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transvalorização dos valores: a unidade de sentido. Filosofia como pergunta pelo sentido do ser das
coisas que são e como pergunta pela verdade do ser: o ser da verdade. A identificação do artista como
ser artista: criação, exploração. A possibilidade em face da impossibilidade: não ser capaz, não poder
e não conseguir: não ter poder (Macht) é não ter possibilidade. A experiência da impossibilidade ou
partida incontornáveis. Não ter vontade (Wille) sequer de ter possibilidade na espera activa ou
passiva pela possibilidade de superação. Ou ter vontade e criar o poder ser da possibilidade. As
várias possibilidades: ter vontade de poder; não ter vontade de poder, ter vontade e não ter poder não
ter vontade e não ter poder. O poder (poder ser, ser capaz, conseguir, possibilitar-se) como o “teaser”,
o “sex appeal” do sentido da vontade. A figura do artista (Künstler) pensada através do nomen
agentis do ser artista, fazer arte. O laboratório existencial hermenêutico do sentido como falência do
sentido na arte. O niilismo como falência do sentido ideal e tentativa de exploração do outro campo
de sentido, do outro horizonte atrofiado: a realidade, o corpo, o instinto, preterido pela racionalidade
Die Frage der Selbstbegründung der Philosophie: Sie betrifft jenen Sachverhalt, das, was die
Philosophie ist und wie sie jeweils ist, sich nur aus ihr selbst bestimmt, daß aber diese
Seblstbestimmung nur möglich ist, indem sie sich schon selbst begründet hat. GA 6.1. 13-14.
.A questão da auto-fundação da filosofia: diz respeito ao facto de que o que é filosofia e como é em
cada caso só é determinado por si, mas que esta autodeterminação só é possível na medida em que já
se fundou a si própria.
Drei Grundstellungen:
Philosophie der ewigen Wiederkunft: Ein Versuch der Umwertung aller Werte (XVI, 415)
Die Lehre der ewigen Wiederkunft als Hammer in der Hand des mächtigsten Menschen.
Filosofia do Eterno Retorno: Uma Tentativa de Revalorizar Todos os Valores (XVI, 415).
Vontade de poder.
Die Einheit von Willen zur Macht, ewiger Wiederkehr und Umwertung. GA 6.1. 15
.A unidade de vontade ao poder, a recorrência eterna e a revalorização.
Der Ausdruck „Wille zur Macht“ nennt den Grundcharakter des Seienden; jegliches Seiende, das ist,
ist, sofern es ist: Wille zur Macht. Damit wird ausgesagt, welchen Charakter das Seiende als Seiendes
hat. […] Die entscheidende Frage ist […] Was ist dieses Sein selbst? Es ist die Frage nach dem „Sinn
des Seins“, nicht nur nach dem Sein des Seienden; und „Sinn“ ist dabei genau in seinem Begriff
umgrenzt als dasjenige, von woher und auf Grund wovon das Sein überhaupt als solches offenbar
. A expressão "vontade de poder" designa o carácter básico do ser; cada ser, ou seja, cada ser, é, na
medida em que é: vontade de poder. Isto diz qual o carácter que o existente tem como existente. [...] A
questão decisiva é [...] O que é este ser em si mesmo? É a questão do "significado do ser", e não apenas
do ser do existente; e "significado" é assim delimitado com precisão no seu conceito como aquele de
onde e com base no qual o ser pode ser revelado como tal e chegar à verdade.
Jene, die die obersten Werte setzen, die Schaffenden, voran die neuen Philosophen, müssen nach
Nietzsche Versuchende sein; sie müssen Wege gehen und Bahnen aufbrechen, mit dem Wissen, daß
sie nicht die Wahrheit haben. […] Die Härte und Verbindlichkeit des Denkens muß eine Gründung in
den Sachen selbst erfahren, wie sie die bisherige Philosophie nicht kannte. Denn nur so wird die
Möglichkeit geschaffen, daß eine Grundstellung gegen die andere sich behauptet und der Streit ein
wirklicher Streit und so der wirkliche Ursprung der Wahrheit wird. Die neuen Denker müssen
Versuchende sein, d.h. sie müssen das Seiende selbst hinsichtlich seines Seins und seiner Wahrheit
fragend auf die Probe stellen und in die Versuchung bringen. GA 6.1. 25
.Aqueles que estabelecem os valores mais elevados, os criadores, sobretudo os novos filósofos,
devem, segundo Nietzsche, ser experimentadores; devem seguir caminhos e quebrar caminhos
abertos, sabendo que não têm a verdade. [...] A dureza e a vontade de pensar devem experimentar
uma base nas próprias coisas, tal como não foi conhecido pela filosofia anterior. Pois só assim será
criada a possibilidade de uma posição de base se afirmar contra a outra e de a disputa se tornar uma
disputa real e, portanto, a verdadeira origem da verdade. Os novos pensadores devem ser
experimentadores, ou seja, devem pôr à prova o próprio ser em termos do seu ser e da sua verdade e
pô-lo à prova.
2[130] Das Phänomen „Künstler“ ist noch am leichtesten durchsichtig : — von da aus hinzublicken
auf die Grundinstinkte der Macht , der Natur usw.! Auch der Religion und Moral! „das Spiel“, das
.2[130] O fenómeno "artista" é ainda o mais fácil de ver através: - de lá para ver os instintos básicos de
poder , natureza, etc.! Também de religião e moralidade! "o jogo", o inútil, como o ideal do
Heidegger:
uns das Sein am unmittelbarsten und hellsten auf. […] Künstlersein ist in Hervorbringen-können.
Hervorbringen aber heißt: etwas, das noch nicht ist, ins Sein setzen. In der Hervorbringung wohnen
wir gleichsam dem Werden des Seienden bei und können da sein Wesen ungetrübt ersehen. GA 6.1.
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.Heidegger:
O fenómeno do "artista" - ser um artista. É neste ser, nomeadamente no artista, que o ser brilha de
forma mais directa e brilhante para nós. [...] Ser artista é ser capaz de produzir. Mas criar meios: pôr
em prática algo que ainda não o é. Ao dar à luz, estamos, por assim dizer, presentes no devir do que
das Leben als die uns bekannteste Form des Seins ist spezifisch ein Wille zur Accumulation der Kraft
.a vida como a forma de nos ser mais familiar é especificamente uma vontade de acumular poder
„Sein“ als Verallgemeinerung des Begriffs „Leben“ (athmen) „beseelt sein“ „wollen, wirken“
„werden“ Gegensatz ist: „unbeseelt sein“, „ nicht -werdend“; „ nicht -wollend“. Also: es wird dem
„Seienden“ nicht das Nicht-seiende, nicht das Scheinbare, auch nicht das Todte entgegengesetzt
(denn todtsein kann nur etwas, das auch leben kann) Die „Seele“, das „Ich“ als Urthatsache gesetzt;
oposto é: "ser inanimado", "não -desconverter"; "não -desejar". Assim: o "ser" não se opõe ao não ser,
nem ao aparente, nem sequer ao morto (pois só algo que também pode viver pode estar morto) O
"alma", o "eu" é definido como o facto original; e é colocado em toda a parte onde há um devir.
Also: es wird dem „Seienden“ nicht das Nicht-seiende, nicht das Scheinbare, auch nicht das Todte
entgegengesetzt (denn todtsein kann nur etwas, das auch leben kann) Die „Seele“, das „Ich“ als
. Assim: o "existente" não se opõe ao inexistente, nem ao aparente, nem mesmo ao morto (pois só algo
que também pode viver pode estar morto) O "alma", o "eu" é definido como a causa original; e é
Das ist ein Leitsatz von Nietzsches Lehre über die Kunst: sie muss von den Schaffenden und
Erzeugenden und nicht von den Empfangenden her begriffen werden. GA 6.1. 67.
. Este é um princípio orientador do ensino de Nietzsche sobre arte: deve ser entendido pelos criadores
ΘΕΑΙ. Ναί.
TÊM. Sim.
XE. A estas coisas dizem, que nascem do poder do sofrimento e do fazer, mas à substância destas
1. Die Kunst ist die durchsichtigste und bekannteste Gestalt des Willens zur Macht
[von da aus hinzublicken auf die Grundinstinkte der Macht, der Natur usw.! Auch der Religion und
Moral]
[de lá para olhar para os instintos básicos de poder, natureza, etc.! Também a religião e a moralidade].
Wir können ergänzen: Gesellschaft und Individuum, Erkenntnis, Wissenschaft, Philosophie: Diese
Gestalten des Seienden sind demnach in gewisser Weise Entsprechungen zum Künstlersein, zum
künstlerischen Schaffen und Geschaffensein. Das übrige Seiende, was nicht eigens durch Künstler
hervorgebracht ist, hat die entsprechende Seinsart wie das vom Künstler Geschaffene, das
Kunstwerk.
. Podemos acrescentar a isto: Sociedade e o indivíduo, cognição, ciência, filosofia: estas formas de ser
são portanto, de certa forma, equivalentes a ser artista, a criação artística e a ser criado. O resto da
existência, que não é especificamente produzido por artistas, tem a mesma natureza de ser que o que
Offensichtlich wir hier der Begriff der Kunst und des Kunstwerkes auf alles Hervorbringenkönnen
und jedes wesentliche Hervorgebrachte ausgeweitet. Das entspricht in gewisser Weise auch dem
Sprachgebrauch, wie er bis an die Schwelle des 19. Jahrhunderts üblich ist. Bis dahin heißt Kunst jede
Art von Hervorbringenkönnen. Der Handwerker, der Staatsmann, der Erzieher sind als
. Obviamente, o conceito de arte e a obra de arte é aqui alargado para incluir tudo o que pode ser
produzido e tudo o que é essencialmente produzido. Em certa medida, isto também corresponde ao
uso linguístico que era comum até ao limiar do século XIX. Até então, a arte significava qualquer tipo
também, é um "artista". 68
3. Die Kunst ist nach dem erweiterten Begriff des Künstlers das Grundgeschehen alles Seienden; das
. De acordo com o conceito alargado do artista, a arte é o acontecimento básico de todo o ser; sendo,
4. Die Kunst ist die ausgezeichnete Gegenbewegung gegen den Nihilismus (=Gott ist tot). 71
.O artista-filósofo é um artista na medida em que cria sobre o existente no todo, ou seja, em primeiro
“O nous está sempre à saída de todo e qualquer ser que visa a preservação e custódia do que
adquiriu, está presente em toda a forma como lidamos com o que adquirimos e detemos de forma
compreensiva, para preservar o futuro, dirigida e orientada para a preservação (Er ist immer an den
Ausgängen, für Seisnverwahrungen, allen Umgang mit verstehende, bewahrende und ausrichtende
Heidegger pretende: νοῦς τῆς ὀρέξεως [Pol. 1254b5]. Na formulação, o genitivo pode ser
interpretado como genitivo objectivo, orexis é o complemento do noein. Mas pode ser também um
genitivo subjectivo. A orexis é o sujeito da acção noética. Heidegger muitas vezes acentua a
Compreender é estar numa tensão orectica e desejar é uma tensão compreensiva. É sabido que
Aristóteles pensa que o nous não leva à acção, é um acontecimento limite, teórico, não prático nem
pragmático, mas a interpretação de Heidegger procura mostrar o a priori, a relação entre orexis e
nous como anterior à orexis absoluta e potencialmente cega e anterior ao nous, à phronêsis eterna mas
sem possibilidade vital ou existencial. Todo o nous humano é desiderativo e todo o desejo humano é
compreensivo. O que deixa várias possibilidades. Uma possibilidade é inteiramente negativa: não
desejar nada e não compreender nada. A outra é positiva desejar tudo e compreender tudo. Mas as
combinações fazem ver a perplexidade da vida. Desejamos coisas e pessoas que não compreendemos
enquanto tais ou não compreendemos porque são objectos dos nossos desejos. Por outro lado,
compreendemos que não devemos desejar certas coisas e pretendemos neutralizar o desejo nefasto de
possibilidade de se ser mau ou bom, de se comportar e portar mal ou bem, uma compreensão que diz
πράττειν, καὶ ἐν οἷς τὸ μή, καὶ τὸ ναί· ὥστ’ εἰ τὸ πράττειν καλὸν ὂν ἐφ’ ἡμῖν ἐστί, καὶ τὸ μὴ
πράττειν ἐφ’ ἡμῖν ἔσται αἰσχρὸν ὄν, καὶ εἰ τὸ μὴ πράττειν καλὸν ὂν ἐφ’ ἡμῖν, καὶ τὸ πράττειν
αἰσχρὸν ὂν ἐφ’ ἡμῖν. (Na verdade, a excelência diz-nos respeito e encontra-se sob o nosso poder, não
menos do que a perversão. Isto é, as situações nas quais está no nosso poder agir são as mesmas em
que podemos não agir. Porque, quando está no nosso poder dizer não também está no nosso poder
dizer sim. De tal sorte assim é que se estiver no nosso poder o agir bem, também estará o não agir
vergonhosamente. Inversamente, se estiver no nosso poder não agir bem, também está no nosso
A articulação fundamental do nous permite a dissociação do plano de aplicação que é clássica mas
não interpretada existencialmente: O nous põe perante e mantém à frente (hält vor) a consequência
em geral daquilo em vista do qual e com vista ao qual (das Woraufhin überhaupt) da mudança
mutante da vida de acordo com a suas duas grandes direcções: sophia e phronêsis! O nous é o
primeiro modo de apropriação e preservação, isto é, a circun-specção sempre já no, pelo, a partir e em
cronometrizações, contagem do tempo, temporalizações, mudanças, mutações (Er hält vor das
mögliche Woraufhin überhaupt der Lebensbewegtheit nach seinen zwei Grundrichtungen: σοφία –
φρόνησις! Er ist die erste Aneignungs- und Verwahrungseweise, d.h. Umsicht ist schon am Sein:
compreensão teórica, cognitiva, produtora, criativa, ética, moral, política, prática das diversas aitiai e
arkhai. O humano é to aition. Ou seja, a estrutura relacional entre o humano e o mundo, mas também
entre o humano a sua psykhê, o seu sôma, e na verdade a sua zôê, existe na dependência exclusiva do
humano. A interpretação do que á a praxis por exemplo em Aristóteles pode ser a aretê da praxis,
mas porque a magnanimidade é uma condição nec plus ultra que não pode ser alcançada pelo
esforço, pela rotina e pela prática. Em Kant, por exemplo, pode ser o cumprimento do imperativo
conforme de cada outro como um fim em si mesmo e não como um ponto de aplicação da minha
existência. O humano como aition não é to zôon logon ekhon é Dasein é o fundamento, princípio,
mesmo sem fundamento e de princípio incompreensível a lidar com a facticidade da orexis. Isto está
e querer que o outro não tenha nada ou só o que deixarmos. A interprtação da orexis e da tensão
anoréctica depende da importância das coisas para nós, na verdade, para mim. Ou numa outra
formulação, é a compreensão de mim como si exclusivo que filtra conteúdos, faz a selecção positiva
do que é para mim e a negativa do que não é para mim. O de mim é originário e dá-me uma
compreensão da compreensão. A própria compreensão formal tem de se virar para si, tenho de virar a
compreensão para mim, uma compreensão privada, subjectiva, de mim para mim. Não é nenhuma
reflexão. O nous é o nous da minha vida. Não no sentido em que há um si isolado num horizonte
relativamente ao tempo todo da eternidade. O si está relacionado com tudo, como cada um dos outros
possíveis e imaginários, população mundial desde que há mundo e habitou a terra, com os recursos
humanos. Todas as relações de cada ser humano com cada um dos outros, com cada actividade, com
o seu mundo pessoal, a sua vida, etc., etc.. A relação de cada humano com o seu passado, com o seu
presente, com o seu futuro, tal como Aristóteles o propõe: Cada ser humano tem uma relação com o
possível, o que pode ser e o que pode não ser ou o que não pode ser, o que tem de ser, etc., etc..
antevisto e previsto ou o que acontece assim sem querer a coisa, espontaneamente, automáticamente,
imprevisivelmente.
τῶν φίλων δι’ ἡμῶν πως ἐστίν· ἡ γὰρ ἀρχὴ ἐν ἡμῖν. ζη-
ὁμοίως δὲ καὶ ἐν τοῖς λοιποῖς ὁτὲ μὲν δι’ οὗ ὁτὲ δὲ πῶς (30)
Possíveis são aquelas coisas que podem ser feitas por nós e através de nós.; As coisas que são feitas
pelos nossos amigos são, de algum modo, feitas por nós, porque o princípio da ação está em nós,
ponto em certas ocasiões, é preciso procurar os instrumentos para uma determinada ação, noutras,
qual é a sua utilidade. De modo semelhante também a respeito de outras circunstâncias, como a
respeito de quando acontece, de que modo acontece e por que motivo acontece. Parece, por
conseguinte, tal como foi dito, ser o humano o princípio das ações. Por outro lado, parece, também,
que a deliberação tem como objeto as ações suscetíveis de serem praticadas por si próprio. As ações,
finalmente, têm vista outros fins para lá de si próprias. Assim, o fim não poderá nunca ser objeto de
εὐπραξία γὰρ καὶ τὸ ἐναντίον ἐν πράξει ἄνευ διανοίας καὶ ἤθους οὐκ ἔστιν. διάνοια δ’ αὐτὴ
οὐθὲν κινεῖ, ἀλλ’ ἡ ἕνεκά του καὶ πρακτική· αὕτη γὰρ καὶ τῆς ποιητικῆς ἄρχει· ἕνεκα γάρ του
ποιεῖ πᾶς ὁ ποιῶν, καὶ οὐ τέλος ἁπλῶς (ἀλλὰ πρός τι καὶ τινός) τὸ ποιητόν, ἀλλὰ τὸ πρακτόν· ἡ
γὰρ εὐπραξία τέλος, ἡ δ’ ὄρεξις τούτου. διὸ ἢ ὀρεκτικὸς νοῦς ἡ προαίρεσις ἢ ὄρεξις διανοητική,
καὶ ἡ τοιαύτη ἀρχὴ ἄνθρωπος. οὐκ ἔστι δὲ προαιρετὸν οὐδὲν γεγονός, οἷον οὐδεὶς προαιρεῖται
Ἴλιον πεπορθηκέναι· οὐδὲ γὰρ βουλεύεται περὶ τοῦ γεγονότος ἀλλὰ περὶ τοῦ ἐσομένου καὶ
enquanto a origem do princípio da mudança, não enquanto a finalidade em vista. Por outro lado, o
princípio da decisão é a intenção e um cálculo dirigido para um objetivo final. Por esta razão, não há
decisão sem o poder de compreensão, nem sem processo compreensivo, nem finalmente sem a
disposição do caráter. Na verdade, agir bem e o seu contrário, não existem na ação sem o pensamento
teórico, nem sem a disposição ética. O próprio pensamento, só por si, não põe nada em movimento,
apenas quando se dirige para um determinado fim numa determinada ação. É assim também que
actua o pensamento produtor, porquanto o produtor de algo tem um determinado fim em vista, o
produzir como tal não é nenhum fim em si mesmo, mas algo relativo a algo e formador de algo. Por
outro lado, já o agir, e, na verdade, o agir bem, é um fim em si mesmo, e a intenção é o princípio da
mudança específica que vai na sua direção. Por isso, a decisão é uma compreensão intencional ou
uma intenção compreensiva. Neste sentido, o princípio da ação é o humano. Nada do que já
aconteceu poderá, contudo, ser ainda objeto da decisão. Ninguém pode ainda decidir se Tróia terá
sido destruída. Assim, ninguém delibera acerca do que já aconteceu, mas sobre o futuro e o que é
possível. Ora, já não é possível que o que sucedeu não tenha sucedido. Por esse motivo, diz Agatão
corretamente, apenas disto, até um Deus está privado: desfazer o que tiver sido feito.
A facticidade: ninguém decide o passado mas talvez o sentido do passado (Protágoras, Píndaro).
γὰρ ἂν τό γε πραχθὲν ἀγένητον θείη—ἀλλὰ τοῦ μέλλοντος χάριν, ἵνα μὴ αὖθις ἀδικήσῃ μήτε
αὐτὸς οὗτος μήτε ἄλλος ὁ τοῦτον ἰδὼν κολασθέντα. (Quem, porém, tenta corrigir alguém com
sentido, não o castiga por causa da injustiça cometida por essa pessoa no passado — pois com efeito o
que quer que tenha sido feito terá de ser compreendido como insusceptível de não ter vindo a
acontecer — mas como todo o castigo tem de ser aplicado em função do futuro, para que o
perpetrador de uma injustiça passada não volte uma vez mais a cometer uma injustiça nem ele nem
τῶν δὲ πεπραγμένων/ ἐν δίκᾳ τε καὶ παρὰ δίκαν ἀποίητον οὐδ’ ἄν/ Χρόνος ὁ πάντων πατὴρ/
δύναιτο θέμεν ἔργων τέλος· (O que aconteceu,/ conforme à justiça ou desprovido dela, não pode ser
desfeito./ Pois, nem sequer Crono, pai de todas as coisas,/ será capaz de pôr um fim aos seus efeitos.
P. O 2, 15-17