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Andréia Las
A criação da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) em 1973, que já iniciou suas atividades
implantando o Centro de Criatividade de Curitiba (CCC), deu impulso a momentos de
efervescência cultural na cidade, que buscava acompanhar os acontecimentos nos cenários
brasileiro e internacional. Entre as variadas manifestações artísticas que sediava e as diversas
práticas que o CCC oferecia à população, um ateliê de gravura orientado por Fernando
Calderari e Elvo Benito Damo recebeu a doação de prensas e pedras calcáreas para litografia,
da Impressora Paranaense. Ali passaram a funcionar também atividades cm serigrafia,
xilogravura e gravura em metal. O interesse e esforço de muitos artistas, orientadores e
frequentadores deu origem à primeira Mostra Anual de Gravura, em 1978, e também ao
primeiro seminário da Gravura, com envolvimento dos setores ligados às artes plásticas do
MEC, realizados no CCC com a adesão de importantes artistas gravadores brasileiros. Nesse
seminário foi discutida a necessidade de se preservar a memória das manifestações artísticas
brasileiras ligadas à gravura. A segunda Mostra, em 1979, ainda aconteceu no CCC, com a
colaboração da INAP, da FUNARTE e do MEC. Nessa ocasião, a Fundação Cultural encampou a
continuidade das Mostras e a criação do Museu da Gravura Cidade de Curitiba (MGCC).
Em finais dos anos 1980, quando ainda era muito forte no país a famosa “retomada da
pintura”, em Curitiba aconteciam as Mostras de Gravura, que foram projetando-se e tornando-
se eventos internacionais. Essas Mostras foram idealizadas por artistas residentes em Curitiba,
que tiveram respaldo político (fim da página 32) suficiente para implantá-las e mantê-las por
algumas edições. Quando esses artistas se afastaram, houve interesse institucional em dar-lhes
continuidade, pois haviam se tornado eventos muito importantes e conquistado visibilidade
nacional. A certa altura, as Mostras ultrapassaram o Salão Paranaense em importância, como
evento, em número e projeção dos artistas brasileiros apresentados e na relevância das obras
exibidas. Na época em que surgiram, Curitiba nunca havia realizado qualquer evento daquela
magnitude, formato ou enfoque. Elas foram se multiplicando e se aprimorando ao longo de
muitas edições, e as Mostras internacionais, com curadorias potentes, as tornaram muito
importantes.
O que lhes conferiu real importância foi o fato de haverem deixado de se ocupar com
virtuosismos espremidos de especificidades técnicas para instaurar verdadeiras discussões
sobre arte, focando possibilidades de atualização do papel que caberia à gravura, no panorama
da arte contemporânea. (página 33)
Ana González
Findas as mostras, recaiu sobre os orientadores dos ateliês, ditada pela instituição e também
pela cidade, a “responsabilidade” sobre a debandada de frequentadores, fácil e
superficialmente justificada pelas idiossincrasias e fragilidades que foram surgindo, ou se
tornando mais visíveis, no ambiente dos ateliês. Isso acabou gerando um círculo vicioso que
demandava muito esforço e persistência, por parte dos orientadores, e alguns poucos
frequentadores, para debelar. Esse estado durou bastante tempo. O fim das Mostras também
coincidiu com uma vontade institucional de apagamento do Museu, manifestado sob muitas
formas, entre as quais a falta de atuação do Museu como tal revelada pela supressão do cargo
de diretoria, do nome e logotipo em impressos, pela ausência de orçamento e iniciativas que
mantivessem a identidade do Museu – como exposições que discutissem qualquer questão
relacionada à gravura e relacionada à gravura e pelo desmembramento de segmentos
específicos, como o Centro de Pesquisa Guido Viaro e os ateliês de gravura do Mudeu, que
passaram a ser chamados de ateliês do Centro Cultural Solar do Barão, ou ateliês do Solar,
apelido que persiste até o momento, mesmo após a recente diluição do Centro Cultural e do
esforço pela retomada da identidade e atuação dos museus da FCC. (página 36)