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Presidente Prudente
2008
CINTIA CRISTINA TEIXEIRA MENDES
Presidente Prudente
2008
Mendes, Cíntia Cristina Teixeira.
M49h HTPC: Hora de trabalho Perdido Coletivamente? / Cíntia Cristina
Teixeira Mendes. - Presidente Prudente : [s.n], 2008
vii, 113 f.
CDD(18.ed.) 370
A Deus,
Ao Meu Pai Antonio, Minha mãe Vera, a Vó Helena, a Irmã Priscila, a Lê e aos amigos,
Pela paciência e amor dispensados, mesmo nos momentos de crise, stress e mau humor. Pela
ausência em muitos momentos. Sou o que sou por que tenho vocês, obrigado família...
Pelo incentivo na realização desse projeto e pela paciência. Obrigado por me ajudar a ver a
vida de outro jeito, é muito bom ter você como companheiro.
Ao Professor Alberto,
Pela contribuição na busca das respostas a minha pergunta, vocês são os personagens
principais dessa história. Obrigado por terem me ajudado a crescer pessoal e
profissionalmente.
O presente estudo foi desenvolvido no âmbito dos trabalhos do Grupo de Pesquisa “Políticas
Públicas, Organização Escolar e Formação de Professores” e teve como objetivo analisar e
compreender as representações sociais construídas pelos professores do Ensino Fundamental
(Ciclo I) da Rede Municipal de Presidente Prudente-SP sobre a Hora de Trabalho Pedagógico
Coletivo tendo como aporte teórico a Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici.
É uma pesquisa com traços de pesquisa participante, pois como professora, faço parte do
grupo de profissionais desta Rede. Foram utilizadas técnicas tais como o questionário
aplicado junto a 170 professores; a entrevista semi-estruturada com 10 professores e um grupo
de discussão com 9 Orientadores Pedagógicos, profissionais responsáveis pela organização da
HTPC, momento de formação na escola. Os dados coletados foram tratados com base na
análise de conteúdo, mais precisamente no processo de categorização dos dados tendo como
ponto de partida o grau de aprovação dos professores a este momento de formação. Os
resultados obtidos revelam que os profissionais representam a HTPC como Hora de Tempo
perdido, ou seja, que esse momento apesar de ser importante não tem atingido seus objetivos
tendo em vista a sua forma de organização. Os profissionais apontam que a forma de gestão, a
condução do Orientador Pedagógico e a participação do professor não têm contribuído para
que mudanças significativas ocorram na prática dos professores com reflexos positivos na
aprendizagem dos alunos. Assim, nosso estudo nos levou às seguintes indicações: é urgente
discutir no âmbito da Rede Pública a literatura que trata das diversas modalidades e tipos de
formação, bem como aliar esse conhecimento ao plano de carreira do magistério de Presidente
Prudente onde a HTPC não é citada como aperfeiçoamento e capacitação do magistério;
assegurar espaços de estudos que ajudem a esclarecer aos profissionais da educação a
proposta de formação centrada na escola e a forma como pode ser conduzida de modo a
favorecer a formação do professor crítico-reflexivo como as propostas de desenvolvimento
baseadas na reflexão, no apoio profissional mútuo; efetivar uma gestão democrática onde as
decisões sejam compartilhadas entre todos os sujeitos do processo tendo em vista a
aprendizagem dos alunos; repensar a tradicional divisão do administrativo e pedagógico para
que escola e sistema educativo não tenham políticas e ações fragmentadas; reforçar a posição
de peça-chave do Orientador Pedagógico na formação centrada na escola, revendo a forma de
provimento do cargo; e finalmente, reorganizar o tempo da HTPC reforçando seu caráter de
formação evitando que os professores sejam sobrecarregados com atividades burocráticas.
The present study was developed current to the Research Group “Public policy, scholar
organization and teachers’ formation”. Its objective was to analyze and understand the social
representations of the teachers from the Primary School (Circle I) of the municipal schools of
Presidente Prudente – SP about the Collective Pedagogic Work Time (HTPC). The theoretical
support was the Theory of Social Representations by Serge Moscovici. This study has some
characteristics of participative research, since as a researcher I am a constituent of the group
of teachers who work at the municipal schools. In order to do so we used questionnaires
applied to 170 teachers; semi-structured interview with 10 teachers and a discussion group
with 9 Pedagogic Coordinators, who were responsible for the HTPC organization, which is a
moment for teachers’ development in school. The data collected were treated according to the
content analysis, more precisely to the process of data categorization from the level of
teachers’ approval about the HTPC. The results showed that the teachers think the HTPC is
waste of time, what means that despite the fact that it is an important moment, it has not
reached their objectives because of the way it is organized. The teachers assert that the way it
is conducted by the Pedagogic Coordinator and the teachers’ participation has not contributed
to effective changes in teachers’ practice with positive reflections in students’ learning. Thus,
our study guided us to the following indications: it is necessary to reflect and discuss at the
Public schools about the literature that approaches the diverse modalities and kinds of
formation, as well as to joint this knowledge to the professorship carrier plan from Presidente
Prudente, where the HTPC is not mentioned as a type of formation or development time; to
assert places of study that could help the education professionals to understand the formation
proposal centered in the school and how it could be conducted to support the formation of
critic-reflexive teachers, as the proposals of development based on reflection and the loan
professional support; go for a democratic management where the decisions are shared among
all the subjects from the process whose aim is the students’ learning; it is necessary to rethink
the traditional division of administration and pedagogic in order to guarantee that school and
educative system do not have separated policies and actions; to reinforce the position of the
Coordination as a key-part from formation centered in school, reviewing the way the function
is distributed; and finally, to reorganize the time of HTPC reinforcing its character of
formation avoiding teachers to overwork with bureaucratic tasks.
INTRODUÇÃO
Viver é uma aventura imprevisível, construída passo a passo por cada ser
vivo. Comigo não foi diferente, faço parte do grupo da camada popular que ascendeu
socialmente através da escolarização.
Ali foi meu primeiro contato com as HTPCs da Rede Municipal que tinham
como foco principal o estudo e a discussão das idéias de um texto sobre as temáticas por nós
solicitadas ou encaminhadas pela Secretaria Municipal de Educação (SEDUC). Uma vez por
mês, realizávamos as trocas de experiência, que na verdade eram trocas de atividades: cada
um trazia uma sugestão de atividade que fora realizada com sucesso em sala de aula para
relatá-la para os outros professores, esse era o momento que mais gostávamos, pois
tratávamos especificamente do como fazer.
desafio mesmo era gerir a formação contínua em serviço de um grupo de professores, tendo
em vista os objetivos e metas da escola, as políticas do sistema e as características de cada
profissional.
Apesar deste tipo de pesquisa estar voltado para a ação sabemos que durante
o período estabelecido para o Mestrado e pelo fato de continuar trabalhando nesse período,
não conseguimos realizar uma pesquisa que envolva ações e diálogo constante com os
17
sujeitos, porém ficarão, após o término deste período , os resultados observados para serem
estudados e para que ações sejam propostas coletivamente.
preocupação com o processo é muito maior que com o produto, o significado que as
pessoas dão as coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador e a
análise dos dados tende a seguir um processo indutivo.
De acordo com Sá (1998 p. 65) há ainda uma terceira corrente, com uma
perspectiva mais sociológica, a de Willem Doise. Essas abordagens ou correntes são
compatíveis entre si, pois provém de uma mesma matriz básica. Nas três matrizes teóricas
encontramos muito mais convergências do que divergências, o que para nós neste estudo
possibilita uma união entre a primeira e a segunda correntes aqui citadas.
1
. [...] As representações sociais devem ser vistas como uma maneira específica de compreender e comunicar o
que já sabemos. Elas ocupam uma situação curiosa entre os conceitos e as percepções... Iguala toda imagem a
uma idéia e toda idéia a uma imagem (MOSCOVICI, 2004, P. 46)
19
Para utilizar a freqüência dos dados no texto, nos apoiamos em Eco (2005,
p. 76):
Como provar uma conjetura sobre a mensagem do texto (intentio operis)? A única
forma é checá-la com o texto enquanto um todo coerente... Qualquer interpretação
feita de uma certa forma poderá ser aceita se for confirmada por outra parte do
mesmo texto, e deverá ser rejeitada se a contradisser. Neste sentido a coerência
interna do texto domina os impulsos do leitor, de outro modo incontroláveis.
O Primeiro passo...
O local escolhido foi a Rede em que trabalho exatamente pelo fato de poder
de alguma forma, junto com a contribuição dos colegas, encontrar novas formas de olhar para
os nossos problemas cotidianos de formação na escola, o papel da ciência como produtora de
conhecimento para o bem da sociedade.
Nossa pesquisa foi realizada com uma amostragem, tendo em vista num
primeiro momento, a disponibilidade dos profissionais em participar (questionário) e
posteriormente (entrevista semi-estruturada), com uma amostragem menor, garantida a
2
. Zona muda é um subconjunto específico de cognições ou de crenças que mesmo sendo disponíveis não são
expressadas pelo sujeito nas condições normais de produção e que se elas forem expressas podem questionar
os valores morais ou as normas valorizadas pelo grupo. (ABRIC, 2005, p. 25)
3
Triangulação de Técnicas - é o uso de várias técnicas para aprender a complexidade do objeto de estudo. Tem
por objetivo abranger a máxima amplitude na descrição, explicação e compreensão do foco de estudo.
(TRIVIÑOS, 1987).
21
O questionário
A Entrevista
23 a 32 anos
4 a 6 anos de experiência profissional 3 ( AMSS, CASG, NCD)
33 a 43 anos
7 a 9 anos de experiência profissional 4 ( SMG, ENA, DC e ALGM)
44 a 54 anos
4
. Os professores participantes da pesquisa foram identificados por suas iniciais.
23
menor, para observar se ocorrem discrepâncias. Não houve nenhum motivo para que a última
categoria ficasse com 4 sujeitos e as outras somente com 3 além das características dos
sujeitos que responderam o questionário.
O Grupo de Discussão...
em 2006 três escolas em locais onde a lista de espera por vagas é maior: Jardim Paraíso,
Jardim Humberto Salvador e Jardim Morada do Sol.
5
Carlos Alberto Torres (2001, P. 15/16) nos chama a atenção para essa questão: “[...] as teorias do
multiculturalismo, tão difundidas no campo educacional ao longo dos últimos vinte anos, surgiram como uma
resposta particular não apenas à constituição do tema pedagógico nas escolas, ou à interação entre os assuntos
pedagógicos e políticos nas sociedades democráticas, mas também como uma maneira de identificar a
importância de identidades múltiplas (e daí, narrativas, vozes e ações) em educação e cultura. Em resumo, as
teorias do multiculturalismo estão intimamente ligadas à política da cultura e da educação”.
27
Desta forma, o que chamamos de “crise”, não pode ser visto somente como
a não realização dos objetivos da escola, é mais do que isso; com essas mudanças a escola já
não sabe mais o que deve orientar suas ações, quais são as suas finalidades, não possui pontos
fixos, diretrizes; porém, precisamos reconhecer que a crise pode ser um ponto de partida para
a transformação.
[...] ser produtora de conhecimento, ter alto grau de autonomia, assumir funções
educativas mais amplas, promover, como papel a ser gradativamente assumido nas
políticas públicas e legitimando no imaginário social, a dinamização cultural, social
e eventualmente até econômica de seu entorno e por fim, compreender que o
processo de formação dos educandos é determinado tanto no plano coletivo como
individual por eles próprios, única perspectiva pedagógica coerente com a formação
de sujeitos.
ainda mais destaque devido à sua vinculação com os movimentos sociais organizados e suas
reivindicações tais como: as diretas-já e a promulgação da constituição de 1988.
educação nova6. Estes estudos estiveram marcados por muito tempo por uma perspectiva
burocrática e funcionalista como a das empresas7.
6
. Pioneiros da Escola Nova – grupo de intelectuais que liderou o movimento denominado Escolanovismo, termo
referente ao movimento de mudanças na Educação tradicional, enfatizava o uso de métodos ativos de ensino
aprendizagem e a democracia nas decisões escolares.
7
. Burocracia – é caracterizada por quatro idéias: quanto mais dividido for o trabalho mais eficiente é a
organização, respeito ao princípio da especialização, alto grau de centralização das decisões, a ênfase é a tarefa
e não a pessoa.
31
Acreditamos que uma escola mais eficiente no ato de ensinar deve ser
construída com o esforço de todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem:
alunos, pais, funcionários, professores, orientadores e direção.
Uma escola organizada pelos que nela atuam tem maior possibilidade de
estar adequada aos interesses de seus organizadores. Esse é o pressuposto da construção de
um Projeto Político-Pedagógico Coletivo que define a “cara” e os “rumos” da escola.
Cada professor exerce uma determinada função pessoal que se atualiza no espaço
privado da classe, na relação com seus alunos, mas há também um espaço público na
coletividade de trabalho e na escola. Essa coletividade comporta aspectos formais
(encontros, reuniões, participação em jornadas pedagógicas) e informais (conversas
na sala dos professores, troca de idéias ou de materiais pedagógicos). Os limites
entre os aspectos formais e informais nem sempre são claros e óbvios, pois a vida da
instituição repousa tanto sobre relações codificadas quanto sobre amizades,
conflitos pessoais, colaborações pontuais, intercâmbios imprevistos.
8
. Formação Centrada na escola – Vide Imbernón, (2005, p. 80/81).
33
Talvez um pouco de individualidade, muitas vezes o professor, você nota que muitos
são individualistas, não querem às vezes até compartilhar outras formas, algumas
vezes a pessoa até quer partilhar, quer falar, quer transmitir, e o professor às vezes
é visto, não pela orientação, pelo contrário, pela orientação ele sempre tem a
oportunidade de falar, de esclarecer. Mas muitas vezes perante aos professores
você acaba sendo tachado como aquele que sabe tudo, ou está bajulando alguma
outra pessoa, tem esse tipo de comportamento. Então às vezes você reflete sozinho
como professor, por que você quer abranger, mas você é visto como tomando lugar
de outra pessoa, ou sendo alguém que tem mais conhecimento, eu vejo mais por esse
lado. (A.L.G.M, p.5)
E ainda:
Uma coisa que eu fiquei muito chateada outro dia e eu nunca tinha parado para
pensar: eu ouvi uma pessoa dizendo, a HTPC é importante, mas dentro da sala de
aula ela faz o que ela quiser; é complicado né! eu analisei, que com uma resposta
dessa não tá fazendo diferença nenhuma, para essa pessoa a HTPC é tempo
perdido. (TQT, p.4)
O trabalho coletivo é visto como algo necessário na escola, porém ele não é
efetivado. Confrontando a fala dos professores e as idéias de Tardif (2005) podemos perceber
que existe um limite estabelecido pelos próprios professores, aberto para questionamentos e
para as mudanças propostas na formação: o limite é a porta da sala de aula.
Talvez o que para nós parece tão óbvio: o papel da formação é gerar
mudanças no sentido de melhorar a prática do professor e, por conseguinte a aprendizagem do
aluno - não seja tão claro para os professores. Como mudanças podem ocorrer se o professor
encara a sala de aula como um lugar sagrado onde ele é o senhor? Será esse um resquício da
formação recebida até então?
35
Em cada uma dessas fases o professor pode optar por três tipos de formação
(GARCIA, 1999: p. 19 e 20): a Autoformação, o indíviduo participa de forma independente e
tem controle sobre sua formação, a Inter-formação é um trabalho de formação coletivo que
ocorre através da partilha de conhecimentos entre os profissionais e a Heteroformação é a
formação que é organizada e se desenvolve a partir de fora, por especialistas. Os professores
durante sua vida profissional podem participar dos diferentes tipos de formação que se
complementam e enriquecem.
9
. Racionalidade Técnica: Segun el modelo de racionalidad técnica de Shön ( 1983, 1987) em el cual hemos sido
educados y siguen siendolo la mayoria de los professionales em general y de los docentes en particular, la
actividad del profissional es mais bien instrumental, dirigida a la solucion de problemas mediante la aplicacion
rigurosa de teorias y técnicas cientificas. No necesita acceder ao conocimiento cientifico, sino dominar las
rutinas de intervencion técnica que se derivan de aquél. (PEREZ-GOMEZ, 1995 p. 344)
38
isso, dizemos que o professor para atuar neste contexto deve ser compreendido como um
intelectual transformador.
Zeichner (1992, p. 3) define a ação reflexiva como uma ação que supõe uma
consideração ativa, persistente e cuidadosa de toda a crença e prática à luz dos fundamentos
que a sustentam e das conseqüências que as conduzem.
Porém, isso não é algo tão simples; somos frutos de um modelo de formação
baseado na racionalidade técnica, e passar de um modelo de formação como este, para um
modelo da ação reflexiva, não é algo tão simples, visto que envolve processos muito
profundos que podem estar associados ao saber experiencial estudado por Tardif (2002, p.
109-111) que é um saber heterogêneo, sincrético e plural, interativo, aberto, permeável que é
mobilizado e modelado no âmbito das interações entre o professor e os demais atores
educativos.
aprendizagem da profissão docente. Escola entendida aqui como um ambiente de vida, onde
os professores dividem um mundo comum e trocam experiências. O trabalho dos professores
é ancorado nesse mundo vivido pelo qual atribuem significados e sentidos, colaborando para a
construção de sua identidade profissional.
Gostaria de lembrar que no Estado de São Paulo, somente por volta de 1894,
foi criada a primeira Escola Normal, a Escola Normal da Praça, conhecida por nós como
Complexo Pedagógico Caetano de Campos, atualmente sede da Secretaria de Estado da
Educação.
40
Esta foi à primeira escola responsável pela formação inicial dos professores
primários, o que se deu somente há 112 anos, ou seja, no Brasil a preocupação com a
formação sistematizada de professores é algo relativamente novo.
10
. Disponível em // pt. wikipedia.org/wiki. Acesso em 28/11/2007 às 18h.
41
11
. Programa de Educação Pré-escolar
12
. Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (substituído
pelo FUNDEB).
46
Dos 35,8% (59 professores sendo que 1 deles possui 4 cursos de graduação)
que possuem outro curso de graduação, a maioria concluiu cursos de licenciatura
principalmente em Letras, Geografia e Educação Física, cursos esses realizados em
instituições de ensino superior de Presidente Prudente.
NCD aponta como tem se sentido em relação à imagem pública do docente, o que aponta o
por quê dessa decepção com o magistério:
160
140 Sim
120
100
Sim
Frequência
Não
80
60
40 Não
20
0
1ª Opção Mudaria de profissão?
Respostas
52
Anteriormente dissemos que uma de nossas hipóteses para que mais de 50%
dos professores pensem em mudar de profissão, apesar de a maioria ter optado pela mesma é
pelo fato de grande parte deles estar iniciando a vida profissional, em uma fase de insegurança
que é agravada pela dificuldade em lidar com a complexidade do ato educativo e talvez não
encontrar o apoio necessário para passar por este processo de forma mais tranqüila no seu
ambiente de trabalho e na formação recebida anteriormente, é o que destaca a professora
NCD.
Venho de uma família onde muitos são professores e a situação financeira na época
não dava outra opção. (Q 57)
Na época acreditava ser a arte de ensinar, a mais sublime das vocações. Também
tinha a ilusão de que, financeiramente falando, era possível sobreviver com o
salário da educação, já que habito um país capitalista e não posso me dar ao luxo
de trabalhar só por amor. (Q 168)
13
. Mal estar docente é uma doença contemporânea e internacional, surge do descompasso entre as novas
exigências e demandas colocadas pela sociedade a escola e conseqüentemente ao professor, gerando as
características desse mal estar. ( ESTEVE, 1999 p. 13)
53
[...] para dar sentido às suas opções profissionais, esses jovens constroem uma
representação sobre um compromisso que não espelha exatamente antigas idéias de
sacerdócio e missão profissional, aproxima-se da excessiva responsabilização por
parte da sociedade em geral, que tem visto na escola, e conseqüentemente no
professor, a alternativa segura para a educação de seus filhos.
Por causa da baixa valorização profissional, não só o salário, mas a atitude dos
pais e área técnica em relação aos professores. (Q 29)
54
Nunca pensei em mudar de profissão, pois amo o que faço e me realizo com a
oportunidade que Deus me deu. Gostaria só de ser melhor reconhecida, pois sem o
professor, o que será da nação? (...) um médico, um cientista tem valor e quem foi o
seu alicerce, “o professor”, que o incentivou, aguçou sua curiosidade, ensinou a
lutar pelo sonho. (Q 149)
Amo o que faço e procuro fazer da melhor maneira, mas já pensei muitas vezes em
mudar de profissão pelo descaso de nossos políticos, descaso emocional (falta de
interesse dos alunos e pais), entre outros motivos, inclusive para aumentar a renda.
(Q 51)
Logo que ingressei na rede achei que havia muita burocracia e pouca solução para
os problemas. Senti-me discriminada por ser iniciante, mas busquei pesquisar, me
interar, aprender, me doei de corpo e alma. Hoje estou convicta de que quero seguir
a carreira, me sinto capaz, ensinando e aprendendo. (Q 36)
Para Correia e Matos (2001, p. 34) existe uma crise de identidade do Estado:
A crise do “Estado Educador” tem sido, com efeito acompanhada pela revalorização
de um “Estado Avaliador” que, além de procurar regular a posteriori o sistema,
tende a individualizar responsabilidades num processo de omissão das suas próprias
responsabilidades e de imputação de culpas, numa lógica onde o exercício do direito
de julgar, por parte dos professores, tende a transformar-se num julgamento sobre
aquele que julgou. Finalmente os professores têm que partilhar com as estruturas
representativas dos pais o exercício do seu poder de disciplinação, permeabilizando,
assim, as regras de funcionamento do mundo escolar a lógica e racionalidade
provenientes do mundo não escolar.
mundo público onde é necessário pensar e falar o que é mais adequado tendo em vista os
desejos da sociedade, os princípios atuais.
Parece ser necessário analisar o trabalho que está sendo desenvolvido dentro
das instituições de ensino, no sentido de fortalecer as equipes de trabalho e por conseqüência
o trabalho coletivo dentro desses espaços com o intuito de repensar de forma ampla e
abrangente todas as mudanças que tem ocorrido no meio escolar e qual é a melhor forma de
agir. A realidade parece estar exacerbando o individualismo e isso tem agravado o sentimento
de solidão.
Moscovici (2004, p. 169) observa que grande parte das pessoas busca
explicações para os fenômenos do seu dia a dia e se perguntou: Por que as pessoas pensam
de formas não lógicas e não racionais?
E ainda...
14
. Segundo Moscovici ( 1978) numa representação social para toda figura há um sentido e para todo sentido
uma figura, sendo que a figura é o pólo passivo e a significação o pólo ativo.
57
Pela sua amplitude, esta teoria, apresenta segundo Jodelet (2001), três
particularidades marcantes: vitalidade, transversalidade e complexidade. Vitalidade no
sentido de autorizar interpretações múltiplas e de ser um campo de intensificação de
pesquisas em diferentes países. Transversalidade tendo em vista a multiplicidade de
relações com diversas disciplinas (estatuto transverso) e para finalizar complexidade por
sua posição mista na encruzilhada de muitos conceitos sociológicos e psicológicos.
Uma vez aceito tal paradigma, as imagens associadas a ele são facilmente
utilizadas em nosso cotidiano; surgem fórmulas e clichês que o sintetizam e imagens que se
60
acumulam ao seu redor. Ele não é utilizado somente na fala, mas passa a ser utilizado em
várias situações como forma de compreender outros e a si mesmo, de escolher e decidir.
“Os nomes, pois, que inventamos e criamos para dar forma abstrata a substâncias ou
fenômenos complexos, tornam-se a substância ou fenômeno e é isso que nós não paramos
de fazer... expressar primeiro a imagem e depois o conceito.” (MOSCOVICI, 2004, p. 77)
novas práticas, sua permanência e caráter irredutível provocam uma transformação direta e
completa do núcleo central e por conseqüência da representação.
Tal momento de formação é garantido por lei, tendo em vista toda uma
luta para sua conquista. Nosso papel aqui é visualizar o que tem sido feito deste momento
de formação e pensar em formas de potencializar esse espaço e as atividades nele
oferecidas com vistas à melhoria da aprendizagem dos alunos da rede municipal.
Para aqueles que APROVAM a HTPC, o fazem por que ela oferece:
Ah! Eu acho o seguinte a HTPC é um momento que nós fazemos muitas reflexões,
aqui no caso a Orientadora trabalha muitos textos; ela consegue textos, eu acho
que vocês conhecem, do que está pegando na escola, problemas que a gente
enfrenta na sala de aula; então todas as reuniões de HTPC têm sempre alguma
coisa nova para passar prá gente, que ajuda na nossa formação, né, continuada
com os alunos. Eu acho muito bom, de grande valia, por que nesse tempo a gente
discute, faz reflexões, cada um dá a sua opinião e no fim faz um apanhado geral;
eu acho que contribui bastante e também depois tem aquele momento da troca, a
gente com os colegas, trocando idéias, atividades, vendo o que deu certo para
um, para o outro, eu acho muito importante; se não fosse a HTPC, eu acho que
cada um tomando conta da sua parte, ficaria meio perdido, né. Tá certo que não
dá para englobar tudo, todo mundo fazendo a mesma coisa, tudo coordenado. Eu
espero que um dia a gente consiga fazer isso, mas acho que vai ter sempre
alguém que vai ter alguma coisa a mais e que vai ter tempo suficiente para
passar na HTPC, poder trocar idéias, atividades, ver o que deu certo e o que não
deu, e a Orientadora, Nossa Senhora, ajuda muito; qualquer dúvida que gente
tem a gente pergunta; é lógico que as coisas não vêm prontas, a gente tá sempre
procurando, buscando uma forma de melhorar, tanto na disciplina dentro da
sala de aula que é uma das coisas que mais pegam, mas eu acho muito
importante. ( D.C, p. 1)
A professora aponta a forma de organização da HTPC que envolve
momentos de leitura, reflexões e discussão de textos e um segundo momento onde ocorrem
as trocas de idéias e atividades (planejamento das aulas) com vistas à prática de sala de
aula. Ressalta no meio de sua fala a dificuldade desse momento de formação estar
articulado, “tudo coordenado”, o que nos leva a pensar que apesar das tentativas, nem todos
trabalham com vistas a objetivos comuns, o que ela espera que mude com o passar do
tempo.
Nossas HTPCs são assim: primeiro tudo o que vem da secretaria, depois tem o
nosso tempo, o tempo da gente e ai depois o tempo para planejar. É que essa
troca de idéias que eu falo para você, é, tem a troca de idéias relacionada com o
tema e depois a gente vai trocar; eu não falaria troca de experiência, mas troca
de idéias, é o momento que a gente vai planejar e eu digo, eu estou fazendo isso,
o que você tem? Ai a gente vai trocar, seria troca de atividades, de exercícios,
acho que é assim, por que troca de experiência é quando eu e você estamos
conversando: aconteceu isso, o que nós vamos fazer? Esse momento relacionado
com as dificuldades da gente, a gente troca dentro do tema estudado, ai eu vou
planejar, para mim [...], eu falo que é trocar atividade, que é o horário que eu
digo eu vou fazer isso, o que nós vamos fazer, preparar aula, a troca de
atividades, que eles falam que é troca de experiência, que eu não acho que seja
experiência; experiência é quando eu faço algo que dá certo dentro do tema que
eu estou trabalhando, agora eu fiz e deu certo, agora esse outro momento não é
troca de experiência, pra mim seria troca de atividades, troca de materiais, de
idéias para enriquecer a aula. ( SMG, p. 5)
69
E eu sou uma pessoa que discordo plenamente dessa coisa de hora de tempo
perdido, pois acho que é essencial que nesse momento, por exemplo, um
professor que trabalha com a mesma série possa trocar material, trabalhando
talvez os mesmos assuntos, dependendo claro da dificuldade de cada sala,
respeitando sempre isso; mas eu acredito muito que a troca de informações é a
coisa que faz a gente crescer e quando a gente fica só a gente preparando aula,
talvez nós professores não tenhamos as mesmas visões como conversando com
uma outra pessoa. E os meus orientadores, como eles estão direcionados, tem
mais tempo hábil para preparar, para buscar alguma coisa, eles sempre
estiveram dispostos a me ajudar, pelo menos até agora, foram duas pessoas que
me ajudaram muito, inclusive nesse momento eu tenho uma aluna cadeirante e eu
70
A atuação profissional dos professores deve ser objeto de reflexão nos espaços de
formação, a prática deve ser tematizada em seus múltiplos aspectos, num
processo de reflexão organizado e compartilhado, deve ser sistemático e
acontecer desde a formação inicial. É necessário garantir espaços e tempos na
rotina de trabalho da escola para análise de ações desenvolvidas, estudos, troca de
experiência, documentação do trabalho, discussão de observações, criação e
planejamento coletivo de propostas didáticas.
O que os professores apontam é que o ponto de partida das ações de
formação na HTPC são estudos, discussões, reflexões, trocas, a partir de um tema pré-
definido; porém, como apontam os Referenciais para a Formação de professores (2002)
isso não tem ligação direta com a prática se não for feito um elo. O que os dados podem
revelar é que precisamos inverter o foco, ou seja, partir da tematização da prática, ou seja, a
71
prática é o ponto de partida e a teoria, o estudo, as trocas são suporte para a adequação
dessa prática aos resultados de aprendizagem dos alunos.
Eu acho que como com a gente existem resistências; às vezes não conseguimos
olhar para o nosso trabalho, precisamos de um olhar de fora, temos os colegas
que apontam algumas coisas, a unidade escolar, os funcionários, os pais em
relação à aprendizagem dos alunos e isso nos dá condições de discutir sobre o
que está sendo feito, que assim você pode melhorar, iniciar uma reflexão. Até
para admitir que eu estou errada é difícil, essa prática de estar sempre tentando
olhar para as nossas atitudes é que pode nos ajudar a melhorar algo, quebrar
barreiras com o olhar do outro e modificar algo. (JÔ. Grupo de discussão com
orientadores)
72
Ah, eu acredito assim: tem que ter o momento pra você ler, pra você aprofundar,
discutir com seus colegas, ai no dia a dia, sobre as dúvidas, mesmo, aquilo que
você não sabe ou até você sabe, mas você ainda não aprofundou aquele tema. Eu
acho que tem que ter esse momento sim, a figura do orientador prá mim entra
nesse momento que às vezes na correria do dia a dia o professor não consegue
aprofundar; por exemplo, se você tem um aluno deficiente ou você tem um aluno
com dificuldade de aprendizagem por algum motivo você tem que propiciar
assim a atividades que vão de encontro a ele, mas você não aprofunda porque
muitas vezes você não tem uma visão global sobre o contexto; você tem vários
alunos e você não consegue dar atenção total àquela criança; então eu acho que
a figura do orientador deveria propiciar esse momento que você não consegue se
aprofundar em tal tema, então ele vai trazer material pra você discutir no
coletivo no caso deve ser um tema não individual, tem que ser um tema que
alcance todos os professores, temas gerais e conseguir trabalhar, teoricamente
mesmo com discussões o que cada um pensa, questionários, perguntas e também
momentos de dia a dia, chegar no profissional, no professor e deixar, permitir
que ele fale qual o problema que ele tem em sala , qual a sua dificuldade e partir
dessa dificuldade dele, para conseguir ajudar, não adianta nada chegar com
tema e não propiciar nada para esse professor, que ele tá precisando de
subsídio; tem os dois lados, o aprofundamento temático e tem aquela ajuda
diária que é necessária; ele precisa de um norte, de uma segunda opinião sobre
o seu trabalho; não que ele não saiba, ele pode com aquela opinião aprofundar
mais o trabalho dele. Eu acho que tem que ter a discussão de temas
contextualizados, atividades de planejamento diário, atividades práticas mesmo e
momento individual, o professor com ele mesmo e ele com os outros professores,
com certa autonomia, que se consiga esses três momentos: aprofundamento
teórico, atendimento individualizado com o especialista, no caso o orientador, e
outro momento ele, ele mesmo e os outros onde ele pode trocar atividades se ele
quiser, tirar dúvida, pedir opinião de alguém se ele quiser, ou planejando coisa
que ele não teve outro momento para planejar. O HTPC dá conta disso se for
bem organizado. (PGTM, p. 2)
Ah... eu acho que para a organização a pessoa tem que trazer o que é anseio dos
profissionais, o que tá gerando mais dificuldade no desenvolvimento no trabalho
74
da escola, e procurar encontrar tempo mesmo pessoal sei lá, que ajude a ter uma
idéia mais ampla, que chegue ao concreto, que às vezes a gente discute, fala,
fala, fala mas não chega a conclusão nenhuma, a prática é diferente. (DA, p. 3)
Esses momentos se tornaram muito importantes para os professores colocarem
para fora as suas angústias, suas dificuldades; nesse momento lá no nosso grupo,
é importante por que uns ajudam os outros; então há aquela troca, sugestões,
aquela divisão das angústias, das dificuldades, sem falar da questão da formação
continuada, da questão teórica que hoje mais que nunca, temos que buscar a
todo o momento, com a diversidade que está vindo por ai, a dificuldade do
professor atender as necessidades de cada aluno, eles tem sentido muitas
dificuldades com os alunos, por que muitas coisas novas estão surgindo; muitas
vezes os professores sentem-se despreparados e nessas reuniões ele tem o apoio
do grupo e da direção da escola e pra ele ajuda muito, ajuda à escola como um
todo, por que nesse momento discute-se o trabalho da escola, não só o trabalho
daquele professor, mas como a escola está caminhando, qual é a nossa
necessidade, qual a necessidade dos colegas. (MC. Grupo de discussão com
Orientadores)
Os professores demonstram através da sua fala a necessidade de discussão
e busca de alternativas para a resolução de problemas e dificuldades de sala de aula.
Apontam a HTPC como momento propício para esse fim, fazem considerações importantes
para este momento: o papel do orientador como especialista, que vai pesquisar e trazer a
solução, a escola (grupo de profissionais) como responsável pela resolução de problemas,
ou seja, o professor não está sozinho, tem um grupo para resolver esse problema, tendo em
vista inclusive que os professores formados estão despreparados para algumas situações.
A gente sabe que algumas coisas precisam ser modificadas para que consiga
atingir os seus objetivos, de ensinar, de formar cidadãos, para que todas as
pessoas tivessem essa oportunidade, mas em geral uma coisa específica não me
vem a cabeça; eu acho que é partir do professor que ele tenha um envolvimento,
ou melhor todos da escola em geral; acredito que a partir do momento que todas
as pessoas, os profissionais da escola estão envolvidos, tem esse foco que educar
é formar esse cidadão de verdade, vai haver uma transformação em relação à
educação que vai ser vitoriosa para que o país em geral possa atingir os níveis
que ele pode atingir.
Entrevistador: O que a gente poderia fazer para fortalecer isso, fortalecer o
grupo da escola, a rede de Prudente?
Professora: (silêncio) É difícil a gente definir uma coisa dessas. Eu tenho
percebido que nos momentos da escola, nos momentos que temos a coletividade,
os gestores tentam enfatizar isso, tentam despertar isso nas pessoas esclarecendo
para eles, para todas as pessoas, para o grupo em geral que nós estamos todos
fazendo educação; não só o professor em sala de aula que é o responsável por
educar os alunos em todos os sentidos, mas que a cozinheira, que a pessoa
responsável pela limpeza, também está envolvida com isso, a conscientização em
relação a isso dentro da escola precisa ser mais trabalhada, para que todos, o
porteiro, o secretário, a diretora, todos se vejam formadores de outras pessoas,
das crianças em geral. Eu acredito que a conscientização, se eu estivesse nesse
cargo talvez eu tentasse conscientizar os meus diretores disso, para que eles
pudessem levar isso para dentro da escola, essa idéia de que todo mundo
envolvido, de verdade, pode fazer com que essa criança seja um adulto
responsável também, um cidadão mesmo, acho que a conscientização seria algo
que eu trabalharia. ( TQT, p. 8)
Todos nós fazemos Educação, o que nos leva a pensar: estou fazendo a
minha parte? Alguns, como forma de eximir-se de sua parcela de contribuição buscam
culpabilizar os outros, ao invés de fazer algo para modificar a realidade atual, outros,
76
A Organização é inadequada
Eu acho que ele tá organizado de uma forma ruim para o professor. Eu não sei
se é loucura o que eu vou dizer mais eu acho que é valido, é uma idéia, eu acho
que quatro horas condensadas como estão elas são erradas na forma como estão
distribuídas; seria melhor para o professor se ele tivesse uma hora de
planejamento após a aula, por exemplo, ele acabou de deixar os alunos, ele
tivesse uma hora de trabalho remunerada, que ele pudesse sentar e fazer um
relatório do dia, o registro de cada criança como foi naquele dia, para o
profissional isso é ótimo, você consegue ter um retorno de como está a criança, o
desenvolvimento da criança eu acredito que isso poderia ser convertido em
HTPC e não só condensar 4 horas em um dia só, que todo mundo, nem sempre é
aproveitado da melhor forma. Não estou dizendo que não vai ocorrer esse
momento coletivo, acho que tem que ter; inclusive pode até aumentar as horas
para mim, acredito que todo o profissional deveria ser pago para trabalhar mais
uma hora e fazer esse relatório diário do desenvolvimento da criança, fazer uma
coisa bem organizada, avaliar todo o processo, será que essa atividade deu
certo? Acho que não vai dar, amanhã vou ter que dar outra, o profissional
precisa ter essa hora; após deixar as crianças ele vai sentar, ele vai pensar no
dia e vai avaliar o trabalho, ele vai dar uma flexibilidade, vai direcionar a sua
prática de acordo com o desenvolvimento da criança. Em outro momento, outro
dia, condensar duas horas, pensar no número de horas, o momento coletivo, ai o
78
professor vai ter o que mostrar, por que o professor consegue todo dia sentar e
olhar para o desenvolvimento da criança, e ai ele vai ter o que falar no HTPC,
ele vai chegar lá com várias coisas para propor, mostrar e perguntar: o que tá
acontecendo, eu não sei por que está acontecendo isso? Eu acho que seria muito
mais válido um momento individual, o professor com ele mesmo, remunerado
para que ele sente e organize e fiscalizar também quem esta trabalhando e quem
não está; orientador deveria ser essa figura, quem está na sala de aula está
fazendo essa reflexão em sala de aula ou não. Eu acho que tem que ter um
controle, uma fiscalização mais bem feita, e ter esses dois momentos; eu acredito
que se o profissional tiver tempo para sentar e melhorar a sua prática muitos
problemas seriam evitados. (PGTM, p. 6)
Em primeiro lugar é como eu disse, eu acho que poderia ter aquela escolha, se
eu não posso fazer hoje, não ficar com falta, né. Por que quem gosta do trabalho,
por que em toda a profissão tem quem gosta e quem faz por dinheiro, quem gosta
do trabalho, a HTP começa cedinho, igual eu tô em casa fazendo, a noite, tá
vendo a mesa como é, não fico esperando a HTPC para poder fazer um trabalho,
pesquisar coisas para as crianças. O ano passado quando nós escolhemos a sala,
no dia seguinte já tinha coisas de primeira e segunda série aqui em cima da
mesa, para organizar... Então, tem aqueles professores assim, mas tem os
professores mais sossegados que fazem só na HTPC, então para ela ficar mais
interessante, leitura tem que ter, recados tem que ter, não tem como ficar sem
recado, mas que sejam rápidos para a gente poder começar a fazer esse trabalho
de troca, por que esse horário é gostoso, sabe, quando tá trocando, sabe quando
a gente tá trabalhando, fazendo stencil, olhando o livro que o outro trouxe, o
xerox, como vai ser, como vai fazer, esse tempo é gostoso, corrigir provas; às
vezes não dá tempo de corrigir em casa, eu por exemplo tenho primeira série, a
partir do mês que vem eu vou ter o trabalho de produção e é uma boa hora por
que produção, você tem que ver item por item, como a criança está já vai ser
pelo menos uma hora da HTP para eu ver essa produções, eu olho em casa, olho
em HTPC, por que na sala de aula não dá tempo para olhar e ver esses detalhes,
não dá. (NE, p. 3 /4)
As professoras PGTM e NE falam da necessidade da organização da
HTPC contemplar, momentos para a avaliação do desenvolvimento dos alunos, o que cada
um tem aprendido, correção de atividades e depois a garantia de um momento coletivo para
a discussão com o grupo de quais os avanços e dificuldades tendo em vista a aprendizagem
dos alunos.
Ela é fundamental, não tem como não ter, é o momento que a gente tem para
conversar, ver o que tá acontecendo na U.E, problemas de um professor; às
vezes a experiência de um serve para o outro, a HTPC é fundamental, mas
precisa rever a maneira que vem acontecendo. (AM, p. 4)
Os professores e orientadores falam do quanto é cansativo ficar o dia todo
na escola e que o fato de não verem resultados palpáveis, mudanças os leva ao desânimo e a
questionar o papel desse momento de formação.
Olha, veja bem, eu acho que o fato de você ficar quatro horas em um período,
numa escola, você entra oito horas, vai até meio dia e tem quinze minutos para
engolir alguma coisa, depois para dar aula você já entra cansada, ou então você
dá aula o dia inteiro e vai fazer a HTPC mais quatro horas, você fica
extremamente cansada também, é desgastante essa questão de ser quatro horas,
até hoje eu não consigo entender por que aqui é 4 horas, no estado é duas horas
e na LDB é duas horas, na LDB parece que é isso que fala, o mínimo de duas
horas, capítulo 9. Então, ai você falou da organização, você vê muita coisa que é
sempre repetitivo e às vezes você não vê resultado, você lê sempre sobre
inclusão, lê sempre sobre criança com déficit de atenção, né; e outra coisa, nós
não vemos resultado. Para encaminhar a criança é um ano, e ai fala, agora tudo
é TDHA, tudo é... Então fica difícil, você tem muitas teorias e não vê resultado,
80
você encaminha demora, às vezes a criança não é mais sua, às vezes, daí dois ou
três anos que ela vai, está na quarta série e está saindo. (CR, p. 1)
Eu acho que provavelmente, o tempo da H T P C, não esteja sendo de fato
direcionado,né (LO), ou então se há o direcionamento, a pessoa não tem
interesse (CZ, LO), não da importância, ou a gente não esta fazendo de forma
que esteja contemplando a necessidade da pessoa, pode acontecer, sim, ou não
tem interesse ( MA, CZ e LO) (Todos falando juntos, dando sua opinião). (Grupo
de discussão com Orientadores)
Apesar de no item anterior ressaltarem a importância da HTPC, mesmo os
que aprovam esse momento de formação revelam sutilmente problemas na sua forma de
organização: é necessário rever como vêm ocorrendo...
Há pouco tempo para planejar e as atividades não estão ligadas diretamente à prática.
Como apontado na categoria anterior, há uma grande preocupação com as
ações da prática e isso deve ser levado em conta, não numa perspectiva instrumental
somente, mas sim numa perspectiva política de abertura para a mudança e a transformação.
Acredito que por ter passado em várias escolas, cada ano em uma por ainda não
ter sede, cada ano em uma, eu vejo que as orientadoras não propiciam momentos
teóricos que sejam significativos para o profissional. Por exemplo, até
aprofundam teoricamente temas, porém temas que não são naquele momento,
significativos para os profissionais e acabam causando desinteresse, as pessoas
acabam fazendo aquelas atividades propostas pela orientação, mas não usam no
seu dia a dia por que não vai de encontro com aquilo que é necessário. Algumas
orientadoras conseguem fazer isso muito bem, porque partem da realidade,
partem da necessidade do professor, daquilo que o professor e trazem aquele
conteúdo para aprofundar mais a formação desse professor; outras não, outras
já partem daquilo que elas acham que é necessário; então esse ponto é o que prá
mim, que é o que mais atrapalha pra um bom desenvolvimento da HTPC.
(PGTM, p. 1)
O que é importante é isso ai, a gente ter um espaço para a gente, ter discussão de
textos, reflexões e ter espaço para a gente também para a prática de sala de
aula. Isso geralmente ocorre aqui uma vez ou outra, que tem um monte de
informação para ser passada, mas geralmente acontece. Eu acho que a HTPC é
isso. (DA, p. 7)
Depois que a Orientadora nova entrou, ela traz coisas novas, boas que a gente
quer. Ela perguntou, por exemplo, quais os temas que vocês gostariam de
discutir na HTPC? Ai nós falamos, e ela sempre traz um dos temas, depois ela
introduz o que ela tem, então não dá para sentir aquela coisa chata, aquele
marasmo, né. Ihh,, tem ficado menos tempo para a gente fazer trabalhos, mas ai
quando faz as professoras são duas, três de cada série; então cada uma faz uma
coisa e ai tem essa troca que eu estou falando, eu rodo para as duas, as outras
duas rodam para mim e ai não fica tanto trabalho, tanto peso. Então, por que era
82
muito chato mesmo, os horários, às vezes a gente ficava discutindo coisa que não
era interessante, a gente não gostava, sei lá, era só aquele sacrifício mesmo,
muita má vontade...
Entrevistador: Má vontade por parte de quem?
Professora: Má vontade por parte dos professores (gaguejou) por que não tinha
interesse, o assunto não era legal, não era coisa interessante, não havia troca,
entendeu? Agora não, tem troca,tá até gostoso, até o vídeo que passa, estão bons,
é. (NE, p. 1)
NE, DA e PGTM ressaltam que uma HTPC que gira em torno somente de
informações não é significativa e não desperta o interesse dos profissionais. Para elas
podem ocorrer momentos de leitura e discussão, mas eles precisam ter significado, ter
ligação direta e clara com os problemas da prática pedagógica, o como fazer melhor.
Chega lá e é duas horas para ela e duas horas prá gente e acaba não dando
tempo de fazer tudo, a gente gostaria de mais tempo; é 4 horas mas não dá tempo
de fazer tudo, por que as vezes você fala, o momento em que eu sento com o meu
colega para pensar o que vamos fazer na semana, alguma dúvida e às vezes não
dá tempo, por que o que ela tem que abordar toma muito tempo da HTPC, a
maioria das pessoas reclama que devia ter mais tempo pra gente, parar um
pouco de tanta burocracia, a gente sabe que é obrigatório, tem que ter, as
pessoas reclamam muito disso, ter que preencher muita coisa, ficar discutindo,
discutindo. Eu acho que ela também, a gente gostaria de discutir isso, mais tem
muita coisa que vem pronta e tem que passar pronta. ( DC, p. 3)
Eu acredito que quem faz faculdade e tem esse contato com textos não é muito
difícil; para alguns professores que estudaram a algum tempo, eles acreditam
talvez que tenham uma carga, já, já saiba muita coisa e não é necessário ficar
estudando, sempre lendo texto; para eles isso parece muito maçante; às vezes, o
que eu ouço de reclamação em relação a HTPC é de algum texto, algum
momento de estudo que exige interação, momento de leitura que o texto exija um
pouco mais, por que ai na verdade alguns professores e eu também em alguns
momentos, gostaria de estar preparando aulas, ter essa troca mais interpessoal,
mais do que em relação ao texto, eu acho fundamental essa questão do estudo
por que a partir disso o OP vai percebendo como cada professor pensa, no que
acredita, a sua postura e esses são subsídios que vão ajudar o OP, até para
trazer materiais diferenciados e algo que precise. ( TQT, p. 2)
Eu acho muito importante a HTPC, às vezes me angustia também um pouco pelo
fato de muitas vezes o espaço da HTPC não é aproveitado o suficiente, e às vezes
a gente ainda chega em casa como professora e ainda tem que planejar a aula do
outro dia, e fica assim, é muito angustiante, o professor fica parte do período
inteiro na escola e chega em casa e ainda vai ter que fazer o planejamento da
outra aula; mas na minha escola ultimamente tá sendo bem legal, a orientadora
tem colocado um espaço para o estudo e depois ela dá um espaço para o
planejamento. ( EM, p. 1)
Por sua vez, EM, TQT e DC apontam a divisão inadequada do tempo para
ler, passar os recados e planejar. Falam também da resistência dos profissionais para o
estudo.
83
É muito importante, mas eu acho que mal administrado. O professor não tem
tempo, nem o conhecimento necessário, tem escola que tem computador e o
professor não pode usar, ou por que ele não sabe ou por que está fechado, fica
trancado. Eu acho que a HTPC deveria ser para isso: para dirigir alguns cursos,
para instruir, oficinas para a confecção de pipas, sabe! Nós tínhamos uma
estagiária lá na escola excelente e ela fazia umas pipas chinesas que eu nunca vi
igual e não deu tempo de ela me dar uma aula; mas então eu acho assim é bom o
teórico, faz parte, mas essa outra parte tá sendo excluída de uma formação
continuada, assim, em serviço, na era da informática, em outra área, onde o
professor tem mais dificuldade, na educação física. Agora a gente tem professor,
mais acho que nem todas tem ainda. É isso, abranger outras coisas... Tem muita
teoria, eu acho que você tem que ver a teoria sim, mas de repente, ter oficina sim
para dizer como você pode trabalhar com a hiperatividade usando dobradura,
como você pode acalmar essa criança usando um jogo de computador, fazendo
atividades no computador e não é dizer que eu na tenho dificuldade. Eu tenho
sim, mas é por isso. Às vezes fica ali naquela HTPC maçante, sempre a mesma
coisa e poderia até enriquecer, não precisaria ser toda a semana, mas variar,
uma vez por mês. ( CR, p. 1)
Eu acho que o professor deveria ter uma hora antes das aulas para o professor
planejar a sua aula. Mas eu acho que não será viável, por que nem todos os
professores iriam aproveitar esse momento. Eu digo isso por que quando nós
tivemos a nossa HTP, que era uma hora reduzida da EJA, nós tínhamos esse
horário, uma hora antes para você planejar, para você pegar o seu aluno e ele
vir mais cedo e você fazer questionamentos, tirar dúvidas do seu aluno; então,
esse tempo era importante, era bom, todos falam. Você podia naquele tempo,
uma hora antes da aula para você ver direitinho o que iria aplicar na sala de
aula, foi muito bom esse período, mas no fundamental ainda não teve essa
oportunidade, pelo menos não passou por mim ainda. ( AL, p. 6)
Os orientadores por sua vez apontam uma preocupação com o fato de os
professores buscarem e valorizarem a prática como objeto de reflexão nos momentos de
formação, o que talvez seja fruto da formação que estão recebendo, teoria e prática são
importantes; como podemos aglutiná-las? O fato de desejarem a prática é somente fruto de
uma perspectiva instrumental e utilitarista ou revela a necessidade de mudanças na forma
de condução das práticas de formação?
Para mim as duas coisas: queremos algo que nos sirva cotidianamente,
porém as práticas de formação têm deixado para o professor a tarefa de utilizar a teoria na
prática o que sabemos que não é fácil, não poderíamos então tomar como ponto de partida
situações cotidianas, práticas e utilizar a teoria como fonte de novas formas de atuação?
A troca para os professores, por mais que eles falem mal desse espaço de
formação, eles denunciam que precisam se formar e pedem coisas diferentes,
84
oficinas, etc... Eu fico com muito medo, pela necessidade que eles têm de
trabalhar muito com a prática em si, eu vejo a troca nesse sentido. O que você tá
fazendo de diferente em relação ao tema Natal? Essa é a necessidade deles, eles
não dão muito valor à parte de estudo, embora a gente fale da importância, eles
priorizam muito no HTPC a prática, a troca de experiência, de atividade, as
oficinas, o que eu posso fazer com o meu aluno, eles pedem tudo isso... ( MA, CZ
e LO concordam e reforçam). (VI. Grupo de discussão com os Orientadores)
Para os professores a questão primordial é o lugar que a prática assume na
formação de professores; os orientadores apontam para a necessidade de ampliar a forma de
pensar a HTPC, não reduzindo o professor a um mero executor de atividades, mas um
sujeito pensante, e nesse contexto a teoria, apesar de não ser valorizada, assume papel
importante.
Precisamos analisar e repensar o tempo que tem sido destinado a cada uma
dessas atividades durante a HTPC.
85
Acho que essa questão da autoridade pesa muito, a rigidez pesa muito ainda; a
burocracia das leis, se prender muito a papéis, não ver o lado humano, não olhar
para o ser humano, o aluno, não lutar por um ideal maior. Vamos imaginar que
existe uma lei que está ultrapassada e que ela pode ser repensada para o aluno
melhorar em sala de aula, as pessoas brecam a lei e não fazem nada, não lutam
para mudar a lei para favorecer a criança; elas preferem se calar para não ter
trabalho. Eu vejo um certo desânimo nas pessoas, nas autoridades, nos diretores,
vejo isso, não sei se desanimados pela carreira em si que perdeu muito, a gente
já sabe por estudos, mas acredito que o desânimo e a falta de vontade de mudar
é um ponto muito sério, muito grave. ( PGTM, p. 4)
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aprendam dentro da perspectiva de qualidade apontada por Libâneo (2001) no Capítulo dois
deste trabalho.
Acho que muitos dos que conheço não são apaixonados pelo que fazem, não
gostam do que fazem. Acredito que isso dificulta o trabalho; quando a pessoa
não gosta do que faz, não tem um ideal, não vê naquela profissão um ideal de
vida, ela dificulta o trabalho daqueles que amam, que querem que dê certo o
ensino de verdade. Acho também, na visão que eu tenho, que as pessoas são
muito rígidas, não tem flexibilidade, passam por cima de profissionais que
podem colaborar e não utilizam essa ajuda, pelo contrário, passam por cima,
achando, com certa prepotência, acreditam que sabem muito e não escutam os
profissionais que podem contribuir muito; podem não, com certeza,
contribuiriam muito mais. (PGTM, p. 4)
O fator tempo de experiência também parece intervir; os professores
mais novos na profissão ressaltam que seus colegas colocam o seu tempo no magistério
como fator determinante para uma certa abstenção em relação aos estudos realizados na
HTPC: dentro da sala de aula eu faço o que quero e acredito, conto com a minha
experiência.
Muitas vezes o professor, eu não digo ainda por que faz pouco tempo que eu
estou, e acredito que nunca direi por que na minha concepção eu acho que por
mais que você tenha muitos anos de trabalho você nunca está perfeito. A gente
tem sempre que estar buscando melhorar, por que as coisas mudam, as crianças
mudam, elas precisam de outras coisas. Eu acredito que implique por alguns
professores tem a concepção de que está formado e tem vinte, dez anos de
carreira e eu sei trabalhar na minha sala de aula, e talvez eu não precise desse
tipo de estudo, por que às vezes a gente ouve: eu estou estudando um texto e ele
não me dá respostas, a questão das receitas e receitas a gente nunca tem. Uma
coisa que eu fiquei muito chateada outro dia e eu nunca tinha parado para
pensar, eu ouvi uma pessoa dizendo, a HTPC é importante, mas dentro da sala
de aula ela faz o que ela quiser. É complicado né? Eu analisei: que com uma
resposta dessa não tá fazendo diferença nenhuma, para essa pessoa a HTPC é
tempo perdido.
Entrevistador: Mas, por que você acha que ela disse isso?
88
Professora: Eu acho complicado eu saber, porém, acho que é cansaço não sei,
cansaço no sentido de ter certa bagagem, experiência. Eu não acho que ela seja
prepotente, mas ela já tem uma idéia concretizada que do jeito que está tá bom,
do jeito que eu estou trabalhando a anos está dando certo e dessa maneira eu
continuarei o meu caminho e isso interfere na aprendizagem das crianças. E por
exemplo quando chega com uma proposta que não é tão nova assim, que se tem
estudo e que comprova que tem outros caminhos para chegar, às vezes a pessoa
está naquele mundo e ela não consegue, é difícil para ela, e ela não consegue
enxergar, que talvez, talvez, ela mudando um pouco da metodologia dela vai
ajudar para as crianças aprenderem. São coisas assim, não sei o que representa,
o que isso implica em sala de aula. Eu tento reavaliar as minhas posições, para
mim a HTPC é muito importante quando segue os objetivos dela, quando ela
consegue atingir no caso essa questão de estar passando, esse estudo, essa troca
ela é muito válida. ( TQT, p. 4)
Os orientadores também reforçam a questão do tempo de experiência e o
quanto isso interfere inclusive na forma de tratamento do professor com o orientador
quando este é mais novo. Falam também que os professores querem soluções e mudanças
imediatas o que geralmente não ocorre, pois lidamos com a aprendizagem de seres
humanos que tem vontade própria.
(AC) Nem todos pensam da mesma forma; tem gente que tem muita dificuldade
em trabalhar coletivamente, de se abrir, de saber dividir com os outros os
problemas da unidade, que o problema de uma sala não é só meu, mas do grupo,
tem gente que quer ficar no seu mundo, e a HTPC... (CZ) E ele não quer mudar a
prática, por que ele não quer mudar, alguém acaba sugerindo algo e ele não
quer mudar, não quer que ninguém incomode ele. ( JO) É importante falar que o
professor leva um problema com uma criança e ele quer uma solução imediata e
nós trazemos algumas alternativas; como ele não vê grandes mudanças da
criança na sala ele acha que o tempo é perdido, lá não se resolve nada. (CZ) No
momento ele quer ser muito radical, é isso, é aquilo, e nós não podemos fazer
isso. Ele usa a HTPC como tempo perdido como um desabafo dele. (MA) Eu ouvi
alguma coisa de alguém aqui que disse que o professor acha que sabe tudo e que
a pessoa que está como orientador nesse momento, sabe menos que ele, então
acha que tá perdendo tempo, isso acontece sim. Agora eu ouvi algo hoje aqui que
eu senti na pele também o que você sentiu. Você disse que não participei de
nenhuma HTPC como eu esperava que fosse...(AC) E até nem acontecia,
acabava nem acontecendo, onde eu trabalhei. ( MA) Então é assim: existem os
dois lados; existem aqueles que acham que já sabem tudo e não é bem assim, nós
precisamos constantemente estar estudando e de outro lado nós também
sabemos que existe a falta de organização, a falta de você ir realmente ao
encontro da necessidade do grupo, o que ele espera, nosso compromisso é
grande e a nossa responsabilidade maior ainda. Então, nós temos que ir de
encontro com o que o grupo quer, atingir nosso objetivo e isso é complicado (VI)
Tempo perdido eu vejo como uma insatisfação com a própria profissão e não vê
esse espaço de formação como crescimento; mas muitas pessoas se queixa: Ah!
De novo, tem que fazer, tô cansado, a gente sente uma angústia, um menosprezo
pela própria profissão, e como esse espaço para o HTPC é para o crescimento
ele desconsidera, pra que eu quero? Eu não acredito mais em Educação. Mais
89
pra que eu quero. Não é? (CZ) É verdade. (VI) Os professores não vêem esse
espaço como extensão, de continuação da formação, advém daí essa insatisfação
com a profissão, a desvalorização, é uma somativa: salário, quadro do
magistério, enfim... (AC) a sala de aula, ( VI) o próprio sistema não valoriza, a
sala de aula, é uma somatização que faz com que ele ( o professor) se deprima
com a profissão e não vê esse espaço de formação como algo que venha
contribuir. (Grupo de discussão com Orientadores)
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas no cotidiano escolar, de toda a
desvalorização e descrédito precisamos pensar em formas de modificar esse quadro e
estimular nossos profissionais, pois de acordo com as contribuições de Fusari ( 2004, p.
23), o sucesso da formação contínua na escola e fora dela dependem das condições
objetivas de trabalho oferecidas aos professores, mas também da atitude desses
profissionais diante do seu desenvolvimento profissional. Cada educador é responsável pelo
seu desenvolvimento pessoal e profissional, por escolher que caminho irá trilhar. Não há
política de formação que consiga aperfeiçoar um professor que não quer crescer e não vê
valor nesses momentos.
Isso não é dito claramente, pois está em uma zona muda (ABRIC, 2005),
ou seja, por representar uma conquista dos professores, por estar definido em uma lei e por
carregar consigo o preceito de que o professor tem que aprender continuamente, isso não
pode ser dito abertamente.
Ah! Eu acho que assim, mas solução para os nossos problemas, não sei se é
possível? Por que a gente levanta problemas na HTPC e às vezes não tem tanto
respostas, às vezes mesmo que a Orientadora pesquise, vá atrás, por exemplo,
um trabalho com aluno especial, sobre indisciplina, como trabalhar na sala de
aula, vamos trabalhar assim... Tem temas que a gente discute e têm outros que
não trabalha e que nós não temos retorno. (DCS, p. 5)
Percebemos então um enorme conflito criado com a instituição da HTPC;
apesar de ter sido uma conquista histórica da categoria profissional, a sua concepção e
formas de organização esbarram em idéias muito arraigadas no inconsciente coletivo dos
professores sobre o que seja formação.
Pedagógico, pois, deve agir como o professor do curso de formação inicial (curso de
Magistério e ou faculdade) - o ponto de partida é sempre um texto, a teoria.
A HTPC só seria necessária uma vez por mês, por que as aulas e
atividades são preparadas e rodadas em casa; até cadernos para as
crianças com dificuldade. (Q. 87)
Associada às características da formação inicial – momento marcado por
um contexto individualista e autoritário - as representações sociais sobre HTPC são
construídas a partir de elementos da história de vida, crenças e valores dos indivíduos, pois
este tem que obter respostas urgentes e imediatas, tomar posições frente a um determinado
objeto. É esse o ciclo das representações sociais.
Na troca o que precisa ser feito é feito ali mesmo, naquele momento; a
reflexão exige algo mais profundo...
Algumas considerações
A HTPC, um momento de formação na escola, é caracterizada de forma
difusa e sem objetividade no discurso dos professores e orientadores, através dos fatos que
interferem na sua realização; em contrapartida, suas atitudes revelam o que pensam.
O que podemos fazer para mudar esse contexto? Lopes (2004, p. 146)
ajuda-nos a pensar sobre isso:
O Orientador Pedagógico
O Professor
A Organização da HTPC
Concluindo...
Espero com este estudo ter contribuído com a reflexão sobre os fatores
que tem dificultado a consolidação da HTPC com vistas à formação do professor
crítico/reflexivo através dos aportes teórico-metodológicos das representações sociais.
Ressalto que, tendo em vista que o conhecimento não é algo estático e renova-se
constantemente, é necessário manter a posição do porqueiro de Agamenon15, sempre
buscando novos conhecimentos, inquietando-se com as situações cotidianas...
Ele sabe que sempre vai ser vencido na luta pela verdade e na luta pelos porcos.
Mas no fundo do seu coração continua batendo a dignidade desse irrecuperável
”não me convence” como a única coisa que pode opor ao tirano. O porqueiro não
tem uma verdade distinta da verdade do tirano. O porqueiro sabe que está de
antemão vencido pela verdade do poder. O porqueiro sabe que a verdade do
poder é a única verdade e a verdade verdadeira. Mas conserva, ao menos, a
secreta dignidade de não deixar se convencer pelo poder da verdade. (
LARROSA, 2004, p. 151)
O que o ponto de vista do porqueiro nos ensina é caráter de precariedade
da verdade; a verdade não é a única verdade, mas uma das formas de ver o fato, de dar
conta do problema.
15
. Título do Capítulo 7 do livro Pedagogia Profana de Larrosa, p. 149 a 166.
102
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108
ANEXO 1
QUESTIONÁRIO- PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL
ESCOLA:_______________________________________________________________
DATA:___/___/_____
ANEXO 2
TRAJETÓRIA DA PESQUISADORA
- O QUE PENSA SOBRE A HTPC? POR QUE PARECE QUE PELA FALA DE
OUTRAS PESSOAS ELA NÃO TEM CUMPRIDO O SEU OBJETIVO?
- ORGANIZAÇÃO DA HTPC?
- GESTÃO DA HTPC?
ABRIR PARA O QUE O ENTREVISTADO QUISER FALAR/ MUDANÇAS.
AGRADECIMENTOS
113
ANEXO 3