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Acervo Técnico do Projeto Pé-de-pincha/UFAM; Paulo Cesar Machado Andrade; Sandra Helena
Azevedo; Eleyson Barboza; Thiago Luiz Anízio; Rafael Antônio Machado Balestra; Paulo Henrique
Guimarães de Oliveira
Ficha Catalográfica
Bibliografia
ISBN 978-85-9510-009-1
Manaus-AM
O Editor
7 INTRODUÇÃO
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Paulo Cesar Machado Andrade; João Alfredo Mota Duarte; Sandra Helena
Azevedo; Rafael Antônio Machado Balestra
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Paulo Cesar Machado Andrade; José Ribamar da Silva Pinto; Paulo Henrique
de Oliveira Guimarães; Janderson Rocha Garcez;João Alfredo da Mota
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14 7 REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Capítulo 1
Quelônios e ssu
ua imp
impo o r t â n c ia p
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Paulo Cesar Machado Andrade, João Alfredo da Mota Duarte, Janderson Rocha Garcez, Sandra
Helena Azevedo, Carlos Dias de Almeida Jr., Paulo Henrique Guimarães de Oliveira
CASCO
QUELÔNIOS – MARINHOS,
TERRESTRES E AQUATICOS
(AGUA DOCE)
Tartaruga
Testudines ou Chelonioidea
Pleurodira Cryptodira
SECA: Praias de nidificação de tartarugas, tracajás e iaçás às margens dos rios - Tabuleiros.
CHEIA: Lagos e florestas inundadas de várzea e igapós, aonde os quelônios comem frutos, flores e
sementes.
O sexo nas espécies aquáticas do gênero Podocnemis pode ser identificado pelo
tamanho do animal (fêmeas maiores que os machos), pela forma do plastrão e fenda da
placa anal (formato de U para machos e de V para fêmeas adultas) (Pritchard & Trebbau,
1984) e pela manutenção de manchas amarelas ou amareladas (P.unifilis e P.sextuberculata)
ou vermelhas (P.erytrhocephala) na cabeça dos machos (as manchas dos filhotes
desaparecem nas fêmeas).
Segundo Alho & Pádua (1982) há uma sincronia entre o regime de vazante e o
desencadeamento do comportamento de nidificação. Os animais iniciam um processo de
migração no início da vazante, saindo dos lagos, igapós e florestas inundadas onde foram
durante a cheia para se alimentar e criar reservas de gordura para, posteriormente,
formarem os ovos. Isso ocorre nos meses de junho-julho no oeste da Amazônia (rios Juruá,
para trás, rastejando a cloaca ainda em contração, sendo uma indicação da postura realizada
(marca da cauda arrastada entre as pegadas).
Soini (1997), no Peru, observou fêmeas de Podocnemis expansa formando uma
trilha pela liberação de secreção mucóide antes e depois da desova, fazendo um sulco na
areia. A caminhada para a água é lenta devido ao cansaço, caminhando 3-4 m,
alternadamente. As patas traseiras podem sangrar devido ao atrito na borda da carapaça,
assim como na parte posterior da carapaça durante a escavação. Após retornar à água, a
população adulta permanece nas cercanias da praia até o nascimento dos filhotes. Nas
horas mais quentes do dia pode-se observar as cabeças dos adultos fora d’água.
Na época próxima à eclosão os adultos ficam cada vez mais difíceis de serem vistos
nas cercanias da praia (Vanzolini, 1967; Alho, Carvalho & Pádua, 1979).
Os ovos de Podocnemis expansa ficam incubados de 40 a 70 dias, sendo em média
55 ± 21,21 dias e apresentam uma taxa de fecundação de 85 a 98%, desde que permaneçam
em equilíbrio a umidade e temperatura na câmara de incubação, pois a temperatura,
umidade e as concentrações de oxigênio e dióxido de carbono podem exercer efeitos
profundos sobre o desenvolvimento embrionário das tartarugas (Alho, Carvalho & Pádua,
1979; Alho & Pádua, 1982; Ibama, 1989).
Tartarugas, tracajás, iaçás e irapucas são animais que podem comer tudo
(onívoros) mas na natureza comportam-se como herbívoros/frugívoros comendo
principalmente folhas, sementes, frutos, flores, talos e raízes, e às vezes, moluscos,
peixes, crustáceos e insetos.
Alimentação Tartaruga-da-Amazônia
Alimentação de Tracajás
Macho adulto ainda com pintas Fêmea adulta sem pintas na cabeça
amarelas na cabeça
capilaridade e, são mais fundas para garantir uma temperatura mais baixa (figuras 15 A e
B). No barro, as covas são mais próximas da água e da vegetação (na grande maioria dos
casos no meio do capim), contudo, a argila retém melhor a umidade (figura 15 C). Fazem
covas rasas para reduzir a umidade excessiva. Na areia, os pitiús desovam em covas mais
profundas (figura 15 D) que as dos tracajás, contudo o fazem mais próximo da água, longe
da vegetação, por não possuírem as mesmas habilidades do tracajá para andarem em
terrenos mais íngrimes.
O tempo médio de incubação, na areia foi :para tracajás = 57,9 ±2,7 dias (mínimo=54;
máximo=65); para pitiús = 59,2±3,3 dias (mínimo= 46; máximo= 66); e para tartaruga =
57,7±5,7 dias (mínimo= 53; máximo= 64). No barro, os ovos de tracajá tiveram um tempo
de incubação de cerca de 63,9±2,3 dias (mínimo= 62; máximo=71). Para irapucas o tempo
de incubação foi em torno de 65±2,6 dias. O tempo de incubação é maior para pitiús do
que tracajás e tartarugas.
Figura 15: A) e B) Tracajá (P.unifilis) fazendo ninho e desovando na areia. C) Tracajá desovando
na várzea no meio do capim. D) Iaçá ou pitiú (P.sextuberculata) desovando na areia da praia
da Aliança, Lago do Piraruacá.
vezes, já estavam prestes a sair do ovo, mas com as chuvas, a cova ficava inundada e os
filhotes morriam afogados dentro dos ovos. Alguns ninhos foram salvos, colocando-se
capim e folhas secas no fundo, e afofando-se novamente a terra. Outra solução encontrada
foi evitar as chocadeiras no barro, fazendo caixas de areia com uma camada de 40 cm de
areia no local de transplante dos ninhos.
Covas naturais de tracajás e pitiús na areia, tiveram uma taxa de eclosão inferior a
das covas transferidas , 37,7 e 55,5 % contra 85,6 e 83,6%, respectivamente. Acredita-se
que isso se deva, em parte, a predação de ovos e filhotes por larvas de Dípteros (moscas)
das famílias Sarcophagidae e Ephidridae, encontradas em vários ninhos naturais. No barro,
a presença das larvas se deu em número muito menor e não houve problema de pisoteio,
sendo a taxa de eclosão das covas naturais de cerca de 95,5%. O maior predador de ninhos
naturais nas comunidades do projeto, depois do homem, foi o jacuraru ou téiu (Tupinambis
teguixin). Nos ninhos transferidos, tivemos problema apenas com um cachorro que entrou
uma noite no cercado de proteção da Aliança - Lago do Piraruacá e comeu os filhotes e
ovos de duas covas, e também com ataque de mucuras (Didelphis marsupialis).
Na maioria da áreas do projeto, os ninhos transferidos tiveram maior taxa de eclosão
e sobrevivência de filhotes do que as covas naturais.
Os tracajás apresentaram uma taxa de ovos inférteis de 3,4±3,3% e os pitiús,
4,2±14,1%. Quanto aos ovos gorados ou inviáveis, os tracajás apresentaram uma taxa de
15,7±12,8% e os pitiús, 22,2 ±22,1%.
Os tracajás nasceram medindo, em média, 39,3±1,7 mm de comprimento de
carapaça, os iaçás com 40,5±2,4 mm e as tartarugas com 46,9±1,4 mm. Os tracajás pesaram
em média 14,9±1,4 g, iaçás 14,3±1,8 g, tartarugas 22,5±1,4g e calalumãs, 11,2±2,6 g. Os
filhotes que nasceram em covas transplantadas para o barro foram maiores (comprimento
da carapaça = 39,8±0,9 mm), mais pesados (peso=15,6±0,2 g) e menos pigmentados do
que aqueles que nasceram na areia (comprimento da carapaça=39,0±2,2 mm;
peso=14,3±1,7 g). Até os dois meses de vida, os tracajás que nasceram no barro tiveram
um ganho diário de peso (GDP) de 0,05 g/dia enquanto que os que nasceram na areia
tiveram um GDP=0,08 g/dia. Os iaçás tiveram GDP=0,06 g/dia e as tartarugas, GDP=0,15
g/dia.
Chá da escama da carapaça do jabuti – para tosse, asma e assadura, se o paciente for
homem tem que ser de jabuti fêmea e vice-versa; Chá da escama assada da carapaça do
Matá-Matá – para assadura; Carapaça – de capitari (macho da tartaruga), de tracajá e de
iaçá - é usada como comedouro p/ animais domésticos e principalmente para remover a
massa de mandioca para o forno na casa de farinha. As espécies de quelônios mais
comercializadas na cidade de Juruá e na RESEX são: tracajá R$25-30,00, tartaruga R$200,00
ou R$4,00 o quilo, iaçá R$5-6,00, existem muitos regatões na margem do rio Juruá
navegando em chalanas (barcos regionais movidos com um rabetão de popa ao invés de
um motor de centro), eles transportam os quelônios para comercializar na cidade de Juruá,
Fonte Boa, Tefé, Manacapuru e Manaus-AM. Muitos comunitários também levam e vendem
pois há comércio nas próprias comunidades, mas não é tão intenso como na cidade
(Andrade et al., 2006; Oliveira et al., 2006).
Os comunitários do Baixo Juruá identificaram 10 espécies de quelônios entre os
animais mostrados nas pranchas coloridas: Podocnemis expansa (tartaruga, 14%),
Podocnemis unifilis (tracajá, 14%), Podocnemis sextuberculata (iaçá, 13%), Peltocephalus
dumerilianus (cabeçudo, 5%), Rhinoclemmys punctularia (perema, 11%), Platemys
platycephala (jabuti-machado, 2%), Geochelone denticulata (jabuti amarelo, 14%),
Geochelone carbonaria (jabuti vermelho, 8%), Chelus fimbriatus (matá-matá, 13%) e
Phrynops raniceps (lálá ou tartaruga de igapó, 6%). Verificou-se que a designação ou
nomenclatura popular é diferenciada de outros locais da Amazônia pois eles chamavam
de perema a P.nasutus no lugar da Rhinoclemmys punctularia, chamavam de lálá a Platemys
platycephala no lugar da P.gibus e da P.raniceps, e chamavam de tartaruga de igapó é a
Phrynops raniceps que era chamada só de lálá em outros lugares (Andrade et al., 2006).
No Médio Amazonas, em Parintins e Barreirinha, Oliveira et al. (2006) dos 136
questionários aplicados em 4 comunidades, e identificaram 13 espécies de quelônios:
tartaruga (Podocnemis expansa), tracajá (P.unifilis), iaçá (P.sextuberculata), irapuca
(P.erytrocephala), cabeçudo (Peltocephalus dumerilianus), aperema (Rhinoclemmys
punctularia), lalá (Phrynops nasutus), muçuã (Kinosternon scorpioides), jabuti (Geochelone
denticulata e G.carbonaria), matá-matá (Chelus fimbriatus) e Phrynops spp.(2 espécies).
Andrade & Nascimento (2005), aplicaram 45 questionários em 9 comunidades na Resex
Médio Juruá e identificaram 8 (oito) espécies de quelônios : P. expansa (16%), P.unifilis
(16%), P. sextuberculata (16%), P. dumerilianus (4%), R. punctularia (11%), G.denticulata
(16%), G. carbonaria (5%) e C. fimbriatus (16%). Verifica-se que, ao contrário dos mamíferos,
é reconhecida uma maior diversidade de quelônios no leste do Estado do Amazonas,
provavelmente, em função de uma diversificação maior dos ambientes aquáticos como
grandes rios de águas preta e praias de areia branca e fina misturando-se a ambientes de
grandes várzeas inundáveis da calha do Médio Amazonas. Essa influência se faz notar em
ambientes como os da região do Andirá.
menos citados foram o jabuti amarelo (2,3%) quelonios terrestre encontrado na floresta
local, e a tartaruga (2%) encontrada apenas em uma localidade muito distante chegando
em uma área onde moram descendentes de índios.
Quanto aos ambientes que frequentam na Floresta Canutama (figura 16), os tracajás,
tartarugas e iaçás são encontrados, em grande maioria, nos lagos e rios (40 a 60%) próximos
as comunidades. Para outras espécies foram citados outros ambientes, como para lalá as
áreas de igarapé (40%), para jabutis vermelhos e amarelos, as áreas de florestas de terra
firme (40-80%) e para o matá-matá, os chavascais (40%). Quanto ao hábito alimentar, a
maioria das espécies foram relatadas como consumidores de frutos (27%), peixes (17%)
plantas aquáticas (17%) e sementes (14%).
Na Resex Canutama, os lagos foram o citados como local de maior incidência de
tracajás (52,9%), tartarugas (47,1%) e iaçás (41,7%), também são citados neste ambiente,
em menor proporção o cabeçudo (33,3%). Habitam nos rios em maior quantidade iaçás e
tartarugas (41,7 e 41,2%). Nos igarapés foram citados a mata-matá, lálá e cabeçudo (42,9%,
33,3% e 33,3%). Na poças foram registradas, em pequenas quantidades, Lalás, Peremas e
Matá-matás. Nas praias temos registradas a presença apenas de tracajás, tartarugas e
iaçás. Na floresta temos a presença considerável dos Jabutis amarelo e vermelho e da
Perema (100 e 80%). No chavascal, temos em pequena quantidade lalá (8,3%), e em
quantidade maior o matá-matá (14,3%).
A figura 17 apresenta diferentes tipos de alimentos utilizados pelos quelônios que
foram citados pelos comunitários da Resex Canutama. Segundo eles, os quelônios
alimentam-se principalmente de frutos (35%), peixes (23%), plantas aquáticas (21%) e
sementes (20%). Os principais alimentos presentes na alimentação das espécies em ordem
decrescente são os frutos para tracajá, tartaruga, iaçá e jabuti; as plantas aquáticas ou
macrófitas para tartarugas e iaçás; o peixe para tartarugas, lálás e matá-matás. E flores e
insetos, consumidas pelos tracajás.
Na Floresta Tapauá, foi relatado que a tartaruga pode ser encontrada mais em rios
(91,7%) e lagos (66,7%), assim como o tracajá (84,2%) e a iaçá (100%). O jabuti amarelo foi
citado como 100% encontrado na floresta de terra firme, mas o jabuti vermelho foi 100%
na floresta e nas campinas. A matá-matá foi citada em lagos e rios (41,7%), igarapés (33,3%)
e chavascais (25%). O cabeçudo foi citado mais em lagos (90%) e P.raniceps mais em igapós
(57,1%). O P.gibbus foi relatado em igarapés (75%) e chavascais (50%). Quanto ao hábito
alimentar, a maioria das espécies foi relatada como consumidores de frutos (75,9%), peixes
(60,6%), plantas aquáticas (42,1%) e sementes (31,2%). Tartarugas e iaçás consumiriam
principalmente frutos (84,6 e 80%) e plantas aquáticas (30,8 e 60%).
Figura 16: Habitat Tracajá (Podocnemis unifilis), Tartaruga (Podocnemis expansa), Iaçá
(Podocnemis sextuberculata), Jabuti (Chelonoidis sp), cabeçudo (Peltocephalus dumerilianus) e
Mata mata (Chelus fimbriatus) na Floresta Canutama. (Fonte:Andrade et al, 2015).
Na RDS Igapó Açú os quelônios são encontrados, principalmente, nos lagos (43,5%)
e rios (27,4%) próximo as comunidades do Jacaretinga e Igapó Açu, sendo também cita-
dos em igarapés e cabeceiras (1,6%), poças (4,8%), praias (8,1%), chavascais (4,8%), cam-
pinas (1,6%) e igapós (1,6%). O tracajá é encontrado principalmente em lagos (41%) e rios
(41%). O Cabeçudo foi citado mais em lagos (44%), rios (12%) e igarapés (13%). A Lalá foi
citada em lagos (33%), chavascal, poças e igarapés (17% cada). As iaçás foram registradas
apenas no lago Grande (67%) e no rio (33%). As peremas são citadas em poças (33%) e
chavascal (33%) e no próprio rio 34%. A tartaruga e a irapuca em 100% das vezes foram
citadas no rio, e o mata matá em 100% das vezes são encontrados em lagos. Quanto a
alimentação dos quelônios, os moradores da RDS Igapó Açu, dizem em 51% das vezes que
os quelônios ingerem frutos, peixes (25%), plantas aquáticas (20%) e flores e sementes
(ambas 2%). Tracajás, cabeçudos e jabutis comem principalmente frutos.
Segundo Andrade et al. (2006), entre os ambientes habitados pelos quelônios na
Resex Baixo Juruá foi observado que para os comunitários a maioria das espécies vive em
rios, lagos, igarapés e cabeceiras (exceção do jabuti que vive na floresta) . Essa opinião é
similar ao Médio Juruá, onde segundo os moradores 66% dos quelônios habitariam em
lagos, rios e igarapés (Andrade & Nascimento, 2005). No Médio Amazonas, uma maior
diversidade de habitats foram citados, mesmo assim verifica-se uma predominância de
15,1% nos rios, 11,9% nos lagos e 11,5% nas florestas (Oliveira et al, 2006).
Na Resex Médio Juruá, segundo Andrade & Nascimento (2005), os comunitários
informaram que os quelônios se alimentavam principalmente de flores (21%), frutos (17%),
sementes (17%), insetos (15%) e peixes (13%). Oliveira et al. (2006), registraram que no
Médio Amazonas, os ribeirinhos observaram que os quelônios alimentavam-se de peixes
(23%), frutos (22%) e plantas (20%).
Em 2014, Garcez et al. conseguiram identificar a composição da dieta de Podocnemis
unifilis, P. sextuberculata e P. expansa no rio Juruá, através de capturas foram realizadas
no período da cheia e seca. Dos quelônios capturados foram coletados o conteúdo esto-
macal por meio de lavagem estomacal. Verificou que para o P. unifilis, os itens alimentares
mais importantes foram os frutos (41,54%), folhas (21,93%), caules, trocos e talos (16,77%),
raízes (5,93%), e outros itens (13,83%). P. sextuberculata durante a cheia se alimentaram
de sementes (54,74%), folhas (13,65%), material vegetal não identificado (8,70%), frutos
(8,37%), raízes (4,47%) e outros (12,88%), comendo quantidades mínimas de peixes, crus-
táceos, moluscos e insetos. P. expansa tiveram como itens principais na alimentação os
frutos (44,61%), seguido de folhas (17,35%), sementes (15,49%), caules, trocos e talos
(12,10%) e outros itens (13,83%). Para tracajás, no Médio Rio Amazonas, Garcez et al.
(2012) observaram que na cheia, os animais ingeriram folhas (36,42%), raízes (27,49%),
caules (18,78%), sementes (7,88%) e outros itens (9,43%) e na seca foram folhas (63,80%),
moluscos (11,33%), caules (7,96%), raízes (4,70%) e outros itens (12,21%).
Desta forma podemos verificar que, além da importância que os comunitários dão
ao recurso faunístico, influi também sobre o grau de conhecimento sobre os hábitos de
cada espécie pelo morador local, a abundância deste recurso. Ao comparar-se o nível de
similaridade entre a lista de alimentos proposta para os tracajás pelos moradores de co-
munidades do rio Juruá (área com muitos quelônios) e pelos moradores do Médio Amazo-
nas (área com populações de quelônios menos abundantes) e os dados reais de pesquisa
obtidos da coleta do conteúdo estomacal destes animais por Garcez et al (2012, 2014).
Verificou-se que os comunitários do Juruá acertaram mais itens do que come o tracajá do
que os comunitários de Parintins e Barreirinha, no Médio Amazonas.
A tabela 1 apresenta o número médio de ovos por ninho das diferentes espécies de
quelônios reconhecidas pelos comunitários da UC monitoradas e sua possível época de
postura.
O número médio de ovos e o período de postura de tartarugas, tracajás e iaçás na
RDS Madeira foram semelhantes aos registrados por Andrade (2008) para o tabuleiro do
Nazaré em Manicoré. No Baixo Juruá, o número médio de ovos por espécie, registrados
pelos comunitários foram para tracajá (30,59 ovos), tartaruga (130,14 ovos), iaçá (12,2
ovos), cabeçudo (28,3 ovos), Jabuti (6,1 ovos), matá-matá (13,5 ovos) e tartaruga de igapó
(9 ovos) – Andrade et al. (2006). No Médio Juruá, Andrade & Nascimento (2005) registra-
ram as seguintes médias de ovos por ninhos : tartaruga=122,5 ovos; tracajá=27,4 ovos;
iaçá=7,9 ovos;cabeçudo=5 ovos; jabuti=8,8 ovos; matá-matá=12,5 ovos. Essas médias,
foram inferiores as encontradas no Baixo Juruá, principalmente, para os Podocnemis, o
que provavelmente, resulta da influência maior, nessa região, de quelônios do rio Solimões,
que são animais muito maiores que a média dos animais da calha do Juruá (Andrade et al.
1999). No Médio Amazonas, a médias de ovos por ninho foi similar. Em média, tracajás
colocam 32,6 ovos, tartarugas 115,8 e cabeçudos 19,4 (Oliveira et al, 2006).
Tabela 1. Estimativa dos comunitários para o número médio de ovos por espécie de
quelônios nas unidades de conservação monitoradas (PIUC) (Fonte: Andrade et al., 2015).
nitários. Também gostam muito de comer jabutis (C.denticulata) – 11%. Mas os ovos pre-
feridos são os ovos de tracajá (14%) são os primeiros na preferência popular, só em segui-
da escolhem-se os ovos de iaçá (13%). Para capturar os quelônios, os comunitários prefe-
rem a malhadeira (33%), sendo que 17% usam o Jaticá, 6% o espinhel e 6% o caniço para
pesca ou captura de quelônios. Cerca de 39% dos entrevistados indicaram que usam ou-
tros métodos para captura, como mergulho, pegar na praia (viração) e outros tipos de
formas de captura. Os cascos dos quelônios também são usados para pegar massa em
casa de farinha (40%), e a banha destes animais para remédio (10%). Cerca de 30% afir-
maram comercializar este recurso. Os preços médios praticados na venda ilegal de
quelônios na Resex Canutama variam conforme a espécie: Tracajá: R$ 57,5±11,9/unidade
e R$1,00/ovo; tartaruga=R$122,3±33,6/unidade; Iaçá=R$15,4±4,9/unidade e R$1,00/ovo.
As tartarugas por alcançarem preços bem mais elevados, normalmente, são vendidas para
pessoas de fora, como comerciantes e donos de embarcações que estão de passagem
sendo 42% destinado para as cidades, enquanto apenas 42% são comercializados na pró-
pria comunidade.
Na Floresta Tapauá, o quelônio preferido para consumo é o cabeçudo (90,9%), pelo
tamanho e sabor, seguido do tracajá (72,7%). Porém, não gostam tanto de ovos de cabe-
çudo (54,5%), preferindo os ovos de tracajás (68,2%). A captura destes animais para o
consumo é feita, principalmente, com jaticá (30%); malhadeira (20%), arrastão (10%), puçá
(10%) e outros métodos para captura, como mergulho, pegar na praia, espinhel e outras
tipos de armadilha. (30%). Os comunitários utilizam os cascos para pegar massa em casa
de farinha (58%) e como comedouro para animais (13%), sendo que 29% usam a banha
como remédio. Cerca de 80% dos entrevistados afirmaram que comercializam quelônios.
Os preços variaram de R$200,00 a tartaruga, R$50,60 o tracajá. R$29,70 o cabeçudo e
R$20,00 o iaçá. Dos quelônios comercializados na Floresta Tapauá, cerca de 88,9% são
vendidos nas próprias comunidades, 55,6% vão para as cidades mais próximas e 33,3 %
para regatão.
Na RDS Madeira aproximadamente 10 espécies de quelônios são consumidas na
alimentação pelos comunitários. O tracajá é a espécie mais consumida demonstrando um
percentual de consumo de 17,5% para os ovos e 14,17% para o bicho. A tartaruga é a
segunda espécie mais consumida, quando se leva em consideração o bicho (13,33%). Já o
iaçá é a segunda espécie que tem os ovos consumidos (8,33%). Lalá, jabuti amarelo,
aperema, cabeçudo e matámatá são as espécies menos consumidas. Verificou-se ainda
que Phrynops raniceps é consumido apenas através de seus ovos, e que muçuã somente a
carne.A figura 18 apresenta a preferência dos comunitários para consumo de quelônios.
petrecho de captura chamado espinhel, outros 7,1% para capturar quelônios colocam
uma linha com anzol e alguns moradores ainda preferem métodos tradicionais como o
arco e flecha 7,1%.
A carapaça do deste animais são usadas para artesanato 34%, e em locais que exis-
te a fabricação de farinha 33% das pessoas utiliza o casco como pegador ou pá e 33%
reaproveitam os cascos como uma espécie de cuia.Como o comercio de quelônio e proibi-
do, as pessoas entrevistadas preferiram não responder tal questão, ou mesmo fizeram
afirmação duvidosa, porém 50% das pessoas afirmaram não existir comércio destes bi-
chos no local, mas 36% indicaram que o comércio existe e 14% preferiram não responder
o questionamento. Daqueles que afirmaram haver comércio ilegal de quelônios verificou-
se que o valor médio para o tracajá foi de R$ 31,25 podendo ser maior, em caso de com-
pradores de fora da localidade e o cabeçudo obteve um preço médio de R$ 23,00. A co-
mercialização dos quelônios e também dos seus ovos e feita em 91% na própria comuni-
dade, e o restante para pessoas que estão passando na estrada. Entre os bichos que foram
consumidos na localidade 86% eram fêmeas e apenas 14% machos. Na comunidade Igapó
Açu, obteve-se um valor médio 3,6 ninhadas consumidas por cada família, o que seria o
equivalente a um valor de, aproximadamente, 78 ovos de tracajá consumidos no período
de um ano entre 2012 e 2013.
No Médio Amazonas, os quelônios mais consumidos são os tracajás (55%), jabutis
(21%) e cabeçudos (10%) (Oliveira et al., 2006). No Médio Juruá, as espécies preferidas
são o tracajá (31%), tartaruga (26%), jabuti (17%), iaçá (16%).
Andrade & Nascimento (2005) verificaram que os petrechos mais utilizados na “pes-
caria” de quelônios no Médio Juruá são a malhadeira, o arrastão, o arpão e o jaticá (40%).
Já no Médio Amazonas, com uma maior diversidade de ambientes de captura, principal-
mente, com captura em igapós, várzea baixa e capinzal, são utilizados a malhadeira (27%),
o espinhel (17%) e o arpão (16%) – Oliveira et al. (2006). No Baixo Juruá foi a malhadeira
(28,8%), arrastão (18,2%), o jaticá (15,1%) e o espinhel (9,1%) (Andrade et al., 2006).
Na Resex Baixo Juruá, 41,4% usam a banha de quelônios como remédio e 48,3%
usam o casco como pegador ou bacia para descansar a massa da farinha. Foi relatado que
o casco do jabuti torrado, diluído em água e tomado em jejum pela manhã, combate a
hemorroida. A banha da tartaruga é usada para bronquite. No Médio Amazonas, Oliveira
et al. (2006) também registraram que, além do consumo de carne, os quelônios são utili-
zados como remédio (banha, 36,99%) e artesanato (27,05%). No Médio Juruá, essa utili-
zação como remédio cai para apenas 28% (Andrade & Nascimento, 2005).
Andrade et al. (2006) mediram carapaças de quelônios utilizadas como utensílios
no Baixo e no Médio Juruá. Da biometria dos cascos de quelônios utilizados nas casas de
farinha ou como bacias, verificamos que a maioria são de iaçás (75%) que, de modo seme-
lhante a Resex Médio Juruá, são mais utilizados por serem mais abundantes, sendo que, a
preferência é pelo casco de tracajá por ser maior e comportar mais massa de farinha,
facilitando o preparo. Os cascos de iaçás medidos apresentaram comprimento de carapa-
ça médio em torno de 26,1±2,17 cm, os de tartaruga 31,1 cm e os de tracajá 33 cm, ou
seja, a maior parte da predação humana recai sobre animais adultos em fase reprodutiva,
o que amplia o impacto da extração de quelônios pelos comunitários sobre seus estoques
naturais.
No Baixo Juruá, Andrade et al. (2006) observaram que o preço de uma tartaruga
era de cerca de R$123,33±4,3/unidade, do tracajá era de R$34,1±8,4 e do iaçá era de
R$3,9±1,3, sendo que o cento do ovo de tracajá girava em torno de R$20,00 e os de iaçá
em R$15,00. No Médio Juruá, o tracajá custava R$18,12±5,9, a tartaruga R$90,0±40,8, o
iaçá R$3,75±2,6 e o jabuti R$10,87±5,3 (Andrade & Nascimento, 2005). No Médio Amazo-
nas, segundo Oliveira et al (2006), o preço médio era de R$20,17/tracajá e R$83,48/tarta-
ruga.
Os preços de quelônios no Baixo Juruá são relativamente mais caros quando com-
parado aos de outras regiões. Os elevados preços podem ser explicados por três fatores:
a) o isolamento da cidade do Juruá torna os gêneros alimentícios muito mais caros que
em Carauari, Parintins e Barreirinha, sendo que, esta elevação geral, acaba atingindo in-
clusive, os produtos da fauna silvestre que são caçados no local; b) assim como acontece
com o peixe, onde a maior parte do pescado e os espécimes de maior peso, são vendidos
para barcos recreio e enviados para grandes centros (Manaus e Tefé), também, acontece
com os quelônios, onde os animais capturados são guardados em currais e vendidos, sob
encomenda para barcos de outras regiões, principalmente, Manacapuru; c) redução nos
estoques das populações de tartarugas e tracajás, com redução da oferta frente uma de-
manda crescente.
Capítulo 2
Manejo ddo
os ttaabul
uleeiros
iro
Paulo Cesar Machado Andrade; João Alfredo Mota Duarte; Sandra Helena Azevedo;
Rafael Antônio Machado Balestra
tartarugas e tracajás. Os registros dessa atividade, normalmente, eram feitos pelo gerente
ou capataz do seringal, sendo a contabilidade desse sistema, bem eficiente, apontando,
principalmente, a quantidade de ninhos de tartarugas e tracajás colocados em cada tabu-
leiro (Derickx, 1994; Benchimol, 1977).
De qualquer forma, há que se reconhecer que esse sistema de conservação/explo-
ração dos quelônios foi a única forma de controle presente nos rios do Amazonas até
1967, quando foi promulgada a Lei de Proteção à Fauna (Lei No.5.197/67), sendo todo o
sistema feito por proprietários/seringalistas e pelos comunitários ribeirinhos sob seu co-
mando, sem qualquer recurso ou apoio governamental, a não ser o simples papel de au-
torizações que eram concedidas. Foi graças a esse sistema que muitos tabuleiros com
grandes populações de quelônios foram mantidos principalmente nos rios Purus e Juruá.
O próprio IBDF passou a utilizar o sistema de sinalização com bandeiras e distribuía duas
bandeiras oficiais de demarcação de praias junto com a autorização para zelar por elas.
Apenas, em 1976, com recursos do POLAMAZÔNIA, é que o IBDF (Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal) começou a não só emitir as autorizações, mas também a envi-
ar equipes para acompanhar e fiscalizar esses trabalhos de proteção, preferencialmente
para as áreas levantadas em 1974 por Alfinito (1978).
A partir desse levantamento que identificou mais de 500 sítios de desova de
Podocnemidideos na Amazônia, os chamados tabuleiros (praias de nidificação de
quelônios), o Governo Federal criou, em 1979, um programa de proteção, surgindo o Pro-
jeto de Proteção e Manejo dos Quelônios da Amazônia (PQA), coordenado pelo IBDF (Por-
tal e Bezerra, 2013; IBAMA, 1989).Além da sinalização com bandeiras, outras técnicas dos
capitães de praia foram utilizadas pelo IBDF como o uso de chamas1, a marcação de ninhos
e a retirada manual dos filhotes para contagem e posterior soltura em lagos, etc. É nesse
período que iniciou-se a fase ou sistema de proteção de quelônios realizada pelo Governo
Federal no Amazonas. Mas, apenas algumas áreas seriam protegidas somente pelo gover-
no, sendo que boa parte delas continuariam a ser protegidas pelos proprietários ou mora-
dores locais somente com o acompanhamento do governo, não perdendo, portanto, seu
caráter de gestão compartilhada na conservação de quelônios (Andrade, 2015).
1
Chamas ou chamariz: machos de tartaruga e tracajás que eram colocados em gaiolas de ferro ou de madeira na margem do
tabuleiro para atraírem as fêmeas para desovar na praia.
des localizadas próximas aos tabuleiros de preservação. Nos rios Purus e Juruá, no final de
maio e começo de junho, no início da vazante, são realizadas viagens para monitorar a
saída dos quelônios adultos dos lagos de alimentação para a calha do rio. É importante
proteger os animais nessa fase de seu ciclo de vida pois, durante esse período de migra-
ção, os animais podem ser capturados em grande quantidade com o uso de redes de
emalhar, arrastões e capa-sacos nos canais estreitos (sacados, furos, paranás) por onde
passam dos lagos de alimentação para o rio principal. Em algumas áreas de proteção, são
instalados flutuantes nesses locais de passagem pelos gestores, a fim de que, seja realiza-
do um trabalho de vigilância e fiscalização nesses locais reduzindo a possibilidade de cap-
tura ilegal de quelônios.
Com o apoio de universidades ou instituições de pesquisa, neste período podem
ser realizados levantamentos dessas populações de quelônios, através da captura, marca-
ção e biometria dos animais nos locais próximos aos tabuleiros.
No final de junho, realizam-se reuniões nas comunidades onde se esclarece nova-
mente aos comunitários as razões para a preservação dos tabuleiros, verifica-se o interes-
se destas comunidades e se define quais comunitários que atuarão na proteção dos tabu-
leiros, os materiais necessários e sua forma de compensação.
Nestas reuniões é salientado que a ação de preservação é uma atividade de toda a
comunidade e não somente das pessoas encarregadas de realizar a vigilância dos tabulei-
ros, sendo acordado que os vigias ou monitores de praia terão o apoio de toda a comuni-
dade para a realização das atividades em que for necessária a mobilização de várias pes-
soas e no apoio nas suas atividades diárias na comunidade, devido a sua longa permanên-
cia no tabuleiro neste período.
O trabalho de vigilância dos tabuleiros é realizado pelos ribeirinhos, através da cons-
trução de uma base (normalmente uma casa de madeira coberta de palha) na margem
oposta do rio, onde está localizado o tabuleiro; desta forma os vigias possuem uma base
para que possam permanecer durante o dia e a noite. Também nesse período (julho-
agosto nos rio Purus e Juruá) devem ser sinalizadas as praias protegidas instalando-se
placas, faixas ou bandeiras.
No período da eclosão dos filhotes, o trabalho dos vigias de praia é redobrado, pois
além de vigiar a praia para evitar possíveis saqueadores é necessária a contabilização dos
filhotes de tartarugas e tracajás recém eclodidos.
Nos locais onde é possível marcar todos os ninhos com piquetes, os monitores po-
dem através da data de postura colocada no piquete, verificar, após 50-60 dias se o ninho
já apresenta sinal de afunilamento. Com a saída dos filhotes dos ovos e sua movimenta-
ção, a areia do túnel da câmara do ninho começa a ceder e isso, fica visível externamente,
sendo um sinal de que naquele ninho, os filhotes já nasceram. Nestes casos, os monitores
abrem os ninhos e realizam a contagem dos filhotes vivos, filhotes mortos (natimortos),
ovos inviáveis (gorados e/ou fungados), ovos inférteis (são ovos sem desenvolvimento
embrionário aparente e que ao final da incubação, não estão podres, mas parecem que
são novinhos), ovos de gordura ou de óleo (ovos muito grandes ou avermelhado, peque-
nos e murchos, que só possuem a clara). Esses dados são registrados na ficha de eclosão.
O número total de filhotes vivos dividido pelo número total de ovos do ninho (somatória
resistência diminuindo a sua taxa de mortalidade por predação. Após permanecerem nos
berçários (o que ocorre em 36,7% das áreas no Amazonas) os filhotes são soltos em um
lago para que possam se desenvolver.
A maioria dos filhotes, contudo, sai naturalmente de seus ninhos, indo direto para
o rio. Nestes casos, é feita apenas a contagem dos filhotes vivos, natimortos, ovos gorados
e ovos estéreis, para o cálculo da taxa de eclosão média de cada espécie/praia. Durante
todo este período os vigias possuem um papel fundamental, garantindo a segurança dos
animais contra os predadores. Mesmo sem contar com as condições ideais de apoio, na
maioria das vezes, baseados nas experiências do conhecimento tradicional das popula-
ções locais, o trabalho desenvolvido pelos monitores de praia contribuiu para a proteção
e o crescimento das populações de quelônios da região, o que demonstra a capacidade e
o interesse dos comunitários por esta atividade.
TEMA 1- PROTEÇÃO
9. Controle
Realizar ações de controle ambiental junto às comunidades circunvizinhas a Unida-
de visando à minimização dos impactos.
- Justificativa: orientar as comunidades quanto à utilização correta dos recursos
ambientais, à legislação pertinente e orientação quanto a gestão da UC.
- Metodologia: visitas periódicas às comunidades
10. Sinalização
Instalar placas indicativas nas áreas consideradas estratégicas para proteção e manejo
- Justificativa: necessidade de informação, estabelecimento de identidade visual da
Unidade/Projeto.
- Metodologia: elaborar projetos específicos para fazer as placas para cada Unidade.
Figura 3: Reuniões para sensibilização dos comunitários em áreas com conservação de quelônios.
Figura 6: Bandeira vermelha sinalizando praia interditada ou protegida na Resex Baixo Juruá – Amazonas.
O trabalho de proteção das praias começa no início do período de desova que vai
de julho a outubro dependendo da região. É quando os agentes ambientais voluntários
ou monitores de praia começam a construir seus acampamentos para vigiar a praia.
A construção pode ser tipo Tapiri situado em local com boa visualização da praia ou
barracão construído no barranco na margem oposta a praia em local mais alto que permite
a visão de todo tabuleiro. Casas ou flutuantes construídos na outra margem da praia
protegida perturbam menos os quelônios e gaivotas na praia.
Figura 7: a) Tapiri no Tabuleiro Espirito Santo na Resex Canutama, rio Purus. B) Flutuante do
IBAMA/PQA no tabuleiro de Walter Buri, Eirunepé/Itamarati, rio Juruá.
A) Vigiar as praias de desova: Vigiar as praias de dia e de noite para evitar que peguem os
quelônios nas praias, durante a noite, virando-os na areia, ou capturando-os com arpão
ou redes de pesca na frente da praia ! Isso faz diminuir os bichos naquele local e afugenta
os que sobraram. Mas não é só isso que espanta da praia os quelônios...
Figura 8: a) Evitar passar com canoa com motor de popa ou rabeta próximo a margem do tabuleiro; b)
Evitar que outras pessoas além dos monitores fiquem pescando, andando ou focando na praia durante a
noite.
Figura 9: a) ajudar a limpar a praia para facilitar a subida e a nidificação dos quelônios e aves
aquáticas; b) Evitar derramar óleo diesel, gasolina ou outros poluentes nas praias e na margem
do rio.
Figura 10: a) Evitar realizar atividades de lazer no tabuleiro como jogar bola, nadar, acampar,
fazer festas ou ouvir música alta; b) Entrar em acordo com os comunitários vizinhos para que
não seja feito nenhum tipo de criação animal (bois, porcos) ou plantio na praia de nidificação
– Gado bovino no tabuleiro de Deus é Pai, Resex Médio Juruá causando pisoteio de ninhos
de tracajá e iaçá.
Entre os meses de julho e setembro (rio Juruá e Purus) e Setembro e outubro (Baixo-
Médio rio Amazonas) os tracajás, as tartarugas e os iaçás fazem seus ninhos. As fêmeas
fazem um ninho ou cova cavando com as patas traseiras, onde fazem uma câmara na qual
depositam os ovos. Na manhã seguinte a desova, podemos procurar os ninhos através
dos rastros que os quelônios deixaram na areia. A pegada do tracajá é parecida com a
marca de uma tampinha de refrigerante (pincha) na areia, daí o nome pé-de-pincha!
Figura 12: Tracajá (P.unifilis) fazendo seu ninho em área com pedregulho e capim na Aliança, lago do
Piraruacá, Terra Santa/PA.
Figura 13: Tracajá (P.unifilis) fechando seu ninho na areia, na praia da Aliança, Piraruacá.
Figura 14: Rastros de tartaruga (P.expansa) e de tracajás (P.unifilis) deixados na praia da Aliança.
pegadas que os tracajás, tartarugas e iaçás deixam na areia. Cada espécie deixa um tipo e
tamanho de rastro ou pegada diferentes.
Os ovos das diferentes espécies de quelônios também são diferentes. Os da tartaruga
são esféricos como uma bolinha de ping-pong, possuem a casca branca e flexível. Os de
tracajá parecem uma elipse, tem a casca grossa, dura e não são branquinhos, às vezes, são
amarronzados, rosáceos, beges ou brancos. Os de iaçá ou pitiú tem o mesmo formato do
ovo de tracajá, mas são menores, sua casca é branca e mole.
Após a identificação dos ninhos, o ideal é marcar todos os ninhos com o piquete
com as informações no mesmo dia. Nem sempre isso é possível, ou porque tem muitos
ninhos, e se torna impossível marcar todos, ou porque, às vezes, isso acaba facilitando a
visualização e o retirada e predação dos ovos por outras pessoas.
Às vezes isso é impossível porque desovam tantas tartarugas, que elas acabam
arrancando os piquetes e desenterrando os ovos de outros ninhos.
Figura 18: “Arrojo” de iaçás :subida de centenas de animais para desovar (tabuleiro do
Joanico), como é impossível contar todos os ninhos, faz-se o balizamento da praia com
quadrados de 50 m X 50 m onde contamos os ninhos.
Caso não seja possível a contagem direta, pode ser estimado o número de ninhos
com base no número de ovos ou filhotes cercando-se as áreas escolhidas pelas tartarugas
para desova. Para isso é necessário saber o número médio de ovos ou filhotes por ninho.
Figura 19: Contagem de filhotes para estimativa do número de ninhos de P.expansa, no Abufari.
Para estimar o número médio de ovos por ninho para cada espécie de quelônio que
desova no tabuleiro recomenda-se:
a) Abrir uma amostra de 30 ninhos por espécie ou, se tiver poucos ninhos, 10% dos
ninhos, para fazer a CONTAGEM DOS OVOS e a BIOMETRIA (medir e pesar todos os ovos
nos ninhos de iaçá e irapuca ou pelo menos 15 ovos nos ninhos de tartaruga e tracajá). Os
ovos devem ser pesados em até dois dias após a desova.
b)Morfometria do ninho (da amostra de 10% dos ninhos ou no mínimo 30 ninhos):
- Medir a profundidade até o último ovo e largura da câmara de postura. Medir a distância
do ninho para água e a largura do rastro da fêmea que desovou.
Figura 20: Contagem dos ovos e medição da profundidade de ninho de tartaruga no tabuleiro
do Jamanduá/Canutama.
5.4. Abertura do ninho, contagem dos ovos, registro das características do ninho e
biometria de uma amostra dos ovos
Medir a Profundidade total e a largura da câmara do ninho com trena, régua ou fita
métrica (em centímetros).
Medir a largura do rastro (distância interna entre patas) da fêmea que fez o ninho e
botou os ovos (sempre que seja possível identificar).
Medir com trena a distância do ninho pra água (verificar na margem do rio ou lago
o local de onde saiu o rastro da fêmea que botou o ninho).
Figura 21: Tomando medidas da largura e profundidade do ninho e da largura do rastro da fêmea.
5.5. Estimativa do número de ninhos e total de ovos por tabuleiro e por espécie
- Biometria da fêmea:
Justificativa: Conhecer a estrutura populacional
Metodologia: Quando possível priorizar o aferimento do comprimento e largura
máximo retilíneo da carapaça, peso e largura interna do rastro. O comprimento curvilíneo
pode ser realizado desde que o método utilizado seja informado. Recomenda-se uma
amostragem de no mínimo de 40 indivíduos/espécie para coleta de dados alométricos.
Peridiocidade: Anual
Figura 25: Medindo o comprimento e a largura de carapaça de tracajá (P.unifilis) e marcando com siste-
ma de furos nos escudos laterais da carapaça.
Eclosão:
- Observar a data da provável eclosão, marcada no piquete;
- Verificar o afundamento da cova (areia);
- Em alguns tabuleiros onde todos os ninhos de tartaruga e tracajás são marcados
com piquete, realiza-se a abertura do ninho na data da prevista para eclosão e a contagem
dos filhotes vivos, ovos inviáveis, filhotes mortos e cascas. Mas podemos também, abrir
pelo menos uma amostra de 30 ninhos por espécie para efetuar essa contagem dos filhotes
e estimar a taxa média de eclosão/espécie em cada ano.
- NÃO retirar animais que ainda tenham o vitelo (umbigo);
Figura 29: Filhotes de tracajá (P.unifilis) ainda com vitelo exposto (“umbigo”).
- Filhotes gêmeos devem ser separados cortando-se a ligação pelo vitelo. Caso
contrário o mais fraco morrerá, ou os dois serão predados.
- ANOTAR: Ovos gorados, ovos inférteis, filhotes defeituosos e natimortos.
Figura 31: Biometria de filhote de iaçá (P.sextuberculata): Comprimento da carapaça, largura de plastrão
e peso.
Quando temos todos os ninhos marcados em uma praia (em geral com menos de
150 ninhos/espécie) pode-se observar cada ninho individualmente quando estiver próximo
a data estimada para eclosão (60 dias após a postura), verificar se já apresenta sinais
como o afunilamento, e então realizar a abertura manual do ninho e contar os filhotes.
Quando cada ninho é marcado podemos monitorar ninho a ninho, isto permite
integrarmos a ficha de postura com a de eclosão e calcularmos a taxa média de eclosão.
Com os ninhos transferidos para chocadeira, também, observamos e abrimos cada ninho
na data estimada para eclosão. Caso ainda não tenham nascido ou os filhotes ainda estejam
com vitelo fecha-se novamente o ninho.
9. SOLTURA – FASE 5
Em alguns tabuleiros, os monitores levam os filhotes que saíram dos ninhos para o
outro lado do rio, e os soltam longe da margem da praia que nasceram, no meio da
vegetação aquática. Fazem isso para diminuir a chance de serem predados pelos jacarés e
peixes que os esperam na margem da praia. Em outras praias, os monitores carregam os
filhotes em sacos, sobem os barrancos da várzea e soltam os filhotes em lagos isolados e
com muita vegetação para os filhotes se abrigarem.
Como atividade de educação ambiental para sensibilizar mais comunitários e
moradores de outras localidades para a proteção dos quelônios, sugerimos que seja feito
um evento de confraternização onde uma amostra simbólica dos filhotes protegidos pelos
monitores deverá ser solta na praia para que todos vejam.
Figura 34: a) Soltura no tabuleiro do Manarian/RDS Uacari; b) Soltura no tabuleiro Santa Bárbara,
Resex Canutama.
Nos últimos anos, alguns eventos climáticos extremos (grandes cheias e grandes se-
cas) tem sido registrados na Amazônia, em função das mudanças climáticas globais. Com o
aquecimento do planeta, o equilíbrio no ciclo da vida dos quelônios pode estar sendo com-
prometido, pois esses animais poderão perder por algamento suas praias de desova ou com
temperaturas mais altas correrem o risco de nascerem mais fêmeas do que machos.
• Índice fluviométrico
Metodologia: Caso não haja régua da ANA para medir inundação, instalar de régua
d’água o mais próximo possível de casas de comunitários (para o devido registro diário),
em locais próximos às áreas de desova e em rios de ordens diferentes quando possível, é
importante que o local represente o nível de inundação regional. Recomenda-se a instala-
ção em áreas mais altas, com fixação permanente, definitiva e que a leitura seja feita com
periodicidade quinzenal. Sendo que no período de desova deve-se proceder diariamente
• Índice pluviométrico
Metodologia: Instalação e acompanhamento de pluviômetro ou obtenção dos da-
dos gerados em estações climatológicas mais próximas da UC.
Capítulo 3
S i s te m a ti z a ç ã o d os m
do méétodos uuttili
ilizz ados p
peelo Pro j e to
Pro
Pé-d e-p
é-de-p
e-pin in
inccha p paara ccoonser vação ccoomun
muniitária ddee qquu el ô n i o s
-TTrransf sfeerência ddee ninh
ninhos e bbeerçários
inho
Paulo Cesar Machado Andrade; José Ribamar da Silva Pinto; Paulo Henrique de Oliveira
Guimarães; Janderson Rocha Garcez;João Alfredo da Mota Duarte; Sandra Helena Azevedo
Como o manejo de recursos naturais envolve uma gama muito grande de visões e
saberes, desde o início, optamos, por um processo participativo de tomada de decisões,
onde o plano inicial de ação seria construído com a informação e a discussão de todos os
parceiros (UFAM, IBAMA, prefeituras locais e comunitários). Em maio de 1999, foi realiza-
do um grande seminário em Terra Santa, onde 255 pessoas relataram, opinaram e esco-
lheram sobre três grandes temas propostos por um coordenador que conduziu o evento
utilizando uma metodologia similar ao ZOP. Os temas abordados foram: Áreas ameaçadas,
áreas protegidas e educação ambiental. Ao final deste evento, estava concluído o plano
de ação anual para que se implantasse o projeto Pé-de-pincha.
protegidas, que se coloque uma placa ou sinalização que servirá de alerta para que as
pessoas que passem no local não se aventurem para coletar ovos e adultos dos bichos de
casco (figura 1 e 2).
Figura 1: Sinalização das praias de proteção dos quelônios com bandeiras ou placas.
Figura 4: Pegadas de quelônios com a marca da cauda no meio (cauda arrastando) indicando
provável desova, no Lago do Piraruacá, 2011.
Figura 5.1.: Esquerda pegada de tracajá (P.unifilis) com marcas bem definidas das unhas
(“como se pisasse na ponta dos dedos”). Direita: Pegada de pitiú ou iaçá (P.sextuberculata),
unhas não definidas como se arrastasse as patas.
Deve-se ir para praia bem cedo, antes de clarear o dia e se começar a procurar os
rastros e os ninhos, iniciando pela margem e indo, progressivamente caminhando para o
meio da praia. Se estiver em equipe e a praia for grande poderá dividir o trabalho em
setores: Margem, meio e próximo a vegetação.
Faz-se necessário quando há um grande número de tartarugas, tracajás e pitiús
para desovar num tabuleiro. Usam-se estes piquetes para marcar as covas (figura 7 e 8).
Tamanho: 50 cm x 4 cm, entalhe de 10 cm para descrição da marca podendo-se usar
opcionalmente placas de alumínio, tinta à óleo, caneta à prova d’água, etiquetas plásticas,
etc. Enterrar cada piquete 20 cm de profundidade de maneira que este fique a um palmo
atrás da cova com identificação voltada para a cova e para o rio. A cova deve ficar
posicionada entre o rio e o piquete. Este último deverá ficar pelo menos 30 cm fora da
terra. Cada piquete deve conter as iniciais da espécie, a data da desova e o número da
cova.
Paralelo a estes materiais deve-se usar também uma ficha de controle para anota-
ções das seguintes informações: Data da postura, Número da cova, espécie que desovou,
número de ovos, abertura da cova (data de eclosão), número de filhotes vivos, natimortos,
contagem dos ovos não eclodidos e outras observações como freqüência de postura, hora
de maior freqüência, condições atmosféricas, desova, eclosão e outros dados julgados
pertinentes.
Se possível fazer um croqui da praia.
Para registrar os dados de postura em praias com muitos ninhos (tabuleiros) devem
ser definidos transectos amostrais nos locais de nidificação. No período de nidificação,
diariamente, pela manhã, de 5 às 9 horas, deve ser feita a procura ativa dos ninhos de
o primeiro ano de vida, a população poderia ser preservada. A maioria dos programas de
conservação de P.expansa e P.unifilis na Amazônia procurou proteger as fêmeas em repro-
dução, os ninhos e os filhotes, o que parece ter contribuído, significativamente, fazendo
com que essas espécies tenham saído do risco de extinção (Alho, 1985). Alguns progra-
mas de manejo comunitário de quelônios, de longo prazo, na Amazônia adotaram a trans-
ferência de ninhos como metodologia para proteger os ovos e garantir o nascimento dos
filhotes em áreas com redução significativa das populações e de retirada elevada dos ovos
para venda ou consumo pelo homem (Cantarelli et al. 2008; Andrade, 2008; Costa, 2008;
AMPA, 2006; Oliveira, 2006; SOINI, 1999 e 1997;Alho, 1985). Apesar de controversa, esta
técnica tem gerado resultados bastante significativos, para serem ignorados, garantindo o
aumento dos estoques populacionais em vários locais onde foi adotada.
Segundo Limpus & Miller (1980) existem três problemas que podem afetar a trans-
ferência de ovos de tartarugas: 1) a morte do embrião pelos movimentos de rotação dos
ovos; 2) a influência da temperatura do local de transplante sobre o sexo dos filhotes; 3)
os filhotes aprendem por imprinting a retornar a seus locais de nascimento.
Apesar de ser realizada e praticada em diversos projetos de conservação de
quelônios, a transferência de ovos de quelônios requer uma série de cuidados, a fim de
garantir um maior sucesso no nascimento dos filhotes e uma menor influência sobre o
sexo dos filhotes. Muitas vezes, esses cuidados não são adotados, o que resulta em uma
menor taxa de sucesso com o método. Sabe-se, sobretudo que para ovos com cascas
flexíveis, como os de tartarugas (P. expansa), é comum que haja uma influência negativa
da transferência no sucesso de eclosão dos filhotes, devido a um aumento na mortalidade
embrionária (Limpus et al. 1979; Haller e Rodrigues, 2006). Entretanto, vários estudos de
longo prazo com transferência de ninhos, e a utilização de cuidados básicos na transferên-
cia, tem demonstrado que, esse processo pode proporcionar taxas de eclosão superiores
ou similares às encontradas na natureza, entre 70 e 90% (Andrade, 2008; Andrade et al.,
2005, 2004 e 2001; Townsend, 2008; Costa, 2008; CENAQUA, 2000; SOINI, 1999;TCA, 1997;
Nascimento & Armond, 1991; IBAMA, 1989; Correa & Soini, 1988; Alho, Carvalho & Pádua,
1984). Valores inferiores a 50% na taxa de eclosão de ninhos transplantados, normalmen-
te indicam a falta dos cuidados básicos para o transplante, imperícia da equipe de campo
ou alguma grande variação edafo-climática nas condições dos ninhos artificiais.
Outro aspecto, que é sempre abordado, quando se fala em transferência de ni-
nhos, é a possibilidade de estarmos afetando a determinação do sexo nos filhotes, ao
alterarmos as condições naturais de temperatura e umidade nos ninhos artificiais. Vogt &
Bull (1982) estabeleceram que em algumas espécies de quelônios aquáticos a temperatu-
ra de incubação era que determinava o sexo dos filhotes que iriam nascer (animais com a
determinação de sexo ambiental ou pela temperatura, ESD ou TSD). Vogt (1994) sugeriu
ainda que esta poderia ser uma ferramenta importante para gerar mais fêmeas em pro-
gramas de conservação, considerando-se que estas seriam mais importantes que os ma-
chos já que estes podem copular várias fêmeas (poliginia). Para Lovich (1996), entretanto,
incrementar o nascimento de fêmeas através da manipulação da temperatura de ninhos e
ovos, era uma estratégia que deveria ter uma abordagem mais cuidadosa como ferra-
menta de conservação.
Os relatos de que no início, os projetos de conservação de Podocnemis expansa,
sombreavam os ninhos transferidos para protegê-los do calor excessivo, gerando com isso
apenas filhotes machos, constituem uma memória negativa do processo. Danni & Alho
(1985) verificaram na REBIO Trombetas que em ninhos de Podocnemis expansa em locais
ensolarados nasciam mais fêmeas, enquanto que nos ninhos sombreados, nasciam mais
machos.
Figura 10: “Chocadeiras” locais perto das comunidades para onde são transferidos os ninhos
de quelônios.
Figura 11: Comunitários marcando os ninhos para transferência pelos técnicos voluntários.
d) Abrir com cuidado a cova a ser transplantada (figura 16), retirando a areia que
cobre o ninho para forrar o fundo da caixa de isopor (figura 17). Isto é feito com o objetivo
de impedir que os ovos rolem dentro da caixa durante o transporte. Quando coletamos
ninhos no barro ou outros substratos mais duros, podemos forrar o fundo da caixa com
capim seco. Para evitar, que os ovos balancem podem ser colocadas além de camadas de
areia e capim seco, formas de ovos de galinha ou espuma;
e) Os ovos devem ser retirados cuidadosamente mantendo-os na mesma posição
de origem (figuras 18 e 19). Não importa muito a ordem da retirada dos ovos, deve-se
apenas tomar cuidado para não girá-lo bruscamente, ou seja, não sacudí-los (Towsend,
2008; IBAMA, 1989).
f) Os ovos devem ser arrumados no interior da caixa (figura 20) e depois contados
(figura 21). Separar com uma folha de papel um ninho do outro (figura 22), escrevendo na
folha a data, espécie , número de ovos e a praia da coleta para não misturar os ovos de
diferentes ninhos. Colocamos a folha de papel com a identificação e os dados do ninho, e
passamos a cobrir o ninho com outra camada de areia ou capim. Feito esse “sanduiche”
de duas camadas protetoras com os ovos no meio, só então poderemos colocar outro
ninho na caixa.
g) Após a coleta dos ovos, aproveita-se para se registrar os dados do ninho: distância
para água (figura 24); profundidade (figura 25) e largura dos ninho (figura 26); largura do
rastro (figura 27) e da pata da fêmea de quelônio que desovou. Essas informações devem
ser registradas em uma ficha de transferência dos ovos com informações sobre o local da
desova, a data da postura, a espécie que desovou, o número de ovos, a largura e a
profundidade do ninho, a distância da água e, se possível, a largura do rastro da fêmea
que desovou (para posterior inferência sobre o tamanho das fêmeas, pois a largura do
rastro da fêmea na areia é positivamente correlacionado a largura do plastrão, ao tamanho
da ninhada e ao tamanho do câmara do ninho – Bonach et al. 2003). Essas informações
permitirão um maior controle sobre o processo de transferência e, posteriormente, a
identificação da origem de cada ninho com o registro da informação em piquetes no local
de transplante.
h) Deve-se encerrar o período de coleta ainda pela manhã, preferencialmente, até
9:00 horas, a fim de evitar, temperaturas muito elevadas nas praias. Carrega-se
cuidadosamente a caixa de isopor (importante que tenha alças para facilitar o trabalho)
até a canoa ou bote com motor de popa, e então retorna-se para a comunidade base
também com o máximo de cuidado para evitar a trepidação excessiva durante o transporte
fluvial. O mesmo cuidado deve se ter quando o transporte for terrestre ( a pé, a cavalo, de
carro).
i) Normalmente, não se realiza o “plantio”dos ninhos translocados logo que se chega
na chocadeira da comunidade pois a areia da chocadeira deverá estar quente ( a não ser
nos casos em que se termina o trabalho de coleta ainda muito cedo). Sugere-se deixar as
caixas de isopor com os ninhos que serão transferidos, em um local na sombra, ventilado
e longe de possíveis predadores. Deve-se tranplantar no mesmo dia, depois das 16:00 h
da tarde, quando as temperaturas na praia onde fica a chocadeira forem mais amenas.
IV.5. Como devem ser escolhidos e preparados os locais protegidos para os ninhos
transplantados:
a) Escolha do local:
Quando a transferência do ninho é feita apenas para salvar o ninho de um local
com possibilidade de inundação para outro local na mesma praia, deve-se escolher um
local alto na praia para fazer a cova artificial, livre de inudações, com a areia com
granulometria e temperatura semelhantes ao da cova original ou a média dos ninhos para
aquela espécie na região (IBAMA, 1989). Também recomenda-se que o local seja plano,
suavemente inclinado (para permitir o escoamento das águas pluviais), que não empoce,
sem a presença de cobertura vegetal arbustiva ou rasteira, cujo sombreamento poderia
afetar a razão sexual dos filhotes, ou as raízes e o excesso de matéria orgânica proveniente
das folhas poderiam reduzir a taxa de eclosão ou aumentar o número de filhotes defeituosos
(Andrade et al., 2005; Janzen, 1994). Deve-se evitar locais com pedregulhos, troncos, ou
qualquer obstáculo que possa prejudicar o desenvolvimento do embrião nos ovos
transplantados.
Fig. 16: Abrindo Ninho;Fig.17:Forrando a caixa;Fig.18:Caixa forrada com capim seco: Fig.19:
Retirando os ovos com cuidado.
Fig.20: Ovos arrumados na caixa; Fig.21: Contando os ovos; Fig.22:Papel separando dois
ninhos; Fig.23: Agente ambiental arruma e confere os ovos de quelônios para transferência
no Lago Piraruacá (2010).
Às vezes, a transferência dos ninhos é feita para outros locais, longe da praia original,
onde possam ser protegidos. Nestes casos, além de escolhermos bem a área, devemos
prepará-la para receber os ninhos, construindo uma espécie de praia artificial protegida
que chamamos de “chocadeira” (vide figuras 28,29,30). O local mais adequado para uma
praia artificial de incubação ou chocadeira é um local alto, plano, aberto, livre de árvores
ou construções próximas, permitindo que a chocadeira esteja exposta a luz do sol durante
todo dia. Este local deve ter uma boa drenagem (para escoamento das águas pluviais) e
dele devemos retirar toda cobertura vegetal, deixando o solo totalmente nu e sem raízes,
deve-se retirar, inclusive, qualquer ninho de formigas que esteja por perto. Tem de ser um
local fácil de vigiar, podendo ser em um campo aberto ou praia próximo da comunidade
(Andrade et al., 2005; Soini, 1999).
são transferidos os ninhos coletados. As chocadeiras podem ser cercadas com pau-a-pique,
tábuas ou, o que é mais comum, madeira e tela plástica ou de arame (figuras 28, 29 e 30).
O substrato para onde serão transplantados os ninhos pode ser areia ou argila
(barro). Entretanto, melhores taxas de eclosão são obtidas na areia (Andrade et al., 2005;
Soini, 1999). Ninhos de tracajás (Podocnemis unifilis) transplantados para areia sofrem
maior variação de temperaturas (32,6±1,9º.C) do que ninhos no barro, onde a temperatura
é mais constante (30,8±0,8º.C), o que influenciou significativamente no tempo de
nascimento dos filhotes, que é menor na areia (57,9±2,7 dias) do que no barro (63,8±2,3
dias), e na taxa de eclosão (areia=85,6±18,2%; barro=53,7±13,7%) (Andrade et al., 2001).
Towsend (2008) e Soini (1999) recomendam que se façam caixas ou cercados de areia
para a incubação dos ovos transplantados em áreas onde não tem praias. Andrade (2008)
adotou essa técnica obtendo maiores taxas de eclosão nas caixas de areia onde antes os
ninhos eram transplantados para covas de barro.
Preferencialmente, a transferência deve ser realizada para locais naturais (praias).
No entanto, nos casos em que não é possível, pode-se optar por construir praias artificiais
na comunidade. A construção dessas praias é a estratégia menos recomendada e só deve
ser utilizada em último caso. As praias artificiais ou chocadeiras devem ficar longe de
lixeiras, esgotos ou qualquer lugar que possa atrair moscas, pois dípteros da família
Ephydridae e Sarcophagidae, são insetos oportunistas que depositam suas larvas sobre os
ninhos e estas predam os ovos e filhotes de quelônios dentro dos ninhos (Garcez, 2009;
Andrade, 2008).
As praias artificiais são construídas com cercas de madeira, tipo canteiros, em
tamanhos variáveis, dependendo do número de ninhos que se pretende transferir. A
influência da praia artificial na mortalidade embrionária, temperatura, infestação por
fungos e ataque por formigas deve ser avaliada, para que as técnicas de construção
dessas praias possam ser adaptadas a partir desses resultados. Por exemplo, pode-se
construir uma praia suspensa para evitar o ataque de formigas. No entanto, é possível
que isto gere condições de temperatura e umidade adversas. Pode-se ainda, colocar
seixos no fundo da caixa, a fim de possibilitar maior percolação da água e evitar o acúmulo
de água no fundo da caixa. A necessidade de aplicar essas estratégias depende das
condições do local onde será construída a praia artificial (Andrade, 2008; Andrade et al.,
2005, 2004 e 2001; IBAMA, 1989).
Figura 28: Construção da primeira chocadeira do projeto na praia da Aliança, lago do Piraruacá
em 1999.
a) Construção da Chocadeira:
Primeiramente, deve-se delimitar a área para onde serão transplantados os ninhos.
A área pode ser um quadrado ou retângulo, se possível, com uma cerca de 1,2 a 1,5 metros
de altura, feita com tela plástica tipo sombrite, tela metálica de galinheiro, estacas de
madeira, malhadeiras velhas, enfim, o que tiver disponível (Andrade et al., 2005). Se houver
necessidade da caixa de madeira para conter a areia (em áreas onde só haja terrenos de
barro), ela deve ser feita como um baldrame ou mureta de tábuas (figura 29), com a altura
entre 30-50 cm, para transplante de ninhos de tracajá, e 100 cm para transplante de ninhos
de tartaruga (Towsend, 2008; Soini, 1999). Em locais onde existem predadores naturais de
ninhos como algumas aves, gambá (Didelphis marsupialis), jaguatirica (Leopardus pardalis),
teiú (Tupinambis teguxin) e gatos ou cães domésticos, recomenda-se ainda que a chocadeira
seja coberta com fios de nylon bem finos ou malhadeiras de mica para proteger as ninhadas
sem fazer sombra.
Verificar se o local possui, pelo menos, uma altura de 1 m de areia acima do nível
do rio, reduzindo com isso, o excesso de umidade nos ninhos e aumentando a taxa de
eclosão. Catique (2011), Garcez (2009) e Sá (2009) verificaram que praias artificiais para
reprodução de P.expansa em cativeiro que são mais altas (entre 1,5 e 4 m) possuem menor
teor de umidade (6-14%) nas camadas de 0 a 80 cm de profundidade do que praias mais
baixas (0,1 a 1,4 m) que tem maior teor de umidade (19 a 43%), verificaram, sobretudo
que, em praias mais altas a taxa de eclosão é significativamente maior do que em praias
baixas.
O cercado deverá ter as dimensões necessárias para receber um número estimado
de ninhos por espécie, e ainda permitir o deslocamento do pessoal que faz o transplante.
Normalmente, adota-se a distância de 50 cm entre um ninho transplantado e outro de
tracajás ou iaçás (entre linhas), sendo que, entre cada fileira (coluna) de ninhos adota-se
também 50 cm. Para ninhos de tartarugas, a distância entre ninhos e entre fileiras deve
ser de um metro (Portal et al. 2005; Andrade et al. 2005; IBAMA, 1989). Soini (1999)
recomenda para ninhos transplantados de tracajás uma distância entre ninhos de 20 cm e
uma distância entre fileiras de 30 cm. Devemos manter uma distância mínima de 50 cm
também entre os ninhos e as paredes laterais do cercado para permitir a movimentação
das pessoas e reduzir o efeito de borda. Então, para transplantarmos 100 ninhos de tracajás
ou iaçás (sendo 10 ninhos/fileira X 10 fileiras) precisaremos de um quadrado de 6 m X 6 m
(5 m X 5 m para os ninhos mais 0,5 m de cada lado para os corredores laterais), conforme
apresentado na figura 31. Para alinhar corretamente a posição dos ninhos, recomenda-se
utilizar um fio guia como referência ou gabarito (figuras 33).
Figura 29: Chocadeira na várzea, substrato barro e terra preta, processo de retirada da
camada superficial de matéria orgânica, raízes e pedregulhos, cercada de tábuas. Igarapé
dos currais, Lago do Pintado, Terra Santa, 1999.
Fig. 32: Linha ou fio auxiliando na marcação da distância correta entre os ninhos transferidos;
Fig. 33: Medindo a distância entre ninhos de tracajás na chocadeira que deve ser 50 cm
- Abrir com muito cuidado a caixa de isopor contendo os ovos a serem transplantados
e retirá-los cuidadosamente, colocando-os nas covas transplantes, na ordem inversa de
quando forem retirados da cova original (mantê-los limpos de quaisquer impurezas);
- Não misturar ovos de um ninho com ovos de outros ninhos;
- Tampe o ninho colocando primeiro a areia úmida trazida do ninho original cobrindo-
a totalmente a câmara e os ovos sem nenhuma pressão;
- Depois de colocado o restante da areia, compactar a areia colocada sobre o ninho
com batidas leves com a palma das mãos;
- Fazer o transplante por cova, uma por vez. Esse trabalho deverá ser feito enquanto
a areia estiver úmida e antes que o sol incida sobre os ovos, ou ao final da tarde (16 ou
17h) quando a temperatura estiver mais amena;
Figura 43: Aparelhos usados para medir a temperatura nos ninhos transferidos: Em
cima: Termômetro de solo e termohigrômetro digital; Embaixo: Datalogger individual
e de quatro canais na Fazenda Aliança/Terra Santa e Piraí/Barreirinha.
O local para onde os ovos serão transferidos deve conter o mínimo de vegetação
possível, capim e raízes, não deve ter pedras, nem matéria orgânica e nem desníveis no
terreno, a fim de evitar ataques por formigas, infestação por fungos e acúmulo de água. As
pedras e raízes podem se constituir em obstáculo para expansão natural dos ovos durante o
crescimento do embrião, causando o nascimento de filhotes tortos ou defeituosos.
O espaçamento entre os ninhos deve ser o maior possível, sugerindo-se um míni-
mo de 50cm para tracajás e iaçás e de 1m para tartarugas. Este local deve ser alternado de
um ano para outro, sempre que possível, a fim de reduzir a infestação por fungos e o
ataque por formigas. Em casos em que não é possível alternar o local, sugere-se que as
cascas, ovos não eclodidos e filhotes mortos sejam retirados após a contagem e descarta-
dos em outro local.
V. ECLOSÃO
tamento da areia na sua superfície o que torna fácil sua identificação. Isso de dá dentro de
um espaço de até cinco (5) dias após o nascimento do primeiro animal que espera o mo-
mento adequado para sair em busca das águas.
- A eclosão de todos os ovos não se processa ao mesmo tempo, pode variar por um
período de até cinco dias após a saída dos primeiros filhotes. Devido a isso, deve-se deixar
que a saída dos filhotes da cova se processe naturalmente até o 3° dia após a saída dos
primeiros animais. Somente depois disso, é que devemos fazer a intervenção, fazendo a
abertura da cova para ajudar sair os que não conseguiram por si só.
- A retirada dos filhotes da cova deve ser feito com as mãos afastando a areia seca
da superfície, escavando a areia úmida e alargando-a cuidadosamente para a completa
retirada dos filhotes que não conseguiram sair por si só (figuras 46, 47, 48);
- Cercar as covas com utilização de tela, cestos de cipó ou vime, caixas de madeira,
etc, isso ajuda, na posterior conferência dos filhotes durante seu nascimento/eclosão.
Caso não seja possível o uso desses materiais por se tratar de uma área com muitos ni-
nhos e nascimentos; deve-se proceder a retirada da cova antes deles emergirem natural-
mente e liberá-los nas águas ou, se for o caso, transportá-los para viveiros ou berçários
nos quais os animais poderão passar alguns dias (30-60 dias) e/ou até o amadurecimento
e absorção da gema umbilical (figuras 49 e 50);
- Lembrar de conferir também, além dos filhotes vivos, o número de ovos não viá-
veis (gorados ou estragados, fungados, ovos não fertilizados) e o número de filhotes mor-
tos para o cálculo da taxa de eclosão de cada ninho.
Figuras 46, 47 e 48: Abertura manual dos ninhos transferidos; conferência de filhotes, ovos gorados e
ovos inférteis; separação dos filhotes vivos para levar ao berçário na Aliança, Lago Piraruacá, Terra Santa
(2010).
Figura 49: Filhote recém-eclodido de tracajá (P.unifilis) com vitelo ou gema umbilical ainda
presente, Terra Santa/PA (2010).Figura 50: Filhote de tartaruga récem-eclodido no Manarian.
carapaça (seguindo um código de identificação pelo ano e pela área, figura 52) ou recebem
microchips.
Em áreas de manejo comunitário, os filhotes são mantidos em “berçários” (tanques-
rede, de fibra ou alvenaria, dependendo da comunidade) por um período de 60 dias antes
da soltura. No berçário, esses filhotes recebem alimentos que encontrarão na natureza,
suplementado com ração peletizada com 42% de proteína bruta até serem soltos em lagos
de alimentação próximos ao mesmo local de onde foram retirados os ovos (Andrade et al.
2005) onde provavelmente se encontram os animais adultos da população.
Figura 51: Filhotes de tracajás (P.unifilis) com marcação temporária feita com pincel à prova
d’água ou esmalte.
Figura 51: Filhotes de tracajás (P.unifilis) com marcação temporária feita com pincel à prova
d’água ou esmalte.
Figura 53: Filhote de tracajá (P.unifilis) atacado por formigas no momento da eclosão em
ninho natural na Aliança, Lago do Piraruacá (2010).Figura 54: Filhote de tracajá atacado por
piranha em Barreirinha.
Os berçários são instalações onde os filhotes ficam antes de serem soltos na natureza.
Podem ser gaiolas com tela e madeira, colocadas nos lagos e rios. Podem ser tanques de
alvenaria ou simples recipientes como bacias, caixas de água ou tanques de fibrocimento.
Isso varia em função da quantidade de animais, das caracteristicas da área e da
disponibilidade de recursos. Os comunitários recebem orientação para a construção dos
berçários e o manejo dos filhotes (tipo, quantidade e horário de alimentação; cuidados
com predadores; cuidados com filhotes prematuros ou doentes, etc.).
Os filhotes são mantidos nos berçários até completarem 2 (dois) meses de idade,
período em que já possuem um casco mais resistente e sabem procurar alimentos,
tornando-se menos susceptíveis à predação. Cada berçário de alvenaria tem cerca de
100 m2 (figura 55), já os berçários tipo gaiola (madeira e tela) são feitos de peças de
madeira e tela tipo galinheiro, tendo em torno de 5-10 m2. A escolha do tipo de berçário
depende do local onde ele é implantado e do número de filhotes. Cada berçário, também
é recoberto de fios de nylon trançados ou malhadeiras velhas para evitar a predação
dos filhotes por aves e possui pequenas balsas flutuantes de madeira que servem como
solário, além disso são colocados aguapés e murerus que servem de abrigo e alimentação
para os filhotes (figura 56).
Figura 55: Berçário tipo tanque circular de alvenaria com 6 m de raio e paredes
laterais com 60 cm de altura, Aliança, Lago do Piraruacá. Observar detalhe da
malhadeira velha que cobre o tanque protegendo os filhotes de predadores.
3 - Caixas teladas flutuantes: são caixas de madeira, com as laterais teladas (tela
plástica) mas que estão presas a flutuadores como garrafas pet, tambores plásticos de 50
e 200 litros ou toras de madeira flutuante (assacu). Funcionam como tanques-rede (figuras
61 e 62);
4 - Depressões naturais nas praias: Procura-se áreas mais baixas, vãos entre as
dunas de areia na praia, onde a haja água represada, formando pequenos lagos. Cerca-se
esses lagos com tábuas e troncos.
5 - Tanques de alvenaria: Devem ser preferencialmente de forma arredondada ou
ter os cantos arredondados para evitar o acúmulo de animais nos cantos. Podem ser
totalmente de cimento e tijolo (figura 63) ou terem a base de alvenaria e as laterais de
material impermeável como esteiras de borracha (figura 64).
6 - Tanques ou caixas de água: Podem ser utilizadas caixas d’água de fibrocimento
(figura 65) ou fibra plástica (figura 66). Caixas de 500 litros comportam bem 500 filhotes.
7 - Camburões de metal: Podem ser partidos camburões de metal ou plástico de
200 litros utilizando-se cada metade para fazer um berçário. O tanque de metal tem a
desvantagem de aquecer rapidamente. Devem ser usados apenas para poucos filhotes
(figura 67) e serem colocados na sombra!
8 - Piscinas plásticas: Piscinas plásticas de 1.000 e 3.000 litros constituem excelentes
berçários, sendo práticas e fáceis de transportar. Sua desvantagem é que assim como os
outros tanques fixos, temos de trocar a água constantemente e, além disso, temos de
tomar cuidado para não furarem (figura 68).
9 - Tanques-rede: Existem modelos de tanques-rede industriais feitos com canos de
ferro galvanizado, pintura anti-oxidante, flutuadores plásticos e telas de alambrado com
arame galvanizado recoberto de plástico. Nesses tanques os filhotes apresentaram maior
crescimento do que em todas as outras instalações anteriores, pois ficam no próprio rio, a
renovação da água é constante e podem ser colocados em ambientes mais fundos, evitando
assim o ataque de sanguessugas aos filhotes, o que normalmente ocorre em águas rasas
(figura 69).
Fig.57. Gaiola tipo caixa de madeira com tela plástica;Fig.58: Gaiola com tela metálica; Fig.59. Caixa de
madeira com proteção e aguapé;Fig.60: Berçário caixa de madeira em Carauari; Fig.61: Gaiola flutuante
com garrafa pet; Fig.62: Gaiola flutuante com tambor de 200 litros.
Fig.63.Berçário de alvenaria com cantos arredondados;Fig.64: Berçário com a base de alvenaria e lateral
de esteira de borracha; Fig.65: Berçário tipo caixa d’água de fibrocimento;Fig.66: Berçário caixa d’água
fibra plástica;Fig.67: Berçário de banda de camburão de ferro de 200 litros; Fig.68: Berçário com piscinas
plásticas.
Figura 69: Tanques-rede para berçário e criação de quelônios em Terra Santa e Parintins.
a) Durante os dois meses que os filhotes ficam nos berçários deve-se fornecer cerca
de 500 a 800 g de alimento por dia para cada 1.000 filhotes. Preferencialmente, fornecer
alimentos que eles encontrarão na natureza como plantas aquáticas (mureru, capim
canarana, arroz de várzea) ou cultivadas (beldroega, erva-de-jabuti, cariru) e enriquecer
com peixe cru ou assado cortado em pedaços bem pequenos ou moído. Poderá ser
fornecida ração balanceada para peixes em alevinagem (com 36-42 % de proteína) com
pellets bem pequenos (parecidos com grãos de pimenta do reino).
b) As vezes os filhotes recém-eclodidos apresentam ferimentos na região do vitelo ou
gema umbilical que podem ser porta de entrada para infecções bacterianas (figura 70).
Devemos limpar a região do vitelo com algodão embebido em soro fisiológico e pingar uma
gota de iodo. O filhote com vitelo (umbigo grande) não deve ser colocado no berçário junto
com os outros ou mesmo em bacias com água. Ele deve ser mantido em uma caixa de isopor,
com um pouco de areia no fundo, parcialmente tampada, em local fresco e na sombra.
Figura 71: Filhote de iaçá (P.sextuberculata) atacado por larvas de mosca no lago Piraruacá (2011).
A soltura dos filhotes é realizada nos mesmos locais de onde foram coletados os
ovos. Neste momento, com os dados do período de transferência, se pode calcular
quantidade de filhotes que cada praia ou cada comunitário terá direito, com base no
percentual de ovos cedidos por cada local e pelos dados de eclosão conferidos com a
numeração das covas ou ninhos.
Esta atividade ocorre no início de cada ano. Muitas comunidades celebram este
evento, com missas ou cultos, palestras, festas, etc (figura 72). A equipe do projeto, também,
auxilia na organização e nas apresentações durante esses eventos, que já recebem o nome
de “Festa da Soltura”. Esta é uma ocasião onde a comunidade têm a oportunidade de
mostrar para a população do município o fruto de seu trabalho e, também, de se
confraternizarem pelo árduo trabalho desenvolvido.
Antes de liberar os filhotes na natureza deve-se:
- Fazer a biometria de pelos menos 10% dos filhotes (no mínimo 30 animais de cada
espécie);
Capítulo 4
Técnicas ddee monitoramento e lleevantamento p
mo poopul
ulaacional
Populações animais são unidades biológicas que podem crescer, estabilizar ou en-
trar em declínio em função do tempo dependendo da combinação dos efeitos das taxas
de natalidade, mortalidade, imigração e emigração. Essas taxas compõem o que chama-
mos de parâmetros de dinâmica das populações e, estão diretamente relacionados a esti-
mativa da taxa de crescimento intríseca da população ou potencial biótico, r (Eltringham,
1984; Bailey, 1984; Peek, 1986; Schemnitz, 1987; Robinson e Bolen, 1989; Brower, Zar e
Ende, 1989).
O termo dinâmica de populações se aplica ao estudo das variações no número de
indivíduos da população e dos fatores que influenciam essas variações; igualmente inclui
a investigação das taxas em que se verificam as perdas e reposições de indivíduos e de
qualquer processo regulador que tenda a manter o tamanho da população em equilíbrio
(Bailey, 1984; Odum, 1988; Krebs, 1989; Rau, 1993; Gotelli, 2007). Os parâmetros de dinâ-
mica – natalidade, mortalidade, imigração e emigração – são os principais parâmetros de
uma população (Bailey, 1984; Krebs, 1986; Robinson e Bolen, 1989).
Tamanho populacional e taxa de crescimento ou declínio dependem, entretanto,
de vários fatores: 1) o número de indivíduos a ingressar na população (nascimentos e
migração), 2) o número de indivíduos deixando a população (mortes e emigrações) e 3) a
rapidez com que os indivíduos amadurecem e se reproduzem. Um modelo de população
organiza essas informações de uma forma que permite ao modelador prever as mudanças
no tamanho da população e a taxa de crescimento devido a mudanças específicas nas
taxas vitais ou valores de entrada, como um aumento na produção de filhotes devido a
proteção do ninho. (Crouse, 1999).
A maioria dos animais tem reproduções sazonais, produzindo suporte anual de
nascimentos. Apenas se nós analisarmos um longo período de tempo (50 a 100 anos),
esses arrancos de crescimento (pulsos) tornam-se menos visíveis, permitindo compara-
ções através de curvas logísticas (Robinson e Bolen, 1989; Gotelli, 2007).
As tartarugas são animais de longa vida e modelos que requerem estimativas
demográficas de idade, crescimento, fecundidade e sobrevivência são fundamentais para
o seu manejo. A maioria dos estudos que estimam a idade e o crescimento de tartarugas
de água doce, utilizam os anéis como um índice de idade, sem estimar o seu erro e, pou-
cos estudos que usam modelos de crescimento, incluem muitos juvenis, onde o cresci-
mento é geralmente grande e variável (Spencer, 2002). A relação entre a idade e o tama-
nho é importante para o desenvolvimento de modelos demográficos e a identificação de
fases da vida onde os quelônios estejam mais susceptíveis (Benhard e Vogt, 2010; Gotelli,
2007; Krebs, 1989).
Estudar o crescimento de quelônios pode ajudar a tomar melhores decisões em
nível de manejo. Muitos fatores demográficos da história natural dos animais são media-
dos ao menos em parte pelo tamanho corpóreo. Por exemplo, deseja-se saber quão rápi-
do uma população de animais pode crescer (ou sob que nível uma população pode ser
explorada em termos biologicamente sustentáveis), será preciso ter em mente quão rápi-
do os animais alcançam a maturidade sexual (que é uma das variáveis demográficas mais
importantes) - (Abercrombie e Verdade, 2000).
A proteção dos ovos e ninhos sozinha não foi suficiente para repor estoques esgo-
tados de tartarugas marinhas (Bjorndal, Bolten e Martins, 2000; Crouse, 1999). Os mode-
los mostraram que pequenas reduções na sobrevivência anual de juvenis e de adultos
podem ter efeito profundo sobre a dinâmica da população reduzindo o crescimento
populacional. A redução das taxas de mortalidade de juvenis e adultos são essenciais para
a recuperação das populações de tartarugas marinhas. Assim, os modelos mais completos
construídos para a população de tartarugas marinhas, bem como modelos para as outras
espécies de quelônios, apontam para a necessidade de manter a sobrevivência anual ele-
vada de todas as fases da vida para sustentar populações em declínio (Crouse, 1999).
A superexploração, como recurso alimentar, para as populações humanas resultou
também na queda drástica ou extinção de populações de tartarugas marinhas (Zimmer-
Schaffer et al., 2014). Tentativas de controlar o restante das populações de forma susten-
tável são dificultadas pelo conhecimento insuficiente dos parâmetros demográficos. Em
particular, as respostas compensatórias resultantes de efeitos dependentes de densidade
não eram avaliadas para uma população de tartarugas marinhas e, portanto, não eram
explicitamente incluídas em qualquer modelo populacional (Bjorndal, Bolten e Chaloupka,
2000).
Para Podocnemis expansa, existem poucos estudos visando estimar modelos de
crescimento populacional e de biomassa (Diniz e Santos, 1997, e Bataus, 1998, Andrade,
2015).
Um desafio importante para o estudo da demografia e padrões da história de vida
de quelônios aquáticos é a fase juvenil, onde esses indivíduos dificilmente são captura-
dos, talvez por habitarem ambientes pelágicos ou de difícil acesso, sendo que, informa-
ções importantíssimas, deste estágio de vida imaturo, como a taxa de crescimento e a
mortalidade, em geral são extrapolados nos modelos populacionais (Bjordal, Bolten e
Chaloupka, 2000).
Outra forma de se modelar os dados de estrutura e dinâmica de populações
são as tabelas de vida. Tabelas de vida sumarizam informações importantes como sobre-
vivência, fecundidade e idade de maturação de uma população, permitindo, a partir de
uma estrutura de idades inferir sobre a dinâmica e a evolução de uma população. Tabelas
de vida também podem auxiliar na construção de modelos hipotéticos sobre crescimento
populacional e sobrevivência (Robinson e Bolen, 1984; Peek, 1986; Schemnitz, 1987).
Os atributos necessários para compilar uma tabela de vida para tartarugas são: 1)
Idade média na maturidade; 2) Fecundidade per capita de fêmeas, incorporando tama-
A) Uma abordagem preliminar para uma análise das séries temporais de registros
da produção de ninhos e filhotes em áreas protegidas de nidificação de quelônios:
Na grande maioria das áreas onde realiza-se o trabalho de proteção aos sítios de
desova de tartarugas, tracajás e iaçás, os principais dados registrados são o número de
ninhos, estimativa do número total de ovos e a produção de filhotes. Em alguns desses
tabuleiros existem longas séries históricas dessas informações coletadas regularmente
anualmente e com anotações sistematizadas e eficientes, padronizadas através dos pro-
tocolos estabelecidos anteriormente pelo Projeto Quelônios da Amazônia (como visto no
capítulo 2). Essas séries de dados históricos, que em algumas Unidades de conservação
(como por exemplo a Resex do Médio Juruá) ou tabuleiros protegidos (como Walter Buri)
chegam a mais de 40 anos de registros (Andrade, 2015). Essas informações, se bem anali-
sadas, podem nos fornecer uma razoável idéia sobre as tendências do crescimento
populacional dos estoques de quelônios aquáticos nestas regiões.
Propomos aos gestores uma abordagem simplificada, que nos permite ajustar as
séries históricas de dados de produção anual de ninhos e filhotes em cada tabuleiro a um
modelo logístico de crescimento populacional.
Os dados de produção de ninhos e filhotes devem ser registrados em cada área de
nidificação anualmente e, em seguida tabulados. Esses dados de produção de ninhos e
filhotes por espécie em cada praia devem ser relacionados ao tempo de proteção de cada
- Logística: Nt= K ,
1 + [(K-No)/No].e-rt
Figura2: Curvas logísticas de ninhos de tartaruga (P.expansa) em diferentes sítios de nidificação: A) Abufari,
rio Purus; B) Manarian, rio Juruá (Fonte: Andrade, 2015).
Para captura de adultos, subadultos e jovens sugerimos que sejam utilizadas baterias
de pelo menos três redes do tipo transmalhas (trammel-net) ou feiticeiras com 100-150
metros de comprimento por 2,5 - 4 metros de profundidade (malhas variando de 70 a 240
mm), três malhadeiras de monofilamento de nylon com 60 metros de largura por 2 metros
de profundidade (malhas de 70, 100 e 140 mm) e duas malhadeiras de fio de algodão com
100 metros de comprimento e 4 metros de profundidade (malhas de 90 e 100 mm)
colocadas em diferentes microambientes dentro de rios, lagos, igarapés, sacados, furos,
igapós e florestas inundadas para descobrir onde cada classe de tamanho de cada espécie
ocorre em diferentes épocas do ano e próximo às áreas de nidificação. Essa bateria de
redes ficará na água em um esforço contínuo de captura com períodos de 24 a 48 horas,
durante os quais, os apetrechos serão revisados de duas em duas horas, para se evitar o
afogamento ou a predação dos animais (Andrade, 2015). Se não for possível revisar as
malhadeiras durante a noite, recomenda-se que sejam retiradas ao final da tarde (18h) e
instaladas novamente no início da manhã (6h).
Além dos plotes de redes de emalhar e do uso do arrastão, deve ser feita a captura
da forma artesanal com apoio de pescadores locais, nos canais dos lagos, ressacas, paranás
e nos remansos dos rios perto das praias. Neste processo serão utilizadas malhadeiras de
40-100 m de comprimento, profundidade de 2-3 m e com uma linha de flutuadores na
parte superior, sem chumbo na parte inferior, com malhas de diâmetro 90, 100 e 190 mm.
Eventualmente, em locais propícios como igapós e floresta inundada, será realizada
também a captura com mergulho e procura ativa.
Figura 6: Captura de filhotes e juvenis de P.unifilis através da técnica de mergulho no rio Andirá, em
Barreirinha.
Figura 8: Utilização de basking-trap para captura de filhotes de tracajás no lago Piraruacá, em Terra
Santa.
Os plotes deverão ser repetidos nos mesmos locais em quatro (4) épocas distintas
do regime hídrico para comparar os efeitos da sazonalidade na abundância das espécies
(Podocenemis expansa, P. unifilis e P. sextuberculata) em diferentes habitats. Podem ser
realizadas capturas na cheia (janeiro), no início da vazante (maio-junho), na seca (agosto-
setembro) e no início da enchente (novembro-dezembro). Cada animal deverá ser marcado,
identificado, sexado, medido e pesado, sendo que, todos os animais capturados em cada
local, só serão soltos após o término do esforço de pesca naquele local (Bernhard & Vogt,
2010; Fachín-Terán, 2000; Pezzuti, 1997).
Figura 9: Captura de quelônios em diferentes períodos (cheia, vazante, seca) e diferentes ambientes.
Figura 10: Viração de tartarugas (P. expansa) no tabuleiro do Manrian, RDS Uacari.
Para estimar a idade dos animais podem ser contados os anéis de crescimento do
primeiro escudo costal da carapaça ou dos escudos peitoral ou humeral do plastrão,
considerando sempre aqueles cujos anéis de crescimento dos escudos estiverem mais
evidentes. O número de anéis de crescimento formado entre a primeira e a segunda captura
será comparado com o tempo decorrido entre as capturas. Desta forma, os animais poderão
ser agrupados nas seguintes classes de idade: a) Filhotes: do nascimento aos 2 anos de
idade; b) Jovens: de 2 a 4 anos de idade; c) Subadultos: de 4 a 7 anos de idade; d) Adultos:
acima de 7 anos. A classificação adotada foi baseada nos estudos sobre tamanho e idade
à primeira postura em cativeiro para P.expansa e P.unifilis realizados por Garcez (2009) e
pela análise das gônadas de P.expansa e P.unifilis de cativeiro e vida livre feitos por Silveira
et al. (2009), e que estimaram a idade à maturidade entre 7 a 8 anos para as duas espécies.
Figura 14: Sistema de marcação com furos na carapaça e fixação de plaquetas metálicas com numeração
serial. Figura 15: Abaixo sistema de códigos – permite numerar até 9.999 animais.
Figura 16: Marcação de filhotes com picos nas escamas laterais da carapaça feitos com alicate de unha.
Estes cortes regeneram, mas se bem feitos, são visíveis até 3 anos de idade, o que permite estimar a
sobrevivência e o crescimento dos filhotes recapturados neste estágio de vida.
A determinação da dieta e dos hábitos alimentares dos quelônios deve ser realizada
preferencialmente para indivíduos jovens e adultos, sendo utilizada uma lupa esteroscópia
para examinar e identificar os itens alimentares. As fontes alimentares potenciais para os
quelônios podem ser divididas em: 1) itens de origem animal como peixes (PXS), insetos
(INS), crustáceos (CRU) e moluscos (MOL). 2) itens de material vegetal como frutos (FRU),
sementes (SEM), flores (FLOR), caule e talos (CAU), raízes (RAIZ), folhas (FOL), algas e/ou
perifítons (AL+PER) e material vegetal não identificado (MV); o restante foi classificado
como sedimentos e/ou detritos (SED+DE) e outros.
Podemos usar o método de frequência de ocorrência registrando o número de
estômagos que contém um determinado item alimentar em relação ao total de estômagos
com alimento (Hyslop, 1980). Segundo Hahn e Delariva (2003), a frequência de ocorrência
fornece informações sobre a seletividade ou a preferência do alimento ingerido.
A frequência de ocorrência é calculada conforme a fórmula:
F.O = Σi.100/ N
Onde:
F.O= Frequência de ocorrência;
i = Número de estômagos em que cada item alimentar foi identificado;
N = Número de estômagos analisados com alimento.
Figura 20: Lavagem estomacal (flushing) em tartaruga na Resex Médio Juruá para obtenção
de conteúdo estomacal e determinação dos itens alimentares da dieta do animal.
Onde:
i= item alimentar;
F= frequência de ocorrência (%) do determinado item;
V= volume (%) de determinado item.
Figura 23: Movimentação e área de uso de tartaruga no rio Andirá durante 12 meses.
Figura 24: Rádiotransmissores VHF e via satélite instalados em tracajás em Terra Santa/PA.
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