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O desejo materno apenas discursivo: caso maria

A maria é professora, tem 35 anos, casada há 10, mãe de sua primeira filha. Maria,
entra em contato comigo através de mensagem desejando agendar uma sessão, dizendo
informando que precisa muito de mim, pois a acabou de realizar uma cesariana com seis
meses de gravidez. A mesma alega nunca ter feito terapia, mas relata conflitos
emocionais e um discorre um acontecimento na escola onde trabalh. Era uma manhã e
estava me sentindo bem, mas próximo do fim do expediente comecei a não sentir as
pernas (sic). Relata, que resolveu não compartilhar com os colegas de trabalho, e foi
direto ao aeroporto, pois um amigo estava chegando do rio de janeiro. Declara que antes
de chegar lá, não conseguiu mais dirigir, e teve que ser socorrida para o hospital por
pessoas desconhecidas. Diz não saber do que se trata, apesar de ter recebido o
diagnóstico de ansiedade (TAG).
Fala que o marido tem dois filhos de outro casamento, que eles se dão bem, e pelo
fato do marido ter 55 anos, os dois resolveram tentar uma gravidez. Aponta que estava
com eclampsia, e que os médicos pediram repouso total. “Eu fui no TRE ser mesária, e
toda vez que alguém olhava para mim, eu fingia que estava mexendo no celular (sic).
Afirma que após três dias sem sentir o bebê se mexendo em sua barriga disse ao marido,
e os dois seguiram para o hospital às pressas, e ao chegar lá a mesma foi submetida a
uma cesariana.
Aponta que vem tendo muitos pesadelos, e que irá me contar na próxima sessão,
pois sente muita vergonha de dizer que os pensamentos que aparecem em sua cabeça.
No segundo atendimento, a paciente entra na sala e compartilha o falecimento de sua
filha após três dias de nascida. Desta forma, entramos no assunto materno, e ela
compartilha que só percebeu que não falava com a criança no 4 mês de gestação, “ ela
nem tinha nome ainda, nem quarto, comprei tudo muito rápido, e me sentia incomodada
quando o marido falava com ela (sic).
Segundo maria, os pesadelos são sempre da mesma forma. Estou dormindo, e a
casa começa a ser invadida por água, e olha pra tudo que se passa pela porta do meu
quarto que encontra-se entreaberta, de repente começo a ser enforcada por mãos de
crianças, e vejo na sala a imagem de santa maria rindo de mim (sic)”. Acordo.
A paciente declara que não tem muita queixa para falar dos pais, e não tinha muita
aproximação com os irmãos que moram todos no interior, diz que as duas irmãs são
puritanas, e que a família ficou bastante incomodada quando ela resolveu morar em São
Paulo quando era uma adolescente. A escola era longe de casa, e quando criança não
teve muito contato com os pais, porque foi morar na casa da tia para que pudesse
estudar.
No terceiro atendimento, aponta que tentou ir até o cemitério e não sabia o lugar,
errando o caminho e chegando a voltar por considerar que tinha coisas importantes a
fazer, mesmo estando de férias. Diz ter vergonha do que pensa, mas irá me contar,
informando que as vezes pensa no marido sendo atropelado, desejando que ele morra. O
marido já pensou em adotar uma criança, mas segundo ela, como poderia fazer isso, se
caso não gostasse da criança não teria como devolver.
Maria fala que talvez não chore nas sessões por causa do antidepressivo que vem
tomando, e me pergunta porque o sentimento de culpa e angústia não passa nunca.
Analisa que procurou um analista homem, por acreditar que as mulheres poderiam
julgá-la , dizer que ela talvez tivesse uma participação na morte da filha. Você sabia que
quando ela nasceu ainda dentro da sala de cirurgia o médico quis colocar em cima de
mim, e eu pedi para que eles limpassem a criança, fico pensando se posso contar essas
coisas para mais alguém, o que você acha? Silêncio!
A paciente passa dois anos em análise, e conclui o processo dizendo que a minha
participação foi imprescindível na elaboração do luto, que não vai realizar nenhuma
adoção, pois o casal de amigos homoafetivo adotou um menino, e terminaram
escolhendo eles como padrinhos da criança. Conta que fez até um quarto na casa dela
para o menino que dorme lá toda semana. Dessa forma terminamos a sessão com a
frase: O que é ser uma mãe?

1) Realize uma análise do caso apontando direcionamentos teóricos.

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