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Políticas Sociais de

atendimento ao Idoso

Profa. Joelma Crista Sandri Bonetti


Profa. Katiane de Quadros Bones Camargo

Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020

Elaboração:
Profa. Joelma Crista Sandri Bonetti
Profa. Katiane de Quadros Bones Camargo

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

B712p

Bonetti, Joelma Crista Sandri

Políticas sociais de atendimento ao idoso. / Joelma Crista


Sandri Bonetti; Katiane de Quadros Bones Camargo. – Indaial:
UNIASSELVI, 2020.

186 p.; il.

ISBN 978-65-5663-136-3
ISBN Digital 978-65-5663-137-0

1. Política nacional do idoso. - Brasil. I. Camargo, Katiane de


Quadros Bones. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 362.6

Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico, iniciamos os estudos da disciplina de Políticas Sociais
de Atendimento ao Idoso. Abordaremos questões de extrema relevância no
que tange às questões que permeiam o tema do processo da longevidade.

Na primeira unidade, compreenderemos questões em torno da Política


Nacional do Idoso abrangendo as garantias constitucionais, seguridade social
e políticas de atendimento, a atuação junto aos idosos. Ainda, conheceremos
as documentações legais brasileiras referentes à pessoa idosa, incluindo o
significado, atribuições, competências, estruturação e reponsabilidades
dos conselhos de direitos, nas três esferas governamentais. Discutiremos o
tema das políticas públicas de proteção, o papel da sociedade, os níveis de
atenção e atendimento ao idoso, funcionamento das Instituições de Longa
Permanência de Atendimento ao Idoso (ILPI) e gestão humanizada.

Na segunda unidade, abordaremos questões pertinentes à


literatura epidemiológica e sociológica diante da realidade do idoso e seu
papel na sociedade. Refletiremos sobre o processo histórico do idoso e a
contemporaneidade a nível de Brasil. Pensaremos a respeito dos processos
biopsicossociais e da percepção da sociedade em volta da longevidade.
Verificaremos quais caminhos existem ou que podemos construir no sentido
de inclusão da pessoa idosa.

Na terceira unidade, partiremos para o Estatuto do Idoso.


Aprofundaremos a compreensão sistêmica das demandas do idoso e
abordagem multiprofissional. A interface das políticas públicas com a
gerontologia e suas formas de acesso. Ainda, abordaremos questões que
permeiam sentimento de fragilidade na velhice e olhar de cuidado, adaptações
e estruturas de ambientes no processo de finitude. A articulação do processo
de longevidade com a família e conceitos de dependência, independência e
autonomia.

Então, acadêmico, preparado para começar a compreender as


Políticas Sociais de atendimento ao idoso? Muito bem, vamos lá, pois a
demanda é complexa e requer muito estudo por parte de você, acadêmico e
futuro profissional na área da Gerontologia, sendo necessário a compreensão
e entendimento deste importante fenômeno da longevidade.

Bons estudos!

Prof.ª Joelma Crista Sandri Bonetti


Prof.ª Katiane de Quadros Bones Camargo

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!

VI
Sumário
UNIDADE 1 - A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO.......................................................................1

TÓPICO 1 - A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO...........................................................................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................3
2 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E A IMPULSÃO DE NOVOS
AVANÇOS SOCIAIS...............................................................................................................................3
3 GARANTIAS CONSTITUCIONAIS E A PRÁTICA DA SEGURIDADE
SOCIAL EM RELAÇÃO AOS IDOSOS..............................................................................................8
4 A POLÍTICA DE ATENDIMENTO E A AÇÃO PROFISSIONAL JUNTO AOS IDOSOS ....12
5 DOCUMENTAÇÃO BRASILEIRA REFERENTE À PESSOA IDOSA........................................15
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................20
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................21

TÓPICO 2 - LEI Nº 8.842 DE 1994: INSTITUI A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO..............23


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................23
2 O IDOSO.................................................................................................................................................23
3 OS CONSELHOS DO IDOSO NAS TRÊS ESFERAS GOVERNAMENTAIS..........................24
3.1 ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS DOS CONSELHOS DO IDOSO......................................26
3.2 ESTRUTURAÇÃO E RESPOSABILIDADES DOS MEMBROS DOS
CONSELHOS DO IDOSO.....................................................................................................................27
3.3 A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE NO PROCESSO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS..........28
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................32
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................34

TÓPICO 3 - NÍVEIS DE ATENÇÃO AO IDOSO AO LONGO DO TEMPO...............................35


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................35
2 ENVELHECIMENTO E AS POLÍTICAS DE PROTEÇÃO............................................................35
3 OS DIFERENTES NÍVEIS DE PROTEÇÃO NO ATENDIMENTO AO IDOSO......................36
4 FUNCIONAMENTO E GESTÃO DAS ILPI, EXIGÊNCIAS DA
ANVISA E OS TIPOS DE CERTIFICAÇÕES E ACREDITAÇÃO VOLTADOS
AO CUIDADO DO IDOSO.................................................................................................................40
5 GESTÃO HUMANIZADA NO CUIDADO INTEGRAL AO IDOSO........................................46
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................51
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................54
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................56

UNIDADE 2 - A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO,


A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL ..................................57

TÓPICO 1 - O CUIDADO E A INTEGRALIDADE DA ATENÇÃO..............................................59


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................59
2 CONTEXTUALIZANDO O CUIDADO E A INTEGRALIDADE DA ATENÇÃO...................60
3 O CUIDADO E SUA CONTEXTUALIZAÇÃO CULTURAL .......................................................61

VII
4 OPERACIONALIZAÇÃO DA INTEGRALIDADE
E O RECONHECENDO DO CUIDADO .........................................................................................64
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................72
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................73

TÓPICO 2 - A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: PREVENÇÃO E


PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL................................................................................................75
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................75
2 A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL..............................................................................................76
3 CONTEXTUALIZANDO A SAÚDE DE FORMA INTEGRAL ...................................................81
3.1 COMPREENDENDO MELHOR AS DOENÇAS CRÔNICAS ..................................................84
3.2 COMPREENDENDO MELHOR AS DOENÇAS INFECCIOSAS.............................................86
3.3 RECONHECENDO A EPIDEMIOLOGIA ...................................................................................88
3.4 O RISCO DAS POSSÍVEIS QUEDAS EM IDOSOS......................................................................89
4 CADERNETA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA............................................................................90
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................96
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................98

TÓPICO 3 - DESMISTIFICANDO A LEGISLAÇÃO EM RELAÇÃO ..........................................99


PESSOA IDOSA....................................................................................................................................99
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................99
2 MEDICAÇÃO COMO PAPEL SOCIAL PARA O IDOSO............................................................99
3 OS RELACIONAMENTOS INTERGERACIONAIS E A SAÚDE MENTAL
DOS IDOSOS.......................................................................................................................................101
4 UMA PINCELADA NA LEGISLAÇÃO DA SAÚDE EM RELAÇÃO
À PESSOA IDOSA .............................................................................................................................105
5 RECONHECIMENTO DAS AÇÕES EXITOSAS NA SAÚDE ..................................................107
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................109
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................111
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................113

UNIDADE 3 - O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS,


CENÁRIOS, CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA...............................115

TÓPICO 1 - MOVIMENTO SOCIAL, A LUTA PELA CIDADANIA E A VIOLÊNCIA...........117


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................117
2 A CONCEPÇÃO DE MOVIMENTO SOCIAL E A LUTA PELA CIDADANIA.....................117
3 A COMPREENSÃO DE REDES: SUA FORMAÇÃO E GESTÃO.............................................119
4 OS MOVIMENTOS SOCIAIS EM REDE.......................................................................................122
4.1 COMPREENDENDO A REDE DE ATENDIMENTO................................................................123
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................135
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................137

TÓPICO 2 - O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO...........................................................................139


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................139
2 CONTEXTUALIZANDO O ENVELHECIMENTO NO MUNDO.............................................139
3 CONTEXTUALIZANDO O CENÁRIO DOS IDOSOS...............................................................140
4 RECONHECENDO O ESPAÇO DOS IDOSOS ...........................................................................142
5 COMPREENDENDO O FENÔMENO DA VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO......................145
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................159
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................161

VIII
TÓPICO 3 - A VIOLÊNCIA NO CONTEXTO SOCIAL..................................................................163
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................163
2 RETRAIMENTO SOCIAL .................................................................................................................163
3 O SUICÍDIO EM IDOSOS.................................................................................................................164
4 SER IDOSO EM TEMPOS DE PANDEMIA .................................................................................168
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................175
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................177
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................178
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................179

IX
X
UNIDADE 1

A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO


OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender questões que permearam o processo da longevidade com


apontamentos significativos da Constituição Federal de 1988;

• conhecer a legislação que institui efetivamente a Política Nacional do Idoso;

• identificar as garantias constitucionais e a prática da seguridade social em


relação aos idosos;

• refletir sobre os níveis de atenção ao idoso ao longo do tempo;

• conhecer a política de atendimento e a ação profissional junto aos idosos;

• aprofundar os conhecimentos em torno da documentação brasileira


referente à pessoa idosa.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – TÓPICO 1 - A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

TÓPICO 2 – LEI Nº 8.842 DE 1994: INSTITUI A POLÍTICA NACIONAL


DO IDOSO

TÓPICO 3 – NÍVEIS DE ATENÇÃO AO IDOSO AO LONGO DO TEMPO

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

1 INTRODUÇÃO

Acadêmico, neste tópico, abordaremos algumas demandas de grande


impacto e relevância social que nos cercam cotidianamente, porém, muitas vezes,
passam despercebidas aos olhos de muitos. A evolução do aumento da expectativa
de vida registrada, nas últimas décadas, foi uma conquista significativa para a
sociedade e trouxe novos desafios em diversas áreas do conhecimento humano.

Trataremos, neste livro, de assuntos pertinentes à pessoa idosa que requer


a nossa compreensão, principalmente quando a demanda se tratar de processos
de atuação profissional. Para tanto, destacamos que iniciamos a referida unidade
trazendo informações de grande relevância no que tange à Política Nacional do
Idoso.

Abordaremos questões direcionadas a alguns aspectos legais que permeiam


as garantias de cuidados em relação aos idosos. A partir disso, voltaremos nosso
olhar às garantias constitucionais e à prática de seguridade social em relação aos
idosos.

Ainda, abordaremos fatos pertinentes às políticas de atendimento ao idoso


assim como estratégias de ações profissionais frente às demandas apresentadas por
esta parcela da população. Para tanto, também se faz necessário aprofundarmos
nossos conhecimentos em relação à documentação brasileira referente à pessoa
idosa.

Este segmento da população já se apresenta como sendo em registro


significativo uma vez que o número de pessoas idosas ao longo dos anos tem
aumentado no país. Neste sentido, este tópico, proporcionará a você, acadêmico,
um momento de construção, de conhecimento relativo aos preceitos legais e às
garantias constitucionais existentes no país em torno da pessoa idosa.

2 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E A IMPULSÃO DE


NOVOS AVANÇOS SOCIAIS
O processo de envelhecimento humano não se configura como sendo um fato
independente, nem mesmo um fenômeno eventual da existência humana. No decorrer
de inúmeras décadas, aconteceu o processo de envelhecimento humano nos países
mais desenvolvidos.
3
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

Para tanto, de imediato, cabe compreender inicialmente que a longevidade é


um fato mundial e irreversível, de forma que não se configura em um processo isolado
nem tão pouco ocasional dentro da existência humana.

Tal episódio apresenta-se como sendo uma das maiores conquistas da


humanidade nos últimos anos. Poder chegar a uma idade avançada deixou de ser
privilégio de algumas pessoas.

Este processo de envelhecimento humano que vem ocorrendo de forma


acentuada e expressiva no país, gradativamente, passa a apresentar uma realidade com
diferentes desafios a serem enfrentados. Esse fato, rapidamente se estendeu também
aos países com menor desenvolvimento o que, consequentemente, tornou-se um sério
problema social uma vez que refletiu diretamente nos setores econômicos sociais e de
saúde.

Durante os primeiros 40 anos do Século XX, o Brasil apresentava grande


estabilidade em sua estrutura etária, devido, principalmente, à pequena oscilação das
taxas de natalidade e mortalidade. A partir de 1940, iniciou-se um processo rápido do
declínio da mortalidade, que se prolongou até a década de 70 (CHAIMOWICZ, 1997).

Ainda, segundo o referido autor, “a combinação de menores taxas de


mortalidade e elevadas taxas de fecundidade determinou o aumento vegetativo
da população” (CHAIMOWICZ, 1997, p. 186). Somente, após 1960, com o declínio
da fecundidade em algumas regiões mais desenvolvidas do país é que se iniciou o
envelhecimento da população brasileira.

Esse processo de transição demográfica também gerou uma mudança do perfil


epidemiológico. Os idosos em relação aos aspectos biológicos, psicológicos e sociais
demonstraram transformações próprias.

Sócrates, Platão e Aristóteles não comentam do processo de envelhecimento


humano, mas sim, tratam do fim da vida, no enfrentamento da morte com dignidade
ou então, no elogio da longevidade. Segundo Santin et al. (2005, p. 91):

O envelhecimento da população mundial já é fato que não pode mais ser


desconsiderado, tanto pelas conquistas da tecnologia médica – as quais
aumentaram a expectativa de vida da população e reduziram o risco de
mortes prematuras – quanto pelos baixos índices de natalidade em âmbito
mundial. Assim, visões negativas da velhice, ou mesmo, o descaso com o
idoso, devem ser superadas, sob pena de se excluir grande contingente da
população no planeta dos grandes debates acerca dos direitos fundamentais.

O que, no passado, envelhecer era considerado privilégio para alguns, hoje


passou a ser a expectativa de um elevado número de pessoas, ou seja, o processo de
envelhecimento humano já não é mais proeza reservada de uma pequena parcela
da população, mas sim um fenômeno a ser conquistado por muitos. Esse crescente
fenômeno da ampliação significativa do número da população idosa passou a fomentar
a necessidade de discussões em torno da busca por estratégias na oferta de serviços.

4
TÓPICO 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

Ainda, despertou a necessidade da compreensão de como lidar com as


implicações malsucedidas por esta complexa realidade. O tema da longevidade
revelou questões de saúde que até então não haviam se manifestado pela própria
perspectiva do tempo de vida da população. Afinal, segundo censo do IBGE (2010),
a expectativa de vida em 1950 não ultrapassaria os 45 anos, o que terminava sendo
pouco tempo para doenças como hipertensão, diabetes ou Alzheimer se manifestar.
Até porque, quando elas apareciam em sua grande maioria, terminava sendo fatal. Da
mesma forma, demandas de ataques cardíacos ou quedas de insulinas que não tinham
prevenção também terminava levando a pessoa ao óbito.

A área do conhecimento que apresentou significativas contribuições na busca


por estratégias de contenção destas doenças e tratamento foi a medicina. Buscou-se o
desenvolvimento de métodos de investigação, exames e fatores de riscos capazes de
prevenir, conter ou controlar doenças de modo a evitar o seu agravamento.

A ciência e a tecnologia contribuíram significativamente no sentido de


transformar demandas que seriam fatais para doenças crônicas. Desenvolveu-se
possibilidades de identificações prévias com vistas a tratamentos de prevenção e
controle.

Com base nessas colocações, visualiza-se que o envelhecimento direciona


para a aceitação de conviver com doenças crônicas sem necessariamente morrer em
decorrência delas.

O que de certa forma se sobressai é a questão de que o envelhecimento saudável


não é sinônimo de envelhecimento sem doenças. Pode-se viver mais, porém, mediante
ao monitoramento e ao controle de muitas enfermidades que poderão surgir ao longo
dos tempos.

Então, a questão do envelhecimento humano passou a despertar


gradativamente o interesse da realização de estudos e pesquisas em amplo nível uma
vez que a expectativa de vida ampliou significativamente como se pode visualizar:
as características da Pirâmide Etária Brasileira demonstram um país que vem se
apresentando de forma acelerada em sua significativa transição demográfica. O gradual
processo de envelhecimento da população brasileira reflete diretamente na queda na
taxa de natalidade.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) demonstrou que,


hoje, possuímos, no Brasil, aproximadamente 21 milhões de pessoas na faixa etária de
60 anos ou mais, o que representa em torno de 11% da população.

Desta forma, os estudos realizados apresentam que no ano de 2025 teremos


uma população de 32 milhões de pessoas acima de 60 anos de idade o que ocupa a
sexta posição no ranking mundial com pessoas idosas.

A partir da década de 1970, no Brasil, a população jovem deixa de prevalecer.


A pirâmide populacional perde a sua forma triangular típica dos países em
desenvolvimento, tornando-se assim, retangular.

5
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

Segundo apontamento do IBGE (2010), cada grupo de 100 jovens com idade
abaixo dos 15 anos terá uma equivalência de 50 pessoas com idade de 65 anos ou mais.
Esses dados demonstram o quanto as pessoas estão vivendo mais, de forma que se
estima que, no Brasil, segundo os dados até o ano de 2050, o número de idosos venha
se ampliar significativamente representando cerca de 20% da população.

Por fim, torna-se explícito o fato de que a longevidade já é fato consolidado


com tendência de significativo crescimento, o que, consequentemente, refletirá na
necessidade da construção de novas estratégias de atendimento desta demanda social
apresentada.

O aumento de investimentos em áreas como saúde e educação tornam-se


indispensáveis diante do crescimento considerável da expectativa de vida da população.
Com esses apontamentos, verifica-se que a longevidade no Brasil, além de questões de
impacto demográfico e em espaços de atendimentos de saúde, também, o processo de
envelhecimento humano gerou importantes transformações socioeconômicas.

Scortegagna, Silva e Marchi (2014, p. 167) ressaltam que:

[...] o aumento expressivo do segmento do idoso da população brasileira


tem despertado maior atenção da sociedade para com essas pessoas,
reforçando, assim, a necessidade de ampliar os seus direitos, bem como as
formas de proteção desses direitos, considerando situações de fragilidade e
vulnerabilidade social que podem acometer os idosos.

Partido dessa breve exposição do processo de longevidade, destaca-se que a


legislação relacionada à proteção à pessoa idosa no Brasil passou a ser materializada
com elaboração e lançamento da Constituição Federal de 1988.

A Constituição é considerada um marco na construção democrática do país,


partindo do ponto que retratam propostas de importantes mudanças no cenário
brasileiro. O documento apresenta um conjunto de leis fundamentais que organiza e
rege o funcionamento do país. É considerada como sendo a lei máxima servindo como
garantia de direitos de deveres dos cidadãos.

A Constituição apresenta a democracia com caráter participativo com a


instauração de Estado Democrático de Direito, em que o poder deve ser emanado do
povo que exerce diretamente ou por intermédio de seus representantes legais.

A referida constituição apresentou-se como sendo um importante documento


legal de garantia de direitos e proteção do ser humano. Obviamente que o olhar
direcionado à Constituição Federal, neste livro, possui como foco os artigos que
envolvam a temática em torno da população idosa.

Partindo do pressuposto de que os direitos sociais são universais, poderíamos


pender para a compreensão de que, então, seria somente um caso de se fazer cumprir
os pressupostos legais de forma automática uma vez que a universalização construiu
um sistema normativo de proteção.

6
TÓPICO 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

Entretanto, requer importante reflexão em torno dessa compreensão que,


aparentemente, poderia ser óbvia, mas que, na prática, ela apresenta muitas vezes
grande dificuldade de acesso às necessidades apresentadas pela população idosa.

Inicia-se pela necessidade de adquirir conhecimento da legislação vigente


associado a instituir mecanismos para que o acesso as suas demandas se tornem
viáveis. Na compreensão de Antônio Rulli Neto (2003, p. 58), a Constituição Federal
de 1988 seria somente pela conquista do exercício da cidadania:

A Constituição Federal de 1988 trouxe em seu texto, expressamente,


direitos e garantias fundamentais, mas, apesar disso, há a necessidade
de vontade política para o implemento da norma – direcionamento das
políticas públicas para a proteção do ser humano, sempre que não for
autoaplicável o dispositivo constitucional ou no caso de depender de
implementação de políticas públicas.

As peculiaridades do processo de envelhecimento humano é algo que deve ser


estudado profundamente para facilitar a compreensão deste importante fenômeno.
Afinal, viver muito não significa viver uma vida de qualidade. Um exemplo disso são
os apontamentos apresentados por Paschoal (2006, p. 148), no sentido de assegurar a
qualidade de vida dos idosos:

A primeira, condições ambientais, diz respeito ao contexto físico, ecológico,


e ao construído pelo homem, que influi e dá base para a competência
adaptativa (emocional, cognitiva e comportamental). Ou seja, o ambiente
deve oferecer condições adequadas à vida das pessoas. A segunda,
competência comportamental, traduz o empenho dos indivíduos frente
às diferentes situações de sua vida, dos valores agregados, durante o curso
da vida e do desenvolvimento pessoal, que, por sua vez, é influenciado
pelo contexto histórico cultural. A terceira qualidade de vida percebida
reflete a avaliação da própria vida, influenciada pelos valores que o
indivíduo foi agregando e pelas expectativas pessoais e sociais. A quarta,
bem-estar subjetivo, significa satisfação com a própria vida, satisfação
global e satisfação específica em relação a determinados aspectos da vida;
reflete as relações entre as condições objetivas (ambientais), competência
adaptativa e percepção da própria qualidade de vida, as três dimensões
precedentes.

Evidencia-se, assim, a importância de a pessoa idosa primar pela qualidade


dos anos a mais que poderão ser vividos. O que traz à tona, novamente, a importância
dos aspectos legais na contribuição deste fator.

No que tange a demandas referentes ao idoso, a Constituição Federal de 1988


anuncia, em seu artigo 230, que os direitos dos idosos possuem por fundamento:

Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar


as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade,
defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.
§ 1º Os programas de amparo aos idosos serão executados
preferencialmente em seus lares.
§ 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos
transportes coletivos urbanos (BRASIL, 1988, s.p.).

7
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

A Constituição Federal de 1988, ao referir-se a questões pertinentes à


pessoa idosa, apresenta direitos como: à vida, à dignidade, ao respeito, à proteção,
à inserção social, à liberdade, à igualdade. Estes são alguns dos apontamentos
descritos que demonstram que o direito à vida transcende a longevidade
remetendo a responsabilidade à família, ao Estado e à sociedade.

Segundo Alexandre de Moraes (2007, p. 805):

Mais do que o reconhecimento formal e obrigação do Estado para


com os cidadãos da terceira idade, que contribuíram para o seu
crescimento e desenvolvimento, o absoluto respeito aos direitos
humanos fundamentais dos idosos, tanto em seu aspecto individual
como comunitário, espiritual e social, relaciona-se diretamente com
a previsão constitucional de consagração da dignidade da pessoa
humana. O reconhecimento àqueles que construíram com anos,
trabalho e esperança a história do nosso país tem efeito multiplicados
de cidadania, ensinando as nossas gerações a importância do respeito
permanentes aos direitos fundamentais, desde o nascimento até a
terceira idade.

Além da Constituição Federal de 1988, também passa a vigorar a Política


Nacional do Idoso através da promulgação da Lei Federal nº 8.842, de 4 de janeiro
de 1994. Esta apresentou a Política Nacional do Idoso como sendo a primeira
medida de estado em âmbito nacional sendo regulamentada através do Decreto
nº 1.948, de 3 de julho de 1996, em complementação ao dispositivo constitucional.

O propósito era de assegurar os direitos sociais da pessoa idosa,
proporcionando-lhes condições que os remetessem para a garantia de sua
autonomia, integração e efetiva participação social por meio de órgão ministerial
responsável pela assistência social.

Criou-se, então, segundo a Política Nacional do Idoso (Lei nº 8.842/1994),


os conselhos nacional, estaduais, do Distrito Federal e municipais como
“órgãos permanentes, paritários e deliberativos” (artigo 6º) e responsáveis pela
“formulação, coordenação, supervisão e avaliação da política nacional do idoso,
no âmbito das respectivas instâncias político administrativas” (artigo 7º).

Partindo da perspectiva do cuidado com a pessoa humana, a legislação


vem reforçar constitucionalmente a interação com um sistema nacional de cuidado
e proteção principalmente no que tange às garantias de direitos fundamentais.
Para tanto, seguimos, no próximo subtópico, buscando compreender as garantias
constitucionais, assim como a prática da seguridade social em relação ao idoso.

3 GARANTIAS CONSTITUCIONAIS E A PRÁTICA DA


SEGURIDADE SOCIAL EM RELAÇÃO AOS IDOSOS
Iniciamos o referido tópico destacando que a Constituição Federal, aprovada
em 5 de outubro de 1988, conhecida como a “Constituição Cidadã”, apresentou
uma das maiores conquistas no âmbito da política social. Esse foi um marco divisor

8
TÓPICO 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

e abarca a Seguridade Social a partir do artigo 194 na seguinte estrutura: Saúde,


Previdência Social e Assistência Social, o que forma um conjunto em prol da
garantia da qualidade de vida do cidadão.

“Art.194 – A seguridade social compreende um conjunto integrado de


ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os
direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social” (BRASIL, 1988, s.p.).

A Seguridade Social funciona como sendo um sistema de proteção social que


visa contribuir para a redução das desigualdades sociais com o encaminhamento
de providências para subsistência de forma a incluir os cidadãos neste sistema.

A Constituição Federal traz o desejo de que todos os indivíduos estejam


protegidos, de alguma forma, dentro da seguridade social. Busca encontrar
igualdade entre os indivíduos da sociedade e seus membros com vistas ao melhor
desenvolvimento humano.

Portanto, todos os que vivem em território nacional estariam, de alguma


forma, incluídos no “guarda-chuva” da seguridade social. Na Constituição Federal
são explanados, no artigo 194, os objetivos e princípios para o funcionamento da
seguridade social no Brasil, sendo eles:

I- Universalidade na cobertura do atendimento;


II- uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações
urbana e rurais;
III- seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;
IV- Irredutibilidade do valor dos benefícios;
V- Equidade na forma de participação no custeio;
VI- Diversidade na forma de participação no custeio;
VII- caráter democrático e descentralizado da administração, mediante
gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos
empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1988) (BRASIL,
1988, s.p.).

Para melhor compreensão deste tripé da seguridade social no Brasil, pode-


se visualizar a seguinte imagem de sua estruturação: a Seguridade Social remete
a um amplo conceito de proteção social, pois é um conjunto de ações e políticas
sociais que possui como propósito o bem-estar e a justiça social de forma a amparar
os indivíduos e suas famílias em situações de desemprego, saúde ou aposentadoria.
Neste tripé da seguridade social, pode-se explanar para melhor compreensão:

• Saúde: direito universal do acesso aos serviços público e de saneamento que


deve ser ofertado sem considerar questões econômicas do beneficiário nem
mesmo a exigência de contribuição com vistas a melhorar a sua qualidade de
vida.
• Assistência Social: ofertado através das políticas sociais que garantem proteção
aos cidadãos em caráter de gratuidade.
• Previdência Social: preocupa-se com os trabalhadores e seus dependentes

9
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

econômicos. Refere-se à proteção social e à subsistência concedido ao indivíduo


mediante contribuição.

A estrutura deste sistema de proteção social possui, como sua


responsabilidade, assegurar direitos dos indivíduos. A solidariedade é o
fundamento da seguridade social. Pádua e Costa (2007, p. 306) definem a
previdência social como sendo:

uma política pública que oferece um benefício monetário às pessoas


em situação de vulnerabilidade, mediante contribuição, cobre riscos
genéricos ou específicos, isto é, eventos futuros, imprevisíveis
ou incertos, mediante a contribuição financeira, mensal, dos seus
beneficiários diretos (segurados) ou indiretos (empresas) e do Estado.

Em 27 de junho de 1990 foi criado o Instituto Nacional de Seguro Social


(INSS) de forma que: cabe ao referido órgão a operacionalização dos direitos dos
assegurados. Segundo a Constituição Federal, o sistema de seguro social passou
a ter a responsabilidade de garantir a proteção social no decorrer da vida do
cidadão.

Contudo, há que se destacar que esta garantia à proteção social nem sempre
foi assim. Houve, ao longo da história, muita luta social, muitas mobilizações e
sensibilizações para então, aos poucos, ir regulamentando a questão de direitos e
proteção social do ser humano em legislações vigentes.

Se nos reportamos ao longo dos tempos, compreenderemos que, na esfera


da seguridade social, existe um extenso processo histórico de luta de pela busca
de direitos. A Segunda Guerra Mundial originou imensas transformações no
conceito da proteção social. O seguro social surgiu da necessidade de amparar o
trabalhador e protegê-lo contra os riscos do trabalho.

Nasceu, então, a necessidade de um sistema de proteção social que


cuidasse de todas as pessoas e as amparasse em situações de necessidades em
qualquer momento de sua vida. A Declaração Universal dos Direitos Humanos
(1948) prevê o direito à segurança, consagrando o reconhecimento da necessidade
da existência de um sistema de seguridade social.

Para tanto, podemos ser solidários, mas jamais podemos perder o senso
de cidadania no sentido de lutar por direitos. Não devemos perder o discurso dos
direitos porque isso custou muita luta social. Existe uma longa história de muitos
investimentos e busca por estratégias com o propósito de conquistar direitos. As
pessoas precisam estarem protegidas socialmente.

O Estado deve desempenhar suas funções de forma democrática e só faz


sentido existir se trabalhar pelo direito das pessoas. Então, a seguridade social
precisa ser compreendida como direito e jamais como sendo um favor.

10
TÓPICO 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

Um exemplo disso é de que, com a Constituição de 1998, a saúde passou a


ser um direito de todo o cidadão, independente de contribuição, assim como todas as
políticas sociais passaram a serem de responsabilidade do Estado.

A Constituição Federal de 1988 define, no art. 3º — objetivos da República


Federativa do Brasil — a promoção do bem-estar de todos sem preconceitos de qualquer
natureza, garantir o direito social, erradicar a pobreza e reduzir as desigualdades sociais
e regionais.

Essas colocações nos fazem compreender que a Constituição Federal remete


ao entendimento de que cabe ao Estado implementar políticas públicas direcionadas
à oferta dos objetivos ali fixados sem deles se distanciar. Para tanto, diante dessas
colocações, compreende-se que as prestações sociais (saúde, educação, assistência
social) são serviços de interesse público, que devem então serem implementação sobre
a responsabilidade do Estado.

Um serviço público pode ser compreendido como sendo a materialização de


uma política, na relação direta do Estado com seus usuários, oferecendo meios para
garantir os direitos fundamentais previstos na legislação vigente.

Os serviços devem ser ofertados de forma direta visando a melhoria da


qualidade de vida da população, sempre observando a real necessidade da demanda
a ser atendida. Deve-se preconizar serviços que possibilitem aquisições pessoais,
cuidados e o acesso aos direitos de cidadania.

Os poderes Legislativos, Executivos, Judiciário possuem um importante papel


no sentido de garantir movimentos para a efetivação dos direitos a população. Fazer
valer os preceitos legais de normas, de políticas, de planos são estratégias importantes
para o caminho da garantia de direitos e exercício da cidadania.

O artigo 6º da Constituição Federal enumera os direitos sociais que, se


disciplinados pela ordem social, destinam-se à redução das desigualdades sociais
e regionais. Refere-se às normas de proteção social com vistas a disponibilizar o
necessário para a sobrevivência com dignidade que se concretiza quando o indivíduo
acometido de doença, invalidez, desemprego ou outra situação não possui condições
de prover o seu sustento ou de sua família.

Através da referida proteção social que se garantem os mínimos necessários a


sobrevivência com dignidade, a efetivação do bem-estar, a redução das desigualdades
que acarretam à justiça social. Diante desses apontamentos, salienta-se que as mudanças
sociais e econômicas que consequentemente vão ocorrendo ao longo dos tempos
decorrentes de avanços tecnológicos apresentam novas questões a serem analisadas
fazendo com que a proteção social tenha que se adequar às novas demandas a fim de
atender às necessidades dos indivíduos.

11
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

Então, a seguridade social como sendo direito universal torna-se um importante


instrumento na redução das desigualdades sociais e na execução do direito como sendo
a explanação da garantia da justiça social, não podendo haver excluídos da proteção
social.

A Constituição Federal, em seu artigo 195, prevê que a seguridade social


deve ser financiada por “toda a sociedade de forma direta e indireta mediante
a recursos provenientes dos orçamentos da União, Estados, Distrito Federal e
Municípios” (BRASIL, 1988, s.p.). Ainda pelas contribuições sociais previstas nos
incisos I ao IV da referida constituição.

Toda a seguridade social é financiada através de contribuições, seja de


forma direta ou indireta. O financiamento de forma direta refere-se ao pagamentos
efetuado mediante contribuições sociais prévias previstas nos incisos I a IV do
artigo 195, da contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e para
o Programa de Formação do Patrimônio do Serviço Público (PASEP) art. 239,
destinados a financiar o programa seguro desemprego e o abono previsto pago
aos empregados que recebem até dois salários mínimos de renumeração mensal.
Quanto ao financiamento de forma indireta, é realizado com o aporte de recursos
orçamentários da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal
que devem constar dos respectivos orçamentos dos entes federativos que não
integram ao orçamento da União.

4 A POLÍTICA DE ATENDIMENTO E A AÇÃO PROFISSIONAL


JUNTO AOS IDOSOS
No decorrer do processo da longevidade, naturalmente, passam a
surgir demandas que necessitam de algum tipo de intervenção e atendimento
profissional. Estas vão se apresentando de forma que se exige maior atenção e
cuidado à pessoa idosa no sentido de primar pela sua real qualidade de vida.

Os profissionais, considerando todos os que atuam na efetivação dos


direitos brasileiros, precisam ter claro seu real papel e importância no processo
de efetivação destes direitos constitucionais. Nessas situações, os profissionais
passam a ser a expressão do Estado na efetivação destes direitos sociais ao cidadão.
No caso em pauta, lembrem-se que estamos tratando da demanda direcionada as
pessoas idosas.

A longevidade da população Brasileira é cada vez mais evidente, e, para


tanto, precisamos estar conscientes dessas transformações para que possamos
estar preparados para o enfrentamento desta jovem realidade. Essa nova situação
traz consigo implicações sociais diversas, remetendo à necessidade de discutir e
compreender, além dos deveres, os direitos da pessoa idosa.

12
TÓPICO 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

E
IMPORTANT

Para tanto, os idosos, perante a legislação vigente, passam a ter o direito de


atendimento preferencial nos mais diversos tipos de estabelecimentos que devem serem
implementados, portando, sobre a responsabilidade do Estado. Desta forma, identifica-
se que o atendimento preferencial ao idoso está sendo anunciado à população por
intermédio de placas ou pinturas com pictogramas indicativas (conforme figura a seguir)
as quais devem ser respeitadas uma vez que existe, inclusive, previsão legal para garantia
deste direito.

FONTE: <https://bit.ly/2Yn0aq8>. Acesso em: 21 maio 2020.

Ainda no que tange às políticas de atendimento ao idoso, podemos citar:


Saúde, Assistência Social, Educação, Segurança, Transporte, entre outros. Remete-
se assim, a importância da implementação de políticas públicas que correspondam
com a oferta de serviços de acordo com a necessidade da demanda apresentada.

Este fator inicia-se pela compreensão da implementação de políticas


públicas que visem o aumento de recursos financeiros direcionados à população
envelhecida. Pode-se remeter à compreensão de que as políticas públicas
possuem, como responsabilidade, contribuir com a garantia dos direitos previstos
e assegurados constitucionalmente.

De forma ampla, pode-se pontuar que as políticas públicas seriam


um conjunto de programas, ações e serviços disponibilizados a população
por intermédio do Estado de forma direta ou indireta com a participação dos
entes públicos e privados. Na esfera das políticas públicas os conceitos podem
ser aprofundados na questão de pensarmos no desenvolvimento de ações com
características multidisciplinares.

Conforme Souza (2006), diferentes áreas do conhecimento como ciência


política, filosofia, psicologia, sociologia, administração, economia e serviço
social possuem interligações com as políticas públicas, de forma que se torna
questionável quando definir a área por excelência.

13
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

Nesse sentido, constata-se que as diversas áreas do conhecimento se


encontram envolvidas quando a questão abrange o tema das políticas públicas. O
agente responsável por repassar para a sociedade civil as decisões no âmbito do
poder no que tange qualquer situação de política pública é o Estado, ou seja, seria a
proposta do Estado frente às demandas apresentadas pela sociedade.

Veronese (1999, p. 193) contribui destacando que a política pública seria:

[...] um conjunto de ações, formando uma rede complexa, endereçada


sobre precisas questões de relevância social. São ações, enfim, que
objetivam a promoção da cidadania. E o tema público associado a política,
não é uma referência exclusiva do Estado, mas sim, à coisa pública, ou
seja, de todos, com o amparo de uma mesma lei, porém, vinculados a
uma comunidade de interesses.

Diante disso, apresenta-se uma nova reflexão no sentido de remeter as


políticas públicas como sendo consequência do dinamismo da sociedade, incentivada
pelos grupos pertencentes a esta, principalmente os das forças políticas e econômicas.

As relações resultantes do meio social produzirão um conjunto de atuações


que serão de competência do Estado, que o fará por intermédio do devido
intervencionismo na realidade social. Segundo análise e interpretação de Santin e
Raiter (2009, p. 27):

[...] se viver muito e com dignidade é um direito de todo o ser humano,


o Estado precisa desenvolver e disponibilizar aos idosos toda uma rede
de serviços capazes de assegurar seus direitos básicos, como saúde,
transporte, lazer, ausência de violência, tanto no espaço familiar como no
espaço público.

Diante dessa afirmação, é preciso enfatizar o fato de que os serviços
socioassistenciais direcionados aos idosos devem ser disponibilizados por intermédio
do Estado de maneira coerente, adequada e primando pela qualidade. Para isso, é
necessário, por intermédio das autoridades, o entendimento da real importância de
se conhecer o perfil da população idosa, assim como suas reais demandas e quais são
as suas necessidades.

Dessa forma, aumentam-se as possibilidades de se ofertar políticas públicas


que venham de fato ao encontro das questões pertinentes a pessoa idosa de forma que
a efetividade dos serviços prestados de fato aconteça. Afinal, o número de pessoas
idosas só cresce no país. O IBGE anuncia que o número de idosos cresce 18% em
cinco anos e ultrapassa 30 milhões no ano de 2017.

Santin, Bertolin e Bertolin (2009 p. 15) apontam importante questão a ser


analisada, compreendida, debatida e interpretada, sendo: “[...] sem planejamento, os
Municípios, os Estados e a União não serão capazes de realizar este trabalho. Sem o
adequado conhecimento do perfil da população idosa, nenhuma rede de promoção
proteção e defesa dos direitos das pessoas idosas tem possibilidade de manter-se
com eficiência”.

14
TÓPICO 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

Nessas considerações apresentadas pelos autores, fica evidente a


importância de desempenhar o trabalho com base no planejamento, interpretação
e conhecimento da demanda a ser atendida. É preciso tomar muito cuidado
quando se pensa na oferta de serviços públicos. Afinal, a execução de ações, sem
a real compreensão desta realidade, torna-se uma oferta de serviços de forma
amadora, sem se atingir o resultado necessário de atendimento à população idosa.

Sawitzki (2009, p. 5) corrobora com a compreensão de que:

Uma política pública implica considerar os recursos de poder que


operam na sua definição e que têm nas instituições do estado,
sobretudo, na máquina governamental o seu principal referente.
[...] expõe que as “políticas públicas são definidas, implementadas,
reformuladas ou desativadas com base na memória da sociedade ou
do estado”. Entende-se ainda que uma política pública e a garantia dos
direitos constitucionais devem considerar a participação da sociedade.

Desta forma, torna-se evidente a importância da participação da


sociedade a qual possui conhecimento das necessidades apresentadas na esfera
da pessoa idosa a fim de contribuir para que os serviços sejam ofertados de forma
a corresponder com a demanda.

5 DOCUMENTAÇÃO BRASILEIRA REFERENTE À


PESSOA IDOSA
A Organização das Nações Unidas (ONU), na década de 1970, convocou uma
Assembleia Geral a fim de discutir questões relativas às políticas públicas e programas
sociais em torno da população idosa do País. Esse movimento foi considerado um
importante avanço acerca da compreensão da sociedade mundial sobre a importância
e relevância do tema, uma vez que, anteriormente, não havia tais discussões.

Gradativamente, no Brasil, as Constituições anteriores como as dos anos de


1937, 1946 e 1969 referiam apenas o tema do idoso e da previsão de aposentadoria
assegurada com os avanços da idade.

Dentre essas questões documentais, destaca-se a existência do Plano de Ação


Internacional elaborado em 1982 e incrementado em 2002, os Princípios das Nações
Unidas para o Idoso, formulado em 1991 e a Declaração de Toronto, elaborada pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2002.

Com relação ao último documento exposto, o qual possui em destaque


orientações que refletem a manutenção de qualidade de vida da pessoa idosa,
engloba as necessidades físicas e emocionais, tendo como intuito a preservação de
sua autonomia. No decorrer dos anos foi sendo desenvolvido, gradativamente,
legislações, decretos e demais documentos que demonstravam certa evolução acerca
do tema em pauta.

15
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

No Brasil, a legislação correspondente à proteção a pessoa idosa passou a ser


consolidada com a Constituição Federal de 1988. Logo, passou a vigorar a Política
Nacional do Idoso, assim como o Conselho Nacional do Idoso, através da promulgação
da Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 2002, regulamentada pelo Decreto nº 1.948, de julho de
1996 — na qual os maiores de 60 anos passaram a ser objeto de atenção do Estado — e,
em 1º de outubro de 2003, através da Lei n° 10.741, começa a vigorar o Estatuto do Idoso.

A Constituição Federal de 1988 foi, de fato, um marco importante, uma vez


que trouxe princípios norteadores como, por exemplo: a dignidade humana, o respeito
a todos, sem discriminação, respeito, sem distinção, o que refletiu em um importante
avanço em relação às Constituições anteriores. Outro importante ponto exposto na
Constituição Federal foi o princípio da isonomia em que todos devem ser tratados com
igualdade, o que se estendia às pessoas idosas vedando qualquer tipo de discriminação
em relação a idade.

O Ministério de Saúde, em 2001, por intermédio da Secretaria de Políticas


de Saúde, publicou um informe técnico com disposições da “Política Nacional de
Redução de Morbimortalidade por Acidentes e Violência”. Esse, oficialmente, seria um
documento de atenção a questões envolvendo a violência cometida contra a pessoa
idosa. Com base na produção desses documentos, verifica-se que a população brasileira
começa a manifestar certa preocupação com o futuro das pessoas idosas no país. Há que
se destacar que a demanda da longevidade vai além do olhar para com o indivíduo.
Afeta a família, a comunidade e, de uma forma geral, a sociedade como um todo.

No que se alude, por exemplo, a questão alimentar, vale ressaltar que, segundo
o Código Civil de 2002, em seu artigo 1696, existe o apontamento da reciprocidade
do direito da prestação de alimentos entre pais e filhos, o que torna razão de grande
importância quando o assunto em pauta refere-se às preocupações em torno do idoso. O
avanço a nível de documentação mais recente em torno de garantias constitucionais foi a
criação do Estatuto do Idoso em 2003 reforçando o cuidado a ser direcionado a pessoas
com o avanço da idade.

Entretanto, a fim de sintetizar registros significativos a nível da Legislação


Brasileira, pontuamos algumas nomenclaturas de documentos importantes e artigos os
quais você, acadêmico, pode pesquisar a fim de aprofundar seus conhecimentos:

QUADRO 1 – DOCUMENTOS E ARTIGOS IMPORTANTES

MARCOS LEGAIS
Constituição da República Federativa do Brasil de
1988 (artigos 5, 6, 7, 14, 40, 201, 229, 230).
Política Nacional do Idoso – Lei nº 8.842 de 1995
Decreto Regulamentação nº 1.948 de 1996

Estatuto do Idoso – Lei Federal nº 10.741 de 2003

FONTE: As autoras

16
TÓPICO 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

São marcos legais importantes na esfera de garantias constitucionais de


cuidado e proteção da pessoa idosa. São importantes documentos de garantia
de direitos, os quais devem ser compreendidos com vistas ao entendimento
do direito correspondente ao atendimento ao idoso. Por fim, ao longo dos
anos, foi ocorrendo a apresentação de aparatos documentais a fim de pautar o
direcionamento do atendimento adequado a população idosa.

O QUE SÃO POLÍTICAS PÚBLICAS

Tié Lenzi

Políticas públicas são ações e programas que são desenvolvidos


pelo Estado para garantir e colocar em prática direitos que são previstos na
Constituição Federal e em outras leis.

São medidas e programas criados pelos governos dedicados a


garantir o bem-estar da população.

Além desses direitos, outros que não estejam na lei podem vir a ser
garantidos através de uma política pública. Isso pode acontecer com direitos
que, com o passar do tempo, sejam identificados como uma necessidade da
sociedade.

Quem cria e executa as políticas públicas?

O planejamento, a criação e a execução dessas políticas são feitas


em um trabalho em conjunto dos três Poderes que formam o Estado:
Legislativo, Executivo e Judiciário.

O Poder Legislativo ou o Executivo podem propor políticas públicas.


O Legislativo cria as leis referentes a uma determinada política pública e
o Executivo é o responsável pelo planejamento de ação e pela aplicação
da medida. Já o Judiciário faz o controle da lei criada e confirma se ela é
adequada para cumprir o objetivo.

Execução das políticas públicas

A execução das políticas públicas é tão importante para o bom


funcionamento da sociedade que, desde 1989, existe a carreira de especialista
em políticas públicas.

De acordo com a lei que criou esse cargo, o especialista em políticas


públicas é o profissional especializado na formulação, planejamento e
avaliação de resultados de políticas públicas.

17
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

As políticas públicas existem e são executadas em todas as esferas


de governo do país, ou seja, há ações em nível federal, estadual e municipal.

Tipos de políticas públicas

Por serem programas relacionados com direitos que são garantidos


aos cidadãos as políticas públicas existem em muitas áreas. São exemplos:

• educação;
• saúde;
• trabalho;
• lazer;
• assistência social;
• meio ambiente;
• cultura;
• moradia;
• transporte.

Ciclo de políticas públicas

O conjunto de etapas pelas quais uma política pública passa até que
seja colocada em prática é chamado de ciclo de políticas públicas. Conheça
cada uma dessas fases:

• identificação do problema: fase de reconhecimento de situações ou


problemas que precisam de uma solução ou melhora,
• formação da agenda: definição pelo governo de quais questões têm mais
importância social ou urgência para serem tratadas,
• formulação de alternativas: fase de estudo, avaliação e escolha das
medidas que podem ser úteis ou mais eficazes para ajudar na solução
dos problemas,
• tomada de decisão: etapa em que são definidas quais as ações serão
executadas. São levadas em conta análises técnicas e políticas sobre as
consequências e a viabilidade das medidas,
• implementação: momento de ação, é quando as políticas públicas são
colocadas em prática pelos governos,
• avaliação: depois que a medida é colocada em prática é preciso que se
avalie a eficiência dos resultados alcançados e quais ajustes e melhoria
podem ser necessários,
• extinção: é possível que depois de um período a política pública deixe de
existir. Isso pode acontecer se o problema que deu origem a ela deixou
de existir, se as ações não foram eficazes para a solução ou se o problema
perdeu importância diante de outras necessidades mais relevantes, ainda
que não tenha sido resolvido.

18
TÓPICO 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

Políticas públicas no plano plurianual

As políticas públicas, depois de estudadas e formuladas, são


incluídas no plano plurianual (PPA).

Esse plano, que é previsto no artigo 165 da Constituição Federal,


define quais são as metas e objetivos que devem ser cumpridos pelos
governos em 4 anos.

FONTE: <https://www.todapolitica.com/politicas-publicas/>. Acesso em: 28 abr.


2020.

19
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A expectativa de vida da população brasileira nas últimas décadas refletiu


diretamente em desafios a serem enfrentados nas mais diversas áreas do
conhecimento humano. Esse fato remete diretamente ao repensar profissional
no sentido de direcionar o processo de trabalho de forma que venha ao encontro
de ações técnico-científico, que supram as necessidades e os novos desafios no
atendimento da população idosa.

• A compreensão dos aspectos legais é de fundamental importância para nortear


o fazer profissional, principalmente entender a Política Nacional do Idoso,
as garantias constitucionais de seguridade social (saúde, assistência social e
previdência social) que apresentam questões importante na construção do
exercício da cidadania e nas garantias de cuidados em relação aos idosos.

• As políticas públicas são ações e programas do Estado brasileiro, em


cumprimento as garantias previstas na Constituição Federativa do Brasil.
Portanto, precisamos como profissionais garantir formas de proteção aos
direitos conquistados, ampliando no que tange à fragilidade e vulnerabilidade
social que podem acometer a população idosa.

• A família, a Sociedade e o Estado tem o dever de amparar as pessoas idosas,


assegurando o convívio comunitário, defendendo a dignidade humana, o bem
estar e proteção à vida.

20
AUTOATIVIDADE

1 Qual a sua análise em torno da figura da pirâmide populacional brasileira?

FONTE: <https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2016/12/piramide-etaria.jpg>.
Acesso em: 21 maio 2020.

2 Descreva ou desenhe o tripé da seguridade social.

3 Em linhas gerais, explique o significado de cada espaço que compõe o tripé


da seguridade social.

21
22
UNIDADE 1
TÓPICO 2

LEI Nº 8.842 DE 1994: INSTITUI A POLÍTICA NACIONAL


DO IDOSO

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, neste tópico, aprofundaremos nossos conhecimentos em
torno da Política Nacional do Idoso despertando de imediato o olhar para uma
palavra: IDOSO. Sequencialmente, aprofundaremos a compreensão referente
ao Conselho do Idoso bem como suas atribuições, competências, estruturação e
responsabilidades.

Desta forma, no decorrer dos estudos já caberia uma reflexão em torno do


seu papel enquanto cidadão frente a esta demanda de atuação junto ao conselho
do idoso de seu município, afinal, a compreensão já inicia quando você se der
conta que os encontros são públicos e, mesmo não sendo membro do mesmo,
pode-se participar.

Por fim, torna-se imprescindível compreender, acadêmico, a importância


da participação da sociedade assim como o processo de políticas públicas tanto a
nível de seu município como em uma esfera mais ampla.

2 O IDOSO
Ao longo dos tempos, envelhecer passou a ser visto como um direito
social do ser humano. Pessoas acima de 60 anos mostram-se cada vez mais ativas,
presentes no mercado de trabalho e na vida em sociedade de uma maneira geral.

No ano de 1994, passa a vigorar a Política Nacional do Idoso (PNI) no país


com vistas a estabelecer formas de integração e participação social pelos idosos.
A PNI expõe artigos que têm por “objetivo assegurar os direitos sociais do idoso,
criando condições para promover sua autonomia, integração e participação
efetiva na sociedade” (BRASIL, 1994, s.p.).

A Política Nacional do Idoso tem sua base em cinco princípios estabelecidos


no art. 3º dispostos da seguinte forma:

23
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

I- a família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao


idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na
comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à vida;
II- o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral,
devendo ser objeto de conhecimento e informação para todos;
III- o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza;
IV- o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das
transformações a serem efetivadas através desta política;
V- as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente,
as contradições entre o meio rural e urbano do Brasil deverão ser
observadas pelos poderes públicos e pela sociedade em geral, na
aplicação desta Lei (BRASIL, 1994, s.p.).

Destacaremos aqui, para reflexão, os incisos I e IV, uma vez que estes
apontam como público-alvo dessa lei, especificamente, a pessoa idosa. Portanto,
todas as ações baseadas nessa lei devem ser em benefício do idoso, de forma
que busquem a garantia e a efetivação de seus direitos priorizando ao máximo
sua manutenção na comunidade, junto de sua família, da forma mais digna e
confortável possível, fazendo valer o que é estabelecido nessa lei.

A referida Política Nacional do idosos ainda ressalta a importância dos


órgãos públicos estimulem a criação de incentivos e de alternativas de atendimento
ao idoso, como centros de convivência, centros de cuidados diurnos, casas-lares,
oficinas abrigadas de trabalho, atendimentos domiciliares e outros, o que suscita
o surgimento de novas mercadorias.

Entretanto, como esse e outros programas dispostos na PNI, não são


realizados pelo Estado, os idosos que desejarem ou necessitarem de serviços dessa
natureza só terão acesso a eles no mercado, o que se faz necessário ter condições
financeiras.

3 OS CONSELHOS DO IDOSO NAS TRÊS


ESFERAS GOVERNAMENTAIS
Em se tratando de aspectos legais, pode-se destacar a implementação do
Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, de 2003, como sendo um importante instrumento legal
com vistas à proteção e à manutenção da qualidade de vida da pessoa idosa.

O Estatuto do Idoso apresenta punições mais acentuadas para aqueles que


cometerem crimes contra a pessoa idosa, como, por exemplo, abandono e o desrespeito
à dignidade. Fica em pauta a reflexão da necessidade do idoso ser de fato inserido na
sociedade despertando uma consciência de respeito aqueles que ocupam essa faixa
etária levando em consideração às transformações apresentadas de forma mais ativa
pela grande maioria destes.

A Lei n° 8.842, de 4 de janeiro 1994, traz em seu Capítulo III que, a partir da
organização e gestão da Política Nacional do Idoso, impõe-se à necessidade da criação
e implementação dos conselhos de direitos da pessoa idosa nas três esferas de governo:

24
TÓPICO 2 | LEI Nº 8.842 DE 1994: INSTITUI A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

• Conselho Nacional do Idoso.


• Conselho Estadual do Idoso.
• Conselho Municipal do Idoso.

Os conselhos possuem como prerrogativa zelar pelo cumprimento das leis


que garantem os direitos dos idosos. Estão vinculados à política de assistência social
e possuem o poder de fiscalização. Devem atuar com vistas à garantia e qualidade
dos atendimentos aos idosos em instituições sociais e de saúde especializadas à pessoa
idosa.

A formação dessas estruturas de conselho a nível de entidades, além de ser


um órgão criado aos olhos da lei, tornam-se indispensáveis na defesa e promoção dos
direitos de cidadania e qualidade de vida da pessoa idosa.

Os conselhos estaduais e municipais, conforme a Cartilha de Criação dos


referidos conselhos (BRASIL, 2013), podem ser criados por qualquer pessoa assim
como por organizações governamentais, não governamentais, entidades civis ou ainda,
com a parceria de todos. Entretanto, deve se ter a clareza da importância de possuir real
interesse quanto a promoção dos direitos da pessoa idosa.

Movimentos de mobilização da comunidade e ativa participação das pessoas


são ações imprescindíveis, assim como a promoção de fóruns de debates e comissões.

Os conselhos devem ser paritários e compostos por representantes de entidades


e organizações governamentais e não governamentais que atuam na defesa dos direitos
da pessoa idosa.

Um anteprojeto deverá ser apresentado para criação do Conselho. Este pode


ser elaborado com auxílio de especialistas e também com base em legislações de outros
municípios e estados. E, sendo o anteprojeto aprovado este, transforma-se em lei.

Outro fator importante a ser considerado é no sentido de que tanto as entidades


como as demais pessoas envolvidas devem atuar na mobilização de criação do Conselho
visando a sensibilização da sociedade e do poder publico quanto à questão da criação
de um fundo especial com o objetivo de captação de recursos financeiros que sejam
destinados a atender a pessoa idosa.

Ainda, segundo a Cartilha chamada de Guia Prático para a Criação de Conselhos


e Fundos Estaduais e Municipais de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa (BRASIL, 2013), a
autoridade legal (governador ou prefeito) deve construir uma comissão paritária para
tratar das eleições das entidades não governamentais que farão parte do conselho.

O processo deve ser amplamente divulgado na comunidade e com data


definida de instalação do Conselho. Após eleitas as entidades, estas indicarão os seus
representantes a qual tomarão posse. Iniciam-se, então, as discussões para elaboração
do regimento interno do funcionamento e organização do Conselho de Direitos.

25
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

O referido regimento interno estará contemplado com inúmeras questões


como, por exemplo: regulamentação, natureza, finalidade, atribuições, competências.

O Conselho será estruturado com eleição de presidente, organização de


comissões e secretaria. Ainda, há que se organizar a questão de estrutura física e
equipamentos necessária para o seu funcionamento.

Os conselhos gestores das políticas públicas exercem um importante papel


de efetivação de participação democrática com vistas, na concretização de direitos da
pessoa idosa buscando que de fato a sociedade contribua com a garantia da justiça
social. São canais efetivos de participação democrática que permitem estabelecer uma
sociedade na qual o exercício da cidadania deixe de ser apenas um direito, mas torne-se
de fato uma realidade.

Torna-se necessário construir com cultura, com foco a instruir a sociedade


brasileira quanto ao seu importante papel de protagonista na concretização dos direitos
de cidadania da pessoa idosa, contribuindo para uma sociedade mais participativa e
comprometida com a justiça social.

Os conselhos tornam-se importantes pela prerrogativa de fortalecimento a


participação democrática da população na formulação e implementação de políticas
públicas. Por fim, cabe compreender que devem estar livres de qualquer condição de
subordinação de caráter clientelístico, partidário de político.

3.1 ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS DOS CONSELHOS


DO IDOSO
O papel dos conselhos gira em torno da formulação, acompanhamento,
fiscalização e avaliação da Política do Idoso de forma a zelar sempre pela sua
efetiva execução. Ainda, possui como meta o controle o monitoramento das
políticas públicas com vistas a qualificação do serviço prestado à população idosa.

Os conselhos possuem um papel de grande importância para a política


pública do idoso. Afinal, é sua atribuição zelar sempre pela execução adequada
dos serviços a esta parcela da população. É atribuição do conselho a formulação,
acompanhamento, fiscalização e avaliação da política do idoso.

Podemos enumerar, conforme o Guia Prático para a Criação de Conselhos


e Fundos Estaduais e Municipais de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa (BRASIL,
2013), que estes possuem dentre suas competências e atribuições: zelar pela
defesa e promoção dos direitos da pessoa idosa; propor, acompanhar, monitorar,
fiscalizar e avaliar as políticas e ações direcionadas a pessoa idosa tanto por parte
dos Estados como dos municípios. Devem estar atentos à questão das legislações
como por exemplo o Estatuto do Idoso, e demais leis tanto de caráter estadual
como municipal.

26
TÓPICO 2 | LEI Nº 8.842 DE 1994: INSTITUI A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

Essas são algumas das atribuições e competências dos conselhos, lembrando


que este tem caráter deliberativo e o colegiado do conselho possui como prerrogativa
intervir, formular, propor alterações, acompanhar e avaliar as políticas públicas.

Assim como são competências dos Conselhos de Direitos ações privadas


destinadas ao atendimento da pessoa idosa tanto em âmbito municipal como estadual.
É fundamental que os representantes dos conselhos tenham sempre segurança de
suas competências e atribuições a fim de exercer sua função conforme a previsão
legal.

Relembra-se que o conselho do idoso, nas suas esferas governamentais,


exerce função de caráter deliberativo, consultivo e fiscalizador, para decidir, opinar,
acompanhar e fiscalizar as políticas públicas para as pessoas idosas.

O colegiado do conselho possui autoridade e competência para intervir,


formular, propor alterações, acompanhar e avaliar as políticas públicas, bem como
ações privadas destinadas ao atendimento da pessoa idosa.

O colegiado deve sempre incentivar, propor, junto aos poderes e autoridades


competentes, a criação dos fundos especiais da pessoa idosa em sua instância político-
administrativa. Já no que se refere à natureza paritária significa que o conselho deve
ser constituído por igual número de representantes dos órgãos governamentais e da
sociedade civil local.

3.2 ESTRUTURAÇÃO E RESPOSABILIDADES DOS MEMBROS


DOS CONSELHOS DO IDOSO
Segundo o Guia Prático para a Criação de Conselhos e Fundos Estaduais e Municipais
de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa (BRASIL, 2013), os conselhos de direitos são
integrados e paritariamente composto tanto por órgãos governamentais como não
governamentais. Em que, após eleitas as entidades, estas indicarão seus representantes
para comporem os membros do conselho.

O conselheiro deve compreender a sua responsabilidade de zelar pelos direitos


da pessoa idosa, bem como ter participação ativa, com comprometimento e empenho,
debater e decidir por intermédio de seu voto sobre questões pertinentes a pessoa idosa.

Faz-se necessário destacar que atividade de um conselheiro é exercida de forma


voluntária, ou seja, não renumerada e, para tanto, a necessidade de seu compromisso
com a causa do idoso.

O conselheiro deve compreender que foi eleito para uma importante missão
que requer sua disponibilidade de tempo e bom senso frente as questões que precisam
serem encaminhadas. Destaca-se que o conselheiro termina sendo o porta voz da
comunidade na defesa dos direitos da pessoa idosa. Para tanto, há que ter consciência
da tamanha responsabilidade que possui, uma vez que se disponibilizou, foi indicado
e eleito para exercer tal função.

27
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

3.3 A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE NO PROCESSO DAS


POLÍTICAS PÚBLICAS
A sociedade possui um grande e importante papel no que tange a sua
participação no processo de formulação e aplicação das políticas públicas. Dessa
forma, movimentos sistemáticos de mobilização social tornam-se importantes
estratégias de esclarecimentos do quanto ao papel dos cidadãos na elaboração e
implementação das políticas públicas.

Para tanto, o referido tema se destaca mediante a sua grande importância


a nível de contribuição social, então, podemos ressaltar: há que se expandir
perante a sociedade a compreensão da importância da participação das pessoas
nos processos de criação, emissão de opiniões e implementação de serviços que
venham corresponder as reais demandas apresentadas pela população idosa ao
longo do processo de envelhecimento.

FIGURA 1 – AS DIMENSÕES POLÍTICAS DO IDOSO

FONTE: <http://slideplayer.com.br/slide/1232327/>. Acesso em: 28 set. 2019.

Diante da descrição da Política do Idoso, pode-se verificar quando, já


na infância, as políticas públicas se apresentam como importantes no decorrer
da vida de cada cidadão. Contudo, conforme o tempo passa, aumentam-se as
necessidades de acesso as mesmas, e na velhice termina se acentuando a procura
por serviços que contribuam na busca de melhor qualidade de vida.

Essa expectativa de melhor qualidade vida vem crescendo no Brasil, nos


últimos anos, alguns fatores, de cuidados com a saúde e melhor índice nutricional,

28
TÓPICO 2 | LEI Nº 8.842 DE 1994: INSTITUI A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

nível de escolarização, segurança, socialização comunitária, vem contribuindo


para termos mais idosos, saudáveis, sábios e experientes, trazendo nesse processo
de envelhecimento, pessoas mais ativas na articulação, defesa e consolidação de
direitos negados num passado recente.

O que mediante a participação social as sugestões podem ser explanadas


e os serviços podem ser implantados e executados de forma a corresponder as
necessidades da pessoa idosa.

QUAL É O PAPEL DOS CONSELHOS DE IDOSOS?

Ana Beatriz de Almeida

Fábio Ribas, durante o evento Diálogos Nepe/PUC-SP e Itaú Viver


Mais, assinalou que o papel dos Conselhos é o de formular, acompanhar,
fiscalizar e avaliar a Política Municipal do Idoso, zelando pela sua execução.
Para ele é impossível falar sobre os Fundos do Idoso sem considerar o papel
dos Conselhos do Idoso, que são mecanismos de democracia participativa,
os quais podem aprimorar a qualidade e o controle das políticas públicas.
Também esclareceu que tais Conselhos são gestores desses recursos públicos,
os quais devem ser administrados com consciência e transparência, qualidade
e competência, caso contrário, não funcionam.

Uma das programações apresentadas no evento Diálogos “Políticas


Públicas para envelhecimento ativo após aposentadoria: direitos, experiência
e projetos sociais”, promovido pelo Mestrado em Gerontologia da PUC-SP e
Itaú Viver Mais, contou com a palestra de Fábio Ribas, diretor executivo da
Prattein — Educação e Desenvolvimento Social, que abordou o tema “Políticas
Públicas para o envelhecimento ativo — fundo do idoso”. Este evento teve a
mediação da professora Fernanda Gouveia-Paulino da PUC-SP.

Inicialmente, Fábio Ribas ressaltou a importância de um papel mais


efetivo no monitoramento das políticas públicas voltadas à população idosa,
principalmente em um momento como o que estamos passando atualmente no
Brasil, onde pesquisas apontam que vivemos um processo de envelhecimento.
Acrescentou, ainda, a importância dos Projetos Sociais, cujo grande desafio, em
sua concepção, é a articulação dos mesmos com as políticas públicas.

Segundo Ribas, é impossível falar sobre os Fundos do Idoso sem


considerar o papel dos Conselhos do Idoso, que são mecanismos de democracia
participativa, os quais podem aprimorar a qualidade e o controle das políticas
públicas. Também esclareceu que tais Conselhos são gestores desses recursos
públicos — Fundos do Idoso —, os quais devem ser administrados com
consciência e transparência, qualidade e competência, caso contrário, não
funcionam. Além disso, possuem um papel deliberativo, por ampliarem a
democracia representativa.

29
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

Ressaltou que todo Conselho do Idoso é deliberativo por apontar


prioridades e critérios para escolhê-las; analisar quem são os idosos mais
vulneráveis e mostrar para a sociedade que o fundo do idoso está sendo
bem administrado. Acrescentou também que grande parte dos conselhos
não possui clareza desse papel imprescindível para a formulação de seu
trabalho, pois muitos dos Conselhos possuem dificuldades em exercer
esse papel devido à Democracia Participativa e os Conselhos de Políticas
Públicas serem ideias recentes na formação do Estado brasileiro, marcados
por centralização, patrimonialismo, fisiologismo e pouca transparência,
além de ter uma incompreensão dos governos e também dos conselheiros
acerca dessa função. Relatou ainda, que mesmo diante desse cenário,
nos últimos anos, os conselhos estão adquirindo um olhar cada vez mais
diferenciado para os idosos.

Prosseguiu sua palestra, informando que, segundo a Associação


Nacional do Ministério Público de Defesa dos Direitos dos Idosos e
Pessoas com Deficiência (AMPID), o papel dos Conselhos é o de formular,
acompanhar, fiscalizar e avaliar a Política Municipal do Idoso, zelando pela
sua execução, realizar diagnósticos, ou seja, fazer primeiramente a pergunta:
“Qual é o problema?” e elaborar proposições, objetivando aperfeiçoar a
legislação pertinente à Política Municipal dos Direitos do Idoso, indicar
prioridades a serem incluídas no orçamento e no planejamento Municipal
quanto às questões relativas à população idosa. Os Fundos do Idoso é uma
conta pública e cabe aos Conselhos deliberar e fiscalizar.

Segundo Ribas, existem quatro capacidades que os Conselhos


precisam fortalecer: representação, diagnóstico e planejamento, deliberação
e compreensão do orçamento público e participação no ciclo orçamentário.
Quanto ao orçamento público, esclareceu que é imprescindível constar as
prioridades e os diagnósticos, citados anteriormente, e ainda que o conselho
necessita unir forças para que esse orçamento aconteça, e que atualmente
os conselheiros ainda estão começando a realizar o planejamento dos
orçamentos do idoso.

Foi explicado que os fundos do idoso são parte desse orçamento


público que deve ser direcionado à garantia dos direitos dos idosos, ou
seja, os Fundos do Idoso são um mecanismo de cidadania tributária, pelo
qual a sociedade pode participar do controle de recursos públicos. Além
disso, foi acrescentado, que para esses Fundos do Idoso funcionarem é
necessário que o Conselho também funcione, sendo imprescindível o apoio
da prefeitura, que possui dever em auxiliar esses Conselhos, que, por
sua vez, têm autonomia para criarem quaisquer propostas e prioridades,
porém, infelizmente, segundo Ribas, não há vínculo com os conselheiros
para um trabalho mais eficaz.

Fábio Ribas ressaltou a importância de um papel mais efetivo


no monitoramento das políticas públicas voltadas à população idosa.

30
TÓPICO 2 | LEI Nº 8.842 DE 1994: INSTITUI A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

Concluiu, finalmente, que há pouquíssimo investimento no Fundo do


Idoso o qual conta com um número muito baixo de arrecadações, enquanto
o investimento para as crianças tem sido de milhões, sendo necessária uma
mudança urgente nessa estatística, uma vez que a população brasileira está
envelhecendo e o futuro nos reserva uma “sociedade de cabelos brancos”.

DEBATE

Quem pode ser conselheiro? Esta foi uma questão colocada pelo
público ao diretor da Prattein, Fábio Ribas, que explicou que tal questão
gera muita polêmica, inclusive já foi discutida até na Conferência Nacional
do Idoso. Muitos defendem que apenas idosos podem participar, outros
que apenas 10% devem ser cidadãos velhos, porém, afirmou que diante
dessa situação é necessário verificar o que diz a legislação municipal.

Outra questão colocada pelo público foi sobre Projetos para o


Conselho. O diretor da Prattein respondeu que qualquer representante da
sociedade civil que atua e defende o idoso pode apresentar essa proposta,
porém trata-se de outro assunto que gera discussão e, muitas vezes,
confusão quando levantada, mas a decisão final é sempre a do Conselho
que irá analisar se cabe ou não as prioridades e diagnóstico, os quais irão
variar de município para município.

Durante o debate, o diretor, mais uma vez, ressaltou a importância


de o Conselho lutar por um trabalho mais consistente e de transparência,
além da falta de apoio de muitas prefeituras, o que acaba, muitas vezes,
atrapalhando o progresso desses Conselhos.

PARCERIA DIÁLOGOS NEPE/ITAÚ VIVER MAIS

Fomentar as discussões sobre envelhecimento, velhice e longevidade


junto à sociedade é o objetivo da parceria realizada entre a PUC/SP, por meio
do Núcleo de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (NEPE) do Programa
de Estudos Pós-graduados em Gerontologia da PUC/SP, mantida pela
Fundação São Paulo e o Itaú Viver Mais, uma associação sem fins lucrativos,
que desenvolve projetos especialmente para pessoas com mais de 55 anos,
oferecendo atividades físicas e socioculturais.

FONTE: <https://www.portaldoenvelhecimento.com.br/qual-e-o-papel-dos-conselhos-de-
idosos/>. Acesso em: 28 abr. 2020.

31
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Ao longo dos tempos, envelhecer passou a ser visto como sendo um direito
social do ser humano.

• Pessoas acima de 60 anos mostram-se cada vez mais ativas, presentes no


mercado de trabalho e na vida em sociedade de uma maneira geral.

• No ano de 1994 passa a vigorar a Política Nacional do Idoso no País com vistas
a estabelecer formas de integração e participação social pelos idosos.

• A implementação do Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, de 2003, foi um importante


instrumento legal com vistas a proteção e manutenção da qualidade de vida da
pessoa idosa.

• A Lei n° 8.842, de 4 de janeiro 1994, traz, em seu Capítulo III, que a partir da
organização e gestão da Política Nacional do Idoso impõe-se a necessidade da
criação e implementação dos conselhos de direitos da pessoa idosa nas três
esferas de governo:

○ Conselho Nacional do Idoso.


○ Conselho Estatual do Idoso.
○ Conselho Municipal do Idoso.

• Os conselhos possuem como prerrogativa zelar pelo cumprimento das leis


que garantem os direitos dos idosos. Estão vinculados à política de assistência
social e possuem o poder de fiscalização.

• Os conselhos devem atuar com vistas a garantia e qualidade dos atendimentos


aos idosos em instituições sociais e de saúde especializadas a pessoa idosa.

• A formação destas estruturas de conselho a nível de entidades, além de ser um


órgão criado aos olhos da lei, tornam-se indispensáveis na defesa e promoção
dos direitos de cidadania e qualidade de vida da pessoa idosa.

• O papel dos conselhos gira em torno da formulação, acompanhamento,


fiscalização e avaliação da Política do idoso de forma a zelar sempre pela sua
efetiva execução.

• Ainda, possui como meta o controle o monitoramento das políticas públicas


com vistas a qualificação do serviço prestado a população idosa.

32
• O conselho de direito é integrado, paritariamente, por órgãos governamentais
(entidades públicas) e não governamentais (instituições da sociedade civil sem
fins lucrativos) eleitas por meio de edital público.

• Cada uma das entidades públicas e privadas indica duas pessoas, sendo uma
na qualidade de titular e a outra na de suplente para representá-las.

• Dessas pessoas se espera efetiva participação e engajamento nas atividades do


conselho, contudo cabe lembrar que a responsabilidade de participação nas
ações de políticas deliberadas em plenária e aquelas definidas nos diplomas
legais é de cada um dos órgãos ou entidades, que, por sua vez, devem atuar
por meio da realização de ações, programas, projetos e atividades que possam
atender as demandas manifestadas ou não desta população idosa.

• No que tange às atribuições dos conselheiros podemos destacar que deve zelar
pelos direitos da pessoa idosa com participação ativa e efetiva nos trabalhos
do conselho, assim como na defesa e promoção de políticas que garantam o
atendimento integral do sujeito idoso.

• Os conselheiros devem opinar, discutir, debater e decidir, por meio de seu


voto, sobre as questões que forem submetidas ao plenário.

• Atuar na sensibilização e mobilização da sociedade para a defesa dos direitos


da pessoa idosa.

• A atividade de um conselheiro é uma ação voluntária, o que significa ser


isenta de qualquer tipo de remuneração. Porém, é indispensável que ele tenha
compromisso com a causa da pessoa idosa.

• Os conselheiros também devem estar dispostos a serem porta-vozes da defesa


e promoção dos direitos da pessoa idosa, socializando informações e buscando
manter-se informado sobre as matérias que envolvam a pessoa idosa.

• A sociedade precisa compreender a importância da participação das pessoas


nos processos de criação, emissão de opiniões e implementação de serviços
que venham corresponder as reais demandas apresentadas pela população
idosa ao longo do processo de envelhecimento.

33
AUTOATIVIDADE

1 Acadêmico, quem é o IDOSO para você?

2 A Lei n° 8.842, de 4 de janeiro 1994, traz, em seu Capítulo III, que a partir da
organização e gestão da Política Nacional do Idoso impõe-se a necessidade
da criação e implementação dos conselhos de direitos da pessoa idosa nas
três esferas de governo. Cite quais são eles:

3 Quais políticas públicas direcionadas para o atendimento ao idoso você


consegue visualizar em seu município?

4 Quais são as três funções principais dos Conselhos para Pessoas idosas nas
três esferas governamentais?

34
UNIDADE 1
TÓPICO 3

NÍVEIS DE ATENÇÃO AO IDOSO AO LONGO DO TEMPO

1 INTRODUÇÃO
No decorrer dos tempos a compreensão da população, assim como a
própria legislação, foi gradativamente compreendendo a importância do cuidado
e atenção que deveria ser direcionado à pessoa idosa mediante às inúmeras
demandas sociais e de saúde que passaram a se apresentar.

Criar estratégias para oferta de serviços compreendendo a necessidade


da população idosa passou a ser algo de extrema necessidade. Para tanto, as
políticas de proteção precisaram compreender a oferta de serviços de acordo
com a demanda apresentada, assim como definir níveis de proteção para melhor
estruturação dos atendimentos de serviços.

Há que se entender os níveis de complexidade uma vez que a pessoa idosa


pode apresentar demandas tanto de políticas públicas de proteção básica, média
ou alta serviços de alta complexidade.

Por fim, acadêmico, passa-se, aos poucos, a compreender essas esferas


a fim de organizar a oferta de serviços, a implementação destes e a constante
reestruturação com vistas a buscar a qualidade deles.

2 ENVELHECIMENTO E AS POLÍTICAS DE PROTEÇÃO


O processo de envelhecimento humano remete diretamente a questões
interligadas à existência de políticas de proteção. Existe um real questionamento
no sentido de identificar as políticas de proteção direcionadas as pessoas que
envelhecem.

O envelhecimento populacional ganha visibilidade em nível mundial e


requer olhar atento no sentido de buscar uma proteção efetiva à pessoa idosa.
Pode-se levantar a questão de que o processo do envelhecimento populacional
é resultado do sucesso das políticas públicas das diversas áreas que de alguma
forma proporcionaram melhores condições de vida, em especial à saúde.

35
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

Entretanto, o maior desafio apresentado é encontrar maneiras de celebrar


a vida de forma a não transformar este fenômeno um problema social, mas sim
uma linda conquista.

O envelhecimento humano é um processo que, quando chega na terceira


idade, precisa ter uma rede de proteção integral de cuidado, para envelhecer com
saúde e dignidade. E devem estar acompanhados de Políticas Públicas na área da
saúde, da educação, da habitação, de acessibilidade e mobilidade. Outros direitos
devem serem garantidos da participação comunitária e da autonomia.

Conforme já abordamos em tópicos anteriores, a Constituição Federal


de 1988 apresentou uma forma de proteção social que remetia a um sistema
de seguridade social. Esse modelo envolve a previdência social (compreendida
na estrutura de seguro social) e a assistência social (percebida como sendo um
direito e não como filantropia).

Desta forma, a assistência social integra o sistema de seguridade social


como sendo uma política pública não contributiva, ou seja, um direito do cidadão
e um dever do Estado. O que, posteriormente, com a divulgação da Lei Orgânica
de assistência Social (LOAS), de 1993, tornou-se responsável pela oferta de
proteção social. Devendo então ofertar serviços voltados à prevenção, proteção,
inserção e promoção social, desenvolvidos em conjunto com outras políticas
públicas, revertendo o modelo de estilo clientelista, imediatista e assistencialista
que sempre apontou essa área.

A assistência social dirige a garantir proteção social a todos os que dela


necessitam (MDS, 2009), independentemente de qualquer contribuição prévia.
Isso significa que qualquer cidadão brasileiro tem direito aos benefícios, serviços,
programas e projetos socioassistenciais sem o caráter contributivo, o que permite
eliminar ou reduzir os níveis de vulnerabilidade e/ou fragilidade social.

Outro marco importante foi a aprovação da Política Nacional de assistência


Social (PNAS), em 15 de outubro de 2004, com sua posterior regulação, em 2005 e
pelo Sistema Único de Assistência Social (SUAS) regulamentado como Lei Federal,
somente em 2011, que estabelece um pacto federativo para a operacionalização
da PNAS.

3 OS DIFERENTES NÍVEIS DE PROTEÇÃO


NO ATENDIMENTO AO IDOSO
Como vimos nos tópicos anteriores, existem aparatos legal que norteiam
o direcionamento do cuidado e dos serviços a serem organizados e ofertados a
população, aqui em especial tratamos do idoso.

36
TÓPICO 3 |

NOTA

Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais – Resolução n° 109/2009


do CNAS.

O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) determina os elementos


efetivos para desenvolver atuações da política de assistência social: possibilitar a
normatização dos padrões dos serviços. Organizar os serviços a serem prestados
à população em esferas de proteção social básica e proteção social especial de
média e alta complexidade, conforme explanação a seguir:

• Proteção Social Básica: são os serviços ofertados nos municípios através dos
Centros de Referência de Assistência Social (CRAS).

FIGURA 2 – CRAS

FONTE: <https://joia.rs.gov.br/uploads/servico/17804/maior_CRAS.png>. Acesso em: 28 abr.


2020.

Os Serviços de Proteção Social Básica possuem como objetivos: prevenir


situações de risco social; estimular o desenvolvimento de vínculos familiares e
comunitários; promover o autoconhecimento quanto à condição de vida e à relação
com familiares e vizinhos, assim como a compreensão dos direitos sociais.

Configura-se como um conjunto de serviços, programas, projetos e benefícios


de assistência social estruturados para atender pessoas em situação de vulnerabilidade
e risco social decorrente de pobreza, apartação da sociedade, ausência de renda,
fragilidade dos vínculos familiares e/ou comunitários, discriminação, entre outros.

A proteção social básica em se tratando especialmente ao cuidado com a


pessoa idosa, tem como foco principal a prevenção ao isolamento e ao acolhimento
institucional. As ações e os benefícios desse tipo de proteção destinados às pessoas

37
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

idosas e seus familiares são: Centro de Convivência para Idosos, Benefício de Prestação
Continuada (BPC), Programa Bolsa Família, ações socioeducativas promovidas pelo
Programa de Atenção Integral à Família (PAIF) e apoio e orientação a grupos de
cuidadores de idosos.

Os serviços devem ser estruturados de modo a promover encontros e reuniões


que estimulem a reflexão e discussão de interesse comum, principalmente no caso dos
idosos, para que se possa fortalecer a malha social, rompendo com discriminações e
desrespeito e estimulando, assim, o protagonismo social do idoso.

Essa modalidade de participação previne riscos sociais relacionados ao ciclo


de vida, como o isolamento e o próprio acolhimento institucional, que, muitas vezes,
levam a pessoa idosa a quadros depressivos, à demência e mesmo à morte.

Para os idosos com algum grau de dependência, a Política Nacional de


Assistência Social promove ações de atenção individualizada e personalizada em
domicílio, de caráter preventivo e de garantia de direitos. O atendimento caracteriza-
se pelo apoio ao idoso e a sua família, identificado pelas equipes do Centros de
Assistência Social (CRAS), que em uma ação integrada com outras políticas públicas
atendem à pessoa idosa, na perspectiva da permanência no domicílio.

Portanto, os serviços de proteção social básica tratam de um conjunto de


serviços, programas e projetos que tem por objetivo prestar atendimento especializado
a famílias e indivíduos em situação de risco pessoal e social e violação de direitos,
visando o fortalecimento de suas potencialidades e a sua proteção.

O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) reorganiza os serviços da


proteção especial conforme sua complexidade (média ou alta) de acordo com a
descrição a seguir.

• Proteção Social Especial – Média Complexidade: são serviços ofertados pela


Política de Assistência Social através dos Centros de Referência de Assistência
Social (CREAS).

FIGURA 3 – CREAS

FONTE: <http://www.campinagrandedosul.pr.gov.br/site/painel/img_Secretarias/Set-2a8aee464
54ff60e62beb3bb90ac1244.jpeg>. Acesso em: 28 abr. 2020.

38
TÓPICO 3 |

Serviços de proteção social especial de média complexidade atendem às


famílias, seus membros e indivíduos com direitos violados, mas, cujos vínculos
familiares e comunitários que não foram rompidos, requerem estrutura que
permita atenção especializada e/ou acompanhamento sistemático e monitorado.

O foco da proteção social especial está na defesa da dignidade e dos


direitos do idoso, monitorando a ocorrência dos riscos e de seu agravamento e
oferecendo serviços de acolhimento quando identificado a necessidade deste. As
ações são executadas de forma articulada com a rede de serviços:

FIGURA 4 – CREAS E A ARTICULAÇÃO COM A REDE

FONTE: As autoras

A articulação com a rede de serviços torna-se imprescindível a fim de


garantir o atendimento de acordo com identificação das demandas e necessidades
apuradas em torno do atendimento à pessoa idosa. Através da rede de serviços,
as políticas públicas se complementam e devem ofertar os serviços de acordo com
a necessidade apresentada cumprindo assim com seu papel previsto na legislação
vigente.

Proteção Social Especial de Alta Complexidade: serviços de proteção


social especial de alta complexidade referem-se a demandas, nas quais, no caso
da pessoa idosa, podem ter sido causadas por abandono, violência física ou
psicológica, abuso sexual ou negligência.

39
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

Garantem proteção integral: moradia, alimentação, higienização e trabalho


protegido. Dirigem-se às famílias, seus membros e indivíduos que se encontram
sem referência e/ou ameaçados e necessitam ser retirados de seu núcleo familiar
e comunitário.

Todos os serviços de proteção social especial, independentemente do


tipo, devem pautar-se, de forma geral, pelo disposto no estatuto do idoso e pelas
normativas legais específicas de proteção aos direitos da pessoa idosa.

4 FUNCIONAMENTO E GESTÃO DAS ILPI, EXIGÊNCIAS DA


ANVISA E OS TIPOS DE CERTIFICAÇÕES E ACREDITAÇÃO
VOLTADOS AO CUIDADO DO IDOSO
O funcionamento de uma Instituição de Longa Permanência para Idosos
(ILPI) requer procedimentos atualizados de gestão e novas tecnologias, para o
aperfeiçoamento de pessoas, equipamentos e procedimentos. Rever e aperfeiçoar
constantemente os procedimentos sobre os registros individuais torna um preceito
fundamental para a gestão administrativa das referidas entidades asilares.

As Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), que incluem


os asilos e casas de repouso para idosos, passam pela regulação da ANVISA
(RDC nº 283/2005) e são fiscalizadas pelas Vigilância Sanitárias municipais e os
Ministérios Públicos Estaduais.

Acadêmico, você deve estar se perguntando e refletindo com relação


à abordagem deste assunto nas Políticas Sociais de Atendimento ao Idoso, é
exatamente isso que veremos, aguçaremos a busca e o aprofundamento, porém,
discorreremos, de forma sucinta, pois a ANVISA regula as ILPI desde 2005,
quando publicou a RDC 283, então, se estamos falando que as casas de repousos
e asilos têm caráter residencial, podemos diferir das clínicas geriátricas.

E
IMPORTANT

O idoso que precisar de cuidados médicos constantes, medicação e assistência


à saúde, deve ser levado a uma clínica geriátrica.

Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) são espaços de


Acolhimento para idosos com 60 anos ou mais, de ambos os sexos, independentes
e/ou com diversos graus de dependência.

40
TÓPICO 3 |

FIGURA 5 – ILPI

FONTE: <https://www.marinha.mil.br/dasm/sites/www.marinha.mil.br.dasm/files/ilpi_0.jpg>.
Acesso em: 28 abr. 2020.

Segundo a Tipificação de Serviços Socioassistencial (Resolução n°


109/2009), aponta que:

A natureza do acolhimento deverá ser provisória e,


excepcionalmente, de longa permanência quando esgotadas
todas as possibilidades de auto sustento e convívio com
os familiares. É previsto para idosos que não dispõem de
condições para permanecer com a família, com vivência de
situações de violência e negligência, em situação de rua e de
abandono, com vínculos familiares fragilizados ou rompidos.
Idosos com vínculo de parentesco ou afinidade — casais,
irmãos, amigos etc. — devem ser atendidos na mesma unidade.
Preferencialmente, deve ser ofertado aos casais de idosos o
compartilhamento do mesmo quarto. Idosos com deficiência
devem ser incluídos nesse serviço, de modo a prevenir práticas
segregacionistas e o isolamento desse segmento.

Conforme previsão na Tipificação dos Serviços Socioassistencial, fica


orientado aos profissionais que a natureza do acolhimento não é permanente,
sempre que possível deverá ser revisado para verificar se houve uma nova
evolução ou algum fato que pode ser considerado.

O serviço possui como objetivo, conforme a Resolução nº 109/2009:

Incentivar o desenvolvimento do protagonismo e de capacidades


para a realização de atividades da vida diária; Desenvolver condições
para a independência e o autocuidado; Promover o acesso à renda;
Promover a convivência mista entre os residentes de diversos graus
de dependência.

Para o funcionamento das instituições de acolhimento ao idoso, a


instituição deve se respaldar com assessoria jurídica a fim de que sejam atendidas
todas as exigências legais para seu adequado funcionamento levando sempre em
conta as resoluções apresentadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

41
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

Além disso, algumas questões devem ser consideradas:



• Precisamos conhecer qual é a situação do idoso pois as ILPI são destinadas ao
acolhimento de idosos saudáveis, com autonomia, alguns casos eventualmente
podem necessitar de ajuda para se alimentar ou tomar banho.
• A instituição tem cadastro e licença de funcionamento na Vigilância Sanitária
do município.
• A instituição tem que celebrar um contrato entre o idoso ou sua família e a
instituição deve trazer todas as informações sobre o serviço prestado.
• O cuidado com a alimentação é fundamental para que cada idoso tenha um
atendimento adequado (inclusive com acompanhamento de um profissional
nutricionista).
• A norma exige que as ILPI tenham pelo menos seis refeições diárias.
• As ILPI devem ter um responsável técnico de nível superior, como não são
locais que não prestam serviços exclusivo de saúde, não é obrigatório que o
responsável seja médico ou enfermeiro.
• O idoso ou idosa poderá e deve levar seus pertences (estimula a memória e
cria um estado emocional ameno).
• Os horários de visitação devem ser livres, não deve haver restrições.
• Avaliem se o local de atendimento é adequado, situações como cheiros, mofos
nas paredes, escadas sem proteção e/ou contenção e janelas sem proteção
adequadas tornam o ambiente inadequado.
• A ANVISA determina o número mínimo de cuidadores conforme o grau de
autonomia dos idosos (a resolução prevê um cuidador para cada seis idosos,
nos casos de maior dependência).

E
IMPORTANT

Cada profissional torna-se responsável por identificar irregularidades. Nesses


casos, se não for sanada de imediato, deverão ser comunicadas à Vigilância Sanitária local,
que é responsável pela autorização de funcionamento e fiscalização com os demais órgãos
desses serviços.

• Certificação: podemos consignar a importância de não confundir a constituição


de pessoa jurídica (CNPJ da ILPI) com a obtenção do Certificado de “entidade
beneficente” ou “de fim filantrópico”. A certificação como entidade de fim
filantrópico é outro passo importante para que as ILPI e demais organizações
sociais estejam habilitadas para fins de prestação de serviços nos termos da
Lei Federal nº 8.909/94, ou ser qualificada como “organização social” nos
termos da Lei Federal n° 9.637/98.
• Certificação de Entidades Beneficentes de Assistência Social (CEBAS): em
2019, o Ministério da Cidadania do Governo Federal era o órgão competente

42
TÓPICO 3 |

para concessão ou renovação da Certificação de Entidades Beneficentes de


Assistência Social (CEBAS) às organizações que possuem atuação exclusiva
ou preponderante na área de assistência social. A certificação, concedida às
organizações da assistência social, torna um instrumento que possibilita a ILPI
usufruir da isenção das contribuições sociais. Quais são essas contribuições:
○ Contribuição Previdenciária sobre a folha de pagamento (parte patronal).
○ Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
○ Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS).
○ Contribuição PIS/PASEP.

Ainda, permite a priorização na celebração em contratos e convênios com


o poder público nas esferas constituídas (municipal, estadual e federal).

• Acreditação de ILPI: a acreditação não deixa de ser um método de avaliação


e certificação, porém não fiscalizatório, que busca, por meio de requisitos
e padrões nacionais e internacionais definidos em qualidade e segurança
nas Políticas Públicas de Saúde e Assistência Social, legislação referente ao
assunto e processos estratégicos de gestão e planejamento organizacional.
A nível mundial, a acreditação pode ser solicitada para uma empresa
(organização) ou somente de um serviço específico desta empresa. A literatura
nesse assunto é escassa, porém muito importante no controle de infecções
em ambientes, principalmente quando se trata de hospitais e Instituições de
Longa permanência (ILPI).

NOTA

A Acreditação se dá em três níveis: o primeiro quando se atinge acima de 70%


do padrão exigido de excelência na Gestão, qualidade e segurança dos serviços prestados.
O segundo nível é a Acreditação Plena, quando atingem mais de 80% dos padrões de
Gestão integrada, atendendo uma comunicação plena das atividades oferecidas, além das
melhorias contínua do primeiro nível. E o terceiro nível seria a Acreditação por Excelência,
quando atingem mais de 90% dos padrões de qualidade, segurança e cultura organizacional
de melhoria contínua. A certificação nos primeiros níveis é normalmente de dois anos e o
terceiro nível de três anos.

Ainda referente à Acreditação, no Brasil, esta iniciou por intermédio dos


hospitais, sendo o primeiro, o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo,
em 1999, a acreditação foi realizada pela empresa Joint Commission International
(JCI), inclusive, o hospital tornou uma referência mundial devido ao seu destaque
do “Plano de Catástrofe” transformando-se, então, como referência no auxílio
para a estruturação e/ou reestruturação de muitos outros hospitais, quanto ao
combate da doença H1N1 no pais, em maio de 2009. Atualmente, no ano de 2020,
novamente se destaca frente a pandemia de Coronavírus (COVID-19) vivenciada
a nível Mundial.
43
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

No âmbito das ILPI’s a acreditação começa no ano de 2017, com a


Organização de cuidados prolongados, Cora Residencial Sênior.

A procura se intensifica, cada vez mais, com as consultorias de empresas


de em governança empresarial, para a reinvenção de ações após a pandemia
de Coronavírus, em que, nas ILPI’s, os familiares procuram maior segurança e
locais que buscam ter plano de ação no controle de infecções no ambiente. Novas
empresas e demandas surgirão, porém com um planejamento operacional, tático
e estratégico, poderá ser definida de uma cultura organizacional sólida e de
melhorias contínuas.

Por fim, as certificações e acreditações vêm se alterando constantemente,


e, dessa forma, precisamos ficar atentos a essas transformações, porém com uma
formação acadêmica adequada e continua, darão subsídios para a implementação
de ações em suas atividades, que auxiliarão a organização, a agregar serviços com
o mais rígido padrão de qualidade, assegurando a população atendida de idosos,
sobre sua responsabilidade maior segurança, proteção e qualidade de vida.

FIGURA 6 – ANVISA

FONTE: <https://amradvocacia.adv.br/site/wp-content/uploads/2013/11/Anvisa.jpg>. Acesso em:


28 abr. 2020.

Segundo o Decreto n° 3.029, de 16 de abril de 1999, c/c do Art. 111,


inciso I, alínea “b” § 1º do Regimento Interno aprovado pela Portaria nº
593, de 25 de agosto de 2000, republicada no DOU de 22 de dezembro
de 2000, em reunião realizada em 20, de setembro de 2005 apresentou
se o REGULAMENTO TÉCNICO PARA O FUNCIONAMENTO DAS
INSTIITUÇOES DE LONGA PERMANENCIA PARA IDOSOS.

1. OBJETIVO

Estabelecer o padrão mínimo de funcionamento das Instituições de Longa


Permanência para Idosos.

44
TÓPICO 3 |

2. ABRANGÊNCIA

Esta norma é aplicável a toda instituição de longa permanência para idosos,


governamental ou não governamental, destinada à moradia coletiva de
pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar.

3. DEFINIÇÕES

3.1 – Cuidador de Idosos: pessoa capacitada para auxiliar o idoso que


apresenta limitações para realizar atividades da vida diária.

3.2 – Dependência do Idoso: condição do indivíduo que requer o auxílio


de pessoas ou de equipamentos especiais para realização de atividades da
vida diária.

3.3 – Equipamento de Autoajuda: qualquer equipamento ou adaptação,


utilizado para compensar ou potencializar habilidades funcionais, tais
como bengala, andador, óculos, aparelho auditivo e cadeira de rodas, entre
outros com função assemelhada.

3.4 – Grau de Dependência do Idoso

a) Grau de Dependência I: idosos independentes, mesmo que requeiram


uso de equipamentos de autoajuda.
b) Grau de Dependência II: idosos com dependência em até três atividades
de autocuidado para a vida diária tais como: alimentação, mobilidade,
higiene; sem comprometimento cognitivo ou com alteração cognitiva
controlada.
c) Grau de Dependência III: idosos com dependência que requeiram
assistência em todas as atividades de autocuidado para a vida diária e ou
com comprometimento cognitivo.

3.5 – Indivíduo autônomo: é aquele que detém poder decisório e controle


sobre a sua vida.

3.6 – Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI): instituições


governamentais ou não governamentais, de caráter residencial, destinada
a domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com
ou sem suporte familiar, em condição de liberdade e dignidade e cidadania.

FONTE: <https://bit.ly/34yfrZp>. Acesso em: 21 maio 2020.

Para tanto, a Instituição de Longa Permanência para Idosos é responsável


pela atenção ao idoso, proporcionando o exercício dos direitos humanos (civis,
políticos, econômicos, sociais, culturais e individuais) de seus residentes.

45
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

Ainda, deve estar sempre atento aos direitos e garantias dos idosos,
inclusive o respeito à liberdade de credo e a liberdade de ir e vir, desde que não
exista restrição determinada no Plano de Atenção à Saúde. O idoso deve ter sua
identidade e privacidade respeitada, assim como convivência em um espaço
acolhedor e de integração com a família, convivências intergeracionais e com a
comunidade local. O idoso deve sempre ter sua autonomia incentivada e cuidado
através da prevenção de qualquer tipo de violência e discriminação contra pessoas
nela residentes.

5 GESTÃO HUMANIZADA NO CUIDADO INTEGRAL


AO IDOSO
O tema da gestão humanizada remete para a reflexão no sentido de um
atendimento de cuidado ao idoso. Dessa forma, a troca de conhecimento, assim
como experiências entre os profissionais, ocupa importante papel aos olhos de
uma atuação com caráter interdisciplinar principalmente se tratando da área da
saúde.

Assim, também destaca a importância da constante qualificação e


aperfeiçoando os conhecimentos de maneira que automaticamente venham a
refletir no atendimento adequado disponibilizado à população idosa.

A Política Nacional de Humanização, conforme as orientações do


Ministério da Saúde, vem reafirmar o compromisso de qualificar os serviços
oferecidos em cada município brasileiro e, contudo, Ranzi (2013, p. 8) vem
reforçar que:

a humanização, corresponde forjar novas atitudes por parte de


trabalhadores, gestores e usuários, de práticas mais éticas no campo
do trabalho, incluindo aí o campo da gestão e das práticas de
saúde, superando problemas e desafios do cotidiano do trabalho.
Os problemas, mais corriqueiros a serem superados são as filas, a
insensibilidade dos trabalhadores frente ao sofrimento das pessoas,
os tratamentos desrespeitosos, o isolamento das pessoas de suas
redes sócio familiares nos procedimentos, consultas e internações, as
práticas de gestão autoritária, as deficiências nas condições concretas
de trabalho, incluindo a degradação nos ambientes e das relações de
trabalho.

           Com essas colocações, enumera-se que o grande desafio imposto
pela Política Nacional do Idoso trata-se da estruturação de uma nova cultura no
que se refere ao respeito aos atendimentos disponibilizados através dos serviços
públicos de saúde com vistas as garantias e efetivações os princípios definidos
pelo Sistema Único de Saúde SUS.

Ressalta-se a importância de os profissionais contribuírem significativa-


mente no sentido de viabilizar essas garantias legais, com objetivo de ofertar ser-
viços através de atuação de fato humanizadora.

46
TÓPICO 3 |

Para tanto, debates, reflexões e análises tornam-se imprescindíveis


nesta esfera da humanização a fim de qualificar não apenas os processos de
atendimentos como a estruturação e gestão dos serviços.

Desta forma, gradativamente se potencializa e fortalece as práticas de


trabalho no que diz respeito à defesa e garantia de direitos conforme com a real
demanda de atendimento apresentada.

Em algum momento de nossas vidas acreditamos que, se pararmos


para pensar, escutamos alguém dizer, por exemplo, que em uma determinada
consulta médica o profissional nem se quer olhou em seus olhos, nem mesmo
deu atenção devida as suas queixas, parecendo não se importar com a demanda a
ser exposta. Da mesma forma que, ao procurar determinado serviço, não recebeu
adequadamente as orientações a qual foi em busca.

Pois então, esse foi apenas um exemplo para falar que gestão humanizada
nada tem a ver com essa situação relatada. Contudo, infelizmente, situações como
essa são mais comuns do que poderíamos imaginar, e, nas mais diferentes áreas
e esferas de atendimento ao idoso.

Então, quando abordamos a temática da gestão humanizada estamos


falando de cuidado, de atenção, de compromisso e responsabilidade em ofertar
um atendimento que proporcione segurança a quem está sendo atendido.

FIGURA 7 – HUMANIZAÇÃO E ACOLHIMENTO

FONTE: <https://bit.ly/32g6ssG>. Acesso em: 28 abr. 2020.

A gestão humanizada já se inicia pelo adequado acolhimento realizado


ainda no primeiro contato com a pessoa idosa ao acessar o serviço ao qual foi
buscar, ou até mesmo quando os profissionais atuam em seu processo de trabalho
com ações de busca ativa.

Os profissionais que compõem as equipes de saúde da família, por


exemplo, são muitas vezes os primeiros a terem o contato com o usuário do
Sistema Único de Saúde, portanto:

47
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

Os profissionais da equipe de saúde da família devem estar atentos


à mudança do perfil populacional da sua área de abrangência, com o
significativo aumento da população idosa. Cabe a esses profissionais
trabalhar com medidas promocionais de proteção específica, de
identificação precoce dos agravos mais frequentes na sua população
idosa, bem como sua intervenção e medidas de reabilitação voltadas
a evitar o afastamento do idoso do seu convívio social e familiar
(PORTINHO, 2013, p. 44).
           
Afinal, é importante que seja estabelecido vínculo entre o serviço e o
usuário que está sendo atendido com o objetivo de garantir a continuidade do
atendimento de suas demandas. Então, que o profissional tenha a sensibilidade
da escuta direcionada à demanda apresentada pelo idoso de forma a contribuir
de fato tecnicamente para que este possa sanar ou amenizar a problemática
apresentada, lhes dando direcionamento ou o encaminhamento correto de acordo
com as suas necessidades.

É preciso proporcionar um atendimento de forma mais atenciosa possível,


em que a pessoa idosa se sinta ouvida e valorizada. Com o envelhecimento,
automaticamente, inúmeras situações vão surgindo como a própria dificuldade
de locomoção em que inclusive os espaços de atendimento à pessoa idosa devem
estar de acordo com suas demandas facilitando assim o acesso aos serviços
prestados.

FIGURA 8 – ACESSIBILIDADE

FONTE: <https://bit.ly/2E4JuwX>. Acesso em: 28 abr. 2020.

Os espaços devem estar livres para circulação como até mesmo tapetes
pelo chão tornam-se desnecessários uma vez que pode ocasionar quedas. Outro
fator importante a ser considerado em qualquer atendimento ao idoso é quanto a
comunicação. Comunique-se de forma clara e objetiva. Termos técnicos ou muito
rebuscados devem sempre serem evitados inclusive porque algumas vezes terá
que repetir o que disse de outra forma para que o idoso consiga compreender o
que quis dizer. Portanto, tenha paciência.

48
TÓPICO 3 |

Procurar entender o que o idoso está querendo dizer, não o interromper


sua fala, preparar o espaço, acolhê-lo adequadamente e ter boa comunicação são
algumas formas de ofertar um atendimento humanizado.

Os registros por intermédios de prontuários, principalmente na área de


saúde, tornam-se indispensáveis, afinal, os registros facilitam o atendimento ao
idoso e garantem um serviço de melhor qualidade sempre que for necessário.

FIGURA 9 – PRONTUÁRIOS

FONTE: <https://www.hospitalbelohorizonte.com.br/images/prontuarios.jpg>. Acesso em: 28


abr. 2020.

Segundo Cesário (2018, s.p.):

o cuidado humanizado é um tema muito abordado em eventos


científicos e eventos do governo, esse tema tem uma importância
maior quando se fala em saúde do idoso, esta é vista como um eixo
norteador para a promoção da assistência holística a pessoa idosa.
Para a efetivação do atendimento humanizado do idoso é preciso
atendimento prioritário, respeito a sua autonomia e independência.

O cuidado humanizado reflete primeiramente na importância da


compreensão do respeito, principalmente a pessoa idosa, pela sua condição de
vida, na maioria pelas suas debilidades físicas. O olhar deve estar sempre atento
à real identificação de suas necessidades para então ofertar o serviço de forma
mais adequada possível.

O atendimento sempre deve ser ofertado com caráter de prioridade. Deve


perceber a demanda apresentada pela pessoa idosa, porém ampliar para questões
familiares e de seu(s) cuidador(es).

Afinal, é necessário entender que existe um conjunto de fatores que


influenciam para o bem estar da pessoa idosa. Por isso, a importância do
atendimento cauteloso e humanizado, com condições e estrutura adequada para
que as intervenções possam ter resultados adequados.

Cesário (2018, s.p.) ainda aponta que a pessoa idosa deve ter atendimento
especial:

49
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

O idoso tem o direito de atendimento especial, e este é apenas


uma maneira de prevenir e promover a saúde do idoso ainda na
atenção básica, este proporciona um tratamento adequado ao idoso,
ao cuidador e ao familiar, tudo isso resulta na humanização da
assistência. A humanização deve acontecer nas unidades de atenção
básica, nas unidades de permanecia, nos hospitais públicos e privados,
não deve haver a discriminação ou a falta de cuidado adequado com
os pacientes.

Para tanto, a questão do atendimento humanizado é um procedimento que


implica a evolução do cuidado e pode ocorrer em diversas áreas da sociedade e o
desafio principalmente dos profissionais é aperfeiçoar a oferta desta modalidade
de atendimento nos serviços ofertados a população idosa.

50
TÓPICO 3 |

LEITURA COMPLEMENTAR

OS DESAFIOS DO ENVELHECIMENTO COM QUALIDADE DE VIDA

Portal do Envelhecimento

É imprescindível reconhecer que o envelhecimento não é igual para todos,


e as diferenças existentes se referem a fatores como condições de vida, acesso aos
bens e serviços, cobertura da rede de proteção e as condições de atendimento
social. Portanto, a longevidade, com qualidade de vida, apresenta-se como um
fenômeno desafiador. 

A importância de estudos sobre o envelhecimento com qualidade de vida


na atualidade surge do fato de que a sociedade na qual vivemos não assegura os
direitos da maioria dos idosos, apesar da existência de leis destinadas a esse fim
como o Estatuto do Idoso e a Política Nacional do Idoso.

O segmento idoso da população brasileira é formado por uma parcela


significativa de pessoas em situação de vulnerabilidade social que têm inúmeros
problemas relacionados à falta de apoio familiar e social, além de vínculos afetivos
fragilizados e muitas vezes inexistentes.

Soma-se a essa realidade a carência de oportunidades, sejam elas providas


pelas políticas públicas ou pela sociedade civil, de programas destinados a
propiciar momentos de convivência comunitária. A concretização de iniciativas
dessa natureza constitui-se como fator favorecedor para que pessoas idosas
possam ter uma vida mais saudável ao superar estigmas e preconceitos que
afetam as relações humanas.

O aumento demográfico da população idosa gera desafios para a


sociedade que precisa desenvolver meios para enfrentar as demandas específicas
decorrentes dessa nova realidade etária. Nesse sentido, torna-se imprescindível
ressaltar a importância de estudos e pesquisas para um melhor entendimento do
processo de envelhecimento tendo em vista garantir um melhor envelhecer.

51
UNIDADE 1 | A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO

O envelhecimento populacional é uma realidade mundial, e o aumento


do número de pessoas idosas é certamente consequência do prolongamento da
vida que se apresenta como fato inquestionável há mais de uma década. Esse
fenômeno resultou em diversas mudanças sociais, estruturais e, principalmente,
culturais, gerando demandas específicas do segmento idoso. Para atendê-las,
são necessárias ações e projetos inovadores, a fim de aprimorar o atendimento
dispensado a essas pessoas. Todavia, a sociedade civil e os órgãos públicos não
se encontram devidamente preparados para atender essa faixa etária, levando-se
em conta que a realidade do envelhecimento é muito complexa e ainda pouco
conhecida

Dentre as questões que se colocam, é imprescindível reconhecer que o


envelhecimento não é igual para todos, e as diferenças existentes se referem a
fatores como condições de vida, acesso aos bens e serviços, cobertura da rede de
proteção e as condições de atendimento social.

Admitir a heterogeneidade como característica do processo de


envelhecimento é relevar a importância das diferentes formas de ser que marcam
diversos momentos da trajetória de vida das pessoas, incluindo a velhice.

A contextualização da realidade da velhice apresenta também a sua


concepção como uma fase de decadência, de inutilidade, de isolamento e de
incapacidade para a aprendizagem. Trata-se de preconceitos que rotulam e
dificultam o investimento em ações que podem beneficiar o segmento idoso e sua
inclusão na sociedade atual.

A velhice vista como doença, perda, exclusão, morte, contrapõe-se ao


modelo saúde-beleza, força física e mental, vigor sexual, capacidade produtiva.
O idoso que não se encaixa neste modelo é visto como “culpado”, como se apenas
por sua vontade pudesse corresponder ao modelo proposto. Assim, o lugar do
velho “comum” é o não lugar, tanto no aspecto econômico como na perspectiva
social.

As perspectivas de um envelhecimento digno ainda são limitadas diante


da predominância de uma insistente abordagem de infantilização e tratamento
do idoso como carente e frágil. Esse sentido de vitimização enfraquece sua
autonomia e as possibilidades do idoso se assumir como sujeito de seus atos.

A longevidade, com qualidade de vida, apresenta-se como um fenômeno


desafiador nos dias de hoje. Esses desafios são amplos e diversos, exigindo uma
atualização da compreensão sobre o processo de envelhecer.

FONTE: <https://www.portaldoenvelhecimento.com.br/os-desafios-do-envelhecimento-com-
qualidade-de-vida/>. Acesso em: 28 abr. 2020.

52
TÓPICO 3 |

DICAS

Acadêmico, indicamos o livro Velhices: experiências e desafios nas políticas do


envelhecimento ativo, dos organizadores Tereza Etsuko da Costa Rosa, Áurea Eleotério
Soares Barroso e Marília Cristina Prado Louvison.

FONTE: <https://bit.ly/3gjxmVQ>. Acesso em: 21 maio 2020.

Resumo: O enfoque nos temas em Saúde Coletiva, resultaram na compilação


de 32 artigos que versam sobre o histórico, sobre as ações, sobre os resultados e as
perspectivas das práticas, refletindo com maior ou menor clareza suas bases teóricas
norteadoras e suas motivações para o desenvolvimento voltado ao envelhecimento ativo.

O livro está disponível gratuitamente para download no link: https://bit.ly/3aP6ZWv.

53
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• As políticas de proteção precisaram compreender a oferta de serviços de


acordo com a demanda apresentada, assim como definir níveis de proteção
para melhor estruturação dos atendimentos de serviços.

• Há que se entender os níveis de complexidade uma vez que a pessoa idosa


pode apresentar demandas tanto de políticas públicas de proteção básica,
média ou alta quanto de serviços de alta complexidade.

• A Constituição Federal de 1988 apresentou um modelo de proteção social


configurado como um sistema de seguridade social. Envolve a previdência
social (elaborada nos modelos de seguro social) e a assistência social (entendida
como direito e não como filantropia).

• A assistência social integra o sistema de seguridade social como uma política


pública não contributiva sendo consequentemente, um direito do cidadão e
um dever do Estado.

• O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) define os elementos essenciais


para desenvolver ações da política de assistência social, possibilitando a
normatização dos padrões dos serviços.

• O SUAS organizou os serviços a serem prestados à população em esferas de


proteção social básica e proteção social especial de média e alta complexidade.

• Os serviços de proteção social básica são ofertados por intermédio dos Centros
de Referência de Assistência Social (CRAS) e possuem caráter de ações
preventivas.

• Serviços de proteção social especial de média complexidade são ofertados


por intermédio do Centro de Referência Especializado de Assistência Social
(CREAS) e atendem às famílias, seus membros e indivíduos com direitos
violados, mas cujos vínculos familiares e comunitários não foram rompidos,
requerem estrutura que permita atenção especializada e/ou acompanhamento
sistemático e monitorado.

• Serviços de proteção social especial de alta complexidade referem-se a


demanda, nas quais, no caso da pessoa idosa, podem ter sido causadas por
abandono, violência física ou psicológica, abuso sexual ou negligência.

54
• Garantem proteção integral: moradia, alimentação, higienização e trabalho
protegido. Dirigem-se às famílias, seus membros e indivíduos que se encontram
sem referência e/ou ameaçados e necessitam ser retirados de seu núcleo familiar
e comunitário.

• Estes são executados em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI)


são espaços de Acolhimento para idosos com 60 anos ou mais, de ambos os
sexos, independentes e/ou com diversos graus de dependência.

• Para o funcionamento das instituições de acolhimento aos idosos existem


algumas prerrogativas legais que precisam ser respeitadas como os apresentado
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

• Todos os serviços ofertados à população idosa devem ser pautados na gestão


humanizada uma vez que remete à necessidade de atenção, de um atendimento
que proporcione segurança a quem está sendo atendido.

55
AUTOATIVIDADE

1 Explique o que é o Sistema Único de Assistência Social.

2 O que é ILPI e quem poderia ter acesso à referida instituição?

56
UNIDADE 2

A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA


IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO
E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o cuidado como fator determinante para a saúde da pessoa idosa;

• compreender o sistema de atendimento à saúde dos idosos;

• conhecer o direito dos idosos quando precisar de atendimento na saúde;

• compreender a diferença entre doenças crônicas e infeciosas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – O CUIDADO E A INTEGRALIDADE DA ATENÇÃO

TÓPICO 2 – A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: PREVENÇÃO E


PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

TÓPICO 3 – DESMISTIFICANDO A LEGISLAÇÃO EM RELAÇÃO


À PESSOA IDOSA

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

57
58
UNIDADE 2
TÓPICO 1

O CUIDADO E A INTEGRALIDADE DA ATENÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, neste tópico, teremos a oportunidade de reconhecer o processo
de envelhecimento e compreender que ele é determinado por modificações
biológicas, psicológicas e também sociais, associadas às novas composições
familiares que se configuram a partir de um novo ciclo de vida. a

Nesse contexto, o idoso torna-se parte de um grupo social totalmente


diferenciado e a velhice configura-se como um desafio, carregado de transformações
e mudanças no âmbito pessoal e profissional. Essas transformações podem
representar uma diversidade de sentidos e significados culturais, decorrentes
das particularidades dos contextos sociais em que os indivíduos estão inseridos
(NETTO, 2007).

O envelhecimento é um processo natural e, portanto, inexorável. A partir


dele, percebe-se a necessidade de novas estratégias de sobrevivência à medida em
que este transforma o próprio cuidado, originado a partir do surgimento da vida,
em momentos muito prematuros e até mesmo anteriores aos da individualidade,
como a mão que cuida do feto e do recém-nascido.

Essa relação intrínseca ao desenvolvimento da humanidade, de cuidado


natural como garantia para continuidade da vida e a existência de todo e qualquer
ser vivo (COLLIÉRE, 1989). Para Budó (2002), toda espécie, inclusive a humana,
reproduz-se, mantém-se, relaciona-se e transforma-se, sendo que é a partir do
cuidado que tudo vive. E esse cuidado com os idosos é dever tanto da família
como do Estado, a partir do desenvolvimento de políticas públicas afetivas no
atendimento às demandas desses idosos, que torna crescente e inovadora, já
que as necessidades se transformam obrigando o desenvolvimento de novas
estratégias de acompanhamento e atendimento.

59
UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

2 CONTEXTUALIZANDO O CUIDADO E A INTEGRALIDADE


DA ATENÇÃO
O cuidado em saúde é um processo complexo que envolve muitos fatores.
Conforme Colliére (1989), o cuidado envolve o desenvolvimento e a manutenção
da saúde de um determinado grupo, a partir de necessidades fundamentais de
sobrevivência como sustento, proteção das intempéries, defesa do território e
salvaguarda dos seus recursos.

O cuidado como construção histórica identifica os homens como fortes e


corajosos, cabendo a eles as tarefas de defesa do território e sustento da família,
enquanto as mulheres eram consideradas mais frágeis fisicamente, portanto, mais
capazes de desenvolver o cuidado do grupo a partir do preparo da alimentação,
do vestuário, do habitat, consideradas essas tarefas mais delicadas e menos
perigosas.

Essa concepção ancestral do cuidado para a designação de tarefas


específicas para homens e mulheres desenvolveu e perpetuou, até os tempos
atuais, algumas crenças e valores, sujeitos às especificidades culturais em cada
sociedade e em seu tempo.

Lyra et al. (2005) reconhecem que as práticas de cuidado devem ser


compreendidas dentro de contextos específicos de cada grupo, considerando-se
o seu momento histórico. Relatam três fases na dimensão histórica sobre a relação
entre homens e o cuidado, numa perspectiva de gênero.

Na primeira fase, consideravam-se que os homens não necessitavam de


atenção à saúde, isso porque eram símbolos de virilidade, força e racionalidade
e, portanto, invulneráveis às doenças. Numa segunda fase passou-se a considerar
a importância do homem se envolver mais na área de saúde e cuidado, porém,
enfatizava-se que trabalhar com esses sujeitos era algo muito difícil, pois os
homens eram agressivos, pouco cooperativos e irresponsáveis, tanto com sua
saúde como com a de terceiros. Na terceira fase, os autores buscam compreender
o contexto atual, inserindo o homem nos programas de atendimento à saúde de
forma a rever e modificar o que ainda é observado como resquícios das fases
anteriores (LYRA et al., 2005).

Nessa perspectiva, conforme os autores, a naturalização do cuidado no


âmbito familiar tende a ser compreendida como responsabilidade da mulher.
Esse ciclo perdurou até o momento em que as mulheres reivindicaram seu espaço
no mercado de trabalho, transformando a estrutura familiar. Lyra et al. (2005)
ainda afirmam que o poder social dado aos homens faz com que estes sejam
considerados fortes e resistentes, demostrando pouca ou nenhuma afetividade,
considerada uma fraqueza e, portanto, contrária aos preceitos de masculinidade
em determinados contextos históricos e culturais.

60
TÓPICO 1 | O CUIDADO E A INTEGRALIDADE DA ATENÇÃO

Nesse sentido, Torralba (1998) esclarece que o termo “cuidar” é


polissêmico, isso porque pode ser entendido como tudo o que se opõe ao descaso
e ao descuido ou, em outra dimensão, como termo mais amplo diz respeito a uma
atitude de preocupação, de ocupação, de responsabilização e de envolvimento
afetivo com o outro.

Para Mayeroff (1971), cuidado é uma maneira de se relacionar com


alguém e cuidar implica ajudar uma pessoa a crescer e a se realizar, determinando
em um processo, uma maneira de se relacionar com alguém que implica no
desenvolvimento mútuo de quem cuida e de quem é cuidado. Nessa perspectiva,
ajudar a crescer é ajudar a outra pessoa a cuidar de si mesma.

3 O CUIDADO E SUA CONTEXTUALIZAÇÃO CULTURAL


Segundo Waldow e Borges (2008), todo o ser humano nasce com potencial de
cuidado, o que significa dizer que todas as pessoas são capazes de cuidar. Por outro lado,
as mesmas autoras afirmam que a capacidade de cuidar está relacionada ao quanto e
como essa pessoa recebeu o cuidado. Propõem que os homens tendem a reproduzir os
preceitos sociais impostos pela sociedade, porém, os papéis sociais podem ser revertidos,
em busca do bem-estar nas experiências e pressões do cotidiano, implicando em
considerar os homens como fontes de cuidado, mesmo que haja necessidade de rever
seu papel nas relações sociais cotidianas, sendo a cultura elemento fundamental, porém,
mutável, que permeia e integra as ações humanas.

Nessa conjuntura, a cultura pode ser definida como um conjunto de princípios,


explícitos e implícitos, herdados por indivíduos membros de uma determinada sociedade,
os quais doutrinam seus membros na forma de como ver o mundo, como vivenciá-lo
emocionalmente e como comportar-se em relação às outras pessoas.

A formação cultural influencia muitos aspectos da vida das pessoas, contudo,


a cultura na qual o indivíduo nasce ou vive não é a única influência, mas sim uma das
diversas influências sobre as crenças e o comportamento relacionados ao cuidado e à
saúde. Assim, deve-se levar em conta também os fatores individuais, educacionais,
socioeconômicos e ambientais. Portanto, os padrões e regras culturais podem influenciar,
mas não são os únicos fatores a determinar de fato o pensamento e o comportamento das
pessoas (HELMAN, 2003).

Nesse sentido, “cuidado em saúde significa dar atenção devida, respeitar,


acolher o ser humano. O cuidado em saúde é uma dimensão da integralidade em saúde
que deve permear as práticas de saúde, pensando no cuidado e como este ocorrerá. As
pessoas querem se sentir cuidadas, acolhidas em suas necessidades de saúde” (MERHY,
1997, s.p.).

O sentido da integralidade que abordamos neste estudo corresponde à concepção


de integralidade do cuidado de uma maneira mais ampla, além da concepção do cuidado
em saúde como resultado de uma causa que não se isola da totalidade do contexto da
saúde, refere-se à compreensão de um contexto social e suas múltiplas expressões.
61
UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

No campo teórico do cuidado em saúde, a integralidade emerge como um


princípio de organização do processo de trabalho nos serviços de saúde, caracterizado
pela busca de ampliação das possibilidades de apreensão das necessidades de saúde
de um grupo populacional. Essa ampliação acontece numa perspectiva de diálogo
entre os diferentes sujeitos e seus diferentes modos de perceberem as necessidades
de serviços de saúde.

Nessa perspectiva, para que o cuidado seja concretizado, é necessário


compreender as práticas da integralidade como complemento do cuidado. Esse, por
sua vez, pode ser identificado a partir das ações propostas pelas políticas públicas
para enfrentar determinados problemas de saúde (MATTOS, 2001).

Segundo Mattos (2001), os problemas com a população idosa no modelo


biomédico eram tradicionalmente ignorados, não levando em consideração os
contextos culturais e as diferentes formas de dominação que conferiam especificidade
ao adoecimento e situações de violência com as pessoas idosas. Dessa crítica, nasce
um ideal de se construir políticas, envolvendo a assistência à pessoa idosa, na qual a
técnica tem que ser associada à compreensão do contexto, não de forma dissociada,
tendo a assistência médica e a saúde pública ações sapadas e desconexas. Essa
mudança de concepção ganhou força à medida que buscou a unificação, construída
na implantação do SUS (MATTOS, 2001).

O próprio conceito de cuidado em saúde no Brasil, em substituição à assistência,


tem origem após a reforma sanitária brasileira como movimento duplamente
embasado, quando defende uma atenção em saúde integral e humanizada. Nessa
perspectiva o cuidado promete tornar “integral” e “humanizada” a atenção à saúde
(AYRES, 2011).

A integralidade no cuidado em saúde pode ser compreendida a partir de


quatro campos de retórica, sendo esses:

• Eixo das necessidades: sem descuidar da prevenção, correção e recuperação dos


problemas funcionais ou morfológicos do organismo, trata-se aqui de valorizar a
sensibilidade e capacidade de resposta às demandas de atenção à saúde, escuta e
acolhimento.
• Eixo das finalidades: criar sinergismos e integrar as ações entre as mais variadas
dimensões do cuidado como prevenção, tratamento, recuperação da saúde
e reinserção social para o conforto e conveniência dos indivíduos, famílias e
comunidades.
• Eixo das articulações: composição de saberes interdisciplinares por equipes
multiprofissionais e ações intersetoriais para atender integralmente às demandas.
• Eixo das interações: construção de condições para o diálogo efetivo entre pessoas
e equipes/comunidades (AYRES, 2009).

Confirmando a compreensão o conceito de cuidado integral, Feuerwerker


(2016) propõe que este deve garantir o acesso a todos os serviços e ações que se façam
necessários para enfrentamento de determinados problemas de saúde, partindo do

62
TÓPICO 1 | O CUIDADO E A INTEGRALIDADE DA ATENÇÃO

pressuposto de que a integralidade seja compreendida como o atendimento prestado


às necessidades e que este, por sua vez, seja contínuo, contando com o acesso às
tecnologias necessárias.

Nessa concepção, o acesso às tecnologias e recursos capazes de responder


às demandas em todas as dimensões de cuidado deve permear os serviços e redes
integrando os diversos setores de atenção.

Assim, o Ministério da Saúde (BRASIL, 2014) descreve a Rede de Atenção


à Saúde, como “o conjunto de ações e serviços de saúde articulados em níveis de
complexidade crescente, com a finalidade de garantir a integralidade da assistência
à saúde, mediante referenciamento do usuário na rede regional e interestadual,
conforme pactuado nas Comissões Intergestores”.

De forma complementar, destaca-se a dimensão ética do cuidado na sua


perspectiva integral, caracterizada pelo comprometimento cotidiano do profissional,
percebendo o paciente de forma integral, escutando e respeitando seu processo
histórico. Esse compromisso ético é uma premissa para dar sentido à atenção
humanizada, sendo fundamental não limitar o atendimento à dimensão técnica,
desconsiderando a subjetividade (WALDOW, 2016).

Os sentidos e as práticas do cuidado na saúde passam por mudanças


determinadas pelo contexto histórico e social. Nesse contexto, a perspectiva da
integralidade do cuidado encontra ressonância e está prevista nas mais relevantes
políticas do Estado brasileiro. Seus princípios podem apontar caminhos e
possibilidades para a organização e efetivação dos serviços de saúde e assistência
social.

DICAS

GRAN TORINO

Sinopse: um emocionante filme estrelado e dirigido por Clint Eastwood, mostra um idoso
aposentado e infeliz, que mora sozinho e não tem o apoio da família, em um controverso
momento da sua vida. O bairro em que mora sempre fora um típico subúrbio familiar
americano, que agora tem se transformado em um bairro étnico, com diversos problemas
com gangues de imigrantes orientais. A xenofobia, por parte do velho operário e veterano de
guerra, dá lugar à aproximação e empatia, e ele se envolve com os conflitos de violência local.

FONTE: <http://cuidardospaisemcasa.com/15-filmes-sobre-cuidados-com-idosos-em-casa-que-voce-
precisa-assistir/>. Acesso em: 5 fev. 2020.

63
UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

4 OPERACIONALIZAÇÃO DA INTEGRALIDADE E O
RECONHECENDO DO CUIDADO
Os profissionais que trabalham junto aos idosos precisam estar atentos
às pessoas que precisam de sua ação profissional, e com sua própria saúde. Por
vezes, a saúde do profissional fica em segundo e terceiro planos. Compreender, o
“cuidador” e o “cuidado” são expressões que tendem a se complementar a partir
de uma interação especial, na qual o “afetar-se” consolida-se no “querem bem”
ao outro. Isso só é possível quando se entende o que é o “bem” para o outro, e isso
requer uma cosmovisão do universo do outro.

Compreender as necessidades do outro de forma técnica é atentar para


potencialidades que ainda podem ser desenvolvidas, valorizando o que existe,
vê-lo como um ser integral, capaz de desenvolver ações mesmo com limitações
impostas pela idade.

Na saúde, a palavra “integral” (e sua substantivação “integralidade”)


vem sendo a tônica da prestação dos serviços de saúde, que a advogam como
objetivo a ser alcançado na produção de um novo cuidar. Mesmo sendo evocada
em todos os níveis de atenção, a Atenção Primária à Saúde (APS) tem sido
constantemente assinalada por diversos documentos oficiais (BRASIL, 1988,
1990, 2011) e pesquisas empíricas (AYRES, 2011) como espaço privilegiado para
o exercício e a coordenação da integralidade, sendo a Unidade de Saúde Básica
a porta de entrada para esses atendimentos, que precisam ser acompanhados e
monitorados, já que descendemos de uma herança que busca atendimento apenas
quando a doença está instalada ignorando por completo sua prevenção.

O profissional precisa conhecer as ações pertencentes a sua função e, a


partir delas, realizar ações multiprofissionais para p desenvolvimento de uma
prática de saúde consoante aos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde
(SUS), assim como seu papel enquanto profissional.

A intervenção profissional interfere na rotina de cuidado, pois orienta


quanto aos cuidados necessários, e esta, se for associada a uma rotina de
acompanhamento e intervenção, tende a responder de forma positiva quando
o cuidado requer do profissional ética nas relações humanas, a solidariedade
e a confiança. Todo cuidado tem como objetivo o alívio, o conforto, podendo
promover a cura, o bem-estar e, quem sabe, a mudança de estilo de vida.

Nessa mesma linha do cuidado, surge a reflexão em relação a quem cuida do


profissional, que também necessita de um outro olhar, pensando na integralidade
de saúde desse profissional que também tem seus assuntos e frustações pessoas
e que estas não podem interferir em seu trabalho. Reforça-se a ideia de que os
profissionais precisam estar bem mentalmente para desenvolverem um trabalho
efetivo junto aos idosos.

64
TÓPICO 1 | O CUIDADO E A INTEGRALIDADE DA ATENÇÃO

A integralidade, no SUS, é uma concepção difusa e complexa,


extremamente polissêmica (PINHEIRO; MATTOS, 2012), e que requer várias
formas de operacionalização no cotidiano das práticas. A principal delas está
inscrita na Constituição Federal de 1988, que relata o “atendimento integral”
(BRASIL, 1988) como a necessidade de compreender o indivíduo enquanto um
todo holístico, um ser biopsicossocial em sua essência.

Outro conceito de integralidade importante encontra-se na Lei nº 8.080


(BRASIL, 1990), na qual o conceito ganha mais amplitude. Para esta Lei, a
integralidade é a possibilidade de acesso a todos os níveis do sistema, caso o
usuário necessite, como também a possibilidade de integrar ações preventivas
com as curativas, no dia a dia dos cuidados realizados nos serviços de saúde.
Outros conceitos mais elaborados dilatam o conceito de integralidade, orientando-
os para uma prática mais concreta, com a intenção de dar-lhe materialidade na
vida dos serviços.

Para a Política Nacional da Atenção Básica (PNAB) (BRASIL, 2011),


a integralidade é também a integração entre demanda espontânea e demanda
programada no fazer dos serviços de saúde, como também é a mescla gerada
pelas atividades clínicas e de campo na APS. Essas ditas “formas operacionais”
da integralidade garantem a prática da saúde consoante com o que rege a
Constituição Federal e “traduzem”, para os profissionais mais “desavisados”,
como operar suas práticas sanitárias de acordo com a filosofia do sistema.
Contudo, é importante ressaltar que a integralidade como esse esforço para uma
oferta que atenda demandas e necessidades construídas é sempre relacional ao
contexto.

Ainda sobre essa discussão, pode-se dizer que a integralidade é um


princípio-diretriz do SUS. Princípio porque se vale dessa exegese mais filosófica
do ser humano, e diretriz por ter se tornado algo concreto, que guia o processo
de trabalho.

DICAS

Acadêmico, assista ao vídeo sobre princípios do SUS no link a seguir: https://


www.youtube.com/watch?v=Ue1Asox8ztk, esse vídeo ilustra, de maneira clara e objetiva,
como se constituem os princípios do SUS e como deve acontecer seu atendimento.

A integralidade é uma forma de ampliar o olhar dos profissionais para


além da lógica da “intervenção pura”, tentando alcançar os contornos do que se
compreende como “cuidar”, no âmbito da construção dos serviços de saúde.

65
UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

Na atenção primária, tal como foi concebida sócio-historicamente, o


conceito de integralidade subjaz ao discurso operacional. No atendimento
prestado na atenção básica, o cuidado aparece desde o início, na hora de fazer
a triagem, ou mesmo nas consultas interprofissionais, como a atenção as ações
humanizadas, não tendo a doença como foco, mas as ações possíveis diante do
quadro apresentado (MERHY, 1997).

Ações comunitárias desenvolvidas pelas intersetorialização podem ser


evidenciadas, quando observa-se as ações desenvolvidas pelo Programa Saúde
na Escola (PSE), as Academias da Saúde e a Atenção Domiciliar (BRASIL, 2011),
sendo ações especificas, respeitando as potencialidade do território.

O território representa o espaço social, de convívio e o mesmo precisa


ser explorado, muitas pessoas, se restringem a esses espaços, seja pela
dificuldade de locomoção ou mesmo por escolha, por isso a atenção primaria
é tão importante, está presente no cotidiano das pessoas, outra situação que
merece destaque é a questão da vinculação e da confiança que se estabelece
entre profissional e usuário.

DICAS

Assista ao vídeo O princípio da integralidade no SUS, no link a seguir: https://


www.youtube.com/watch?v=u4r9eAGE1uc, este vídeo ilustra, de maneira clara, o princípio
da integralidade, na qual a pessoa deve ser ilhada como um todo e analisando todas as
potencialidades.

POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA

A finalidade primordial da Política Nacional de Saúde da Pessoa


Idosa É RECUPERAR, MANTER E PROMOVER A AUTONOMIA E A
INDEPENDÊNCIA DOS INDIVÍDUOS IDOSOS, DIRECIONANDO
MEDIDAS COLETIVAS E INDIVIDUAIS DE SAÚDE para esse fim, em
consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. É alvo
dessa política todo cidadão e cidadã brasileiros com 60 anos ou mais de idade.

Considerando:

a) processo de envelhecimento populacional brasileiro;


b) os avanços políticos e técnicos no campo da gestão da saúde;
c) o conhecimento atual da Ciência;

66
TÓPICO 1 | O CUIDADO E A INTEGRALIDADE DA ATENÇÃO

d) o conceito de saúde aplicado visto a partir da autonomia e independência além


da presença ou ausência de doença;
e) a necessidade da promoção da saúde;
f) o compromisso brasileiro com a Assembleia Mundial para o Envelhecimento de
2002, que se fundamenta em:
(a) participação ativa dos idosos na sociedade, no desenvolvimento e na luta
contra a pobreza;
(b) fomento à saúde e bem-estar na velhice: promoção do envelhecimento saudável;
(c) criação de um entorno propício e favorável ao envelhecimento; e
g) escassez de recursos socioeducativos e de saúde direcionados ao atendimento
ao idoso;

A necessidade de enfrentamento de desafios como:

a) a escassez de estruturas de cuidado intermediário ao idoso no SUS, ou seja,


estruturas de suporte qualificado para idosos e seus familiares destinadas a
promover intermediação segura entre a alta hospitalar e a ida para o domicílio;
b) número insuficiente de serviços de cuidado domiciliar ao idoso frágil previsto
no Estatuto do Idoso. Sendo a família, via de regra, a executora do cuidado ao
idoso, evidencia-se a necessidade de se estabelecer um suporte qualificado e
constante aos responsáveis por esses cuidados, tendo a atenção básica por meio
da Estratégia Saúde da Família um papel fundamental;
c) a escassez de equipes multiprofissionais e interdisciplinares com conhecimento
em envelhecimento e saúde da pessoa idosa; e
d) a implementação insuficiente ou mesmo a falta de implementação das Redes
de Assistência à Saúde do Idoso.

PESSOAS IDOSAS MAIS FRÁGEIS EM MAIOR RISCO DE


VULNERABILIDADE

O envelhecimento populacional cursa com o aumento de doenças e


condições que podem levar a incapacidade funcional. Para Verbrugge e Jette
(1994), a incapacidade funcional é a dificuldade experimentada em realizar
atividades em qualquer domínio da vida devido a um problema físico ou de
saúde. Ela também pode ser entendida como a distância entre a dificuldade
apresentada e os recursos pessoais e ambientais de que dispõe para superá-
la (HÉBERT, 2003). Incapacidade é mais um processo do que um estado
estático (IEZZONI, 2002). A Organização Mundial de Saúde (OMS) em sua
Classificação Internacional de Funções, Incapacidade e Saúde (CIF, 2001) vê
a incapacidade e as funções de uma pessoa como a interação dinâmica entre
condições de saúde – doenças, lesões, traumas etc. – e fatores contextuais,
incluindo atributos pessoais e ambientais. A dependência é a expressão
da dificuldade ou incapacidade em realizar uma atividade específica por
causa de um problema de saúde (HÉBERT, 2003). No entanto, cabe enfatizar
que a existência de uma incapacidade funcional, independentemente
de sua origem, é o que determina a necessidade de um cuidador (NÉRI;
SOMMERHALDER, 2002).

67
UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

Incapacidade funcional e limitações físicas, cognitivas e sensoriais


não são consequências inevitáveis do envelhecimento. A prevalência
da incapacidade aumenta com a idade, mas a idade sozinha não prediz
incapacidade (LOLLAR; CREWS, 2002). Mulheres, minorias e pessoas de
baixo poder socioeconômico são particularmente vulneráveis (FREEDMAN;
MARTIN; SCHOENI, 2002). Independentemente de sua etiologia, pessoas com
incapacidade estão em maior risco para problemas de saúde e afins (LOLLAR;
CREWS, 2002). A presença de incapacidade é ônus para o indivíduo, para a
família, para o sistema de saúde e para a sociedade (GIACOMIN et al., 2004).

Estudos brasileiros de base populacional em idosos apontam a


existência de incapacidade entre idosos em cifras que variam de 2 a 45% dos
idosos (GIACOMIN et al., 2005; DUARTE, 2003; LIMA-COSTA, 2003; ROSA et
al., 2003), dependendo da idade e do sexo.

Assim, torna-se imprescindível incluir a condição funcional ao se


formularem políticas para a saúde dos idosos e responder, prioritariamente,
às pessoas idosas que já apresentem alta dependência.

DIRETRIZES

Não se fica velho aos 60 anos. O envelhecimento é um processo natural


que ocorre ao longo de toda a experiência de vida do ser humano, por meio
de escolhas e de circunstâncias. O preconceito contra a velhice e a negação da
sociedade quanto a esse fenômeno colaboram para a dificuldade de se pensar
políticas específicas para esse grupo. Ainda há os que pensam que se investe
na infância e se gasta na velhice. Deve ser um compromisso de todo gestor em
saúde compreender que, ainda que os custos de hospitalizações e cuidados
prolongados sejam elevados na parcela idosa, também aí  está se investindo na
velhice “Quando o envelhecimento é aceito como um êxito, o aproveitamento
da competência, experiência e dos recursos humanos dos grupos mais velhos
é assumido com naturalidade, como uma vantagem para o crescimento de
sociedades humanas maduras e plenamente integradas” (PLANO DE MADRI,
Artigo 6º).

Envelhecer, portanto, deve ser com saúde, de forma ativa, livre de


qualquer tipo de dependência funcional, o que exige promoção da saúde
em todas as idades. Importante acrescentar que muitos idosos brasileiros
envelheceram e envelhecem apesar da falta de recursos e da falta de cuidados
específicos de promoção e de prevenção em saúde. Entre esses estão os idosos
que vivem abaixo da linha de pobreza, analfabetos, os sequelados de acidentes
de trabalho, os amputados por arteriopatias, os hemiplégicos, os idosos com
síndromes demenciais, e para eles também é preciso achar respostas e ter ações
específicas.

68
TÓPICO 1 | O CUIDADO E A INTEGRALIDADE DA ATENÇÃO

São apresentadas abaixo as diretrizes da Política Nacional de Saúde da


Pessoa Idosa:

a) promoção do envelhecimento ativo e saudável;


b) atenção integral, integrada à saúde da pessoa idosa;
c) estímulo às ações intersetoriais, visando à integralidade da atenção;
d) provimento de recursos capazes de assegurar qualidade da atenção à saúde
da pessoa idosa;
e) estímulo à participação e fortalecimento do controle social;
f) formação e educação permanente dos profissionais de saúde do SUS na área
de saúde da pessoa idosa;
g) divulgação e informação sobre a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa
para profissionais de saúde, gestores e usuários do SUS;
h) promoção de cooperação nacional e internacional das experiências na
atenção à saúde da pessoa idosa; e
i) apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas.

PROMOÇÃO DO ENVELHECIMENTO ATIVO E SAUDÁVEL

A promoção do envelhecimento ativo, isto é, envelhecer mantendo a


capacidade funcional e a autonomia, é reconhecidamente a meta de toda ação
de saúde. Ela permeia todas as ações desde o pré-natal até a fase da velhice.
A abordagem do envelhecimento ativo baseia-se no reconhecimento dos
direitos das pessoas idosas e nos princípios de independência, participação,
dignidade, assistência e autorrealização determinados pela Organização das
Nações Unidas (WHO, 2002). Para tanto é importante entender que as pessoas
idosas constituem um grupo heterogêneo. Também será necessário vencer
preconceitos e discutir mitos arraigados em nossa cultura. Os profissionais
de saúde e a comunidade devem perceber que a prevenção e a promoção de
saúde não é privilégio apenas dos jovens. A promoção não termina quando
se faz 60 anos e as ações de prevenção, sejam elas primárias, secundárias ou
terciárias, devem ser incorporadas à atenção à saúde, em todas as idades.

Envelhecimento bem sucedido pode ser entendido a partir de seus


três componentes: (a) menor probabilidade de doença; (b) alta capacidade
funcional física e mental; e (c) engajamento social ativo com a vida
(KALACHE; KICKBUSH, 1997; ROWE; KAHN, 1997; HEALTHY PEOPLE,
2000). O Relatório Healthy People 2000 da OMS enfatiza em seus objetivos:
aumentar os anos de vida saudável, reduzir disparidades na saúde entre
diferentes grupos populacionais e assegurar o acesso a serviços preventivos
de saúde. Além disso, é preciso incentivar e equilibrar a responsabilidade
pessoal – cuidado consigo mesmo – ambientes amistosos para a faixa etária e
solidariedade entre gerações. As famílias e indivíduos devem se preparar para
a velhice, esforçando-se para adotar uma postura de práticas saudáveis em
todas as fases da vida (OMS, 2002).

69
UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

Com a perspectiva de ampliar o conceito de “envelhecimento saudável”,


a Organização Mundial da Saúde propõe “Envelhecimento Ativo: Uma Política
de Saúde” (2005), ressaltando que o governo, as organizações internacionais e
a sociedade civil devam implementar políticas e programas que melhorem a
saúde, a participação e a segurança da pessoa idosa. Considerando o cidadão
idoso não mais como passivo, mas como agente das ações a eles direcionadas,
numa abordagem baseada em direitos, que valorize os aspectos da vida em
comunidade, identificando o potencial para o bem-estar físico, social e mental
ao longo do curso da vida.

Aproveitar todas as oportunidades para:

a) desenvolver e valorizar  o atendimento acolhedor e resolutivo à pessoa


idosa, baseado em critérios de risco;
b) informar sobre seus direitos, como ser acompanhado por pessoas de sua
rede social (livre escolha) e quem são os profissionais que cuidam de sua saúde;
c) valorizar e respeitar a velhice;
d) estimular a solidariedade para com esse grupo etário;
e) realizar ações de prevenção de acidentes no domicílio e nas vias públicas,
como quedas e atropelamentos;
f) realizar ações integradas de combate à violência doméstica e institucional
contra idosos e idosas;
g) facilitar a participação das pessoas idosas em equipamentos sociais, grupos
de terceira idade, atividade física, conselhos de saúde locais e conselhos
comunitários onde o idoso possa ser ouvido e apresentar suas demandas e
prioridades;
h) articular ações e ampliar a integração entre as secretarias municipais e as
estaduais de saúde, e os programas locais desenvolvidos para a difusão da
atividade física e o combate ao sedentarismo;
i) promover a participação nos grupos operativos e nos grupos de convivência,
com ações de promoção, valorização de experiências positivas e difusão dessas
na rede, nortear e captar experiências;
j) informar e estimular a prática de nutrição balanceada, sexo seguro,
imunização e hábitos de vida saudáveis;
k) realizar ações motivadoras ao abandono do uso de álcool, tabagismo e
sedentarismo, em todos os níveis de atenção;
l) promover ações grupais integradoras com inserção de avaliação, diagnóstico
e tratamento da saúde mental da pessoa idosa;
m) reconhecer e incorporar as crenças e modelos culturais dos usuários em
seus planos de cuidado, como forma de favorecer a adesão e a eficiência dos
recursos e tratamentos disponíveis;
n) promover a saúde por meio de serviços preventivos primários, tais como a
vacinação da população idosa, em conformidade com a Política Nacional de
Imunização;
o) estimular programas de prevenção de agravos de doenças crônicas não-
transmissíveis em indivíduos idosos;

70
TÓPICO 1 | O CUIDADO E A INTEGRALIDADE DA ATENÇÃO

p) implementar ações que contraponham atitudes preconceituosas e sejam


esclarecedoras de que envelhecimento não é sinônimo de doença;
q) disseminar informação adequada sobre o envelhecimento para os
profissionais de saúde e para toda a população, em especial para a população
idosa;
r) implementar ações para reduzir hospitalizações e aumentar habilidades
para o auto-cuidado dos usuários do SUS;
s) incluir ações de reabilitação para a pessoa idosa na atenção primária de
modo a intervir no processo que origina a dependência funcional;
t) investir na promoção da saúde em todas as idades; e
u) articular as ações do Sistema Único de Saúde com o Sistema Único de
Assistência Social – SUAS.

FONTE: BRASIL. Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. 2006. Disponível em: http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt2528_19_10_2006.html. Acesso em: 13 jan.
2020.

71
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O processo de envelhecimento é determinado por modificações biológicas,


psicológicas e sociais.

• O envelhecimento é um processo natural que objetiva novas estratégias de


sobrevivência e uma compreensão em relação ao cuidado.

• O cuidado em saúde envolve o desenvolvimento e a manutenção a partir de


necessidades fundamentais de sobrevivência como sustento, proteção das
intempéries, defesa do território e salvaguarda dos seus recursos.

• Historicamente, a naturalização do cuidado no âmbito familiar era


compreendida como responsabilidade da mulher.

• O envelhecimento vem sendo uma realidade de grupos em crescimento.

• A forma como o cuidado acontece depende também da cultura de origem da


pessoa.

• Outros fatores individuais como, alimentares, educacionais, socioeconômicos


e ambientais também interferem nesse cuidado.

• A integralidade refere-se à compreensão de um contexto social e suas múltiplas


expressões.

• O conceito de cuidado integral propõe a garantia de acesso a todos os serviços e


ações que se façam necessários para enfrentamento de determinados problemas
de saúde.

• O profissional que trabalha com idosos precisa conhecer as ações pertencentes


a sua função, pois estas interferem na rotina de cuidado e a integralidade é
uma diretriz do SUS, pois guia o processo de trabalho.

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AUTOATIVIDADE

1 Descreva o que você entende por cuidado.

2 Agora que você pensou, analisou e descreveu o cuidado, o que você entende
por integralidade?

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UNIDADE 2 TÓPICO 2

A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: PREVENÇÃO


E PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, neste tópico, entraremos nas políticas sociais específicas aos
idosos, lembrando que essas são disponibilizadas tanto pelo Estado quanto por
entidades não governamentais para garantia de uma melhor qualidade de vida.

O envelhecimento é uma realidade inerente a todos os seres vivos e
entre os humanos a quantidade de pessoas com mais de 60 anos de idade vem
crescendo de forma acentuada em todo o mundo. Nesse contexto, de intenso
relacionamento e constante mudança social, surge o fenômeno da violência
contra o idoso, desafiando o Estado na efetivação de políticas públicas capazes
de garantir a atenção integral à saúde do idoso.

Dessa forma, do ponto de vista epidemiológico, a contemporaneidade


nos apresenta o desafio do envelhecimento, tendo como consequência o aumento
na expectativa de vida associado ao aumento relativo de doenças incapacitantes
e crônicas, fenômeno conhecido como transição epidemiológica que resulta na
necessidade de uma série de mudanças no âmbito das políticas de saúde para
atender às demandas específicas de idosos, como, por exemplo, o consumo de
medicamentos (GONÇALVES et al., 2014).

Na dimensão demográfica registra-se, no Brasil, um crescimento do


número de pessoas idosas na ordem de 3 milhões em 1960 para 7 milhões em
1975, alcançando os 20 milhões em 2008. Essa escala de crescimento projeta
uma previsão de alcançarmos 30 milhões de pessoas idosas em 2020 no Brasil,
demandando políticas públicas apropriadas e a necessidade de novas estratégias
de cuidado por parte de familiares e profissionais (GONÇALVES et al., 2014).

Além do previsível comprometimento da saúde da população idosa, no


âmbito social, destaca-se a violência, não como um fenômeno novo, pois tem sido
vastamente registrado na história da humanidade, mas como fato crescente na
sociedade atual. Discorrer sobre violência é uma tarefa difícil e complexa, pois
se trata de um fenômeno com origem na estrutura social, portanto, de ordem

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UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

econômica, política e individual na dimensão subjetiva, além de envolver relações


múltiplas, exigir ações específicas e generalizadas, para enfrentar situações de
negligência e/ou omissão realizadas por indivíduos, famílias, grupos, classes
e até por nações inteiras, capazes de produzir diversos tipos de danos físicos,
emocionais e morais (FONSECA; RIBEIRO; LEAL, 2012).

Abordaremos também questões direcionadas a alguns aspectos legais que


permeiam as garantias de cuidados em relação aos idosos, com foco nas garantias
constitucionais e a prática de seguridade social em relação aos idosos. Não menos
importante, o comportamento dos profissionais ao realizarem o atendimento aos
idosos e a importância do primeiro acolhimento.

Este tópico proporcionará a você, acadêmico, um momento de construção


de conhecimento relativo aos preceitos legais e as garantias constitucionais
existentes no país em torno da pessoa idosa.

2 A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL


A atual Política de Saúde no Brasil tem como referência o movimento da
Reforma Sanitária Brasileira, sendo possível identificar variadas concepções de
saúde em sua trajetória, determinada pelo contexto histórico e social, que é também
influenciado pelo contexto global.

As consequências da Primeira Guerra Mundial no cenário internacional deram


início a um sentimento de recuperação das condições de saúde da população, cujas
condições de vida e sobrevivência encontravam-se extremamente prejudicadas por
conta dos combates que afetaram os grandes centros urbanos, além dos campos de
batalha na Europa.

Esse quadro se repetiu e agravou na Segunda Guerra Mundial, determinando


um sentimento coletivo de uma premente atuação do Estado em prol da recuperação
das condições de vida do cidadão nos países europeus, o que levou ao desenvolvimento
do conceito de “estado de bem-estar social”, tendo a saúde como o principal foco em
suas políticas.

Nesse sentido, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das


Nações Unidas (ONU), no contexto dos direitos humanos como cenário, passam
a defender a unificação do entendimento da saúde, sendo um direito à saúde e a
obrigatoriedade do Estado na promoção e proteção à saúde. Esse movimento político
em escala mundial teve repercussão em todo o mundo, não sendo o Brasil uma exceção.

O Sistema Único de Saúde (SUS) é o sistema de saúde pública brasileira,


garantido pela Constituição de 1988. O SUS prevê ações e serviços de acesso universal
em todo o território brasileiro. Dessa forma, o atendimento público de saúde em nosso
país concebe a saúde como direito de todos e dever do Estado. Compreende um
conjunto de princípios e diretrizes, que orientam a estrutura e a organização da saúde
no Brasil (NORONHA et al., 2012).
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TÓPICO 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: PREVENÇÃO E PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

O processo de redemocratização no Brasil conformou mudanças


significativas no sistema público de saúde. Como marco desse processo destaca-
se a 8ª Conferência Nacional de Saúde de 1986, seguido pelo processo de chamada
para constituir a Assembleia Nacional Constituinte que contou com uma relevante
participação da sociedade civil e de movimentos democráticos para a inclusão
no texto da Constituição Federal do “Título VIII – Da Ordem Social” com um
capítulo destinado à Seguridade Social (NORONHA et al., 2012).

No texto da Lei nº 8.080/90 o SUS é definido da seguinte maneira: “Art.


4º O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições
públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e
das fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde
(SUS)” (BRASIL, 1990).

O SUS apresenta características de atendimento individual e coletivo


com foco na promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação de
agravos e doenças. É ofertado em ambulatórios, hospitais, nas unidades de apoio
diagnóstico e terapêutico em âmbito federal, estadual e municipal, perpassando
pela atenção básica de média e alta complexidade (NORONHA et al., 2012).

Para garantir o atendimento a todas as demandas, o sistema público


também dispõe de parcerias com o setor privado a partir do estabelecimento de
contratos e convênios que respeitem as normas de direito público, as premissas
éticas e as normas estabelecidas pelos órgãos de direção do SUS no que compete
ao funcionamento, controle e fiscalização das ações. Ou seja, o SUS não é composto
exclusivamente por serviços próprios e públicos, mas possui uma rede ampla
de serviços privados, hospitais e unidades de diagnose e terapia, por exemplo,
que ofertam serviços mediante financiamento público vindo das diversas receitas
arrecadadas pela União, estados e municípios. São essas parcerias que permitem
o atendimento de saúde sem a condicionalidade de pagamento pelos usuários
(NORONHA et al., 2012).

Segundo Noronha et al. (2012), esses princípios e diretrizes norteadores do


funcionamento do SUS destacam-se a partir da universalidade de acesso em todos
os níveis de assistência, na igualdade na assistência à saúde, sem preconceitos ou
privilégios de qualquer espécie, com a integralidade da assistência, a participação
da comunidade e descentralização político-administrativa, com direção única em
cada esfera de governo.

A universalidade representa a noção de que todos têm o mesmo direito


de acesso aos serviços de saúde. Esse acesso deve ocorrer independentemente da
complexidade, do custo ou da natureza dos serviços em questão. Esse princípio
representa a superação do modelo contributivo que existia anteriormente.
O modelo anterior ao SUS, caracterizado como modelo de seguro social,
condicionava o acesso aos serviços à contribuição para a previdência social.
Dessa forma, o modelo restringia o acesso à saúde, pois inicialmente apenas
trabalhadores formais contribuíam com a previdência.

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UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

Na sequência, o princípio da igualdade como condição necessária para


garantir a universalidade aos serviços de saúde não concebe restrições relativas
a preconceitos ou privilégios em qualquer representação. Esse princípio afirma
que não será admitido preconceito em relação ao atendimento em decorrência
de renda, cor, gênero ou religião. Nesse sentido, “somente razões relacionadas às
necessidades diferenciadas de saúde devem orientar o acesso ao SUS e a escolha
de técnicas a serem empregadas no cuidado com as pessoas” (NORONHA et al.,
2012, p. 367).

A integralidade da assistência, por sua vez, estabelece “o conjunto


articulado e contínuo de ações e serviços preventivos e curativos, individuais
e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do
sistema” (NORONHA et al., 2012, p. 368).

A criação e, posteriormente, a ampliação das instâncias de participação da


comunidade na gestão do SUS são consideradas um aspecto inovador da legislação
brasileira e representam a legitimidade do regime democrático. No âmbito do
SUS, essas instâncias se dão como garantia de que a comunidade participe nos
Conselhos de Saúde e nas Conferências de Saúde, exercendo o controle social.

A descentralização político-administrativa é representada pela “direção


única em cada esfera de governo, com: a) ênfase na descentralização de serviços
para os municípios; b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de
saúde” (NORONHA et al., 2012, p. 368). Vale lembrar que a descentralização está
aliada a um comando único em cada governo que indica as responsabilidades
de cada ente. O fortalecimento dos diferentes níveis de governo contribui para a
consolidação da gestão democrática.

Para a efetivação do SUS e garantia de sua resolutividade, a organização


de redes de atenção à saúde é fundamental possibilitando a hierarquização e
a regionalização. Essa forma de organizar a oferta busca reduzir as distâncias
geográficas e minimizar barreiras ao acesso a todos os níveis de atenção do
sistema com ênfase na superação de situações de vulnerabilidade social.

Dessa forma, os serviços que oferecem o atendimento básico devem


ser distribuídos de forma ampla e descentralizada no território, enquanto o
atendimento especializado segue uma lógica geográfica mais concentrada,
determinando regiões geográficas com densidade tecnológica e autossuficiência
de ações e serviços para responder às necessidades da população de um
determinado território (NORONHA et al., 2012).

No nível local da atenção básica a Unidade de Saúde é o local onde deve


acontecer o atendimento mais humanizado possível, a partir do acolhimento e da
escuta, da interação entre os trabalhadores e pacientes e da discussão da situação
apresentada e possíveis ações de atendimento, respeitando o usuário como sujeito
e como cidadão de direitos (MERHY, 1997). Essas características potencializam o
cuidado a partir dos preceitos da integralidade e humanização.

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TÓPICO 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: PREVENÇÃO E PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

Com o objetivo de efetivar os princípios e diretrizes do SUS, o Ministério


da Saúde publicou no ano de 2006 o Pacto pela Vida com destaque para a atenção à
saúde da pessoa idosa, enfatizando a promoção da saúde e a humanização no SUS,
considerando a necessidade de melhor responder ao processo de envelhecimento
populacional. Esse documento oferece subsídios técnicos específicos em relação
à saúde da pessoa idosa de forma a facilitar a prática diária dos profissionais
que atuam na Atenção Básica. Com uma linguagem acessível, disponibiliza
instrumentos e promove discussões atualizadas no sentido de auxiliar a adoção
de condutas mais apropriadas às demandas dessa população.

O Ministério da Saúde busca alcançar uma abordagem integral para as


pessoas em seu processo de envelhecer. O objetivo específico do material citado é
dar às equipes de saúde uma maior resolutividade às necessidades da população
idosa na Atenção Básica (BRASIL, 2006).

Em síntese pode-se afirmar que o Sistema de Saúde brasileiro (SUS)


apresenta um vigoroso arcabouço legal, sendo marcado por importantes
conquistas sociais em um cenário de real disputa política. Seus princípios e
diretrizes, consagrados e reconhecidos como avançados e progressistas no cenário
internacional, foram consolidados em um momento de reabertura política e
redemocratização do Brasil, momento de grande esperança e confiança no papel
do Estado para responder às demandas de saúde da população como direito
social e de cidadania.

Passados 30 anos, a história do SUS ainda pode ser considerada


relativamente recente diante dos imensos desafios para a sua implantação no
território nacional. Por esse motivo a efetivação dos princípios e diretrizes do
SUS permanece, ainda nos dias atuais, incipiente e incompleta. Não obstante
seus princípios, diretrizes e sua organização como Sistema foram capazes de
influenciar a organização outras políticas de Estado como é o caso da Política de
assistência Social brasileira.

O caminho para a garantia de uma saúde mais digna para a pessoa idosa
no Brasil passa necessariamente pelo processo histórico da reforma sanitária,
pelos encaminhamentos apontados na 8ª Conferência Nacional de Saúde, onde,
pela primeira vez, houve participação popular nas discussões, trazendo à cena
um conceito ampliado de saúde, que envolve promoção, proteção e recuperação,
sendo, posteriormente, contemplado, no texto da Constituição Federal de 1988.
Portanto, para a pessoa idosa, o histórico das políticas públicas tem como premissa
a garantia do direito universal e integral à saúde assegurado pela “Constituição
Cidadã” de 1988 e reiterado pela criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e de
suas bases legais, as Leis Orgânicas da Saúde 8.080/90 e 8.142/90 (BRASIL, 2010).

No Brasil, é considerada idosa a pessoa com 60 anos ou mais, enquanto,


nos países desenvolvidos, idoso é aquele que tem idade igual ou superior a 65 anos
(BRASIL, 2010). Em virtude do crescente envelhecimento populacional brasileiro,
e respeitando os direitos previstos na Constituição nasceu a Política Nacional do

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UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

Idoso, em 1994 (BRASIL, 1996). “Assegurar direitos sociais à pessoa idosa e oferecer
meios para promover a autonomia, integração e participação efetiva na sociedade,
reafirmando ainda o direito à saúde nos diversos níveis de atendimento do SUS,
são pontos fundamentais desta política” (BRASIL, 2010, p. 19).

Cerca de cinco anos depois, no final do ano, em 1999, o Ministro de


Estado da Saúde edita a Portaria Ministerial nº 1.395/99, que estabelece a Política
Nacional de Saúde do Idoso, determinando que os órgãos do Ministério da Saúde
relacionados ao tema promovam a elaboração ou a adequação de planos, projetos
e ações em conformidade com as diretrizes e responsabilidades nela estabelecidas.
Outra portaria, a GM/MS nº 702/2002, lançada em 2002, propõe a organização
e implantação de redes estaduais de assistência à saúde do idoso, tendo como
base a condição de gestão e a divisão de responsabilidades, definidas pela Norma
Operacional de Assistência à Saúde (NOAS) (BRASIL, 2010).

No ano seguinte, em 2003, foi promulgado e sancionado o Estatuto do


Idoso (Lei nº 10.741), considerado grande conquista social no País, já que amplia
a resposta do Estado e da sociedade às necessidades da população idosa. Entre
outras coisas, essa Lei assegura a atenção integral à saúde do idoso, em todos os
níveis de atenção, por intermédio do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2010).

Um grande passo rumo à consolidação do SUS foi a consolidação do Pacto


pela Saúde do Brasil, em 2006 (Portaria/GM nº 399), que tinha como finalidade
a promoção da melhoria na quantidade e qualidade dos serviços ofertados à
população e a garantia do acesso de todos a esses serviços. Uma das partes deste
compromisso público é o Pacto pela Vida, que visa à melhoria da qualidade e do
nível de saúde e de vida de nossa população, configurando-se como o compromisso
maior do SUS. Ele estabelece compromissos de atingir metas sanitárias entre os
gestores do SUS, com base na definição de prioridades que resultem em real
impacto no nível de vida e saúde da população brasileira (BRASIL, 2006).

Do conjunto de seis prioridades para todo o Brasil, são relevantes para o


planejamento de saúde para a pessoa idosa: saúde do idoso, a promoção da saúde
e o fortalecimento da Atenção Básica. A implementação das diretrizes do Pacto
pela Vida foi norteadora para a reformulação da Política Nacional de Atenção à
Saúde do Idoso (BRASIL, 2007).

A atualização da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI)


veio com a Portaria/GM nº 2.528 em 2006. Esse documento traz novo paradigma
para a discussão da situação de saúde de todo cidadão brasileiro com 60 anos ou
mais de idade, quando afirma que, para elaboração de políticas de saúde para o
idoso, é indispensável discutir a condição funcional. A PNSPI também define que
a atenção à saúde dessa população terá como porta de entrada a Atenção Básica/
Saúde da Família, tendo como referência a rede de serviços especializada de
média e alta complexidade (BRASIL, 2007). Merece destaque, ainda, a promoção
do Envelhecimento Ativo e Saudável, de acordo com as recomendações da
Organização das Nações Unidas, em 2002 (BRASIL, 2010).

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TÓPICO 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: PREVENÇÃO E PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

Baseado no contexto dessa política pública, a Área Técnica — Saúde do


Idoso do Ministério da Saúde — desenvolveu ações estratégicas baseadas nas
diretrizes contidas na Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa e nas metas
propostas no Pacto pela Vida, de 2006, objetivando promover o envelhecimento
ativo e saudável, a realização de ações de atenção integral e integrada à saúde da
pessoa idosa e de ações interseririas de fortalecimento da participação popular e
de educação permanente.

Essas ações estratégicas o Ministério da Saúde compreendem: implantar


a Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa; disponibilizar o Caderno de Atenção
Básica; promover Curso de Aperfeiçoamento em Envelhecimento e Saúde da
Pessoa Idosa; realizar Curso de Gestão em Envelhecimento; fomentar Oficinas
Estaduais de Prevenção da Osteoporose, Quedas e Fraturas em Pessoas Idosas;
desenvolver ações em parceria com outras áreas que foram elencadas no Pacto
pela Vida. Nesse contexto, a atenção à saúde do idoso deve ocorrer inicialmente
na atenção básica (BRASIL, 2006).

3 CONTEXTUALIZANDO A SAÚDE DE FORMA INTEGRAL


Segundo o IBGE (2010), o Brasil envelhece de forma intensa e rápida, a
população idosa está alçando 14,3% da população total do país. A expectativa de
vida aumentou para 75,72 anos, sendo 79,31 anos para a mulher e 72,18 para o
homem. O aumento representa a melhoria das condições de vida, estes devem-se
muito a novas tecnologias utilizadas na saúde, com ações de prevenção, curativos
e de acompanhamento. Conta-se com melhorias no saneamento básico, no acesso
a serviços médicos, cobertura de aumento da escolaridade e da renda, entre
outros determinantes (ATLAS, 2010).

Se, por um lado, essa expectativa representou avanços, ela também causa
preocupações, pois a expectativa é que tenhamos cada vez mais idosos e no meio
dessa realidade é necessário adequar a estrutura social para cuidar desses idosos
que tendem a ter melhores condições de saúde, porém continuam suscetíveis a
desenvolverem ou adquirirem doenças que os torna menos autônomos.

Essa inversão piramidal trouxe mudanças no perfil demográfico e


epidemiológico do Brasil, necessitando novas respostas a demandas que se
acentuam diante das políticas sociais, sugerindo novas formas de cuidado, já que
a vida tende a ter maior longevidade, e esses cuidados em saúde, para os idosos
tendem a ser necessários até a finitude, ou seja, a morte, e estes se não agravados
são sugeridos no ambiente familiar e domiciliar.

Esse cuidado no ambiente familiar pressupõe uma mudança na


organização dos espaços e das responsabilidades, já que o cuidado que era
historicamente importo as mulheres, precisa do apoio dos homens, já que as

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UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

mulheres conquistaram os espaços de trabalho, tornando esse cuidado uma


parceria entre a família e as politicas publicas com ações de enfrentamento e
efetivação de ações de manutenção, cuidado e integração dos idosos nas famílias
e na comunidade.

Nesse sentido, o Ministério da Saúde destaca o perfil epidemiológico da


população idosa é caracterizado de forma diferente:

pela tripla carga de doenças com forte predomínio das condições


crônicas, prevalência de elevada mortalidade e morbidade por
condições agudas decorrentes de causas externas e agudizações de
condições crônicas. A maioria dos idosos é portadora de doenças ou
disfunções orgânicas, mas cabe destacar que esse quadro não significa
necessariamente limitação de suas atividades, restrição da participação
social ou do desempenho do seu papel social (BRASIL, 2020, s.p.).

O envelhecimento da população é uma realidade vivenciada em todos os


territórios do mundo, e se acentua mais em alguma regiões, por isso em 2002 a
ONU trabalhou as ações junto ao desenvolvimento e manutenção da saúde dos
idosos desenvolvendo o Plano Internacional para Envelhecimento, que buscava
garantir um envelhecimento digno, na qual a autonomia e as potencialidades
nos idosos sejam preservadas, melhorando a saúde e o bem-estar dos idosos,
e assegurando habilitação, reabilitação e ambientes de apoio, seja no ambiente
familiar ou mesmo profissional de atendimento.

Nas orientações propostas foram direcionados em três pilares básicos:


saúde, participação e segurança.

O aumento da expectativa de uma vida saudável e a garantia da qualidade


de vida para todas as pessoas que estão envelhecendo, inclusive as que são frágeis,
requerem cuidados ou estão incapacitadas.

Com relação à Política de Saúde, foi publicado em 1999 a Política Nacional


de Saúde da Pessoa Idosa que reafirmou os princípios da Política Nacional
do Idoso no âmbito do SUS. Para garantir e facilitar o desenvolvimento de
estratégias de operacionalização, foram publicadas portarias que orientam sobre
o funcionamento das Redes Estaduais de Assistência à Saúde do Idoso, pautadas
principalmente nos Centros de Referência em Atenção à Saúde do Idoso (Portarias
GM/MS nº 702/2002 e SAS/MS nº 249/2002, respectivamente). Tais propostas eram
consonantes com as necessidades que se apresentavam naquele contexto.

Assim, a composição das redes precisa se aprimorar reconhecendo os


serviços e as atribuições existentes, pois, anteriormente, como a velhice era menos
comum, o atendimento à população idosa era centrado em Hospitais Gerais e
Centros de Referência em Assistência à Saúde do Idoso, adequados a oferecer
diversas modalidades assistenciais, como: internação hospitalar, atendimento
ambulatorial especializado, hospital dia e assistência domiciliar, focado em
algumas localidades, na assistência ao portador de doença de doenças limitadoras
ou incapacitantes.
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TÓPICO 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: PREVENÇÃO E PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

Em 2006, foi publicada a Portaria nº 2.528, que atualiza a Política Nacional


de Saúde da Pessoa Idosa, recomendando aos órgãos e entidades ligadas a Saúde
que readéquem os programas, projetos e atividades visando melhorar ou manter
a autonomia dos idosos através da ações de prevenção e promoção da saúde, para
os idosos brasileiros, considerando a condição de funcionalidade, entendendo
que a incapacidade funcional e as limitações físicas, cognitivas e sensoriais não
são consequências inevitáveis do processo de envelhecimento, embora reconheça
que a prevalência de incapacidade aumente com a idade e que esse fator sozinho
não prediz incapacidade.

Assim, a PNSPI estabelece como suas diretrizes: “promoção do


envelhecimento ativo e saudável; atenção integral, integrada à saúde da pessoa
idosa; estímulo às ações intersetoriais, visando à integralidade da atenção;
provimento de recursos capazes de assegurar a qualidade da atenção à saúde
da pessoa idosa; estímulo à participação e ao fortalecimento do controle social;
formação e educação permanente dos profissionais de saúde do SUS na área de
saúde da pessoa idosa; divulgação e informação sobre a Política Nacional de
Saúde da Pessoa Idosa para profissionais de saúde, gestores e usuários do SUS;
promoção de cooperação nacional e internacional das experiências na atenção
à saúde da pessoa idosa; apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas”
(BRASIL, 2006, s.p.).

Pensando nessas prerrogativas, o Ministério da Saúde cria Diretrizes


da saúde da pessoa idosa, através da Coordenadoria da Saúde da Pessoa Idosa
do Ministério da Saúde é responsável pela implementação da Política Nacional
de Saúde da Pessoa Idosa, normatizada pela Portaria GM/MS nº 2.528, de 19
de outubro de 2006). Nesse contexto, a política tem como principais diretrizes:

• envelhecimento ativo e saudável;


• atenção integral e integrada à saúde da pessoa idosa;
• estímulo às ações intersetoriais;
• fortalecimento do controle social;
• garantia de orçamento;
• incentivo a estudos;
• pesquisas.

Essas diretrizes serviram de base para a elaboração dos documentos


posteriores (2013 e 2014), o documento Diretrizes para o cuidado das pessoas
idosas no SUS: proposta de Modelo de Atenção Integral, que tem por objetivo
orientar a organização do cuidado ofertado à pessoa idosa no âmbito do
SUS, potencializando as ações já desenvolvidas e propondo estratégias para
fortalecer a articulação, a qualificação do cuidado e a ampliação do acesso da
pessoa idosa aos pontos de atenção das Redes de Atenção à Saúde. A Atenção
Básica, principal porta de entrada para o SUS, apresenta-se como ordenadora
do cuidado e este deve considerar as especificidades desse grupo populacional,
a partir de sua capacidade funcional.

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UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

Nesse sentido, a estratégia fundamental é lançar mão da avaliação


multidimensional da pessoa idosa, que auxilia no planejamento do cuidado,
sendo necessariamente realizada por equipe interdisciplinar. Algumas
iniciativas integradas são importantes para se conhecer as vulnerabilidades
desse grupo populacional, como a Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa, o
Caderno da Atenção Básica (CAB 19) e a capacitação dos profissionais.

O desafio consiste em incluir a discussão sobre o envelhecimento


da população brasileira nas agendas estratégicas das Políticas Públicas. No
âmbito da Saúde, o desafio é ampliar o acesso, incluir e/ou potencializar o
cuidado integral, concretizar ações intersetoriais nos territórios com foco nas
especificidades e demandas de cuidado da população idosa. Cabe destacar que
o cuidado à Saúde da Pessoa Idosa apresenta características peculiares quanto
à apresentação, instalação e desfechos dos agravos em saúde, traduzidas
pela maior vulnerabilidade a eventos adversos, necessitando de intervenções
multidimensionais e multissetoriais com foco no cuidado.

FONTE: <https://saude.gov.br/saude-de-a-z/saude-da-pessoa-idosa>. Acesso em: 12 maio 2020.

Nessa mesma linha destaca-se a consolidação do O Estatuto do


Idoso (Lei nº 10.741/2003), que surge como uma reafirmação dos direitos da
pessoa idosa, fruto de forte mobilização da sociedade, e abrange as seguintes
dimensões: direito à vida; à liberdade; ao respeito; à dignidade; à alimentação;
à saúde; à convivência familiar e comunitária, apesar de ainda existir lacunas
de atenção por parte das políticas públicas, houveram muito progressos como
é o caso do Decreto Presidencial, denominado de Compromisso Nacional para
o Envelhecimento Ativo, coordenado pela Secretaria dos Direitos Humanos e
com a participação de vários ministérios, incluindo o Ministério da Saúde.

3.1 COMPREENDENDO MELHOR AS DOENÇAS CRÔNICAS


As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), segundo dados da
Organização Mundial de Saúde (OMS), são responsáveis por 63% das mortes no
mundo. No Brasil, são a causa de 74% dos óbitos. E o aparecimento das doenças
crônicas poderia ser prevenida, controlada ou mesmo minimizada, melhorando
assim a qualidade de vida das pessoas. Para isso, é preciso trabalhar na prevenção,
conhecer as doenças possíveis de serem desenvolvidas, adquiridas com o tempo
ou herdadas para poder cuidar de forma correta, completa e contínua e não
apenas após o diagnóstico que é o que acontece na maioria das vezes.

As doenças crônicas geralmente se desenvolvem lentamente, seguem


um padrão continuo e duradouro, muitas vezes imperceptível, mas que podem
comprometer a saúde de forma permanente, necessitando de acompanhamento.

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TÓPICO 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: PREVENÇÃO E PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

É possível afirmar também que as doenças crônicas, geralmente estão associadas


a diversos fatores relacionados. As doenças crônicas costumam ser silenciosas ou
asintomáticas, porém tendem a comprometer a qualidade de vida. Destaca-se as
doenças cardiovasculares, respiratórias crônicas, hipertensão, câncer, diabetes e
doenças metabólicas (obesidade, diabetes, dislipidemia) (FREITAS, 2007).

As pessoas geralmente ignoraram o fato de terem uma doença crônica e


passam a se preocupar somente após sua instauração, ou mesmo após alguma
complicação, pois estes tem a ver com o modo de vida, que, por sua vez, já
influenciam seu aparecimento, portanto, uma preocupação não muito aparente
mas que pode ser fatal sem manutenção adequada.

A prevenção e o controle representam uma realidade possível que surge


efetivamente com a mudança de hábitos, podem ser o fator determinante na
longevidade.

Ele se reflete a partir doa hábitos alimentares, atividades físicas, do uso do


cigarro e de bebidas alcoólicas e das atividades que tragam prazer, tranquilidade
e relaxamento, refletindo uma associação com a saúde mental das pessoas.

O cuidado integral a pessoas com doenças crônicas deve se dar de forma


integral, e esse cuidado só é possível quando for organizado em rede. Tendo cada
serviço como fundamental para garantir a integralidade do cuidado, como uma
estação no circuito que cada indivíduo percorre para obter a integralidade de que
necessita (MERHY, 2016).

A formação de redes integradas e regionalizadas de atenção à saúde tem


apresentado resultados capazes de responder a alguns desses desafios estruturais
e epidemiológicos, trazendo melhores resultados para os indicadores de saúde
(MERHY, 2016).

Nesse modelo de atenção, assume-se o desafio de efetivar uma modelagem


organizacional que revigora os compromissos de uma gestão democrática,
participativa e ético-politicamente comprometida, sem deixar correr em paralelo
todo o processo de produção do cuidado que define a qualidade e o modelo de
atenção ao usuário (MENDES, 2012).

Avançar na qualificação da atenção e da gestão em saúde requer forte


decisão dos gestores do SUS, enquanto protagonistas do processo instituidor e
organizador do sistema de saúde. Uma das principais iniciativas que direcionaram
as ações do Ministério da Saúde nesse sentido foi a publicação da Portaria n°
4.279, de 30 de dezembro de 2010, que estabelece diretrizes para a estruturação da
Rede de Atenção à Saúde (RAS) como estratégia para superar a fragmentação da
atenção e da gestão nas regiões de saúde e aperfeiçoar o funcionamento político-
institucional do SUS, com vistas a assegurar ao usuário o conjunto de ações e
serviços que necessita com efetividade e eficiência (MENDES, 2011).

85
UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

As RAS constituem-se em arranjos organizativos formados por ações


e serviços de saúde, com diferentes configurações tecnológicas e missões
assistenciais, articulados de forma complementar e com base territorial, e têm
diversos atributos, entre eles, destaca-se: a atenção básica estruturada como
primeiro ponto de atenção e principal porta de entrada do sistema, constituída
de equipe multidisciplinar que cobre toda a população, integrando, coordenando
o cuidado e atendendo as suas necessidades de saúde (FLEURY, 2012).

Além da portaria sobre as RAS, em 2011, o Departamento de Atenção


Básica (DAB) lança o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade,
que, pela primeira vez, atrela o financiamento das equipes de atenção básica a
padrões de qualidade da gestão e do cuidado. Essa estratégia inclui parâmetros
importantes ligados à atenção às pessoas com doenças crônicas e fortalece a
organização dessa rede temática (FLEURY, 2012).

O Brasil também elaborou o Plano de Ações Estratégicas para o


Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) (2011-2022),
esse documento visa preparar o Brasil para enfrentar e diminuir, nesses dez anos,
as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), entre as quais: acidente vascular
cerebral, infarto, hipertensão arterial, câncer, diabetes e doenças respiratórias
crônicas. No país, essas doenças constituem o problema de saúde de maior
magnitude e correspondem a cerca de 70% das causas de mortes, atingindo
fortemente camadas pobres da população e grupos mais vulneráveis, como a
população de baixa escolaridade e renda.

DICAS

Para saber mais sobre esse documento — Plano de Ações estratégicas para o
enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil (2011-2022) —,
acesse: https://bit.ly/2Yo5ee2.

3.2 COMPREENDENDO MELHOR


AS DOENÇAS INFECCIOSAS
O comportamento das doenças infecciosas vem se transformando com
o tempo, anteriormente, o risco de morte tinha mais significado, porém, com os
avanços científicos e tecnológicos, esse quadro vem sendo monitorado e controlado.

Essa realidade pode ser observada quando analisamos a trajetória da


dengue, cujo vírus é disseminado por indivíduos infectados que se deslocam
de países afetados para outros ainda indenes, enquanto os vetores responsáveis
pela transmissão da doença invadem continentes utilizando vias de transporte
inusitadas, como o comércio internacional de pneus usados.
86
TÓPICO 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: PREVENÇÃO E PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

Esse processo de reconhecimento das doenças infecciosas e a identificação


dos sintomas para possível protocolo de atendimento é resultado do aprimoramento
de técnicas de diagnóstico e vigilância, seja por modificações no comportamento de
microrganismos já conhecidos, seja ainda pelo surgimento de novos agentes etiológicos.

A partir dos anos 1980 percebe-se que as doenças infecciosas se tornam


discussão cotidiana, não apenas na área de cura, mas pensando no controle e na
prevenção de novos infestados, e essas transformações foram alardeadas pelo número
crescentes de pessoas infestadas por HIV.

As doenças infecciosas são as que são transmissíveis, causada por um agente


patogênico (como prião, vírus, bactérias, fungos e também parasitas), em contraste
com causa física (por exemplo: queimadura, intoxicação química, relação sexual, entre
outros).

Exemplos de doenças infecciosas:

• Malária.
• Dengue.
• Poliomielite.
• Caxumba.
• Tétano.
• Varicela.
• Tuberculose.

FIGURA 1 – VOCÊ SABE A DIFERENÇA?

FONTE: <https://studylibpt.com/doc/902392/epidemia-endemia-pandemia>. Acesso em: 29


abr. 2020.

87
UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

3.3 RECONHECENDO A EPIDEMIOLOGIA


A Associação Internacional de Epidemiologia (IEA) reconhece, em seu
Guia de Métodos de Ensino (ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 1973,
s.p.), a epidemiologia como “o estudo dos fatores que determinam a frequência e
a distribuição das doenças nas coletividades humanas. Enquanto a clínica dedica-
se ao estudo da doença no indivíduo, analisando caso a caso, a epidemiologia
debruça-se sobre os problemas de saúde em grupos de pessoas, às vezes grupos
pequenos, na maioria das vezes envolvendo populações numerosas”.

Nesse sentido, a epidemiologia tem muito em comum com a demografia:


ambas estudam populações e segundo a IEA, são três os principais objetivos da
epidemiologia:

• Descrever a distribuição e a magnitude dos problemas de saúde das


populações humanas.
• Proporcionar dados essenciais para o planejamento, execução e avaliação
das ações de prevenção, controle e tratamento das doenças, bem como para
estabelecer prioridades.
• Identificar fatores etiológicos na gênese das enfermidades.

Os reconhecimentos dos casos da doença acabam sendo identificados e


monitorados, nesse sentido, é necessário o desenvolvimento de estratégias e ações
coletivas de prevenção e análise de casos onde a incidência acaba sendo mais
ou menos frequente. Nesse sentido, traremos para compreensão um quadro que
identifica as principais diferenças entre as abordagens clínica e epidemiológica.

QUADRO 1 – DIFERENÇAS ENTRE AS ABORDAGENS CLÍNICA E EPIDEMIOLÓGICA

FONTE: <http://www5.ensp.fiocruz.br/biblioteca/dados/txt_690106550.pdf>. Acesso em: 29


abr. 2020.

88
TÓPICO 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: PREVENÇÃO E PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

Esse quadro identifica as ações que devem ocorrer enquanto abordagens


clínicas e a importância dessas abordagens serem compreendidas em seu contexto,
já que são analisados os fatores de risco a qual os territórios estão vulneráveis, a
relação de causa, tratamento e morte.

É a partir da epidemiologia que são analisados os fatores de vida e morte


e principalmente a análise no índice de mortalidade. A taxa de mortalidade ou
coeficiente de mortalidade é um índice demográfico que reflete o número de
mortes registradas, em média por mil habitantes, em uma determinada região
em um período de tempo.

As taxas de análise de uma situação sempre são analisadas a partir de


centenas ou mesmo milhares, por exemplo: a unidade de morte é analisada
geralmente a cada 1000 casos, em determinado período de tempo que pode
ser identificado por períodos específicos, como semanas, meses e até mesmo
anos. Dependerá da informação que se pretende alcançar. Esse cenário envolve
situações multifatoriais e até mesmo regionais, pois as informações tendem a se
apresentar de forma diferente, a chamada taxa de prevalência) ou o número de
pessoas que têm a doença no momento (a taxa de incidência).

Em epidemiologia, a mortalidade é medida pela taxa de mortalidade, ou


o número de óbitos em relação ao número de habitantes. Se analisam os óbitos de
determinadas doenças e obtém-se a morbimortalidade em determinado local e
período, com o objetivo de estabelecer a prevenção e controle de doenças, enquanto
ação de saúde pública, através do registro sistemático das declarações de óbito.

3.4 O RISCO DAS POSSÍVEIS QUEDAS EM IDOSOS


O risco de quedas está presente na vida das pessoas, seja na infância, na
fase adulta, e durante o envelhecimento, o que pode se intensificar nesta fase, já
que a perda do equilíbrio é um dos principais fatores que levam a quedas.

As quedas têm relação com a diminuição da autonomia e a própria


limitação corporal, na qual, por vezes, a queda pode ser limitadora temporária
ou mesmo causar uma limitação permanente, tornando o idoso uma pessoa
dependente de cuidados de outras pessoas.

Com o tempo as pessoas tendem a desenvolver certos desequilíbrios, ou


seu caminhar fica menos firme, o que pode resultar em escorregões ou quedas,
estas, por vezes, tornam-se mais frequentes em pessoas idosas, mas podem ser
evitadas com alguns cuidados.

As quedas são um importante fator causal para a dependência dos


idosos, pois, estão relacionadas a um índice elevado de incapacidade e de
mortalidade. Geralmente, essas quedas resultam em machucados, luxações e
fraturas, traumatismo craniano, esses episódios costumam gerar um trauma e a
insegurança torna-se ainda maior.
89
UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

Dentre os fatores que vêm sendo responsabilizados pelo aumento do risco


de quedas e fraturas na população de idosos encontrasse o uso de medicamentos
que provocam sonolência, alteram o equilíbrio, a tonicidade muscular e/ou
provocam hipotensão

Essas quedas, que ocorrem habitualmente no ambiente doméstico, têm


vários fatores associados e predisponentes, pensando nessa adaptação sugere-se
observar:

• A existência de tapetes sem antiderrapante pode ser uma queda em potencial,


devido à facilidade de desligar e tropeçar.
• A inexistência de corrimões em escadas e elevadores tende a comprometer o
equilíbrio, pois estes servem também de apoio na hora da locomoção.
• A utilização de calcados inapropriados tende a facilitar o tropeço e o
escorregão, sugere-se a utilização de calcados fechados com solado leve e
emborrachado.
• Banheiros sem adaptadores e corrimões também facilitam as quedas.
• Pisos úmidos, encerrados e lisos também facilitam as quedas.
• A disposição dos móveis e utensílios interfere na acessibilidade das pessoas
idosas no ambiente familiar, que podem ser potencializados pela inexistência
ou baixa luminosidade.
• A necessidade de pessoas utilizarem, se for o caso, órteses e próteses de apoio,
bem como andadores e cadeiras de rodas.
• Além da acessibilidade externa como calçadas, o acesso a locais públicos e ao
transporte coletivo também representam desafios aos idosos.

As quedas podem ser diminuídas se as pessoas aceitassem as limitações


impostas pela idade e se preparassem para assumi-la, pois adaptações no ambiente
familiar são fundamentais para garantir a integridade física e a qualidade de vida
dos idosos.

A Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa orienta em item específico


“Quedas”, a necessidade de mais atenção à segurança dentro do ambiente
familiar, destacando 11 ações de prevenção. A maioria das quedas que ocasionam
incapacidade permanente ocorre dentro de casa. A caderneta explica como
identificar o risco de queda, as consequências para a saúde do idoso e orienta
para a prevenção, com ilustrações, veremos mais sobre isso a seguir.

4 CADERNETA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA


A Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa integra um conjunto de iniciativas
que tem por objetivo qualificar a atenção ofertada às pessoas idosas no Sistema
Único de Saúde.

É um instrumento proposto para auxiliar no bom manejo da saúde da


pessoa idosa, sendo usada tanto pelas equipes de saúde, quanto pelos idosos por
seus familiares e cuidadores, já que a caderneta apresenta o controle de pressão
90
TÓPICO 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: PREVENÇÃO E PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

arterial, de glicemia, calendário de vacinação, avaliação de saúde bucal além da


agenda de consultas/exames (BRASIL, 2017).

FIGURA 2 – CADERNETA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA

FONTE: <https://bit.ly/3hh5SS4>. Acesso em: 29 abr. 2020.

A Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa é um instrumento estratégico de


qualificação da atenção à pessoa idosa, objetiva contribuir para a organização
do processo de trabalho das equipes de saúde e para a otimização de ações que
possibilitem uma avaliação integral da saúde da pessoa idosa, identificando
suas principais vulnerabilidades e oferecendo orientações de autocuidado. É um
instrumento proposto para auxiliar no bom manejo da saúde da pessoa idosa,
sendo usada tanto pelas equipes de saúde, quanto pelos idosos, seus familiares
e cuidadores. Também é instrumento de cidadania e de relevância para os
indivíduos idosos, pois “empoderam” os sujeitos sobre sua saúde e direitos.

O plano de cuidados estabelecido a partir da avaliação multidimensional


se aplica ao indivíduo, mas também subsidia a tomada de decisões do ponto
de vista coletivo, pois fornece recursos e informações para estruturar as ações
de uma Unidade de Saúde no que se refere à população adscrita. É muito
importante que seu preenchimento ocorra por meio de informações cedidas
pela pessoa idosa, seus familiares e/ou cuidadores, para compor o Plano de
Cuidado. A Caderneta permite o registro e o acompanhamento, pelo período
de cinco anos, de informações sobre dados pessoais, sociofamiliares, condições
de saúde, hábitos de vida, identificando suas vulnerabilidades, além de ofertar
orientações para o seu autocuidado. Sendo assim, não é necessário que seja
substituída todos os anos.

91
UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

A Caderneta permite a identificação das necessidades de saúde de cada


idoso e do potencial de risco e graus de fragilidade, o que é fundamental para
a elaboração do projeto terapêutico singular e para o seu acompanhamento
com resolutividade na atenção básica. Trata-se de um instrumento que auxilia
na estratificação dos idosos de acordo com sua capacidade funcional.

A Caderneta também conta com uma ficha espelho (resumo da


caderneta) contendo dados gerais a serem preenchidos e anexados ao prontuário
da pessoa idosa na atenção básica. Através das informações registradas na ficha
espelho as equipes de saúde podem fazer levantamento do perfil dos idosos
cobertos no território, identificando as situações de maior vulnerabilidade.
Trata-se de uma ferramenta que pode ser utilizada pelas equipes da atenção
básica para o planejamento e monitoramento de suas ações.

FONTE: <https://saude.gov.br/saude-de-a-z/saude-da-pessoa-idosa>. Acesso em: 12 maio


2020.

DICAS

Para saber mais sobre a Caderneta de Saúde para Pessoa Idosa, acesse:
https://bit.ly/2EoOFHP.

NÍVEIS DE ATENÇÃO NA SAÚDE

No contexto atual da gestão hospitalar, o conhecimento aprofundado


sobre a organização da atenção à saúde é fundamental para que os diretores e
demais profissionais responsáveis pela administração de um hospital ou clínica
possam desempenhar um bom trabalho.

Por isso, no artigo de hoje, vamos apresentar quais são os níveis de atenção
à saúde no Brasil, como eles estão estruturados e que diferenças apresentam entre
si. Veja e tire todas as suas dúvidas!

A atenção à saúde no Brasil segue uma organização descentralizada, que


estabelece níveis diferentes visando à garantia de um atendimento mais efetivo às
pessoas de todas as idades.

O modelo de organização brasileiro segue os padrões determinados pela


Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo os quais os serviços de saúde
devem ser agrupados de acordo com a complexidade das ações necessárias para
promover, restaurar ou manter a saúde da população.

92
TÓPICO 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: PREVENÇÃO E PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

Para que os hospitais, clínicas e demais unidades de saúde possam


oferecer um atendimento de qualidade aos pacientes, os gestores precisam
conhecer bem a forma como a atenção à saúde no Brasil é estruturada,
compreendendo as características e os desafios de cada etapa.

Uma vez que se tenha clareza sobre as demandas referentes a cada um


dos níveis de atenção à saúde, é possível investir em estratégias para melhorar
o atendimento oferecido aos pacientes seja qual for o motivo que o levou a
procurar o consultório médico.

Saiba, agora, quais são os níveis de atenção à saúde no Brasil, começando


pelo nível primário, também chamado de nível básico.

NÍVEL PRIMÁRIO – A PREVENÇÃO

O nível primário ou básico de atenção à saúde concentra as ações


relacionadas à diminuição do risco de doenças e à proteção da saúde.

Para que isso seja possível, as unidades de saúde devem garantir


a realização de exames e consultas de rotina, contando com a presença de
profissionais generalistas na equipe.

Também é muito importante que os gestores hospitalares façam


um planejamento sistematizado de ações voltadas para a educação dos
pacientes, investindo em campanhas de promoção da saúde e do bem-estar
da comunidade.

Dessa forma, fica claro que a questão mais essencial a ser implementada
no nível primário de atenção à saúde é a prevenção de doenças.

Nesse sentido, conscientizar a população é tão importante quanto contar


com o suporte tecnológico capaz de realizar, com eficiência, exames de raio-X e
outros procedimentos necessários para o correto diagnóstico das doenças.

Outra contribuição da inteligência clínica na atenção primária à saúde


diz respeito à agilidade no agendamento de consultas e na disponibilização
dos dados de cada paciente, o que contribui para um atendimento mais
personalizado e completo.

Quando os serviços e os profissionais de saúde desempenham um


trabalho eficiente no nível primário, a qualidade de vida da população melhora.

Além disso, é possível perceber a redução de gastos com o tratamento


de doenças ou a internação de pacientes, procedimentos comuns ao próximo
nível de atenção à saúde, sobre o qual falaremos agora.

93
UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

NÍVEL SECUNDÁRIO – TRATAMENTO ESPECIALIZADO

O nível secundário de atenção à saúde é formado pelos hospitais e


ambulatórios responsáveis por oferecer tratamento especializado à população,
garantindo o acesso às clínicas de pediatria, cardiologia, ortopedia, neurologia,
psiquiatria, ginecologia e demais especialidades médicas.

O nível secundário também é responsável por garantir a estruturação


dos serviços hospitalares de urgência e emergência.

Assim, os médicos, os enfermeiros e os demais profissionais de saúde


que atuam no nível secundário estão preparados para realizar procedimentos de
média complexidade, conduzindo o tratamento de quadros que comprometem
o bem-estar e a qualidade de vida dos pacientes de forma aguda ou crônica.

Para isso, os hospitais devem contar com aparelhos capazes de realizar


exames mais detalhados, tais como uma endoscopia.

Além do investimento em equipamentos modernos para dar suporte à


definição dos diagnósticos, os gestores devem estar atentos ao uso da tecnologia
para melhorar o atendimento aos pacientes desde a marcação de consulta ou a
chegada ao hospital até o acompanhamento após a intervenção médica.

Na atualidade, os softwares e aplicativos disponíveis no mercado


permitem a realização de um atendimento mais próximo à realidade de cada
paciente, tornando a intervenção em saúde um processo mais personalizado.

Essa diferenciação é muito importante para reforçar o comprometimento


das pessoas com os cuidados necessários para a recuperação e a manutenção
da saúde, sendo que os recursos tecnológicos podem ser aproveitados como
um canal de comunicação entre os médicos e seus pacientes.

A importância do atendimento personalizado também está presente na


etapa final do aprendizado sobre quais são os níveis de atenção à saúde, como
você verá a seguir. Confira!

NÍVEL TERCIÁRIO – A REABILITAÇÃO

Por fim, no nível terciário de atenção à saúde estão reunidos os serviços


de alta complexidade, representados pelos grandes hospitais e pelas clínicas
de alta complexidade.

Nessa esfera, os profissionais são altamente capacitados para executar


intervenções que interrompam situações que colocam a vida dos pacientes em
risco. Trata-se de cirurgias e de exames mais invasivos, que exigem a mais
avançada tecnologia em saúde.

94
TÓPICO 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: PREVENÇÃO E PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

Dito de outra maneira, o nível terciário visa à garantia do suporte


mínimo necessário para preservar a vida dos pacientes nos casos em que a
atenção no nível secundário não foi suficiente para isso.

Mais uma vez, a personalização do atendimento em saúde se faz muito


importante, tendo em vista a fragilidade com que o paciente se apresenta
quando a sua vida se encontra realmente ameaçada, seja por um quadro de
doença crônica ou por uma sequela grave de um acidente.

Cabe aos gestores conduzir os processos da rotina hospitalar de forma


integrada, permitindo a excelência no atendimento aos pacientes em todos os
níveis nos quais o sistema de saúde do Brasil está organizado.

Agora que você já entende bem quais são os níveis de atenção à saúde,
que tal esclarecer todas as suas dúvidas sobre esse assunto e otimizar as suas
práticas em gestão hospitalar? Compartilhe a sua experiência ou deixe a sua
pergunta nos comentários!

FONTE: <https://blog.vectracs.com.br/entenda-quais-sao-os-niveis-de-atencao-a-saude/>.
Acesso em: 8 jan. 2020.

95
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O envelhecimento é uma realidade inerente a todos os seres vivos e entre os


humanos a quantidade de pessoas com mais de 60 anos de idade vêm crescendo
de forma acentuada em todo o mundo.

• A Política de Saúde no Brasil tem como referência o movimento da Reforma


Sanitária brasileira.

• As consequências da Primeira Guerra Mundial no cenário internacional deram


início a um sentimento de recuperação, cujas condições de vida e sobrevivência
encontravam-se extremamente prejudicadas por conta dos campos de batalha
na Europa.

• A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas


(ONU) passam a defender a unificação do entendimento da saúde, sendo um
direito à saúde e a obrigatoriedade do Estado na promoção e proteção à saúde.

• O Sistema Único de Saúde (SUS) é o sistema de saúde pública brasileiro,


garantido pela Constituição de 1988.

• O SUS prevê ações e serviços de acesso universal em todo o território brasileiro,


sendo direito de todos e dever do Estado.

• Em 2003 foi promulgado e sancionado o Estatuto do Idoso (Lei n° 10.741), que


amplia a resposta do Estado e da sociedade às necessidades da população idosa.
Entre outras coisas, essa Lei assegura a atenção integral à saúde do idoso, em
todos os níveis de atenção, por intermédio do Sistema Único de Saúde.

• A população idosa é caracterizada pela tripla carga de doenças com forte


predomínio das condições crônicas, prevalência de elevada mortalidade e
morbidade por condições agudas decorrentes de causas externas e agudizações
de condições crônicas.

• A aprovação do Plano Internacional para Envelhecimento, conduzido


pela ONU, em Madri, no ano de 2002, estabeleceu como objetivo garantir
o envelhecimento seguro e digno para todas as populações do mundo com
participação e lugar nas sociedades como cidadãos plenos de direitos.

• Em 1999, foi publicado a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, que


reafirmou os princípios da Política Nacional do Idoso no âmbito do SUS.

• Em 2006, a Portaria nº 2.528, atualiza a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa.

96
• Em 2013 e 2014, foi publicado o documento Diretrizes para o cuidado das pessoas
idosas no SUS: proposta de Modelo de Atenção Integral, que tem por objetivo
orientar a organização do cuidado ofertado à pessoa idosa no âmbito do SUS.

• As doenças crônicas são aquelas desenvolvidas a partir de uma progressão


lenta, gradativa e duradoura, representam risco para o paciente que muitas
vezes acometem por toda vida.

• As doenças infecciosas são as que são transmissíveis, causada por um agente


patogênico (como priões, vírus, bactérias, fungos e também parasitas), em
contraste com causa física (por exemplo: queimadura, intoxicação química,
relação sexual, entre outros).

• Os desiquilíbrios podem resultar em quedas, estas, por sua vez, tendem a


comprometer a autonomia dos idosos.

• A Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa permite a identificação das necessidades


de saúde de cada idoso e do potencial de risco e graus de fragilidade, o que
é fundamental para a elaboração do projeto terapêutico singular e para o seu
acompanhamento com resolutividade na atenção básica.

97
AUTOATIVIDADE

1 A Caderneta da Saúde da Pessoa Idosa apresenta o protocolo de identificação


do idoso vulnerável. Em que consiste esse protocolo?

2 Como profissional sabe-se que muitas das causas de limitações em idosos


ocorrem justamente devido ao espaço domiciliar, pensando nessa situação,
a Caderneta de Saúde desenvolveu o item Avaliação Ambiental, indique o
que este instrumento deseja identificar.

98
UNIDADE 2 TÓPICO 3

DESMISTIFICANDO A LEGISLAÇÃO EM RELAÇÃO


À PESSOA IDOSA

1 INTRODUÇÃO
Chegar ao envelhecimento é um processo de ganhos e perdas durante toda
a vida. A existência de vínculos consanguíneos e afetivos também é consequência
de escolhas que foram feitas em momentos anteriores. Porém, o acesso aos
direitos sociais são garantias legislativas previstas deste a Constituição de 1988.

Nesse cenário, o cuidado moral é substituído pelo dever legislativo e


essa conscientização da importância da velhice já pode ser percebida no cenário
jurídico nacional na Constituição Federal de 1988, na Política Nacional do Idoso,
Lei n° 8.842 (BRASIL, 1994) e no Estatuto do Idoso, Lei n° 10.741 (BRASIL, 2003),
mas deve-se destacar que a proteção à velhice já era reconhecida no artigo XXV
da Declaração Universal de Direitos Humanos, de 1948: “todo ser humano
tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde
e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os
serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego,
doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda de subsistência em
circunstâncias fora de seu controle”.

O Estado, através do Poder Público, tem suma importância no


desenvolvimento de estratégias efetivas de atendimento aos idosos, porém, a
família e sociedade são corresponsáveis no princípio da solidariedade para com
os idosos, de forma a atuarem sempre articulados para a valorização do idoso
enquanto integrante do meio social.

2 MEDICAÇÃO COMO PAPEL SOCIAL PARA O IDOSO


É importante destacar que os idosos já perpassaram a infância, a
adolescência e a fase adulta, portanto, a velhice é um “prêmio” para quem passou
com sucesso pelas fases anteriores. O idoso não é, e não voltará, a ser criança,
portanto, não deve ser tratado como tal. Ele é resultado de seu processo de vida
com escolhas e ações que podem ser negativas ou positivas e ainda assim ele é
reflexo dessas escolhas.

99
UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

É comum observamos que os idosos tendem a recorrer à medicalização


para tratamento de saúde, e essa situação fica ainda mais evidente quando
observa-se a quantidade de idosos que tomam antidepressivos, lembrando que
a maioria das pessoas não se adapta ao primeiro antidepressivo e devem mudar
a medicação até encontrar o antidepressivo com o qual responde com melhor
efeito e menores efeitos colaterais. O melhor remédio e a dose ideal dependem do
organismo e ambiente de cada indivíduo.

Outra situação bem evidente é a automedicação, quando os idosos, por


iniciativa própria, compram remédios e passam a ingeri-los sem supervisão
médica, porque alguém disse que fez bem. Outra preocupação em relação ao uso
do remédio se refere à combinação inadequada – o uso de um medicamento pode
anular ou potencializar o efeito do outro. O uso de remédios de maneira incorreta
ou irracional pode causar, ainda, reações alérgicas, dependência e até a morte.
Destaca-se que, em 2003, os medicamentos foram responsáveis por 28% de todas
as notificações de intoxicação no Brasil.

Muitos idosos utilizam medicações compulsivas como forma de superar


ou minimizar situações conflituosas no ambiente familiar ou com seus descentes.
Pois essas medicações causam alento, tendem a suprir certa carência afetiva que
esteja sendo vivenciada.

FIGURA 3 – CHARGE SOBRE AUTOMEDICAÇÃO

FONTE: <https://bityli.com/pzo8P>. Acesso em: 29 abr. 2020.

Os idosos tendem a buscar na medicação sanar dificuldade de resolver as


adversidades intergeracionais, que descrevem discrepâncias culturais, sociais ou
econômicas entre duas ou mais gerações, podendo ser causada por câmbios de
valores ou conflitos de interesse entre gerações mais jovens e gerações mais antigas.

100
TÓPICO 3 | DESMISTIFICANDO A LEGISLAÇÃO EM RELAÇÃO

O encontro de gerações é o reflexo das mudanças culturais de uma


sociedade e, por vezes, essa relação não é muito fácil, pois os objetivos e as
particularidades tendem a se transformar com o tempo, o que acaba causando
um conflito de interesses.

Parte-se da ideia que nós somos uma geração que se desenvolveu junto com
os meios de comunicação, onde esta era demorada e restrita, para uma era super
dinâmica quase que simultânea, um desses exemplos pode ser compreendido
quando analisamos o contexto das pandemias, onde as informações no cenário
mundial eram menos disseminadas

Atualmente, as informações são divulgadas a nível mundial com apenas


um click, por exemplo, a análise feita junto aos casos de pessoas contaminadas
com COVID-19, pessoas recuperadas e número de óbitos, na qual permite uma
avaliação do contexto global, que, por vezes, a rapidez dessas também coloca em
crise o equilíbrio emocional das pessoas, à medida que estas tornam-se reféns dos
meios de comunicação.

Outras mudanças relacionadas às particularidades intergeracionais refere-


se a forma que a sociedade vem educando suas crianças, na qual passaram da
lógica de mini adultos da década de 1950 para a lógica de cidadãos da década de
1990, onde estes precisam ser acompanhados em seu processo de desenvolvimento
social, psicológico e emocional.

O envelhecimento antes era uma utopia, ou oportunidade para poucos,


e vem se tornando uma realidade bastante presente nos lares mundiais, em que
surge o desafio de atender bem esses idosos, e, nesse cenário, identificar o espaço
social desse idoso, como parte de uma família.

Com isso, surgem os conflitos gerados por ideias diferentes, pois os idosos
vivenciavam outro período social e cultural o que os forcou de certa forma a
desenvolverem conceitos específicos para aquele determinada fase de suas vidas,
e quando essa é analisada com o contexto atual de seus descendentes, geralmente
causam conflitos de valores e prioridades, isso analisando um contexto menos
rigorosos, sem mencionar a questão competências do “homem e da mulher na
contemporaneidade”.

3 OS RELACIONAMENTOS INTERGERACIONAIS E A SAÚDE


MENTAL DOS IDOSOS
Como foi mencionado anteriormente, descendemos de famílias numerosas
que vem diminuindo e aprendendo a lidar com os idosos no ambiente familiar,
é necessário que haja o bom senso em ambas as partes, pois o conflito é gerado a
partir de duas partes que discordam sobre uma determinada situação.

101
UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

FIGURA 4 – CONFLITOS

FONTE: <https://revistaraca.com.br/wp-content/uploads/2018/01/18_16_01_2018_Como-
Administrar-Conflitos-1024x606.jpg>. Acesso em: 29 abr. 2020.

A convivência entre as gerações já é uma realidade, o ambiente familiar


sofreu uma miscigenação entre idosos, adultos, adolescentes e crianças o que
acarreta alterações na dinâmica familiar, e a divergência dos interesses e o
entendimento sobre os papéis sociais de cada pessoa na casa. Essa dificuldade
também fica evidente com as novas configurações de famílias, nas quais surgem
os agregados e estes nem sempre têm vínculos consanguíneos, porém são
integrantes da família.

As trocas podem se estruturar como relações de aliança, solidariedade


e inclusão, ou então de conflito, dominação e exclusão, beneficiando ou
prejudicando a autonomia, a privacidade, a aceitação e o respeito entre os
membros. A convivência intergeracional abarca benefícios e dificuldades, tanto
para os idosos quanto para seus familiares.

Ser membro de uma família é perpassar por papéis sociais que se iniciam
como filhos de alguém, companheiro(a), genitor(a), e se tiver sucesso poderá
alcançar o nível de vó, bisavós etc., esse relacionamento sempre envolve outras
pessoas e estas tendem a representar outras gerações. É no seio familiar que se
presume a existência de suporte, e este pode ocorrer de diferentes formas:

• coesão (proximidade emocional entre os membros da família);


• apoio (suporte dado e recebido na família);
• adaptabilidade (capacidade da família de se ajustar às mudanças);
• comunicação (capacidade de trocar informações entre os membros do grupo).

É impossível desligar a saúde física da saúde mental, elas fazem parte de


um motor, precisam estar interligadas para que haja funcionamento do sistema,
nesse caso, nosso corpo. Essa articulação é complexa e exige adaptações ou
cedência de uma das partes. Essas escolhas que os membros familiares têm a ver
com a sua estrutura, seu contexto cultural, político e econômico, e as normas de
piedade filial (percepção moral de obrigação).

102
TÓPICO 3 | DESMISTIFICANDO A LEGISLAÇÃO EM RELAÇÃO

A adaptação ao ambiente familiar é mais fácil na ausência das doenças e


com a necessidade de menor empenho no cuidado com o outro, pois o ambiente
se fortalece na ideia de cooperação entre as partes, porém, ao apresentarem
novos elementos como, por exemplo, a necessidade de cuidados, ou mesmo
o enfraquecimento do corpo surge a necessidade de readaptações e estas, por
sua vez, implicam em mudanças de atitude e o cuidado tende a assumir novo
valor social no ambiente familiar. Essas mudanças nem sempre são fáceis, pois
envolvem a cooperação e acordos que vão desde:

• regras de intimidade;
• familiaridade;
• disponibilidade;
• compromisso;
• confiança.

Nesse contexto, a necessidade do cuidado é o fator determinante para o


reconhecimento do quanto o outro precisa se implicar ou mesmo abdicar para
garantir manter o equilíbrio emocional dentro desses relacionamentos sociais, que,
por vezes, podem ser apenas morais no sentido de cumprir com a obrigação de
cuidar do outro, ou mesmo sentimental, “eu cuido do que gosto, ou quero”, além
da lógica mercantil na qual o cuidado também pode ser prestado por terceiros em
função de uma remuneração, caracterizando um vínculo profissional.

DICAS

A tirinha que emocionou o mundo

Este vídeo mostra o perpassar da vida das pessoas. Por vezes, nos sentimos parte do vídeo,
e, ao observarmos a realidade inerente ao envelhecimento, nos trás a sensação de “o que
vai acontecer quando fomos mais velhos?”. Link do vídeo: https://www.youtube.com/
watch?v=vtBvHsgR5go.

103
UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

Com a idade, as interações sociais tendem a diminuir, existem idosos


que aceitam bem as limitações impostas pela idade, outros não compreendem
e dificultam o papel social do cuidador, na qual consegue garantir seu cuidado,
mas não pode suprimir todas as limitações possíveis do envelhecimento.

É importante ressaltar que o relacionamento dos idosos com seus


cuidadores nem sempre transcorre de maneira harmoniosa, pois ainda assim
existem interesses opostos e estes, se não forem equilibrados, podem acarretar
conflitos. Na velhice, perdas associadas à idade e uma capacidade mais limitada
para enfrentar os desafios diretamente enfatizam a importância dos laços
intergeracionais para atender necessidades emergentes.

E
IMPORTANT

Conheça agora uma boa prática de ações junto ao envelhecimento: Inclusão


Digital para Idosos: integrando gerações na descoberta de novos horizontes.

O Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia “José Ermírio de Moraes” (IPGG) tem como
missão oferecer assistência à saúde da pessoa idosa de forma integral e integrada, procurando
desenvolver seu potencial, diminuir suas limitações, manter a autonomia, prevenir a perda da
independência e promover o envelhecimento ativo, a partir de seus pilares: saúde, participação
segurança e a aprendizagem ao longo da vida, conforme preconiza o documento do Centro
Internacional da Longevidade (2015). Esse projeto visa ao reocupado proporcionar a equidade
de acesso às novas tecnologias e em incentivar a participação do idoso na família, na sociedade
e até no mercado de trabalho, o IPGG desenvolveu o programa de inclusão digital para idosos.

Com o Programa de Inclusão Digital espera-se introduzir o idoso às novas tecnologias, tais
como computadores, notebooks, tablets e smartphones, para que ele adquira autonomia na
utilização destes recursos, ampliando suas possibilidades de comunicação e de relacionamento
com a família, amigos e com a comunidade.

Outro objetivo foi buscar o aproveitamento e a otimização dos conhecimentos dos


colaboradores da área administrativa da unidade na concretização da oferta de cursos de
inclusão digital em uma unidade de saúde, estimulando a cultura intergeracional, de respeito e
valorização da pessoa idosa. Diante das várias orientações dadas por colaboradores do serviço
aos usuários, nas salas de espera, nos balcões de atendimento e nos corredores, observou-se a
potencialidade dos próprios colaboradores como professores das oficinas.

FONTE: <https://saudedapessoaidosa.fiocruz.br/pratica/inclus%C3%A3o-digital-para-idosos-
integrando-gera%C3%A7%C3%B5es-na-descoberta-de-novos-horizontes>. Acesso em: 30
abr. 2020.

Para os membros da família, a coesão (ou proximidade emocional) é um


dos elementos mais importantes das relações intergeracionais. As diferenças nas
percepções do funcionamento familiar refletem o tipo de cuidado oferecido por
seus entes, sejam filhos ou netos, e as situações cotidianas às quais são submetidos,
como estresses e tensões familiares.

104
TÓPICO 3 | DESMISTIFICANDO A LEGISLAÇÃO EM RELAÇÃO

Os relacionamentos entre idosos, seus filhos adultos e netos envolvem


grande complexidade emocional e sua qualidade está associada às condições
de saúde física e mental dos idosos. Ainda se tem muito a aprender sobre as
relações intergeracionais e maior atenção deve ser dada aos seus aspectos
multidimensionais e a sua natureza sistêmica. A solidariedade entre as gerações
é um princípio básico da vida social e a família é seu mais forte motor, sendo
fundamental para o bem-estar, saúde e desenvolvimento dos idosos.

O contexto familiar é dinâmico e interdependente. Seu funcionamento


ao longo da vida reflete a capacidade que os indivíduos têm de se adaptar aos
desafios e limitações do ambiente social e aos eventos do ciclo de vida. Diante
da diversidade e fluidez nas relações intergeracionais e no seu funcionamento
na velhice, verifica-se o desafio de ampliar conhecimentos sobre como se dá a
adaptação dos idosos dentro das famílias de que fazem parte.

DICAS

Acadêmico, sugerimos o filme O curioso caso de Benjamin Button.

Sinopse: a história se passa em Nova Orleans, em 1918. Benjamin Button (Brad Pitt) nasceu
de forma incomum, com a aparência e doenças de uma pessoa em torno dos oitenta
anos mesmo sendo um bebê, lembrando a condição de crianças que sofrem de Progéria
(ou Síndrome de Hutchinson-Gilford). Contudo, ao invés de envelhecer com o passar do
tempo, Button rejuvenesce. Quando ainda criança ele conhece Daisy (Cate Blanchett), da
mesma idade que ele, por quem se apaixona. É preciso esperar que Daisy cresça, tornando-
se uma mulher, e que Benjamin rejuvenesça para que, quando tiverem idades parecidas,
possam enfim se envolver. O filme faz refletir sobre a aparência, sobre a relação do homem
com o tempo, sobre o aprendizado em diferentes épocas de vida e muito mais.

FONTE: <http://cuidardospaisemcasa.com/15-filmes-sobre-cuidados-com-idosos-em-
casa-que-voce-precisa-assistir/>. Acesso em: 5 fev. 2020.

4 UMA PINCELADA NA LEGISLAÇÃO DA SAÚDE EM RELAÇÃO


À PESSOA IDOSA
A pessoa idosa está cercada de legislações, porém, de nada valem estas
se a legislação ainda é desconhecida por muitos, principalmente os idosos, por
isso, faz-se necessário a capacitação das equipes de trabalho, pois são estas que
formarão e fortalecerão as redes de atendimento, que, dependendo das situações,
precisam conhecer o fluxo para um correto atendimento ou encaminhamento.

Partindo desse pressuposto trazemos um item específico sobre os direitos


assegurados pelo Estatuto do Idoso às pessoas idosas e às atribuições pertinentes
a Saúde a Assistência Social e a Previdência Social.

105
UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

• Atenção integral à saúde da pessoa idosa, por intermédio do Sistema Único


de Saúde (SUS), garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto
articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção,
proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que
afetam preferencialmente os idosos.
• Direito a acompanhante em caso de internação ou observação em hospital.
• Direito de exigir medidas de proteção sempre que seus direitos estiverem
ameaçados ou violados por ação ou omissão da sociedade, do Estado, da
família, de seu curador ou de entidades de atendimento.
• Desconto de, pelo menos, 50% nos ingressos para eventos artísticos, culturais,
esportivos e de lazer.
• Gratuidade no transporte coletivo público urbano e semiurbano, com reserva
de 10% dos assentos, que deverão ser identificados com placa de reserva.
• Reserva de duas vagas gratuitas no transporte interestadual para idosos com
renda igual ou inferior a dois salários mínimos e desconto de 50% para os
idosos que excedam as vagas garantidas.
• Reserva de 5% das vagas nos estacionamentos públicos e privados.
• Prioridade na tramitação dos processos e dos procedimentos na execução de
atos e diligências judiciais.
• Direito de requerer o Benefício de Prestação Continuada (BPC), a partir
dos 65 anos de idade, desde que não possua meios para prover sua própria
subsistência ou de tê-la provida pela família.
• Direito de 25% de acréscimo na aposentadoria por invalidez (casos especiais).
• Os casos de suspeita ou confirmação de violência praticada contra idosos
devem ser objeto de notificação compulsória pelos serviços de saúde públicos
e privados à autoridade sanitária, bem como devem ser obrigatoriamente
comunicados por eles a quaisquer dos seguintes órgãos: autoridade policial;
Ministério Público; Conselho Municipal do Idoso; Conselho Estadual do
Idoso; Conselho Nacional do Idoso.

Aparentemente, todos esses itens deveriam ser de conhecimento das


equipes que prestam atendimento aos idosos, porém, a realidade mostra
conhecimentos fragmentados em categorias profissionais, o que impedem que o
atendimento seja integral.

Quando se fala na saúde das pessoas idosas é importante destacar que


além das doenças que acometem o corpo com a longevidade, que podem ou não
ser crônicas, as quedas também fazem parte do setor de risco para a saúde.

O índice de doenças crônicas no Brasil vem crescendo, aumentando


a carga de doenças no país. Acompanhando pelo número elevado de doenças
infecciosas, as doenças crônicas têm ajudado a compor o cenário do adoecimento
no Brasil, sendo uma consequência do envelhecimento da população, dos estilos
de vida, do tipo de trabalho que se desenvolve e da transformação de doenças
consideradas fatais em crônicas, entre outros motivos (LESSA, 2004).

106
TÓPICO 3 | DESMISTIFICANDO A LEGISLAÇÃO EM RELAÇÃO

Esse crescimento na incidência desse tipo de doença no país gera impacto


em muitos setores, como no econômico, uma vez que os cuidados com a doença
crônica envolvem o uso de medicações e hospitalizações. Também se têm mudanças
na organização social, alterando-se rotinas de trabalho, organização de tarefas,
estrutura de locais públicos, aumento do número de aposentadorias por invalidez,
entre outras coisas; além de efeitos na organização da família, com a reestruturação de
papéis, criação de novas rotinas, possíveis mudanças econômicas; em aspectos mais
individuais, como passar a conviver com mudanças e limites postos pela doença; e
na própria cultura, que contemplará novos hábitos, significados compartilhados e a
criação de novos espaços para aqueles que têm uma doença (LESSA, 2004).

É importante analisar que a rotina de vida do portador de uma doença crônica


influencia também a organização da sua família que precisará reorganizar e adaptar
situações para a convivência com as mudanças (horário de medicação, atendimento
especializado). Com o diagnóstico, não só quem adoeceu é impactado, mas também
a sua família e seu grupo social precisarão ter acesso a informações acerca da doença
e de suas repercussões, preparar-se para o que pode acontecer com quem adoeceu,
rever rotinas, crenças e comportamentos que organizavam a família, mas que têm a
sua função questionada, tendo em vista as mudanças que a doença impõe.

Definitivamente, as doenças crônicas ultrapassam a esfera da dimensão


orgânica (patologia, fisiologia, biologia), alterando níveis de organização individual,
familiar e social. Consequentemente, organizam-se como um fenômeno que
pode ser explorado em muitas perspectivas, promovendo uma interface entre os
campos da economia, política, medicina, epidemiologia, sociologia, antropologia e
psicologia, por exemplo, assim como o campo da saúde e da doença de maneira geral
(CONTANDRIOPOULOS, 1998).

A seguir, trabalharemos um pouco mais sobre as doenças crônicas e as


infecciosas, ressaltando que estas podem aparecer em todas as fases da vida, porém,
para as pessoas idosas, suas consequências em função do não prevenção podem ser
mais complexas.

5 RECONHECIMENTO DAS AÇÕES EXITOSAS NA SAÚDE


A política de saúde está bem organizada em busca de mapear as melhores
experiências em relação ao envelhecimento no território nacional, dividindo por
região. O mapeamento de experiências nacionais envolve as ações Estaduais,
municipais, que merecem destaque sobre Envelhecimento e Saúde da Pessoa
Idosa. Essa ação pode ser compreendida intersetorial já que envolve a Política de
Saúde e Assistência Social.

Esse mapeamento das ações é desenvolvido nos munícipios e inscritas


a nível de região e permitem reconhecer o trabalho realizado pelos municípios
junto aos idosos, e disseminar as informações exitosas, assim, qualificar o cuidado
à pessoa idosa no Sistema Único de Saúde.

107
UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

DICAS

Para conhecer mais, sugerimos que acesse o site: https://saudedapessoaidosa.


fiocruz.br/ e conheça as experiências que foram trabalhadas com a pessoa idosa de norte
a sul do Brasil.

DICAS

Está na hora de começar a pensar no que fazer para ser um idoso ativo e com
qualidade de vida. O assunto é abordado pela jornalista Lena Obst, no livro O que você
vai ser quando envelhecer?, que faz um balanço dos reflexos da nova longevidade, dos
novos velhos e da inversão da pirâmide demográfica (menos nascimentos e mais idosos)
na sociedade brasileira atual. O livro é da Editora Unisul e leva ao leitor 220 páginas
sobre o envelhecimento diante da economia, do mercado de trabalho, sustentabilidade,
acessibilidade, educação, tecnologia, sociedade e transformações, além de apresentar
dicas de saúde e de cuidados com o corpo e a mente como forma de se preparar para a
terceira idade.

FONTE:<https://bityli.com/1UyI5>. Acesso em: 29 abr. 2020.

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TÓPICO 3 | DESMISTIFICANDO A LEGISLAÇÃO EM RELAÇÃO

LEITURA COMPLEMENTAR

O QUE CARACTERIZA ABANDONO AFETIVO À PESSOA IDOSA?

Ariane Angioletti

Quando falamos da relação dos filhos com seus pais idosos, temos que
ter em mente que a responsabilidade vai além da obrigação legal de natureza
material, como a oferta de alimentos e do custeio dos cuidados que os idosos tem
necessidade.

Abandono afetivo da pessoa idosa

Nas casas geriátricas, pode-se verificar que as famílias promovem o


acolhimento dos idosos, realizam o pagamento dos custos do idoso, proporcionam
as medicações e os itens de uso pessoal, porém, não mantém contato com o
acolhido.

As casas geriátricas enfrentam esta realidade diariamente, pois com o


passar do tempo, os familiares acabam espaçando cada vez mais os dias de visitas,
até que param de ir. Essa postura é mais comum com idosos que desenvolvem
demências que impactam na cognição e na memória do idoso. Esse afastamento
acaba privando o idoso da convivência familiar, que é determinado no artigo 3º
do Estatuto do Idoso.

Este afastamento também acontece com os idosos lúcidos e que moram


sozinhos ou com apenas um dos filhos, outros parentes ou cuidadores que, com o
passar do tempo, veem seus filhos absorverem-se pelas rotinas, planos, trabalho e
relações sociais, deixando para depois o contato com o idoso (sejam pais ou avós).

Pode-se afirmar que a ausência familiar traz danos à personalidade


do idoso, que se sente desamparado afetiva e emocionalmente pelos seus
descendentes. Além disso, a escassez da relação afetiva vai de encontro com
valores do indivíduo, tais como dignidade, honra, moral, reputação social,
gerando aflição, dor, sofrimento e angústia, podendo contribuir até para o
desenvolvimento ou agravamento de doenças e, por fim, para a morte do idoso.

Judicialmente, é possível encontrar processos pleiteando indenização


por dano moral de filhos contra seus pais, alegando abandono afetivo. Embora
o entendimento jurisprudencial ainda não esteja pacificado, percebe-se que,
quando o filho consegue comprovar que buscou manter contato com seu genitor
e a relação não aconteceu por uma decisão unilateral do pai, tem-se visto decisões
favoráveis aos filhos. Claro que nenhuma indenização monetária irá restituir os
danos da ausência paterna na construção emocional e intelectual de uma pessoa.

109
UNIDADE 2 | A POLÍTICA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA: O CUIDADO, A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO À SAÚDE INTEGRAL

Além disso, é preciso sopesar os casos concretos sobre abandono de


idosos. Muitas vezes, aquele filho que não mantém contato, foi vítima de maus
tratos ou de uma relação violenta e que, na idade adulta, não consegue superar
seus traumas emocionais.

Considerando o princípio da dignidade e da solidariedade familiar, a


inexistência de relação afetiva entre pais e filhos, por mera de liberalidade, é algo
que merece punição, quando comprovado o abandono moral grave.
Claro que o Poder Judiciário não poderá obrigar ninguém a amar, o que
seria impossível, mas pode punir com relação à responsabilidade dever de cuidar
afetivo, quando determinado o trauma moral da rejeição e da indiferença.

A indenização por abandono afetivo tem um caráter punitivo (por deixar


de cumprir o que está determinado em lei), compensatório (pois a privação do
convívio gera danos e estes danos podem ser tratados, mesmo que minimamente)
e pedagógico (pois busca desestimular a repetição do abandono pelos filhos e
demais familiares).

Com a longevidade da população, o número menor de filhos, a necessidade


de trabalhar por mais tempo, o cuidado e a necessidade de cuidado serão partes
de uma balança que precisarão ser equilibrados diariamente, para todas as partes
envolvidas.

FONTE: <https://www.arianeangioletti.com/post/abandono-afetivo-a-pessoa-idosa>. Acesso


em: 7 fev. 2020.

110
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O cuidado moral é substituído pelo dever legislativo em relação ao amparo aos


idosos em uma família.

• O Estado, através do Poder Público, tem suma importância no desenvolvimento


de estratégias efetivas de atendimento aos idosos, porém, a família e sociedade
são corresponsáveis.

• Os idosos tendem a recorrer à medicalização para tratamento de saúde, bem


como a automedicação.

• As adaptações intergeracionais são fatores que se não compreendidos podem


ocasionar conflitos. O conflito tende a ser gerado a partir de duas partes que
discordam sobre uma determinada situação.

• A convivência entre as gerações possibilitou uma miscigenação entre idosos,


adultos, adolescentes e crianças, o que ocasiona alterações na dinâmica familiar,
e a divergência dos interesses e o entendimento sobre os papéis sociais de cada
pessoa na casa.

• A adaptação ao ambiente familiar é mais fácil na ausência das doenças ao se


apresentarem novos elementos como, por exemplo, a necessidade de cuidados,
e readaptações e estas, por sua vez, implicam em mudanças de atitude e o
cuidado tende a assumir novo valor social no ambiente familiar.

• A idade garante mudanças físicas e intelectuais que podem ou não interferir


na necessidade de cuidado e ela tende a assumir limitações possíveis do
envelhecimento.

• A Inclusão Digital de idosos busca ampliar o vínculo e estimular a autonomia,


ampliando suas possibilidades de comunicação e de relacionamento com a
família, amigos e com a comunidade.

• O contexto familiar é dinâmico e interdependente. Seu funcionamento ao longo


da vida reflete a capacidade que os indivíduos têm de se adaptar aos desafios
e limitações do ambiente social e aos eventos do ciclo de vida.
• Direitos assegurados pelo Estatuto do Idoso às pessoas idosas e as atribuições
pertinentes ao tripé da seguridade social: atenção integral à saúde da pessoa
idosa, por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS); atenção especial às
doenças que afetam preferencialmente os idosos; direito a acompanhante em
caso de internação ou observação em hospital; possibilidade de solicitar medidas

111
de proteção, desconto em 50% nos ingressos para eventos artísticos, culturais,
esportivos e de lazer; transporte público com descontos e gratuidade; reserva
de 5% em estacionamento em locais públicos, entre outros. A gratuidade no
transporte coletivo público urbano e semiurbano, com reserva de 10% dos
assentos, que deverão ser identificados com placa de reserva. Reserva de duas
vagas gratuitas no transporte interestadual para idosos com renda igual ou
inferior a dois salários mínimos e desconto de 50% para os idosos que excedam
as vagas garantidas. Reserva de 5% das vagas nos estacionamentos públicos
e privados. Prioridade na tramitação dos processos e dos procedimentos na
execução de atos e diligências judiciais.

• Direito de requerer o Benefício de Prestação Continuada (BPC), a partir


dos 65 anos de idade, desde que não possua meios para prover sua própria
subsistência ou de tê-la provida pela família.

• Direito de 25% de acréscimo na aposentadoria por invalidez (casos especiais).

• Os casos de suspeita ou confirmação de violência praticada contra idosos


devem ser objeto de notificação compulsória pelos serviços: autoridade policial;
Ministério Público; Conselho Municipal do Idoso; Conselho Estadual do Idoso;
Conselho Nacional do Idoso.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

112
AUTOATIVIDADE

1 Diferente das outras atividades, nesta, pedimos que você descreva como
é a sua experiência junto às outras gerações, as que antecedem e as que
sucedem você?

2 Pensando na facilidade que as pessoas têm em acessar medicamentos e, por


conta, ingeri-los, identifique esses riscos.

113
114
UNIDADE 3

O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO:


MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS,
CENÁRIOS, CIDADANIA E A
VIOLÊNCIA COTIDIANA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender a diversidade de contextos sociais aos quais o idoso


está inserido;

• entender o que é uma situação de risco e uma situação de violência;

• conhecer os serviços disponíveis para atender situações de violência;

• conhecer a institucionalização como alternativa de proteção social


aos idosos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – MOVIMENTO SOCIAL, A LUTA PELA CIDADANIA E A VIOLÊNCIA

TÓPICO 2 – O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO

TÓPICO 3 – A VIOLÊNCIA NO COTIDIANO

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

115
116
UNIDADE 3
TÓPICO 1

MOVIMENTO SOCIAL, A LUTA PELA CIDADANIA


E A VIOLÊNCIA

1 INTRODUÇÃO
A sociedade vem se transformando e o respeito e a dignidade antes
direcionado aos idosos através dos preceitos marais, vêm sendo substituídos por
situações de disputa conflitos e violência.

Esse cenário é evidenciado com a aprovação do Estatuto dos Idosos em


2003 e pelas demais ações de enfretamento à violência contra o idoso proposta
pelas políticas públicas. Ações intersetoriais que buscam um olhar integral.

É comum as pessoas não se implicarem frente à situação-problema do


outro, mas é papel de todo cidadão e dos profissionais fazerem a denúncia aos
órgãos competentes para que possam acompanhar a situação. Diante desse
cenário, traremos para reflexão um pouco do caminho da violência, identificando
a rede de atendimento e suas especificidades frente à situação de violência contra
os idosos.

2 A CONCEPÇÃO DE MOVIMENTO SOCIAL


E A LUTA PELA CIDADANIA
Os movimentos sociais surgiram como uma estratégia do crescimento
político no Século XIX, pois objetivavam alterações institucionais e a valorização da
classe operária, na qual tinha sua base em sindicatos, que buscavam coletivamente
mudanças na estrutura social.

Os movimentos sociais eram percebidos como empecilhos voluntários, uma


disfunção de ordem. Para entender os movimentos sociais é necessário partir do
conceito de Melo (2001, p. 20): “os movimentos sociais se caracterizam como sujeitos
históricos coletivos que, na correlação de forças do conjunto da sociedade civil,
interferem na dinâmica social na medida em que revelam o conflito dos interesses
entre classes contrárias”. Ou seja, geram possibilidades de enfrentamento com ações
sociopolíticas, construídas por um movimento coletivo pertencente a diferentes
classes. E as camadas sociais que se reúnem em busca de um mesmo objetivo. Esse
movimento indica pontos relevantes em relação ao funcionamento da sociedade,
pois contextualizam a força e identificam as reivindicações dos diferentes grupos.

117
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

Nesse contexto, Bobbio, Bobbio e Matteucci (2004, p. 45) traz a seguinte


conceituação, quando se refere aos movimentos sociais:
O conceito de movimento social se refere à ação coletiva de um grupo
organizado que objetiva alcançar mudanças sociais por meio do
embate político, conforme seus valores e ideologias dentro de uma
determinada sociedade e de um contexto específicos, permeados por
tensões sociais. Podem objetivar a mudança, a transição ou mesmo
a revolução de uma realidade hostil a certo grupo ou classe social.
Seja a luta por um algum ideal, seja pelo questionamento de uma
determinada realidade que se caracterize como algo impeditivo da
realização dos anseios deste movimento, este último constrói uma
identidade para a luta e defesa de seus interesses. Torna-se porta-voz
de um grupo de pessoas que se encontra numa mesma situação, seja
social, econômica, política, religiosa, entre outras.

Essa teoria se fortalece com o autor Touraine (1989) que conceitua


movimentos sociais como uma ação conflitante entre as lutas de classes e com a
ideia de Manuel Castells, reforça ainda mais dizendo que “os movimentos sociais
são sistemas de práticas sociais contraditórias de acordo com a ordem social urbana/
rural, cuja natureza é a de transformar a estrutura do sistema, seja através de ações
revolucionárias ou não, numa correlação classista e em última instância, o poder
estatal” (TOURAINE, 1989, p. 22).

A organização de uma sociedade parte dos interesses individuais e coletivos


na qual se quer atender, por isso a organização é diferente dependendo de cada
região, pois os costumes e as tradições influenciam nos movimentos, sendo estres
possíveis de serem transformados ou mesmo desconceituados, na qual as demandas
se adaptam a realidade.

Essa organização em prol de um objetivo coletivo pode dar origem a


movimentos sociais mais eficientes que aos poucos vão se transformando em
organizações da sociedade civil, as ONGs, essas constituídas por objetivos a fins e
que possuem uma organização de associados e capacidade para deliberaram sobre
os interesses de uma determinada instituição, essa situação pode ser observada na
organização das APAES, presentes em todo o território nacional. Outras mais comuns
e próximas são as associações de moradores.

Fernandes (1997, p. 27) acrescenta que:

O terceiro setor é composto de organizações sem fins lucrativos,


criadas e mantidas pela ênfase na participação voluntária, num âmbito
não governamental, dando continuidade às práticas tradicionais de
caridade, da filantropia e do mecenato e expandindo o sentido para
outros domínios, graças, sobretudo, à incorporação de conceitos de
cidadania e de suas múltiplas expressões na sociedade civil.

Podemos destacar que, no Brasil, as ações coletivas surgiram de forma


sociopolítica, constituídas diferentes camadas sociais, que evidenciam suas
necessidades. Pode-se dizer que os movimentos sociais, no sentido mais amplo, se
constitui em torno de uma identidade ou identificação, de uma expressão social e

118
TÓPICO 1 | MOVIMENTO SOCIAL, A LUTA PELA CIDADANIA

resulta em múltiplas articulações, por essa razão a ideia de rede e movimento social
é, portanto, um conceito que objetiva atender a demanda identificada de valores
culturais e políticos compartilhados pelo grupo.

Nos movimentos sociais criam-se espaços para ações coletivas diferenciadas,


com vários significados, alcance e durações. Os movimentos são de contestação ou
reivindicação e precisam de uma coletividade para serem formados.

Ressaltamos que as Organizações Não Governamentais (ONGs) têm o mesmo


caráter dos movimentos sociais, pois surgem como uma forma de reivindicar algo
que o estado não supre, nos quais os sujeitos também trazem consigo sua identidade,
necessidades, reivindicações, pertencimento de classe em busca de respostas.

As ONGs surgem como um movimento voluntário e, aos poucos, vêm


construindo uma rede de atendimento com maiores necessidades e tomam proporções
privadas na medida que passam a qualificar e a remunerar sua equipe de trabalho.

O surgimento dos fóruns — movimentos que são espaços sociais conquistados


— constitui uma rede de repasse de conhecimento e experiências, com a busca pela
garantia dos direitos sociais, em suas várias dimensões sociais. Assim, através dessas
articulações em rede de movimentos, observa-se as diversas formas da exclusão social
e a demanda de novos ações de enfrentamento. Por esse motivo é que os movimentos
sociais são articulados através do empenho. É a forma que as pessoas têm para
precisar o estado em busca de algumas garantias. Nesta mesma linha, Bobbio, Bobbio
e Matteucci (2004, p. 23) acrescenta que:

A existência de um movimento social requer uma organização


muito bem desenvolvida, o que demanda a mobilização de recursos
e pessoas muito engajadas. Os movimentos sociais não se limitam a
manifestações públicas esporádicas, mas trata-se de organizações que
sistematicamente atuam para alcançar seus objetivos políticos, o que
significa haver uma luta constante e em longo prazo dependendo
da natureza da causa. Em outras palavras, os movimentos sociais
possuem uma ação organizada de caráter permanente por uma
determinada bandeira.

Pode-se dizer que os movimentos sociais tomaram proporções globais e


objetivam a mudança local que referencia diferença de gênero, normalidade, etnia,
orientação sexual e outros, mas também faz com que a lei maior, a Constituição
Federal, perca sua legitimidade a medida que se revoluciona, criam-se novos
estatutos como alternativa para responder às demandas sociais.

3 A COMPREENSÃO DE REDES: SUA FORMAÇÃO E GESTÃO


A sociedade vivencia um momento de transformação da diversidade
cultural, política e econômica, configurando novas identidades aos movimentos
sociais, que vem se fortalecendo através de ações conjuntas de mesmos ideais,
de defesa e garantia de direitos. Essas ações possibilitam o enfrentamento das
questões sociais, impostas por essas transformações.

119
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

O fato de os movimentos sociais estarem se expandindo mundialmente


vem-se criando novas configurações, nas quais surgem o trabalho em rede
que nada mais é do que movimentos sociais macrorregionais, que podem ser
identificados tanto no terceiro setor, administração pública ou na administração
privada, mas com configurações estruturais diferenciadas. Por esse motivo, a
administração pública se baseia na necessidade de produzir capital e gerenciar
o trabalho de forma eficiente, visando à lucratividade a assim garantir sua
manutenção. Já na administração pública, o foco inicial parte da própria gestão
e da ideologia que será seguida durante o governo independente da esfera
administrativa. Destacamos Börzel (1998), quando menciona a necessidade de
trabalhar coletivamente, se refere às relações estáveis e independentes, geradas
por interesses comuns em relação a uma mesma problemática. Isso geralmente
ocorre no nível de terceiro setor, quando pessoas se unem em prol de um
objetivo comum.

Na teoria organizacional, as organizações são consideradas sistemas


interligados, nas quais a formação de redes pode ser denominada como parte
de um sistema organizacional exclusivo. Para entender melhor, referencia-se a
definição de rede de Migueletto (2001, p. 22) que diz: “uma estrutura organizacional
formada por um conjunto de atores que se articulam com a finalidade de
aliar interesses em comum, resolver um problema complexo ou amplificar os
resultados de uma ação, e consideram que não podem alcançar tais objetivos
isoladamente”. Na formação das redes existe um trabalho multidisciplinar que
relaciona a interdependência em relação às decisões a serem tomadas.

A constituição das redes é um processo de interdependência, elas


necessitam de acompanhamento e monitoramento para gerar avanços em
relação problemática apontada, por isso que Migueletto (2001) afirma a
necessidade da realização de uma abordagem que favoreça a formulação de
arranjos organizacionais que emergem na atualidade, e se posicionem diante
do esgotamento da capacidade de integração das instituições representativas
tradicionais, da eficácia e da efetividade das organizações burocráticas e do
modelo de planejamento centralizado.

As organizações seguem estatutos, regimentos e condutas individuais


juntamente a uma equipe multidisciplinar, que buscam resultar na satisfação
dos objetivos comuns, por isso Migueletto (2001) referencia esse processo como
sendo um desafio diante do gerenciamento, pois almeja alcançar o consenso entre
os envolvidos. Börzel (1997) traz a questionamento a diversidade de redes, suas
características e o seu nível de institucionalização (estável/instável) número de
componentes (restrita/aberta), configuração administrativa (setorial/transitória) e
a função dos atores envolvidos na rede e sua opção heterogêneas ou homogêneas
de atendimento ou satisfação das necessidades.

Quando um grupo busca idealizar o mesmo objetivo, este se torna um


circuito coletivo, por isso é de suma importância identificar as particularidades
que permeiam os usuários a serem contemplados. Sendo assim, a rede é um

120
TÓPICO 1 | MOVIMENTO SOCIAL, A LUTA PELA CIDADANIA

grupo de pessoas que pode ser identificado quando: partilham de normas e


valores comuns, interagem frequentemente, constroem sua identidade e uma
hierarquização interliga as decisões que são coletivas. Contribuem para atingir
determinado objetivo, passam a ser reconhecidos pelos outros como pertencentes
ao grupo, além de fazer parte de uma estrutura, possuir durabilidade no tempo,
coesão nas ações, construir e respeitar certas normas.

As redes podem ser identificadas com um processo de mobilização que


surgem como uma necessidade de aprimorar e minimizar questões sociais,
auxiliando a gestão administrativa na satisfação das necessidades individuais e
coletivas da sociedade. Segundo Marteleto (2004, p. 12):

A cooperação surge da existência de problemas comuns que na


percepção dos participantes da rede podem ser mais bem resolvidos
de forma conjunta e, conforme já abordado, é um dos pressupostos
da atuação das redes intraorganizacionais. A competição nas redes,
por outro lado, considera que existem recursos limitados, materiais
ou não, para serem usados na solução dos problemas e que cada
organização da rede pode possuir projetos individuais.

A gestão governamental vem se eximindo de certas funções em relação


às políticas sociais de atendimento que competem ao estado, principalmente
as políticas sociais que necessitam de ações e acompanhamento focalizados,
repassando sua responsabilidade às instituições não governamentais, por isso
ressalta-se. Salamon (1995, p. 22) afirma que:

A gestão e coordenação das atividades governamentais, está se


tornando uma nova forma de governo em associação com instituições
não-lucrativas responde tanto às demandas democráticas quanto às
necessidades de corte no gasto público, mas impõe novos desafias à
gestão pública. Sedo que essa desresponsabilização do estado força
uma revisão a respeito da gestão estratégica imposta pelas redes de
atendimento do terceiro setor, refletindo sobre o que é ou não sua
competência, enquanto ONG.

As redes necessitam ser estruturadas e com possibilidades de estabelecer


parcerias assim fortalecendo seu movimento, por isso Salamon (1995) diz que:

É necessário identificar características entre os participantes,


além de elencar futuras parcerias, para agregar assim recursos
necessários à manutenção, envolvendo assim a sociedade civil, o
estado e a organizações não-governamentais, resultando na estrutura
burocrática, através de uma gestão transparente que articule ações
de planejamento, execução, retroalimentação e redesenho, adotando
o monitoramento como instrumento de gestão, e não de controle.
Os resultados gerados são fruto dos consensos obtidos através de
processos de negociação entre seus participantes, o que geraria maior
compromisso e responsabilidade destes com as metas compartilhadas
e maior sustentabilidade.

121
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

Não há uma fórmula que especifique os caminhos do sucesso para a


formação de uma rede, ela é um circuito que gera pendência e sua eficiência e
eficácia só são reconhecidas com o tempo e através da integralidade das pessoas
que estão na liderança desse movimento.

A maior dificuldade de gerenciar um movimento social refere-se à


morosidade no repasse de verbas públicas, que dependem de critérios burocráticos
para o acesso de recursos, mesmo porque a sociedade civil, estando engajada,
depende do financeiro para manter e qualificar os atendimentos.

O fato de haver metas coletivas pré-estabelecidas auxilia no processo


administrativo, mas a dificuldade de idealizar certos objetivos resultam na
marginalização de alguns grupos que buscam a satisfação individual. A rede requer
um trabalho interdisciplinar com divisão de responsabilidades enquanto grupo.

Pode-se afirmar que o trabalho coletivo gera opiniões contrárias a respeito


de um mesmo assunto, é por essas razões que se faz necessário uma hierarquização
para administrar essas situações de modo a não prejudicar o processo mantendo
o foco na qualificação da ação. Por isso O’toole (1997) nos deixa claro que os
gerentes de redes não supervisionam o desempenho dos difusos participantes
das redes. Nesse caso, o gestor deve buscar instrumentos que lhe permitam
conduzir pesquisas regulares sobre as alianças que possui e identificar pontos de
coordenação do conjunto de atores.

Para qualificar as redes é imprescindível observar se existe a ideia de


trabalho coletivo e se contempla os mesmos objetivos, reforçando a ideia de
somatória de forças com mesmos ideais. Para Mandell (1990), como as redes
diferem em relação aos tipos de mecanismos de coordenação isto requererá
diferentes estilos compatíveis de gerência. Destaca o processo de gestão
organizacional quando a necessidade de repartir o poder, no sentido de criar
uma reflexão e priorização das demandas a serem atendidas, com a escolha da
instrumentalidade adequada à realização da intervenção.

4 OS MOVIMENTOS SOCIAIS EM REDE


A sociedade, desde seus primórdios, vem trazendo uma tradição de
desvalorização dos indivíduos que não são produtivos, ou seja, dos sujeitos
considerados “socialmente excluídos”.

Segundo Bobbio, Bobbio e Matteucci (2004), o surgimento das


Organizações Não Governamentais vem reforçar a incapacidade do Estado em
responder a essas questões sociais, já que repassa sua responsabilidade para
ONGs, no sentido de minimizarem a exclusão e possibilitarem a reinserção
através da garantia por direitos (civis, políticos, socioeconômicos, culturais e
ambientais), proporcionando uma reflexão de participação com possibilidades
de decisão junto às novas formas de administração, com abertura de novos
espaços: direcionados a mobilizações municipal, com a participação efetiva em:
122
TÓPICO 1 | MOVIMENTO SOCIAL, A LUTA PELA CIDADANIA

conferências, fóruns, conselhos setoriais, fortalecendo assim a participação da


sociedade social nas decisões governamentais

As políticas públicas têm, em sua trajetória, resquícios da organização


desenvolvida apenas os agentes públicos tinham a competência para a sua
elaboração.

A sociedade civil começa a se estruturar e participar efetivamente


das decisões a partir da Constituição Federal de 1988, no momento em que as
Políticas Sociais de Saúde, Educação e Assistência Social tomam seu papel de
controle social, se desenvolvem com a criação e consolidação dos conselhos de
direitos ou conselhos gestores, porque é nesse momento que a população usuária,
os prestadores de serviços e representantes do Estado ligados à política poderão
planejar, fiscalizar e propor melhorias de atendimentos e serviços prestados.

Os conselhos gestores e/ou de direitos se dividem nas três esferas de


governo: municipal, estadual e federal. A sociedade inicia sua organização
civil através dos movimentos sociais que vão se fortalecendo na medida em
que as pessoas se unem com os mesmos objetivos, essa projeção vem sendo
ampliada à medida que esses movimentos de nível micro se estruturam e se
ampliam formando um atendimento de projeções macroestruturais, nomeados
de redes de movimentos e de formação de parcerias entre as esferas públicas
privadas e estatais, criando novos espaços de gestão com o crescimento da
participação cidadã.

As redes respondem positivamente à medida que se destacam, pelo seu


nível organizacional, além de desenvolverem de forma conjunta um eficiente
compartilhamento de informações, conhecimentos, interesses e esforços em busca
de objetivos comuns. A formação das redes reflete um processo de fortalecimento
da Sociedade Civil, em um contexto de maior participação democrática e
mobilização social.

4.1 COMPREENDENDO A REDE DE ATENDIMENTO


A rede de atenção à pessoa idosa é composta por serviços de saúde, nos
vários níveis de complexidade, que integram a rede do Sistema Único de Saúde
(SUS), com foco na manutenção e recuperação da capacidade funcional da pessoa
idosa e na melhoria de sua qualidade de vida.

Com relação à Assistência Social, a rede de atenção inicia-se com o


atendimento apresentado pela Lei Organiza da Assistência Social (LOAS) e o
Benefício Assistencial de Prestação Continuada (BPC), destinado a idosos com 65
anos ou mais.

O benefício é destinado a idosos que não têm direito à previdência social


(aposentadoria) e não têm condições de trabalhar e levar uma vida independente
na qual a renda familiar deve ser inferior a 1/4 do salário mínimo.
123
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

Esse benefício de assistência social, é de um salário mínimo federal


por mês, na forma de benefício de prestação continuada. Tem previsão para
reavaliação a cada dois anos para avaliação da continuidade das condições que
lhe deram origem.

Com a publicação do Decreto nº 8.805/2016, a inscrição no Cadastro


Único de Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) passou a ser
requisito obrigatório para a concessão do benefício. O cadastramento deve ser
realizado antes da apresentação de requerimento à unidade do INSS para a
concessão do benefício.

NOTA

A renda familiar por pessoa é a soma total da renda de toda a família, dividida
pelo número de membros que fazem parte do núcleo familiar, vivendo na mesma casa.
Quais pessoas da família que podemos colocar nesta conta? Somente as pessoas que
vivem no mesmo teto.

Para que uma política seja eficiente na prevenção à violência, é necessário


identificar o fluxo a ser percorrido a partir da entrada em algum serviço e a
articulação destas, em rede, de forma a garantir a atenção integral e evitar a
vitimização das pessoas em situação de violência (SILVA, 2009).

O reconhecimento das finalidades e potencial de atuação de cada um


dos serviços é fundamental para que essa articulação seja valorizada e haja
mobilização dos profissionais em busca de sua efetivação.

QUADRO 1 – RELAÇÃO DOS SERVIÇOS E FUNÇÃO NA REDE INTERSETORIAL DE ATENÇÃO A


PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA

É uma unidade de base municipal, localizado em


áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco
social. Destina-se à prestação de serviços e programas
CENTROS DE
de proteção básica às famílias e aos indivíduos,
REFERÊNCIA DE
à articulação desses serviços no seu território de
ASSISTÊNCIA
abrangência e à ação intersetorial, na perspectiva de
SOCIAL (CRAS)
potencializar a proteção social fortalecendo a função
protetiva das famílias e os vínculos familiares
desenvolvidas dentro do Programa de Atenção
Integral às Famílias.

124
TÓPICO 1 | MOVIMENTO SOCIAL, A LUTA PELA CIDADANIA

Proteção social especial deve priorizar a


reestruturação dos serviços de abrigamento dos
indivíduos que, por uma série de fatores, não contam
mais com a proteção e o cuidado de suas famílias. É a
modalidade de atendimento assistencial destina­da a
famílias e indivíduos que se encontram em situação
de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono,
CENTRO DE
maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual,
REFERÊNCIA
uso de substâncias psicoativas, cumprimento de
ESPECIALIZADO
medidas socioeducativas, situação de rua, situação
DE ASSISTÊNCIA
de trabalho infantil, entre outras.
SOCIAL (CREAS)
O CREAS tem o Serviço de Proteção e Atendimento
Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI) que
faz o acompanhamen­to psicossocial a famílias e
indivíduos de forma sistemática visando a promoção
de direitos e o fortalecimento dos vínculos familiares,
buscando o rompimento das situações de violações
de direitos.

Responsável pelo policiamento ostensivo e prestação


POLÍCIA MILITAR
de serviços à comunidade. Atendem em geral
situações de emergên­cia, conflitos e violência.

Uma das principais portas de entrada para o


atendimento das vítimas de violência. Muitas
DELEGACIA DE atendem 24h realizando o traba­lho investigativo
POLÍCIA e o registro dos crimes de violência. Podem ser
especializadas na atenção a mulher, crianças,
adolescentes e idosos ou não quando atenderem a
população em geral.

Geralmente vinculado à Segurança Pública, realiza


os exames de corpo de delito para comprovar a
INSTITUTO MÉDICO
ocorrência e o tipo de lesões sofridas inclusive no
LEGAL (IML)
caso de morte da vítima. O laudo do IML é elemento
judicial para comprovação da prática de violência
ocorrida.

125
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

Instituição essencial à defesa da ordem jurídica,


do regime democrático e dos interesses sociais e
MINISTÉRIO individuais. É responsá­vel pela fiscalização do
PÚBLICO cumprimento da lei e da instauração de ação penal
pública podendo requisitar diligências investiga­
tórias e a instauração de inquérito policial entre
outras funções.

DEFENSORIA Órgão público que garante gratuitamente aos


PÚBLICA necessitados e as pessoas de baixa renda orientação
jurídica, defesa e acesso a justiça.

Juizados Especiais de Violência Doméstica e


Familiar Contra as Mulheres, criados a partir da Lei
PODER JUDICIÁRIO Maria da Penha. Instituição que em última instância
resolverá conflitos relacionados à violência seja em
processo penal contra o agressor, seja em processos
de família, com separação, divórcio etc.

Locais destinados a abrigar temporariamente


mulheres e seus filhos em situação de violência
desenvolvendo programas de atenção enquanto
perdurar risco à vida. Em geral são instituições
CASAS ABRIGO públicas, geralmente ligadas à Secretaria de
Assistência Social, que se articulam com outros
serviços e programas como geração de renda,
habitação. Mantêm sigilo do seu ende­reço para a
segurança das mulheres e crianças evitando o acesso
do agressor ao local

Em geral são centros de atenção a mulheres em


CENTROS DE situação de violência vinculados a órgãos públicos
REFERÊNCIA governamentais. Pres­tam orientação e serviços
multidisciplinares como assistência social, jurídica,
psicológica.

126
TÓPICO 1 | MOVIMENTO SOCIAL, A LUTA PELA CIDADANIA

A sociedade civil também deve compor a rede


intersetorial. Essa participação pode se dar por
meio dos Conselhos de Di­reitos das Mulheres, da
Criança e Adolescente, do Idoso presentes em todos
SOCIEDADE CIVIL os estados da federação, no Distrito Federal e na
ORGANIZA maioria dos municípios brasileiros. Os Conselhos são
órgãos paritários com representação do governo e da
sociedade civil organizada e desempenham papel
importante no processo de formulação, deliberação,
acompanhamento e avaliação de políticas voltadas
para esse público

FONTE: Adaptado de Delzivo (2018)

Como foi possível observar, a rede de atendimento é bastante ampla,


envolve a intersetorialização, já que todos são corresponsáveis.

Percebe-se também que, por vezes, a violência contra os idosos é


renomeada como a naturalização do ato, bem como a possibilidade de justificar
a ação, na qual a denúncia não é formalizada, e, portanto, não entra na análise
estatística da situação, porém, ela aconteceu.

A violência apresenta características parecidas e o atendimento é prestado


por equipes multidisciplinares e intersetoriais nas Políticas Públicas de Saúde e
Assistência Social:

FIGURA 1 – ESTRUTURAS DE UMA REDE ASSISTENCIAL À PESSOA IDOSA

FONTE: Freitas e Moraes (2008, p. 302)

127
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

Essa imagem mostra que os idosos recebem atendimento intersetorial


na saúde e, na assistência social, sendo que o trabalho é complementar, o
desenvolvimento das políticas públicas visa o bem estar dos idosos, pois entende-
se que ele é um cidadão de direitos e portanto precisa ser assistindo em sua
integralidade.

Outra situação bem evidente nas situações de violência é que a situação


pode ser isolada ou repetitiva e ela pode evoluir. Por essa razão, a Comissão do
Direito do Idoso da OAB/SC desenvolveu o VIOLENTÔMETRO. Um instrumento
que auxilia os idosos e a sociedade a perceber que pequenas ações cotidianas,
podem ser sim atitudes violentas.

FIGURA 2 – VIOLENTÔMETRO

FONTE: <https://cdn.ocp.news/2018/08/cats-3.jpg>. Acesso em: 29 abr. 2020.

128
TÓPICO 1 | MOVIMENTO SOCIAL, A LUTA PELA CIDADANIA

Esse ciclo inicia com ações de desrespeito como piadas ofensivas, vai
seguindo um fluxo e as ações tendem a se intensificarem, surgem palavras de
baixo calão, empurrões e seguem para violência física que podem resultar até a
morte do idoso, o ciclo é subdivido em três fases:

• Primeira: nesta fase, o idoso precisa prestar atenção, pois a violência pode
aumentar.
• Segunda: aqui, apresenta a importância de o idoso reagir frente às situações
que vivência.
• Terceira: esta fase apresenta a necessidade de solicitar o apoio profissional e
fazer a denúncia.

FIGURA 3 – CICLO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

FONTE: <https://apav.pt/vd/images/vd_img/ciclo_vd_sjygh332654sg.png>. Acesso em: 29 abr.


2020.

Essa situação de violência doméstica acontece com os idosos, mas também


tende a acontecer entre casais outros membros da família. Portanto, ninguém está
longe de sofrer alguma violação ou já passou por uma situação de violência. Ser
violentado psicologicamente, fisicamente, financeiramente ou sexualmente traz
reflexos em todas as fases da vida. E a violência, do contrário ao que se imagina,
não é praticada apenas por desconhecidos, as estatísticas mostram que a violência
contra idosos, em sua composição, tende a ocorrer por pessoas próximas ou
mesmo de seu convívio, inclusive com vínculos parentais.

129
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

De acordo com Minayo (2005), normalmente os agressores vivem na casa


com a vítima, são filhos dependentes do idoso e idoso dependente dos familiares,
filhos ou idosos que abusam no uso de álcool e drogas, pertencem a famílias
pouco afetivas e, ao longo da vida, isoladas socialmente. Toda ação violenta deve
ser denunciada, por isso, as pessoas podem contar com linhas diretas de denúncia:

FIGURA 4 – LINHAS DIRETAS DE DENÚNCIA

FONTE: <https://bityli.com/2f3fx>; <https://bityli.com/CzD4x>; <https://bityli.com/54bNo>.


Acesso em: 22 maio 2020

A VIOLÊNCIA NO OLHAR DOS IDOSOS

Os participantes relataram suas percepções e entendimentos acerca da


violência, de acordo com suas vivências. Dentre as formas de violência que
apareceram explicitamente e im plicitamente, estão a psicológica e a financeira.

P1 e P2 contaram que têm duas filhas e que a vivência familiar gerava


sofrimento, causadora de violência psicológica. Mesmo tentando minimizar
tais relações hostis, revelaram impotência, devido às inimizades entre as filhas,
ausência, separação e pouco dinheiro de uma delas:

“Alguma coisinha já me deixou chateada, mas nunca levei a sério.


Minhas filhas nunca me responderam, sempre me respeitaram muito [...].
Sinto falta dela. A filha ficou viúva e com poucos recursos financeiros, porque
seu falecido marido gastava com festas, bebedeiras, com carro. E agora ela
acabou ficando sem nada. Tem só a casa e o marido nunca pagou INSS. Não
tem pensão e ela não se dá bem com a irmã [...]. Nem sempre podemos ligar,
porque tudo é muito caro” (P1).

“Moramos no porão de uma das filhas e a maior alegria seria ter as


duas perto, convivendo harmonicamente, [mas estou] vivendo e lutando para
ter minhas filhas aqui” (P2).

A violência contra a pessoa idosa se apresenta como um problema


social, econômico, cultural, de saúde e familiar. Para Minayo  existem três
grandes preconceitos geradores de violência contra idosos: a doença, a
decadência e a compreensão de sua condição como problema. “Na verdade,
esses três mitos negativos estão imbricados e potencializam a violência”. Para

130
TÓPICO 1 | MOVIMENTO SOCIAL, A LUTA PELA CIDADANIA

Beauvoir, considerar a pessoa idosa como inativa e passiva, principalmente


privada da liberdade, é uma forma de violência.

Existem várias formas de agressão à pessoa idosa, sendo as mais


frequentes as violências física, financeira, psicológica, sexual, de negligência
e abandono, com destaque à agressão psicológica, pois ocasiona insegurança
e medo ao idoso. Saidel e Campos  descrevem o sofrimento psíquico de
longo prazo “como uma condição crônica”, seguido de desgaste, cansaço
e intolerância. Uma existência marcada diariamente por tais conflitos
envolve o viver e o envelhecer da pessoa idosa num todo, enquanto corpo,
comunidade e ambiente e nas dimensões biológica, social, psíquica e
espiritual, com suas multidimensionalidades. Assim, P4 concebe a violência
de forma extrema. Afirma que nunca foi vítima, mas menciona e se posiciona
em relação ao dinheiro:

“Não gosto de violência, nem ouvir falar sobre, eu não consigo dormir
quando penso isso. Violência para mim é matar, roubar, bater. Diz que seu
marido a respeita e, nem quando ele ficava bêbado, ele nunca falou nada.
[Mas] sobre meu dinheiro, às vezes eles me pedem (os filhos), e eu dou, mas
porque eu quero, nunca me obrigaram a dar dinheiro para eles” (P4).

Nessa mesma perspectiva, a participante P5 afirmou que nunca sofreu


violência. Teve seis filhos, dos quais um já é falecido. Conta que reside há
cinco anos com um deles e a nora (fez uma pausa). Entretanto, revelou que nos
primeiros tempos, quando o casal tinha um bebê pequeno, a nora não deixava
pegá-lo no colo. Somente quando seu filho chegava do trabalho, “ele pegava a
nenê e colocava no meu colo; ela não me dava, mas agora ela melhorou, mas
ela faz chimarrão, ela não me oferece se o seu marido não está presente” (P5).

Essa mesma entrevistada contou ainda que sua nora não permitia que
ela preparasse as refeições e “ela não me deixava fazer nada”. Mas agora,
recentemente, consegue cozinhar e lavar sua própria roupa, menos a “roupa
de cama, daí sim, é eles que me lavam”. Essa mudança de comportamento
da nora e do seu filho ocorreu depois que a “assistente social do CRAS fez
uma reunião com eles”. A idosa acreditava que a melhora se deu em razão
da “assistente social ter conversado e dito que é dali até aqui”. A profissional
ajudou a estabelecer um entendimento sobre o que parecia se configurar como
exploração. No relato da idosa, o dinheiro que ela oferecia, ela dava “de bom
gosto para eles [...]. Dou 500 reais para comprar comida, o resto eu gasto muito
em médico e remédio. Ela (nora) nunca me julgou por eu não fazer as coisas, ela
deixa tudo pronto na pia e eu boto para cozinhar. Mas ela mudou muito” (P5).

Tavares et al. descrevem que muitas dessas relações não se estabelecem


de forma pacífica e harmoniosa, “como o caso de idosos aposentados, que são
explorados e sofrem violência ou são abandonados por parte de seus familiares”.
Nesse sentido, entre os principais resultados no estudo, foi constatado que: a)
80% dos idosos eram responsáveis por, no mínimo, metade da renda de suas

131
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

famílias; b) a situação de dependência familiar está relacionada a problemas,


como desemprego, baixa remuneração, gravidez não planejada, divórcio e
outros eventos; c) devido à renda proveniente de sua aposentadoria, assumem
novos papéis em sua família; d) a contribuição para a manutenção material
de suas famílias é considerada uma obrigação para os idosos, como uma
retribuição de gratidão pelos cuidados recebidos.

Com base nos relatos dos participantes, se percebe a inversão de


papéis dos idosos em relação aos seus filhos. Em vez de serem cuidados, são
os idosos que continuam cuidando dos filhos e dos netos. Por isso, os laços
de afeto, amor e cuidado ficam aquém da expectativa dos pais idosos. Para
Mucida, quando a saúde dos idosos requer atenção, ocorre uma inversão
entre cuidador e quem necessita. Uma das causas disso funda-se na ausência
de relacionamentos cordiais e a indiferença entre pais e filhos durante a vida
e a “tendência é que os filhos se ausentem quando o idoso depende deles”.
Nesse sentido, segundo Minayo, na convivência intrafamiliar ocorrem muitos
preconceitos, manifestados em expressões como: “eles são um peso”; “eles são
improdutivos”; “eles são doentes”; “eles gastam muito”; “os recursos para suas
aposentadorias seriam mais bem utilizados se fossem destinados aos jovens”.

Para P6, a violência é um mal. Afirmou, inicialmente, que não dava


dinheiro ao filho, mas que pagava suas contas. Relata que “daí tive que vender
um pedacinho de terra para pagar a conta do filho no banco, [...], se não paga,
é capaz de perder tudo”. O idoso pagou a dívida e o filho não devolveu o
dinheiro. Porém, “hoje, ele não pede dinheiro, eu dou um troquinho para
pagar a água e a luz, já que ele mora comigo. Eu em casa ajudo lavar a roupa,
fazer almoço e cuidar do neto”.

Para Santos-Orlandi et al., no Brasil e em outros países, tornou-se


comum os idosos cuidarem dos netos, devido as dificuldades financeiras dos
seus filhos. Porém, essa prática aparentemente caridosa, vem acompanhada
de sinais depressivos; isolamentos; sofrimentos físicos e psíquicos; alterações
cognitivas; hipertensão arterial; perda de peso; inatividade física; fadiga; baixa
força de preensão palmar; lentidão da marcha, “impactando negativamente
na qualidade de vida do cuidador”. Além do mais, existe o receio dos filhos
que os avós interfiram demasiadamente na educação dos netos. Contudo, essa
dependência financeira é cada vez mais frequente e recorrente. No mesmo
estudo, “a maioria dos cuidadores idosos era do sexo feminino” e pertencia “a
faixa etária de 60 a 69 anos de idade”.

Outro aspecto da violência surgiu na fala de P7. Revelou que seu


marido é alcoólatra e procurou auxílio na assistência social. Tentou convencer
o marido a procurar ajuda em grupo de apoio de alcoólicos, mas não aceitou,
pois “eu não quero que ele morra. Ele é pai de família, nós fizemos de tudo,
[...], estava fora da cabeça. Mas nas minhas orações, [...] consegui tudo, e ele
voltou a ser um pai de família, da noite para o dia”. Com a ajuda profissional,
o marido parou de beber e relata que se “ele tivesse ido aos alcoólicos, ia se

132
TÓPICO 1 | MOVIMENTO SOCIAL, A LUTA PELA CIDADANIA

revoltar comigo e com os filhos”. A participante também é responsável pelo


pagamento das compras mensais para a manutenção da família e o marido
paga a água e a eletricidade e o dinheiro que sobra de ambos é depositado no
banco. Ela tem cinco filhos, mas apenas um, o mais novo, reside com os pais.
Como iria se casar, estavam transferindo a propriedade para o filho, porque
“ele vai cuidar de nós. Estão construindo uma casa perto de nós”.

Nas situações relatadas, percebe-se que o idoso se sente inseguro


e com medo de abandono ou violência. Para Saidel e Campos, “a culpa e a
angústia até o estresse, a agressividade e a tristeza” são situações recorrentes
de violência na vida de familiares idosos. E a situação financeira das famílias,
bem como a transferência das terras de pais para filhos, muitas vezes, não
ocorrem de forma justa, ética e amistosa. Dividir “o mesmo teto que o pai”
e assumir “o posto após [...] o esgotamento da força física dos pais, [pois] os
mesmos vão cedendo o lugar para os filhos tomar conta do estabelecimento”,
requer adaptação e resiliência e pode ser frustrante, “criando conflitos de
difícil solução na transmissão patrimonial”.

O estudo de Honnef et al. com 16 idosos rurais de dois municípios,


do Rio Grande do Sul, por meio de entrevistas, demonstrou que a violência
doméstica é uma representação social complexa, com relações desiguais entre
homens e mulheres, efetuadas pela “divisão sexual do trabalho, violência física
e psicológica contra as mulheres, como forma de manutenção do domínio
masculino sobre estas”. Além do mais, evidencia-se que muitos idosos se
sentem abandonados e seus recursos financeiros são utilizados pelos filhos.

O processo de envelhecimento transforma o cotidiano, os laços


familiares e o futuro dos idosos. Nas novas configurações familiares podem
ocorrer, implicitamente, formas sutis de indiferença e desrespeito. É o caso de
P1 e P2, que residiam num sítio e não pretendiam ter saído dali. A filha mais
nova propôs “assumir” os pais, mas retirou-os do seu domicílio. P1 revelou
que agora, os filhos, de forma geral, “não dão muita atenção para os pais, pois
não falamos bonito, somos simples e tudo isso gera uma violência. E leva tudo
na brincadeira, não ligo mais, entra por uma orelha e sai pela outra. Se eu ficar
guardando tudo, vou acabar sofrendo muito mais”.

O estudo de Guedes et al. demonstrou que a relação entre gênero, idade


e condições sociais são fatores determinantes de experiência de violência física
e psicológica com idosos, praticadas principalmente por familiares. Assim, de
acordo com Minayo, uma das causas de maior incidência de violência contra
idosos é que 90% deles convivem no ambiente familiar.

Convém ressaltar, que a violência intrafamiliar envolvendo a pessoa


idosa é uma problemática recorrente, oculta e silenciosa. Por isso, requer
mais estudos e ampliação da amostra com idosos rurais para compreendê-
la sistematicamente e propor alternativas para superá-la, em âmbito familiar,
social e institucional.

133
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

CONCLUSÃO

Os resultados da pesquisa demonstraram que os idosos conceberam o


processo do seu envelhecimento na convivência intrafamiliar como positiva,
recompensadora, com possibilidade de brincar com os netos e participar dos
grupos de convivência, como uma forma de inserção social e sociabilidade
para superar a solidão da ausência dos filhos. Também mencionaram que
tempo, idade, autonomia e independência estão intrinsecamente conectadas
ao contexto histórico e cultural, podendo, de um lado, revelar sentimentos
contraditórios, como medo da solidão, insegurança, fragilidade e dependência
e, de outro, projeção de um envelhecer com mais galhardia e felicidade. Em
relação às vivências na família, relataram que a família é responsável por cuidar,
valorizar e entender o idoso e indicaram também, práticas sutis e implícitas
de violência psicológica, financeira e de abandono, sentindo-se, muitas vezes,
impotentes e envergonhados para tomar iniciativas eficazes, com a finalidade
de restabelecer relações familiares cordiais, éticas e harmoniosas.

A pesquisa permitiu ainda uma aproximação com a problemática


da violência intrafamiliar na visão dos idosos, muitas vezes vítimas das
agressões. Um dos caminhos que os idosos encontram para revelar, desabafar
e encontrar possíveis alternativas do sofrimento experienciado são os grupos
de convivência e acolhimento.
FONTE: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-
98232019000400205&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 29 abr. 2020.

134
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os movimentos sociais surgem como respostas às ações que o Estado


não consegue dar conta sozinho, por isso surgem as organizações não
governamentais, além disso faz uma apresentação do panorama da violência
na sociedade.

• Os movimentos sociais objetivavam alterações institucionais e a valorização da


classe operária que buscavam coletivamente mudanças na estrutura social.

• Os movimentos geram possibilidades de enfrentamento com ações sociopolíticas,


construídas por um movimento coletivo pertencente a diferentes classes.

• Essas organizações sociopolíticas são a organização de pessoas com os mesmos


objetivos, na qual formaram as Organizações Não Governamentais (ONGs).

• O terceiro setor é composto de organizações sem fins lucrativos, criadas e


mantidas pela ênfase na participação voluntária, num âmbito não governamental.

• As Organizações Não Governamentais (ONGs) têm o mesmo caráter dos


movimentos sociais, pois surgem como uma forma de reivindicar algo que o
estado não supre.

• Os movimentos sociais se expandiram mundialmente criando o trabalho em


redes macrorregionais.

• Na teoria organizacional as organizações são consideradas sistemas interligados,


nas quais a formação de redes pode ser denominada como parte de um sistema
organizacional exclusivo.

• As redes podem ser identificadas com um processo de mobilização que surgem


como uma necessidade de aprimorar e minimizar questões sociais, auxiliando a
gestão administrativa na satisfação das necessidades individuais e coletivas da
sociedade.

• As redes necessitam ser estruturadas e com possibilidades de estabelecer


parcerias assim fortalecendo seu movimento.

• A rede de atenção à pessoa idosa é composta por serviços de saúde, nos vários
níveis de complexidade, que integram a rede do Sistema Único de Saúde (SUS)
e o Sistema Único de Assistência Social SUAS.

135
• Para que uma política seja eficiente na prevenção à violência, é necessário
identificar o fluxo a ser percorrido a partir da entrada em algum serviço e a
articulação destas, em rede, de forma a garantir a atenção integral e evitar a
vitimização das pessoas em situação de violência.

• O reconhecimento das finalidades e potenciais de atuação de cada um


dos serviços é fundamental para que essa articulação seja valorizada e haja
mobilização dos profissionais em busca de sua efetivação.

• A violência contra o idoso pode aparecer de forma isolada ou repetitiva e


esta pode evoluir, por essa razão a Comissão do Direito do Idoso da OAB/SC
desenvolveu o VIOLENTÔMETRO. Um instrumento que auxilia os idosos e a
sociedade a perceber que pequenas ações cotidianas, podem ser sim atitudes
violentas.

• A violência geralmente evolui com ações de desrespeito como piadas ofensivas,


vai seguindo um fluxo e as ações tende a se intensificarem, surgem palavras de
baixo calão, empurrões e seguem para violência física que pode resultar até a
morte do idoso, o ciclo é subdivido em três fases: aumento da tenção, ataque
violento e lua de mel.

• A violência pode ser denunciada e está pode ser minimizada e superada


quando atendida de forma adequada.

136
AUTOATIVIDADE

1 Diante do cenário de violência, é imprescindível que as pessoas conheçam


o processo de denúncia e atuação frente à situação. Nesse contexto, estamos
propondo a você, acadêmico, que pesquise como é feito o atendimento da
violência em sua cidade.

a) Quando a pessoa sofre uma violência, a partir de quais Políticas Públicas


ela é acolhida?
b) Quais os serviços disponíveis em sua cidade?
c) Existe um setor de referência?
d) O atendimento tem continuidade?

2 Identifique os caminhos possíveis para realizar a denúncia caso a pessoa


não queira se identificar.

137
138
UNIDADE 3
TÓPICO 2

O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, neste tópico, teremos a oportunidade de reconhecer a
diversidade de situações nas quais os idosos podem vivenciar, tanto em ambientes
familiares, como comunitários. Como já mencionado, quando não existem
situações de risco social ou a necessidade de cuidado em saúde, a adaptação ao
envelhecimento tende a acontecer de forma menos traumática e mais adaptativa.

Por outro lado, além do previsível comprometimento da saúde da


população idosa, no âmbito social, destaca-se a violência, não como um fenômeno
novo, pois tem sido vastamente registrado na história da humanidade, mas
como fato crescente na sociedade atual. Discorrer sobre a violência é uma tarefa
difícil e complexa, pois se trata de um fenômeno com origem na estrutura social,
portanto, de ordem econômica, política e individual na dimensão subjetiva,
além de envolver relações múltiplas, exigir ações específicas e generalizadas
para enfrentar situações de negligencia e/ou omissão realizadas por indivíduos,
famílias, grupos, classes e até por nações inteiras, capazes de produzir diversos
tipos de danos físicos, emocionais e morais (DELZIOVO, 2018).

A complexidade e a abrangência do tema da violência contra o idoso


devem incluir a percepção dos sujeitos envolvidos, sejam eles as próprias vítimas
ou os responsáveis pelo cuidado direto no âmbito das políticas públicas e dos
serviços da saúde ou da assistência social. O processo histórico apresentado,
como políticas de Estado, apresenta uma relativa influência no cuidado ao idoso
vítima de violência, de forma diferenciada nos municípios brasileiros.

A violência pode se apresentar de várias formas, e esta pode ocorrer até


mesmo com o consentimento dos próprios idosos, que, por medo de represálias,
deixam de denunciar as situações de violência as quais são submetidos.

2 CONTEXTUALIZANDO O ENVELHECIMENTO NO MUNDO


Observa-se que, aos olhos da sociedade, o envelhecimento vem sendo
apresentado cada vez mais tarde, o que comprova essa situação do envelhecimento
populacional ser um fenômeno global. Essa situação evidencia-se ainda mais nos
países desenvolvidos na qual observa-se aumento da expectativa de vida e a
decrescente fecundidade.
139
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

Essa inversão da pirâmide, com o aumento de idosos e a diminuição de


crianças e adolescentes representa a transformação da pirâmide na qual sua base
de sustentação, assume o topo, na qual evidencia a necessidade de formulação de
políticas públicas destinadas ao atendimento de idosos, por ser um público em
ascensão.

Muitos desses avanços em relação a longevidade se devem às novas


tecnologias na saúde e no processo de prevenção e promoção da saúde,
abandonando a ideia de saúde como ausência de doença. O cuidado com a
alimentação é considerado um dos principais fatores responsáveis pelo aumento
da expectativa de vida da população. Fato esse evidenciado por estatísticas da
Organização das Nações Unidas (ONU), na qual o número de idosos em menos
de três décadas duplicou.

Essas transformações evidenciam que o número de nascimentos diminuiu


nas famílias, e que a possibilidade de ter pelo menos uma pessoa idosa no ambiente
familiar é cada vez mais comum, diante dessa transformação social, mudando
também as dinâmicas e as organizações familiares, que por vezes podem ser uma
transição não muito fácil, já que envolve adaptações das duas partes, se não três,
quando analisamos o contexto social e as mudanças no mercado de trabalho.

O número global de pessoas idosas com 60 ou mais anos de idade está


sendo projetado para aumentar de 962 milhões em 2017 para 1,4 bilhão em 2030
e 2,1 bilhões em 2050, quando todas as regiões do mundo, exceto a África, terão
quase um quarto ou mais de suas populações com 60 anos de idade ou mais.

3 CONTEXTUALIZANDO O CENÁRIO DOS IDOSOS


A violência contra os idosos não é assunto novo, porém, é reservado e, por
vezes, invisível na sociedade. A violência inicialmente era tida como um processo
natural pelo simples fato de envelhecer, acarretando uma série de situações
novas para a família devido à idade e suas consequências. Atualmente, essas
consequências naturais são menos compreendidas e toleradas gerando conflitos
que muitas vezes por se concretizar em manifestações de violência (MINAYO,
2005).

A violência contra idosos é um fenômeno de notificação recente no mundo


e no Brasil. Entretanto, a vitimização desse grupo é um problema cultural secular.
No momento em que vivemos, a quantidade crescente de idosos oferece um clima
de publicação e de politização das informações sobre os maus tratos de que são
vítimas tornando este problema uma prioridade na pauta de questões sociais e de
saúde (MINAYO, 2005).

140
TÓPICO 2 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO

GRÁFICO 1 – EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER, BRASIL (1900-2025)

FONTE: <https://bit.ly/31mR9iN>. Acesso em: 29 abr. 2020.

Como podemos perceber, as pessoas passaram a viver mais, por isso elas
também acabam sendo mais expostas às situações sociais e à própria violência.
Em 1900, as pessoas eram consideradas velhas antes de atingir 50 anos, pois sua
expectativa de vida era baixa — em função dos conflitos armados e das mortes
ocorridas na juventude que favoreciam a baixa expectativa de vida.

No entanto, percebe-se que, em um século, a expectativa de vida das


pessoas aumentou em mais que o dobro passando de 34,5 em 1920 para 75,3 em
2025, sem considerar que as mulheres ainda têm uma expectativa de vida de mais
dois anos se comparada com a expetativa de vida dos homens. Essas mudanças
tendem a ser evidenciadas quando se analisa a pirâmide etária:

141
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

GRÁFICO 2 – PIRÂMIDE ETÁRIA

FONTE: <http://anakarkow.pbworks.com/w/file/fetch/98620316/2014_Alves_Transicao%20
demografica%20transicao%20da.pdf>. Acesso em: 14 fev. 2020.

A análise das pirâmides populacionais nos apresenta, em seu lado


esquerdo, a expectativa de vida dos homens e, do seu lado direito, a expectativa
de vida das mulheres, que, por si só, seria suficiente para mostrar o processo de
envelhecimento da estrutura etária brasileira.

4 RECONHECENDO O ESPAÇO DOS IDOSOS


Quando se fala em reconhecimento dos espaços dos idosos, estamos
falando também do reconhecimento do seu território, por isso, é necessário
saber a composição dos habitantes de sua cidade. Por isso, trazemos, para seu
conhecimento, uma situação hipotética em uma cidade de pequeno porte.

142
TÓPICO 2 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO

TABELA 1 – EXEMPLO DE UMA CIDADE DE PEQUENO PORTE

MULHERES HOMENS TOTAL

0-12 anos 935 973 198

12-20 anos 901 847 1748

21-59 anos 3538 3843 7381

Acima de 60
1054 1011 2065
anos

Total 6428 6674 13102

FONTE: As autoras

A tabela nos mostra que os habitantes já apresentam uma realidade de


envelhecimento, na qual o número de crianças de 0 a 12 anos (14,56%) e de jovens
entre 12 a 20 anos (13,34%) é inferior à porcentagem de idosos com mais de 60
anos de idade (15,76%).

E
IMPORTANT

Como fazer para descobrir a porcentagem do número de habitantes por faixa


etária? É simples:
% HABITANTES % HABITANTES
100 13102 100 13102
X 1908 X 2065

13102X = 1908*100 13102X = 2065*100


13102 X = 190.800 13102 X = 206.500
X 190.800 X 206.500
13102 13102
X = 14,56 % (0 a 12 anos) X = 17,76% de idosos

143
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

Dentro desse cenário, faz-se necessário uma análise em relação aos lares
brasileiros, causando muitas transformações, mostrando uma realidade adversa
quando compreende-se que existem mais “avós do que netos”. As políticas públicas
tinham como base a preocupação com os nascimentos e os crescimentos, hoje, essa
lógica se inverte com a preocupação em relação ao crescente número de idosos.

Entende-se que o ano de 2019 representa um marco no envelhecimento


populacional mundial, identifica-se, pela primeira vez na história, que o número
de pessoas idosas com 65 anos ou mais superou o número de crianças de 0 a 4
anos. Essa métrica nos apresenta uma realidade de estagnação em relação ao índice
de nascimentos e uma ascensão em relação ao número de pessoas que chegam ao
envelhecimento, pois a população de 0 a 5 anos de idade ficará aproximadamente
estável, em torno de 650 a 700 milhões de crianças, enquanto a população de 65
anos ou mais passará de 700 milhões. Em 2019, estima-se que esse número cresça
para 2 bilhões de pessoas em 2075 e para 2,5 bilhões em 2100, conforme mostra o
gráfico a seguir, com base nos dados demográficos da Divisão de População da
ONU. Atualmente, o número de idosos é superior ao número de crianças de 0 a 4
anos de idade e, em 2075, o número de idosos ultrapassará o número de crianças e
jovens de 0 a 14 anos.

GRÁFICO 3 – POPULAÇÃO DE IDOSOS, CRIANÇAS E JOVENS: 1950-2100

FONTE: <https://bityli.com/ZOdRV>. Acesso em: 11 mar. 2020.

Com relação ao cenário nacional, percebe-se que a realidade brasileira


sobre o envelhecimento identifica a superação do número de idosos com mais
de 65 anos se comparado ao número de crianças de 0 a 4 anos, conforme analise
realizada até o ano de 2013, essa análise também aponta que em 2037 o numero de
idosos também será maior do que o número de crianças e adolescentes até 14 anos.

144
TÓPICO 2 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO

GRÁFICO 4 – POPULAÇÃO DE IDOSOS, CRIANÇAS E JOVENS, BRASIL: 1950-2100

FONTE: <https://bityli.com/mjsxV>. Acesso em: 29 abr. 2020.

Essa situação do envelhecimento já é uma realidade. Observa-se que as


políticas públicas estão se mobilizando para implementar novas estratégias de
atendimento, porém, percebe-se, também, que os choques intergeracionais estão
causando conflito e interesse entre as gerações que, por vezes, podem culminar
em situações de violência. Aliás, esse item será melhor discutido a seguir.

5 COMPREENDENDO O FENÔMENO DA VIOLÊNCIA


CONTRA O IDOSO
No contexto das políticas públicas não é raro o Estado se voltar para temas
emergentes tendo como motivação um problema social que cause comoção ou
implique em danos de repercussão grave. Este parece ser o caso do envelhecimento
da população brasileira associado ao aumento da violência contra os idosos
(SARAIVA; COUTINHO, 2012). Entretanto, a violência contra os idosos não é
um fenômeno exclusivamente brasileiro, apresentando característica universal
sendo encontrados relatos na literatura de outros países de etnias, religiões e
raças muito diversas.

A Organização Mundial da Saúde define violência como: o uso intencional


da força física da coerção, ameaça contra si próprio, contra outra pessoa, que
possam resultar em lesão, dano psicológico, privação e até em morte (BRASIL,
2006).

145
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

A violência contra a pessoa idosa acompanha as mudanças nas


organizações familiares, nas quais os idosos são vítimas de um sistema de
desigualdades socioeconômicas ou de normas socioculturais que legitimem o uso
da violência, como forma de cuidado ou educação a partir da força.

Nesse contexto, a saúde pública preconiza uma abordagem específica


baseada na necessidade de conhecer os processos e as consequências da violência
nos níveis local, nacional e internacional, a partir dos riscos e fatores relacionados
à violência, e às possíveis estratégias de enfrentamento. Uma de suas premissas
é desenvolver ações efetivas de prevenção, desmistificando a violência tida como
um fenômeno natural, compreendendo que a violência é um comportamento
violento e suas consequências podem ser evitadas (BRASIL, 2006).

A violência contra o idoso pode ser explicada através de diferentes


abordagens teóricas que visam oferecer subsídios para a sua compreensão e
enfrentamento. Dessa forma, merecem destaque:

• Teoria situacional: identifica o ambiente propício à ocorrência de violência


quando o cuidador está sobrecarregado de atividades de forma recorrente e
contínua.
• Teoria de trocas: vincula a violência com a relação estabelecida pelo idoso com
o agressor através do tempo, na própria dinâmica familiar.
• Teoria de aprendizado social: identifica o abuso como um comportamento
aprendido na vivência.
• Teoria econômico-política: enfatiza a perda do papel social do idoso por tornar-
se dependente das pessoas próximas.
• Teoria da psicopatia: propõe a possibilidade de o cuidador sofrer de distúrbio
mental (PAIXÃO JUNIOR; ROCHA, 2011).

Em que pese a contribuição da construção teórica para a compreensão da


violência e do abuso contra idosos, cabe destacar a possibilidade de poder haver
uma sobreposição de situações como determinantes desse comportamento.

A literatura científica apresenta propostas para a tipificação dos casos


de maus-tratos a idosos, podendo ser considerados os maus-tratos físicos,
psicológicos, abuso financeiro ou material, abuso sexual, negligência ou
abandono. Essa tipificação é importante para que se tomem medidas preventivas
e de monitoramento orientando a legislação tendo em vista que alguns tipos de
abuso ou violência geralmente não chegam aos serviços de saúde, permanecendo
neutralizadas nas relações familiares, sendo importante que os profissionais
estejam preparados para o seu reconhecimento (DE SOUSA et al., 2010).

Devido a esse caráter universal, desde 1996, a resolução da World Health


Assembly declara a violência como um dos principais problemas de saúde
pública. Diante disso, foi solicitado à Organização Mundial da Saúde (OMS) que
desenvolvesse estratégias de atendimento baseadas nas tipologias de violência
para tentar compreender os seus padrões de ocorrência mais comuns no mundo,

146
TÓPICO 2 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO

e as mais comuns no cotidiano das pessoas, em especial das pessoas idosas


(COELHO; SILVA; LINDNER, 2018). A OMS trabalha com a tipologia da violência
ao idoso em três grandes categorias:

• A violência dirigida a si mesmo (autoinfligida): ocorre quando a pessoa apresenta


comportamento suicida e ou autoabuso a qual envolve a automutilação.
• A violência interpessoal: envolve um determinado grupo, que pode ou não
apresentar laços de parentesco, bem como sua ocorrência pode ser em ambiente
interno e externo ao núcleo familiar
• A violência coletiva: é subdividida em violência social, política e econômica. A
violência coletiva está relacionada a um contexto social e inclui, por exemplo,
crimes de ódio cometidos por grupos organizados, atos terroristas e violência
de multidões. A violência política inclui guerras e conflitos de violência
pertinentes à violência do Estado e atos semelhantes realizados por grupos
maiores. A violência econômica inclui ataques de grupos maiores motivados
pelo ganho econômico, tais como ataques realizados visando a interromper a
atividade econômica, negar acesso a serviços essenciais ou criar segmentações
e fragmentações econômicas (BRASIL, 2006).

Foram desenvolvidos alguns estudos epidemiológicos, nos quais


trabalham-se o conceito de violência que inclui causas externas, constituindo
categorização estabelecida pela Organização Mundial de Saúde, que se refere aos
resultados das agressões e dos acidentes, dos traumas e das lesões. No entanto,
o conceito de violência aparece de maneira mais ampla, sendo um processo
pertencente às relações sociais interpessoais, de grupos, de classes, de gênero,
objetivadas em instituições, quando empregam diferentes formas, métodos e
meios de aniquilamento de outrem, ou de sua coação direta ou indireta, causando-
lhes danos físicos, mentais e morais (BRASIL, 2005).

Nessa mesma linha o maltrato ao idoso é um ato que pode ocorrer de


forma única ou repetida, ou mesmo a partir da omissão. Esse processo representa
uma quebra de expectativa de confiança (MINAYO, 2005).

Na América Latina, o primeiro estudo observado envolvendo violência


por maus-tratos e negligência contra os idosos, ocorreu na Argentina em 1989,
mas a preocupação com os estudos de violência contra o idoso começa a surgir
com mais frequência no final da década de 1990 (MINAYO, 2013).

Não foram encontrados estudos de abrangência nacional, publicados


no Brasil, sobre a incidência e prevalência de violência contra os idosos. Estudo
revela a existência de trabalhos realizados em âmbito regional que destacam os
seguintes fatores de risco para violência doméstica contra idosos: histórico de
violência familiar, psicopatologia do cuidador (associados ou não ao consumo de
álcool e de drogas), incapacidade funcional do idoso, estresse causado pelo ato de
cuidar, por questões financeiras ou físicas e emocionais, autopercepção de saúde
e o isolamento social do agressor (NJAINE, 2013).

147
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

Outro ponto identificado são os conflitos entre os membros da família que


podem contribuir para o adoecimento dos mesmos, em especial do idoso, que
aos poucos vai deixando de executar seu papel dentro do próprio lar, levando
a uma relação disfuncional, na qual há ausência de comprometimento de seus
familiares em oferecer-lhes um ambiente saudável e tornando-o vítima de maus
tratos (NJAINE, 2013).

Esses estudos identificaram que os idosos vítimas de violência apresen-


tam sentimentos de desamparo, alienação, culpa, vergonha, medo, ansiedade, ne-
gatividade e isolamento social, estes tendem a desenvolver um processo de ado-
ecimento sintomas como transtornos de estresse pós-traumático, alta frequência
de distúrbios de memória, sono e problemas de concentração, comportamento
agressivo e ideação suicida, associados ao risco de mortalidade (NJAINE, 2013).

No Brasil, pesquisa realizada em Recife, durante 36 meses, foram


registrados 1.027 casos de maus-tratos físicos contra pessoas idosas, uma média
de 21,4 casos por mês. Em quase todos os casos, a violência foi produzida
pela energia mecânica, que utiliza mãos, punhos e pés para atingir os idosos.
Domingo foi o dia da semana em que as pessoas mais velhas sofreram mais
abusos, seguido de sábado. A maioria dos casos ocorreu no período da tarde
ou à noite e na casa da vítima (MINAYO, 2013). Essa descrição revela que o lar,
ambiente que deveria conferir maior segurança acabe sendo um espaço propício
para a violência, resguardada pela privacidade. Revela também a situação de
vulnerabilidade física do idoso e que os conflitos tendem a se agravar nos períodos
em que o convívio pode ser relativamente mais prolongado e intensificado como
nos finais de semana.

Estudo revela que a violência no contexto familiar constitui-se de


forma complexa, uma vez que sua dinâmica e os fatores determinantes podem
ser multicausais, assim como estratégias de prevenção eficazes diferem
acentuadamente em função da tipologia da violência vivenciada bem como da
idade da vítima, do cenário em que a violência ocorre e da relação existente entre
a vítima e autor da agressão (NEVES et al., 2013).

Conforme estudo, a violência dentro de um contexto familiar constitui-


se de forma complexa, uma vez que sua dinâmica e os fatores determinantes
podem ser multicausais, assim como estratégias de prevenção eficazes diferem
acentuadamente em função da tipologia da violência vivenciada bem como da
idade da vítima, do cenário em que a violência ocorre, e da relação existente entre
a vítima e autor da agressão (CARVALHO, 2013). O Relatório Mundial sobre
Violência e Saúde (KRUG et al., 2002), publicado pela OMS, destaca as seguintes
tipologias da violência, conforme o Quadro 2.

148
TÓPICO 2 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO

QUADRO 2 – TIPOLOGIA DA VIOLÊNCIA

Tentativas de suicídio, suicídio,


Violência autoinfligida autoflagelação, autopunição,
(autoprovocada) automutilação.

Intrafamiliar e comunitária. A
Violência interpessoal violência comunitária também é
denominada de violência urbana.

Ocorre entre os membros da própria


família, entre pessoas que têm grau
de parentesco, ou entre pessoas que
possuem vínculos afetivos. Também
Violência intrafamiliar denominada de violência doméstica
por alguns teóricos, embora outros
estudiosos desse tema façam uma
distinção entre a violência doméstica
e a violência intrafamiliar.

Presente nos âmbitos sociais, políticos


e econômicos, caracterizada pela
Violência coletiva subjugação/dominação de grupos e
do estado.

Ocorre em diferentes formas onde


há manutenção das desigualdades
sociais, econômicas, culturais, de
Violência estrutural gênero, etárias, étnicas. É a violência
que mantém a miséria de uma
determinada população.

FONTE: Adaptado de Krug et al. (2002)

Além dos tipos de violência, propõe-se uma classificação de sua natureza,


com objetivo de se melhor compreender esses casos (Quadro 3).

149
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

QUADRO 3 – NATUREZA DA VIOLÊNCIA

Há omissão de cuidados adequados e


Negligência primordiais por parte dos responsáveis
legais, familiares ou institucionais.

Ameaça de sua própria saúde ou


Autonegligência segurança, pela recusa de prover cuidados
a si próprio.

Ato moderado: sem uso de armas;


agressões como empurrões, tapas,
beliscões; ato severo: agressões físicas
Violência Física com ou sem armas que causem lesões
temporárias; agressões físicas que
causem lesões, e ou cicatrizes de caráter
permanente, (queimaduras).

A violência psicológica é toda ação


ou omissão que causa ou visa causar
dano à autoestima, à identidade ou ao
desenvolvimento da pessoa que a sofre.
Violência Psicológica
Diz respeito às agressões verbais ou
gestuais com o intuito de amedrontar e
coagir, humilhá-lo, impedir sua liberdade
e privá-lo do convívio social.

Ato sexual homo ou heterorracional, sem


o consentimento da pessoa. Este ato visa
Violência Sexual a excitação, relação sexual ou práticas
eróticas, por meio de ameaças e agressão
física.

Exploração ou uso não consentido dos


recursos financeiros e patrimoniais dos
Violência Financeira idosos. Este tipo de violência é mais
comum no meio familiar.

FONTE: Adaptado de Minayo (2006)

150
TÓPICO 2 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO

Outro aspecto importante é a determinação do perfil da violência contra


idosos, sendo que pelo menos três premissas podem ser consideradas para explicar
esta situação: a demográfica, vinculada ao acelerado envelhecimento populacional;
a socioantropológica, quando a idade cronológica é ressignificada definindo
novos direitos e deveres ou mesmo gerando preconceitos ou discriminação, e a
visão epidemiológica evidenciando indicadores para orientação do sistema de
saúde (DE SOUSA et al., 2010).

No que se refere ao perfil do agressor, no caso brasileiro, prevalece


a violência doméstica com maior frequência para o filho homem, seguido das
noras, genros e esposos. Quanto à vítima, prevalece o sexo feminino com idade
de 75 anos ou mais, viúvas, com história de dependência física ou emocional
residindo com familiares (DE SOUSA et al., 2010).

É importante ressaltar que nos estudos realizados por Minayo (2005)


observou que os idosos mais vulneráveis são os dependentes físicos e os que
apresentam incapacidade de elaboração ou raciocínio mental, apresentando,
ainda, outros agravantes, como esquecimento, confusão mental, incontinência e
dificuldades de locomoção. Meira, Gonçalves e Xavier (2007) acrescentam que as
possíveis causas da violência contra o idoso podem ser identificadas através do
cansaço e estresse do cuidador que apresentam diferentes dinâmicas do cuidar de
um idoso fragilizado, que poderá, eventualmente, influir positivamente ou não
no bem-estar de ambos.

Diversos fatores fazem com que o idoso não denuncie seu agressor, tais
como: segredo familiar, não compreender o evento como agressão, por perceber
este ato como “natural”, cumplicidade, confiança e também pelo autoritarismo
do agressor, situações estas que proporcionam a perpetuação e/ou continuidade
da situação de violência (MINAYO, 2010).

No Brasil, estudos registram um significativo aumento do interesse


acadêmico relativo ao tema da vitimização do idoso, com crescimento de 945%
de trabalhos científicos publicados na última década, tendo continuidade desses
estudos. Essa produção científica demonstra uma boa articulação entre as
pesquisas, as diretrizes do Estatuto do Idoso e as ações públicas e coletivas de
proteção ou de atenção ao idoso no Brasil, entretanto, destaca-se a necessidade de
mais trabalhos que revelem a percepção dos idosos que precisam ser muito mais
escutados e compreendidos nas pesquisas (BARROS et al., 2019).

Pode-se concluir que, no Brasil, registram-se avanços para a compreensão


e o atendimento ao idoso vítima de violência, seja no campo científico ou na
definição de políticas públicas que comprometem o Estado, o cidadão e a família
na solução desse problema. Entretanto, desafios ainda persistem no que se refere
à definição de metodologias e instrumentos capazes de monitorar e avaliar
continuamente este fenômeno, assim como difundir os direitos dos idosos, os
mecanismos de denúncia e fomentar a mudança de cultura numa perspectiva
ética e solidária frente aos casos de abuso e maus tratos ao idoso.

151
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

DICAS

Acadêmico, indicamos o filme Mamãe faz 100 anos.

Sinopse: durante uma reunião para comemorar o aniversário de 100 anos da matriarca da
família, os seus três filos começam a tramar o assassinato da anciã — tudo para colocar as
mãos na gorda recompensa do seguro de vida e da herança da inocente senhora.

FONTE: <http://www.adorocinema.com/fil.mes/filme-39837/>. Acesso em: 22 maio 2020.

FONTE: <https://bityli.com/K5KEm>. Acesso em: 29 abr. 2020.

A integralidade permite desenvolver um olhar mais amplo, dos


profissionais, pensando na prevenção e não apenas na cura, mas oportunizar
ações de cuidado capazes de minimizar ou evitar o processo de adoecimento.

Observa-se que, na atenção primária, o conceito de integralidade ganha


materialidade, recorrem à intersetorialidade como forma de buscar os sujeitos
nas suas experiências de vida cotidiana no território, nas quais a cartografia das
atividades dos sujeitos ajuda à equipe na compreensão do processo micropolítico
em que o cuidado se dá em ato (MERHY, 2016).

152
TÓPICO 2 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO

E
IMPORTANT

RELAÇÃO INTERSETORIAL

FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/40895/>. Acesso em: 22 maio 2020.

Essa articulação representa a importância de trabalhar as situações, de forma


antecipada, ou seja, na promoção a medida que se trabalha a informação e a socialização
a prevenção quando busca-se na informação a possibilidade de mudar situações possíveis,
bem como a importância de trabalhar a tratamento e a reabilitação, dar oportunidade
as pessoas para que possam ser expressar e receber atendimentos adequando frente as
situações impostas, sejam por situações de saúde, cuidados e a própria violência.

O território onde as pessoas residem é capaz de evidenciar potencialidade


para o desenvolvimento de ações individuais e coletivas, revelando-se espaços
capazes de atender a integralidade com é o do Programa Saúde na Escola
(PSE), as Academias da Saúde e a Atenção Domiciliar (BRASIL, 2011), na qual
os profissionais da saúde trabalham junto aos espaços coletivos com ações
direcionados a socialização de informações e o desenvolvimento de atividades
físicas (CARNUT, 2017).

Destacaremos uma situação de fragilidade presente na postura junto


aos dentistas, na qual têm dificuldade em questionar ou até mesmo denunciar
situações de violência.

A literatura registra que situações de violência geralmente não são expostas


com facilidade pelos pacientes e com frequência a violência física se manifesta
na região da face e da boca, áreas de intervenção recorrentes e de domínio do
profissional cirurgião dentista, que deve estar apto à perceber a origem das lesões
encontradas, objeto de sua atuação, que não deveria se limitar aos procedimentos
necessários à recuperação da saúde (GARBIN; ROVIDA; COSTA, 2016).

153
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

Nesse sentido, a postura do profissional frente às situações de violência


pode ser considerada uma omissão ou negligência, quando esse não se percebe
como um agente social do Estado, responsável pela proteção de seus pacientes. O
simbolismo profissional, com excessivo foco no dente e estruturas bucais, e a forma
sutil e às vezes quase imperceptível da violência, podem favorecer uma postura
da própria categoria dos dentistas a qual não se percebe como atores efetivos da
dinâmica da violência e, portanto, responsáveis por encaminhamentos, além do
atendimento odontológico restrito.

Todavia, a violência perpassa as relações de poder e fazer no espaço


organizacional do trabalho na área da saúde e, muitas vezes, assume certas
características pouco percebidas pelos diferentes profissionais, pois acontece em um
ambiente fechado. Assim se apresenta de forma invisível, subjacente aos processos
de socialização e manutenção dos padrões de comportamento, reconhecido como
legítimo e esperado pelos membros da organização (LAZARO et al., 2018).

A manifestação da violência também se configura como um processo de


dominação que, segundo Bourdieu (2009), ocorre por meio de um poder invisível,
capaz de induzir comportamentos pela força ou mesmo coação sutil. Nesse caso o
profissional é influenciando a omitir informações, o de violência como uma forma
de não se comprometer, em uma possível investigação.

Desse modo, identificam-se as barreiras simbólicas que operam no sentido


de ignorar a condição ou as necessidades de determinados grupos vulneráveis,
como os idosos, os quais, simbólica e materialmente, são colocados à margem dos
espaços de poder e disputa. Isso ocorre na medida em que tais minorias constroem
representações que se contrapõem ao universo simbólico, que tende a preservar as
posições naturalizadas no seio da organização e aquilo que tem sido dado como
certo ou errado pelos dominantes de um determinado espaço de relações (ROSA;
BRITO, 2009).

Conforme estudo, profissionais de saúde evitam notificar situações


suspeitas de maus-tratos por receio de que seus pacientes não retornem aos
seus cuidados profissionais, seja por pouca confiança nos serviços de proteção,
imprecisão no diagnóstico ou mesmo desconhecimento de sua responsabilidade
profissional em notificar. Outros profissionais desconfiam do trabalho da Justiça
por causa da morosidade e temem que essa demora passa fragilizar ainda mais a
situação (NEVES et al., 2013).

Cabe destacar o dever de todo profissional de saúde de fazer a comunicação


dos casos de violência intrafamiliar envolvendo os pacientes por eles atendidos
aos órgãos competentes locais, sem prejuízo de outras medidas legais cabíveis
(GARBIN et al., 2016).

A falta de notificação de violência por profissional de odontologia e demais


profissionais de saúde pode ser considerada uma situação de omissão e está
descrita nos respectivos códigos de ética, que mencionam o dever dos profissionais
em zelar pela saúde e dignidade de seus pacientes.

154
TÓPICO 2 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO

Nesse ponto, é evidente o desenho do sistema de saúde e suas políticas,


em que as universidades e seus docentes ainda padecem de práticas de ensino-
aprendizagem que seguem a lógica fragmentada.

VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO: A LONGEVIDADE SOB AMEAÇA

Vivianny Beatriz Silva Costa


Sabrina Rebeca Marinho Medeiros
Roseane Ferreira Gomes
Matheus Figueiredo Nogueira

INTRODUÇÃO

O Brasil vem demonstrando uma importante mudança em relação às


características demográficas populacionais, principalmente com o crescimento
expressivo das pessoas com mais de 60 anos de idade. Isso reflete em uma
inversão da pirâmide, indicada com o passar dos anos pela redução das taxas
de fecundidade e mortalidade, e que influencia no maior tempo de vida dos
idosos. O contingente de idosos no Brasil já ultrapassa os 13% da população e
esse panorama vem causando grandes conflitos nos mais diversos contextos
sociais, sobretudo porque as famílias, a sociedade e o Estado não estão
preparados para assistir dos idosos e atender adequadamente as demandas
advindas com a velhice (BRASIL, 2014)

Em virtude do aumento da expectativa de vida dos idosos, evidencia-


se a necessidade de uma atenção qualificada e especializada para com essa
população. Por isso, muitas estratégias vêm sendo elaboradas e implementadas
com o intuito de proteger o idoso e oferecê-los o que é posto como direito
nos diversos serviços e dispositivos legais, como o Estatuto do Idoso, Política
Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, Conselhos estaduais e municipais, e
Disque Denúncia. Dentre os problemas que envolvem a população idosa e
que urge ser amplamente discutido e revertido, a violência desponta como um
paradigma a ser superado pelo idoso, cuidadores, profissionais, gestores e a
sociedade em geral. A violência contra o idoso não é um fenômeno recente. Ela
permaneceu velada na sociedade durante décadas, mas somente nos últimos
anos vem sendo discutida no campo científico e no de políticas públicas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2014) define maus-tratos


na velhice como ato único ou repetido, ou ainda, como ausência de ação
apropriada que cause dano, sofrimento ou angústia, e que ocorra dentro de um
relacionamento de confiança. Qualquer que seja o tipo de abuso, certamente
resultará em sofrimento desnecessário, lesão ou dor, perda ou violação de
direitos humanos, além de redução da qualidade de vida para o idoso. Sabe-se
que a exposição do idoso a esses atos comprometem a qualidade de vida, além
de ocasionar transtornos psiquiátricos e somatização de doenças, podendo
levar à morte prematura.

155
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

A natureza da violência contra a pessoa idosa pode se manifestar de


várias formas, aqui resumidas: abuso físico, psicológico, sexual, abandono,
negligência, abusos financeiros e autonegligência. Todos esses tipos de ação ou
omissão podem provocar lesões graves físicas, emocionais e morte (BRASIL,
2007) Diversos fatores fazem idosos não denunciarem seus agressores: segredo
familiar, não compreender o evento como agressão, considerar o ato como
“natural”, cumplicidade, confiança, autoritarismo do agressor, entre outras.
Situações como essas proporcionam a perpetuação e (ou) continuidade da
situação de violência (SILVA et al., 2011). Diante do exposto, este estudo tem
como objetivo discutir os variados tipos de violência contra o idoso sob a ótica
do atual contexto do envelhecimento populacional.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A rápida introdução dos idosos na sociedade despreparada fez com


que ocorressem mudanças na convivência familiar. Consequentemente ao
despreparo para recepção dessa nova faixa etária, revelou-se o fato de que
a falta de experiência conduziria a agravos intensos a sua saúde. Com essa
mudança também se introduziu a pauta de que os idosos mudariam o status
de chefe de família, para um membro que pode prover a família com a
aposentadoria, mas que tem um papel inferior aos outros, levando o próprio
idoso a se sentir inútil, mas com o sentimento de que está ajudando de alguma
forma, diminuindo assim um possível sentimento de culpa por ser um fardo
para os seus familiares. É nesse contexto que surgem os episódios de violência
(SOUSA et al., 2010).

A grande atribulação é que a maioria dos agressores são membros


da família ou pessoas de confiança e que têm relação íntima com o idoso;
pessoas que deveriam cuidar do bem-estar da pessoa idosa. Isso faz com que
as vítimas tenham mais dificuldade em denunciar seus agressores, fazendo
com que a violência sofrida permaneça invisível e continuem vivenciando esse
dilema. Ademais, grande parcela dessa violência acontece dentro da família,
em que estão as pessoas mais próximas e confiáveis, e os filhos são os maiores
perpetuadores da violência (SANCHES et al., 2007).

Para desconstruir essas possibilidades o cuidador deveria cumprir


alguns requisitos básicos, como ser tolerante e compreensivo, pois na medida
em que o processo de envelhecimento pode ocasionar várias mudanças físicas,
como dificuldade de movimentar-se, mudanças psicológicas, oscilações de
humor, este pode se tornar intolerante à mudanças e à aceitação de novas
rotinas, o que pode tornar a convivência desagradável, tanto para os idosos
que estão passando pelo momento crítico de mudança, como para o cuidador
que não foi preparado para a situação. Faz-se necessário, portanto, que as
instituições competentes e profissionais estejam preparadas para identificar
e atender essa população (idoso, cuidador e familiares), considerando que
apresentam dificuldades, medo ou vergonha de denunciar seu agressor
(BOLSONI et al., 2016).

156
TÓPICO 2 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO

Para uma compreensão mais ampla das diversas faces da violência


contra o idoso, estas serão retratadas a seguir. Os abusos físicos constituem a
forma de violência mais visível e costumam acontecer por meio de empurrões,
beliscões, tapas, ou por outros meios mais letais como agressões com cintos,
objetos caseiros, armas brancas e armas de fogo. O lugar onde há mais violência
física contra a pessoa idosa é sua própria casa ou a casa da sua família, vindo
a seguir as ruas e as instituições de prestação de serviços como as de saúde, de
assistência social e residências de longa permanência. Às vezes, o abuso físico
resulta em lesões e traumas que levam à internação hospitalar ou produzem
como resultado a morte da pessoa.

Outras vezes ele é constante, não deixa marcas e é quase invisível,


sendo reconhecido apenas por pessoas que têm um olhar sensível e atento
e por profissionais acostumados a diagnosticá-lo. Frequentemente a pessoa
idosa se cala sobre os abusos físicos que sofre e se isola para que outros não
tomem conhecimento desse tipo de violência, prejudicando assim sua saúde
mental e sua qualidade de vida (BRASIL, 2014).

O abuso psicológico corresponde a todas as formas de menosprezo,


de desprezo e de preconceito e discriminação que trazem como consequência
tristeza, isolamento, solidão, sofrimento mental e, frequentemente, depressão.
Por exemplo, ele ocorre quando falamos à pessoa idosa, expressões como estas:
“você já não serve para nada”; “você já deveria ter morrido mesmo”; “você só
dá trabalho” ou frases semelhantes. Muitas vezes, as pessoas nem dizem, mas
o idoso sente. Por isso há muitas formas de manifestação do abuso psicológico:
ele pode ocorrer simplesmente por palavras ou por meio de atitudes e atos
(BRASIL, 2014).

A Violência sexual diz respeito ao ato no jogo que ocorre nas relações
hétero ou homossexuais e visa a estimular a vítima ou utilizá-la para obter
excitação sexual e práticas eróticas e pornográficas impostas por meio de
aliciamento, violência física ou ameaças. Vítimas de abuso sexual costumam
sofrer também violência física, psicológica e negligências. Tendem a sentir
muita culpa e a ter baixa autoestima e a pensar mais em cometer suicídio
que pessoas que não passaram por essa cruel experiência. Uma forma pouco
comentada é a violência dos filhos contra seus pais e mães idosos para que eles
não namorem ou não tenham relações sexuais (BRASIL, 2014).

O abandono é uma das maneiras mais perversas de violência contra


a pessoa idosa e apresenta várias facetas. As mais comuns que vêm sendo
constatadas por cuidadores e órgãos públicos que notificam as queixas são:
retirá-la da sua casa contra sua vontade; trocar seu lugar na residência a favor
dos mais jovens, como por exemplo, colocá-la num quartinho nos fundos da
casa privando-a do convívio com outros membros da família e das relações
familiares; conduzi-la a uma instituição de longa permanência contra a sua
vontade, para se livrar da sua presença na casa, deixando a essas entidades

157
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

o domínio sobre sua vida, sua vontade, sua saúde e seu direito de ir e vir;
deixá-la sem assistência quando dela necessita, permitindo que passe fome,
se desidrate e seja privada de medicamentos e outras necessidades básicas,
antecipando sua imobilidade, aniquilando sua personalidade ou promovendo
seu lento adoecimento e morte (BRASIL, 2014).

A Negligência é outra categoria importante para explicar as várias


formas de menosprezo e de abandono de pessoas idosas. Podemos começar
pelas que os serviços públicos cometem. Por exemplo, na área da saúde, o
desleixo e a inoperância dos órgãos de vigilância sanitária em relação aos
abrigos e clínicas. Embora hoje haja normas e padrões da Vigilância Sanitária
para seu funcionamento, não há fiscalização suficiente, permitindo que
situações de violência institucional se instalem e se perpetuem (BRASIL, 2014).

O termo abuso econômico-financeiro e patrimonial se refere,


principalmente, às disputas de familiares pela posse dos bens ou a ações
delituosas cometidas por órgãos públicos e privados em relação às pensões,
aposentadorias e outros bens da pessoa idosa (BRASIL, 2014). A Violência
autoinfligida e autonegligência destaca-se pela possibilidade de poder
conduzir à morte lenta de uma pessoa idosa em casos em que ela própria
se autonegligência, ou manifestar-se como ideações, tentativas de suicídio e
suicídio consumado. Ou seja, nesses casos, não é o “outro” que abusa, é a própria
pessoa que maltrata a si mesma. Um dos primeiros sinais de autonegligência é
a atitude de se isolar, de não sair de casa e de se recusar a tomar banho, de não
se alimentar direito e de não tomar os medicamentos, manifestando clara ou
indiretamente a vontade de morrer (BRASIL, 2014).

Os idosos vítimas de violência podem se sentir permanentemente


ameaçados, sendo incapaz de se defender para garantir sua segurança. Além
disso, muitos desconhecem os serviços de assistência e proteção contra a
violência e não sabem ou mesmo têm medo de pedir ajuda, por isso hesitam
em denunciar seus agressores. As marcas deixadas pela agressão contra as
vítimas idosas não são apenas físicas, são também psicológicas e, às vezes,
até morais. Parecem evidenciar o sentimento de incapacidade em lidar com
os filhos, os netos, o companheiro, e em enfrentar o mundo que os cerca
(OLIVEIRA et al., 2012)

FONTE: <http://www.editorarealize.com.br/revistas/cneh/trabalhos/TRABALHO_EV054_
MD4_SA4_ID533_10102016215319.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2020.

158
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• O envelhecimento tende a trazer limitadores, e estes, por sua vez, podem ser o
início de conflitos que tendem a culminar com a violência contra os idosos.

• A violência pode se apresentar de várias formas, e esta pode ocorrer até


mesmo com o consentimento dos próprios idosos, que deixam de denunciar as
situações de violência.

• O aumento crescente de idosos se deve às novas tecnologias na saúde e no


processo de prevenção e promoção da saúde.

• A taxa de fecundidade vem sofrendo reduções e a taxa mundial de crescimento


da população idosa aumenta.

• As expectativas de vida são maiores no Japão (82,4 anos), Islândia (81,6 anos),
Suíça (81,4 anos), França (81,4 anos), Itália (81 anos), Austrália (81 anos), Suécia
(80,7 anos), Canadá (80,4 anos). No Brasil, essa média é de 72,5 anos.

• A violência contra os idosos, por vezes, é invisível na sociedade. A violência


inicialmente era tida como um processo natural pelo simples fato de envelhecer.
A violência contra idosos é um fenômeno de notificação recente no mundo e no
Brasil

• Quando se fala em reconhecimento dos espaços dos idosos, estamos falando


também do reconhecimento do seu território. Nesse contexto, compreende-se
que estamos com mais idoso do que crianças de 0 a 4 anos de idade.

• A Organização Mundial da Saúde define violência como: o uso intencional


da força física da coerção, ameaça contra si próprio, contra outra pessoa, que
possam resultar em lesão, dano psicológico, privação e até em morte (BRASIL,
2006).

• A violência contra a pessoa idosa acompanha as mudanças nas organizações


familiares, nas quais os idosos são vítimas de um sistema de desigualdades
socioeconômicas ou de normas socioculturais que legitimem o uso da violência,
como forma de cuidado ou educação a partir da força.

• A OMS trabalha com a tipologia da violência ao idoso em três grandes categorias:


a violência dirigida a si mesmo (autoinfligida); a violência interpessoal; a
violência coletiva.

159
• O Relatório Mundial sobre Violência e Saúde publicado pela OMS destaca
as seguintes tipologias da violência: infligida (autoprovocada), violência
interpessoal, violência intrafamiliar, violência coletiva, violência estrutural

• Além dos tipos de violência, propõe-se uma classificação de sua natureza:


negligência, autonegligência, violência física, psicológica, sexual e financeira.

• Com relação ao perfil do agressor, no caso brasileiro, prevalece a violência


doméstica com maior frequência para o filho homem, seguido das noras, genros
e esposos. Quanto à vítima, prevalece o sexo feminino com idade de 75 anos ou
mais, viúvas, com história de dependência física ou emocional residindo com
familiares.

160
AUTOATIVIDADE

1 Agora é sua vez de ser o pesquisador, nesta atividade, você deve pesquisar
a quantidade de habitantes e a faixa etária dos moradores de sua cidade, e,
a partir dessas informações, deverá calcular a porcentagem.

Mulheres Homens Total Porcentagem


0-11 anos
12 a 17 anos
18 a 59 anos
Mais de 60 anos
Total

Com essa porcentagem, você consegue identificar: a população é maior nos


homens ou nas mulheres? Faça uma comparação entre as crianças e os idosos,
qual é maior? Faça uma comparação juntando as crianças e os jovens até 20
anos em relação ao número de idosos. Agora você consegue compreender
as características habitacionais, e, nesse cenário, como se apresenta o
envelhecimento.

2 Quando se fala em violência contra o idoso, qual a estrutura e os serviços


que o município disponibiliza aos idosos vítimas de violência?

161
162
UNIDADE 3
TÓPICO 3

A VIOLÊNCIA NO CONTEXTO SOCIAL

1 INTRODUÇÃO
O envelhecimento significa que a pessoa teve sucesso na fase infantil e
adulta, porém, a chegada dessa nova fase envolve uma reorganização social e
psicológica, pois muitos idosos não aceitam as limitações que geralmente ocorrem
com o envelhecimento e relutam contra as mudanças biológicas.

Os idosos tendem a ser poliqueixosos, quando não aceitam as limitações


do corpo e buscam, na medicação, o restabelecimento da juventude, porém essa
fórmula não existe, a medicação pode auxiliar no processo, mas não pode negar
o envelhecimento do corpo.

Além das violências a qual os idosos são submetidos — psicológica, física,


sexual e a financeira — identificamos a própria violência, na qual discorreremos
melhor neste tópico.

2 RETRAIMENTO SOCIAL
O desenvolvimento emocional e social, bem como o bem-estar psicológico, está
positivamente relacionado às relações de amizade que os idosos constroem ao longo
de suas vidas. Essas relações interferem e refletem sobre seus sentimentos e emoções.
O que apresenta que, nem todas as pessoas precisam de vidas agitadas para serem
felizes, mas, quando falamos em idosos, é importante observar a rotina e a importância
que este ocupa na família.

Não é raro encontrar idosos que vivenciam situações de retraimento social,


não por opção, mas porque essa situação lhe seja imposta pela família, e estes tendem
a apresentar comportamentos de silêncio e concordância frente a todas as situações
apresentadas por seus familiares.

Muitos desses idosos, mesmo quando atendidos por profissionais, tendem a


não ser ouvidos, já que o familiar ou cuidador, muitas vezes, fazem o relato da sua
saúde e de seu comportamento e, por vezes, esses idosos entram para consulta mudos
e saem calado.

163
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

Por vezes identifica-se que a violência também pode ocorrer por parte do
profissional, quando não dá oportunidade ao idoso de se expressar, ao menos descrever
como se sente. Essa discussão é muito ampla, mas serve para pensarmos e repensarmos
a prática de atendimento, bem como analisar a postura dentro do cenário familiar.

Alguns estudos citaram a existência de uma associação estatisticamente


significativa entre o retraimento social, a depressão e a solidão, na qual encontraram
associações significativas entre os níveis de solidão e os índices de retraimento social,
que, por vezes, podem ser evidenciado um descontrole emocional e ser correlacionado
aos níveis de solidão com o comportamento agressivo.

Independente da condição que leve um idoso para atendimento, é necessário


olhá-lo como cidadão de direitos e, portanto, capaz de ser violentado, mas também de
ser o violentador, então a imparcialidade e a ética profissional farão toda a diferença no
desenvolvimento das estratégias de atendimento.

Este tópico apresenta o contexto dos idosos no mundo, bem como um


panorama da situação social e dos desafios da contemporaneidade no cenário nacional,
trazendo a violência como assunto de discussão atual, tanto por profissionais como
para a sociedade.

3 O SUICÍDIO EM IDOSOS
O suicídio de idosos é um fenômeno estudado pela literatura internacional
como grave problema de saúde pública. Pesquisa realizada pelo Multicentre
Study of Suicidal Behaviour (WHO/EURO, 2012), em 13 países europeus, mostra
que as taxas médias de morte por autoviolência, entre pessoas de mais de 65
anos, nessas sociedades, chega a 29.3/100.000. Nessa direção, novos trabalhos de
aprofundamento do tema são necessários, quando contribuem para a elaboração
de planos de ação voltados ao cuidado integral com o idoso.

As pessoas são responsáveis por suas escolhas, e as escolhas interferem


no emocional, no psíquico e no contexto social. Escolhas profissionais e familiares
tendem a ser observadas, e por vezes, até negadas pelos próprios idosos, quando
trazem resultados inesperados ou negativos, muitas vezes, o próprio idoso tende
a se isolar ou mesmo se tornar invisível com contexto familiar.

É importante ressaltar que nós fazemos parte de uma juventude em


que os meios de comunicação tiveram uma aceleração, na qual, passávamos as
informações que aconteciam via carta postal e demoravam dias para chegarem,
serem recebidas e respondidas. Hoje em dia, na era digital, as informações são
passadas e respondidas quase que simultaneamente.

Nas famílias, muitas vezes, existem acontecimentos e situações que devem


ser guardadas a sete chaves, como, por exemplo, abortos, assassinatos e suicídios,
visto que, o sobrenome da família, associado à tal situação, tem seu prestígio
social diminuído ou ridicularizado.
164
TÓPICO 3 | A VIOLÊNCIA NO CONTEXTO SOCIAL

O ato “suicídio” é um tabu em qualquer idade. A morte autoafligida em


idosos é ainda mais quando analisa-se o contexto de tantas situações anteriores
superadas, a situação tende a ser analisada pela ótica econômica e pela estabilidade
associada à aposentadoria, a não necessidade de se preocupar com o futuro. Às
vezes, essa mesma justificativa é utilizada para os casos de suicídio, sendo o
agravante que levou o idoso a cometer tal ação.

O suicídio entre idosos é associado ao silêncio, justamente para não


comprometer ou não questionar o tipo de cuidado que esse idoso estava
vivenciando, nem ao mesmo dando a oportunidade de compreender os reais
motivos que o levaram “a covardia de viver e a coragem de tirar a própria vida” .

O Brasil acompanha a tendência global, no que se refere ao suicídio. O


Mapa da Violência de 2014, organizado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz,
aponta que, em idosos com mais de 60 anos, há oito suicídios a cada 100 mil
habitantes, taxa maior que a registrada entre outros grupos etários. Entre 1980
e 2012 – período avaliado no estudo –, houve crescimento de 215,7% no número
de casos entre os idosos. Da mesma forma que ocorre com os mais jovens, os
homens são as principais vítimas. Aos 75 anos, de acordo com o Ministério da
Saúde, a razão é de oito a 12 suicídios masculinos por um feminino.

Outro retrato do tema foi traçado por pesquisadores de sete instituições


acadêmicas que, em 2012, publicaram uma edição especial da revista Ciência &
Saúde Coletiva com dados quantitativos e qualitativos, coordenados pela Escola
Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Enasp/Fiocruz). Um
dos trabalhos utilizou o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do
Ministério da Saúde, para calcular os registros de suicídio de pessoas com mais
de 60 anos entre 1996 e 2007. Nesse período, os pesquisadores identificaram
91.009 mortes autoprovocadas, sendo que 14,2% ocorreram entre idosos.

FONTE: <http://especiais.correiobraziliense.com.br/crescem-os-casos-de-suicidio-entre-
idosos-no-brasil>. Acesso em: 22 maio 2020.

O suicídio é um ato consciente de autoaniquilamento, vivenciado por


aquele que vê no suicídio a possibilidade de resolver seus problemas, suas
frustações, ele busca qual é a melhor solução para escapar de uma dor psicológica
insuportável. Neste ensejo, o suicídio resulta da intencionalidade do sujeito, mas
é influenciado por fatores sociais e microssociais.

É possível encontrar várias justificativas para uma mesma ação, mas


estarei buscando o entendimento de um dos artigos da psicóloga Denise Machado
Duran Gutierrez, quando descreve que os idosos que apresentam diagnóstico
progressivos de doença degenerativa, e acabam perdendo sua autonomia e sua
capacidade funcional, e essa nova situação importa pelo quadro de saúde, tende
a favorecer as ideias suicidas e estas por sua vez são planejadas nos mínimos

165
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

detalhes, por isso a tentativa falha é menor, diferentemente de outras etapas


da vida, que geram a ideia de suicídio, ocasionada por situações isoladas, por
impulso, seja por situações que envolvem relacionamentos, fúria, tristeza e
mesmo ve no suicídio a ideia de libertação.

FIGURA 5 – MORTALIDADE POR SUICÍDIO EM PESSOAS COM 60 ANOS OU MAIS

FONTE: <https://bityli.com/78Mej>. Acesso em: 30 abr. 2020.

Ele amadurece a ideia, o jovem tende a buscar na tentativa de suicídio a


atenção que ele entende ser negada por alguém, enquanto o idoso tem no suicídio
a ideia de libertação de algo. Essa libertação vem associada ao desejo de antecipar
o fim da vida, seja pela fragilidade de saúde, perda da autonomia, produtividade,
função e papel sociais. Perda de vínculos com cônjuges, amigos, cuidadores e de
outras pessoas nas quais eles depositam confiança.

Nesse sentido não tem como falar em suicídio sem rever a questão da
depressão, que tem um papel muito importante, assim como as questões de
aspectos sociais do envelhecimento, como a de estar passando por mais perdas,
não se sentir mais útil, ou mesmo um peso para a família.

A importância do papel social que o idoso ocupa dentro do lar faz uma
grande diferença, pois este tende a se readaptar aos desafios impostos pela
sociedade, e, por vezes, eles são vistos como crianças, o que é um grande erro,
pois idoso é idoso, viveu uma vida, e não é uma criança que precisa de cuidados
a fim de desenvolver a capacidade de autocuidado.

É comum encontrar idosos, que, mesmo dentro de suas residências,


tendem a ser remanejados para outros quartos, na qual alguém julga ser mais
aconselhável, ou mesmo porque seu espaço anterior é ideal a outro membro da

166
TÓPICO 3 | A VIOLÊNCIA NO CONTEXTO SOCIAL

família, por vezes, mesmo sem perguntar se ele quer fazer essa troca, as imposições
do ambiente familiar tendem a desgastar e enfraquecer as relações de confiança e
estas podem representar um gatilho para a decisão do autoextermínio.

Outra situação que deve ser mencionada é a falta do atendimento integral


aos idosos, que se por vezes ao serem triados e ouvidos por profissionais, poderiam
identificar as ideias suicidas, que não são de conhecimento do cuidador, mas são
frequentes nos pensamentos desses idosos. Então atender idosos não é ouvir só o
cuidador, é dar oportunidade do idoso se expressar, preferencialmente sozinho.

Faremos a leitura de uma reflexão a cerca do suicídio em idosos, aqui não


faremos juízo de valor ou tão pouco analisaremos se ele tinha ou não motivos
para o suicídio. Apenas destacamos que era uma pessoa conhecida pelo seu
trabalho enquanto ator.

O SUICÍDIO DO ATOR

O ator Flávio Migliáccio cometeu suicídio aos 85 anos no dia 4 de maio


de 2020, em seu sítio. Esta foi a matéria do dia, para esquecermos um pouco o
coronavírus. E ele não morreu “de” corona. Ele morreu por uma decisão dele.
Não sei se decisão lúcida ou não, se em estágio de depressão ou não, se por
conta de uma grande desilusão ou não.

O fato é que algo o incomodava demais. E doía tanto, mas tanto, que ele
resolveu acabar com a dor. Infelizmente, naquele momento, dor e sofrimento
era igual a viver e viver com dor e sofrimento deixou de ser suportável.

A saída, foi sair de cena. Das cenas de todos os cenários. Do teatro, da


televisão, de um programa aqui, uma entrevista lá. Da cena familiar, da cena
dos amigos.

Falar sobre as causas que levam alguém ao impulso de tirar a própria


vida, é uma missão árdua e delicada. A família merece seu espaço, o morto
merece a dignidade de sua memória.

Mas o fato pode ser socialmente didático. Quem sabe a notícia do


suicídio de uma pessoa pública, chame a discussão sobre o assunto na casa de
alguém deprimido.

A quarentena, as incertezas, o medo disseminado pelo pulverizador


da ignorância, a falta de dinheiro e as cobranças agindo no telemarketing,
somam aos números de mortes, falta de caixão, de leitos de UTIs, de carro
fúnebre, de câmera fria... quem tem a saúde mental fragilizada, deveria estar
sendo cuidado mais de perto por sua rede de apoio, pois nestes momentos os
suicídios não são planejados. Eles acontecem no impulso.

167
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

A carta deixada por Flávio vazou. Um desrespeito. Porém, não pude


de me apegar numa frase, uma única: "a velhice neste país é […] como tudo
aqui. A humanidade não deu certo".

Um grito de alerta. Não estamos dando certo enquanto sociedade que


envelhece. E se não conseguimos fazer um ser humano chegar aos 85 anos
orgulhoso pela sua caminhada, erramos enquanto humanidade.

Pessoas idosas cometem suicídios todos os dias. Os números são


grandes, mas abafados a pedido dos familiares. Cada lesão autoprovocada,
cada suicídio cometido, é a marca de que reprovamos enquanto sociedade,
enquanto família e amigos, pois estávamos ali e, focados somente em nós
mesmos, não enxergamos os outros.

Flávio tinha razão. Envelhecer neste país ainda é (completo eu) uma
merda. Espero conseguir aumentar o exército que luta para mudar esse cenário.

Não vamos entrar na espiral insana de buscar um culpado, a pessoa que


"deveria ter evitado". A família precisa viver o luto e não a luta por respostas
e culpados.

Que sua alma seja bem guiada e sua família amparada no amor e jamais
na culpa.

E você se coloque à disposição de uma pessoa para conversar sem


julgamentos. Receba a dor do outro com empatia e ouvidos, braços e coração
abertos. A boca pode ficar fechada.

FONTE: <https://bityli.com/EIclU>. Acesso em: 22 maio 2020.

4 SER IDOSO EM TEMPOS DE PANDEMIA


Este tópico especial fora desenvolvimento durante a crise mundial
causada pelo Covid-19, portanto, ele pode ser interpretado de formas diferentes
com o passar do tempo e com a superação da situação.

Até então, ao falar de idosos sempre se tinha a ideia da longevidade e da


importância de olhar as potencialidades que o idoso tinha, dos cuidados necessários
e da importância do contato familiar. A pandemia trouxe uma nova lógica, na
qual coloca os idosos como os mais vulneráveis juntamente aos portadores de
doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e asma, por serem mais propensos a
apresentarem complicações respiratórias e até mesmo vir a óbito.

Diante disso, todo cenário de cuidado precisa ser triplicado, mesmo


porque o isolamento social era uma preocupação para a saúde mental dos idosos
e, durante a pandemia, essa é uma recomendação. Bem como os gestos de carinho

168
TÓPICO 3 | A VIOLÊNCIA NO CONTEXTO SOCIAL

devem envolver o menor contato físico possível, ainda mais preocupante quando
consideramos a existência de sintomas, este deve ser evitado com os idosos.

O acesso a espaços públicos também é visto com restrições à medida que


todos devem se manter isolados para impedir a contaminação. Nesse sentido,
trabalha-se com a prevenção da contaminação e a necessidade de isolamento,
que, por vezes, pode interpretar como uma sensação de abandono. Acredita-se
que essa possa ser a sequela vivenciada pela sociedade.

O que falar das estatísticas? Elas trazem informações alarmantes, por


exemplo, mais de 80% dos óbitos são de pessoas com mais de 60 anos, mesmo
os cuidados e equipamentos de proteção recomendados, como o afastamento
entre as pessoas, a utilização de máscaras de proteção e álcool gel, diminuem
as possibilidades de contaminação, porém, nem todos os idosos aderem a essas
recomendações.

É possível observarmos uma transformação na rotina das pessoas, na


sociedade como um todo. As famílias podem vivenciar o fortalecimento das
relações, bem como o distanciamento. Segundo a reportagem da BBC Brasil
(2020) em relação à China, observa-se que, após o período de quarentena, houve
um aumento recorde de separações, ocasionadas justamente por causa da
obrigatoriedade de isolamento, na qual os casais ficaram juntos por mais tempo,
o que alimentou os conflitos e resultou na separação.

DICAS

Acadêmico, indicamos o livro Envelhecimento: uma visão interdisciplinar.

Esta obra que tem sua origem no Departamento de Clínica Médica da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo. O livro apresenta caráter inédito e abrangente,
objetivando auxiliar os profissionais de Saúde das diferentes áreas na qualificação do
atendimento da população idosa. Sua visão é integrada, daí o seu subtítulo “Interdisciplinar”.

FONTE: <https://bityli.com/6xbvs>. Acesso em: 30 abr. 2020.

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UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

Este livro didático foi escrito durante a Pandemia de (COVID-19),


portanto, trazemos para sua leitura uma sugestão que a Secretaria de Justiça e
Cidadania (Sejus-DF) produziu e disponibilizou com informações e orientações
aos idosos. Esse material apresenta de forma prática situações vivenciadas no
cotidiano.

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TÓPICO 3 | A VIOLÊNCIA NO CONTEXTO SOCIAL

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UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

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TÓPICO 3 | A VIOLÊNCIA NO CONTEXTO SOCIAL

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UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

FONTE: <http://www.sejus.df.gov.br/coronavirus-sejus-divulga-cartilha-sobre-cuidados-com-
idosos/>. Acesso em: 22 maio 2020.

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TÓPICO 3 | A VIOLÊNCIA NO CONTEXTO SOCIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

Acadêmico, a seguir, apresentaremos alguns relatos de pessoas que


vivenciaram situações de violência com seus entes e o que podemos perceber é
que a maioria dos idosos não se queixa e nem fala sobre o assunto.

IDOSO É ALVO DE VIOLÊNCIA SILENCIOSA, DIZ PESQUISA PAULISTA

Isis Brum, Diário de S. Paulo

A agressão contra idosos é considerada, por especialistas, um tipo de


violência doméstica silenciosa. Além de ser de difícil notificação – por causa da
dependência e da mobilidade reduzida das vítimas –, 55% dos agressores são
parentes. No caso dos homens, o principal agressor é o filho, seguido do neto e do
genro. Marido, genro e nora, nessa ordem, são os que mais agridem as idosas. Os
dados são de uma pesquisa feita pela antropóloga Amanda Marques de Oliveira,
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), divulgada recentemente.

Amanda analisou os boletins de ocorrência registrados pelos homens em


um distrito policial e pelas mulheres na Delegacia da Mulher, em uma cidade
com 180 mil habitantes, a 200 quilômetros da capital. O nome da cidade foi
mantido sob sigilo. A pesquisa ocorreu no período entre 2004 e 2006. Entre os
2.094 boletins registrados, 63 (3%) deles eram de vítimas com mais de 60 anos. Na
Delegacia da Mulher, 90 (4%) das 2.247 queixas partiram de idosas.

Também vítimas de violência doméstica, mulheres mais jovens e crianças


têm vida social intensa – frequentam o trabalho e a escola, por exemplo –, o que
facilita a denúncia. Já o idoso passa a maior parte do seu tempo em casa.

— A violência contra o idoso é silenciosa. A maior parte das agressões ainda


é desconhecida porque ocorre dentro de casa, cometida normalmente por familiar
ou cuidador – afirma Paulo Pelegrino, presidente do Conselho Estadual do Idoso.

Renda própria

— A maioria dessas queixas foi feita por idosos com idade entre 60 e 69
anos, e por aposentados – ou seja, com renda própria e que mantêm a casa. Os
homens mais agredidos são casados. E as mulheres, viúvas – explica Amanda.

Quanto mais novo é o idoso, maior é o número de denúncias. Pelos dados,


69% dos boletins de ocorrência foram feitos por homens com idade entre 60 e
69 anos, e por 65% das mulheres da mesma faixa etária. Embora, as agressões
mais recorrentes tenham sido de ameaça para homens e mulheres – 22% e 25%
respectivamente –, a lesão corporal dolosa (com intenção) foi a terceira causa de
crimes contra homens idosos (20% do total das ocorrências) e a segunda entre
mulheres (17%), empatando com calúnia e injúria.
175
UNIDADE 3 | O CONTEXTO SOCIAL DO IDOSO: MOVIMENTO SOCIAL, ESPAÇOS, CENÁRIOS,
CIDADANIA E A VIOLÊNCIA COTIDIANA

Em 21% dos casos, os filhos foram os que mais agrediram os pais.


Depois são os netos (7%), empatados com genros, moradores da mesma casa
e prestadores de serviço. Os conhecidos configuram 10% dos indiciados nos
boletins de ocorrência registrados pelos homens. Os companheiros continuam
sendo os principais agressores em 25% dos casos de violência relatados pelas
idosas, seguidos pelos genros (13%) e pelas noras (10%).

Com a criação do Estatuto do Idoso, em 2003, a punição para os crimes


cometidos contra pessoas com mais de 60 anos ficou mais pesada. Ao todo, são
109 crimes tipificados em 95 artigos do estatuto. Mas isso não impede que novas
agressões apareçam com frequência.

Vítimas

A dona-de-casa Edith da Conceição Silva, de 79 anos, foi espancada pelo


neto Luiz Gustavo Silva de Oliveira, de 26 anos, e um comparsa, em fevereiro. O
crime ocorreu em Atibaia, a 60 quilômetros da capital. Filha de Edith e mãe de
Gustavo, a doméstica Elza Maria da Conceição Silva, de 42 anos, não teve dúvidas:

— Entre minha mãe e meu filho, mil vezes minha mãe. O filho que eu criei
está morto. Ele virou um monstro – afirmou.

Edith foi amordaçada no banheiro da casa e espancada. Levou vários socos


na cabeça e no rosto, antes de o neto e o comparsa fugirem com uma televisão e
um DVD para serem trocados por drogas. A idosa sofre de reumatismo e toma
medicamentos para a pressão. Elza não compreende a crueldade do filho.

— Ela é toda entrevada, não consegue se mexer. Não pôde nem se defender
- afirmou.
Segundo Elza, a mãe ainda está traumatizada. Não fica mais sozinha.

Torturado por empregada

Outro caso cruel ocorreu em Bilac, a 515 quilômetros de São Paulo, com
Ovídio Martineli, de 93 anos. Portador de Alzheimer, era torturado por duas
empregadas. Os filhos filmaram as agressões por 10 dias e entregaram as fitas
à polícia. As ex-empregadas foram presas. Inconformado, o filho de Ovídio, o
supervisor de vendas Genival Martineli, de 56 anos, resolveu colocar o pai em
uma casa de saúde especializada.

— Se contratarmos novos empregados para cuidar dele, ficarão sob a


supervisão das câmeras – conta.

O pai chegou a ser ameaçado de morte, com um martelo, pelas empregadas.


A mulher da vítima, Antônia Martineli, de 90 anos, parou de falar há oito meses.

— Não sabemos se ela foi agredida também. Mas ela assistiu a tudo e não
pôde fazer nada – afirma.

FONTE: <https://bityli.com/I7XL4>. Acesso em: 30 abr. 2020.


176
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os idosos buscam, na medicação, o restabelecimento da juventude, porém,


essa fórmula não existe, a medicação pode auxiliar no processo, mas não pode
negar o envelhecimento do corpo.

• O retraimento social nos idosos pode ser associado ao silêncio e resulta na


concordância frente a todas as situações apresentadas pelos familiares.

• Os idosos têm dificuldade de se comunicar e, por vezes, o familiar ou o cuidador


tende a fazer o relato da sua saúde e de seu comportamento.

• A violência pode ocorrer também por parte dos profissionais quando se


omitem das informações, por isso, é de suma importância a imparcialidade e a
ética profissional.

• O retraimento social pode favorecer a depressão na qual podem evidenciar


comportamento agressivo ou mesmo de isolamento.

• As pessoas são responsáveis por suas escolhas, e as escolhas interferem no


emocional, no psíquico e no contexto social em que vive.

• As famílias têm situações que tendem a ser guardadas a sete chaves como, por
exemplo, abortos, assassinatos e suicídios, os quais, associados ao sobrenome
da família, diminuem o prestígio familiar.

• O ato do suicídio é um tabu em qualquer idade, a morte autoafligida em idosos


ainda mais.

• O suicídio entre idosos é associado ao silêncio, dificultando a compreensão


sobre os motivos que o levaram “a covardia de viver e a coragem de tirar a
própria vida”.

• O suicídio nos idosos apresenta poucas tentativas falhas, justamente porque a


ação é premeditada.

• Com a realidade da pandemia, a longevidade nos idosos e a importância do


contato familiar são substituídos pela necessidade de medidas protetivas,
como o isolamento para a não proliferação do vírus.

177
AUTOATIVIDADE

1 Acadêmico, nesta atividade, pedimos que providencie um pedaço de


tecido escuro, para que seja possível vendar os olhos. Tente se movimentar
dentro do espaço em que vocês estão. Depois, sugerimos que consiga uma
muleta ou mesmo uma cadeira de rodas e tentem se deslocar. A partir dessa
experiência prática, descreva os sentimentos durante as duas atividades e
perceba como é ser idoso, conviver com as adaptações, sejam habitacionais,
arquitetônicas e de saúde.

178
REFERÊNCIAS
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