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O autor, com um árduo trabalho de pesquisa, procurou resgatar a história da "cidade do

humor". Ele afirma que, a visão divulgada do nordestino, em outras regiões, é a de um lugar
com pessoas sofridas, tristes, violentas e que sofrem com a seca. Essa visão não leva em
considerações as diferenças regionais e culturais. Como exemplo, o autor citou um noticiário
sobre a academia de cordéis do Crato-CE, onde foram escolhidas roupas e adereços de
cangaceiros o que levanta os questionamentos: O grupo teria escolhido para ser registrado ou
o dono da matéria teria os selecionados? Os personagens praticavam o ato consciente ou
inconsciente? Voluntário ou involuntário? Marcos Aurelio também questiona "somos
realmente o que vemos ou o que nós queremos transmitir?", com ajuda do historiador Durval
Muniz, o autor, mostra que alta repetição de um estereótipo criado ou fictício eram inseridos
nas redes de comunicações afim de trazer uma caracterização única. A ideia de Aurelio é falar
sobre algo que está passando despercebido pelas divulgações. Uma vez que, parece existir
uma omissão das imagens de divertimento, sendo exibido a imagem estereotipada (como a
imagens de sofrimento e fome) e que pode trazer benefícios para algumas pessoas e por essa
razão não é visto e nem divulgado os momentos felizes.

Em uma festa de “quixabeira”, exibida por uma universitária de Pernambuco, em um


“documentário nordestino”, um repórter perguntou: "O que é ser sertanejo?" e o entrevistado
respondeu: "[...] é sofre, porém é fazer samba e bater palmas.". Percebe-se que existe um
lazer no cotidiano dos sertanejos, há provas concretas que existem momentos de felicidades
em sua vida.

O autor demostra o interesse em modificar essa imagem criada, mostrando uma realidade
mais cômica, tirando o peso da realidade historiográfica e assim mostrando o poder libertado
da comicidade, ressaltando que, apesar disso, o interesse não é fazer piadas, e sim tentar
demostrar uma realidade especifica ao narrar que os pasquins expluam o “humor
costumbrista” fazendo a população “rir contra”, mostrando superioridade e exclusão,
condenando um comportamento incomum com o “risos de exclusão”, erram em manter a
ordem. O redentor, Ze Migué, do jornal “O charutinho” na sua colona “abram o olho” denuncia
uma moça que se aliviou de suas fraudulências em um novenário. Esse tipo de publicação
trazia ordem no desenvolvimento da cidade favorecendo mais higiene facilitando a
urbanização e a civilização.

Por intermédio das fissuras abertas pelos registros do passado, o autor nos mostra a intenção
de admitir um humor e riso como elementos de compreensão da realidade, fazendo com que a
comicidade se complete a história geografia. O humor e o riso, atuavam com o intuito de
controlar a sociedade, de solucionar problemas no espaço cotidiano da sociedade. Uma
maneira de perceber esses costumes foi, principalmente, por meio de jornais que traziam uma
linguagem caluniosa cômica e pornográfica com o objetivo de buscar - através do humor
construído - corrigir, regular e modelar hábitos. Essas mudanças ocorreriam por sentimentos
de vergonha causados por esse tipo de humor.

Os leitores ficavam ansiosos para saberem o que iria sair no jornal, em saber quem seria o
próximo a ser o motivo dos seus “risos exclusivos” e, ao mesmo tempo, temiam ser os
próximos alvos de zombaria. Nota-se, que esses tipos de jornais eram muito populares, o que
se teve com esses editoriais foi uma invasão de privacidade, os redatores achavam-se no
direito de expor a vida de terceiros, já acreditavam que era necessária a exposição para o bom
desenvolvimento da civilização.

É importante ressaltar a maneira com que os "agente" se imponham contra uma certa
maneira de viver do povo de Fortaleza. Para melhor entendimento, uma das maneiras de
ensinar uma educação moral entregada pela marca do evangelho-cristão, era de palavras
carinhosas e de respeito, que exortava de maneira educada as pessoas a viver uma vida
exemplar, longe do crime e da vagabundagem. Já do lado dos pasquins, as medidas
empregadas eram de palavras duras e sem receios de crueldade, onde se destacava a
linguagem cômica que era capaz de levar a zombaria dos envolvidos, com o objetivo de
controle social e conter a liberdade de expressão, uma vez que, com os regulamentos,
obrigatoriamente seguidos, proporcionou aos proprietários e redatores uma função
autorreguladora e corretora das pessoas que infringiram tais regulamentos, assim assumiram
um papel manipulador na sociedade.

Na segunda metade do século XIX, o Brasil passou por várias transformações ocorrendo
importantes fenômenos como a transição do trabalho escravo para o trabalho livre,
instalações de ferrovias, indústrias, dentre outros. O processo do capitalismo, contribuiu para
modificações sociais, econômicas e ajudou na urbanização, que trouxe a necessidade de novos
padrões, o Brasil herdou a sua formação histórica tradicional de colônia e em 1870, as
principais cidades, perderam a forma herdada uma vez que houve uma melhoria da
infraestrutura urbana e um aumento na migração rural. Com essas modificações algumas
cidades passaram por reformas que foram uma ação aos desejos de modernização.

Entende-se que essas reformas só beneficiavam quem fazia parte da política e/ou bem
economicamente, porém a maioria da população vivia em áreas rurais, em situações precárias.
O autor relata que mesmo após a "independência" brasileira, o sistema colonial deixou
resquício: como o trabalho escravo, economia de exportação e grande marginalização da
massa.

As transformações do século XIX trouxe modificações aos padrões de vida em diversas


cidades e Fortaleza, também, passou por reformas urbanas e reordenação de seus espaços,
não só a cidade se modificou como as pessoas também precisaram se adaptar. Assim, no
século XIX Fortaleza assumiu sua superioridade, seja na economia ou na política, vencendo a
concorrência com algumas cidades cearense.

Fortaleza, em uma nova base econômica, usava o mercado externo o que era necessário
para a economia cearense, que levou a reformas infraestruturas. Dessa maneira, a população
de Fortaleza aumentou junto com os parâmetros econômicos, o que fez surgir uma grande
demanda de construções públicas, que simbolizavam controle da regulação social com os
processos de melhorias e reformas urbanas junto com a preocupação da disciplina dos que
moravam na cidade, os objetivos eram mudanças capazes de levar a capital para um
progresso.

Com o crescimento econômico apareceu a burguesia na capital cearense, constituída por


cearenses e estrangeiros. Nas classes mais baixas o número de trabalhadores cresceu, mas
também surgiu pedintes, prostitutas, retirantes de seca, dentre outros. Fortaleza, já não era
mais a cidade do século XVIII e nem do início do século XIX. A segunda metade do século XIX o
povoado antigo já havia se modificado. Tistovão relata que Fortaleza tinha muito a se fazer
que pudesse se vestir do aspecto atual. João Nogueira, em seu artigo, diz que a cidade de
Fortaleza não passava de um “remedo” de cidade, quando comparada fortaleza do século XX.

O autor demostra que a Fortaleza pacata, calma, desajeitada, suja e escura, estava se tornando
parte do esquecimento - menos aos escritores - e dando vida uma cidade cheia de prédios
altos, movimento, ruas ajeitadas e outras coisas mais. Nesse período, a cultura vinha ganhado
um espaço significativo, já que com a evolução a cidade agregou bibliotecas, colégios, jornais,
livrarias particulares e tipografias, o que elevaram o nível da cultura e com todo esse aparato
restou uma pequena parte da população que não teve acesso e essas. Com todas as novidades
ocorrem as divergências, pois algumas pessoas admiravam o progresso e outras tinham medo
e desconfiança do que estava acontecendo.

Galeno relata o medo com os tempos modernos e com a luxúria, ele tinha medo do comércio
que chegava nos portos com moda e o desejo de adquiri-los só o aumentava. Ele, também,
relata que o luxo se tornara uma doença que se espalhou pela cidade e que as pessoas
pareciam formigas atraídas pela nova moda, em consequência de todo esse luxo. Galeno,
ainda relata, ter um certo medo das famílias se desviarem da simplicidade, e em sua crônica a
"noite da cidade" crítica o mundanismo onde as mães deixam seus filhos para irem as
noitadas. E apesar dos alertas aos perigos da modernidade, nem mesmo o juvenil conseguiu
resistir as múltiplas reformas no Ceará, ele ficou fascinado com a chegada da civilização, tido
como um momento de “claridão”. Depois da demonstração entre "medo e fascínio", ainda tem
os que demonstram uma imagem criticamente da cidade.

Os participantes da "padaria espiritual" tinham o objetivo de derrubar as tradições acadêmicas


literárias do Ceará, no qual a padaria escolhe os modos de vida dos sertanejos como
definidores do caráter nacional, justamente o que o alinhamento do Ceará civilizado defendia.
Para Adolfo Caminha, Sabino Batista e Alfredo Severo, esse "novo" não passava de aparências,
e que não tirava sua característica provinciana, e nem escondia atrasos e contradições.

A partir do século XIX, as ruas ganham mais importância, deixando de ser um lugar onde
jogavam sobras, deixava o bicho soltos, lugar onde jogavam lixo dentre outros. Para ter mais
dignidade e importância. A rua surge como um local para a reestruturação do cotidiano, pois é
um cenário onde há festas públicas, jogos, trabalho, entre outros. A rua é um lugar onde as
origens dos séculos se perderam, onde as grandes e pequenos acontecimento ocorrem, é um
lugar de mudanças e de experiências humanas. Essas mudanças dos espaços urbanos, de
acordo com Freio, se deram a partir da segunda metade do século XIX. Essas modificações
foram frutos do capitalismo e houve uma emergência de ordem urbana industrial, que exigia
adequações nos espaços públicos. Houve no século no XIX novos processamentos de relações
sociais e novos encontros e confrontos entre grupos distintos como economia, social, cultural
e ético.

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