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António de Castro Caeiro.

1ª aula: Filosofia como retorno eterno do mesmo, vontade de poder,

transvalorização dos valores: a unidade de sentido. Filosofia como pergunta pelo sentido do ser das

coisas que são e como pergunta pela verdade do ser: o ser da verdade. A identificação do artista como

ser artista: criação, exploração. A possibilidade em face da impossibilidade: não ser capaz, não poder

e não conseguir: não ter poder (Macht) é não ter possibilidade. A experiência da impossibilidade ou

do que parece impossível e a “ultrapassagem” de ou o “passar por” situações aparentemente ou à

partida incontornáveis. Não ter vontade (Wille) sequer de ter possibilidade na espera activa ou

passiva pela possibilidade de superação. Ou ter vontade e criar o poder ser da possibilidade. As

várias possibilidades: ter vontade de poder; não ter vontade de poder, ter vontade e não ter poder não

ter vontade e não ter poder. O poder (poder ser, ser capaz, conseguir, possibilitar-se) como o “teaser”,

o “sex appeal” do sentido da vontade. A figura do artista (Künstler) pensada através do nomen

agentis do ser artista, fazer arte. O laboratório existencial hermenêutico do sentido como falência do

sentido na arte. O niilismo como falência do sentido ideal e tentativa de exploração do outro campo

de sentido, do outro horizonte atrofiado: a realidade, o corpo, o instinto, preterido pela racionalidade

(spiritus siue intellectus siue animus siue anima).

Die Frage der Selbstbegründung der Philosophie: Sie betrifft jenen Sachverhalt, das, was die

Philosophie ist und wie sie jeweils ist, sich nur aus ihr selbst bestimmt, daß aber diese

Seblstbestimmung nur möglich ist, indem sie sich schon selbst begründet hat. GA 6.1. 13-14.

.A questão da auto-fundação da filosofia: diz respeito ao facto de que o que é filosofia e como é em

cada caso só é determinado por si, mas que esta autodeterminação só é possível na medida em que já

se fundou a si própria.

Drei Grundstellungen:

Philosophie der ewigen Wiederkunft: Ein Versuch der Umwertung aller Werte (XVI, 415)

Die Lehre der ewigen Wiederkunft als Hammer in der Hand des mächtigsten Menschen.

Wille zur Macht

. Três posições básicas:

Filosofia do Eterno Retorno: Uma Tentativa de Revalorizar Todos os Valores (XVI, 415).

A doutrina do eterno retorno como um martelo na mão do homem mais poderoso.

Vontade de poder.

Die Einheit von Willen zur Macht, ewiger Wiederkehr und Umwertung. GA 6.1. 15
.A unidade de vontade ao poder, a recorrência eterna e a revalorização.

Der Ausdruck „Wille zur Macht“ nennt den Grundcharakter des Seienden; jegliches Seiende, das ist,

ist, sofern es ist: Wille zur Macht. Damit wird ausgesagt, welchen Charakter das Seiende als Seiendes

hat. […] Die entscheidende Frage ist […] Was ist dieses Sein selbst? Es ist die Frage nach dem „Sinn

des Seins“, nicht nur nach dem Sein des Seienden; und „Sinn“ ist dabei genau in seinem Begriff

umgrenzt als dasjenige, von woher und auf Grund wovon das Sein überhaupt als solches offenbar

werden und in die Wahrheit kommen kann. GA 6.1. 15-16

. A expressão "vontade de poder" designa o carácter básico do ser; cada ser, ou seja, cada ser, é, na

medida em que é: vontade de poder. Isto diz qual o carácter que o existente tem como existente. [...] A

questão decisiva é [...] O que é este ser em si mesmo? É a questão do "significado do ser", e não apenas

do ser do existente; e "significado" é assim delimitado com precisão no seu conceito como aquele de

onde e com base no qual o ser pode ser revelado como tal e chegar à verdade.

Jene, die die obersten Werte setzen, die Schaffenden, voran die neuen Philosophen, müssen nach

Nietzsche Versuchende sein; sie müssen Wege gehen und Bahnen aufbrechen, mit dem Wissen, daß

sie nicht die Wahrheit haben. […] Die Härte und Verbindlichkeit des Denkens muß eine Gründung in

den Sachen selbst erfahren, wie sie die bisherige Philosophie nicht kannte. Denn nur so wird die

Möglichkeit geschaffen, daß eine Grundstellung gegen die andere sich behauptet und der Streit ein

wirklicher Streit und so der wirkliche Ursprung der Wahrheit wird. Die neuen Denker müssen

Versuchende sein, d.h. sie müssen das Seiende selbst hinsichtlich seines Seins und seiner Wahrheit

fragend auf die Probe stellen und in die Versuchung bringen. GA 6.1. 25

.Aqueles que estabelecem os valores mais elevados, os criadores, sobretudo os novos filósofos,

devem, segundo Nietzsche, ser experimentadores; devem seguir caminhos e quebrar caminhos

abertos, sabendo que não têm a verdade. [...] A dureza e a vontade de pensar devem experimentar

uma base nas próprias coisas, tal como não foi conhecido pela filosofia anterior. Pois só assim será

criada a possibilidade de uma posição de base se afirmar contra a outra e de a disputa se tornar uma

disputa real e, portanto, a verdadeira origem da verdade. Os novos pensadores devem ser

experimentadores, ou seja, devem pôr à prova o próprio ser em termos do seu ser e da sua verdade e

pô-lo à prova.

Das Phänomen ‚Künstler‘ ist noch am leichtesten durchsichtig. GA 6.1. 66.

. O fenómeno 'artista' é ainda o mais fácil de ver através dele.


16) NF-1885,2[130] — Nachgelassene Fragmente Herbst 1885 — Herbst 1886.. (Nachgelassene

Fragmente Autumn 1885 - Autumn 1886.)

2[130] Das Phänomen „Künstler“ ist noch am leichtesten durchsichtig : — von da aus hinzublicken

auf die Grundinstinkte der Macht , der Natur usw.! Auch der Religion und Moral! „das Spiel“, das

Unnützliche, als Ideal des mit Kraft Überhäuften, als „kindlich“.

.2[130] O fenómeno "artista" é ainda o mais fácil de ver através: - de lá para ver os instintos básicos de

poder , natureza, etc.! Também de religião e moralidade! "o jogo", o inútil, como o ideal do

transbordamento de poder, como "infantil".

Heidegger:

Das Phänomen „Künstler“— das Künstlersein. An diesem Seienden, nämlich am Künslter, leuchtet

uns das Sein am unmittelbarsten und hellsten auf. […] Künstlersein ist in Hervorbringen-können.

Hervorbringen aber heißt: etwas, das noch nicht ist, ins Sein setzen. In der Hervorbringung wohnen

wir gleichsam dem Werden des Seienden bei und können da sein Wesen ungetrübt ersehen. GA 6.1.

66

.Heidegger:

O fenómeno do "artista" - ser um artista. É neste ser, nomeadamente no artista, que o ser brilha de

forma mais directa e brilhante para nós. [...] Ser artista é ser capaz de produzir. Mas criar meios: pôr

em prática algo que ainda não o é. Ao dar à luz, estamos, por assim dizer, presentes no devir do que

existe, e aí podemos ver a sua essência desobstruída. GA 6.1. 66

Künstlersein ist eine Weise des Lebens.

.Ser um artista é um modo de vida.

1) NF-1888,14[82] — Nachgelassene Fragmente Frühjahr 1888.

das Leben als die uns bekannteste Form des Seins ist spezifisch ein Wille zur Accumulation der Kraft

.a vida como a forma de nos ser mais familiar é especificamente uma vontade de acumular poder

1) NF-1887,9[63] — Nachgelassene Fragmente Herbst 1887.

„Sein“ als Verallgemeinerung des Begriffs „Leben“ (athmen) „beseelt sein“ „wollen, wirken“

„werden“ Gegensatz ist: „unbeseelt sein“, „ nicht -werdend“; „ nicht -wollend“. Also: es wird dem

„Seienden“ nicht das Nicht-seiende, nicht das Scheinbare, auch nicht das Todte entgegengesetzt

(denn todtsein kann nur etwas, das auch leben kann) Die „Seele“, das „Ich“ als Urthatsache gesetzt;

und überall hineingelegt, wo es ein Werden giebt.


. "Ser" como generalização do termo "vida" (respiração) "ser animado" "querer, agir" "tornar-se" O

oposto é: "ser inanimado", "não -desconverter"; "não -desejar". Assim: o "ser" não se opõe ao não ser,

nem ao aparente, nem sequer ao morto (pois só algo que também pode viver pode estar morto) O

"alma", o "eu" é definido como o facto original; e é colocado em toda a parte onde há um devir.

Also: es wird dem „Seienden“ nicht das Nicht-seiende, nicht das Scheinbare, auch nicht das Todte

entgegengesetzt (denn todtsein kann nur etwas, das auch leben kann) Die „Seele“, das „Ich“ als

Urthatsache gesetzt; und überall hineingelegt, wo es ein Werden giebt.

. Assim: o "existente" não se opõe ao inexistente, nem ao aparente, nem mesmo ao morto (pois só algo

que também pode viver pode estar morto) O "alma", o "eu" é definido como a causa original; e é

colocado em toda a parte onde há um devir.

Das ist ein Leitsatz von Nietzsches Lehre über die Kunst: sie muss von den Schaffenden und

Erzeugenden und nicht von den Empfangenden her begriffen werden. GA 6.1. 67.

. Este é um princípio orientador do ensino de Nietzsche sobre arte: deve ser entendido pelos criadores

e produtores e não pelos receptores. GA 6.1. 67.

ΞΕ. Ἱκανὸν ἔθεμεν ὅρον που τῶν ὄντων, ὅταν τῳ παρῇ

ἡ τοῦ πάσχειν ἢ δρᾶν καὶ πρὸς τὸ σμικρότατον δύναμις; (5)

ΘΕΑΙ. Ναί.

ΞΕ. Πρὸς δὴ ταῦτα τόδε λέγουσιν, ὅτι γενέσει μὲν

μέτεστι τοῦ πάσχειν καὶ ποιεῖν δυνάμεως, πρὸς δὲ οὐσίαν

τούτων οὐδετέρου τὴν δύναμιν ἁρμόττειν φασίν. Pl. Sophista 248c4-9

. XE. Estabelecemos um padrão de ser, quando o pai

ou o poder do sofrimento, e do mínimo poder? (5)

TÊM. Sim.

XE. A estas coisas dizem, que nascem do poder do sofrimento e do fazer, mas à substância destas

coisas o poder de ninguém é um fascínio adequado. Pl. Sophista 248c4-9

1. Die Kunst ist die durchsichtigste und bekannteste Gestalt des Willens zur Macht

2. Die Kunst muss vom Künstler her begriffen werden.

[von da aus hinzublicken auf die Grundinstinkte der Macht, der Natur usw.! Auch der Religion und

Moral]

. 1. A arte é a forma mais transparente e mais conhecida da vontade de poder.


2. A arte deve ser entendida pelo artista.

[de lá para olhar para os instintos básicos de poder, natureza, etc.! Também a religião e a moralidade].

Wir können ergänzen: Gesellschaft und Individuum, Erkenntnis, Wissenschaft, Philosophie: Diese

Gestalten des Seienden sind demnach in gewisser Weise Entsprechungen zum Künstlersein, zum

künstlerischen Schaffen und Geschaffensein. Das übrige Seiende, was nicht eigens durch Künstler

hervorgebracht ist, hat die entsprechende Seinsart wie das vom Künstler Geschaffene, das

Kunstwerk.

. Podemos acrescentar a isto: Sociedade e o indivíduo, cognição, ciência, filosofia: estas formas de ser

são portanto, de certa forma, equivalentes a ser artista, a criação artística e a ser criado. O resto da

existência, que não é especificamente produzido por artistas, tem a mesma natureza de ser que o que

é criado pelo artista, a obra de arte.

Offensichtlich wir hier der Begriff der Kunst und des Kunstwerkes auf alles Hervorbringenkönnen

und jedes wesentliche Hervorgebrachte ausgeweitet. Das entspricht in gewisser Weise auch dem

Sprachgebrauch, wie er bis an die Schwelle des 19. Jahrhunderts üblich ist. Bis dahin heißt Kunst jede

Art von Hervorbringenkönnen. Der Handwerker, der Staatsmann, der Erzieher sind als

Hervorbrindende Künstler. Auch die Natur ist eine „Künstlerin“. 68

. Obviamente, o conceito de arte e a obra de arte é aqui alargado para incluir tudo o que pode ser

produzido e tudo o que é essencialmente produzido. Em certa medida, isto também corresponde ao

uso linguístico que era comum até ao limiar do século XIX. Até então, a arte significava qualquer tipo

de capacidade de produção. O artesão, o estadista, o educador são todos artistas. A natureza,

também, é um "artista". 68

3. Die Kunst ist nach dem erweiterten Begriff des Künstlers das Grundgeschehen alles Seienden; das

Seiende ist, sofern es ist ein Sichschaffendes, Geschaffenes. 69

. De acordo com o conceito alargado do artista, a arte é o acontecimento básico de todo o ser; sendo,

na medida em que é uma criação, é criada. 69

4. Die Kunst ist die ausgezeichnete Gegenbewegung gegen den Nihilismus (=Gott ist tot). 71

.4 A arte é o excelente contra-movimento contra o niilismo (=Deus está morto). 71

Das Künstleriche ist das Schaffen und Gestalten.

. A coisa artística é criar e desenhar.


Der Künstler-Philosoph ist Künstler, indem er am Seienden im Ganzen gestaltet, d.h. zunächst dort,

worin das Seiende im Ganzen sich offenbart, am Menschen.

.O artista-filósofo é um artista na medida em que cria sobre o existente no todo, ou seja, em primeiro

lugar, no qual o existente no todo se revela, sobre o ser humano.

5. Die Kunst ist mehr wert als die Wahrheit.

. 5 A arte vale mais do que a verdade.

“O nous está sempre à saída de todo e qualquer ser que visa a preservação e custódia do que

adquiriu, está presente em toda a forma como lidamos com o que adquirimos e detemos de forma

compreensiva, para preservar o futuro, dirigida e orientada para a preservação (Er ist immer an den

Ausgängen, für Seisnverwahrungen, allen Umgang mit verstehende, bewahrende und ausrichtende

[Seinsverwahrung])” NB 404. A citação seguinte da Política, permite esclarecer claramente o que

Heidegger pretende: νοῦς τῆς ὀρέξεως [Pol. 1254b5]. Na formulação, o genitivo pode ser

interpretado como genitivo objectivo, orexis é o complemento do noein. Mas pode ser também um

genitivo subjectivo. A orexis é o sujeito da acção noética. Heidegger muitas vezes acentua a

possibilidade de o genitivo ser objectivo e subjectivo.

Compreender é estar numa tensão orectica e desejar é uma tensão compreensiva. É sabido que

Aristóteles pensa que o nous não leva à acção, é um acontecimento limite, teórico, não prático nem

pragmático, mas a interpretação de Heidegger procura mostrar o a priori, a relação entre orexis e

nous como anterior à orexis absoluta e potencialmente cega e anterior ao nous, à phronêsis eterna mas

sem possibilidade vital ou existencial. Todo o nous humano é desiderativo e todo o desejo humano é

compreensivo. O que deixa várias possibilidades. Uma possibilidade é inteiramente negativa: não

desejar nada e não compreender nada. A outra é positiva desejar tudo e compreender tudo. Mas as

combinações fazem ver a perplexidade da vida. Desejamos coisas e pessoas que não compreendemos

enquanto tais ou não compreendemos porque são objectos dos nossos desejos. Por outro lado,

compreendemos que não devemos desejar certas coisas e pretendemos neutralizar o desejo nefasto de

certas substâncias ou pessoas. Ainda assim, é possível a respeito da perversão e da excelência, da

possibilidade de se ser mau ou bom, de se comportar e portar mal ou bem, uma compreensão que diz

sim e que diz não.


“ἐφ’ ἡμῖν δὴ καὶ ἡ ἀρετή, ὁμοίως δὲ καὶ ἡ κακία. ἐν οἷς γὰρ ἐφ’ ἡμῖν τὸ πράττειν, καὶ τὸ μὴ

πράττειν, καὶ ἐν οἷς τὸ μή, καὶ τὸ ναί· ὥστ’ εἰ τὸ πράττειν καλὸν ὂν ἐφ’ ἡμῖν ἐστί, καὶ τὸ μὴ

πράττειν ἐφ’ ἡμῖν ἔσται αἰσχρὸν ὄν, καὶ εἰ τὸ μὴ πράττειν καλὸν ὂν ἐφ’ ἡμῖν, καὶ τὸ πράττειν

αἰσχρὸν ὂν ἐφ’ ἡμῖν. (Na verdade, a excelência diz-nos respeito e encontra-se sob o nosso poder, não

menos do que a perversão. Isto é, as situações nas quais está no nosso poder agir são as mesmas em

que podemos não agir. Porque, quando está no nosso poder dizer não também está no nosso poder

dizer sim. De tal sorte assim é que se estiver no nosso poder o agir bem, também estará o não agir

vergonhosamente. Inversamente, se estiver no nosso poder não agir bem, também está no nosso

poder agir vergonhosamente.) Arist. EN 1113b6-11”

A articulação fundamental do nous permite a dissociação do plano de aplicação que é clássica mas

não interpretada existencialmente: O nous põe perante e mantém à frente (hält vor) a consequência

em geral daquilo em vista do qual e com vista ao qual (das Woraufhin überhaupt) da mudança

mutante da vida de acordo com a suas duas grandes direcções: sophia e phronêsis! O nous é o

primeiro modo de apropriação e preservação, isto é, a circun-specção sempre já no, pelo, a partir e em

direcção ao ser. Modo de preservação e conservação, cumprimentos e execuções de apropriação,

cronometrizações, contagem do tempo, temporalizações, mudanças, mutações (Er hält vor das

mögliche Woraufhin überhaupt der Lebensbewegtheit nach seinen zwei Grundrichtungen: σοφία –

φρόνησις! Er ist die erste Aneignungs- und Verwahrungseweise, d.h. Umsicht ist schon am Sein:

Σοφία – φρόνησις Verwahrungsweise, Aneignungsvollzüge, Zeitigungen, Bewegtheiten!). 404: sobre

a tradução talvez se possa dizer mais qualquer coisa na discussão.

O humano é um dos princípios a par da quadrupla raiz da causalidade. A consequência altera a

compreensão teórica, cognitiva, produtora, criativa, ética, moral, política, prática das diversas aitiai e

arkhai. O humano é to aition. Ou seja, a estrutura relacional entre o humano e o mundo, mas também

entre o humano a sua psykhê, o seu sôma, e na verdade a sua zôê, existe na dependência exclusiva do

humano. A interpretação do que á a praxis por exemplo em Aristóteles pode ser a aretê da praxis,

mas porque a magnanimidade é uma condição nec plus ultra que não pode ser alcançada pelo

esforço, pela rotina e pela prática. Em Kant, por exemplo, pode ser o cumprimento do imperativo

categórico, a transformação do humano num fim em si mesmo ou antes, a compreensão e acção

conforme de cada outro como um fim em si mesmo e não como um ponto de aplicação da minha

existência. O humano como aition não é to zôon logon ekhon é Dasein é o fundamento, princípio,

mesmo sem fundamento e de princípio incompreensível a lidar com a facticidade da orexis. Isto está

bem presente na identficação da causa da guerra do Peloponeso para Tucídides: a pleonexia: a


ambição e a ganância: querer ter mais do que se tem, querer ter mais do que os outros, querer ter tudo

e querer que o outro não tenha nada ou só o que deixarmos. A interprtação da orexis e da tensão

anoréctica depende da importância das coisas para nós, na verdade, para mim. Ou numa outra

formulação, é a compreensão de mim como si exclusivo que filtra conteúdos, faz a selecção positiva

do que é para mim e a negativa do que não é para mim. O de mim é originário e dá-me uma

compreensão da compreensão. A própria compreensão formal tem de se virar para si, tenho de virar a

compreensão para mim, uma compreensão privada, subjectiva, de mim para mim. Não é nenhuma

reflexão. O nous é o nous da minha vida. Não no sentido em que há um si isolado num horizonte

ínfimo a par do mundo, da galáxia, do universo, um tempo de esperança de vida ínfimo

relativamente ao tempo todo da eternidade. O si está relacionado com tudo, como cada um dos outros

possíveis e imaginários, população mundial desde que há mundo e habitou a terra, com os recursos

humanos. Todas as relações de cada ser humano com cada um dos outros, com cada actividade, com

o seu mundo pessoal, a sua vida, etc., etc.. A relação de cada humano com o seu passado, com o seu

presente, com o seu futuro, tal como Aristóteles o propõe: Cada ser humano tem uma relação com o

possível, o que pode ser e o que pode não ser ou o que não pode ser, o que tem de ser, etc., etc..

antevisto e previsto ou o que acontece assim sem querer a coisa, espontaneamente, automáticamente,

imprevisivelmente.

δυνατὰ δὲ ἃ δι’ ἡμῶν γένοιτ’ ἄν· τὰ γὰρ διὰ

τῶν φίλων δι’ ἡμῶν πως ἐστίν· ἡ γὰρ ἀρχὴ ἐν ἡμῖν. ζη-

τεῖται δ’ ὁτὲ μὲν τὰ ὄργανα ὁτὲ δ’ ἡ χρεία αὐτῶν·

ὁμοίως δὲ καὶ ἐν τοῖς λοιποῖς ὁτὲ μὲν δι’ οὗ ὁτὲ δὲ πῶς (30)

ἢ διὰ τίνος. ἔοικε δή, καθάπερ εἴρηται, ἄνθρωπος εἶναι

ἀρχὴ τῶν πράξεων· ἡ δὲ βουλὴ περὶ τῶν αὑτῷ πρακτῶν, @1

αἱ δὲ πράξεις ἄλλων ἕνεκα.

Possíveis são aquelas coisas que podem ser feitas por nós e através de nós.; As coisas que são feitas

pelos nossos amigos são, de algum modo, feitas por nós, porque o princípio da ação está em nós,

ponto em certas ocasiões, é preciso procurar os instrumentos para uma determinada ação, noutras,

qual é a sua utilidade. De modo semelhante também a respeito de outras circunstâncias, como a

respeito de quando acontece, de que modo acontece e por que motivo acontece. Parece, por

conseguinte, tal como foi dito, ser o humano o princípio das ações. Por outro lado, parece, também,

que a deliberação tem como objeto as ações suscetíveis de serem praticadas por si próprio. As ações,

finalmente, têm vista outros fins para lá de si próprias. Assim, o fim não poderá nunca ser objeto de

deliberação. Apenas o são os meios em vista da sua obtenção. EN1112b27-33


1139ª33-1139b9: διὸ οὔτ’ ἄνευ νοῦ καὶ διανοίας οὔτ’ ἄνευ ἠθικῆς ἐστὶν ἕξεως ἡ προαίρεσις·

εὐπραξία γὰρ καὶ τὸ ἐναντίον ἐν πράξει ἄνευ διανοίας καὶ ἤθους οὐκ ἔστιν. διάνοια δ’ αὐτὴ

οὐθὲν κινεῖ, ἀλλ’ ἡ ἕνεκά του καὶ πρακτική· αὕτη γὰρ καὶ τῆς ποιητικῆς ἄρχει· ἕνεκα γάρ του

ποιεῖ πᾶς ὁ ποιῶν, καὶ οὐ τέλος ἁπλῶς (ἀλλὰ πρός τι καὶ τινός) τὸ ποιητόν, ἀλλὰ τὸ πρακτόν· ἡ

γὰρ εὐπραξία τέλος, ἡ δ’ ὄρεξις τούτου. διὸ ἢ ὀρεκτικὸς νοῦς ἡ προαίρεσις ἢ ὄρεξις διανοητική,

καὶ ἡ τοιαύτη ἀρχὴ ἄνθρωπος. οὐκ ἔστι δὲ προαιρετὸν οὐδὲν γεγονός, οἷον οὐδεὶς προαιρεῖται

Ἴλιον πεπορθηκέναι· οὐδὲ γὰρ βουλεύεται περὶ τοῦ γεγονότος ἀλλὰ περὶ τοῦ ἐσομένου καὶ

ἐνδεχομένου, τὸ δὲ γεγονὸς οὐκ ἐνδέχεται μὴ γενέσθαι. (O princípio da ação é a decisão, isto é,

enquanto a origem do princípio da mudança, não enquanto a finalidade em vista. Por outro lado, o

princípio da decisão é a intenção e um cálculo dirigido para um objetivo final. Por esta razão, não há

decisão sem o poder de compreensão, nem sem processo compreensivo, nem finalmente sem a

disposição do caráter. Na verdade, agir bem e o seu contrário, não existem na ação sem o pensamento

teórico, nem sem a disposição ética. O próprio pensamento, só por si, não põe nada em movimento,

apenas quando se dirige para um determinado fim numa determinada ação. É assim também que

actua o pensamento produtor, porquanto o produtor de algo tem um determinado fim em vista, o

produzir como tal não é nenhum fim em si mesmo, mas algo relativo a algo e formador de algo. Por

outro lado, já o agir, e, na verdade, o agir bem, é um fim em si mesmo, e a intenção é o princípio da

mudança específica que vai na sua direção. Por isso, a decisão é uma compreensão intencional ou

uma intenção compreensiva. Neste sentido, o princípio da ação é o humano. Nada do que já

aconteceu poderá, contudo, ser ainda objeto da decisão. Ninguém pode ainda decidir se Tróia terá

sido destruída. Assim, ninguém delibera acerca do que já aconteceu, mas sobre o futuro e o que é

possível. Ora, já não é possível que o que sucedeu não tenha sucedido. Por esse motivo, diz Agatão

corretamente, apenas disto, até um Deus está privado: desfazer o que tiver sido feito.

A facticidade: ninguém decide o passado mas talvez o sentido do passado (Protágoras, Píndaro).

“ὁ δὲ μετὰ λόγου ἐπιχειρῶν κολάζειν οὐ τοῦ παρεληλυθότος ἕνεκα ἀδικήματος τιμωρεῖται—οὐ

γὰρ ἂν τό γε πραχθὲν ἀγένητον θείη—ἀλλὰ τοῦ μέλλοντος χάριν, ἵνα μὴ αὖθις ἀδικήσῃ μήτε

αὐτὸς οὗτος μήτε ἄλλος ὁ τοῦτον ἰδὼν κολασθέντα. (Quem, porém, tenta corrigir alguém com

sentido, não o castiga por causa da injustiça cometida por essa pessoa no passado — pois com efeito o

que quer que tenha sido feito terá de ser compreendido como insusceptível de não ter vindo a

acontecer — mas como todo o castigo tem de ser aplicado em função do futuro, para que o
perpetrador de uma injustiça passada não volte uma vez mais a cometer uma injustiça nem ele nem

quem o vir a ser castigado.) Pl. Prot. 324b1-5”

τῶν δὲ πεπραγμένων/ ἐν δίκᾳ τε καὶ παρὰ δίκαν ἀποίητον οὐδ’ ἄν/ Χρόνος ὁ πάντων πατὴρ/

δύναιτο θέμεν ἔργων τέλος· (O que aconteceu,/ conforme à justiça ou desprovido dela, não pode ser

desfeito./ Pois, nem sequer Crono, pai de todas as coisas,/ será capaz de pôr um fim aos seus efeitos.

P. O 2, 15-17

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