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mesma época era um quadro entendê-lo como podiam, enquanto


Cultura de massas e similar, embora impregnado de lutavam para não serem
especificidades devido ao empenho devorados3.
representações femininas na das elites locais, mergulhadas num
paulicéia dos anos 20 universo de imigrantes de múltiplas Em 1920, o valor da produção
nacionalidades em buscar uma paulista passava da metade da
Rev. bras. Hist. vol.19 n.38 São mítica identidade regional produção geral da União. São Paulo
Paulo 1999 empreendedora. era a "locomotiva carregando atrás
de si vinte vagões vazios", como se
Maria Inez Machado Borges Pinto (...) São Paulo era uma correria dizia então. O ritmo das
Departamento de História/FFLCH-USP sôfrega para escavar raízes transformações se acelera. Há uma
tradicionais e restabelecer uma expansão horizontal na cidade que
'memória' de tinturas coloniais; um deslinda novos bairros enquanto os
RESUMO
empenho pelo resgate e antigos se remodelam, no centro
Era muito claro que as mulheres
identificação com uma cultura apontam os primeiros prédios; São
estavam reelaborando seus papéis
popular, mormente de recorte Paulo pela primeira vez conhece,
dentro da sociedade moderna. As
'sertanejo'; uma busca de áreas nos anos 20, um rush imobiliário,
revistas de fãs, o cinema e a
periféricas ao centro, à procura dos marcado pela especulação de
publicidade apresentavam
espaços livres para corridas e terrenos. São Paulo civiliza-se.
repetidamente artigos e imagens
esportes, do pública para as Freqüenta escolas, clubes, cafés-
sobre jovens mulheres e as
façanhas e da animação popular concerto, teatros e cinemas.
identificavam com a juventude e a
para o Carnaval e as novas Movimenta-se ao ritmo dos
modernidade em si. Este artigo
celebrações; e um curioso maxixes e dos sambas, dos
analisa como a cultura de massas,
modernismo parisiense, que ragtimes, one-steps e tangos. Os
especialmente o cinema, apelava
ensinava a desprezar a velha salões burgueses se aristocratizam,
para a construção dessa imagem
Europa moribunda e a amar a recobrem-se de savonneries e
feminina como corolário da
pujança da América1. móveis franceses; além de
modernidade pois ela se opunha
professores de música. É todo
frontalmente às mulheres do lar
A cidade de São Paulo era refinamento de uma cultura urbana
provinciano, arcaico, e
caracterizada por um e burguesa que se estrutura e se
representava antes de tudo a
cosmopolitismo contraditório irradia pelas classes médias4.
mulher moderna, que trabalha fora
e que participa ativamente da vida marcado pelos tensionamentos
pública. advindos da coexistência de As camadas médias iam
diferentes temporalidades, onde consolidando-se, agregando
conviviam lado a lado nas trabalhadores dos setores
produções e reproduções da vida ferroviário e dos serviços urbanos,
São Paulo, na década de 20, cotidiana o arcaico e o moderno, o como empresas de energia,
passava por transformações de novo e o velho, configurando transportes, água, telefone,
todas as naturezas: econômicas, diversos ritmos sociais que comércio importador e construção
sociais, administrativas e imprimiam à cidade uma feição civil, que cresciam junto com a
principalmente culturais. Seu heterogênea. Nos anos 20, São cidade. Engrossavam as camadas
semblante não era totalmente Paulo "encarnava a imagem de médias, os pequenos proprietários
conhecido pois ainda se formava, uma metrópole inacabada, rurais empobrecidos que, na
apoiado, por um lado na influência moderna e provinciana, de um país cidade, passaram a ocupar os
do modelo civilizador e periférico, das enchentes e da cargos mais elevados do aparelho
modernizador da Belle Époque pobreza"2, equilibrando-se entre burocrático ou tornaram-se
européia - particularmente a um modelo europeu de urbanidade profissionais liberais. Os brasileiros
francesa - e de outro numa sólida e a convivência inventiva e de origem mais pobre e os
herança cultural, advinda das improvisada entre inúmeras etnias imigrantes ocupavam os cargos
nossas raízes coloniais. e entre os novos grupos sociais que inferiores no funcionalismo público,
se formavam. nos serviços de escritório, nos
A despeito do processo de setores bancário, industrial,
"regeneração", caracterizado pela (...) Afinal, São Paulo não era comercial e no mercado informal de
reforma urbana do Rio de Janeiro, uma cidade nem de negros, nem trabalho5.
pela modernização do porto, pela de brancos e nem de mestiços;
campanha saneadora da vacina nem de estrangeiros e nem de Ao lado desta, paralela e
obrigatória e pela Grande brasileiros; nem americana, nem desapercebida, uma subcultura
Exposição Nacional; frente à européia, nem nativa; nem era surge e se desenvolve: um esboço
condenação dos hábitos e costumes industrial, apesar do volume da cultura operária, amálgama
ligados pela memória à sociedade crescente das fábricas, nem disforme de elementos
tradicional; a negação de todo e entreposto agrícola, apesar da estrangeiros, nacionais, rurais e
qualquer elemento de cultura importância crucial do café; não urbanos, que cresce nos bairros
popular que pudesse macular a era tropical, nem subtropical; não pobres da cidade, nas bottegue do
imagem civilizada da sociedade era ainda moderna, mas já não Brás, nas vielas do Bexiga, nos
dominante; uma política rigorosa tinha mais passado. Essa cidade cortiços da Barra Funda. Esta
de exclusão dos grupos populares que brotou súbita e "cultura operária" aburguesa-se e é
da área central da cidade e um inexplicavelmente, como um absorvida pela avalanche da
cosmopolitismo profundamente colossal cogumelo depois da chuva, "cultura de massas", sofrendo um
identificado com a vida parisiense. era um enigma para seus próprios processo constante de
O que se via em São Paulo na habitantes, perplexos, tentando reelaboração. No "ponto de
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encontro entre aquelas duas percepção do poeta Blaise que estruturam um retrato
culturas, a burguesa que se Cendrars, que transforma São eloqüente de um fenômeno inédito
generaliza e a popular que é Paulo no epítome do espírito para a nação.
reelaborada; produto híbrido do moderno, na concretização da
contato de homens como Antônio "cidade futurista", ritmada pelo Assim, segundo as perspectivas
de Souza Campos, Plínio de Castro trânsito, pelas multidões, modernistas e a despeito da sua
Ferraz, Menotti del Picchia, Canuto caracterizada por um paisagem heterogeneidade - que nos
Mendes de Almeida, formados na artificial, na qual soam buzinas e desvenda nuances, quase que
cultura burguesa, com outros piscam letreiros"10. uníssonas - sobre a interpretação e
homens como Gilberto Rossi, a representação dessa
Arturo Carrari, Nino Ponti, Existia, por parte dos modernidade forjada no interior de
portadores do espírito do Brás - modernistas, o afã propagandístico seus discursos; se o Rio de Janeiro
nasce o cinema mudo paulista"6. da modernidade, dos novos modos era a capital política, São Paulo
Estes entrecruzamentos entre de vida nessa metrópole americana configura-se nitidamente como a
cultura burguesa e cultura popular e da construção da figura de um cidade da construção, avessa aos
não devem ser entendidos como novo homem, cosmopolita e velhos cenários e aos velhos
relações de exterioridade entre dois atualizado, diferente do tipo costumes do Brasil oitocentista e
conjuntos estabelecidos de brasileiro convencional. Assim, Peri rural. Dessa forma, a cidade
antemão e sobrepostos mas "como e Jeca Tatu são resquícios de uma encontra expressão em imagens
produtores de ligas culturais e minoria agonizante, fadados a fortemente conotadas com a
intelectuais cujos elementos se desaparecer diante do surgimento modernidade, com seus ritmos,
encontram tão solidamente de tipo definitivo do brasileiro com sua efervescência,
incorporados uns aos outros como vencedor: forte, vivo, culto, constituindo um painel em que não
nas ligas metálicas"7. inteligente, audaz, fruto de muitas há lugar para dúvidas e hesitações
raças em combate, resultante de e sim tão-somente para a visão
A essas transformações sociais muitos sangues e adaptado. prospectiva, para a "vocação
e urbanas correspondia uma nova futurista" de um "povo de mil
experimentação do viver na cidade. Menotti del Picchia era um origens, arribado em mil barcos,
São Paulo transformava-se numa entusiasta da imagem heróica da com desastres e ânsias"15.
metrópole moderna, ainda que modernidade de São Paulo,
contraditória, cuja principal recorrendo à visão modernista da De fato, o processo
característica era a de ser um cidade e do homem moderno, modernizador trouxe consigo a
espaço ao mesmo tempo usando para isso toda sorte de racionalização de condutas, a
arregimentador e fragmentário, recursos retóricos. Em artigos proposta de homogeneização de
convidativo e ameaçador, "(...) a como "Matemos Peri!"11 e "Peri"12, costumes e de consumo, ao mesmo
metrópole moderna recebe uma Menotti desfecha um ataque tempo que a multiplicação das
representação ambivalente como o virulento contra "nosso absurdo e escalas do ambiente urbano tinha
local de origem de um caos ingênuo amor pelo passado, que como contrapartida o encolhimento
avassalador e a matriz de uma mata as aspirações de fórmulas da figura humana e a projeção da
nova vitalidade emancipadora"8. novas - na política, na economia, coletividade como um personagem
na finança, na ética, na literatura". em si mesmo, anunciando o
Em meio a esse panorama, Como bem observa Annateresa surgimento da sociedade de massa.
imagens de cunho futurista Fabris, Menotti, "em seu ataque A partir do final do século XIX, as
alinham-se ao longo de inúmeros aos resquícios do passado - funções de socialização foram
textos de propaganda de uma São romantismo, regionalismo, transferidas do âmbito mais íntimo
Paulo moderna, propondo parnasianismo - deixa transparecer e privativo para a esfera pública,
equivalências objetivas entre a uma concepção não apenas seja pela ação do Estado, das
cidade, a modernidade e uma nova estética, mas social e racial (...) corporações empresariais, seja pela
cultura. Numa sobreposição Para negar o tripé racial brasileiro e influência da imprensa, da
otimista e freqüentemente acrítica, para opor-lhe a visão do paulista publicidade, do cinema e outros
destacam-se "as visões da cidade cosmopolita, homem de ação, meios de comunicação de massa.
tentacular, da cidade em pragmatista ativo"13. Com isso, uma subjetividade
crescimento, da cidade industrial, formada no âmbito das atividades
da cidade, enfim moderna, à qual A figura histórica do de lazer e do consumismo cultural,
não falta nenhum dos atributos bandeirante é transposta e aplicada numa "esfera pública que passa a
exteriores que definem o processo aos fazendeiros, aos industriais, assumir ela mesma formas de
de modernização acelerado desde o aos "criadores de fortuna", aos intimidade" é a conseqüência desse
início do século XX"9. self-made, isto é, àqueles processo16. Dessa forma, as
"indivíduos práticos, de gênio claro subjetividades se formam nos
Na visão dos modernistas como e positivo", que se erguem como espaços de convivência coletiva
Oswald de Andrade, Guilherme de contraponto aos "gramáticos e enquanto que as opiniões e os
Almeida, Menotti del Picchia, a bacharéis", aos "críticos e comportamentos privados são
cidade era definida pela sua doutores" que pululam pelo resto formados no âmbito público.
audaciosa verticalização, suas ruas do país14. Para os entusiastas da
de fábricas e seus conjuntos de arte nova, sequiosos de destacar o Temos assim um quadro
palácios americanos, destacando-se papel da Paulicéia no contexto revelador da nova sensibilidade que
o caráter de "metrópole febril, brasileiro e até mesmo latino- se vai definindo na cidade e
milionária, imprevistamente americano, não é difícil construir crescendo em escala fenomenal.
enorme". Essa visão futurista é um imenso caleidoscópio, uma Manifesta-se a natureza
também característica marcante da montagem de fatos e sensações especialmente forte e coesiva das
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experiências de ação coordenada O surgimento, ainda que Nesse contexto, já não mais
coletiva, envolvendo multidões de incipiente, de camadas médias cuja satisfazia os circos de cavalinhos e
indivíduos que, embora estranhos atividade profissional podia gerar nem as peças encenadas no teatro:
entre si, submetem-se a um um rendimento capaz de manter eram consideradas artes morosas,
mesmo conjunto de motivações e um consumo superior ao mínimo sem o glamour do moderno, do
estímulos para a ação. "O fato de necessário para a sobrevivência, novo, enfim, sem movimento; além
serem estranhos que adquirem somado à disposição de nossas do que, na visão dos modernistas,
uma nova identidade capaz de elites e esses setores emergentes eram relacionadas diretamente aos
exaltá-los e libertá-los, graças a em adotar um estilo de vida costumes atrasados e a um
uma fonte externa e artificial de urbano, possibilitou à cidade de passado não-moderno, não-urbano.
incitamento, é que faz dessa São Paulo o incremento da vida Ao contrário, o movimento -
experiência algo diverso dos rituais urbana e a intensificação dos desvendado pelo maquinismo e
tradicionais e típico da nova hábitos de consumo, fatores que suas engrenagens, - era lembrado
ambiência metropolitana"17. caracterizavam a civilidade e a pelas máquinas incessantes nas
modernização na época. Para linhas de produção, pelos
Ao lado de automóveis, bondes acompanhar esse mundo de transeuntes apressados frente aos
e luzes das ruas, os interiores mudanças rápidas, proporcionadas apitos das fábricas que os
servem de palco para o pelo avanço cada vez maior da lembravam o dever, pelos poucos
desenvolvimento de novos tecnologia, das fábricas e de seus automóveis que circulavam nas
espetáculos e atrações. Estes, na apitos, fazia-se mister que as ruas estreitas do centro, pelo tic-
sua composição de movimento, luz, tecnologias de lazer avançassem na tac do relógio.
ruído e música, guardam uma mesma direção se quisessem atrair
correspondência com a agitação de mais consumidores para seu Dessa forma se pode entender
estímulos lá de fora. No interior mercado, devendo adaptar-se às melhor o sucesso que fazia a
dessa agitação, "o cinema foi, poucas horas de lazer que projeção de uma película de cena
durante certo tempo, uma restavam ao homem moderno. muda: era a arte do movimento,
novidade entre outras tantas, era pois desprovida da retórica que
fazendo parte do conjunto de Logo que surge o cinema de amargava as peças teatrais para,
espetáculos que mobilizavam os destaca. Superando em interesse ao invés disso, fiar-se no
mais diversos aparelhos e os espetáculos congêneres, torna- movimento dos corpos, e tratar de
mecanismos, onde cérebro humano se crescentemente diversificado em temas que povoavam o cotidiano,
e eletricidade combinavam-se para suas características. É um fato de uma forma ficcional21.
mostrar algo novo a espectadores intencional, chega aqui e ali, numa
em busca de novas atrações"18. expansão que, de início, não Desde 1912 funcionavam no
carrega ainda sua dimensão centro da cidade três cinemas: o
O crescimento das indústrias e a monopolística. Mas, no momento Bijou Theatre, na rua São João, o
produção em larga escala de em que se aproxima a Primeira Radium, na São Bento, e o Iris
produtos para abastecer essa Guerra Mundial, já desenvolve mais Theatre, na 15 de novembro. Nos
sociedade de consumo emergente decisivamente seu caráter bairros, o High Life e o Smart, na
fez surgir ainda um outro morador industrial, afastando-se cada vez Vila Buarque, o Rio Branco e o
dessa cidade: o operário. As mais de uma configuração semi- Brasil em Santa Efigênia, e Edison
fábricas eram os locais onde um artesanal e local da produção. A e o Eden, na Luz, o Pavilhão dos
número cada vez maior de pessoas partir daí, a posse de capitais, o Campos Elíseos, nos Campos
passava a maior parte de seu domínio de condições tecnológicas Elíseos, o Iris, o Popular e o
tempo, vendendo sua força de e de canais de distribuição, ao lado Piratininga, no Brás, e o Avenida,
trabalho em troca do que mais da crescente organização dos na Liberdade, incluindo ainda as
tarde seria gasto no feérico centros produtores, leva à sessões cinematográficas de graça
mercado de consumo de produtos estratização de um mercado proporcionadas por algumas
baratos. A contrapartida dessa internacional onde ficam confeitarias de luxo aos seus
escala industrial estava nas ruas: nitidamente delimitados os papéis fregueses22.
as greves, a agitação social, as dos vários contextos nacionais. A
conspirações, a "figura soturna do divisão entre exportadores e
O deslumbramento frenético
terrorista real e manipulada". importadores de filmes adquire os
pelo moderno e pela novidade, o
contornos gerais de um sistema de
desenvolvimento das tecnologias
relações comerciais caracterizado
Mas não eram só os de lazer bem como os novos ritmos
pela dominação de um centro
empresários e os operários que urbanos emergentes corroboram de
exportador sobre uma periferia
vinham alterar de forma certa forma para que o cinema seja
importadora. Alguns países da
irreversível a estrutura social e o visto como o corolário da
Europa, com a nítida liderança da
quadro político vigentes: "(...) nas modernidade, como a encarnação
França no terreno cinematográfico,
áreas de expansão mais recente da do futuro, pois consegue aliar todos
tornam-se centros produtores. Do
fronteira do café, o 'novo oeste' e a os ingredientes que caracterizam
outro lado do Atlântico, os Estados
'alta-mogiana', rapidamente se esse novo tempo e se distancia
Unidos, já no início do século,
tornaram as mais produtivas, cada vez mais das visões de
desenvolvem a indústria
predominavam os pequenos e outrora:
cinematográfica: tinham
médios fazendeiros, na sua grande
tecnologia, capitais e mercado para
maioria de origem imigrante"19. Nós devemos ser bem mais
isso, além do know-how específico,
Assim, a velha ordem social felizes que nossos avós. Não há
centralizado inicialmente na
desfigurava-se para assumir novas dúvida que sim. Quanta coisa
companhia de Edison, co-inventor
feições. extraordinária que vemos hoje não
do cinema20.
lhes foi vedado sequer imaginar
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com ares de verossimilhança? O múltiplas e complicadas atividades afirmou, com uma serena
automóvel, o aeroplano, o próprio da vida de hoje. O tempo, o século convicção, que o 'homem é o único
trem de ferro... Nem precisamos ir não são mais do teatro, ou pelo animal que rí'. Dito isto, pôs-se o
a tanto no capítulo da mecânica, menos, do teatro como vem sendo queixoso a desenvolver a sua tese.
onde todo mundo já se cansou de praticado: lânguido, mórbido, cheio veio desde o engraçadíssimo Noé,
fazer a enumeração das maravilhas de preconceitos, de lugares- nu alegrote, dando pinotes,
do século XX em contraste com o comuns, contrário, pois, ao espírito babando e tropeçando nas barbas,
carro de bois, a mó, o monjolo de sadio, esportivo do momento, com escala em Rabelais, até
há setenta anos atrás. Em terreno inadaptável à época atual, incapaz Jerome K. Jerome do Three men in
menos delicado e espiritual, há de refletir a vertigem da nossa a boat e afinal, até os filmes
muito que respigar em idêntico vida, de satisfazer ao nosso cômicos americanos. Falou-nos da
sentido. insaciável, inquieto, constante humana necessidade de désopiler
Já pensou alguém acaso, em desejo de algo novo. Contra esse la rete sem pílulas do Reuter nem
quanto progredimos na esfera das erro do teatro deve começar a cócegas com pena de galinha na
visões? Nossas boas avozinhas, reação25. planta do pé. E assim, atingiu o seu
boas e belas como é fama que alvo: Reclame, sr. redator, reclame
foram, teriam tido as mesmas Após a I Guerra Mundial, a em nome de todos os biliosos e a
ilusões de nossas jovens indústria cinematográfica norte- bem da saúde pública, contra o
contemporâneas? Não decerto. As americana começava a se moldar desleixo dos nossos importadores e
doces miragens de outrora, por seguindo a lógica industrial de exibidores cinematográficos, que
muito mais que sempre valha o produção e organizar-se em função não contentes com interromper o
passado sobre o presente, não do "sistema de estúdio". comércio dos bons filmes cômicos,
valem em nitidez, em verdade e Começaram a produzir películas em deixam até de anunciar nos jornais
encanto, a mais mesquinha visão série e a penetrar nos mercados e nos seus placards as pequenas de
de hoje, quando eles passaram a externos, na Europa e sobretudo na que ainda dispõem. Isto é uma
se fixar na tela do cinema. Que América Latina. No Brasil, na desgraça. Dou a vida pelas
prodígios de imaginação não seriam década de 20, as películas exibidas comédias: elas eram para mim, nos
então necessários para que vivesse nas salas de projeção eram em sua pesados pratarrazes dos dramas e
a gente menos apegada à terra e grande maioria norte-americanas. tragédias, uma gota de molho, uma
às coisas. - Há de pensar a leitora. Houve, nessa época, uma mudança pevide de pimenta; ou às vezes,
E de fato deve ser isso mesmo23. de eixo divulgador e precursor das depois deles uma sobremesa
influências de modernidade, ligeira, esse pequenino torrão de
A atitude de trazer ao alcance urbanidade e civilidade, passando açúcar que adoça a boca, suaviza a
da visão o que está distante, ou de da Europa, mais especificamente vida e reconcilia a gente com as
fixar o que está próximo, consolida Paris, para os Estados Unidos, que coisas tristes deste mundo.
o poder de transporte da imagem representavam um mundo Lembro-me, com saudade das
no espaço e no tempo. Este desenraizado das tradições pilhérias de Max Sennett, do
transporte é correlato à nova pesantes, das raízes aristocráticas, Christie, de Mutt e Jeff, do Gato
experiência do espaço e do tempo que privilegiavam o novo, o Félix... Realizavam os absurdos, os
proporcionada pelos novos despretensioso, o moderno, o impossíveis, as infantilidades que a
veículos. Assim, o cinema, humour. nossa imaginação cansada de letras
consentâneo com as mudanças que de câmbio e discussões políticas
a nova sociedade industrial exigia e o nosso organismo
Uma das modalidades da face
provocara no ritmo da vida reclamava. Pensei, nesses últimos
ficcional do cinema passa a
cotidiana, privilegia a velocidade, a tempos, que houvesse nos Estados
constituir o tema preferido dos
ação, o bom humor. "(...) O Unidos, uma crise de humour, uma
intelectuais "modernos": a comédia
cinema, assim como os bondes e os decadência do riso. Engano. Sei
burlesca, com sua agitação,
estádios, alinha multidões de agora, pelo contrário, que há na
correria e perseguições, será o foco
estranhos enfileirados ombro a América do Norte, entre muitas
do elogiado aliado à condenação do
ombro num arranjo tão fortuito e outras, uma instituição altamente
"teatro filmado"26. A comédia traz
normativo como a linha de humanitário, que se chama
consigo o movimento, o efeito de
montagem. Os bondes, contudo, Educational's Comedies (note bem:
surpresa. Leitores dos periódicos
lhes dão mobilidade, os estádios educational), considerada pela
sobre cinema, bem como dos
estímulos, os cinemas fantasias e gente saudável de lá the spice of
jornais da época nos mostram seu
as linhas de montagem the program. Alistam-se nela
favoritismo em relação ao gênero
subsistência"24. As cobranças da produções inúmeras se inúmeras
cômico, representado por um tipo
vida moderna eram muitas e o fábricas: Hamilton Comedies,
de visão e postura perante os
cinema funcionava como o Lupino Lane Comedies, Bobby
problemas e contratempos da vida
divertimento despretensioso, Verno Comedies, Billy Dooleuy,
moderna, servindo muitas vezes
evocando aspectos que Jimvery Adams, Tuxedos Comedies
como "válvula de escape" para os
caracterizavam o status de homem etc etc: preciosidades que nem
problemas apresentados por essa
moderno como a esportividade, a sequer de nome são conhecidos
modernidade contraditória:
aventura, a puerilidade, aqui. No entanto, ninguém mais do
caminhando assim contrariamente que nós precisa desses calmantes:
O senhor, muito avançado em 'Flor amorosa de três raças
às artes intelectualizadas, como por
anos, que ontem à noite nos tristes...' Reclame sr. redator,
exemplo a literatura e o teatro.
procurou para formular uma reclame27!
queixa, era exatamente como todos
(...) o tempo, o século são mais os senhores de sua idade e nas
do cinema: rápido, sintético, capaz Mais especificamente em
condições. Por isso, não nos
de reproduzir e concentrar as relação à literatura, o cinema
surpreendeu. Nem mesmo quando
tratou a narrativa literária
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romântica e seus temas recorrentes exclusivamente a isso na época, elegâncias masculinas, as


de uma forma moderna, ou seja, a tanto assim que jornais e revistas femininas não podem ser tratadas
fantasia, a ficção, o happy end especializadas cada vez mais decentemente neste capítulo de
eram representados no cinema em abriam espaço, não só para fazer a absoluta seriedade. Em Hollywood,
histórias que encantavam e crítica ou a chamada de um filme, o dedo sábio dos entendidos aponta
prendiam a atenção do público, mas principalmente para fazer a um só homem: Conrad Nagel30.
distanciando-se assim do realismo perpetuar, por meio das
literário, que trazia temas que, ao lembranças das imagens de certa Nas décadas de 20 e 30, a
contrário do cinema, retratavam a cena, alguns produtos ou divisão sexual do trabalho e a
problemática das doenças, das costumes. A ditadura da moda consciência das mulheres sobre
tristezas, e tudo que era inerente a veiculada pelo cinema elas mesmas estavam mudando.
essa vida moderna. Além disso, o hollywoodiano e seus atores sobre Surpreendentemente, a publicidade
mercado editorial estava tomado o senso comum é comprovada e o cinema, jogando com a fantasia
por um tipo de literatura que vinha quando se verifica a construção de e a excitação, permitiram que as
substituir a de cordel, que vinha verdadeiros manuais de moda mulheres imaginassem um fim para
modernizar seus leitores, coetânea ditados pelo Star System o enfadonho trabalho doméstico e
das novas tecnologias de lazer e hollywoodiano, passando a ser a para o desejo crônico. Imagens de
promotora de um status mais forte arma de propaganda cozinhas e eletrodomésticos
diferenciado e moderno por parte para o consumo de objetos, modernos e de roupas e
de quem a consumia. Estamos roupas, perfumes, como por maquiagens bonitas e baratas em
falando das magazines: exemplo, o gomex dos cabelos de cartazes, telas de cinema, e nas
Rudolph Valentino, ou ainda os novas revistas femininas,
Veja o sr. - dizíamos, cortando modelos de maiôs de praia usados acrescentavam nova dimensão ao
a R. Direita, naquela tarde pelas atrizes em cenas mais romantismo.
arrepiada de luvas e pullover, ao ousadas.
imaginário gerente de uma grande Os anúncios das principais
empresa cinematográfica - veja o O que particularmente se revistas brasileiras mostram que
sr. como em S. Paulo se lê cinema. verifica é uma sociedade que algumas casas das primeiras
Para todos estes agentes de jornais pretendia se jovializar e se décadas do século já estavam bem
o melhor negócio agora é a revista homogeneizar através da cultura aparelhadas. Com a eletricidade, "
norte-americano do movie. E isto de massas, onde roupas, chapéus, já se podia substituir o ferro de
vem de longe: vem dos tempos tão sapatos, meias, casacos de pele, passar aquecido com brasas e
saudosos da linda Shadowland que frasqueiras, estolas tendiam a ser obter gelo para conservar os
os vendedores traduziam 'chá da padronizados segundo modelos alimentos. De acordo com a
Holanda'... Agora, outros muitos europeus e norte-americanos. As condição de riqueza, a dona de
inúmeros Magazines tomaram-lhe o jovens fumavam, falavam com casa poderia escolher o tipo de
lugar: Photoplay, Classic, Picture determinação e não mais se fogão, a lenha, a carvão, a gás,
Play, Motion Pictures, (...), hoje a interessavam pela estereotipada elétrico ou a querosene; a indústria
nossa literatura de cordel. Substituí "feminilidade" tradicional: elas se começava a beneficiar e a produzir
com vantagem o romance policial consideravam independentes. muito dos alimentos que antes
que ensinava aos pequenos e aos "Aquelas garotas tolas em seus eram elaborados em casa". Apesar
grandes - com terrível inquietude sintéticos sonhos hollywoodianos, da aparente facilidade, traduzida
dos pais assustados e dos patrões em seus patéticos batons e meias por uma gama variada de
medrosos - a maneira mais prática, de seda, em suas imbecis aparelhos elétricos oferecidos ao
rápida e eficaz de se arrombar um frivolidades"29. público e por anúncios, nos quais
cofre, esquartejar um cadáver, as mulheres executavam os mais
incendiar uma cidade... E não O terrível problema nasceu no difíceis e sujos serviços domésticos
pense que isto é só 'para inglês ver' Paraíso com Adão e ainda é "sempre sorrindo". Os novos bens
ou 'ler', não. Nós todos já lemos e discutido e ainda não foi resolvido. de consumo beneficiaram apenas
entendemos decentemente a Da primitiva tosca tanga de folhas uma parcela da população,
maviosa língua cine-automobilística de figueira à mole, quente e neutra composta daqueles que podiam
de Cecil B. De Mille e Henry Ford. flexibilidade da flanela pinky-buff, pagar e aqueles que se decidiram
Vá aos halls de nossos clubs ou dos vão milhares de séculos de graves pela novidade, já que a relação dos
nossos hotéis, ao living-room dos cogitações e inúteis experiências. consumidores com o novo não foi
nossos lares, ao pulman-car das Cada época vem dando ao automática e nem sem conflitos31.
nossas estradas de ferro, aos problema uma solução provisória a
bondes da nossa Light! Todo que se dá o nome de moda. E Apesar do desejo de muitos
mundo está lendo uma fan- apresenta um manequim. intelectuais e profissionais das
magazine. E entende. E gosta. Alcebíades, Petrônio, D'Artagnan, camadas dominantes de espelhar
(Você, leitor, repara um pouco nas Leandre, D'Orsay Brummel, Morny, homens e mulheres brasileiros
aspas incomodativas que estão Fouqueères, Lord Lousdale - foram pelas imagens da burguesia das
estrangeirando este monólogo, manequins estimáveis no seu duas maiores cidades do período -
influência das revistas de cinema - tempo. Ora, o nosso tempo é o do Rio de Janeiro e São Paulo, as
acredite)28. cunema, e o cinema é dos Estados capitais do progresso -, essa não
Unidos, e os Estados Unidos têm era a realidade vivida pela grande
É interessante notar que o Hollywood e Hollywood é a capital maioria de brasileiros. Os padrões
cinema, enquanto disseminador de do filme: - logo, ah! Na metrópole de comportamento burgueses, a
hábitos e criador de moda foi muito do Reino da celulóide devemos modernidade e o consumo foram
mais eficiente do que qualquer procurar o arbiter elegantiaruam. absorvidos de forma desigual pelas
outro veículo que se propôs Árbitro evidentemente das diferentes regiões e cidades e pelas
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diferentes camadas da população. Influenciadas pelos novos Alcântara Machado, que mostra
Grande parte do país permaneceu papéis femininos representados no esse processo de absorção e
fiel à agricultura, seja sob a cinema, as mulheres tinham reinvenção dos sígnos culturais
autoridade dos ricos fazendeiros, esperança de viver "vidas hollywoodianos:
proprietários de grandes diferentes" das de suas mães. As
plantações, onde em geral era principais ruas de comércio na A rua Barão de Itapetininga é
cultivado um único produto para cidade começaram seu reinado um depósito sarapintado de
exportação; seja como morador como o centro da moda tanto para automóveis gritadores. As casas de
das pequenas propriedades, cujo as mulheres da elite quanto para as modas (Ao Chic Parisiense, São
número vinha crescendo desde o jovens das classes médias e Paulo - Paris, Paris Elegante)
século anterior. Nem todas as operárias - o local adequado para despejam nas calçadas as
cidades puderam realizar a sua nova e tão ostentada condição costureirinhas que riem, falam alto,
modernização desejada. Em razão de feminalidade cosmopolita. As balançam os quadris como
da falta ou do mau uso de capitais. costureiras de roupas finas gangorras...(...) o vestido de
A industrialização, por seu lado, continuavam apresentando os Carmela coladinho no corpo é de
embora tenha deslocado caros cetins e brocados; e as organdi verde. Braços nús, colo nú,
progressivamente a produção para vitrines ainda exibiam nos joelhos de fora. Sapatinhos verdes.
fora do domicílio, não destruiu de manequins suas roupas Bago de uva Marengo maduro para
uma só vez as formas tradicionais perfeitamente drapeadas. Mas a os lábios dos amadores reflete a
de produção e sobrevivência32. alta moda não conseguia deter a boca reluzente de carmim primeiro,
imaginação das jovens. As imagens depois o nariz chumbeva, depois os
Juntamente com os serviços imitativas de Jean Harlow, Greta fiapos de sombrancelha, por último
domésticos realizados de maneira Garbo e Jean Crawford desfilavam as bolas de metal branco na ponta
dura e tradicional, a maioria das pelas principais ruas quando elas das orelhas descobertas...(...)
mulheres que viviam relações brilhavam nas telas de cinema. Deante de Álvares de Azevedo (ou
conjugais consensuais, sem uma Porém, poucas podiam comprar ou Fagundes Varela) o Angelo Cuoco
presença masculina efetiva no lar, encomendar as novas roupas em de sapatos vermelhos de ponta
ou convivia com companheiros que lojas elegantes. afilada, meias brancas, gravatinha
não tinham trabalho nem efetivo, deste tamanhinho, chapéu à
nem regular, cuidavam dos filhos e Entre as mulheres menos Rodolfo Valentino, paletó de um
exerciam várias atividades ao favorecidas, as mães, irmãs e botão só, espera há muito com os
mesmo tempo para prover a amigas estreitavam seus vínculos olhos escangalhados de
própria subsistência e da família33. de sociabilidade e solidariedade inspeccionar a rua barão de
Muitas dessas atividades eram trocando modelos e Itapetininga36.
extremamente pesadas, em nada apressadamente copiavam o
correspondendo à imagem dos vestuário das estrelas utilizando A influência do cinema
papéis femininos idílicos materiais baratos adquiridos em hollywoodiano no Brasil, decisiva
representados nas telas, como a feiras ou lojas de departamentos para a construção de uma cultura
derrubada das matas, a construção igualmente baratas. Essas relações cosmopolita de fachada,
civil, além de outras mais de produção/reprodução cultural enveredou-se por vários caminhos:
conhecidas, como o trabalho que se dão no cotidiano nos deixa substituiu a coroa dos reis pela
temporário nas indústrias têxteis, o entrever a relação entre consumo e auréola efêmera das estrelas da
artesanato doméstico e o pequeno produção cultural, baseando-se no terra, construindo um mundo
comércio ambulante34. fato de que "o consumo cultural de idealizado e romântico, onde a
massas caracteriza as sociedades moda e os costumes passaram a
É certo que, com o ocidentais a uma produção ser apreendidos não mais na
desenvolvimento industrial e racionalizada, expansionista, tanto tradição familiar ou no contato com
urbano, o acesso a uma melhor quanto centralizada, estrondosa e os meios tradicionais de educação
escolaridade, a divulgação pela espetacular, corresponde uma (escola, igreja, catecismo etc), mas
imprensa de uma participação outra produção qualificada de antes por intermédio de uma
maior das mulheres no espaço consumo". Dessa forma o consumo grande tela, que figurava um
público depois da Primeira Guerra, cultural é tomado, ele próprio, mundo novo a ser imitado.
sobretudo na Europa e Estados como uma produção, que
Unidos, o avanço do feminismo e evidentemente não fabrica nenhum
É de temer-se, no entanto, que
as freqüentes reivindicações das objeto, mas constitui
seguido sempre o mesmo rumo
mulheres por maiores representações que nunca são
cheguemos à mesma situação de
oportunidades acabaram por abrir idênticas às que o produtor, o autor
hipertrofia imaginativa para uns e
algumas novas profissões para as ou artista, incutiram na sua obra.
obturidade para outros. Tal é a
brasileiras fora do lar. Esse Esta produção é ardilosa, encontra-
obsessão cinematográfica. Não
progresso feminino, no entanto, se dispersa, mas insinua-se por
falta por cá quem viva para o
precisa ser tomado com cautela, toda a parte, silenciosa e quase
cinema, banalizado e materializado
uma vez que havia certos limites invisível, uma vez que não assinala
assim como o arroz doce e a
para a aspiração feminina, as a sua presença com produtos
marmelada. Não escasseiam
ofertas disponíveis, em geral, próprios mas com ´maneiras de
também os que, não contentes com
estavam próximas daquilo que se utilizar´ os produtos impostos por
isso, vivem para além das telas e
considerava uma extensão das uma ordem economicamente
das fitas... Cúmulo da abstração,
atribuições das mulheres: dominante35.
armando-se em lindas cabecinhas
professora, enfermeira, datilógrafa, cinematógrafos ideais em que se
secretária. Nesse sentido, é emblemático projetam - projeções de projeções -
um dos contos de Antônio de reminiscências de filmes e vidas
CLIO História – Textos e Documentos

inteiras de atores e atrizes, parece também emergir a inferência dos modismos ditados
medíocres e nulos na generalidade. extremamente sintonizado com os pelo cinema:
E nesses cinemas de cinemas, onde discursos "modernos" que
há sempre a meia-luz e a lâmpada conformam o perfil da mulher. Uma revista americana de
misteriosa de uma idéia central, Como exemplificar o fascínio e o cinema estuda, com uma curiosa
rompem dramas e paixões pânico frente às imagens das novas documentação fotográfica, a
rebentam, como no outro cinema. divas das telas, envoltas numa transformação que sofreu, nesses
Há quem prosseguindo nesse aura de sedução e perigo que as últimos trinta anos, o corpo das
ardor, traga ao peito medalhões novas câmeras do cinematógrafo mulheres e, consequentemente, o
com heróicas efígies norte- criavam? O close-up, inovação gosto dos homens... Entre as
americanas... E - ó maior de santa permitida pelas novas técnicas do velhas fotografias de camarim, do
bisavozinhas que se foram cinema, bem como o "embrulhar no século XIX - com mulheres
morrendo no seu quarto, ao pé do negro" das salas de exibição opulentas de corpos esmagadores
sagrado nicho da Senhora das passam a definir o papel prioritário cheios de lantejoulas, de cabelos,
Dores! - Existem mais quem traga do cinematógrafo enquanto de pernas garrafa-de-Champagne e
à cabeceira, em lugar do antigo instrumento de sondagem da alma de meias altíssimas, postadas
Santo Antonio, o descabelado e das zonas escondidas da vida sobre cenários de um falsidade
retrato de George Walsh37. cotidiana Num dos primeiros textos grotesca (bambinellas, veludos
sobre cinema, Hugo Munsterberg adamascados, passamanarias e
Avulta nas crônicas compara a ampliação possibilitada galões); - entre esses retratos que
cinematográficas da época pelo close-up ao momento em que todos os nossos tios solteirões
temáticas do universo feminino, "no auge da emoção no palco o tinham escondidos nas suas
pois é indiscutível que o universo espectador de teatro recorre aos gavetas de camisas engomadas,
cultural hollywoodiano, já nessa binóculos para captar a sutil cheirosas a vetier, o magazine
época, representava fonte emoção dos lábios, a paixão ou o exibe, para confronto, três
inexaurível de padrões de hábitos, terror expressos no olhar, o tremor silhuetas atuais: Dolores Costello,
costumes, comportamentos, das faces". É essa arte da Gilda Gary e Marie Prevert. O
valores, moda; enfim, de um modernidade que traz em sua contraste é brutal. Alí, volumes;
modus vivendi feminino. É natureza a marca de um olhar aqui, linhas. Ali, rotundidades
emblemático dessa influência o fortemente erotizado que vai inúteis, exuberâncias
episódio escrito por Blaise Cendrars produzir, num mundo incomodativas; aqui, traços
em um de seus contos, entitulado hermeticamente fechado e onírico, simples, nítidos, esportivos,
"As negras louras" em que ele as imagens e os mistérios das nervosos. Ali, masurka; aui black-
conta que estava no Brasil na estrelas do nosso cinema39. bottom. Quem são aquelas
época em que saiu a A Vênus grandes, importantes, não-
Platinada, filme Por sua vez, a denominação microbianas pessoas do século de
"estrela", emprestada Edison? Uma é Irene Verona
(...) que fez tal sucesso no Rio especificamente às atrizes do (apertada num corselet de cetim,
de Janeiro que em menos de uma cinema, procura recuperar o valor altos coturnos, um espadim na
semana todas as belas mulatas e de culto perdido pela ausência da mão: parece uma amazona de
as negras indolentes que saem presença física no palco, investindo circo). (...) Todas elas, gordíssimas
para passear no fim da tarde na nos sentidos de exílio, distância e e abundantíssimas, fizeram furor
Avenida ou para desfrutar do ar inacessibilidade que o termo no seu divertido e enfeitado fim-de-
fresco à beira-mar na praia do permite. Na política do estrelismo, século. Pergunte aos porteiros dos
Flamengo, haviam mandado modelo do sucesso implantado pela teatros ou ao seu papá quantos
descolorir os cabelos e se indústria de Hollywood e divulgado ramalhetes catitas, dentro dos
maquiavam todas de cor-de-rosa. pelas revistas cinematográficas cartuchos de papel rendado, eles
(...) Era tão engraçado! Mas era ao americanas e nacionais, dois eixos não receberam, na portinhola de
mesmo tempo inquietante, pois discursivos orientavam a imposição flacre, dos belos leões
todas elas pareciam não ser mais de um padrão de beleza e de empornadados, frisados, cheirosos
que o avesso delas mesmas como atração exercido pelas atrizes (e e Jicky, cosméticos e eles de
esses personagens que entrevemos atores) na conquista do público: a Orisa... Hoje, nós estranhamos
por transparência quando lei dos tipos e a fotogenia. A elas aquelas excessivas
examinamos um negativo a olho somava-se o "espectro superabundâncias: achamo-las
nu. Imagine só aquele cortejo de característico", definidor da todas parecidas com esses cromos
negras louras à luz do crepúsculo, personalidade dos artistas e lustrosos da folhinha, esses
à contraluz, com a nódoa clara de articulador dos predicados anúncios espalhafatosos de
seu rosto maquiado e seus cabelos indispensáveis à conquista de um cerveja, em que há sempre uma
mortos, mas brilhantes! Um cortejo lugar de destaque no firmamento diva montada sobre uma garrafa...
de fantasmas, poder-se-ia dizer. cinematográfico40. E pensamos logo em
Um dia cheguei a encontrar uma champagnadas soturnas com
negra que tinha tingido os cabelos As estrelas de cinema, cuja vida danças em cima de mesas e
com hena e exibia o mais belo particular fora das telas é sinônimo madrugadas azedas... O esporte,
ruivo irlandês. Era uma criatura de veneração e bisbilhotagem, as danças modernas, a condenação
soberba, mas ruiva, soberbamente despertava o interesse da platéia pela moda, do espartilho de
ridícula38. frente a seus hábitos mais barbatanas e dos saltos altos - tudo
corriqueiros, a fim de imitar-lhes isso havia de esperar a
também na vida real. Os padrões metamorfose por que passaram os
O cinema, segundo Mário de
estéticos que ditavam os contornos corpos desses ídolos reincarnados
Andrade, "a criação artística mais
do corpo feminino também sofrem agora na finura quebradiça,
representativa de nossa época"
CLIO História – Textos e Documentos

estilizada, quase irreal das frágeis jornais de comércio de 1907 a depósito de suas verdades mais
figurinhas de hoje41. 1919 revela uma mudança aguda. profundas, transforma-se em
De 1908 a 1912 os photoplays atributo poético de em conceito
Revistas especializadas da feitos por independentes tinham epidérmico de beleza, associado a
época, como por exemplo a temas vitorianos, tornados luxo, higiene e juventude (...)".
Cinearte, tentam difundir um populares por Griffith. Pouco tempo Combinando aspecto característico,
modelo de atração e sensualidade depois, a tradição anglo-saxônica fotogenia e lei dos tipos, temos o
uniformizador das preferências dos passou a ser questionada e cada tripé de um modelo aristocrático de
fãs: "It", "sex-appeal", "sofisma", vez mais os enredos apresentavam perfeição racial e da preferência
"malícia", "personalidade", personagens que caiam em estética pelos bem dotados, sendo
"spleen", idéias chaves pecados antes atribuídos a os povos divididos entre os que
disseminadas pela mídia americana estrangeiros, vilões ou aristocratas. tem charme e os que não têm.
e que apresentam popularidade Geralmente, o herói ou a heroína Evidentemente, o impulso
entre nós42. Por volta dos anos 20, superava perigos como bebida, "patriótico" sempre colocou o
juntamente com a evolução técnica gastos em excesso e mulheres Brasil, sua natureza e a parcela
do cinema e o aperfeiçoamento de sensuais. branca e rica de seu povo, como
sua linguagem, os paradigmas que um país apto para o cinema e para
constituem a lei dos tipos, ou seja, A figura da "Vamp" foi muito a modernidade47.
a "Vamp", a "Ingênua" e a popular principalmente entre os
"Flapper" (a maliciosa) também anos de 1914 e 1916 nas As crônicas da época que
procuram se modernizar. Assim produções hollywoodianas, sendo a falavam de cinema, bem como as
"(...) a 'Vamp' brasileira, ainda que mais famosa Theda Bara que, ao colunas de jornais que
retivesse o significado de ameaça e contrário das jovens virgens loiras possibilitavam uma interação direta
a atmosfera de irresistível sedução, do período anterior, era voluptuosa com os leitores, mostram-se hoje
tradicionalmente seu traço e morena. Bara interpretou como verdadeiros manuais do
identificador não se diferencia Cleópatra, Salomé e Madame de protótipo cultural e estético da
muito da "flapper", insinuante Pompadour, mulheres cuja moça jovem da década de 20, além
"protótipo moderno", habituada ao fascinação erótica destruíram do que estigmatizava e
"sofisma" e a "malícia", como se homens que dominavam vastos marginalizava aquela que não
dizia na época"43. Nas fitas a vamp- reinos. A "Vamp", portanto, correspondia a esse ideal:
moderna usa roupas de Paris, incorporava o mais eminente dos
dirige carros em alta velocidade, avisos dos cruzados anti-vícios: o Imagino que você seja - minha
joga tênis, dança, fuma, bebe sexo pode destruir a ordem social45. cara leitora - um pequenino tipo
"gin", sendo seu maior veneno destes tempos: um espírito
demolidor sua própria característica Era muito claro que as mulheres inquieto dentro de um vestido
enquanto personagem feminino, estavam reelaborando seus papéis inquietante... Imagino bem
pois desestabiliza a família e dentro da sociedade moderna. As simplesmente que você seja
desafia os preceitos da moral revistas de fã apresentavam apenas uma absoluta young girl in
cristã, sendo mesmo "um repetidamente artigos sobre jovens the teens... quero dizer - que você
contraponto aos costumes mulheres e as identificavam com a saiba dar a seus tweeds matinais
'modernos', sugerindo uma juventude e a modernidade em si. uma geométrica atitude de esporte,
liberdade um pouco excessiva e A cultura de massas, especialmente que você não acredite mais na
conseqüente questionamento dos o cinema, apelava para essa utilidade da cabeleira dourada de
preceitos sociais. imagem feminina, pois ela se Lady Godiva e que, por isso, a sua
opunha frontalmente às mulheres cabecinha bem boyish não
O tipo "Vamp", forma abreviada do lar provinciano, arcaico, e preocupa mais a sua alminha bem
de vampiro, traduz invariavelmente representava antes de tudo a dirigida; que você já fingiu beber,
um sentido de ambigüidade entre a mulher moderna, que trabalha fora por uma tarde, uma xícara de chá
vida e a morte, a noite e o dia, a e que participa ativamente da vida no Ritz... e que você ainda é aquela
sombra e a luz, a sexualidade e a pública. mulherinha bem inocente, bem
punição, o vampiro não pode ver peccadille colegial das cóleras de
seu reflexo, não consegue jamais Os novos critérios da fotogenia, notre mèrel; e que você gosta de
ter a sua própria imagem refletida "valor essencial" da imagem vestir, de noite, qualquer crepe-
no espelho, pois no espelho só luminosa projetada na tela, passam cetim de um baby-blue inofensivo
aparece o outro, ou seja, só se a definir o padrão de beleza de nursey, e sabe então dizer il
torna possível olhar para si mesmo feminina proposto pelas revistas de pleut de um maneira tão especial...
por meio da mediação do outro 44. É cinema e disseminado pelos Entretanto, com tudo isso, você me
precisamente essa ambigüidade, a primeiros concursos de Miss Brasil, confessa um absurdo que eu me
de ser o reflexo do olhar do outro, em profunda sintonia com a política recuso a aceitar: você não gosta de
que a elege como o "tipo" por eugênia que permeava o debate cinema. Se isto fosse verdade -
excelência de invenção de uma civilizatório nacional. "(...) a quase minha mentirosa leitora - todas
indústria cultural emergente e totalidade dos filmes brasileiros aquelas coisas tão present-day, tão
torna possível a projeção das produzidos na época do cinema lindas, tão finas que existem em
ansiedades de um tempo. mudo revelam o subtexto que você, desapareceriam (...)48.
articula a "perfeição racial" com a
Paralelamente à ascenção do "aptidão para o cinema" e com a Em uma situação de muitas
star system, houve uma alteração adequação aos "tempos mudanças - a despeito de algumas
nos temas dos filmes modernos"46. Ainda segundo Ismail permanências - nos padrões de
hollywoodianos. Um exame dos Xavier "a fotogenia, indicadora do vida no início deste século, o
enredos listados nos maiores específico cinematográfico e cinema desempenhou um papel
CLIO História – Textos e Documentos

3 19
importante na consolidação de SEVCENKO, Nicolau. op. cit., SEVCENKO Nicolau, op. cit.,
status e de valores de referências, p.31. p.245.
exercendo importante influência ao
divulgar e consolidar 4
GALVÃO, Maria Rita Eliezer. 20
PINTO, Maria Inez Machado
comportamentos e influenciar Crônica do Cinema Paulistano. São Borges. op. cit., p.17.
numa certa domesticação de gostos Paulo, Ática, 1975.
e costumes. Entretanto, ele só 21
FERRARESI, Carla Miucci. "O
pôde desempenhar esse papel 5
LOTITO, Marcia Padilha. op. nascimento de uma cidade: cinema
porque respondia, ao mesmo
cit., p.07. hollywoodiano no processo de
tempo, às necessidades do discurso
cosmopolitização paulista". In
de legitimação do projeto
6
GALVÃO, Maria Rita Eliezer. Revista Vir-a-Ser. São Paulo,
civilizador das elites paulistanas e
op. cit., p.17 Humanitas, nº 01, 1996.
às necessidades dessa população
formada por imigrantes e
22
migrantes desenraizados. "(...) os 7
PINTO, Maria Inez Machado ANGERAMI, Domingos e
personagens desse mundo em Borges. "Historiografia FONSECA, Antônio. Guia do Estado
ebulição carecem, com urgência, de Contemporânea da Cultura Popular: de São Paulo (1912). São Paulo,
um eixo de solidez que lhes dê Tendências e Impasses". In História Edifel, 1976, pp. 210 e 222.
base, energias e um repertório em Debate: Problemas, Temas e
capaz de impor sentidos a um meio Perspectivas. Anais da XVI ANPUH. 23
O Estado de São Paulo,
intoleravelmente inconsistente"49. Rio de Janeiro, CNPq/Infour, 1991. 05/05/1920.

Assim, o cinema teve ação 8


SEVCENKO Nicolau. op. cit., 24
SEVCENKO Nicolau. op. cit.
relevante na urbanização da cidade p.18.
de São Paulo, utilizado sobretudo 25
O Estado de São Paulo,
como um precioso instrumento de 9
FABRIS, Annateresa. O 16/07/1927.
intervenção social na elaboração do Futurismo Paulista. São Paulo,
"novo homem", do homem Perspectiva, 1994. 26
moderno e civilizado, consentâneo PINTO, Maria Inez Machado
com o ritmo de vida urbana e Borges. op. cit., p.18.
10
industrial, de uma nação AMARAL, Araci. Blaise
homogênea, higiênica, moralizada Cendrars no Brasil e os 27
O Estado de São Paulo,
e disciplinada, estabelecendo com modernistas. São Paulo, Martins 08/06/1927.
seu público uma relação circular, Fontes, 1970.
de influência mútua e troca de 28
O Estado de São Paulo,
11
informações no jogo cotidiano da Jornal do Comércio, 21/05/1927.
reelaboração. Dessa maneira, o 23/01/1921.
caráter normativo ou ideológico das 29
SOMMERFIELD, John. May
representações criadas no cinema é 12
Correio Paulistano, Day. London, Oxford University
sempre filtrado pelo uso que delas 02/02/1921. Press, 1960, p.30.
fazem os espectadores50. Se é certo
que o cinema constitui um sistema 13
FABRIS, Annateresa. op. cit. 30
O Estado de São Paulo,
de poder simbólico que legitima a
ordem social existente, não é 05/05/1927.
14
menos certo que os sentidos que CARVALHO, Ronald de. "Os
produziu variaram de acordo com independentes de São Paulo". In 31
MALUF, Marina e MOTT, Maria
os mais diversos grupos que se BATISTA, M. Rossetti. Brasil: 1 Lúcia. "Recônditos do Mundo
formavam na cidade e que sua Tempo Modernista 19/07/1929. Rio Feminino". In SEVCENKO (org.).
recepção dependeu do embate de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1972. História da Vida Privada no Brasil
constante entre o discurso República: da Belle Époque à Era
normativo e a inventividade de 15
ANDRADE, Oswald de. do Rádio. São Paulo, Cia. das
suas práticas cotidianas. "Reforma Literária". In Jornal do Letras, 1998, p. 403.
Comércio. São Paulo, 19/05/1921.
32
NOTAS Idem, p.400.
16
HABERMAS, Júrgen. Mudança
1
SEVCENKO, Nicolau. Orfeu Estrutural da Esfera Pública. Rio de 33
DIAS, M. Odila L. S.
Extático na Metrópole, São Paulo Janeiro, Tempo Brasileiro, 1984, Quotidiano e Poder no século XIX.
sociedade e cultura nos frementes p.189. São Paulo, Brasiliense, 1995.
anos 20. São Paulo, Cia das Letras,
17
1992, p.255. SEVCENKO Nicolau. op. cit., 34
PINTO, Maria Inez Machado B.
p .28. Cotidiano e Sobrevivência: A vida
2
LOTITO, Marcia Padilha. A do trabalhador pobre na cidade de
18
cidade como Espetáculo: PINTO, Maria Inez Machado São Paulo, 1890-1914. São Paulo,
Publicidade e Vida Urbana na São Borges. "A cena muda: maquinismo Edusp, 1994.
Paulo dos anos 20. Dissertação de e lazer na metrópole cafeeira,
Mestrado,São Paulo, FFLCH-USP, 1910-1930". In Anais do X 35
PINTO, Maria Inez Machado
1997, p.04. Simpósio de História - Edição Borges. op. cit., 1991.
Especial da Revista de História nº
05. Vitória, UFES, 1997, p.17.
CLIO História – Textos e Documentos

36
MACHADO, António de
Alncântara "Carmela". In Brás,
Bexiga e Barra Funda: notícias de
São Paulo. Belo Horizonte/São
Paulo, Itatiaia/Edusp, 1988.

37
O Estado de São Paulo,
05/05/1920.

38
CENDRARS, Blaise. "As negras
louras". In Hollywood 1936. São
Paulo, Brasiliense,1990.

39
HOLLANDA, Heloísa B.,
BICALHO, M.F. e MORAN, P.
"Vamps, ingênuas e flappers". In
Quase catálogo 3 - Estrelas do
cinema mudo-Brasil, 1908-1930.
Rio de Janeiro, CIEC/Escola de
Comunicação/UFRJ/MIS, 1991.
p.08.

40
XAVIER, Ismail. Sétima Arte:
um culto moderno. São Paulo, Ed.
Perspectiva, 1978.

41
O Estado de São Paulo,
28/09/1927.

42
HOLLANDA, Heloísa B.,
BICALHO, M.F. e MORAN, op. cit. p.
09.

43
Idem, p.10.

44
CAMARGO, M. L. Barros. Atrás
dos olhos pardos. Tese de
Doutorado, São Paulo, FFLCH-/USP,
1990.

45
LARY, M. Screening out Past.
The Birth of Mass Culture and the
Motion Picture Industry. Chicago,
The University Chicago Press,
1980- Cap. 08 "Politica Dissolved:
Cecil B.De Mille and the Consumer
Ideal, 1918-1929".

46
HOLLANDA, Heloísa B.,
BICALHO, M.F. e MORAN, op. cit.,
p.14.

47
XAVIER, Ismail. op. cit.,
p.180.

48
O Estado de São Paulo,
18/07/1927.

49
SEVCENKO, Nicolau. op. cit.,
p.31.

50
CERTEAU, Michel de. A
invenção do Cotidiano. Petrópolis,
Vozes, 1994, cap.03.

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