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O que faz do Brasil uma ameaça ao

futuro dos tubarões - que muita gente


come​ ​sem​ ​saber
Mônica​ ​Manir
De​ ​São​ ​Paulo​ ​para​ ​a​ ​BBC​ ​Brasil
25​ ​de​ ​Setembro​ ​de​ ​2017
Adaptação​ ​de:​ ​http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41356540

Maior consumidor mundial de carne de tubarão, o Brasil pode se tornar um


dos principais responsáveis pelo declínio das populações desses animais em
mar​ ​aberto.

O motivo para tal situação seriam os navios internacionais que alimentam o


mercado de nadadeiras de tubarão, muito valorizadas no Leste Asiático. A sopa de
nadadeira ou barbatana tem apelo afrodisíaco e é sinal de status e riqueza entre os
chineses.

"Um quilo de nadadeira desidratada de tubarão-martelo, por exemplo, chega a US$


1,5 mil na Ásia", revela o biólogo Rodrigo Barreto. Para comparação, o quilo da
carne​ ​de​ ​tubarão​ ​gira​ ​em​ ​torno​ ​de​ ​R$​ ​25​ ​a​ ​R$​ ​30​ ​no​ ​Brasil.

Essas frotas internacionais, no entanto, estão proibidas de manter as nadadeiras e


descartar a carcaça no mar a fim de liberar seus porões para mais barbatanas. Em
1998, diante do esperado colapso de algumas populações do peixe, uma convenção
internacional transformou a prática em crime - o Brasil foi o primeiro país a assinar
um​ ​tratado​ ​apoiando​ ​esta​ ​proibição.
Acontece que, ansioso por continuar explorando o mercado de nadadeira, esse
setor​ ​encontrou​ ​no​ ​maior​ ​país​ ​da​ ​América​ ​do​ ​Sul​ ​um​ ​lugar​ ​para​ ​consumo.

"Essas​ ​frotas​ ​expõem​ ​aqui​ ​uma​ ​carne​ ​que​ ​praticamente​ ​ninguém​ ​quer",​ ​diz​ ​Barreto.

O biólogo afirma que, tirando Brasil e México, as postas de tubarão não são
vendidas​ ​em​ ​nenhum​ ​outro​ ​lugar​ ​do​ ​mundo.

A rejeição generalizada quanto à carne de tubarão tem um motivo de peso. Grande


predador, este animal encontra-se no topo da cadeia alimentar. Logo, ele acumula
metais pesados, como mercúrio e arsênio, presentes nos organismos que lhe
serviram de alimento. Ingeridas além da conta, essas substâncias podem causar
danos​ ​cerebrais.

Outro dado é a rotulagem errada. A maioria da população estaria consumindo


tubarão sem saber disso. Isso porque, nas prateleiras dos supermercados, nas
bancas de peixe, nos restaurantes e nas merendas escolares, o animal é oferecido
apenas sob o nome genérico de "cação", carne bem-aceita especialmente pela falta
de​ ​espinhos.

"Mais de 70% das pessoas não


sabem que cação é tubarão", afirma o
biólogo.

O Brasil não apenas consome, como


também pesca tubarões. Somos o 11º
país que mais os captura, e o 17º que
mais​ ​exporta​ ​suas​ ​barbatanas.

O pior, porém, vem da importação, que se refere a animais pescados no Atlântico


Sul por países como Espanha, China e Portugal. Esses países têm atuado no Brasil
desde a década de 1970. Donos de embarcações conseguem resfriar o cação e já o
congelam​ ​fatiado​ ​em​ ​postas,​ ​prontos​ ​para​ ​o​ ​consumo​ ​no​ ​Brasil.

Os estudiosos afirmam ainda que não se coloca em prática a obrigatoriedade de


observadores de bordo nas viagens de pesca de embarcações, de modo que não é
possível​ ​se​ ​saber​ ​quais​ ​as​ ​espécies​ ​estão​ ​sendo​ ​pescadas.

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