Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
http://bpi.110mb.com
ou
http://livrosbpi.com
A revista A Vida era uma publicação mensal de Filosofa libertária que existiu no
Brasil de Novembro de 1914 a Maio de 1915. Saíram 7 número: da revista e o
grupo que a produzia se dispersou logo depois. Apesar da existência efêmera, a
sua importância foi significativa.
Esta revista pode ser considerada como uma das primeiras no Brasil a se
preocupar com a formação ideológica e com a consciencialização da classe
trabalhadora. Os editores desta publicação também se preocupavam com a
organização concreta da classe operária e incentivavam as suas lutas do dia a
dia os seus sindicatos.
Foi uma revista não-sectária, aberta, chegando a publicar obras escritas por
religiosos que atacavam o sindicalismo revolucionário. Nela aparecem artigos
contra a guerra e o imperialismo, sobre o internacionalismo, sobre a questão da
mulher, preocupa-se com a história dos primeiros núcleos de trabalhadores
organizados no país e discute com o positivismo, através de interessante
polêmica com Teixeira Mendes, um dos "papas" desta filosofia no Brasil.
"o progresso das idéias novas que levam os trabalhadores à revolta, à luta, à
guerra contra todas as explorações do homem pela homem, contra todas as
injustiças, contra todos os privilégios sociais." (PENTEADO; idem, ibidem).
A classe dos capitalistas, por meio da escola oficial estatal, procura, através de
um premeditado e constante trabalho, inocular na juventude popular a sua
ideologia. O autor exemplifica citando a 1° Guerra Mundial, em que a escola
incentiva o patriotismo e o militarismo preparando a juventude para aceitar
naturalmente o derramamento de sangue, o saque e a devastação de cidades
que esta guerra trouxe.
"É este, pois, se bem que modestamente, o trabalho que temos iniciado em Sãa
Paulo e que precisa, de certo, da decidida boa vontade de todas as consciências
livres, da cooperação de todos aqueles que sentem a verdadeira e urgente
Necessidade de se opor uma barreira à tanta degenerescência moral que se
observa nos espíritos de nossos contemporâneos." (PENTEADO, idem, ibidem).
Como se vê, a Escola Nova é uma bela iniciativa, que merece todo o apoio dos
amigos da educação racionalista" (A Vida, no. 5, 31/1/1915, p.79-80).
Podemos também perceber, pelo anúncio da Escola Nova da rua Alegrai, que os
cursos oferecidos por esta escola apresentavam um amplo leque de disciplinas.
No curso superior, a palavra etc demonstra bem a predisposição dos anarquistas
a se abrir para o novo, vontade de acolher novas sugestões e de oferecer novas
matérias, abrindo assim o programa para uma permanente reformulação.
"Irmãos nossos, fugi, fugi do hábito, caminhai para a liberdade, para a mutação,
para a perfeição inacabável. Jamais até hoje um segundo homem compreendeu
melhor do que Ferrer, a necessidade de um ensino racional, novo e que
afastando-se do dogmatismo pedagógico presente, ministrasse uma educação
realmente impecável, e que evoluisse a par com o desenvolvimento das
ciências. Ao mártir excelso coube a gloria de realizar este ideal tão puro, e os
homens filantrópicos cumpre o dever de amparar a obra iniciada, consolida-la e
multiplica-la infinitamente." (LIMA, idem, p. 7).
Nesse sentido, o homem vem ao mundo com predisposições. Estas podem ser
transformadas e aperfeiçoadas pela atuação da educação e do meio. E. Lima
propõe a proliferação de escolas racionais e no meio social o seu saneamento,
que corresponde ao término da opressão e da desigualdade. Ou seja, a
realização de uma revolução social de cunho libertário.
"A energia primordial adquirida por via biológica poderá ser apaziguada ou
extinta, por via de adaptações deformantes e posteriores. Portanto um esforço
coletivo de todas as pessoas das várias nações das diversa raças terrestres, e
tendente a tornar a educação dos novos indivíduos a primeira preocupação da
humanidade, colocando-a em nível superior e purificando zelosamente o meio
racial, deveria constituir o horizonte para o qual seriam dirigidos os valores
máximas das nossos trabalhos " (LIMA, idem, p. 6).
"... todo este carinho revelado pelos mandões a respeito da instrução do povo,
não é sincero, nem honesto, nem desinteressado, mas somente uma manobra
habilíssima para que se apoderem dos filhos dos trabalhadores e prepara-os,
como já acontece aos pais, amolgando-lhes os cérebros e deprimindo-lhes o
caráter, a serem obedientes, humildes, submissos e respeitadores do status
quo, bons manequins, dentro da oficina, quando ha necessidade de produção, e
bons manequins, no campo de batalha, guando os stocks de mercadorias
abundam nos armazéns e se faz mister conquistar mercados à força de punho, a
ferro e fogo, para dar saída aos produtos invendíveis." (PINHO, idem, p. 77).
Os artigos de José Oiticica saem nos cinco primeiros números da revista mensal
A Vida. Eles levam o título de O desperdício da energia feminina. Neles o autor
propõe analisar a situação da mulher através da história.
Para o autor é lastimável que a mulher não tenha acesso à cultura porque:
(...) O que impede (o amor livre) a sua generalização não é o crédito, das
velhas instituições familiares; são as necessidades econômicas dum regime das
riquezas fundadas na ´ legitimação dos filhos ´ .
Termino por aqui. Os textos de João Penteado, Efrem Lima, Adelino de Pinho e
José Oiticica são riquíssimos e permitiriam maiores análises.
Espero que estas linhas contribuam para o nascer de uma sociedade igualitária,
libertária e fraterna e que a educação no terceiro milênio cumpra a sua missão
histórica, ou seja, propiciar o desenvolvimento de seres livres e sem
preconceitos.
Bibliografia