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PRIVATIZAÇÃO CARCERÁRIA E SUA VIABILIDADE NO SISTEMA JURÍDICO


BRASILEIRO

Leonardo Lael de Matos1

Artigo científico apresentado à Faculdade Estácio - Carapicuíba como requisito


parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito, sob orientação do professor
mestre Ivan Rosas Teixeira.

RESUMO: ​Este artigo procura abordar as características das privatizações e


terceirizações nas prisões, em especial no ordenamento jurídico brasileiro, suas
implicações, viabilidade constitucional e eficiência, bem como observar no direito
comparado os países na vanguarda deste modelo, verificar se tem a mesma
eficácia em um prisma ético, social e econômico brasileiro, sempre verificando os
princípios humanísticos e os pilares básicos sobre os quais a sociedade ocidental é
fundada e orientada.
PALAVRAS-CHAVE: Prisão privada. Constitucionalidade. Terceirização.

ABSTRACT​: ​This article seeks to address the characteristics of privatization and


prison outsourcing, especially in the brazilian legal system, its implications,
constitutional feasibility and efficiency, as well as to observe in comparative law the
countries in the vanguard of this model, verify if it has the same effectiveness in a
brazilian ethical prism, social and economic, always looking for the humanistic
principles and basic pillars on which Western society is founded and oriented to.
KEYWORDS: Private prison. Constitutionality. Outsourcing.

SUMÁRIO: INTRODUÇÃO; 1.CONCEITO 1.1.Natureza jurídica 1.2.Modelos


1.2.1.Concessão, administração e PPP 1.2.2.Terceirização e co-gestão
2. EFICIÊNCIA 2.1.Trabalho e educação prisional 3.CONTROVÉRSIAS
3.1.Caso “​Kids for Cash” ​4.CONSTITUCIONALIDADE .CONCLUSÃO;
BIBLIOGRAFIA

A privatização carcerária tem como princípio delegar uma função


primariamente estatal e garantida constitucionalmente para alguma empresa,

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Graduando em Direito pela Faculdade Estácio - Carapicuíba; Carapicuíba/São Paulo
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instituição privada ou parceria-público-privada, que de acordo com o sistema, pode


ser uma empresa totalmente privada ou convênios firmados por meio destas
parcerias público- privadas.

Um dos principais motivos para a criação de parcerias com empresas


privadas na gestão de presos seria a eficiência, uma vez que acredita-se que a
iniciativa privada tem uma melhor gestão dos recursos a um valor menor, em uma
perspectiva capitalista, a busca efetiva pelo lucro com o menor esforço, o que
teoricamente sem as questões morais envolvidas seriam benéficas para o erário,
que é pautado pelo princípio constitucional da eficiência. Porém há muito mais do
que valores envolvidos, constitucionalmente falando, é atribuição do Estado em
manter as carceragens, uma vez que esta encontra-se sub-rogada a administração
da segurança pública, sendo esta seção indelegável por alguns primas de
observação. O modelo de privatização carcerária utilizado hoje em dia no país, que
possui maior destaque é importado das experiências dos Estados Unidos da
América, em que pese, há muitas controvérsias sobre a indústria do
encarceramento, Os EUA figuram no ról dos países que mais prendem no mundo,
em que certas empresas lucram com as prisões em número de ergastulados,
deixando o sistema amarrado as prisões e lucro, a administração Obama
determinou o fim de novas prisões nestes termos, entretanto a administração
Trump voltou atrás, caminho esse cada vez mais provável para o Brasil, que na
onda do liberalismo econômico e replicação de práticas externas busca cada vez
mais desonerar a máquina pública de deveres, gastos e responsabilidade.

Cesare Beccaria dizia sobre a finalidade da pena:

A finalidade das penas não é atormentar e afligir um ser sensível (...) O seu fim (...) é
apenas impedir que o réu cause novos danos aos seus concidadãos e dissuadir os outros
de fazer o mesmo e para que uma pena produza o seu efeito, basta que o mal que ela
mesmo inflige exceda o bem que nasce do delito.2

Devemos sopesar se é ético auferir lucro com prisões, pois o objetivo do


Estado não é prender, e sim evitar as prisões, garantir a empresas a exploração
deste ramo é muito controverso, uma vez que o estado possui o “monopólio” desta

2
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e Das Penas. São Paulo: Quartier Latin 2005
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atribuição e a atividade de empresa por pura definição é busca incessante do lucro


e que neste contexto entende-se como mais presos, objetivo e interesse contrário
​ statal, a
do Estado, o monopólio da violência é uma poder e ​longa-manus e
responsabilidade e tutela envolvida necessariamente e constitucionalmente exigem
sua indelegabilidade.

1. CONCEITO

Uma prisão nada mais é que o cerceamento de liberdade, de locomoção que


um agente pode sofrer após a condenação em trânsito em julgado, ou prisão
processual, onde o agente represente risco a incolumidade pública ou atrapalhe o
bom andamento da persecução penal, normalmente todo este caminho até a prisão
do agente é jurisdição estatal no ordenamento jurídico brasileiro, porém, após
experiências em outros países, passou a ser adotado o sistema de privatização
carcerária, terceirização e parcerias público-privadas, que são uma forma de
delegar uma área da segurança pública à administração privada, direta ou
indiretamente, modelo este inspirado nos EUA, onde data desde 1984 este
moderno conceito de privatização carcerária, quando a empresa Corrections
Corporation of America (CCA) surgiu e estabeleceu um contrato para administrar
diretamente a prisão de Shelby County, este evento marcou a primeira vez que o
governo americano contratou uma empresa para administrar completamente uma
instalação prisional, inaugurando um modelo presente hoje em diversos países no
mundo, inclusive no Brasil.
1.2 Modelos

Atualmente no Brasil dois modelos são aplicados,um regido pela Lei


11.079/04, chamado de parceria público-privada, que regulamenta a parceria
público-privadas PPP e o contrato administrativo de concessão, na modalidade
patrocinada ou administrativa, onde Estado concede a uma empresa a autorização
para gerir totalmente todos os aspectos da prisão e o modelo de co-gestão, que
seria uma espécie de terceirização, onde o Estado divide com a empresa a
administração.
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1.2.1.​Concessão, administração e PPP

A Lei Nº 11.079/04 institui normas gerais para licitação e contratação de


parceria público-privada no âmbito da administração pública, no no contexto
prisional permite que uma empresa tenha a gestão integral de uma instalação
prisional, o caso mais célebre é a prisão situada no Estado de Minas Gerais, mais
precisamente em Ribeirão das Neves que advoga a favor das privatizações do
ramo, sendo esta carceragem a vanguarda deste modelo no Brasil, onde as obras
de construção e gestão de presos fica a cargo do grupo GPA (Gestores Prisionais
Associados), onde o Estado repassa um valor por preso e outro valor referente ao
pagamento da construção da instalação, sendo total responsabilidade do grupo de
assegurar os direitos constantes na Lei de Execuções Penais Nº 7.210/84 em seu
art. 41, sendo o Estado mero membro fiscalizador, sendo chamado para intervir em
extremas situações como rebeliões e quebra da ordem.

Este estabelecimento vem chamando muito a atenção devido seus


indicadores de eficiência e segurança, porém há muitas críticas sobre os
parâmetros constitucionais e sobre a espécie desta concessão

1.2.2.​Terceirização e co-gestão

A terceirização ou co-gestão é o caso da administração carcerária dividida


entre o público e privado, sendo a empresa responsável pela gestão de presos e o
Estado como provedor da ​longa-manus da segurança, prestando o apoio na
carceragem no controle e segurança, geralmente esse modelo é realizado em uma
instalação construída pelo Estado e há apenas o repasse de valor sobre os presos.
Este modelo encontra-se adotado no Estado do Amazonas e chama muito a
atenção, onde todos os presídios estão sob a tutela da co-gestão, neste caso a
empresa responsável é o maior credor estatal com um contrato de R$ 223,4
milhões das despesas empenhadas em 2018, chama atenção também a
negligência do serviço prestado, que pode ser rescindido com a empresa após a
constatação de alto-custo, girando em torno de R$ 6.000,00 por preso e ainda
assim ser palco da segunda maior chacina prisional do país, onde em 2017, 56
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detentos morreram em decorrência de uma rebelião.3

2. EFICIÊNCIA

A administração pública tem como base principiológica a eficiência, e assim


sendo, a empresa responsável administração do presídio modelo no Estado de
Minas Gerais tem o “menor custo e maior eficiência”, tal presídio é o Complexo
Ribeirão das Neves, entretanto especialistas contestam tal eficiência, uma vez que
os indicadores mostram-se um presídio sem a violência que é incomum no sistema
penitenciário, há denúncias que há uma espécie de seleção entre os internos, onde
só são deslocados aqueles que tem a intenção de trabalhar no complexo, que
​ a
produz artigos de vestuário para empresas de segurança da mesma ​holding d
administradora do presídio, a valores abaixo do exigido no salário mínimo, ainda
assim, há o repasse dos valores por parte do Estado para a manutenção deste
preso. Este modelo é tido como o de maior sucesso no Brasil, porém há cerca de
60 presídios privados ou em parceria público-privada no Brasil, há contratos de
repasses de até R$ 6.000,00 por preso, como caso do presídio em Manaus, que
ainda assim há relatos de violência, reiteradas fugas e torturas.

Não há que se falar em eficiência, uma vez que a norma que autoriza o seu
funcionamento é inconstitucional. Ao falar de eficiência, devemos observar qual a
ontologia da expressão, qual a função de uma prisão, ressocializar um condenado
a fim de se tornar uma pessoa melhor e prover o convívio ou gerar lucros e divisas.
A pergunta pode ser respondida analisando os resultados do modelo, podemos
traçar um binômio entre deveres e direitos dos presos que estão presentes na LEP,
cumprindo estes requisitos seria legal manter uma carceragem privada, onde a
ressocialização, educação e trabalho sejam providos com qualidade e por um preço
competitivo, que seriam observados com bons indicadores de ressocialização e
falta de reincidência. No caso da situação do Estado do Amazonas não é
observado estes requisitos, onde o sistema ainda continua muito oneroso e
violento, porém em Minas Gerais os valores são próximos a realidade de outros

3
G1 - GLOBO – Disponível em:
<http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2017/01/rebeliao-no-compaj-chega-ao-fim-com-mais-de-5
0-mortes-diz-ssp-am.html>. Acesso em: 05 abr. 2019.
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estados e com grande eficiência, há se creditado o sucesso deste modelo a uma


questão quase eugênica, onde presos por crimes violentos ou que participem de
facções criminosas não adentram ao sistema e assim tem um índice de violência
menor.O presídio que explora o ramo no modelo PPP pode explorar livremente o
trabalho do preso e pagar o valor pelo trabalho, que gera mais renda ao grupo
empresarial, e na maioria das vezes o salário percebido pelo preso é muito inferior
ao salário mínimo, que pode afrontar alguns princípios trabalhistas, que nesta
modalidade não são totalmente percebidos pela especificidade do caso. A LEP
específica que neste caso o salário do preso pode ser ¾ de um salário mínimo,
porém segundo dados do presídio o valor chega 54% do salário mínimo, o
responsável por esse valor menor seria a contribuição que o agente deve fazer
para gestão do presídio, como assim dispõe a lei das PPP, há algum tempo sendo
ventilado a criação de um projeto de lei exigindo que o detento pague pela sua
estadia, coadunando este sistema e resolvendo esta brecha legal, uma dúvida que
paira é sobre a negativa de pagamento deste valor pelo cumprimento de atividades,
e se será exigido trabalho, afrontando gravemente princípios constitucionais

O modelo por sí só mostra-se muito rentável, uma vez que há receita por
diversos meios, estatal e privado, e sua experiência nos países desenvolvidos
sendo promissor para o país sua implantação em larga escala, porém, onde o
número de presos faz o valor aumentar em dois ângulos, e assim
consequentemente quanto mais presos, mais receita, o que faria o mercado induzir
o aumento carcerário, sendo regulada por um mercado de flagrante ilegalidade.

Fato é que um modelo mostrou-se capaz de gerir um sistema que inclui o


agente de volta a sociedade, ainda que sua legitimidade seja alvo de arguições de
inconstitucionalidade.

2.1.Trabalho e educação prisional

Assim como diversos jusfilósofos vem ao decorrer dos séculos, a prisão


deve ser um local onde o agente deve recolher-se e refletir sobre o mal gerado na
sociedade, sendo assim removido do convívio e a sociedade poderá ser ver livre do
perigo das ações deste agente até que se reinsira, uma das funções da pena, a
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outra seria socializar o indivíduo, todos os direitos dos presos são expressos no art.
41 da LEP, que indica as condições da prisão e gestão do presos, como
fornecimento de um ambiente higiênico, trabalho e educação, entre outra série de
direitos para sua melhora, a efetivação deste artigo pressupõe que o indivíduo pode
se reintegrar, assim sendo este o maior objetivo a ser perseguido pelo Estado, e a
empresa que se submeter a tutelar essa competência do Estado deve o fazer com
os mesmos princípios, criando assim o ideário assim exposto por Beccaria 4e
Foucault, que traduz em uma linguagem contemporânea esses princípios, onde a
punição ‘gentil’ representa o distanciamento da força, sendo uma prisão mais
humanista e voltada ao corpo, e evoluindo o intelecto do agente para uma vida
social, seria a instituição prisional mais uma etapa para a criação do “corpo dócil”, a
mentalidade empresarial visa apenas o lucro, mas, por se tratar de uma atividade
delegada ao Estado, tutelado pelo privado, a busca por esses objetivos deve ser
evidente e assim removendo qualquer estereótipo que possa haver. Na experiência
em Minas Gerais há grandes resultados, ausência de violência e fugas, que levam
a acreditar que o sistema pode ser vantajoso para a sociedade em diversos
aspectos sendo necessário que sigam-se os princípios da administração pública
com regras claras e inteligíveis, indo de encontro com uma realidade combatida por
Foucault em seu ​zeitgeist.​

Historicamente, o processo pelo qual a burguesia se tornou no decorrer do século XVIII a


classe politicamente dominante, abrigou-se atrás da instalação de um quadro jurídico
explícito, codificado, formalmente igualitário, e através da organização de um regime de tipo
parlamentar representativo. Mas o desenvolvimento e a generalização dos dispositivos
disciplinares constituíram a outra vertente, obscura, desse processo. A forma jurídica geral
que garantia um sistema de direitos em princípio igualitários era sustentada por esses
mecanismos miúdos, cotidianos e físicos, por todos esses sistemas de micropoder
essencialmente inigualitários e assimétricos que constituem as disciplinas.5

3. CONTROVÉRSIAS

O modelo por sí só mostra-se muito rentável, uma vez que há receita por
diversos meios, estatal e privado, e sua experiência nos países desenvolvidos

4
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e Das Penas. São Paulo: Quartier Latin 2005
5
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão 36ª ed. Petrópolis: Vozes, 2009
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mostra ser uma modelo muito promissor, porém, onde o número de presos faz o
valor aumentar em dois ângulos, e assim consequentemente quanto mais presos,
mais receita, o que faria o mercado induzir o aumento carcerário.

Uma das maiores críticas nesse modelo diz a respeito do modo como o
presídio mantém a gestão dos presos, no caso de Ribeirão das Neves, não é muito
claro como o agente prisional terceirizado agiria em um possível distúrbio, a
administração também oferece assistência jurídica, neste caso em um possível
reclamação, o preso reportaria a um advogado contratado pela mesma, o que pode
caracterizar um patrocínio infiel por parte do profissional. Outra controvérsia seria a
seleção, que contribui para melhores indicadores, não mostrando que se o modelo
fosse implementado em escala nacional funcionaria perfeitamente.

Quanto às leis, um breve exame a LEP, CFRB/88 não há embasamento


jurídico para sustentar o modelo, o que se vê é uma negligência, uma vez que o
problema é tão complexo que o Estado não tem interesse em geri-lo, e junto a
opinião pública, construção de presídios nunca foi uma obra que políticos
sustentam com orgulho.

Bruno Shimizu e Patrick Lemos Cacicedo, coordenadores do Núcleo de


Situação Carcerária da Defensoria Pública de São Paulo, questionam a legalidade
do modelo. Para Bruno “do ponto de vista da Constituição Federal, a privatização
das penitenciárias é um excrescência”, totalmente inconstitucional, afirma, já que o
poder punitivo do Estado não é delegável. “Acontece que o que tem impulsionado
isso é um argumento político e muito bem construído. Primeiro se sucateou o
sistema penitenciário durante muito tempo, como foi feito durante todo um período
de privatizações, (…) para que então se atingisse uma argumentação que
justificasse que estes serviços fossem entregues à iniciativa privada”.
E José de Jesus Filho, assessor jurídico da Pastoral Carcerária, explica que
“entraram as empresas ligadas às privatizações, porque elas são capazes de
reduzir custos onde o Estado não reduzia. Então a empresa ganha em dois frontes,
pois além de reduzir custos, percebeu, no sistema prisional, uma possibilidade de
transformar o preso em fonte de lucro através do trabalho”.
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3.1.Caso “​Kids for Cash” 6


As controvérsias que este sistema suscita é o encarceramento em massa
com em detrimento de maiores repasses do Estado as instituições, Os EUA na
vanguarda do mundo no quesito privatização carcerária tem casos onde
extrapolaram os limites do ​‘jus puniendi’ em detrimento do lucro, o infame caso
“Kids for Cash” que teve grande repercussão na mídia e diversos documentários a
respeito. Jovens do estado da Pensilvânia nos EUA eram frequentemente
condenados a prisões privadas por crimes leves como violação de propriedade
entre outros delitos tidos leves, os dois juízes acusado de corrupção aceitavam
dinheiro para remeter os jovens a tais instituições, tendo condenado diversos
agentes a longas penas nestas instalações, quando o caso se tornou um escândalo
As violações constitucionais para locupletar as prisões e todas as
condenações foram revertidas e ambos juízes foram condenados a grandes penas,
um sistema implacável para prender tende a não ter impunidade, como se observa
nos EUA, ainda assim, houve um caso em que um jovem após a condenação a
uma grande pena, apesar de ser réu-primário, cometeu suicídio.
Tal caso apenas serve para demonstrar que quando há a variável humana,
podem haver erros ou corrupção, fazendo deste apenas um sistema mercantil no
casos da corrupção, mostra-se também necessário um controle do Estado para
verificar todas etapas do processo e transparência para verificar padrões que
indiquem tais atos e puní-los severamente assim como acontece nos EUA,
trazendo maior credibilidade para o modelo.

4.CONSTITUCIONALIDADE

A Constituição Federal de 1988 expressa que a segurança pública é função


estatal em seu artigo 144, e delega órgãos responsáveis pela sua administração,
expressamente falando não há menção das Secretarias de Administração
Penitenciária, que é o órgão responsável pela tutela de uma pessoa com
cerceamento de sua liberdade, mas pela analogia seria uma aberração
constitucional atribuir a empresas por meio de consórcios e contratos a atribuição

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UNITED STATES COURT OF APPEALS FOR THE THIRD CIRCUIT NO. 11-3277: United States
of America v. Mark Ciavarella, Jr., Appellant" United States Courts. May 24, 2013
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desta tutela para tais empresas, a Secretaria de Administração Penitenciária é um
órgão governamental que responde diretamente a Secretária de Segurança
Pública, no caso de uma privatização teríamos uma empresa respondendo
diretamente a Secretária de Segurança Pública, deste modo nos faz pensar, temos
a figura das Guardas Municipais, que não estão no ról do art. 144, mas ainda assim
possuem o poder de polícia, que foi garantido pela Lei 13.022/14,
infraconstitucional, abrindo precedente para outros atores que não estejam no ról
do art. 144 exercerem também o poder de polícia com o estabelecimento de lei,
ainda que não estejam expressamente no texto constitucional, como a figura do
carcereiro na administração privada, que seria responsável pela garantia da ordem
e monopólio da força para contendas internas, onde deveria ser o monopólio do
Estado.

Delegar empresas para tal atividade seria o mesmo que o Estado delegar o
poder de polícia, ou o poder de punir que há vedação legal nos dispositivos
presentes na Lei 11.079/2004. Tais normas foram instituídas para que traga maior
segurança jurídica quanto ao alcance do poder de punir do Estado, limitando sua
delegação, e a regulação de atividades jurisdicionais do Estado.

O objetivo intrínseco de uma empresa privada é a obtenção de lucros e


dividendos para seus acionistas, e se este princípio não for cumprido, não há como
se manter o modelo de negócio, então temos um binômio, quanto mais presos mais
lucro para estas empresas, o que no mínimo esbarra nos conceitos éticos que uma
prisão resume, que seria a retirada do indivíduo da sociedade como reprimenda
pelo mal causado e sua ressocialização, instar um intermediário nesta relação pode
causar um certo incômodo quanto a verdadeira função da prisão, de corroborando
a o parágrafo há o artigo primeiro da LEP “A execução penal tem por objetivo
efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições
para a harmônica integração social do condenado e do internado”
As experiências internacionais mostram o sistema como sólido, porém são
países com Constituições relativas e que não abordam o tema de forma tão
profunda como o Brasil, mas o reflexo que temos é que inclusive os Estados Unidos
é um dos países líderes em encarceramento. É comum traçar um perfil de
1
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investimentos em prisões e o lucro das empresas, fomentando um indústria que
não ajuda a sociedade superar suas mazelas, mas apenas fomentando o círculo
vicioso.
Por fim, a execução penal e todos os serviços a ela inerentes devem ser
realizados por funcionários públicos concursados, nos termos do artigo 37 da
Constituição Federal, sendo o poder de polícia indelegável, no que tange o controle
interno de prisioneiros, que na modalidade PPP é mantido por servidores do setor
terciário.
CONCLUSÃO
Claro é a situação que o modelo exige um exame profundo de juristas
brasileiros para sua devida avaliação, assim como a implantação de leis que
viabilizassem o modelo legalmente. De qualquer forma é visto como claro também
o aproveitamento do caos na área da segurança pública que vive o Brasil, desta
forma viabilizando a sociedade a aceitar formas diferentes por meio da
pós-verdade.
O Estado deveria estar preparado para gerir sua massa carcerária em um
mundo ideal, com amplo investimento na área da segurança, educação e
oportunidades para evitar-se o problema na raiz e assim evitando que tais modelos
tenham a espaço com a mercantilização desta tragédia brasileira. Tais prisões
funcionam como a marginalização do sofrimento, em busca do lucro, enquanto a
sociedade viver em busca do lucro ao invés de corrigir, o sintomas permanecerão,
constitucionalmente falando é claro sua ineficácia.
Entretanto, como exposto há muitas formas de aplicar o modelo de gestão
privada, os índices alarmantes de violência, impunidade e reincidência fazem com
que a sociedade busque outros métodos para atingir seu bem-estar, mesmo que
seja utópico uma sociedade livre de crimes, o retrato é que este fenômeno das
privatizações surgiram para frear o aumento do crime com menor onerosidade do
Estado, e a implementação destes modelos são como uma reprimenda do Estado
para a sociedade onde se abdica de alguns direitos em detrimento do bem comum,
ação e reação, a “recelebração” do contrato social, um novo sistema com
perspectivas de alcançar um menor número de delitos, alguns papéis ainda
precisam ser mais claro quanto às atribuições de cada ator no “jus puniendi” nosso
direito ainda não conseguiu acompanhar a rápida evolução e espelhamento da
sociedade brasileira com exemplos estrangeiros.
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A sociedade com toda sua dinâmica exige que tenhamos um Legislativo e
Judiciário dinâmicos também para assegurar a legalidade destes novos fenômenos
e mitigar a mercantilização, já que a perspectiva é que tenhamos esse modelo
como regra no futuro do país.

BIBLIOGRAFIA

BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e Das Penas. São Paulo: Quartier Latin 2005

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão 36ª ed. Petrópolis: Vozes, 2009

G1 - GLOBO – Disponível em:


<http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2017/01/rebeliao-no-compaj-chega-ao-fim-com-mais-de-5
0-mortes-diz-ssp-am.html>. Acesso em: 05 abr. 2019.

JUSTIFICANDO – Disponível em:


<http://www.justificando.com/2014/12/08/quanto-mais-presos-maior-o-lucro/>. Acesso em: 05 abr.
2019.

LEI DAS PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS 11.079, DE 30 DE DEZEMBRO DE 2004. Disponível


em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l11079.htm

UNITED STATES COURT OF APPEALS FOR THE THIRD CIRCUIT NO. 11-3277: United States of
America v. Mark Ciavarella, Jr., Appellant United States Courts. 24 de maio de 2013

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