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Merrill. MondeDiplo - RBI.abril2013
Merrill. MondeDiplo - RBI.abril2013
Roberto Merrill
Investigador do Grupo de teoria política do Centro de Estudos Humanísticos da
Universidade do Minho e investigador associado ao CEVIPOF-Sciences Po Paris.
Texto publicado no Monde Diplomatique, ed. portuguesa, Abril 2013, p.10-12.
Introdução
1
Cf. Bruce Ackerman & Anne Alstott, The Stakeholder Society, Yale University Press, 1999 ; Philippe
Van Parijs, Liberdade Real Para Todos, (1995) 2013, ed. portuguesa no prelo ; Stuart White, The Civic
Minimum: On the Rights and Obligations of Economic Citizenship, Oxford University Press, 2003.
2
Sobre pré-distribuição, cf. Martin O’Neill & Thad Williamson, “The promise of pre-distribution”,
Policy Network, 28 de Setembro de 2012 ; João Cardoso Rosas, “Pré-distribuição”, Diário Económico, 26
de Dezembro de 2012.
repartição na sociedade, na medida em que o título de propriedade reforça o controlo
que os indivíduos podem ter sobre a sua capacidade de se governarem a si mesmos.
Acontece que o acesso à propriedade privada não passa de boas intenções se os
indivíduos entram no mercado completamente desprovidos de capital. Mas por que
razões esta ideia do RBI ainda não foi implementada? As objecções mais frequentes que
se colocam à sua implementação são formuladas em termos do impacto negativo que
teria sobre os incentivos ao trabalho assim como o seu custo financeiro. Vou expor
essas objecções, as respostas a estas e termino questionando o carácter incondicional do
rendimento básico.
2. Como financiar ?
3
Não podemos neste artigo desenvolver nenhum modelo de financiamento em específico mas para uma
recensão de alguns dos estudos e experiências mais convincentes, cf. Daniel Raventós, Basic Income. The
Material Conditions of Freedom, Pluto Press, 2007.
4
Em 2009, a despesa com o RSI em Portugal era de 507 milhões de euros. Sobre a história do RSI e das
suas relações com a renda básica incondicional, cf. Alfredo Bruto da Costa, “Minimum Guaranteed
Income and Basic Income in Portugal”, BIEN 9th International Congress, Geneva, 12-14 de Setembro de
2002 ; Martim Avillez Figueiredo, “Introdução” ao livro de Philippe Van Parijs, Liberdade Real Para
Todos, (1995) 2013, ed. portuguesa no prelo.
5
Philippe Van Parijs, « Pas d'eurozone viable sans euro-dividende », Le Monde, 6 de Março de 2012.
Admitindo que o RBI não se traduz num incentivo à preguiça e possa ser financiado,
podemos mesmo assim pôr em causa a sua incondicionalidade em nome da necessária
contribuição de todos ao bem comum da sociedade6, exigindo que os seus beneficiários
realizem alguma actividade cívica em troca dum RBI, por exemplo seguindo uma
formação, ou cuidando crianças ou pessoas debilitadas, ou trabalhando numa associação.
No entanto, um rendimento básico condicionado a um trabalho “mínimo cívico” tem
pelo menos duas desvantagens: (1) contrariamente ao RBI cuja distribuição é
automática, muitas pessoas desfavorecidas não têm acesso a um rendimento condicional
porque simplesmente não estão informadas desse direito ou quando o estão, não
cumprem as condições burocráticas a preencher, e (2) um rendimento condicional pode
ser humilhante, intrusivo e estigmatizante.
Conclusão
6
Cf. Anthony Atkinson, Public Economics in Action. The Basic Income Flat Tax Proposal, Oxford
University Press, 1995; Stuart White, op. cit.