

A passagem da mistura bifásica através dos tubos de aço inoxidável e acrílico,


dentro das faixas de vazões estudadas, ocorreu num intervalo de tempo de 2, 52 a
9, 63 segundos. Como o aço inoxidável e o acrílico apresentam uma baixa condutibi-
lidade térmica, tem-se que a troca de calor da mistura bifásica com o meio exterior
pode ser considerada desprezível e o processo como adiabático.
Para um gás ideal, a energia interna (u) e a entalpia (h) são funções apenas da
temperatura. Os calores especícos a pressão constante (CP ) e a volume constante
(CV ) também o são.
As variações da energia interna e entalpia de um gás ideal são relacionadas
através dos calores especícos por meio das equações:

u2 − u1 = CV (T2 − T1 ). (4.9)

h2 − h1 = CP (T2 − T1 ). (4.10)

Sendo que a entalpia é denida como:

h = u + P V = U + RT. (4.11)

Das equações 4.9, 4.10 e 4.13, Moran e Shapiro (2000) demonstraram:

CP − CV = R. (4.12)

CP
γ= . (4.13)
CV
Para o ar nas condições padrões, temos que:

50
J
CP = 1005 . (4.14)
KgK

J
CV = 718 . (4.15)
KgK
Assim, pode-se concluir que para o ar, γ = 1, 4.
Analisando o comportamento da variação do volume de uma bolha imersa
em um líquido com o tempo, conforme é mostrado na Figura 4.8, é sabido que no
instante t = 0 a bolha apresenta raio R0 e pressão PG0 .

Figura 4.8: Bolha imersa em um líquido.

De acordo com Brennen (2005), assumindo a temperatura do líquido constante


e o comportamento da bolha como politrópico, tem-se a correlação:

 3K
R0
PG = PG0 . (4.16)
R
Onde PG é a pressão da bolha num instante t com raio R.
Para um processo adiabático, K =γ e tendo o ar como fase gás, a equação 4.16
passa para a forma:

1,4 4 1,4
(R0 )3 π(R0 )3

PG = PG0 = PG0 3
4 . (4.17)
R3 3
πR3
Colocando a equação 4.17 em termos de vazão, temos:

r
Prot
Qacr = 1,4
Qreal . (4.18)
Pacr

51
Onde:

• Qacr = vazão volumétrica do ar no tubo de acrílico

• Pacr = pressão do ar no tubo de acrílico

• Prot = pressão no rotâmetro

• Qreal = vazão volumétrica corrigida no rotâmetro

Ao longo dos experimentos, foram registrados valores de Prot = 2, 15 e Pacr =


1, 00 em termos de pressão absoluta. Logo, a equação 4.18 pode ser rescrita como:

r
2, 15
Qacr = 1,4
Qreal = 1, 72Qreal . (4.19)
1, 00

Correção Total

Aplicando as duas correções que precisam ser feitas (uma devido a queda de
pressão no próprio rotâmetro e outra devido a queda de pressão na linha), a correção
nal em relação ao valor lido no rotâmetro ca da seguinte forma:

r
2, 15
Qacr = 1,4
Qreal = 1, 72Qreal = 1, 72 × Qrot × 0, 96 = Qrot × 1, 65. (4.20)
1, 00

Erros Aleatórios
Estes erros decorrem de fatores imprevisíveis. São utuações, para cima ou
para baixo, que fazem com que aproximadamente a metade das medidas realizadas
esteja desviada para mais, e a outra metade esteja desviada para menos, afetando a
exatidão da medida. Decorre da limitação do equipamento ou do procedimento de
medição, que impede que medidas exatas sejam tomadas. Nem sempre é possível
identicar as fontes de erros aleatórios.
É feito então, um tratamento estatístico para aferição deste tipo de erro neste
trabalho.

52
Capítulo 5

Modelos de Regimes de Escoamento

Neste capítulo, serão apresentados os mapas de Mandhane et al. (1974) e


Taitel e Dukler (1976), que foram selecionados como mapa empírico e téorico, res-
pectivamente, para serem estudados, principalmente, devido à boa aceitação e uso
de ambos.
Neste trabalho, os mapas de Mandhane et al. (1974) e de Taitel e Dukler (1976)
foram implementados no software Wolfram Mathematica 7.0 para fornecer os mapas
de regime de escoamento.

5.1 Mapa de Mandhane et al. (1974)

O algortimo da correlação experimental proposto por Mandhane et al. (1974)


que foi descrito pelos autores foi desenvolvido em liguagem de programação do tipo
Fortran.

5.1.1 Dados de Entrada

Os dados de entrada são as propriedades físicas das fases e os parâmetros


do escoamento. Valores discretos são fornecidos e o programa prediz o regime de
escoamento correspondente. Um exemplo de dados de entrada é apresentado na
Tabela 5.1.

53
Tabela 5.1: Exemplo de dados de entrada.

Parâmetro/Propriedade Valores
Velocidade supercial do líquido 0, 3048 m/s
Velocidade supercial do gás 3, 048 m/s
Densidade da fase - líquido (ρL ) 881, 0153 kg/m3
Densidade da fase - gás (ρG ) 0, 6407 kg/m3
Viscosidade da fase - líquido (µL ) 0, 005 P a.s
Viscosidade da fase - gás (µG ) 0, 00001 P a.s
Tensão supercial 0, 065 N/m
Ângulo de inclinação (θ) 0◦

5.1.2 Descrição do Programa

Inicialmente são calculados os parâmetros de Govier e Aziz (1972), que serão


aplicados para correção das propriedades físicas:

 0,333  0,25  0,2


ρG ρL 72, 4 µG
X1 = , (5.1)
0, 0808 62, 4 σ 0, 018

 0,25  0,2
ρL 72, 4 µL
Y1= , (5.2)
62, 4 σ 1, 0
Tendo estes valores, são feitas uma série de vericações que ao nal especi-
carão qual o regime atingido a partir dos dados de entrada. O raciocínio lógico
utilizado pode ser observado no uxograma da Figura 5.1.

5.1.3 Aplicabilidade do Programa

A eciência do algoritmo correlacional desenvolvido por Mandhane et al. (1974)


é bastante dependente das características do escoamento em análise, tendo em vista
que foi construído a partir de um banco de dados experimentais de sistemas ar-
água horizontais. Para os escoamentos que têm essas características, sua utilização
proporciona bons resultados.

54
Figura 5.1: Fluxograma com o raciocínio lógico do algoritmo de Mandhane et al.
(1974).

55
5.2 Mapa de Taitel e Dukler (1976)

5.2.1 Dados de Entrada

Para o modelo de Taitel e Dukler (1976), os coecientes utilizados foram CG =


CL = 0, 046, n = m = 0, 2, a m de estabelecer condições de escoamento turbulento
em ambas as fases (não foi utilizado o líquido em escoamento laminar devido ao
pequeno efeito nos resultados). As condições de trabalho no laboratório, em termos
de propriedades dos uidos e dimensões da tubulação, simulados no modelo de Taitel
e Dukler (1976) estão listadas na Tabela 5.2.

Tabela 5.2: Condições de Trabalho no Laboratório de Termo-hidráulica Experimen-


tal.

Parâmetro Valores
Diâmetro interno do tubo (D) 0, 0254
Densidade da fase - líquido (ρL ) 998, 2 kg/m3
Densidade da fase - gás (ρG ) 1, 204 kg/m3
Viscosidade da fase - líquido (µL ) 1, 005x10−3 P a.s
Viscosidade da fase - gás (µG ) 1, 81x10−6 P a.s
Ângulos de inclinação (θ) 0◦ ,+5◦ ,+10◦ ,−2, 5◦ ,−5◦ ,−10◦

5.2.2 Descrição do Programa

Cálculos preliminares
O primeiro passo da programação foi escrever as equações preliminares rela-
cionadas ao escoamento, como áreas, perímetros e velocidades de cada fase em função
da altura do lme de líquido adimensionalizada (e
hL ).

h
hL = ,
e (5.3)
D

q
−1
eL = 0, 25[π − cos (2e
A hL − 1) + (2e hL − 1)2 ] ,
hL − 1) 1 − (2e (5.4)

56
q
−1 e
hL − 1)2 ] ,
AG = 0, 25[cos (2hL − 1) − (2hL − 1) 1 − (2e
e e (5.5)

SeL = π − cos−1 (2e


hL − 1) , (5.6)

A = AL+AG SeG = cos−1 (2e


hL − 1) , (5.7)

q
Sei = hL − 1)2 ,
1 − (2e (5.8)

Ae
u
eL = , (5.9)
A
eL

Ae
u
eG = . (5.10)
A
eG

Equação Principal e Solução de ehL


A equação principal do programa é a equação 3.10 reescrita na forma adimen-
sional, que ca da seguinte forma:

" # " !#
S
eL SeG Sei Sei
X2 (e e L )−n u
uL D e2L − (e e G )−m u
uG D e2G + + − 4Y = 0 . (5.11)
AL
e AeG A eL A eG

Esta equação representa qualquer regime de escoamento bifásico gás-líquido e


em qualquer inclinação. Assim sendo, esta mesma equação sempre será utilizada
para obtenção das linhas de transição de regime, como um ponto de partida, em
conjunto com outras que tratam especicamente dos mecanismos físicos envolvidos
em cada fronteira.
Cada par X-Y corresponde a um único valor de e
hL . Para o caso horizontal, o
problema ca simplicado e pode ser obtida uma relação entre o grupo adimensional
X e a variável e
hL . Porém a equação continua sendo implícita. Para resolvê-la,
primeiramente foi usado um algoritmo númerico com o método da bisecção que
calculou e
hL a partir de valores discretos de X. Então esses pares ordenados foram
interpolados e o gráco mostrado na Figura 5.2 foi obtido.

57
Figura 5.2: Gráco de hL /D versus X para o escoamento horizontal.

Para os casos de inclinações não nulas, o ângulo é especicado dentro da


equação principal.

Transição estraticado/intermitente e estraticado/anular


O grupo adimensional para a fronteira estraticado/intermitente e estrati-
cado/anular é o seguinte:
 
1 u
eG dA
eL /de
hL 
F 2   ≥ 1. (5.12)

2
1−e
hL AeG

A partir da relação entre e


hL e X obtida para o caso horizontal, o grupo F em
função de e
hL como está acima pode ser colocado em função do grupo X.
Utilizando valores discretos de UGS , é construída uma lista de valores para o
grupo F segundo a equação 3.13. A seguir, é feita a busca por uma solução numérica
a partir de um valor inicial (Método de Newton-Raphson) para a igualdade entre
as equações 3.13 e 5.12. De posse desta solução com valores discretos de X, estes
valores são utilizados na equação 3.10, juntamente com os valores de UGS que a
geraram para obter os valores de ULS correspondentes. Agora os pares ordenados

58
de UGS e ULS são interpolados para se obter a relação entre estas duas variáveis que
vai constar no mapa.

Transição intermitente/anular
A transição entre o regime intermitente e o anular disperso, como Butterworth
(1972) tratou, depende do nível de líquido para manter o pistão de líquido e formar
o intermitente, ou rompê-lo e formar o anular. Taitel e Dukler (1976) sugerem que
o limite para formação de um ou outro regime seria o nível da linha de centro do
tubo. Acima do centro do tubo, surge o escoamento intermitente e abaixo, o anular.

hL ≤ 0, 5 .
e (5.13)

Transição estraticado suave/estracado ondulado


O grupo adimensional para a fronteira estraticado suave/estracado ondulado
é o seguinte:

2
K≥√ √ . (5.14)
ueL u
eG s
Neste caso, a abordagem precisa ser diferente e ao invés de preestabelecer
valores discretos para UGS , o faz-se para ULS . Então segue igualando as equações
3.14 e 5.14, com uma lista de valores discretos para ULS e organizando os valores de
UGS obtidos em pares ordenados.

Transição intermitente/bolhas dispersas


O grupo adimensional para a fronteira intermitente/bolhas dispersas é o
seguinte:
" #
8A
eG
T2 ≥ . (5.15)
e2 (e
Sei u e L )−n
uL D
L

Neste caso, o procedimento seguido é análogo ao que foi feito para a fronteira
estraticado/intermitente e estraticado/anular. É utilizado um recurso numérico
para obter raízes da igualdade entre as equações 3.15 e 5.15. Ao nal, os pares

59
ordenados de UGS e ULS são interpolados para se obter a relação entre estas duas
variáveis que vai constar no mapa.

5.2.3 Aplicabilidade do Programa

O programa desenvolvido representa uma ótima ferramenta para o estudo de


escoamentos bifásicos. No presente trabalho o programa simulou um escoamento
de ar e água a pressão atmosférica, 20◦ C e com as inclinações reproduzidas em
laboratório. Porém ele é capaz de predizer os regimes de escoamento em diferentes
condições de uidos, tubulação, pressão, temperatura, inclinação, bastando para
isso alterar os dados de entrada.

60
Figura 5.3: Fluxograma com o raciocínio usado para o mapa de Taitel e Dukler
(1976) para escoamento horizontal.
61
Capítulo 6

Análise dos Resultados e Discussões

Os experimentos foram realizados para uma faixa de velocidade supercial de


líquido variando de 0, 11 a 3, 28 m/s e uma faixa de velocidade supercial de gás
variando de 0, 44 a 9, 04 m/s. Foram analisados parâmetros relativos ao escoamento
intermitente horizontal e ascendente (5◦ e 10◦ ), para três velocidades superciais de
líquido e três velocidades superciais de gás, resultando em nove pares de velocidades
superciais para cada inclinação, como mostra a tabela 6.1.

Tabela 6.1: Velocidades superciais das fases nos escoamentos horizontal e ascen-
dentes (5◦ e 10◦ ).

ULS (m/s) UGS (m/s)


0, 22 0, 63
0, 49 1, 27
1, 08 1, 63

6.1 Escoamento Intermitente

6.1.1 Escoamento Horizontal

Para o escoamento horizontal a aquisição de imagens foi feita para um pro-


cessamento médio de 10 amostras de bolhas. Os pers das bolhas alongadas foram
identicados pelas imagens do escoamento e comentados.

62
Velocidade Translacional da Bolha Alongada
Experimentalmente, a velocidade do nariz da bolha alongada é obtida através
da equação 4.1.
As guras 6.1 e 6.2 mostram a comparação da velocidade translacional da
bolha medida pelo sistema de visualização com as correlações de Bendiksen (1984)
e Cook e Behnia (2001) para o escoamento horizontal, em termos da velocidade
supercial de gás com uma velocidade supercial de líquido constante. Os grá-
cos mostram que para uma velocidade supercial de líquido constante, a velocidade
translacional da bolha alongada aumenta com o incremento da velocidade super-
cial de gás, indicando uma relação linear entre essas duas variáveis. Apesar desse
comportamento linear dos dados experimentais equivalente ao que é fornecido pelas
correlações, nota-se que para maiores velocidades de gás a diferença entre esses va-
lores se torna mais signicativa. Isso demonstra que as correlações não representam
de maneira satisfatória as condições de trabalho do laboratório.

Figura 6.1: Comparação entre a velocidade translacional da bolha alongada medida


pelo sistema de visualização e a correlação de Bendiksen (1984) para o escoamento
horizontal.

63
Figura 6.2: Comparação entre a velocidade translacional da bolha alongada medida
pelo sistema de visualização e pela correlação de Cook e Behnia (2001) para o
escoamento horizontal.

Comprimento da Bolha Alongada e do Pistão de Líquido


O cálculo do comprimento da bolha alongada é descrito no capítulo 4.2.2.
A velocidade da cauda da bolha alongada foi mais difícil de se medir devido à
sua instabilidade, enquanto o perl do nariz era mais bem denido e de mais fácil
medição.
Na gura 6.3 são representados os comprimentos das bolhas alongadas em
função das respectivas velocidades superciais do gás. Pode se notar que há uma
relação entre essas duas variáveis, que aparenta ser linear.
Para os comprimentos do pistão de líquido, foi utilizada a correlação empírica
de Cook e Behnia (2000) para vericar a estabilidade dos pistões de líquido.
Pela gura 6.4, pode-se observar que alguns dos escoamentos horizontais re-
produzidos em laboratório se encontram na região de pistão estável.

64
Figura 6.3: Comprimentos das bolhas alongadas em função da velocidade supercial
do gás.

Figura 6.4: Correlação de Cook e Behnia (2000) para estabilidade de pistão de


líquido e pontos experimentais.

65
Perl da Bolha Alongada
A gura 6.5 mostra os pers da cauda da bolha alongada para o escoamento
horizontal. Para uma velocidade supercial de líquido constante, observa-se que
a cauda ca mais aerada, enquanto que para uma velocidade supercial de gás
constante, a cauda da bolha perde o alongamento. Ao observar os pers do nariz da
bolha alongada, na gura 6.6, é nítido o arredondamento para as menores velocidades
de gás e a movimentação do mesmo em direção à linha de centro do tubo conforme
a velocidade da mistura aumenta. Essas observações são compatíveis com as feitas
por Bendiksen (1984) e Fagundes Netto et al. (1999).

Figura 6.5: Pers da cauda da bolha alongada para escoamento horizontal.

6.1.2 Escoamento Ascendente de 5◦

Para o escoamento ascendente de 5◦ a aquisição de imagens foi feita para


um processamento médio de 100 amostras de bolhas alongadas, a m de fornecer
uma melhor análise dos dados. Novamente os pers das bolhas alongadas foram
identicados pelas imagens do escoamento e comentados.

66
Figura 6.6: Pers do nariz da bolha alongada para escoamento horizontal.

Velocidade Translacional da Bolha Alongada


As guras 6.7 e 6.8 mostram a comparação da velocidade translacional da
bolha medida pelo sistema de visualização com as correlações de Bendiksen (1984) e
Cook e Behnia (2001) para o escoamento ascendente de 5◦ , em termos da velocidade
supercial de gás com uma velocidade supercial de líquido constante. Os grácos
mais uma vez mostram que para uma velocidade supercial de líquido constante, a
velocidade translacional da bolha alongada aumenta com o incremento da velocidade
supercial de gás, indicando uma relação linear entre essas duas variáveis. Neste
caso, com a inclinação sendo não-nula, é possível observar melhor o efeito da mesma
nas correlações. Para Bendiksen (1984) o ângulo de inclinação afeta os valores das
constantes C0 e C1 da equação 3.16, enquanto Cook e Behnia (2001) só levam em
conta o efeito da inclinação na parcela relacionada à velocidade de deslizamento
(drift velocity ). Como resultado, pode-se observar que a correlação de Bendiksen
(1984) representa melhor as situações com as duas menores velocidades superciais
de líquido, enquanto a correlação de Cook e Behnia (2001) representa melhor a
situação com maior velocidade supercial de líquido em comparação com Bendiksen
(1984).

67
Figura 6.7: Comparação entre a velocidade translacional da bolha alongada medida
pelo sistema de visualização e a correlação de Bendiksen (1984) para o escoamento
ascendente de 5◦ .

Figura 6.8: Comparação entre a velocidade translacional da bolha alongada me-


dida pelo sistema de visualização e a correlação de Cook e Behnia (2001) para o
escoamento ascendente de 5◦ .

68
Comprimento da Bolha Alongada e do Pistão de Líquido
Analogamente ao que foi feito para os escoamentos horizontais, na gura 6.9
são mostrados os comprimentos das bolhas alongadas com as respectivas velocidades
superciais do gás. Mais uma vez é possível obsservar uma relação entre essas duas
variáveis, que aparenta ser linear.

Figura 6.9: Comprimentos das bolhas alongadas em função da velocidade supercial


do gás.

Para os comprimentos do pistão de líquido, foi utlizada a correlação empírica


de Cook e Behnia (2000) para vericar a estabilidade dos pistões de líquido.
Pela gura 6.10, novamente pode-se observar que a maioria dos escoamentos
para a inclinação de 5◦ ascendente se encontram na região de pistão estável.

Perl da Bolha Alongada


A gura 6.11 mostra os pers da cauda da bolha alongada para o escoamento
ascendente de 5◦ . Para uma velocidade supercial de líquido constante, novamente
é visto que a cauda ca mais aerada à medida que a velocidade do gás aumenta,
enquanto que para uma velocidade supercial de gás constante, a cauda da bolha
perde o alongamento, devido à maior turbulência que causa o desprendimento de

69
Figura 6.10: Correlação de Cook e Behnia (2000) para estabilidade de pistão de
líquido e pontos experimentais.

pequenas bolhas. Sobre os pers do nariz da bolha alongada, na gura 6.12, mais
uma vez é visto o arredondamento para as menores velocidades de gás e a movi-
mentação do mesmo em direção à linha de centro do tubo conforme a velocidade da
mistura aumenta. Essas observações são compatíveis com as feitas por Bendiksen
(1984) e Fagundes Netto et al. (1999).

6.1.3 Escoamento Ascendente de 10◦

Para o escoamento ascendente de 10◦ a aquisição de imagens também foi feita


para um processamento médio de 10 amostras de bolhas alongadas. Novamente
os pers das bolhas alongadas foram identicados pelas imagens do escoamento e
comentados.

Velocidade Translacional da Bolha Alongada


As guras 6.13 e 6.14 mostram a comparação da velocidade translacional da
bolha medida pelo sistema de visualização com as correlações de Bendiksen (1984)
e Cook e Behnia (2001), respectivamente, para o escoamento ascendente de 10◦ , em
termos da velocidade supercial de gás com uma velocidade supercial de líquido
constante. Os grácos mais uma vez mostram que para uma velocidade supercial
de líquido constante, a velocidade translacional da bolha alongada aumenta com o

70
Figura 6.11: Pers da cauda da bolha alongada para os testes realizados para es-
coamento ascendente de 5◦ .

71
Figura 6.12: Pers do nariz da bolha alongada para os testes realizados para escoa-
mento ascendente de 5◦ .

72
incremento da velocidade supercial de gás, indicando uma relação linear entre essas
duas variáveis. Análogo ao que foi visto para o escoamento ascendente de 5◦ , pode-se
observar que a correlação de Bendiksen (1984) representa melhor as situações com
as duas menores velocidades superciais de líquido, enquanto a correlação de Cook
e Behnia (2001) representa melhor a situação com maior velocidade supercial de
líquido em comparação com Bendiksen (1984).

Figura 6.13: Comparação entre a velocidade translacional da bolha alongada medida


pelo sistema de visualização e a correlação de Bendiksen (1984) para o escoamento
ascendente de 10◦ .

Comprimento da Bolha Alongada e do Pistão de Líquido


Na gura 6.15 podem ser vistos os comprimentos das bolhas alongadas em
função das respectivas velocidades superciais do gás. Os resultados apresentaram
as mesmas tendências dos escoamentos anteriores, com uma relação entre essas duas
variáveis, que aparenta ser linear.
Para os comprimentos do pistão de líquido, foi utlizada a correlação empírica
de Cook e Behnia (2000) para vericar a estabilidade dos pistões de líquido.
Pela gura 6.16, pode-se observar que alguns dos escoamentos de 10◦ se en-
contram próximos da região de pistão estável.

73
Figura 6.14: Comparação entre a velocidade translacional da bolha alongada me-
dida pelo sistema de visualização e a correlação de Cook e Behnia (2001) para o
escoamento ascendente de 10◦ .

Figura 6.15: Comprimentos das bolhas alongadas em função da velocidade super-


cial do gás.

74
Figura 6.16: Correlação de Cook e Behnia (2000) para estabilidade de pistão de
líquido e pontos experimentais.

Perl da Bolha Alongada


A gura 6.17 mostra os pers da cauda da bolha alongada para o escoamento
ascendente de 10◦ . Para uma velocidade supercial de líquido constante, novamente
é visto que a cauda ca mais aerada, enquanto que para uma velocidade supercial
de gás constante, a cauda da bolha perde o alongamento. Sobre os pers do nariz
da bolha alongada, na gura 6.18, mais uma vez é visto o arredondamento para
as menores velocidades de gás e a movimentação do mesmo em direção à linha de
centro do tubo conforme a velocidade da mistura aumenta. Essas observações são
compatíveis com as feitas por Bendiksen (1984) e Fagundes Netto et al. (1999).

6.2 Mapas de Regimes de Escoamentos

6.2.1 Escoamento Horizontal

Para o escoamento horizontal foram obtidos 31 pontos experimentais que foram


marcados nos mapas de Mandhane et al. (1974) e Taitel e Dukler (1976), conforme
aparece na Figura 6.19. Há uma concordância satisfatória entre ambos os mapas
com relação as formas das linhas de fronteiras e suas localizações. Também é obser-
vada uma boa concordância com os pontos experimentais, exceto por alguns pontos
relacionados ao regime de bolhas dispersas.

75
Figura 6.17: Pers da cauda da bolha alongada para escoamento ascendente de 10◦ .

Mandhane et al. (1974) discutiram sobre a diculdade de muitos mapas para


predizer corretamente o regime de bolhas dispersas ao compará-los com o banco de
dados experimentais usado por eles.
A nomenclatura usada na Figura 6.19 corresponde a classicação de Mandhane
et al. (1974), onde pistonado e slug representam diferentes tipos de escoamento
intermitente.

6.2.2 Escoamento Ascendente de 5◦

Para o escoamento ascendente de 5◦ foram obtidos 33 pontos experimentais


que foram marcados no mapa de Taitel e Dukler (1976), conforme aparece na Figura
6.20. Novamente, há uma boa concordância do mapa com os pontos experimentais.
Conforme assinalado por Taitel e Dukler (1976), a inclinação ascendente faz
com que o escoamento intermitente ocorra para uma região muito maior de veloci-
dades superciais e a região do regime estraticado é reduzida substancialmente.
A causa disso é o efeito da gravidade que diculta a estabilidade do escoamento

76
Figura 6.18: Pers do nariz da bolha alongada para escoamento ascendente de 10◦ .

Figura 6.19: Localização dos dados experimentais com relação aos mapas de Mand-
hane et al. (1974) e Taitel e Dukler (1976) para escoamento horizontal.

77
estraticado. Como pode ser visto na Figura 6.20, essas condições tão restritas para
atingir o escoamento estraticado não puderam ser reproduzidas em laboratório.

Figura 6.20: Comparação dos dados experimentais com o mapa de Taitel e Dukler
(1976) para o escoamento ascendente de 5◦ .

6.2.3 Escoamento Ascendente de 10◦

Para o escoamento ascendente de 10◦ foram obtidos 35 pontos experimentais


que foram marcados no mapa de Taitel e Dukler (1976) e são mostrados na Figura
6.21. Novamente é observada uma boa concordância entre os dados experimentais
e o mapa.
Para essa inclinação ascendente maior não foi possível atingir o regime estrati-
cado no laboratório e nem para velocidades superciais de gás muito pequenas esse
regime aparece no mapa.

6.2.4 Escoamento Descendente de 2, 5◦

Para o escoamento descendente de 2, 5◦ foram obtidos 28 pontos experimentais


que foram marcados no mapa de Taitel e Dukler (1976) e são mostrados na Figura
6.22. Novamente é observada uma boa concordância entre os pontos experimentais

78
Figura 6.21: Localização dos dados experimentais com relação ao mapa de Taitel e
Dukler (1976) para o escoamento ascendente de 10◦ .

e o mapa, apesar de haver um ponto do escoamento intermitente bem discordante,


que aparenta ser uma situação de transição com bolhas bastante alongadas.
Conforme notado por Taitel e Dukler (1976), a inclinação descendente causa o
efeito inverso ao da inclinação ascendente: a região do regime estraticado é maior
e a do intermitente, menor. A estabilidade do regime estraticado nas inclinações
descendentes é oriunda do fato de o líquido se mover mais rapidamente, em um
nível mais baixo, de modo que exige maiores velocidades de gás e de líquido para
que atinja a transição para o outro regime.

6.2.5 Escoamento Descendente de 5◦

Para o escoamento descendente de 5◦ foram obtidos 84 pontos experimentais


que foram marcados no mapa de Taitel e Dukler (1976) e são mostrados na Figura
6.23. O maior número de amostras se deu em razão da realização de testes com
a câmera, gerando um maior espaço amostral. Novamente é observada uma boa
concordância entre os dados experimentais e o mapa, exceto por alguns pontos do
regime intermitente e o do regime de bolhas dispersas em geral.

79
Figura 6.22: Localização dos dados experimentais com relação ao mapa de Taitel e
Dukler (1976) para o escoamento descendente de 2, 5◦ .

Em comparação com o caso do escoamento descendente de 2, 5◦ , não há uma


diferença signicativa nas linhas de fronteira do mapa devido ao aumento de ângulo
ter sido muito pequeno.

6.2.6 Escoamento Descendente de 10◦

Para o escoamento descendente de 10◦ foram obtidos 28 pontos experimentais


que foram marcados no mapa de Taitel e Dukler (1976) e são mostrados na Figura
6.24. Novamente é observada uma boa concordância entre os dados experimentais e
o mapa, exceto por alguns pontos do regime intermitente e mais uma vez, o regime
de bolhas dispersas em geral.
É importante também lembrar que essas pequenas diferenças entre os dados
experimentais e o mapa nos casos testados são devido ao fato de que as linhas de
fronteiras são, na verdade, regiões de transição, uma vez que a mudança de um
regime para outro não ocorre de forma descontínua. Apesar dessas diferenças, os
dados experimentais concordam com as previsões dos mapas.
Em comparação com os casos de escoamentos descendentes, o deslocamento
das linhas de fronteira é mais perceptível em termos do aumento da região de regimes

80
Figura 6.23: Localização dos dados experimentais com relação ao mapa de Taitel e
Dukler (1976) para o escoamento descendente de 5◦ .

estraticados e de uma redução da região de regimes intermitentes. Os escoamentos


intermitentes visualizados neste caso apresentaram-se bastante aerados de modo que
o nariz da bolha e sua cauda não tinham uma forma bem denida.

81
Figura 6.24: Localização dos dados experimentais com relação ao mapa de Taitel e
Dukler (1976) para o escoamento descendente de 10◦ .

82
Capítulo 7

Conclusões e Sugestões

Neste capítulo são apresentadas as principais conclusões sobre o trabalho de-


senvolvido, conforme os resultados apresentados no capítulo 6. Em seguida são feitas
sugestões para trabalhos futuros.

7.1 Conclusões

Neste trabalho foi realizado um estudo experimental onde um sistema de vi-


sualização e aquisição de imagens foi usado para medição de parâmetros do escoa-
mento intermitente (velocidades e comprimentos das bolhas alongadas e dos pistões
de líquido) em uma matriz nove × nove pares de velocidades superciais gás-líquido
nos escoamentos horizontal, inclinado ascendente de 5◦ e 10◦ , além da análise do
perl da bolha alongada. O sistema de visualização também foi utilizado para iden-
ticar os regimes de escoamento e situá-los nos mapas de Mandhane et al. (1974) e
Taitel e Dukler (1976), desta vez abrangindo uma faixa maior de inclinações, onde
também foram considerados os escoamentos descendentes de 2, 5◦ , 5◦ e 10◦ .
Pelos resultados obtidos neste estudo as seguintes conclusões foram obtidas:

• O sistema de visualização de alta velocidade foi capaz de registrar as imagens


dos escoamentos, de modo a permitir sua medição. Foi possível visualizar as
interfaces das fases e caracterizar os pers das bolhas alongadas.

• A comparação dos parâmetros medidos pela técnica de visualização com as

83
correlações de Bendiksen (1984), Cook e Behnia (2000) e Cook e Behnia (2001)
apresentou boa concordância , exceto nos casos de velocidades superciais do
gás altas.

• Vericou-se que, mantida a velocidade supercial do líquido constante, os va-


lores das velocidades do nariz e das velocidades médias das bolhas alongadas
aumentavam à medida que a velocidade supercial do gás aumentava, apresen-
tando uma forte relação linear entre essas variáveis. Também se vericou que,
mantida a velocidade supercial do gás constante, os valores das velocidades
do nariz e das velocidades médias das bolhas alongadas aumentavam à medida
que a velocidade supercial do líquido aumentava.

• Nos escoamentos horizontais e inclinados ascendentes de 5◦ e 10◦ vericou-se


que, mantida a velocidade supercial do líquido constante, ocorreu um au-
mento do comprimento da bolha alongada à medida que a velocidade super-
cial do gás aumentou, apresentando uma forte dependência linear. Também
vericou-se que, mantida a velocidade supercial do gás constante, ocorreu
redução do comprimento da bolha alongada à medida que a velocidade super-
cial do líquido aumentou.

• Vericou-se que a velocidade do nariz da bolha alongada diminui com o au-


mento do ângulo de inclinação de 0◦ a +10◦ . O desprendimento de bolhas da
cauda aumenta à medida que aumenta o ângulo de inclinação, sendo as bolhas
desprendidas incorporadas ao nariz da bolha alongada que vem em seguida.
Essas incorporações devem provocar uma diminuição da sua velocidade, im-
plicando em velocidades do nariz um pouco menores que as da cauda.

• A análise dos pers das bolha alongadas fornecem resultados consistentes a


literatura. A transição entre o regime pistonado e o slug pode claramente
ser identicada por uma mudança no perl da bolha, que no primeiro tem o
nariz localizado na parte superior (acima da metade) do tubo e a cauda mais
alongada e no segundo, conforme a velocidade do escoamento aumenta, o nariz
se move para a linha de centro do tubo e a cauda ca mais curta e mais aerada.

84
Pela análise dos mapas de regimes de escoamento gerados numericamente as
seguintes conclusões foram obtidas:

• Os mapas de Mandhane et al. (1974) e Taitel e Dukler (1976) apresentam uma


boa concordância em termos de suas fronteiras de transição para o escoamento
horizontal.

• De acordo com os resultados da visualização vericou-se que nos escoamentos


ascendentes ocorreu uma redução da região dos escoamentos estraticados e
um aumento da região dos escoamentos intermitentes. Já nos escoamentos
descendentes ocorreu o contrário. Esta observação está em concordância com
o mapa teórico de Taitel e Dukler (1976).

• Os dados experimentais e os mapas apresentaram uma boa concordância.

7.2 Sugestões de Trabalhos Futuros

• Estudo de outros parâmetros como altura de líquido nos regimes estraticados


e fração de vazio nos regimes intermitentes, em outros ângulos de inclinação.

• Mais pares de velocidades superciais em mais ângulos devem ser estudados


para se obter melhores resultados. Com isso o efeito da inclinação sobre os
parâmetros estudados caria melhor demonstrado.

• Maior número de dados experimentais para obtenção de uma relação entre os


comprimentos da bolha alongada e a velocidade da mistura.

85
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